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EXEMPLAR DE

ASSINANTE
VENDA PROIBIDA

ELEITA A MELHOR REVISTA DE GASTRONOMIA

Nº 158
ANO 14 JANEIRO 2012
R$ 12,90

A moda das tascas portuguesas


chega ao Brasil

A prova de 24 vinhos
158

brancos de Portugal

O lúpulo, ingrediente
da cerveja, entra
em receitas
da cozinha
italiana
Sabores da Amazônia

Caldeirada de
pirarucu, por Felipe
Ribenboim e Gabriel
Broide, de São Paulo
4

Amazonia
Passeio pelo rio Solimões traz os
ingredientes da maior floresta do Brasil,
do tucupi ao pirarucu

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sumário

JANEIRO 2012

12 Aperitivos 32 Direto da terrinha 66 Por aí


A gastronomia em discussão As tascas portuguesas chamam à atenção Os goles gregos da exuberante
e a dança das estrelas no Michelin para o Ano de Portugal no Brasil ilha de Santorini

16 Orgânicos 42 Menu Brasil 71 Quiz


Direto de Lima, o Central aposta O tradicional almoço de fim de ano de Dez questões sobre os brancos
em ingredientes sem agrotóxicos Laurent Suaudeau para seus produtores e tintos lusitanos

20 Na sacola 46 Gastronomika 76 Cerveja


Utensílios para quem tem Uma análise sobre a nossa O desafio de criar receitas
sede de água gastronomia, direto de San Sebastián italianas com o lúpulo

22 Tá fresquinho 52 Test drive 82 Na xícara


O pepino inspira receitas A refrescante prova A moda dos cafés aromatizados
leves e saborosas de dez águas de coco com especiarias

24 Capa 57 Mundovinho 90 Eu gosto


Os sabores da Amazônia, em O verão motiva a descobrir As dicas do apresentador Pedro
um passeio pelo rio Solimões os vinhos austríacos Andrade, direto de Nova York

58 Degustação
A prova de 24 vinhos brancos,
SEÇÕES
de norte a sul de Portugal
05 Sumário e glossário
06 Editorial
08 Cartas
10 Blog
72 Romeu e Julieta
75 Quentinhas
81 Baixa gastronomia
86 Estante
88 Receitas
89 Endereços

Colunas
18 Paris
19 Etiqueta
65 Na taça
80 Colarinho

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sumário
índice glossário
as 21 receitas desta edição os termos técnicos desta edição

calfavaca variedade de manjericão de folhas pequenas


23 tabule e aromáticas, muito usada na culinária do Norte do Brasil
23 pepino recheado branquear cozinhar o alimento rapidamente em água
23 pasta de iogurte fervente e dar um choque térmico em seguida, na água
23 sopa de pepino gelada, para interromper o cozimento e manter a cor
27 caldeirada de pirarucu, mandioca, folhas
bouquet garni amarrado de ervas e legumes, usado para
de jambu e farinha ovinha aromatizar preparações; a versão clássica leva salsão,
30 musse de castanha-do-pará, salsinha, tomilho, louro e alho-poró
cupuaçu e areia de castanha
31 mariscos em caldo vigoroso com beiju brunoise tipo de corte em cubos de 3 mm de lado,
muito usado para legumes
e pimenta baniwa
36 bacalhau com batatas coradas e cebolada chicória-do-pará variedade de erva aromática comumente
38 salada de polvo usada na culinária do Norte do País, faz parte do “cheiro-
38 atum com purê de berinjela verde” paraense, com cebolinha, coentro e pimentas
41 rabo de boi com cogumelos e ciboulette variedade francesa de cebolinha verde,
farofa de chouriço de caule mais fino e pontudo, utilizada como tempero
36 bochechas de porco com ou na decoração de pratos
colorau português e tostas de trigo
etamine ou superbag tipos de tecido muito fino,
79 risoto com sopressata e usados para coar preparações
lúpulo no vinho branco
79 barriga de porco e salada de brotos farinha ovinha de Uarini tipo de farinha de mandioca
com azeite de lúpulo granulada típica da região de Uarini, no Amazonas.
Quando hidratada, sua aparência lembra a do cuscuz
89 ciao! limone marroquino
84 fresh vanilla
84 cherry mojito jambu hortaliça muito consumida na região Norte
88 tucunaré com crosta de ervas da Amazônia, brasileira. Suas folhas e flores têm uma particularidade: ao
serem mastigadas, causam uma ligeira dormência na boca
purê de batata com alho e urucum e folhas de
couve limoncello tipo de licor feito com limão-siciliano, muito
88 polenta cremosa com farofa de lúpulo e consumido no sul da Itália
gelatina de caldo de rabada
maltodextrina carboidrato complexo produzido a partir
89 gambas al ajillo do amido, apresentado comercialmente na forma de pó
89 coco espumante branco, de sabor ligeiramente adocicado
foto de capa: Sheila Oliveira/ Empório Fotográfico

pimenta baniwa mistura de pimentas nativas preparada


Veja mais receitas no www.revistamenu.com.br pelas índias da tribo baniwa, que vivem na fronteira do
• musse de chocolate Brasil com a Colômbia e a Venezuela
• creme queimado quenelles pequenos bocados de alguma preparação
• farófias cremosa, em formato oval, geralmente feitos com
• sericá a ajuda de duas colheres

sopressata tipo de salame italiano, curado e desidratado

suar cozinhar alimentos de maneira gradual, de modo que


liberem aos poucos seu líquido e sabor, mas sem dourar

tucupi líquido amarelo extraído da mandioca-brava, típico


32 da culinária do Norte do País; como pode ser tóxico, deve
tasca ser fervido antes do consumo

abril/2011
/ 5

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EDITOR E DIRETOR RESPONSÁVEL
Domingo Alzugaray

editorial EDITORA
Cátia Alzugaray
PRESIDENTE EXECUTIVO
Caco Alzugaray

Frederic Jean/Ag.IstoÉ
DIRETOR EDITORIAL
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DIRETOR EDITORIAL-ADJUNTO
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DIRETORA DE NÚCLEO
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DIRETORA DE REDAÇÃO
Suzana Barelli (suzana@revistamenu.com.br)
Editora assistente e de receitas: Luciana Mastrorosa (luciana@revistamenu.com.br)
Coordenadora online: Beatriz Marques (bia@revistamenu.com.br)
Assistente de redação: Roseli Tadei Vieira (roselitadei@editora3.com.br)
Colunistas: Cilene Saorin, Daniela Fernandes, Manuel Luz e Vanessa Barone
Colaboradores: Caio Gomes, Carlos Alberto Doria, Cristiana Couto, Eduardo Delfim,
Fabio Moraes, Giselle Paulino, Luciana Bicalho, Marcia Asnis, Melissa Thomé,
Pedro Marques, Ricardo Ferraz, Tânia Nogueira, Sheila Oliveira e Weberson Santiago
Diretor de Arte: Sergio Cury
Chefe de Arte: Ana Paula Rodrigues (ana@revistamenu.com.br)
Designers: André Carvalho, Diógenes Belmonte e Patrícia Medeiros
Tratamento de Imagens: Emerson Cação e Felipe Juste CTI: Chefe Daniel Costa
Daniel Freire, Thiago Azevedo e Romeu Ribeiro Revisores: Giacomo Leone, Lourdes
Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr., Neuza Oliveira de Paula e Regina Grossi

Fotografia AGÊNCIA ISTOÉ

Brasil e Portugal
Editor Executivo: César Itiberê Editor: Juca Rodrigues
Produção: Andréia Debiagi e Thatiana Debiagi Pesquisa: Eduardo A. Conceição Cruz
Digitalização: Denis Teixeira

APOIO ADMINISTRATIVO
Brasil ou Portugal? No ano em que será comemorada a Gerente: Maria Amélia Scarcello
SERVIÇOS GRÁFICOS
união dos dois países – por aqui será o Ano de Portugal no Gerente Industrial: Fernando Rodrigues Coordenadora Gráfica: Ivanete Gomes
MARKETING
Brasil e, por lá, o Ano do Brasil em Portugal –, essa questão Diretor: Rui Miguel Gerentes: Debora Huzian e Wanderley Klinger
Assistente: Marina Carolina Arraes Redator: Thiago Zanetin Diretor de Arte: Charly Silva
marcou a elaboração da primeira edição de 2012 da Menu. Assistente: Marciana Martins

Duas reportagens nasceram como candidatas a ilustrar a OPERAÇÕES


Diretor: Gregorio França Gerente Geral: Thomy Perroni Assistentes: Luiz Massa, André
capa da revista: a dos sabores da Amazônia, que conta as Barbosa e Fábio Rodrigo Operações Lapa: Paulo Paulino e Paulo Sérgio Duarte
Coordenador: Jorge Burgati Analista: Cleiton Gonçalves Assistente Sênior: Thiago Macedo
aventuras gastronômicas em um barco pelo rio Solimões, e Assistentes: Aline Lima e Bruna Pinheiro Auxiliar: Caio Carvalho Atendimento ao Leitor e
Vendas pela Internet: Dayane Aguiar. Logística e Distribuição de Assinaturas: Coordenadora:
o texto sobre as tascas portuguesas. Vanessa Mira Coordenadora-Assistente: Regina Maria Assistentes: Denys Ferreira, Karina
Pereira e Ricardo Souza
A Amazônia, com as receitas elaboradas especial- PUBLICIDADE
mente para esta edição pela dupla de chefs Felipe Diretor Nacional: José Bello Souza Francisco
Gerente: Paulo Soares
Ribenboim e Gabriel Broide, conquistou a capa com Secretária da Diretoria: Regina Oliveira Executivas: Danielle Laureano, Maria Papparotti
e Mariana Córdoba Assistente Karina Groschitz Coordenadora Adm: Maria da Silva
suas imagens apetitosas, em fotos que Sheila Oliveira Assistente: Daniela Sousa Gerente de Coordenação: Alda Maria Reis Coordenadores:
Rosemeiri Dias, Gilberto Di Santo Filho – Rua William Speers, 1.088, São Paulo, SP,
sabe fazer com maestria. 05067-900, fone (11) 3618-4272, fax (11) 3618-4433. BRASÍLIA/DF – Gerente: Marcelo
Strufaldi, fones (61) 3223-1205, 3223-1207, fax (61) 3223-7732 RIO DE JANEIRO/RJ: Diretor:
Nas tascas, a apuração do jornalista Pedro Marques, que Expedito Grossi Gerentes Executivas: Adriana Bouchardet, Arminda Barone e Silvia Maria
Costa Coordenadora: Dilse Dumar Fones (21) 2107-6667, fax (21) 2107-6669 SP/campinas:
a partir deste mês de janeiro é o mais novo repórter da Mário Estellita – Lugino Assessoria de Mkt. e Publicidade Ltda., fone/fax: (19) 3579-6800
BELO HORIZONTE/MG: Célia Maria de Oliveira – 1ª Página Publicidade Ltda., fone/fax (31)
Menu, mostrou que não é apenas esse tipo de casa, que 3291-6751 RS/PORTO ALEGRE: Roberto Gianoni – RR Gianoni Comércio & Representações
Ltda., fone/fax (51) 3388-7712 PR/CURITIBA: Maria Marta Craco – M2C Representações
lembra mais um bistrô francês, que está conquistando Publicitárias, fone/fax (41) 223-0060 SC/Florianópolis: Paulo Velloso, fones (48) 3224-
0044, (48) 9989-3346 SP/ribeirão preto: Andréa Gebin – Parlare Comunicação Integrada,
espaço nas preferências gastronômicas dos brasileiros. fones (16) 3236-0016, (16) 8144-1155 BA/SALVADOR: Ipojucã Cabral – Verbo Comunicação
Empresarial & Marketing Ltda., fone (71) 351-4561, fax (71) 358-0478 PE/RECIFE: Abérides
É crescente o número de restaurantes de culinária portu- Nicéias – Nova Representações Ltda. fone/fax (81) 3227-3433 ES/Vila Velha: Didimo
Benedito – Dicape Representacões e Serviços Ltda., fone/fax (27) 3229-1986 se/
guesa que abrem em nosso país, como se a gastronomia dos aracajú: Pedro Amarante - Gabinete de Mídia fone (79) 3246-4139 Contato:
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nossos primeiros colonizadores estivesse sendo redescober- Internacional Sales: GSF Representações de Veículos de Comunicações Ltda -
Fone: 55 11 9163.3062 - E-mail: gilmargsf@uol.com.br
ta por aqui. Na primeira edição de 2012, Portugal também MARKETING publicitário
Diretora: Isabel Povineli Gerente: Maria Bernadete Machado Coordenadora: Simone
aparece nos vinhos – degustamos às cegas (sem saber qual Francis Assistentes: Ariadne Pereira, Marília Trindade e Regiane Valente
Diretor de Arte: Victor S. Forjaz Redator: Bruno Módolo
o produtor de cada vinho) 24 brancos do país, com boas ASSINATURAS
Diretor: Edgardo A. Zabala
surpresas na taça. Diretor de Vendas Pessoais: Wanderlei Quirino Lopes
Supervisora de Vendas: Rosana Paal Diretor de Telemarketing: Anderson Lima Gerente de
Nesta edição, ainda, vários textos trazem o frescor do Atendimento ao Assinante: Elaine Basílio Gerente de Trade Marketing: Jake Neto Gerente
Geral de Planejamento e Operações: Reginaldo Marques Gerente Operações de Assinaturas:
verão: dos utensílios para a água ao teste de dez águas de Carlos Eduardo Panhoni Gerente de Telemarketing: Renata Andrea Gerente de Call Center:
Ana Cristina Teen Gerente de Projetos Especiais: Patricia Santana
coco industrializadas. E, pela primeira vez, a Menu traz um CENTRAL DE ATENDIMENTO AO ASSINANTE: (11) 3618.4566. De 2ª a 6ª feira das 09h00 às
20h30 Outras. OUTRAS CAPITAIS: 4002-7334
artigo de um acadêmico, o renomado Carlos Alberto DEMAIS LOCALIDADES: 0800.7750098

Doria, sobre o atual estágio da nossa gastronomia e, princi- MENU ISSN 1415-9899 é uma publicação mensal da Três Editorial Ltda. Redação e
Administração: Rua William Speers, 1.088, CEP 05067-900, fone (11) 3618-4278/4279,
palmente, dos nossos chefs. Doria faz uma atenta compa- fax (11) 3618-4100, São Paulo, SP SUCURSAIS: RIO DE JANEIRO: Av. Almirante Barroso,
63, sala 1.510, fone (21) 2107-6650, fax (21) 240-2925 BRASÍLIA: SCS, Quadra 2, Bl. D,
ração com a “segunda dentição” da Revista de antropofagia, Ed. Oscar Niemeyer, sala 201 e 203, fone (61) 3321-1212, fax (61) 3225-4062
MENU não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados. COMERCIALIZAÇÃO:
um marco do movimento modernista brasileiro. Três Comércio de Publicações Ltda, Rua William Speers, 1.212,
São Paulo, SP. Todo e qualquer material enviado à Revista MENU sem requisição
expressa da  Redação não será devolvido. FC Comercial e Distribuidora S.A.
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Feliz 2012!
Impressão Editora Três Ltda.
Rodovia Anhangüera, km 32,5 Cajamar, São Paulo,
Suzana Barelli, diretora de redação CEP 07750-000 e Gráfica Santa Marta Ltda
Rua Hor†êncio Ribeiro de Luna, 3333, Distrito Industrial
suzana@revistamenu.com.br João Pessoa – PB – CEP 58081-400

6 janeiro/2012

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(
Editora Três à sua disposição
cartas ASSINATURAS

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NÃO PODE SER VENDIDO SEPARAMENTE
ELEITA A MELHOR REVISTA DE GASTRONOMIA

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Nº 157
ANO 13
R$ 12,90
DEZEMBRO 2011 Editora Três em sua região, utilize os telefones abaixo
ou contate o nosso Serviço de Atendimento ao Assinante
O NATAL DOS
banqueteiros Alagoas (82) 3221-7757

157
Amazonas (91) 3227-2478
Pesquisa com 23 chefs especializados nas
grandes festas mostra quais são as receitas Bahia (71) 3012-2802
que não podem faltar na ceia natalina
Ceará (85) 3223-2949

O Natal dos banqueteiros


Mais festas:
Panetones artesanais,
pratos para dar sorte no
Distrito Federal (61) 3321-1427
Ano-Novo e a prova de
dez potes de mel Espírito Santo (27) 3340-7390
Tender com damasco,
Goiás (62) 3092-7524
por Adriana Cymes,
do bufê Arroz de Festa Maranhão (98) 3227-7488
Mato Grosso (65) 3052-2573
M.G. do Sul (65) 3052-2573
Minas Gerais (31) 3213-9577
ano 13 dezembro/2011

Pará (91) 3227-2478


Edição de Natal Paraíba – C.Grande (81) 3421-3983
Paraíba – J.Pessoa (81) 3421-3983
Todos os anos, espero a edição de Paraná (41) 3024-6139
dezembro da Menu para decidir o 55 ESPUMANTES DE R$ 34 a R$ 244 Pernambuco (81) 3421-3983
Piauí (86) 3221-1308
cardápio da minha ceia de Natal. Mas, Capa_157_Promo.indd 1 12/20/11 4:55:02 PM Rio de Janeiro (21) 3604-2125
neste ano, vocês me deram a receita de R.G. do Norte (81) 3421-3983
R.G. do Sul (51) 3227-9797
bandeja, nem precisei escolher entre que não seja fácil selecionar 55 opções Santa Catarina (48) 3024-4800
uma e outra opção indicada pela de bons espumantes para abrir no Natal São Paulo (11) 2972-1000
Sergipe (82) 3221-7757
revista. O tender está tão saboroso que e no Ano-Novo. Deve ser “árduo” o Tocantins (62) 3092-7524
dá vontade de comer a própria capa. trabalho de provar todos esses vinhos Horário de atendimento:
A ideia de saber o que os próprios maravilhosos... São Paulo – de 2ª a 6ª, das 9h às 18h
banqueteiros preparam em seus natais é Ana Maria Soares, por e-mail Para assinar mais rápido, acesse o site
genial e mostra que, no final, chefs ou www.assine3.com.br

gourmets, todos nós queremos as Edição de aniversário


Atendimento ao assinante
receitas tradicionais do Natal. Deixo Gostaria de parabenizar toda a equipe
Ligue (11) 3618-4566, de 2ª a 6ª, das 9h às 18h
aqui os meus votos de boas festas para da revista pelos 13 anos de existência. Fax: (11) 3618-4161
vocês e todos os leitores. Sem dúvida alguma, vocês fazem uma E-mail: atendimento@editora3.com.br

Francisco Machado, por e-mail das melhores publicações do setor. E,


Vantagens do assinante
mais do que isso, esses 13 anos mostram
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Parabéns pela @revistamenu deste mês! que, nas mãos de pessoas competentes, • Paga tudo em 6 vezes sem juros
Está ótima! Mas, é uma pena que o “test esse número é da sorte. Parabéns! Que • Se previne contra eventuais aumentos de preços
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drive” não tenha sido de panetones… venham mais 13. • Ganha brindes e descontos especiais na renovação
Marcia Amaral (@AboutWineNMore), André Monteiro, sócio do Clube Malucos
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de parte do preço total pago antecipadamente
Cara Márcia, Correção e correspondente aos exemplares e ser entregues
Obrigada. Fizemos a seção test drive Ao contrário do publicado na no caso de descontinuação de alguma publicação
Pague somente em cheque nominal à Três Comércio
com panetones na edição de Natal de reportagem “55 espumantes” , o preço de Publicações Ltda., mediante recebimento da primeira via
2009. Quem sabe não voltamos ao tema do Casillero del Diablo Brut Reserva do nosso pedido de venda

no ano que vem? para consumidor é R$ 74,90.


