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NotíciasFlix

SUMÁRIO

6 EDITORIAL

OPINIÃO
10 Sarah Ahmed
14 Jamie Goode
18 Duarte Calvão
22 José João Santos

ESCOLHAS DO MÊS
26 Para a Mesa
28 Para a Cave
30 Altamente Recomendados
32 Boas Compras

34 PROFILE
Vítor Matos.

36 CASTA
Vital.

38 VINHOS E NÚMEROS
A vindima no hemisfério sul.

40 NA MESA
Arroz de enchidos com vinhos do Tejo.

42 ESTRELAS DE PORTUGAL
Fábio Costa, Tailândia.

44 ESPIRITUOSOS

60 48
Abstinence, “spirits” ‘no-lo’ com sotaque sul-africano.

VITICULTURA
António Magalhães, o percurso de um grande senhor
da viticultura do Douro.

54 ENOTURISMO

60
Quinta da Pacheca.

WINESTONE
Entre Alentejo, Douro e Vinhos Verdes, um novo operado
70
emerge – e com grandes ambições…

70 GALIZA
A Galiza tem um encanto único, que (re)descobrimos nos hotéis
Relais & Châteaux de Pepe Vieira e Quinta da Auga.

82 AS VÁRIAS FACES DA TOSCANA


A irreverência e nobreza de Bibi Graetz, Biondi-Santi
e Camarcanda.

92 OS VINHOS DA ESSÊNCIA DO VINHO


Revisite as provas únicas de Dr. Loosen, Kopke, Mouchão,
Penfolds, Raül Bobet e Vega Sicília.

102 WINE & TRAVEL WEEK


O melhor do Enoturismo e da gastronomia no Porto.

112 CITRINOS

120 112
Um mundo mágico em Arcos de Valdevez.

120 CRÍTICA GASTRONÓMICA


Taberna 1865, Rio Maior.

124 NOVIDADES
As novas entradas do mercado.

138 GUIA REVISTA DE VINHOS

154 EVENTOS
Revisitamos Os Melhores do Ano de 2023.

162 LEGENDARY WINEMAKER


Domingos Soares Franco.

@revistadevinhos
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O equilíbrio perfeito entre
design e personalidade.
EDITORIAL

NA vanguarda
da indÚstria
De 18 a 25 de fevereiro, 88,6% recomendam a participação, sendo movidos por quatro razões
Portugal foi capital do vinho e de visita, ordenadas por grandeza: curiosidade, degustação, motivos
do enoturismo. Num esforço sem profissionais e experiência única.
paralelo conseguimos concretizar
dois eventos particularmente exi- Analisando o perfil dos visitantes, 44,9% assumiram ser “muito inte-
gentes: a segunda edição do Wine ressados”, com 55,3% a indicarem que participam “muito frequente-
& Travel Week e a 20ª Essência do mente ou frequentemente” em provas de vinho, 54,9% visitam caves e/
Vinho – Porto. ou adegas e 51,3% consultam portais especializados. No que se refere
à regularidade de consumo, a maioria refere pelo menos duas ou três
Os números e os resultados dos vezes por semana ou todos os dias vinho tinto (53,2%), vinho branco
estudos pelo ISAG – European (43,2%), vinhos espumantes (28%), vinhos fortificados (27,2%) e vinho
Business School (ISAG-EBS) e pelo rosé (23,5%). De acordo com os dados apurados, os inquiridos con-
Centro de Investigação em Ciências somem, em casa, uma média mensal de 8,8 garrafas e gastam, em média,
Empresariais e Turismo da Fundação Consuelo Vieira da Costa (CICET- 85,80€/mês em vinho. A aquisição é realizada, sobretudo, em hiper/
FCVC) falam por si. No âmbito da Wine & Travel Week, para além de supermercado (32,0%) e em lojas especializadas (31,5%) e a maioria
visitas técnicas às sete regiões de turismo num registo de cross-selling prefere adquirir o produto em loja física (83,8%). No momento de
de vinho, gastronomia e turismo que evidenciou mais de 70 projetos, compra são considerados fatores como a relação qualidade/preço (3,9),
realizaram-se cerca de 3.000 reuniões B2B protagonizadas por 200 a recomendação (3,9), a região (3,8), a origem/país (3,7) e o preço (3,6),
profissionais. No âmbito do Essência do Vinho – Porto, ao longo de numa escala de importância de 1 a 5 valores.
quatro dias registou-se a visita de 2.200 profissionais do on e off trade
do setor do vinho, para além de uma delegação convidada com cerca de Do universo de inquiridos, 65,9% deslocaram-se propositadamente
50 profissionais, onde pontuaram Masters of Wine, sommeliers, repre- ao Porto para participar no evento, entre não residentes no Porto e
sentantes do canal Horeca, importadores, proprietários de garrafeiras, turistas, destacando-se como países de origem Alemanha, Brasil,
jornalistas e críticos, chefes de cozinha, entre outros. África do Sul, Espanha, EUA, França e Reino Unido. Aqueles que pernoitaram pas-
Alemanha, Áustria, Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, Espanha, saram, em média, 5,8 noites na cidade. A maioria ficou alojada em
Estados Unidos da América, França, Holanda, Índia, Itália, Israel, Japão, hotéis (54,8%), principalmente de 4 estrelas (51,5%), com uma despesa
México, Nigéria, Noruega, Polónia, Portugal, Suécia, Suíça, Ucrânia, média diária na cidade de 454,27€, sendo que os maiores gastos se veri-
Reino Unido, Zimbabué foram as nacionalidades de origem. Nos dois ficaram no alojamento (162,98€ diários), nas refeições (86,95€ diá-
eventos registou-se a participação de 500 expositores. rios), compras/presentes (75,44€ diários) e em cultura/lazer (58,13€
diários). Durante a estada, 42,6% aproveitaram para fazer uma visita
Os resultados foram excelentes. Não só superamos os números da geral ao Porto, 26,3% visitaram também as Caves de Vinho do Porto,
edição anterior em termos de profissionais como vincamos, cada vez 15% visitaram museus, 15% desfrutaram da animação noturna e 14,8%
mais, a dimensão internacional dos eventos, expressa nas 26 nacionali- visitaram património/monumentos.
dades presentes, na parceria com a Great Wine Capitals Global Network
e na participação de Castilla y León e Minas Gerais como regiões convi- Em suma, o público do Essência do Vinho – Porto sabe esmagadora-
dadas. Ao que se junta a criação do Revista de Vinhos Room Experience mente ao que vem e o que quer, é um público exigente e wine lover, com
no âmbito do Essência do Vinho – Porto, um espaço exclusivo dedicado poder de compra, interessado e atento ao que há de novo.
a 21 grandes famílias do mundo do vinho, dando resposta à procura que
sentimos por parte de expositores e visitantes. Os programas definidos Se há 20 anos vaticinasse que Portugal poderia transformar-se numa
para cada um dos eventos traduziram-se na realização de um total de capital mundial da indústria do enoturismo poucos acreditariam. Muito
44 ações no Porto, entre provas comentadas (25), palestras e apre- mudou nestes anos mas, não menos verdade, é preciso audácia para
sentações temáticas (3), espetáculos (2), momentos de reuniões B2B antecipar tendências e acompanhar os ventos que possam ser favo-
(3), experiências de vinho e gastronomia (9), entregas de prémios (2). ráveis. A semana de 16 a 23 de fevereiro de 2025 voltará a fazer de
Paralelamente, a promoção do roteiro “O Gosto do Porto” divulgou 90 Portugal o ponto de encontro dos profissionais dos setores do turismo
espaços de gastronomia e vinho da cidade. e do vinho, com a realização da terceira Wine & Travel Week, e des-
pertará todos os apaixonados por vinho na 21ª edição do Essência do
No que respeita à 20ª edição do Essência do Vinho – Porto, os dados Vinho – Porto. Já estamos a trabalhar para as tornar, novamente, em
recolhidos mostram que 79% dos visitantes pretendem regressar e edições de sucesso.

Nuno Guedes Vaz Pires, diretor


NUNOPIRES@ESSENCIADOVINHO.COM
@NUNOGVPIRES

6 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


V I N H O D E CA PA

NESTA EDIÇÃO COM A


REVISTA DE VINHOS!
A Quinta das Maias situa-se a cerca de 600 metros de altitude
no sopé da Serra da Estrela e possui a sua vinha em modo de
agricultura biológica. A origem do nome deriva das giestas
amarelas que cobrem as encostas da serra e que ali se chamam
Maias, por florescerem no mês de Maio. Dada a localização, os
vinhos obtidos caracterizam-se pela frescura e pelo perfil mineral.

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VINHO
DE CAPA
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Maias 2022
Dão / Branco / Soc.
Agr. Faldas da Serra

Vinificado sem madeira,


predominam as castas
Malvasia Fina e Encruzado,
o que contribui para as
notas florais e de ameixa,
com aromas frescos e
elegantes.
OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

Reputada jornalista e crítica de vinhos britânica, especializada


em vinhos portugueses e australianos, no blogue "The Wine Detective".

A vindima do carinho
A Wine Detective investiga os altos e baixos do Shiraz australiano.

T
al como uma cantora soprano no pico área vitícola. E é omnipresente. A casta é plantada
das suas capacidades, o Shiraz austra- em nada menos que 60 das 65 regiões vitivinícolas
liano atingiu todas as notas altas o mês do país que, dado o tamanho deste vasto continente,
passado, quando pude colocar em dia os abrange diversos terroirs. Os problemas com Shiraz
novos lançamentos de dois produtores decorrem de plantá-lo no local errado? Coloquei
icónicos (Henschke e Torbreck), elaborados na região a questão ao rei e rainha do Shiraz da Austrália
mais icónica da Austrália (Barossa) e a sua casta mais (Stephen e Prue Henschke) e ao enólogo-chefe da
icónica (Shiraz, também conhecida como Syrah). Na Torbreck, Ian Hongell.
linguagem do póquer, trata-se de um ‘royal flush’ de A Henschke é famosa pelos vinhos Shiraz obtidos
ícones! a partir de vinhas únicas. Prue Henschke, uma viti-
Voltarei a esses exemplos estelares de Shiraz - as cultora respeitada, lembra que, durante a década de
coisas boas – mais à frente, mas seria negligente da 1990, quando a Austrália vivia um boom de exporta-
minha parte não partilhar que nem tudo está bem ções, “muitos Shiraz foram plantados em terras agrí-
no mundo mais amplo do Shiraz australiano, de colas”. Eram planas, por isso prestavam-se à insta-
acordo com Mark Davidson, autor do ‘The Wines of lação de vinhas “amplas” de 40 hectares, explicou ela.
Australia', que identifica um fenómeno que designa “Não houve muito cuidado na seleção e é por isso que
como “A charada de Shiraz”. Ao escrever na última a Shiraz comum está a dominar o mercado”, acres-
resenha da The Infinite Ideas Classic Wine Library, centou. Hongell também está perplexo com a falta
observa que a casta “Shiraz não é tão popular como de lógica vitivinícola por trás das decisões de plantio
antes, na Austrália ou em vários mercados de expor- que, numa lógica contabilística corporativa, foram
tação”. Ao classificar o Shiraz australiano de preço tomadas “em escritórios muito distantes”.
mais moderado (A$20 a A$30, entre 12 a 18 euros) Por outro lado, Henschke e Torbreck produzem
como vinhos “simplistas” de frutos maduros com vinho a partir de algumas das vinhas mais célebres
“algumas pinceladas de carvalho”, Davidson afirma da região de Barossa, o que, disse Hongell, ilustra que
que “o mar de mesmice neste segmento é entorpe- não é necessário mudar de casta ou de porta-enxerto,
cedor”. porque “o local pode dar-lho”. Os últimos lança-
É uma análise contundente, especialmente quando mentos de Torbreck são notavelmente perfumados,
se considera que o Shiraz é a variedade mais plan- fruta pura, detalhados e energéticos para vinhos
tada na Austrália, onde representa cerca de 30% da Shiraz que ostentam com leveza 15% de álcool.

10 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


OPINIÃO

Sarah Ahmed, jornalista e crítica de vinhos

Embora reconheça que “não com elas) e, de importância crí-


deixa de ser agricultura, uma Shiraz é a variedade mais tica em 2019, ajuda a preservar
indústria muito difícil de traba- a humidade do solo, porque,
lhar”, afirma, “mais pessoas têm plantada na Austrália, quando decai, contribui para a
de olhar para mais longe e mais onde representa cerca de matéria orgânica que é decom-
alto”. Isso aplica-se à seleção posta por microrganismos
do local, mas também à forma
30% da área vitícola. E é (micorrizas fúngicas) e bacté-
como as vinhas são cuidadas. omnipresente. A casta é rias, para formar húmus.
Como se costuma dizer, ‘quando Sward tem sido apenas uma
as coisas ficam duras, os duros
plantada em nada menos das ferramentas de Prue para
progridem’. que 60 das 65 regiões melhorar a saúde e a humidade
do solo. Em 2019, “o grande
Despachar a ‘brigada de pro-
vitivinícolas do país. salvador da nossa fruta”, disse
cura de uvas’ Prue, foi o composto biodi-
nâmico da Henschke (que faz a partir do próprio
As revelações de Prue Henschke sobre as vicissi- estrume de vaca e cascas de ovos de galinha), que
tudes da colheita de 2019 ilustram o quão difícil pode cobre com palha sob a videira num ciclo de três anos.
ser a agricultura. E o que significa olhar mais alto. Num ano tão seco (e quando as vinhas centenárias
Mesmo com um local excecional, o produtor tem que de Shiraz da Henschke são granjeadas em sequeiro),
ser capaz de lidar com o pior que a Mãe Natureza “na verdade entramos e garantimos que tudo estava
lhe atira, que exige vinhas (e produtores) resilientes. preenchido”, acrescentou Prue. E revelou que a tem-
Em 2019, um episódio de geada logo após o abrolha- peratura do solo sob essa espessa camada de cober-
mento, seguido por outro no início da floração e uma tura vegetal e composto num dia quente pode ser de
tempestade de granizo duas semanas depois, “basi- 25 a 28 graus, contra os 50 graus à superfície, em
camente destruiu qualquer coisa remotamente de que a humidade simplesmente evapora. Há também
qualquer tamanho”, disse Prue. Consequentemente, outro ganho de água, que Prue confessou que só
talhões e blocos inteiros não produziram uvas; tor- recentemente passou a apreciar, embora tenha come-
nou-se imperativo preservar as poucas uvas preciosas çado a aplicar composto e ‘mulch’ há 14 anos. As
que restavam na videira. micorrizas fúngicas que prosperam ao transformar a
A batalha seguinte de Prue foi fazer com que as relva decomposta, o composto e a cobertura morta
vinhas suportassem o calor de um ciclo de cresci- em húmus também partilham nutrientes e água com
mento seco e mais quente do que a média. Felizmente, as vinhas, melhorando a saúde e a resiliência das
a prática de nutrir a saúde do solo (que é a raiz da mesmas.
saúde e da resiliência da videira) começou desde o Os rendimentos em 2019 foram minúsculos - 50%
início do seu trabalho, na década de 1980. Durante menos - porque as vinhas congeladas não produziram
os estudos na Universidade de Geisenheim, na nada, deixando o marido de Prue, Stephen, a despa-
Alemanha, Prue testemunhou o ritual anual dos pro- char “a ‘brigada de procura de uvas’ para obter fruta
dutores de Rheingau de repor o solo perdido todos suficiente”. O enólogo de quinta geração disse que,
os anos devido à erosão. Ficou impressionada com “mesmo que a colheita seja miseravelmente baixa” (e
a importância de não mobilizar o solo e deixar um se a qualidade estiver lá) é importante “para a história
enrelvamento permanente para proteger os solos frá- e a posteridade” fazer os icónicos vinhos Shiraz de
geis das vinhas velhas de Henschke. Depois de muitos vinha única, que foram produzidos pela primeira vez
testes, a relva Native Wallaby que cresceu ao redor em 1952 (Mount Edelstone) e 1958 (Hill of Grace).
das vinhas mostrou ser a melhor. Tem baixa altura e Refletindo sobre o que poderia ter sido em 2019,
baixo consumo de água. Não necessita de corte, com- reconhece que “tivemos muita sorte em ter tanto”.
pete com as ervas daninhas, fica dormente durante o Em deferência ao trabalho de Prue, o epíteto do pro-
período vegetativo das vinhas (portanto não compete dutor para este ano “difícil” é “a vindima do carinho”.

12 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


OPINIÃO

Duarte Calvão, gastrónomo

Gastrónomo e co-autor do blogue “Mesa Marcada”.

Michelin Portugal 2024: afinal a


“chuva” foi de Recomendados
e Bib Gourmand
Fica a sensação que a Michelin continua a ter um grau de exigência com os
restaurantes portugueses que não aplica noutros países, negando-lhes estrelas óbvias.

N
ão há como disfarçar a deceção com Há que não perder a noção de que, uma coisa são
a atribuição de estrelas aos restau- as estrelas Michelin, outra é a Gala. Se as primeiras
rantes portugueses no Guia Michelin são centenárias (em França, datam de 1926, sendo
para 2024. Era a primeira vez que o que o Guia, ainda sem estrelas, foi fundado em 1900),
famoso guia vermelho fazia uma Gala a segunda surgiu só em 2010, em Madrid, precisa-
em Portugal somente para os nossos restaurantes mente para celebrar os 100 anos do primeiro guia
(decorreu no hotel Nau Salgados, em Albufeira) e relativo a Espanha e Portugal, datado de 1910. Esta
havia muito boa gente a antecipar – eu incluído – que primeira Gala deu tão certo, teve tanto êxito mediá-
eles iriam aproveitar o brilho da ocasião para fazer tico - e muito provavelmente financeiro - que a
justiça a quem há tanto tempo esperava por ela. Mas Michelin ibérica não só começou a realizá-las todos
nada disso, nada da esperada “Chuva de Estrelas”, foi os anos em diversas cidades espanholas (uma vez,
o normal: quatro novos restaurantes com uma estrela em Lisboa, em finais de 2018, relativa ao guia de
e um com duas estrelas. Só para comparar, no guia 2019) como a empresa a estendeu a outros países
anterior, os inspetores Michelin tinham-nos conce- onde o guia está presente. Com o grande decréscimo
dido cinco novas estrelas. Não deixando de ser um das receitas oriundas das vendas do guia impresso,
ano positivo, ficou sobretudo a grande desilusão por devido ao rápido crescimento do digital (o guia por-
voltar a ser negada a terceira estrela (a classificação tuguês de 2024, por exemplo, não terá existência em
máxima do guia) a um restaurante português, o que papel), as Galas passaram a ser um meio da Michelin
seria inédito e muito adequado para o nível que já angariar fundos para a sua actividade, oriundos de
atingiram pelo menos três deles – o Belcanto, o Ocean entidades oficiais e de patrocinadores, algo perfeita-
e o The Yeatman –, na minha opinião e de muitas pes- mente legítimo para uma empresa privada que tem
soas que acompanham esta área e que conhecem a que dar lucro. No caso, esta primeira Gala exclusi-
sua qualidade e consistência. E, certamente, em breve, vamente portuguesa, além dos patrocínios privados,
outros restaurantes ambiciosos, à medida que con- teve o apoio de 400 mil euros do Turismo de Portugal
solidem o seu estatuto de duas estrelas, estarão no (cerca de 50% do orçamento anual que esta entidade
mesmo patamar. dedica à gastronomia) e de 50 mil euros do Turismo
do Algarve, como foi publicamente divulgado.

14 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


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OPINIÃO

Duarte Calvão, gastrónomo

Há que não perder a noção de


que, uma coisa são as estrelas
Michelin, outra é a Gala. Se
as primeiras são centenárias
(em França, datam de 1926,
sendo que o Guia, ainda
sem estrelas, foi fundado
em 1900), a segunda surgiu
só em 2010, em Madrid,
A Gala portuguesa teve precisamente para celebrar Rodrigo Castelo (Ó Balcão,
claramente aspetos posi- os 100 anos do primeiro guia Santarém, o primeiro restau-
tivos, a começar por ter rante estrelado do Ribatejo)
reunido uma quantidade
relativo a Espanha e Portugal, e João Sá (Sála, Lisboa) são
impressionante de profissio- datado de 1910. dois chefes que há muito
nais do sector, vários deles sonhavam com estas estrelas
merecedores de subidas ao e bem trabalharam para as
palco para receber distinções e fazerem pequenos conquistar. Finalmente, menos conhecido mediati-
discursos de agradecimento, mas de alguma forma camente, o madeirense Octávio Freitas, do Desarma
menorizou os nossos restaurantes. Isto porque não (Funchal) vê recompensada uma carreira de 26 anos
era habitual nestas Galas chamar ao palco quem e fez um belo discurso, dirigido aos jovens da sua
apenas passa a ser Recomendado no guia ou recebe terra, defendendo que não é preciso sair da ilha e ir
a distinção Bib Gourmand, atribuída a restaurantes para um grande centro para ter êxito. Por muitas crí-
de boa cozinha a preço moderado. No entanto, como ticas que se lhes façam, os inspetores da Michelin têm
se comentava na última Gala conjunta Espanha e a excelente qualidade de focar os holofotes mediá-
Portugal, realizada em Toledo em finais de 2022, ticos em restaurantes e chefes como estes, alguns
quando foi anunciada a “emancipação” portuguesa, deles menos conhecidos. Também as três estrelas
se na nossa Gala só subissem ao palco os chefes que que se perderam em três restaurantes se justificam:
recebessem novas estrelas, a coisa durava uns 15 duas por encerramento – Largo do Paço (Casa da
minutos, sem contar os muitos discursos (e agora, Calçada), em Amarante, e Eneko, em Lisboa – um, o
também, “momentos musicais”) que sempre orna- algarvio Vistas, em Vila Nova de Cacela, por saída do
mentam estas ocasiões. Portanto, era preciso ocupar chefe Rui Silvestre.
o palco para que a Gala fizesse jus ao nome e durasse Concluindo, é impossível não ficar contente ao ver
pelo menos umas duas horas. Vai daí, toca a chamar a alegria com que as estrelas – e também as indica-
ao palco todos os chefes dos 21 novos restaurantes ções de Recomendado e Bib Gourmand – são rece-
Recomendados e dos novos oito Bib Gourmand e dar- bidas pelos chefes e por quem gosta deles e não há
-lhes até direito à palavra. Foi certamente bom para dúvida que nenhuma distinção provoca o mesmo
eles, agradável de ver para quem, como eu, conhece efeito do que a concedida pela Michelin. Por outro
alguns deles, mas mostra bem que ainda há muitas lado, parece evidente que os inspetores Michelin,
estrelas a atribuir aos restaurantes portugueses. que atualmente serão oriundos de vários países e
Ainda por cima, as plataformas digitais do guia vão não apenas de Espanha, como era o mais comum até
atualmente introduzindo novos Recomendados e Bib agora, estão a fazer mais visitas aos nossos restau-
Gourmand ao longo do ano, o que torna ainda mais rantes, o que terá resultado principalmente em novi-
discutível esta “celebração” em palco. dades nos indicados, dispersos por todo o país. O que
Quanto às novas estrelas, com o que elas trazem é muito positivo, não só para quem cá vive, mas para
de reconhecimento e de recompensa aos restau- quem nos visita. Mas fica sempre a sensação que a
rantes, pareceram-me todas muito bem atribuídas. Michelin, com Gala ou sem Gala exclusiva, continua
Vítor Matos, cujo Antiqvvm, no Porto, conquistou a ter um grau de exigência com os restaurantes por-
a segunda estrela, e o 2Monkeys, em Lisboa (onde tugueses que não aplica noutros países, negando-lhes
Francisco Quintas é o chefe residente), ganhou a estrelas óbvias. Enfim, para o ano há mais.
primeira, é certamente merecedor destas distinções.

16 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Um novo Douro
sublinhado
pela história
Durante muitos anos, na Quinta
de São Luiz, a tradição mandava
pintar os muros a branco.
Autênticos pedaços de história
que sustentam vinhas e a sabedoria
de várias gerações.

Para homenagear este Terroir


de excelência, Kopke recupera
a tradição de pintura dos muros
e passa a assinar os seus Doc Douro
como São Luiz. É a herança do passado
aliada à inovação do presente que dota
estes vinhos de um caráter singular.

Saboreie a história de um Douro


sublinhado a branco.

SEJA RESPONSÁVEL. BEBA COM MODERAÇÃO. saoluiz.pt


OPINIÃO

Jamie Goode, 'wine writer'

Cronista do The Sunday Express, autor do blogue wineanorak.com, é doutorado em Biologia de Plantas e co-chair do International Wine Challenge.
Assina esta colaboração regular na Revista de Vinhos e também na brasileira Gula.

Como falamos sobre vinho


O vinho tem uma linguagem muito própria. Mas esta diverge em função
do grau de especialização do consumidor e até da sua origem cultural.
Fará sentido padronizar esta linguagem?

N
o mundo do vinho fazemos regular- espera-se que o formando aprenda a abordagem sis-
mente algo que é bastante incomum. temática da prova de vinhos, que possui léxico pró-
Partilhamos as nossas sensações e prio. Isto proporciona uma forma estruturada de
experiências individuais quando pro- transformar experiências de vinho em palavras.
vamos vinho. Consideramo-las um Curiosamente, antes de meados da década de 1970,
dado adquirido mas, na verdade, quando perscru- quem escrevia sobre vinhos raramente tentava des-
tamos a carta de vinhos de um restaurante, o con- crevê-los desta forma. Mas o trabalho da Universidade
trarrótulo de um vinho de marca própria de super- de Davis, na Califórnia Davis, que abriga um impor-
mercado ou o texto de um artigo de jornal ou revista, tante instituto de pesquisa, mudou tudo. Em 1976,
vemos que todas estas são tentativas para descrever Maynard Amerine e Edward Roessler publicaram um
os aromas e sabores do vinho. manual para avaliação sensorial de vinhos. O objetivo
E é também um dos grandes desafios para quem era substituir termos vagos e fantasiosos por um con-
está a tentar aprender sobre este universo. Como tra- junto de palavras mais precisas, passando de palavras
duzimos em palavras a experiência que o vinho cria? como 'masculino', 'ingénuo', 'harmonioso' e 'presun-
À medida que cheiramos e provamos o vinho, for- çoso' para um vocabulário padronizado de natureza
mamos uma perceção que traz todas as informações mais analítica.
sensoriais, desde o paladar, o cheiro, o tacto e a visão, Este trabalho foi seguido por um grande passo
para uma impressão única do vinho. A experiência em direção ao discurso do vinho numa direção mais
é muito real para nós, mas é incrivelmente difícil de científica e rigorosa, com o desenvolvimento da
verbalizar. Roda de Aromas de Vinho de Ann Noble. Consiste
Uma das maneiras que os consumidores podem em três anéis concêntricos que designam os aromas
socorrer-se para tentar transformar as sensações em do vinho, começando com amplas categorias olfa-
palavras é através de cursos e formações sobre vinho. tivas no centro (como amadeirado, terroso, floral,
O Wine and Spirits Education Trust (WSET) oferece herbáceo), tornando-se gradualmente mais especí-
uma série de cursos educacionais e, à medida que se ficos, com subcategorias e depois aromas reais na
progride para os níveis mais elevados de três e quatro, orla exterior.

18 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


A COLORFUL HARMONY
OPINIÃO

Jamie Goode, 'wine writer'

Em 1976, Maynard Amerine e


Edward Roessler publicaram
um manual para avaliação
sensorial de vinhos. O
exames de Master of Wine.
Esta foi uma tentativa de objetivo era substituir termos E disse-me que a língua japo-
ultrapassar o obstáculo que vagos e fantasiosos por um nesa para descrever o vinho
a maioria dos provadores era muito menos técnica/
enfrenta quando tenta des- conjunto de palavras mais científica do que no Reino
crever o vinho pela primeira precisas, passando de palavras Unido e nos EUA, com um
vez: reconhecer odores e conjunto mais restrito de
colocá-los em palavras. A
como 'masculino', 'ingénuo', descritores. A língua japo-
roda de aromas equipou os 'harmonioso' e 'presunçoso' nesa tem apenas um décimo
estudantes de vinho com dos adjetivos encontrados
um léxico que os capacitou
para um vocabulário no inglês: há 150 anos o
a começar a provar de forma padronizado de natureza mais Japão consolidou o vocabu-
mais objetiva e repetível. lário e livrou-se de muitos
analítica. adjetivos. Como resultado,
Limites culturais? os falantes de japonês usam
nuances minuciosas na pronúncia dos termos para
Mas uma das críticas mais frequentes à linguagem indicar o significado perdido por terem menos adje-
do vinho é que se torna muito limitada culturalmente. tivos.
A roda dos aromas baseia-se nos tipos de frutas, espe- Isso leva-nos a uma questão. Dentro do sistema
ciarias e aromas que podemos encontrar na Europa de vinho que temos, onde a maior parte dos especia-
e na América do Norte. E as pessoas que cresceram listas e consumidores segue os mesmos exames e usa
ou vivem em países onde estes tipos de aromas e termos semelhantes para descrever o vinho, fixamos
sabores são totalmente desconhecidos? Falei sobre um código que é aprendido e utilizado? Até que
isso com Tinashe Nyamoduka, sommelier nascido ponto a nossa utilização de descritores corresponde
no Zimbabué que trabalha na África do Sul e foi um realmente ao que está presente no vinho? E depois
dos provadores da equipa sul-africana no filme Blind há outra questão interessante: até que ponto a posse
Ambition. de um vocabulário aprendido sobre vinho altera
Tinashe começou de baixo, chegou ao cargo de a perceção do mesmo? Se provarmos com a roda
sommelier-chefe do Test Kitchen (um dos melhores dos aromas à nossa frente, o vinho terá um sabor
restaurantes do mundo) e possui também uma marca diferente porque procuramos aspetos especiais do
de vinhos chamada Kumusha. Nunca provou vinho mesmo, de acordo com as palavras que estão à nossa
no Zimbabué, onde não havia cultura do vinho. frente? E alguém que fala francês tem uma expe-
Assim, quando descobriu o vinho na África do Sul, riência de vinho diferente de alguém que fala alemão?
enfrentou o desafio de aprender um conjunto de refe- É claro que existe um problema de acessibilidade
rências de sabores e aromas com os quais não estava para aqueles que vêm de outras culturas. Mas é menos
familiarizado. A solução foi aprender a associar os claro como pode esse problema ser resolvido. Talvez a
sabores do vinho com coisas que conhecia desde educação sobre o vinho deva ser ministrada em dife-
criança. Assim, usava os termos convencionais para rentes aromas e sabores regionais, pelo que os educa-
descrever vinhos e substituiu-os nas suas anotações. dores locais deveriam contribuir para o léxico usado
Ou seja, usou os sabores com os quais cresceu para quando o vinho é ensinado localmente. No geral,
identificar os vinhos e, depois, para escrever as suas porém, talvez seja necessário aligeirar um pouco estes
notas, associou-os ao léxico ocidental do vinho e tra- critérios, sobretudo se reconhecermos que, ao tentar
duziu-os para a linguagem “normal” do vinho. descrever perceções individuais, estamos a fazer um
Outro colega com quem falei sobre isso foi Kenichi exercício muito difícil e necessariamente complicado
Ohashi, do Japão, que há alguns anos passou nos e impreciso.

20 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

Coordena os conteúdos editoriais da Essência Company, tem a paixão da escrita,


da reportagem, da formação e da prova. Autor do podcast "Vinho, Palavra a Palavra".

O (des)conforto do
poucochinho
Se compararmos as exportações de vinhos portugueses em 2023 e em 2022 verificamos uma
quebra de 13 milhões de euros em valor. Convém recordar que em 2022 foi atingido o recorde dos
941 milhões de euros contra os 928 milhões de 2023. Ou seja, aumentou o preço médio por litro em
2023 (os tais 2,90€), apesar de ter baixado o valor total das exportações (-2,4% em valor e -3,35%
em volume na UE; -0,17% em valor e -0,54% em volume nos países terceiros).

E
stamos em vésperas da divulgação do Já em 2022, a OIV salientava “a elevada inflação,
habitual relatório anual sobre o setor a crise energética causada pelo conflito na Ucrânia e
do vinho pela OIV – Organização as disrupções no fornecimento global do canal” como
Internacional da Vinha e do Vinho. É fatores determinantes no comportamento desse ano.
sempre um documento útil de análise, Consequência direta, os volumes baixaram mas os
que nos permite obter um retrato global acerca da preços subiram – “O Valor global das exportações
realidade da viticultura, da indústria e dos mercados, de vinho é o mais alto de sempre”, notava a OIV. No
confrontando diferentes realidades e expondo, sobre- total, estimou-se em 37,6 mil milhões de euros.
tudo, as diferenças entre europeus e os países produ- Em 2023, a instabilidade internacional acentuou-se.
tores do chamado Novo Mundo. À situação ucraniana juntaram-se a instabilidade no
No momento desta crónica, escrita em finais de Médio Oriente e os períodos pré-eleitorais em potên-
fevereiro de 2024, tenho na mesa de trabalho o rela- cias mundiais como os EUA e a Rússia. Sobressaltos
tório disponibilizado em abril de 2023, que mostra constantes que não aportaram coisas boas, sendo
dados do ano anterior (2022). Tenho igualmente previsível que dentro de algumas semanas o novo
comigo o Comunicado de Imprensa difundido pela estudo da OIV possa confirmar mais um trambolhão
ViniPortugal em 12 de fevereiro deste ano, que des- no volume. Quanto ao valor, logo se verá.
taca a tendência de subida em 2023 do preço médio E Portugal?
dos vinhos portugueses. Não é justo confrontar dire- O país continua fixado na meta dos mil milhões de
tamente um e outro, não só porque são substancial- euros em exportações, valor que teima em circular
mente contrastantes no conteúdo e ângulos de aná- no setor nacional pelo simbolismo de um número
lise, além de focarem períodos temporais distintos, redondo. Porém, à medida das anuais justificações
mas parece-me inteiramente justificado encarar a por não ter sido alcançável corre o sério risco de tor-
frieza dos números para tentar interpretar a realidade. nar-se num estafado soundbite.

22 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


OPINIÃO

José João Santos, jornalista e crítico de vinhos

Contas feitas, em 2023 Em 2022, de acordo com Olhando ao preço por litro
as exportações de vinhos vejamos as médias de alguns
portugueses somaram 928
os dados da OIV, Portugal países europeus: 9,00€ na
milhões de euros em valor, importou 188 milhões de França, 4,18€ na Alemanha,
o que representou um 3,65€ em Itália, 3,42€ na
aumento do preço médio
euros em vinho, com o granel Áustria. Espanha continua
por litro para 2,90€, ou seja, a representar 74% desse valor. com um gravíssimo pro-
uma variação positiva de blema de preço, estando com
0,66€ no preço face a 2022.
Figurando o país no top 10 dos dificuldades em sair da fas-
Se daí retirar-se o peso signi- maiores produtores mundiais quia dos 1,50€/litro.
ficativo do Vinho do Porto, Em Portugal confundimos
as exportações portuguesas
de vinho e havendo excedentes com demasiada frequência
de vinho em valor foram de produtivos em várias regiões ambição com arrogância.
620 milhões de euros, “em Paradoxalmente, ficamos
nacionais, terá sido mesmo excessivamente contentes
linha com 2022”, de acordo
com a ViniPortugal. necessário tamanho granel? com pequenas migalhas, não
França foi o país que mais faltando ditados populares
importou vinhos portugueses – tradicionalmente, que o demonstram. Sim, é um traço cultural. Que
um dos principais mercados de Vinho do Porto –, a qualidade e a diversidade dos vinhos portugueses
ao registar 103 milhões de euros. Seguiram-se os aumentaram notoriamente, é um facto; que a pro-
EUA (100 milhões) e o Reino Unido (88 milhões). fissionalização de protagonistas e de empresas tem
Sublinhado particular para o Brasil, que já repre- contribuído decisivamente para a afirmação do vinho
sentou 80 milhões de euros, ou seja, mais 9 milhões português no mundo, sim, é outro facto. Todavia, há
por comparação com 2022. Naquele mercado ainda um longo e tortuoso caminho a percorrer.
Portugal cresceu quase 8%, tendo no global brasileiro Continua a fazer sentido pagar-se quilos de uvas a
do vinho importado apenas sido superado pelo Chile 0,40€ (e até menos) nalgumas regiões do país? E que
e conseguido ultrapassar a Argentina. mão de obra trabalhará a viticultura portuguesa das
próximas décadas? Será sensato protelar o arranque
Copo meio cheio de vinhas inviáveis, sobretudo quando todos os
ou meio vazio? estudos confirmam a tendência de beber menos mas
beber melhor das novas gerações de consumidores?
Nem tudo são boas notícias. Vale a pena insistir na imagem de qualidade a bom
Se compararmos as exportações de vinhos portu- preço nalguns mercados mundiais, quando os verda-
gueses em 2023 e em 2022 verificamos uma quebra de deiros concorrentes de Portugal jamais serão países
13 milhões de euros em valor. Convém recordar que em como Espanha, Chile ou Argentina? Terá o país um
2022 foi atingido o recorde dos 941 milhões de euros eficiente orçamento de promoção dos vinhos portu-
contra os 928 milhões de 2023. Ou seja, aumentou o gueses em termos internacionais?
preço médio por litro em 2023 (os tais 2,90€), apesar Estes e tantos outros desafios estão identificados
de ter baixado o valor total das exportações (−2,4% em e são alvo de soluções, mais ou menos radicais, em
valor e −3,35% em volume na UE; −0,17% em valor e conversas cruzadas pelos corredores do setor. O país,
−0,54% em volume nos países terceiros). porém, persiste em escudar-se na estratégia comuni-
As quedas que outros países concorrentes deverão tária quando importa encarar de frente e sem medo
apresentar serão superiores, pelo que Portugal parece uma determinada decisão, nesta ou naquela direção,
estar a aumentar, ainda que muito ligeiramente, a agradando a uns e ficando sujeito às críticas de outros
quota de mercado mundial. Face a estes números, a tantos. Apesar de sermos mestres na arte de lotear,
interpretação final dependerá sempre se olharmos não há blend que salve o limbo nem power points
para o copo meio cheio ou meio vazio. bem intencionados que atinjam metas de cêntimos
Em 2022, de acordo com os dados da OIV, Portugal ou de milhões. Só um esforço coletivo e devidamente
importou 188 milhões de euros em vinho, com o suportado por quem tem poder de decisão provocará
granel a representar 74% desse valor. Figurando o o desconforto que permita ao vinho português atingir
país no top 10 dos maiores produtores mundiais de uma posição efetivamente confortável, assente na
vinho e havendo excedentes produtivos em várias realidade de números que decididamente nos façam
regiões nacionais, terá sido mesmo necessário ir além do poucochinho.
tamanho granel?

