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GUARULHOS – SP
1
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 5
2
6 ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO E ALUNOS COM ALTAS
HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO.............................................................................46
6.1 Atendimento educacional especializado e sua importância para alunos com altas
habilidades/superdotação ........................................................................................... 47
6.1.1 Como funciona o processo? ............................................................................... 49
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9 Altas habilidades/superdotação e a família no contexto
escolar.....................................................................................................................77
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1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
Bons estudos!
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2 ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: CONCEITO
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que acabam não recebendo a devida atenção, principalmente pelo fato de não serem
de conhecimento da grande maioria da sociedade. Falar de AH/SD ainda é novo, uma
área que demanda estudo, compreensão e diálogo nos mais diversos ambientes.
Sejam acadêmicos sejam culturais, precisamos fomentar cada vez mais esse debate.
O Ministério da Educação (MEC) publicou uma cartilha específica para orientar
profissionais que trabalham com alunos com AH/SD (BRASIL, 2008). O MEC vem
implementando ações focadas no atendimento educacional especializado (AEE), o
que inclui sujeitos com AH/SD. Este grupo é o público-alvo da educação especial e
precisa que suas especificidades sejam percebidas, valorizadas e estimuladas.
São considerados superdotados todos os alunos que apresentam um notável
desempenho ou elevada potencialidade em qualquer dos aspectos a seguir: “[…]
capacidade intelectual, aptidão acadêmica ou específica (por exemplo, aptidão
matemática), pensamento criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para
artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora” (FLEITH, 2006,
p. 12). A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação
Inclusiva (BRASIL, 2008, documento on-line) compreende que os alunos com AH/SD:
“[…] demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas
ou combinadas: intelectual, acadêmicas, liderança, psicomotricidade e artes. Também
apresentam elevada criatividade, grande envolvimento na aprendizagem, realização
de tarefas em áreas de seu interesse.”
O termo altas habilidades/superdotação surge com essa definição em 1994
com a Política Nacional de Educação Especial. Entretanto, não é incomum encontrar
na literatura diversas nomenclaturas, como supernormais, bem- -dotados, talentosos,
dotados até chegar na nomenclatura atual. Foi em 2001, com a Resolução CNE/CEB
nº 2 e com as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, as
AH/SD passaram a ser consideradas características de sujeitos com “[…] grande
facilidade de aprendizagem, que os leve a dominar rapidamente conceitos,
procedimentos e atitudes” (BRASIL, 2001, p. 2).
Olhar apenas para os mitos gera uma expectativa muito alta em relação ao
aluno nessa condição, o que pode gerar também grande estresse e,
consequentemente, desmotivação para enfrentar as situações. Isso porque a
exigência em relação a eles acaba sendo extraordinária e pode acarretar frustração e
isolamento.
O mito é considerado algo imaginário, sem nenhum embasamento teórico ou
científico. Por isso, para compreender as pessoas com AH/SD, devemos nos voltar
aos estudos científicos sobre o tema. Alguns materiais, baseados em pesquisas
científicas, são construídos a fim de auxiliar os profissionais que trabalham com alunos
com AH/SD, como é o caso dos Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo
competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos
com altas habilidades/superdotação (BRASIL, 2006). A seguir estão listadas algumas
das características mais evidentes em alunos com AH/SD, de acordo com esse
material do MEC (BRASIL, 2006).
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• Iniciativa, tendência a iniciar as atividades, buscando saciar seus interesses
individuais.
• Originalidade de expressão oral e escrita, com produção constante de
respostas diferentes e ideias não estereotipadas.
• Talento incomum para expressão em artes, como música, dança, teatro,
desenho e outras.
• Habilidade para apresentar alternativas de soluções com flexibilidade de
pensamento.
• Capacidade de enriquecimento com situações-problema, de seleção de
respostas, de busca de soluções para problemas difíceis ou complexos.
• Capacidade para usar o conhecimento e as informações na busca de novas
associações, combinando elementos, ideias e experiências de forma peculiar.
• Capacidade de julgamento e avaliação superiores, ponderação e busca de
respostas lógicas, percepção de implicações e consequências, facilidade para tomar
decisões.
• Produção de ideias e respostas variadas, gosto pelo aperfeiçoamento das
soluções encontradas.
• Aprendizado rápido, fácil e eficiente, principalmente no campo de sua
habilidade e interesse.
Ao contrário do que possa parecer ao senso comum, pessoas com AH/ SD não
pertencem a um grupo homogêneo formado por pessoas de capacidade sobrenatural:
“Na verdade, trata-se de um grupo heterogêneo, com características diferentes e
habilidades diversificadas; diferem uns dos outros também por seus interesses, estilos
de aprendizagem, níveis de motivação e de autoconceito, características de
personalidade e principalmente por suas necessidades educacionais” (VIRGOLIM,
2007, p. 11).
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humana é compreendida como a capacidade intelectual de pensar, equivalente à
racionalidade, uma manifestação humana que nos diferencia dos demais entes do
mundo. A pessoa com AH/SD tem sido definida como mais inteligente em relação à
média. Por isso, os estudos nessa área de conhecimento estão intimamente
relacionados às pesquisas sobre inteligência.
A identificação de AH/SD não se baseia em dados absolutos, pois não existem
parâmetros pré-estabelecidos para um diagnóstico definitivo. As medidas mais
precisas apontam prognósticos em função da complexidade e do envolvimento de
diversas variáveis, entre as quais pode ou não existir uma habilidade.
Com o objetivo de identificar alunos com AH/SD, em 2006, o MEC
disponibilizou um modelo de sondagem inicial, um material que possibilita que
docentes identifiquem algumas características dos alunos com essa condição
(BRASIL, 2006). Esse recurso, no entanto, não deve ser considerado um instrumento
avaliativo, mas sim um mecanismo para embasar o encaminhamento desse sujeito a
uma avaliação mais detalhada e criteriosa. Essa fase pode ser realizada com
testagens específicas de inteligência, que é o caso do psicólogo, por exemplo.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, podemos encontrar diversas
características: alto grau de curiosidade, memória elevada, atenção concentrada,
persistência, independência, autonomia, liderança, iniciativa, vocabulário avançado
para a idade, riqueza de expressão verbal, responsabilidade (BRASIL, 2006).
Como agente social, a escola deve oferecer estímulos e orientações a fim de
que todos os alunos possam se desenvolver de forma plena, propiciando um ambiente
acolhedor, que compreenda e saiba atuar com as diferenças, além de potencializar as
especificidades de cada um. Uma das tarefas do professor é estimular os talentos, o
pensamento crítico e a reflexão, permitindo que o aluno possa demonstrar suas
opiniões, desejos e preferências e desenvolva cada vez mais suas capacidades.
Pensar nas AH/SD e os processos interativos é pensar em todo o cenário onde
o educando transita. Por não ser uma habilidade muito comum, muitos profissionais
não sabem como atuar com alunos com habilidades acima da média. É compreensível
que o desconhecido provoque incertezas, dúvidas ou medos com relação a prática
docente. No entanto, esse fato não pode ser um limitador para a busca de orientação
e formação específica.
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Os estudos de Branco et al. (2017) revelam um olhar muito apurado com o
cenário educacional, em especial no que se refere ao cuidado e preparo tanto da
escola quanto dos docentes, sendo fundamental nesse processo inclusivo.
As autoras afirmam:
As AH/SD não é tema novo, muito menos atual. No entanto, para que esses
alunos possam ser identificados e atendidos no contexto escolar, há que se
promover mecanismos técnicos e científicos que rompam e desmistifiquem
as crenças errôneas voltadas para modelos únicos, padronizados e
estereotipados do funcionamento cognitivo, social, emocional e educacional
desse segmento populacional. A garantia de direitos aos alunos com AH/SD
deve estar fundamentada no princípio da diversidade humana, com vistas a
oferecer políticas que visem ao respeito pela singularidade e ao
desenvolvimento desse alunado. E, é por meio do que preconizam as
políticas que essa população começa a ganhar visibilidade e destaque nas
ações a serem contempladas junto a esse campo de diversidade (BRANCO
et al., 2017, p. 37).