Números atrasados

Os pedidos de venda de números atrasados serão


Guia de espumantes O nome correto do chef da Ghee atendidos condicionados à disponibilidade em estoque
No meio de tanta oferta de espumantes Banqueteria é Paulo G. Neves, que e ao preço da edição atual, acrescidas as despesas
com envio. Solicite por carta:
para as festas de fim de ano, é muito participou da reportagem “Banquete Caixa Postal 223, CEP 01059-970, São Paulo/SP
útil o guia de vinhos da Menu. Imagino natalino”, na edição 157 Por telefone: (11) 3618-4112
Por Fax: (11) 3618-4113
Por e-mail: leitor@editora3.com.br

Menu agradece a todas as mensagens. Críticas, sugestões e comentários são bem-vindos e devem ser enviados, com nome
completo e cidade onde reside, para o e-mail menu@revistamenu.com.br ou para Diretoria de Redação, revista Menu, Visite o site www.assine3.com.br
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8 janeiro/2012

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blog

revistamenu.com.br
Receitas exclusivas, videorreportagens, fotos e
notícias da gastronomia recheiam o endereço
mais saboroso da internet no mês de janeiro.

CONFIRA OS PRINCIPAIS DESTAQUES:

Drinques
Bacalhau de verão
Assista ao vídeo o bate-papo com A bartender Talita Simões, do bar
o chef português Vítor Sobral, da paulistano The Sailor, ensina quatro
Tasca da Esquina, restaurante em São receitas de coquetel para a estação.
Paulo e Lisboa. Ele dá dicas de como Além dos conhecidos cosmopolitan
comprar o pescado e mostra o preparo e mojito, ela mostra duas de suas
de receitas tradicionais portuguesas, criações que trazem o limão e a lichia
como o bacalhau à bras. como protagonistas.

Menu testa
no tablet Conheça o desempenho do
miniliquidificador e moedor LM 120,
A revista Menu, que estreou em novembro da Black&Decker, máquina avaliada no
no iPad, agora também está disponível nos mês de janeiro. O aparelho é indicado
tablets com sistema Android. Um pot-pourri para preparos individuais, com
com as melhores reportagens da edição pode capacidade para até 500 ml, como
ser baixado gratuitamente no triturar café e fazer sucos e vitaminas.
App Store e no Android Market.

siga a Menu
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10 janeiro/2012

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aperitivos
Cristiana Couto

A gastronomia em discussão
fotos Divulgação

O ano mal começou e dois eventos de alcance internacional conclamam gourmets


e chefs para discutir gastronomia. Entre os dias 24 e 26 de janeiro acontece a 10ª
edição do celebrado madridfusión, na capital espanhola (nas fotos ao lado, cenas de
apresentações de chefs em edições anteriores do evento). Em março, Paris torna-se
a sede do 6º Omnivore Food Festival, que, neste ano, sai dos limites geográficos da
França e prepara uma turnê por mais 11 cidades do mundo – incluindo São Paulo,
ainda sem data definida. “Acolhemos durante muitos anos chefs internacionais no
Omnivore Food Festival. Existe uma lógica absoluta para que, a partir de agora, o
evento viaje pelo mundo inteiro ao encontro de culinárias e chefs”, diz seu criador,
Luc Dubanchet, ex-editor do guia gastronômico Gault millau.
Os dois congressos destacam a nova geração de talentos da era pós-Adrià, dos
vários cantos do planeta. Se em 2008 a Dinamarca foi alçada pelo madridfusión
como o novo celeiro da vanguarda culinária, outros países e seus cozinheiros esta-
rão em evidência em 2012. É o caso da Coreia, que trará três representantes para
o madridfusión, que tem como tema As Portas do Futuro: Geração de Talentos e
organiza seus cerca de 100 cozinheiros palestrantes em quatro grupos: a terra,
nossa despensa, tendências, técnicas e baixo custo.
No Omnivore, que contará com a presença de 50 profissionais, serão destacados
cozinheiros emergentes como Ryan Clift, do Tippling Club, de Singapura; Morgan
McGlone, do grupo de chefs Toys (Taste of Young Sydney) da Austrália; Lorenzo
Cogo, do El Coq, da Itália, e os belgas Dare De Belder, do Godevaart, e Davy Schel-
lemans, do Véranda, além, é claro, de chefs franceses, como David Tutain, do Agapé
Substance, de Paris. O brasileiro Felipe Bronze, chef do restaurante carioca Oro,
participa do congresso francês, e Alex Atala, do evento espanhol. Enquanto o Om-
nivore faz sucesso com seus happenings culinários — os F*** Dinners, comandados
por uma dupla de chefs de diferentes origens que cozinham em restaurantes da
cidade —, cerca de 300 restaurantes madrilenhos programam, por duas semanas,
atividades em torno do evento espanhol no chamado Gastrofestival. Confira as
programações completas em www.omnivore.fr e www.madrifusion.net

Potes de mel
O Empório do Mel está lançando dois novos méis: o de flores de canola (foto) e o
de uva-japão, de floradas nobres, com benefícios para a saúde. Os dois exigiram um
preparo especial: a colmeia foi colocada estrategicamente em uma área rodeada pela
florada desejada, pois as abelhas voam, em média, três quilômetros para recolher o
néctar. “São méis cujo volume de produção não se consegue prever”, explica Rodrigo
Balioti, sócio do empório.
De sabor cítrico, o mel de canola é produzido a partir de variedade híbrida da planta
Brassica napus, melhorada geneticamente nos anos 1970 para reduzir o teor de amar-
gor do sabor de seu óleo vegetal, um dos mais saudáveis pela riqueza na composição
de seus ácidos graxos. A uva-japão (Hovenia dulcis) é uma árvore de flores pequenas e
perfumadas, característica da região Sul do Brasil, e o mel ativa as funções intestinais e
ajuda no combate à anemia. Em embalagens de 300 gramas, os méis custam R$ 13,90 e
podem ser adquiridos no Empório do Mel, pelo telefone (11) 3722-5144.

12 janeiro 2012

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É tempo de bolo de reis As novas estrelas do Michelin
Para comemorar o Dia de Reis, que acontece em 6 de A dança das estrelas Michelin, o guia gastronômico mais aguarda-
janeiro, várias casas paulistanas preparam sua versão do do no mundo, está quase terminando. Em fevereiro, sai a última
tradicional bolo de reis, especialidade francesa conhecida edição importante: a francesa. Até o momento, é o Japão que lidera
como gallete de rois. Na França, esse doce preparado des- a constelação de restaurantes triestrelados, a cotação máxima do
de a época dos romanos é consumido durante todo o mês guia, no mundo: são, ao todo, 33 (contra 24 franceses da edição
de janeiro. Com receitas que variam conforme a região – no 2011). Três casas de Tóquio foram consagradas na edição 2012, di-
norte, leva massa folhada recheada com creme de amên- vulgada em dezembro: são elas Sushi Yoshitake, Ryu Gin e Koan.
doas; no sul, lembra um brioche, recheado e enfeitado com Até agora, o saldo negativo ficou na Espanha: a edição
frutas cristalizadas —, o bolo de reis tradicionalmente leva- Michelin para o país, publicada junto com a de Portugal, deu-
va em seu interior uma fava seca, modernamente substi- lhe 16 novas estrelas, mas retirou 17. O Mugaritz, terceiro me-
tuída por figurinhas de porcelana representando crianças lhor do mundo pela revista inglesa Restaurant, não ganhou a
ou animais. Quem encontrar a peça é eleito o “rei do dia”, e aguardada terceira, assim como os restaurantes de Quique
ganha a coroa dourada que acompanha a galette. Dacosta, que leva seu nome, e o Calima, de Dani Garcia. Na
O bolo de reis da Mercearia do Francês, que será vendi- Inglaterra, a novidade é a consagração dos pubs — pela primei-
do até o dia 15 de janeiro, vem com um pequeno rei mago ra vez, um pub inglês recebe duas estrelas
escondido no meio da massa e a coroa. Serve quatro pes- no guia. O eleito é Hand & Flowers, situado
soas e custa R$ 68. Na padaria Benjamin Abrahão, o doce em Marlow, Buckinghamshire (ao todo, 13
não tem brinde nem coroa, mas é feito com massa de pa- pubs ganharam uma estrela). Os quatro
netone e frutas, e está disponível até o final do mês (o quilo restaurantes com a cotação máxima
sai por R$ 41). O Chef Rouge preparou a receita clássica, de continuam os mesmos: The Fat Duck,
massa folhada, disponível até o dia 20 (o doce tem 900 g, do chef Heston Blumenthal; Waterside
vem com um bonequinho e custa R$ 78). E a Wondercakes Inn, de Alain Roux; Gordon Ramsay,
faz uma releitura do bolo, agora em versão míni: o cupcake do chef de mesmo nome, e Alain Du-
de reis. Ele leva cobertura de doce de leite, frutas cristaliza- casse at The Dorchester, do francês
das e a frutinha physalis e sai por R$ 6,50. Alain Ducasse. Blumenthal também
ganhou uma estrela para seu Din-
ner, aberto em 2011 no Mandarin
Oriental Hyde Park, em Londres.

Os bolos da
Benjamin Abrahão
(ao lado) e da
Wondercakes
(abaixo)

UMA DAS COISAS MAIS


PRIVADAS DO MUNDO É,
PROVAVELMENTE, UM OVO
ANTES DE SER QUEBRADO
M. F. K. FISCHER (1908-1992), ESCRITORA
NORTE-AMERICANA

janeiro 2012 13

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aperitivos

lgação
LOG

Foto divu
DEU NO B
Passados seis anos da estreia de seu blog Chucrute com
Salsicha (www.chucrutecomsalsicha.com), a jornalista
Fernanda Guimarães Rosa mudou de cidade e, claro,
de cozinha. O espaço “ensolarado, cheio de coisas
espalhadas pelos cantos”, deu lugar a uma cozinha “mais
vintage”, com uma ilha no meio, o que, diz a autora, lhe
deu ares de “uma Julia Child moderna”. Mas, embora
se considere atrapalhada e tenha feito de tudo – de
DE
APRENDIZ cozinha macrobiótica a pratos rápidos em micro-ondas
I RO
COZINHE
–, Fernanda mantém um blog de primeira. Adepta de
ingredientes orgânicos e da estação e, segundo ela, está
bem melhor na produção de sobremesas. A blogueira,
A beleza e a simplicidade dos ingredientes que mora em Woodland, na Califórnia, prepara receitas
com desenvoltura, acompanhadas de fotos caprichadas,
“Muita gente sai da universidade de gastronomia e quer tra- que ela mesma faz, links esclarecedores e histórias
balhar com novas tecnologias. Mas o trabalho no restaurante deliciosas do seu dia a dia.
é mais do que isso. Quando entrei no Tordesilhas, a proprietá-
ria e chef, Mara Salles, me avisou: ‘Talita, a coisa aqui é muito
simples, não usamos muita tecnologia. Para fazer o grande,
atente-se aos detalhes, aprenda a valorizar os ingredientes.’
Meu primeiro trabalho me pôs em contato com o mangarito,
caracterizado por seu formato irregular. Eu devia cozinhá-los, agenda
dar-lhes um pequeno choque térmico e descascá-los. Come- 12, 19 e 26/1 – Oficina de Biscoitos para crianças de
cei a torneá-los, achando que ela iria adorar. Quando ela viu, 3 a 13 anos, que acontece no ateliê da doceira Paula
quase me matou: ‘Você não achou o formato do mangarito Gradícola, na Granja Viana (SP), com oito alunos
bonito? Porque não o manteve? Ele agora se parece com por turma. Das 14h às 16h30, as crianças fazem
qualquer tubérculo.’ Pois o importante, Mara me ensinou, era biscoitos, os decoram e montam um piquenique no
preservar sua forma, além de aumentar seu aproveitamento. jardim para degustá-los com os pais. R$ 120, das
Com a casca seca no forno, fazemos um pó de sabor intenso 14h às 16h30. Informações: (11) 4777-9436 ou
que, misturado à pimenta jiquitaia (da Amazônia), usamos contato@paulagradicola.com.br.
para finalizar pratos. Preservar a forma original do produto
e aproveitá-lo inteiramente é uma constante no restaurante. 14/1 – Horta Caseira e Compostagem, curso
Cito dois outros exemplos: diante de rabanetes orgânicos e oferecido pela Associação de Agricultura Orgânica no
fresquinhos, minha primeira reação seria remover folhas e Parque da Água Branca, das 9h às 14h. O agrônomo
talos. A Mara não faz isso: ela aproveita as folhas para um e consultor Marcelo Noronha ministra aula teórica
refogado (como o de escarola), e os talos, para os caldos. e prática com introdução à agricultura orgânica e
Também pede para deixar, além do talinho, o “rabinho” do urbana e montagem de horta em vasos. Custa R$ 80
rabanete (aquele filetinho que nasce na outra extremidade), (R$ 60 para sócios). Informações: (11) 3875-2625
que é comestível e saboroso. Com o coentro dá-se o mes- ou www.aao.org.br
mo: sua raiz, diz a Mara, é o ‘filé-mignon’, pois concentra
muito sabor. Higienizada e picada, usamos em preparações 16/1 a 12/3 – A Associação Brasileira de Sommeliers de
como casquinha de caranguejo e vatapá do Pará. Com os São Paulo oferece o curso Temas Básicos de Vinhos. Em
talos, fazemos caldos. Assim, a comida fica mais saborosa e oito aulas, sempre às segundas-feiras, das 20h às 23h,
diversificada, além de reduzirmos muito o lixo orgânico do serão abordados princípios de degustação, o processo
restaurante. Não temos uma cozinha tecnológica, mas é uma de vinificação, armazenamento do vinho e seu serviço,
cozinha bonita, de ingrediente e consistência.” por R$ 800. Informações: (11) 3814-7853.

