Você está na página 1de 87

 

 
 
 
 
 
LIVRO I:
Sumário
CAPÍTULO 1.
CAPÍTULO 2.
CAPÍTULO 3.
CAPÍTULO 4.
CAPÍTULO 5.
CAPÍTULO 6.
CAPÍTULO BÔNUS.
CAPÍTULO 7.
CAPÍTULO 8.
CAPÍTULO 9.
CAPÍTULO 10.
CAPÍTULO 11.
EPÍLOGO.
CAPÍTULO 1.
Bella
 
— Sabe que não precisa ficar sozinha, não é? — Racer colocou a caixa
de livros, que segurava com seus braços fortes, sobre a mesa de jantar. —
Meus pais gostam de você lá em casa. Vão sentir saudades.
Sorrio, amando a sensação de saber que existem pessoas que sentem
minha falta e fazem questão de me ter por perto. Anuí, enquanto me estico
para organizar a primeira prateleira da estante. 
— Eles não vão sentir, porque irei sempre por lá. — rebati. — Mas eu
preciso do meu próprio lugar, Racer. Eu os amo, só que por mais que eu
esteja feliz em finalmente ter uma família e conseguir receber toques e
abraços dessas pessoas, eu ainda sinto falta da minha privacidade, do meu
espaço. E… — Senti minhas bochechas esquentarem e abaixei a cabeça
para tentar disfarçar. 
— E o quê? — Racer insistiu. — Por que desviou os olhos, linda? 
Sacudi a cabeça, numa tentativa de me sair daquela situação e foquei em
pegar mais livros de dentro da caixa. 
Como eu falaria para ele o que passou pela minha cabeça? Não dava.
Ainda não conseguia pronunciar certas coisas, porque parecia tão erradas… 
Um formigamento passou pelo meu corpo quando a mão grande dele
segurou meu braço, me impedindo de voltar para a estante. Eu estava
fazendo tratamento para minha fobia de toques e afetos e estava dando certo
na maior parte do tempo, mas, às vezes, alguns sintomas ainda surgiam
quando o toque era inesperado. Segundo Diego, meu psiquiatra, era normal,
uma vez que meu corpo e mente se preparavam antecipadamente para
receber toques, então, quando alguém me pegava de surpresa, os sinais de
alertas — enjoos, arrepios, ânsias de vômito — apareciam. Estamos
trabalhando nisso também. 
Mas quando aqueles incríveis olhos azuis encontraram os meus, o
formigamento se transformou em um arrepio, só que não por nojo ou fobia.
Era a sensação que senti as quatro únicas vezes que Racer conseguiu me
beijar, em quase um ano de tratamento. 
— Fala comigo, linda. — pediu, sua voz grossa acariciando as borboletas
em meu estômago. Soltou meu braço quando notou meu corpo um pouco
rígido e enfiou as mãos nos bolsos de sua calça, o que costumava fazer para
me fazer sentir segura.
Suspirei, frustrada e envergonhada ao mesmo tempo. Apoiei-me no
encosto do sofá, meus ombros caídos.
— É que… ultimamente tenho me sentindo um pouco estranha. 
Ele franziu o cenho, com preocupação.
— Como assim? Acha que a fobia está voltando?
— Não. — Neguei com a cabeça. — Deus me livre! — Meu rosto se
contorceu com uma careta. — É mais para um sentimento de… excitação.
— O rosto inteiro queimou. Eu sequer o olhei nos olhos. — Sei lá. Tenho
vinte e três anos e nunca imaginei que fosse me sentir assim, mas quando
estou perto de você, eu começo a ter uns arrepios estranhos… 
Seus olhos crescem com o reconhecimento, e eu juro que queria um
buraco para enfiar minha cabeça, como um avestruz. Racer riu, daquele
jeito torto, e se aproximou mais, com cuidado. 
— Está me dizendo que você quer-
— Transar com você? — Joguei, olhando-o dessa vez. Já estava morta de
vergonha, então o que era só mais um pouco? — Sim, quero. E muito. Mas
não queria que acontecesse na casa dos seus pais, então… — Gesticulei ao
redor do apartamento bonito, que foi uma cortesia da LEA, empresa de
arquitetura e engenharia da família dele. Mesmo eu insistindo para pagar
aluguel, eles não aceitaram. Algo sobre fazer parte da família, eles
alegaram. 
— Então a decisão de morar sozinha? 
Foi a vez dos meus olhos se arregalarem. A timidez fez meu corpo
encolher um pouco diante daquele sorrisinho abusado nos lábios dele. 
— Ah, droga. Agora parece que eu sou uma pervertida, não é? — Deixei
os livros que estavam em minhas mãos de lado e cobri meu rosto com elas,
tentando sumir dali. 
Escutei a risadinha de Racer, então ele falou:
— Vou pegar suas mãos, linda. — Segundos depois, seus dedos se
fecharam em meus pulsos e ele afastou minhas mãos devagar, olhando-me
de forma carinhosa. — Se ter vontade de transar com seu namorado em um
lugar mais privado te torna pervertida, eu sou um maníaco, porque mal
consigo me controlar quando penso em você. Se você olhar para baixo
agora, minha calça está bem apertada.
— O quê!? — Abaixo a vista e meu queixo cai. 
Ele tinha razão. Se chegasse um pouco mais perto, iria roçar em minha
barriga.
— Você é muito linda, Bella. E muito gostosa. Isso é uma reação normal
do meu corpo ao seu. — Ele soltou um pulso e me mostrou sua mão antes
de tocar meu rosto, suavemente. — E, só para constar, amei a ideia de
privacidade. As coisas que fantasio fazer com você... — Balançou a cabeça,
deixando o suspense no ar.
Acabei sorrindo, apesar do embaraço em minha face. Meu corpo inteiro
estava em alerta e meus olhos estavam obcecados em sua calça jeans.
— Então, podemos tentar algum dia? — A esperança transpareceu em
minha voz.
Seus lábios se curvaram, com o que eu deduzi ser pura safadeza. Eu já
tinha visto aquele sorriso antes, muitas vezes, principalmente quando ele
estava prestes a me beijar. E, como resposta aos meus pensamentos, ele
segurou meu rosto entre as mãos e abaixou sua boca até a minha. Como
sempre, foi devagar e cuidadoso. Era como se ele tivesse medo de uma
reação negativa minha. Primeiro, ele beijou meu lábio superior, depois o
inferior, em seguida, tomou minha boca em um beijo delicado. Quando sua
língua entrou em minha boca e tocou a minha, nós gememos juntos.
O meu gemido foi uma mistura de surpresa e admiração. O dele foi um
gemido torturado, primitivo.
Já tinha ouvido histórias de como Racer amava fazer sexo com as
meninas no colegial e na universidade em Londres. Mesmo depois que me
mudei para Los Angeles, para começar o tratamento, não deixei de saber as
fofocas sobre ele. Por isso sabia que estava sendo uma tortura para ele não
transar em quase um ano. Fazia com que minha insegurança só crescesse
cada dia mais. Eu ficava imaginando o motivo de ele ainda estar insistindo
em mim.
Mas todo aquele pensamento caiu por terra quando ele separou nossos
lábios e falou:
— Nós vamos tentar, linda. Eu quero você mais que tudo. Mas vamos
esperar o seu tempo. Quando estiver pronta, você pode me chamar até de
madrugada, porque estou pronto para você o tempo inteiro.
— E como vou saber que estou pronta?
Seus olhos penetraram os meus.
— Ah, você saberá.
— E se eu estiver pronta agora?
Ele checou o relógio em seu pulso e seu rosto se transformou de
apaixonado para desesperado.
— Aí você acaba comigo, linda. Preciso estar no hospital em vinte
minutos.
Soltei uma risada com sua voz triste. Colocando uma mão em seu peito,
o tranquilizo:
— Estou brincando, R. Pode ir trabalhar. Eu ainda tenho que arrumar
tudo isso, de qualquer forma. Não quero transar com você no meio de tanta
bagunça.
— Sério mesmo? — Alçou a sobrancelha. — Porque eu transaria com
você até mesmo no lixão.
Deixei escapar outra risadinha e o empurrei em direção à porta.
— Ah-há. Isso nunca aconteceria.
— Claro que aconteceria. Bastou ter você e alguns sacos de lixos por
perto, bebê.
Sacudi a cabeça quando paramos perto da porta.
— Você é médico. Não deveria ter um senso de higiene?
Ele sorriu de um jeito maroto, a língua entre os dentes. Abriu a porta,
mas não saiu. Olhou-me de forma preguiçosa.
— Passo aqui depois do plantão amanhã?
Anuí rapidamente.
— Seria perfeito.
Ele admirou todo meu rosto por um instante, então me mostrou a mão
antes de segurar a minha.
— Vejo você amanhã, então, linda. — Fez carinho com o polegar no meu
dorso, causando aquele arrepio gostoso em meu corpo.
— Vejo você amanhã.
CAPÍTULO 2.
Bella
 
A casa dos pais de Racer tinha um cheiro de lar para mim. No momento
em que entrei pela porta da frente, os bons momentos que vivi ali vieram
com tudo em minha cabeça. Sorri, e meu sorriso aumentou quando vi
Alessa — a mãe de Racer — descendo as escadas.
— Olha só você de volta! — Ela me recebeu com um grande sorriso
materno. — Já está com saudades da gente? — Fez um beicinho dramático
e ao chegar na minha frente, ergueu as mãos para que eu pudesse vê-las
antes de envolver meu corpo em um abraço confortável.
— Impossível não sentir saudades de vocês. — A abracei de volta. Ainda
era estranho ter um contato tão direto com as pessoas, mas eu me sentia em
casa com essa família. Abraçar a Alessa é como abraçar minha mãe.
— Ah, querida. Também sentimos sua falta, e só faz um dia! — Ela riu, e
eu ri junto. — O Ethan já sentou à mesa para o café da manhã todo
melancólico. Só o vi assim quando as crianças foram para universidade em
Londres e quando a Maya foi para Kambe. Venha, sente-se aqui comigo.
Ela me levou até o sofá e nos sentamos.
— Eu não fui para tão longe. É um trajeto de oito minutos de carro.
Alessa torceu o nariz.
— Sempre é longe para os pais, querida. Acredite em mim.
Sorri.
— Prometo voltar sempre até vocês enjoarem de mim.
— Como isso fosse possível. — Suas mãos foram para cima, exasperada.
— Querida, você sempre terá um cantinho aqui, tudo bem? Sempre! Agora,
conte para mim o motivo da sua visita maravilhosa. Sei que não veio apenas
para escutar meus dramas.
Anuí após uma risada e suspirei:
— Queria um conselho seu.
— Pode falar.
— É que eu... — Balancei a cabeça, envergonhada. Eu estava com uma
coisa na cabeça há um tempo, mas não sabia se era legal ou só uma ideia
idiota. — Acha ridículo eu já ter vinte e três anos e querer entrar na
faculdade?
O cenho de Alessa se franziu.
— Por que ridículo?
Dei de ombros.
— Não sei. É que a maioria das pessoas vão para faculdade assim que
terminam o colegial. Geralmente, aos dezoito.
— Querida — Ela me mostrou a mão e pegou a minha com carinho. —,
existem pessoas que entram aos cinquenta anos. Não importa a sua idade, se
é algo que quer fazer.
Anuí.
— Eu quero muito.
— Então, não há nada que te impeça. — Foi firme. — Diga-me qual
faculdade deseja fazer?
— Psicologia. — Confessei, com um sorriso. — Gostaria de ajudar
pessoas que sofrem com fobias, assim como eu. O Diego tem sido um herói
para mim, mas deixamos de ser médico e paciente há muito tempo. Somos
mais como irmãos. E ele é psiquiatra. Não quero isso, ter que medicar as
pessoas, sabe? Eu quero conversar com elas, fazê-las entender que podem
sim superar seus medos. E, eu sei que um medicamento foi fundamental
para meu tratamento, mas não acho que todas as pessoas precisam disso,
porque-
— Querida, acalme-se. — Alessa apertou minha mão levemente, tirando-
me do devaneio em que me meti, falando demais. Sorriu carinhosamente,
mostrando que me entendia. — Eu entendi o seu ponto e concordo. Se todas
as pessoas resolvessem seus problemas com medicamentos, teríamos
muitos viciados na população.
Assenti para ela.
— Então, quero te pedir uma coisa. — falei. — Será que pode me ajudar
a entrar para alguma universidade? Não precisa pagar, nem nada. —
Apressei-me em dizer a última parte. — O que eu recebo dos meus tios dá
para fazer isso. Eu só preciso mesmo entrar.
Alessa respirou profundamente, olhando-me com orgulho em seus lindos
olhos azuis. Seu sorriso materno acalmou meu coração ansioso.
— Claro que posso, meu amor. — Apertou levemente minhas mãos. — E
não se preocupe com questões de pagamentos. Tenho o contato do reitor de
umas três universidades por aqui. Vou entrar em contato hoje mesmo.
Sorri, aliviada.
— Obrigada. Sério, de verdade.
— Não agradeça. — Sua mão se ergueu e tocou minha bochecha de
forma suave. — É uma honra ajuda-la. Nunca se acanhe para me pedir
alguma coisa, tudo bem?
Anuí, firme.
— Tudo bem.
— Ótimo. — Ela suspirou e se levantou, com um grande sorriso. — Topa
almoçar comigo hoje? Estou pensando em ir no Santa Monica Boulevard,
fazer umas compras.
Me animei e levantei também.
— Eu topo.
 