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maior potencial inteligências na área psicomotora, relacional ou artística (GARDNER,
2001).
Evidentemente, o que encontramos na área das AH/SD é o desenvolvimento
de uma ou mais inteligências múltiplas exponencialmente acima da média em relação
à idade ou ao nível cultural de seu grupo. A pessoa pode apresentar um destaque em
uma ou mais inteligências. São, por exemplo, dançarinos, atores, cantores, músicos
líderes, escritores, conhecedores da natureza, líderes religiosos, palestrantes que se
destacam acima da média.
Além de Gardner, outro teórico que teve grande influência no conceito atual de
AH/SD foi Renzulli (2004). De modo geral, o autor divide a superdotação em duas
categorias principais: superdotação escolar e superdotação criativo-produtiva. A
superdotação escolar é o caso das pessoas que “[…] se saem bem na escola,
aprendem rapidamente, apresentam um nível de compreensão mais elevado e têm
sido os indivíduos tradicionalmente selecionados para participar de programas
especiais para superdotados” (ALENCAR, 2007, p. 21-22). Já a superdotação
criativo-produtiva “[…] diz respeito àqueles aspectos da atividade humana em que
se valoriza o desenvolvimento de produtos originais” (ALENCAR, 2007, p. 21-22).
De abordagem multidimensional, Renzulli (1978) afirma que o comportamento
superdotado é a interação entre três elementos: habilidade acima da média em
alguma área do conhecimento, envolvimento com a tarefa e criatividade. Segundo o
autor,
Esta ilustração é muito conhecida pelo meio científico e pelos profissionais que
atuam na área das AH/SD. De modo sintetizado, mostra as conclusões de Renzulli a
respeito do comportamento superdotado. Observe que o comportamento de
superdotação é a intersecção entre a habilidade acima da média, o envolvimento com
a tarefa e a criatividade. Esses três anéis estão dispostos sob uma base triangular em
que constam a família, a escola e os pares. Isso significa que estamos considerando
uma análise socioemocional do comportamento de superdotação. Por isso, fatores
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sociais terão grande influência no comportamento de superdotação e nas emoções
desses sujeitos.
Veja na Figura 1 uma representação da teoria dos três anéis de Renzulli.
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desenvolvimento, caso contrário, trata-se apenas de uma criança prodígio. Nem todo
prodígio será altamente habilidoso.
Além da precocidade, observamos uma dedicação em realizar tarefas de sua
área de interesse. Isso se manifesta em uma ânsia pelo saber, por dedicação e
empenho para se aprofundar em uma determinada área do saber humano, o que
resulta em um comportamento bem mais avançado do que o de colegas com a mesma
idade. Há também um alto nível de desenvolvimento em alguma área do
conhecimento ou da habilidade humana, ou em várias delas.
Interesses muito diversos dos seus pares também são comuns. As
preocupações de saber, conhecer e discutir estão relacionados a temas pouco
convencionais para as crianças, como política, economia, meio ambiente, dilemas
éticos e morais. Por isso, muitas vezes, há uma preferência por conversar com adultos
ou especialistas. Os interesses, a dedicação em realizar tarefas e a autonomia podem
provocar uma preferência em trabalhar sozinho, não por uma característica de
comportamento egoísta, mas porque se dedica e se concentra tanto em uma tarefa,
que quer compreendê-la em profundidade.
A velocidade na aprendizagem também é maior, além da capacidade de fazer
ligações com vários campos do saber, propondo ideias e demonstrando uma
desenvoltura na temática em discussão. Esses sujeitos, geralmente, têm um senso
mais apurado para observar detalhes que passam desapercebidos por outras
pessoas, sendo capaz de reinterpretar fenômenos ou situações e propor alternativas
criativas e diferentes para os problemas.
Outro aspecto se refere à apropriação da linguagem. Apresentam um domínio
verbal lógico, com um vocabulário avançado para a sua idade. A expressão verbal é
rica, fluente, nítida e concatenada, com capacidade de conexão de ideias
aparentemente divergentes. Demonstram, pela sofisticação de sua linguagem, a
riqueza de pensamento. Alguns podem desenvolver um ávido interesse pela leitura.
Observa-se ainda, de modo geral, uma memória privilegiada. Aprendem, abstraem
e relembram com muita facilidade.
Como afirmam Sakaguti e Bolsanello (2012, p. 224), “Para estas crianças, não
basta apenas conhecer o assunto que foi capaz de aprender, mas sim, apreender a
lógica na resolução dos problemas, os meios usados na sua resolução”.
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Portanto, a diferença entre uma criança com AH/SD e uma criança sem AH/ SD
é a precocidade, a profundidade e a intensidade com que as características são
apresentadas. Para que, de modo resumido, possamos compreender as
classificações do comportamento superdotado, apresentamos uma síntese no Quadro
1.
O desempenho de uma pessoa deve ser observado por meio do modo como
vivencia esse potencial em seus contextos de vida e isso exige uma
investigação mais ampla, e de preferência multidisciplinar. Os testes não
devem ser o único método usado para identificar AH/SD, pois avaliam o
potencial intelectual e operam com provas de desempenho funcional (SANTA
CATARINA, 2016, p. 27).
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escolar, recai sobre os processos de aprendizagem dedutiva, treinamento
estruturado nos processos de pensamento, e aquisição, estoque e
recuperação da informação. Já a habilidade criativa-produtiva implica no
desenvolvimento de materiais e produtos originais; aqui, a ênfase é colocada
no uso e aplicação da informação (conteúdo) e processos de pensamento de
forma integrada, indutiva, e orientada para os problemas reais (VIRGOLIM,
2014, p. 583).
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Considerando isso, os instrumentos precisam contemplar igualmente a
superdotação escolar e a superdotação criativo-produtiva, para não correr o risco de
perder muitos estudantes que não se encaixam na superdotação escolar.
Além disso, não se pode restringir os instrumentos de identificação a apenas
um elemento da vida do estudante, mas considerar o seu contexto. A ênfase deve ser
pedagógica, pois,
O professor, por sua vez, precisa saber como reconhecer os pontos fortes dos
seus alunos e ajudar a desenvolvê-los com excelência (FARIAS; WECHSLER, 2014).
Em suma, os instrumentos precisam ser variados, agregando diversas fontes
de informações, como as do próprio estudante, colegas, professores e familiares, além
de instrumentos validados aplicados por profissionais graduados, como psicólogos.
Os instrumentos devem ser utilizados em uma perspectiva qualitativa, pois, como
visto, agrega-se hoje no processo de identificação pessoas com múltiplas
inteligências, habilidades criativo-produtivas ou acadêmicas. Apenas instrumentos
quantitativos serão insuficientes para traçar uma identificação conclusiva e de
qualidade.
Na abordagem qualitativa, o professor pode utilizar diferentes instrumentos
para realizar a identificação, como questionários, entrevistas, testes de
características, observação, entre outros:
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informações acerca dos interesses, hobbies, atividades extracurriculares, hábitos de
leitura e características do aluno em avaliação, além de participação em projetos
especiais (GUENTHER, 2000, p. 175-177).
As informações que a família pode trazer ao processo de identificação são
fontes seguras e que contextualizam o ambiente do sujeito. Como destacam
Guimarães e Ourofino (2007, p. 58):
Veja a seguir uma lista de características do aluno a ser respondida pelos pais
durante o processo de identificação. Nesta escala, os pais avaliam a frequência de
cada comportamento ou situação (RENZULLI; REIS, 1997 apud GUIMARÃES;
OUROFINO, 2007, p. 58-59).
• Meu filho ou filha gasta mais tempo e energia que seus colegas da mesma
idade em um tópico de seu interesse.
• Meu filho ou filha estabelece metas pessoais e espera obter resultados do
seu trabalho.
• Meu filho ou filha continua a trabalhar em um projeto mesmo quando este
apresenta problemas ou os resultados demoram a surgir.
• Meu filho ou filha sugere maneiras imaginativas de realizar atividades,
mesmo que as sugestões não sejam, algumas vezes, práticas.