Talita Vitoreli é sub-chef do restaurante Tordesilhas (SP)

Confira os endereços citados na página 89

14 janeiro 2012

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orgânicos
Beatriz Marques

Horta nas alturas


O Central, em Lima, a capital do Peru, é um restaurante moder-
no, com pratos contemporâneos de alto nível. O menu dá ênfase
aos ingredientes locais, como cocona (uma fruta que lembra o
tomate), camote (tipo de batata-doce) e ajís. Para ter esses legu-
mes e verduras sempre frescos e livres de agrotóxicos, o chef
Virgilio Martinez Veliz adotou dois caminhos. O primeiro é uma
parceria com dois produtores orgânicos, que estão a cerca de

fotos: divulgação
100 quilômetros de Lima e são responsáveis por 90% desse for-
necimento. O restante vem de um lugar bem mais próximo: o
andar de cima do Central (o restaurante funciona no térreo), que
é ocupado por uma horta com mais de 30 espécies de verduras,
ervas e hortaliças. “Meu objetivo de colocar a horta aqui é para
entender exatamente como funciona a natureza”, explica Veliz. Saúde nas festas infantis
O chef compreendeu o ciclo natural dos ingredientes, tanto
que seu cardápio muda de acordo com a sazonalidade. Em de- Hoje não tem mais desculpas para quem não abre mão de uma
zembro, o menu-degustação trazia pratos como pirarucu com alimentação saudável na rotina dos pequenos. Até as festinhas de
batatas nativas ao carvão, creme de cítricos, alcaparras e tiras de aniversário podem ser feitas com comidinhas que fazem bem. O
palmito (foto) e perna de cabrito de leite com feijões brancos, abó- bufê infantil Casa Amarela, em São Paulo, oferece opções como o
bora orgânica e tomate pachacamac. A degustação completa, pastelzinho de forno feito com massa integral, acompanhado de sa-
com oito pratos, custa o equivalente a US$ 85 por pessoa. ladinha, pratos sem glúten, espiga de milho cozido, frutas e cereais.
Os sucos de frutas diferentes, como gabiroba, açaí, uvaia, araçá e
Central Restaurante cambuci, também divertem a garotada. (Giselle Paulino)
calle Santa Isabel 376 – Miraflores
00 xx 511 242-8515 – Lima – Peru Casa Amarela
www.centralrestaurante.com.pe rua Otávio Tarquínio de Souza, 1.045 – Campo Belo
(11) 5536-9298 – São Paulo – SP

Carta de vinhos consciente


Tudo começou com a amizade de Ana Massochi, proprietária do
restaurante paulistano Martín Fierro, com o cineasta do filme Mon-
dovino, Jonathan Nossiter. Ambos compartilham a paixão pelo
vinho e resolveram montar, a quatro mãos, uma carta de rótulos
biodinâmicos, naturais e orgânicos para o restaurante, especializado
em pratos argentinos, em São Paulo. Ao todo são 18 opções, entre
espumantes, tintos, brancos e exemplares de meia garrafa. Os pre-
ços vão de R$ 69, como o Santa Zenere Ciro Greco Bianco 2010, a
garrafa de 750 ml, a R$ 472, caso do Rioja Gran Reserva Viña Tondo-
nia 1981, também na garrafa de 750 ml.

Martín Fierro
rua Aspicuelta, 683 – Vila Madalena
(11) 3814-6747 – São Paulo – SP

16 janeiro 2012

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paris
Daniela Fernandes

ão
ivulgaç
fotos d
Bistrôs de bairro
Paris é dividida em 20 arrondissements. O primeiro
é o mais antigo e inclui o Louvre e a Île de La Cité.
O décimo, então uma área mais popular da cidade,
onde moram africanos, indianos e turcos principal-
mente, está passando por uma revolução gastronô-
mica. Nos arredores da rue du Faubourg Saint-Denis,
uma das principais do bairro, inúmeros bistrôs, bares O Vivant, ao lado,
e restaurantes com visual histórico ou moderno estão e o Nanashi, abaixo
abrindo as portas. E seus cardápio e ambiente, não
raro, ganham o elogio da imprensa francesa.
Um deles é o bistrô Vivant, localizado onde, desde
1903, funcionava uma loja de comércio de pássaros. Nes-
te novo restaurante do chef Pierre Jancou, os insólitos
azulejos coloridos com desenhos de aves nas paredes
foram mantidos e o bistrô ganhou uma decoração no
estilo anos 1950, com mesas e cadeiras de fórmica e
capacidade para 30 pessoas. No cardápio, Jancou, que
já lançou outros dois restaurantes de sucesso em Pa-
ris e depois vendeu, como o La Cremérie e o Racines,
continua com a sua máxima de “detestar a indústria
alimentar”, só utilizar ingredientes frescos, com desta-
que para os produtos italianos, como queijos e frios de
pequenos produtores.
O menu muda regularmente e há diariamente pelo
menos uma receita italiana, como o risoto com salsi- esses pratos são servidos em pequenas bandejas e
chas frescas. Há também pratos franceses, como o foie podem não utilizar ingredientes japoneses – a chef
gras Dupérier com alcachofras ou o pato de Challens, também aprecia a culinária francesa e suas criações
assado com a fina pele para manter a textura crocan- são revisitas da cozinha de seu país.
te, acompanhado de legumes glaceados na manteiga, O bentô de peixe, por exemplo, pode ser com peixe-
como o chef aprendeu na época de um estágio no espada ou truta e o de carne com cordeiro confit. Di-
L’Arpège, três estrelas no guia Michelin. Os pratos cus- ferentes legumes e também grãos ou cereais, como li-
tam entre 15 euros e 25 euros. Entre as sobremesas, des- nhaça, quinua ou cevada, completam o prato saudável
taque para a musse de chocolate preparada na hora, e com produtos orgânicos. No cardápio, escrito em uma
servida quente e com um creme de flor de laranjeira. A enorme lousa, há sopas, saladas, “pizza-brioche” e, claro,
casa não funciona nos fins de semana e recomenda-se alguns pratos asiáticos, como rolinhos primavera. As so-
reservar com uma semana de antecedência. bremesas são originais, como o bolo de abacaxi com po-
No mesmo arrondissement, o Nanashi é outro res- lenta ou de chocolate com yuzu (limão japonês).
taurante que vale a visita. Sua decoração despojada é
uma mescla de refeitório industrial com ateliê de artis- Vivant
ta, com suas enormes luminárias coloridas e móveis 43, rue des Petites Écuries – 10° arrondissement
encontrados nos chamados “mercados das pulgas”. tel.: 0033 (0) 1 42 46 43 55
Mas o que faz o sucesso do Nanashi é a chef japonesa
Kaori Endo e seus bentôs (as marmitas japonesas), nas Nanashi
versões carne, peixe e vegetariana. As receitas mudam 31, rue de Paradis – 10° arrondissement
todos os dias e custam só 14 euros. Apesar do nome, tel.: 0033 (0) 1 40 22 05 55

18 janeiro2012

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etiqueta
Vanessa Barone

Com açúcar e
com afeto
Nunca fui uma grande cozinheira, embora colecio-
ne livro de receitas. Também nunca recebi o título de
“papisa da moda”, por mais que adore registrar com
roupas e acessórios a história dos meus dias. Então
por que eu me meti a discorrer sobre esses assuntos ao
longo dessas páginas, o leitor deve se perguntar? Por-
que eu escolhi olhar para essas duas áreas sob outras
perspectivas, menos como especialista metida a besta,
muito mais como curiosa insaciável. E deixar que ou-
tros, melhores do que eu, metam-se a criar grandes
pratos e lindos figurinos.
Mas a razão principal para eu não me cansar de ex-
plorar os mistérios fashion e gastronômicos é porque eu
gosto de gente. E acredito que tanto a gastronomia quan-
to a moda são formas de estreitar os laços humanos. Por
meio de um prato conseguimos passar amor, deferência
e amizade. Sendo ele uma receita com técnicas da cozi-
nha molecular ou um simples misto quente. Algo feito
com carinho e capricho ajuda a conquistar, consolar,
amenizar a dor. É disso que eu gosto. Nunca me esqueço
de quem me alimentou com amor e, quando monto uma
lista de supermercado, por exemplo, enxergo os ingre-
dientes como uma forma de agradar a alguém. O suco de
lichia vai para meu enteado mais novo, e os chocolates
são para o mais velho. O queijinho francês agrada a mi-
nha filha; e o vinho tinto, meu marido. E assim vamos,
colecionando afeto na forma de sabores.
Há algum tempo sou procurada por pessoas que
não se entendem com o próprio visual. Querem uma
“consultoria de moda”, dizem. Mas, na verdade, o que
eu faço nem sei se tem esse nome. O que me estimula
é mostrar que é possível ser feliz vestindo-se de forma
que agrade aos outros, mas, também, a si. A roupa e
seus complementos podem ser um agrado que fazemos
a nós mesmos, enquanto ajudamos o mundo a enten-
der melhor quem somos.

Vanessa Barone é jornalista especializada em moda. vanessa.colab@revistamenu.com.br

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água de beber
Os utensílios para matar a sede no verão

foto Sheila Oliveira/Empório Fotográfico produção Melissa Thomé

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1. porta-bebidas em metal esmaltado, R$ 167,90, na Regatta Casa; 2. conjunto com quatro copos altos em acríli-
co, R$ 96,50, na Bacco’s; 3. conjunto com quatro copos em acrílico baixo, R$ 89,50, na Bacco’s; 4. jarra de vidro
da Borgonovo by Alimport, R$ 27, na Alimport; 5. jarra em vidro com embolo para gelo e tampa em prata, R$
264, na Presentes Mickey; 6. garrafa de vidro facetada da Maxwell Williams, R$ 34, na Spicy; 7. cantil com filtro
da Bobble, R$ 58, na Spicy; 8. refil de filtro da Bobble, R$ 44, na Spicy; 9. balde de gelo em vidro, R$ 54, na
Presentes Mickey; 10. copo em vidro para água da Alesi, R$ 115, na Benedixt; 11. copo em vidro jateado da Alesi,
R$ 115, na Benedixt; 12. jarra em vidro da Alesi, R$ 673, na Benedixt; 13. garrafa em vidro reciclável, R$ 72,40,
na Art Mix; 14. forma de gelo em forma de diamantes da Fackelman, R$ 17, na Art Mix; 15. taças de vidro, R$
92, o conjunto com seis unidades, na Presentes Mickey; 16. jarra em vidro, R$ 199, na Regatta Casa; 17. jarra em
vidro com detalhes em prata da Quadrifoglio, R$ 197,90 na Bacco’s; 18. balde de gelo em acrílico, R$ 420, na
Bacco’s. Confira os endereços na página 89.

janeiro/2012 21

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táfresquinho

A crocância refrescante do pepino (Cucumis sativus)


combina com os dias de calor. Suculenta, a polpa desse
vegetal de origem indiana, da família das cucurbitáceas
– como chuchu, melão, melancia e abóbora – é explora-
da principalmente em saladas, em misturas interessantes
com tomates, ervas frescas, azeite e suco de limão. Em
países mediterrâneos, como a Grécia, é comum consu-
mir o pepino com iogurte ou creme azedo. Um dos pra-
tos mais famosos por lá é o tzatziki, que combina pepino
picado com o iogurte denso e cremoso produzido na re-
gião, temperado com alho e endro.
No Brasil, além do uso em saladas, essa hortaliça é pre-
sente em pratos da culinária japonesa, em conservas agri-
doces que fazem par com sushi e sashimi, e nas receitas
de inspiração árabe, como a salada fatouche, com cebola,
pão torrado, tomate e ervas frescas. “É um legume muito
versátil”, elogia a chef Vivian Arab, do carioca Arab, de ori-
gem sírio-libanesa.
Caipira, japonês ou comum são as três variedades mais
facilmente identificadas de pepino nos mercados brasi-
leiros. O primeiro, de casca verde-clara, é mais grosso e
aguado, e se parece com o pepino comum – este, de cas-
ca verde-escura, e com muitas sementes em seu interior.
O pepino japonês, mais alongado e fino, tem a textura li-
geiramente mais crocante que os demais, e menos semen-
tes em seu miolo. Além desses, há também os pepinos em
miniatura, chamados de cornichons, em francês, ideais
para picles e conservas. “A escolha depende do objetivo da
receita”, lembra a chef. Para rechear, o comum e o caipira
servem melhor. “O pepino japonês é ótimo para o tabu-

cesta e mini-lousa ,acevo de produção


le, e fica muito bom quando cortado longitudinalmente,
com casca, na fatouche”, recomenda Vivian.
A chef do Arab, ainda, tem o costume de colocar o pe-
pino ralado na coalhada seca ou de prepará-lo recheado
com arroz, carne e especiarias, como se fosse abobrinha ou
por Luciana Mastrorosa berinjela. Ela acrescenta que temperos árabes como zattar
foto Sheila Oliveira/Empório Fotográfico e sumac combinam particularmente bem com o pepino,
producão Melissa Thomé assim como alho e hortelã. “Por ter um sabor muito fresco
e delicado, aceita sabores mais fortes”, diz ela. Uma opção
a mais para diversificar a mesa no alto verão.

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tabule pepino recheado

4 tomates com pele e sementes 10 pepinos; 10 colheres (sopa) de sal e deixe escorrer bem em uma
2 pepinos japoneses com casca arroz; 4 tomates picados; 1/2 maço peneira. Em seguida, misture o pepino
1 cebola média de hortelã picado; 2 cebolas picadas com o alho picado e a hortelã e
1 pimentão vermelho 1 colher (café) de cominho; 300 g de acrescente a coalhada. Misture bem.
1/2 maço de salsa grão-de-bico cozido; 6 dentes de alho
1/2 maço de cebolinha verde picados; 150 g de molho de tomate para servir distribua a pasta em
1 colher (sopa) de molho de tomate 6 colheres (café) de sal; água e azeite potes e sirva com pães e torradinhas.
1 xícara (chá) de trigo para quibe de oliva quanto bastem
1/2 limão
sal e azeite de oliva a gosto pepino retire as pontas dos pepinos e dica da chef a pasta pode ser feita
reserve. Remova todo o miolo dos com antecedência e conservada
tabule pique os pepinos, os tomates, pepinos e recheie a cavidade dos na geladeira até a hora de servir.
a cebola, o pimentão, a salsa e a legumes com arroz cru, tomate picado,
cebolinha em pedaços pequenos. hortelã e grão-de-bico. Reserve. Doure
Misture os ingredientes numa tigela e o alho e a cebola numa panela com rendimento 3 porções
reserve. Lave bem o trigo com 1 fio de azeite. Adicione o molho de preparo 20 minutos
bastante água e esprema-o com tomate e misture bem. Feche os (+ 8 horas para a coalhada)
as mãos para remover o excesso pepinos com as pontas reservadas, execução fácil
de líquido. Coloque o trigo espremido prendendo-as com palitos, e coloque-
numa vasilha aberta e deixe secar por os na panela do refogado. Cubra-os sopa de pepino
10 minutos. Após o descanso, misture com água, tempere-os com sal e
os legumes e o trigo e tempere-os com cominho e cozinhe em fogo baixo por 6 copos de iogurte natural
azeite, limão, sal e molho de tomate. cerca de 20 minutos. (200 g cada); 2 pepinos com casca;
2 dentes de alho picados; 1 maço de
para servir coloque o tabule numa para servir tire os palitos e as hortelã picado; 2 colheres (sopa) de
saladeira e sirva. Se preferir, adicione pontas dos pepinos e sirva numa azeite de oliva
folhas de alface americana para travessa ou em pratos individuais.
acompanhar. sopa de pepino coloque o iogurte
numa panela e esquente-o em fogo
dica da chef este prato fica baixo, tomando cuidado para não
dica da chef o segredo da salada melhor se preparado com ferver. Reserve. Refogue o alho e a
é cortar os ingredientes em pepinos comuns, que têm hortelã com o azeite, em outra panela,
pedaços bem pequenos e formato mais largo. em fogo médio. Em seguida, baixe o
misturá-los bem ao trigo, para fogo e acrescente o iogurte. Quando a
que peguem o tempero por igual. mistura estiver homogênea, junte o
rendimento 4 porções pepino cortado em pequenos pedaços.
preparo 1 hora execução fácil Cozinhe em fogo médio por 5 minutos.
rendimento 2 porções
preparo 30 minutos pasta de iogurte para servir distribua a sopa em
execução muito fácil cumbucas ou pratos fundos e sirva
6 copos de iogurte natural com 1 fio de azeite.
(200 g cada); 2 pepinos japoneses
com casca; 4 dentes de alho picados
Vivian Arab, do
1/2 maço de hortelã picado; sal a gosto dica da chef ao aquecer o iogurte,
foto Divulgação

restaurante Arab,
criou as receitas com tenha muito cuidado para que ele
pepino para esta pasta de iogurte coloque o iogurte não ferva, pois pode talhar.
edição. O Arab fica
num coador de café grande, com
na avenida Atlântica,
1.936, Copacabana, filtro, e deixe descansar por 8 horas,
Rio de Janeiro (RJ). na geladeira, para escorrer bem. rendimento 2 porções
Tel.: (21) 2235-6698.
Reserve. Rale o pepino, tempere com preparo 30 minutos execução fácil

janeiro/2012 23

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capa

coMida de rio
e de FLoresTa
Os temperos e ingredientes da rica cozinha amazônica
em destaque num cruzeiro pelo rio Solimões

por Luciana Mastrorosa, de Manaus (AM)


fotos Sheila Oliveira/ Empório Fotográfico
produção Marcia Asnis

Castanhas, peixes, camarões miúdos, mandioca, pimentas e ervas perfu-


madas compõem a base da cozinha amazonense, fruto da convivência do ribei-
rinho com as abundantes águas turvas e as densas florestas da região. Na mesa,
reinam pescados como o tucunaré ou o pirarucu, preparados de inúmeras for-
mas: com ou sem molho, imersos ou não no pungente tucupi – caldo extraído
da mandioca-brava, um dos ingredientes símbolo da região. Os pratos chegam à
mesa acompanhados ainda pela farinha, grossa e amarela, proveniente da mes-
ma mandioca que dá origem ao tucupi. Com um toque das várias pimentas que
crescem por ali, o banquete está completo. “O que é mais interessante nessa culi-
nária é que os ribeirinhos usam tudo aquilo que está à volta deles. É uma comida
simples, mas de muito sabor”, observa o chef Felipe Ribenboim, que já percorreu
a Amazônia em 2005 e 2007, em expedições gastronômicas pela região.

cerâmica, Bia Ferreira da Rosa; guardanapo, acervo de produção


Mas não precisa ser chef de cozinha para aventurar-se pelos sabores desta
que é uma das regiões mais ricas do Brasil em variedade de ingredientes. Uma
das oportunidades para provar os temperos amazônicos é participar de um
cruzeiro pelo rio Negro ou pelo rio Solimões. Nesse tipo de viagem, é possível
pescar piranhas, observar botos e jacarés e, entre um passeio de lancha e outro,
aproveitar um pouco dos sabores locais. “A região amazônica é riquíssima em
ingredientes e assim temos incorporado ao menu os peixes, a castanha e a fari-
nha Uarini, muito presente na culinária nativa”, ressalta o chef Claudio Procó-
pio, que comanda a cozinha do navio Iberostar Grand Amazon desde 2007.
A bordo, os sabores da floresta são mesclados com as receitas da culinária clássica
internacional, já que boa parte dos passageiros é estrangeira e todos os gostos devem
ser atendidos. Mesmo assim, pirarucu, tucunaré e tambaqui não faltam na despensa
do navio, abastecida toda semana, em Manaus, com peixes, frutas e legumes frescos e
muitos ingredientes em conserva. Entre os pratos preferidos dos passageiros, destaca-
se a costelinha de tambaqui, carnuda e saborosa. “Esse prato vem conquistando cada
vez mais os clientes”, aponta Procópio. Açaí, cupuaçu, acerola, pitomba e maracujá
também estão sempre no cardápio, na forma de sucos, drinques e sobremesas.

