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ASSINANTE
VENDA PROIBIDA
Nº 158
ANO 14 JANEIRO 2012
R$ 12,90
A prova de 24 vinhos
158
brancos de Portugal
O lúpulo, ingrediente
da cerveja, entra
em receitas
da cozinha
italiana
Sabores da Amazônia
Caldeirada de
pirarucu, por Felipe
Ribenboim e Gabriel
Broide, de São Paulo
4
Amazonia
Passeio pelo rio Solimões traz os
ingredientes da maior floresta do Brasil,
do tucupi ao pirarucu
JANEIRO 2012
58 Degustação
A prova de 24 vinhos brancos,
SEÇÕES
de norte a sul de Portugal
05 Sumário e glossário
06 Editorial
08 Cartas
10 Blog
72 Romeu e Julieta
75 Quentinhas
81 Baixa gastronomia
86 Estante
88 Receitas
89 Endereços
Colunas
18 Paris
19 Etiqueta
65 Na taça
80 Colarinho
abril/2011
/ 5
editorial EDITORA
Cátia Alzugaray
PRESIDENTE EXECUTIVO
Caco Alzugaray
Frederic Jean/Ag.IstoÉ
DIRETOR EDITORIAL
Carlos José Marques
DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO
Luiz Fernando Sá
DIRETORA DE NÚCLEO
Gisele Vitória
DIRETORA DE REDAÇÃO
Suzana Barelli (suzana@revistamenu.com.br)
Editora assistente e de receitas: Luciana Mastrorosa (luciana@revistamenu.com.br)
Coordenadora online: Beatriz Marques (bia@revistamenu.com.br)
Assistente de redação: Roseli Tadei Vieira (roselitadei@editora3.com.br)
Colunistas: Cilene Saorin, Daniela Fernandes, Manuel Luz e Vanessa Barone
Colaboradores: Caio Gomes, Carlos Alberto Doria, Cristiana Couto, Eduardo Delfim,
Fabio Moraes, Giselle Paulino, Luciana Bicalho, Marcia Asnis, Melissa Thomé,
Pedro Marques, Ricardo Ferraz, Tânia Nogueira, Sheila Oliveira e Weberson Santiago
Diretor de Arte: Sergio Cury
Chefe de Arte: Ana Paula Rodrigues (ana@revistamenu.com.br)
Designers: André Carvalho, Diógenes Belmonte e Patrícia Medeiros
Tratamento de Imagens: Emerson Cação e Felipe Juste CTI: Chefe Daniel Costa
Daniel Freire, Thiago Azevedo e Romeu Ribeiro Revisores: Giacomo Leone, Lourdes
Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi
Brasil e Portugal
Editor Executivo: César Itiberê Editor: Juca Rodrigues
Produção: Andréia Debiagi e Thatiana Debiagi Pesquisa: Eduardo A. Conceição Cruz
Digitalização: Denis Teixeira
APOIO ADMINISTRATIVO
Brasil ou Portugal? No ano em que será comemorada a Gerente: Maria Amélia Scarcello
SERVIÇOS GRÁFICOS
união dos dois países – por aqui será o Ano de Portugal no Gerente Industrial: Fernando Rodrigues Coordenadora Gráfica: Ivanete Gomes
MARKETING
Brasil e, por lá, o Ano do Brasil em Portugal –, essa questão Diretor: Rui Miguel Gerentes: Debora Huzian e Wanderley Klinger
Assistente: Marina Carolina Arraes Redator: Thiago Zanetin Diretor de Arte: Charly Silva
marcou a elaboração da primeira edição de 2012 da Menu. Assistente: Marciana Martins
Doria, sobre o atual estágio da nossa gastronomia e, princi- MENU ISSN 1415-9899 é uma publicação mensal da Três Editorial Ltda. Redação e
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palmente, dos nossos chefs. Doria faz uma atenta compa- fax (11) 3618-4100, São Paulo, SP SUCURSAIS: RIO DE JANEIRO: Av. Almirante Barroso,
63, sala 1.510, fone (21) 2107-6650, fax (21) 240-2925 BRASÍLIA: SCS, Quadra 2, Bl. D,
ração com a “segunda dentição” da Revista de antropofagia, Ed. Oscar Niemeyer, sala 201 e 203, fone (61) 3321-1212, fax (61) 3225-4062
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Feliz 2012!
Impressão Editora Três Ltda.
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6 janeiro/2012
EXEMPLAR PROMOCIONAL
NÃO PODE SER VENDIDO SEPARAMENTE
ELEITA A MELHOR REVISTA DE GASTRONOMIA
157
Amazonas (91) 3227-2478
Pesquisa com 23 chefs especializados nas
grandes festas mostra quais são as receitas Bahia (71) 3012-2802
que não podem faltar na ceia natalina
Ceará (85) 3223-2949
Menu agradece a todas as mensagens. Críticas, sugestões e comentários são bem-vindos e devem ser enviados, com nome
completo e cidade onde reside, para o e-mail menu@revistamenu.com.br ou para Diretoria de Redação, revista Menu, Visite o site www.assine3.com.br
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8 janeiro/2012
revistamenu.com.br
Receitas exclusivas, videorreportagens, fotos e
notícias da gastronomia recheiam o endereço
mais saboroso da internet no mês de janeiro.
Drinques
Bacalhau de verão
Assista ao vídeo o bate-papo com A bartender Talita Simões, do bar
o chef português Vítor Sobral, da paulistano The Sailor, ensina quatro
Tasca da Esquina, restaurante em São receitas de coquetel para a estação.
Paulo e Lisboa. Ele dá dicas de como Além dos conhecidos cosmopolitan
comprar o pescado e mostra o preparo e mojito, ela mostra duas de suas
de receitas tradicionais portuguesas, criações que trazem o limão e a lichia
como o bacalhau à bras. como protagonistas.
Menu testa
no tablet Conheça o desempenho do
miniliquidificador e moedor LM 120,
A revista Menu, que estreou em novembro da Black&Decker, máquina avaliada no
no iPad, agora também está disponível nos mês de janeiro. O aparelho é indicado
tablets com sistema Android. Um pot-pourri para preparos individuais, com
com as melhores reportagens da edição pode capacidade para até 500 ml, como
ser baixado gratuitamente no triturar café e fazer sucos e vitaminas.
App Store e no Android Market.
siga a Menu
Participe e dê sua opinião sobre os principais assuntos da Encontre nosso perfil no site de relacionamento
gastronomia em nossa página no site de relacionamento (@revistamenu) e receba as notícias e os links
(www.facebook.com/menuonline). postados pela nossa equipe.
10 janeiro/2012
A gastronomia em discussão
fotos Divulgação
Potes de mel
O Empório do Mel está lançando dois novos méis: o de flores de canola (foto) e o
de uva-japão, de floradas nobres, com benefícios para a saúde. Os dois exigiram um
preparo especial: a colmeia foi colocada estrategicamente em uma área rodeada pela
florada desejada, pois as abelhas voam, em média, três quilômetros para recolher o
néctar. “São méis cujo volume de produção não se consegue prever”, explica Rodrigo
Balioti, sócio do empório.
De sabor cítrico, o mel de canola é produzido a partir de variedade híbrida da planta
Brassica napus, melhorada geneticamente nos anos 1970 para reduzir o teor de amar-
gor do sabor de seu óleo vegetal, um dos mais saudáveis pela riqueza na composição
de seus ácidos graxos. A uva-japão (Hovenia dulcis) é uma árvore de flores pequenas e
perfumadas, característica da região Sul do Brasil, e o mel ativa as funções intestinais e
ajuda no combate à anemia. Em embalagens de 300 gramas, os méis custam R$ 13,90 e
podem ser adquiridos no Empório do Mel, pelo telefone (11) 3722-5144.
Os bolos da
Benjamin Abrahão
(ao lado) e da
Wondercakes
(abaixo)
janeiro 2012 13
lgação
LOG
Foto divu
DEU NO B
Passados seis anos da estreia de seu blog Chucrute com
Salsicha (www.chucrutecomsalsicha.com), a jornalista
Fernanda Guimarães Rosa mudou de cidade e, claro,
de cozinha. O espaço “ensolarado, cheio de coisas
espalhadas pelos cantos”, deu lugar a uma cozinha “mais
vintage”, com uma ilha no meio, o que, diz a autora, lhe
deu ares de “uma Julia Child moderna”. Mas, embora
se considere atrapalhada e tenha feito de tudo – de
DE
APRENDIZ cozinha macrobiótica a pratos rápidos em micro-ondas
I RO
COZINHE
–, Fernanda mantém um blog de primeira. Adepta de
ingredientes orgânicos e da estação e, segundo ela, está
bem melhor na produção de sobremesas. A blogueira,
A beleza e a simplicidade dos ingredientes que mora em Woodland, na Califórnia, prepara receitas
com desenvoltura, acompanhadas de fotos caprichadas,
“Muita gente sai da universidade de gastronomia e quer tra- que ela mesma faz, links esclarecedores e histórias
balhar com novas tecnologias. Mas o trabalho no restaurante deliciosas do seu dia a dia.
é mais do que isso. Quando entrei no Tordesilhas, a proprietá-
ria e chef, Mara Salles, me avisou: ‘Talita, a coisa aqui é muito
simples, não usamos muita tecnologia. Para fazer o grande,
atente-se aos detalhes, aprenda a valorizar os ingredientes.’
Meu primeiro trabalho me pôs em contato com o mangarito,
caracterizado por seu formato irregular. Eu devia cozinhá-los, agenda
dar-lhes um pequeno choque térmico e descascá-los. Come- 12, 19 e 26/1 – Oficina de Biscoitos para crianças de
cei a torneá-los, achando que ela iria adorar. Quando ela viu, 3 a 13 anos, que acontece no ateliê da doceira Paula
quase me matou: ‘Você não achou o formato do mangarito Gradícola, na Granja Viana (SP), com oito alunos
bonito? Porque não o manteve? Ele agora se parece com por turma. Das 14h às 16h30, as crianças fazem
qualquer tubérculo.’ Pois o importante, Mara me ensinou, era biscoitos, os decoram e montam um piquenique no
preservar sua forma, além de aumentar seu aproveitamento. jardim para degustá-los com os pais. R$ 120, das
Com a casca seca no forno, fazemos um pó de sabor intenso 14h às 16h30. Informações: (11) 4777-9436 ou
que, misturado à pimenta jiquitaia (da Amazônia), usamos contato@paulagradicola.com.br.
para finalizar pratos. Preservar a forma original do produto
e aproveitá-lo inteiramente é uma constante no restaurante. 14/1 – Horta Caseira e Compostagem, curso
Cito dois outros exemplos: diante de rabanetes orgânicos e oferecido pela Associação de Agricultura Orgânica no
fresquinhos, minha primeira reação seria remover folhas e Parque da Água Branca, das 9h às 14h. O agrônomo
talos. A Mara não faz isso: ela aproveita as folhas para um e consultor Marcelo Noronha ministra aula teórica
refogado (como o de escarola), e os talos, para os caldos. e prática com introdução à agricultura orgânica e
Também pede para deixar, além do talinho, o “rabinho” do urbana e montagem de horta em vasos. Custa R$ 80
rabanete (aquele filetinho que nasce na outra extremidade), (R$ 60 para sócios). Informações: (11) 3875-2625
que é comestível e saboroso. Com o coentro dá-se o mes- ou www.aao.org.br
mo: sua raiz, diz a Mara, é o ‘filé-mignon’, pois concentra
muito sabor. Higienizada e picada, usamos em preparações 16/1 a 12/3 – A Associação Brasileira de Sommeliers de
como casquinha de caranguejo e vatapá do Pará. Com os São Paulo oferece o curso Temas Básicos de Vinhos. Em
talos, fazemos caldos. Assim, a comida fica mais saborosa e oito aulas, sempre às segundas-feiras, das 20h às 23h,
diversificada, além de reduzirmos muito o lixo orgânico do serão abordados princípios de degustação, o processo
restaurante. Não temos uma cozinha tecnológica, mas é uma de vinificação, armazenamento do vinho e seu serviço,
cozinha bonita, de ingrediente e consistência.” por R$ 800. Informações: (11) 3814-7853.
