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BENEFICÊNCIA OU BENEVOLÊNCIA

O conceito de caridade ainda é muito mal compreendido entre os espíritas; disso não há
dúvida, embora a maioria de nós considere que o compreenda plenamente. Ora, se um
conceito não é entendido, somente por acaso é que as práticas que ele deve orientar lhe
corresponderão integralmente. Talvez seja por isso que nós, espíritas brasileiros não
consigamos nos desvincular das práticas assistencialistas. Claro que compreendemos que o
assistencialismo é um traço profundo da nossa cultura. Não o condenamos pois o bem é
sempre o bem. Quem pratica assistencialismo não deixa de contribuir com a sua cota de bem
para a melhoria do mundo. No entanto, o simples assistencialismo não expressa na sua
plenitude a prática da caridade. O assistencialismo, mesmo que necessário em determinados
momentos, pode servir para a reprodução da injustiça e para a manutenção de estruturas
sociais iníquas. No livro "Dimensões da Verdade", psicografado por Divaldo Franco, da autoria
de Joanna de Angelis, a elevada mentora alerta para o problema da assistencialismo em nosso
movimento. Basicamente ela diz que a as simples ações assistencialistas em nossas
organizações não as caracterizam como espíritas, pois assistencialismo por assistencialismo o
catolicismo até faz melhor do que nós, segundo alguns; e as igrejas protestantes também não
ficam atrás.

Acredito ser esta incompreensão generalizada consequencia de dois fatores preponderantes.


Em primeiro lugar a baixa escolaridade, a deficiência educacional do nosso povo e as leituras
superficiais das obras básicas. Hoje entendo que o Espiritismo não pode ser plenamente
entendido em cursos semanais de apenas algumas horas. É um estudo contínuo, para toda a
vida, se quisermos alcançar pelo menos uma pontinha de entendimento. Quando Kardec dizia
que o Espiritismo devia ser estudado com seriedade era a isso que se referia, pois
simplesmente realizar leituras aqui e ali, sem a busca do conhecimento profundo não
basta.Um conceito, para ser plenamente assimilado exige reflexão constante sobre o seu
signficado, algo que não se consegue com leituras perfunctórias. Ler, ao contrário do que se
acredita atualmente não corresponde a essas práticas rápidas que não vão além dos
significado mais imediatos. Ler exige esforço, o que a maioria de nós foge de realizar. O
segundo fator é cultural. Talvez este seja o mais importante. Nossa sociedade foi constituída
pelo Estado, ao contrario de outras nações, em que o Estado foi constituído pela sociedade. A
partir desta relação invertida fomos sendo aculturados, isto é, acostumados a crer e ver aquela
realidade como a única possível. Fomos sendo domesticados a aceitar que o Estado, e por
decorrência, qualquer "autoridade" como superiores ao simples cidadão. E as estas
autoridades devemos obedecer cegamente e passivamente. Do outro lado, vemos essa cultura
manifestar-se cotidianamente em atos de empáfia, de autoritarismo, de pretensões balofas à
superioridade quando questionamos ou reagimos aos desmandos destas pessoas
supostamente superiores, respondendo com uma mistura de questionamento e de tentativa
de intimidação: você sabe com quem está falando?
Essa visão equivocada da caridade tem sido transferida da sociedade para o movimento
espírita como poderão ver no artigo que cito abaixo.