 
•••
 
 
Depois de almoçarmos em um famoso restaurante italiano em Santa
Monica, fomos direto para as lojas.
A Santa Monica Boulevard era conhecida por fazer parte do The Golden
Triangle. Ela, a Wilshire Boulevard e a Canon Drive ganharam esse nome
por um motivo especial: esses quarteirões sediam as mais caras lojas da
cidade. A maioria das pessoas conhecem mais a Rodeo Drive, só que ela é
apenas a mais famosa em meio a região.
Enquanto almoçávamos, Alessa me explicou que gostava mais dessa
área, porque sempre aproveita para ir ao seu restaurante favorito e também
é apaixonada pelo Pier de Santa Monica. Ela me contou que era o lugar que
ela mais gostava de trazer seus gêmeos, quando crianças. Ao falar sobre o
assunto, notei um brilho diferente em seus olhos. Eu ainda era nova com
reações humanas, mas acreditava que aquele brilho se tratava de saudades.
Naquele momento, não me contive. Respirando fundo, levei meu braço
por cima da mesa e segurei sua mão, apertando-a de leve, tentando
transmitir todo o carinho que ela precisava naquele instante. Ela abriu seu
típico sorriso bonito e me apertou de volta, então piscou rapidamente para
espantar a tristeza para longe e voltou a comer. Não soltamos a mão uma da
outra até sairmos do restaurante.
— Vamos na Victoria’s Secret? — Ela sugeriu. Tínhamos acabado de sair
de Prada, onde ela insistiu em me presentear com uma Ankle boots
maravilhosa, mesmo depois de eu ter dito milhares de vezes que não
precisava.
Quer dizer, eu passei praticamente minha vida inteira enfiada dentro de
casa, com medo de interagir com o mundo. Mas era ciente do que acontecia
do lado de fora e adorava seguir pessoas do mundo da moda. Quando
comecei a sair e, principalmente, após minha mudança de país, eu iniciei
uma meta de mudar um pouco meu estilo, sabendo que o estilo inglês era
diferente do americano. Então, comprei algumas roupas e sapatos novos
pela internet e nas poucas vezes que consegui ir ao shopping. E também
ganhei coisas de Alessa e de Ethan. Só que o grande problema para mim ali,
naquele momento, era que um sapato ou dois de duzentos dólares era bem
diferente de um Prada de onze mil dólares.
Era suposto que eu não me chocasse com coisas assim, levando em
consideração que eu tinha condições, só que, mais uma vez, eu vivi o tempo
inteiro dentro de casa. Não era vantagem comprar algo tão caro para ficar
na sala ou na cozinha.
Olhei para o letreiro chique da VS em um prédio de dois andares e
suspirei, dramaticamente.
— Não tem nenhuma lingerie absurdamente cara aí, que você vai insistir
em comprar para mim, certo?
A gargalhada de Alessa me contagiou, e eu acabei sorrindo junto. Ela
empurrou seus óculos de sol de armação quadrada e grande para cima de
sua cabeça e piscou para mim, toda sapeca.
— Quem sabe? Vamos descobrir juntas, querida. Se não me engano, tem
um sutiã que vem com um broche de diamantes de dez quilates...
— Alessa... — Gemi seu nome, muito dramática, enquanto ela me
guiava para dentro da loja enorme.
Rapidamente, fomos recepcionadas por uma vendedora simpática.
Óbvio. Além de ser conhecida, Alessa Lazzari-Cross exalava riqueza e
elegância. Ela poderia chegar vestida com um saco de lixo preto, e as
vendedoras apenas pensariam que ela estaria vestida com uma coleção
exclusiva de algum estilista super chique de Paris.
— Olá. Sejam bem-vindas! Eu me chamo Emmy. Como posso ajuda-las?
— Ela sorriu, e eu podia ver seus últimos dentes da boca.
— Obrigada, querida. — Alessa retribuiu a simpatia. — Gostaríamos de
ver a coleção nova, por favor.
Os olhos da mulher brilharam com a empolgação.
— Claro. Sigam-me, por favor.
Ela foi na frente, mas antes de me mover, olhei ao redor. Eu estava na rua
e antes disso estava em uma loja, mas nem de perto a loja da Prada era tão
movimentada como aquela. Talvez porque a VS era mais “popular”. E,
claro, já estive em outros lugares durante os últimos meses — muitos deles
era um teste para o meu tratamento. Mesmo assim, não pude evitar que meu
coração acelerasse ao ponto de senti-lo em minha garganta.
Estava prestes a fechar os olhos e respirar fundo, como Diego havia me
ensinado, quando a mão de Alessa apareceu em meu campo de visão já um
pouco embaçado. Virei a cabeça para ver seu sorriso amável.
— Pode segurar minha mão, amor. Vai ficar tudo bem, okay? Caso se
sinta pior, sairemos no mesmo instante.
Anuí, acreditando em suas palavras. Tanto na parte que tudo ficará bem,
quanto na parte que ela me tiraria de lá, se algo acontecesse, sem hesitar.
Ela agitou a mão para mim, e eu a peguei.
— Respire devagar. — Instruiu, e eu obedeci, sentindo o alívio tomar
conta das minhas entranhas. — Pronta?
Fiz que sim com a cabeça. Segurando minha mão, ela nos levou pelo
mesmo caminho que a vendedora Emmy fez. Para meu alívio total, fomos
guiadas até um conto especial, duas poltronas confortáveis.
— Podem se sentar, por favor. — Emmy sinalizou para as poltronas. —
Vou pedir que tragam a nova coleção para que possam vê-las.
— Obrigada. — Alessa concordou.
Nós sentamos, cada uma em uma poltrona, mas ela não soltou minha
mão. Estava fazendo carinho com seu polegar, me acalmando e me dizendo
que estava ali comigo.
Por um instante, apenas olhei para nossas mãos unidas, enquanto ela
folheada uma revista de moda qualquer com a outra mão. Em seguida, olhei
para cima, para todas aquelas pessoas normais, olhando, sorrindo uma para
outra e escolhendo suas peças favoritas para levar.
— Será que um dia eu serei assim? — A pergunta saiu por entre meus
lábios antes mesmo que eu pudesse para-las.
— Assim como, amor? — Alessa questionou.
Virei a cabeça e vi seu cenho franzido.
— Assim — Acenei com o queixo para as pessoas no centro da loja. —
Normal. — O interior da minha garganta queimou. — Eu quero começar a
faculdade, quero ajudar as pessoas com problemas parecidos com o meu.
Quero poder fazer amigos e sair para um café ou um almoço, ou até mesmo
para o cinema. E eu quero fazer isso sem meu coração acelerar, sem sentir
vontade de vomita e sem ter as pessoas me mostrando suas mãos antes de
encostar em mim. — Suspirei, balançando a cabeça. — Isso é tão
cansativo... Você não faz ideia.
— Não, eu não faço. — Ela concordou, seu tom cheio de carinho. —
Mas, sabe o que eu sei? — perguntou, e eu neguei com a cabeça. — Eu sei
que está tudo bem não ser normal, meu amor. Sei que cada um tem seu
próprio problema e, talvez, ele nunca desapareça. E, acredite em mim, todo
mundo tem um problema grave, em algum momento da vida.
— Você tem?
— Eu tive um. — Ela pondera um pouco, sua expressão parecendo estar
achando estranho pensar sobre aquilo. Quando voltou para mim, estava
sorrindo. — Antes de ficar com o Ethan, eu tinha muitos problemas, para
falar a verdade. Tinha um problemão com minha mãe e com seu namorado,
que tinha a idade do Lucca na época. Uma questão de abandono com meu
pai biológico, que só piorou após descobrir duas traições de namorados que,
na minha cabeça, eram os caras certos naqueles momentos. O segundo, eu
peguei fodendo minha melhor amiga no sofá do meu apartamento.
Meus olhos se arregalaram e meu queixo caiu em choque.
— Meu Deus!
Ela me deu um sorrisinho.
— Pois é. Mas, graças ao Ethan, aprendi que nem todos fazem o que eles
fizeram. Quando ele decidiu ficar comigo, me mostrou que era pra valer. E,
melhor ainda, por um acaso, ele conheceu meu pai e acabamos nos
encontrando. Foi quando descobri que ele, ao contrário do que minha mãe
contou para todo mundo, não sabia da minha existência. — Ela suspirou. —
No final, eu não abri mão do Hetor, apenas ganhei mais um pai e uma irmã,
que é modelo na Europa e uma fofa. Também ganhei um namorado
maravilhoso, que me deu os dois maiores amores da minha vida em uma
tacada só.
Nós rimos quando ela piscou um olho para mim, insinuante.
— O que estou falando é que não importa qual o seu problema agora,
porque ele pode sim ser superado. — Concluiu. — E te garanto que o
resolver não te fará uma pessoa normal, querida. Fará apenas de você uma
pessoa sem esse problema. — Tocou meu braço com a outra mão para dar
ênfase no que falava. — Mas outros virão, e cabe a você estar pronta para
enfrenta-los. Há um ano você sequer pensaria que estaria aqui, dentro de
uma loja?
Sacudi a cabeça em negativa.
— De jeito nenhum.
— Achava que teria um namorado e que ele faria tudo isso por você? Te
trazer até aqui, estar com você, mesmo não podendo se aproximar tanto?
Ter a paciência de esperar e, principalmente, ter fé em você?
Neguei mais uma vez.
— Nunca. — Enxuguei a lágrima que escapou. — Jamais passou pela
minha cabeça. Muito pelo contrário.
— Está vendo? Todos temos problemas, meu amor. Às vezes, uns são
piores que os outros. Você precisou de terapia para conseguir ser tocada, e
eu precisei para conseguir ser amada. A Mel precisou porque foi abusada e
baleada pelo próprio pai. A Mia tinha problemas com o sono porque viu o
acidente que matou sua mãe. A Pérola precisou para superar seu ciúme
doentio. — Ela apertou mais um pouco minha mão. — Cada uma dessas
pessoas quase perderam o amor de suas vidas por medo de não conseguir
superar esses problemas. E estamos aqui... eu estou aqui para te ajudar a
superar o seu, aconteça o que acontecer.  E posso dizer com toda certeza do
mundo que o Racer te ama, principalmente, por conta do seu problema e
também fará de tudo por você. Mesmo que você o coloque novamente na
distância de um telefone. Tudo bem?
Anuí, meia chorosa.
— Tudo bem. Obrigada.
— Não tem de quê, querida. Você é da família, Bella. Nunca se esqueça
disso. E está tudo bem não ser normal. O que tem de divertido em ser
normal? — Ela brinca no final para descontrair um pouco, e isso é uma das
coisas que aprendi a amar nela. Alessa faz de tudo para as pessoas ao seu
redor se sentir melhor, independente da situação.
Desfazendo aquele momento um tanto dramático, Emmy voltou com
outras meninas, carregando a nova coleção de lingerie.
— Aqui está, senhoritas.
— Olha só que beleza! — Os olhos de Alessa brilharam para as peças.
E eu concordei com ela. Eram lindas e delicadas. De todas as cores, com
rendas. Sexy para caramba. Foquei em uma preta, que tinha o sutiã meia
taça. A renda era transparente, então poderia mostrar todo o seio da
manequim com clareza. A calcinha era pequena e tinha alças finas. A cinta
liga era simples e não era acompanhada com uma meia calça, mas deixava
o conjunto bem sexy.
Incliando a cabeça levemente para o lado, imaginei-me vestida com essa
lingerie, e me perguntei o que Racer iria achar. Bonito? Sexy o suficiente
para seu gosto? Deus! Eu sequer tinha conhecimento do que ele gostava, de
fato. As mulheres com quem já ficou tinham esse problema de parecer
atraente com suas lingeries antes de se encontrar com ele?
Aquele pensamento me fez enrijecer em meu lugar. Não gostava de
pensar em Racer com as outras mulheres. Mesmo sabendo que foram antes
de mim, meu estômago se revirava e a ânsia de vômito vinha com tudo.
— Gostou dessa, Bella? — Alessa notou para onde eu olhava.
Pisquei rapidamente, saindo do meu surto intimo de ciúmes sem
cabimento, e olhei para seu rosto sorridente.
— É linda. — Limpei a garganta e umedeci os lábios, sentindo meu rosto
queimar um pouco. — Ficaria muito boa em você.
Ela bufou, brincando e foi até a lingerie preta. Tocou nas peças,
estudando os detalhes da renda, que pareciam pequenos quadrados bem
costurados.
— Eu tenho uma parecida. — Ela olhou-me sobre o ombro e piscou
daquele jeito diabólico. — E Ethan ama, aliás.
Minhas bochechas pegaram fogo.
— Se meu filhote tem mesmo o mesmo gosto do pai, ele vai adorar
também.
Eu me engasguei com minha própria saliva.
— Vo-você acha? — gaguejei.
— A senhorita quer um copo de água? — Emmy se apressou em
perguntar, quando envolvi minha garganta com uma mão e fiquei vermelha
como um tomate maduro.
Assenti para ela.
— Sim, por favor.
Eu precisava de uma jarra de água, pelo amor de Deus!
Alessa jogou os cabelos que estavam sobre o ombro para trás.
— Eu tenho certeza! — Ela olhou para uma das meninas que veio com
Emmy e checou seu crachá. — Basie — falou o nome dela com simpatia
—, vamos levar esse e um na cor vermelha também.
— Vamos? — Arregalei os olhos.
Ela me ignorou e gesticulou para mim enquanto falava com a vendedora.
— Não acha que vermelho vai ficar lindo na pele bronzeada dela?
Basie me analisou por um instante e anuiu, animada.
— Vai ficar perfeito!
— Ótimo. — Alessa bateu palma com um grande sorriso decidido. —
Vamos levar!
— Os dois? — Questionei, surpresa.
Emmy chegou com um copo grande de água e eu agradeci
educadamente.
— Não, bobinha. — Ela me olhou de forma sapeca, então virou
novamente para uma Basie e uma Emmy super empolgadas com a comissão
que iriam receber naquele dia, e disse indicando para cada uma das peças
que escolheu: — Também queremos essa e essa... Ah, essa aqui pode trazer
no meu tamanho também. Estou na fase dos quarenta, mas ainda tenho
bastante coisas para fazer, se é que me entendem...
Novamente, me engasguei, só que dessa vez foi com a água que estava
tomando.
CAPÍTULO 3.
Bella
 
Quando terminamos as compras, eu já estava anestesiada.
Além de trazermos quase toda a coleção nova da VS, passamos em
outras lojas e compramos mais algumas coisas. Resumindo, eu tinha roupas
novas — numa desculpa de que começaria uma faculdade, com pessoas
novas, então precisaria de roupas, sapatos novos e, claro, lingeries para
mais quatorze mulheres.
Quando estacionou diante de sua casa, Alessa virou e sorriu para mim.
— Sei que você já deve estar cheia de coisas hoje, mas tenho uma última
coisa para te dar.
— Sério? — Alcei uma sobrancelha, olhando rapidamente para o banco
de trás de seu carro, coberto de sacolas. — Você tem mais coisas?
Ela riu e abriu sua bolsa.
— Enquanto experimenta aquelas roupas na última loja que fomos, liguei
para uma amiga, que é dona de uma loja de joias e encomendei isso aqui. —
De dentro da bolsa, retirou uma caixa de veludo quadrada, azul marinho,
com o logo da Montana & Co, uma das lojas de joias mais caras do mundo.
Meu queixo caiu.
— Você é amiga da dona da Montana & Co?
Ela encolheu os ombros, como se não fosse nada demais.
Só que era muita coisa. Para ter uma ideia de como essa coisa era
gigante, eu nunca, nem se eu vendesse a empresa que meus pais me
deixaram, sonharia em comprar um brinco sequer. Da última vez que
chequei, não havia nenhuma joia por menos de cinquenta mil dólares.
— Madison e Margot Montana são uns amores, mas isso não vem ao
caso. — Ela me estendeu a caixa, seu sorriso estava cheio de amor. —
Encomendei isso para você.
— Alessa, não precisava. — Peguei e abri, ficando encantada com a
correntinha delicada e o pingente com a letra B em diamante. — É tão
lindo! — Toquei suavemente o colar.
— É sim. — Ela pediu licença e retirou o colar da caixa, abrindo-o e
gesticulando para meu pescoço. Virei de costas para que ela o colocasse em
mim. — Na verdade, encomendei há alguns dias, mas só me entregaram
hoje. A Maya tem um igual, só que com a letra M.
Olhei para baixo, para o pingente de diamante contra minha pele. As
lágrimas empossaram meus olhos e os nublaram. Quando me virei de novo
de frente para ela, vi que me olhava com admiração e emoção.
— Ficou lindo em você, querida. — Elogiou.
Sorri, sem conseguir conter as lágrimas.
— Obrigada, de verdade. Não só por isso, mas por tudo que fez por mim
até agora. Eu nunca imaginei que teria uma figura materna na minha vida
de novo.
Mostrou-me sua mão antes de tocar meu rosto e enxuga-lo com seu
polegar.
— E eu nunca pensei que teria outra filha. — Ela sorriu com carinho. —
Então, também te agradeço por aparecer na minha vida.
Meu coração se encheu de calor materno.
— Podemos nos abraçar?
Seu sorriso aumentou.
— Como assim podemos? Nós vamos!
Ela me abraçou com cuidado, embalando-me entre seus braços, e eu
amei sentir aquilo. Já tinha a abraçado antes, mas aquele momento foi
especial para mim, e pela forma que a sentir fugar, tenho certeza que foi
para ela também. 
Ao sair do carro, ela me ajudou a colocar minhas coisas no carro que
Racer deixou comigo.
— Promete que vem mais vezes? — Ela pediu ao fechar a porta a mala
do carro. — Que não vai nos esquecer?
— Eu prometo. — Sorri. — Sério, não tem como esquecer vocês.
Ela ergueu um dedo em riste.
— Eu vou olhar, viu? Todos os dias! Mantenha o celular por perto.
— Sempre. — Balancei a cabeça com firmeza.
Seu sorriso se alegrou.
 