• Meu filho ou filha usa materiais de forma original.
• Meu filho ou filha gosta de brincar com ideais, imaginando situações que
provavelmente não ocorrerão.
• Meu filho ou filha acha engraçadas situações que normalmente não são
consideradas engraçadas pelos colegas de sua idade.
• Meu filho ou filha prefere trabalhar ou brincar sozinho em vez de fazer
alguma coisa apenas para fazer parte de um grupo.
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específicas. Veja a seguir as características observadas no Teste Torrance do
Pensamento Criativo (GUIMARÃES; OUROFINO, 2007).
Isso significa que, quanto antes forem identificadas as AH/SD, mais cedo os
pais e professores poderão desenvolver suas capacidades. Os alunos também
sofrerão menos prejuízos pela falta de valorização de seus potenciais. A identificação
é necessária para que possamos programar as atividades pedagógicas de acordo
com as necessidades do estudante, jamais para rotular e caracterizar. O professor
tem uma importância nesse processo, pois ele é quem está por mais tempo em
contato com o aluno. Ele, portanto, vai ver a manifestação da criatividade, das
inteligências e das questões socioemocionais.
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algumas pessoas, mas foram observados em muitas delas. É, portanto, importante
que compreendamos eles e aprendamos a minimizá-los. Confira alguns a seguir
3.3.1 Mitos
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Altos níveis de desenvolvimento da inteligência não implicam necessariamente
em altos níveis de desenvolvimento afetivo. A pessoa pode estar acima da média no
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acúmulo de conhecimentos, mas pode ter dificuldades em algumas situações de sua
vida, pois tem uma sensibilidade bem mais aflorada. A isso se dá o nome assincronia.
Assincronia diz respeito ao desequilíbrio entre os ritmos de desenvolvimento
intelectual, emocional ou motor em cada indivíduo (SANTA CATARINA, 2016).
A assincronia pode ser um desafio, pois há descompasso entre o
desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor. Pode haver habilidades cognitivas
e/ou psicomotoras superiores, que provêm da facilidade com que a pessoa acumula
informações e emoções, mas em uma quantidade muito maior do que ela pode
absorver, em virtude de sua alta sensibilidade.
Apesar de ser um conceito recorrente no estudo das AH/SD a assincronia não
pode ser considerada uma característica presente em todas as pessoas, pois este
grupo é heterogêneo e apresenta uma variedade de características na cognição, no
social e nas emoções.
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legislação garantir atendimento, muitos alunos não chegam a ser identificados, pois
os serviços ofertados são insuficientes para atender à demanda. Gama (2013, p.
176) explica que:
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4.1 Altas habilidades/superdotação e legislação
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Qualquer pessoa portadora de deficiência tem o direito de expressar seus
desejos com relação à sua educação, tanto quanto estes possam ser
realizados. […]; 3. O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas
deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas
condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras.
Aquelas deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua
e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade,
crianças pertencentes a minorias linguísticas, étnicas ou culturais, e crianças
de outros grupos desavantajados ou marginalizados (UNESCO, 1994, p. 4).
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As escolas devem matricular todos os alunos, cabendo a elas organizarem-se
para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais
(NEE), assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para
todos (BRASIL, 2001b). São considerados educandos com NEE todos aqueles que
necessitam de uma atenção especializada e apresentam dificuldades de
aprendizagem ou de uma resposta adaptada. O termo NEE surgiu com a Convenção
de Salamanca (UNESCO, 1994, p. 1), quando foram reconhecidas “[…] a necessidade
e a urgência do providenciamento de educação para as crianças, jovens e adultos
com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino”.
A Convenção da Guatemala em 1999, promulgada no Brasil pelo Decreto nº
3.956, de 8 de outubro de 2001, afirma que todas as pessoas com deficiência têm os
mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas
(BRASIL, 2001a). Define como discriminação por deficiência toda diferenciação ou
exclusão que possa impedir ou anular o exercício dos direitos humanos e de suas
liberdades fundamentais (BRASIL, 2001a). Esse Decreto tem importante repercussão
na educação, exigindo uma reinterpretação da educação especial, compreendida no
contexto da diferenciação adotada para promover a eliminação das barreiras que
impedem o acesso à escolarização.
Em 2015, a Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). A Lei
garante o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais das pessoas com
deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania (BRASIL, 2015).
Apesar dos avanços significativos nos últimos anos, a preocupação com a
pessoa com deficiência ainda é recente e merece muita atenção, pois ainda há muito
a ser feito e conquistado. Veja na Figura 2 a linha do tempo das leis de maior
relevância para a pessoa com deficiência vistas até agora.
Diante às legislações aqui percorridas, foi possível perceber os avanços que a
inclusão das pessoas público alvo da Educação Especial vem adquirindo desde 1948.
Tendo em vista, todos estes movimentos e caminhos percorridos pela educação
inclusiva, os desafios são imensos tanto para sociedade quanto para o âmbito escolar
e familiar.
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4.2.1 Direitos das pessoas com altas habilidades/ superdotação
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• Intelectual: demonstra capacidade de pensamento abstrato, realização de
associações, pensamento rápido, independência, flexibilidade cognitiva.
• Acadêmica: atenção e concentração acima da média, nível de rapidez de
aprendizagem elevado, boa memória, motivação por diversas disciplinas
(principalmente pelas de seu interesse), destaque em organização, sintetização,
avaliação e conhecimentos gerais.
• Psicomotora: apresenta interesse e destaque pelas atividades psicomotoras,
com desempenho fora do comum em velocidade, agilidade de movimentos, força
resistência e controle.
• Artística ou especial: pode se destacar nas áreas das artes plásticas,
musicais, dramáticas (teatro), literárias, entre outras.
• Liderança/social: apresenta habilidade de trato com diversas pessoas, bom
relacionamento interpessoal, poder de persuasão, revela capacidade de liderança e
boa percepção.
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vezes, não são bem compreendidas. Por isso, a inclusão desses sujeitos passa
também pelo reconhecimento e pela garantia de seus direitos.
A inclusão das pessoas com AH/SD continua sendo um dos grandes desafios.
A primeira menção a estas pessoas encontra-se na LDBEN de 1971 (Lei nº. 5.692/71).
Em 2001, na aprovação do Plano Nacional de Educação está escrito detalhadamente
que todas as pessoas têm o direito de serem atendidas pela educação especial,
incluindo as com AH/SD:
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Os professores devem observar e avaliar cada caso e, se necessário, dispor
de serviços especializados e que promovam o desenvolvimento nas seguintes áreas:
acadêmica, artística, psicomotora e social. Sendo possível, usar como apoio a sala de
recursos, em horário contrário ao da aula normal e com um professor especializado,
que propõe uma atividade programada. Desse modo, respeita-se a individualidade de
cada aluno, para que haja um melhor desenvolvimento do ensino e da aprendizagem.
Para tanto, a escola pode desenvolver novas propostas pedagógicas e, inclusive,
promover o aluno para até dois anos, pois a legislação garante ao aluno o direito de
avançar em seus estudos. Isso está previsto, como nos asseguram as Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL,
2001b, p. 49):
37
sentirem acolhidos e motivados, a chance de evasão reduz, e suas habilidades podem
ser melhor desenvolvidas no contexto escolar.
Como afirma Beyer (2006, p. 73), “[…] a educação inclusiva surgiu, ou, melhor
posto, evoluiu como conceito e proposta institucional ao longo dos anos 90”. O
movimento mundial pela educação inclusiva é uma ação política, cultural, social e
pedagógica, desencadeada em defesa do direito de todos os alunos de estarem
juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de discriminação (BRASIL,
2007). Sendo uma luta incansável a inclusão das pessoas com deficiência tanto no
ambiente educacional quanto na sociedade contemporânea, é de extrema importância
que existam leis que regulem os direitos dessas pessoas. Promove-se, desse modo,
o bem-estar em todos os âmbitos sociais que possam integrar, sem detrimento de
suas atividades, sejam elas quais forem.
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AH/SD, vai além do âmbito legal. É necessário um investimento alto para garantir a
eles a acessibilidade educacional, o que requer um trabalho coletivo de toda a equipe
escolar.
