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Introdução à Harmonização:

Vinho e Comida
Um e-book para quem quer ampliar o prazer à mesa

Flávio Sampaio – Sommelier

Coleção Manual do Vinho Descomplicado


Volume 2

1ª Edição: maio de 2020


Todos os direitos reservados.
Índice

Harmonização: o Casamento entre a Comida e o Vinho


Alguns Princípios Básicos
Queijos e Vinhos – Par Perfeito?
Outras Sugestões de Harmonização
Harmonização por cores
Incompatibilidades e Alimentos de Difícil Harmonização
Cozinhando com Vinho
Harmonização Avançada
Classificação e principal característica dos vinhos
Sensações
As sensações na comida
Formas de Harmonização
Equilíbrio:
Harmonia: Ajuste das Sensações
O Realce
Sobre o Autor
Coleção “Manual do Vinho Descomplicado” – outros títulos:
Cursos de Vinhos e Degustações em Domicílio
"Vinho não é álcool, vinho é uma bebida para ser consumida com comida, ou
para ser bebida e desfrutada", Steven Spurrier, crítico de vinhos.
Harmonização: o Casamento entre a
Comida e o Vinho

Este e-book é direcionado àqueles apreciadores de vinhos que, mesmo


iniciantes, prezam pelo prazer que uma boa garrafa pode proporcionar. E
esse prazer pode ser ainda maior quando o vinho é combinado e harmonizado
com a comida. Há inclusive, muitos vinhos que chamamos de gastronômicos,
ou seja, que só estão completos e podem ser devidamente apreciados quando
acompanhados da comida adequada. Esses vinhos literalmente “pedem
comida”.
O casamento entre vinhos e a gastronomia, quando adequadamente
executado, é um jogo de ganha-ganha. Ou seja, o vinho pode melhorar a
comida e a comida, melhorar o vinho.
Para que isso aconteça, os especialistas criaram um conjunto de princípios e
regras lógicas e coerentes, baseadas no conhecimento das características dos
vinhos e da comida, a partir da experimentação. Obviamente, como
harmonizar envolve agradar os sentidos e o gosto pessoal de cada um, há
muita subjetividade envolvida. Isso permite um certo grau de flexibilidade às
regras, o que não as invalida. Pelo contrário, permite que sejam adaptadas
conforme as circunstâncias e a conveniência.
Esperamos que você possa utilizar este e-book como uma base ao mesmo
tempo sólida e flexível para que você construa a sua relação vinho/comida de
uma forma duradoura e prazerosa.
Peça ou prepare um prato e abra uma garrafa. Experimente. Arrisque-se.
Alguns Princípios Básicos

Regra principal: respeitar a característica dos vinhos:


1- Vinhos brancos costumam ter muita acidez – fazem você salivar.
Combinam com comidas mais secas, como frango e peixe.
2- Vinhos tintos têm tanino - deixam a boca mais ressecada. Combinam com
comidas suculentas, como as carnes vermelhas.
Harmonizar as características do alimento com a dos vinhos:
1- Comidas encorpadas pedem vinhos encorpados. Comidas leves, vinhos
leves
2- Pratos ácidos, em geral, não combinam com vinhos, mas podem funcionar
se o vinho tiver mais acidez que o prato. Troque o vinagre por gotas de limão
e escolha um Sauvignon Blanc ou um Riesling de boa acidez.
3- O sal realça o amargor dos taninos, por isso, cuidado ao servir comidas
salgadas com vinhos tintos jovens e potentes. Prefira um branco, tinto leve ou
tinto envelhecido de taninos suaves, a depender do prato.
4- Quando a comida é feita utilizando vinho, é melhor servir com este mesmo
vinho.
5- Vinhos doces acompanham bem sobremesas, desde que estas não sejam
mais doces que o vinho.
6- O modo de preparo influencia a escolha do vinho. Ex.: Carnes grelhadas
pedem um vinho leve; a mesma carne ensopada, pede um vinho mais
encorpado. Leve em consideração também o molho e os temperos utilizados.
7- Nada mais indicado do que provar a comida local com o vinho da mesma
região. Essas combinações são tradicionais e sempre funcionaram muito bem.
8- Não sabe qual vinho colocar? Escolha um espumante. Eles são os coringas
da harmonização e vão bem com uma infinidade enorme de pratos.
Queijos e Vinhos – Par Perfeito?