CAPÍTULO 4.
Bella
 
 
Quando cheguei em meu apartamento, deixei as sacolas sobre a cama e
fui tomar um banho. No caminho, recebi uma mensagem de Racer,
avisando que estava saindo do hospital, iria comprar algumas coisas para o
jantar e depois viria para cá.
Depois de tomar um banho que relaxou todos os músculos do meu corpo
cansado, sequei meus cabelos e fui até as sacolas, à procura daquela bendita
lingerie preta que chamou minha atenção. Tinha certeza que a vermelha
ficaria boa, mas para aquela noite, eu optei pela preta.
Ela havia sido a primeira que meus olhos viram e, por algum motivo,
preto me deixa confiante. Se tinha uma coisa que eu precisava, era de
confiança.
Uma vez, Racer me tocou de forma indecente. Lembrar daquele dia,
daquele toque, fazia com que todo meu corpo se acendesse. Eu amei cada
momento, cada detalhe, e estava ansiosa para sentir de novo. Mas naquele
dia, eu estava com um biquini, porque tínhamos acabado de sair da piscina.
E também não passou de sexo oral.
E eu queria mais que isso.
Queria sentir de novo sua boca, sua língua, em mim, mas também queria
que ele sentisse a minha. Queria que ele tocasse meu corpo inteiro e, por
fim, fizesse amor comigo.
Senti meus mamilos enrijecerem e o meio das minhas pernas molharam.
As apertei, um calafrio atravessou minha espinha e explodiu em meu
clitóris. Gemendo para mim mesma, segurei a lingerie em minha mão, em
seguida peguei um dos vestidos que Alessa me fez trazer — era um
simples, soltinho e florido, com alças e decote quadrado —, então corri de
volta para o banheiro. Eu precisava de um novo banho depois de tudo que
imaginei.
Cerca de quinze minutos depois, a companhia tocou. Deixei meu copo de
água de lado, sobre o balcão da ilha que dividia minha sala da cozinha, ao
lado do livro que estava lendo, e com o coração martelando e pés descalços,
corri para atender. Minhas mãos tremiam por já saber quem era do outro
lado da porta. Quando virei a chave e puxei-a aberta, as borboletas em meu
estômago se agitaram, e juro que até senti algumas delas dando
cambalhotas.
O sorriso de Racer me fez querer desmaiar, como aquelas cenas
dramáticas de filmes quando alguma mulher ver uma coisa que a deixa
surpresa, e então ela desmaia. Como ele poderia estar tão malditamente
lindo, mesmo depois de horas de plantão em uma emergência de hospital?
Caramba.
— Oi, linda. — Ele entrou quando, finalmente, dei um passo para o lado,
abrindo espaço. Segurando as sacolas de um mercado com uma mão e a
alça de sua mochila na outra, parou diante de mim, depois que fechei a
porta, e beijou a ponta do meu nariz, então seguiu para a cozinha.
— Cansado? — Perguntei, odiando que ainda me sentia tão desajeitada
com sua presença. O segui até a ilha e estendi a mão para pegar meu copo e
o livro, puxando-os para perto de mim e assisti ele colocar as coisas sobre o
mármore gelado.
— Um pouco. — Confessou, então piscou um olho para mim, todo
maroto. — Mas não o suficiente para ficar mais algumas horas longe de
você.
Todo o meu corpo arrepiou e minhas bochechas esquentaram. Sorri,
envergonhada, desliando os olhos dos dele e abaixando-os para a capa do
livro, apenas para não piorar a minha situação.
— Como foi seu dia? — Ele questionou enquanto tirava as coisas das
sacolas.
Levantei meus olhos novamente, colocando uma mecha do meu cabelo
para trás da orelha.
— Foi bem legal. Fui visitar sua mãe e acabamos no Santa Monica
Boulevard.
— Ah, isso eu notei de cara. — Acenou para meu mais novo colar e
sorriu. — Minha irmã tem um igual.
Sorri e segurei a letrinha B entre os dedos.
— Soube disso. Ele é lindo.
— Ficou lindo em você. — Ele chegou mais perto. Tão perto, que minha
respiração travou por um instante e meu coração martelou com força em
minha caixa torácica. Seus olhos analisaram os meus, então foram para
meus lábios. — Eu sei que pode parecer clichê, linda, mas, por favor, pare
de ficar mordendo os lábios toda hora quando estou por perto. Estou
tentando te dar o máximo de privacidade e tempo, só que te ver assim me
deixa com muita vontade de te beijar. O tempo todo.
Arfei com sua voz rouca e baixa. Pisquei, atordoada, e soltei o lábio, que
nem tinha notado que estava mordendo. Sentindo-me corajosa naquele
instante, falei:
— Não quero mais tempo, Racer. Pode me beijar sempre que quiser. Eu
quero também.
Seu olhar inflamou de uma forma tão intensa, que eu pude sentir o fogo
queimando sob minha pele. Meus batimentos vieram para minha garganta
quando ele ergueu uma mão na minha frente antes de tocar meu rosto. Ele
foi e encostou sua bochecha na minha, acariciando-me, então soltou um
gemido torturado.
— Tem certeza?
Anuí.
— Toda certeza do mundo.
Senti seu sorriso contra minha pele. Fechei meus olhos com força,
esperando — ansiando — pelos seus lábios nos meus, mas eles nunca
foram. Acabando totalmente com minhas expectativas, ele apenas os
pressionou contra minha bochecha, de forma suave, e com a voz bem
grossa, disse ao meu ouvido:
— Temos todo tempo do mundo, linda. Vou tomar um banho, em seguida
farei nosso jantar e depois, vou beijar você pra caralho.
Para minha tortura completa, ele era um homem de palavra.
Numa tentativa falha de passar o tempo rápido, sentei-me em uma das
banquetas da ilha e voltei a leitura do livro enquanto o esperava no banho,
em seguida, na cozinha.
Enquanto preparava o que eu percebi ser um macarrão com queijo e
medalhões de algum tipo de carne suculenta, ele abriu um vinho que trouxe
e serviu duas taças. Deslizou uma delas para mim, tirando-me rapidamente
da minha leitura.
— Quer me embebedar? — Brinquei ao dar o primeiro gole.
Ele bufou com uma risada.
— Linda, se tem uma coisa que eu não quero hoje é você bêbada.
Sorri enquanto sorvia mais um pouco do vinho.
Ele se encostou no balcão de mármore, perto de mim, e acenou para o
livro aberto.
— É sobre o quê?
Coloquei a taça de lado.
— Sobre uma noiva em fuga, que precisa recomeçar a vida e acaba
solteira, em uma cidade desconhecida e responsável por uma sobrinha de
onze anos que ela acabou de descobrir. Ainda estou em uns vinte por cento,
então não tem como te dar mais detalhes.
— Parece interessante.
Concordei com um balançar de cabeça.
— Sim. Também achei.
Voltei a leitura, e ele voltou para o fogão. Quando o jantar estava pronto,
o ajudei a pôr a mesa e nos sentamos para comer. Durante todo o jantar,
mesmo conversando coisas aleatórias sobre nossos dias, podia sentir minhas
borboletas agitadas, sedentas para o que vinha depois.
Após colocar as louças que sujamos no lava-louças, Racer carregou a
garrafa de vinho e nossas taças para a sala, colocou tudo sobre a mesa de
centro, e nos sentamos no sofá.
— O que vamos assistir hoje? — perguntei.
Desde que voltamos a nos ver, temos maratonado séries e filmes, já que
não estava cem por cento. Era uma forma de ficarmos juntos por um tempo.
Aconcheguei-me ao seu lado e seu braço me cercou. Respirei fundo e
esperei um instante, entendendo que os sinais que os sinais que meu corpo
estava dando não era de medo; era de ansiedade e tesão.
— Não fará diferença. — Ele respondeu, apertando em uma série
desconhecida e abaixando até não estarmos ouvindo nada. — Estou mais
interessado em outra coisa...
Sua mão se movimento até meu rosto, aprumando-o para cima, na
posição perfeita para ele abaixar o dele e nossos lábios se encostarem
levemente.
Fechei os olhos e me segurei para não implorar para que fosse mais
rápido e me beijasse logo.
Torturando-me, sua língua deslizou em meu lábio inferior, em seguida, o
beijou delicadamente, de uma forma que quase não senti. Dessa vez, gemi
em protesto. O idiota sorriu do meu lamento e repetiu os atos.
Bufei.
— Isso não se faz. — sussurrei.
Novamente, sorriu contra meus lábios.
— Sabia que passo o dia todo pensando nisso? Na sua boquinha gostosa?
— Jura? Não parece. Se fosse verdade, já tinha me beijado e não ficava
brincando.
Seu sorriso me fez cócegas.
— Linda, eu quero degustar cada pedacinho de você, e vou levar meu
tempo para isso.
Engoli em seco.
— Eu quero que faça isso.
O azul de seus olhos escureceu. Ele lambeu meu lábio novamente, mas
pareceu que estava lambendo entre minhas pernas, porque tudo contraiu lá
embaixo. Segurou meu rosto com firmeza e, por fim, me beijou de verdade.
Sua língua entrou em minha boca, que foi devorada ferozmente. Nossos
gemidos eram bem audíveis, entrecortados. A intensidade do beijo abaixou
por um instante, então ele aproveitou para mordiscar meus lábios,
provocando-me, então aumentou novamente.
Sem saber o que fazer, como sempre, apenas segurei em seu braço forte e
aos poucos comecei a retribuir o beijo. Eu era apenas uma caloura beijando
um veterano e por isso sabia que não era muito boa no que estava fazendo.
Portanto, meu beijo era hesitante e sem muito movimento, mas eu dava meu
melhor.
Ele não reclamou em nenhum momento, sequer me corrigiu ou tentou
fazer diferente. Muito pelo contrário. Racer soltou um gemido quando
percebeu o que eu estava fazendo. Meus dedos estavam posicionados bem
sobre sua artéria e por isso consegui perceber o quão acelerado estavam
seus batimentos.
Pelo menos não estava sozinha nisso.
Mergulhando mais sua língua em minha boca, ele me lambeu e beijou-
me ainda mais profundamente, sua mão apertando mais minha nuca.
Meu corpo reagiu, incapaz de ficar apenas ali, sentado e neutro. Senti
meus mamilos rijos, incomodando contra o tecido fino do vestido. Meu
ventre contraindo só piorava a situação. Ele estava reclamando, porque
também precisava de um pouco de atenção.
Quando Racer mordeu novamente meu lábio inferior, puxei a cabeça
para trás, meus olhos mal se abrindo devido ao estado de embriaguez que
seu beijo me deixou.
— Racer — falei seu nome quase como se implorasse.
— Oi, linda. — Seu sussurro fez-me fechar os olhos por um instante para
me recompor.
Respirei fundo, tomando toda coragem que precisava.
— Eu quero mais que um beijo.
Seus lábios se curvaram, no modo conhecedor, safado. Ele passou os
dedos pelas mechas rebeldes do meu cabelo, admirando meu rosto.
— Eu sei. Mas preciso saber se você tem certeza disso. — Murmurou
para mim. — Porque não quero ter que me afastar de você nunca mais.
Eu entendia seu receio. Da última vez que tive uma crise, precisei ficar
afastada dele por muitos meses. Além da saudade que sentia dele, também
precisava controlar todos os pensamentos de que ele cansaria de me esperar
e que a qualquer momento ele encontraria alguém que não tivesse tantos
problemas. O pior era quando imaginava ele com outra mulher. Uma que
esbarrasse com ele em alguma festa ou até mesmo no hospital. E aqueles “e
se” doía tanto, que as vezes começava a chorar do nada. Então, entendia o
que ele estava falando. Deve ter sido difícil para ele também.
Decidida a mostra-lo que eu tinha muita certeza do que estava propondo,
levantei do sofá e puxei sua mão para que ele fizesse o mesmo. Peguei seus
olhos com os meus e um arrepio atravessou minha espinha com toda aquela
intensidade que transmitíamos um para o outro. Mantendo-nos conectados,
nos levei até meu quarto. Não acendi a luz, mas a lua enviada uma certa
quantia de claridade para que possamos nos enxergar.
— Eu entendo que preciso ter cuidado, Racer. — comecei a falar,
baixinho. Soltei sua mão e fui para frente da cama. Respirando com calma,
sem tirar meus olhos do seu rosto bonito, precisando ver cada reação dele,
desfiz o laço que prendia o vestido no meu corpo. — Mas, hoje, eu tenho
muita certeza disso. — Deixei que o vestido caísse aos meus pés. — Tenho
certeza que quero mais que beijos na boca.
Seus olhos caíram para meu corpo e o brilho quente tomou conta deles.
Racer arfou, em choque com o que estava vendo, e meus lábios se curvaram
um pouco, satisfeitos com a reação.
Eu não tinha um peito grande, mas o sutiã ficou perfeito. Com a luz da
lua em mim, como um holofote de teatro, tinha certeza que ele conseguiu
ver meus mamilos rijos, doloridos por atenção. Meu peito subia e descia
com força, a ansiedade já ocupando cem por cento do meu corpo e mente.
Ainda havia um resquício de dúvida e enjoo, então os peguei e os joguei
lá poço sem fundo da minha cabeça. Nada estragaria o que eu queria para
aquela noite. Eu precisava daquilo. Necessitava dar a Racer aquilo que ele
tanto anseia. E que eu desejo.
— Porra, linda. — Ele sacudiu a cabeça, xingando, mas não conseguia
parar de olhar. — Sabe quanto tempo eu estou desejando você?
Engoli com dificuldade, excitada. Podia sentir o meio das minhas pernas
ensopadas.
— Acho que o mesmo tempo que eu. — Encolhi os ombros. Olhei
rapidamente para baixo, para a lingerie em meu corpo, e voltei para ele, de
repente insegura. — Gostou?
— Está perguntando de Padre sabe rezar? — Sua risada era um misto de
excitação e ansiedade. Olhando bem para mim, ele levou uma mão para
frente e mexeu em seu pênis sob a calça. — Gostei pra caralho. Ficou
perfeita em você.
Devagar, ele foi se aproximando mais. Levantou as mãos para que eu
pudesse vê-las, os olhos o tempo todo atentos ao meu corpo. A cada passo
dele, uma batida descontrolada do meu coração. A cada centímetro mais
perto, uma respiração entrecortada.
— Você é linda demais, Bella. — Praticamente rosnou quando chegou
perto o suficiente para que eu sentisse seu cheiro bom.
Não conseguia formular nada para falar de volta. Foi como se minha
mente tivesse entrado em pane. Anuí em consentimento quando seus dedos
se agitaram, pedindo permissão, então ele os mergulhou em meus cabelos,
foi mais perto e me beijou.
Tão intenso quanto o da sala, seu beijo me envolveu como se me
arrastasse para um mundo paralelo — um que só nós dois vivêssemos. O
silêncio era quase ensurdecedor, mas eu não me importava com isso. Tudo
que importava era seus lábios, sua língua, o beijo maravilhoso.
— Vou descer uma mão pelas suas costas. — avisou ele, contra minha
boca.
Soltei um som de confirmação e senti sua mão saindo da minha cabeça e,
bem devagar, descendo pela minha nuca, omoplata e então o meio das
minhas costas. Arqueei elas e fiquei surpresa ao sentir seu pênis muito duro
no meu abdome.
Ele me tocou com cuidado, seus dedos quase massageando minha pele,
fazendo-me arrepiar. Não parou de me beijar em nenhum momento. Estava
experimento, analisando como eu reagia sendo tocada em mais de um lugar
ao mesmo tempo. Ele não ultrapassou meu cóccix. Sua mão voltou,
alisando delicadamente até o fecho do sutiã. Afastou a boca e beijou meu
queixo.
— Vou tocar seus peitos.
Anuí.
Lentamente, suas mãos retiraram meu sutiã e foram para frente do meu
corpo. Meus olhos se fecharam quando elas se apossaram dos meus seios.
Lamentei, um pouco atordoada por descobrir o quão sensível estava.
— Eles são perfeitos. — elogiou, seus olhos grudados em meus
pequenos seios. Pegando-me de surpresa, ele beliscou meus mamilos com
seus polegares e indicadores, então girou devagar.
— Ah, Deus. — Joguei a cabeça para trás, o prazer causando um choque
no corpo inteiro. 
Racer riu, malvado, gostando de me torturar dessa maneira.
— Senta. — Ordenou ele, e eu obedeci, sentando-me na beirada da cama.
— Agora se inclina um pouco e apoia suas mãos atrás do seu corpo.
Obedeci novamente. Minhas pálpebras pesadas piscando para ele. Peguei
seu olhar sedento para meus seios nus e pontudos.
— Eu não sei quantas vezes já te falei isso, mas preciso dizer mais uma
vez — Ele se abaixou sobre mim, posicionando suas mãos em cada lado do
meu corpo. — Você é linda pra caralho. — Mostrou-me a mão antes de
tocar entre meus peitos e arrastar os dedos pela minha barriga, levando
arrepios deliciosos pela minha pele. — Faz ideia de como eu desejo você?
Do quanto eu te desejo?
Balancei a cabeça negativamente, incapaz de falar qualquer coisa. O
tesão estava bloqueando minha voz.
Ele umedeceu os próprios lábios.
— Eu perdi as contas de quantas vezes precisei usar minha própria mão
porque não podia usar a sua; você. — Confessou, a voz rouca de excitação.
— Eu quis você desde o primeiro dia e esperar tanto tempo quase me
deixou louco. Respeito o seu tempo e, com certeza, esperaria por mais dois
anos, se fosse preciso para você ficar bem, mas — Sacudiu a cabeça, como
se ainda o estivesse torturando. —, estou muito feliz por, finalmente, poder
tocar em você dessa forma.
Acenei com a cabeça. Minha boceta estava alagada no momento. E
doendo pra caramba.
— Vou colocar minha boca nos seus peitos, tudo bem?
Assenti.
— Por favor. — Implorei.
Com um sorrisinho idiota, ele desceu a cabeça, segurou um peito e
chupou de forma delicada. Arqueei, tornando-o mais proeminente para sua
boca. Sua língua saiu e chicoteou em meu mamilo rijo, em seguida, chupou
novamente, mais forte.
— Ahhh! — Gemi, fechando os olhos com força.
Ele seguiu para o outro peito e fez a mesma coisa. Quando sua língua
circulou o mamilo, meus braços enfraqueceram e eu caí deitada. Racer foi
junto comigo, se deliciando com o pequeno banquete.
Minha cabeça estava em êxtase. Eu implorava, em gemidos incoerentes,
por mais daquilo. Lamentei a quebra de contato quando ele levantou um
pouco a cabeça para me olhar. Encarei de volta, a vista nublada de prazer.
— Vou descer pela sua barriga.
Anuí rapidamente.
Sua boca fez o caminho. Meu abdome tremia a cada contato de sua boca
e língua. Quando ele chegou na barra da minha calcinha, parou e sorriu.
— O quê? — Sim, eu estava à beira do desespero.
— Consigo sentir seu cheiro daqui. — Então ele abaixou a cabeça e
passou a ponta do nariz sobre o tecido molhado.
Resfoleguei, meus batimentos a toda velocidade.
— Eu vou beijar você, linda. — Delicadamente, afastou a calcinha com o
dedo, e seus olhos brilharam para meu ponto íntimo. — Vou beijar bem
aqui... — Sua língua saiu e se arrastou bem devagar pela extensão de minha
boceta.
Oh, Deus...
Fechei os olhos com força, tentando entender as reações do meu corpo.
Sem nojo.
Sem ânsia de vômito.
Sem vontade de fugir.
Ele circulou a língua ao redor do meu clítoris, então o sugou.
Meus quadris ergueram-se em sua direção, implorando por mais.
Havia um arrepio, mas não um ruim; era a sensação mais deliciosa que já
senti. Minha pele estava tão excitada que parecia pequenas agulhas
perfurando cada centímetro do meu corpo.
Ele chupou, e eu arfei em surpresa com a onda de prazer que me
atravessou.
— Você é tão docinha. — disse ele, a rouquidão presente em sua voz.
Lambeu-me de novo. — Gostosa. Eu passaria a noite toda só chupando sua
boceta.
As palavras me deixaram ainda mais sedenta, o que me fez ficar ainda
mais surpresa com tudo aquilo. Não sabia que algumas palavras ditas
poderiam mexer assim com uma pessoa durante o sexo.
— Racer, isso é tão bom... — Remexi meus quadris, insinuando para que
ele continuasse da forma que estava.
— Meu dedo vai entrar em você, linda.
Levantei a cabeça com os olhos bem abertos.
Ele riu.
— Relaxe, meu amor. É um dedo, e terei o maior cuidado. — Ele ergueu
seu dedo indicador para que eu pudesse ver. — Bem devagar, apenas para
ver como você reage.
Eu vi em seus olhos o pedido. Engolindo em seco, respirei fundo e anuí,
um pouco incerta.
— Confia em mim? — Questionou.
— Sempre.
E não menti. Eu confiava nele com todo meu ser.
Abaixou a mão, então deitei-me de volta no colchão, procurando relaxar
meu corpo como me instruiu.
— Você está molhadinha, amor. Não será difícil.
— Okay. — Fechei novamente os olhos, antecipando o acontecimento.
Quando senti seu dedo circular minha entrada, estremeci suavemente e
meu instinto foi fechar as pernas. No entanto, Racer foi mais rápido que eu.
Ele levou sua boca à minha boceta novamente e voltou a me chupar —
dessa vez com mais precisão.
Arquejei, então lamentei. Aquilo era muito bom, a forma como sua
língua me lambia, como se fosse seu sorvete favorito.
O dedo começou a entrar, e uma pequena parte de mim ficou em alerta.
Estudei o incomodo enquanto ele fazia um caminho calmo. Racer tinha
razão: não estava sendo difícil, mas ainda estava hesitante. Nada havia me
penetrado antes. Quando circulou meu clítoris com a língua, fez o
movimento de “vem” com o dedo.
— Minha nossa!
Levantou a cabeça.
— Doeu?
Neguei com a cabeça.
— Não. Eu apenas... Droga. Continue!
Escutei sua risada. Ele voltou para fazer seu trabalho.
Aquilo estava tão bom, que não faço ideia de quanto tempo se passou até
que comecei a sentir o calor subindo pelo meu corpo. Arqueei, meu ventre
se expandindo. Racer lambia, chupava, brincava com sua língua e dedo, e
ficava mais firme a cada segundo, como se ele soubesse que eu estava
perto.
Então tudo explodiu, como uma bomba de prazer dentro de mim. Eu
gritei, em êxtase, meu corpo convulsionando. Agarrei o lençol da cama com
tanta força, que minhas juntas doeram. Minha mente girava e girava, em
busca de estabilidade, mas eu estava entorpecida pelo orgasmo que acabei
de ter.
Ainda podia sentir a língua de Racer, lambendo cada centímetro da
minha boceta, mas seu dedo havia saído. Quando meu corpo cedeu e se
estendeu como geleia mole, com meus batimentos ainda a todo vapor, se
levantou e me olhou com o que assumi ser desejo e luxuria.
— Você está bem? — Procurou saber, preocupado.
Assenti.
— Estou. — Respirei fundo, observando seu corpo bonito ainda vestido.
— Tire a sua roupa.
Seus olhos brilharam com malícia, e eu me esforcei para sentar no
colchão. Um leve incomodo entre minhas pernas chamou minha atenção,
mas o deixei de lado. Estava concentrada em uma única coisa naquele
momento.
Assisti, com a boca salivando, enquanto Racer retirava sua camisa, em
seguida, sem cerimonia alguma, a calça de moletom. Ofeguei, sem um
pingo de vergonha, ao me deparar com seu pênis perfeito, em pé e duro,
apontando para mim. Minha boca secou imediatamente.
— Gosta do que vê? — A pergunta sacana me fez subir o olhar para seu
rosto safado.
Resfoleguei, então anuí.
— Eu quero tocar.
Ele se aproximou até que sua cabeça rosada ficou tão próxima da minha
bochecha, que era só mover a cabeça para o lado, que meus lábios
conseguiriam raspar neles.
— Toque. — Ordenou ele, a voz rouca.
Não perdi tempo. Com as mãos um pouco trêmulas, toquei-o primeiro
com a ponta dos dedos. Em seguida, fechei ambas ao redor do eixo. Escutei
seu gemido de tortura e o senti contrair sob minha palma. Estava duro feito
pedra. Eu o queria na minha boca.
— Posso... — pisquei, um tanto envergonhada. — Posso colocar a boca
nele?
— Você pode fazer o que quiser com ele, linda. É todo seu.
Arfei, fazendo que sim com a cabeça.
— Pode segurar minha cabeça e me guiar? — Pedi. — Eu não faço ideia
de como fazer.
— Claro. — Ele me mostrou suas mãos, logo depois deslizou-as pelo
meu rosto e dentro dos meus cabelos. — Abra a boca.
Eu abri.
Ele inclinou um pouco para frente e passou sua cabeça sobre meu lábio
inferior.
— Coloca a língua para fora, linda — Pediu, e eu fiz. — Agora passa ela
ao redor de mim.
Obedeci, levando a minha língua ao redor de sua cabeça grande. A
textura era lisa e diferente, mas muito boa.
Racer lamentou, enrijecendo.
— Porra, sim! Agora solta suas mãos, baby. — Eu soltei. Ele posicionou
firme minha cabeça. — Vou colocar para dentro da sua boca, certo?
Anuí e me preparei. O pau de Racer era grande demais para mim, então o
medo conflitava com a ansiedade. E se eu não conseguir leva-lo todo? E se
eu vomitar na minha primeira vez? Eu tinha esses temores, mas, ao mesmo
tempo, desejava lhe dar o mesmo prazer que ele havia acabado de me dar.
Ele começou a entrar, lentamente, enchendo minha boca hesitante.
Toquei-o com minha língua, arrancando grunhidos dele, e comecei a fazer
movimento de vai e vem com a cabeça, fazendo o boquete para ele.
Vê-lo se contorcer de prazer na minha boca, me excitou ainda mais. Ele
soltava alguns palavrões e xingamentos, segurando meus cabelos e guiando
minha cabeça da forma certa.
— Chega, porque quero gozar dentro de você. — Ele se retirou, com um
gemido sofrido.
O assisti colocar a camisinha, sem entender todos os sentimentos dentro
de mim naquele momento.
Quando veio pairar sobre mim, senti o nervosismo, mas o ignorei. Eu
queria aquilo, e não iria mudar de ideia.
Está tudo bem.
— Vou entrar em você agora. — disse ele, procurando por permissão em
meus olhos, e eu anuí.
— Certo.
Ele posicionou seu pênis em minha entrada. Engoli em seco.
— Se doer, me avisa, okay?
Novamente, anuí.
Bem lentamente, ele foi entrando, me alargando. Doía de tal forma, que
lágrimas começaram a deslizar pelo meu rosto, mas ao mesmo tempo era
bom.
Racer estava me tocando internamente também.
Quando sentimos romper, meu corpo estremeceu com a dor absurda, e
ele paralisou.
— Não. — Sacudi a cabeça. — Não para. Continua. Vai acostumar.
— Amor, isso dói...
— Por favor, continua.
Ele continuou, hesitante e devagar. Racer me segurou em seus braços
enquanto entrava em mim, fazendo amor comigo — me dando amor.
— Você está bem? — ele procurou saber.
Fiz que sim e não menti. Melhorou. Comecei a me acostumar com a dor
e o prazer conflitando dentro de mim.
— Eu não vou aguentar mais tanto tempo.
— Não tem problema. — Eu garanti.
Ele meteu mais fundo, mas com cuidado e, um segundo depois, me
apertou em seus braços, seu corpo grande e musculoso se contorcendo
sobre mim.
Enquanto tentava encontrar o ar, procurei entender o que estava sentindo
além da dor e do prazer — e eu estava muito feliz e satisfeita por fazer
Racer gozar.
Ele gozou dentro de mim, no nosso primeiro ato de sexo.
CAPÍTULO 5.
Racer
 