A inclusão das pessoas consideradas público-alvo da educação especial no
ensino regular, do qual os alunos com AH/SD fazem parte, requer que as suas
especificidades sejam atendidas. A não adequação a essas especificidades se
configura como exclusão. Não basta matricular esses alunos na escola regular; é
preciso criar possibilidades para que eles permaneçam na escola e que tenham
aprendizagens significativas.
Todos os espaços escolares precisam ser adaptados, porque a inclusão
escolar não acontece somente na sala de aula, mas em todos os espaços em que os
alunos circulam. No entanto, a inclusão vai além da construção de rampas, portas
adaptadas e placas sinalizadoras. Embora a estrutura física de uma escola seja
fundamental, a capacitação do corpo docente e da equipe multidisciplinar também
deve ser considerada. Além disso, é importante observar os níveis de ensino e as
mudanças necessárias para que os alunos estejam em um nível condizente com suas
capacidades.
No caso específico dos sujeitos com AH/SD, o primeiro grande desafio é
identificá-los. As pesquisas relacionadas a essa temática, ainda são pouco difundidas
nas escolas, e poucos professores têm formação específica nessa área. Além disso,
diferentemente dos sujeitos com deficiência ou com transtornos globais do
desenvolvimento, os sujeitos com AH/SD muitas vezes não são reconhecidos como
público-alvo da educação especial. De acordo com Delpretto e Zardo (2010, p. 19),
“Historicamente, os alunos com AH/SD não encontraram obstáculos no acesso à
escola comum, ingresso e matrícula. No entanto, muitos deles passavam
despercebidos na escola comum”. Isso ocorre porque eles não possuem “a marca da
deficiência” e, muitas vezes, não há laudo que justifique a sua condição.
Essa questão é bastante preocupante, pois, ao não serem reconhecidos nas
suas necessidades, esses sujeitos não têm acesso a um ensino de qualidade. É
fundamental que a instituição escolar tenha no seu quadro professores capacitados e
especializados para reconhecer as especificidades desses alunos e para encaminhá-
los de maneira adequada ao atendimento educacional especializado (AEE). A
invisibilidade das pessoas com AH/SD no contexto escolar implica a exclusão.
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Alunos com AH/SD são aqueles que demonstram potencial elevado em
qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica,
liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade,
envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse
(BRASIL, 2008).
Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu art. 55, afirma
que é obrigação dos pais ou responsáveis “[…] matricular seus filhos na rede regular
de ensino” e complementa, em seu art. 5º, que:
A legislação voltada para atender e garantir a inclusão dos sujeitos com AH/
SD não é suficiente. Enfrentamos outros problemas no contexto escolar,
principalmente por falta de conhecimento sobre as especificidades desses estudantes
e também pela falta de pesquisas sobre a temática.
Muitos mitos ainda prevalecem em relação às pessoas com AH/SD, os quais
acabam gerando muitas expectativas e frustações tanto aos alunos quanto aos seus
pais e professores. Na maioria das vezes, são considerados alunos que não
necessitam de auxílio para desenvolver atividades educacionais do dia a dia, nem
adaptações para melhor integração curricular. Em suas análises, Mantoan (2001, p.
53-54) constata que:
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5.2 Currículo e diferenças na escola regular
Todo ser humano tem suas subjetividades e diferenças. Por isso, a diversidade
não deveria causar tanta estranheza. Por questões políticas e econômicas, é imposto
um padrão de normalidade para uma sociedade que não existe, pois não saímos de
uma fôrma com todas as características iguais. Com tantas diferenças, principalmente
no que tange às pessoas público-alvo da educação especial, os direitos devem ser
respeitados.
Esses direitos são garantidos em todos os setores da sociedade, e na área da
educação não poderia ser diferente. Pessoas com AH/SD têm os mesmos direitos de
frequentarem a escola regular como qualquer outra pessoa. A legislação é bastante
clara nesse sentido. Conforme o art. 205 da nossa Constituição Federal:
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Nem todas as escolas estão preparadas para receber estudantes com AH/ SD.
O que devemos ter em mente é que a inclusão não se faz de um dia para o outro e
não pode ser um trabalho solitário. Os processos de inclusão precisam ser pensados
de maneira coletiva. Ao construir o PPP e, posteriormente, o currículo escolar, a
inclusão precisa estar na pauta do dia, e a escola precisa contar com professores
capacitados e especializados.
Desse modo, juntamente com os outros profissionais da educação e da
comunidade escolar, a escola deve adequar seus documentos escolares para
determinada realidade. Esses documentos representam a maneira como a escola
enxerga seus alunos; por isso, é importante que contemplem toda diversidade de
estudantes matriculados. O currículo escolar, ao abordar de forma equivocada essas
questões, pode gerar processos de exclusão e aumentar o discurso da desigualdade.
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objeto de conhecimento devem estar bem alinhados. Na educação inclusiva, a grande
questão é encaixar todos estes fatores, para que o processo de aprendizagem esteja
equilibrado.
O professor deve utilizar metodologias diferenciadas e encontrar situações em
que consigam desenvolver as habilidades de seus alunos em conjunto com eles.
Desse modo, podemos encontrar um espaço pedagogicamente adequado para o
desenvolvimento global das pessoas com AH/SD. Coll, Marchesi e Palacios (2004, p.
38), explicam que:
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A interação dessas três características representa o que ele chama de
comportamento superdotado. Aqueles que apresentarem interseção de dois anéis
podem ser caracterizados com uma inteligência acima da média, mas não altas
habilidades.
A ideia dessa proposta é criar um novo espaço no cronograma para que o aluno
tenha a oportunidade de participar de projetos e atividades de seu interesse. Os
professores, por sua vez, independentemente da disciplina que lecionam, estão
envolvidos, bem como os pais e a comunidade escolar. Renzulli (2004, p. 81) explica:
46
educação inclusiva que considera a diversidade como princípio. Ensinar atendendo
às diferenças individuais tornou-se uma prática constante, tanto na educação comum
quanto na educação de alunos em processo de inclusão, principalmente com a
Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
(BRASIL, 2008b). A educação inclusiva prevê uma educação de qualidade para todos,
independentemente de suas características individuais, em todos os níveis de ensino:
da educação básica ao ensino superior.
O AEE deve estimular as habilidades latentes do aluno, além daquelas que seu
ambiente cultural restringiu, observar suas áreas de interesse, oportunizando a
manifestação de todo o seu potencial criativo e intelectual. Deve também analisar as
dificuldades desse aluno, pois é um mito crer que a pessoa com AH/SD apresenta
apenas resultados positivos na aprendizagem e no aspecto emocional/relacional.
Delpretto e Zardo (2010, p. 23) elencam cinco objetivos do AEE para o aluno
com AH/SD:
48
1. Maximizar a participação do aluno na classe comum do ensino regular,
beneficiando-se da interação no contexto escolar;
2. Potencializar a(s) habilidade(s) demonstrada(s) pelo aluno, por meio do
enriquecimento curricular previsto no plano de atendimento individual;
3. Expandir o acesso do aluno a recursos de tecnologia, materiais
pedagógicos e bibliográficos de sua área de interesse;
4. Promover a participação do aluno em atividades voltadas à prática de
pesquisa e desenvolvimento de produtos;
5. Estimular a proposição e o desenvolvimento de projetos de trabalho no
âmbito da escola, com temáticas diversificadas, como artes, esportes, ciência
e outras.
49
que estão postas na legislação e nas orientações das instituições reguladoras da
educação brasileira:
50
grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas
de seu interesse.
Redefinições dos conceitos de inteligência e da compreensão das AH/SD
aconteceram, principalmente, com os estudos de Joseph Renzulli (2004) e Howard
Gardner (1994). Howard Gardner revisitou o conceito de inteligência questionando os
testes de aferição tradicionais e ampliou a inteligência para outras áreas do
conhecimento e das habilidades humanas. Para comprovar a validade de sua teoria,
estudou pessoas com AH/SD, pessoas com e sem deficiência e danos cerebrais em
diferentes culturas e os savants (pessoas que apresentam alta habilidade em uma
área, mas têm um significativo deficit de inteligência).