24 janeiro/2012

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capa
A caldeirada
de pirarucu
acompanhada de
farinha ovinha

Sauté de vitela com


laranja e toque abrasileirado
com lascas de pequi

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capa
O tucunaré com crosta
de ervas da Amazônia
e purê rústico de
batata com alho

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capa

E, como não poderia deixar de ser, a mandioca – base caldeirada de pirarucu, mandioca,
da alimentação do ribeirinho – também é uma das estre- folhas de jambu e farinha ovinha
las do cardápio do navio. De manhã, o cuscuz de tapioca
figura lado a lado com café, leite e pão. E, no almoço ou 800 g de lombo de pirarucu em cubos
jantar, a farinha grossa entra na composição de ricas fa- 75 g de alho-poró
rofas, guarnição perfeita para os pescados, temperadas 75 g de cebola
com algumas das ervas locais, como a alfavaca e a chicó- 25 ml de suco de limão
ria-do-pará. Durante suas andanças pela região amazô- 10 g de alho
nica, o chef Felipe Ribenboim ficou impressionado com 10 g de folhas de salsa
a versatilidade dessa raiz, tão abundante na região – no 25 g de pimenta-de-cheiro
Norte, ela é chamada de mandioca-brava, por ser vene- 10 g de chicória-do-pará
nosa, mas seu veneno se torna inativo depois de exposto 50 g de folhas e talos de jambu
ao calor. “A história dessa raiz é o uso que se faz dela. 200 ml de tucupi
A partir desse único produto, é possível preparar vários 800 g de mandioca fresca (aipim)
outros, como beiju, tapioca, goma, tucupi e farinha para 200 g de farinha ovinha
engrossar o caldo”, lembra o chef. sal grosso a gosto
Ribenboim usa alguns ingredientes amazônicos nos água quanto baste
pratos que desenvolve em parceria com Gabriel Broide,
em São Paulo. A dupla, que comandava o restaurante caldeirada amasse num pilão (ou bata no
Dois Cozinha Contemporânea até meados do ano passa- liquidificador) o alho-poró, a cebola, o alho, a salsa,
do, tem planos para inaugurar um novo espaço em bre- a pimenta-de-cheiro, os talos do jambu, a chicória-
ve. “Tínhamos elementos da Amazônia no cardápio no do-pará e o suco de limão. Acerte o sal e reserve.
Dois, e com certeza teremos ingredientes de lá no nosso Cozinhe a mandioca em água com sal até
futuro restaurante”, assegura Broide. Convidados pela começar a ficar macia. Reserve a mandioca na
Menu, os cozinheiros criaram delícias inspiradas nesses água do cozimento. Coloque o pirarucu numa
sabores, como a caldeirada de pirarucu e a musse de cas- panela de barro, onde o peixe será cozido, e
tanha-do-pará com fondant de cupuaçu, uma das frutas adicione a marinada feita no pilão. Reserve por
mais emblemáticas da região, ao lado do açaí. 3 horas. Coloque a farinha ovinha em uma tigela
E ingredientes como esses permeiam toda a viagem pelo e cubra-a com água. Reserve. Leve a panela de
rio Solimões. Em uma das paradas do cruzeiro, a visita a barro com o pirarucu ao fogo e acrescente o
uma típica casa de caboclo ribeirinho confirmou o uso tucupi, a mandioca precozida e um pouco de sua
onipresente da mandioca. A casa de madeira, simples e água de cozimento. Mantenha em fogo baixo até
construída próxima ao rio, conta com uma grande plan- o peixe estar cozido e a mandioca, macia.
tação de mandioca e uma casa de farinha, onde o ingre- Acrescente as folhas de jambu e deixe murchar
cerâmica, Bia Ferreira da Rosa; talher, acervo de produção

diente é processado e transformado em seus subprodutos. um pouco com o calor.


“A gente produz quase tudo o que consome. Aqui eu crio
galinha, pato. Planto ervas, todo tipo de verdura, e faço para servir coloque a caldeirada em uma cumbuca
minha própria farinha”, conta Álvaro Moreira Cruz, que e a farinha ovinha hidratada em outra. Sirva
vive com sua esposa, Léia, e seus oito filhos na pequena imediatamente.
propriedade. Do rio, vêm os peixes que Léia usa na co-
zinha, como aprendeu com sua mãe. “Faço peixe frito
com feijão, caldeirada, peixada. Tempero com pimenta dica dos chefs use água bem gelada para
cheirosa, alho, cebola, chicória e alfavaca, tudo da minha hidratar a farinha e mantenha-a na geladeira até
horta”, diz ela. E a farinha, lembra o chefe da casa, tem de os grãos absorverem toda a água.
ser bem grossa e amarela, para ser consumida a qualquer
hora. Milton Fernandes, guia do navio e nativo da região,
concorda. “Aqui, comemos farinha com tudo, de frutas a rendimento 4 porções
pratos quentes”, garante ele. É uma sugestão para começar preparo 4 horas
a provar os variados sabores amazonenses. execução moderada

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fotos Divulgação
Pescando piranhas
Navegar em um cruzeiro no rio Solimões, no Amazonas, é uma
experiência e tanto para uma pessoa como eu, acostumada a
viver em uma metrópole cinza e barulhenta como São Paulo. A
primeira sensação, quando o navio parte, é a de estranhamento:
estar no meio do rio significa ficar cara a cara com um silêncio
indescritível, pontilhado apenas pelas vozes dos outros hóspedes
ou pela música que toca permanentemente no deque. Quando
saímos em passeios, percorrendo o rio em pequenas lanchas e
observando de perto como vivem os ribeirinhos, a impressão se
confirma. Tudo é silencioso e calmo, parece que a vida e suas
tarefas cotidianas transcorrem em outro tempo. Por lá, tudo é
flutuante: postos de gasolina, restaurantes, escolas. O táxi é um
barco, naturalmente, assim como os ônibus. Passamos por vilas
inteiras e aprendemos que, para os ribeirinhos, peixe bom é
aquele que tem escamas. Os chamados peixes lisos, ou peixes-
gatos, são exportados para países como China e Rússia. “O povo
não gosta desses peixes porque eles vivem no meio dos detritos”,
explica nosso guia, Jeferson Alves, também nativo e totalmente
inteirado das peculiaridades de sua região natal.
Seguimos o passeio e nos deparamos com jacarés, garças,
pássaros multicoloridos e árvores de todos os tons possíveis
No alto, o pôr do sol visto do
de verde. Então, logo ali, somos convidados a pescar... rio Solimões; ao lado, a trilha
piranhas! Sim, aqueles peixes de dentes afiados e notório na floresta. Acima, árvores
gosto por carne. No barco, os hóspedes se agitavam, com amazônicas
certa apreensão risonha no ar: como poderíamos ficar numa
pequena lancha em meio às “sanguinárias” piranhas que
povoavam nossa imaginação? Ao chegar lá, Alves, o guia,
divertia-se com nossa falta de jeito e dominava a situação
com tranquidade, nos ajudando com as varas de pescar
e colocando pedaços de carne no anzol, de modo que
conseguíssemos atrair a atenção dos peixes, sem espetar o
dedo ou machucar o colega. Mostrou a própria mão, ferida de
outras aventuras, e disse para ficarmos tranquilos e falarmos
baixo, para que os peixes mordessem a isca. Risos nervosos,
silêncio. De repente, a surpresa: minha linha puxava forte e Acima, jantar no
eu mal soube o que fazer. Quando vi, estava puxando para cruzeiro; ao lado, cenas
do passeio de lancha.
o ar uma pequena piranha colorida. Em seguida, mais uma!
Abaixo, a piranha
Logo, meus colegas começaram a pescar também várias recém-pescada
delas, umas alaranjadas, outras amareladas, algumas brancas.
Depois de devidamente registradas em fotos, eram devolvidas
ao rio – para minha ligeira frustração, já que gostaria de provar
uma das iguarias famosas da região, o caldo de piranha. Quem
sabe numa próxima?

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Os mariscos em
caldo vigoroso com
beiju de tapioca e
pimenta baniwa
bowl, Paula Almeida;

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Os chefs Felipe
Ribenboim (à esq.)
e Gabriel Broide

fondant de cupuaçu toste o cupuaçu numa panela


de fundo grosso, em fogo alto, para caramelizar os
açúcares da fruta. Não deixe queimar a borda da
panela. Adicione o creme de leite e aqueça, fazendo
A musse de
castanha com uma infusão. Passe a mistura por uma peneira bem
fondant de cupuaçu fina ou superbag e reserve o creme. Derreta o açúcar
e faça um caramelo, em fogo baixo, a 170°C. Quando
atingir essa temperatura, acrescente o creme
aromatizado com cupuaçu, mexendo sempre para
musse de castanha-do-pará, não fazer grumos nem separar. Junte aos poucos a
cupuaçu e areia de castanha manteiga fria, para que vá ganhando consistência.
Finalize com 1 pitada de flor de sal. Reserve.
musse de castanha 300 g de castanha-do-pará crua;
400 ml de leite integral tipo A; 500 ml de creme de cupuaçu in natura corrija a acidez do cupuaçu
leite; 2 folhas de gelatina incolor; 100 g de açúcar; com um pouco de açúcar, se necessário. Reserve
água quanto baste na geladeira.

fondant de cupuaçu 200 g de cupuaçu; 200 g de areia de castanha toste as castanhas em forno médio,
açúcar; 100 ml de creme de leite; 50 g de manteiga a 180°C, até ficarem coradas, mas sem queimar.
fria; flor de sal a gosto Reserve. Derreta o açúcar numa panela até 180°C,
formando um caramelo. Despeje-o num silpat (tapete
cupuaçu in natura polpa de cupuaçu in natura de silicone) e deixe endurecer. Reserve. Depois de frio,
quanto baste; açúcar quanto baste bata o caramelo e a castanha-do-pará no processador
até ficar com aspecto de areia granulada grossa.
areia de castanha 100 g de castanha-do-pará; 150 g Acrescente a maltodextrina e o leite em pó e misture
de açúcar; 10 g de leite em pó; 5 g de maltodextrina até ficar homogêneo. Reserve na geladeira.
prato, Nelise Ometto; talher, acervo de produção

musse deixe as castanhas de molho no leite por 24 para servir passe o fondant no fundo do prato e faça
horas, na geladeira. Após o descanso, processe esse uma linha com a areia de castanha sobre ele. Finalize
leite no liquidificador até desfazer todas as castanhas. com a musse e sirva com o cupuaçu in natura à parte.
Passe o líquido por uma superbag ou etamine bem
fina espremendo-a para retirar o máximo de líquido.
Aqueça o líquido numa panela, em fogo baixo, e reduza dica dos chefs ao fazer o caramelo do fondant,
a 10% do volume inicial. Reserve. Hidrate use o termômetro para garantir que a
as folhas de gelatina e incorpore-as na redução de temperatura não passe do indicado, evitando
castanha. Junte o açúcar e o creme de leite na redução que o fondant amargue.
morna e verifique o sabor. Corrija com um pouco de
açúcar, se necessário. Ponha a mistura rendimento 4 porções preparo 2 horas (+ 24 horas
num sifão, usando carga máxima. Reserve na geladeira. para a musse) execução difícil

30 janeiro/2012

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mariscos em caldo vigoroso
com beiju e pimenta baniwa

24 mariscos graúdos vivos; 200 g de talos de erva-


doce; 200 g de salsão; 400 g de cebola; 200 g de
cenoura; 1 bouquet garni; 100 g de pimenta-de-
cheiro; 100 g de cheiro-verde do Pará picado;
2 cabeças de alho cortadas ao meio, com casca;
100 ml de vinho branco; 20 ml de azeite de urucum;
2 g de pimenta baniwa; 70 g de goma de tapioca;
água quanto baste; azeite de oliva quanto baste

azeite de urucum 100 ml de óleo de girassol;


10 g de sementes de urucum

azeite de urucum aqueça o óleo com o urucum, em


fogo baixo, até chegar a 62ºC. Mantenha no fogo por
15 minutos, retire e deixe esfriar. Guarde em um
recipiente de vidro, com tampa.

mariscos corte 160 g de erva-doce, 160 g de salsão,


320 g de cebola, 160 g de cenoura e 1 cabeça de alho,
do mesmo tamanho. Coloque esse mirepoix e o
bouquet garni numa panela e cubra tudo com água
fria. Cozinhe em fogo baixo por 3 horas, formando um
caldo. Reserve. Espalhe a goma de tapioca numa
frigideira aquecida, em fogo médio, formando uma
camada fina sobre a superfície. Quando a goma
grudar na panela e formar uma panqueca, vire-a e
cozinhe um pouco mais. Retire a panqueca da
frigideira e deixe secar de um dia para o outro para
ficar crocante. Corte o restante dos legumes e a
pimenta-de-cheiro em brunoise. Reserve. Hidrate a
pimenta baniwa com o azeite de urucum. Limpe bem
as conchas dos mariscos, em água corrente, e reserve.
Salteie os legumes em brunoise numa frigideira, em
fogo alto, com 1 fio de azeite, até ficarem bem Confira a receita do
tucunaré na página 88
dourados. Regue-os com o vinho branco e deixe
reduzir a 20% do volume original. Acrescente os
mariscos e o cheiro-verde do Pará picado. Deixe suar
e acrescente o caldo reservado. Mantenha em fogo A jornalista viajou a convite da Iberostar.
O Iberostar Grand Amazon é um cruzeiro
baixo até os mariscos abrirem suas conchas. promovido pela companhia espanhola
Iberostar. Com capacidade para 150 pas-
sageiros, o navio percorre dois roteiros
para servir ponha o caldo de mariscos numa sopeira pela região: pelo rio Negro ou pelo rio
e sirva imediatamente, com um pouco de folhas de Solimões. O cruzeiro do Solimões sai às
chicória-do-pará, a pimenta baniwa e o beiju crocante. sextas-feiras, com duração de três dias
e diárias a partir de R$ 653 por pessoa,
em apartamento duplo, no sistema all in-
dica dos chefs ao comprar mariscos, escolha clusive (sem as passagens aéreas). O do
rio Negro tem saídas às segundas-feiras
os que estiverem com as conchas fechadas. e duração de quatro dias, e a diária tam-
bém custa a partir de R$ 653 por pessoa,
no mesmo sistema. Crianças de 10 a 12
rendimento 2 porções preparo 4 horas anos pagam 50% da diária. Informações:
execução moderada www.iberostar.com.br

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(re)descobrindo
portugal

As bochechas
de porco, receita saborosa
da Tasca da Esquina

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A moda das tascas, tipo de bistrôs portugueses, e as


comemorações, agora em 2012, do Ano do Brasil em
Portugal devem reaproximar a gastronomia dos dois países
por Pedro Marques fotos Sheila Oliveira/Empório Fotográfico
produção Melissa Thomé

Brasil e Portugal já foram mais próximos em vários aspectos, incluindo a gas-


tronomia. A chegada de imigrantes italianos, japoneses e alemães no começo
do século 20, porém, diluiu a influência de nossos colonizadores na culinária
brasileira. Agora, 2012 tem tudo para aproximar novamente os dois países: este
será o Ano de Portugal no Brasil, por aqui, e haverá o Ano do Brasil em Portu-
gal. Apesar de a programação não estar completamente definida, os ministérios
da Cultura brasileiro e português já anunciaram que a gastronomia está na
agenda. “Esse tipo de evento só tende a unir a cultura gastronômica dos dois
países. Será um divisor de águas”, avalia o alentejano Carlos Bittencourt, pro-
prietário do restaurante A Bela Sintra, especializado em receitas portuguesas,
com unidades em São Paulo e Brasília.
A reaproximação comemorativa não poderia vir em melhor hora. Na verdade,
ela até já está acontecendo e, melhor, naturalmente. Numa daquelas coincidên-
cias, novos restaurantes portugueses abriram as portas no ano passado. Somente
no último semestre de 2011 foram três novas casas em São Paulo: a Tasca da
Esquina, a Tasca do Zé e da Maria e a Taberna 474. “Tem um espaço para a co-
zinha portuguesa que é muito mal explorado em São Paulo”, afirma Ipe Moraes,
proprietário do novo Taberna 474. A casa, que apesar do nome tem mais cara
Louças, talheres, taças e jogos americanos, acervo de produção

de restaurante, vem se juntar ao Adega Santiago, de Moraes, também de gastro-


nomia da terrinha. Bittencourt, do A Bela Sintra, vai além: “Acho que há espaço
para se abrir novos negócios da culinária portuguesa, tanto em São Paulo quanto
em outras grandes cidades do Brasil.” Ao longo do ano, o restaurateur abriu uma
filial do A Bela Sintra em Brasília e uma unidade do Trindade, também de comi-
da lusitana, em Alphaville (SP). O carioca Antiquarius, por sua vez, apostou em
uma nova filial em Brasília e já contava com uma unidade em São Paulo.
Outro fator nessa equação é que os brasileiros estão cada vez mais redesco-
brindo Portugal. “A procura e a oferta estavam descompensadas”, reflete Vítor
Sobral, chef que tem como principal influência a comida da região do Alentejo,
de onde veio sua família. Reconhecido e premiado em sua terra natal (recebeu
o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, concedido àqueles
que se dedicam à preservação da cultura portuguesa), Sobral aportou por aqui
em julho passado com sua Tasca da Esquina. Mais: o chef, autor das receitas que
acompanham esta reportagem, acredita que esse intercâmbio não deve acontecer
apenas nos restaurantes, mas também na venda de produtos portugueses, em
função do conhecimento que o brasileiro tem do país.