Escolhidos corretamente, queijos e vinhos formam um par realmente perfeito.


No entanto, escolhas equivocadas podem trazer fortes decepções.
Seguem algumas dicas para não errar feio:
1- Frescos de massa mole (frescal, boursin): combinam com vinhos brancos
secos, sem madeira (Chardonnay, Viognier, Frascati, Orvietto, Pinot Grigio)
ou com um tinto frutado de médio corpo (Pinot Noir, Sangiovese, Merlot).
2- Frescal de cabra: branco ácido seco (Sauvignon Blanc costuma ser a
melhor escolha, mas também é possível harmonizar com Viognier, Riesling,
Alvarinho ou Pinot Grigio).
3- Queijo de massa cozida (gruyére, emmental, gouda): Merlot, Pinot Noir,
ou Sangiovese de médio corpo ou um Chardonnay com pouca madeira.
4- Queijo de massa mole não cozida (brie e camembert): Chardonnay sem
barrica (para o brie) e Chardonnay barricado (para o camembert); tinto
delicado (Pinot Noir, Gamay, Beaujolais). Quando o queijo estiver mais
curado, prefira tintos um pouco mais encorpados.
5- Maturado de massa semidura (reino, prato, saint-paulin): tintos maduros de
bom corpo
6- Maduro de massa dura (parmesão, pecorino, grana padano): tintos
maduros, robustos ou fortificados
7- Mofo azul (roquefort, gorgonzola, blue cheese): tinto maduro robusto ou
vinho doce (Sauterne, Porto, Banyuls etc).
Outras Sugestões de Harmonização
1- Sirva massas com molho de tomate (com ou sem carne) com tintos de
corpo médio: Cabernet ou Merlot brasileiros, Rioja Crianza, Chianti, Barbera,
Dolcetto, Rosso di Montalcino.
2- Massas com molho de vegetais ou de frutos do mar podem ir bem com
brancos leves ou médios: Chardonnay sem madeira, Viognier, Frascati,
Soave, Pinot Grigio, Chenin Blanc.
3- Em geral, pizzas combinam com tintos secos frutados de médio corpo para
leve: Chianti, Sangiovese, Dolcetto, Beaujolais, Gamay, Merlot. Também
Lambrusco seco.
4- Cordeiro, carneiro e pato: tintos encorpados, como Bordeaux, Rioja
Reserva, Cabernet Sauvignon do novo mundo, Syrah, Châteauneuf-du-Pape,
Barolo e Zinfandel.
5- Saladas e omeletes pedem bancos leves e frutados: Chardonnay sem
madeira, Sauvignon Blanc, Viognier, Riesling, Torrontés.
6- Peixes de carne branca (robalo, corvina, linguado, cherne, pargo, pescado
etc): brancos leves ou de médio corpo, sem madeira: Chardonnay, Viognier
ou Riesling.
7- Peixes oleosos ou peixes fritos (sardinha, cavala, bonito, anchova):
brancos secos com boa acidez, como Sauvignon Blanc, Vinho Verde ou
Verdejo.
9- Salmão combina com brancos secos e aromáticos (Riesling, Sauvignon
Blanc), com Chardonnay de pouca madeira, com um Rosé frutado ou um
tinto de Pinot Noir.
10- Atum pode ser apreciado com um tinto delicado, como os Pinot Noir,
Gamay, Chinon ou um Merlot do novo mundo. Também combina com
Rosados frutados.
11- Bacalhau desfiado ou com creme de leite vai bem com brancos que
passam por madeira. Já se for um lombo de bacalhau assado, sugere-se tintos
maduros com pouco tanino.
12- Frutos do mar pedem brancos com boa acidez.
Harmonização por cores