Ao desenvolver a teoria das inteligências múltiplas, o conceito de inteligência
passa a ser revisto, incorporando novas inteligências à habilidade linguística e lógico-
matemática. Assim, as oito inteligências são: inteligência corporal-cinestésica;
inteligência interpessoal; inteligência musical; inteligência lógico-matemática;
inteligência linguística; inteligência naturalista; inteligência intrapessoal e inteligência
espacial.
Renzulli (2004) traz uma perspectiva multidimensional da AH/SD, que
denomina como comportamento de superdotação. Para ele, o comportamento
superdotado é a interação entre três elementos: habilidade acima da média em
alguma área do conhecimento; envolvimento com a tarefa e criatividade. Observe na
Figura 4 que a intersecção entre esses três elementos caracteriza o comportamento
de superdotação.
51
A habilidade acima da média divide-se em geral e específica. A geral é a
utilização do raciocínio abstrato produzindo respostas adequadas e generalizáveis, e
a específica é a aplicação de várias habilidades gerais a uma ou mais áreas do
conhecimento, habilidades psicomotoras, relações interpessoais, arte. O
envolvimento com a tarefa é a persistência, a perseverança em executar uma ação
ou atividade. A pessoa aplica todo o seu potencial criativo revestido de uma
autoconfiança e determinação. Já a criatividade é o uso de todos os recursos
intelectuais, motivacionais, inovadores ou criativos que resultam em produtos ou
soluções superiores e surpreendentes (FREITAS; PÉREZ, 2012).
Renzulli (2014), após o trabalho intensivo com um grupo de alunos, conseguiu,
de certa forma, categorizar o comportamento de superdotação em: superdotação
escolar e superdotação criativo-produtiva. Essa proposta está sintonizada com a
concepção de inteligência de Gardner: uma concepção múltipla da inteligência e das
altas habilidades/superdotação. Portanto, a partir das mudanças do paradigma
conceitual da inteligência propostas por Gardner e as redefinições das AH/SD
expostas por Renzulli, chegamos à definição atual de AH/SD que está na Política
Inclusiva do AEE. Essa definição utiliza conceitos de inteligência e de AH/SD
multidimensionais (FREITAS; PÉREZ, 2012).
Esses estudos trouxeram um avanço, pois anteriormente apenas alunos com
alto nível de habilidades acadêmicas eram considerados o público-alvo do AEE,
principalmente habilidades relacionadas à área linguística e matemática. Alunos com
potenciais elevados em outras áreas das habilidades e do conhecimento humano
eram desconsiderados.
Por fim, atualmente define-se como sendo o público-alvo do AEE na área das
AH/SD aquele aluno que apresenta habilidade acadêmica acima da média de seus
pares da mesma idade e mesmo contexto cultural ou que demonstra um alto
envolvimento com a tarefa, além de ser criativo. As manifestações de sua inteligência
poderão ser múltiplas, com alta performance em uma ou mais das inteligências de
Gardner (corporal-cinestésica, interpessoal, musical, lógico-matemática, linguística,
naturalista, intrapessoal e espacial). Os traços que apresentam são: capacidade
intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo-produtivo,
capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora. Esses
traços podem ocorrer isolados ou combinados. Além disso, podem estar aparentes,
52
por terem sido adequadamente estimulados, ou ocultos, por necessitarem de um
ambiente instigante para desenvolver habilidades latentes.
53
planejamento individualizado, periodicamente avaliado e revisado, que considera o
aluno em patamar atual de habilidades, conhecimentos e desenvolvimento, idade
cronológica, nível de escolarização já alcançado e objetivos educacionais desejados
em curto, médio e longo prazos” (GLAT; VIANNA; REDIG, 2012, p. 84).
O trabalho com o PDI requer avaliações sistematizadas que permitam elencar
metas prioritárias para alcançar um objetivo específico para o aluno. Segundo
Mascaro (2018), os objetivos a serem trabalhados podem ser os mesmos do seu
grupo de referência/ano escolar. O que muda, a partir da aplicação do PDI, são as
metas a serem atingidas pelo aluno.
Para elaboração do PDI, portanto, devem ser observados os seguintes fatores:
54
como o número de atendimentos e o período em que será realizado. Para realizar a
identificação, sugere-se a lista-base de indicadores de superdotação. Veja o
formulário na íntegra na Figura 5.
55
Ainda visando subsidiar a sua prática, sugere-se um modelo que pode ser útil
não só na área das altas habilidades, mas também em outras modalidades do AEE,
especialmente nas ações em sala de aula. Inicialmente, devem ser descritos os dados
56
de identificação do aluno; em seguida, os obstáculos e as potencialidades que o aluno
apresenta, além dos atendimentos ofertados externamente e internamente.
Em forma de tabela, você descreverá a área do conhecimento humano a que
se refere o plano, o conteúdo a ser enriquecido, os objetivos a serem atingidos, as
adaptações curriculares, as estratégias educacionais, os recursos materiais e como
será realizada a avaliação da aprendizagem. Veja o modelo na Figura 8.
57
ensino comum. As situações didáticas a serem ofertadas para o aluno com AH/SD
devem ser minuciosamente detalhadas e planejadas pelo professor do AEE, para
permitir que a aprendizagem ocorra de modo significativo e envolvente. Além disso, o
plano de ensino precisa contemplar os diferentes ritmos e características dos alunos.
Atividades suplementares nas classes comuns, nas salas de recursos ou em outros
espaços fazem parte da avaliação, de modo a colocar em prática o enriquecimento
com aprofundamento curricular previsto pela legislação brasileira.
58
produtividade criativa transforma o papel do aluno de um aprendiz de lições em um
pesquisador de primeira categoria que pode experimentar as alegrias e as frustrações
da produtividade criativa”. Além disso, consideramos o conceito de inteligências
múltiplas de Gardner (1994): linguística, lógico-matemática, espacial, musical,
corporal cinestésica, naturalista, intrapessoal e interpessoal.
7.1.1 Diagnóstico
7.1.3 Currículo
59
amparos legais para que os professores e a equipe pedagógica flexibilizem o currículo
e realizem adaptações, como priorizar determinado conteúdo e eliminar outro,
modificar a sequência, agrupar e compactar conteúdo e modificar instrumentos e
critérios de avaliação. Além disso, como mencionado anteriormente, o aluno e o
professor têm subsídio da legislação para realizar aceleração ou fazer modificações
em relação ao cronograma regular. Todas estas modificações curriculares devem
estar descritas em detalhes no PPP.
60
extraclasse, como visitas a centros de pesquisa, laboratórios, museus, ateliês e
exposições, além de participação em aulas em universidades, pesquisas na internet,
participação em projetos, tutorias e mentorias (FREITAS; PÉREZ, 2012).
As adaptações curriculares também fazem parte do enriquecimento
intracurricular. No caso do aluno com AH/SD, são as modificações na maneira de
ensinar, avaliar e distribuir o conteúdo alterando objetivos, critérios e instrumentos de
avaliação e introduzindo atividades complementares.
61
aprender; (c) habilidades no uso apropriado de pesquisa de nível avançado e
materiais de referência e (d) habilidades de comunicação escrita, oral e visual
(RENZULLI, 2014, p. 546).
62
7.2 Planejamento e práticas pedagógicas para alunos com altas
habilidades/superdotação
As ações humanas planejadas têm chance muito maior de obter sucesso. Por
exemplo, uma viagem bem-planejada tem menores chances de acabar em situações
inesperadas. Do mesmo modo ocorre com as práticas na SRM. As atividades
planejadas no AEE para o aluno com AH/SD podem ser comparadas com uma
viagem. É uma viagem ao conhecimento aprofundado e lapidado, o que gera uma
expectativa muito positiva para o aluno. Por isso é tão importante planejar, “[…] traçar,
projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de
conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para/com o
grupo” (OSTETTO, 2000, p. 177).