24 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


MARÇO

VINHO
COMPRA EXCLUSIVA ONLINE EM
coelheiros.pt
FORA
DA CAPA

Tapada de Coelheiros

,00
Alto 2018
Alentejo / Branco /
Tapada de Coelheiros
45 €
A vinha do Alto situa-se no
centro da Tapada de Coelheiros,
numa ligeira encosta, envolvida
entre um pomar de nogueiras,
um prado e um bosque de
pinheiros mansos que inspira o
rótulo deste vinho. Os solos tem
origem granítica, são profundos
e ricos em argila, e por isso aqui
se encontra a maior mancha de
castas brancas, em particular
da casta Arinto, que dá origem a
este vinho.

Cor amarelo palha e toques


dourados. Aromaticamente,
apresenta uma complexidade
envolvente, dominada pelos
citrinos maduros como lima e
toranja, complementadas por
nuances de pêssego e uma ligeira
nota de pólvora. No paladar,
destaca-se pela sua vibração,
impulsionada pela acidez
característica do Arinto. Possui CONDIÇÕES PARA
uma textura sedosa e um corpo COMPRA ONLINE EM:
elegante, harmonizando a acidez coelheiros.pt
com a fruta de forma equilibrada.
TAPADA DE COELHEIROS ALTO 2018
PVP recomendado de 45,00€
ESCOLHAS DO MÊS

Para a Mesa

O prazer da Castelão
O produtor de Lisboa AdegaMãe tem o condão de nos surpreender com vinhos cuja
simplicidade desarmam e transformam o ato de beber vinho em puro prazer.

PA R A A
A AdegaMãe nasce do investimento do grupo

A MES
Riberalves numa nova área de negócio e surge
como uma homenagem da família Alves à sua
matriarca, Manuela Alves. Localizada no con-
celho de Torres e vocacionada para a produção
de vinhos com características muito próprias,
graças à proximidade do mar e influência do
clima atlântico, a AdegaMãe tem nas figuras dos
enólogos Anselmo Mendes e Diogo Lopes uma
chancela de qualidade.
O trabalho feito pela empresa na produção e
lançamento de vinhos monovarietais é de enal-
tecer, permitindo descobrir o potencial de cada
uma das castas no terroir diversificado da região.
No caso deste Castelão, trata-se de um vinho
que explora o melhor da casta, com os tradicio-
nais atributos de fruta e especiarias, capaz de
dotar a prova de grande prazer.

90
AdegaMãe Castelão 2018
Regional Lisboa / Tinto / AdegaMãe

Cor cereja aberta. Nariz com destaque para a fruta
vermelha (cereja e ameixa), notas subtis de madeira,
especiarias e cogumelos. Verniz e um ténue vegetal
de ruibarbo. Taninos finos, delicados, leveza, nuances
minerais (calcário). Final atraente. Bebe-se com
facilidade. MM Consumo: 2024-2030
14,45€ / 16ºC

26 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Para a Cave

Expressão pura do Alentejo


A casta Alicante Bouschet representa o Alentejo como poucas. Neste lote, Júlio Bastos
acrescenta Petit Verdot, Syrah e Touriga Nacional.

PA R AE Júlio Tassara Bastos é um dos nomes grandes

A C AV
do vinho português, um verdadeiro ‘globetrotter’
do vinho mas com raízes bem fundas no Alentejo.
Há mais de 150 anos que se produz vinho na
Quinta do Carmo, mas foi apenas com o chegar
do novo milénio que Júlio Bastos começou o pro-
jeto dos vinhos Dona Maria.
Nesta quinta de Estremoz reside muito do
Alentejo nobiliárquico, com os mármores abun-
dantes, os jardins luxuriantes e os vinhos de
elevado quilate. Júlio tem uma direção precisa
sobre onde quer chegar e que vinhos que gosta
de fazer. Vinhos que tenham personalidade e
carácter, que se imponham pela sua excelência,
que mostrem a identidade do local e dos solos de
origem e as convicções dele próprio.
Este vinho, produzido a partir das melhores
uvas das vinhas velhas, é fermentado em lagares
de mármore, usando a tradicional «pisa de
uva», e estagiado em barricas novas de carvalho
francês durante um ano.

94
Dona Maria Grande Reserva 2018
Alentejo/ Tinto / Júlio Bastos

Rubi profundo. Notas elegantes do estágio em
madeira envolvem aromas de fruta preta, raspas
de chocolate negro, panóplia de especiarias e
apontamento fresco de bergamota. Na boca é
majestoso, com amplitude e profundidade, senhor
de grande equilíbrio, amparado por acidez de grande
nível e tanino de fino recorte. LC
Consumo: 2024-2045
39,95€ / 16ºC

28 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


VINHOS DO PORTO
E DO DOURO
TESOUROS
PARA DESCOBRIR…
E APAIXONAR-SE!

www.ivdp.pt Beba com moderação.


94 93 92 92 92
Valle Pradinhos Improvisation 2020 Cabriz Ímpar Henriques & Quinta da Extrema
Grande Reserva Saint Nicolas de IVV / Licoroso / Henriques Malsavia Ensaios Extremes
2020 Bourgueil (França) / Sociedade Agrícola de 2001 Rabigato 2020
Regional Transmontano / Tinto / Vignoble de la Santar - GlobalWines Douro / Branco / Colinas
Vinho Madeira /
Branco / Maria Antónia Jarnoterie 25,00 € /14ºC Fortificado / Henriques & do Douro
Pinto de Azevedo 15,50 € /16ºC — Henriques Vinhos 23,50 € /11ºC
Mascarenhas — Tonalidade acobreada 40,00 € /14ºC —
55,00 € /11ºC Nariz sofisticado, pleno brilhante. Aromas — Nariz marcante, mostra o
— de caráter. Profundo, expressivos a fruta Aloirado, reflexos processo de contacto com o
Notas abaunilhadas a fruta madura (groselha de caroço madura e esverdeados. Notas oxigénio. Toques de verniz,
envolver fruta (pêssego, preta, cassis) e madeira desidratada (imenso de couro, tabaco, grão casca seca de cítricos,
abacaxi maduro, raspa de qualidade. Especiarias damasco), geleia, tâmaras de café, mel de cana e flores secas. Boa evolução
de lima), ervas frescas e doces e leve fumado de e laranja cristalizada. caramelizados. A matriz é no copo. Finos tostados
flores brancas. Elegância mina de lápis. Boca de bom Apontamento balsâmico. marítima, acidez e volume e cogumelo. Boca bem
e sofisticação do nariz porte, taninos largos e bem Na boca exprime grande em equilíbrio, o final é estruturada com acidez
com bela textura, acidez extraídos, sumarento, com equilíbrio, com a doçura duradouro e repleto de veemente, profundo. Muita
perfeita, enorme equilíbrio, volume, fluidez, frescura e intensa bem calibrada por sabor, com nuances de persistência. MM
untuosidade a garantir final longo. Personalidade e bela acidez. Termina fresco, charuto. Prolongado, tenso
volume e persistência. harmonia. MM cítrico e apimentado. LC e afirmativo.
b b
A escolha de A escolha de ires
Luís Costa Nuno Guedes Vaz P

30 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Vinhos de patamar superior e excelente, que revelam


terroir e têm aptidão de garrafeira.
Pode também encontrá-los online em vinha.pt

91 91 91 91 91
1836 Companhia Aleixo Maria Gomes Despedida Negra Dona Sancha Vinha Soalheiro
das Lezírias Grande e Bical Superior 1996 Mole 2021 da Avarenta 2021 Terramatter
Reserva 2021 Bairrada / Branco / Real Regional Algarve / Tinto Dão / Tinto / Quinta Alvarinho Bio 2022
Cave do Cedro / Casa Santos Lima Dona Sancha
Tejo / Tinto / Companhia Vinho Verde (Monção
das Lezírias 45,00 € /11ºC 8,95 € /16ºC 16,00 € /16ºC e Melgaço) / Branco /
40,00 € /16ºC — — Vinusoalleirus

— Amarelo dourado brilhante. Lote onde predominam as 18,50 € /11ºC
Rubi translúcido, muito
Fruta bem presente e viva castas Jaen, Tinta Pinheira
Granada opaco. Aromas aberto. Nariz com flores —
(laranja, limão maduro e e Baga, com tonalidade rubi.
especiados (pimentão azuis, imensa cereja, Amarelo limão, ligeiros
alperce), mel, leve fumado Aromas de pinhal e bosque
vermelho, noz moscada), framboesa, bagos de reflexos ambarinos, de
e cânfora. Cera. Boca envolvem notas silvestres
balsâmicos e alguma groselha e leve rebuçado. turbidez deliberada. Cheira
composta, cheia, com de cereja, groselhas pretas,
resina a envolver notas de Na boca é fresco e delicado, a mosto, com a pureza do
fruta e acidez viva bem ameixa vermelha e chão
fruta preta bem madura muito elegante, amparado fruto sempre em primeiro
integrados, sustentados de floresta. Boca com
e chocolate. Na boca é por tanino finíssimo e acidez plano. Texturado, revela
por largura estrutural. Final fruta muito saborosa, num
pujante e concentrado, com impecável. LC bom volume, acidez incisiva,
longo, rico, especiado, registo de grande frescura,
taninos hercúleos e acidez final crocante e muito
salino e picante. delicadeza e elegância.
de bom porte. Precisa de saboroso.
Travo vegetal a dar-lhe
mais tempo na garrafa. LC
nervo no fim de boca. LC

b b
A escolha de A escolha de s
Manuel Moreira José João Santo

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 31


90 90 90 90 89
Freixo Alvarinho 2021 Montes de Calma Pedra Cancela Quinta do Poço Quinta Valle
Regional Alentejano / Reserva 2016 Jaen 2021 do Lobo Baga Madruga Tinta
Branco / Herdade do Douro / Tinto / Adega Dão / Tinto / Lusovini Bruto Natural 2018 Amarela 2021
Freixo Cooperativa do Vale da Bairrada / Espumante / Trás-os-Montes / Tinto
14,00€ /16ºC
11,30€ /11ºC Teja (Gesprove) — Caves São João / ERTA
— 8,10€ /16ºC Aromas de fruta madura, 9,38€ /8ºC 12,00€ /16ºC
Tom amarelo torrado, notas — toque floral. Suave — —
de fruta madura, toque Rubi intenso e profundo. especiado a lembrar Tom alaranjado, perlage Intenso na cor, aromas de
especiado. Sensação de Aromas arbustivos a bosque. Madeira fina e abundante. Nariz fruta vermelha evidente.
contacto com a borra. envolver notas de fruta elegante. Sabor seco, marcado pela fruta Ligeiro especiado. Seco,
Envolvente. Sabor seco, preta e azulada, limpa tanino irreverente, seco. silvestre azulada, aromas taninos suaves, elegante,
acidez suave, frutado, e bem definida, leve Especiado e terroso, com de padaria a despontar. Na frutado e fácil de degustar.
herbal, com madeira a balsâmico e grãos de corpo. Termina com final boca tem nervo, frescura, Final apetecível e denso.
notar-se. Encorpado e pimenta. Na boca é fiel ao estruturado. RT cremosidade, tanino polido, Precisa de copo largo e
final denso. Um perfil perfil aromático, com bom acidez no ponto e travo temperatura mais baixa
diferente da casta, mas com balanço, acidez impecável, herbáceo no final. LC para não sobressair o álcool.
qualidade. Precisa de pratos tanino vincado e final RT
especiados. RT persistente. LC

32 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


ESCOLHAS DO MÊS

Prazer garantido a bom preço. Respeitam orçamentos,


mostram boa qualidade e são de fácil acesso.
Pode também encontrá-los online em vinha.pt

89 88 87 86 84
Vinha de Reis 2019 Alento 2021 Fedelho Vinhão Murganheira 2022 Periquita 2022
Dão / Tinto / Jorge Alentejo / Tinto / Luís B. Premium 2023 Távora-Varosa / Rosé / Regional Península de
Almeida F. Reis V. Louro - Monte Branco Vinho Verde / Tinto Soc. Agr. Com. do Varosa Setúbal / Tinto / José
9,50 € /16ºC 7,51€ /16ºC / Adega Coop. Ponte 4,00 € /11ºC Maria da Fonseca
— da Barca e Arcos de — 4,99€ /16ºC

Rubi, reflexos granada. Valdevez Rosa pálido. Framboesa, —
Tonalidade rubi. Fruta preta
Notas de pinheiro, amora e azulada, apontamento 6,90€ /16ºC morango e cereja, Cor rubi aberta. Nariz
e cereja vermelha, ligeiros balsâmico, grãos de café. Na — complementados por com boa presença de
florais a correr em fundo. boca mostra ataque seco e leves notas de terra que fruta imediata, cereja,
Nariz muito limpo e atrativo,
O tanino é leve e fresco, equilibrado, com tanino em conferem complexidade. ameixa, alguma groselha
fruta em compota, groselha
o volume é facilmente evidência e acidez média/ Rosé seco e com boa e floral, eucalipto. Limpo e
e amoras, toque de violeta.
enquadrado, a estrutura alta a dar-lhe frescura. LC acidez, feito segundo as agradável. Acessível e fácil,
Tudo muito ponderado. Na
tem elegância e frescura. tendências atuais. BA suave e texturado na boca.
boca, boa fruta, volume,
De apelo primário, é Tudo em equilíbrio. Frescura
amplitude e taninos muito
precisamente esse o grande que lhe dá graça. Bebe-se
civilizados, além de boa
argumento que possui. JJS sem pensar. MM
acidez. Bem feito, combina
perfeitamente a tradição
com uma pitada de
modernidade. MM

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 33


PROFILE

texto Marc Barros / foto Arquivo

Foi incontestavelmente o grande vencedor da primeira Gala Michelin dedicada


exclusivamente a Portugal, pois não apenas é a cara do novo restaurante duas estrelas do
país, o Antiqvvm, no Porto, como viu reconhecidos dois outros projetos com o seu dedo: o
2Monkeys, com Francisco Quinta, no hotel Torel Palace Lisboa, conquistou uma estrela e
o Blind (também no Porto) teve a sua colaboradora Rita Magro premiada como jovem chef
de 2024 e está na lista dos recomendados. É obra!

34 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


CA STA

texto Marc Barros / foto Arquivo

dicas
A casta Vital é resistente às

1.
condições ambientais duras,
sendo fértil mesmo quando podada
em talão.

Subsistem ainda algumas


vinhas velhas, sobretudo nas
proximidades da Serra de

Vital
Montejunto, que mostram um perfil

2.
de vinhos de elevada delicadeza,
minerais e salinos, ao contrário do
perfil tipo de vinho de teor alcoólico
elevado.
Variedade branca que esteve perigosamente à bera da extinção, a casta Vital repre-
senta ainda assim menos que 1% do encepamento nacional; mas, em Lisboa, de onde Os últimos anos têm demonstrado
será originária, responde por 2,3% dos cerca de 20.000 hectares de vinha instalada um forte potencial para o

3.
na região. desenvolvimento de vinhos
Quanto à origem, diz-se que terá berço na Lourinhã – hipótese entretanto abando- monovarietais de elevada
nada -, enquanto outros autores apontam para a predominância da mesma em Óbidos. qualidade, que vão de encontro às
Dada a resistência aos ventos e a preferência por solos profundos, manifesta carácter tendências de mercado.
tipicamente atlântico, sendo que, pela sensibilidade ao escaldão, prefere exposições
norte. Assim, são de provar vários
A variedade resulta do cruzamento das castas brancas Malvasia Fina e Rabo de
exemplares da casta, em estreme
ou em lote, sobretudo da região
Ovelha. Ostenta como sinónimos históricos e regionais as designações Boal Bonifácio
de Lisboa: AdegaMãe Vinhas
e, no interior norte (Dão e Douro), Malvasia Corada, o que indica, por um lado, uma
Velhas Vital, Casa das Gaeiras
certa dispersão histórica nacional e, por outro, o aspeto morfológico do bago, que
Vinhas Velhas, Casca Wines,
ganha manchas, ou pintas, na fase final da maturação.
Hugo Mendes, Lés a Lés Jampal
Os estudos disponíveis dão conta de elevada irregularidade produtiva anual mas

4.
e Vital, Monte Bluna Vital, Quinta
vigor médio a forte, com alto rendimento por hectare. Origina vinhos com acidez média, das Cerejeiras, Ramilo Vital,
volume alcoólico médio/alto, porém sensíveis à oxidação. Os trabalhos da Porvid resul- entre (felizmente) cada vez mais
taram na seleção de 11 clones, com previsão de ganho de rendimento de 33,7%. possibilidades. Boas provas!

36 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


VINHOS & NÚMEROS

Os números também contam histórias sobre o mundo do vinho.

texto Marc Barros · infografia Ângela Reis

A vindima no hemisfÉrio sul


Enquanto o mundo se depara com um cenário de excesso de vinho no
mercado, as vindimas no hemisfério sul arrancam com perspetivas diversas…

ARGENTINA
1,9 MTON. UVA
+24% FACE A 2023
BRASIL
1,2 MTON.

PRODUÇÃO ESPERADA
+28% -12 A -50% AUSTRÁLIA
’Ioɫ?’f$*ɫ$oɫ˜§]ȶɫ
EM MENDOZA SANTA CATARINA E +21%
SERRA DA MANTIQUEIRA Ǔȶǘɫe¡ofȵ
CHUVAS INTENSAS E
CHILE IMPREVISIBILIDADE
CLIMÁTICA
10.000HA. DE VINHAS
1.103 ML. EM 2023
PROVOCADAS PELO
FENÓMENO EL NIÑO.
NOVA ZELÂNDIA
ɘǓǓȶǖʨɫ>*ɫɫǔǒǔǔ
-20 A -30% FACE AOS DOIS
+5 A +50% ÚLTIMOS ANOS
AUMENTO NOS VALES
DE ACONCAGUA
ÁFRICA DO SUL QUEBRA FACE A 2023
ɉǗǒǓɫeI]ɫ¡ofȵɊ
E SAN ANTONIO
0 A –5%
PRODUÇÃO MÉDIA DA ÚLTIMA
FACE À PRODUÇÃO
+5% A +20% DÉCADA DE 414 MIL TON. DE UVA
DE 2023
VALE DE CURICÓ E 298 ML. DE VINHO.
935,2 ML. DE VINHO E MOSTO
+ 10% A +20%
ɉɘǓǕʨɫ>*ɫɫǔǒǔǔɊȵ
VALE DE ITATA

0% A -5%
VALE DE MALLECO

As previsões de vindima apontam para cenários diferentes, que merecem leituras específicas.
Assim, se o aumento de produção na Austrália pode ser encarado com apreensão face às
progressivas restrições tarifárias impostas pelo seu principal mercado, a China, já o Brasil e a
Nova Zelândia sofrem com a imprevisibilidade levantada pelo fenómeno El Niño. Porém, como
é habitual afirmar-se nestes casos, até ao lavar dos cestos é vindima…

Fontes: Instituto Nacional de Viticultura (Argentina), La Semana Vitivinícola, Odepa (Chile), OIV.

38 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Para ver no NA MESA
facebook, instagram
e youtube da
Revista de Vinhos A mesa é espaço de conversas, de partilha, de reunião, de vinho e comida.
@revistadevinhos

texto Daniela Cunha · fotos D.R.

Arroz de
enchidos
O conforto da mesa para
receber a primavera
NA MESA

A RECEITA DE À chegada da primavera,


DANIELA CUNHA deliciamo-nos com
a tradição dos bons
enchidos portugueses.
INGREDIENTES:
. 1 chouriço de carne
. 1 bacon
. 2 linguiças
. 1 cebola
. 350g. arroz vaporizado
. 950ml. água
. Azeite q.b.
. Sal q.b. (atenção à
quantidade de sal)

PREPARAÇÃO:

1. Ligue o forno a 180 graus.



2. Cortar os enchidos às
rodelas.

3. Numa panela coloque um
fio de azeite e os enchidos.
Deixar dourar.

4. Juntar a cebola picada e
deixar alourar.

5. Juntar o arroz. Mexer até o
arroz ficar translúcido. Juntar
também a água e retificar os
temperos. Para acompanhar,

dois grandes tintos
6. Assim que a água
começar a ferver passar o do Tejo…
arroz para um tabuleiro de Vale de Lobos José e Violante Detalhe Reserva 2019
barro e decorar com rodelas Grande Escolha 2013 Tejo / Tinto / Adega Cooperativa do Cartaxo
de chouriço. Tejo / Tinto / Soc. Agr. da Quinta da Ribeirinha Granada concentrado. Aroma de boa intensidade com
De cor granada, exibe grande riqueza de aromas que misto de fruta vermelha e fruta silvestre bem madura,

nos recordam nozes, pinhões e especiarias, com um menta, eucalipto e ligeiras notas de baunilha. Intenso,
7. Levar ao forno cerca de 20 toque balsâmico de alta intensidade. Na boca tem frutado e fresco, com volume e untuosidade, taninos
minutos ou até o arroz estar estrutura envolvente, taninos redondos, com final doces e sedosos. Notas finais de menta e eucalipto a
longo e elegante. 16,50€ / 16ºC reforçar a sua frescura. Muito boa persistência final.
seco e douradinho.
18,50€ / 16ºC

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 41


ESTRELAS DE PORTUGAL

Portugueses que se destacam no vinho e na gastronomia e que o fazem fora de Portugal.

texto Luís Alves / foto D.R.

BANGUECOQUE, TAILÂNDIA
FÁbio Costa
Portuense de gema, Fábio Costa era até aos 21 anos um programador, com um bom
salário e uma carreira pela frente numa área de trabalho promissora. Teria sido assim
não fosse a paixão pela cozinha. Despediu-se, começou do zero, a trabalhar em
restauração e fez um caminho de “underdog”. Sem formação na área, estudou mais,
trabalhou mais e depois de algumas passagens por restaurantes portugueses é hoje
“head chef” naquele que foi considerado o quinto melhor restaurante da Ásia pelos
prémios “50 Best Ásia 2023”.

A COZINHA TEVE ALGUM PALCO ESPECIAL NA E ARRANCA FINALMENTE A SUA CARREIRA NA E AINDA EM LISBOA ESTEVE NUM RESTAURANTE
SUA INFÂNCIA? RESTAURAÇÃO. JAPONÊS, CORRETO?
Nunca pensei fazer disto vida. Eu era o Desde os meus 16 anos sabia que queria Sim, mesmo antes de partir para
pior “garfo” da família. O mais picuinhas, cozinhar. Mas não consegui concretizar Banguecoque estive num restaurante no
o que comia pior. Nada fazia antever isto. antes dos 21 e acabei a trabalhar noutra Bairro Alto, o Izakaya Tokkuri Pop Up. Um
Entretanto, já na adolescência, porque os área. Durante o período em casa, per- conceito com grande liberdade. Foi uma
meus pais chegavam tarde a casa do tra- cebi que tinha de mudar de vida. Tinha de experiência muito enriquecedora.
balho, tive a necessidade de começar a arranjar forma de ir para uma cozinha. E foi —
cozinhar para a família. Era eu que fazia os assim que comecei a trabalhar na copa de COMO SURGE A OPORTUNIDADE DE TRABALHAR
jantares todos os dias para os meus pais. E um restaurante na ribeira do Porto. Estava COM O CHEFE INDIANO GAGGAN ANAND, NA
quando isso começou a acontecer, nasceu o finalmente a cozinhar! Mais tarde, fui traba-
TAILÂNDIA?
gosto pela cozinha. lhar com o chefe Elísio [Bernardes], o meu
— primeiro grande mentor. Eu tinha ido de férias a Banguecoque. Queria
COMO FOI A SUA FORMAÇÃO? — conhecer a influência portuguesa deste lado
DEPOIS COMEÇA A COLABORAR COM O GRUPO do mundo. E vim ao Gaggan jantar e no
Não teve nada a ver com cozinha. Fiz um final apresentei-me e perguntei se poderia,
curso técnico de programador, em Leça da
CAFEÍNA?
de alguma forma, estagiar. Disseram-me
Palmeira, e comecei a trabalhar em POS Sim. Passei por três restaurantes do grupo. de imediato que sim. Fiz duas semanas de
(sistemas de pontos de venda) de restau- Portarossa, Casa Vasco e Cafeína. E traba- estágio. No final desse período apresentei
ração, durante cerca de dois anos. Foi o lhei e estudei muito. Sempre me vi como o cinco pratos e recordo-me que o segundo
mais perto que consegui estar da cozinha. “underdog”, aquele que não tinha formação foi uma cabeça de xara que o chefe Gaggan
Paralelamente, jogava hóquei e tive uma na área e que tinha de “correr” mais. O Elísio adorou. Fiquei com o trabalho e estou cá há
lesão grave. Durante o período de recupe- Bernardes dizia-me que ter formação não cinco anos e sou atualmente “head chef”.
ração, estando muito tempo em casa, decidi era um passo obrigatório. Há várias formas —
mudar de carreira e finalmente seguir o de atingir um mesmo objetivo. PARA QUEM NÃO CONHECE, COMO O DESCREVE O
caminho que desejava, mesmo que isso —
CHEFE E TAMBÉM O CONCEITO POR ELE CRIADO?
implicasse um corte salarial enorme, como MAIS TARDE PASSOU PELA MÃOS DO LJUBOMIR
de facto implicou. O Gaggan é um tipo eclético. Não tem
NO 100 MANEIRAS?
— grande sentido de estrutura. Na cabeça
QUE PAPEL TEVE O HÓQUEI NA SUA VIDA? Surgiu essa oportunidade. Acho que foi o dele, qualquer coisa pode mudar a qualquer
meu primeiro grande passo para estar onde momento. A sazonalidade é um conceito
Hóquei em campo. Muito importante e estou hoje. Foi a primeira grande escola. O que levamos muito a sério. Quando, por
desde muito cedo. Joguei no Viso. Eu, o meu chefe Ljubomir é uma pessoa justa. Não é de exemplo, a laranja começa a perder quali-
irmão, o meu pai, os meus primos. A minha todo difícil trabalhar com ele. dade, na mesma hora decidimos substituir.
família toda. Houve um célebre jogo em que
Mudamos de menu a cada três meses. As
estavam em campo seis jogadores com o
coisas aqui acontecem muito rapidamente,
mesmo apelido. Parei após a lesão em 2015,
com muito trabalho e muita pressão. Com
em que rompi um tendão.
o Gaggan, tudo pode ser qualquer coisa.
Qualquer ideia, por mais descabida ou louca,
pode funcionar.

42 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


E O RESTAURANTE? COMO O DESCREVIA?
O restaurante Gaggan Anand tem 14
Tem 14 lugares, funciona apenas ao jantar, dois serviços
lugares, funciona apenas ao jantar, por noite, quatro dias por semana, com 22 pratos, 11 dos
dois serviços por noite, quatro dias por quais muito fáceis de comer, um género de “comboio-bala”
japonês. Pequenos pratos sucessivos. A refeição demora
semana, com 22 pratos, 11 dos quais cerca de duas horas e meia. Os 14 clientes comem ao mesmo
muito fáceis de comer, um género de tempo, numa experiência partilhada, sem privacidade mas
com conforto, com a explicação de cada prato e o trabalho
“comboio-bala” japonês. que envolve.

O GAGGAN ANAND FOI O PRIMEIRO RESTAURANTE TAILANDÊS COM
DUAS ESTRELAS MICHELIN.
Sim mas nos últimos três anos decidimos não integrar mais
o guia, por opção do chefe, com a concordância da equipa do
restaurante. Mantemo-nos nos “50 Best”. No final de março
estaremos em Seul para os “50 Best” da Ásia. Na última
edição ficamos em quinto lugar, o que não é nada mau.

COMO TEM SIDO A EXPERIÊNCIA DE VIVER NA TAILÂNDIA? SENTIU
ALGUM CHOQUE CULTURAL? EXISTEM MUITOS PORTUGUESES?
A maioria dos portugueses aqui a viver são normalmente
pessoas que se reformaram e vieram procurar um estilo de
vida mais relaxado. Choque cultural? Sim, acho que qual-
quer pessoa que emigra tem um momento que olha em
redor e pensa: “eu estou mesmo aqui?” Isto não tem nada a
ver com o meu país. Mas é bom vermos como é que outras
pessoas vivem uma vida diferente. E é bom ver tudo o que
os portugueses trouxeram para cá e que ainda hoje faz parte
da cultura e tradição. Por exemplo, os fios de ovos são ainda
hoje a sobremesa mais procurada na Tailândia.

COMO VÊ O MOMENTO DOS VINHOS, HOTELARIA E RESTAURAÇÃO
EM PORTUGAL?
Estamos num momento incrível. Só tem melhorado. No
entanto, continua a faltar saber “vendermos o nosso pão”.
O mundo ainda não sabe o que temos para oferecer. Nunca
soube tanto mas ainda assim sabe pouco. Eu vejo aqui o
quão difícil é arranjar vinhos portugueses aqui, por exemplo.
Normalmente tenho de ir a Macau. O Gaggan não tem
nenhum vinho português. E não é por falta de qualidade. É
uma questão de não termos uma ligação estabelecida. São
poucos os importadores. Talvez uma mão cheia…

UM REGRESSO A PORTUGAL PODE ACONTECER?
Claro que pode acontecer! Não há nada melhor que Portugal.
Sobretudo, o produto. Não há produto melhor que o portu-
guês. E terá de ser um regresso para trabalhar nesta área.
Não há mais nada que goste de fazer que não seja cozinhar.

QUEM É E O QUE FAZ O FÁBIO COSTA PARA ALÉM DO TRABALHO?
Não há muito. Sobretudo nos últimos nove meses, em que
fui pai. Ainda assim, gosto de fazer Muay thai, para libertar
o stress e ansiedade e manter a forma física no pouco tempo
que me resta. Um dia normal, no restaurante, tem 14 horas
de trabalho. É intenso.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 43


SPIRITS & MIXOLOGY

Porque para lá do vinho há muitos outros blends que merecem a nossa atenção.

texto Marc Barros / foto D.R.

Abstinence
Spirits
Abstinência? Sim, é possível!

Da África do Sul para Portugal, chega-nos um lote de bebidas espirituosas que vão de
encontro às novas tendências de consumo: sem álcool e, em alguns casos, sem açúcar.
Na prática, são bebidas que emulam gin, bourbon e aperol, para diversos momentos de
consumo, que mostram grande empatia com a moda ‘mixológica’.

44 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


É por demais sabido que a consciência do consumo diverge
por entre tendências e correntes que podem, por vezes,
parecer discordantes ou, mesmo, conflituantes. No caso das
bebidas espirituosas, têm surgido vários exemplos no mercado
de produtos despidos do que será o seu elemento central, o
que faz destes um ‘spirit’, ou seja, o álcool!
Mas, quando esta oferta se integra numa procura que des-
ponta, fruto de correntes cada vez mais próximas do consumo
dito ‘saudável’, o setor dos espirituosos não poderia ficar de
fora. Aliás, já nestas páginas afloramos o tema, dando conta
que, segundo dados do IWSR Drinks Market Analysis, a cate-
goria No & Low (bebidas sem ou com baixo teor alcoólico,
que incluem a cerveja/cidra sem e com baixo teor de álcool, o
vinho, os destilados e os produtos prontos para beber), deverá
alcançar uma taxa de crescimento anual composta de 8%
entre 2021 e 2025, face ao crescimento esperado das bebidas
alcoólicas de 0,7% durante o mesmo período.
É nesta linha que se inscreve a recente chegada ao nosso
mercado da marca sul-africana Abstinence, a qual, segundo
distribuidor nacional, Artur Tomé, nasce da “fusão entre a
criatividade sul-africana e o compromisso de redefinir as
experiências de consumo”. A gama de bebidas, que emula
gin, bourbon e aperol, explora “os diversos terrenos da África
do Sul”, a partir dos quais “foram selecionadas uma mistura
de plantas indígenas, criando uma tapeçaria de sabores que
reflete a sofisticação das bebidas espirituosas tradicionais,
ao mesmo tempo que abraça orgulhosamente um perfil sem
álcool”.
Ainda segundo o próprio, “a nossa gama de bebidas consiste
em três tipos de bebidas diferentes, sendo sempre conside-
radas como alternativa - daí o rótulo não dizer Gin, Bourbon,
ou Aperol”, remata. “São bebidas que vêm da África do Sul,
produzidas através do aproveitamento da flora, oriunda do
sul da cidade do Cabo”. Estas “são produzidas através da
destilação botânica, sem o uso de álcool, usando maceração
e infusão de vapor de hidrossóis”. Assim, em nenhuma fase do
processo de elaboração é criado algum tipo de álcool, preve-
nindo igualmente a desalcoolização das mesmas. “É usado o
mesmo processo para todo o tipo de bebidas”, esclarece, pelo
que, “não tendo álcool, não causa qualquer alteração ao orga-
nismo ou tipo de adição”. Como “produto não alcoólico, sem
açúcar e sem qualquer tipo de conservantes, é do mais natural
São bebidas que vêm da que podemos ingerir”, ressalta.
África do Sul, produzidas O mesmo responsável afiança que se trata de um segmento
com grande potencial, sobretudo junto das camadas mais
através do aproveitamento jovens da população, que “têm a tendência e a consciência de
da flora, oriunda do sul não consumir álcool”, por exemplo “quando vão conduzir”,
existindo também “quem não bebe por motivos religiosos
da cidade do Cabo. Estas e saúde”, ou registando até uma “tendência de consumo de
são elaboradas através da cocktails sem álcool nas zonas de praia”.
E se, ao início, acredita poder verificar-se “certa resistência
destilação botânica, sem ao não álcool, tal como já está a acontecer em diversos países”,
o uso de álcool, usando acredita que o projeto “tem tudo para ser um sucesso”. O
tempo o dirá!
maceração e infusão de
vapor de hidrossóis. ABSTINENCE SPIRITS PORTUGAL
M.966 063 377
E.ARTUR.TOME@HOTMAIL.COM

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 45


SPIRITS & MIXOLOGY

ABSTINENCE CAPE CITRUS


No extremo sul de África, o Cabo
Ocidental é um dos maiores
exportadores de citrinos do
mundo. Este ‘gin’ Abstinence
Cape Citrus resulta da mistura
de sabores cítricos, combinada
com alguma da flora indígena. São
sugeridas duas receitas de cocktail:
água tónica, gelo, alecrim e uva
laminada; ou água tónica, gelo,
fatia de laranja e canela.

PVP: 23,73€

ABSTINENCE EPILOGUE X
Uma alternativa bourbon
oriunda do Cabo Ocidental,
na África do Sul, que pode
constituir uma alternativa ao
Irish Coffee ou servido com
coca-cola, limão e ginger ale.

PVP 23,73€

ABSTINENCE BLOOD
ORANGE APERITIF

Aperitivo para todas as


ocasiões e momentos de
consumo, resulta de uma
infusão de plantas naturais,
casca de cinchona e absinto
africano.

PVP 14,76€

46 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


PELO CAMPO

Antes do copo, antes da garrafa e da adega: a vinha. Onde tudo começa e decorre um trabalho nobre de uma indústria sem telhado.

texto Luís Alves / fotos D.R.

Entrevista com António Magalhães


“Em momento algum senti
que houvesse capacidade
de reconhecer o
verdadeiro custo de
produÇÃo da uva”
António Magalhães e viticultura no Douro são realidades inseparáveis, pelo menos
nas últimas quatro décadas. A poucos meses de iniciar a sua reforma, a referência
de viticultura da Fladgate Partnership dá uma grande entrevista à Revista de
Vinhos. Alterações climáticas, avanços tecnológicos, conquistas, futuro do Douro e
muitos outros temas foram motivo de conversa em jeito de retrospetiva, no habitual
registo ponderado, culto e otimista que se lhe conhecem.