14 janeiro 2012
fotos: divulgação
100 quilômetros de Lima e são responsáveis por 90% desse for-
necimento. O restante vem de um lugar bem mais próximo: o
andar de cima do Central (o restaurante funciona no térreo), que
é ocupado por uma horta com mais de 30 espécies de verduras,
ervas e hortaliças. “Meu objetivo de colocar a horta aqui é para
entender exatamente como funciona a natureza”, explica Veliz. Saúde nas festas infantis
O chef compreendeu o ciclo natural dos ingredientes, tanto
que seu cardápio muda de acordo com a sazonalidade. Em de- Hoje não tem mais desculpas para quem não abre mão de uma
zembro, o menu-degustação trazia pratos como pirarucu com alimentação saudável na rotina dos pequenos. Até as festinhas de
batatas nativas ao carvão, creme de cítricos, alcaparras e tiras de aniversário podem ser feitas com comidinhas que fazem bem. O
palmito (foto) e perna de cabrito de leite com feijões brancos, abó- bufê infantil Casa Amarela, em São Paulo, oferece opções como o
bora orgânica e tomate pachacamac. A degustação completa, pastelzinho de forno feito com massa integral, acompanhado de sa-
com oito pratos, custa o equivalente a US$ 85 por pessoa. ladinha, pratos sem glúten, espiga de milho cozido, frutas e cereais.
Os sucos de frutas diferentes, como gabiroba, açaí, uvaia, araçá e
Central Restaurante cambuci, também divertem a garotada. (Giselle Paulino)
calle Santa Isabel 376 – Miraflores
00 xx 511 242-8515 – Lima – Peru Casa Amarela
www.centralrestaurante.com.pe rua Otávio Tarquínio de Souza, 1.045 – Campo Belo
(11) 5536-9298 – São Paulo – SP
Martín Fierro
rua Aspicuelta, 683 – Vila Madalena
(11) 3814-6747 – São Paulo – SP
16 janeiro 2012
ão
ivulgaç
fotos d
Bistrôs de bairro
Paris é dividida em 20 arrondissements. O primeiro
é o mais antigo e inclui o Louvre e a Île de La Cité.
O décimo, então uma área mais popular da cidade,
onde moram africanos, indianos e turcos principal-
mente, está passando por uma revolução gastronô-
mica. Nos arredores da rue du Faubourg Saint-Denis,
uma das principais do bairro, inúmeros bistrôs, bares O Vivant, ao lado,
e restaurantes com visual histórico ou moderno estão e o Nanashi, abaixo
abrindo as portas. E seus cardápio e ambiente, não
raro, ganham o elogio da imprensa francesa.
Um deles é o bistrô Vivant, localizado onde, desde
1903, funcionava uma loja de comércio de pássaros. Nes-
te novo restaurante do chef Pierre Jancou, os insólitos
azulejos coloridos com desenhos de aves nas paredes
foram mantidos e o bistrô ganhou uma decoração no
estilo anos 1950, com mesas e cadeiras de fórmica e
capacidade para 30 pessoas. No cardápio, Jancou, que
já lançou outros dois restaurantes de sucesso em Pa-
ris e depois vendeu, como o La Cremérie e o Racines,
continua com a sua máxima de “detestar a indústria
alimentar”, só utilizar ingredientes frescos, com desta-
que para os produtos italianos, como queijos e frios de
pequenos produtores.
O menu muda regularmente e há diariamente pelo
menos uma receita italiana, como o risoto com salsi- esses pratos são servidos em pequenas bandejas e
chas frescas. Há também pratos franceses, como o foie podem não utilizar ingredientes japoneses – a chef
gras Dupérier com alcachofras ou o pato de Challens, também aprecia a culinária francesa e suas criações
assado com a fina pele para manter a textura crocan- são revisitas da cozinha de seu país.
te, acompanhado de legumes glaceados na manteiga, O bentô de peixe, por exemplo, pode ser com peixe-
como o chef aprendeu na época de um estágio no espada ou truta e o de carne com cordeiro confit. Di-
L’Arpège, três estrelas no guia Michelin. Os pratos cus- ferentes legumes e também grãos ou cereais, como li-
tam entre 15 euros e 25 euros. Entre as sobremesas, des- nhaça, quinua ou cevada, completam o prato saudável
taque para a musse de chocolate preparada na hora, e com produtos orgânicos. No cardápio, escrito em uma
servida quente e com um creme de flor de laranjeira. A enorme lousa, há sopas, saladas, “pizza-brioche” e, claro,
casa não funciona nos fins de semana e recomenda-se alguns pratos asiáticos, como rolinhos primavera. As so-
reservar com uma semana de antecedência. bremesas são originais, como o bolo de abacaxi com po-
No mesmo arrondissement, o Nanashi é outro res- lenta ou de chocolate com yuzu (limão japonês).
taurante que vale a visita. Sua decoração despojada é
uma mescla de refeitório industrial com ateliê de artis- Vivant
ta, com suas enormes luminárias coloridas e móveis 43, rue des Petites Écuries – 10° arrondissement
encontrados nos chamados “mercados das pulgas”. tel.: 0033 (0) 1 42 46 43 55
Mas o que faz o sucesso do Nanashi é a chef japonesa
Kaori Endo e seus bentôs (as marmitas japonesas), nas Nanashi
versões carne, peixe e vegetariana. As receitas mudam 31, rue de Paradis – 10° arrondissement
todos os dias e custam só 14 euros. Apesar do nome, tel.: 0033 (0) 1 40 22 05 55
18 janeiro2012
Com açúcar e
com afeto
Nunca fui uma grande cozinheira, embora colecio-
ne livro de receitas. Também nunca recebi o título de
“papisa da moda”, por mais que adore registrar com
roupas e acessórios a história dos meus dias. Então
por que eu me meti a discorrer sobre esses assuntos ao
longo dessas páginas, o leitor deve se perguntar? Por-
que eu escolhi olhar para essas duas áreas sob outras
perspectivas, menos como especialista metida a besta,
muito mais como curiosa insaciável. E deixar que ou-
tros, melhores do que eu, metam-se a criar grandes
pratos e lindos figurinos.
Mas a razão principal para eu não me cansar de ex-
plorar os mistérios fashion e gastronômicos é porque eu
gosto de gente. E acredito que tanto a gastronomia quan-
to a moda são formas de estreitar os laços humanos. Por
meio de um prato conseguimos passar amor, deferência
e amizade. Sendo ele uma receita com técnicas da cozi-
nha molecular ou um simples misto quente. Algo feito
com carinho e capricho ajuda a conquistar, consolar,
amenizar a dor. É disso que eu gosto. Nunca me esqueço
de quem me alimentou com amor e, quando monto uma
lista de supermercado, por exemplo, enxergo os ingre-
dientes como uma forma de agradar a alguém. O suco de
lichia vai para meu enteado mais novo, e os chocolates
são para o mais velho. O queijinho francês agrada a mi-
nha filha; e o vinho tinto, meu marido. E assim vamos,
colecionando afeto na forma de sabores.
Há algum tempo sou procurada por pessoas que
não se entendem com o próprio visual. Querem uma
“consultoria de moda”, dizem. Mas, na verdade, o que
eu faço nem sei se tem esse nome. O que me estimula
é mostrar que é possível ser feliz vestindo-se de forma
que agrade aos outros, mas, também, a si. A roupa e
seus complementos podem ser um agrado que fazemos
a nós mesmos, enquanto ajudamos o mundo a enten-
der melhor quem somos.
janeiro/2012 19
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água de beber
Os utensílios para matar a sede no verão
20 janeiro/2012
13
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12 14 18
1. porta-bebidas em metal esmaltado, R$ 167,90, na Regatta Casa; 2. conjunto com quatro copos altos em acríli-
co, R$ 96,50, na Bacco’s; 3. conjunto com quatro copos em acrílico baixo, R$ 89,50, na Bacco’s; 4. jarra de vidro
da Borgonovo by Alimport, R$ 27, na Alimport; 5. jarra em vidro com embolo para gelo e tampa em prata, R$
264, na Presentes Mickey; 6. garrafa de vidro facetada da Maxwell Williams, R$ 34, na Spicy; 7. cantil com filtro
da Bobble, R$ 58, na Spicy; 8. refil de filtro da Bobble, R$ 44, na Spicy; 9. balde de gelo em vidro, R$ 54, na
Presentes Mickey; 10. copo em vidro para água da Alesi, R$ 115, na Benedixt; 11. copo em vidro jateado da Alesi,
R$ 115, na Benedixt; 12. jarra em vidro da Alesi, R$ 673, na Benedixt; 13. garrafa em vidro reciclável, R$ 72,40,
na Art Mix; 14. forma de gelo em forma de diamantes da Fackelman, R$ 17, na Art Mix; 15. taças de vidro, R$
92, o conjunto com seis unidades, na Presentes Mickey; 16. jarra em vidro, R$ 199, na Regatta Casa; 17. jarra em
vidro com detalhes em prata da Quadrifoglio, R$ 197,90 na Bacco’s; 18. balde de gelo em acrílico, R$ 420, na
Bacco’s. Confira os endereços na página 89.
janeiro/2012 21
22 janeiro/2012
4 tomates com pele e sementes 10 pepinos; 10 colheres (sopa) de sal e deixe escorrer bem em uma
2 pepinos japoneses com casca arroz; 4 tomates picados; 1/2 maço peneira. Em seguida, misture o pepino
1 cebola média de hortelã picado; 2 cebolas picadas com o alho picado e a hortelã e
1 pimentão vermelho 1 colher (café) de cominho; 300 g de acrescente a coalhada. Misture bem.
1/2 maço de salsa grão-de-bico cozido; 6 dentes de alho
1/2 maço de cebolinha verde picados; 150 g de molho de tomate para servir distribua a pasta em
1 colher (sopa) de molho de tomate 6 colheres (café) de sal; água e azeite potes e sirva com pães e torradinhas.
1 xícara (chá) de trigo para quibe de oliva quanto bastem
1/2 limão
sal e azeite de oliva a gosto pepino retire as pontas dos pepinos e dica da chef a pasta pode ser feita
reserve. Remova todo o miolo dos com antecedência e conservada
tabule pique os pepinos, os tomates, pepinos e recheie a cavidade dos na geladeira até a hora de servir.
a cebola, o pimentão, a salsa e a legumes com arroz cru, tomate picado,
cebolinha em pedaços pequenos. hortelã e grão-de-bico. Reserve. Doure
Misture os ingredientes numa tigela e o alho e a cebola numa panela com rendimento 3 porções
reserve. Lave bem o trigo com 1 fio de azeite. Adicione o molho de preparo 20 minutos
bastante água e esprema-o com tomate e misture bem. Feche os (+ 8 horas para a coalhada)
as mãos para remover o excesso pepinos com as pontas reservadas, execução fácil
de líquido. Coloque o trigo espremido prendendo-as com palitos, e coloque-
numa vasilha aberta e deixe secar por os na panela do refogado. Cubra-os sopa de pepino
10 minutos. Após o descanso, misture com água, tempere-os com sal e
os legumes e o trigo e tempere-os com cominho e cozinhe em fogo baixo por 6 copos de iogurte natural
azeite, limão, sal e molho de tomate. cerca de 20 minutos. (200 g cada); 2 pepinos com casca;
2 dentes de alho picados; 1 maço de
para servir coloque o tabule numa para servir tire os palitos e as hortelã picado; 2 colheres (sopa) de
saladeira e sirva. Se preferir, adicione pontas dos pepinos e sirva numa azeite de oliva
folhas de alface americana para travessa ou em pratos individuais.
acompanhar. sopa de pepino coloque o iogurte
numa panela e esquente-o em fogo
dica da chef este prato fica baixo, tomando cuidado para não
dica da chef o segredo da salada melhor se preparado com ferver. Reserve. Refogue o alho e a
é cortar os ingredientes em pepinos comuns, que têm hortelã com o azeite, em outra panela,
pedaços bem pequenos e formato mais largo. em fogo médio. Em seguida, baixe o
misturá-los bem ao trigo, para fogo e acrescente o iogurte. Quando a
que peguem o tempero por igual. mistura estiver homogênea, junte o
rendimento 4 porções pepino cortado em pequenos pedaços.
preparo 1 hora execução fácil Cozinhe em fogo médio por 5 minutos.
rendimento 2 porções
preparo 30 minutos pasta de iogurte para servir distribua a sopa em
execução muito fácil cumbucas ou pratos fundos e sirva
6 copos de iogurte natural com 1 fio de azeite.
