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Luana Costa
Enologia europeia
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Embora se saiba da existência dos vinhos há 2 milhões de anos, sua história
desde sempre foi cercada de mistérios, desde quem inventou a roda que
transformava a uva em mosto que, posteriormente, ao ser fermentado,
virava vinho, até o fato de o vinho ser considerado um alimento sagrado.
Por mais que vários continentes do mundo tenham mostrado força na
produção de bons e premiados rótulos de vinho, a Europa será sempre a
maior referência no assunto, pois foi desse continente que os primeiros
vinhos saíram das vinícolas para ganhar o mundo. E a tradição ainda é o
ponto mais forte na produção vinícola do continente europeu.
História
Os gregos foram os principais produtores de vinhos e o povo que também
iniciou o seu comércio para muitos países do mundo. Provavelmente, as Ilhas
Gregas foram as principais exportadoras de vinho, sendo a Ilha de Chios a
mais importante delas e aquela com o melhor vinho de todas as regiões da
Grécia. As suas ânforas peculiares utilizadas para a venda de vinhos foram
encontradas em quase todos os países que certamente importaram o vinho
grego, como Egito, França, Bulgária, Itália e Rússia. Também na Ilha de Lesbos,
na Grécia, era produzido um vinho famoso, provavelmente, o primórdio do
Pramnian, o fantástico vinho Tokaj Essenczia (JOHNSON, 2001).
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Certamente, nessa época havia uma preferência pelos vinhos mais adocica-
dos, já que Homero, em suas escrituras, descreve uvas secas ao sol, processo
que aumenta o teor de açúcar na fruta. Contudo, havia vários tipos diferentes
de vinho, dos mais doces aos mais secos. Laerte, o pai de Odisseu, tinha
vários vinhedos, de que se orgulhava pelo fato de cultivar neles ao menos 50
espécies distintas de uvas, as quais davam origem a vários tipos de vinhos.
Nessa época, também era raro o consumo de vinho puro — normalmente,
esses vinhos eram utilizados para fazer outras misturas, comumente com
água e, em ocasiões especiais, muitas especiarias aromáticas, acompanhando
comidas bastante sofisticadas. O amor dos gregos pelos vinhos pode ser visto
pelo grande número de simpósios da época: o significado de simpósio nada
mais é que “beber juntos”; portanto, esses simpósios nada mais eram do que
reuniões nas quais várias pessoas se encontravam para beber juntos. Contudo,
é importante salientar que essas reuniões eram feitas em salas especiais, re-
pletas de divãs, muitos com bailarinas dançando enquanto homens bebiam e
conversavam, o que era previamente estimulado pelo presidente do simpósio.
Ainda, apenas homens sábios e nobres os frequentavam (JOHNSON, 2001).
O vinho também era largamente empregado pelos gregos como medica-
mento, havendo inúmeros registros a respeito. Hipócrates fez várias observa-
ções sobre as propriedades medicinais do vinho, em consonância com trechos
de textos da história da medicina. Além de ser utilizado comercial, medicinal
e hedonisticamente, o vinho simbolizava para os gregos um elemento místico,
apresentado no culto ao deus do vinho: Dionísio, Baco ou Líber (JOHNSON,
2001).
Existem relatos de que o vinho tenha chegado ao sul da Itália pelos gregos
em meados de 800 a.C. Entretanto, os etruscos, que já viviam ao norte, na
região da atual Toscana, também já elaboravam vinhos e os comercializavam,
porém o que não é sabido reside no fato de como as videiras chegaram às
terras italianas, embora a mais antiga ânfora de vinho encontrada na Itália
seja etrusca, datada de 600 a.C.
Sobre a origem produção de vinhos na França, existe um verdadeiro embate
entre diversos historiadores: alguns acreditam nos registros dos romanos e
outros entendem que os antepassados dos celtas introduzirão a produção de
vinhos no país, e, ainda, há aqueles que acreditam que os franceses da Idade da
Pedra eram produtores de vinhos, pois no lago de Genebra foram encontradas
sementes de uvas selvagens que indicam o seu uso há 12.000 anos ou mais.
Longos anos se passaram e, após a queda do Império Romano, seguiu-se
uma época de esquecimento em praticamente todas as áreas da criatividade
Enologia europeia 3
Terroir é uma palavra de origem francesa que não tem tradução para outros idiomas,
porém significa basicamente o conjunto de características de determinada região que
transformará aquela videira em uma uva especial para a produção de vinhos. O termo
não é somente utilizado para as plantações de uvas, mas também para relacionar se
aquela terra é de boa qualidade para o tipo de plantio que será feito nela: a quantidade
de chuvas durante o ano, o número de horas com o sol, o tipo de solo, a altitude, enfim,
todos os elementos importantes para um bom plantio de acordo com os diferentes
tipos de uva a serem cultivados. O terroir é o diferencial, pois, quanto melhor o terroir,
melhores serão a qualidade da plantação e, consequentemente, o vinho, e, quanto
pior o terroir, piores serão a qualidade da plantação e o vinho.