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Alguns números reforçam a ideia defendida por Sobral. Mais de 370 mil brasileiros
desembarcaram em solo português em 2010, um aumento de quase 40% em relação
a 2009. E, em maio de 2011, o número de turistas brasileiros já havia registrado cres-
cimento de 22,8%, em comparação a igual período de 2010. Em 2011, o comércio
entre os dois países foi o maior da história, chegando a US$ 2,44 bilhões nos dez pri-
meiros meses de 2010. Na pauta de exportação, destaque para os azeites e bacalhau
portugueses, que representaram 30% dos produtos lusos vendidos por aqui, segundo
dados da Embaixada de Portugal no País.
O nome “tasca” aparece nestes novos restaurantes, mas em conceito diferente
de suas contrapartes lusitanas. Enquanto lá a tasca geralmente indica um res-
taurante familiar, mais simples e que vende petiscos e vinhos da casa, as tascas
brasileiras estão mais para bistrôs, com comida portuguesa. “Tasca nada mais é
que uma trattoria, um bistrô. É uma categoria entre o restaurante e o bar”, define
Ipe Moraes. “E por que eu vou chamar de bistrô se em Portugal temos a tasca?”,
complementa Vítor Sobral. A ideia do chef português foi, a partir do conceito de
tasca, fazer uma releitura da culinária lusitana e, assim, apresentar sua cozinha
autoral. “O conceito de petiscos, pratos pequenos, está presente no restaurante,
mas, quem quiser comer uma bela posta de bacalhau, tem”, diz.
O bacalhau, aliás, mantém o posto de estrela nos cardápios, ao lado de ou-
tros favoritos da culinária portuguesa, como o arroz de pato, os pratos com
polvo e outras criações à base de frutos do mar, mais os tradicionais doces. A
diferença mais marcante fica no estilo: enquanto os restaurantes apostam em
pratos clássicos para agradar a uma clientela mais tradicional, as tascas tomam
liberdades e servem receitas mais modernas, como sopas de melão e presunto
cru, tartares de vieira e até produtos tradicionais nem sempre apreciados, como
alheiras, morcelas e moelas.
Outra diferença pronunciada é a relativa simplicidade das tascas com seus pa-
trícios culinários daqui. Elas contam com belos talheres e louças e, em alguns ca-
sos, até toalhas de linho branco, um luxo quando comparadas com as irmãs por-
tuguesas. Mas não há uma tropa de garçons para atender à mesa e a decoração é
mais despojada, sem a formalidade de um grande salão. Com isso, os restaura-
teurs conseguem oferecer uma comida de qualidade, por um preço mais acessí-
vel. “Meu ingrediente é o mesmo do Antiquarius, mas a relação custo-benefício
é diferente. Uso arroz português carolino, os frutos do mar são fresquinhos, o
peixe chega todo dia”, explica Zé Maria Alves Pereira, ex-gerente do Antiquarius
e um dos quatro sócios da Tasca do Zé e da Maria.
O que não quer dizer que a conta da refeição seja barata: o tíquete médio nes-
sas casas fica em torno dos R$ 80, sem vinho. Ainda assim, são mais em conta
que os tradicionais restaurantes portugueses, o que explica, ao menos em parte,
o sucesso das tascas. “Só tenho a agradecer. A casa está sempre cheia”, diz Zé Ma-
ria, com um misto de orgulho e simplicidade. “A tendência de tascas é uma coisa
necessária. As pessoas têm a necessidade de comer bem sem tanta sofisticação”,
filosofa Ipe Moraes. Por isso mesmo, não será surpresa se mais restaurantes por-
tugueses abrirem suas portas ao longo deste ano que começa. Ora, pois, que 2012
seja mesmo o ano de Portugal na mesa brasileira.

Taberna 474 Tasca da Esquina Tasca do Zé e da Maria


rua Maria Carolina, 474 – Pinheiros alameda Itu, 225 – Jardins rua dos Pinheiros, 434 – Pinheiros
(11) 3062-7098 – São Paulo – SP (11) 3262-0033 – São Paulo – SP (11) 3062-5722 – São Paulo – SP

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O polvo ganha
a companhia de
mandioquinha

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O chef
Vítor Sobral

bacalhau com batatas


coradas e cebolada

título Box
10 lombos de bacalhau dessalgados
(cerca de 200 g cada);
3 folhas de louro;
10 alhos cortados em lâminas;
salsa picada quanto baste; azeite de oliva
extravirgem quanto baste

cebolada
1 kg de cebola cortada em lâminas; 5 dentes de alho bochechas de porco com colorau
picados; 2 folhas de louro; 150 ml de azeite português e tostas de trigo
extravirgem; sal marinho moído na hora quanto
baste; pimenta-do-reino moída na hora quanto baste 1,3 kg de bochecha suína
300 g de cebola picada
batatas 6 dentes de alho cortado em fatias finas
1,2 kg de batatas fritas em rodelas grossas; azeite o 100 g de pimentão sem pele, cortado
quanto baste em cubos e assado
20 g de páprica doce
bacalhau coloque o bacalhau numa assadeira com sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto
100 ml de azeite, o louro e os alhos. Cubra a azeite de oliva extravirgem quanto baste
assadeira com papel-alumínio e asse o bacalhau 20 fatias finas de pão torrado
em forno baixo preaquecido, a 150ºC, durante 25 100 ml de vinho branco seco
minutos. Retire do forno e reserve. 30 ml de vinagre de vinho branco

cebolada aqueça o azeite em fogo baixo e refogue bochechas de porco salgue as bochechas na
a cebola com o alho e o louro. Quando a cebola véspera. No dia seguinte, tempere-as com a
começar a murchar, tempere-a com sal e pimenta páprica, um pouco de azeite e a pimenta-do-reino.
e reserve. Leve-as para assar em forno baixo, preaquecido, a
120ºC, por 6 horas. Depois de assadas, corte-as em
batatas descasque as batatas e cozinhe-as até pedaços menores. Aqueça uma frigideira em fogo
ficarem al dente. Corte-as em rodelas e frite-as com médio e salteie as bochechas picadas com o
bastante azeite até ficarem douradas. restante dos ingredientes, menos o pão, regando
com o vinho e o vinagre para finalizar.
para servir coloque as batatas já fritas em uma
assadeira. Disponha o bacalhau por cima delas e para servir coloque as bochechas em um prato
finalize cobrindo com a cebolada. Leve o peixe ao raso, acrescente o molho vinagrete e sirva com
forno alto apenas para dourar. Retire-o do forno, regue as fatias de pão torrado.
com azeite, polvilhe com a salsa picada e sirva.

dica do chef se tiver dificuldade para achar as


dica do chef para manter a umidade do bochechas de porco, substitua a carne por pescoço
bacalhau, não remova a pele ou as espinhas do de porco. A carne também pode ser assada por
peixe ao assá-lo. Isso ajuda a manter a suculência mais tempo, até que comece a desmanchar.
do peixe, e as peles e espinhas podem ser
removidas antes de o prato ser servido.

rendimento 10 porções rendimento 10 porções


preparo 1 hora preparo 7 horas (+ 12 horas de pré-preparo)
execução fácil execução moderada

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O clássico bacalhau com


batatas, tomates e cebolas

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atum com purê de berinjela salada de polvo

atum 10 lombos de atum (200 g cada); polvo 1 polvo grande (3 kg); 5 dentes de alho
sal e azeite de oliva extravirgem quanto bastem cortados ao meio; 200 g de cebola picada; 1 litro de
caldo de legumes; 1 folha de louro; 5 pimentas-da-
chutney 1 kg de tomate picado, sem pele e sem jamaica; azeite de oliva extravirgem quanto baste;
sementes; 200 g de cebola picada; coentro em grãos 100 g de cebola picada; 150 g de pimentões sem
a gosto; 50 g de alho picado; 20 g de mel; casca, em cubos pequenos; 200 g de tomate sem
1 pimenta malagueta, em cubos pequenos; casca, em cubos pequenos; 10 folhas de hortelã,
100 ml de vinho branco; 50 ml de azeite de oliva fatiadas finamente; 30 ml de vinagre de vinho tinto;
extravirgem; 30 ml de vinagre de vinho branco; flor de sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto;
flor de sal e pimenta-do-reino moída quanto bastem 500 g de mandioquinha frita; sal a gosto

vinagrete 500 g de tomate sem pele e sem caldo de legumes 1 talo de alho-poró; 1 cebola
sementes, em cubos; 300 g de manga em cubos; descascada; 1 cenoura descascada, em cubos
20 g de gengibre picado; 100 ml de azeite grandes; 1 talo de salsão cortado em pedaços
extravirgem; 30 ml de suco de limão-galego; grandes; 1 folha de louro; 1 colher (café) de pimenta-
15 folhas de poejo; flor de sal a gosto do-reino em grãos; 1,5 litro de água fria

purê 1 kg de berinjela; 1 kg de cogumelos-de-paris caldo de legumes coloque todos os ingredientes em


picados; 3 dentes de alho; 150 g de cebola picada; panela grande e cubra-os com a água. Cozinhe-os em
100 ml de azeite de oliva extravirgem; 100 ml de fogo alto, até levantar fervura. Baixe o fogo e deixe
vinho branco; sal e pimenta-do-reino a gosto apurar por 45 minutos. Retire o caldo do fogo, deixe
esfriar e coe-o numa peneira fina.
atum tempere o atum com sal e doure-o em azeite,
em fogo alto, por 3 minutos de cada lado. Reserve. salada de polvo coloque o polvo em uma assadeira
grande com 1 litro de azeite, o alho, a cebola, o caldo
chutney aqueça o azeite numa panela e doure a de legumes, o louro e as pimentas. Cubra tudo com
cebola, o alho e o coentro, em fogo médio. Adicione papel-alumínio e leve ao forno baixo, a 150ºC, por
mel, tomate, vinho e vinagre. Cozinhe em fogo baixo 2h30. Depois de cozido, corte o polvo em pedaços de
por 20 minutos. Tempere com flor de sal e pimentas. 5 cm e doure-os em azeite de oliva, numa frigideira
bem aquecida. Misture o polvo cozido e dourado com
vinagrete misture todos os ingredientes em uma a cebola picada, os pimentões, os tomates e tempere
vasilha e tempere com a flor de sal a gosto. Reserve. com 100 ml de azeite, o vinagre e a hortelã. Finalize
com flor de sal e pimenta-do-reino a gosto.
purê asse as berinjelas em forno preaquecido, a
200ºC, com 1 fio de azeite e sal. Depois de assadas, mandioquinha descasque as mandioquinhas, lave-as
retire seu miolo. Em outra panela, aqueça 1 fio de azeite e seque com papel toalha. Corte-as em rodelas.
e salteie os cogumelos com alho e cebola, em fogo Ponha uma panela com bastante água para ferver e
alto. Regue com o vinho e deixe o líquido evaporar. escalde as mandioquinhas por alguns segundos nessa
Coloque o cogumelo e o miolo da berinjela com o água. Frite-as por imersão em óleo bem quente.
restante do azeite no liquidificador e triture até formar Escorra em papel toalha, tempere com sal e reserve.
uma pasta. Tempere com sal e pimenta e reserve.
para servir distribua as mandioquinhas nos pratos e a
para servir coloque o atum, o chutney sobre o salada de polvo ao lado. Sirva em seguida.
atum e o purê ao lado. Distribua o vinagrete em
volta do prato e sirva. dica do chef se não achar polvo de 3 kg, use
polvos menores e cozinhe por 1h30.
dica do chef se não achar poejo, use hortelã.

rendimento 10 porções preparo 2 horas rendimento 10 porções preparo 4 horas


execução moderada execução fácil

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O atum com purê


de berinjela e chutney
de tomate

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terraàvista

A carne de boi com


cogumelos e farofa
de chouriço

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Os quatro doces formam
o menu degustação de
sobremesa terraàvista

rabo de boi com cogumelos


e farofa de chouriço
4 kg de rabo bovino; 800 g de tomate sem pele
e sem sementes; 4 dentes de alho cortado em
lâminas; 250 g de cebola em cubos; 300 g de
cogumelos-de-paris cortados em 4 partes;
2 folhas de louro; 500 ml de vinho tinto seco
300 ml de caldo de carne; 100 ml azeite de oliva
extravirgem; alecrim e salsa a gosto; sal e pimenta-
do-reino moída na hora a gosto; ciboulette quanto
baste para decorar

cogumelos 1 kg de cogumelos shiitake; 1 kg de


cogumelos shimeji; 5 dentes de alho cortado em
lâminas; azeite de oliva extravirgem quanto baste;
confira estas receitas no
sal e pimenta-do-reino moída na hora a gosto; www.revistamenu.com.br

folhas de hortelã a gosto

farofa 500 g de farinha de mandioca fina torrada;


100 g de chouriço português

caldo de carne 1 kg de canela de boi, com a rótula; em 10 porções individuais. Pouco antes de servir,
1 cenoura com casca; 1 cebola com casca; 4 dentes aqueça os pedaços de rabo bovino em forno alto,
de alho com casca; 2 tomates com casca; 1 alho-poró preaquecido, a 200ºC.
1 talo de salsão; 300 g de aparas de carne bovina
2 litros de água; 200 ml de vinho tinto seco; 1 folha cogumelos numa frigideira ou panela grande, aqueça
de louro; azeite de oliva quanto baste um pouco de azeite e salteie os cogumelos com o
alho em fogo alto. Tempere a mistura com sal, pimenta
caldo de carne asse os ossos em forno alto, a 200ºC, e folhas de hortelã.
até ficarem bem dourados. Enquanto isso, aqueça o
azeite numa panela grande e refogue os legumes farofa desidrate o chouriço em forno bem baixo
e as aparas de carne. Adicione o louro e o vinho tinto, preaquecido, a 120ºC, por 1 hora. Em seguida, triture
raspando bem o fundo. Transfira os ossos da assadeira o chouriço com a farinha de mandioca em um pilão
para a panela. Cubra tudo com a água e deixe ou liquidificador.
cozinhar de um dia para o outro em fogo bem baixo.
para servir em um prato retangular, coloque o rabo
rabo de boi e molho tempere o rabo bovino com bovino, os cogumelos e a farofa um ao lado do
sal e deixe descansar por 8 horas. Após esse período, outro. Decore com ciboulette, finalize com o caldo
transfira o rabo de boi para uma assadeira grande e da rabada e sirva.
acrescente os ingredientes restantes. Cubra bem a
assadeira com papel-alumínio e leve-a ao forno baixo
preaquecido, a 120ºC, por 6 horas. Depois de assado, dica do chef esta receita também pode ser
transfira o rabo de boi para uma tigela e coe o caldo feita com outros cortes de carne como costela,
que restou na assadeira. Leve o caldo ao fogo baixo, fraldinha ou cupim.
deixe reduzir até encorpar um pouco e corrija os
temperos. Reserve o molho para a finalização. Desfie
a carne do rabo de boi e coloque-a numa assadeira rendimento 10 porções
forrada com filme plástico. Cubra a carne com mais preparo 16 horas (+ 12 horas
filme plástico e coloque um peso sobre ela para fazer para o caldo de carne)
pressão e compactá-la. Desenforme e corte a carne execução moderada

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menubrasil

obrigado,
produtor
O chef Laurent Suaudeau faz um
já tradicional almoço de Natal para
agradecer a seus fornecedores e
parceiros ao longo do ano

por Suzana Barelli ilustração Luciana Bicalho

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menubrasil

É com um tímido sorriso nos lábios e uma taça de es-


pumante rosé nas mãos que o chef Laurent Suaudeau
recebe seus convidados para um almoço de fim de ano.
Na porta de sua escola de cozinha em São Paulo, Laurent
parece um pouco apreensivo, como se fosse mais fácil
preparar um banquete de oito pratos para Alain Ducasse
(ele fez isso na última visita do estrelado francês à cidade
em meados do ano passado) do que exercer o papel de
anfitrião. Pergunta para a assistente se todos realmente
confirmaram presença e comenta que não é fácil con-
seguir espaço na agenda das pessoas na correria de de-
zembro. São 20 e poucos produtores esperados para esse
encontro, que já está virando uma tradição para Laurent.
Desde que inaugurou a Escola da Arte Culinária Laurent,
num casarão na rua Groenlândia, em 1999, o chef fran-
cês faz questão de oferecer um almoço de Natal para os
seus principais (e não os maiores) produtores.
“É uma forma de agradecer a nossos parceiros, de re-
conhecer seu trabalho”, diz o chef, que chegou ao País
na década de 1980 e logo ficou famoso por dar status
gastronômico a ingredientes brasileiros como a então
desprezada mandioquinha. Na lista de Laurent estão os
pequenos agricultores, os criadores de iguarias, como
foie gras ou galinha d'angola, e também os fabricantes de
equipamentos de cozinha – o retardatário do almoço (o
único que chegou quando o evento já tinha começado)
foi Robinson Gonzaga, que monta cozinhas sob medida
para os profissionais do setor. E ele se atrasou exatamen-
te por estar atendendo um cozinheiro em apuros.
Em comum, os convidados podem ser definidos
como fornecedores parceiros, daqueles que trazem in-
gredientes para o chef provar e palpitar, que escutam
atentamente as observações do cozinheiro, que pro-
curam desenvolver novos cortes de carne ou cultivar
produtos sob medida para as demandas da alta gastro-
nomia. “Muitos me procuraram quando estavam co-
meçando, queriam investir em produtos de qualidade,
em ingredientes que não existiam no Brasil”, diz Lau-
rent. E acrescenta: “Alguns, hoje, nem são mais tão pe-
quenos assim.” Um dos mais novos a chegar ao grupo
é Gonzalo Barquero, dono da Cerrado Carnes, que está
desenvolvendo um trabalho com 30 produtores parcei-
ros com carnes de caça brasileiras, como cateto, javali e
capivara, voltadas para a gastronomia.