O conceito de caridade não é novo. Ele foi sendo elaborado através dos tempos. Em Platão
vemos as primeiras especulações sobre o amor. Pedro, o apóstolo cabeça dura, em suas
experiências vivenciais conclui que o amor cobre a multidão dos pecados, ou seja, a caridade
desfaz o mal por nós praticado. Ao mesmo tempo Paulo de Tarso torna a caridade uma
questão existencial, ao afirmar que podemos realizar maravilhas, porém, se não tivermos
caridade seremos apenas um sino que faz muito barulho mas que por dentro é oco. Agostinho
de Hipona, o Santo Agostinho da igreja católica, um dos espíritos da codificação, utiliza a
filosofia de Platão como base do seu pensamento e discorre sobre o amor e a caridade. São
Máximo reflexiona e ensina a caridade. Pedro Abelardo entende que a caridade não exige
qualquer retribuição, por ser baseada no amor. Tomás de Aquino afirma que a caridade é
necessária a o bem comum. Emmanuel, o mentor de Chico Xavier, numa sentença sintética,
porém carregada de significado afirma que "caridade é o amor em movimento", isto é, a
caridade é o amor em ação. E Kardec, onde fica neste resuminho sobre a caridade? O mérito
dele foi ter sintetizado mais de dois mil anos de especulações teológicas e filosóficas, no
capítulo "Sede Perfeitos" de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", quando diz que a caridade é
formada por alguns elementos, entre eles a benevolência, a abnegação, a indulgência e o
devotamento. A caridade, com efeito, não é composta somente por estas virtudes, o que a
torna uma virtude sintética, como podemos ler nas outras obras básicas, mas também pelo
desinteresse pessoal e pelo desapego. Mas isto será assunto para outro momento. O mérito
do Espiritismo, por sua vez foi colocá-la como o ponto focal, o "norte", o ponto de referência
para a nossa conduta ética. No entanto, ele também nos esclarece que a caridade tem sua
mais profunda fonte no amor; fonte inesgotável da qual quanto mais é extraída sua água pura
mais se enche para nos saciar. Quem mais ama mais amor conquista. Quem mais pratica a
caridade mais plenificado, mais completo, mais perfeito.se torna. A caridade é, portanto, o
único tesouro que quanto mais preciosidades se retira dele mais ele tem para dar. O conceito
de caridade, assim, vem sendo esclarecido constantemente, e com o Espiritismo atinge um
máximo, onde somente nos resta colocado em prática em nossas vidas, e nada mais.
A Caridade

Jeff Alves | 5 de setembro de 2011

O que é a Caridade? É dar esmolas, levar comida aos necessitados, comprar uma rifa
beneficente? Ao fazer isto estaríamos com a consciência limpa de que estamos exercitando
uma das virtudes?

Caridade é sinônimo de amor, bondade, benevolência e compaixão. É o ajudar o outro sem


buscar nenhuma recompensa. É um sentimento com duas vias, tanto para si quanto para o
outro. Para o Cristianismo, é o amor ao outro como a nós mesmos.

Os dois mandamentos cristãos

Na Última Ceia, Jesus instruiu os seus apóstolos com um novo mandamento: “amar a nós
mesmos, assim como ele nos amou, e amarmos uns aos outros”. Os mandamentos da lei de
Deus resumem-se em amar ao Criador sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos. O amor, portanto, é a perfeição da lei.

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros”. O
complemento do mandamento que fora deixado. Ao pensarmos na caridade como a virtude
que identifica os cristãos, logo vemos que a maioria dos que se dizem cristãos na verdade não
o são.

A primeira obrigação cristã é amar ao Criador “com todo o teu coração, com toda a tua alma,
com toda a tua mente e com todas as tuas forças”. Ele nos amou antes e nos criou, então é
digno de nosso amor.

A segunda obrigação é estender esse amor a nós mesmos e aos outros. É claro que este amor
deve ser disciplinado para que possamos verdadeiramete buscar os bens da alma e do corpo.
Ao desejar descumprir as Leis, afastarmos de Deus, nós não estaríamos nos amando de
verdade.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o
metal que soa ou como o sino que tine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e
ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor,
nada seria.

E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se
ensoberbece.

Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;

Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;

Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão;
havendo ciência, desaparecerá;

Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;

Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino,
mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço
em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.”