(200 g cada); 2 pepinos japoneses
com casca; 4 dentes de alho picados
Vivian Arab, do
1/2 maço de hortelã picado; sal a gosto dica da chef ao aquecer o iogurte,
foto Divulgação
restaurante Arab,
criou as receitas com tenha muito cuidado para que ele
pepino para esta pasta de iogurte coloque o iogurte não ferva, pois pode talhar.
edição. O Arab fica
num coador de café grande, com
na avenida Atlântica,
1.936, Copacabana, filtro, e deixe descansar por 8 horas,
Rio de Janeiro (RJ). na geladeira, para escorrer bem. rendimento 2 porções
Tel.: (21) 2235-6698.
Reserve. Rale o pepino, tempere com preparo 30 minutos execução fácil
janeiro/2012 23
coMida de rio
e de FLoresTa
Os temperos e ingredientes da rica cozinha amazônica
em destaque num cruzeiro pelo rio Solimões
24 janeiro/2012
E, como não poderia deixar de ser, a mandioca – base caldeirada de pirarucu, mandioca,
da alimentação do ribeirinho – também é uma das estre- folhas de jambu e farinha ovinha
las do cardápio do navio. De manhã, o cuscuz de tapioca
figura lado a lado com café, leite e pão. E, no almoço ou 800 g de lombo de pirarucu em cubos
jantar, a farinha grossa entra na composição de ricas fa- 75 g de alho-poró
rofas, guarnição perfeita para os pescados, temperadas 75 g de cebola
com algumas das ervas locais, como a alfavaca e a chicó- 25 ml de suco de limão
ria-do-pará. Durante suas andanças pela região amazô- 10 g de alho
nica, o chef Felipe Ribenboim ficou impressionado com 10 g de folhas de salsa
a versatilidade dessa raiz, tão abundante na região – no 25 g de pimenta-de-cheiro
Norte, ela é chamada de mandioca-brava, por ser vene- 10 g de chicória-do-pará
nosa, mas seu veneno se torna inativo depois de exposto 50 g de folhas e talos de jambu
ao calor. “A história dessa raiz é o uso que se faz dela. 200 ml de tucupi
A partir desse único produto, é possível preparar vários 800 g de mandioca fresca (aipim)
outros, como beiju, tapioca, goma, tucupi e farinha para 200 g de farinha ovinha
engrossar o caldo”, lembra o chef. sal grosso a gosto
Ribenboim usa alguns ingredientes amazônicos nos água quanto baste
pratos que desenvolve em parceria com Gabriel Broide,
em São Paulo. A dupla, que comandava o restaurante caldeirada amasse num pilão (ou bata no
Dois Cozinha Contemporânea até meados do ano passa- liquidificador) o alho-poró, a cebola, o alho, a salsa,
do, tem planos para inaugurar um novo espaço em bre- a pimenta-de-cheiro, os talos do jambu, a chicória-
ve. “Tínhamos elementos da Amazônia no cardápio no do-pará e o suco de limão. Acerte o sal e reserve.
Dois, e com certeza teremos ingredientes de lá no nosso Cozinhe a mandioca em água com sal até
futuro restaurante”, assegura Broide. Convidados pela começar a ficar macia. Reserve a mandioca na
Menu, os cozinheiros criaram delícias inspiradas nesses água do cozimento. Coloque o pirarucu numa
sabores, como a caldeirada de pirarucu e a musse de cas- panela de barro, onde o peixe será cozido, e
tanha-do-pará com fondant de cupuaçu, uma das frutas adicione a marinada feita no pilão. Reserve por
mais emblemáticas da região, ao lado do açaí. 3 horas. Coloque a farinha ovinha em uma tigela
E ingredientes como esses permeiam toda a viagem pelo e cubra-a com água. Reserve. Leve a panela de
rio Solimões. Em uma das paradas do cruzeiro, a visita a barro com o pirarucu ao fogo e acrescente o
uma típica casa de caboclo ribeirinho confirmou o uso tucupi, a mandioca precozida e um pouco de sua
onipresente da mandioca. A casa de madeira, simples e água de cozimento. Mantenha em fogo baixo até
construída próxima ao rio, conta com uma grande plan- o peixe estar cozido e a mandioca, macia.
tação de mandioca e uma casa de farinha, onde o ingre- Acrescente as folhas de jambu e deixe murchar
cerâmica, Bia Ferreira da Rosa; talher, acervo de produção
janeiro/2012 27
fotos Divulgação
Pescando piranhas
Navegar em um cruzeiro no rio Solimões, no Amazonas, é uma
experiência e tanto para uma pessoa como eu, acostumada a
viver em uma metrópole cinza e barulhenta como São Paulo. A
primeira sensação, quando o navio parte, é a de estranhamento:
estar no meio do rio significa ficar cara a cara com um silêncio
indescritível, pontilhado apenas pelas vozes dos outros hóspedes
ou pela música que toca permanentemente no deque. Quando
saímos em passeios, percorrendo o rio em pequenas lanchas e
observando de perto como vivem os ribeirinhos, a impressão se
confirma. Tudo é silencioso e calmo, parece que a vida e suas
tarefas cotidianas transcorrem em outro tempo. Por lá, tudo é
flutuante: postos de gasolina, restaurantes, escolas. O táxi é um
barco, naturalmente, assim como os ônibus. Passamos por vilas
inteiras e aprendemos que, para os ribeirinhos, peixe bom é
aquele que tem escamas. Os chamados peixes lisos, ou peixes-
gatos, são exportados para países como China e Rússia. “O povo
não gosta desses peixes porque eles vivem no meio dos detritos”,
explica nosso guia, Jeferson Alves, também nativo e totalmente
inteirado das peculiaridades de sua região natal.
Seguimos o passeio e nos deparamos com jacarés, garças,
pássaros multicoloridos e árvores de todos os tons possíveis
No alto, o pôr do sol visto do
de verde. Então, logo ali, somos convidados a pescar... rio Solimões; ao lado, a trilha
piranhas! Sim, aqueles peixes de dentes afiados e notório na floresta. Acima, árvores
gosto por carne. No barco, os hóspedes se agitavam, com amazônicas
certa apreensão risonha no ar: como poderíamos ficar numa
pequena lancha em meio às “sanguinárias” piranhas que
povoavam nossa imaginação? Ao chegar lá, Alves, o guia,
divertia-se com nossa falta de jeito e dominava a situação
com tranquidade, nos ajudando com as varas de pescar
e colocando pedaços de carne no anzol, de modo que
conseguíssemos atrair a atenção dos peixes, sem espetar o
dedo ou machucar o colega. Mostrou a própria mão, ferida de
outras aventuras, e disse para ficarmos tranquilos e falarmos
baixo, para que os peixes mordessem a isca. Risos nervosos,
silêncio. De repente, a surpresa: minha linha puxava forte e Acima, jantar no
eu mal soube o que fazer. Quando vi, estava puxando para cruzeiro; ao lado, cenas
do passeio de lancha.
o ar uma pequena piranha colorida. Em seguida, mais uma!
Abaixo, a piranha
Logo, meus colegas começaram a pescar também várias recém-pescada
delas, umas alaranjadas, outras amareladas, algumas brancas.
Depois de devidamente registradas em fotos, eram devolvidas
ao rio – para minha ligeira frustração, já que gostaria de provar
uma das iguarias famosas da região, o caldo de piranha. Quem
sabe numa próxima?
28 janeiro/2012
Os chefs Felipe
Ribenboim (à esq.)
e Gabriel Broide
fondant de cupuaçu 200 g de cupuaçu; 200 g de areia de castanha toste as castanhas em forno médio,
açúcar; 100 ml de creme de leite; 50 g de manteiga a 180°C, até ficarem coradas, mas sem queimar.
fria; flor de sal a gosto Reserve. Derreta o açúcar numa panela até 180°C,
formando um caramelo. Despeje-o num silpat (tapete
cupuaçu in natura polpa de cupuaçu in natura de silicone) e deixe endurecer. Reserve. Depois de frio,
quanto baste; açúcar quanto baste bata o caramelo e a castanha-do-pará no processador
até ficar com aspecto de areia granulada grossa.
areia de castanha 100 g de castanha-do-pará; 150 g Acrescente a maltodextrina e o leite em pó e misture
de açúcar; 10 g de leite em pó; 5 g de maltodextrina até ficar homogêneo. Reserve na geladeira.
prato, Nelise Ometto; talher, acervo de produção
musse deixe as castanhas de molho no leite por 24 para servir passe o fondant no fundo do prato e faça
horas, na geladeira. Após o descanso, processe esse uma linha com a areia de castanha sobre ele. Finalize
leite no liquidificador até desfazer todas as castanhas. com a musse e sirva com o cupuaçu in natura à parte.
Passe o líquido por uma superbag ou etamine bem
fina espremendo-a para retirar o máximo de líquido.
Aqueça o líquido numa panela, em fogo baixo, e reduza dica dos chefs ao fazer o caramelo do fondant,
a 10% do volume inicial. Reserve. Hidrate use o termômetro para garantir que a
as folhas de gelatina e incorpore-as na redução de temperatura não passe do indicado, evitando
castanha. Junte o açúcar e o creme de leite na redução que o fondant amargue.
morna e verifique o sabor. Corrija com um pouco de
açúcar, se necessário. Ponha a mistura rendimento 4 porções preparo 2 horas (+ 24 horas
num sifão, usando carga máxima. Reserve na geladeira. para a musse) execução difícil
30 janeiro/2012
janeiro/2012 31
(re)descobrindo
portugal
As bochechas
de porco, receita saborosa
da Tasca da Esquina
32 janeiro/2011
janeiro/2011 33
Alguns números reforçam a ideia defendida por Sobral. Mais de 370 mil brasileiros
desembarcaram em solo português em 2010, um aumento de quase 40% em relação
a 2009. E, em maio de 2011, o número de turistas brasileiros já havia registrado cres-
cimento de 22,8%, em comparação a igual período de 2010. Em 2011, o comércio
entre os dois países foi o maior da história, chegando a US$ 2,44 bilhões nos dez pri-
meiros meses de 2010. Na pauta de exportação, destaque para os azeites e bacalhau
portugueses, que representaram 30% dos produtos lusos vendidos por aqui, segundo
dados da Embaixada de Portugal no País.
O nome “tasca” aparece nestes novos restaurantes, mas em conceito diferente
de suas contrapartes lusitanas. Enquanto lá a tasca geralmente indica um res-
taurante familiar, mais simples e que vende petiscos e vinhos da casa, as tascas
brasileiras estão mais para bistrôs, com comida portuguesa. “Tasca nada mais é
que uma trattoria, um bistrô. É uma categoria entre o restaurante e o bar”, define
Ipe Moraes. “E por que eu vou chamar de bistrô se em Portugal temos a tasca?”,
complementa Vítor Sobral. A ideia do chef português foi, a partir do conceito de
tasca, fazer uma releitura da culinária lusitana e, assim, apresentar sua cozinha
autoral. “O conceito de petiscos, pratos pequenos, está presente no restaurante,
mas, quem quiser comer uma bela posta de bacalhau, tem”, diz.