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mundo: os vinhos italianos são conhecidos mundo afora por sua elegância e
característica marcante, e o país desenvolveu técnicas que, ao longo dos anos,
têm sido aprimoradas, mesclando o tradicionalismo e o desenvolvimento
industrial, porém ainda preservando suas raízes. Ainda, o país conta com uma
enorme diversidade de terroirs, destacando-se as castas de uvas Nebbiolo,
Sangiovese, Barbera, etc.
Portugal é conhecido por ser um dos países mais tradicionais na produção
de vinho e com mais castas de uvas do mundo. Contudo, durante muito tempo,
os vinhos portugueses ficaram conhecidos por serem vinhos fortificados com
adição de aguardente vinílico, o que os deixava com uma qualidade inferior
em relação aos demais vinhos europeus, tradição que foi abandonada para dar
lugar à produção de vinhos sem adição de aguardente, o que melhorou esse
processo de produção, tornando-os atualmente um dos melhores vinhos do
mundo. Em Portugal, também são produzidos os vinhos clássicos do Porto
e o da Madeira.
A Alemanha é o país da Europa onde não há muita tradição vinícola, pelo
fato de já ter produzido um dos piores vinhos do mundo. Depois disso, o país
tenta se recuperar e produzir bons vinhos, sobretudo de castas de uvas brancas,
os quais, aos poucos, vêm ganhando destaque no mundo. Os vinhos brancos
da casta Riesling são elegantes e complexos, destacando-se o excelente terroir
alemão para esse tipo de casta. Mesmo não existindo uma tradição vinícola,
existem cerca de 13 regiões produtoras de vinhos no país, em sua maioria
produzindo vinhos de uvas brancas.
Uvas da Europa
Para conhecer os vinhos europeus, é preciso começar pelas uvas. No mundo,
existem milhares de variedades de castas de uvas vitis viníferas, grande parte
produzindo bons vinhos. Porém, a maior produção de vinhos se dá pelos 50
tipos de castas de uvas, que podem variar em sabor, doçura e acidez conforme
o terroir no qual é cultivada. Ao ter em conta que, na Europa, são produzidos
os melhores rótulos do mundo, veja a seguir quais são as castas mais cultivadas
nos maiores produtores de vinhos europeus (LE CORDON BLEU, 2001).
Itália — Sangiovese
Sangiovese compreende a uva mais cultivada em todas as regiões da Itália, em
especial na Toscana. Das uvas italianas, é a mais utilizada nos processos de
vinificação de vários rótulos, principalmente de vinhos blends, e de várias uvas,
embora seja mais conhecida por ser a casta utilizada no famoso vinho Chianti
Clássico. E, ainda que a casta seja de difícil produção longe dos terroirs italia-
nos, a Austrália e a Califórnia conseguiram esse feito. Os vinhos produzidos
com essa casta têm corpo médio, um pouco ácido e taninos, com um sabor
marcante, que lembra café, chá, tabaco e passas (PACHECO; SILVA, 2002).
Espanha — Tempranillo
A casta mais produzida e utilizada na Espanha é a da uva Tempranillo, a qual
se adapta muito bem a diversos tipos de terroirs e climas, não somente aos
terroirs espanhóis. Esse tipo de casta é usado em blends e vinhos de várias
uvas, além dos tempranillo de ótima qualidade. Os vinhos produzidos a partir
dessa casta são encorpados, leves e com sabor e aroma de baunilha, morango
e caramelo, além de um marcante retrogosto baunilha-morango (PACHECO;
SILVA, 2002).
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Alemanha — Riesling
A Alemanha não é considerada uma das melhores ou maiores produtoras de
vinho tinto, contudo é uma das grandes produtoras de vinho branco do mundo,
sobretudo pela casta Riesling.
Essa casta pode dar origem a vinhos secos, meio secos e doces, que, con-
forme o tipo de fermentação, consegue promover qualquer um desses sabores.
De sabor refrescante, o que deixa o vinho com aroma e sabor frutado, lem-
brando frutas frescas recém-colhidas, especiarias e mel, os vinhos Riesling
são altamente ácidos (PACHECO; SILVA, 2002).
Leituras recomendadas
ALARTE, V. Agricultura das vinhas: e tudo o que pertence a elas até o perfeito reco-
lhimento do vinho, e relação das suas virtudes, e da cepa, vides, folhas e borras. São
Paulo: T. A. Queiroz, 1994. 146 p.
PACHECO, A. O. Iniciação à enologia. 5. ed. São Paulo: Senac, 2008. 177 p.
PERCUSSI, L. Convite ao vinho. São Paulo: Nova Alexandria, 1998. 104 p.