Uma forma de simplificar o processo de escolha do vinho para combinar com


a comida é a harmonização por cores, em que a cor do vinho deve ser
parecida com a cor da comida.
Comidas douradas, à base de milho ou temperadas com molhos amarelos, de
manteiga ou ovos devem ser combinadas com um vinho dourado como, por
exemplo, um Chardonnay de bom corpo com passagem por madeira.
Pratos cor de rosa, como o salmão, siri desfiado, camarão e atum com molho
rosado vão bem com um vinho rosé. E aqui pode-se fazer uma diferenciação:
para os pratos mais claros, prefira um rosé mais claro, assim como um mais
escuro para as comidas mais escuras. Leve em consideração também a cor do
molho.
A cor vermelha dos embutidos nos lembra um Pinot Noir, com sua tonalidade
rubi clara.
Já comidas mais escuras (carnes vermelhas, cordeiro e caças com molho
ferrugem, a cor do molho lembrando a cor do vinho) pedem tintos mais
concentrados, como Cabernet Sauvignon, Malbec ou Syrah.
Conclusão: comidas verdes e amarelas pedem vinhos produzidos em climas
frios; comidas rosadas e vermelhas claras, os de climas temperados; e
comidas escuras, vinhos de climas quentes.
Incompatibilidades e Alimentos de Difícil
Harmonização
Uma questão importante, principalmente para iniciantes, é saber evitar os
“desastres” de harmonização, ou seja, aquelas combinações que fazem vinhos
e comidas parecerem piores do que são realmente. Se aprender a evitar isso,
já estará na metade do caminho, pois a harmonização escolhida, mesmo que
não faça a refeição melhorar, não vai atrapalhar.
São consideradas incompatibilidades:
Combinações negativas entre componentes, texturas ou aromas;
Ingredientes de difícil harmonização;
Elementos que se tornam extremos quando somados.

As principais combinações negativas são:


1- Sal e taninos: por isso, deve-se evitar pratos salgados com vinhos de muito
tanino (geralmente são aqueles tintos muito jovens, potentes, encorpados,
escuros e alcoólicos).
2- Taninos e frutos do mar: é melhor harmonizar com brancos. Se não gostar
de brancos, escolha um tinto leve e de pouco tanino.
Isso ocorre porque os taninos reagem com o iodo presente no sal ou nos
frutos do mar, deixando um gosto metálico na boca.
Alguns alimentos são difíceis de harmonizar com vinho. Isso se dá porque as
características da bebida não combinam com eles. Os principais são:
1- Vinagre e suco de limão – possuem acidez muito elevada e podem
literalmente “matar” o vinho, tornando-o sem graça. A dica aqui é evitar o
seu uso. Caso não seja possível evitar, use o mínimo possível e adicione
ingredientes adocicados na receita.
2- Picles de legumes e frutas ácidas– pelo mesmo motivo do caso anterior, a
acidez elevada impede a harmonização.
3- Ovos e gemas – a gema do ovo cobre as papilas gustativas e dificulta a
percepção dos vinhos. A solução seria usar os ovos sob a forma de omelete
ou fritada, acrescentando outros ingredientes, como presunto, queijo,
cogumelos etc.
4- Alcachofras frescas, aspargos frescos, jiló, rúcula e outros vegetais
amargos – conferem à maioria dos vinhos um sabor amargo ou levemente
adocicado. Para ajustar, cozinhe-os e acrescente frutas ou ingredientes doces.
5- Sopas quentes – torna as papilas gustativas insensíveis pela temperatura.
6- Sorvetes – também pela temperatura, causam perda de sensibilidade das
papilas gustativas.
7- Chocolate, especialmente o “ao leite” – pela grande doçura ou por sua
textura, que embota as papilas gustativas. É mais fácil harmonizar se o
chocolate for amargo ou não for o ingrediente principal. Além disso, o vinho
precisa ser tão doce quanto o chocolate.
8- Pimenta, páprica, chili, gengibre e raiz forte – alimentos muito picantes
também dificultam a harmonização. A solução é minimizar o seu uso e/ou
acrescentar ingredientes neutros (arroz cozido, purês de batata etc).
9- Pratos da culinária afro-brasileira, como acarajé, abará, munguzá, bobó e
vatapá etc – também por seu caráter muito picante, pela presença marcante de
pimenta e azeite de dendê, dificultam a harmonização com vinhos.
Quanto aos extremos, os principais referem-se à acidez (já mencionada
anteriormente), ao doce e à defumação:
1- Se um vinho muito ácido for consumido com um prato muito ácido, a
soma dos dois poderá ser desagradável pelo excesso;
2- Um vinho doce precisa de acidez alta para não se tornar enjoativo. Caso
um vinho doce com baixa acidez (portanto, enjoativo) for combinado com
uma sobremesa igualmente doce e com pouca acidez, a soma tampouco será
agradável.
3- Alimentos defumados podem não combinar com vinhos que também
tenham um aroma defumado muito forte. Nesse caso, prefira vinhos frutados.
Cozinhando com Vinho