COMO É QUE VÊ OS IMPACTOS NA VITICULTURA PRODU- QUE ZONAS NA REGIÃO DO DOURO ACHA QUE VIVERÃO
ZIDOS PELAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS? MELHOR COM ESTAS ALTERAÇÕES?
As alterações climáticas estão aí. Eventualmente Eu sinto que o Douro está preparado para as altera-
poderemos também estar a viver a sobreposição ções climáticas. É um caso especial no mundo. Poucas
de um ciclo climático com as tão faladas alterações. regiões estarão naturalmente tão bem preparadas
Vivemos um desses ciclos na década de 40 do século para as mudanças que estão a acontecer como o
passado, por exemplo. Mas há uma nova realidade Douro. Convém lembrar que a região nasce no século
que as alterações climáticas trazem que é a da impre- XVIII, ao ser demarcada, numa resposta política ao
visibilidade. No entanto, creio que há um dado recon- Tratado de Methuen. Foi preciso fazer um ordena-
fortante que é a quantidade de precipitação. Tem-se mento do território rural e produtivo. E nesse orde-
mantido inalterada. namento, o Douro foi demarcado como região pro-
— dutora de vinho e o resto do país dedicado a outras
MAS É IRREGULAR. culturas, como os cereais.

É uma condição de todo o clima mediterrânico.
MAS PORQUE É QUE DIZ QUE O DOURO ESTÁ NATURALMENTE
Irregular mas consistente quando analisada numa
série de anos. A grande mudança das alterações cli-
PREPARADO PARA AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS?
máticas é a temperatura que tem aumentado inega- Porque o Douro tem de ser visto como uma concha
velmente. E isso sente-se sobretudo no inverno e vinhateira que guarda alguns segredos, dividida em
tem trazido uma desregulação dos ciclos da planta. três grandes sub-regiões que são os dois meridianos
Tornam-se mais longos, com antecipação da época de pluviométricos. É a precipitação que divide o Douro
abrolhamento. em três sub-regiões: Baixo Corgo, Cima Corgo e
— Douro Superior. O Douro nasce no Baixo Corgo.
POR FALAR EM ABROLHAMENTO, COMO ESTÁ ESTE ANO? E segue uma linha de expansão para o Cima Corgo
porque vai buscar um índice de aridez mais ele-
Em princípio a data de abrolhamento será na próxima
vado que lhe permite fazer vinhos mais alcoólicos e
semana [semana que começou a 3 de março]. Vai estar
retintos. No entanto, nessa progressão, enfrentou um
em linha com 2016, que aconteceu cedo, e 2020 e
obstáculo: o cachão da Valeira que é destruído em
2021 que aconteceram muito cedo. A data média de
1780. Daí progride para o Douro Superior mantendo
abrolhamento no Pinhão, na Quinta da Roêda, por
sempre um segredo. À medida que o Índice de Aridez
exemplo, é 15 de março. Vamos ter um abrolhamento
aumenta, para montante do rio Douro, a descontinui-
a acontecer mais cedo em pelo menos uma semana.
dade da vinha também aumenta.

A tudo isto junta-se a altitude da vinha. O Douro tem
REGRESSEMOS AO CLIMA. OS FENÓMENOS EXTREMOS, DE a capacidade de plantar videiras desde os 80 metros
GRANIZO FORTE OU DE UMA CHUVA DILUVIAL, TÊM até aos 600. E por cada 100 metros que sobe, a tem-
ACONTECIDO COM MAIS FREQUÊNCIA? peratura desce 0,65ºC. E, por fim, três fatores-chave:
a exposição solar, a casta e a lotação dos vinhos. O
O mais evidente - diria eu - é o aumento da frequência
Douro planta vinhas em todos os quadrantes: norte,
da queda de granizo. De 2017 para cá, estes fenó-
sul, este e oeste. E para a mesma hora, a temperatura
menos têm sido mais frequentes e mais severos. Sem
varia cerca de 2ºC entre o norte e o sul. Para terminar,
sombra de dúvidas. Os anos de 2018 e 2023 foram
a escolha da casta que é também essencial e a arte do
exemplos disso.
“blend”, em que se misturam diferentes lotes para

conseguir os vinhos desejados.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 49


V I T I C U LT U R A

UMA VISÃO MUITO OTIMISTA PARA O FUTURO. SE TIVESSE QUE ELEGER DUAS OU TRÊS TÉCNICAS QUE
No pior dos cenários, eu diria que o Douro terá de se
VIERAM AJUDAR O VITICULTOR, QUAIS É QUE ELEGERIA?
reorganizar internamente mas nunca de sair da sua Sem sombra de dúvidas, o avanço da meteorologia
“concha vinhateira”. Eventualmente terá de ‘regressar’ agrícola. Foi tremendo e é muito útil no aspeto da pre-
ao Baixo Corgo, tido muitas vezes como o patinho visão mas também para registo de dados. Por outro
feio. Estou muito tranquilo em relação ao Douro e ao lado, a inovação na mecanização que não tem apenas a
desafio das alterações climáticas. ver com a libertação de pessoas do trabalho mas sobre-
— tudo com a possibilidade de aliviar a penosidade de
E SOBRE O RESTO DO PAÍS? MANTÉM O MESMO OTIMISMO? alguns desses trabalhos. O terraceamento das encostas
EM RELAÇÃO, POR EXEMPLO, AO ALENTEJO E AO ALGARVE? conduzido por laser é outro dos grandes avanços, em
que a equipa da Fladgate Partnership apostou bastante
Naturalmente, o Alentejo também se irá reorganizar e
para controlo da erosão do solo.
voltar às origens. Se eu fosse um viticultor no Alentejo,

uma das minhas apostas principais seria tirar os arames
A VITICULTURA É HOJE OFUSCADA PELA ENOLOGIA?
à vinha e regressar à condução tradicional, em vaso. O
Alentejo artificial, como o Douro artificial, ou seja, as Não sinto muito isso. São protagonismos diferentes.
regiões que regam a vinha, são viticulturas não natu- De um ponto vista de um jornalista, por exemplo, eu
rais. E são essas que estão mais em causa no futuro. diria que a viticultura cabe sobretudo numa revista
— de especialidade e a enologia cabe numa revista de
E QUANTO AO ALGARVE? especialidade mas também numa revista mundana.
Necessariamente, vai ter mais protagonismo e visibili-
Sinceramente, eu pagava para não ser viticultor no
dade. É assim. É um facto. Não há ninguém a ofuscar.
Algarve. O Algarve moderno de vinha assusta-me. O
O enólogo tem um lugar na montra e o viticultor tem
controlo do oídio naquela região assusta-me. Como me
um lugar atrás do balcão.
assusta a violência da Cigarrinha Verde, por exemplo.

As mudanças climáticas vão remeter a vinha às suas
MAS NÃO CONSIDERA QUE UMA MAIOR PERCEÇÃO E
origens e a viticultura artificial não vai vingar. E o valor
da casta vai voltar à sua origem. A primazia que hoje
CONHECIMENTO DO TRABALHO DE UM VITICULTOR TRARIAM
se dá, ao escolher a casta e só depois o território e o UMA MAIOR VALORIZAÇÃO DO PRODUTO?
clima, vai recuar. Teoricamente, sim. Mas o consumidor procura sobre-
— tudo o fator preço. É o grande foco. Por isso, eu acre-
COMO VÊ O MOMENTO ATUAL DA VITICULTURA? dito que o consumidor reconhece o esforço mas não
está disposto a pagá-lo. E isso é um problema.
Divida a resposta em dois pontos. Há uma questão que

me preocupa que é a incapacidade de valorizar a uva.
Nunca, em momento algum, senti que houvesse capa- HOJE EM DIA EXISTEM ALGUNS PROJETOS QUE TENTAM
cidade de reconhecer o verdadeiro custo de produção COLOCAR DETERMINADOS VINHOS NUM PATAMAR DE PREÇO
da uva. Sempre se reconheceu o custo da vinificação, DIFERENTE. QUANDO VÊ UMA GARRAFA CUSTAR 600, 800
sempre se aceitou o custo dos materiais de engarra- OU MIL EUROS, PERCEBE ESSE SEGMENTO OU FAZ-LHE
famento. Mas nunca vi aceitar os custos de produção ALGUMA CONFUSÃO?
da uva. O outro ponto, sobre a viticultura, sobre o
estado da arte, é animador. A viticultura e a tecnologia Compreendo em absoluto apesar de não ser com-
e conhecimento associados evoluíram muito. prador. Não estou com isso a dizer que não me inco-
mode, por vezes, ver preços disparatados. Mas fico
curioso. Porque é que isso vinho tem esse preço? Na
verdade, incomoda-me mais quando vejo determi-
nados vinhos que exigiram tanto esforço na produção
e envelhecimento e depois são colocados à venda por
um preço irrisório.

50 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


“Se eu fosse um viticultor no Alentejo, uma das minhas apostas
principais seria tirar os arames à vinha e regressar à condução
tradicional, em vaso. O Alentejo artificial, como o Douro artificial,
ou seja, as regiões que regam a vinha, são viticulturas não naturais”.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 51


V I T I C U LT U R A

“Sinto que o Douro está preparado para as alterações climáticas. É um


caso especial no mundo. Poucas regiões estarão naturalmente tão bem
preparadas para as mudanças que estão a acontecer como o Douro”.

Carreira de várias décadas Depois, devo dizer que respeitei sempre o património
genético das videiras do Douro. Hoje, e desde 2007
EM AGOSTO PRÓXIMO ESTARÁ A INICIAR A SUA REFORMA. com a mudança de nome das castas, o património
GOSTAVA QUE NOS FIZESSE UM BREVE RESUMO DA SUA genético das castas do Douro tem sido adulterado. O
caso mais flagrante dessa adulteração é da Tinta Roriz.
CARREIRA.
Uma casta tradicional do Douro que desde o dia em
São quatro décadas dedicadas à viticultura de um que foi considerada como sinónimo de Aragonês e de
ponto de vista profissional e mais ainda no contexto Tempranillo, está adulterada e ameaçada. Têm entrado
de viticultura do Douro. E, de facto, foram quatro descaradamente videiras de Tempranillo quando deve-
décadas gratificantes. E o que tornou gratificante foi, ríamos ter mantido a Tinta Roriz tradicional. Isso é
sobretudo, a consciência daquilo que estava por fazer preocupante para mim.
ter sido cumprido. O Douro e o Vinho do Porto são a —
minha paixão e senti que tinha uma missão a cumprir. IMAGINO QUE QUANDO INICIAR A SUA REFORMA, NÃO VAI

RESISTIR A ACOMPANHAR DE PERTO A VITICULTURA DO
O QUE DESTACA DE METAS ALCANÇADAS? DOURO.
A arquitetura do terreno. Sinto ter contribuído para
Há uma coisa que não perderei: a ligação afetiva à
modelos de vinha capazes de assegurar ao mesmo
Fladgate Partnership. Devo aquilo que sou a mim
tempo várias condições: a beleza da paisagem, o apro-
mas também à sorte que tive em ter trabalhado nesta
veitamento do terreno, com patamares estreitos com
empresa. Li recentemente um livro cujo título me tem
1,5m de largura, o controlo da erosão provocado pelas
desembaraçado destas perguntas nesta fase da minha
chuvas. E devo também destacar o facto de me ter man-
vida. É de um escritor grego, naturalizado sueco,
tido firme no modelo de granjeio clássico. E quando
Theodor Kallifatides, que se chama “Outra vida para
digo clássico refiro-me à contratação dos assalariados
viver”. É o que eu sinto neste momento.
rurais, de forma direta, sem contratações externas,
em que as responsabilidades foram de alguma forma
transferidas para outros.

52 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


PROMO

V D’OR POR VINEXPOSIUM:


Conheça os vencedores!

Os Vinexposium Business Awards reco- um produto no mercado: embalagem, merchan- A BEST HERITAGE INITIATIVE
nhecem as iniciativas mais sustentáveis e de dising, retalho. O vencedor foi Mallard Point recompensa as iniciativas que permitem a
melhor desempenho no sector do vinho e das (Reino Unido). O júri ficou impressionado com partilha de conhecimentos especializados. O
bebidas espirituosas. As candidaturas para a embalagem de alumínio arrojada da gama vencedor foi The Old Vine Registry por The
2024 foram avaliadas por um painel de pro- Mallard Point. Old Wine Conference (Reino Unido e Estados
fissionais internacionais e os resultados foram O prémio BEST JOINT INITIATIVE V Unidos). "Projecto internacional, global e fan-
anunciados numa cerimónia de entrega de pré- D’OR recompensa um grupo de intervenientes tástico, com um valor tremendo".
mios em Paris, a 11 de fevereiro, antes da aber- do sector dos vinhos e das bebidas espirituosas O júri atribuiu também "Coups de Coeur" à
tura oficial da feira Wine Paris & Vinexpo Paris na promoção de um projeto coletivo. O ven- VIGNO (Chile) e à REDWine by Avipe (Portugal),
2024. cedor foi o Wines of Alentejo Sustainability duas iniciativas de menor dimensão que os
O prémio de BEST NEW BUSINESS Program pela WWF Portugal e Vinhos do impressionaram. "Os prémios V d'Or são uma
SOLUTION V D’OR premeia um serviço Alentejo (Portugal). "Estão a trabalhar como um expressão sólida do nosso compromisso para
disruptivo que permita desenvolver a venda de grupo dentro de uma região para promover a com uma indústria vitivinícola sustentável e
vinhos ou bebidas espirituosas. O vencedor foi biodiversidade". responsável, um símbolo de excelência e da
Tastee by Winespace (França). O prémio BEST BRAND EXPERIENCE preservação do nosso terroir para as gera-
Com o consumo de vinho a diminuir em V D’OR recompensa a estratégia de marketing ções futuras", afirmou o CEO do Vinexposium,
quase todos os países, é importante guiar os implementada por um actor do sector que ofe- Rodolphe Lameyse.
novos consumidores pelos meandros do mundo rece ao consumidor uma experiência memo- Para mais informações, visite https://
do vinho. O prémio BEST ECO-FRIENDLY rável. O vencedor foi Creation Wines (África do www.vinexposium.com/en/v-dor/
MARKET LAUNCH V D'OR recompensa Sul). ''Tudo na Creation Wines tem a ver com a
as iniciativas que envolvem o lançamento de história humana e a emoção."
Para ver e ouvir ENOTURISMO

Porque todos merecemos momentos de ócio e de pura preguiça.

texto Madalena Vidigal / fotos André Macedo

QUINTA
DA PACHECA

“Pacheca Flamour Experience” é a proposta de luxo


da Quinta da Pacheca para conectar o visitante aos
sabores do campo e às origens do Douro.
ENOTURISMO

Fundada em 1738, a vontade de crescer e fazer diferente, a ino- milhos de vinha d’alhos e leite creme queimado para sobremesa. O
vação e descoberta, sempre fizeram parte do ADN da Quinta da almoço é harmonizado com vinhos Quinta da Pacheca à escolha do
Pacheca. Esta atitude vencedora vem já de Mariana Pacheco Pereira chefe de sala.
que, ao ver-se viúva e com uma quinta nas mãos para gerir, não Depois do repasto campestre, segue-se um momento de Wine
baixou os braços e fez de tudo para manter o legado que lhe fora Blending conduzido por Maria Serpa Pimentel, enóloga da Pacheca
deixado. Tal era força que a movia naquelas terras que as gentes do há mais de 20 anos. Aqui a intenção é criar o nosso próprio blend de
Douro nomearam o lugar de Quinta da Pacheca. Vinho do Porto, com as orientações da enóloga.
A família e gerações que lhe seguiram também não desiludiram. E porque uma garrafa precisa sempre de um rótulo, depois de
Foi com os Serpa Pimentel que, em 1995 se abriram portas aos pri- criar o Porto perfeito, falta dar-lhe cor! Isso acontece no atelier de
meiros visitantes, organizando provas de vinho e almoços vínicos. Óscar Rodrigues, o artista residente na quinta. Usando diferentes
Beneficiando de uma localização privilegiada de quem vem do Porto, estilos de vinho como tinta, Óscar ajuda os visitantes nas técnicas
bons acesso, estradas planas e proximidade ao rio, não foi difícil o a usar para criar a sua própria ‘winearella’ e ilustrar o Porto feito
enoturismo da Pacheca rapidamente chegar aos ouvidos dos quatro anteriormente.
cantos do mundo! O chá é servido às cinco, no Terroir Bar, onde scones são harmo-
A última grande mudança aconteceu em 2012, com a aquisição da nizados com a infusão Pacheca Nature, composta por diversas ervas
quinta por parte de Maria do Céu Gonçalves - proprietária e CEO do aromáticas locais. Este momento serve de preparação para o “Five
grupo Terras & Terroir. Transmontana de gema e com um enorme States of Tranquility”, um programa de 90 minutos no Vineyard
amor à sua terra, mas foi cedo viver para França onde cresceu e Spa, composto por cinco relaxantes tratamentos e produtos à base
fez carreira na área da grande distribuição. Vivida e viajada, viu na de uva.
Quinta da Pacheca um lugar muito especial e com grande potencial O dia termina com um jantar único, servido na sala privada da
enoturístico. Adega DOC, num menu de cinco pratos e cinco vinhos topo de gama,
Este ano, o The Wine House Hotel alcançou um marco impor- como o Quinta da Pacheca Vale Abrãao tinto ou o Porto Tawny 50
tante: a classificação de 5 estrelas. Foi mais um momento de con- Anos.
firmação que este lugar é reconhecido e acarinhado pelos seus hós- Depois de um dia tão cheio, o que apetece mesmo é ficar a dormir
pedes e visitantes. num dos 10 Wine Barrels, que são já uma das atrações mais pro-
Foi a pensar neles, e em todos que querem conhecer o Douro de curadas em todo o Douro! Além deste alojamento em forma de
forma mais genuína mas num curto espaço de tempo, que se dese- balseiro, localizados frente às vinhas, existem mais 40 quartos no
nhou a “Pacheca Flamour Experience”. Este programa pode ser edifício principal do hotel.
vivido num só dia ou repartido em dois, caso o visitante fique hos- Diz Sandra Dias – diretora do The Wine House Hotel – que este
pedado no hotel. programa “pretende dar a conhecer o Douro de forma mais genuína
A proposta inclui diversos momentos sendo o primeiro um pas- e ligada à terra. Mostrar ao visitante o trabalho que se tem desen-
seio de jipe por uma parte dos 51 hectares de vinhas, mais junto volvido na quinta a nível de sustentabilidade e de respeito pela natu-
ao rio. O jipe estaciona bem no meio do campo onde o chef Carlos reza. Permitir ao enoturista relaxar e absorver as boas energias do
Pires já tem as brasas acesas para fazer o almoço em chão de fogo, campo”. A “Pacheca Flamour Experience” está lançada e promete
incluindo pratos como enchidos assados, sopa de cebola no pote, dar a conhecer o Douro, como nunca o conhecemos.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 55


“Pacheca Flamour
Experience” junta o
charme e requinte da
Quinta da Pacheca aos
sabores, sons e cores
genuínas do Alto Douro
Vinhateiro.

CONTACTOS
QUINTA DA PACHECA
RUA DO RELÓGIO DO SOL, 261 CAMBRES
5100-424 LAMEGO
E:ENOTURISMO@QUINTADAPACHECA.COM
T.254 331 229

Maria do Céu Gonçalves e Sandra Dias


ENOTURISMO

COMO CHEGAR
Partindo do Porto
Î A Quinta da Pacheca fica a
cerca de hora e meia do Porto.
Î Saia da cidade pela A4 e siga
sempre na mesma estrada até
chegar a Vila Real.
Î Aqui, tome a A24 em direção
a Viseu e procure a saída 11 para
Régua/Sta M. Penaguião.
Î Continue na N2 até à quinta,
em Cambres.

Desde Lisboa
Î o percurso dura perto de
3 horas e meia.
Î Siga norte pela A1 até
encontrar a saída 13 em Santa
Comba Dão.
Î Aí entra no IP3 até Viseu.
Î De seguida, na A24, segue até
à saída 10 para Cambres.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 57


ENOTURISMO

SUGESTÕES EXTRA
LAMEGO
A poucos minutos de carro da Quinta da Pacheca,
Lamego é uma cidade que deve visitar. As ruas de
pedra em torno do Castelo de Lamego, contam a
história milenar da cidade, que remonta à ocupação
romana. São inúmeros os monumentos históricos,
de diferentes épocas, que preenchem esta cidade-
museu. Destaque para a imponente Sé Catedral, um
ícone que testemunhou séculos de evolução, assim
como o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios.

ESTRADA NACIONAL 222


Uma das melhores formas de conhecer o verdadeiro
Douro é percorrer a Estrada Nacional 222 (EN222).
Ao longo dos seus sinuosos 94 quilómetros, oferece
vistas deslumbrantes da região do Alto Douro
Vinhateiro, Património Mundial da UNESCO. Uma
viagem imperdível para os amantes da beleza
natural e do vinho.

PREÇOS EXPERIÊNCIAS
. PACHECA FLAMOUR EXPERIENCE: 600€ Alojamento clássico e Wine Barrels, dois
POR PESSOA SEM ALOJAMENTO restaurantes, Spa e ginásio, piscina exte-
. ALOJAMENTO: A PARTIR DE 289€ rior, provas de vinho, atelier de arte, salão
. WINE BARRELS: A PARTIR DE 442€
de eventos sociais, loja e estacionamento
para 100 carros.

58 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


corksupply.com

Trabalhamos dia e noite para encontrar soluções sem riscos para os nossos
clientes. E porque queremos que as nossas rolhas sejam completamente
indetetáveis, desenvolvemos o Circuito InnoCork® , um processo de extração de
TCA em duas fases. Resultado: rolhas naturais sem TCA e sem off-aromas.

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CIRCUITO
*Para mais informações, consulte o nosso website ou as fichas técnicas dos produtos.
Para ver e ouvir R E P O RTAG E M
texto e notas de prova Marc Barros / fotos Fabrice Demoulin

Vasco Rosa Santos e David Baverstock


EMOÇÃO E RAZÃO

A nova holding do grupo José de Mello para a área dos vinhos afirma o
propósito de aliar emoção e razão. À dimensão multirregional do projeto, que
teve início na Ravasqueira, junta a experiência do enólogo David Baverstock
com a irreverência de jovens enólogos nas diferentes propriedades do grupo.
O futuro parece risonho…
WINESTONE

Douro, Vinhos Verdes e Lisboa foram as regiões


contempladas, sendo que a holding reúne quintas e
marcas históricas como Krohn (adquirida à Fladgate
Partnership), Quinta do Côtto e Paço de Teixeiró e, em
Alenquer, Quinta de Pancas.

O ano transato ficou marcado por uma das grandes de metade do encepamento corresponde a vinhas velhas,
operações de concentração do setor nacional dos vinhos. num total de 17 hectares de vinhas.
A constituição da Winestone, holding do grupo José de Com esta aquisição, cujos primeiros contatos segui-
Mello – que intervém, entre outros, em atividades como ram-se a visitas exploratórias em 2017, Vasco confidencia
a saúde (hospitais CUF), infraestruturas e mobilidade que a empresa “saiu um pouco da zona de conforto”. Isto
(Brisa) ou indústria química (Bondalti), bem como a porque, como é sobejamente conhecido, a Krohn tem
Ravasqueira nos vinhos -, representou uma nova direção uma história ímpar na categoria dos Vinhos do Porto
e estratégia para este último setor. Colheita, para além dos Porto Ruby de categorias espe-
Como referiu Vasco Rosa Santos, enólogo com res- ciais, como Vintage e LBV, ou outros licorosos mais tra-
ponsabilidades na direção da empresa, a produção de dicionais, como o Lágrima. “Tivemos a possibilidade de
vinhos na Ravasqueira inicia o percurso em 1998 pela provar vinhos do Porto antes da aquisição e ficamos side-
mão de José Manuel de Mello, personalidade “com rados com a qualidade dos stocks (que também adqui-
grande paixão pelo vinho”, sendo que, em 2012 aposta riram) e ficamos com mais vontade de entrar para este
na renovação do projeto, que “junta a vontade de fazer projeto, tornando a marca Krohn mais visível – iniciando
os melhores vinhos do Alentejo” com a produção de o nosso percurso no Vinho do Porto e também de marcas
outros que vão de encontro ao consumo quotidiano. “É para vinho do Douro”, resume Vasco.
com esta visão que a empresa começa a crescer organi- Aliás, prossegue, “o Vinho do Porto veio como um
camente, seja em vendas e marcas” - e cresce também a bónus, pois a quinta tem todas as condições técnicas, de
vontade de ultrapassar as fronteiras do Alentejo, resume localização, com clima mais quente e vinhas velhas, dia-
Vasco. Esse passo seria dado, inevitavelmente, através da metralmente oposta à Quinta do Côtto”, resume. Assim,
aquisição de terra, bem como de outras soluções e parce- “temos a possibilidade de juntar dois projetos no Douro
rias. “Foram identificadas várias possibilidades, em que o bastante diferentes: Baixo Corgo e Douro Superior,
principal objetivo era adquirir não apenas propriedades, [onde] podemos fazer vinhos de diferentes níveis de con-
mas também marcas com reconhecimento e notorie- centração”. Fica portanto subentendido que, brevemente,
dade, sobre as quais fosse possível construir um projeto chegarão ao mercado vinhos do Douro oriundos da
vitivinícola de grande potencial”. Douro, Vinhos Verdes Quinta do Retiro Novo. “Temos grande ambição em cons-
e Lisboa foram as regiões contempladas, sendo que a truir marcas”, sendo que, neste caso, a intenção passa por
holding reúne quintas e marcas históricas como Krohn “criar uma história e uma envolvência. Queremos puxar
(adquirida à Fladgate Partnership), Quinta do Côtto e pela região, pelos viticultores locais, por Sarzedinho, pois
Paço de Teixeiró e, em Alenquer, Quinta de Pancas. é um tesouro que devemos acarinhar”.
A liderar a empresa, o CEO é Pedro Pereira Gonçalves. Por sua vez, o negócio que envolve a Quinta do Côtto
Na enologia, a equipa, guiada pelo experiente David – e, acessoriamente, Paço de Teixeiró – passa não pela
Baverstock, que já se havia juntado à equipa da aquisição das propriedades, mas a sua gestão e das
Ravasqueira, inclui (para além do já citado Vasco Rosa marcas. “Em relação ao Côtto, acreditamos ter grande
Santos), Mafalda Bahia Machado (responsável pela potencial”, dado tratar-se de uma “marca ligada ao canal
Quinta do Côtto e Paço de Teixeiró), Vasco Costa e Horeca nos vinhos de qualidade, com grande história na
Francisco Garcia (o primeiro na Quinta de Pancas e produção de vinhos tranquilos do Douro e que qualquer
o segundo como elemento de ligação entre as várias consumidor e conhecedor conhece. Quando visitamos
regiões) e, na Ravasqueira, Ana Filipa Pereira. pela primeira vez apaixonámo-nos pela quinta; o facto
Montada a equipa e escolhidos os ‘operacionais’, falta de estar no Baixo Corgo, um pouco subvalorizado, mas
conhecer os objetivos. “Começamos no Douro, a região de enorme futuro num clima que está a tornar-se cada
mais antiga de Portugal, com a marca Krohn e a Quinta vez mais quente”, será uma grande mais valia, acrescenta.
do Retiro Novo”. Localizada em Sarzedinho, Ervedosa do Nos Verdes, “situada muito próxima da transição com o
Douro, no vale do rio Torto, a Quinta do Retiro Novo Douro, mas muito marcada pela Serra do Marão, pelos
está praticamente toda ela voltada para norte e nascente, solos xistosos e pela forte presença da casta Avesso, o
permitindo beneficiar da amenidade que proporciona e Paço de Teixeiró oferece condições fantásticas para
das amplitudes térmicas entre as diferentes cotas. Cerca grandes brancos”.

62 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


WINESTONE

Numa fase posterior, seria anunciada a aquisição da E que perfil é esse? “Mais classe, menos madeira, mais
Quinta de Pancas. “É a cara de Lisboa, uma propriedade elegantes e frescos. Em alguns casos, trabalhar mais com
que data do século XV, tem uma marca que achávamos engaço, como no Vale do Torto, onde há maiores con-
adormecida e tinha até uma ligação familiar umbilical à centrações. Ainda estamos em fase de arranque, há ainda
família José de Mello. Alenquer nem é das sub-regiões muito por descobrir nestas quintas”. E se o Vinho do
com mais projetos, mas acreditamos que pode ter um Porto é, em certa medida, um velho conhecido de David,
potencial de desenvolvimento na exportação e no mer- já o Vinho Verde “é uma novidade, vou ter mais calma
cado nacional”. Vasco Rosa Santos esclarece que, ao con- e olhar para as primeiras vindimas. A grande vantagem
trário de Pancas, que vivia uma situação de certo aban- é termos connosco a Mafalda, que faz estes vinhos há
dono, todas as propriedades que se juntaram ao grupo algum tempo, por isso para já vou deixar tudo com ela”,
estavam cuidadas, com as vinhas bem tratadas. No seu ri.
conjunto, a Winestone granjeia mais de 170 hectares de Com efeito, Mafalda Bahia Machado havia contado
vinhas (45ha em Arraiolos com a Ravasqueira, 40ha em já passagens pelo Côtto e Teixeiró e, até, pela Fladgate
Cidadelhe no Côtto, 17ha em Sarzedinho com a Quinta Partnership. Em certa medida, o regresso a estas casas
do Retiro Novo, 10ha em Teixeiró e, finalmente, 60ha em representa um porto seguro - para si e para a Winestone.
Alenquer com Pancas). Com estes investimentos, o grupo Ana Filipa Pereira entrou para a Ravasqueira em
José de Mello assume o objetivo de posicionar-se no top 2020, durante a pandemia, e demonstra um profundo
3 da liderança do setor em Portugal, como referiu na con- conhecimento da propriedade, referindo que as vinhas
ferência de imprensa de apresentação da holding. encontram-se numa zona geográfica de vale, a norte do
Alentejo, com solos pobres e muita percentagem de areia,
A alma e a rocha o que marca o perfil dos vinhos – bem como a presença
da casta Touriga Franca, pela qual mostra grande paixão.
A escolha da designação que presidirá à holding - Vasco Costa é responsável pela enologia na região de
Winestone – mostra ainda um significado particular, nota Lisboa, sendo do grupo o mais experiente – aparte de
Vasco Rosa Santos. “À palavra ‘wine’ corresponde a parte Baverstock -, com passagens por Vale d’Algares, Ségur
irracional, de paixão, que existe no mundo do vinho” – a Estates e Casa Santos Lima, onde esteve 11 anos, antes de
alma, dizemos nós; “mas não podemos esquecer a com- se juntar à Winestone. Por seu turno, Francisco Garcia é
ponente atenta ao negócio, que traz as pessoas de volta à o ‘flying winemaker’ da casa, como brincam os restantes,
terra e corresponde a estratégia da empresa para crescer, enólogo que faz a ligação entre as diferentes regiões e
com sustentabilidade e futuro longo “– a ‘stone’ que tudo quintas.
alicerça, resume. A prova dos vinhos das diferentes casas, que foram
Ora, essa visão parece consubstanciar-se na equipa já elaborados com supervisão Winestone, como nos
encarregue do projeto nas suas diversas facetas: um garantiu Vasco Rosa Santos, mostra uma preocupação
grupo alargado de jovens enólogos, com a irreverência assinalável com a elegância e frescura dos diversos exem-
típica da idade, mas já com muito caminho percorrido. plares, mesmo nos casos, como nos brancos de Pancas,
David Baverstock, na sua condição de ‘chairman wine- em que a madeira assume parte importante da estra-
maker’ com imensa experiência, “traz muita calma, tégia de vinificação, ou no tinto de Cabernet Sauvignon,
essencial para temperar a juventude”, assinala Vasco. em que a pirazina fica para segundo plano, deixando a
O próprio ‘austroluso’ confirma-o: “O meu trabalho fruta brilhar; Côtto parece regressar numa forma exce-
aqui é desafiar esta equipa de jovens enólogos, provocar, cional e a criação de um novo patamar na gama com o
estimular, para fazerem coisas diferentes, procurando Reserva, que ocupará o espaço entre o vinho base e o
orientá-los no sentido que considero o mais correto”. Vinha do Dote, vem preencher um vazio, comercial e não
Esta nova aventura representa a terceira incursão de só, que faz sentido; a estrutura, textura e mineralidade
David Baverstock ao Douro (se excluirmos os primeiros do Avesso de Teixeiró são ímpares; e o desempenho da
trabalhos de consultoria a solo), primeiro na década de Touriga Franca a solo ou no lote com Syrah do Vinha das
90, com a Quinta do Crasto, de 2008 até 2015 com a Romãs da Ravasqueira dão razão à enóloga Ana Filipa
Quinta dos Murças e, agora, com a Winestone. E aper- Pereira. E, enquanto aguardamos pelas novidades da
cebe-se de algumas nuances: “Tenho sentido certa ten- Quinta do Retiro Novo e no segmento do enoturismo,
dência para os vinhos do Douro, pelo menos os de topo, deliciamo-nos com os Colheita da casa. Emoção e razão,
aproximarem-se, muito parecidos em grande parte. Estou num projeto bem dimensionado para atingir os mercados
por isso com grande expetativa de trabalhar na Quinta do externos, mas sem descurar o mercado nacional.
Côtto, de cujo perfil sempre fui apreciador, mesmo nos
primeiros anos. Por isso creio que viémos na altura certa, WINESTONE
para fazer um vinho de topo que foge ao perfil médio RUA S. CAETANO À LAPA, 6 BLOCO C, PISO 1
dos vinhos do Douro, vinhos que quero mais afinados e 1200-829 LISBOA
polidos, mas com estrutura de taninos que lhes permita T.218 736 207
envelhecer e evoluir. E. INFO@WINESTONE.COM

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 65


WINESTONE

A Winestone granjeia mais de 170 hectares de vinhas: 45ha em Arraiolos


com a Ravasqueira, 40ha em Cidadelhe na Quinta do Côtto, 17ha em
Sarzedinho com a Quinta do Retiro Novo, 10ha em Teixeiró e, finalmente,
60ha em Alenquer com Pancas. O grupo José de Mello assume o objetivo
de posicionar-se no top 3 da liderança do setor em Portugal.
Vasco Rosa Santos, David Baverstock, Mafalda Bahia
Machado, Ana Filipa Pereira, Vasco Costa e Francisco Garcia
WINESTONE

92 89 87
Quinta do Côtto Grande Krohn LBV 2017 Quinta de Pancas
Escolha 2020 Vinho do Porto / Fortificado / Chardonnay Reserva 2019
Douro / Tinto / Quinta do Côtto Quinta and Vineyard Bottlers Regional Lisboa / Branco / Quinta
Vinhos Unipessoal Filho de ano quente – classificado de Pancas Unipessoal
Lote de vinha velha e Touriga clássico para Vintage -, mostra Amarelo dourado, laivo esverdeado.
Nacional em barrica nova e usada. pureza de fruta assinalável, a par de O nariz faz antever o corpo, fruta
Vinho de ano quente, que preserva algumas notas de geleia, tostados e madura, notas de banana, melão.
elegância notável, apesar da maior café, bem como notas de herbáceo Belíssimo volume de boca, alguma
concentração face ao usual. Aromas seco. Corpo médio, tanino já bem doçura, bem equilibrada pela acidez
limpos de fruta, mentol. A madeira polido e amigável, com fruta preta e moderada, linear, horizontal. Final
mostra-se mais presente na boca, especiaria no aroma de boca. Final de longo, saboroso.
acidez viva, estrutura tânica firme, comprimento impressivo. Consumo: 2024-2034
sem ser secante ou verde, de enorme Consumo: 2024-2029 15,00€ / 11ºC
qualidade. Longo no fim de boca, ao 18,00€ / 16ºC
qual regressa o aroma mentolado. —
Evoluirá com distinção.
Consumo: 2024-2034
65,00€ / 16ºC
89
Quinta de Pancas

Arinto Reserva 2021
92 Regional Lisboa / Branco / Quinta Localizada em
Quinta de Pancas Cabernet
de Pancas Unipessoal Sarzedinho, Ervedosa
Dourado, brilhante. No ataque
Sauvignon Special expressa aromas de baunilha, seguido do Douro, no vale do
Selection 2019 de citrinos maduros. Nuance mineral, rio Torto, a Quinta
Regional Lisboa / Tinto / Quinta giz, nota mentolada. Bom volume,
de Pancas Vinhos seco, acidez crescente, a madeira do Retiro Novo está
enforma a estrutura. Gordo sem ser
Tom rubi vivo, brilhante. Perfil maduro
cheio, equilibrado.
praticamente toda
sem ser concentrado. Fruta vibrante,
fresca e leve, sugestão de pimento Consumo: 2024-2030 ela voltada para
15,00€ / 11ºC
e grafite. Equilibrado na boca, seco, norte e nascente,
corpo médio, tanino granulado, que —
agarra a gengiva. Acidez crescente, permitindo beneficiar
salivante, que limpa o palato e deixa
rasto especiado.
88 da amenidade que
Ravasqueira Touriga
Consumo: 2024-2034 proporciona e das
30,00€ / 16ºC
Franca 2019
Regional Alentejano / Tinto /
amplitudes térmicas

Ravasqueira Vinhos entre as diferentes
90 Cor densa. Mostra um lado
pronunciado de fruto de bosque cotas. Cerca de metade
Quinta do Côtto fresco, apesar da concentração do encepamento
Reserva 2019 evidente. Madeira ainda notória
Douro / Tinto / Quinta do Côtto nos aromas de coco e baunilha. corresponde a vinhas
Herbáceo. Seco, bom volume de
Vinhos Unipessoal
boca, estrutura e tanino maduro. Final
velhas, num total de 17
Doze meses em barrica nova e
usada. Rubi brilhante. O nariz é em
prolongado, harmonioso, com sabor hectares de vinhas.
especiado levemente picante.
simultâneo aromático e delicado, com
notas de frutos do bosque, cereja, Consumo: 2024-2030
herbáceo. Ligeiro apontamento de 15,00€ / 16ºC
verniz. Os aromas de madeira surgem
já bem integrados. Seco, tanino de
qualidade, acidez vibrante, ampla.
Especiado, final prolongado.
Consumo: 2024-2034
17,00€ / 16ºC

68 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


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CONHEÇA OS
NOVOS VINHOS
MONOCASTA DE
SANTA VITÓRIA
Seja responsável. Beba com moderação

@VINHOS.SANTA.VITORIA
Para ver e ouvir R E P O RTAG E M
texto Marc Barros / fotos Daniel Luciano

GALIZA
O ENCANTO DA RIA, DA MONTANHA E DA HERANÇA CULTURAL

Quanto melhor conhecemos a Galiza, mais confirmamos que aquela região


ao norte de Portugal é diferente do resto do país. Não é só a língua própria, a
tradição cultural, o mar e a montanha, as gentes, a gastronomia e os vinhos.
A Galiza tem qualquer coisa de único e especial, que nos leva por caminhos
religiosos, rotas históricas, adegas e vinhas com castas antigas e, claro, pela
oferta gastronómica ímpar, baseada em pura matéria-prima, na mais rica
narrativa e na técnica apurada. A Revista de Vinhos fez um pequeno roteiro
por aquela região, tendo como pretexto a descoberta de dois projetos que
incluem a rede Relais & Châteaux.