O bacalhau, aliás, mantém o posto de estrela nos cardápios, ao lado de ou-
tros favoritos da culinária portuguesa, como o arroz de pato, os pratos com
polvo e outras criações à base de frutos do mar, mais os tradicionais doces. A
diferença mais marcante fica no estilo: enquanto os restaurantes apostam em
pratos clássicos para agradar a uma clientela mais tradicional, as tascas tomam
liberdades e servem receitas mais modernas, como sopas de melão e presunto
cru, tartares de vieira e até produtos tradicionais nem sempre apreciados, como
alheiras, morcelas e moelas.
Outra diferença pronunciada é a relativa simplicidade das tascas com seus pa-
trícios culinários daqui. Elas contam com belos talheres e louças e, em alguns ca-
sos, até toalhas de linho branco, um luxo quando comparadas com as irmãs por-
tuguesas. Mas não há uma tropa de garçons para atender à mesa e a decoração é
mais despojada, sem a formalidade de um grande salão. Com isso, os restaura-
teurs conseguem oferecer uma comida de qualidade, por um preço mais acessí-
vel. “Meu ingrediente é o mesmo do Antiquarius, mas a relação custo-benefício
é diferente. Uso arroz português carolino, os frutos do mar são fresquinhos, o
peixe chega todo dia”, explica Zé Maria Alves Pereira, ex-gerente do Antiquarius
e um dos quatro sócios da Tasca do Zé e da Maria.
O que não quer dizer que a conta da refeição seja barata: o tíquete médio nes-
sas casas fica em torno dos R$ 80, sem vinho. Ainda assim, são mais em conta
que os tradicionais restaurantes portugueses, o que explica, ao menos em parte,
o sucesso das tascas. “Só tenho a agradecer. A casa está sempre cheia”, diz Zé Ma-
ria, com um misto de orgulho e simplicidade. “A tendência de tascas é uma coisa
necessária. As pessoas têm a necessidade de comer bem sem tanta sofisticação”,
filosofa Ipe Moraes. Por isso mesmo, não será surpresa se mais restaurantes por-
tugueses abrirem suas portas ao longo deste ano que começa. Ora, pois, que 2012
seja mesmo o ano de Portugal na mesa brasileira.
34 janeiro/2011
O polvo ganha
a companhia de
mandioquinha
janeiro/2011 35
título Box
10 lombos de bacalhau dessalgados
(cerca de 200 g cada);
3 folhas de louro;
10 alhos cortados em lâminas;
salsa picada quanto baste; azeite de oliva
extravirgem quanto baste
cebolada
1 kg de cebola cortada em lâminas; 5 dentes de alho bochechas de porco com colorau
picados; 2 folhas de louro; 150 ml de azeite português e tostas de trigo
extravirgem; sal marinho moído na hora quanto
baste; pimenta-do-reino moída na hora quanto baste 1,3 kg de bochecha suína
300 g de cebola picada
batatas 6 dentes de alho cortado em fatias finas
1,2 kg de batatas fritas em rodelas grossas; azeite o 100 g de pimentão sem pele, cortado
quanto baste em cubos e assado
20 g de páprica doce
bacalhau coloque o bacalhau numa assadeira com sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto
100 ml de azeite, o louro e os alhos. Cubra a azeite de oliva extravirgem quanto baste
assadeira com papel-alumínio e asse o bacalhau 20 fatias finas de pão torrado
em forno baixo preaquecido, a 150ºC, durante 25 100 ml de vinho branco seco
minutos. Retire do forno e reserve. 30 ml de vinagre de vinho branco
cebolada aqueça o azeite em fogo baixo e refogue bochechas de porco salgue as bochechas na
a cebola com o alho e o louro. Quando a cebola véspera. No dia seguinte, tempere-as com a
começar a murchar, tempere-a com sal e pimenta páprica, um pouco de azeite e a pimenta-do-reino.
e reserve. Leve-as para assar em forno baixo, preaquecido, a
120ºC, por 6 horas. Depois de assadas, corte-as em
batatas descasque as batatas e cozinhe-as até pedaços menores. Aqueça uma frigideira em fogo
ficarem al dente. Corte-as em rodelas e frite-as com médio e salteie as bochechas picadas com o
bastante azeite até ficarem douradas. restante dos ingredientes, menos o pão, regando
com o vinho e o vinagre para finalizar.
para servir coloque as batatas já fritas em uma
assadeira. Disponha o bacalhau por cima delas e para servir coloque as bochechas em um prato
finalize cobrindo com a cebolada. Leve o peixe ao raso, acrescente o molho vinagrete e sirva com
forno alto apenas para dourar. Retire-o do forno, regue as fatias de pão torrado.
com azeite, polvilhe com a salsa picada e sirva.
36 janeiro/2011
janeiro/2011 37
atum 10 lombos de atum (200 g cada); polvo 1 polvo grande (3 kg); 5 dentes de alho
sal e azeite de oliva extravirgem quanto bastem cortados ao meio; 200 g de cebola picada; 1 litro de
caldo de legumes; 1 folha de louro; 5 pimentas-da-
chutney 1 kg de tomate picado, sem pele e sem jamaica; azeite de oliva extravirgem quanto baste;
sementes; 200 g de cebola picada; coentro em grãos 100 g de cebola picada; 150 g de pimentões sem
a gosto; 50 g de alho picado; 20 g de mel; casca, em cubos pequenos; 200 g de tomate sem
1 pimenta malagueta, em cubos pequenos; casca, em cubos pequenos; 10 folhas de hortelã,
100 ml de vinho branco; 50 ml de azeite de oliva fatiadas finamente; 30 ml de vinagre de vinho tinto;
extravirgem; 30 ml de vinagre de vinho branco; flor de sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto;
flor de sal e pimenta-do-reino moída quanto bastem 500 g de mandioquinha frita; sal a gosto
vinagrete 500 g de tomate sem pele e sem caldo de legumes 1 talo de alho-poró; 1 cebola
sementes, em cubos; 300 g de manga em cubos; descascada; 1 cenoura descascada, em cubos
20 g de gengibre picado; 100 ml de azeite grandes; 1 talo de salsão cortado em pedaços
extravirgem; 30 ml de suco de limão-galego; grandes; 1 folha de louro; 1 colher (café) de pimenta-
15 folhas de poejo; flor de sal a gosto do-reino em grãos; 1,5 litro de água fria
38 janeiro/2011
janeiro/2011 39
40 janeiro/2011
caldo de carne 1 kg de canela de boi, com a rótula; em 10 porções individuais. Pouco antes de servir,
1 cenoura com casca; 1 cebola com casca; 4 dentes aqueça os pedaços de rabo bovino em forno alto,
de alho com casca; 2 tomates com casca; 1 alho-poró preaquecido, a 200ºC.
1 talo de salsão; 300 g de aparas de carne bovina
2 litros de água; 200 ml de vinho tinto seco; 1 folha cogumelos numa frigideira ou panela grande, aqueça
de louro; azeite de oliva quanto baste um pouco de azeite e salteie os cogumelos com o
alho em fogo alto. Tempere a mistura com sal, pimenta
caldo de carne asse os ossos em forno alto, a 200ºC, e folhas de hortelã.
até ficarem bem dourados. Enquanto isso, aqueça o
azeite numa panela grande e refogue os legumes farofa desidrate o chouriço em forno bem baixo
e as aparas de carne. Adicione o louro e o vinho tinto, preaquecido, a 120ºC, por 1 hora. Em seguida, triture
raspando bem o fundo. Transfira os ossos da assadeira o chouriço com a farinha de mandioca em um pilão
para a panela. Cubra tudo com a água e deixe ou liquidificador.
cozinhar de um dia para o outro em fogo bem baixo.
para servir em um prato retangular, coloque o rabo
rabo de boi e molho tempere o rabo bovino com bovino, os cogumelos e a farofa um ao lado do
sal e deixe descansar por 8 horas. Após esse período, outro. Decore com ciboulette, finalize com o caldo
transfira o rabo de boi para uma assadeira grande e da rabada e sirva.
acrescente os ingredientes restantes. Cubra bem a
assadeira com papel-alumínio e leve-a ao forno baixo
preaquecido, a 120ºC, por 6 horas. Depois de assado, dica do chef esta receita também pode ser
transfira o rabo de boi para uma tigela e coe o caldo feita com outros cortes de carne como costela,
que restou na assadeira. Leve o caldo ao fogo baixo, fraldinha ou cupim.
deixe reduzir até encorpar um pouco e corrija os
temperos. Reserve o molho para a finalização. Desfie
a carne do rabo de boi e coloque-a numa assadeira rendimento 10 porções
forrada com filme plástico. Cubra a carne com mais preparo 16 horas (+ 12 horas
filme plástico e coloque um peso sobre ela para fazer para o caldo de carne)
pressão e compactá-la. Desenforme e corte a carne execução moderada
janeiro/2011 41
obrigado,
produtor
O chef Laurent Suaudeau faz um
já tradicional almoço de Natal para
agradecer a seus fornecedores e
parceiros ao longo do ano
42 janeiro/2012
janeiro/2012 43
44 janeiro/2012
46 janeiro/2012
A “segunda dentição”
da nossa gastronomia
Chefs brasileiros se apresentam no Gastronomika,
fórum da vanguarda na Espanha, e mostram que, com
um empurrão, poderão criar em breve uma nova linguagem,
como o movimento modernista da década de 1920
A terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá, só se avista de lá. Em A canção do
exílio, Gonçalves Dias propõe o deslocamento como ponto de observação. E deu
gosto ir até lá, no caso a cidade basca de San Sebastián, para ver os chefs brasileiros
no palco da 13ª edição do Gastronomika 2011, congresso que se propôs a discutir
as gastronomias evolutivas, emergentes e diversas, no fim de novembro e que con-
tou com um público de 12.500 pessoas, segundo os organizadores. Por emergentes
leia-se a América Latina, com Brasil, Peru e México em destaque.
Depois de tanta luta solitária, pela primeira vez cinco dos mais destacados pro-
fissionais brasileiros estavam sob os holofotes da gastronomia: E nós fizemos bo-
nito, a cada chef que subia ao palco. Alex Atala, do D.O.M., trouxe seu discurso
sobre o primitivo e o moderno; Helena Rizzo, do Maní, nervosa, optou por ler
um poema-manifesto; Rodrigo Oliveira, do Mocotó, seguro no seu terroir ser-
tanejo, como se fosse um México escondido no Brasil; e Roberta Sudbrack, do
restaurante que leva seu nome, desdobrando o milho e a banana em emoções
e lembrando que seu mis en place começa na roça. Por fim, o francês de alma
tupiniquim Claude Troisgros, do Olympe, com ares de tio de todos, como um
Juan Mari Arzak brasileiro.
Entre eles, não havia espírito de equipe, é verdade. E cada um mostrou o
seu trabalho como se ele representasse o Brasil inteiro e pedindo desculpas
por ele ser tão imenso e variado, incapaz de caber num palco. No discurso
das culinárias emergentes, a identidade nacional pareceu se opor aos avanços
dos ingredientes disseminados pelo Ocidente e, ao mesmo tempo, se apoiar
naqueles do território original. A consagração gastronômica do dinamarquês
Noma, eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor restaurante do mundo
pela revista inglesa Restaurant, não deixa dúvidas sobre essa tendência ao frisar
o local acima de tudo. Mas a modernidade não é só isso e também segue no
sentido contrário: pela universalização de técnicas e tecnologias materializadas
em várias máquinas e procedimentos.