Na cozinha, o vinho pode se tornar um excelente ingrediente para seus pratos.


Ele garante acidez e transfere muito sabor aos alimentos.
Pode ser usado de três formas:
Na marinada, que é quando você deixa o alimento imerso em meio ácido e
temperos por muito tempo, para que fique mais macio e os sabores sejam
absorvidos. O vinho, mesmo o tinto, garante essa acidez.
Na preparação do alimento em si, colocando o vinho diretamente na panela.
Na preparação de molhos com redução de vinhos.
Mas, já que é só para cozinhar, posso comprar o vinho mais baratinho de
todos? Ou usar aquele resto que sobrou na garrafa, desde o mês passado? A
resposta é não. Em se tratando de usar o vinho na culinária, siga o seguinte
princípio: vinho que não serve para beber, não serve para cozinhar.
Lembre-se que o vinho vai transmitir os seus sabores para o alimento. Se os
sabores forem ruins, seu prato não vai ficar bom.
Por isso, veja algumas dicas:
1- Evite os vinhos muito ruins – vinhos de mesa, de garrafão, feito com uvas
não viníferas. Lembre-se da dica: se o vinho for comprado no Brasil, um
vinho feito com uvas próprias para vinho deve ter a palavra FINO escrita no
contrarrótulo.
2- Não precisa abrir um vinho muito caro só para cozinhar. Escolha um
intermediário.
3- No entanto, quanto melhor o vinho, melhor o resultado.
4- Numa refeição harmonizada com vinho, pode usar esse mesmo vinho no
preparo. Fica ótimo.
5- Caso você queira guardar o vinho que sobrou na garrafa para cozinhar
outro dia, a dica é congelar usando formas de gelo. Assim que congelar, retire
as pedras de vinho da forma e feche-as em um recipiente ou saco de freezer,
com a menor quantidade possível de ar. Descongele somente na hora em que
for usar, de preferência em temperatura ambiente. Assim os sabores estarão
preservados.
Harmonização Avançada
O professor Euclides Penedo Borges, diretor das Bodegas Don Otaviano, em
seu livro “Harmonização. O livro definitivo do casamento do vinho com a
comida” (Editora Mauad), no qual este capítulo é baseado, lista
características de vinhos e comidas como a seguir. Recomendo sua leitura
para quem quiser se aprofundar ainda mais.
Classificação e principal característica dos vinhos
Uma das formas de se classificar os vinhos é pela sua cor, conforme abaixo.
Cada tipo tem, de um modo em geral, uma característica específica:
BRANCOS Acidez
TINTOS Taninos
ROSADOS Taninos discretos e Acidez

Uma outra classificação possível é a dos vinhos que possuem gás


carbônico:
FRISANTES - possuem pouco gás carbônico (entre 1,1 a 2 atmosferas de
pressão dentro da garrafa), que pode ser natural (fruto do processo de
fermentação do vinho) como adicionado.
ESPUMANTES - possuem muito gás carbônico natural (formado no
processo de fermentação, resultando em uma pressão que vai de 4 a 6
atmosferas de pressão dentro da garrafa).
Tanto Frisantes quanto Espumantes podem ser brancos, tintos ou rosados,
com doçura variável e costumam ter acidez pronunciada.