70 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


PEPE VIEIRA,
O CHEF ROCK’N’ROLL
GALIZA

No Camiño da Serpe (Caminho da Serpente), em


Raxó, Pontevedra, próximo do mar, fica o restaurante
duplamente estrelado (a que se junta a estrela verde do
mesmo guia) que ostenta o nome Pepe Vieira, o qual
conta ainda, desde março último, com alojamento.

Desde dezembro último, temos mais possibilidades de vis- porque o rock’n’roll está presente durante toda a refeição,
lumbrar o chef Pepe Vieira a percorrer as estradas da pro- com os decibéis ajustados ao longo do dia – e da noite -,
víncia de Pontevedra, na Galiza, aos comandos da sua Ducati criando uma envolvência que interage com cada prato, cada
Monster. Isto porque, no último mês do ano transato, abriu no elemento, cada história que é contada. Também a própria sala,
centro da capital provincial as portas de mais um restaurante que tem o betão como elemento físico primordial, as amplas
– o quarto – do grupo que lidera. Apelidado Varela, em home- janelas que convidam a espraiar o horizonte, o convite para
nagem à histórica drogaria da família com o mesmo nome, visitar a cozinha e presenciar a confeção de alguns dos pratos
o espaço aposta no fogo, brasa e churrasco como elemento do menu, sem esquecer a afinação do serviço de sala e de
central da proposta gastronómica. Este restaurante não vinhos, tudo isto contribui para uma experiência que, se por
implica o encerramento do Ultramar, o terceiro restaurante vezes nos desinquieta e consegue ser assertiva e até exigente
de Pepe Vieira, inaugurado em 2015, também em Pontevedra. para com a nossa capacidade sensorial, é atravessada por uma
No Camiño da Serpe (Caminho da Serpente), em Raxó, sensação de conforto, não apenas hedónico…
Pontevedra, próximo do mar, fica o restaurante duplamente Não podemos, porém, dissociar tudo isto do percurso de
estrelado (a que se junta a estrela verde do mesmo guia) que Xosé Cannas (assumiu o nome Pepe Vieira como homenagem
ostenta o seu nome, o qual conta ainda, desde março último, ao avô) por França, Escócia, América do Norte, Noruega,
com alojamento. Japão ou China, num conjunto de experiências e saberes que
Aqui, pudemos conhecer o que Pepe Vieira designou como desaguaram, antes de tudo, no primeiro restaurante em nome
‘A Última Cozinha do Mundo’. Através desta, percorremos um próprio, localizado na vila balnear de San Xenxo, inaugurado
pouco da história da Galiza e a ligação à herança culinária e em 2001; nem da fundação do célebre Grupo dos Nove, que
gastronómica regional. O percurso que os menus preparados tanta importância teve no desenvolvimento e internacionali-
no restaurante que leva o seu nome procuram oferecer faz-se zação da gastronomia galega.
através de elementos visuais, olfativos e de sabor. No decurso Para a elaboração do menu, foram tidos em conta vários
do mesmo, são postos em evidência alimentos esquecidos, são elementos agregadores: desde logo, a investigação antropoló-
reinterpretadas receitas e pratos tradicionais, muitos destes gica, com a (re)descoberta dos produtos antigos. Entre estes,
através de técnicas culinárias criadas pelos ancestrais, con- o milho miúdo, a farinha de bolota ou de castanha, entretanto
vertendo a gastronomia que cria numa narrativa baseada no substituída pela batata. Em paralelo, a recuperação de téc-
património imaterial galego. nicas de culinária, desde logo o sal enquanto conservante ou
Os diversos menus, como ‘O Señor de Andrade’, ‘A Santa a preparação de alimentos em folha de figueira ou de vide.
Election’ ou ‘Romasanta’, têm como base os levantamentos Finalmente, “a construção da proposta e do discurso, que
históricos, etnográficos e antropológicos feitos em parceria envolve o imaterial e a paisagem”, pois, como referiu Rafael
com historiadores, cientistas e antropólogos, como Rafael Quíntia, “há pratos que contam uma história”. Essa narrativa
Quíntia. Veja-se o senhor de Andrade, um dos mais impor- envolve mesmo o trabalho com oleiros e artesãos locais.
tantes nobres galegos da Idade Média, cujo símbolo heráldico Durante o percurso pela montanha, o académico relata os
era um porco, animal totémico na Galiza. diferentes aspetos daquelas vivências. “Este local sempre foi
Foi com aquele académico que percorremos a rota dos moi- trabalhado, há socalcos e estruturas ainda visíveis”. Na parte
nhos da paroquia de Samieira, ao longo da qual foi possível alta do monte “estavam os cavalos bravos”, que deu origem
apurar “a importância da paisagem e do local para a proposta à Rapa das Bestas. O prato homónimo replica “a tradição
gastronómica”, como referiu. No fundo, “cultura, tradição, ancestral de marcar o gado selvagem com ferro quente”. Ou
história e identidade como aspectos diferenciadores”, que se o Montonico, doce típico dos pastores de Ourense, “que era
mesclam com a alta gastronomia e a técnica culinária de Pepe uma bomba calórica que lhes permitia aguentarem semanas
Vieira. Como estamos na Galiza, o mar, o peixe e mariscos são no monte”.
produtos centrais, mas a montanha e a agricultura tradicional A visita à aldeia histórica de Combarro, junto ao mar, é pre-
acrescentam valor (gastronómico mas também cultural) à texto para conhecer a espantosa coleção de espigueiros em
oferta. pedra e aprofundar a ligação da Galiza ao mar e aos seus pro-
Para além destes elementos tradicionais, há um outro a ter dutos, muitos dos quais oriundos das famosas bateas, plata-
em conta: a personalidade do chef. E esta, claro, tem muito formas suspensas sobre as águas das rias, ideais para a cultura
peso no que surge ante os nossos olhos – e ouvidos. Isto de moluscos, como mexilhão ou vieira.

72 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


GALIZA

Os diversos menus, como ‘O Señor de Andrade’, ‘A Santa


Election’ ou ‘Romasanta’, têm como base os levantamentos
históricos, etnográficos e antropológicos feitos em parceria com
historiadores, cientistas e antropólogos, como Rafael Quíntia.

Ficam alguns exemplos provados do menu Romasanta: oferta que ultrapassa cerca de 450 referências e conta com
Minifúndio, com sete produtos retirados da horta do restau- um fio condutor, ou seja, o percurso dos diferentes Caminhos
rante, exemplifica a tradição galega (e do norte de Portugal) de Santiago, que engloba 50 vinhos portugueses de regiões
de atomização da propriedade; Carapau fumado sobre parra atravessadas por esta famosa rota.
com sal e casca de citrinos; Chula de massa fofa a partir de Na cave do restaurante (cuja visita recomendamos)
milho miúdo; Vieira; Ameijoa; Nécora, ou navalheira; O Rei podemos ainda conhecer a paixão motard do chef, que
dos Xíbaros - conta a história de Ildefonso Graña Cortizo, nos confidencia, para além da já aludida Ducati, ser o feliz
emigrante galego que no séc. XIX que, depois de passar por possuidor de duas motos enduro, das marcas Yamaha e
Brasil e Perú, acabou como rei das tribos Jíbara, Aguaruna e Husqvarna, de cilindrada 250 c.c., com as quais percorre os
Huambisa na bacia amazónica do Nieva e Santiago do Alto montes em redor de Pontevedra. “Não há terapia melhor”,
Maranhão, sob o nome Alfonso I da Amazónia -, que mescla conta. “Quando estou por aqui a teimar, são os próprios cola-
elementos dos dois continentes, como a cauda da lagosta frita boradores quem me dizem para ir dar uma volta de moto”, ri.
numa tempura de farinha de arroz, pimentos padrón, coco, Há pouco menos de um ano, o chefe optou por implementar
chili e redução de estufado Jivaroano; a um outro prato que uma nova área de negócio, com a oferta de alojamento. A uni-
nos leva ao imaginário galego, desta feita vínico, apelidou dade, integrada na rede Relais & Châteaux, é composta por 14
Madre del Viño, que nos remete para as borras do vinho, quartos em estruturas amovíveis de cimento, dispersas pela
reaproveitando , no espírito da chamada economia circular, propriedade. Orientadas para a ria de Pontevedra e as locali-
o que é considerado um sobrante da vinificação para uma dades de Marín e Bueu, permitindo a plenitude paisagística,
criação gastronómica com lagosta e uma infusão de pérolas destacam-se pela simplicidade de concepção – mesmo que
de tapioca; As Salinas, que traz aos nossos dias a tradição incluam um jardim interior… - sem, no entanto, deixar de ofe-
romana das salinas da comarca de O Salnès; o Jardim do recer todo o conforto.
Caminho da Serpente; as Carpideiras de Cangas; a Caldeirada No dia seguinte, pela manhã, há igualmente oportunidade
de Peixe; e, nas sobremesas, o já referido Montonico, com- de provar um pequeno-almoço que, por si só, vale como mini-
posto por merengue, leite de cabra fermentado, mel de cas- -menu desgustação. Este inclui uma seleção variada de pães,
tanheiro e pólen, num prato que reinterpreta as sobremesas elaborados a partir de espécies de cereais produzidos local-
tradicionais dos pastores das montanhas de Vilariño de mente, como o trigo Caaveiro, manteigas, compotas, méis e
Conso, em Ourense. marmeladas variadas, entre outras iguarias. A música, inicial-
Os vinhos galegos são parte determinante desta viagem mente em toada mais branda, vai aumentando de volume e
gastronómica, sempre em versão bio, onde se incluem exem- intensidade, como que a ditar o ritmo do dia – ou não fosse
plares elaborados com a quase omnipresente Albariño das Pepe Vieira um chef rock’n’roll.
Rias Baixas, mas também outros de castas mais raras, entre
as quais Brancellao (o nosso Alvarelhão), Caiño (nas versões PEPE VIEIRA RESTAURANT & HOTEL RELAIS & CHÂTEAUX
branco ou tinto) ou Castañal. Pormenor curioso, com o qual CAMIÑO DA SERPE S/N
as entidades certificadoras nacionais poderiam aprender: RAXÓ, POIO – PONTEVEDRA
muitos destes vinhos ostentam no contrarrótulo o selo “Casta T.+ 34 986 741 378
Antiga” ou “Casta Histórica”. É a vimaranense Diana Peixoto E. RESERVAS@PEPEVIEIRA.COM
quem lidera a carta e a adega do restaurante, que guarda uma VALOR DA EXPERIÊNCIA, COM UMA NOITE DE ALOJAMENTO, MENU GASTRONÓMICO
E HARMONIZAÇÃO DE VINHOS: 687,50€.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 75


D. Maria Luísa Garcia Gil com a filha Luísa

QUINTA DA AUGA,
A ESSÊNCIA DO SAR
GALIZA

A madrilena Maria Luísa Garcia Gil, arquiteta de


formação e galega de paixão, conheceu o edifício
há cerca de 40 anos, quando foi chamada pela
autarquia local para fazer a peritagem necessária
para a posterior reconversão. Logo se enamorou
pela quinta de um hectare, observando o potencial
turístico e hoteleiro do mesmo.

Antes de desaguar no Ulla, o segundo rio mais Depois de vários avanços e recuos, a missão seguinte
extenso da Galiza depois do Minho e que, tal como este, foi convencer o marido, José Ramón Lorenzo, promotor
termina no Atlântico, o Sar percorre 37 quilómetros na imobiliário no segmento residencial de luxo, a embarcar
comarca de Santiago de Compostela. No final do seu na aventura. Pela jovialidade e alegria que D. Luísa
périplo, desenha uma confluência sob a forma de ilha ostenta do cimo dos seus 74 anos, não deverá ter sido
onde está localizado o município de Padrón (onde, no tarefa difícil… Adquiriram a propriedade em 2003. Os
século XVI ou início do século XVII, missionários do trabalhos de reabilitação e ampliação duraram seis anos:
convento franciscano de Herbón plantaram pimentos “Foram anos de muito trabalho, muita preocupação e
- Capsicum annuum – hoje designados como Padrón, muito dinheiro [investido]”, recorda. A abertura deu-se
que deram origem ao ditado popular galego: «Coma os em 2009 e a unidade integra a rede Relais & Château em
pementos de Padrón: uns pican e outros non»). 2011. A filha de ambos, também Luísa, com uma carreira
Junto ao Sar, nas proximidades de Santiago de em gestão que a levou a países como Holanda e Brasil,
Compostela, ergue-se um edifício do séc. XVIII, inte- juntou-se-lhes no projeto e é hoje diretora do hotel.
gralmente construído em granito, de uso industrial. “Quisemos fazer um hotel diferente dos muitos outros
Construído em 1792 por ordem de Don Nicolas de que existiam em Santiago, uma casa em que os hóspedes
Santamarina como fábrica de papel, uma das mais se sintam acolhidos e confortáveis”, sublinha. A recon-
importantes indústrias galegas, beneficiava da enorme versão teve em conta a orientação original do imóvel,
capacidade de produção de matéria verde por hectare dado o uso industrial do edifício, bem como a presença
da região e que motivou até, em tempos idos, a plan- constante de água, seja no rio que forma o entorno da
tação de vastas áreas de bambu, espécie com rendi- propriedade, seja nas abundantes fontes e carreiros e,
mentos duas a três vezes superiores ao pinheiro e euca- até, subterrânea. “Pareceu-nos lógico abraçar o tema
lipto, hoje considerada invasora. da água para a quinta e o hotel e desenvolver um spa
Posteriormente, serviu como fábrica têxtil, serração que, não sendo muito grande, seja prático, com todos os
e, já na primeira metade do séc. XX, cervejaria e fábrica serviços associados capazes de agradar a quem procura
de gelo. A localização, junto ao rio, permite beneficiar saúde”. O spa inclui, para além de tratamentos ayurvé-
da energia da água como força motriz. A família então dicos, um ‘flotário’, ou flutuador, que emula as condi-
proprietária, que não tinha herdeiros, mudou-se para a ções de flutuação existentes no Mar Morto.
Corunha e o edifício conheceu um período de abandono Luísa assegura que as correntes de água subterrâneas
e degradação. formam uma “rede telúrica”, gerada pelo “magnetismo
A madrilena Maria Luísa Garcia Gil, arquiteta de propiciado pelo movimento das águas”. A água está
formação e galega de paixão, conheceu o edifício há presente em todo o lado, desde os canais em granito, a
cerca de 40 anos, quando foi chamada pela autarquia cascata que fazia movimentar o moinho para trabalhar
local para fazer a peritagem necessária para a poste- a pasta de papel e mesmo o rio, compondo uma sonori-
rior reconversão. Logo se enamorou pela quinta de dade, ao mesmo tempo, vibrante e tranquila.
um hectare, pelo entorno bucólico e vegetação luxu- Os jardins cuidados que rodeiam a unidade, incluindo
riante, observando o potencial turístico e hoteleiro do recantos temáticos, que não esquecem o papel do bambu
mesmo – desde logo, o facto de se encontrar a meros na história industrial da Galiza, convidam ao passeio e
dois quilómetros de distância do centro de Santiago de meditação. Há mesmo um espaço para a recuperação e
Compostela. propagação de plantas autóctones da Galiza e, para os
mais afoitos, é possível aceder ao rio Sar pelo hotel.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 77


GALIZA

Junto ao Sar, nas proximidades


de Santiago de Compostela,
ergue-se um edifício do séc.
XVIII, integralmente construído
em granito, de uso industrial.
Construído em 1792 por ordem
de Don Nicolas de Santamarina
como fábrica de papel, beneficiava
da enorme capacidade de
produção de matéria verde por
hectare da região.

Este conta com 48 quartos, incluindo cinco designados


Alma, que representam a essência do hotel e destacam ele-
mentos como a localização, as funções industriais do edifício,
as vistas privilegiadas, entre outras valências diferenciadoras.
A decoração privilegia temas que remetem para o passado
familiar dos proprietários e incluem móveis da antiga fábrica,
mesclados com elementos modernos. A unidade dispõe ainda
de cinco salas para eventos, com capacidade para receber
desde 20 a 200 pessoas.
Outra das particularidades desta Quinta da Água é o facto
de tratar-se do primeiro eco-hotel da região, pelo que a sus-
tentabilidade e as questões ambientais estão no centro das
preocupações: não existe ar condicionado, antes um sistema
geotérmico de micro-geração de energia, complementado
com painéis solares, que abastece os pisos radiantes.
O restaurante Filigrana é outra valência a destacar na
Quinta da Auga. Liderado pelo chef Federico Lopez Arcay,
tão discreto quanto competente, criou-se uma proposta gas-
tronómica em que a contemporaneidade técnica casa com a
presença dos produtos frescos e da oferta vínica assente nos
vinhos da região. Aqui, é possível desfrutar de vários menus
gastronómicos, com preços entre 50 e 250 euros, ou refeições
à carta, cujos valores podem oscilar entre 50 e 100 euros. No
confortável bistrot do hotel, as propostas da carta têm preços
médios entre 18 e 45 euros. É possível ainda realizar provas
de vinhos da Galiza.
No capítulo da responsabilidade social, para além do
padrão imposto pelas regras ambientais e de sustentabilidade,
há ainda outras preocupações: desde logo, o recurso ao arte-
sanato local para a elaboração de peças únicas ou o suporte a
entidades que apoiam pessoas com enfermidades raras.
D. Maria Luísa e a filha Luísa são a alma do hotel. Foram
até reconhecidas em 2017 ‘Mulheres do Ano’ pela Relais &
Châteaux. Mas a essência, essa, vem da água.

HOTEL SPA QUINTA DA AUGA RELAIS & CHÂTEAUX


PASEO DA AMAIA, 23B
15706 SANTIAGO DE COMPOSTELA
T. +34 981 534 636
E. RESERVAS@AQUINTADAAUGA.COM
PREÇOS MÉDIOS / QUARTO POR NOITE: 250 A 1200€ ÉPOCA BAIXA
500 A 2300€ ÉPOCA ALTA.

78 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024


GALIZA

A rota dos ‘furanchos’


da Galiza

Da clandestinidade ao ‘hype’, os
chamados ‘furanchos’ constituem uma
curiosidade etnográfica da Galiza,
cuja prática remonta a, pelo menos,
três séculos. Um ‘furancho’ é uma
casa de habitação familiar em que
o vinho do ano excedente obtido a
partir de vinhas próprias é servido a
acompanhar tapas ou até pratos mais
elaborados, sempre de raiz tradicional,
com os produtos frescos da região.
Atualmente, existe uma época oficial
dos furanchos, que corresponde aos
Federico Lopez Arcay meses de primavera e verão, entre abril
a outubro. Porém, em certas zonas,
como Pontevedra, a temporada abre
a 1 de dezembro e prolonga-se até 30
de junho - podendo em certos casos
estender-se até 31 de julho.
Na sua maioria, encontram-
se sobretudo nas Rías Baixas,
nomeadamente no Salnés (Sanxenxo,
Cambados, O Grove e Ribadumia) e O
Morrazo (Cangas, Moaña, Bueu, Aldán),
com pequenos focos em Bembibre,
nos arredores de Vigo. Estima-se que
existam cerca de 350 destes espaços,
dotados de grande informalidade,
muitos dos quais convertidos em
tabernas. Por essa razão, a seleção
prévia é recomendável.
Como características comuns, o facto
de serem de cariz familiar, as mesas
estarem dispostas exclusivamente
na área exterior da casa e os vinhos e
petiscos serem de produção local. Por
isso, a cada furancho corresponde o
próprio vinho, por regra vinificado na
cave ou garagem da casa. O Albariño
é rei (apesar de poderem ser provados
vinhos de outras castas tradicionais,
incluindo tintas) e à mesa sobrevêm
tortilhas, empanadas, enchidos,
queijos, croquetes, raxo, zorza,
pimentos padrón ou escabeches, entre
outras iguarias. Naqueles localizados
próximo da costa – e alguns em locais
deslumbrantes – é possível degustar
sardinhas assadas, lulas, chocos ou
mexilhões.
Em alguns locais, estes espaços são
ainda conhecidos como ‘louros’, dada
a prática ancestral de colocar um ramo
de loureiro por cima da entrada para
identificar o furancho. Hoje, essa busca
é mais fácil – basta aceder ao portal
defuranchos.com.
R E P O RTAG E M
texto e notas de prova José João Santos, Manuel Moreira e Marc Barros / fotos Ricardo Garrido e D.R.

¡o˜fȶɫ
A BELA
Com uma área de vinha de quase 60.000 hectares e uma história que
remonta a três milénios, quase que podemos afirmar que coabitam
várias Toscanas dentro de uma mesma região. Exploramos aqui três
dessas facetas, entre clássicos, vanguardistas e arrojados.

Poucas regiões no mundo despertam tantas emo- total). Nas brancas, encontramos principalmente
ções à simples menção do seu nome como a Toscana. Vermentino, Ansonica, Trebbiano Toscano, Malvasia
Por entre montes, colinas e vales, mais pertos ou Bianca Lunga e Vernaccia di San Gimignano.
mais distantes do mar, podemos afirmar que coe- A emblemática casta Sangiovese é também tem-
xistem várias regiões dentro de uma só região. Esse peramental, sensível ao local, de amadurecimento
facto, aliás, está patente nas 50 DOC e 19 DOCG que tardio e, por isso, suscetível aos caprichos climáticos
abrange. de zonas mais húmidas e frescas. Gera vinhos que se
Mas a história da produção de vinhos na Toscana mostram de intensidade cromática aberta a média,
começa há 3.000 anos, quando os etruscos se esta- com aromas de cereja ácida, ameixa, florais, acidez
beleceram na área, trazendo videiras e aprimorando alta e taninos que podem ser rudes e adstringentes.
a viticultura. É essa herança que marca a região, Mas a Toscana obteve reconhecimento interna-
com um sistema de condução tipicamente etrusco, cional a partir do final dos anos 60 e inícios da década
que podemos encontrar, por exemplo, na região dos de 70 do século passado com o fenómeno dos Super
Vinhos Verdes. Toscanos. A sua génese deu-se quando, em 1944,
O típico sistema de condução em ‘cordone spero- o Marchese Incisa della Rochetta resolve plantar
nato’ tem vindo a ser modernizado e adaptado, com castas internacionais (no caso Cabernet Sauvignon)
enfoque no Guyot, o que, segundo vários estudos, em terrenos pedregosos na sua propriedade de
parece estar a traduzir-se no aumento da incidência San Guido, em Bolgheri, a cerca de 10 kms. do mar
de doenças do lenho, como a esca. (onde à data predominavam pomares de pêssegos e
É na Toscana que encontramos a mais antiga região morango), procurando replicar o modelo do Médoc.
demarcada – Chianti –, cujo primeiro documento O primeiro Sassicaia emergiria no mercado com
notarial remonta a 1398, apesar de ter sido apenas no a colheita de 1968. O resto é, como se diz, história,
século XX que foram estabelecidos os regulamentos acompanhada de variedades como Merlot, Cabernet
que norteiam a produção de vinhos. Franc, Petit Verdot, Syrah e, claro, Sangiovese,
Hoje, a Toscana responde por uma produção que fazendo de Bolgheri a denominação mais excitante da
ronda 2,7 milhões de hL. (6% da produção total do Toscana, a par de Chianti Clássico, Montepulciano ou
país), em 58.000 ha. de vinhas. Nestas, predomina Montalcino.
a casta tinta Sangiovese, com 30% do total do ence- É um pouco desta diversidade e riqueza que aqui
pamento, o qual é formado em 80% por variedades trazemos, com três provas que atestam a tradição e
tintas e em que, para além da supracitada, residem herança toscanas mas, também, os novos ventos que
Canaiolo, Ciliegiolo, Colorino e Aleatico, para além das vão soprando na região, dos produtores Bibi Graetz,
castas internacionais que estão na origem dos Super Biondi-Santi e Gaja Ca’marcanda.
Toscanos (que contabilizam 20% do encepamento

Hoje, a Toscana responde por uma produção que ronda


2,7 milhões de hL. (6% da produção total do país), em
58.000 ha. de vinhas. Nestas, predomina a casta tinta
Sangiovese, com 30% do total do encepamento, o qual
é formado em 80% por variedades tintas.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 83


TOSCANA

Bibi Graetz
BALOCCHI, O ENCANTO DAS PARCELAS COM UVAS AUTÓCTONES.

Bibi Graetz, artista e filho de artistas, tornou-se produtor de


vinho toscano ao mesmo tempo que trazia uma combinação de
91
rebeldia e visão criativa para o mundo do vinho. Balocchi di Colore N°1 Colheita 2020
Licenciado em artes pela Academia dell'Arte de Florença, Toscana IGT / Tinto / Bibi Graetz Winery
Graetz iniciou a produção de vinho no final dos anos 90, após 100% Sangiovese, mais de 50 anos, vinha
ter de decidir sobre a renovação dos contratos de arrendamento Vincigliata. Granada, nariz intenso e rico no
das vinhas antigas que circundavam a sua casa no Castello de aroma a pequenos frutos vermelhos, romã,
Vincigliata, nas colinas de Fiesole, arredores de Florença. ruibarbo e eucalipto. Boca de estrutura graciosa
Sem formação na área, teve o apoio do enólogo Alberto de taninos de fino grão e uma acidez apetitosa.
Antonini e iniciou a produção de vinhos em 2000, usando Final ligeiramente salino. MM
variedades tintas locais como Sangiovese, Colorino e Canaiolo. Consumo: 2024-2035
Dois anos depois, amplia a gama com vinhos brancos das uvas 463,04€ / 16°C
Ansonica e Vermentino cultivadas na ilha de Giglio, situada na —
costa da Toscana.
Com mais de 50 pequenos vinhedos de vinhas antigas - a mais 91
vetusta conta 135 anos - espalhadas pela Toscana, reúne um total Balocchi di Colore N°3 Colheita 2020
de 30 hectares cultivados em modo biológico. Tem como topo de
Toscana IGT / Tinto / Bibi Graetz Winery
gama o vinho Testamatta, que significa “cabeça louca”, a alcunha
100% Colorino, mais de 50 anos, vinha Vincigliata.
dada a Graetz por aqueles que o conhecem. Para os seus vinhos Cor violeta, fruta vermelha generosa, groselha,
não segue qualquer regulamentação DOC ou DOCG, o que não cereja e mesmo ginja. Fumados, frutos secos e
diminui a sua notoriedade e dos seus vinhos. balsâmicos. Boca estruturada, acidez delicada,
Provamos a nova gama Balocchi (que significa “brinquedo) di taninos largos e suculentos, muito polimento.
Colore composta de três vinhos feitos com variedades autóctones Persistente. MM
- Canaiolo, Colorino e Sangiovese - selecionadas das parcelas Consumo: 2024-2035
numeradas mais antigas da histórica vinha Vincigliata e Olmo, a 463,04€ / 16°C
nova joia da coleção de vinhas de Bibi Graetz. Estas três parcelas —
são a base do vinho ícone da propriedade, o Colore. MM
89
BIBI GRAETZ
PIAZZA MINO, 37
Balocchi di Colore N°8 Colheita 2020
50014 FIESOLE (FI) Toscana IGT / Tinto / Bibi Graetz Winery
T.+39 055 597222 / +39 055 597289 100% Canaiolo com 25 a 50 anos na vinha Olmo.
E.AZIENDAAGRICOLABIBIGRAETZ@PEC.IT Cor moderada, aroma muito fresco, bergamota,
ervas frescas e morango silvestre. O paladar
elegante com frescura em destaque, taninos
finos e bem estruturados. Um subtil toque terroso
delicioso. MM
Consumo: 2024-2030
463,04€ / 16°C

84 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Licenciado em artes pela Academia dell'Arte
de Florença, Graetz iniciou a produção
de vinho no final dos anos 90, após ter de
decidir sobre a renovação dos contratos
de arrendamento das vinhas antigas
que circundavam a sua casa no Castello
de Vincigliata, nas colinas de Fiesole,
arredores de Florença.

Bibi Graetz
TOSCANA

Biondi-Santi
EQUILÍBRIO E LONGEVIDADE

É verdade que até aos anos 70 do século passado Biondi-Santi estava longe de 96
ter o protagonismo que atualmente possui, em Itália e no mundo, mas também é
Biondi-Santi Brunello di Montalcino 2009
verdade que a história da Toscana – e de Montalcino – não pode ser escrita sem
um capítulo dedicado ao produtor. Itália / Toscana (Montalcino) / Tinto / Jacopo
Foi em 1865 que tudo começou. Clemente Santi plantou a casta Sangiovese na Biondi Santi
propriedade Il Greppo, tendo desde logo estagiado o vinho em barrica. A cor gra- Granada translúcido. Notas de folhagem seca
nada cintilante levou-o a considerá-lo “brunello” e os elogios obtidos na Exposição e tintura de iodo, bosque, fumo e especiaria. O
tanino mostra-se preciso e elegante, a estrutura
Universal de Paris de 1867 motivaram-no a continuar. O neto, Ferruccio Biondi,
está alicerçada numa acidez que lhe aporta motor
elevou o patamar com o famoso clone BBS11 de Sangiovese, igualmente conhe-
nervoso, o final é profundo e persistente, mas sempre
cido por Grosso, tendo sido o primeiro a apelidar o vinho daí obtido de Brunello com sabores delicados. Um elogio a uma certa forma
di Montalcino. de interpretar o vinho.JJS
Ferruccio, aliás, foi absolutamente decisivo no historial deste vinho icónico. Consumo: 2024-2032 / 180,25 € / 16ºC
Aumentou a densidade das plantas e fez uma reorganização da vinha, por par- —
celas, que foi pioneira naquela geografia. Procurou extrair mais aromas e diminuir
os rendimentos das vinhas por hectare, adotou barricas eslovenas para estágio
dos vinhos – práticas ainda hoje mantidas.
95
As gerações seguintes preservaram o perfil de finura e de elegância de Biondi- Biondi-Santi Brunello di Montalcino 2017
Santi, recusando embarcar nas modas dos Super Tuscans – vinhos mais porten- Itália / Toscana (Montalcino) / Tinto / Jacopo
tosos, resultantes de maturações mais prolongadas, frequentemente a combinar Biondi Santi
a Sangionese com Cabernet Sauvignon e Merlot. De igual modo, as barricas de Granada. Notas de licor de cereja e alguma romã,
menor dimensão e de carvalho francês ou americano mantiveram-se fora dos folha de tabaco e especiaria delicada. Salgado,
planos. apresenta tanino de recorte finíssimo, muito boa
Em 2016, Jacopo Biondi Santi anunciou a entrada do EPI Group no negócio, acidez, de estrutura exata e um final projetado
em profundidade, com nuances especiadas e de
estando hoje o grupo francês de marcas luxo como detentor único (além de
charuto. Simultaneamente senhorial e elegante. JJS
Biondi-Santi possui as marcas de Champagne Charles Heisieck e Piper-Heidsiek,
Consumo: 2024-2040 / 155, 40 € / 16ºC
a operação californiana de vinhos Folio Fine Wine Partners, que chegou a estar

ligada à família Mondavi, e adquiriu ainda Isole e Olena, no Piemonte, à família
De Marchi).
A Revista de Vinhos acompanhou a recente vinda a Portugal de Giovanni Lai,
94
diretor de vendas para a Europa de Biondi-Santi, numa sessão de provas organi- Biondi-Santi Brunello di Montalcino 2011
zada pela distribuidora Luxury Drinks. Itália / Toscana (Montalcino) / Tinto / Jacopo
Lai garantiu que o clone BBS11 de Sangiovese, iniciado em 1917 na Universidade Biondi Santi
de Florença, será preservado a todo o custo, estando no caderno de encargos Granada. Notas de folha de tomate, salicórnia, carne
a tentativa de o melhorar para melhor fazer face às alterações climáticas que maturada e especiaria. A estrutura mostra-se muito
também têm afetado a Toscana (convém recordar que estão identificados mais de sólida, o volume surge esculpido pelo tempo, o
100 clones de Sangiovese). tanino continua bem vivaço e firme, sem qualquer
“A frescura do nosso estilo não é apenas da geografia”, insiste Giovanni Lai. sinal de cansaço. Não parece ter já bem mais de uma
“Frescura, taninos elegantes e enorme potencial de guarda são os predicados que década. JJS Consumo: 2024-2032 / 175,60 € / 16ºC
queremos manter nos nossos vinhos”, insiste, numa alusão à forma notável com —
que os Biondi-Santi atravessam o tempo.
Se de uma certa forma estiveram fora de moda, os ditames atuais parecem ser 92
ventos que sopram de feição. Ainda assim, cientes da importância de suavizar Biondi-Santi Rosso di Montalcino 2019
a Sangiovese, os Brunello e o Riserva conhecerão um ano extra de estágio em
Itália / Toscana (Montalcino) / Tinto / Jacopo
garrafa apesar da pressão do mercado (por exemplo, o último Riserva foi o 2016
Biondi Santi
e na história do produtor há somente 42 edições conhecidas, a primeira de 1888).
Rubi quase translúcido, rebordo granada. Notas de
A estratégia comercial está bem definida – “Estar nos melhores locais, nos
bosque e cereja vermelha, especiaria delicada e
melhores restaurantes do mundo”, acentua Lai. Um clássico, de elegância e pere- folha de tomate. Tanino polido e muito fino, acidez
nidade. JJS que lhe confere elegância, final elegante e delicado,
que perspetiva evolução tranquila. Uma aproximação
BIONDI-SANTI bem interessante para quem pretende entrar no
VILLA GREPPO, 183 / 53024 MONTALCINO - SIENA - ITÁLIA universo Montalcino. JJS Consumo: 2024-2034 /
E.BIONDISANTI@BIONDISANTI.IT / T.0577848023 68,40 € / 16º

86 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Franco Biondi Santi

Foi em 1865 que tudo começou. Clemente Santi


plantou a casta Sangiovese na propriedade Il Greppo,
tendo desde logo estagiado o vinho em barrica. A cor
granada cintilante levou-o a considerá-lo “brunello”
e os elogios obtidos na Exposição Universal de Paris
de 1867 motivaram-no a continuar.
TOSCANA

Ca’Marcanda
A TRADIÇÃO DA FAMÍLIA GAJA EM BOLGHERI

Em 1996, seguindo a progressão que a denominação Gaia, conduziu uma masterclass que incidiu sobretudo sobre
Bolgheri vinha adquirindo, na senda do sucesso dos Super os vinhos Camarcanda. Esta incluiu anos mais frescos, como
Toscanos (mas quando existiam aí apenas 10 produ- 2020, 2018 e 2007. No decurso da mesma, Giovanni referiu
tores), Angelo Gaja, eminente produtor italiano baseado no que “Bolgheri é a Califórnia de Itália”, com a presença do mar
Piemonte, planta 60 hectares de vinha numa localização pró- Tirreno a “conferir salinidade e sapidez aos vinhos”. Por outro
xima da estrada que liga Bolgheri a Castagneto Carducci, na lado, “as montanhas que rodeiam a região, os pinhais abun-
sua maioria Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot. dantes e as castas internacionais” formam um conjunto que
A propriedade de Alta Maremma, designada Ca’Marcanda origina vinhos “ricos em fruta, de aromas botânicos”.
(que significa, no dialeto piemontês, casa das negociações Dos solos mais ricos de terra clara, mais próximos da mon-
intermináveis, o que demonstra a dureza do processo nego- tanha, nascem os Camarcanda. O lote original juntava Merlot
cial que Angelo Gaja encetou), não foi a primeira aquisição da aos Cabernet; porém, esta casta caiu dos vinhos Camarcanda
família na Toscana. Com efeito, dois anos antes, Angelo havia e Magari, neste último substituída por Petit Verdot. Também
comprado, em Montalcino, a Chiesa di Santa Restituta, que aqui, a vinha foi seguindo paulatinamente o sistema Guyot,
renomeou Pieve Santa Restituta (Pieva significa igreja paro- que permite, segundo Giovanni, melhor adaptação às alte-
quial). Nesta, que reúne 35 hectares, procurou explorar as rações climáticas e, em simultâneo, combater doenças, ao
similitudes entre Barolo e Barbaresco, vinhos clássicos com permitir melhor circulação do ar entre cachos. Na adega, a
caráter distinto. Estes Brunello são elaborados com base na redução de carvalho novo e a vinificação em cubas de betão e
casta autóctone Sangiovese Grosso, tal como a Nebbiolo no carvalho usado reforça o caráter elegante dos vinhos, acres-
Piemonte. centam complexidade e textura.
“Trabalhar as vinhas de Ca’Marcanda é muito mais fácil Para além dos já referidos vinhos, desta propriedade saem
do que no Piemonte”, afirma Angelo Gaja. “As enconstas ainda os brancos Vistamare, das castas Viognier, Vermentino
íngremes de Langhe parecem-me uma dura lição escolar, o e, mais recentemente, Fiano, bem como os tintos Promis, ori-
lado sério da vida. A costa da Toscana são férias, tudo corre ginários da terre brune de Bolgheri e Bibbona, lote de Merlot,
facilmente!” Para mostrar este lado, Gaja lançou, com a Syrah e Sangiovese.
colheita 2000, a marca Magari, expressão italiana onde cabe A mais recente aventura da família Gaja é, desde 2016, o
quase tudo: talvez, se, no entanto, acredita… Este é um lote de projeto IDDA Belpasso, 26 hectares no Monte Etna, na Sicília,
Cabernet e Merlot, oriundo de solos franco-argilosos (terre em parceria com Alberto Graci.
brune), mais próximos do mar, que produz vinhos elegantes, Uma última palavra sobre os Camarcanda: o rótulo, tão
fáceis de beber desde novos. icónico quanto simples, representa a linha de horizonte
Já o vinho boutique Camarcanda surge com inspiração na daquele ‘boulevard’ Bolgheri que referimos no início do texto;
adega desenhada por Giovanni Bo, que trabalhou com Gaja a estrada e o céu, que levam ao mar; nas bermas, os ciprestes.
em Barbaresco. Estes vinhos nascem das vinhas plantadas em No fundo, uma linha de horizonte que nos conduz por uma
terre chiare, solos argilo-calcários, procurando obter vinhos Toscana muito própria. MB
com estrutura e volume, adequados para envelhecimento.
As vinhas da propriedade, todas em modo de produção bio- CA’MARCANDA
lógico (apesar de não constar qualquer referência ao mesmo LOC. SANTA TERESA, 272
nos rótulos), ascendem hoje a 120 hectares e incluem Syrah, 57022 CASTAGNETO CARDUCCI
Sangiovese e Petit Verdot, para além das brancas Viognier, BOLGHERI, LIVORNO, ITÁLIA
Vermentino e Fiano. T.+39 0565 763809
Giovanni Gaja, filho de Angelo e a quinta geração desta E. INFO@GAJA.COM
família de produtores, juntamente com as irmãs Rossana e

88 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


A propriedade de Alta Maremma,
designada Ca’Marcanda (que significa, no
dialeto piemontês, casa das negociações
intermináveis), não foi a primeira aquisição
da família na Toscana. Com efeito, dois
anos antes, Angelo havia comprado, em
Montalcino, a Chiesa di Santa Restituta.