Fiz Bella deitar em meu peito após nos limparmos. Ela sorriu
suavemente ao fazer.
— Vai dormir aqui, certo? — ela perguntou, pegando-me de surpresa.
Tínhamos nos abraçado muitas vezes e sempre quando assistimos, ela se
aconchega em mim, mas nunca dormimos na mesma cama.
Alcei uma sobrancelha, mesmo sabendo que ela não podia me ver,
porque meu queixo estava apoiado no topo de sua cabeça.
— Quer que eu durma aqui?
Assentiu.
— Nós transamos, Racer. Dormir na minha cama é o de menos. — Senti
seu sorriso em meu peito.
— Tudo bem. — A abracei com mais firmeza. — Então, vamos dormir
juntos hoje, linda.
Ela se esticou um pouco e suspirou, seus dedos não paravam de traçar
um caminho pelos músculos do meu abdômen.
— E espero que não seja o único dia. — murmurou.
— Não será. Confie em mim, linda. Não vou me desgrudar mais de você.
Ela ficou em silêncio por um instante. Quando voltou a falar, sua voz
estava tensa:
— E se acontecer de novo? Se a fobia voltar?
Olhei para baixo e a vi encarando a própria mão, então, com cuidado
porque ela ainda não estava vem por cento segura, entrelacei meus dedos
nos dela e falei com carinho:
— Eu prometo que farei o possível e impossível para que isso não
aconteça. Eu estou aqui por você, Bella. Vamos focar no nosso futuro,
okay? Tenho certeza que será um futuro excelente. Você está indo muito
bem.
— Tudo bem — Se aconchegou mais, relaxando o corpo. — Tudo bem.
— repetiu.
No dia seguinte, acordei com um vazio ao meu lado. Durante toda a
noite, segurei Bella entre meus braços e, para nossa surpresa, ela aguentou o
tempo todo. No entanto, ao abrir os olhos pela manhã, senti a falta do seu
calor e do seu cheiro delicioso.
Sentei-me na cama e esfreguei os olhos, bastante sonolento. Olhei o
relógio sobre a mesa de cabeceira e já se passava das sete da manhã. Era
minha folga, então não havia pressa. Jogando as pernas para fora da cama,
levantei-me e após fazer minha higiene no banheiro do quarto, fui em busca
da minha namorada.
A encontrei na cozinha, sentada em uma banqueta ao redor da ilha de
mármore que divide a cozinha da sala. Vestida com uma legging preta e um
top de treino, ela se debruçava sobre o balcão enquanto via algo na tela de
seu notebook. O cenho estava franzido, como se fosse algo muito
interessante.
Por um instante, admirei sua bunda redonda, delineada pela sua calça
desportiva, antes de me aproximar e chamar sua atenção:
— Bom dia, linda.
Sua cabeça se ergueu com um pequeno susto, mas então um sorriso
bonito curvou os lábios, chamando minha atenção para eles. Cheguei perto
o suficiente para me inclinar um pouco e raspar meus lábios nos dela.
— Bom dia. — Gemeu, descaradamente.
Uma maratona de imagens e cenas começaram a passar pela minha
cabeça.
Droga. Meu pau também fez questão de se levantar para cumprimenta-la.
Por sorte, ela realmente parecia interessada no que quer que tivesse na tela
daquele computador.
Ou azar, uma vez que eu seria um homem muito feliz em comer minha
namorada gostosa antes do café da manhã. Mas também tinha noção de que
ela deveria estar dolorida e poderia querer um tempo.
— Já correu hoje? — Fui até a geladeira, limpando a garganta para
disfarçar meu tesão matutino. Peguei uma garrafa de água e bebi um grande
gole.
Ela anuiu, ainda de cenho franzido.
— Sim. Eu saio todos os dias às cinco, R.
— Por que não me acordou? Eu iria correr com você.
Bella deu um sorrisinho que era fofo.
— Você parecia tão bem dormindo, que achei melhor deixa-lo dormir
mais um pouco.
— Eu ficaria bem melhor com você, linda. — Aproximei de novo e
beijei sua cabeça. — O que está vendo aí?
Ela suspirou.
— Recebi um e-mail hoje de manhã do meu tio sobre a empresa do meu
pai.
— Algo de errado?
— Acredito que não. Quer dizer, eu não entendo nada sobre, mas, pelo
que entendi, ele quer que eu assine a venda.
Alcei uma sobrancelha.
— Ele quer comprar a empresa do seu pai?
Balançou a cabeça em negativa.
— Pelo o que tem escrito aqui, acho que ele mesmo é o comprador.
— E o que você acha disso?
Deu de ombros.
— Como disse, não entendo nada sobre isso. Ele me enviou um tipo de
contrato. — Acenei para o documento aberto na tela. — Já li duas vezes e
nem sei para onde vai.
— Nós podemos mandar para meu pai dar uma olhada, que tal? Ou
podemos levar na casa dele e depois vamos almoçar. Abriu um lugar que
vende cornish pasty lá perto.
Seus olhos se abriram mais, empolgados.
— Jura?
Anuí.
— Faz mais ou menos uma semana. Estava planejando te levar hoje
mesmo, na minha folga. Topa?
Seu sorriso enviou uma eletricidade direto para meu pau.
— Eu topo. Claro que topo! — Pulou da banqueta, com um grande
sorriso. — Vou tomar um banho, okay? — Ela já estava indo, toda animada,
quando parou e se virou para mim, um pouco envergonhada. — Eu queria
tomar banho com você, mas acho que não seria uma boa ideia agora.
Forcei um sorriso em concordância e escondi minha pélvis sob o balcão.
— Temos todo tempo do mundo, linda. Não se preocupe. Um dia
faremos isso quando se sentir confortável.
Ela assentiu devagar e se foi, me deixando com uma puta de uma ereção.
Fechei os olhos e pensei nos meus avós fodendo. Era uma boa forma de
broxar.
 
CAPÍTULO 6.
Bella
 
 
— Eu li o contrato que seu tio enviou. — Ethan falou, sentado no sofá à
minha frente. Seu semblante é sério. — Tudo parece perfeito, no entanto,
pesquisei sobre a Payne Mobile, a empresa do seu pai, e posso dizer, com
toda certeza, que não vale o que ele está oferecendo.
Franzi o cenho.
— Como assim?
— Em um breve resumo, querida, ele está te oferecendo três vezes
menos do que a Payne Mobile vale no mercado hoje em dia.
Racer balançou a cabeça e olhou para mim.
— Por que ele faria isso? Você tinha dito que ele gostava de você.
Dei de ombros, surpresa.
— Porque foi o que sempre demonstrou. Ele até foi o primeiro a me
abraçar depois do que aconteceu. Foi assim que descobri minha fobia.
— Ele, claramente, não está nem aí.
Precisei de todas as minhas forças para não deixar as lágrimas caírem.
Olhei para Ethan novamente.
— O que eu posso fazer? Eu não faço ideia de nada disso.
Ele meneou a cabeça.
— Você não vai assinar. É simples. Se quiser que eu ajude com isso...
— Eu quero! — Apressei-me para dizer. Ele abriu seu sorriso bonito e
carinhoso.
— Tudo bem, então. Preciso que me passe o telefone e o e-mail dele para
que eu possa entrar em contato. No mais, quero que se organize. Talvez
precisaremos viajar para Londres, para que isso possa ser resolvido
pessoalmente.
Aquilo meio que abriu um buraco no meu coração. Saber que eu posso
ter que voltar para Londres não era uma coisa boa. Me assustava de uma
forma muito ruim. Imaginar que poderei esbarrar com Anne Seymour, me
deixava apavorada. E se tudo voltar a ser como era, caso eu a veja
novamente?
Mesmo sentindo minhas mãos começando a suar, anuí com a maior
firmeza que eu tinha.
— Certo, pode deixar.
Ethan me olhou com um carinho paterno que eu nunca tive.
— Prometo para você que vamos resolver isso, okay? Vou fazê-lo te dar
o que merece. — Então ele parou e franziu a testa para mim, curioso. —
Você realmente quer vender a empresa?
Encolhi os ombros.
— É uma empresa que faz móveis para as grandes lojas da Inglaterra. Eu
não sei nada sobre isso. Acho que vender seria a melhor opção.
Ele assentiu.
— Então, faremos uma ótima venda.
Concordei com ele.
 