Composição dos Vinhos (Cor, Cheiro, Gosto):


São compostos por água (entre 70% e 90% do vinho, sendo proveniente da
própria uva, não adicionada), álcool etílico, ácidos, taninos (em geral somente
nos tintos e rosados), Sais Minerais, Substâncias Aromáticas, outras
substâncias (álcoois, açúcares, glicerina).
Estrutura (Corpo):
Leve, de Médio Corpo, Encorpado.
Sensações
Ao ser consumido, o vinho pode provocar diversas sensações, conforme a
tabela a seguir:

Sensação do vinho Gerada por:

Doçura Açúcares e Álcool


Intensidade Olfativa Substâncias Aromáticas
Frescor ou Sapidez Ácidos Orgânicos
Calidez Álcool Etílico
Maciez Açúcares, Álcool e Glicerina
Persistência Gustativa Álcool/Taninos
Efervescência Gás Carbônico
Adstringência Taninos
As sensações na comida
Assim como o vinho, a comida também provoca sensações diversas quando
consumida, conforme tabela abaixo.

Sensação Gerada por:

Salgada Sais

Amarga Substâncias Amargas

Ácida Ácidos

Doce Açúcares

Condimentação Especiarias

Aromaticidade Ervas Aromáticas

Tendência ao Doce Gorduras

Gordurosidade1 Gordura Intrínseca

Untuosidade2 Gordura Aparente

Suculência Molhos, Azeites, Sangue

1
Refere-se à gordura não aparente, contida nas carnes, camarões e lagostas. Não é sensível
ao tato, ou seja, se você tocar o alimento, sua mão não ficará engordurada.
2
Trata-se aqui da gordura aparente, facilmente identificável no alimento. Pode prover, por
exemplo, de óleos e azeites, da manteiga derretida etc. É sensível ao toque, ou seja, deixa
sua mão besuntada com facilidade.
Formas de Harmonização
A combinação da comida com o vinho pode se dar pelo Equilíbrio entre o
peso da comida e o corpo do vinho, pela Harmonia de sensações ou pelo
Realce, onde há melhora mútua ao paladar.
Equilíbrio:
Vinhos leves - comidas leves
Vinhos de médio corpo com comidas médias
Vinhos encorpados com comidas pesadas

A grande maioria dos vinhos brancos são leves, exceto aqueles fermentados
em barrica ou que passam algum tempo em madeira – esses são quase sempre
da variedade Chardonnay (os chilenos, californianos e australianos produzem
muitos vinhos com esse estilo).
Como reconhecer: em geral, os brancos de médio corpo ou encorpados tem
cor mais escura que os mais leves.
Os vinhos rosados são quase sempre leves ou de médio corpo, que valorizam
o frescor.
Os espumantes – brancos ou rosados – quase sempre são leves ou de médio
corpo. A exceção são alguns champanhes com indicação de safra (a maioria
dos espumantes são uma mistura de várias safras, portanto não são safrados),
que apresentam mais corpo.
Tintos Leves: Bardolino, Valpolicella, Beaujolais, Lambrusco, Pinot Noir,
Gamay, alguns tintos brasileiros. Geralmente são claros e tem teor alcoólico
baixo.
Tintos de Médio Corpo: Dolcetto, Sangiovese, Chianti, Barbera d’Alba,
Rosso di Montalcino, Côtes-du-Rhône, muitos espanhóis da Rioja, Merlot e
Carménère chilenos, Malbec argentino, Tannat uruguaio, Pinotage,
Borgonha, a maioria dos Bordeaux, a maioria dos brasileiros.
Tintos Encorpados: Châteauneuf-du-Pape, Barolo, Amarone, Brunello di
Montalcino, supertoscanos, espanhóis do Priorato, muitos Cabernet
Sauvignon do Chile e da Califórnia, alguns Malbec argentinos. Quase sempre
passam em madeira. Geralmente são vinhos escuros e tem teor alcoólico mais
elevado.
É importante deixar claro que essa lista não é taxativa, pois há vários fatores
que podem alterá-la, como a forma de elaboração, por exemplo. Uma dica é
prestar atenção ao teor alcoólico e a cor. Quanto mais cor e mais álcool, mais
encorpado é o vinho.
Harmonia: Ajuste das Sensações
A doçura atenua a acidez (açúcar na limonada).
O sabor salgado acentua o amargor (sal no jiló).
A doçura atenua o amargor (açúcar no café).
A acidez ameniza a sensação de gordura (Chablis com ostra).
Taninos amenizam a untuosidade (vinho tinto com bacon).
Taninos equilibram a suculência (tinto com picanha).