Giovanni Gaja
TOSCANA

94 94
Camarcanda 2020 Camarcanda 2016
Bolgheri / Tinto / Gaja Bolgheri / Tinto / Gaja
Cabernet Sauvignon (80%) e Cabernet Franc. Rubi Rubi profundo, opaco. Aromas de pimento verde,
profundo. Aromas frescos, entre as notas de menta pimenta. Compotado, citrinos. Mina de lápis, flores
e pinhal. Algum fruto silvestre, óleo de citrinos. Boa secas. Seco e fresco, o tanino mostra-se polido, apesar
estrutura, acidez média e tanino seco, rugoso e de firme. Especiado, corpo médio, elegante. Final
granulado. Fruta compotada no aroma de boca. Final longo. Ainda irá evoluir, mas bebe-se já com imenso
seco de bom prolongamento, algo salino. MB prazer. MB
Consumo: 2024-2035 Consumo: 2024-2028
236,50€ /16ºC 297,50€ /16ºC
— —

92 95
Camarcanda 2019 Camarcanda 2007
Bolgheri / Tinto / Gaja Bolgheri / Tinto / Gaja
Rubi médio, laivo vermelho. Notas de verniz, flores Rubi ainda brilhante. Aromas discretos e verniz. Fruto
brancas. Aos aromas de fruta sucedem-se notas seco, bagas pretas, fruto cristalizado, geleia. Seco,
de chocolate, compota. Mina de lápis. Seco, tanino tanino polido, fino e elegante. Fruta no aroma de boca,
especiado, picante. Corpo médio, acidez equilibrada. ainda um toque de especiaria. Final longo, redondo,
Final longo, seco. MB num conjunto todo ele frescura e vivacidade. MB
Consumo: 2024-2035 Consumo: 2024-2033
221,20€ /16ºC 450,00€ /16ºC
— —

93 93
Camarcanda 2018 Camarcanda 2001
Bolgheri / Tinto / Gaja Bolgheri / Tinto / Gaja
Rubo brilhante. Muita fruta preta no aroma, herbáceo, A segunda colheita deste vinho. Tom rubi que
pinhal, resina. Aromas discretos de madeira, coco, impressiona, vivo e brilhante. Ligeiro laivo atijolado.
chocolate. Seco, tanino rugoso, firme. Corpo médio, Verniz, fruto pacificado, flores secas. Tanino suave,
acidez alta, especiaria / pimenta preta no fim de boca. seco e especiado. Bom volume e estrutura. Final
MB delicioso, prolongado, com aroma de liquorice. MB
Consumo: 2024-2033 Consumo: 2024-2026
251,70€ /16ºC 595,00€ /16ºC

As vinhas da propriedade, todas em modo de produção biológico


(apesar de não constar qualquer referência ao mesmo nos rótulos),
ascendem hoje a 120 hectares e incluem Syrah, Sangiovese e Petit
Verdot, para além das brancas Viognier, Vermentino e Fiano.

90 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


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Para ver e ouvir

GRANDES VINHOS DO MUNDO NO ESSÊNCIA DO VINHO - PORTO

BRILHO E DISTINÇÃO
G R A N D E S P R O VA S E V P O R T O

texto Marc Barros / notas de prova Alexandre Lalas, José João Santos, Manuel Moreira, Marcel Miwa, Marc Barros e Rodolfo Tristão / fotos Fabrice Demoulin

A cada ano, os grandes nomes do vinho nacional e mundial desfilam no Essência


do Vinho – Porto. Parece-nos, pois, da mais elementar justiça que esta parada de
estrelas possa ser partilhada por todos, mesmo os que não tiveram o privilégio de
marcar lugar nestas provas de sonho…

Dr. Loosen, Kopke, Mouchão, Penfolds, Raül Bobet ou Vega Sicilia. anos, e fruto do trabalho do Master Blender Carlos Alves e da equipa
Quem não gostaria de ter os vinhos destes produtores emblemáticos de viticultura, liderada por Márcio Nóbrega, a Kopke tem construído
nos seus copos e nas suas mesas? Durante os quatro dias do Essência uma sólida reputação nos Vinhos do Porto ruby de categoria superior,
do Vinho – Porto, estes foram alguns dos (muitos) grandes nomes nomeadamente os Porto Vintage. Aliás, é usual afirmar-se, no uni-
que marcaram a vigésima edição da principal experiência do vinho em verso destes licorosos, que a distinção entre as famílias tawny e ruby
Portugal. Talvez por isso, dado este número redondo e tão sintomático prende-se sobretudo com o facto de os primeiros serem uma cons-
do brilho que reúne anualmente o setor do vinho no Palácio da Bolsa, trução humana, um desenho de lotes destinados ao envelhecimento
a Revista de Vinhos decidiu levar até ao leitor uma pequena resenha em casco, ganhando nobreza por ação do tempo e da oxigenação dos
do que por lá se passou, com os principais vinhos destes nomes pro- vinhos (no caso dos Colheita, vinhos de um ano só), enquanto, por sua
vados, numa viagem sem fronteiras, entre Velho e Novo Mundo, do vez, os Vintage são dádivas da natureza, anos especiais em que tudo
Douro e Alentejo portugueses até à distante Austrália, com passagens se conjuga para a obtenção de vinhos perfeitos do ponto de vista sen-
pelo Mosel, Priorat, Ribera del Duero ou Rioja. sorial, estrutura, fruta e acidez, capazes de evoluir em garrafa durante
Comecemos pelo Mosel. Dr. Loosen é um dos mais icónicos pro- décadas.
dutores alemães, há mais de 200 anos nas mãos da mesma família, Curioso ou nem por isso, é o facto de, com o passar dos anos, ambas
tendo como porta-estandarte a casta Riesling. Hoje, e desde 1988, é o as categorias evoluírem para se apresentarem com elementos comuns
atual proprietário, Ernst Loosen, quem lidera os destinos deste pro- (desde logo no aspeto visual), de tal forma que vinhos com muitas
dutor e da propriedade, chamada St. Johannishof, a casa e adega da décadas podem chegar a ser indistintos. Nesta prova, estas categorias
família, situada nos arredores da vila turística de Bernkastel, a 110 km. especiais de Vinho do Porto, que têm em comum o facto de serem
de Frankfurt. datadas, foram postas frente a frente: Porto Tawny Colheita e Porto
O mais curioso é que, à data, Ernst Loosen não pretendia ser enó- Vintage dos anos 1987, 1999, 2004, 2012 e 2021. Descubra as dife-
logo nem ocupar-se desta herança familiar. O pai enviou-o em 1977 renças…
para Geisenheim com o objetivo de cursar enologia – algo que Ernst
cumpriu, não com muito afinco, como o próprio faz questão de relem-
brar – para, logo depois, estudar arqueologia, a sua verdadeira paixão, Berço de Alicante Bouschet
em Mainz. No entanto, após a morte do pai e correndo o risco de
ver todo este passado e património vendidos a terceiros, Ernst tomou Um pouco mais a sul, no Alentejo, Mouchão é uma marca que faz
em mãos as rédeas do projeto. Entre os seus tesouros, contam-se sonhar, grandes vinhos com um cunho muito particular – a casta
vinhas em pé franco com média de 60 anos (algumas com mais de Alicante Boushet. A variedade responde por 8.163ha (4% do ence-
120 anos), em alguns dos melhores terroirs da Alemanha, granjeadas pamento nacional) e, no Alentejo, 16% do encepamento, a segunda
sem recurso a fitofármacos de síntese, apertada qualidade na seleção casta da região. Trata-se de uma variedade tintureira – na opinião de
de uva e intervenção mínima na adega. muitos, a única em Portugal, em que a polpa tem cor, e não somente a
Em 1996, Ernst viria a adquirir a Villa Wolf, fundada em 1756 na película - que resulta do cruzamento de Petit Bouschet (esta mesmo o
região de Pfalz, a sul, uma das mais quentes da Alemanha. Ernst cruzamento das variedades Teinturier du Cher e Aramon) e Grenache.
Loosen projetou, recuperou e fez com que esta histórica proprie- No Alentejo e no Mouchão encontrou as condições ideais, produ-
dade retornasse à glória do passado. Também aqui, a sustentabilidade zindo vinhos sensorialmente impressionantes, com enorme concen-
e vinificação pouco interventiva, procuram exprimir o melhor do tração de fruta fresca, balsâmicos e grande capacidade de envelhe-
Riesling local, assim como as outras variedades tradicionais da região. cimento. Juntamente com Trincadeira e um pouco de Moreto nos
Entretanto, este produtor já chegou aos EUA, nomeadamente Oregon, vinhos mais antigos, formam o lote ideal dos vinhos Mouchão.
onde aposta na casta Pinot Noir, e até já tem um Riesling sem álcool… Hoje, o proprietário Iain Reynolds Richardson, o enólogo Hamilton
Reis e João Manuel Alabaça como adegueiro, formam o trio que asse-
gura a continuidade da herança da família Reynolds em Portugal, res-
Frente a frente, Portos Vintage e Colheita ponsáveis por uma propriedade com 900ha, dos quais 43ha de vinhas,
bem como 25 tonéis de 5.000 lts., 11 tonéis de 2.500 lts., 150.000
Da Alemanha ao Douro, a Kopke, reconhecida como a casa mais garrafas de produção média anual e, em simultâneo, guardiões de uma
antiga de Vinho do Porto, fundada em 1638, tem nos seus Vinhos do herança de vinificação que se mantém desde décadas.
Porto Colheita a principal imagem de marca. Contudo, nos últimos

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 93


G R A N D E S P R O VA S E V P O R T O

O velho Novo Mundo no entanto, descurar a abordagem científica de quem entende todos
os processos químicos e microbiológicos que estão na base da vini-
Praticamente nos nossos antípodas, o nome Penfolds carrega um ficação, permitindo optar apenas por intervenções essenciais e
peso histórico e de marca icónica que ultrapassa largamente o Oceano empregar técnicas ancestrais.
Índico que banha a Austrália natal. Apesar disso, e da conotação óbvia No caso de Castel d´Encus, projeto pessoal do enólogo fundado em
com o Novo Mundo, os vinhos deste produtor são capazes de esbater 2001 e cuja primeira colheita a chegar ao mercado foi a de 2008, é uti-
conceitos pré-definidos sobre o que é Velho e Novo Mundo, desde lizada energia geotérmica para reduzir custos energéticos e minorar o
logo as noções de terroir, vinhas velhas ou a arte do lote, tão caras à impacto ambiental. Nesta propriedade, subsistem nove lagares medie-
Velha Europa. Senão, vejamos – fundada em 1844 por Christopher vais escavados em pedra, gravitacionais, datados do século XII, que
e Mary Penfolds em Adelaide, no sul da Austrália, é uma das mais Raul continua a utilizar nos processos de vinificação, uma vez que
antigas marcas de vinhos mundiais em operação contínua. O facto de possuem capacidade para receber entre duas a oito toneladas de uva
a Austrália ser uma das viticulturas mais competitivas do mundo e desengaçada.
a que regista maior desenvolvimento técnico e quantitativo desde a Por sua vez, no projeto de Ferrer Bobet, o enólogo trabalha basica-
década de 80 do século XX não nos deve deixar esquecer que, em mente com as castas autóctones Cariñena e Garnacha, plantadas em
Barossa, subsiste uma forte concentração de vinhas velhas e, até, a solos de altitude compostos na sua essência por ardósia, ou ‘llicorella’,
mais antiga vinha velha de Cabernet Sauvignon do mundo em pro- de vinhas centenárias, propriedade dos diversos viticultores locais
dução contínua. Pertença da Penfolds e designada Kalimna Block 42, com os quais mantêm relações próximas. Para além disso, 15 dos 70ha
estas vinhas foram plantadas na década de 1880. Para além disso, a da propriedade Ferrer Bobet foram plantados com diversas castas, em
empresa detém vinhas em diversas regiões do sul da Austrália, como porta-enxertos de baixa produtividade e viticultura biológica.
Barossa, Adelaide Hills, McLaren Vale, Coonawarra, Padhtaway,
Wrattonbully ou mesmo Nova Gales do Sul e Tasmânia, dominando
a arte do lote, não apenas multivarietal, mas multirregional, juntando O nome Vega Sicilia
frequentemente a mesma casta, oriunda de diferentes localizações,
solos e perfis climáticos. Ainda em terras de ‘nuestros hermanos’, mas um pouco mais a
Para além dos BIN – acrónimo de Batch Identifiction Number, que norte, Vega Sicilia é um nome que não deixa ninguém indiferente.
refere o local de armazenamento do vinho na adega onde é guardado Fundada em 1864 por dón Eloy Lecanda y Chaves, a busca por um
para maturação, tradição criada pelo icónico enólogo Max Schubert estilo bordalês leva ao plantio de 18 mil varas de Cabernet Sauvignon,
para rastrear a localização de cada vinho na adega aquando das pri- Malbec, Merlot e Pinot Noir adquiridas em Bordéus. Os ícones Vega
meiras experimentações que dariam origem ao emblemático Grange Sicilia Único e Valbuena surgiram apenas 1915, mas foi em 1982, ano
–, a Penfolds possui uma propriedade histórica, designada Magill em que o produtor foi adquirido pela família Álvarez, que seria cons-
Estate, que ainda hoje é o coração da empresa e que tem como parti- tituída a denominação de origem Ribera del Duero.
cularidades o facto de se localizar a oito kms. do centro de negócios Dominada pela Meseta Ibérica, entre 720 a 1.100 metros de alti-
de Adelaide e estar plantada com 100% Shiraz, usado para produzir tude, Ribera del Duero oferece grandes amplitudes térmicas, sendo
não apenas o Penfolds Magill Estate Shiraz mas, em colheitas selecio- os vinhos fruto igualmente do clima continental e da proteção confe-
nadas, abrilhantar o lote do Penfolds Grange. Velhos são os trapos? rida pelos ventos oceânicos da norte pelas cordilheiras Cantábrica e
Sure, mate… Montes de León.
Porém, falar nesta D.O. passa por abordar a casta Tempranillo
(entre nós Tinta Roriz/Aragonês) e os seus diversos clones locais:
Química e vinho Tinta del País ou Tinto Fino em Ribera, Tinta de Toro na D.O. que leva
este nome, entre outras. A variedade encontra-se plenamente adap-
Raül Bobet é um dos grandes nomes dos vinhos de Espanha e tada aos extremos climáticos locais, com o seu ciclo vegetativo curto,
responsável pelo sucesso internacional dos modernos vinhos da película grossa e, no caso das vinhas mais velhas, sistema de condução
Catalunha. Carineña, ou Mazuelo, Petit Verdot e Pinot Noir nos tintos, em vaso. O conjunto de todos os projetos está abrangido na empresa
Sauvignon Blanc e Semillon para brancos e espumantes, são algumas Tempos Vega Sicilia, que inclui as marcas, em Ribera del Duero (Vega
das variedades que este enólogo e engenheiro químico labora nos pro- Sicilia e, em Peñafiel, Alión), em Toro (Pintia), na Rioja (Macán, em
jetos Ferrer Bobet (Porrera, Priorato) e Castel d´Encus (Costers del parceria com a família Rothschild), bem como Rías Baixas e Hungria
Segre, Pallars Jussà, na parte montanhosa de Pirinéus de Lleida, em (Tokaj-Oremus).
solos franco-calcários a altitudes entre 800 e 1.230 m.). O mundo num copo de vinho – e nas notas de prova dos vinhos
Com passado ligado ao gigante Miguel Torres, Raül Bobet assu- que desfilaram no Essência do Vinho – Porto, que pode conferir nas
me-se um “apaixonado pela natureza, cultura, ciência e vinho” sem, páginas seguintes.

94 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


DR. LOOSEN
95 91 89
Ürziger Würzgarten Riesling Ürziger Würzgarten Riesling GG Erdener Treppchen Riesling
Spätlese Tradition 1993 Reserve Alten Reben Dry 2012 Kabinnet 2022
Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen
Cativa pela cor. Aromas frutados, a fazer Cativa pelo aroma, notas de fruta madura, Cor suave, rico de aromas, notas citrinas,
lembrar pêra madura e marmelada, toque toque mineral, giz, ardósia. Nota herbal presente herbal e toque fresco a enriquecer. Na
exótico, especiado e terroso. No palato, em conjunto com especiado característico. boca apresenta-se com uma nota doce,
ligeira doçura, logo refrescada pela acidez Sabor seco, acidez presente, mineral e bem equilibrada pela acidez presente e
vibrante presente. Especiado e frutado, frutos especiado, nota terrosa suave. Encorpado e notas herbais e florais. Bom corpo com final
maduros, encorpado e muito equilibrado. Final final persistente. Ideal com queijos curados. RT apetecível. RT Consumo: 2024-2030
persistente e denso. Escolha acertada para Consumo: 2024-2030 25,00€ / 11ºC
momentos especiais. Um vinho que ainda não 102,00€ / 11ºC —
saiu para o mercado mas que se encontra em

grande forma! RT
88
Consumo: 2024-2035
N.D. / 11ºC
90 Ürziger Würzgarten Riesling GG
— Ürziger Würzgarten Riesling GG Alten Reben Dry 2021
Dry Hommage 2011 Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen
92 Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen Cor ligeira, aromas frutados de polpa branca,
toque especiado presente. Equilíbrio entre
Wehlener Sonnenuhr Riesling Aromas frutados, toque mais doce no nariz,
lembrando fruta branca e algum floral. Na a acidez e doçura, onde se nota a um ligeiro
Kabinett Tradition 2012 adocicado, fruta presente, frescura e suave
boca apresenta-se com alguma doçura,
Mosel / Branco / Weingut Dr. Loosen acidez presente, equilibrado, floral e notas especiado. Termina fresco e envolvente. RT
Aroma suave, notas minerais evidentes, frescas herbais. Encorpado com final longo e Consumo: 2024-2034
aliadas a nota floral. Aroma fresco e terroso. envolvente. RT Consumo: 2024-2032 35,00€ / 11ºC
Suave doce no palato, logo refrescando pela N.D. / 11ºC
acidez presente, refrescante. Herbal e frutado,
encorpado e final longo e envolvente. Ideal
para queijos de pasta dura ou marisco. RT
Consumo: 2024-2029
N.D. / 11ºC

Ernst Loosen
não pretendia ser enólogo
nem ocupar-se desta
herança familiar.
O pai enviou-o em 1977
para Geisenheim com
o objetivo de cursar
enologia – algo que Ernst
cumpriu, não com muito
afinco, como o próprio
faz questão de relembrar
– para, logo depois,
estudar arqueologia, a
sua verdadeira paixão.

@revistadevinhos
Iain Richardson

96 95 91
Mouchão 1999 Mouchão 2008 Ponte 2022
Regional Alentejano / Tinto / Vinhos da Regional Alentejano / Tinto / Vinhos da Regional Alentejano / Branco / Vinhos da
Cavaca Dourada Cavaca Dourada Cavaca Dourada
Rico e intenso no nariz, cheio de camadas e O primeiro ataque mostra um vinho austero Perfil pouco usual, não vemos tanto maracujá
nuances. Traz ainda fruta, mas já combinada no nariz, mas surge depois fruta fresca e ou ananás. Aqui, vai mais para o lado do
com uma leve evolução e notas de grafite e acompanhada por toques de menta. Na boca, pêssego e da pera, com um leve toque de casca
cogumelos. Na boca, vibração e frescura dão é guloso, suculento, amplo e profundo, com de laranja. Na boca é texturado, com excelente
o tom, cheio de camadas, amplo e fluido. Final acidez milimetricamente precisa e um final tão frescura e bem amplo. Longo. AL
interminável, que realça a fruta fresca. AL longo quanto o tempo de vida que tem pela Consumo: 2024-2032
Consumo: 2024-2049 / N.D./ 16ºC frente. AL 19,95€ / 11ºC
— Consumo: 2024-2058
N.D./ 16ºC
95 —
Iain Reynolds Richardson,
MOUCHÃO

Mouchão 1984
Alentejo / Tinto / Vinhos da Cavaca
93 o enólogo Hamilton Reis e
Dourada Mouchão 2016
João Manuel Alabaça como
Aos 40 anos de idade, este vinho ainda se Alentejo / Tinto / Vinhos da Cavaca
mostra em grande forma. No nariz, os aromas Dourada adegueiro formam o trio que
terciários estão presentes, com notas de pinho,
balsâmico, grafite, floresta e ervas secas.
Ainda muito jovem, a fruta domina assegura a continuidade da
completamente o olfato. Na boca, os taninos
Aparecem também notas de frutas vermelhas adiantam-se, a acidez grita, mas já se percebe herança da família Reynolds
secas. Na boca, esbanja complexidade, onde este vinho quer chegar. Profundo e
com camadas de sensações e texturas, vigoroso, um selvagem que mal começou a
em Portugal, responsáveis por
profundidade e uma surpreendente frescura percorrer o longo caminho que tem pela frente. uma propriedade com 900ha,
para um vinho com tanta idade. Longo e com AL
leve medicinal no final de boca. AL Consumo: 2024-2066 dos quais 43ha de vinha.
Consumo: 2024-2034 49,95€ / 16ºC
N.D./ 16ºC

96 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G R A N D E S P R O VA S E V P O R T O

KOPKE
é perene, a aguardente revela qualidade e o
96 final perdura com desdobramentos de texturas. 92
Kopke Porto Tawny Colheita 2004 Vive um grande momento. JJS Kopke Porto Vintage 1987
Consumo: 2024-2044
Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus
80,00€ / 16ºC
Fine Wines Fine Wines

Aloirado, reflexos rubi. Notas de marmelo, Rubi, laivos alaranjados no rebordo. Notas de
amêndoa torrada e geleia. Tenso e levemente licor de cereja, bolo inglês e especiaria. Firme
salgado, firme e elegante, desvenda matéria e 92 e salgado, assume um compromisso saudável
sucessivas camadas texturais que convidam a Kopke Porto Tawny Colheita 2012 entre doçura e acidez, potência e equilíbrio. O
regressos constantes ao copo. O final é longo final é ternurento e mostra viver uma fase feliz
Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus
e delicioso, com uma personalidade difícil de para consumo. JJS
resistir. JJS Fine Wines
Consumo: 2024-2037 / N.D. / 16ºC
Consumo: 2024-2034 / 44,50€ / 14ºC Aloirado, reflexos rubi. Nariz de leite creme,

tostados e noz. O doce está equilibrado

pela acidez, a aguardente surge em plena
integração, o volume mostra-se no ponto e o 90
95 final projeta-se bem, qual guloseima. Desafia a Kopke Porto Vintage 1999
Kopke Porto Tawny Colheita 1987 uma multiplicidade de sobremesas. JJS
Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus
Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus Consumo: 2024-2034
Fine Wines
Fine Wines 36,00€ / 14ºC
Granada, reflexos atijolados. Notas de mentol
Aloirado, já com ligeiros esverdeados no — e balsâmicos, couro, especiaria e maresia. Já
rebordo. Nariz de fermento e de noz, leite creme do lado totalmente terciário, apresenta uma
e tostados, o fumo sempre em fundo. Salgado 92 doçura que prevalece ao longo de toda a prova.
e muito fino, é senhor de uma elegância que, Kopke Porto Tawny Colheita 1999 O final lembra geleia de frutos vermelhos e
pelo ano, lembra o calcanhar de Madjer em apela à combinação com sobremesas que os
Viena. Termina vitorioso, com uma persistência Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus partilhem. JJS
notável, com finura e energia de aplaudir. JJS Fine Wines Consumo: 2024-2034 / N.D. / 16ºC
Consumo: 2024-2037 / 90,00€ / 14ºC Aloirado. Notas de fumo e geleia de fruto
— vermelho, tostados e leite creme. Untuoso e
levemente salino, sobrepõe a doçura ao ritmo
94 das camadas que mostra. Termina persistente
e com sabor, nuances de folha de tabaco no
Kopke Quinta de São Luiz fecho. JJS
Porto Vintage 2004 Consumo: 2024-2032 Reconhecida como a casa
Vinho do Porto / Fortificado / Sogevinus 65,00€ / 14ºC mais antiga de Vinho do
Fine Wines
Porto, fundada em 1638,
Ainda rubi, já com apontamentos acastanhados.
Apontamentos delicados de cereja, alguma flor a Kopke tem, nos últimos
seca, muito mato e balsâmicos finos. O tanino
tem elegância mas músculo, a tensão estrutural
anos, fruto do trabalho do
Master Blender Carlos Alves
e da equipa de viticultura,
liderada por Márcio Nóbrega,
construído uma sólida
reputação nos Vinhos do
Porto ruby de categoria
superior, nomeadamente os
Porto Vintage.

março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 97


Em Barossa, subsiste uma
forte concentração de vinhas
velhas e, até, a mais antiga
vinha velha de Cabernet
Sauvignon do mundo em
produção contínua. Pertença
da Penfolds e designada
Kalimna Block 42, estas
vinhas foram plantadas na
década de 1880.

96 92 92
Penfolds Grange 2015 Penfolds BIN A Chardonnay 2019 Penfolds BIN 128 Shiraz 2021
Austrália / Tinto / Penfolds Wines Austrália / Branco / Penfolds Wines Austrália / Tinto / Penfolds Wines
Denso, quase opaco. Enorme riqueza Dourado brilhante, verdeal. Mostra-se fechado, Exemplar dos solos de barro de Coonawarra,
aromática, entre a fruta preta, as notas de café abrindo no copo para notas de prunóideas, este Shiraz mostra-se já mais suave e amigável
e torrefação, algum fruto seco e pão torrado. aromas da madeira, como baunilha e coco, que os restantes tintos da prova. Tom púrpura,
Madeira já bem integrada, nota de verniz a algum fumo. Bom volume de boca, texturado, aromas de fruta azulada e pimenta preta,
elevar o conjunto, algum iodo, que se estende fruta branca e fruto seco, acidez horizontal, expressão da madeira nas notas abaunilhadas
à prova de boca. Seco, tanino vivo sem ser firme mas moderada, sem sobressair. MB e frescura geral no toque de verniz e menta/
musculado, a conferir estrutura texturada. Final Consumo: 2024-2030 / 125,00€ / 11ºC hortelã. Corpo médio, tanino moderado, já
longo, saboroso desde já, mas a mostrar-se — suave, acidez fina e fruta no aroma de boca, a
ainda um jovem, com longos anos pela frente. alongar o final, aprazível e muito pronto. MB
MB
Consumo: 2024-2035 / 550,00€ / 16ºC
92 Consumo: 2024-2039
40,00€ / 16ºC
PENFOLDS

— Penfolds BIN 389 —


Cabernet Shiraz 2021
94 Austrália / Tinto / Penfolds Wines 90
Penfolds BIN 407 Denso, opaco e concentrado, laivo púrpura. Penfolds BIN 311 Chardonnay 2020
Cabernet Sauvignon 2021 Aromas ricos e complexos, de grande elegância,
Austrália / Branco / Penfolds Wines
apesar da notória juventude do conjunto.
Austrália / Tinto / Penfolds Wines Palha, laivo esverdeado. Algo reduzido no
Fruto do bosque, pastelaria doce, aromas de
Rubi brilhante, carmesim. O nariz oscila entre início, a transmitir sensação mineral. Abre para
especiarias e carne. A fruta preta emerge no
a fruta silvestre, os apontamentos herbáceos notas de citrinos, pêssego e pão torrado. Algum
aroma de boca, juntamente com notas de
e de tabaco e as notas diretas de eucalipto amargor no centro de boca, fino, com fruta
cacau. Tanino firme, ainda austero, a fornecer
e verniz. Na boca mostra-se especiado, com amarela, intensa e limpa e aromas da madeira a
boa estrutura, com a acidez a equilibrar. Pede
aromas fumados e de grafite, o tanino de grão emprestar volume. Acidez linear, firme e ampla,
tempo de garrafa. MB
fino é intenso, sem ser dominante. Chocolate e a conduzir o final, de bom comprimento. MB
Consumo: 2024-2039
especiaria no fim de boca. MB Consumo: 2024-2029
80,00€ / 16ºC
Consumo: 2024-2039 / 90,00€ / 16ºC 45,00€ / 11ºC

98 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G R A N D E S P R O VA S E V P O R T O

RAÜL BOBET
93 89
Castell D'Encus Saktih 2017 Castell D'Encus Taleia 2020
Costers del Segre / Tinto / Raül Bobet Costers del Segre / Branco / Raül Bobet
Petit Verdot de altitude. Irrepreensível na Sauvignon Blanc. Tudo é contido, cristalino, Em Castel d´Encus,
expressão frutada de ameixa, mirtilo e no floral fino e de frescura intuitiva. Sobriedade frutada
de violeta. Madeira imaculada. Tudo a bater envolta por sensações a aipo e aneto. Boca
nove lagares medievais
certo na boca. Taninos amplos, mas cheios de belo porte, com delicadeza geral, secura e escavados em pedra,
de vitalidade. Muito bem medido, qualidade acidez de muita qualidade. Para fãs da casta
indiscutível, longo e a desafiar ideais. MM com este perfil menos exuberante. MM gravitacionais, datados do
Consumo: 2024-2040 Consumo: 2024-2030 século XII, que Raul continua
179,95€ / 16ºC 28,95€ / 11ºC
— — a utilizar nos processos
de vinificação, uma vez
93 89 que possuem capacidade
Ferrer Bobet Seleccio Especial Castell D'Encus Taïka 2017
Vinyes Velles 2013 para receber entre duas
Costers del Segre / Espumante / Raül Bobet
Priorato / Tinto / Ferrer Bobet Inusitada a junção de Sauvignon Blanc e a oito toneladas de uva
100% Cariñena. Nariz profundamente complexo Sémillon em espumante. Vinificação, também,
e refinado nas bagas negras e vermelhas peculiar. Sobressai a expectável frescura e
desengaçada.
envoltas em notas de floresta, matagal seco, a sobriedade faz as honras da casa. Autólise
carne e cacau. Elegância notável no paladar, subtil. Na boca é delicioso. Secura, salinidade,
com muita frescura e taninos presentes, mas frescura, bolha delicada e estaladiça. Ensaísmo
acessíveis. Pede para ser apreciado com calma. de belo desfecho. MM
Belo vinho. MM Consumo: 2024-2045 Consumo: 2024-2030
N.D. / 16ºC 61,95€ / 8ºC

93
Ferrer Bobet Seleccio Especial
Vinyes Velles 2019
Priorato / Tinto / Ferrer Bobet
Vinhas velhas de Cariñena (85%) e Garnacha
(15%). Estilo mais fresco do Priorato. Fruta negra
e vermelha, violetas, sálvia e fumados. Boca
de grande porte, taninos largos e sedosos.
Passo de boca sob a batuta da frescura. Perfil
contemplativo, complexo e profundo, mas sem
estrondo. Antevê-se largo futuro. MM
Consumo: 2024-2045
87,95€ / 16ºC

91
Castell D'Encus Acusp 2020
Costers del Segre / Tinto / Raül Bobet
Pinot Noir. Aroma sofisticado e balanceado.
Mostra largura aromática. Fundo vegetal,
de ruibarbo e bosque. Estruturado na
boca. Sente-se um vegetal elegante,
taninos bem tirados, firmes e texturados.
Elegância tonificada, precisão e persistência.
Interpretação feliz da casta. MM
Consumo: 2024-2035
46,95€ / 16ºC

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 99


G R A N D E S P R O VA S E V P O R T O
TEMPOS VEGA SICILIA

96 93
Vega Sicilia Unico 2013 Alión 2019
Ribera del Duero / Tinto / Bodegas Vega Ribera del Duero / Tinto / Bodegas y
Sicilia Viñedos Alión
Rico e intenso no nariz, que abre com frutas A elegância deste vinho já dá os primeiros sinais
maduras, ladeadas por especiarias doces como no olfato. Fruta vermelha fresca bem definida,
canela, cravo e anis estrelado. Evolui para café, delicada e não opulenta. Taninos muito finos,
toffee e um fundo levemente mentolado. Na acidez bem presente, mas discreta, que servem
Os ícones Vega Sicilia boca, é gigante. Superlativo, mas não excessivo. como fundação para a imensa estrutura que o
Único e Valbuena surgiram Taninos firmes, dimensão, profundidade, garra e vinho tem (e que mal se nota)! AL
vigor. Longo e profundo, termina com sensação Consumo: 2024-2034
apenas 1915, mas foi em de fruta vermelha ácida na boca. AL Consumo: 89,95€ / 16ºC
2024-2043 / 454,50€ / 16ºC
1982, ano em que o produtor —

foi adquirido pela família 93


Álvarez, que seria constituída 94 Valbuena 5° 2018
Pintia 2018
a denominação de origem Ribera del Duero / Tinto / Bodegas Vega
Toro / Tinto / Bodegas y Viñedos Pintia Sicilia
Ribera del Duero. Um Pintia em grande. Todo o estilo guloso Aqui temos muita informação no nariz. Fruta
que marca este vinho, concentrado, cheio madura, evolução para café e um subtil toque
de estrutura, fruta bem madura (mas não em de noz moscada. Na boca, taninos macios,
compota, atenção!), ancorado em taninos firmes músculo, muitas camadas e mais amplitude que
e acidez precisa de forma quase cirúrgica. profundidade. Longo. AL Consumo: 2024-2038
Grande vinho. AL Consumo: 2024-2033
168,75€ / 16ºC
67,95€ / 16ºC

91
Macán Rótulo Dourado 2018
Rioja / Tinto / Bodegas Benjamin de
Rothschild & Vega Sicilia
Nariz intenso e profundo, com notas de cerejas
maduras, amoras e um fundo com leves notas
tostadas e fumadas. Taninos polidos, acidez
salivante. Tem amplitude e dimensão em boca.
Longo e linear. AL Consumo: 2024-2033
73,15€ / 16ºC

90
Macán Clássico 2019
Rioja / Tinto / Bodegas Benjamin de
Rothschild & Vega Sicilia
Intenso no nariz. Fruta limpa, algum grafite,
fumo, cogumelos. Na boca, taninos presentes e
muito bem trabalhados. Combina dimensão e
volume com garra e fruta. Um estilo mais fresco
e vibrante de Rioja, que funciona muito bem. AL
Consumo: 2024-2029
49,75€ / 16ºC

@revistadevinhos
BE THE ONLY
TO OPEN IT.

