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Introdução
A avaliação sensorial de uma bebida é uma etapa essencial durante a
degustação. Cada bebida tem seus próprios critérios de avaliação, que
irão determinar seu perfil, e com o vinho não poderia ser diferente. Ao
colocar um vinho na taça, segue-se uma prática minuciosa que inclui
exame visual, exame olfativo e exame gustativo, na intenção de distinguir
todas as características que o vinho apresenta e, assim, vincular essas
características a seu respectivo processo de elaboração.
Neste capítulo, você vai conhecer as três etapas a serem cumpridas na
avaliação sensorial de um vinho — visual, olfativa e gustativa — e quais
atributos devem ser considerados em cada uma delas a fim de aprimorar
a técnica de degustação.
mais profundos, para, dessa forma, poder descrever da melhor maneira o que
o vinho está nos apresentando (LAROUSSE, 2012).
A prática da degustação envolve os nossos sentidos de visão, olfato, paladar
e tato, mediante os quais podemos apreciar plenamente a infinidade de aromas
e sabores do vinho, os quais contam um pouco da sua origem e história, do
seu processo produtivo e da sua evolução.
A degustação também é uma das principais ferramentas para avaliação dos
vinhos, utilizada tanto no processo produtivo, para o acompanhamento das
etapas de elaboração, quanto no desenvolvimento de novos produtos. Embora
existam instrumentos analíticos efetivos em detectar características físico-
-químicas importantes, eles não são capazes de medir a percepção humana e
de expressar toda a complexidade de sensações que percebemos ao degustar
um vinho (HENDERSON; REX, 2012).
A capacidade de degustar um vinho e apreciar seu sabor existe em qualquer
pessoa, mas a geração de um parecer técnico e confiável só é alcançada com anos
de trabalho e experiência, o que confere uma bagagem técnica ao degustador
para expressar um julgamento mais profundo do que se está degustando. De todo
modo, a degustação não é uma ciência exata e diferenças fisiológicas e culturais
entre os degustadores podem promover diferentes percepções e sensibilidades,
que podem ser minimizadas com exercício constante (JACKSON, 2017).
O exame visual é o primeiro contato do degustador com vinho. Logo após
a bebida ser servida, características como cor, brilho, limpidez, efervescência,
entre outras, são percebidas pelos olhos, contando um pouco de sua história
e personalidade (LAROUSSE, 2012).
Apesar dessas características quase não apresentarem efeitos sobre o sabor
do vinho, os aspectos visuais são muito importantes para aceitação da bebida,
afinal, essa é a maneira como tiramos as primeiras impressões do produto,
antes mesmo de levá-lo à boca. Para iniciar o exame visual, um dos principais
atributos de avaliação é a limpidez do vinho. A maneira mais fácil de observar a
limpidez é posicionar a taça de vinho contra uma fonte luminosa, observando a
passagem da luz pela bebida e os possíveis sólidos solúveis em sua solução. Em
uma sala bem iluminada, pode-se avaliar a limpidez do vinho até mesmo contra
um fundo branco; entretanto, se o vinho tiver uma alta intensidade de cor, esse
aspecto poderá ser afetado. Dessa forma, a taça pode ser inclinada, reduzindo
a quantidade de vinho pela qual a luz atravessa (HENDERSON; REX, 2012).
Juntamente com a limpidez, também é avaliado o brilho do vinho. Em sua
grande maioria, os vinhos corretos apresentam-se límpidos e brilhantes, sem
partículas em suspensão ou depósitos. Quando um vinho é descrito como turvo,
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vinho vai sendo liberado. Dessa forma, vinhos engarrafados jovens podem
ainda conter uma pequena quantidade de gás carbônico, que pode ser obser-
vado pela formação de bolhas durante o enchimento da taça. Todos os vinhos
possuem gás carbônico em sua composição, até os vinhos tranquilos, em que
o CO2 não é percebido, embora possa auxiliar na percepção dos aromas e
no frescor gustativo. Contudo, uma grande quantidade de gás carbônico em
vinhos tranquilos costuma estar associada a defeitos microbiológicos, visto
que o desenvolvimento de diversos microrganismos presentes nos vinhos
promovem a formação de gás carbônico (RABACHINO, 2018).