Na Comida No Vinho

Suculência Tanicidade

Untuosidade Alcoolicidade

Gordurosidade Acidez - Tanicidade

Alteração de Hálito Efervescência

Condimentos e Especiarias Intensidade Olfativa

Aromaticidade Aromaticidade

Doçura Doçura

Acidez Acidez

Nível de Sabor Maciez

Explicando a tabela:
As características da comida, expressas na coluna da esquerda, se equilibram
com as características dos vinhos listadas na coluna da direita.
Assim, para equilibrar uma comida com muita suculência, como uma carne
vermelha malpassada, é necessário escolher um vinho que possua boa
quantidade de taninos, geralmente um tinto jovem de médio corpo ou
encorpado.
Ao mesmo tempo, ao escolher um vinho com pouco ou nenhum tanino, uma
comida pouca suculência é mais indicada.
Uma comida untuosa, com bastante gordura aparente, por exemplo, algo que
possua molho à base de muita manteiga, vai pedir um vinho tinto com teor
alcoólico mais elevado.
Se a comida tiver muita gordurosidade, como camarão ou lagosta, escolha um
vinho que possua acidez elevada. Boas escolhas são os Sauvignon Blancs,
Rieslings ou Vinho Verde branco. Um espumante aqui também pode cair
bem.
Uma comida que altere o hálito de quem come (com muito alho, por
exemplo), devem ser acompanhadas de um vinho com efervescência. É uma
boa pedida, então, abrir um espumante.
Já se a comida tiver muitas especiarias e condimentos, é preciso acompanhá-
la com um vinho com igual intensidade aromática.
No entanto, se a comida tiver muitos aromas delicados, o vinho precisa ter
aromas igualmente suaves e delicados.
Para sobremesas e pratos doces, precisamos de vinhos igualmente doces.
Lembrando, conforme já dito anteriormente, que a doçura do prato não pode
ser maior que a doçura do vinho. O ideal é que haja um equilíbrio.
Um prato com boa acidez (como os que contêm limão, por exemplo),
somente harmonizará com um vinho igualmente ácido. Nesse caso, brancos e
espumantes são os mais indicados.
Uma comida com sabores fortes pede um vinho macio (geralmente com teor
alcóolico elevado) para equilibrar a condimentação.
Vale lembrar que um prato pode ter, ao mesmo tempo, mais de uma das
características citadas. Assim, na hora de escolher o vinho, é preciso levar em
consideração todas elas.
Por exemplo: “suculência e untuosidade em um prato condimentado
requerem um tinto maduro: a acidez ajudará na gordura, os taninos cuidarão
da suculência e a maciez equilibrará a condimentação” (Borges, Euclides
Penedo - Harmonização: o livro definitivo do casamento do vinho com a
comida - Ed. Mauad X, pag 43).
O Realce