R
Para ver e ouvir EVENTO

fotos Fabrice Demoulin

WINE & TRAVEL


WEEK
O mundo do enoturismo em Portugal
O Porto recebeu, pelo segundo ano, a Wine & Travel Week (WTW), que coincidiu com os 20 anos
do evento Essência do Vinho – Porto. Numa semana intensa, o turismo associado ao vinho e à
gastronomia esteve sob os olhares do mundo, atraindo profissionais, jornalistas e público em geral.

102 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Nuno Pires, Rui Moreira, Dora Simões e Catarina Santos Cunha

O Porto foi o local onde o mundo do enoturismo desa- movimentado o equivalente a 78 mil milhões de euros, sendo
guou na segunda edição da Wine & Travel Week (WTW) que os estudos projetam 268,4 mil milhões de euros em
para uma semana de experiências inesquecíveis ligadas ao 2033. WTW é um evento profissional que assume a ambição
vinho e gastronomia. de tornar-se a referência na Europa. Os importantes apoios
Com efeito, o enoturismo é o grande desiderato da WTW, do Turismo de Portugal e da Câmara Municipal do Porto
encontro que agrega profissionais de todo o mundo. Nesta transmitem-nos essa confiança e essa responsabilidade, os
segunda edição, uma importante comitiva de mais de 100 três prémios internacionais alcançados na edição de estreia
compradores e jornalistas especializados em enoturismo reforçam o projeto. Estamos, em simultâneo, a trazer ao
manteve contactos diretos com uma rede de mais de 100 ope- nosso país um significativo número de compradores e jorna-
radores, regiões de turismo e organizações, a que acrescem listas, de um total de 26 nacionalidades, que terão um con-
membros das capitais dos grandes vinhedos do mundo, a tacto privilegiado com a oferta enoturística que hoje con-
Great Wine Capitals (GWC). África do Sul, Espanha, França, seguimos proporcionar”, afirmou Nuno Guedes Vaz Pires,
Índia, Inglaterra, Israel, Japão, Nigéria, Portugal foram alguns diretor da Essência Company, que organiza a WTW.
dos países representados. Adicionalmente, o programa voltou a incluir várias expe-
A receção dos participantes decorreu no World of Wine, riências de enoturismo, segmentadas pelas várias categorias
em Vila Nova de Gaia. As reuniões profissionais B2B decor- de participantes, quer na cidade do Porto, quer ao longo do
reram no Museu Nacional Soares dos Reis, que permitiu em território nacional. A comitiva internacional de compra-
simultâneo a imersão em expressões artísticas, que deslum- dores e jornalistas participou assim num conjunto de visitas
braram os participantes. Neste local, expositores e compra- pelas diferentes Regiões de Turismo portuguesas, arquipé-
dores internacionais encontraram-se para a realização de lagos incluídos, numa oportunidade extra de contacto com
40 reuniões pré-agendadas, tendo participado altos respon- projetos diferenciadores na área do enoturismo.
sáveis por projetos de enoturismo, agentes e operadores, Planeados em pormenor com as sete regiões de turismo
empresas de animação turística, especialistas, associações e nacionais, estes programas exploraram o cross selling entre
outros profissionais da área. vinho e atividades que marcam a identidade do destino.
“O enoturismo continua a ser uma área de negócio em Dos Açores ao Norte de Portugal, passando pelo Alentejo,
franco crescimento. A retoma deste segmento da indús- Algarve, Centro, Lisboa e Madeira, foram dias de genuínas
tria mundial do turismo é notória no pós-Covid. À escala vivências que nada deixaram ao acaso.
global, estima-se que em 2023 a indústria global tenha

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 103


Rui Paula

Manuel Moreira
EVENTO

Rui Moreira

Nesta segunda edição, uma importante comitiva de mais de 100


compradores e jornalistas especializados em enoturismo manteve
contactos diretos com uma rede de mais de 100 operadores, regiões
de turismo e organizações, a que acrescem membros das capitais
dos grandes vinhedos do mundo, a Great Wine Capitals (GWC).

Tiago Felgar, Nuno Pires e José Pinto

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 105


EVENTO

WINE&FOOD
EXPERIENCES
E GOSTO DO
PORTO

O programa da WTW não se esgotou por aqui. Paralelamente


aos dias de trabalho intenso, houve tempo para um programa
social que não deixou de fora as Wine&Food Experiences. Assim,
no primeiro dia, o almoço decorreu nos jardins do Palacete Silva
Monteiro, a sede da Comissão de Viticultura da Região dos
Vinhos Verdes, num cenário composto pela beleza do Douro e
que contou com assinatura do chefe Renato Cunha, do restau-
rante Ferrugem, que nos últimos tempos tem reavivado com
sucesso a tradição da cozinha popular em potes de ferro.
No segundo dia, o almoço, que teve lugar no Museu Soares dos
Reis, teve a autoria do chefe Rui Paula (duas estrelas Michelin
no restaurante Casa de Chá – Paço da Boa Nova). Ainda no final
deste almoço, a WTW Talk contou com a presença e a expe-
riência de Mariette du Toit-Helmbold, antiga CEO da Cape Town
Tourism, que deu a conhecer o papel precursor da África do Sul
e da região do Cabo no enoturismo e da importância que desem-
penha na operação das empresas da fileira.
A Invicta aderiu igualmente em peso ao evento WTW, através
do projeto Gosto do Porto, que reuniu 88 restaurantes, lojas,
garrafeiras e wine bars da cidade. Em comum, boa comida, uma
carta de vinhos eclética e a tão autêntica hospitalidade nortenha,
da mesa mais tradicional aos estrelas Michelin. Para celebrar
Portugal e os vinhos portugueses, os produtores e os enólogos, o
Porto e a gastronomia de origem, os restaurateurs, os cozinheiros
e os sommeliers uniram-se neste projeto inovador e original.

Nos jardins do Palacete Silva Monteiro, o


chefe Renato Cunha mostrou a tradição
da cozinha popular em potes de ferro. No
Museu Soares dos Reis, o almoço contou
com a autoria do chefe Rui Paula
(duas estrelas Michelin no restaurante
Casa de Chá – Paço da Boa Nova).

106 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Nuno Pires, Rui Paula e Ángel González Pieras
EVENTO

PRÉMIOS
BEST OF WINE
TOURISM 2024

A Casa da Música foi também, por estes dias, palco da gala


“Best of Wine Tourism” da Great Wine Capitals (GWC), rede
mundial de capitais de grandes vinhedos, da qual a cidade
do Porto é única representante portuguesa. Nesta cerimónia
foram distinguidos os vencedores nas diferentes categorias
destes conceituados prémios internacionais de enoturismo.
Os prémios Best of Wine Tourism, que celebraram este ano
a 20.ª edição, distinguem os melhores projetos de enoturismo
de todo o mundo, inspirando a indústria do vinho a alcançar
novos patamares de inovação e experiência dos visitantes. Os
premiados da região do Porto nas diferentes categorias foram:

ALOJAMENTO:
Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo;

ARQUITETURA E PAISAGEM:
Quinta do Bomfim (Merenda na Vinha);

ARTE E CULTURA:
Caves Cockburn’s;

EXPERIÊNCIAS INOVADORAS EM ENOTURISMO:
The Wine School (WOW);

PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS EM ENOTURISMO:
Six Senses Douro Valley;

RESTAURANTES VÍNICOS:
Restaurante Seixo by Vasco Coelho Santos;

SERVIÇOS DE ENOTURISMO:
Quinta de Soalheiro e Caves Graham’s (ex aequo);

GLOBAL:
Quinta do Bomfim (Merenda na Vinha);

PEOPLE'S CHOICE AWARD 2024:
Quinta de Soalheiro.

Os prémios Best Of Wine Tourism,


que celebraram este ano a 20.ª edição,
distinguem os melhores projetos
de enoturismo de todo o mundo,
inspirando a indústria do vinho a
alcançar novos patamares de inovação e
experiência dos visitantes.
Catarina Santos Cunha

108 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


António Cunha

Frederico Mourão e Ana Rodrigues recebem


prémio Global Best of Wine Tourism

Catarina Santos Cunha e Ricardo Valente Catherine Leparmentier


Ángel González Pieras
EVENTO

CASTELA E LEÃO
+ 200 PROFISSIONAIS DE ENOTURISMO
NO WTW
Pela primeira vez, a WTW teve uma região convidada: Castela e Leão + 30 JORNALISTAS INTERNACIONAIS
(Espanha), que aproveitou a presença na iniciativa para realizar, em paralelo,
a estreia mundial do espetáculo “Merina: o ouro espanhol. Oteiza”, no Coliseu

+ 80 EXPERIÊNCIAS
do Porto.
Trata-se de uma produção vanguardista que une moda, dança, música e
artes cénicas, proporcionando ao espetador uma experiência sensorial e trans-
versal ao combinar diversas disciplinas artísticas. O espetáculo gira em torno
da lã de ovelha Merina, destacando a matéria-prima, a tradição e a criação
artística. Visa associar Castela e Leão a uma atividade que realça a excelência,
7 PÓS-TOURS
oferecendo um valor único e diferencial. Os trajes dos bailarinos, feitos com
lã Merina, são exibidos através de coreografias criadas para se moverem ao
ritmo de uma música original, proporcionando um espetáculo único.
Na noite da estreia mundial deste espetáculo, a Junta de Castilla y León e
a Essência Company promoveram um jantar e festa (com atuação dos espa-
+ 40
nhóis Siloé) no Mosteiro de São Bento da Vitória. REUNIÕES POR EMPRESA
A finalizar a semana, o Palácio da Bolsa recebeu a 20ª edição do Essência
do Vinho – Porto, que apresentou um conjunto memorável de momentos
– TOP 10 Vinhos Portugueses por um painel internacional de jurados; The
Room Experience, a rara oportunidade de provar os vinhos mais exclusivos
de 20 das grandes famílias mundiais do vinho; provas comentadas, harmoni-
zações e masterclasses; 4.000 vinhos de mais de 400 produtores. Mas, sobre
este tema, a Revista de vinhos irá mostrar tudo na próxima edição. A Wine &
+ 3.000
Travel Week, incluindo Essência do Vinho – Porto e o projeto Gosto do Porto,
REUNIÕES B2B
são uma organização Essência Company.

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 111


Para ver e ouvir PRODUTO

texto Fátima Iken / fotos Ricardo Garrido


O perfume é inebriante e uma das suas principais caraterísticas magnéticas. Penetrar
no mundo dos citrinos é como abrir uma porta mágica, onde fragrâncias e óleos
essenciais se desdobram, num padrão de cor que vai do verde claro ao laranja-
sanguíneo. O cítrico, adulado de alguma doçura, é refrescante, odorífero e muito
gastronómico. Em Arcos de Valdevez, criou-se um verdadeiro paraíso de citrinos.

Só a palavra limão já nos faz navegar em yuzu, bergamota, laranja violeta, limão siciliano, de Braga, para óleos essenciais e cremes. “A
ondulações de prazer. O aroma, acima de tudo, laranja do Ermelo, lima kaffir, calamondin, limão ideia é sempre criar produtos artesanais que
comanda uma viagem sensorial. O mesmo se raiado, kumquat e lemonquat, bem como laran- fazem a diferença”, diz.
aplica às laranjas, às tangerinas, à cidra e lima, ja-baunilha e laranja-morango, algumas das Um banho quente de yuzu, arbusto austra-
kumquat, cimboa, clementina e todas as suas espécies que aqui se adaptaram às mil maravi- liano, onde se mergulham os frutos, ativa a cir-
tergiversações criadas pela natureza ou pela lhas. culação e aquece o corpo, sendo calmante e
mão do homem. Alexandre Bemposta, o mentor da Citroo curativo o óleo do fruto.
Aliás, nos últimos anos, é moda encontrar Foods, já viveu um pouco por todo o mundo, No futuro, pensam ainda lançar uma vertente
disseminados pelos pratos alguns citrinos mais da África do Sul a Moçambique, passando pelo turística com 12 bungalows, cujo projeto está já
extemporâneos mas que surpeendem como o Dubai ou Equador, mas decidiu aqui ficar depois em análise.
yuzu, mão de Buda, o mishokan, o limão-caviar da pandemia, agregando vários terrenos, já que Para além disso, há ainda cultura de vários
ou a histrix cítrica, kombawa, folha usada para na região impera a cultura do minifúndio. tipos de malagueta e de azeitona, nomeada-
tempero, isto para não falar do limão vermelho “Sempre tive uma paixão pela agricultura, mente branca.
e limão taitiano ou a cedrat pêra (em que só se apesar de só agora me dedicar a cem por cento. No dia frio que visitamos a Citroo Foods,
come a parte interior branca). Depois da pandemia, o meu filho, que é vegan soube bem beber um chá quente e perfumado
Não admira. Acidulados, intensos na frescura e também já viajou por todo o mundo, teve a de bergamota, a olhar a imensidão do Gerês lá
e sumarentos, seduzem os chefes de cozinha ideia de plantar árvores e optamos pelos citrinos ao longe. Provamos a pasta de azeitona branca
que cada vez buscam mais exotismo e aí encon- porque dão fruto o ano inteiro”, conta-nos, com limão caviar, a compota de pêssego, mala-
tram múltiplas fontes de inspiração. enquanto nos dá a cheirar uma folha de berga- gueta, limão caviar e kaffir, a de maracujá e
Às portas do Gerês, em Ázere, Arcos de mota. ameixa com pimento vermelho e o tomate com
Valdevez, a Citroo Foods, decidiu criar um verda- O facto de as serras protegerem as árvores ameixa e calamondin. A idea é ainda ter um gin e
deiro e exemplar paraíso dedicado aos citrinos do vento é outra vantagem para o crescimento uma marca de limoncello.
exóticos. saudável, sendo a cultura biológica já que não “O objetivo é sermos sempre produtores de
São sete hectares e mais de seis mil árvores se usam aqui químicos ou pesticidas. índole artesanal e nunca industrializar”, advoga
abraçados por uma imensa região montanhosa, Trata-se de um microclima em plena mon- Alexandre Bemposta. “Fazemos tudo à mão,
pelas serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês tanha que aproveita o ambiente temperado e a desde a preparação do produto, às etiquetas e
que aqui encontram o ‘spot’ ideal. Sol e vales água abundante. a nossa opção são as lojas de nicho, não grande
profundos, onde cascatas povoam a paisagem “Fazemos ainda chá de bergamota, compotas, superfícies”, estando já presentes no mercado do
e os matos, levadas e socalcos constroem uma chutneys, pestos, chocolates e fruta desidratada Bolhão e, em breve, no Corte Inglès e Apolónia.
orografia sui generis. em rodelas para usar em gins e em pó”, enfatiza. Para além das espécies exóticas, aqui cresce
Tiramos da árvore um limão-caviar e chei- ainda a laranja de Ermelo, autóctone, de casca
ramos o seu perfume, raspando a casca com os Mais de 90 produtos lisa e fina, muito doce. Atribui-se o seu perfil à
dedos. Pára tudo. Muito aromático e quase ine- artesanais sabedoria dos monges de Cister, ordem que
briante, há duas variedades de cinco cores dife- geriu o Mosteiro de Ermelo a partir do século XII.
rentes numa paleta que vai do rosa ao vermelho, São cerca de 90 os produtos criados a partir Muito possivelmente fomos nós a introduzir os
salmão e verde, que todo o ano lançam o seu das plantações e por si inventados. “Como citrinos no hemisfério ocidental e na época dos
aroma pela zona. O limão-caviar é uma espécie também gosto muito de cozinhar, aproveito para Descobrimentos teremos trazido muitos destes
de rei dos citrinos, podendo o seu preço rondar criar diversos produtos a partir dos frutos, numa frutos. Nas nossas andanças estamos, defini-
entre os 40 e 120 euros por quilo. pequena unidade artesanal que aqui criamos tivamente, ligados a eles, tal como o mediter-
O sol, os solos arenosos e a humidade da zona para o efeito”, conta ainda Alexandre que já foi râneo, aliás. E não será por acaso que chamam
confluem nas condições edafoclimáticas ideais proprietário de seis restaurantes em Lisboa. Os “Portuhal” às laranjas.
para os citrinos mostrarem a sua pujança, cres- produtos vão sobretudo para exportação, rumo A nossa geografia e condições edafoclimá-
cendo a uma altitude de 400 metros e também a França, Espanha e Canadá, para já, mas o mer- ticas, de muito sol, reproduzem frutos doces e
junto ao rio. cado nacional começa também a ter peso. saborosos. A sua origem tropical ainda tem peso
Nos terrenos, outrora abandonados, onde Para além da vertente alimentar, a cosmética no desenvolvimento destas plantas, apesar de
crescia mato e sobreviviam castanheiros e oli- será outros dos caminhos, estando já em curso todas as mutações.
veiras, crescem hoje árvores de mão de buda, um projeto com a colaboração da Universidade Têm surgido associados ainda ao sul da

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 113


PRODUTO

Península Ibérica e, sobretudo, no Algarve fazem isso podemos imaginar as potencialidades do com cerca de 125 milhões de toneladas anuais,
fama, onde até as árvores de Natal eram deco- género. Por vezes, este hibridismo conduz até a sendo ricos em compostos bioativos.
radas com laranjas, exibindo a importância do confundir espécies, não sabendo se estamos a Com propriedades muito salutares, possuem
fruto na região. comer mandarinas ou clementinas, toranjas ou elevado teor de vitamina C e fibra, protegem os
Mas encontramos um pouco por todo o terri- tangeras. vasos sanguíneos e são essenciais para reduzir
tório árvores de citrinos, de folha persistente e Isso é outro fator de sedução, já que é impres- fontes de inflamação no organismo.
por isso menos resistente ao frio, onde laranjas sionante a panóplia de cheiros e sabores dentro São, assim, fulcrais para manter a pele, os
e tangerinas ou limões povoam a paisagem, das de um mesmo grupo. ossos e cartilagens saudáveis, bem como
pequenas hortas aos quintais, aproveitando Mas a acidez presente e o odor (de novo) suporte do sistema imunitário, pelo seu papel
alguns microclimas, já que estas espécies não se remetem sempre para uma dimensão quase hip- antioxidante na proteção das células.
dão com invernos rigorosos. notizante onde a frescura comanda. Por isso as O ideal é comer os citrinos na sua totalidade,
A laranjeira, por exemplo, é cultivada entre próprias flores das árvores destas espécies são não rejeitando a parte branca que, apesar de
nós há mais de seis séculos e algumas com tão perfumadas. mais amarga, tem propriedades na retenção de
fama mundial têm origem portuguesa , como a Não será por acaso que o mundo da cozinha fibra, controlando a glicemia.
'Valencia Late' e a 'Washington Navel'. e dos citrinos se enleia de forma indelével. Uma fonte de saúde, portanto.
O mesmo se passa com os limões. A variedade Aromáticos, agridoces, sumarentos, são muito Prefira sempre as peças de cor viva, sem bolor
portuguesa de limão “Lisboa” é das mais difun- polivalentes e a sua potencialidade permite ou sinais de podridão, conservando-as em local
didas em todo o mundo, pois considera-se uma explorá-los dos pés à cabeça, da zest ao sumo, arejado e seco, nunca mais de uma semana no
cultivar com elevado vigor e muito resistente a melhor dizendo. exterior e duas semanas no frigorífico.
ventos fortes e temperaturas rigorosas. Por um incrível que pareça, dentro da citricul- Ao pressioná-los ligeiramente entre os dedos,
tura mundial, Portugal ainda tem uma represen- deverão estar firmes e brilhantes. Pela sua
Uma longa família tação modesta em termos de volume, apesar dos acidez são ótimos em conserva e compotas, mas
de híbridos citrinos serem, com a vinha e as pomóideas, os a sua polivalência e plasticidade permite usá-
nossos principais grupos de cultivo frutífero. -los ainda em saladas, molhos, ou a acompanhar
Da família das Rutaceae, os citrinos fizeram Os citrinos já podem ser colhidos a partir de peixe e carne.
uma longa viagem do oriente para chegar até Outubro e Novembro, nalgumas zonas. Mas, apenas na sua simplicidade, já garantem
nós, uma vez que são originárias do sudeste tro- Mas em Portugal a colheita é muitas vezes momentos de prazer absoluto, a começar no
pical e subtropical asiáticos. atrasada, podendo esticar-se até abril do ano aroma. Inspire e inspire-se.
A maioria é híbrida (heterozigótica), fenómeno seguinte, altura em que os citrinos se tornam
que ocorreu não só de forma natural como pro- mais doces. CITROO FOODS
duto da citricultura, brincando com a complexi- O ácido cítrico que em algumas plantas, como ÁZERE, ARCOS DE VALDEVEZ
dade deste hibridismo. as limas e limões, pode chegar aos 8% da sua M. 913 392 513
Entre o limão-caviar, a laranja sanguínea e a massa seca, confere ainda poder conservante, E.REC@CITROOFOODS.COM
toranja existem múltiplas diferenças, sendo da preservante e antioxidante na indústria ali-
mesma família. mentar
Só do limão há mais de 70 variedades, por São dos frutos mais produzidos no mundo

114 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Alexandre Bemposta

Entre o limão-caviar, a laranja sanguínea


e a toranja existem múltiplas diferenças,
sendo da mesma família. Só do limão há
mais de 70 variedades, por isso podemos
imaginar as potencialidades do género.

março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 115


Para além das espécies exóticas,
aqui cresce ainda a laranja de
Ermelo, autóctone, de casca lisa
e fina, muito doce. Atribui-se o seu
perfil à sabedoria dos monges de
Cister, ordem que geriu o Mosteiro
de Ermelo a partir do século XII.

@revistadevinhos
PRODUTO

Citrinos, um por um
BERGAMOTA LIMÃO-CAVIAR CLEMENTINA VERDE
semelhante ao limão, mas mais a sua origem radica num pequeno de origem japonesa, nascida
redonda, com uma extremidade arbusto australiano, o citrus do cruzamento entre a toranja
pontiaguda, tem várias virtudes australasica, mas também pertence e a clementina clássica, foi
nutricionais anti-inflamatórias. De à família dos citrinos, a Rutacea. recentemente cultivada na
cor amarelo-alaranjada, de gosto Com forma cilíndrica, pele fina e Sicília com sucesso. Parecida
pronunciado, é mais amarga que lisa, de cor diferente consoante com a clementina, também sem
o limão. as variedades (amarela, castanha, sementes, é muito rica em minerais
salmão, vermelha, preta ou verde), e antioxidantes. É ainda mais doce
ganha o nome devido às pequenas que a clementina laranja e menos
CIDRA bolinhas translúcidas e crocantes
que evocam o caviar, no aspeto.
ácida.

originário da Ásia, é amarelo e Rico em antioxidantes e ácido


bojudo, parecido com o limão mas
com casca mais grossa, polpa
fólico, é ótimo para combater COMBAVA
constipações. Perfumado e
abundante e sumarenta. Rico originário da Indonésia, este
aromático, tem um sabor especiado
em minerais e fibras, combate citrino é ancestral, muito aplicado
parecido com a toranja. As suas
a fadiga. Amargo, a sua polpa é nas cozinhas tailandesa, indonésia
pequenas pérolas são usadas para
mais ácida e tem um sabor menos e malaica. Chegou apenas no
conferir uma nota acidulada a
potente que o limão. O seu odor, século XIX a França e continua a
pratos doces ou salgados.
no entanto, é aromático e intenso. ser rara e difícil de encontrar entre
nós. É parecida com a bergamota,

LIMA
mas o sabor é diferente, evocando
CHINOTTO faz parte dos citrinos exóticos.
mais a citronela, com toques de
gengibre e até coentros. Muito
resultado de uma mutação de De origem asiática, foi contudo fresca, aromatiza pratos doces e
laranja amarga, as suas origens bem recebido do outro lado do salgados.
são misteriosas mas existe em atlântico, nomeadamente Brasil
abundância na Sicília. Parece uma e México. De pele verde e mais
pequena laranja achatada nas
extremidades, de cor laranja vivo.
pequeno que o limão, é rico em KUMQUAT
flavonóides. É incontornável
Está cheia de antioxidantes. Tem é fruto de uma pequena árvore
em cocktails, saladas, ceviches,
um sabor amargo mas refrescante. de folhas persistentes. Natural
podendo ser utilizado para
da China, foi introduzido na
substituir o vinagre.
Europa no século XIX, em climas
LIMÃO temperados como a Grécia e Itália.

CLEMENTINA
Tem inúmeras variedades que se
amarelo, dourado e perfumado, é distinguem pela forma do fruto,
o rei dos citrinos. Rico em vitamina este citrino será fruto do que pode ser redondo ou oval, e
C e minerais, tem propriedades cruzamento entre a laranja doce a cor varia do amarelo ao laranja.
anti-inflamatórias e facilitadoras e a tangerina. Trata-se de uma É acidulado, com uma pequena
da digestão. Pode consumir-se planta com origem algeriana ponta de amargor.
durante todo o ano e é uma fonte cujos frutos são semelhantes à
de inspiração, apesar de muito da tangerina, mas com formatos
ácido. Refrescante e sumarento, é e caraterísticas ligeiramente
um mundo. diferentes. Sumarenta e esférica,
praticamente não possui
sementes. De sabor acidulado e
doce, muito aromática, até a casca
é saborosa.
PRODUTO

Às portas do Gerês, em Ázere, Arcos de


Valdevez, a Citroo Foods, decidiu criar um
verdadeiro e exemplar paraíso dedicado
aos citrinos exóticos. São sete hectares
e mais de seis mil árvores abraçados por
uma imensa região montanhosa, pelas
serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês

LIMEQUAT TANGERINA LIMÃO-VERMELHO


fruto do cruzamento entre o A Citrus reticulata é originária híbrido, de origem asiática, pele
kumquat e a lima, existem três da Ásia. De forma redonda e rugosa, é mais adocicado que um
variedades (Eustis, Lakeland ligeiramente achatada, tem limão, tem perfume de bergamota
e Tavares) que tomam o nome polpa sumarenta e perfumada. e é rico em antioxidantes.
de vilas na Florida, onde foram Adocicada e delicada, é rica em Consome-se ao natural e em
criados. São cultivados em regiões fibra e minerais, sendo ótima para sumos ou gelados, mas o seu
de clima temperado, como a bacia lutar contra a fadiga invernal. poder gastronómico funciona
do Mediterrâneo. De pele fina e bem com salgados, pois apesar de
polpa sumarenta, a cor pode ir do mais doce que o limão, tem alguns
amarelo ao verde claro, consoante LARANJA AMARGA laivos de amargor.
o grau de maturação. De sabor
híbrido da toranja e tangerina,
ácido, tem, contudo, um laivo
o seu cultivo surge sobretudo
doce suplementar.
em regiões de clima temperado, CALAMONDIN
como Espanha, França e Itália. é originária das Filipinas, também
MÃOS DE BUDA
Semelhante à laranja clássica, conhecida por calamansi, é da
o sabor é mais ácido e menos cor de uma tangerina e tem casca
com formato original, esta sumarenta, tendo muitas fina. Entre a laranja e o kumquat.
variedade de cidra é oriunda do grainhas. O seu gosto amargo É um fruto muito ácido, não se
sudoeste da Ásia, sendo oferecido é caraterístico, sendo ótima em tornando muito ineressante para
como oferenda a Buda, daí o compotas. comer, mas há alguns gomos
seu nome. Os seus dedos tipo doces. No entanto, a casca e as
tentáculo evocam mesmo uma folhas têm interesse aromático.
mão. Não tem polpa nem sumo, YUZU São excelentes em compotas.
pelo que o seu aroma é uma
proveniente da China e Tibete,
das principais potencialidades,
trata-se de um pequeno limão. O
sendo por isso muito usado para
gosto é único, a meio-caminho
aromatizar na cozinha. Não tem
entre a lima, a toranja e tangerina.
sabor ácido, mas antes doce e
Muito aromático, tem acidez
agradável, evocando maçã.
vibrante e costuma ser muito
utilizado na cozinha japonesa,
como condimento e tempero de
preparações doces ou salgadas.
Aqui, entrou há uns anos na
moda do circuito gastronómico.
Com o kabosu e o sudachi
(muito similares) se faz a base
para o molho ponzu. Tem tantas
qualidades terapêuticas que se
usa em banhos quentes para
favorecer a circulação.
CRÍTICA GASTRONÓMICA

texto Miguel Pires / fotos Fabrice Demoulin

Em Rio Maior, nas únicas Bernardo Monteiro


salinas de interior em
atividade no país, a Loja do
Sal e a sua Taberna 1865
merecem a visita. Pelos
produtos criados pelos
irmãos Henriques Lopes e
pela cozinha de sabor do
jovem Bernardo Monteiro.

RIO MAIOR

Loja do Sal
e TABERNA 1865
Em terras de sal, para lá do petisco há uma cozinha com muito sabor
Desde que me lembro de ser gente, a aldeia de Marinhas do Sal, a nem com a posição. Ele sabe que o caminho faz-se caminhando e que há
poucos quilómetros de Rio Maior, onde nasci e vivi até aos meus dezoito espaço, a médio prazo, nesta parceria com família Henriques Lopes, para
anos, sempre me despertou um certo fascínio. É verdade que, numa um projeto mais ambicioso, de preferência algo onde possa voltar a cozi-
cidade em que não abundavam pontos históricos de referência, era difícil nhar em fogo a lenha. Para já, sente-se feliz de volta do fogão da taberna,
ficar indiferente àquelas centenas de pequenas piscinas (talhos) rasas onde, com grande destreza, trata por tu a carta de cariz petisqueiro e
onde a água salgada entra – apesar de estarmos a 30 km do mar – e, regional, em que procura utilizar ingredientes frescos e de proximidade,
por ação do vento e do sol, se transforma em sal. A compor a paisagem, mas também algum do produto vendido e distribuído pela loja (como o
existiam ainda uma série de casas de madeira (originalmente lugares bacalhau da Lugrade, por exemplo).
de guarda da produção) intercaladas com uma ou outra taberna, cujas
“dividas” dos salineiros eram apontadas em réguas a giz. Cozinheiro dos pés à cabeça
O município sempre procurou valorizar o lugar como ponto de atração,
mas só após uma requalificação mais ou menos recente, e em conjunto Éramos dois casais com duas crianças e aproveitámos a tempera-
com o dinamismo das forças locais, trouxe a honorabilidade que o local e tura amena deste inverno para almoçarmos na exígua parte exterior da
o produto merecem. taberna. Despachados os pequenos selvagens a sopa de legumes (bem
Entre estas “forças locais”, uma das que se tem destacado é a família saborosa, por sinal) e peito de frango grelhado, atirámo-nos aos pedidos.
Henriques Lopes, da Loja do Sal, cujo empreendedorismo da mais Primeiro veio a morcela de arroz. À excelência do produto, equilibrado no
recente geração (a quarta), a dos irmãos João e Luís, veio trazer valor tempero e sem gorduras indigestas, juntou-se a aptidão do cozinheiro,
acrescentado a um produto visto, muitas vezes, como uma mercadoria que não inventou: pincelou-a com azeite, grelhou-a e serviu-a no ponto
indiferenciada. Os irmãos Lopes não foram os únicos a fazê-lo, mas foram com a pele ligeiramente crocante.
os que mais apostaram na valorização do produto, com a criação de uma Tenho uma predileção por partes dos animais carregadas de cola-
gama que inclui flor de sal, sal com ervas aromáticas, temperos de carne e génio, ou seja, de sabor. Na zona, como em muitos outros lugares, mão
peixe, queijos de sal e aromatizados, bem como na criação de uma marca de vaca guisada com grão é um prato muito apreciado. Inspirado nele,
e de uma forma de fazê-los chegar a gastrónomos e chefes de cozinha. Bernardo substitui as manitas do ruminante pela bexiga natatória do
Bernardo Monteiro já conhecia o trabalho dos irmãos e, recentemente, bacalhau, mais conhecido por sames, um subproduto que dá certo tra-
quando decidiu regressar à terra dos pais, a uns 15 km. dali, desafiaram-no balho a preparar, mas que é maravilhoso, quer em termos de sabor, quer
a cuidar da taberna anexa à loja. Com apenas 28 anos, Bernardo é um de textura - com a vantagem de não colar os lábios como a mão de vaca,
jovem, mas já anda no meio há mais de uma década, desde que entrou logo mais fácil de agradar a gregos e troianos.
na escola de hotelaria aos 15 anos e rapidamente começou a trabalhar “Cogumelos salteados com alecrim e Vinho do Porto” é aquele tipo de
em restaurantes. Passou por vários espaços do grupo Avillez (o seu pri- prato que pode dar algo sumptuoso, quando o caro ingrediente silvestre
meiro estágio foi no Belcanto), de Quique Dacosta (no três estrelas de é o rei, ou algo que raramente se destaca, quando se recorre a “cham-
Denia e no duas estrelas El Poblet, em Valencia) e, mais recentemente, pignons” industriais. Ora, o Bernardo consegue um bom compromisso,
de Alexandre Silva, primeiro, no Craveiral e depois no Fogo, em Lisboa. sem nos tirar um rim. Utiliza cogumelos de cultivo, de qualidade, de um
E se Quique Dacosta lhe permitiu abrir as portas a um novo mundo, foi produtor local, em grande parte shitakes e mini pleurotus eryngii. Depois,
com Alexandre Silva, sobretudo já numa fase mais madura, no Fogo, que cuida do sabor e da textura, salteando-os até ao ponto quase de cara-
sentiu o despertar de uma identidade gastronómica que se aproximava melização, em que eles absorvem o líquido (azeite, e no caso, Vinho do
da sua maneira de ser. Porto), bem como o gosto a alho e alecrim, sem perderem a firmeza.
A Taberna 1865 da Loja do Sal é a sua primeira experiência como chef Dada a vocação do local, muito procurado para petiscar, há pratos mais
principal, mas Bernardo não embandeira em arco, nem com o currículo, elaborados, dentro da mesma matriz tradicional, que compreensivamente

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 121


CRÍTICA GASTRONÓMICA

Dada a vocação do local, muito procurado


para petiscar, há pratos mais elaborados,
dentro da mesma matriz tradicional, que
só estão disponíveis por encomenda,
como é o caso dos arrozes de peixe, de
marisco, ou ainda a açorda de marisco.