O planejamento deve ser elaborado considerando as opiniões, desejos,
aspirações de todos os envolvidos no processo: professores, pais, pedagogos e,
principalmente, o aluno. O planejamento do ensino precisa da “[…] atuação concreta
dos educadores no cotidiano do seu trabalho pedagógico, envolvendo todas as suas
ações e situações, o tempo todo, envolvendo a permanente interação entre os
educadores e entre os próprios educandos” (FUSARI, 1989, p. 10). Sendo
democrático, o planejamento tem mais chances de dar certo. Os envolvidos na sua
elaboração estarão mais motivados a executá-lo, pois suas opiniões e anseios foram
considerados.
A ação educativa é baseada em atividades práticas, mas o professor deve ter
capacidade reflexiva para preparar, aplicar e avaliar a sua intervenção. Uma
intervenção estruturada com reflexão na ação traz estes elementos dispostos
temporalmente: identificação e planejamento ocorrem antes, intervenção
pedagógica ocorre durante, e avaliação ocorre depois. Planejamento, intervenção e
avaliação são interdependentes.
Toda essa linha de trabalho depende de uma reflexão constante para observar
o que precisa ser aprimorado, o que não atingiu a motivação do aluno, o que precisa
ser repetido. Dessa forma, observa-se se o planejamento necessita ser revisto ou se
atingiu seus objetivos.
Após aplicar os instrumentos de diagnóstico, compostos principalmente por
entrevista com pais e aluno, realização de testes específicos, avaliação do portfólio
do aluno e sua trajetória escolar, inicia-se o planejamento. Seguindo uma tendência
63
orientada por instâncias que regulam a educação especial e inclusiva, a fase de
planejamento compreende a elaboração do PDI, que contém as necessárias
modificações ou adaptações curriculares para o desenvolvimento escolar do aluno,
considerando as suas especificidades.
64
Por meio da aprendizagem por descoberta, os alunos partem de questões a
solucionar e, enquanto investigam as possíveis soluções, testam hipóteses sem que
o professor dê a resposta, mas faz questionamentos para que o aluno tire suas
conclusões. De acordo com Piaget, “As aquisições e descobertas daquele que o faz
por si mesmo são muito mais produtivas” (PIAGET, 1976, p. 59-60). Desta forma, o
aluno tem a oportunidade de perceber que há soluções melhores do que outras, e o
professor assessora a atividade intervindo apenas quando necessário para evitar que
as soluções sejam induzidas. Esse é um modo de incitar a curiosidade e fazê-lo se
sentir desafiado.
A educação problematizadora e a aprendizagem por descoberta são valiosas
para o aluno com AH/SD, pois a aprendizagem hipotética vai além da simples
memorização ou reprodução do conteúdo. Para contemplar essa proposta
metodológica é importante organizar os conteúdos agrupando-os em unidades
didáticas, centros de interesse, projetos, resoluções de problemas, estudos de caso e
eixos temáticos
7.2.2 Projetos
65
na “era digital” ou “era da sociedade da informação/conhecimento”. Crianças e jovens,
nossos alunos, são nativos digitais. Certamente, a maioria dos alunos com AH/SD têm
uma facilidade e um hiperfoco para interagir com todos os recursos tecnológicos
disponíveis. Isso significa que as práticas pedagógicas precisam necessariamente ser
mediadas pela tecnologia para atender a uma nova realidade: a da transformação da
educação por meio da tecnologia. Confira a seguir algumas ferramentas que podem
ser úteis.
66
• Socrative: para elaborar questionários on-line e exercícios de qualquer tema,
em qualquer nível e em diferentes formatos. O aluno com AH/ SD também pode criar
seus próprios materiais.
• Powtoon: para criar animações (tanto o professor quanto o aluno).
• Mindmeister: para criar mapas mentais ou conceituais junto com o aluno.
67
[…] constitui-se basicamente de três momentos: o primeiro busca verificar os
conhecimentos prévios dos alunos sobre os conteúdos a serem trabalhados
pedagogicamente, suas hipóteses e referências de aprendizagem; o segundo
se relaciona ao processo de aprendizagem, ao acompanhamento e
aprofundamento dos temas estudados; e o terceiro momento diz respeito ao
que os alunos aprenderam em relação à proposta inicial e as novas relações
estabelecidas.
68
processo de aprendizagem. A isso se dá o nome de avaliação qualitativa, em que o
processo é mais importante que o resultado. Analisam-se o ponto de partida, a
maneira como o aluno estava antes e como fica depois. Observam-se a evolução e
os acréscimos nessa aprendizagem.
Nesta concepção de avaliação, não há apenas um modelo-padrão a ser
seguido para a avaliação, como as tradicionais provas, exames e trabalhos, tampouco
em tempos pré-determinados. Podem ser inseridas autoavaliações, avaliações orais
e gravadas, além de portfólios de atividades, que “[…] é um procedimento de avaliação
que permite aos alunos participar da formulação dos objetivos de sua aprendizagem
e avaliar o seu progresso. Eles são, portanto, participantes ativos da avaliação,
selecionando as melhores amostras de seu trabalho para incluí-las no portfólio”
(VILLAS BOAS, 2004, p. 38).
Outros instrumentos são os resultados de elaboração de produtos, produção
de textos, de modo contínuo. Dessa forma, pode-se também avaliar a prática do
professor. Um exemplo de avaliação é a produção de um livro de contos, um varal de
poesias, a escrita de um artigo científico. Um exemplo de produto é a criação de um
jogo, de um protótipo, de uma maquete.
Considerando que no AEE o instrumento norteador da prática é o PDI e que
nele estão estabelecidos os objetivos de aprendizagem, as práticas pedagógicas e os
recursos a serem utilizados, é preciso fazer também a elaboração de um relatório final
de avaliação emitindo um parecer sobre o resultado da aplicação das atividades de
enriquecimento curricular.
Portanto, no AEE, o professor da SRM, elabora um relatório de avaliação,
instrumento qualitativo que descreve o desenvolvimento do aluno nas atividades que
foram planejadas. Cada estado ou município tem um modelo próprio, mas em linha
gerais o documento segue um padrão que contém dados de identificação, áreas de
desenvolvimento, estratégias de enriquecimento e resultados obtidos.
69
disseminado pelo senso comum, que deve ser derrubado, principalmente no âmbito
escolar. As altas habilidades/superdotação são definidas pelo Ministério da Educação
como comportamentos observados ou relatados que confirmam a expressão de traços
consistentemente superiores em relação a uma média, em qualquer campo do saber
ou do fazer (BRASIL, 1995). Ao contrário do que possa parecer, os professores
enfrentam desafios para o ensino desses sujeitos, já que eles podem exigir estímulos
diferentes para sustentar sua atenção em sala de aula. Por isso, é necessário que o
professor, primeiro, entenda a condição real de pessoas com altas habilidades e,
depois, esteja consciente dos recursos e das estratégias que podem ser utilizados
para ajudá-los no ensino desses alunos.
70
criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu
interesse”.
Não há recursos tecnológicos específicos destinados para eles, visto que cada
um possui particularidades, necessidades e interesses únicos. Por isso, é necessário
conhecer os comportamentos e especificidades de cada sujeito. O processo
educacional desses alunos precisa de ações pedagógicas, planejamentos e estímulos
de acordo com suas necessidades. É necessário, portanto, um olhar diferenciado do
professor para perceber o que cada aluno precisa e, assim, utilizar os recursos
tecnológicos adequados. Com isso em mente, vamos conhecer algumas sugestões
de recursos tecnológicos que poderão ser utilizados como ferramentas de ensino. A
escolha do recurso tecnológico mais útil será feita de acordo com o perfil de cada
aluno (SIMON, 2019).
Os recursos tecnológicos digitais oportunizam aos sujeitos com AH/SD
aprender, por exemplo, como se dá a construção de sites, blogs e, até mesmo, objetos
de aprendizagem, por meio de um recurso simples como o Power Point. Dentre as
possibilidades de recursos para o ensino desses alunos, estão alguns aplicativos.