Acontece quando, ao combinar vinho e comida, o prazer obtido como


resultado daquela refeição for superior ao que se poderia obter se o vinho e a
comida fossem consumidos separadamente. Envolve o mais alto grau de
subjetividade de todos.
Pode ser alcançada pela tradição/regionalismo (combinações testadas e
aprovadas ao longo da história de um povo), pela Lógica (por meio do
conhecimento e combinação apurada das características dos vinhos e da
comida) ou por fatores externos, como, por exemplo, a lembrança de
momentos felizes, românticos ou poéticos, além da própria euforia de um
momento específico, que podem se refletir na combinação escolhida para a
refeição.
Como ilustração, podemos propor a seguinte brincadeira. Imagine que, numa
dada refeição, você prepare ou peça um prato que custe $50 (imagine aqui a
moeda que quiser). Para acompanhá-lo, você escolhe um vinho de mesmo
preço. O custo total daquela refeição seria $100. Pois bem, ao final avalie o
que você comeu e bebeu da seguinte ótica (seja honesto em sua avaliação):
1- Se você achar que o valor da refeição vale menos que o custo de $100
(digamos, $70), essa é uma combinação de vinho e comida a ser evitada;
2- Se a refeição vale os $100 que custou, você está diante de harmonia ou
equilíbrio.
3- Se a combinação se sobressair a ponto de valer mais que os $100 (por
exemplo, $120), temos o realce.
Sobre o Autor

Flávio Sampaio é um sommelier e publicitário brasileiro. Fez seu primeiro


curso de vinhos em 2005 e, desde então, o que era uma simples predileção
virou paixão e, posteriormente, profissão.
É membro da Associação Brasileira de Sommeliers – Seção Rio de Janeiro
(ABS-RJ) desde 2007, tendo participado de inúmeros cursos, viagens,
eventos e degustações.
Como bom entusiasta, Flávio adora provar vinhos diferentes, originais e com
personalidade própria, mas sempre com muita responsabilidade: moderação
em relação a quantidade, porém sem moderação em relação ao prazer de
degustar. Considera que sua única “restrição” é em relação a vinhos de baixa
qualidade.
Desde o início de 2019, coordena um grupo de degustação com alunos do
Curso de Profissionais da ABS-RJ.
É proprietário da Vinho Brasil Degustações, que promove degustações e
apresenta excelentes vinhos brasileiros para turistas que visitam a cidade do
Rio de Janeiro.
Como lema, adota uma frase aprendida logo que iniciou seus estudos: em se
tratando de estudar sobre vinhos, uma das melhores coisas é fazer o dever de
casa.
Coleção “Manual do Vinho Descomplicado”
– outros títulos:

 Introdução ao Universo dos Vinhos (à venda na


Amazon – acesse pelo link https://is.gd/NUzysJ)
 Entendendo Vinhos Tintos (em breve)
 Entendendo Vinhos Brancos (em breve)
 Entendendo Vinhos Rosés (em breve)
 A Doce Família dos Vinhos de Sobremesa (em breve)
 Champagne e Afins: o Maravilhoso Mundo dos
Vinhos Espumantes (em breve)
 Como Avaliar um Vinho (em breve)
 Degustação de Vinhos: uma Explosão de Cores,
Aromas e Sabores (em breve)
 Conhecendo a Qualidade dos Vinhos Brasileiros – Um
Tour pelas Nossas Regiões Produtoras (em breve)
Cursos de Vinhos e Degustações em
Domicílio
(Somente no Rio de Janeiro)

Reúna seus amigos, escolha seu tema entre os acima e


solicite um curso sobre vinhos. Ou contrate uma
degustação customizada. Melhor custo/benefício: criteriosa
seleção de vinhos com padrão de qualidade para caber no
seu orçamento.

Faça uma comemoração de aniversário diferente. Ofereça


uma degustação de vinhos para seus amigos.

Entre em contato pelo e-mail: fliebss@gmail.com.

Boa degustação.

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