(até por questões de logística e de guarda) só estão dis- couve (cortada como no caldo verde) e azeite.
poníveis por encomenda, como é o caso dos arrozes No campo doceiro existe apenas uma sobremesa, mas
de peixe, de marisco, ou dos dois, ou ainda a açorda de é uma senhora sobremesa, assim um pijaminha “kitado”.

classificação
marisco. Portanto, quem vier à procura de produto fresco Chama-se do “do grão ao convento”, vem numa tábua
do mar é bom que o peça com antecedência, ou então e inclui salatinos - uns pequenos pastéis da casa, ao
pode ter a sorte de apanhar algo como prato do dia, estilo conventual, de doce de ovos, limão, feijão branco
como foi o caso das lulas com açorda de tomate dispo- e flor de sal -, pedaços de torrão de amêndoa, chocolate

16,5 níveis nesse domingo. As lulas, bem grelhadas, “al dente”,


vinham em pedaços e eram macias, a revelar a qualidade,
negro com flor sal e gelado de caramelo salgado. Bom,
de encher o olho, descomplicado e apropriado ao local.
mas o destaque foi para o acompanhamento, a açorda, Em matéria de vinhos, foi só escolher na garrafeira,
Cozinha um prato “pobre” de aproveitamento, que no Ribatejo entre dezenas de referências, de norte a sul do país,
se apresenta numa forma mais consistente, como uma algumas delas de distribuição exclusiva da casa. Optámos
papa grossa, mas em que ainda se sente a textura do pelo Ninfa Vinhas Velhas 2017, um tinto com certa pureza

15,5 miolo molhado, bem como da côdea do pão. Segundo


a tradição, esta açorda faz-se com pão de trigo, azeite,
e garra, que se mostrou o companheiro certo para esta
farta mesa. O vinho tem ainda a particularidade de ser
alho, água fervente, eventualmente uma erva aromática vinificado a umas centenas de metros dali, por João T.
Sala e, no caso, também tomate – que não sendo ainda o Barbosa, com uvas de vinhas velhas compradas na zona.
de época é de uma estufa de produção própria. Porém, Por último, em termos de serviço, o atendimento foi cor-
Bernardo Monteiro aproveita a água onde antes cozeu reto e cordial, próprio de uma casa familiar.
15,5 bacalhau, junta-lhe as cabeças das lulas e as espinhas
e faz um caldo ligeiro, tipo dashi, acrescentando uma
No final da refeição tirei uma foto ao cozinheiro e enviei
ao seu anterior chefe, Alexandre Silva, que me respondeu:
camada extra de sabor ao conjunto - e é esta a diferença “O meu Bernardo! Ele é cozinheiro dos pés à cabeça e
Vinhos que um cozinheiro com conhecimento de causa pode acima disso gosta mesmo de o ser. Não há muitos assim
acrescentar a um prato típico acrescentando valor sem a gostar mesmo da profissão”. A terminar, o chef do
Preço médio com vinho: o desvirtuar. Loco (com uma estrela Michelin), mencionou ainda que
25/30€ (por pessoa). Ainda antes da sobremesa houve espaço (sabe-se lá “é muito importante que bons cozinheiros comecem a
Pagou-se pela refeição, como) para uma tiborna de bacalhau com migas. Deixo de regressar às suas terras para Portugal continuar a crescer
para quatro adultos e duas lado a discussão se era mesmo uma tiborna alentejana ou de uma maneira mais homogénea”. Nem mais.
crianças, 117,60€. torricado ribatejano, mas que estava de lhe tirar o chapéu,
oh se estava! Aliás, até dá fome descrever o petisco, com LOJA DO SAL / TABERNA 1865
Horário: almoços, Segunda a as suas lascas do cachaço suculentas empoleiradas RUA PRINCIPAL DAS SALINAS, Nº16/18/24/26
Domingo, 12h-15h; Jantares, numa fatia de pão torrado e regadas com azeite infusio- MARINHAS DO SAL, RIO MAIOR
Sextas e Sábados, 19h-22.30h nado com louro e alho. Como se não bastasse, acompa- T.243 991 596
nhava umas migas de estalo, feitas com de pão de milho,

122 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Utensílios de mesa e cozinha
para hotelaria e restauração

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Para ver e ouvir NOVIDADES
texto e notas de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Daniel Luciano

Eulogio Pomares e Rebeca Montero

Eulogio Pomares

O primado
do terrunho

124 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Eulogio Pomares figura, por mérito próprio, entre os nomes inferior de 0,5 hectares por proprietário. É ali, numa geografia sal-
maiores da enologia de Espanha. A Galiza é o berço e território picada pela maresia e os ventos frios atlânticos, que entende que o
primordial de atuação, tendo o contexto familiar ajudado a tor- Albariño encontra uma relação especial entre clima, solo, planta.
nar-se naquilo que hoje é. As avós e as tias sempre tiveram vinhas “Mudei muito a minha forma de trabalhar. É importante a viti-
e o pai, médico, percebeu desde cedo que o filho iria enveredar por cultura regressar ao tradicional, sem grandes rendimentos. Quero
outras ciências. Estudou Agronomia e Enologia e na década de 90 fazer vinhos de terrunho, com práticas históricas como a mace-
começou a colocar as mãos na massa. ração pelicular, fermentações a baixas temperaturas que tentam
A afirmação aconteceu já depois do virar do século, mas desde expressar as características primárias, a tensão e a mineralidade do
2015 optou por fazer as coisas de modo diferente – menor inter- granito”, diz.
venção para permitir maior expressão de lugares. Os atuais Alvarinhos de Eulogio refletem-no bem. Nunca há
Procurou resgatar práticas mais ancestrais que, ao que advoga, excessos tropicais, pelo contrário, a perceção de solo está sempre
“permitem que os vinhos vivam mais tempo com menos tecno- muito presente, a tensão, garra, acidez e salinidade são evidentes.
logia”. Maior exposição ao oxigénio na fase inicial da vinificação, No vale do Salnés, em que 99,7% das uvas são brancas, Eulogio
permitindo que o vinho “seja mais longevo e estável ao longo do está igualmente a despertar para vinhos tintos, reatando um link
tempo”, passou a ser uma das alterações mais evidentes por compa- com o passado e a partir de variedades que o Minho português
ração com o que até ali praticava. conhece bem – Caiño tinto, Loureiro tinto e Espadeiro.
Não gosta de trabalhar o Albariño com barrica, considerando não “Em Salnés, o Espadeiro e o Caiño tinto dão vinhos que estão hoje
existir tradição histórica. Relembra os velhos tonéis de castanho de na moda. Frescos, atlânticos, de baixo álcool, de variedades origi-
outros tempos para defender recipientes de maior dimensão como nais. Pessoalmente, creio que terão muito potencial de crescimento,
os foudres – “A relação entre a superfície de madeira e o volume de sem esquecer que o rei continuará a ser o Alvarinho”, defende.
vinho é menor e, além disso, a madeira dos foudres é mais velha e A Revista de Vinhos recebeu, no Porto, Eulogio Pomares.
menos tostada do que a das barricas, o que permite uma evolução Provamos grandes vinhos e marcamos reencontro para a Galiza,
diferente aos vinhos, não lhes desvirtua o carácter”. essa terra irmã do Alto Minho que, tal como acontece do lado por-
Tal como no Alto Minho português, lembra o rendilhado de pro- tuguês, está igualmente a ser muito procurada por operadores com
priedades no vale do Salnés. Enfatiza, a propósito, que em 2.200 lastro de outras regiões espanholas.
hectares de vinhas há 5.000 viticultores, ou seja, uma média

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 125


NOVIDADES

No vale do Salnés, em 2.200


hectares de vinhas há 5.000
viticultores, ou seja, uma média
inferior a 0,5 hectares por
proprietário. É ali, numa geografia
salpicada pela maresia e os ventos
frios atlânticos, que entende que
o Albariño encontra uma relação
especial entre clima, solo, planta.

96 94 92
Zarate El Palomar 2015 Zarate Tras da Viña 2017 Zarate Espadeiro 2019
Rias Baixas / Branco / Eulogio Rias Baixas / Branco / Eulogio Rias Baixas / Tinto / Eulogio Pomares
Pomares Zarate e Hijos Pomares Zarate e Hijos Zarate e Hijos
Dourado, reflexos ambarinos. Notas Dourado vivo. Notas de fumo, cera A cor granada vai predominando sobre o
de avelã, noz, cera de abelha e mar. As de abelha, restolho e algas secas. A rubi. O nariz é carnudo e mostra tintura
texturas são notáveis e desdobram-se salinidade é estonteante e está sempre em de iodo, morango e cereja vermelha.
sucessivamente, a um ritmo avassalador. primeiro plano. As camadas sucedem-se, Solto e de tanino fresco, está suportado
Tenso, firme, salgado, projeta-se num final a identidade está bem acentuada, o final por uma acidez de matriz marítima,
que mais parece interminável. Mais do que perdura. Um Alvarinho guerreiro, que tem personalidade própria e um final
um Alvarinho, um vinho branco notável! merece tempo. que é refrescante e já mostra evolução
Consumo: 2024-2034 Consumo: 2024-2040 convincente. Mostra uma versão muito
40,00 € / 11ºC 40,00 € / 11ºC menos óbvia da casta.
— — Consumo: 2024-2028€
32,00 € / 16ºC
94 94 —

Carralcoba 2020 Pedraneira 2018 91


Rias Baixas / Branco / Eulogio Rias Baixas / Branco / Eulogio
Pomares Zarate e Hijos Pomares Zarate e Hijos
Sal da Terra 2020
Amarelo, laivos âmbar. O perfil é Dourado. O nariz tem um oxidativo que Rias Baixas / Branco / Eulogio
alaranjado. Nuances amendoadas e agrada. Notas de avelã combinadas com Pomares Zarate e Hijos
de fruto branco de caroço, fumo e noz. maresia. O ataque é firme, a acidez é Dourado. Notas de raspas de lima e
Desvenda-se por camadas de sabor, tem sempre bem presente, o final projeta-se de tangerina, relva cortada com uma
volume e precisão, um final untuoso e numa teimosia que perdura por longos exuberância a lembrar um Sauvignon. A
que deixa lastro. A matéria que possui é o minutos. Um Alvarinho marítimo, da perceção salina confirma-se. Fresco e
principal cartão de visita. cabeça aos pés. só aparentemente leve, tem tensão, boa
Consumo: 2024-2032 Consumo: 2024-2034 acidez e um final bastante refrescante e
32,00 € / 11ºC 22,00 € / 11ºC fino. Prová-lo é imaginar gastronomia de
mar.
Consumo: 2024-2032
24,00 € / 11ºC

126 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


COMÉRCIO DE EQUIPAMENTOS
PARA A INDÚSTRIA ALIMENTAR
NOVIDADES
texto e notas de prova Manuel Moreira / fotos Arquivo e D.R.

Sogevinus Fine Wines

As novas colheitas
da Quinta da Boavista

A icónica propriedade duriense Quinta da Boavista, situada perto do


Pinhão, na margem direita do rio Douro, revelou as suas mais recentes
colheitas de vinhos que agora chegam ao mercado. Inaugurado em
2023, surge agora a segunda edição do Quinta da Boavista Vinha do
Levante 2021, o único vinho branco da quinta alicerçado nas castas
Arinto e Viosinho da vinha que lhe dá o nome, numa das cotas mais
altas da propriedade.
Além deste branco, apresentaram-se três vinhos monocasta, que a
equipa de enologia decide engarrafar quando alguma se destaca. Casos
do Boa-Vista Touriga Franca 2020 e o Boa-Vista Touriga Nacional
2020. Ambas variedades são muito mais comuns do que a Donzelinho,
da qual emerge o elegante e delicado Boa-Vista Donzelinho 2021, sujeito
a estágio de 15 meses em cascos.
Também foi apresentado o Boa-Vista Reserva Tinto 2020, feito com
uvas de vinhas antigas e novas, retratando a diversidade de pequenos
terroirs da quinta. Para finalizar, foram apresentadas as novas colheitas
dos já clássicos vinhos de parcela de vinhas velhas Quinta da Boavista
Vinha do Oratório 2020 e Vinha do Ujo 2020.

128 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


93
Boa-Vista Reserva 2020
Douro / Tinto / Sogevinus Fine Wines
Profundidade e riqueza aromáticas, requintado. Fruta,
especiarias, bosque, mineral, torrefação, cada um no seu lugar.
Na boca não se esconde. Polimento de taninos, frescura ácida,
sempre em padrão elevado. No final, na despedida deixa-nos
com um sorriso de júbilo.
Consumo: 2024-2040
45,00€ / 16°C

91
Boa-Vista Touriga Nacional 2020
Douro / Tinto / Sogevinus Fine Wines
Dá-se a conhecer num repertório de boa fruta azulada, alguma
madurez chegada ao macerado. Floral “doce”, sálvia e algum
chocolate. Madeira integrada e de bom gosto. Taninos vivos
de refinado toque. No todo sobressai o vínculo da emoção e
razão. E de futuro!
Consumo: 2024-2035
28,00€ / 16°C

90
Boa-Vista Touriga Franca 2020
Douro / Tinto / Sogevinus Fine Wines
Agarra-nos de imediato pela profundidade frutada, ameixa
e amora, e barrica imaculada. Violeta e rosa secas e mina
de lápis. Boca de fino e altivo porte, apesar de sumarento
a frescura é protagonista. Taninos perfeitos. O final não o
desmerece e deixa longo rasto de qualidade.
Consumo: 2024-2033
28,00€ / 16°C

90
Quinta da Boavista Vinha do Levante 2021
Douro / Branco / Sogevinus Fine Wines
Nariz fino, penetrante de frescura, subtilezas ao longo da
prova, dando-lhe um perfil cada vez mais plural. Muito afinado,
mas com génio. O corpo muito bem composto, é servido por
brilhante acidez citrina, muito vertical, seco, de distintiva
persistência. Para beber sem pressas.
Consumo: 2024-2035
35,00€ / 11°C

89
Boa-Vista Donzelinho 2021
Douro / Tinto / Sogevinus Fine Wines
Nariz de muita finura frutada (cereja e groselha), envolta
por especiarias e chocolate de leite. Bosque e caruma.
Proporcionado na boca, apesar de algum volume predomina a
subtileza entre a fruta e a barrica, taninos macios, tudo guiado
por frescura que o faz irresistível. E viciante!
Consumo: 2024-2030
28,00€ / 16°C

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 129


NOVIDADES
texto e notas de prova José João Santos / fotos Arquivo e D.R.

Tomás Roquette, Manuel Lobo, Jean-Charles Cazes e Daniel Llose

Roquette & Cazes

Xisto que
perdura

Foi em 2002 que os Roquette do Douro e os Cazes de Bordéus


decidiram avançar com uma parceria de vinhos. O primeiro Xisto,
95
de 2003, haveria de ser lançado na Vinexpo de 2005, tendo a filo- Xisto 2019
sofia bordalesa do “second vin” prevalecido e decidido um novo Douro / Tinto / Roquette & Cazes
vinho, o Roquette & Cazes, em 2006. Touriga Nacional, Tinta Roriz Rubi. Notas florais elegantes secundadas por bergamota,
e Touriga Franca são as castas de eleição. folha de tabaco, cedro, pimenta e alcaçuz. O tanino
A partir da aquisição da Quinta do Meco, junto ao Monte surge poderoso, a estrutura é sólida como rocha, tem
Callabriga e à Quinta da Granja, tudo ficou mais fácil e o objetivo de acidez assertiva e um final que caminha pela floresta. O
curto prazo é passar das 85.000 garrafas atuais para as redondas potencial de guarda superará a dezena de anos.
100.000 de produção anual. O Xisto, esse, continuará apenas a ser Consumo: 2024-2040
lançado em anos considerados de especial qualidade, num entendi- 85,00 € / 16ºC
mento exclusivo da dupla de enólogos Daniel Llose e Manuel Lobo, —
um francês e um português que se entendem na perfeição em…
espanhol. 91
A Revista de Vinhos acompanhou a estreia do Xisto 2019 no The Roquette & Cazes 2021
Yeatman, em Vila Nova de Gaia, 7.000 garrafas de um dos tintos
Douro / Tinto / Roquette & Cazes
de nomeada do Douro, que mantém a raça da região mas nunca
Rubi. Notas de caruma, folha de tabaco, bergamota,
escondeu a inimitável abordagem bordalesa (délestage incluída).
ervas secas e um floral elegante. O tanino é presente mas
permite fluidez, há boa acidez geral, tem estrutura firme
e um final muito prolongado e sempre fresco. Exato e em
esquadria, permite mano a mano feliz entre versatilidade
e nobreza.
Consumo: 2024-2034
22,50 € / 16ºC

130 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


Encanto .

B
uridade . Sedução .

rio . Equilíbrio . H
at arm
M

on
Elegância . Requinte . SosÁficação .

ia . Aprumo . SubÁleza . Elegante

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Para ver e ouvir NOVIDADES
texto e notas de prova José João Santos, Luis Costa, Nuno Guedes Vaz Pires / fotos Arquivo

Jorge Rosa Santos

Rosa Santos

Aprumo em
família
96
Rosa Santos Malvasia de
Colares Grande Reserva 2015
Lisboa (Colares) / Branco / Soc.
Agrícola Jorge Rosa Santos
Dourado. Notas de flores brancas, maçã,
pêra e pêssego, com uma matriz oxidativa
e as primeiras impressões de noz logo a
seguir. Está repleto de camadas envoltas
por maresia, tem texturas diversificadas,
bom volume e um final bem persistente.
Distinto, é um branco de território, um
vinho de casta e de lugar.
Consumo: 2024-2040
145,00 € / 11ºC

93
Rosa Santos Família 2019
Regional Alentejano / Tinto / Soc.
Agrícola Jorge Rosa Santos
Rubi escuro. O manto é florestal, como
nuances vegetais a contextualizar mirtilo
e groselha negra. A especiaria, o café
e o cedro surgem a seguir. Tem tanino
musculado, acidez impecável que o
mantém nos carris, de final muito profundo
e a mostrar diferentes camadas. Merece
garrafeira.
Consumo: 2024-2034
52,95 € / 16ºC

A tradição de família relacionada com vinhos soma umas quantas
gerações, ainda que o centralizar da operação no Alentejo, em
Estremoz, seja bem mais recente. Os irmãos Frederico, Ricardo, Jorge
91
e Vasco são os autores do projeto na atualidade. Explicit X 2020
Estivemos com Jorge Rosa Santos a provar os mais recentes lança- Regional Alentejano / Tinto / Soc.
mentos, sendo extra Alentejo a novidade que mais brilhou. Malvasia Agrícola Jorge Rosa Santos
de Colares Grande Reserva 2015 é um vinho branco monumental, em Rubi escuro. O nariz é florestal, do fruto às
singularidade e carácter, que ilustra muito bem os pergaminhos de nuances de caruma, pinhal e cedro. Tanino
uma denominação que parece hoje querer despertar. Os tintos alen- portentoso, polido já pelos primeiros anos,
tejanos, de 2020 e 2019, são portentos que enfrentarão os ditames acidez natural que suporta o conjunto,
do tempo, o Explicit com uma abordagem mais polida, o Rosa Santos final muito insistente, prolongado e firme.
Família com uma têmpera de sucessivas texturas. Uma família que se Está pronto a cavalgar o tempo.
apruma no vinho. Consumo: 2024-2034
18,50 € / 16ºC

132 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


A união
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Da uva
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Para ver e ouvir NOVIDADES
texto e notas de prova José João Santos, Nuno Guedes Vaz Pires / foto Ricardo Garrido

Revela

Mariana
Salvador a solo 94
Revela 2021
Dão / Tinto / Mariana de Figueiredo
Vala Salvador
Rubi aberto. O nariz é bem curioso, entre
a romã e a folhagem de morango. O
lado vegetal está igualmente presente.
De tanino fresco e firme, assume leveza
estrutural e solidez de prova, mostra
bastante persistência final mas jamais
belisca a finura. Um Dão de sabor,
aprovado com distinção.
Consumo 2024-2034
28,00 € / 11ºC

92
Revela 2022
Dão / Branco / Mariana de Figueiredo
Vala Salvador
Amarelo palha. Algum floral fino, nectarina,
fumo e tangerina. O perfil é elegante,
de início ao fim da prova. Tem textura,
excelente acidez, muita exatidão geral e
um final teimoso e profundo. Um Dão de
finura.
Consumo: 2024-2034
28,00 € / 11ºC

Recém-eleita “Enólogo Revelação do Ano 2023” pela Revista de Vinhos, Mariana


Salvador antecipou-nos os primeiros resultados do projeto pessoal – os vinhos Revela.
São nativos do Dão e resultam de uma parceria estabelecida com dois viticultores Mariana Salvador
em Nelas, uvas que resultaram num total de três referências e 3.000 garrafas: um
antecipou-nos os primeiros
milhar de Encruzado, 1.500 do tinto e escassas 300 de um outro branco. Mariana
está, entretanto, a fechar duas outras parcerias com viticultores da Serra da Estrela, o resultados do projeto pessoal
que lhe permitirá alargar horizontes. A vinificação dos estreantes decorreu na adega
– os vinhos Revela. São nativos
do projeto Textura, onde assume a enologia residente.
Natural de Lisboa, Mariana cresceu em Abrantes e estudou Engenharia Alimentar do Dão e resultam de uma
e Viticultura no Instituto Superior de Agronomia. Esteve na Companhia das Lezírias parceria estabelecida com dois
nos consulados de Frederico Falcão e Bernardo Cabral, experimentou a Austrália, a
Nova Zelândia e o Chile, trabalhou na Comporta com Nuno Mira do Ó e conheceu viticultores em Nelas, uvas que
Marcelo Villela de Araújo, o produtor dos vinhos Textura, numa pós-graduação em resultaram num total de três
Enologia na Universidade Católica. Atualmente reside no Porto e trabalha ainda os
vinhos da Quinta de São Lourenço (Beira Interior) e os DOP Madeirenses da Barbeito. referências e 3.000 garrafas.
Um monocasta Alfrocheiro com toques de fermentação carbónica será a próxima
novidade por entre os Revela.

134 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


NOVIDADES
texto e notas de prova Manuel Moreira / foto D.R.

Luís Serrano Mira

Herdade das Servas

Servas de Bacchus,
ícone e tributo a 96
Servas de Bacchus 2016

legado familiar
Regional Alentejano / Tinto /
Serrano Mira
O nariz revela toda a ambição posta na sua
conceção. Ainda jovem, a arquitetura geral é
robusta e apurada. O tanino é carnudo, acidez
Luis Serrano Mira lançou o vinho tinto que passa a ser ícone na alentejana Herdade e nervo bem sustidos pela enorme estrutura.
das Servas, o Servas de Bacchus 2016. Mas, até chegar a este momento, passaram-se O final é interminável, a guarda é evidente.
vários anos. Em 2016, conseguiu o vinho que ambicionava, após inúmeros ensaios Decante-o para já, ou aguarde.
com vinhas, casta e métodos de vinificação. E não era para menos. Este vinho carre- Consumo: 2025-2040
garia consigo a responsabilidade de preservar, numa garrafa, o legado familiar de 13 267,00€ / 16°C
gerações na vitivinicultura alentejana.
As uvas têm origem no field blend da Vinha do Clérigo, em Orada. É uma parcela de
10 hectares plantada em 1940 com Trincadeira Preta, Castelão e Alicante Bouschet.
Vindimadas no momento certo e minuciosamente escolhidas, as uvas foram pisadas
em lagar de mármore e o mosto seguiu para fermentação em dez ‘spin barrels’ de
carvalho francês, novos e com capacidade de 500L. Estagiou dois anos em barricas As uvas têm origem no field
novas de carvalho francês de 225L. Foi engarrafado em maio de 2019 e lançado para blend da Vinha do Clérigo,
o mercado depois de quatro anos e meio de repouso.
Uma das condições era que o vinho apresentasse grande potencial de envelheci- em Orada. É uma parcela
mento. Após engarrafamento, em maio de 2019, ficou quatro anos e meio de repouso. de 10 hectares plantada em
Submetido a provas ao longo de vários anos, o vinho mostrou-se cumpridor dessa
exigência e, finalmente, chega ao mercado. Encontra-se à venda em caixas de madeira
1940 com Trincadeira Preta,
de uma, três ou seis unidades. Cada uma custa €267,00, numa edição muito limitada Castelão e Alicante Bouschet.
de 3.600 garrafas.

136 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


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PONTUAÇÕES
Regras de avaliação Todos os vinhos que obtiverem uma pontuação igual ou

e classificação inferior a 74 valores serão submetidos a nova prova (de pelo


menos um membro do painel). Caso a pontuação resultante
desta segunda prova seja inferior a 74 valores, tal facto é
da Revista de Vinhos comunicado ao produtor e a nota respetiva não é publicada
na revista.

As notas e pontuações atribuídas são registadas imediata-


A Revista de Vinhos segue, desde a edição 400, o modelo de prova e clas- mente na base de dados da Revista de Vinhos, antes de serem
sificação de vinhos da chamada escala OIV - Organização Internacional da reveladas aos membros do painel. Após a identificação dos
Vinha e do Vinho -, ou seja, de 0 a 100 pontos. vinhos são permitidos comentários adicionais a uma nota
de prova, por exemplo sobre a relação qualidade/preço, mas
Sabemos que o mundo do vinho está em constante evolução. É, por isso, nunca alterando a pontuação previamente atribuída.
tendo em mente a necessidade de acompanhar as grandes tendências
internacionais e até as necessidades dos produtores, que a Revista de
Vinhos adota esta escala, ao mesmo tempo que uniformiza o modelo de PROVA DE VINHOS
avaliação com a revista brasileira Gula que, desde a inclusão na esfera
do grupo Essência, utiliza esta escala. Também a parceria ibérica com o As provas são efetuadas no respeito pelas condições necessá-
grupo Peñin, responsável pela edição do celebérrimo guia com o mesmo rias para o efeito, nomeadamente no que se refere à tempe-
nome, impõe a colaboração em provas e eventos no mundo ibero-ameri- ratura da sala, humidade, iluminação e ausência de cheiros.
cano num modelo semelhante. Em todas as provas, as garrafas são cobertas e a cada vinho
é atribuída uma referência, que constará da base de dados
da Revista de Vinhos. O painel da Revista de Vinhos - A
Essência do Vinho adota a ficha de provas e respetivos parâ-
metros de avaliação OIV - Organização Internacional da
Vinha e do Vinho.

PROVAS REGULARES

O painel prova todos os meses dezenas de amostras de


vinhos, com incidência nas novidades lançadas no mercado,
procedendo individualmente à respetiva avaliação. A nota de
95-100 90-94 85-89 prova correspondente a cada vinho, embora reflita a opinião
da revista, é identificada através das iniciais do respetivo pro-
vador. Nuno Guedes Vaz Pires, diretor da Revista de Vinhos,
exerce o voto de qualidade na tomada de decisões.
EXCELENTE SUPERIOR MUITO BOM
vinho monumental, vinho de caráter e vinho acima
de características estilo superiores da média, com PROVAS TEMÁTICAS
singulares complexidade
Nestas provas, todos os membros do painel provam os
mesmos vinhos de acordo com um tema pré-definido. A nota
de prova de cada vinho resulta de uma média aritmética das
classificações atribuídas.

COPOS
80-84 75-79 50-74 Nas provas da Revista de Vinhos, são utilizados os copos
Riedel Wine Cabernet / Merlot.

De todos os vinhos provados e selecionados para publicação,


BOM MEDIANO NÃO o coordenador do painel escolhe mensalmente um conjunto
vinho bem vinho correto, sem RECOMENDADO de vinhos de acordo com os seguintes parâmetros:
elaborado pretensões
Altamente Recomendados
Vinhos mais surpreendentes, classificados com mais de 90
pontos.

Boas Compras
Vinhos de melhor relação qualidade/preço, vinhos classifi-
cados a partir de 80 pontos.

Os preços indicados nas notas de prova (PVP) são os preços


de venda recomendados pelo produtor em Portugal.
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Conheça os vinhos provados pelos nossos especialistas.


Pode também encontrá-los online em vinha.pt

painel de provadores
da revista de vinhos

Nuno Guedes Vaz Pires Alexandre Lalas António Lopes Bento Amaral
DIRETOR REVISTA DE VINHOS JORNALISTA E CRÍTICO SOMMELIER ENÓLOGO
DE VINHOS E WINE EDUCATOR E WINE EDUCATOR

Célia Lourenço Guilherme Corrêa Igor Beron José João Santos


REDATORA E CRÍTICA SOMMELIER DIP.WSET SOMMELIER DIP.WSET JORNALISTA E CRÍTICO
DE VINHOS DE VINHOS

Luís Costa Manuel Moreira Marc Barros


CRÍTICO DE VINHOS SOMMELIER EDITOR REVISTA DE VINHOS
E WINE EDUCATOR

Nuno Bico Rodolfo Tristão Sara Matos


PROVADOR SOMMELIER WINE EDUCATOR
E WINE EDUCATOR

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 139


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

AÇORES
90 88
86 Tonico 2021 Monte da Peceguina
2022
Incerteza (Grenache) Alentejo / Branco / Soc. Vit.
Courela dos Aleixos - Adega Marel Regional Alentejano / Branco /
2022
Herdade da Malhadinha Nova
Biscoitos / Rosé / Adega dos
Amarelo acobreado. Nariz
distintivo, fruta seca, alperce, Notas exuberantes de fruto
Sentidos
cera, resinas e especiarias. de polpa branca e aromas
Tonalidade rosa, estilo
Rico e amplo, com ligeiro tropicais, como manga e
Provence. Aromas de bagas
verniz. Boca de belo porte, ananás. Seco na entrada
vermelhas e cereja branca,
tenso e volumoso. Bem seco, em boca, acidez crescente,
e curiosos apontamentos de
adstringência e cheio de sabor limonada. Final algo sucroso, a
rabanete e de pólvora. Na boca
e final algo picante. Versátil, conferir volume e untuosidade.
mostra acidez pungente, mas
mas destemido com pratos MB Consumo: 2024-2029
domada, que abre caminho
mais ricos. MM Consumo: 2024- 14,50€ / 11ºC
a final salgado, levemente
apimentado e persistente. LC 2030
Consumo: 2024-2028 33,00€ / 11ºC
38,00€ / 11ºC 88
Monte da Peceguina
ALENTEJO 89 2022
Freixo Chardonnay 2022 Regional Alentejano / Rosé /
92 Regional Alentejano / Branco /
Herdade da Malhadinha Nova
Herdade do Freixo Aromas de fruta vermelha.
Dona Maria Amantis
Aromas frescos, fruta fresca, Fruta no aroma de boca,
Reserva 2019
pêssego, ananás pouco vegetal a contrapor. Acidez
Alentejo / Tinto / Júlio Bastos média, linear, a suportar a
maduro. Toque herbal evidente
Rubi brilhante. Fruta em sucrosidade e volume. MB
que confere frescura. Barrica
primeiro plano com notas Consumo: 2024-2029
suave. Sabor seco, acidez
aromáticas de amora, 14,50€ / 11ºC
presente, citrino e mineral,
mirtilo, ameixa vermelha e
fresco, bom corpo e final
cereja madura. Leve manto
refrescante. RT Consumo:
especiado num perfil de
elegância e sofisticação. Na
2024-2026 87
11,30€ / 11ºC
boca é saboroso, acetinado, Conventual Reserva 2021
fresco e envolvente. Acidez Alentejo / Tinto / Adega Portalegre
irrepreensível. LC Consumo: Winery APW
2024-2035 / 17,85€ / 16ºC 89 Toda a prova está dominada
Freixo Reserva 2021 por elegância e maciez. Nos
Regional Alentejano / Branco / detalhes sente-se a boa
90 Herdade do Freixo estrutura de taninos polidos. Há
Cor amarela suave, aromas uma frescura omnipresente que
Freixo Reserva 2020
frutados, pêssego, damasco, deixa um rasto de vontade de
Alentejo / Tinto / Herdade do provar mais. Boa persistência.
Freixo floral presente. Madeira com
alguma evidência positiva. Também um certo classicismo
Notas frutadas com suave que lhe assenta bem. Pronto
Sabor seco, acidez presente,
terroso. Especiado, com a beber. MM Consumo: 2024-
notas frescas, madeira suave,
madeira suave. Sabor seco, 2028
frutado. Bom corpo e final
tanino presente, frutado,
sedoso e longo. RT Consumo: 12,00€ / 16ºC
encorpado e final longo. RT
2024-2028
Consumo: 2024-2028
14,50€ / 11ºC
20,95€ / 16ºC
87
Freixo Special Edition
90 88 2022
Freixo Sauvignon Blanc Regional Alentejano / Rosé /
Malhadinha Late Harvest Herdade do Freixo
2022
2020 Cor ligeira, ténue. Aromas
Regional Alentejano / Branco /
Regional Alentejano / Colheita Herdade do Freixo frutados, frutos vermelhos,
Tardia / Herdade da Malhadinha toque floral. Sabor seco, boa
Nova
Cor amarela esverdeada,
aromas frutados ligeiros, com acidez, fresco e frutado, fácil
Tom cobre. Fruta cristalizada, de degustar. Final correcto. RT
nota herbal a dar frescura.
pera, nuance de canela, Consumo: 2024-2026
Seco, acidez suave, frutado
musgo. Nota de verniz. Gordo 17,50€ / 11ºC
e floral, bom corpo e final
e glicerinado, a acidez suporta
persistente. RT Consumo: 2024-
o conjunto, em que a fruta
2027
ressurge no aroma de boca. MB
Consumo: 2024-2027 11,30€ / 11ºC
35,00€ / 6ºC

140 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

87 87 85
Herdade da Rocha 2022 Ribafreixo Antão Vaz Ribafreixo Seleção 2022
Regional Alentejano / Branco / 2021 Alentejo / Branco / Ribafreixo
Amestate, Soc. Imobilária Alentejo / Branco / Ribafreixo Wines
Amarelo limão. Notas de raspas Wines Amarelo limão. Notas
de lima, pêssego, toranja e uma Amarelo limão. Nariz de palha vegetais e florais em sintonia,
perceção interessante de solo. seca, raspas de tangerina e complementos de toranja
Generoso na dimensão, exibe lima. O aromático, que atrai, e lima. Boa acidez, tensão
bom trabalho com as borras é seguido por uma estrutura estrutural, surpreendente
finas, tem generosidade na muito sólida, que combina frescura no fecho. Bastante
expressão da acidez, combina acidez e volume em integração. versátil, será na mesa uma
estrutura com sabores frutados. Termina bem, a reforçar a opção segura. JJS Consumo:
Bem conseguido. JJS Consumo: seriedade. JJS Consumo: 2024- 2024-2028
2024-2028 / 10,00€ / 11ºC 2030 / 8,50€ / 11ºC 7,00€ / 11ºC

87 86 85
Herdade da Rocha 2020 Ribafreixo Alvarinho Ribafreixo Seleção 2020
Regional Alentejano / Tinto / 2022 Regional Alentejano / Tinto /
Amestate, Soc. Imobilária Regional Alentejano / Branco / Ribafreixo Wines
Rubi escuro. Florais finos, grão Ribafreixo Wines Rubi. Alguns florais logo
de café, alguns tostados e Amarelo limão. Notas seguidos por complementos
especiaria. Tanino firme, muita inicialmente florais, de pimento, groselha escura
solidez estrutural, a mostrar complementados por nectarina, e toque ligeiro de café.
volume bem integrado e um líchia. Largo e untuoso, muito Tanino democrático, volume
final sedoso e texturado. Será envolvente e com cremosidade contextualizado pela acidez, de
parceiro garantido à mesa. JJS geral. Encorpado, nunca final mais fresco e, sobretudo,
Consumo: 2024-2030 perde a acidez e termina gastronomicamente versátil.
10,00€ / 16ºC particularmente apelativo, a JJS Consumo: 2024-2027
propor-se para a mesa. JJS 7,50€ / 16ºC
Consumo: 2024-2030
87 8,50€ / 11ºC ALGARVE
Herdade da Rocha
Private Collection 91
Alvarinho 2022 86 Castelo de Tavira 2021
Regional Alentejano / Branco / Ribafreixo Cashmere Tavira / Tinto / Casa Santos Lima
Amestate, Soc. Imobilária 2021 Rubi. Aromas muito limpos
Amarelo limão. Notas muito Regional Alentejano / Rosé / a fruta preta e azulada, leve
suaves de roseiral, alguma Ribafreixo Wines verniz, grãos de pimenta e
líchia, nuances tropicais Cor casca de cebola. Florais alcaçuz. Na boca é sedoso,
bem integradas e um toque elegantes, toques de cereja e com taninos bem desenhados
interessante abaunilhado. levíssimo especiado. Bondoso e persistentes, acidez no
Largo e apontado para a na expressão, consegue ter ponto, final persistente e muito
gastronomia, alia acidez e acidez que lhe suporta o corpo. saboroso. LC Consumo: 2024-
estrutura sólidas, consegue Termina untuoso, a comprovar 2032
boa projeção final. Uma versão que tem à mesa o local de 7,95€ / 16ºC
curiosa da casta. JJS Consumo: eleição. JJS Consumo: 2024-
2024-2030 / 21,50€ / 11ºC 2025 / 12,00€ / 11ºC

90
87 85 Despedida Cabernet
Sauvignon 2018
Herdade de São Miguel Marel 2021
Regional Algarve / Tinto / Casa
Colheita Selecionada Alentejo / Tinto / Adega Marel Santos Lima
2022 Aroma fresco com frutas Granada. Aromas amadeirados
Regional Alentejano / Tinto / Casa vermelhas e toques vegetais/ e balsâmicos a envolver notas
Relvas florais, embora nem tudo de groselha preta, amora e
Rubi. Nariz com notas de amora, está perfeito, como uma nota cacau. Na boca mostra corpo
ameixa madura, cássis, cereja de sardinheira. O paladar, e volume, taninos firmes e
preta, leve verniz e bergamota. mais arrumado e equilibrado, vincados, boa acidez. Final
Na boca mostra equilíbrio, apresenta leveza, delgado, com nervo e travo vegetal. LC
boa acidez, taninos polidos e notas de frutas ácidas e Consumo: 2024-2035
final persistente. LC Consumo: componente vegetal. MM 8,95€ / 16ºC
2024-2028 / 5,50€ / 16ºC Consumo: 2024-2024
9,70€ / 16ºC

142 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

DOURO
85 87
Castelo de Tavira 2022 Casa Américo Reserva 92
Tavira / Branco / Casa Santos 2018
Quinta dos Avidagos
Lima Dão / Tinto / Seacampo
Grande Reserva 2021
Amarelo expressivo. Aromas Rubi escuro. Nariz de mata
Douro / Branco / Quinta dos
discretos a fruta de pomar, e pinhal, toques de mirtilo, Avidagos
apontamentos de feno, raspa cereja vermelha e chocolate
100% Arinto, um ano em
de limão e tomilho fresco. negro. Tanino sedoso, volume
barrica. Amarelo, brilhante,
Fresco, cítrico e equilibrado, no ponto, boa acidez geral
laivo verdeal. Os aromas de
com agradável travo herbáceo e um final mais apimentado
madeira surgem em primeiro
no fim de boca. LC Consumo: e especiado. Clama por
plano, com notas de baunilha,
2024-2026 / 6,95€ / 11ºC gastronomia de forno. JJS
alguns tostados, tudo com
Consumo: 2024-2030
equilíbrio e ponderação.
DÃO 13,40€ / 16ºC Citrinos maduros, flores
brancas, algum fruto de polpa
89 amarela. Belíssimo volume
Dona Sancha Vinha da 87 de boca, cremoso, mineral
na acidez crocante. Termina
Avarenta 2021 Vinha de Reis 2020 saboroso (citrinos), longo e
Dão / Branco / Quinta Dona
Dão / Branco / Jorge Almeida F. persistente. MB Consumo:
Sancha
Reis 2024-2033 / 62,00€ / 11ºC
Lote de Cerceal Branco, Amarelo limão. Notas florais
Malvasia Fina e Bical, suaves, seguidas de maçã e um
apresenta tonalidade amarelo- curioso especiado. Destaca-se
esverdeado. Aromas frescos e a seguir pela grande salinidade,
sofisticados a flor de laranjeira, a que junta equilíbrio entre
mel de flores, raspa de limão, acidez e volume. Direto, versátil
pétalas brancas. Na boca é e fresco, termina a motivar
acutilante e fresco, com acidez vontade de um regresso ao
vibrante e bem marcada, copo. JJS
salinidade e frescura herbácea.
Consumo: 2024-2028
LC Consumo: 2024-2030
9,50€ / 11ºC
16,00€ / 11ºC

89 86
Vinha de Reis 2022
Vinha de Reis Reserva
Dão / Rosé / Jorge Almeida F. Reis
2021
Dão / Branco / Jorge Almeida F.
Rosé aberto, a caminho da
Reis cor salmão. Notas suaves de
Amarelo limão. Nariz a lembrar folhagem de morango e cereja.
maçã, um ligeiro querosene Levíssima perceção de tanino,
e um toque de barrica. A boa volume bem contextualizado
acidez provoca salivação pela acidez, ligeira expressão
final. Até lá, apresenta solidez de doçura de fruta no final. O
estrutural, volume integrado perfil é de mesa e claramente
e finura estrutural. Muito desafia a gastronomias do
gastronómico, tem margem mundo. JJS
de progressão. JJS Consumo: Consumo: 2024-2025
2024-2033 / 23,00€ / 11ºC 9,50€ / 11ºC



͘

ERRATA 



Por lapso, na última edição, referente aos prémios da Revista de Vinhos, o prémio Top 30 Excelência foi erradamente atribuído ao vinho Herdade das



Servas Vinhas Velhas 2020 quando, na realidade, referia-se ao topo de gama Servas de Bacchus 2016 (ver texto nestas páginas). Também o preço

  

do vinho Lés-a-Lés Avesso 2022 saiu errado – este Vinho Verde da dupla Jorge Rosa Santos e Rui Lopes custa 16,00€. Aos visados e aos leitores, as
nossas desculpas.