Já em vinhos frisantes e espumantes, a efervescência está associada à sua
qualidade. A quantidade das borbulhas, seu tamanho, sua persistência e a for-
mação do colar (espuma), no caso de vinhos espumantes, devem ser levadas em
consideração. A formação da efervescência nesses estilos de vinho se deve ao
aprisionamento do gás carbônico em um recipiente hermético — tanques ou gar-
rafas — no qual o sistema de elaboração está diretamente ligado às características
desse aspecto. Nos vinhos frisantes, por exemplo, o gás carbônico pode ser ou
natural, proveniente da fermentação alcoólica, ou exógeno, incorporado ao final
do seu processamento. Esses dois métodos influenciam bastante as características
do produto final: enquanto o gás carbônico natural gera borbulhas mais finas e
agradáveis, a gaseificação produz borbulhas maiores e que se desprendem com
maior facilidade do vinho. De modo similar, nos vinhos espumantes, apesar
da gaseificação com gás carbônico exógeno não ser permitida, diversos fatores
podem influenciar a formação das borbulhas e de perlage. Geralmente, vinhos
espumantes fermentados pelo método tradicional em baixas temperaturas geram
borbulhas mais fina e perlage intenso, o que contribui também para a formação
de uma espuma bonita e persistente (FLANZY, 2003).
assim como pequenas frações de tais moléculas são reconhecidas. Assim, ainda
que o vinho contenha centenas de compostos voláteis, o ser humano consegue
detectar apenas uma pequena parcela deles (DUTCOSKY, 2013). Além disso,
o reconhecimento dessas moléculas depende da sua concentração no vinho,
da sua volatilidade, pressão de vapor e de seu limiar de percepção olfativo.
Algumas pessoas podem apresentar hiposmia, ou seja, sensibilidade olfativa
diminuída, que pode ser desencadeada por doenças ou tabagismo, o que também
se torna um fator limitante para o limiar olfativo individual (JACKSON, 2017).
O odor presente no vinho é um dos atributos sensoriais mais importantes
ao se avaliar a qualidade da bebida, uma vez que possui relação direta com
sua aceitabilidade pelo consumidor, sendo responsável por evocar o prazer
em consumi-lo. Portanto, durante a elaboração do vinho, costumam ser em-
pregadas uvas e técnicas de vinificação que tendem a valorizar esse atributo
(RIBÉREAU-GAYON et al., 2006).
O vinho tem uma composição volátil bastante complexa, e esses compostos
são gerados de acordo com alguns fatores, tais como o local de plantação da
uva (terroir), tipo de uva, sanidade, controle de fermentações, técnicas de
vinificação aplicadas, maturação e envelhecimento, sendo vedada a adição de
compostos aromáticos exógenos (LAROUSSE, 2012). A fim de compreender
a complexidade que esses compostos apresentam, a literatura especializada
classifica-os de acordo com sua origem da seguinte maneira: compostos voláteis
primários ou varietais, compostos voláteis secundários ou fermentativos e
compostos voláteis terciários ou pós-fermentativos.
Os compostos primários são aqueles encontrados na uva e responsáveis
por caracterizar a bebida, conferindo identidade ao vinho, uma vez que estão
relacionados com a tipicidade da variedade e com o local de produção. De forma
geral, é possível encontrar maior concentração desses compostos na casca do que
na polpa da uva, o que torna o processo de maceração importante para facilitar
a extração e concentração desses componentes no vinho (RIBÉREAU-GAYON
et al., 2006). Já os compostos secundários são os formados durante as fermen-
tações do vinho (alcoólica e malolática), pela ação das leveduras e bactérias
presentes no meio, responsáveis por produzir compostos voláteis pertencentes aos
grupos químicos dos álcoois, ésteres, ácidos, aldeídos e cetonas. Por fim, todos
os compostos produzidos após concluídas as fermentações são denominados
compostos terciários. Normalmente, estão associados à passagem do vinho
por barrica de carvalho e comumente são chamados de “bouquet”; entretanto,
esse termo também pode ser usado para exprimir a avaliação global do odor
do vinho, como na afirmação “este vinho tem um bouquet frutado e floral”.