Os europeus são mestres nisso. Quando se visita um restaurante basco, dito de
vanguarda, o chef nos leva, em primeiro lugar, para conhecer seu laboratório. É
um espaço de experimentação, assistido por especialistas acadêmicos, que permite
criar coisas surpreendentes a partir do banal, como a “terra” de beterraba liofili-
zada. Quem conta com laboratórios avança mais do que quem não conta. E os
brasileiros ainda não têm dentes tão afiados.
divulgação e reprodução
Os brasileiros no palco,
os chefs participantes
e seus assistentes
Os emergentes, mastigando ainda com dentes da pri- mos voltar sempre à conciliação étnica e cultural. Essa é
meira dentição, preferem a familiaridade dos ingredien- uma ilusão alimentada pela distância entre o componen-
tes próprios. Contudo, desde o ciclo das navegações, te popular da culinária e a elite que tem acesso à dinâmi-
também eles se disseminam. Comi tapas em Bilbao, fei- ca e inovação da cultura universal.
tos com yuca (mandioca). Então, o que será, daqui para a A Espanha, uma nação constituída por vários povos,
frente, a nossa vanguarda? Quando, anos atrás, o catalão construiu uma linguagem culinária universal ancora-
Ferran Adrià disse que o futuro da gastronomia estava na da no gosto tradicional mediterrâneo. Adrià chamou a
Amazônia, fez uma observação sempre esquecida: será descoberta desse mínimo denominador comum de “me-
preciso dar escala comercial aos seus produtos e difun- diterranização da cozinha espanhola”. Por mais ousadas
di-los pelo mundo com regularidade. Estamos longe de que sejam as criações, elas sempre remetem aos infinitos
conseguir isso. Mesmo o licuri fresco, que Helena Rizzo sabores populares, como o bacalhau, a merluza, o porco
utiliza com maestria, os brasileiros não conhecem. e seus derivados, a azeitona, os legumes e verduras. E dá
Ainda que os chefs de vanguarda valorizem os produ- gosto ver o minimalismo de Andoni Aduriz, do Muga-
tos locais, o conceito de vanguarda não decorre deles. ritz, ao criar um prato apenas com cebola, azeite de oliva
Ele é o lúdico que se constrói a partir de qualquer coisa, e língua. Pura celebração sobre o banal, que até lembra a
mas nossa gastronomia está encapsulada na limitação do linha de pesquisa escolhida por Roberta Sudbrack.
que acreditamos ser nosso diferencial precioso. Enquan- E, como nas improvisações de jazz, os espanhóis Dani
to os chefs espanhóis se dedicam aos laboratórios, nós García, do Calima, Pepe Rodriguez, do El Bohío, e Paco
gastamos nossas energias com problemas de logística. Ao Roncero, de La Terraza del Casino, apresentaram pratos
naturalizarmos a nossa gastronomia, inconscientemente utilizando temas dos emergentes, reinterpretando-os:
buscamos nova eficácia para o modelo agroexportador – gusanitos de seda, feitos de morango, ou uma alegoria
o que Adrià, aliás, parece desejar. com porco e feijoada. Vale tudo quando a imaginação
Há, porém, uma ideia que atrapalha muito os brasilei- é livre e os recursos técnicos estão disponíveis. Esse é o
ros: a quase obsessão em mostrar que somos, ao mesmo exercício do que se chama gastronomia de vanguarda. Os
tempo, modernos e primitivos; que respeitamos a tradi- espanhóis mostraram grande habilidade em brincar com
ção, mesmo quando fazemos cozinha moderna; que so- ingredientes latino-americanos.
mos escravos e senhores, e assim por diante. Vivemos na No geral, contudo, os brasileiros exercem a criatividade
encruzilhada, parecem dizer os chefs. em um caminho quase hermético: vamos ao palco com o
Esse é um discurso que nos remete a um Brasil pré- licuri fresco, o tucupi, o pirarucu, a pupunha, sendo que
modernista, se compreendermos que a geração moder- a audiência estrangeira não conhece esses ingredientes
nista dos anos 1920 conseguiu superar essas fissuras nos nem terá acesso a eles em um horizonte plausível. Se al-
representando como mestiços originais.Todo mundo mejam um lugar na vanguarda mundial, precisam defi-
que tenha lido Gilberto Freyre sabe disso. Não precisa- nir uma nova estratégia. E ela passa por se organizarem e
O AUTOR
No mundo da gastronomia, Carlos Alberto Dória (foto) é conheci-
do por seus livros – são de sua autoria Estrelas no céu da boca, Com
unhas, dentes e cuca, A culinária materialista e A formação da culi-
nária brasileira – e pelo seu atuante blog www.ebocalivre.blogspot.
com. Sociólogo formado pela Universidade de São Paulo, Dória
atualmente cursa o pós-doutorado na Unicamp, universidade onde
também ministra cursos, como Introdução à Sociologia da Alimen-
tação, Formação da Sociedade Brasileira e sobre o pensamento de
Darwin. Nas décadas de 1980 e de 1990, ele foi sócio de vários res-
taurantes, como Danton, Machiavelli, Badaró, Nabuco, todos em São
Paulo. Doria escreveu esta reflexão sobre a gastronomia brasileira ao
acompanhar o Gastronomika, evento que acompanhou, convidado
pelo Escritório de Turismo da Embaixada da Espanha e pela TAP.
50 janeiro/2012
água de coco
Confira o resultado da degustação de dez versões
engarrafadas da bebida preferida do verão
por Beatriz Marques fotos Sheila Oliveira/Empório Fotográfico produção Melissa Thomé
Sol e praia são os desejos de muitos brasileiros no calor, que chega com rigor no mês de
janeiro. É com os pés na areia e vista para o mar que costumamos saborear a água de coco
direto da fruta, tinindo de gelada, para amainar as altas temperaturas da estação. Mas, para
quem está longe do litoral e não tem acesso à bebida in natura, a solução está nas versões
esterilizadas ou pasteurizadas, que dão vida longa à água de coco e, atualmente, chegam a
diferentes pontos do País e também no Exterior.
O consumo da água de coco gira em torno de 350 milhões de litros por ano no Brasil.
A maioria, 300 milhões, são da bebida in natura. Mas esta categoria de produto considerado
ainda jovem no mercado – as primeiras versões industrializadas foram lançadas no início deste
século – já chama a atenção das grandes empresas. A Kero Coco, da gigante PepsiCo, por exem-
plo, cresceu em 15% o volume de vendas no ano passado. E a Maguary, conhecida pelos sucos
concentrados, acaba de estrear nas gôndolas dos supermercados, com a marca Puro Coco.
Com tantas opções disponíveis nas prateleiras, a Menu decidiu degustar às cegas (sem
identificar o rótulo) dez águas de coco, entre esterilizadas e pasteurizadas, com um conhe-
cedor da causa: o chef baiano Rafael Sessenta. Depois de ter restaurantes e uma escola de
cozinha em Salvador, Sessenta decidiu trazer os sabores de sua terra para a capital paulista e,
desde o início do segundo semestre de 2011, está à frente do Sotero.
Para fazer seu leite de coco e oferecer a água in natura para a clientela, Sessenta vai até o
Mercado Municipal, no centro de São Paulo, para comprar o coco “de vez”. “Aquele que não
é nem verde nem maduro”, explica o especialista. O melhor coco para beber, segundo o chef,
deve ser pesado, ter a pele muito lisa e a parte superior, onde se segura o coco, precisa ser mais
verde. “Agora, para saber se está doce ou não, só abrindo”, se diverte.
Mas no caso das versões em caixinha, esse risco não ocorre. A maioria das empresas adicio-
na uma quantidade mínima de sacarose para padronizar a doçura. Antes, a bebida é subme-
tida a uma temperatura entre 130 e 140ºC por três a quatro segundos, no chamado processo
de esterilização comercial. Ainda há os produtos pasteurizados, em que a temperatura atinge
cerca de 90ºC por períodos entre 30 e 60 segundos. “Nesse último caso, a água de coco não
pode ser estocada em temperatura ambiente e deve ser mantida entre 3 e 4ºC”, explica Fer-
nando Abreu, engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical.
Água de coco seco, conservantes, acidulantes e outros aditivos químicos são permitidos
por lei para a maior manutenção da bebida em caixinha. Abreu destaca que outro diferencial
da água de coco é o seu aspecto pouco calórico e a alta disponibilidade de sais minerais. “A
acervo de produção
banana possui o mesmo potencial de potássio, porém tem uma alta taxa de calorias, promo-
vidas pelo alto conteúdo de açúcar”, exemplifica. Aspectos saudáveis à parte, será que a água
de coco em caixinha pode ser tão saborosa quanto a natural? Confira a seguir a prova das
dez marcas compradas no mercado paulistano e eleja sua preferida para fazer a bebida coco
espumante, receita típica do verão baiano, que Sessenta revela na página 89.
52 janeiro/2012
9
5
10
6
8
DESEMBARQUE
AUSTRÍACO
A uva branca grüner veltliner é o cartão-
postal dos vinhos austríacos. Com boa aci-
dez e certa nota cítrica, é a variedade branca
mais cultivada, com 20% dos 2,3 milhões de
hectolitros de vinhos produzidos por ano
no país. Mas a Áustria não é a pátria de uma
uva só. O país também elabora tintos, com
uvas autóctones como a sankt laurent, da
família da pinot noir, e outros brancos, com
a riesling e com as cepas mais aromáticas da
família da muscat. E orgulha-se, ainda, de
seus vinhedos biodinâmicos. “Mais de 20%
das vinícolas são orgânicas. É o maior volu-
me entre os países da União Europeia”, afir-
ma Ingomar Lochschmidt, o cônsul-geral
da Áustria no Brasil.
Foi o próprio Lochschmidt quem abriu
a apresentação dos vinhos do país, reali-
zada na Associação Brasileira de Somme-
liers – São Paulo, em meados de dezembro.
Promovido pela The Special Wineries, que
está trazendo vários rótulos do país para cá
(até então somente a Mistral importava os
vinhos austríacos para o Brasil), a ideia é
mostrar que os brancos, de bom frescor, e
os tintos, mais leves e frutados, combinam
58 DEGUSTAÇÃO
com o clima brasileiro. No evento, destaque
para o Zobing Riesling 2009, do produtor
65 NA TAÇA
Hirsch, com boas notas minerais, algo flo-
ral e boa acidez, e preço de R$ 108. E, para
REPORTAGEM
quem quer um vinho de sobremesa nos
66 Vinhos Gregos
moldes dos trockenbeerenausleses alemães,
feitos com uvas atacadas pela botrytis, a
71 QUIZ
dica é o TBA Essenz 2006, por R$ 310 a gar-
rafa de 375 ml.
57 maio/2011
mundovinho
degustação
Brancos
portugueses
No país em que o tinto harmoniza com pescados, como o bacalhau,
vinhos elaborados com uvas como antão-vaz, viosinho, arinto
e alvarinho conquistam pelo frescor e pelas notas frutadas
Variedades autóctones não faltam a Portugal. De brancos nascem em vinhedos plantados em altitudes
norte a sul, o país tem uvas nativas que dão origem a que se beneficiam dos ventos mais frios. Se o objeti-
brancos de perfis bem distintos, dos leves e frutados aos vo é frescor, enólogos apostam na vinificação rápida,
minerais, daqueles com ótimo frescor até os mais com- em modernos tanques de aço inox, com temperatura
plexos e longevos. O perfil da bebida varia conforme a controlada. Esses profissionais também investem em
cepa escolhida, o terroir em que é cultivado e a propos- vinhedos cultivados com os clones corretos para cada
ta do enólogo ao vinificar as uvas. O fato é que varie- objetivo enológico – se a ideia é uma bebida mais com-
dade de estilos marca aos brancos da terrinha, outrora plexa, de nada adianta uma planta de alto rendimento,
conhecidos por aqui apenas (ou principalmente) pelos por exemplo – e parecem trabalhar, cada vez mais, no
seus vinhos verdes, levinhos e frisantes. vinhedo. Seja numa plantação antiga, ainda com as ce-
Os dias mais quentes do início do ano convidam a pas plantadas misturadas, seja nas mais modernas.
descobrir esses vinhos, que surpreenderam (positiva- Esta prova às cegas, com as garrafas compradas no
mente) nesta degustação, e são ideias para combinar mercado paulistano, foi realizada no restaurante North
com as receitas mais leves do verão. Do país em que o Grill e contou com a presença dos especialistas José Luiz
tinto reina – não raro nossos colonizadores indicam Pagliari, coordenador do curso de pós-graduação de vi-
um vinho elaborado com as uvas touriga nacional nhos do Senac de São Paulo, e Mauricio Tagliari, autor
ou tinta roriz para harmonizar com o bacalhau –, os do Dicionário do vinho. Os sommeliers presentes foram
brancos estão conquistando seu espaço, principal- Carina Cooper e Manuel Luz, este colunista da Menu, e a
mente pela sua qualidade e diversidade. equipe de jornalistas da revista.