144 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

90 85 83
Grafite Touriga Nacional Vallado Três Melros 6000 a.C. Pét-Nat
2015 2022 IVV / Rosé / Adega Coop. Ponte da
Douro / Tinto / Churchill's Estates Douro / Branco / Quinta do Barca e Arcos de Valdevez
Cor rubi. Aroma profundo, a Vallado Bolha abundante aquando
leve nota a bosque diz que o Amarelo límpido. Muita fruta de da abertura. Talvez demais.
tempo de garrafa tem agido no caroço no nariz, algum tropical, Aromas vibrantes de morango e
polimento e harmonia. Quase nota de erva aromática, pão cereja, um pouco de rebuçado
não se dá pela barrica. Notória torrado. Seco, bom volume e de alcaçuz e pimenta branca.
estrutura, bem calibrada, cremosidade, acidez viva e Boca refrescante, espumosa
taninos já menos afoitos e a linear, de sabor citrino, que e bem-disposta! A boa acidez
frescura está lá. Extenso e se prolonga pelo final, de boa mantém as coisas frescas. MM
persistente. MM Consumo: textura e profundidade. MB Consumo: 2024-2024
2024-2035 / 20,00€ / 16ºC Consumo: 2024-2029 9,80€ / 11ºC
9,90€ / 11ºC
LISBOA
88 IVV
Quinta dos Espinheiros
87
Vinhas Velhas Reserva
90 AdegaMãe Alvarinho
2019 Sin Fronteras Slate 'N' 2022
Douro / Tinto / Luís António Chalk 2021 Regional Lisboa / Branco /
Morais Barata IVV / Tinto / Adega Marel AdegaMãe
Rubi. O quadro geral Nariz agradável de cereja Expressivo e jovem. Aromas
conduz-nos para os balsâmicos vermelha, ameixa vermelha, de limão, notas levemente
e o mato. Há complementos balsâmicos frescos, afinado. tropicais e florais. Fresco, com
florais e de cereja vermelha. Boca fina, fluída, de estilo boa intensidade e uma ligeira
Tanino desperto, estrutura leve, taninos secos bem redução inicial que se dissipa.
fresca, equilíbrio geral e um integrados, frescura. Salino Paladar com boa textura,
final que acrescenta um toque e algumas notas vegetais suculento, frutado harmonioso
vegetal. JJS Consumo: 2024- que lhe acentuam a vocação e toques salinos. MM Consumo:
2030 gastronómica. MM Consumo: 2024-2028
29,00€ / 16ºC 2024-2026 / 25,00€ / 16ºC 14,45€ / 11ºC

PENÍNSUL A
86 88 DE SE TÚB A L
Quinta dos Espinheiros VG Azal 2022
Vinhas Velhas Reserva IVV / Branco / Quintas de Vila
86
2020 Garcia Cadeado Private
Douro / Branco / Luís António Tonalidade amarelo-dourado, Selection 2021
Morais Barata bolha fina. Pét-nat de grande Regional Península de Setúbal /
Amarelo esverdeado. Aromas precisão com aromas frutados Tinto / Cadeado Wines
contidos com notas de maçã, e presença notória de maçã Rubi. Notas de grão de café,
ervas frescas e raspa de limão. e pera rocha. Leve nota de algum pimento e especiaria.
Boca fresca, textura suave, um fermento. Frescura de boca, Tanino musculado, perfil
branco leve e singelo, seco e bela acidez, travo seco e quente, de volume evidente e
herbáceo. LC Consumo: 2024- vegetal a dar-lhe nervo. LC final altivo, a propor-se a mesas
2028 Consumo: 2024-2027 fartas. JJS Consumo: 2024-
24,95€ / 11ºC 9,50€ / 11ºC 2028
5,99€ / 16ºC

86 85
Vallado Três Melros 6000 a.C. Pét-Nat 86
2020 IVV / Branco / Adega Coop. Ponte Catralvos 2022
Douro / Tinto / Quinta do Vallado da Barca e Arcos de Valdevez Regional Península de Setúbal
Rubi brilhante. Expressão viva Muito saboroso. O pêssego e o / Branco / Sociedade Agrícola
de fruta limpa e bonita. Fruto alperce combinam com maçã e Quinta das Marianas
vermelho, bagas silvestres, o ananás. A jovialidade condiz Elegante no primeiro ataque.
damasco. Abaunilhados e leve com afinação. A efervescência Notas frutadas, toque tropical,
tostado. Seco na prova de toma conta da boca por um fresco. Sabor seco, acidez
boca, com boa acidez e tanino momento, antes de se derreter presente, frutado, fácil de
maduro. Equilibrado e elegante, em bolhas finas e deixar uma degustar. Madeira muito suave,
com travo especiado e guloso. textura agradável. Frescura com final equilibrado. RT
MB Consumo: 2024-2029 e fruta garantem o gosto do Consumo: 2024-2026
9,90€ / 16ºC vinho. MM Consumo: 2024- 5,00€ / 11ºC
2024 / 9,80€ / 11ºC

146 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


G U I A R E V I STA D E V I N H O S

TRÁS-OS-
85 83 -MONTES
Periquita 2022 Murganheira 2020
Regional Península de Setúbal /
Rosé / José Maria da Fonseca
Távora-Varosa / Tinto / Soc. Agr.
Com. do Varosa
88
Quinta Valle Madruga
Nariz vibrante e apelativo Cor rubi com agradável
Seleção de Família 2021
nas notas de frutos silvestres intensidade. Amora, cereja
(morangos e groselha), toques preta, especiaria e leves notas Trás-os-Montes / Branco / ERTA
florais e tropicais (tamarilho). vegetais, que dão vivacidade ao Aroma de boa presença
Boca leve, redonda e fresca, vinho e indiciam a origem. Entra frutada, sobressai a madurez
seca e simples, mas muito fresco na boca, aumentando tropical e frutas de caroço.
prazerosa. Muito afinado, perfil o volume ao longo da prova. Erva-cidreira como nota fresca.
de frescura e convivialidade. Taninos com leve carácter Polposo e sumarento, com
MM Consumo: 2024-2025 vegetal e apimentados, dando ligeiros amargos que se inte-
4,99€ / 11ºC uma simpática vibração final. gram harmoniosamente. O final
BA Consumo: 2024-2027 é de média duração, porém
4,20€ / 16ºC muito correto. MM Consumo:
84 2024-2028
TEJO 10,90€ / 11ºC
Periquita 2022
Regional Península de Setúbal /
Branco / José Maria da Fonseca
90 88
Palha aberto. Aroma polido Companhia das Lezírias
de fruta tropical fresca, mel Séries Singulares 2021 Quinta Valle Madruga
floral, toques limonados e Tejo / Colheita Tardia / Superior 2021
ervas aromáticas. Afinado e Companhia das Lezírias Trás-os-Montes / Tinto / ERTA
refrescante. Boca de corpo Tonalidade dourada brilhante. Nariz elegante, notas de
leve, acidez vivaz, frutado, Nariz apelativo com notas de bosque e especiarias envolvem
bastante afinado e equilibrado. geleia de marmelo, damasco a fruta viva. Sugestão de
MM Consumo: 2024-2026 desidratado, mel de flores, matagal dá um toque de
4,99€ / 11ºC tâmaras e sultanas. Na boca fresquidão. Estrutura aberta,
é doce e untuoso, cremoso e taninos delicados, nuances de
TÁV OR A -VAR O S A envolvente. Um bom colheita ameixa e chá frio cruzam com
tardia que pedia mais acidez. subtis notas de fumado e carne.
84 LC Consumo: 2024-2032
49,00€ / 6ºC
Bem feito, final médio, muito
ajustado para a mesa. MM
Murganheira 2022 Consumo: 2024-2030
Távora-Varosa / Branco / Soc. Agr. 9,20€ / 16ºC
Com. do Varosa
Cor citrina. Aroma de cera,
especiarias, fruta de árvore e
de estágio em madeira. Boca
equilibrada, onde também é
percetível o tipo de estágio
dado ao vinho. Vinho com
alguma aspiração no modo
como foi feito. BA Consumo:
2024-2025
4,00€ / 11ºC
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G U I A R E V I STA D E V I N H O S

V I NHO V E RDE
88 91
Quinta Valle Madruga Soneto Porto Colheita 91
Viosinho 2021 1997
VG Arinto Terroir 2022
Trás-os-Montes / Branco / ERTA Vinho do Porto / Fortificado /
Adega Cooperativa do Vale da Teja Vinho Verde / Branco / Quintas de
Perfil cítrico, fruta de pomar e Vila Garcia
(Gesprove)
algum floral. Tem vivacidade
Âmbar intenso. Aromas Amarelo ouro. Aromas
de estilo, recatado. Estruturado
complexos com notas de figos apelativos a fruta de caroço,
e acidez de qualidade, médio
secos, nozes Pecan, alperce cítrico doce, pera rocha e
palato bem trabalhado que o
desidratado, macadamia e ananás. Na boca é cremoso e
faz leve e refrescante. Pronto,
madeiras exóticas. Mostra envolvente, com untuosidade
porém, mas capaz de encantar
grande equilíbrio na boca, com balanceada por acidez firme.
no futuro. MM Consumo: 2024-
a doçura bem calibrada pela Grande equilíbrio e final
2028 / 8,40€ / 11ºC
acidez. Final levemente salino vibrante, com frescura e travo
herbáceo. LC Consumo: 2024-
V I N HO M A DEIR A e apimentado. LC Consumo:
2024-2045 2030
14,00€ / 11ºC
91 44,90€ / 14ºC

Henriques &
Henriques Boal 2009 90 87
Vinho Madeira / Fortificado /
Soneto Porto Old White Monte Faro Grande
Henriques & Henriques Vinhos
20 anos Escolha 2020
Âmbar. Notas de noz e flores
Vinho do Porto / Fortificado / Vinho Verde / Branco / Quinta das
secas, caramelizados e Antilhas
Adega Cooperativa do Vale da Teja
pastelaria fina. A salinidade
(Gesprove) Aromático, frutos maduros,
é uma constante na prova.
Âmbar, tonalidade aberta. suave tropical. Floral a envolver.
Apresenta-se com garra,
Complexidade aromática com Sabor seco, acidez presente,
conjuga volume e acidez
notas de tâmara, casca de floral, madeira equilibrada. Bom
de cariz marítimo, tem final
laranja cristalizada, geleia de corpo e final elegante e longo.
equilibrado e aguerrido. JJS/
marmelo, leve apimentado RT Consumo: 2024-2029
NGVP Consumo: 2024-2054
e apontamento balsâmico. 6,00€ / 11ºC
34,00€ / 14ºC
Na boca é vibrante e salino,
amparado por boa acidez, sabor
VINHO
DO PORTO
levemente mentolado, muito
fresco e cítrico. LC Consumo:
87
2024-2045 Monte Faro Reserva
91 30,30€ / 14ºC Bruto 2020
Vinho Verde / Espumante / Quinta
Soneto LBV 2018 das Antilhas
Vinho do Porto / Fortificado /
Adega Cooperativa do Vale da Teja 89 Bolha fina. No nariz frutado,
fruta madura, notas florais
(Gesprove)
Soneto Porto Old Tawny a envolver. Suave evolução
Rubi profundo, rebordo
20 anos com nota de brioche. Seco,
violáceo. Imensa fruta preta
Vinho do Porto / Fortificado / mousse média, frutado e floral.
no nariz, mirtilos macerados,
Adega Cooperativa do Vale da Teja Bom corpo e final persistente.
aromas de lagar, cacau, (Gesprove) Acompanha bacalhau no
pimenta preta e vapor de café.
Tonalidade âmbar brilhante. forno, queijos de pasta mole ou
Doçura extrema temperada
Notas aromáticas de figos até algumas sobremesas. RT
por bela acidez, taninos de
secos, tâmara, ameixa Consumo: 2024-2026
grande porte, nervo e textura,
desidratada, noz e avelã. 9,00€ / 8ºC
alguma rusticidade que o
Textura acetinada, volume
tempo amansará. LC Consumo:
e untuosidade, acidez em
2024-2050
12,10€ / 16ºC
simbiose com a doçura, travo
salino no fim de boca. LC
87
Consumo: 2024-2040 Quinta de Monforte
28,90€ / 14ºC Alvarinho 2022
Regional Minho / Branco / Quinta
Paradela de Monforte
Dourado, laivos limão. Notas de
líchia, lima e pêssego. Untuoso
e a mostrar bom volume, tem
acidez firme e um curioso
especiado na projeção final.
JJS Consumo: 2024-2030
14,00€ / 11ºC

150 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos


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AUTORIZO RECEBER RESPOSTAS COMERCIAIS DE OUTRAS ENTIDADES: SIM NÃO * PREÇO PARA PORTUGAL CONTINENTAL.
G U I A R E V I STA D E V I N H O S

86 83 85
Monte Faro Escolha Monte Faro Loureiro Cuvée Angèle Bio 2022
2020 2020 Saint Nicolas de Bourgueil / Tinto
Vinho Verde / Branco / Quinta das / Vignoble de la Jarnoterie
Vinho Verde / Rosé / Quinta das
Antilhas Antilhas Rubi vibrante. Nariz expressivo
Tom rosado, frutos vermelhos, Cor amarela, aromas frutados, nas notas de groselha, violeta,
fresco. Sabor seco, acidez citrinos, dando uma sensação mina de lápis e muita fumo,
presente, citrino, com final refrescante. Sabor seco, acidez revelando personalidade e
apelativo e algo refrescante. RT presente, herbal, fresco, fácil de autenticidade. Boca muito
Consumo: 2024-2025 degustar. Final apetecível. RT fina, fresca, simples, mas
Consumo: 2024-2025 cheia de caráter, com taninos
4,00€ / 11ºC
2,45€ / 11ºC finos, vivacidade e prazer
gastronómico. Um vinho
encantador. MM Consumo:
86 VINHOS 2024-2024
Quinta de Monforte ESTR ANGEIROS 14,00€ / 16ºC
Vinhão 2022
Vinho Verde / Tinto / Quinta ITÁLIA
Paradela de Monforte FRANÇA
Retinto. Denuncia-se pelos
aromas intensos a roseiral, 90 86
pimenta e cereja negra. Tanino Tormaresca Calafuria
Concerto 2020
saltitão, acidez que desperta, 2022
Saint Nicolas de Bourgueil / Tinto
bom volume, fruto primário e / Vignoble de la Jarnoterie Puglia / Rosé / Marchesi Antinori
sensação de engaço no fecho. Rosa. Notas de folha de
Granada. Nariz de boa fruta,
JJS Consumo: 2024-2025 morango, cereja vermelha e
(groselha negra e cássis)
16,00€ / 16ºC e pimentos vermelhos. um ligeiro foral. Leve, com
Terrosidade elegante e apontamentos salinos, uma
fresca, com um toque herbal efervescência convidativa
84 delicioso. Revela uma ideia que se prolonga até final.
Descontraído, exato e com
de requinte sem esforço. Na
Quinta de Monforte final de agrado imediato. JJS
boca, é vibrante em frescura
Loureiro 2022 Consumo: 2024-2025
e sabor, taninos minuciosos,
Regional Minho / Branco / Quinta 13,95€ / 11ºC
secura muito delicada e final
Paradela de Monforte
perfumado. MM Consumo:
Amarelo limão. Notas de 2024-2030
relva cortada, folha de louro,
11,50€ / 16ºC
lima e pedra molhada. Algum
carbónico combinado com
bom volume, acidez presente
e final fresco. JJS Consumo:
2024-2028
11,00€ / 11ºC

Produtores, chefes, produtos, dicas, vinhos, restaurantes e enoturismo


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Ângela Reis Distribuição: VASP, MLP / Linha de Apoio ao ponto
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Para ver e ouvir EVENTO

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0S MELHORES
DO ANO 2023
Mais uma vez, e desde 1996, a Revista de Vinhos anun- o universo Roullier e tem em Antonina Barbosa e Rui
ciou os grandes vencedores dos prémios “Os Melhores Rosa as figuras-chave, é “Empresa do Ano”, enquanto
do Ano 2023”. Em cerimónia que lotou a Sala do Arquivo o título de “Marca do Ano” foi atribuído ao Muralhas
do Centro de Congressos da Alfândega do Porto, con- de Monção, ‘blockbuster’ da Adega Cooperativa de
duzida por José João Santos e Maria Cerqueira Gomes, Monção e ícone da região dos Vinhos Verdes.
estes galardões, tidos pelo setor como os “óscares do Luís Cabral de Almeida, enólogo da Sogrape que
vinho e da gastronomia” em Portugal, destacaram lidera a alentejana Herdade do Peso mas que passou
figuras como João Portugal Ramos, Juan Carlos Escotet, por outras propriedades da multinacional portuguesa,
Luís Cabral de Almeida e João Rodrigues com, respeti- como Quinta de Carvalhais, no Dão, e Finca Flichman,
vamente, os prémios “Homenagem”, “Personalidade do em Mendoza, Argentina, foi considerado “Enólogo do
Ano no Vinho”, “Enólogo do Ano” e “Personalidade do Ano” e Mariana Salvador, a trabalhar na Textura Wines,
Ano na Gastronomia”. João Roquette é “Personalidade no Dão, bem como no projeto pessoal de vinhos Revela,
do Ano no Brasil”, Quinta da Alorna “Produtor do Ano”, recebeu a distinção “Enólogo Revelação do Ano”.
Czar 2014 o “Vinho do Ano”, Ferrugem “Restaurante Ricardo Morais, que coordena o serviço de vinhos do
do Ano” e Marlene Vieira “Chefe do Ano”. grupo JNcQUOI, foi considerado “Sommelier do Ano”.
Em simultâneo, esta grande festa celebrou ainda os A Garage Wines ficou com o sublinhado de “Loja/
20 anos da Essência do Vinho. João Portugal Ramos, Garrafeira do Ano”. O “Enoturismo do Ano” foi atri-
de quem se diz ser o criador do moderno Alentejo viti- buído às Caves Niepoort, projeto liderado por Beatriz
vinícola, foi agraciado com o prémio “Homenagem” em Machado, e a cidade de Viseu foi considerada “Destino
reconhecimento pelo trabalho efetuado na recuperação Gastronómico do Ano”.
e projeção contemporânea do Alentejo a partir dos anos O prémio “Inovação/Investigação do Ano” sublinhou
80 e pela visibilidade externa dos vinhos portugueses. o trabalho do consórcio PreVineGrape, que reúne Deifil
João Rodrigues, coproprietário do restaurante Technology, Sogrape, João Nicolau de Almeida & Filhos,
Canalha, antigo chefe do estrelado Feitoria e mentor IPB e ADVID. A distinção “Distribuidor do Ano” elegeu
do projeto itinerário Residências, foi distinguido a Garrafeira Soares, que agrupa quase 30 lojas e mais
“Personalidade do Ano na Gastronomia”. João de 300 colaboradores no Algarve, Alentejo e cidade do
Roquette, irmão dos também produtores José (Esporão) Porto.
e Jorge (Quinta do Crasto) Roquette, foi considerado O Ferrugem, espaço famalicense do chefe Renato
“Personalidade do Ano no Brasil”, pelo trabalho desen- Cunha, ganhou o prémio “Restaurante do Ano”,
volvido em prol dos vinhos portugueses naquele país, enquanto que o jovem Nelson Feitas, que oficia no lis-
ao leme da Qualimpor. bonense Fifty Seconds, venceu a promissora categoria
Czar 2014, vinho licoroso sui generis da ilha do Pico, “Chefe Revelação do Ano”. Localizada em Santarém,
Açores, elaborado por Fortunato Garcia a partir de dois a Lanscape Farm obteve o galardão de “Produtor
hectares com as castas Verdelho, Arinto dos Açores e Artesanal do Ano” pelas práticas sustentáveis e pela
Terrantez do Pico instalados na Criação Velha, obteve agricultura de paisagem que pratica.
a distinção “Vinho do Ano”. A tricentenária Quinta da A chefe de cozinha Marlene Vieira, (assim mesmo,
Alorna, em Almeirim, região do Tejo, há cinco gerações com vírgula, numa alusão ao trabalho de equipa), do
na esfera da família Lopo de Carvalho, conquistou o restaurante Marlene, em Lisboa, foi eleita “Chefe de
título “Produtor do Ano”. Cozinha do Ano”, e o também lisboeta Rocco, do The
A Barbeito, conceituado e irreverente produtor de Ivens Hotel, onde estava outrora instalada a histórica
Vinhos Madeira e tranquilos madeirenses, liderada por sede da Rádio Renascença, granjeou a distinção de
Ricardo Diogo Freitas, foi a eleita na categoria “Produtor “Melhor Serviço de Vinhos”.
de Vinhos Fortificados do Ano”. Também das ilhas, mas A Revista de Vinhos atribuiu ainda o prémio
desta feita do arquipélago dos Açores, na ilha do Pico, a Homenagem a um grandíssimo nome do vinho portu-
Azores Wine Company, projeto criado há uma década guês – o produtor e enólogo João Portugal Ramos. A par
e liderado por António Maçanita e Filipe Rocha, con- disso entregou os diplomas aos 30 “Vinhos Excelência”
quistou a distinção “Produtor Revelação do Ano”. eleitos pelos provadores da publicação e distinguiu
A Falua, empresa nascida no Tejo mas que hoje se dis- o tinto duriense Papa Figos 2020 da Sogrape Vinhos
semina pela região dos Vinhos Verdes e Douro, integra como “Compra do Ano”.

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Jaime Silva, Nuno Pires e Bernardo Gouvêa Maria Cerqueira Gomes e José João Santos

João Portugal Ramos Nuno Guedes Vaz Pires

Bernardo Gouvêa Juan Carlos Escotet


Fernando Ruas Fortunato Garcia Jorge Silva

Luis Cabral de Almeida

Beatriz Machado João Roquette

Mariana Salvador Andreia Afonso e Mateus Nicolau de Almeida Armando Fontainhas


EVENTO

E OS MELHORES
DO ANO 2023 SÃO:
Homenagem Marca do Ano Personalidade do Ano no Brasil
JOÃO PORTUGAL RAMOS MURALHAS DE MONÇÃO JOÃO ROQUETTE
(PRODUTOR VINHO DOC (ADEGA COOP. DE —
ALENTEJO, DOURO E MONÇÃO) Personalidade do Ano na
PORTO) — Gastronomia
— Enólogo do Ano JOÃO RODRIGUES
Personalidade do Ano no Vinho LUÍS CABRAL DE ALMEIDA (RESTAURANTE CANALHA)
JUAN CARLOS ESCOTET (SOGRAPE) —
(CEO SOGEVINUS) — Restaurante do Ano
— Enólogo Revelação do Ano FERRUGEM
Vinho do Ano MARIANA SALVADOR (V.N. FAMALICÃO)
CZAR 2014 (TEXTURA WINES, REVELA, —
(LICOROSO, FORTUNATO VINHOS BARBEITO) Serviço de Vinhos do Ano
GARCIA, PICO, AÇORES) — ROCCO
— Sommelier / Wine Director do (LISBOA)
Produtor do Ano Ano —
QUINTA DA ALORNA RICARDO MORAIS Chefe de Cozinha do Ano
(TEJO) (JNCQUOI) MARLENE VIEIRA
— — (MARLENE, LISBOA)
Produtor de Vinhos Fortificados Loja / Garrafeira do Ano —
BARBEITO GARAGE WINES Chefe Revelação do Ano
(VINHOS BARBEITO, VINHO (MATOSINHOS) NELSON FREITAS
MADEIRA) — (FIFTY SECONDS, LISBOA)
— Enoturismo do Ano —
Produtor Revelação do Ano CAVES NIEPOORT (V.N. Produtor Artesanal do Ano
AZORES WINE COMPANY GAIA) LANDSCAPE FARM
(PICO, AÇORES) — (SANTARÉM)
— Inovação / Investigação do Ano —
Empresa do Ano PREVINEGRAPE Destino Gastronómico do Ano
FALUA (DEIFIL TECHNOLOGY, VISEU
(TEJO, VINHO VERDE, SOGRAPE, JOÃO NICOLAU
DOURO) DE ALMEIDA & FILHOS, IPB
E ADVID)

Distribuidor do Ano
GARRAFEIRA SOARES

@revistadevinhos março 2024 · 412 / Revista de Vinhos · 157


EVENTO

TOP 30
EXCELÊNCIA
BARBEITO TRÊS AMIGOS 50 GRAHAM'S THE STONE QUINTA DAS CARVALHAS
ANOS MEIO DOCE TERRACES PORTO VINTAGE TAWNY 50 ANOS
Vinhos Barbeito . Vinho Madeira 2021 Vinho do Porto . Real Companhia Velha
— Vinho do Porto —
BOTÃO VINHA DAS LAMAS Symington Family Estates QUINTA DE FOZ DE AROUCE
2021 — VINHAS VELHAS DE SANTA
Lopes & Gonzalez . Bairrada HENRIQUES & HENRIQUES MARIA 2019
— BASTARDO 1927 Beira Atlântico
CASA FERREIRINHA RESERVA Vinho Madeira Conde Foz de Arouce Vinhos
ESPECIAL 2014 Henriques & Henriques —
Sogrape . Douro — QUINTA DO CRASTO VINHA
— JÚLIO B. BASTOS ALICANTE MARIA TERESA 2019
CASAS ALTAS CHARDONNAY BOUSCHET 2018 Douro . Quinta do Crasto
CERCA DA ROGENDA 2022 Alentejo . Dona Maria Vinhos —
José Madeira Afonso . Beira Interior — QUINTA DO RIBEIRINHO BAGA
— MONTE CASCAS RAMISCO 2013 PÉ FRANCO 2019
COCHE 2021 Colares . Casca Wines Regional Beiras . Luís Pato
Niepoort . Douro — —
— OUTRORA RARO 2015 RAMILO RAMISCO 2019
CROSTA CALCÁRIA DOS Bairrada . V. Puro Colares . Manuel Francisco
PROFETAS 2022 — Ramilo & Filho
Madeirense . Comp. Vinhos dos PARCELA ÚNICA ALVARINHO —
Profetas e dos Villões 2021 REGUEIRO JURÁSSICO III
— Vinho Verde (Monção e Melgaço) Vinho Verde (Monção e Melgaço)
CZAR 2014 Anselmo Mendes Vinhos Quinta do Regueiro
Pico . Fortunato Garcia — —
— QUINTA DA ALORNA 1723 SECRET SPOT KING
D. ÁUREA 2021 GRANDE RESERVA 2019 Moscatel do Douro . Secret Spot Wines
Dão . Textura Wines Tejo . Quinta da Alorna —
— — SEGREDO 6 2020
DOMÍNIO DO AÇOR BICAL QUINTA DA MANOELLA VINHA Trás-os-Montes . 2 CC
VINHA CELTA 2021 ALECRIM 2015 —
Dão . Horizonte Ilimitado Douro . Wine & Soul SERVAS DE BACCHUS 2016
— — Alentejo . Serrano Mira
ESTREMUS 2019 QUINTA DA PERDONDA —
Alentejo . João Portugal Ramos 1º TALHÃO (1948) 2018 VINHA DOS AARDS CRIAÇÃO
— Dão VELHA 1ºS JEIRÕES 2020
EXCELLENT MOSCATEL DE Quinta da Perdonda - Wine Tradition Pico . Azores Wine Company
SETÚBAL
Moscatel de Setúbal
SVP - Horácio dos Reis Simões

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Elsa Pereira João Rodrigues

Antonina Barbosa Pedro Lufinha

António Maçanita, Fortunato Garcia


e Filipe Rocha

Marlene Vieira
Nelson Freitas Ricardo Morais

Ricardo Diogo Freitas

Maria Antónia, João e Rita Soares Filipe Rocha e António Maçanita

Renato Cunha Ivone Ribeiro


EVENTO

Os premiados com os galardões dos 30 vinhos de excelência da Revista de Vinhos.

BOAS COMPRAS
4º MARQUÊS DE BORBA 7ºTRINCA BOLOTAS 2020
COLHEITA 2021 Alentejo / Tinto / Sogrape Vinhos
Alentejo / Tinto / J. Portugal Ramos —
Vinhos
— 8ºENCOSTAS DE PENALVA 2021
1º PAPA FIGOS 2020 Dão / Tinto / Adega Cooperativa de
Douro / Tinto / Sogrape Vinhos 5ºDEU LA DEU ALVARINHO Penalva do Castelo
— 2022 —

2º B ADEGA DE BORBA 2021


Vinho Verde (Monção e Melgaço) /
Branco / Adega Cooperativa Regional 9ºCRASTO 2020
Alentejo / Tinto / Adega de Borba de Monção Douro / Tinto / Quinta do Crasto
— — —

3º PERIQUITA RESERVA 2021 6ºVALLADO 2021 10ºGUARDA RIOS 2022


Regional Península de Setúbal / Tinto / Douro / Tinto / Quinta do Vallado Regional Alentejano / Tinto /
José Maria da Fonseca Sociedade Agrícola D. Diniz - Monte da
— Ravasqueira
LEGENDARY WINEMAKER

texto Marc Barros / foto D.R.

BASTARDINHO DE AZEITÃO
95 40 ANOS
PENÍNSULA DE SETÚBAL / FORTIFICADO /
JOSÉ MARIA DA FONSECA
Iodo e ligeiro râncio, caramelo e café.
A DE VIN
I ST H A boca, profunda e maravilhosamente
V O
E S fresca, tem notas medicinais e de
R
alcaçuz, é envolvente na doçura,
·

com um final que não acaba. Enorme


finesse e carácter.

TRILOGIA MOSCATEL DE SETÚBAL


95 PENÍNSULA DE SETÚBAL / FORTIFICADO /
JOSÉ MARIA DA FONSECA
·
· D

Combina três grandes colheitas do


C
O

IN
M

A século XX: 1900, 1934 e 1965. Forte


G FR
OS presença de vinagrinho, com uma
S OA R E S
profundidade desconcertante e ator-
doante. Extraordinário na dimensão
e frescura, absolutamente infindável,
infinito, com uma acidez generosa que
o prolonga para sempre.

FERNANDO SOARES FRANCO 2017


95 REGIONAL PENÍNSULA DE SETÚBAL / TINTO /
JOSÉ MARIA DA FONSECA
LUZES, CÂMARA, AÇÃO... Reúne Syrah, Trincadeira e Tannat.
CONTINUAMOS COM Rubi. Nariz de café, folha seca, alguma
folha de tomate, groselha e balsâmicos
de boa barrica. Tanino preciso, fresco

DOMINGOS e firme, enorme acidez, estrutura vigo-


rosa. O final é profundo e demorado,
com apontamento de mato. Apesar do

SOARES FRANCO
músculo mantém-se sempre elegante.

É uma das personalidades mais carismáticas do vinho em 1. Domingos Soares Franco nasceu 6. Em 1975 abraça o desafio de ir
Portugal e um dos rostos principais da Península de Setúbal, a 16 de maio de 1956 em Lisboa. estudar para Davis, onde se formou
desde logo, e como não poderia deixar de ser, do emblemático Cumpriu a sua quadragésima em Ciências de Fermentação.

7. Regressou em definitivo ao
vindima em 2020.
Moscatel.
A José Maria da Fonseca é um gigante que produz mais dez
milhões de garrafas por ano, distribuídas por entre cerca de
2. A primeira memória de vinho nosso país em 1981. Na primeira
remonta à idade de 6 ou 7 anos vindima, lembra-se de ter feito mais
40 marcas, numa ligação umbilical entre o legado histórico da quando, na sala de provas, o tio de 200 microvinificações.

8. Correu feiras europeias, sobre-


família Soares Franco e o sentido do negócio. Domingos é um António deu-lhe a cheirar um vinho.
dos rostos da empresa, juntamente com o irmão António, e um
verdadeiro dínamo.
3. Foi do tio que lhe adveio a tudo na Alemanha, para conhecer
paixão pela enologia e a impor- maquinaria enológica. Diz ter
Encontrou inspiração para a enologia na figura do tio António. tância de manter uma coleção comprado a primeira prensa pneu-
Foi um dos responsáveis pelo renascimento do vinho de talha ampelográfica. mática que existiu em Portugal.
alentejano, sendo que 1986 marca a data de colheita do primeiro
talha da José Maria da Fonseca. 4. Tentou cursar Agronomia em 9. Elege as castas Alvarinho
Lisboa, mas o apelido de família e a e Touriga Francesa as melhores
Foi o primeiro português a tirar o curso em Davis, na Califórnia,
Revolução de Abril impediram-no. variedades portuguesas.
que lhe abriu literalmente os horizontes. À herança do Velho
Mundo juntou o conhecimento, a técnica e a ciência enológicas 5. Viajou até França para 10. O Periquita Clássico 1938
do Novo Mundo, tanto que, ainda hoje, podemos encontrar- conhecer as universidades de fez-lhe ver a responsabilidade
lhe a perícia sob a forma de um lote de Moscatel de Setúbal Bordéus, Montpellier e Dijon, mas a de manter as raízes mas também
como um vinho sem álcool. A sua bonomia e boa disposição são língua era um entrave. inovar. Está a construir um
património de vinhos velhos, sobre-
contagiantes. Destacamos 10 coisas que deve saber sobre ele e
tudo Moscatéis de Setúbal, para as
três dos vinhos que mais nos impressionaram: gerações vindouras.

162 · Revista de Vinhos ⁄ 412 · março 2024 @revistadevinhos

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