•••
 
Quando chegamos no lugar que Racer disse que fazia cornish pasty, ele
chamou minha atenção, do outro lado da mesa.
Pisquei, afastando os pensamentos que estavam me incomodando.
— Oi?
— Você precisa escolher o que vai beber.
— Ah, claro. — Dei uma rápida olhada no cardápio digital em um tablet
que foi posto diante de mim. — Uma coca zero está ótimo para mim.
Obrigada. — Falei para a garçonete, sorrindo. Encolhi um pouco quando
ela se inclinou para pegar o tablet, mas logo me recompus.
Quando ela se afastou, volvi meus olhos para Racer, que me observava
com cuidado.
— O que está passando por essa cabecinha linda? Preocupada com o seu
tio?
Neguei.
— Não é isso. Quer dizer, estou mal por saber que ele quis me fazer de
tonta, mas... — Suspirei devagar, balançando a cabeça. — O que está me
incomodando de verdade é... É a possibilidade da volta.
— Para Londres?
Fiz que sim com a cabeça, em seguida, torci o nariz.
— E se eu acabar encontrando a Anne?
Ergueu a sobrancelha.
— Seymour? — questionou. — Anne Seymour?
— A própria. — Estremeci. Apenas o nome dela me dava arrepios
indesejados.
Racer moveu seus dedos para que eu pudesse vê-los antes de segurar
minhas mãos sobre a mesa.
— Amor — Aquela simples palavra parecia massagear meu coração e
me aquecia inteira por dentro. —, se realmente for necessário voltar lá,
prometo que estarei ao seu lado. E, caso Anne apareça, farei de tudo para
mantê-la bem longe de você.
— Mas não tem como você estar perto o tempo todo. Olha o que
aconteceu da última vez. E se acontecer novamente, e eu não conseguir
mais isso — Apertei suas mãos em uma demonstração. — Ficar longe de
você por tanto tempo, me deixou louca. Se precisar ficar sem te ver de
novo, juro que não vou aguentar.
Seus olhos brilharam.
— Acha que eu vou? Sabe quantas vezes precisei me segurar para não
invadir a casa dos meus pais, só para conseguir te ver?
— Racer...
— Linda — ele me interrompeu. —, não vai mais acontecer. — disse,
convicto. — Mas, se for o caso e eu me afastar, e você acabar esbarrando
com ela, então tudo voltar, eu prometo que darei um jeito de não ficarmos
tão longe.
Meu coração apertou de alegria. Acabei me desmanchando em um
sorriso bobo.
— Tudo bem.
Ele levantou minhas mãos e beijou cada um dos meus dorsos.
— Eu te amo, Bella. Nunca mais deixarei você se afastar.
Sorri ainda mais.
— Eu te amo, também.
 
CAPÍTULO BÔNUS.
Alessa.
 
— Acha mesmo que ele queria passar a perna nela? — Perguntei. Sentei-
me na beira da cama para poder tirar as botas.
Sentado em uma poltrona um pouco afastada da cama, Ethan abaixou seu
iPad e soltou um suspiro pesado.
— Não tem como dizer até conversar com ele, mas se ele é realmente o
empresário de quem eu ouvi falar, sim, era sua intenção. Não como você
saber o mínimo de administração e contabilidade e não saber quanto a
empresa que você administra custa.
Torci o nariz em desgosto.
— E como a Bella ficou?
— Surpresa. — Ele falou.
Meu coração doeu só de imagina-la. Gostaria de estar presente para
abraça-la e dizer que tudo ficaria bem.
Desde que ela chegou em nossas vidas, soube que a teria como uma filha
de coração. O jeito doce e assustado, como se a qualquer momento
fossemos agarra-las, me deixou encantada. Tenho certeza que foi assim com
Ethan também. Ele está sempre preocupado com ela, igual como fica com
nossos filhos.
— Meu amor — ele me chamou, erguendo uma mão para mim. Fui até
ele, que me puxou para seu colo. —, não quero você preocupada. Vou
resolver isso para a Bella.
— Eu sei que vai. — Toquei seu rosto tão lindo. O tempo passou,
envelhecemos, mas ele continuava perfeito. Sua beleza fazia meu coração
palpitar todos os dias, assim como minha boceta. — Mas sabe que é
impossível não me preocupar.
Ele colocou o iPad na mesinha ao lado.
— Bom — Olhou-me com malícia —, eu conheço algumas formas de
fazer você relaxar um pouco.
Arfei, já sedenta por aquele homem. Meu homem. Minhas mãos foram
de encontro com sua calça de moletom e, bem provocante, pressionei uma
mão no seu pau duro. Salivei.
— Monta em mim. — Ordenou, a voz roupa de desejo.
Não pensei duas vezes. Levantei de seu colo, então o montei, puxando
meu vestido para cima dos quadris.
Ethan passou as mãos grandes pelas minhas pernas, até que seus dedos
encontraram com meu ponto mais molhado. Minha respiração prendeu com
o choque de prazer. Sentir meu tesão por ele — como sempre — o fez ficar
mais primitivo. Ele afastou o tecido empapado para o lado, então me
posicionou sobre seu pau ereto. Segurei em seus ombros e esperei. Quando
ele me desceu e me preencheu por dentro, ambos gememos alto.
Joguei a cabeça para trás, em êxtase. O sentimento era perfeito. Seu pau
grande e grosso era perfeito. Tantos anos, mais de vinte, e o prazer era o
mesmo, a sensação...
— Gostosa pra caralho, baby. — Chiou enquanto nos movimentávamos
em busca do prazer total. — Eu sou obcecado por você e por sua boceta.
Cravei minhas unhas em seus ombros e pressionei meus lábios nos seus,
gemendo em sua boca. Eu amava quando ele falava essas coisas durante
nosso sexo.
— Eu sou obcecada pelo seu pau, baby — Devolvi. — E por você.
Sempre fui.
Eu me apertei ao redor de seu pau, e ele lamentou, apertando minha
bunda em resposta e socando mais forte. Abracei seus ombros e o deixei
fazer dessa forma, forte e firme.
Gemíamos feito dois animais acasalando, como era normal quando
fodemos. O único som no quarto era de nossas lamúrias cheias de desejo e
necessidade.
— Não vou durar tanto tempo. — Avisei, sem fôlego.
Ele me apertou mais.
— Basta gozar, amor. — disse ele. — Goza bem gostoso no meu pau, e
eu vou lhe acompanhar.
— Aham. — Assentia freneticamente, meus olhos fechados, meu ventre
se apertando.
— Vou gozar bem fundo em você, nessa sua bocetinha gostosa. —
Pressionou dentro de mim, e eu gritei, enlouquecida.
— Ah, meu Deus! Sim, sim, sim!
Uma mão sua foi para cima e agarrou meus cabelos com força.
— Vai, baby. Goza comigo agora. Agora mesmo!
Meu corpo obedeceu a seu comando e explodiu como uma bomba
atômica, levando calor para todo meu corpo suado. Nós gritamos, o tesão de
um dia inteiro sendo liberado.
Era tão bom. Perfeito. Sempre foi.
Ethan conseguia me fazer sentir como aquela mulher, recém adulta, cheia
de sonhos e hormônios jovem, toda vez que me tocava, me beijava, fazia
amor comigo. Era maravilhoso saber que ele sempre foi o amor da minha
vida e que nenhum outro conseguiria me fazer sentir da mesma forma.
 
•••
 
 
No dia seguinte, acordei mais cedo que ele, quase de madrugada, e me
tranquei no banheiro para vomitar. Aquilo vinha acontecendo na última
semana e no começo pensei ser apenas uma virose ou algo parecido. Mas
no dia anterior, quando senti vontade de colocar meu almoço para fora logo
depois de ingeri-lo, desconfiei de algo que nem esperava mais.
Quer dizer, como era possível? Eu já tinha chegado aos meus quarenta e
seis anos!
Mesmo assim, sem acreditar, resolvi passar em uma farmácia e comprar
um teste rápido. Esperaria mais um dia e, se voltasse a acontecer, eu o faria.
Então aconteceu de novo.
Encarei o teste ainda na embalagem enquanto mordia o canto do meu
lábio interior. Com as mãos na cintura, tentava decidir o que faria
realmente.
E se desse positivo?
Eu deveria estar me preparando para receber netos, não novos filhos.
Respirando fundo mais de uma vez, peguei a caixa e a abri. Não podia
ficar ali, o dia todo enrolando. Se tivesse um ser humano dentro de mim,
deixar de fazer o teste não teria tanta diferença.
— Que seja o que Deus quiser... — Murmurei antes de me sentar na
privada.
 
 
 
Ethan.
 
 
Havia acabado de me acordar e estava me levantando da cama quando
Alessa saiu do banheiro. A pele pálida e o olhar assustado chamaram mais
minha atenção do que a camisola de seda que delineava seu corpo bonito.
— O que aconteceu, amor? — Fui em seu encontro, preocupado, mas sua
mão espalmou em meu peito e sua cabeça balançou.
— Senta. — Ordenou, desnorteada. — Tenho uma coisa para falar, mas
nós dois precisamos estar sentados.
Não discuti. Voltei e me sentei na beira da cama, mas não conseguia
parar de olhar para ela e imaginar, pelo menos, meia dúzias de coisas.
Ela estava doente? Era sério?
— Alessa, amor, está me deixando preocupado. Você está pálida.
Adoeceu ou algo assim?
Com uma careta, ela segurou minha mão e olhou em meus olhos. Os seus
continham um brilho de confusão.
— Amor, estou grávida.
O quê?
— Vo-vo-você... O quê?!
— Estou grávida.
Meus olhos estavam tão arregalados, que eu sentia doer ao redor. Minha
garganta ficou seca, minha mente parou de funcionar, e juro que até meus
batimentos falharam.
Meneei a cabeça devagar, procurando a calma dentro de mim. Foquei nas
emoções, e elas estavam em um turbilhão. Medo, alegria, empolgação,
hesitação. Todas juntas e misturadas. Foi o que senti quando soube da
gravidez do Racer e da Maya, há vinte e três anos.
— Está falando sério? — Procurei saber. Eu tremia.
Uma lágrima deslizou pela sua bochecha e seus lábios se curvaram em
um sorriso doce. Anuiu.
— Sim, estou. — Respondeu e mais lágrimas caíram. — Eu sei que
estamos velhos para isso e que é uma loucura porque, caramba, nossos
filhos já são adultos, mas, sim, baby, estou falando sério. Seremos pais
novamente.
Deus. Eu sequer conseguia segurar minhas próprias lágrimas. Cheguei
mais perto dela e, com cuidado, pus a mão sobre seu abdômen plano. Sorri
como um bobo enquanto chorava e assimilava que o amor da minha vida
iria me dar filhos de novo.
Quando mais jovens, após termos os gêmeos, tentamos por diversas
vezes. No entanto, mesmo com tudo certo conosco, não conseguimos. E
agora, depois de tantos anos, a vida nos presenteou outra vez.
— Eu estou tão assustada, Ethan. — ela confessou, baixinho. — Não sou
mais uma jovem. Tenho menos energia e com certeza será uma gravidez de
risco, devido minha idade. E eu nem lembro mais como se cria um filho!
Como vamos fazer isso?
Segurei seu rosto entre as mãos e beijei a ponta do seu nariz com
carinho.
— Fala sério, amor. Você criou Racer e Maya, e agora está fazendo um
ótimo trabalho com Bella.
Ela torceu o nariz empinado.
— Ela não vale. Já é adulta, só estou ajudando.
— Você tem se dedicado a ela desde que chegou aqui. Esteve com ela em
maus e bons momentos e a ensinou coisas que a vida não poderia ter feito
sozinha. — Olhei bem em seus lindos olhos azuis. — Você, Alessa Lazzari-
Cross, é uma mãe magnífica. Tenho certeza que se sairá muito bem de
novo.
Chorosa, ela se jogou em mim e me abraçou. Devolvi o abraço,
embalando-a dentro dos meus braços e a segurei por bastante tempo. Por
mim, eu nunca a soltaria.
Eu sempre fui feliz com aquela mulher. Ela era meu acordar e meu
adormecer. Ela me deu os melhores momentos e os melhores filhos do
mundo, e me daria mais um... ou mais dois.
— É incrível como a cada dia você me faz te amar mais, sabia? — Ela
sorriu para mim.
Anuí.
— Que bom, porque você acaba de triplicar o meu amor por você.
Seu sorriso é a coisa mais linda do mundo.
— Como você acha que nossos filhos vão reagir a isso?
Arrumei uma mecha de seu cabelo atrás da orelha, sorrindo.
— Eu não faço ideia.
— É — Ela concordou, pensativa. — Eu também não.
 