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menubrasil

Aos poucos, os convidados vão chegando e o chef vai


ficando mais descontraído. O brinde é feito com um es-
pumante Terranova, da nacional Miolo – e não poderia
ser diferente nesse evento que valoriza os produtos lo-
cais. Laurent vai apresentando uns aos outros e revendo
velhos parceiros. “É o segundo ano que a dona Quité-
ria não vem. No ano que vem não te chamo”, brinca
o chef ao cumprimentar Luiz Tavares Monteiro, da
Granja Santa Rita, em Miracatu, interior de São Paulo.
Parceiros de longa data, Monteiro e sua mulher, Quité-
ria, estão desenvolvendo agora uma pata de leite para
o chef. E a pergunta sobre a aceitação da carne da ave
foi a primeira que o produtor fez ao chef ao chegar ao
almoço. “Ela foi aprovada com louvor. Todas as 30 uni-
dades foram vendidas”, disse Laurent. A pata de leite foi
uma das receitas do jantar de comemoração de 15 anos
do Cantaloup, restaurante que nasceu com consultoria
gastronômica de Laurent, em São Paulo.
Com o salão cheio, o já descontraído Laurent pede
a palavra. Apresenta todos os convidados, até a Menu
(é a primeira vez que ele convida um jornalista para o
evento e diz que a escolha se deu porque é uma revista
que foca na gastronomia e não apenas no glamour da
profissão). E brinca com a palavra networking. “Ela
não tem tradução para o francês, mas parece estar na
moda na nossa gastronomia. Aproveitem, portanto,
para fazer este relacionamento”, aconselha Laurent. O
chef conta ainda as novidades para 2012 – está apro-
vado o início das atividades do Instituto Laurent, que
deve abrir este ano em Paulínia (SP).
E o almoço começa. A surpresa é o próprio Laurent,
que faz questão de servir os convidados, ajudado por
dois garçons. Polenta com molho à bolonhesa, bacalhau
confit, com maionese quente e aïoli e lombo de cordeiro
com crostas de ervas e legumes confits estão no cardápio.
Nas mesas, as conversas versam sobre as dificuldades dos
produtores, com destaque para a complicada legislação
brasileira – Monteiro, da Granja Santa Rita, precisa do
SIF (Selo de Inspeção Federal) para exportar e narra
toda a sua saga. A conversa termina com uma sobreme-
sa de creme de chocolate, praliné e emulsão de cumaru.
O chocolate é da Callebaut, também marca parceira do
chef, e comprova, na prática, o discurso de Laurent de
que ignorar esses produtores é dar uma facada nas costas
da gastronomia nacional. Agora, é a promessa de se en-
contrarem no Natal de 2012.

44 janeiro/2012

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análise

46 janeiro/2012

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análise

A “segunda dentição”
da nossa gastronomia 
Chefs brasileiros se apresentam no Gastronomika,
fórum da vanguarda na Espanha, e mostram que, com
um empurrão, poderão criar em breve uma nova linguagem,
como o movimento modernista da década de 1920

por Carlos Alberto Dória

A terra que tem palmeiras, onde canta o sabiá, só se avista de lá. Em A canção do
exílio, Gonçalves Dias propõe o deslocamento como ponto de observação. E deu
gosto ir até lá, no caso a cidade basca de San Sebastián, para ver os chefs brasileiros
no palco da 13ª edição do Gastronomika 2011, congresso que se propôs a discutir
as gastronomias evolutivas, emergentes e diversas, no fim de novembro e que con-
tou com um público de 12.500 pessoas, segundo os organizadores. Por emergentes
leia-se a América Latina, com Brasil, Peru e México em destaque.
Depois de tanta luta solitária, pela primeira vez cinco dos mais destacados pro-
fissionais brasileiros estavam sob os holofotes da gastronomia: E nós fizemos bo-
nito, a cada chef que subia ao palco. Alex Atala, do D.O.M., trouxe seu discurso
sobre o primitivo e o moderno; Helena Rizzo, do Maní, nervosa, optou por ler
um poema-manifesto; Rodrigo Oliveira, do Mocotó, seguro no seu terroir ser-
tanejo, como se fosse um México escondido no Brasil; e Roberta Sudbrack, do
restaurante que leva seu nome, desdobrando o milho e a banana em emoções
e lembrando que seu mis en place começa na roça. Por fim, o francês de alma
tupiniquim Claude Troisgros, do Olympe, com ares de tio de todos, como um
Juan Mari Arzak brasileiro.
Entre eles, não havia espírito de equipe, é verdade. E cada um mostrou o
seu trabalho como se ele representasse o Brasil inteiro e pedindo desculpas
por ele ser tão imenso e variado, incapaz de caber num palco. No discurso
das culinárias emergentes, a identidade nacional pareceu se opor aos avanços
dos ingredientes disseminados pelo Ocidente e, ao mesmo tempo, se apoiar
naqueles do território original. A consagração gastronômica do dinamarquês
Noma, eleito pelo segundo ano consecutivo o melhor restaurante do mundo
pela revista inglesa Restaurant, não deixa dúvidas sobre essa tendência ao frisar
o local acima de tudo. Mas a modernidade não é só isso e também segue no
sentido contrário: pela universalização de técnicas e tecnologias materializadas
em várias máquinas e procedimentos.
Os europeus são mestres nisso. Quando se visita um restaurante basco, dito de
vanguarda, o chef nos leva, em primeiro lugar, para conhecer seu laboratório. É
um espaço de experimentação, assistido por especialistas acadêmicos, que permite
criar coisas surpreendentes a partir do banal, como a “terra” de beterraba liofili-
zada. Quem conta com laboratórios avança mais do que quem não conta. E os
brasileiros ainda não têm dentes tão afiados.

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análise

divulgação e reprodução
Os brasileiros no palco,
os chefs participantes
e seus assistentes

Os emergentes, mastigando ainda com dentes da pri- mos voltar sempre à conciliação étnica e cultural. Essa é
meira dentição, preferem a familiaridade dos ingredien- uma ilusão alimentada pela distância entre o componen-
tes próprios. Contudo, desde o ciclo das navegações, te popular da culinária e a elite que tem acesso à dinâmi-
também eles se disseminam. Comi tapas em Bilbao, fei- ca e inovação da cultura universal.
tos com yuca (mandioca). Então, o que será, daqui para a A Espanha, uma nação constituída por vários povos,
frente, a nossa vanguarda? Quando, anos atrás, o catalão construiu uma linguagem culinária universal ancora-
Ferran Adrià disse que o futuro da gastronomia estava na da no gosto tradicional mediterrâneo. Adrià chamou a
Amazônia, fez uma observação sempre esquecida: será descoberta desse mínimo denominador comum de “me-
preciso dar escala comercial aos seus produtos e difun- diterranização da cozinha espanhola”. Por mais ousadas
di-los pelo mundo com regularidade. Estamos longe de que sejam as criações, elas sempre remetem aos infinitos
conseguir isso. Mesmo o licuri fresco, que Helena Rizzo sabores populares, como o bacalhau, a merluza, o porco
utiliza com maestria, os brasileiros não conhecem. e seus derivados, a azeitona, os legumes e verduras. E dá
Ainda que os chefs de vanguarda valorizem os produ- gosto ver o minimalismo de Andoni Aduriz, do Muga-
tos locais, o conceito de vanguarda não decorre deles. ritz, ao criar um prato apenas com cebola, azeite de oliva
Ele é o lúdico que se constrói a partir de qualquer coisa, e língua. Pura celebração sobre o banal, que até lembra a
mas nossa gastronomia está encapsulada na limitação do linha de pesquisa escolhida por Roberta Sudbrack.
que acreditamos ser nosso diferencial precioso. Enquan- E, como nas improvisações de jazz, os espanhóis Dani
to os chefs espanhóis se dedicam aos laboratórios, nós García, do Calima, Pepe Rodriguez, do El Bohío, e Paco
gastamos nossas energias com problemas de logística. Ao Roncero, de La Terraza del Casino, apresentaram pratos
naturalizarmos a nossa gastronomia, inconscientemente utilizando temas dos emergentes, reinterpretando-os:
buscamos nova eficácia para o modelo agroexportador – gusanitos de seda, feitos de morango, ou uma alegoria
o que Adrià, aliás, parece desejar. com porco e feijoada. Vale tudo quando a imaginação
Há, porém, uma ideia que atrapalha muito os brasilei- é livre e os recursos técnicos estão disponíveis. Esse é o
ros: a quase obsessão em mostrar que somos, ao mesmo exercício do que se chama gastronomia de vanguarda. Os
tempo, modernos e primitivos; que respeitamos a tradi- espanhóis mostraram grande habilidade em brincar com
ção, mesmo quando fazemos cozinha moderna; que so- ingredientes latino-americanos.
mos escravos e senhores, e assim por diante. Vivemos na No geral, contudo, os brasileiros exercem a criatividade
encruzilhada, parecem dizer os chefs. em um caminho quase hermético: vamos ao palco com o
Esse é um discurso que nos remete a um Brasil pré- licuri fresco, o tucupi, o pirarucu, a pupunha, sendo que
modernista, se compreendermos que a geração moder- a audiência estrangeira não conhece esses ingredientes
nista dos anos 1920 conseguiu superar essas fissuras nos nem terá acesso a eles em um horizonte plausível. Se al-
representando como mestiços originais.Todo mundo mejam um lugar na vanguarda mundial, precisam defi-
que tenha lido Gilberto Freyre sabe disso. Não precisa- nir uma nova estratégia. E ela passa por se organizarem e

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análise

também por reivindicar recursos públicos, se a gastrono-


mia é tomada como elemento que impulsiona o desen-
volvimento. Com justeza, Alex Atala denunciou que os
brasileiros comparecem aos eventos na raça, enquanto os
europeus contam com largo apoio público para se dedi-
carem à gastronomia. Basta visitar o recém-inaugurado
Basque Culinary Center, em San Sebastián, para se tomar
consciência da grandeza desse apoio. é justo reivindicar
um empurrão dos poderes públicos.
Igualmente importante é mudar o discurso sobre o
País. A bipolaridade entre o tradicional e o moderno
já não diz nada. Foi superada pelo modernismo e pelo
tropicalismo brasileiros. Em nossa cultura, não há mais
contas a ajustar com o passado. Mas vale lembrar que a
Revista de antropofagia, liderada por Oswald de Andrade
em 1928, teve sua segunda fase, em 1929, como “segunda
dentição”. “A Revista de antropofagia não tem orientação
ou pensamento de espécie alguma: só tem estômago”,
diziam seus membros. Já na segunda dentição, ela era
ideologicamente mais definida e fazia análises críticas da
sociedade, da cultura e da história do Brasil.
A gastronomia brasileira precisa de novos dentes para
morder mais forte. Pelo que se viu no Gastronomika, a se-
O enorme auditório do
gunda dentição pode estar despontando. Há muita garra
Gastronomika, e
e criatividade – coisas que independem da nossa natureza os pratos de Helena
generosa. E é preciso tomar essa apenas como contingente, Rizzo (acima) e Rodrigo
não como razão da nossa futura projeção mundial. Oliveira (ao lado)

O AUTOR
No mundo da gastronomia, Carlos Alberto Dória (foto) é conheci-
do por seus livros – são de sua autoria Estrelas no céu da boca, Com
unhas, dentes e cuca, A culinária materialista e A formação da culi-
nária brasileira – e pelo seu atuante blog www.ebocalivre.blogspot.
com. Sociólogo formado pela Universidade de São Paulo, Dória
atualmente cursa o pós-doutorado na Unicamp, universidade onde
também ministra cursos, como Introdução à Sociologia da Alimen-
tação, Formação da Sociedade Brasileira e sobre o pensamento de
Darwin. Nas décadas de 1980 e de 1990, ele foi sócio de vários res-
taurantes, como Danton, Machiavelli, Badaró, Nabuco, todos em São
Paulo. Doria escreveu esta reflexão sobre a gastronomia brasileira ao
acompanhar o Gastronomika, evento que acompanhou, convidado
pelo Escritório de Turismo da Embaixada da Espanha e pela TAP.

50 janeiro/2012

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água de coco
Confira o resultado da degustação de dez versões
engarrafadas da bebida preferida do verão

por Beatriz Marques fotos Sheila Oliveira/Empório Fotográfico produção Melissa Thomé

Sol e praia são os desejos de muitos brasileiros no calor, que chega com rigor no mês de
janeiro. É com os pés na areia e vista para o mar que costumamos saborear a água de coco
direto da fruta, tinindo de gelada, para amainar as altas temperaturas da estação. Mas, para
quem está longe do litoral e não tem acesso à bebida in natura, a solução está nas versões
esterilizadas ou pasteurizadas, que dão vida longa à água de coco e, atualmente, chegam a
diferentes pontos do País e também no Exterior.
O consumo da água de coco gira em torno de 350 milhões de litros por ano no Brasil.
A maioria, 300 milhões, são da bebida in natura. Mas esta categoria de produto considerado
ainda jovem no mercado – as primeiras versões industrializadas foram lançadas no início deste
século – já chama a atenção das grandes empresas. A Kero Coco, da gigante PepsiCo, por exem-
plo, cresceu em 15% o volume de vendas no ano passado. E a Maguary, conhecida pelos sucos
concentrados, acaba de estrear nas gôndolas dos supermercados, com a marca Puro Coco.
Com tantas opções disponíveis nas prateleiras, a Menu decidiu degustar às cegas (sem
identificar o rótulo) dez águas de coco, entre esterilizadas e pasteurizadas, com um conhe-
cedor da causa: o chef baiano Rafael Sessenta. Depois de ter restaurantes e uma escola de
cozinha em Salvador, Sessenta decidiu trazer os sabores de sua terra para a capital paulista e,
desde o início do segundo semestre de 2011, está à frente do Sotero.
Para fazer seu leite de coco e oferecer a água in natura para a clientela, Sessenta vai até o
Mercado Municipal, no centro de São Paulo, para comprar o coco “de vez”. “Aquele que não
é nem verde nem maduro”, explica o especialista. O melhor coco para beber, segundo o chef,
deve ser pesado, ter a pele muito lisa e a parte superior, onde se segura o coco, precisa ser mais
verde. “Agora, para saber se está doce ou não, só abrindo”, se diverte.
Mas no caso das versões em caixinha, esse risco não ocorre. A maioria das empresas adicio-
na uma quantidade mínima de sacarose para padronizar a doçura. Antes, a bebida é subme-
tida a uma temperatura entre 130 e 140ºC por três a quatro segundos, no chamado processo
de esterilização comercial. Ainda há os produtos pasteurizados, em que a temperatura atinge
cerca de 90ºC por períodos entre 30 e 60 segundos. “Nesse último caso, a água de coco não
pode ser estocada em temperatura ambiente e deve ser mantida entre 3 e 4ºC”, explica Fer-
nando Abreu, engenheiro de alimentos da Embrapa Agroindústria Tropical.
Água de coco seco, conservantes, acidulantes e outros aditivos químicos são permitidos
por lei para a maior manutenção da bebida em caixinha. Abreu destaca que outro diferencial
da água de coco é o seu aspecto pouco calórico e a alta disponibilidade de sais minerais. “A
acervo de produção

banana possui o mesmo potencial de potássio, porém tem uma alta taxa de calorias, promo-
vidas pelo alto conteúdo de açúcar”, exemplifica. Aspectos saudáveis à parte, será que a água
de coco em caixinha pode ser tão saborosa quanto a natural? Confira a seguir a prova das
dez marcas compradas no mercado paulistano e eleja sua preferida para fazer a bebida coco
espumante, receita típica do verão baiano, que Sessenta revela na página 89.