De que adiantaria sermos ricos em dons espirituais se somos pobre de ações? De que
adiantaria termos fé para remover montanhas, mas não tivermos o amor? Ora, conhecemos se
a árvore é boa através de seus frutos, alerta-nos Jesus. A mudança íntima, a luta constante
contra nossas imperfeições, é algo que deve fazer parte de nossa vida. Caso contrário, só
iremos fazer barulho e chamar atenção…

Conforme Tiago, a fé sem obras é morta. Não importa a fé que possuímos se não temos obras,
se não exercitamos as nossas virtudes. Estas obras não são o forçar ao outro para seguir as
nossas crenças, a ter o nosso caminho como o único e exclusivo caminho que guia ao Criador.
O bom exemplo é a melhor forma de expressar a nossa fé. Não é pregar verbalmente a
caridade, mas atravésde nossas próprias ações e modo de ser.

A caridade inclui o saber que as dificuldades são obstáculos que objetivam o progresso
espiritual. Alia a bondade a todos, independentemente do que já fizeram contra nós. A
vingança e ódio corrompe, o perdão nos enobrece. A levianidade traz-nos consequências
inesperadas, a prudência contribui para nos aproximarmos de Deus.

Não podemos dizer que amamos a Deus se não amamos ao próximo. “Se alguém diz que ama
ao Criador e odeia ao seu irmão, é um mentiroso, pois quem não ama a seu irmão a quem vê,
como poderia amar ao Criador a quem não vê?” Amemos aos outros por amor ao Criador, não
simplesmente tendo simpatia, admiração ou altruísmo, mas verdadeiramente amando.

E as esmolas?

Muitos vêem a caridade apenas como algo material. Acabam resumindo a caridade à doação
de roupas, alimentos e dinheiro. De fato, ao fazermos isto com intenção generosa, empatia e
espírito de benevolência estamos fazendo caridade. Porém, esquecem-se que as virtudes são
expressadas em quatro âmbitos – físico, emocional, mental e espiritual, sendo esta apenas
uma expressão da caridade no âmbito físico.
Já perceberam que existem pessoas com um armário cheio de roupas, uma mesa repleta de
refeições, uma casa dos sonhos e um veículo muito caro que não possuem fé e esperança? Aí
poderíamos expressar a nossa caridade, trazendo-os a perspectiva para o amanhã e o consolo
que tanto necessitam.

As nossas ações não podem ser repletas de intenções secundárias. Não podemos dizer que
somos caridosos se sempre que vemos uma pessoa passando necessidade formos ajudá-la.
Onde ficaria a disciplina? Entramos agora na questão das esmolas.

Aconteceu comigo, e creio que com muitos de vocês, que ao darmos esmolas a uma pessoa
necessitada, que a pede em busca de alimento, transporte ou medicamentos, vermos depois
de algum tempo esta mesma pessoa utilizando o dinheiro que damos para comprar bebidas
alcoólicas e até mesmo drogas. Será que ao fazermos isto fomos caridosos se a nossa esmola
na verdade não beneficiou o outro?

A intenção de ajudar o outro, com benevolência e boa vontade, sem segundas intenções, é o
que vale nesses casos. Porém, se sabemos que aquela esmola vai constituir algo ruim para
aquele em que ajudamos, acabamos por gerar carma negativo a nós. Existem casos que o
necessitado pede tanto que algumas pessoas, ao perder a paciência, dá o dinheiro aquela
pessoa, mesmo sabendo que ele é um tremendo beberrão… Caso contrário, naquelas ajudas
em que não conhecíamos, julgando que eles realmente utilizariam o dinheiro dado para o
alimento, mas usou para a cachaça, por exemplo, o que valeu foi sua intenção.

A caridade pode, portanto, ser compreendida como um conjunto de atributos morais e


espirituais – doação, ajuda, bondade, perdão, prudência, decência, tranquilidade, sabedoria,
justiça, amor, dentre outras. A fé e a esperança são assessoras da caridade, que é o
sentimento principal a ser buscado pelo místico, a fim de libertar-nos das amarras do orgulho e
caminharmos rumo à Transcendentalidade.

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