Na taça, a impressão é que os produtores fizeram a
lição de casa e estão colocando em prática as noções North Grill
da enologia moderna. Se a região é muito quente du- Rua Jacques Felix, 365 – Vila Nova Conceição
rante a maturação das uvas, como o Douro, os bons (11) 3044-4885 – São Paulo – SP
janeiro/2012 59
89,5 89 89 88 88
Redoma Branco Luís Pato Vinhas Paulo Laureano Quinta de Foz Muros de Melgaço
Reserva 2009 Velhas 2009 Premium 2010 de Arouce Branco 2009
Douro Bairrada Alentejo 2009 Vinhos Verdes
Beiras
Muitas vezes eleito Vinhedos antigos, Consultor de O conde João Apenas a alvarinho,
pela crítica o melhor plantados com várias vinícolas no Filipe Osório e seu com passagem
branco português, cerceal, sercealinho Alentejo, Paulo genro, o enólogo em madeira, dá
é elaborado por e bical, são a base Laureano faz este alentejano João origem a este
Dirk Nieeport com deste branco branco em sua Portugal Ramos, vinho premium de
rabigato, códega, de cor amarelo- própria vinícola, utilizam apenas Anselmo Mendes,
donzelinho, palha brilhante. numa mescla de a uva cerceal, que aposta nos
viosinho e arinto, Complexos aromas, 60% de arinto com que fermenta vinhedos do norte
de vinhedos de com notas florais 40% de antão-vaz. e amadurece da região dos
60 a 100 anos. intensas, cítrico Nos aromas, lembra por cinco meses Vinhos Verdes,
Fermentado e algo de ervas. notas florais, com em barricas de em Monção. Tem
e envelhecido É elegante no algo de ervas e carvalho, neste nítidas notas cítricas
em barricas por paladar, bem especiarias. Sedoso branco de cor no aroma, mesclada
oito meses, tem integrado, de em boca, com amarela brilhante. com a madeira, e
cor amarelo- corpo médio, com equilíbrio entre a Bons aromas, que algo de mel. No
palha brilhante. acidez viva e longa boa acidez e o teor mesclam notas de paladar, mantém a
Complexo nos persistência. Tem alcoólico (tem 13% leveduras, cítricos expressão da fruta,
aromas de frutas 12% de álcool. de álcool), com e algo de romã. com corpo de leve
brancas, notas US$ 33,90, na boa persistência. No paladar, é a mediano, com
florais e especiarias, Mistral R$ 53, na Adega bem equilibrado, algo de carvalho.
bem mesclada com Alentejana com frescor e Equilibrado, foge
a madeira. Elegante complexidade e do padrão dos
em boca, tem corpo notas de madeira vinhos verdes,
médio, integrado presente. Tem 13% pela qualidade e
com a acidez. Tem de álcool. R$ 125, persistência em
13,5% de álcool. na Decanter boca. Tem 13% de
US$ 109,50, na álcool. R$ 124, na
Mistral Decanter
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88 87,5 87,5 87 87
Margarida 2009 Passadouro Branco Vinha do Putto Esporão Reserva Branco da Gaivosa
Alentejo 2009 2008 Branco 2010 2010
Douro Bairrada Alentejo Douro
Susana Esteban é Elaborado por Jorge Carlos Campolargo O enólogo Este branco de
a enóloga deste Serôdio Borges com mescla arinto, australiano David Domingo Alves de
vinho de Margarida viosinho, rabigato verdelho e Baverstock faz Sousa, elaborado
Cabaço, do Monte e códega, tem chardonnay neste um blend com com consultoria de
dos Cabaços. É um cor amarelo-palha branco de nome as variedades Anselmo Mendes,
blend de 60% de brilhante e aromas infantil – “putto” antão-vaz, arinto vem de vinhedos
encruzado e 40% atraentes, que quer dizer criança e roupeiro, antigos, com cepas
de verdelho, que lembram frutas no interior de que fermenta, misturadas, como
fermenta em aço maduras, como um Portugal. Tem cor parcialmente, gouveio, viosinho
inox (uma pequena inesperado mamão, amarelo-palha, em barricas de e malvasia, entre
quantidade e algo mineral. No com notas de frutas carvalho. outras. De cor
fermenta em paladar, exibe bom brancas e secas O resultado é amarelo-clara, tem
barricas de frescor, até picante, (como amêndoas). um vinho de cor aromas florais com
carvalho). De cor com retrogosto De corpo leve, o amarelo-clara, com algo que lembra
amarelo-palha, tem vegetal e 12,5% de destaque é a boa aromas intensos pimenta. É frutado
aromas elegantes álcool. R$ 97,70, na acidez, com 13% que lembram frutas no paladar, com
de frutas tropicais Adega Alentejana de álcool. brancas (melão) e corpo médio e pede
e algo de ervas. No US$ 27,50, na cítricas (mexerica). um pouco mais de
paladar, seu corpo Mistral Mais encorpado, acidez. Tem 12,5%
é leve, o sabor é tem boca sedosa, de álcool. R$ 80,10,
frutado, com boa que pede comida. na Decanter
acidez e 14% de É longo em boca,
álcool. R$ 73, na com 14% de
Adega Alentejana álcool. R$ 70,
na Qualimpor
janeiro/2012 61
62 janeiro/2012
As uvas arinto e Na vinícola de Carla A Quinta da Pellada Este é o branco Vinhas velhas das
fernão pires são Costa Ferreira, seleciona seus básico da Quinta castas bical e maria
utilizadas pelo nasce este branco, melhores vinhedos do Vallado, uma gomes dão origem
enólogo António mescla de 60% de de encruzado, bical das vinícolas dos a este branco
Saramago para códega e 40% de e cerceal para este descendentes de de cor amarelo-
elaborar este rabigato. De cor blend. O resultado dona Antónia clara verdeal,
branco sem amarelo-verdeal, é um vinho de Adelaide Ferreira. com aromas que
passagem em tem aromas cítricos, cor amarelo- Mescla das uvas lembram flores,
madeira, de cor com toque de giz, palha brilhante, arinto, gouveio, como lírio, e frutas,
amarelo-clara calcário e certa com aromas rabigato e viosinho, como mamão
brilhante. No mineralidade. interessantes que tem cor amarelo- maduro. Com bom
nariz, mostra- No paladar, tem mesclam notas palha com toques corpo, se mostra
se já um pouco corpo de média florais e cítricas. No verdeais. De estilo desequilibrado
evoluído, com intensidade, bem paladar, mantém moderno, seus em boca, com
notas de melaço. equilibrado, com as notas florais, aromas lembram acidez bem alta.
Em boca tem acidez rica e com corpo médio, notas cítricas, como Tem 13,5% de
sabor encorpado, refrescante. Tem mas tem um álcool lima da pérsia, e álcool. R$ 123, na
bem integrado 13% de álcool. R$ um pouco acima morango verde. Premium
entre álcool, sabor 82, na Viníssimo (tem 13% de teor Tem corpo leve,
frutado e acidez. alcoólico). US$ 33, com boa acidez e
Tem 13% de na Mistral fruta tropical no fim
álcool. R$ 66,20, na de boca, com 12%
Viníssimo de teor alcoólico.
R$ 55, na Cantu
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85,5 85,5 85 84
Quinta da Van Zellers 2009 Herdade dos Grous Ensaios Filipa Pato
Chocapalha 2009 Douro 2009 2009 O caminho
Lisboa Alentejo Bairrada do Douro
Ao escolher os vinhos
para esta degustação,
surpreendeu a oferta
de brancos elaborados
no Douro, ao norte
de Portugal. É uma
variedade que não
existia poucos anos
atrás no mercado
brasileiro (e, talvez,
até no mundial).
Mostra mais uma
mudança de perfil desta
que foi a primeira região
demarcada na produção
de vinhos, ainda no
século 18. De clássica
área de vinhos do Porto,
o Douro soube migrar
para a elaboração de
tintos secos, sem perder
A vinícola da família Cristiano Van Arinto, roupeiro A jovem enóloga a qualidade de seus
de Sandra Tavares Zellers seguiu a e antão-vaz são Filipa Pato mescla fortificados vintages
da Silva Palha utiliza tendência dos as uvas escolhidas arinto e bical e LBV. E, agora, nos
71% de viosinho e demais Douro Boys pelo enólogo neste vinho de cor anos recentes, caminha
29% de arinto no e apostou em um Luís Duarte neste amarelo-palha bem também para se
blend deste branco branco, que nasce branco alentejano clara, com aromas consolidar nos brancos
de cor amarelo- de um vinhedo de de cor amarelo- que lembram secos. Os vinhedos,
palha com notas mais de 60 anos, clara brilhante. Seus fruta branca mais muitos deles mais
verdeais, e aromas plantado com aromas lembram madura. Simples antigos e com variedades
que lembram notas cepas misturadas, maçã verde e mel, em boca, com plantadas todas
cítricas (como fermentado e com um toque destaque para o seu misturadas, fornecem
mexerica), com algo envelhecido em de madeira. No frescor, com corpo uvas para o Porto branco
lácteo no início, que barricas por nove paladar, é mais leve e 12,5% de e também para os secos.
depois evolui para meses. De cor encorpado, mas lhe álcool. R$ 46, A qualidade da uva e a
uma fruta tropical. amarelo-palha falta acidez. É um na Casa Flora/Porto sabedoria dos enólogos
Em boca é seco, brilhante, seus branco no estilo a Porto mostra que há espaço
com álcool presente aromas mesclam novo mundo, de também para esses
(tem 13% de teor frutas tropicais, com uma região mais vinhos – não é à toa que
alcoólico) e pede algo de madeira e quente. Tem 13% a maioria dos críticos
um pouco mais de notas medicinais, de álcool. R$ 65, na considera o Redoma
acidez. lembrando até Épice Reserva o melhor
R$ 63,70, na Adega uísque. Bem seco branco do país. Só um
Alentejana em boca, com porém: esses melhores
corpo leve e bom vinhos, mais complexos,
equilíbrio. Tem são também os mais
13,5% de álcool. caros. Ao menos, por
R$ 69,80, na enquanto.
Vinho Sul
(Suzana Barelli)
64 janeiro/2012
mundovinho
na taça por Manuel Luz
Opções ao
vinho verde
Por muito tempo, o único branco portu-
guês reconhecido no Brasil era o chamado
vinho verde. Da década de 1970 até o fim dos
anos 1990, o Brasil foi responsável por quase
15% de tudo que se produzia na região do
Minho, no norte de Portugal, onde esses ró-
tulos são elaborados. Desde o início dos anos
2000, nota-se uma mudança na preferência
dos consumidores pelos vinhos brancos do
Chile e da Argentina e pelos espumantes
brasileiros. Isso resultou na queda do consu-
mo dos vinhos verdes. Rápidas, as vinícolas
portuguesas estão sabendo se reposicionar
e substituir a oferta de brancos frisantes e do Porto branco, são as estrelas dos bran-
docinhos, como muitos dos vinhos ver- cos secos do Douro. Resultam em vinhos
des, por uma bebida mais séria, de maior riquíssimos em sabor e textura, que estão
qualidade. Mais: os próprios vinhos verdes entre os melhores daquele país. Nas regi-
estão muito bem representados, agora fo- ões do centro, como Bairrada, Dão, Tejo e
cados em cepas mais complexas da região e Estremadura, reinam a arinto e a fernão-
uma elaboração mais cuidadosa. pires, esta também chamada de maria go-
Portugal tem um tesouro enológico pre- mes. No Alentejo, ao sul, os melhores re-
servado, que são suas uvas nativas. Com sultados são da roupeiro e a antão-vaz.
elas, seus enólogos conseguem elaborar Evidentemente que há muitas outras uvas
brancos e tintos de sabores únicos e muita na terra de Camões, mas listei aqui as mais
personalidade. Nas brancas, as uvas alvari- representativas e que podem ser facilmente
nho, loureiro e trajadura são usadas para encontradas no mercado brasileiro. O con-
elaborar os vinhos verdes e também os de- sumidor encontrará em um ou outro vinho
mais vinhos do Minho e de Trás-os-Montes nomes como padernã, avesso, borraçal, es-
e Beiras, regiões do norte do país. As uvas padeiro, rabigato, malvasia, rabo-de-ovelha.
viosinho e gouveio, tradicionais no vinho Não tenha medo. Prove e divirta-se.
estou bebendo O Vinha da Defesa 2008. Elaborado no Alentejo, é um corte de arinto, roupeiro e antão-vaz, com muito frescor
e sabor frutado, além de ter um aroma bem fragrante que lembra maçã e melão maduros. Custa R$ 55, na Qualimpor.