Técnicas de degustação 7
Para avaliar dos odores do vinho, é preciso levar a taça ao nariz para inalação
dos compostos, segurando-a pela haste. A primeira percepção deve ser realizada
sem agitar o líquido, uma vez que muitos dos compostos voláteis presentes no vinho
possuem baixa massa molecular, ou seja, rapidamente irão evaporar. Após esse
procedimento, agita-se lentamente o líquido na taça, para facilitar a evaporação
dos outros odores, e então inala-se novamente (HENDERSON; REX, 2012). Nesse
processo de reconhecimento dos odores, a Roda de Aromas do Vinho, criada pela
pesquisadora da Universidade da Califórnia Ann Noble em 1990, pode simplificar
a identificação (Figura 2). A Roda traz uma lista de palavras-chave que podem
ser usadas para definir ou classificar os odores percebidos, ajudando a aprimorar
a capacidade de descrever os compostos encontrados.
maior intensidade. O doce, por exemplo, é percebido com maior intensidade na ponta
da língua. Essa sensação não é notada apenas pela presença de açúcares, mas também
pelos componentes aromáticos álcool e glicerol, substâncias que também atuam
sobre a mucosa da boca proporcionando uma sensação tátil de maciez e untuosidade.
O ácido é percebido com maior intensidade nas proporções laterais da língua. Os
principais ácidos encontrados nos vinhos são o ácido tartárico, proveniente das uvas,
e os ácidos láctico e acético, formados durante o processo fermentativo. A acidez
provoca salivação da boca e uma sensação de refrescância. Por sua vez, o amargo
é sentido com maior intensidade na região posterior da língua e, dependendo da
sua intensidade, pode ser tratado como um defeito. Geralmente, essa sensação está
associada à vinificação de uvas que não atingiram a maturação fenólica adequada
ou pelo excesso do uso de madeira, o que agrega compostos amargos ao vinho. Já
o salgado pode ser percebido mais ao centro da língua. Embora essa sensação seja
muito rara de ser encontrada, em certos vinhos com alto conteúdo de minerais, cujas
uvas foram cultivadas em regiões próximas ao mar, é possível perceber sensações
que lembram esse gosto (SANTOS; SANTANA, 2014).
O exame gustativo se inicia colocando um gole não exagerado de vinho
na boca e deixando-o girar lentamente no seu interior, permitindo que o
líquido entre em contato com as diferentes regiões do paladar. As sensações
percebidas nessa etapa podem ser separadas em fases sucessivas, a começar
pelo ataque inicial. Esse ataque inicial corresponde à primeira impressão que
o degustador percebe do vinho. Se, por exemplo, o conteúdo de açúcar estiver
sobressaindo, uma sensação adocica será percebida na ponta da língua, assim
como uma maior graduação alcoólica também pode ser percebida por essa
sensação adocicada. Por sua vez, vinhos com elevada acidez são percebidos
com uma maior intensidade nas proporções laterais da língua. Em vinhos
efervescentes, o ataque inicial está bastante relacionado com a percepção do
conteúdo de gás carbônico presente. A presença de CO2 é sentida pela sensa-
ção tátil chamada pungência, que causa o “efeito agulha”, já que a sensação
das borbulhas explodindo na língua lembra uma leve picada de agulha. Esse
fenômeno é gerado a partir da formação de ácido carbônico produzido à medida
que o CO2 se dissolve na saliva. Além disso, a presença de gás carbônico em
vinhos tranquilos é considerada um defeito, estando associada à degradação
microbiológica. Por outro lado, no caso dos espumantes, a elevada presença de
CO2 confere cremosidade e presença de boca ao produto (JACKSON, 2017).
Em seguida temos o meio de boca. Após o ataque inicial, começamos a
perceber os sabores e a textura do vinho. Nessa fase, pode-se se observar como
o vinho preenche o paladar. Vinhos tintos bem encorpados, que passaram
por amadurecimento em barricas de carvalho, apresentam a característica de
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