CAPÍTULO 7.
Bella
 
 
Era definitivo. Eu odiava voar. 
O avião mal tinha decolado, e minhas mãos já estavam suando. Era a
segunda vez que eu estava dentro de um avião e a primeira vez foi mais
assustadora porque estava sozinha. Ainda tinha muito medo de tudo, então
Ethan enviou o avião para Londres, para que eu pudesse chegar em Los
Angeles para a primeira consulta que salvaria minha vida. Dessa vez, eu
tinha a companhia deles. Ethan, Alessa e Racer estavam indo até Londres
comigo, para me ajudar no meu mais novo problema: a empresa da minha
família. 
  Meus olhos se fecharam com força. Eu não era do tipo que reza, mas
comecei a falar com Deus e a pedir para que ele segurasse aquela enorme
caixa de metal com bastante vontade.  
 — Quer segurar minha mão? — A voz rouca de Racer alcançou meus
ouvidos suavemente. Ele estava sentado ao meu lado, mas ainda não havia
me tocado. 
 Anuí. 
— Por favor. 
— Vou pegar a sua mão, okay? — avisou, e eu assinto. Sinto o calor de
sua mão grande sobre a minha e inspiro fundo quando seus dedos se
entrelaçam nos meus. — Pode apertar quando quiser, linda. 
 Finalmente abri os olhos e encarei aquela imensidão azul em seus olhos.
Sorri amedrontada, mas confiando nele.
 — Obrigada. 
 — Não por isso, linda. É normal ter medo de avião. 
 — Eu sei. — suspirei, chateada. 
Mas eu estou cansada de ter medo. Parece que nunca termina o ciclo de
medos.
—  Você é humana. Humanos sentem medo. Pode ser de baratas, avião
ou toques. Não tem um botão que desliga e você para de sentir medo, linda.
Olhei bem em seus olhos e questionei:
 —  Do que você tem medo? 
 Sua resposta foi rápida e sem hesitação:
 —  De perder você.
 Meu coração bombeou no peito e um sorriso fácil curvou meus lábios. 
Encarando-me, Racer levantou nossas mãos e beijou o dorso da minha,
com carinho.
 —  Se eu tiver que passar meses longe de você de novo… — sacudiu a
cabeça devagar. — Não quero nem pensar nisso.
 —  Ei. — Segurei seus olhos com os meus e falei da forma mais direta
possível: — Nunca mais vou ficar longe de você, R. Eu prometo. 
— Caramba. 
Olhamos para frente e Alessa estava desatando seu cinto para se levantar.
Seu rosto estava contorcido, enojado. 
 —  O que houve, mãe? — Racer perguntou, mas ela apenas balançou a
cabeça em negativa enquanto passava por nós, na direção do fundo do
avião. Então ele se voltou para seu pai, que ergueu a cabeça do computador
para acompanhar o movimento da esposa. — Ela está bem? 
 Ethan deu de ombros suavemente, como se não fosse nada demais.
— De uns tempos para cá, ela vem tendo enjoos quando viajamos.
Racer o olhou, desconfiado.
— Ela nunca teve enjoos em aviões.
— Em canto nenhum, na verdade. — Seu pai concordou, então voltou a
dar de ombros. — Mas, você é médico agora. Deve saber mais que todo
mundo aqui que isso pode acontecer.
Ele ainda estava hesitante, mas seus ombros relaxaram um pouco e suas
costas se encostaram novamente na poltrona. Fiz carinho em sua mão para
tentar tirar um pouco da tensão que a preocupação pela mãe trouxe para seu
corpo.
Um minuto depois, Alessa voltou, mas não se sentou. Seu rosto estava
pálido e sua mão pressionava o estômago. Ela estava mesmo mal. De
repente, eu estava tão preocupada quanto Racer.
— Você está melhor? — perguntei.
— Ah, sim, sim, querida. — Ela forçou um sorriso para mim, mas
claramente, o sorriso não alcançou os olhos. — Coisa nova trazida pela
idade... Não se preocupe. — Se voltou para o marido. — Eu preciso me
deitar um pouco. Vem comigo?
Ethan não hesitou um segundo. Fechando o notebook, ele o colocou
sobre uma mesinha que havia em sua frente e levantou em toda sua glória
masculina. Não usava suas peças sob medida de terno, colete e calça
impecáveis. Estava com um jeans escuro e camisa preta de mangas
compridas.
Olhando-o ali, em seus cinquenta anos, imaginei se Racer pareceria com
ele quando chegar na sua idade. Quer dizer, Racer e Maya eram gêmeos e
pareciam mais com o pai do que com a mãe. Até a forma de andar, parar e
gesticular enquanto fala do meu namorado é idêntico ao seu pai. Era normal
ter esse tipo de questionamento na minha cabeça. Estava feliz de saber que
ele poderia ficar ainda mais gato e gostoso na velhice.
Quando seus pais desapareceram na suíte do avião, olhei para o homem
ao meu lado. Ainda parecia bem preocupado, mas meus pensamentos
estavam em outro ponto... Será que vamos envelhecer juntos? Eu vou
superar todos meus problemas e formar uma família com ele?
Ele virou a cabeça e me pegou no flagra. Meu rosto virou um pimentão
de tão vermelho.
— No que está pensando? — Ele se inclinou um pouco mais perto de
mim.
— Como sabe que estou pensando em alguma coisa?
Alçou uma sobrancelha arrogante que dizia Jura, linda? Te conheço
melhor que qualquer um.
Sorri, meneando a cabeça.
— Estava pensando em... — Prendo o lábio inferior entre os dentes,
envergonhada de dizer o que realmente estava se passando pela minha
cabeça. Era infantil demais. Mesmo assim, respirei profundamente e
revelei: — Estava me perguntando se vamos chegar ao nível dos seus pais.
— Como assim? — Ele franziu o cenho.
Meu estômago se revirou com nervosismo. Por que inventei de falar a
verdade?
— Nesse nível. — Gesticulo em direção à suíte. — Juntos há tanto
tempo, mas ainda com tanta paixão, tanto amor, tanto...
— Tesão? — ele provocou, movendo as sobrancelhas e com um
sorrisinho safado curvando os lábios perfeitos.
O meu corpo inteiro se tornou quente e engoli em seco ao sentir os
efeitos que suas palavras provocaram em mim. E ele percebeu, obviamente,
porque seu corpo chegou mais perto e sua mão escorregou para minha
perna.
Ah, o arrepio... Correu por toda minha pele, tão forte que me fez ofegar.
— Eu ia dizer companheirismo. — Tentei amenizar meu sufoco com
uma brincadeira, mas não funcionou.
Racer apertou a parte de cima da minha coxa, bem perto do ponto
sensível, que pulsa por conta dele. Dá um risinho maldoso quando arfo em
busca de ar.
— Uh, sim. — Seus lábios ainda estavam contorcidos e sua mão no
mesmo lugar, provocando-me. — Eles são muito companheiros, linda. Mas
sobre o tesão... — Ele ergue a mão e move os dedos — Vou te mostrar
como podemos envelhecer com ele, linda.
Ele começou a descer novamente a mão, em direção à minha zona úmida
— molhada, ensopada, empapada era definições mais exatas, e ele nem me
tocou lá ainda. Nervosa, olhei por sobre o ombro, para a suíte ainda
trancada.
— Racer, o que você vai-
Fui interrompida pelos seus dedos em minha virilha sobre o tecido
grosso da minha calça jeans. Ele pressionou meu clítoris sob a calça, e eu
estremeci.
— Xiii! — Seu rosto estava tão próximo ao meu, que conseguia sentir
seu hálito quente em minha bochecha. — Silêncio ou vão nos escutar.
Cerrei os dentes quando ele moveu o dedo em meu montinho de nervos.
— Se eles saírem de lá — Minha voz quase não saía de tão baixa que
estava. Era uma mistura de desejo e medo de ser pega. —, vão nos pegar no
flagra.
— Eles não vão sair agora, linda. — Com agilidade, desatou o botão da
minha calça com apenas uma mão e deslizou o flash para baixo. — Somos
só você e eu.
Engoli em seco e prendi a respiração. Meus olhos vão direto para a parte
em que as duas aeromoças simpáticas ficam.
— E se elas resolverem-
Fui interrompida novamente. Com a mão livre, Racer apertou o botão ao
lado de sua poltrona e a voz de uma das mulheres soou, perguntando-o se
ele desejava alguma coisa.
— Nádia, vou precisar de cinco minutos de privacidade.
— Sim, senhor. Precisando, só chamar.
Ele desligou e se voltou para mim, que tinha uma sobrancelha erguida
em questão.
— Cinco minutos?
Seu sorriso entortou mais, ficando mais sem-vergonha, presunçoso.
— Linda, eu só vou precisar de três. Os outros dois é para você se
recompor.
Eu abri minha boca para tentar brincar novamente, mas ele foi mais
rápido e enfiou a mão dentro da calça, os dedos alcançando o tecido
molhado da calcinha de renda. Seus olhos se fecharam e um gemido
escapou dos lábios pressionados.
— Porra, linda. Tão molhada, que eu entraria com facilidade.
Lamentei, meu corpo cedendo e se esparramando na poltrona de couro
branco. Minhas pernas se abriram mais para seu toque, facilitando que
deslizasse os dedos até minha entrada pulsante.
Conseguindo afastar o tecido para o lado, ele circulou minha entrada
duas vezes antes de colocar o polegar em meu clítoris numa masturbação
deliciosa, então, para completar, com cuidado, colocou um dedo dentro de
mim.
— Ahhh! Racer..., caramba! — Engasguei com o prazer de sentir seu
toque em mim. Meus quadris balançando em direção a seus dedos.
— Isso, amor. Move assim, linda. — Enfiou outro dedo. — Suga meus
dedos com essa bocetinha gostosa, como se fosse meu pau aqui, fodendo-a
como ela merece...
Senhor!
Apertei os braços da poltrona com força. Meu corpo arqueado,
permitindo-se sentir cada sensação prazerosa. A forma como o prazer se
acumulava em meu ventre, se preparando para explodir em um orgasmo
surreal.
Enquanto Racer cumpria sua parte de me fazer gozar em três minutos,
pensei em meses atrás, quando eu nem imaginava que estaria dentro de um
avião particular, deixando que ele me masturbasse enquanto seus pais
estavam dentro da suíte. O pensamento me fez aquecer ainda mais e o tesão
só aumentou. Isso costumava acontecer quando eu lembrava que poderia
transar com ele a qualquer momento, que não tinha mais medo ou repulsa
de seu toque.
— Vamos lá, linda. — Ele girou os dedos dentro de mim ao mesmo
tempo que esfregava meu clitóris da forma certa. — Goza na minha mão,
vai. Você vai se sentir bem melhor quando fizer.
Anuí, mergulhada na sensação maravilhosa. A boca dele foi para minha
orelha, onde mordiscou e continuou falando coisas sujas sobre como amava
minha boceta apertando seus dedos; como queria que eu tivesse cavalgando
em seu pau, em vez disso; que assim que chegarmos no hotel, ele me
comeria bem gostoso, porque seu pau precisava disso.
Aquelas palavras me deixaram em êxtase e quando o orgasmo explodiu,
eu vi fogos de artifícios para todo lugar. Precisei colocar a mão na boca e
forçar meu subconsciente a não me deixar gritar como uma cadela no cio —
porque acreditava que era justamente assim que iria ser, e todos iriam
escutar. Meu Deus, até os pilotos escutariam, e tenho quase certeza que é a
cabine é prova de som.
Quando retirou a mão de dentro da minha calça, Racer me olhou do seu
jeito safado e simplesmente colocou os dedos na boca e os lambeu!
Assisti, em choque.
— Por que fez isso? Deveria ter lavado as mãos.
O sorriso retorcido estava de volta.
— Porque você é muito gostosa, linda. — Lambeu os lábios, olhando-me
por inteira. — Não vejo a hora da minha boca estar na sua boceta. — Rindo
com minha expressão, obviamente caquética e excitada de novo, ele
desatou o cinto e se levantou. — Vou ao banheiro para cuidar de uma
coisinha — Apontou para própria virilha, que ostentava uma cabana de
respeito, que me fez apertar mais as pernas juntas quando voltei a pulsar
com a visão. — Você tem dois minutos para se recompor antes que Nádia
ou Marie venha até você.
Ele foi em direção banheiro, que ficava próximo a suíte. Comecei a fazer
o que ele disse, porque não queria que ninguém me visse daquela forma:
como uma boba sem-vergonha, mas o tom de voz chocado de Racer e fez
retesar quando ele quase gritou:
— Você está grávida, mãe!? 
CAPÍTULO 8.
Racer
 
 
  Eu tinha um novo hobby favorito: fazer Bella gozar — seja com meu
pau, minha boca ou meus dedos.
Era perfeito a forma como seu corpo se arqueava e contraía e contorcia
quando o orgasmo explodia nela. O jeito como sua boquinha se entreabria e
o som dos gemidos... Jesus! Não precisava de mais nada para meu próprio
orgasmo dar sinal.
Quando levantei para ir ao banheiro, meu pau ainda doía, duro feito
pedra contra o zíper da minha calça. Se não tivéssemos companhia, com
certeza a faria me montar ali mesmo, na poltrona do avião. Só de imaginar
meus olhos naqueles peitos deliciosos, sua boceta apertando ao meu redor
enquanto as nuvens passavam por nós, tinha vontade de voltar e fazer
mesmo com meus pais na suíte.
— Você precisa se acalmar, amor. — A voz calma do meu pai chamou
minha atenção.
Olhei para a porta que estava apenas encostada, e franzi o cenho. Não
gostava de escutar conversas escondido, mas alguma coisa me dizia que
tinha algo de errado.
— Eu sei, eu sei. — Minha mãe disse, soando baixinho e desesperada ao
mesmo tempo. — Mas, como não pensei nisso? São sete da manhã! Claro
que eu iria enjoar.
— Você está tendo enjoos matutinos. É normal.
— Sim, também sei disso, mas nosso filho está conosco! Não quero que
ele saiba assim. Queria sentar com os dois e conversar...
Droga. Eu deveria continuar meu caminho até o banheiro depois disso,
mas não consegui. Em vez disso, me aproximei mais da porta.
O que diabos estava acontecendo com ela? E por que meu pai disse que
era apenas novos enjoos de voo?
— Nosso filho é um adulto, querida. — Pai falou. — Tenho certeza que
ele vai encarar isso numa boa.
— Ethan, eu estou grávida aos quarenta e seis anos! Nem eu estou
encarando numa boa!
Meu queixo caiu, a confusão causando uma pane no meu sistema. E meu
pau murchou na hora.
Ela está o quê?
Sem nem pensar, empurrei a porta do quarto aberta e encarei meus pais,
chocado:
— Você está grávida, mãe!? 
Ambos viraram para mim, surpresos. Os olhos da minha mãe se
arregalaram de uma forma, que pode ter doído. Então ela gemeu em tortura
e caiu sentada na beira da cama.
— Ai, Deus!
Meu pai sorriu, tranquilo, totalmente diferente da minha mãe.
— É, ela está.
— Ethan, é assim que você fala? — perguntou ela, indignada.
Ele deu de ombros.
— Ele é adulto, querida. Não precisamos de uma reunião e, com certeza,
não precisamos dar satisfações.
A careta que ela fez foi até engraçada.
Eu ainda estava chocado quando entrei no quarto e fui até ela.
— Mãe. — Segurei sua mão e a fiz levantar. Ela me olhou, as bochechas
rosadas e os olhos com lágrimas. — Está tudo bem.
Ela lamentou.
— Não era assim que eu queria que soubesse. Eu...
— Você está bem? — Questionei, alçando uma sobrancelha.
— Eu estou... com medo. — Engoliu em seco, uma lágrima rolando pelo
seu rosto, que logo enxuguei com o meu polegar. — Você e sua irmã já têm
vinte e poucos anos, querido. Eu nem sei se ainda consigo cuidar de uma
criança!
— Claro que consegue. Você é a melhor mãe do mundo.
— Ah, para de me fazer chorar. — Ela bateu em meu peito, chorando e
sorrindo ao mesmo tempo. — Estou falando sério. Sem contar que estou na
casa dos quarenta. É tão arriscado.
— É arriscado, mas não impossível, mãe. Você tem os melhores médicos
à disposição. Vai dar tudo certo.
— Eu falei a mesma coisa. — Meu pai falou.
Mãe suspirou, hesitante.
— Falou, sim. — Ela meneou a cabeça, devagar. — Mas isso não
ameniza meu medo.
— Estamos com você. — Fui firme, olhando-a nos olhos. — Eu estarei
sempre aqui por você. Tenho certeza que a Maya também.
Ela me encarou com aquele doce carinho materno e tocou meu rosto com
delicadeza.
— Você está mesmo bem com isso?
Anuí.
— Vai ser um pouco estranho ter outro irmão depois de anos, mas sim,
estou bem. Cem por cento. — Segurei seu rosto entre as mãos e beijei sua
testa, em seguida, a abracei. — Vai dar tudo certo, mãe.
 
 
•••
 
 
— Ainda não acredito que Alessa vai ter um bebê. — Bella comentou
enquanto colocava o brinco na orelha. Ela estava perfeita com um vestido
vermelho sem alça, justo em seu corpo gostoso e um salto dourado. Os
cabelos estavam soltos, com os cachos perfeitos.
No avião, quando ficou sabendo da gravidez da minha mãe, foi
parabeniza-la, e a minha coroa chorou mais uma vez ao abraça-la. Eu
amava ver que as duas tinham um vinculo bom. Era muito importante para
mim.
— Pois é. — concordei, calçando meu tênis. — Nem eu acredito, mas
estou feliz. Chocado, mas feliz.
— Você tem sorte, sabia? — ela sorriu, linda demais, virando para mim.
— Eu não tive um irmão e a vida inteira pensei em como seria bom. Talvez,
se tivesse um, não teria tido a fobia, porque quando tudo aconteceu, ele ou
ela poderia ter me abraçado e dito que tudo ficaria bem naquela hora.
— Ei, vem cá. — Estendi a mão para ela pegar quando notei que estava
ficando triste. Puxei-a até que sentasse em meu colo. — Agora você tem um
namorado maravilhoso — ri quando ela revirou os olhos, zombando —,
uma cunhada meia doida, que te trata como irmã e vai ganhar outra ou
outro. Fora que tem minha mãe super protetora e meu pai dramático, que te
tem como filha deles.
— Você tem razão. — Ela abriu um sorriso lindo. — Também os tenho
como minha família. Mas você entendeu o que eu quis dizer? Acho muito
legal você ter crescido junto com sua irmã e que agora vai se tornar um
irmão mais velho.
— Ah, isso vai ser muito bom. — Abri um sorriso, realmente
empolgado. — Estou cansado da Maya ficar passando na minha cara o
tempo todo que é minutos mais velha que eu. Acredita que ela usava isso
para tentar mandar em mim?
Ela solta uma risada tão gostosa, que o som viaja até meu pau, fazendo-o
contrair.
— É a cara dela.
Eu estava prestes a avisa-la que desceria minha mão para sua bunda
quando uma mensagem chegou no meu celular. O peguei ao meu lado e li a
mensagem do meu pai, avisando que já estava no restaurante do hotel e que
o jantar já iria ser servido.
— Meus pais estão nos esperando. — avisei.
Bella anuiu e se levantou da minha perna.
— Vamos lá, então. Estou pronta.
— Certo. — Segurei sua mão, porque simplesmente amava a sensação de
poder toca-la o tempo todo, e a guiei até a porta, então para o elevador. Em
minha cabeça, tudo que passava era que eu estava sedento para voltar à
nossa suíte, tirar aquele vestidinho curto e fazer amor com ela.
 
CAPÍTULO 9.
Bella
 
— Falei com seu tio antes de descer. — Ethan disse após tomar um gole
do vinho branco em sua taça. — Ele irá nos encontrar amanhã, em seu
escritório, no centro de Londres.
Anuí, meus lábios pressionados juntos. Ainda não sabia como agir.
Estava nervosa por ter que encontrar alguém da minha família.
— A Bella é da família. Ele deveria, no mínimo, convida-la para uma
reunião em sua casa. — Alessa ficou indignada, e pelo jeito que Ethan
olhou, ele concordava com ela.
Balancei a cabeça.
— Eu o entendo. Não é como se fossemos próximos. Nós não tínhamos
contato quando meus pais eram vivos e no tempo que fiquei em sua casa
quando tudo aconteceu, mal nos víamos. Passei o tempo todo trancada no
quarto, morrendo de medo. Depois que fui para minha casa, mantivemos
contato uma vez no mês e por e-mail. A mensagem era sempre sobre
dinheiro.
— Mesmo assim. — Ela insistiu. — Você não deixa de ser sobrinha só
porque tinha medo.
Respirando fundo, levantei minha mão e toquei a sua sobre a mesa,
oferecendo-lhe um sorriso sincero.
— Está tudo bem, sério. E Ethan acabou de dizer que o escritório era
aqui em Londres. Eles moram em Bath, que fica a duas horas daqui.
Finalmente, ela suspirou e moveu a cabeça, relaxando um pouco.
Apertou minha mão em resposta, então a soltou e arrumou seu guardanapo
no colo.
— Certo. Se está bem para você, cara mia, está bem para mim.
— Prometo que estou bem. — Garanti. — Não fique nervosa, okay? Seu
baby precisa que esteja tranquila.
Ela anuiu.
— Sim, tem razão. Estou bem. Juro que estou.
Ethan me deu um sorrisinho agradecido.
— Amanhã às oito, então?
Inspirei profundamente.
— Combinado.
 