Sommelier profissional há 15 anos, Manuel Luz é também formado em história, com especialização
em filosofia e teologia. Trabalha como consultor do Senac-SP e da wine.com.br.
janeiro 2012 65
foto shutterstock
66 janeiro/2012
janeiro/2012 67
fotos divulgação
Na ilha, as videiras são
alta qualidade, em grego) Santorini são sempre brancos, cultivadas de uma forma única,
a maioria deles caracterizada pelo frescor e toque mine- chamada de kouloura, que
ral. A mineralidade vem do solo vulcânico, extremamen- lembra uma cesta
te árido, onde poucas culturas sobrevivem. Como o solo
não tem nada de argila, é imune à filoxera. O clima é
seco, com invernos amenos e verões quentes. Mas,
mesmo no verão, as noites são frescas, com boa amplitu-
de térmica. À noite, uma neblina que vem do mar traz
umidade para as parreiras. Para proteger os bagos contra
o vento forte, os galhos são torcidos em círculo, na
forma de um cesto, mantendo as frutas na parte de den-
tro. Esse sistema tradicional se chama kouloura. Hoje,
há produtores que estão substituindo essa condução por
espaldeira, a maneira moderna de cultivar o vinhedo. “O
sistema tradicional é mais caro que a espaldeira e não
permite a mecanização”, diz Paraskevopoulos. Mas há
quem o defina como parte do terroir da ilha. “Mesmo
que testes provem que a espaldeira resulta em um vinho
melhor, eu não troco de sistema. Seria alterar completa-
mente a paisagem da ilha”, acrescenta o produtor.
Esse terroir único se expressa também nas leveduras
que crescem nas plantas e são usadas durante a fermen-
tação dos vinhos. Segundo Paraskevopoulos, que elabo-
ra um dos seus vinhos apenas com leveduras selvagens,
na ilha elas se comportam de maneira diferente do con-
tinente. Em Neméa, no Peloponeso, a Gaia selecionou
sua própria levedura a partir das selvagens. “Queríamos
fazer o mesmo em Santorini, mas não conseguimos.
Começamos uma cultura na qual havia 18 tipos diferen-
tes de leveduras. O esperado seria uma delas prevalecer,
mas as 18 permaneceram trabalhando juntas.
68 janeiro/2012
casta branca originária do uva branca branca autóctone variedade branca que
originária de Peloponeso, é a autóctone de do sul do mar esteve perto de ser
Santorini. Seus variedade tinta Santorini, ela domina Egeu, costuma extinta, foi resgatada
vinhos têm aroma grega mais popular. na ilha, onde rende ser cultivada nas pelo produtor
floral, com baixa Resulta em vinhos um vinho seco, com ilhas Ciclades e Gerovassiliou.
acidez. É usada no redondos, com alta acidez, aromas do Dodecaneso. É originária da
corte com outras aroma de frutas mineral e cítrico. É É muito usada Macedônia. Seus
variedades por negras. plantada também em cortes com a vinhos têm bom
trazer aromas ao em outras regiões assyrtiko, trazendo corpo, acidez média
vinho final, seja ele do país. aromas frutados e complexidade de
seco, seja vinsanto. de pêssego e aromas (jasmim,
nectarina. menta, frutas exóticas
e cítricas).
também conhecida uva negra, uva autóctone de cepa branca do bastante difundida
como mandelaria encontrada Santorini, quase Peloponeso, produz na Grécia
ou amorghiano, é principalmente chegou a ser vinhos secos com continental,
autóctone do Egeu no Peloponeso. extinta. Produtores aromas florais, de principalmente
Sul e cultivada em Cortada com a locais, liderados rosas, e frutados, de na Macedônia e
Santorini, Creta, corintiano, produz por Haridimos tangerina no Peloponeso, a
Rodes e Paros. É o vinho fortificado Hatzidakis, têm variedade rosada é
rica em taninos, de sobremesa investido na sua usada na produção
substâncias mavrodaphne. Nos recuperação. Muito de brancos e de
corantes e é tintos, traz ainda escura e de casca rosés, gerando
bastante ácida. mais estrutura grossa, rende vinhos vinhos leves de
Traz estrutura aos aos cortes com ricos em taninos e aroma cítrico.
vinhos. agiorgitiko. encorpados.
Xinomavro
rica em taninos,
essa variedade
originária da
Macedônia é
conhecida por
produzir vinhos
de guarda. Seus
aromas são de
frutas negras,
especiarias, Vinhedos em Santorini
azeitonas, etc.
janeiro/2012 69
70 janeiro/2012
mundovinho
quiz
Se você acertou de 8 a 10 questões, parabéns e abra um vinho para comemorar. Se você acertou 6 ou 7 questões, você começa a dominar o assunto. Vale investir em bons rótulos
e livros para aprender mais. Se acertou 4 ou 5, você tem certo conhecimento, mas precisa levar o estudo do vinho mais a sério. Se acertou menos de 4 questões e gosta do assunto,
estude o tema e aguarde o quiz do mês que vem. Abaixo, as respostas:
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1
janeiro 2012 71
refinamento italiano
No Figurati, nova casa dos sócios do francês Le Vin, os clássicos
do país da Bota são levados a sério
janeiro 2012 73
O jovem chef
Fred Barroso
Ao lado, o aveludado
creme de mascarpone
com chocolate;
acima, a entrada de
polenta cremosa com
gorgonzola fresco
Nesta crítica de restaurante, Romeu e Julieta, um casal anônimo e especialista na arte de comer,
avaliam uma casa de destaque no cenário gastronômico brasileiro. Escolhemos um homem e uma
mulher por acreditar que eles e elas costumam ter sensações diferentes à mesa.
De casa nova
Feliz aniversário
A dupla Dionísio Chaves e Nicola Giorgio (foto abaixo), Para o restaurante carioca Guimas, que completa 30 anos e
sócios do restaurante Duo, na Barra da Tijuca, apostam reedita pratos de história da casa, como o risoto de camarão
em mais uma empreitada no Rio de Janeiro. A Bottega com lentilha vermelha (R$ 58,80) e o filé do Chico (filé-mignon
del Vino, aberta na badalada rua Dias Ferreira, no Leblon, com molho de vinho, champignon e creme de leite servido
é uma enoteca montada com quatro Enomatic, máquina com batata palha e arroz, R$ 48), primeiro prato do cardápio
moderna que mantém o vinho aberto por mais tempo. do restaurante. A Jullia Pizza Bar, em São Paulo, celebra os
São 300 rótulos selecionados por Dionísio, que podem ser 15 anos com novidades no cardápio: a Prima Giornata (massa
acompanhados de comidinhas italianas criadas por Giorgio brotinho fechada com catupiry, mascarpone, parmesão, azei-
com o chef da casa, Pedro Pecego. te, sal grosso e alecrim, R$25) e a pizza Finocchio (linguiça ca-
Outra novidade carioca vem do chef Pedro de Artagão, ex- labresa artesanal, erva-doce refogada no azeite e queijo petit
Laguiole (MAM-RJ). Agora ele pilota o restaurante Irajá, em um suisse, R$ 58).
casarão tombado da década de 1930, em Botafogo. O chef
mantém seu viés contemporâneo na cozinha, em pratos como
risoto primavera, com legumes orgânicos cortados no formato Pizza no almoço
do arroz (R$ 42) e galhinheiro (ovo caipira, glacê de galinha
caipira, curau de milho e crocante de canjiquinha, R$ 18). Quem disse que as redondas só podem ser saboreadas no
jantar? A Maremonti, em São Paulo, passou a servir todas as
Bottega del Vino pizzas de seu cardápio também na hora do almoço e já conta
rua Dias Ferreira, 78 – Leblon com a adesão da clientela. Entre as mais pedidas no horário
(21) 2512-6526 são a zucchini (abobrinha com queijo brie, R$ 43, individual) e
Rio de Janeiro – RJ a margherita napolitana (mussarela de búfala fresca, molho de
tomate e manjericão, R$ 43, individual).
Irajá
rua Conde de Irajá, 109 Maremonti Jardins
Botafogo – (21) 2246-1395 rua Padre João Manuel, 1.160 – Jardim Paulista
Rio de Janeiro – RJ (11) 3085-1160 – São Paulo – SP
janeiro 2012 75
AMOR E ÓDIO
Ao ser desafiado a criar receitas italianas com
o amargo lúpulo, o chef André Mifano acabou
desenvolvendo uma relação dúbia com o
ingrediente, que resultou em pratos saborosos
prato, Benedixt
76 janeiro/2012
Foi paixão (somente) à primeira vista. Logo que levou ao nariz algumas flo-
res de lúpulo desidratadas, o chef André Mifano, do restaurante Vito, colocou
sua cabeça para funcionar. “Já estou pensando em um espaguete com caldo de
peixe e mariscos ou uma panna cotta com caldo de lúpulo”, disse o chef, em
uma empolgação notável. Tudo indicava que Mifano alçaria a flor de lúpulo ao
mais alto patamar de sua cozinha italiana, ao ser desafiado a elaborar pratos
com o ingrediente – Mifano é o terceiro chef desta série de reportagens com a
flor de lúpulo como ingrediente.
Mas os momentos de euforia foram escasseando, conforme o chef testava
o amargo componente da cerveja em diferentes receitas. “Fiz 16 tentativas de
pratos!”, reclamou Mifano. Ao longo de quatro semanas, ele foi mudando sua
relação com o lúpulo. Sua primeira aposta – a calda para o clássico pudim
italiano – não deu certo. “Usei desde açúcar refinado até melaço de açúcar
mascavo. Mas tudo ficava extremamente amargo”, relata. O macarrão foi tam-
bém descartado: o lúpulo rachou a massa quando esticada. Depois, ele tentou
fazer molhos à base de caldo de carne, de frango, de frutos do mar, que não
vingaram. Até um lagostim e bisque com lúpulo foi preparado, sem sucesso. “O
lúpulo existe há bilhões de anos, e a única coisa que o homem fez até agora foi
cerveja!”, esbravejou o chef.
A obsessão em tornar a flor a protagonista de uma receita foi um dos princi-
pais obstáculos para o chef, que queria fazer algo inovador. Todo o potencial de
amargor do lúpulo falou mais alto, e Mifano teve de dosar sua participação nas
criações. “Comecei usando uma colher de sopa. Aí diminuí para meia colher e
continuou forte. Fui reduzindo, reduzindo, e agora uso uma pitada, que é so-
mente uma flor desidratada!”, revela o chef. E foi com essa rendição ao lúpulo
que a primeira receita surgiu: a farofa de lúpulo. “Se isso vira um pó, dá para
fazer uma farofa”, pensou. A dosagem do amargor foi na medida, equilibrada
com a crocância da farinha de pão italiano ralado, e acompanhou a polenta
cremosa e uma redução de caldo de rabada, de grande concentração de sabor e
untuosidade. Mas essa era apenas uma receita, e o desafio eram três criações.
