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Ensaio publicado na Coluna Vozes das Mulheres, da Comissão Pastoral da Terra/Bahia. Disponível em:
<https://cptba.org.br/racismo-fundiario-a-elevadissima-concentracao-de-terras-no-brasil-tem-cor/>
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Assessora Jurídica Popular com atuação na Comissão Pastoral da Terra e outras organizações populares,
Professora de Direito Agrário da Universidade Federal da Bahia. Esse ensaio contou com a revisão dos
intelectuais negros Vitor Marques e Samuel Vida, a quem dedico os agradecimentos.
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A palavra africâner se refere ao grupo supremacista branco que instituiu o regime de segregação racial e
territorial na África do Sul. Esse grupo resultou da fusão entre colonizadores alemães, holandeses e
franceses, que elaboraram uma língua própria – o africâner – derivada do holandês e do alemão (WOODS,
1987).
Em seu conjunto, para os povos negros, essas leis regulamentaram a restrição de
acesso à terra, a remoção de áreas de ocupação ancestral, a proibição de ocupação de
terras e a reserva de terras para confiná-los em áreas muito insuficientes sob o ponto de
vista dimensional e ecológico.
O exemplo da África do Sul pode ser estendido a outros cenários para pensar como
as relações raciais são uma perspectiva central para analisar a questão agrária e
socioambiental. Segundo informações preliminares do Censo Agropecuário 2017,
realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), pretos(as) e
indígenas representam 9,48% dos(as) produtores(as) em 5.072.152 de estabelecimentos
rurais (índice inferior ao da África do Sul sob o Apartheid). Por outro lado, os(as)
brancos(as) representam 45,4%.
Mesmo sem leis expressas no século XX proibindo o acesso à terra no Brasil aos(às)
negros(as), semelhante ao ocorrido na África do Sul, tal discriminação se deu justamente
no silêncio da lei. No caso dos índios(as), apesar das menções em alguns instrumentos
normativos (Constituição Federal de 1934, Estatuto do Índio de 1973), tais menções mais
se assemelhavam à política dos bantustões, porque repetiram a lógica da reserva de terras,
lógica essa que o atual governo federal anuncia que adotará. A Constituição Federal atual
veda a ideia de reserva de terras e reconhece os direitos originários dos povos ancestrais
às terras tradicionalmente ocupadas.
Como o racismo é um fenômeno relacional, que não pode ser lido apenas como um
“problema dos(as) negros(as)”, é importante observar os dividendos políticos e
econômicos dos(as) brancos(as) nesse processo, como já nos alertou Maria Aparecida
Silva Bento (2014), psicóloga social e pesquisadora negra. Brancos(as) acumularam
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terras a partir dos genocídios dos povos originários e africanos, a partir da escravização
de africanos(as) articulada a uma rede capitalista transcontinental, a partir de uma
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arquitetura jurídica que atribuiu o direito de propriedade privada sobre a terra apenas
/leanguttur aos(às) que pudessem pagar por ela ou dispusessem dos meios para fraudá-la/grilá-la. E,
a partir de suas redes nos Três Poderes, direcionaram as políticas governamentais e os
recursos do Orçamento Público aos seus interesses, em detrimento de outros. Por
exemplo, há registros historiográficos de comunidades quilombolas no Brasil desde o
período colonial, no entanto, políticas públicas direcionadas a elas só contaram com
previsão orçamentária durante 7 anos (2005 a 2011)4 da experiência social brasileira.
fonte
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malhar direito originário das etnias indígenas sobre seus territórios, da função social da
incidiram propriedade), essas mesmas conquistas não incidiram profundamente na malha fundiária
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pelo “efeito China”, incrementou uma hegemonia política e econômica dos setores
mineral e do agronegócio. Em termos socioambientais, tal hegemonia alavancou a
Eful , degradação de biomas, a distribuição desigual dos danos ambientais e da poluição (o que
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o movimento negro estadunidense chamou de racismo ambiental nos anos sessenta) e o
reconhecimento a conta-gotas de direitos territoriais e sociais de negros(as) e índios(as).
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Dados do Siga Brasil/Senado Federal.
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Agrária
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Referências
BIKO, Steve. Vamos Falar sobre os Bantustões. In: ______. Escrevo o que Eu Quero.
Tradução Grupo Solidário São Domingos. São Paulo: Ática, 1990. p. 101-108.
WOODS, Donald. Biko: a história do líder negro sul-africano Steve Biko. Tradução Édi
G. de Oliveira. São Paulo: Editora Best Seller, 1987.