 
•••
 
— Você está bem mesmo?
Olhei entre Racer e Ethan, que me encaravam com preocupação ao
chegarmos no prédio elegante, no horário marcado. Não, eu não estava nada
bem. Estava nervosa por ter que encontrar com uma pessoa que deveria ser
próxima. A última vez que meu tio me viu, eu estava chorando como uma
louca, pensando que ele iria me tocar antes de entrar no carro e partir para
minha nova casa. No entanto, respirei devagar e assenti para os novos
homens da minha vida.
— Estou bem.
Ethan se virou e foi até a recepção para informar nossa chegada. Seu
filho permaneceu ao meu lado, as mãos enfiadas nos bolsos de sua calça
cara, olhando ao redor, como se a qualquer momento fosse aparecer alguém
querendo me abraçar.
Nós acabamos indo só os três, porque a Mamãe Ursa acordou com mal-
estar devido a gravidez, então a convencemos a ficar no hotel e descansar.
Mas não saímos de lá antes de ela fazer o marido prometer que não deixaria
“esse filho da puta” — palavras dela — me machucar. Ela me abraçou,
disse que tudo daria certo, e foi se deitar.
— Precisa relaxar — Inclinei-me um pouco para Racer e forcei um
sorriso brincalhão. — Ninguém vai aparecer do nada para me tocar.
Ele virou a cabeça e seus lindos olhos azuis pegaram os meus, intensos,
bonitos.
— Nunca se sabe, linda. Eu não vou correr esse risco. É minha
responsabilidade mantê-la segura agora.
Aquilo encheu meu coração de paixão por ele. Mais paixão.
Aparentemente, Racer Lazzari tem o dom de continuar fazendo-me
apaixonar por ele a cada dia. Eu estava sorrindo para ele como uma boba,
quando seu pai voltou para perto e disse:
— Ele está nos esperando. Preparada?
Respirei fundo e anuí.
— Preparada.
 
 
•••
 
— Isabella… uau! Você está uma mulher linda — Meu tio piscou,
surpreso demais para o meu gosto, quando entramos em seu escritório com
a vista perfeita para a cidade de Londres. —, assim como sua mãe. —
Completou, realmente impressionado. Ele caminhou para perto, mas
hesitou, então manteve uma distância segura.
Ouvi um bufo indiferente e virei minha cabeça para ver minha tia —
irmã da minha mãe —, que estava sentada em um sofá no canto, com uma
xícara de chá em mãos.
— Olá, Isabella.
Franzi o cenho.
— Olá, tia. — Olhei de volta para seu marido e meneei a cabeça para ele:
— Tio.
— Seja bem-vinda. — disse ele. — Sejam todos bem-vindos! Entrem,
podem se acomodar. Querem alguma coisa? Café, chá?
— Por favor, vamos começar logo isso. — Ethan interrompeu quando
viu que nenhum de nós iria responder.
Após me mostrar a mão, Racer coloco-a em minha coluna e me guiou até
uma poltrona. Ele não se sentou; ficou de pé ao meu lado.
Notei meus tios olhando para nós o tempo todo, chocados por ver que
não surtei ao ser tocada. Engoli, incomodada com toda aquela atenção.
Posicionei minhas mãos sobre meu colo e aguardei começarem.
— Bem — Tio limpou a garganta e olhou diretamente para mim. —,
vamos falar de negócios? Você pensou sobre a proposta?
Pisquei sem entender e olhei para Ethan em busca de uma ajudinha, mas
ele já estava focado no homem em sua frente, com a mandíbula travada e
olhos cerrados.
— Você pode falar comigo, sr. Hudson, o advogado dela. — disse ele,
sua voz séria, profissional.
— Ora, somos uma família. — Minha tia se meteu. — Para quê um
advogado, se podemos resolver amigavelmente?
— Pelo que eu vi, vocês estão mandando para Isabella apenas 10% do
dinheiro dela e agora quer comprar a empresa dela por um valor que é três
vezes menos do que realmente vale. Então, sinto muito, sra. Hudson, mas
não acho que família faça uma coisa dessa.
Ela o olha feio, mas surte efeito algum, pois ele sequer pisca. Sua postura
de advogado sério permanece o tempo inteiro.
— Mas nós nem chamamos nosso advogado. — Tio Harry comentou,
exasperado.
Ethan deu de ombros.
— Isso não é problema nosso. Você estava ciente que eu acompanharia
Isabella.
— Ah, Deus! Que besteira! — A mulher colocou a xícara sobre a
mesinha entre nós, com uma violência desnecessária, e se levantou,
exasperada. — Quem abriu a empresa foi a minha irmã, não a Isabella. Isso
significa que eu sou tão dona quanto ela, não?
Ignorando o olhar esnobe dela, Ethan nem pestanejou.
— Não segundo o testamento que Ivy Payne deixou. — Ele moveu o
dedo pela tela de seu iPad e o colocou sobre a mesa para que o casal
pudesse ver também. — Mandei uma cópia para vocês, com as partes mais
importantes grifadas. Se leram, e sei que leram há anos, sabem que sua
irmã, sra. Hudson deixou claro que tudo era da Isabella e quem estivesse
responsável por ela, poderia assumir a empresa até ela estar pronta para
assumi-la.
Olhei para a mulher, prendendo a respiração para sua resposta. Ela tinha
olhos semicerrados sobre meu advogado. Seu corpo estava rijo da raiva, que
transparecia em seus olhos. 
Foi seu marido que se virou para mim novamente e questionou:
— E você está pronta?
Engoli em seco e senti a mão de Racer em meu ombro. Mais uma vez,
notei os olhos daqueles dois sobre o gesto que eu estava recebendo.
Procurei controlar minha respiração e, finalmente, respondi:
— Eu não quero assumir nada. Vou estudar psicologia em Los Angeles e
não pretendo voltar nunca mais para Londres, então, não quero nenhum
vinculo aqui.
— Ótimo! — Minha tia abre os braços. — Então, vamos encerrar isso.
Aceite o preço que meu marido ofereceu e suma daqui, como deseja.
Inclinei minha cabeça levemente para observa-la. Era se parecia tanto
com minha mãe, mas era tão diferente...
— Não acho que seja assim que funciona, senhora. — disse Racer,
entredentes. Apenas pelo seu toque eu sabia que ele estava chateado.
— E não é. — Ethan confirmou. — Checou seu e-mail, sr. Hudson? Te
mandei um novo valor hoje pela manhã.
Tio Harry pegou seu celular no bolso do terno cinza, intrigado. Sua
esposa se aproximou, também para checar, e ambos arregalaram os olhos ao
ler o e-mail.
— Mas que valor é esse? — Ele questionou, indignado.
Tia Ivy bufou.
— Vou te dizer que valor é esse, querido: um bem absurdo!
Cruzando as pernas com elegância, Ethan alçou uma sobrancelha.
— Esse que estão vendo é quanto a empresa está valendo atualmente.
— Mas é um valor muito alto. — O homem volta para mim novamente,
tentando o máximo manter Ethan de fora, e me incomoda. — Querida, sei
que a empresa era da sua mãe e agora é sua, mas... para quê precisa desse
dinheiro todo? Não está bem o suficiente já?
Foi a vez de Racer bufar, seguido de uma risada sem graça.
— Por quê? Por que ela está vivendo conosco? É por isso que ela não
precisa do dinheiro que pertence a ela?
— Qual a surpresa? — Ivy questionou. — Estão ajudando-a, não estão?
Certamente, ela não precisa disso tudo. — Gesticulou para o celular na mão
do marido.
— Eu me lembro da casa de vocês. — falei, baixinho, olhando para a
mesa entre nós. Àquela altura, estava chateada demais e precisava falar
alguma coisa. Estive em silêncio por muito tempo.
— O que disse? — Ela perguntou, dura.
Levantei a cabeça e os olhei.
— Eu disse que me lembro da casa de vocês em Bath. É um casarão com
sete quartos, nove banheiros, três piscinas aquecidas... Faz tempo e eu vivia
dentro daquele quarto, mas tinha uma vista privilegiada para a parte das
piscinas e da saída. Lembro dos seus carros de luxos, das roupas chiques e,
claro, olhando esse prédio, posso dizer que custa algumas milhares de libras
para alugar um escritório por aqui. — Parei um pouco, assistindo seus olhos
se arregalando ao notarem aonde estava querendo chegar, e respirei fundo
antes de completar, devolvendo sua pergunta: — Então, eu que deveria
perguntar: para que precisam do meu dinheiro? Não estão bem o suficiente
já?
O silêncio que se seguiu foi constrangedor para os dois, mas muito
satisfatório para mim. Pacientemente, aguardei que eles saíssem daquele
transe em que minhas palavras se enfiaram e gaguejassem um pouco.
Enfim, os ombros do meu tio caíssem em derrota e, mesmo sob as
reclamações da minha tia, ele olhou para Ethan, tratando-o como meu
advogado pela primeira vez, e disse:
— Tudo bem. Entrarei em contato com meu contador e meu advogado e
mais tarde falo com você.
— Vamos pagar? — Ivy arregalou os olhos, insatisfeita, e recebeu um
olhar severo de “cale-se” do marido.
— Nós vamos e ponto final.
A reunião foi encerrada sob um ar de indignação. Tio Harry, mesmo nada
contente, cumprimentou todos nós e até nos levou à porta.
Enquanto esperamos o elevador, Ethan me mostrou a mão antes de
apertar meu braço com carinho. Ele tinha um sorriso orgulhoso quando
falou:
— Se soubesse que bastava você os colocar em seu devido lugar, teria
tratado tudo por e-mail. Parabéns, querida.
Sorri, agradecida.
— Obrigada.
— É a minha garota. — Racer piscou para mim. — Eles não são sem um
pouco familiar mesmo.
Balancei a cabeça.
— Avisei que éramos apenas parentes. Nunca houve sentimentos
familiares envolvidos. Mas obrigada, gente, de verdade. É bom saber que
existe pessoas que se deslocam de outro continente para me ajudar.
O aperto de Ethan no meu braço se torna mais seguro, chamando minha
atenção para ele, para seus olhos bonitos.
— Isso se chama família, querida. E você é nossa família agora.
— Iríamos para China, se fosse preciso. — Racer completou.
E eu acreditava neles e me sentia muito bem. Eu estava feliz de verdade.
CAPÍTULO 10.
Racer
 
Estava saindo da piscina, naquele mesmo dia, quando notei meu celular
acendendo com mensagens. Peguei a toalha, enxuguei as mãos e comecei a
fazer o mesmo com meus cabelos enquanto checava minha caixa de
mensagens. Todas elas eram de um amigo da faculdade: Nate. Mas antes de
conseguir responder, ele me liga. Atendo rápido:
— Ei, Nate.
— Ei, cara. Soube que está em Londres com a srta. Nãometoque.
Fiz um som bravo para que ele conseguisse escutar e olhei para minha
bela namorada, pegando sol em um biquini branco perfeito, que minhas
mãos estão coçando para tirar.
— Ela tem nome, idiota.
— É, eu sei bem. Você não parava de falar sobre ela, lembra?
Ri.
— O que você quer, Nate?
— Okay. Um nome apenas: festa. — disse ele, empolgado. — Como nos
velhos tempos, cara. Matar a saudade e colocar o papo em dias. Conheço o
lugar perfeito.
Eu não tinha muito o que pensar. Precisávamos relaxar e uma festa cairia
perfeitamente para isso.
— Vamos lá, cara. — Meu amigo insistiu. — Will, Dan e Wanessa
também estarão por lá.
— Beleza. — Eu me rendi, suspirando pesadamente. — Me envia o
endereço e a hora.
— Esse é o Lazzari que conheço!
— Claro. Sou o único que conhece. — Zombei.
— Conheço sua irmã, lembra? Uma pena ela ter ido embora...
Peguei a conotação sexual em sua fala e rosnei um palavrão para ele.
— Quando eu te encontrar, vou quebrar sua cara, idiota.
Ao desligar, peguei Bella me olhando sobre o aro de seus óculos de sol.
— Vai em algum lugar?
— Nós vamos, amor.
Sua sobrancelha se ergueu, questionando.
— Posso saber o lugar?
Dei de ombros.
— Claro. — Curvei-me sobre ela e beijei seus lábios deliciosos. —
Assim que eu souber, prometo que te conto, linda.
 
 
•••
Bella.
 
Racer entrou com facilidade no One Hyde Park em Knightsbridge —
simplesmente um dos condomínios mais caro do mundo.
— Quem mora aqui? — Questionei, admirando os prédios de luxo.
Racer manobrou o carro para um estacionamento exclusivo e encolheu os
ombros.
— Aposto que o Dan. Lembra dele?
— Aquele seu amigo de cabelos loiros, super fofo? É, me lembro sim.
Ele estreitou os olhos sobre mim.
— Um sim seria o bastante, Isabella.
Solto uma risada e balançando a cabeça, voltando a olhar o lugar. Era tão
grande e sofisticado. Não era atoa que um apartamento por aqui vale
milhões.
— É o tipo de lugar que te imaginaria morando, sabia?
Meneou a cabeça e desligou o carro que alugou mais cedo. Nos lábios,
um sorrisinho irônico e egocêntrico.
— Não sem uma assinatura Lazzari, linda. Sem chance.
Bufei, virando os olhos de brincadeira.
— Claro que não.
 