Antes de Mifano jogar definitivamente o avental e desistir do desafio, ele des-
pretensiosamente pegou um pouco de vinho branco e decidiu reidratar uma
flor de lúpulo. A brincadeira funcionou, criando um vinagre com aromas her-
bais e amargor contido, usado como o toque complementar para o risoto com
sopressata. Nela, o picante do embutido combina com o amanteigado do arroz
e um fundo amargo da flor.
Se o lúpulo foi bem com o vinho, formando um vinagre, por que não aroma-
tizar um azeite? Mifano mergulhou a flor em um pote com o óleo levemente
aquecido e deixou pegar gosto por três dias. O resultado foi um interessante
tempero para a salada de brotos e verdes com limão-siciliano, que acompanha
a tradicional barriga de porco do Vito. Foi um feliz casamento da gordura da
carne com a acidez da salada e o amargor do azeite.
Depois de tantas brigas e desentendimentos, Mifano assume. “Não estou
preparado para usar e gostar do lúpulo. Ainda é para poucos.” Essa relação de
amor e ódio, porém, não tem um final definitivo. “Isso não significa que eu não
possa mudar e gostar um dia.”
Na página ao lado,
Vito
a flor de lúpulo na
mesa e o risoto com rua Isabel de Castela, 529 – Vila Beatriz
sopressata (11) 3032-1469 – São Paulo – SP
janeiro/2012 77
dica do chef caso não encontre a sopressata, dica do chef usar azeite de baixa acidez, para
use um salame artesanal de boa qualidade. não acentuar o amargor do lúpulo. Confira a receita da polenta
cremosa com farofa de lúpulo
www.revistamenu.com.br
rendimento 4 porções preparo 40 minutos rendimento 4 porções preparo 3h30 (+ 3 dias para o
execução moderada azeite de lúpulo) execução moderada
janeiro/2012 79
Muito prazer:
o lúpulo
O chef André Mifano, do Vito, em São
Paulo, aceitou com disposição o desafio de
trabalhar com o lúpulo. Com sentido
de originalidade aguçado e certa ansiedade que
lhe é peculiar, ele queria colocar essas flores em
evidência na preparação de seus pratos. Foram
inúmeras receitas, em um esforço desenfreado,
até aquietar-se com a descoberta de que o
ingrediente pode se sobressair na receita
mesmo com apenas algumas pétalas. esse prato ligeiramente picante. Em harmo-
Os lúpulos emprestaram toques marcan- nização, uma cerveja do estilo Märzen,
tes de amargor aos três pratos elaborados como a espanhola Voll Damm (R$ 14, 330
pelo chef, que foram elegantemente equili- ml, na BrazilWays), com discretos aromas
brados com a doçura, a acidez e a untuosi- caramelados de malte e alta força alcoólica,
dade na própria receita, além de harmoni- que valorizaram generosamente as caracte-
zar com as características singulares das rísticas do risoto.
cervejas escolhidas. Na última criação, a barriga de porco com
No primeiro prato, a polenta cremosa salada de brotos e verdes com azeite de
com farofa de lúpulo e gelatina de caldo de lúpulo, a intensidade da carne pediu uma
rabada, as notas adocicadas da carne encon- cerveja robusta como a belga Orval, do estilo
traram contraponto no amargor da farofa de Tripel (R$ 21, 330 ml, na Casa da Cerveja).
lúpulo. Na taça, a combinação se deu com a Ela oferece equilíbrio nessa combinação a
cerveja tcheca Bernard Dark (R$ 20, 500 ml, partir da acidez marcante, do poder frisante,
na Tarantino), do estilo Dunkel, em que as da alta força alcoólica e dos intensos aromas
notas tostadas abraçaram a carne e a polenta condimentados e cítricos de lúpulo.
em final de boca levemente doce. Nessa maratona de testes, depois de ajus-
Na sequência foi servido o risoto com tar a medida do lúpulo, só nos resta agrade-
sopressata e lúpulo no vinho branco, em cer ao irreverente chef pela perseverança e
que a acidez do vinho realçou os aromas de pelas intervenções inéditas e saborosas.
lúpulo, ajudando a perfumar ainda mais Grazie mille, Mifano!
estou bebendo A inglesa St. Peter's Old-Style Porter, do estilo Robust Porter. De cor castanho-escura avermelhada e fina espu-
ma, apresenta relevantes aromas tostados lembrando chocolate e café. Medianamente encorpada com amargor e acidez em
evidência, tem 5,1% de teor alcoólico, com final de boca seco. Uma bela variação para acompanhar sobremesas cremosas à
base de chocolate ou leite (500 ml, ainda sem preço definido – a cerveja está em processo de importação pela Melograno).
Cilene Saorin, mestre cervejeira e sommelier de cervejas, é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais em
Cerveja e Malte e diretora de educação da Doemens Academie no Brasil. [cilene-colab@revistamenu.com.br]
80 janeiro/2012
Drinque do mês
fotos Divulgação
O Ciao! Vino & Birra lança
cinco versões do refrescante
drinque italiano spritz. Uma
delas é o ciao! limone, criada
pelo chef Denis Takenaka.
ciao! limone
janeiro/2012 81
aromas
pelo ar
que desenvolve aromas exclusivos e planeja lançar um sabor novo por ano. O de
2011 foi o chocolate trufado.
A sugestão é consumir esses cafés puros, com leite ou um pouco de açúcar,
por terem personalidade marcante. Para os que gostam de ousar, vale usar as
bebidas aromatizadas em drinques, como os criados pela dupla Vitor Gabira,
especialista em cafés, e a chef Tatiana Torres, da Nespresso. Confira, a seguir,
a receita de dois destes coquetéis, bebidas refrescantes, próprias para o verão.
janeiro/2012 83
Onde encontrar
Baggio Coffees Martins Café Nespresso
Os cafés com aromas de açaí, limão- A primeira iniciativa da marca com cafés A linha Variations 2011, com cafés
siciliano, amaretto, caramelo, chocolate aromatizados está disponível em quatro aromatizados com cereja, flor-de-baunilha
com menta e chocolate trufado são ven- versões: noz-moscada, canela, anis ou ou chocolate amargo, está disponível nas
didos em embalagens de 250 g (R$ 13 cardamomo. Os cafés são comerciali- boutiques Nespresso pelo País ou no site
a R$ 16 cada pacote), já moídos. Alguns zados em pacotes de 250 g, torrados e da marca, até durarem os estoques. As
também são oferecidos em miniem- moídos, ao preço de R$ 21,90 cada um. embalagens com dez cápsulas custam
balagens de 100 g ou em sachês. Mais Mais informações: R$ 30 (cada sabor). Os drinques fresh
informações: www.baggiocoffees.com.br. www.martinscafe.com.br. vanilla (R$ 13) e cherry mojito (R$ 14) são
preparados na Boutique Bar Nespresso,
na capital paulista. Mais informações:
www.nespresso.com.br.
dica dos chefs faça os gelos em forminhas dica dos chefs para variar o drinque,
semicirculares, que ficam mais bonitas no copo. use pedaços de manga em vez de cerejas
e use pedras de gelo bem picadas para
facilitar na hora de beber.
rendimento 1 drinque
preparo 10 minutos (+ 2 horas para formar o gelo) rendimento 1 drinque preparo 10 minutos
execução muito fácil execução muito fácil
84 janeiro/2012
Delícias na telona
Filmes com temática gastronômica têm feito suces-
so no cinema nos últimos tempos, como o saboro-
so Julie&Julia, que retrata a vida da chef norte-ame-
ricana Julia Child do ponto de vista da blogueira
Julie Powell. Mas a graça do novo livro Jantares de
cinema: receitas dos seus filmes favoritos, da inglesa
Becky Thorn, é justamente dar o devido destaque a
comidas, bebidas e belisquetes que aparecem na
telona para abrir nosso apetite – em filmes gastro-
nômicos ou não. Estão lá o mint julep de ...E o vento
levou, comprovando o gosto de Scarlett O’Hara por
drinques com bourbon; o cosmopolitan eternizado foto Sheila Oliveira/Empório Fotográfico/ produção Marcia Asnis
Sete fogos: churrasco ao estilo argentino – Francis Duas bocas – histórias de comida e sexo – Fugu – Editora Nova
Mallmann – V&R Editoras (278 págs.) – R$ 89,90 Fronteira (128 págs.) – R$ 24,90
88 janeiro/2012
janeiro/2012 89
Tartare de cavalo
e hambúrguer
As preferências do apresentador
Pedro Andrade, que se divide entre
São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York
Descoberto em Ipanema pelo fotógrafo Mario Testino, Pe- Nova York é famosa pelos restaurantes estrelados e pela
dro Andrade já viajou o mundo como modelo e, hoje, além comida de rua. O que prefere?
de fazer parte da trupe do Manhattan Connection, no GNT, Curto as duas. Tenho a sorte de ter um trabalho que me
apresenta o LXTV, programa de lifestyle da tevê norte-ame- permite experimentar a cozinha de alguns dos maiores
ricana NBC. Por não saber cozinhar, a única refeição que chefs do mundo, mas consigo ver graça tanto num pra-
Pedro faz em casa, em Nova York, é o café da manhã, o que to da gastronomia molecular quanto numa tapioca com
o torna uma ótima fonte de informações sobre restaurantes queijo coalho ou num milho na brasa benfeito. Custo
do eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. não tem nada a ver com sabor.
O que comeu de mais estranho em suas viagens? Quais lugares você frequenta no circuito NY-SP-RJ?
Adoro experimentar coisas novas. Já comi baratas, besou- Em Nova York, o Barbuto, do chef Jonathan Waxman, e o
ros, grilos, jacaré, javali... Um prato que me marcou foi um Minetta Tavern e o Morandi, do restaurateur Keith McNally.
tartare de cavalo no Canadá. Meu programa da NBC teve Faço compras no D’Agostino e na The Meadow, uma loja
até problemas, pois a prática é proibida nos EUA. com mais de 100 tipos de sal! Em São Paulo, adoro o Spot,
o Ritz, o Gero e o D.O.M. Conheci recentemente o Lorena
O que você não come de maneira alguma? 1989 e já o incluí na minha lista de favoritos. No Rio, Sushi
A única coisa que não suporto é anis. Num jantar na Gré- Leblon, Roberta Sudbrack e todos do Troisgros.
cia, meu chefe fez questão de que eu provasse o uzo, bebida
típica local. Senti o cheiro de anis já na bandeja. Foi como se Quais suas bebidas prediletas?
estivesse tomando novalgina: intragável! Adoro um bom vinho tinto, uma caipirosca de lima da pér-
sia sem açúcar nem adoçante e um bom dirty vodca marti-
Qual seu prato favorito? ni, que leva um pouquinho do suco da azeitona.
É o black label burger, do Minetta Tavern, em Nova York,
feito com filé-mignon, côte du boeuf e cebolas carameli- E você nunca tentou cozinhar?
zadas. O chef recomenda sem queijo, mas discordo: sem- Meu pai é um cozinheiro de mão cheia, mas desde muito
pre peço o meu com cheddar e sem pão. cedo vi que minha vocação era nula. Já explodi ovo e salsicha
no micro-ondas, quase botei fogo em casa, tentei fazer sopa
O que não falta em sua geladeira? sem adicionar água, sem falar nos cortes nas mãos tentando
Pão integral, pasta de amendoim, café e leite. O café da descascar frutas e vegetais. Decidi então que nasci para de-
manhã é a única refeição que faço em casa. Também não gustar. Hoje, como moro sozinho, recebo cartas da empresa
vivo sem chocolate amargo, melhor ainda se acompa- de gás alegando que o medidor do meu apartamento está
nhado de um bom vinho tinto. quebrado. A verdade é que eu nunca ligo o fogão.