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acervo de produção

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1 – Puro Coco 6 – Coco do Vale
Água de coco pasteurizada, em Água de coco esterilizada, em caixinha,

1 caixinha, este exemplar da marca


Maguary é fabricado e envasado em
fabricada e envasada em Lucena (PB).
Mesmo com a menção “100% natural”,
Lucena (PB). Com antioxidante entre leva frutose, conservante e antioxidante.
os ingredientes, é quase translúcida De cor branca turva, tem aroma de coco
e tem pouco aroma do coco. Na seco. Sem acidez, nota-se o gosto da
boca, tem um fundo natural, mas embalagem e é bem doce na boca.
falta sabor da fruta e há doçura em R$ 5,80, 1 litro, na Casa Santa Luzia
excesso. R$ 6,39, 1 litro, no Futurama
2 2 – Rio
7 – Coco Ice
Água de coco pasteurizada, em
Água de coco pasteurizada, a única garrafa pet, é produzida e envasada
amostra em lata de alumínio é em Pentecoste (CE). Traz sacarose,
produzida e envasada em Tietê (SP). acidulante e conservadores entre
Feita com acidulante e conservantes, seus ingredientes. Um pouco turva,
apresenta pouca turbidez e carrega com partículas do coco suspensas,
aroma desagradável de coco quase não se nota seu aroma. É doce
passado. Na boca, remete a sabor no início e fica levemente azedinha e
químico e rançoso, é doce no início rançosa no final. R$ 3,46, 330 ml, na
e tem final ácido. R$ 2,73, 335 ml, na Casa Santa Luzia
Casa Santa Luzia
8 – Kero Coco
3 – Akoko Água de coco esterilizada, em caixinha,
Água de coco pasteurizada da produzida pela PepsiCo e envasada
marca Sufresh, em caixinha, é em Petrolina (PE) e em São Mateus
produzida e envasada em Caçapava (ES). É elaborada com água de coco
(SP). Com acidulante e conservantes, concentrada reconstituída, sacarose
é um pouco turva, com aroma de e conservador, tem cor branca turva,
coco seco e desidratado. Na boca, com forte aroma de coco maduro. Com
prevalece o gosto do coco maduro, doçura na medida, tem final levemente
levemente azedo no final. R$ 2,66, azedo. R$ 7,51, 1 litro, no Sonda
250 ml, no Pão de Açúcar
9 – Sococo
4 – Ducoco Água de coco esterilizada, em caixinha,
Água de coco esterilizada, em apresenta água de coco concentrada
caixinha, é produzida e envasada em reconstituída, sacarose e conservador
Itapipoca (CE). Entre os ingredientes entre os ingredientes. Fabricada e
estão água de coco concentrada e envasada em Maceió (AL), é levemente
reconstituída, frutose e conservador. turva, com aroma de coco suave. Tem
É bem transparente, com aroma doçura média, com sabor que lembra
químico que lembra cloro e que a água de coco natural, sem acidez e
reflete no paladar, com final doce. com leveza na boca. Foi o destaque da
R$ 6,81, 1 litro, no Sonda degustação. R$ 7,79, 1 litro, no Sonda

5 – do bem 10 – Fruit & Life


Água de coco esterilizada, em Água de coco pasteurizada, em garrafa
caixinha, é produzida e envasada em pet, traz a menção “100% coco-verde”,
Sorocaba (SP). Foi a única amostra mas possui conservantes, acidulante
sem aditivos, somente com a água e antioxidante. Produzida e envasada
de coco-verde. Levemente turva, em Águas de Lindoia (SP), tem cor
com aroma de coco passado, é um levemente turva e pouco aroma da
pouco ácida e salgada na boca, mas fruta. É bastante doce na boca, sem o
prevalece a doçura no final. R$ 6,90, sabor do coco e com final curto. R$ 3,18,
3 1 litro, na Casa Santa Luzia 330 ml, na Casa Santa Luzia

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matéria mundovinho

DESEMBARQUE
AUSTRÍACO
A uva branca grüner veltliner é o cartão-
postal dos vinhos austríacos. Com boa aci-
dez e certa nota cítrica, é a variedade branca
mais cultivada, com 20% dos 2,3 milhões de
hectolitros de vinhos produzidos por ano
no país. Mas a Áustria não é a pátria de uma
uva só. O país também elabora tintos, com
uvas autóctones como a sankt laurent, da
família da pinot noir, e outros brancos, com
a riesling e com as cepas mais aromáticas da
família da muscat. E orgulha-se, ainda, de
seus vinhedos biodinâmicos. “Mais de 20%
das vinícolas são orgânicas. É o maior volu-
me entre os países da União Europeia”, afir-
ma Ingomar Lochschmidt, o cônsul-geral
da Áustria no Brasil.
Foi o próprio Lochschmidt quem abriu
a apresentação dos vinhos do país, reali-
zada na Associação Brasileira de Somme-
liers – São Paulo, em meados de dezembro.
Promovido pela The Special Wineries, que
está trazendo vários rótulos do país para cá
(até então somente a Mistral importava os
vinhos austríacos para o Brasil), a ideia é
mostrar que os brancos, de bom frescor, e
os tintos, mais leves e frutados, combinam
58 DEGUSTAÇÃO
com o clima brasileiro. No evento, destaque
para o Zobing Riesling 2009, do produtor
65 NA TAÇA
Hirsch, com boas notas minerais, algo flo-
ral e boa acidez, e preço de R$ 108. E, para
REPORTAGEM
quem quer um vinho de sobremesa nos
66 Vinhos Gregos
moldes dos trockenbeerenausleses alemães,
feitos com uvas atacadas pela botrytis, a
71 QUIZ
dica é o TBA Essenz 2006, por R$ 310 a gar-
rafa de 375 ml.

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degustação reportagem na taça quiz

mundovinho
degustação

Brancos
portugueses
No país em que o tinto harmoniza com pescados, como o bacalhau,
vinhos elaborados com uvas como antão-vaz, viosinho, arinto
e alvarinho conquistam pelo frescor e pelas notas frutadas

por Suzana Barelli e Manuel Luz


fotos Rafael Hupsel/Ag. Istoé (garrafas)

Variedades autóctones não faltam a Portugal. De brancos nascem em vinhedos plantados em altitudes
norte a sul, o país tem uvas nativas que dão origem a que se beneficiam dos ventos mais frios. Se o objeti-
brancos de perfis bem distintos, dos leves e frutados aos vo é frescor, enólogos apostam na vinificação rápida,
minerais, daqueles com ótimo frescor até os mais com- em modernos tanques de aço inox, com temperatura
plexos e longevos. O perfil da bebida varia conforme a controlada. Esses profissionais também investem em
cepa escolhida, o terroir em que é cultivado e a propos- vinhedos cultivados com os clones corretos para cada
ta do enólogo ao vinificar as uvas. O fato é que varie- objetivo enológico – se a ideia é uma bebida mais com-
dade de estilos marca aos brancos da terrinha, outrora plexa, de nada adianta uma planta de alto rendimento,
conhecidos por aqui apenas (ou principalmente) pelos por exemplo – e parecem trabalhar, cada vez mais, no
seus vinhos verdes, levinhos e frisantes. vinhedo. Seja numa plantação antiga, ainda com as ce-
Os dias mais quentes do início do ano convidam a pas plantadas misturadas, seja nas mais modernas.
descobrir esses vinhos, que surpreenderam (positiva- Esta prova às cegas, com as garrafas compradas no
mente) nesta degustação, e são ideias para combinar mercado paulistano, foi realizada no restaurante North
com as receitas mais leves do verão. Do país em que o Grill e contou com a presença dos especialistas José Luiz
tinto reina – não raro nossos colonizadores indicam Pagliari, coordenador do curso de pós-graduação de vi-
um vinho elaborado com as uvas touriga nacional nhos do Senac de São Paulo, e Mauricio Tagliari, autor
ou tinta roriz para harmonizar com o bacalhau –, os do Dicionário do vinho. Os sommeliers presentes foram
brancos estão conquistando seu espaço, principal- Carina Cooper e Manuel Luz, este colunista da Menu, e a
mente pela sua qualidade e diversidade. equipe de jornalistas da revista.
Na taça, a impressão é que os produtores fizeram a
lição de casa e estão colocando em prática as noções North Grill
da enologia moderna. Se a região é muito quente du- Rua Jacques Felix, 365 – Vila Nova Conceição
rante a maturação das uvas, como o Douro, os bons (11) 3044-4885 – São Paulo – SP

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HORS- BOM CUSTO-
CONCOURS BENEFÍCIO

89,5 89 89 88 88
Redoma Branco Luís Pato Vinhas Paulo Laureano Quinta de Foz Muros de Melgaço
Reserva 2009 Velhas 2009 Premium 2010 de Arouce Branco 2009
Douro Bairrada Alentejo 2009 Vinhos Verdes
Beiras

Muitas vezes eleito Vinhedos antigos, Consultor de O conde João Apenas a alvarinho,
pela crítica o melhor plantados com várias vinícolas no Filipe Osório e seu com passagem
branco português, cerceal, sercealinho Alentejo, Paulo genro, o enólogo em madeira, dá
é elaborado por e bical, são a base Laureano faz este alentejano João origem a este
Dirk Nieeport com deste branco branco em sua Portugal Ramos, vinho premium de
rabigato, códega, de cor amarelo- própria vinícola, utilizam apenas Anselmo Mendes,
donzelinho, palha brilhante. numa mescla de a uva cerceal, que aposta nos
viosinho e arinto, Complexos aromas, 60% de arinto com que fermenta vinhedos do norte
de vinhedos de com notas florais 40% de antão-vaz. e amadurece da região dos
60 a 100 anos. intensas, cítrico Nos aromas, lembra por cinco meses Vinhos Verdes,
Fermentado e algo de ervas. notas florais, com em barricas de em Monção. Tem
e envelhecido É elegante no algo de ervas e carvalho, neste nítidas notas cítricas
em barricas por paladar, bem especiarias. Sedoso branco de cor no aroma, mesclada
oito meses, tem integrado, de em boca, com amarela brilhante. com a madeira, e
cor amarelo- corpo médio, com equilíbrio entre a Bons aromas, que algo de mel. No
palha brilhante. acidez viva e longa boa acidez e o teor mesclam notas de paladar, mantém a
Complexo nos persistência. Tem alcoólico (tem 13% leveduras, cítricos expressão da fruta,
aromas de frutas 12% de álcool. de álcool), com e algo de romã. com corpo de leve
brancas, notas US$ 33,90, na boa persistência. No paladar, é a mediano, com
florais e especiarias, Mistral R$ 53, na Adega bem equilibrado, algo de carvalho.
bem mesclada com Alentejana com frescor e Equilibrado, foge
a madeira. Elegante complexidade e do padrão dos
em boca, tem corpo notas de madeira vinhos verdes,
médio, integrado presente. Tem 13% pela qualidade e
com a acidez. Tem de álcool. R$ 125, persistência em
13,5% de álcool. na Decanter boca. Tem 13% de
US$ 109,50, na álcool. R$ 124, na
Mistral Decanter

60 janeiro/2012

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mundovinho
degustação

88 87,5 87,5 87 87
Margarida 2009 Passadouro Branco Vinha do Putto Esporão Reserva Branco da Gaivosa
Alentejo 2009 2008 Branco 2010 2010
Douro Bairrada Alentejo Douro

Susana Esteban é Elaborado por Jorge Carlos Campolargo O enólogo Este branco de
a enóloga deste Serôdio Borges com mescla arinto, australiano David Domingo Alves de
vinho de Margarida viosinho, rabigato verdelho e Baverstock faz Sousa, elaborado
Cabaço, do Monte e códega, tem chardonnay neste um blend com com consultoria de
dos Cabaços. É um cor amarelo-palha branco de nome as variedades Anselmo Mendes,
blend de 60% de brilhante e aromas infantil – “putto” antão-vaz, arinto vem de vinhedos
encruzado e 40% atraentes, que quer dizer criança e roupeiro, antigos, com cepas
de verdelho, que lembram frutas no interior de que fermenta, misturadas, como
fermenta em aço maduras, como um Portugal. Tem cor parcialmente, gouveio, viosinho
inox (uma pequena inesperado mamão, amarelo-palha, em barricas de e malvasia, entre
quantidade e algo mineral. No com notas de frutas carvalho. outras. De cor
fermenta em paladar, exibe bom brancas e secas O resultado é amarelo-clara, tem
barricas de frescor, até picante, (como amêndoas). um vinho de cor aromas florais com
carvalho). De cor com retrogosto De corpo leve, o amarelo-clara, com algo que lembra
amarelo-palha, tem vegetal e 12,5% de destaque é a boa aromas intensos pimenta. É frutado
aromas elegantes álcool. R$ 97,70, na acidez, com 13% que lembram frutas no paladar, com
de frutas tropicais Adega Alentejana de álcool. brancas (melão) e corpo médio e pede
e algo de ervas. No US$ 27,50, na cítricas (mexerica). um pouco mais de
paladar, seu corpo Mistral Mais encorpado, acidez. Tem 12,5%
é leve, o sabor é tem boca sedosa, de álcool. R$ 80,10,
frutado, com boa que pede comida. na Decanter
acidez e 14% de É longo em boca,
álcool. R$ 73, na com 14% de
Adega Alentejana álcool. R$ 70,
na Qualimpor

janeiro/2012 61

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mundovinho
degustação

86,5 86,5 86,5 86,5 86,5


Alvarinho Deu La Morgadio da Torre Quinta dos Roques Duque de Viseu Quinta do Cidrô
Deu 2010 2009 Encruzado 2009 2010 Chardonnay 2009
Vinhos Verdes Vinhos Verdes Dão Dão Douro

Com alvarinho A alvarinho é a A vinícola de Luís Variedades A universal


proveniente das cepa escolhida Lourenço elabora mescladas, com chardonnay
sub-regiões de pela vinícola do este branco apenas destaque para a também encontra
Monção e Melgaço, grupo Sogrape com a encruzado. bical e a encruzado, espaço em Portugal
ao norte de para este vinho de Uma pequena dão origem a este e revela sua
Portugal, a Adega cor amarela, com porcentagem branco da Quinta tipicidade neste
Cooperativa de notas intensas que fermenta em dos Carvalhais, branco de cor
Monção elabora lembram frutas barricas de madeira também vinícola do amarelo-clara, com
este branco de cor tropicais, cítricas e depois fica por grupo Sogrape, de nariz intenso de
palha amarelada, e mel. Em boca, sete meses em cor amarelo-clara baunilha, madeira
com leve frisante. é untuoso e com contato com as brilhante. Seus e frutas tropicais. É
É intenso nos acidez marcante. leveduras para aromas mesclam encorpado, sedoso
aromas, lembrando Tem 13% de álcool. obter maior frutas brancas e no paladar, com
notas cítricas, de R$ 78, na Zahil complexidade. De algo de frutas secas álcool evidente (tem
carambola e até cor amarelo-palha, e leve tostado. Tem 14,5%). É bem
lichia. Equilibrado seu nariz revela boca atraente, que elaborado para este
no paladar, com este tempo em pede comida, com tipo de vinho.
corpo leve, boa madeira, com notas final mineral e 13% R$ 70,10, na
acidez e de pouca de frutas maduras de álcool. R$ 57, Barrinhas
persistência. Tem e secas. No paladar, na Zahil
13% de álcool. tem sabor frutado
R$ 62, na Barrinhas marcado pela tosta
das barricas, com
bom equilíbrio e
13,5% de álcool.
R$ 94,85, na
Decanter

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86,5 86 86 86 85,5
Risco 2009 Contraste 2009 Quinta de Saes Vallado 2010 Quinta das
Península de Douro 2010 Douro Bágeiras Garrafeira
Setúbal Dão branco 2008
Bairrada