O aplicativo Voki, por exemplo, possibilita a construção de avatares. Com isso,
motivamos os alunos para construir e ampliar suas habilidades de leitura, escrita e
comunicação. Por meio dele, é possível criar histórias com áudios com sua própria
voz ou com voz computadorizada. Este aplicativo é gratuito, mas contém algumas
ferramentas pagas. Primeiramente é necessário escolher o personagem do seu
avatar, que pode ser um ser humano, um animal, entre outros. Depois, é possível
escolher as roupas, os acessórios e a paisagem de fundo. O aluno também pode
escolher detalhes da aparência do personagem, como cor dos olhos, cabelos, pele.
Por fim, pode criar falas em vários idiomas, inclusive o português, e gravar voz. Veja,
na Figura 9, um exemplo de avatar criado com o Voki.
Outro aplicativo que também pode ser utilizado como recurso tecnológico
destinado ao ensino dos sujeitos com AH/SD é o Quiver (Figura 10), que oferece a
experiência de realidade aumentada. As páginas ganham vida em sua forma
exclusivamente colorida. Por meio de imagens reais, o aluno pode perceber detalhes,
conhecer como realmente são, por exemplo, as células, os órgãos humanos, os
dinossauros, outros animais, lugares. Esse aplicativo é gratuito, de fácil instalação e
está disponível em português. Para utilizá-lo, basta posicionar imagens coloridas no
71
visor da câmera. O recurso proporciona o desenvolvimento de diversas habilidades e
conhecimentos sobre vários assuntos. Pode ser utilizado desde a educação infantil
até o ensino superior e em diversas áreas do conhecimento.
72
De acordo com Pedro e Chacon (2017, p. 68):
73
8.2 Estratégias pedagógicas com o uso das tecnologias digitais para alunos
com altas habilidades/superdotação
74
tecnológicos têm sido muito utilizados na educação como ferramenta de ensino e
aprendizagem.
As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes na vida de todos, e a
aplicação desses recursos tem sido um meio proveitoso de desenvolver
conhecimento. Para os alunos com AH/SD, isso não é diferente. É possível estimular
suas potencialidades criativas e seu senso crítico, evitando desperdícios no
desenvolvimento. “Quando o atendimento diferenciado não é oferecido, um dos únicos
caminhos para os alunos com altas habilidades/superdotação é tentar se adaptar à
rotina do ensino convencional, o que pode gerar desperdício de talento, potencial ou
desmotivação por não estarem devidamente assistidos” (FLEITH, 2007, p. 69).
Pensando nos recursos a serem utilizados, as tecnologias são grandes aliadas nesse
processo.
77
aluno com AH/SD necessita (PISKE; STOLTZ; BAHIA, 2015). Além disso, a família é
importante para o processo de manifestação, reconhecimento e desenvolvimento das
AH/ SD no indivíduo (SILVA; FLEITH, 2008). A família, portanto, é o ambiente social
primário em que o jovem pode desenvolver a sua identidade, autoestima e motivação
para o sucesso (HELLSTEDT, 1987).
Além disso, alguns problemas emocionais podem ser muito frequentes, como
(DAVIS; RIMM, 1994):
78
• dificuldades em relações sociais;
• dificuldades em aceitar críticas e realizar tarefas repetitivas;
• ansiedade e autoconsciência elevadas;
• competitividade em níveis não saudáveis.
79
9.2 A importância da boa relação entre família e escola no desenvolvimento
dos alunos com altas habilidades/superdotação
81
suas peculiaridades, pelos papéis assumidos por elas e por cada um de seus
membros e pela dinâmica na sua organização (WAGNER, 2002).
Aproximar-se da família do aluno com AH/SD é imprescindível para o
atendimento educacional adequado e de excelência. Deleou (2001) aponta que
quanto menos esclarecida for a família, mais esta fantasiará os proveitos e vantagens
que poderá alcançar na situação de ter um filho com AH/SD. No entanto, famílias mais
esclarecidas poderão enfrentar mais conflitos por não encontrarem na sociedade a
receptividade, a aceitação e o atendimento apropriado às necessidades educacionais
de sua criança.
Muitas das principais relações familiares que influenciam o desenvolvimento de
indivíduos com AH/SD ocorrem entre irmãos (com ou sem deficiência). Essas relações
podem ocorrer de duas formas antagônicas: a rivalidade e a solidariedade (OSÓRIO,
2002). Em muitas ocasiões, os irmãos frequentam a mesma escola ou a mesma
classe. Aqui justamente apresenta-se uma oportunidade para que os professores e a
escola aprimorem as relações e estreitem laços com a família dos alunos com AH/SD.
Auxiliar na mediação de conflitos e no bom convívio entre irmãos certamente
acarretará resultados positivos tanto para o processo de ensino-aprendizagem quanto
para o relacionamento escola-família (RECH, 2016).
Outra realidade presente em muitas famílias (o que inclui as que possuem
indivíduos com AH/SD) é que o cuidado e acompanhamento dos filhos é quase
exclusivamente delegado à mulher (ALMEIDA, 2014). Existem ocasiões em que
ambos os pais possuem tarefas laborais que consomem muitas de suas horas diárias,
restando pouco tempo para se dedicarem aos seus filhos. Nessas situações, é comum
os pais procurarem escolas de tempo integral, deixando o cuidado dos seus filhos sob
a responsabilidade de terceiros. A escola pode, então, criar um diálogo com os pais,
sobretudo no que diz respeito às responsabilidades que ambas as partes devem
exercer. Além disso, a escola pode utilizar das produções acadêmicas dos próprios
alunos como forma de valorizar o sentimento de orgulho e satisfação dos pais com os
seus filhos.
Outro fato que pode afetar a relação entre a escola e a família é o desempenho
do aluno. Geralmente, toda a carga negativa em relação ao desempenho aquém do
esperado para o aluno com AH/SD recai sobre a escola e os professores. Novamente,
torna-se imprescindível o contato entre escola e família. Muitas vezes, os problemas
82
que estão afetando o desempenho destes alunos poderiam ser resolvidos de modo
simples e rápido. Entretanto, isso não acontece, o que acaba resultando em
problemas de maior magnitude e difíceis de se resolver.
Essa comunicação e/ou ajustamentos devem ser realizados primeiramente no
próprio corpo escolar para que posteriormente ocorram as aproximações com a
família. É importante desmistificar a figura de detentor do poder que alguns entes da
escola têm (como é o caso do diretor, por exemplo). Pais, professores e equipe diretiva
têm igual papel na educação e no desenvolvimento de alunos com AH/SD. Respeitar
essa igualdade aprimorará as relações entre todos.
Por fim, Almeida (2014) indica cinco estratégias principais que devem ser
adotadas por pais e escola, essenciais para o desenvolvimento do trabalho
colaborativo.
83
10 ÉTICA E ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO
Por meio de uma abordagem filosófica, podemos definir ética, de acordo com
Tomelin e Tomelin (2011, p. 150), como “[…] uma das áreas da Filosofia que investiga
sobre o agir humano na convivência com os outros e estuda a moral que surge nesta
convivência. Ética provém do grego e significa ethos, que pode ser entendido como
casa, morada, habitat ou costume”. Segundo o Ministério da Educação, “A ética
interroga sobre a legitimidade de práticas e valores consagrados pela tradição e pelo
costume. Abrange tanto a crítica das relações entre os grupos, dos grupos nas
instituições e perante elas, quanto a dimensão das ações pessoais” (BRASIL, 1997a,
p. 25).
Além disso, a ética pode ser entendida como:
84
Ética e moral estão intrinsecamente ligadas e, muitas vezes, seus significados
são confundidos:
85
O professor ensina seus alunos a conviver em sociedade, respeitando os
colegas, o próprio professor, as pessoas em geral, o meio ambiente, entre outros. Ao
contrário do que o senso comum pode pensar, essa não é uma obrigação da família
somente, porque a escola é o ambiente de socialização secundário da criança, onde
ela irá permanecer por mais de 10 anos de sua vida. Por isso, é fundamental que
esses temas sejam trabalhados com os alunos.