Segundo a mensagem que chegou para Racer, a festa seria na cobertura
do prédio três. Na recepção luxuosa, Racer disse seu nome e, assim como as
pernas da recepcionista queria fazer, as portas do elevador privado se abriu.
Ainda estava me acostumando com o fato de que ele tinha uma chama
que atraía mulheres por onde passava. Acho que minha sina era aguentar
esse tipo de coisa.
Ao entrarmos na cobertura, a música explodiu em meus ouvidos. Encolhi
e me espremi em Racer antes mesmo de sairmos do elevador. Tinha tantas
pessoas, que meu cérebro automaticamente reagiu.
— Ei, você está bem? — Ele procurou saber, preocupado. — Se não,
podemos dar meia volta.
Olhei para aquela multidão dançando, bebendo e curtindo como pessoas
normais. Era aquele tipo de coisa que queria fazer, já que não era mais
dominada pelo medo. Então, inspirando lentamente, entrelacei meus dedos
nos de Racer, sentindo o quanto estavam gelados por conta da noite fria.
Sacudi a cabeça, em resposta a sua pergunta e dei a ele meu melhor sorriso:
— Eu estou bem. Vamos ver seus amigos.
Ele me guiou pelo lugar mais tranquilo, mantendo-me perto das paredes
e ficando sempre entre a multidão e eu. Não disse nada, mas sabia que
estava tentando me proteger de um possível surto, afinal, todos sabiam que
poderia acontecer.
— Olha ele aí! — Um cara abriu os braços, com uma cerveja em mãos.
Nate, se bem me lembro. Ele não foi junto com a Wanessa e o Will para Los
Angeles. Ele cumprimentou Racer com um abraço e batidinhas nas costas,
em seguida, virou para mim, mas parou. — Bella, quanto tempo.
Sorri, anuindo.
— Verdade. Faz um tempão. — Olhei ao redor, um pouco agoniada, mas
dando tudo de mim para controlar.
Sem saber muito o que fazer, Nate estendeu a mão.
— Um aperto de mãos?
— Com certeza. — Dei um aperto firme em sua mão.
Ele riu, impressionado.
— Uma evolução e tanto, hein? 
— Pois é. O tratamento está fazendo efeito.
— Claro que está. Você está aqui. — Will se aproximou, já abraçando
Racer e batendo em seu peito. Ele abriu um sorriso para mim e acenou para
a cerveja. — Quer uma?
Pisquei rapidamente, apertando a mão de Racer e olhando para ele.
— Tudo bem para você?
Sua sobrancelha grossa alçou em questionamento, confuso.
— Por que não estaria tudo bem?
— Porque você está dirigindo. — respondi, como se fosse o óbvio.
Ele sorriu, tão lindo, e levantou minha mão, beijando meu dorso.
— Eu estou dirigindo, linda. Você pode fazer o que quiser. Serei seu
motorista hoje.
— Certeza? Posso dirigir, se quiser se divertir.
Seu sorriso se alargou. Preguiçosamente, ele passou o braço pelos meus
ombros e beijou minha têmpora.
— Você é perfeita, mas não, sério. — Virou para o amigo e disse: — Ela
quer uma bebida, cara.
— Só um minuto. — Will saiu no meio da multidão.
Nate torceu o nariz. Ele era muito bonito. Alto e magro como um
nadador, e se vestia de forma elegante. Estava de jeans, mas com um sapato
branco impecável e uma camisa da mesma cor, com os quatro primeiros
abertos. Uma corrente de ouro fininha chamava atenção para seu peito liso.
— Vocês parecem aqueles casais super fofos das novelas coreanas. —
Ele deu um gole em sua cerveja.
Nós rimos, mas foi meu namorado que perguntou, enquanto me fazia
aproximar mais da parede quando um grupo de pessoas começaram a
chegar mais perto:
— E desde quando assiste novelas coreanas?
Ele pareceu realmente ofendido.
— Como não vou assistir? Sua amiga só sabe ver isso!
Sacudi a cabeça, chocada.
— Você e a Wanessa...?
— Alguém citou meu nome?
Falando nela, a própria chegou, cantarolando e se movimentando
conforme a batida da música. Seus olhos se arregalaram ao nos ver, então
seus braços se enrolaram tão rapidamente ao redor de Racer, que meu corpo
tensionou, imaginando o quão infeliz eu teria sido se fosse eu ali, no lugar
dele.
— Eu não acredito que estão aqui! — Ela comemorou, ainda abraçada a
ele. Quando o soltou, seu sorriso aumentou para mim, mas hesitou,
acenando com as mãos em minha direção. — Estou feliz em vê-la aqui,
Bella. De verdade.
Eu acreditava nela. Sorri e abri meus braços.
— Pode me abraçar, se quiser.
Seus olhos brilharam.
— Sério? Quer dizer, sabia que o tratamento estava fazendo um bom
efeito, mas está pronta para abraçar alguém além do bonitão? — Apontou
com o polegar para Racer.
Eu ri e anuí com firmeza.
— Estou pronta. Mesmo. Vem cá. — A chamei com a mãos, e ela foi
toda empolgada para me abraçar.
Eu também estava empolgada, porque, apesar de ter sido uma vaca no
início, Wanessa foi uma das primeiras pessoas a me entender. Infelizmente,
por conta de sua história de vida — o que me fez ter ainda mais empatia por
ela.
— Uma cerveja saindo! — Will cortou nosso momento, enfiando a
garrafa na minha cara. — Aqui, linda. Todo seu.
Racer deu um tapa na parte de trás de sua cabeça.
— Não chama ela de linda.
Ele massageou a própria cabeça, com uma careta.
— Mas você a chama assim!
— Sim, porque ela é minha namorada. — Racer rebateu, sério e hilário
ao mesmo tempo. — Para você, é só Bella.
— Sabe o que Bella quer dizer em italiano, certo?
Wanessa bufou, então riu.
— Será que ele sabe? — Ironizou ela, indo ficar entre as pernas de Nate,
respondendo minha pergunta anterior sobre eles estarem juntos. — Um
filho de italiana legítima saber italiano? Caramba.
— Foi uma pergunta de brincadeira. — Will revirou os olhos. — Só quis
ter certeza, já que não posso chama-la de linda, mas posso chamar de Bella.
— Às vezes — Meu namorado segurou a cabeça do amigo entre as mãos
—, imagino como você está se tornando um cardiologista, cara.
Will afastou suas mãos com um tapa, encabulado.
— Cadê o Dan, hein? — perguntou, olhando ao redor.
Após um gole de sua cerveja, Wanessa disse:
— Vi ele subindo para o quarto com uma morena.
— Como nos velhos tempos. — Nate ergueu sua garrafa em um brinde, e
todos eles fizeram o mesmo, repetindo a mesma coisa em uníssono.
A festa fluiu tranquilamente, sem nenhum imprevisto desagradável.
Bom, até as três cervejas que tomei começarem a fazer efeito e eu decidir ir
ao banheiro.
— Vai no de lá de cima. — Wan ofereceu. — É bem melhor que
enfrentar o daqui de baixo, cheio de gente.
Depois de ela ter me indicado o caminho, eu fui, mantendo-me firme até
chegar no banheiro. A porta estava entreaberta, então nem bati, fui logo
entrando — e me arrependi amargamente ao dar de cara com a última
pessoa na terra que eu queria ver.
Anne Seymour — a filha do Duque de Iorque, também conhecida como
a mulher que quase me matou e me fez ter o maior ataque da minha vida,
fazendo com que eu ficasse meses longe do meu namorado — estava lá
dentro, sentada sobre a pia chique do banheiro. Suas pernas balançavam no
ar, os cabelos bagunçados, quatro garrafas de cervejas vazias ao seu lado e
uma ainda cheia em sua mão. Quando me viu, seus olhos cinzas
congelaram.
— Vejam só se não é a senhorita nãometoqueoutereiumataque. —
Zombou ela e tomou um gole de sua cerveja.
Engoli em seco.
— Sinto muito, eu vou sair.
Já estava dando meia volta, mas ela me parou com sua próxima fala:
— Se está aqui, é porque quer ir ao banheiro. Vá, use-o. Não vou afoga-
la na bacia.
Meneei a cabeça.
— Eu deveria acreditar?
Ela deu de ombros, bebendo um pouco mais.
— Acredite no que quiser. Estou pouco me fodendo para isso. — Parou,
franziu o cenho, então começou a rir histericamente. — Ah, Deus! Eu
acabei de falar fodendo? Se meus pais ouvissem... — ela torceu o nariz
arrebitado, zombando. — Quem se importa? Já sou a vergonha daquela
bosta de família de todo jeito. — Tornando-se tediosos, seus olhos
pousaram sobre mim. — Anda. Levanta esse vestido e faz xixi, garota. Não
deve ser difícil me ignorar e, se não conseguir, pode mandar mensagens
para meus pais. Eles têm dicas ótimas.
Ignorei sua fala irônica e decidi que, se estava ali, iria até o fim. O que
ela poderia fazer? Tacar aquela garrafa em mim?
Pensando melhor... sim, ela faria e com prazer.
Mas, optei por fazer o que ela disse e ignorar sua existência. Fui até a
privada, levantei meu vestido, abaixei a calcinha e me sentei. Enquanto
fazia xixi, ela cantarolava baixinho, tomando sua cerveja. Franzi cenho,
sem entender nada. E, como estou numa fase super curiosa e embriagada,
não consegui me calar:
— O que deu em você?
Ela levantou a cabeça e me olhou de forma fria.
— O que deu em mim? — Questionou, chateada. Por que ela estava
chateada? — Bom, vejamos... Eu estava obcecada pelo cara gato da
faculdade, mas ele acabou escolhendo a mulher que mais fez cu doce na
história do universo. Pelo amor de Lady Diana, eu teria dado para ele no
primeiro encontro! Quase matei ela de raiva, como aquelas doidas dos
filmes americanos idiotas. — Ela fez uma careta e continuou: — Um ano
depois, vi meu irmão tentando estuprar uma garota de quinze anos e, indo
contra todos os códigos familiares da realeza, levei a denúncia à corte real.
Ele foi considerado culpado, perdeu a chance de um dia receber o título, fez
meu pai quase perder o título e agora toda minha família, incluindo meus
pais, fingem que eu não existo. E estou aqui, quase bêbada, pensando e
querendo entender aonde eu me tornei esse saco de lixo. — Abriu os
braços, cheio de desgosto. — Ah, e para me redimir, a única saída é me
casar com um duque do interior, que meu tio velho e atual rei, arrumou
como no século dezenove. — Suspirou teatralmente. — É, foi isso que deu
em mim. Satisfeita?
Eu já estava de pé, ajeitando minha roupa e boquiaberta com a
declaração.
— Sinto muito. — disse, sinceramente. Hesitante, aproximei da pia para
lavar as mãos na torneira ao seu lado.
— Jura? — Ela tomou mais um gole. — Você é boazinha demais. Se
fosse você, desejaria minha desgraça.
Balancei a cabeça, realmente triste por ela.
— Não somos iguais. De jeito nenhum.
— Claro que não. — bufou. — Eu toquei em você e te empurrei na
piscina, sabendo que você tinha fobia de alguma merda aí; enquanto você
está aqui, conversando comigo e dizendo que sente muito pela minha
situação lamentável.
Virei e encostei minha bunda contra o mármore caro da pia, cruzando os
braços. Estava bem perto dela e não sei se foi a bebida que tomei, mas não
estava com medo de estar ali.
— É tipo isso. — Concordei, movendo a cabeça. — Acho que é questão
de empatia. Não imagino como deve ter sido difícil ter que entregar seu
próprio irmão.
— Você sequer tem irmãos?
Desconsiderei as farpas em seu tom porque estava ciente que ela estava
sofrendo. Sua aparência deplorável mostrava isso com clareza.
— Nunca tive. — Confessei. — Por anos, vive sozinha e isolada dentro
de uma casa. Não tive contato com ninguém. No entanto, agora convivo
com Racer e Maya, e vejo como eles são apegados, mesmo com a distancia
atual dos dois. Eu não consigo imagina-lo em uma situação como essa em
que você está. Acho que não aguentariam.
Ela desdenhou a si mesma e levou a garrafa à boca.
— Pois é. Eu sou uma pessoa horrível e sem coração. Palavras do meu
pai, só para constar.
Sacudi a cabeça.
— Não acredito nisso. Você o pegou no flagra com uma adolescente e
denunciou. Foi difícil, eu sei, mas não te faz uma pessoa ruim. Muito pelo
contrário.
— Isabella, eu já tinha ouvido muita coisa sobre ele, sabia? Relatos de
mulheres que foram vítimas dele, mas sempre deixei para lá. Ignorei. Quer
dizer, ele era meu irmão, o único. Eu o amava e me convenci que eram
apenas mulheres dramáticas que transaram com um futuro duque e queriam
algo mais. — Sua cabeça pendi para o lado quando me olha: — Acredita
mesmo na minha bondade?
Anuí, com firmeza.
— Acredito. Ele é seu irmão, então é compreensível. E, como falei, você
agiu agora que viu.
— É, e isso me rendeu uma dor de cabeça terrível. — Ela deixou a
garrafa de lado e massageou as têmporas para enfatizar.
Torci o nariz. Ela era bem complicada.
— Como está a garota? — perguntei.
Deu de ombros.
— Não faço a mínima ideia. Provavelmente, meu excelentíssimo pai a
mandou para bem longe com a família, para não correr o risco do assunto ir
além das paredes reais.
Eu não duvidava. Ouvi alguns relatos sobre essas pessoas fazendo coisas
do tipo para se livrar de problemas.
— Certo — Eu me afastei da pia e a olhei. — Mas por que está aqui
trancada?
Ela terminou sua cerveja com um último gole.
— Fugindo dos guarda-costas do meu pai.
— Ah, tá.
Fui me virando para sair novamente, mas quando minha mão alcançou a
maçaneta, ela me chamou:
— Ei.
— Hum?
— Valeu a pena?
Franzi o cenho, confusa.
— O quê?
— Ter saído de Londres e mudado tudo na sua vida por conta de um
homem. Valeu a pena? Não se sente sufocada por ter que fazer o que
esperam que faça?
Aquilo me pegou de jeito. Eu nunca tinha parado para pensar sobre o
assunto dessa forma. No entanto, antes que as coisas começassem a dar
pane em minha cabeça, eu respondi sem pestanejar:
— Valeu, sim. E valeu muito a pena.
 
CAPÍTULO 11.
Bella
 
Desci as escadas, sem me preocupar muito com as pessoas ao meu redor.
Precisava chegar em Racer o mais rápido possível. Quando alcancei o
grupo, ele não estava.
— Ele foi pegar água. — Wanessa explicou.
Anuí, já puxando o celular da pequena bolsa.
— Pode dizer para ele que precisei sair?
— O quê? Por quê?
— Eu juro que explico depois. Vou mandar uma mensagem para ele,
prometo. Foi muito bom ver vocês.
Quando eu cheguei na porta do condomínio, meu uber já estava
esperando. Sentada no banco de trás do carro, enviei uma mensagem para
meu namorado, após evitar três ligações seguidas dele.
 
Ei, eu só preciso de um tempo, okay? Uma noite, prometo. Te explico
melhor depois. Eu te amo.
 
Não esperei por uma resposta. Enfiei o celular na bolsa e me concentrei
nas ruas já quase desertas.
Ao chegar no meu antigo bairro, as imagens familiares começaram a
criar um sentimento de nostalgia dentro de mim. Fazia mais de um ano
desde a última vez que estive ali.
Eu gostava do bairro, mas, por incrível que pareça, não sentia saudades.
Estranhamente, preferia a bagunça que era Los Angeles.
Depois que desci do uber, encarei minha velha casa. Eu não tinha
decidido nada sobre ela, mas comecei a mandar dinheiro para uma senhora
latina muito simpática, que morava no final da rua, dar uma ajeitada nela
toda semana.
Respirando fundo, fui até a porta — o local em que Racer se sentou para
conversar comigo a primeira vez. Abri e entrei, sentindo aquele cheiro de
um incenso que comprei pela internet, acendi e nunca mais saiu. Sorri,
olhando ao redor. As lembranças dos dias após dias trancada, andando sobre
a madeira firme, lendo livros e assistindo no sofá.
Arrastei meus dedos pelo encosto do sofá, então pelo abajur ao lado.
Cada detalhe decorado por coisas compradas na internet. Apanhei o livro
sobre a mesinha, meu exemplar surrado de Madame Bovary e sorri para a
capa do livro.
Estava feliz por voltar ali depois de todo o tempo, curada e me sentindo
uma nova pessoa. Lembrando do meu atual apartamento em LA, notei que
essa casa não tinha mais nada a ver comigo.
Fui ao quarto, acendi a luz e sentei na beira da cama. Meu celular não
parava de chegar mensagens, mas ignorei cada uma delas. Deixei-o de lado
e me deitei de barriga para cima, a última coisa que Anne Seymour
perguntou ainda martelava em minha cabeça.
Valeu a pena?
Eu apenas mergulhei de cabeça porque queria mudar. Não estava
sufocada; estava feliz. Tinha Racer, por quem eu era apaixonada e me
tratava perfeitamente. Tinha Alessa e Ethan, que me ajudavam pra caramba
e me mostraram como é ter uma relação entre pais e filha. Tinha um bom
apartamento, amigos e estava prestes a começar minha faculdade. Tudo era
perfeito, a resposta deveria ser simples, então, por que ainda estava
pensando?
Valeu a pena?
Desbloqueei o celular e hesitei sobre o nome de Diego. A imagem linda
de Racer veio em minha mente e eu derreti. Ele era tudo para mim.
Bloqueando novamente, levantei, decidida.
Sim. Valeu muito a pena. Cada detalhe dos últimos meses me fez
extremamente feliz e bem. Então, tudo valeu a pena.
Racer valeu a pena.
 
 
•••
 
 
Vinte minutos depois, estava diante da porta da suíte. Levantei a mão e
coloquei o cartão-chave, abrindo-a. Encontrei Racer parado no meio da
suíte, encarando o celular.
Quando olhou para cima e me viu, seus olhos mudaram de preocupados
para um alívio profundo. O azul até brilhou.
Jogando a bolsa longe, avancei para ele e o envolvi entre meus braços e
um abraço apertado. Ele me abraçou de volta, me segurando com cuidado.
— Eu te amo. — Sussurrei em seu ouvido. — Sinto muito ter ido sem
você. Queria pensar, então...
— Ei, linda — ele beijou minha cabeça. — Eu também te amo, mas
fiquei preocupado. Aconteceu alguma coisa no banheiro? Vi quando Anne
desceu e juro por Deus que se ela fez...
— Não fez. — Garanti, me afastando o suficiente para olhar em seus
olhos. — Ela não fez nada. Só... precisava pensar um pouco em uma coisa
que ela falou.
Cerrou os ombros, desconfiado.
— O que ela disse?
— Perguntou se valeu a pena ter ido para Los Angeles, ficado com você.
Seus ombros tensionaram.
— E o que você pensou?
Derreti em um sorriso apaixonado. Meneando a cabeça, confessei:
— Pensei que você vale muito mais que a pena, Racer. Eu te quero tanto
que dói apenas imaginar não poder te tocar ou ser tocada por você. Me
mudaria para o fim do mundo, se fosse preciso.
Pegando-me de surpresa, ele me puxou e levantou, fazendo minhas
pernas enrolarem ao redor de sua cintura. Seu pau duro me cutucou, e eu
gemi sem-vergonha.
— Eu posso pensar em alguns lugares depois, mas agora só preciso de
você na cama.
Soltei um gritinho quando ele me jogou no colchão, então foi pairar
sobre mim. Segurei seu rosto entre as mãos e pedi:
— Faz amor comigo. Toca cada parte de mim, Racer. Eu sou toda sua.
Ele me beijou com uma paixão avassaladora.
E me tocou por inteira, porque ele era o único que podia.
 
 
EPÍLOGO.
Bella
2 anos depois.
 
Eu estava muito feliz.
Não havia mais medo ou hesitação. Estava cursando o que queria e vivendo com uma família que
me acolheu como parte dela.
Há um ano, Racer e eu resolvemos morar juntos, então eu fui para o seu apartamento.
Ele estava no final da especialização em psiquiatria e minhas férias também estavam chegando, e
marcamos uma viagem para comemorar. Só nós dois, como uma espécie de lua de mel.
Segurei a xícara de chá que Alessa tinha me servido com as duas mãos e suspirei bobamente ao
assistir meu namorado lindo dentro da piscina, segurando seus dois irmãozinhos mais novos.
Ethan e Alessa tinham tido gêmeos novamente. Um menino chamado Romeo e uma menina
chamada Ruby. Pelas fotos que me mostraram, eles eram idênticos aos bebês Racer e Maya. E assim
como foi da primeira vez, Ruby — a menina — nasceu primeiro.
— As mulheres da família são decididas e guerreiras. — Maya estava amando zombar de Racer
sempre que podia.
Tudo estava perfeito.
Eu finalmente tinha a vida que sonhava quando estava naquela casa londrina, fria e sozinha.
Eu tinha uma família e alguém para me amar.
Eu tinha uma vida.
 
 
 
 

FIM.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Você também pode gostar