De acordo com a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, as pessoas com AH/SD são também o público-alvo da Educação
Especial (BRASIL, 2008). Uma das maiores dificuldades desse grupo de pessoas é
conviver em condições e com tratamentos igualitários, respeitando suas
características e não exacerbando suas potencialidades, assim como acontece com
as pessoas com deficiência. Nas palavras de Plaisance (2010, p. 30):
[…] há indivíduos com AH/S que apresentam baixo rendimento escolar, visto
que tendem a manifestar falta de interesse e motivação para os estudos
acadêmicos e para a rotina escolar, muitas vezes em função da facilidade
para assimilar o conteúdo, bem como pela limitação de potenciais criativos
dentro do ambiente escolar. […] ocorrência de dificuldades de ajustamento
ao grupo de colegas, problemas de comportamento que, por sua vez, podem
desencadear problemas de aprendizagem e de adaptação escolar (SEABRA
et al., 2014, p. 207-208).
87
desenvolvimento. Além disso, deve mediar as relações sociais que acontecem no
cotidiano da escola, buscando sempre o senso ético e de justiça nesses diálogos. Um
dos aspectos fundamentais nessa convivência é a autonomia nas relações dentro da
sala de aula. Eticamente, a autonomia, as regras e as concepções morais devem ser
discutidas com todos os envolvidos, incluindo os alunos com AH/SD. De acordo com
o Ministério da Educação (BRASIL, 1997b, p. 62-63):
Existe uma forma de melhor aproveitar o trabalho com alunos com AH/SD em
sala de aula — a aceleração de estudos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (BRASIL, 1996, documento on-line) prevê a “[…] aceleração para concluir
em menor tempo o programa escolar para superdotados”, a ser realizada mediante
avaliação de conhecimentos na própria escola e documentada em registros
administrativos. Algumas possibilidades de aceleração envolvem promoção
antecipada para series seguintes, estudos paralelos, como cursar o ensino
fundamental e médio ao mesmo tempo, trabalho com um mentor dentro e fora da
escola, dentre outros.
No entanto, a criança com AH/SD tende a se isolar caso não seja compreendida
ou estimulada. Na literatura científica, observam-se as seguintes manifestações:
dificuldades de relacionamento, problemas de conduta, vulnerabilidade,
perfeccionismo, tendência a questionar regras. Por isso, o professor em sala de aula
pode enfrentar situações desafiadoras, que devem ser tratadas com ética e
88
sensibilidade, visto que o aluno com AH/SD já está fragilizado por não ser
compreendido e por, muitas vezes, não compreender a si próprio (MARQUES, 2017).
Normalmente, o debate sobre Educação Especial é direcionado para as inúmeras
deficiências e não para as altas habilidades. Cabe ao professor, então, acompanhar
e avaliar adequadamente seu aluno com AH/SD para que possa estimulá-lo em
desenvolvimento. Essa avaliação deve ser feita com informações advindas da
família e da escola. Desse modo, o professor poderá analisar se o aluno possui os
três traços definidos pelo Ministério da Educação: “[…] envolvimento com a tarefa,
habilidade acima da média e criatividade, pois através desses três traços se forma
a superdotação” (PAIVA, 2015, p. 15). É importante que sejam realizados encontros
de 15 em 15 dias com os alunos e seus familiares. Nesses encontros,
devem ser discutidas possibilidades para:
89
11.1 Acolhimento de sujeitos com altas habilidades/superdotação em variados
contextos sociais
Nos anos 1970, a inclusão social de pessoas com algum tipo de necessidade
especial já era tida como direito social básico, incluído em documentos legais e
normativos. Desde então, especialmente por volta da década de 1980, a discussão
sobre inclusão social tem crescido em todo o mundo, com a intenção de impulsionar
políticas públicas e movimentos sociais.
Para Mazzotta e D’antino (2011, p. 378) “[…] a inclusão social é entendida como
a participação ativa nos vários grupos de convivência social”. É uma forma de acolher
pessoas com alguma necessidade especial, porque permite a criação de novas
políticas públicas que reforçam a premissa de que todos somos iguais e temos o
direito de estar e conviver em todos os lugares.
O acolhimento de sujeitos com AH/SD é necessário não somente no ambiente
escolar, mas também em todos os ambientes por onde circulam. Acolher significa
humanizar e abrange várias dimensões, como ética, relacional, técnica, política. A
dimensão ética diz respeito ao compromisso de reconhecimento do outro em toda a
sua singularidade, percebendo seus sofrimentos, suas potencialidades e, acima de
tudo, seu modo de vida. Na dimensão relacional, temos o desenvolvimento de
habilidades que nos permitem receber, escutar e tratar as demandas e estabelecer
uma relação de confiança, que é essencial. Na dimensão técnica, é necessária uma
articulação dos saberes com o propósito de identificar as necessidades das pessoas
com AH/SD durante o processo de acolhimento. Já a dimensão política exige um
comprometimento coletivo para potencializar a autonomia e o protagonismo das
pessoas com AH/SD.
Para que esse acolhimento ocorra da melhor maneira possível, as políticas
públicas precisam funcionar de maneira adequada. É fundamental a empatia de todos
os sujeitos envolvidos nesse processo. Conforme Moreira, Torrenté e Jucá (2018, p.
1124): “Uma primeira perspectiva é institucional, pressupondo uma estética, um
ambiente e formas de relação que facilitem o sentimento de pertença, segurança e
acolhimento, que veicule a disponibilidade para o cuidado incondicional e que crie
condições adequadas para a expressão genuína do sujeito.”
Existe uma vasta bibliografia que trata sobre sujeitos com AH/SD no meio
escolar, mas poucos estudos se dedicam ao seu cotidiano. Para que a discussão se
90
estenda, é necessário estimular o sentimento de pertencimento de todos os sujeitos
dentro de uma sociedade, para que eles possam usufruir de ambientes não somente
escolares, mas também de todos os outros espaços públicos. Isso inclui que possam
estabelecer relações de trabalho saudáveis, passear em shoppings, parques,
cinemas, utilizar o transporte público. Os exemplos não se esgotam aí; há
possibilidades de interação social em todos os espaços, o que nos fortalece enquanto
seres humanos e cidadãos. O contato com o outro é a melhor forma de conhecer e
acabar com o preconceito institucionalizado em nossa cultura. Avançar com pesquisas
que retratem o dia a dia desses sujeitos é de fundamental importância, porque permite
identificar o que é preciso fazer para que a inclusão de todos de fato ocorra.
91
Nosso papel como sociedade é buscar compreender as AH/SD, para poder incluir e
acolher essas pessoas. Rech, Bulhões e Pereira (2017, p. 7877) explicam que:
92
11.3 Inclusão de sujeitos com altas habilidades/ superdotação no convívio
social
93
responsabilidade familiar ou interno em instituições ‘protegidas’, segregado
do resto da população (GÓIS; SANTOS; SANTOS, 2012, p. 6).
O que os autores nos trazem ainda está muito presente em nossa sociedade.
Muitas famílias ainda escondem os sujeitos que possuem alguma necessidade
especial. Com os que possuem AH/SD isso também ocorre. Apesar de muitas
pessoas ainda terem esse tipo de pensamento, o cenário está mudando e
corroborando para uma melhor prática social, buscando incluir todos. Conforme
explicam Glat e Cândida (1996, apud GÓIS; SANTOS; SANTOS, 2012, p. 6):
“Somente a partir da segunda metade do século XX, meados da década de 50, com
o surgimento da psicologia, da aprendizagem linguística, da análise experimental do
comportamento e outras ciências afins, começaram a surgir propostas alternativas
para o atendimento aos portadores de necessidades especiais.”
Mudar esse cenário é papel de todos nós, por meio de formação, investimento
em políticas públicas, educação, saúde, lazer, esporte e cultura. As pessoas com
necessidades especiais, e nesse caso AH/SD, precisam ter seus direitos garantidos e
respeitados por todos os segmentos sociais. Incluir e dar acesso a todos os setores
de nossa sociedade não é favor, é obrigação de todos nós. O primeiro passo é, como
mencionado anteriormente, entender as diferenças para acabar com a falta de
conhecimento sobre o assunto em questão.
94
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