As uvas arinto e Na vinícola de Carla A Quinta da Pellada Este é o branco Vinhas velhas das
fernão pires são Costa Ferreira, seleciona seus básico da Quinta castas bical e maria
utilizadas pelo nasce este branco, melhores vinhedos do Vallado, uma gomes dão origem
enólogo António mescla de 60% de de encruzado, bical das vinícolas dos a este branco
Saramago para códega e 40% de e cerceal para este descendentes de de cor amarelo-
elaborar este rabigato. De cor blend. O resultado dona Antónia clara verdeal,
branco sem amarelo-verdeal, é um vinho de Adelaide Ferreira. com aromas que
passagem em tem aromas cítricos, cor amarelo- Mescla das uvas lembram flores,
madeira, de cor com toque de giz, palha brilhante, arinto, gouveio, como lírio, e frutas,
amarelo-clara calcário e certa com aromas rabigato e viosinho, como mamão
brilhante. No mineralidade. interessantes que tem cor amarelo- maduro. Com bom
nariz, mostra- No paladar, tem mesclam notas palha com toques corpo, se mostra
se já um pouco corpo de média florais e cítricas. No verdeais. De estilo desequilibrado
evoluído, com intensidade, bem paladar, mantém moderno, seus em boca, com
notas de melaço. equilibrado, com as notas florais, aromas lembram acidez bem alta.
Em boca tem acidez rica e com corpo médio, notas cítricas, como Tem 13,5% de
sabor encorpado, refrescante. Tem mas tem um álcool lima da pérsia, e álcool. R$ 123, na
bem integrado 13% de álcool. R$ um pouco acima morango verde. Premium
entre álcool, sabor 82, na Viníssimo (tem 13% de teor Tem corpo leve,
frutado e acidez. alcoólico). US$ 33, com boa acidez e
Tem 13% de na Mistral fruta tropical no fim
álcool. R$ 66,20, na de boca, com 12%
Viníssimo de teor alcoólico.
R$ 55, na Cantu

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mundovinho
degustação

85,5 85,5 85 84
Quinta da Van Zellers 2009 Herdade dos Grous Ensaios Filipa Pato
Chocapalha 2009 Douro 2009 2009 O caminho
Lisboa Alentejo Bairrada do Douro
Ao escolher os vinhos
para esta degustação,
surpreendeu a oferta
de brancos elaborados
no Douro, ao norte
de Portugal. É uma
variedade que não
existia poucos anos
atrás no mercado
brasileiro (e, talvez,
até no mundial).
Mostra mais uma
mudança de perfil desta
que foi a primeira região
demarcada na produção
de vinhos, ainda no
século 18. De clássica
área de vinhos do Porto,
o Douro soube migrar
para a elaboração de
tintos secos, sem perder
A vinícola da família Cristiano Van Arinto, roupeiro A jovem enóloga a qualidade de seus
de Sandra Tavares Zellers seguiu a e antão-vaz são Filipa Pato mescla fortificados vintages
da Silva Palha utiliza tendência dos as uvas escolhidas arinto e bical e LBV. E, agora, nos
71% de viosinho e demais Douro Boys pelo enólogo neste vinho de cor anos recentes, caminha
29% de arinto no e apostou em um Luís Duarte neste amarelo-palha bem também para se
blend deste branco branco, que nasce branco alentejano clara, com aromas consolidar nos brancos
de cor amarelo- de um vinhedo de de cor amarelo- que lembram secos. Os vinhedos,
palha com notas mais de 60 anos, clara brilhante. Seus fruta branca mais muitos deles mais
verdeais, e aromas plantado com aromas lembram madura. Simples antigos e com variedades
que lembram notas cepas misturadas, maçã verde e mel, em boca, com plantadas todas
cítricas (como fermentado e com um toque destaque para o seu misturadas, fornecem
mexerica), com algo envelhecido em de madeira. No frescor, com corpo uvas para o Porto branco
lácteo no início, que barricas por nove paladar, é mais leve e 12,5% de e também para os secos.
depois evolui para meses. De cor encorpado, mas lhe álcool. R$ 46, A qualidade da uva e a
uma fruta tropical. amarelo-palha falta acidez. É um na Casa Flora/Porto sabedoria dos enólogos
Em boca é seco, brilhante, seus branco no estilo a Porto mostra que há espaço
com álcool presente aromas mesclam novo mundo, de também para esses
(tem 13% de teor frutas tropicais, com uma região mais vinhos – não é à toa que
alcoólico) e pede algo de madeira e quente. Tem 13% a maioria dos críticos
um pouco mais de notas medicinais, de álcool. R$ 65, na considera o Redoma
acidez. lembrando até Épice Reserva o melhor
R$ 63,70, na Adega uísque. Bem seco branco do país. Só um
Alentejana em boca, com porém: esses melhores
corpo leve e bom vinhos, mais complexos,
equilíbrio. Tem são também os mais
13,5% de álcool. caros. Ao menos, por
R$ 69,80, na enquanto.
Vinho Sul
(Suzana Barelli)

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degustação reportagem na taça quiz

mundovinho
na taça por Manuel Luz

Opções ao
vinho verde
Por muito tempo, o único branco portu-
guês reconhecido no Brasil era o chamado
vinho verde. Da década de 1970 até o fim dos
anos 1990, o Brasil foi responsável por quase
15% de tudo que se produzia na região do
Minho, no norte de Portugal, onde esses ró-
tulos são elaborados. Desde o início dos anos
2000, nota-se uma mudança na preferência
dos consumidores pelos vinhos brancos do
Chile e da Argentina e pelos espumantes
brasileiros. Isso resultou na queda do consu-
mo dos vinhos verdes. Rápidas, as vinícolas
portuguesas estão sabendo se reposicionar
e substituir a oferta de brancos frisantes e do Porto branco, são as estrelas dos bran-
docinhos, como muitos dos vinhos ver- cos secos do Douro. Resultam em vinhos
des, por uma bebida mais séria, de maior riquíssimos em sabor e textura, que estão
qualidade. Mais: os próprios vinhos verdes entre os melhores daquele país. Nas regi-
estão muito bem representados, agora fo- ões do centro, como Bairrada, Dão, Tejo e
cados em cepas mais complexas da região e Estremadura, reinam a arinto e a fernão-
uma elaboração mais cuidadosa. pires, esta também chamada de maria go-
Portugal tem um tesouro enológico pre- mes. No Alentejo, ao sul, os melhores re-
servado, que são suas uvas nativas. Com sultados são da roupeiro e a antão-vaz.
elas, seus enólogos conseguem elaborar Evidentemente que há muitas outras uvas
brancos e tintos de sabores únicos e muita na terra de Camões, mas listei aqui as mais
personalidade. Nas brancas, as uvas alvari- representativas e que podem ser facilmente
nho, loureiro e trajadura são usadas para encontradas no mercado brasileiro. O con-
elaborar os vinhos verdes e também os de- sumidor encontrará em um ou outro vinho
mais vinhos do Minho e de Trás-os-Montes nomes como padernã, avesso, borraçal, es-
e Beiras, regiões do norte do país. As uvas padeiro, rabigato, malvasia, rabo-de-ovelha.
viosinho e gouveio, tradicionais no vinho Não tenha medo. Prove e divirta-se.

estou bebendo O Vinha da Defesa 2008. Elaborado no Alentejo, é um corte de arinto, roupeiro e antão-vaz, com muito frescor
e sabor frutado, além de ter um aroma bem fragrante que lembra maçã e melão maduros. Custa R$ 55, na Qualimpor.

Sommelier profissional há 15 anos, Manuel Luz é também formado em história, com especialização
em filosofia e teologia. Trabalha como consultor do Senac-SP e da wine.com.br.

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com a bênção
do olimpo
Na ilha grega de Santorini, as videiras
crescem livres, sem o risco das pragas

por Tânia Nogueira, de Santorini

foto shutterstock

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degustação reportagem na taça quiz
vinhos gregos
mundovinho
reportagem

Quem desembarca em Santorini logo repara na vegetação rasteira que cobre


boa parte dessa ilha grega. Se estiver ali atrás dos encantos de Dionísio, com cer-
teza o turista irá procurar pelos vinhedos por horas antes de perceber que as tais
plantas que crescem junto ao solo são, na verdade, parreiras que ocupam 14 dos
73 quilômetros quadrados da ilha. Isso não é nada comum. Com raras exceções
no mundo, as videiras são cultivadas de forma a que seus frutos nasçam distantes
do solo. Uma das razões é evitar várias das pragas que podem atacar a planta.
Mas, em Santorini, não há pragas. Nunca houve. A ilha passou ilesa pela filoxera,
o inseto que dizimou os vinhedos da Europa no século 19, e tem vinhas velhas
cujas raízes podem ter centenas ou até milhares de anos.
Famosa pela mineralidade de seus brancos e pela elegância de seu vinho de
sobremesa, o vinsanto, Santorini convive com a cultura da uva desde a Idade do
Bronze. Achados arqueológicos provam que a uva era cultivada por lá no século
17 a.C. Por volta de 1620 a.C., uma grande erupção vulcânica deixou a ilha com o
formato que tem hoje: de uma grande cratera cheia de água com uma face aberta
para o mar – Santorini é, na verdade, um vulcão, que faz parte do arco vulcânico
do mar Egeu. Essa erupção soterrou toda a população e suas plantações e deixou
várias camadas de solo vulcânico na ilha. Em 1200 a.C., Santorini voltou a ser
habitada, o cultivo das videiras foi retomado e tornou-se uma das principais ativi-
dades econômicas locais. E continua até hoje.
Conhecida pelos antigos dóricos como Thira e assim chamada pelos gregos até
hoje, Santorini foi colonizada pelos venezianos no século 13. Estes a chamavam de
Santa Irene, de onde derivou o nome atual. Quando os venezianos chegaram,
encontraram por lá um vinho branco doce, feito de uvas passificadas. Não tardou
para levarem esse vinho para todos os portos por onde navegavam. Logo, a bebida
passou a ser conhecida como vinho de Santorini e, depois, apenas como vinsanto.
Hoje, seus produtores afirmam categoricamente que o vinsanto não é italiano: é
grego, levado para a Itália pelos venezianos. “Há descrições do século 1 de um
vinho com as mesmas características do vinsanto”, diz Yannis Paraskevopoulos,
sócio e enólogo da Gaia, que em 2012 deve lançar seu primeiro vinsanto. Na atu-
alidade, os gregos conquistaram na União Europeia o direito de ser os únicos a
usar a denominação vinsanto. “Na Itália, eles têm de escrever vinsanto de Toscana,
vinsanto de não sei onde”, afirma Paraskevopoulos.
Esta é apenas uma das histórias que comprovam a tradição grega nos vinhos.
Foram eles que espalharam as vinhas pelo Ocidente, mas sua vinicultura ficou um
tanto estagnada nos tempos modernos. Até a entrada para a União Europeia, o
país não tinha, por exemplo, um sistema de denominação de origem. Era mais
conhecido no mundo pelo retsina, vinho ao qual se acrescenta resina de pinheiro.
Originário da Ática, esse vinho passou a ser produzido quase no país inteiro. Hoje
existem retsinas de qualidade, elaborados a partir das melhores castas brancas,
mas até há pouco tempo os retsinas eram feitos de uvas de má qualidade.
As vinícolas mais modernas começaram a surgir na década de 1990 e estão
mudando o perfil do vinho grego. “O foco hoje é fazer grandes vinhos, moder-
nos, mas com uvas autóctones”, diz Joel Butler, master of wine norte-americano
que está escrevendo um livro sobre os vinhos dos países bíblicos. Em Santorini
foto shutterstock

Ao lado, os estão catalogadas 53 variedades de uva, várias delas autóctones, originárias da


vinhedos antigos na própria ilha ou da região. A assyrtiko é a mais cultivada e representa 80% das
ilha de Santorini uvas brancas locais. Os vinhos da Opap (sigla para denominação de origem de

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mundovinho
reportagem vinhos gregos

fotos divulgação
Na ilha, as videiras são
alta qualidade, em grego) Santorini são sempre brancos, cultivadas de uma forma única,
a maioria deles caracterizada pelo frescor e toque mine- chamada de kouloura, que
ral. A mineralidade vem do solo vulcânico, extremamen- lembra uma cesta
te árido, onde poucas culturas sobrevivem. Como o solo
não tem nada de argila, é imune à filoxera. O clima é
seco, com invernos amenos e verões quentes. Mas,
mesmo no verão, as noites são frescas, com boa amplitu-
de térmica. À noite, uma neblina que vem do mar traz
umidade para as parreiras. Para proteger os bagos contra
o vento forte, os galhos são torcidos em círculo, na
forma de um cesto, mantendo as frutas na parte de den-
tro. Esse sistema tradicional se chama kouloura. Hoje,
há produtores que estão substituindo essa condução por
espaldeira, a maneira moderna de cultivar o vinhedo. “O
sistema tradicional é mais caro que a espaldeira e não
permite a mecanização”, diz Paraskevopoulos. Mas há
quem o defina como parte do terroir da ilha. “Mesmo
que testes provem que a espaldeira resulta em um vinho
melhor, eu não troco de sistema. Seria alterar completa-
mente a paisagem da ilha”, acrescenta o produtor.
Esse terroir único se expressa também nas leveduras
que crescem nas plantas e são usadas durante a fermen-
tação dos vinhos. Segundo Paraskevopoulos, que elabo-
ra um dos seus vinhos apenas com leveduras selvagens,
na ilha elas se comportam de maneira diferente do con-
tinente. Em Neméa, no Peloponeso, a Gaia selecionou
sua própria levedura a partir das selvagens. “Queríamos
fazer o mesmo em Santorini, mas não conseguimos.
Começamos uma cultura na qual havia 18 tipos diferen-
tes de leveduras. O esperado seria uma delas prevalecer,
mas as 18 permaneceram trabalhando juntas.

68 janeiro/2012

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Pequeno dicionário das uvas gregas
Aidani Agiorgitiko Assyrtiko Athiri Malagousia

casta branca originária do uva branca branca autóctone variedade branca que
originária de Peloponeso, é a autóctone de do sul do mar esteve perto de ser
Santorini. Seus variedade tinta Santorini, ela domina Egeu, costuma extinta, foi resgatada
vinhos têm aroma grega mais popular. na ilha, onde rende ser cultivada nas pelo produtor
floral, com baixa Resulta em vinhos um vinho seco, com ilhas Ciclades e Gerovassiliou.
acidez. É usada no redondos, com alta acidez, aromas do Dodecaneso. É originária da
corte com outras aroma de frutas mineral e cítrico. É É muito usada Macedônia. Seus
variedades por negras. plantada também em cortes com a vinhos têm bom
trazer aromas ao em outras regiões assyrtiko, trazendo corpo, acidez média
vinho final, seja ele do país. aromas frutados e complexidade de
seco, seja vinsanto. de pêssego e aromas (jasmim,
nectarina. menta, frutas exóticas
e cítricas).

Mandilaria Mavrodaphne Mavrotragano Moschofílero Roditis

também conhecida uva negra, uva autóctone de cepa branca do bastante difundida
como mandelaria encontrada Santorini, quase Peloponeso, produz na Grécia
ou amorghiano, é principalmente chegou a ser vinhos secos com continental,
autóctone do Egeu no Peloponeso. extinta. Produtores aromas florais, de principalmente
Sul e cultivada em Cortada com a locais, liderados rosas, e frutados, de na Macedônia e
Santorini, Creta, corintiano, produz por Haridimos tangerina no Peloponeso, a
Rodes e Paros. É o vinho fortificado Hatzidakis, têm variedade rosada é
rica em taninos, de sobremesa investido na sua usada na produção
substâncias mavrodaphne. Nos recuperação. Muito de brancos e de
corantes e é tintos, traz ainda escura e de casca rosés, gerando
bastante ácida. mais estrutura grossa, rende vinhos vinhos leves de
Traz estrutura aos aos cortes com ricos em taninos e aroma cítrico.
vinhos. agiorgitiko. encorpados.

Xinomavro

rica em taninos,
essa variedade
originária da
Macedônia é
conhecida por
produzir vinhos
de guarda. Seus
aromas são de
frutas negras,
especiarias, Vinhedos em Santorini
azeitonas, etc.

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mundovinho
reportagem vinhos gregos

Os micro-organismos da ilha são muito adaptados”,


afirma. Em Santorini, predomina a agricultura orgânica
e biodinâmica. “Quase todos os produtores trabalham
sem agrotóxicos”, diz Haridimos Hatzidakis, sócio e
enólogo da Winery Hatzidakis, uma pequena vinícola
orgânica de Pyrgos, no alto da ilha, que é citada pela
crítica inglesa Jancis Robinson como uma das três
melhores da região. “O que acontece é que a maioria
prefere não se certificar para não ficar muito presa às
regras.” Além de prescindir de agrotóxicos, todas as gar-
rafas de Haridimos não levam o anidrido sulfuroso, um Prensa antiga
composto químico que preserva o vinho, principalmen- decora praia
te em seu transporte. E ele exporta para vários países do em Santorini
mundo, mas não para o Brasil. “Nunca perdi uma
safra”, comemora.

Conheça alguns dos rótulos gregos à venda no Brasil

Antonopoulos o branco Moschofílero branco das castas "S" TO Peloponnisos e mavrotraganó


Produtor do Opap Mantínia 2006, savatianó e rodítis 2007 (US$ 66,50), com uma série de
Peloponeso que 100% moschofílero (US$ 16,90). Na Vinci. entre outros. O Ritinitis outras tintas colhidas
trabalha com uvas (US$ 32,90). De Creta, o Nobilis OKP Retsina mescladas. Na Mistral.
autóctones e com tinto Domaine Skaláni Gaia 2007 (US$ 35,90), um
variedades importadas. TO Herakión 2004 (US$ Vinícola butique retsina 100% roditis Tsantali
Entre eles, o branco 59), corte da grega moderna, focada produzida na região Grande grupo vinícola
Ádoli Ghis EO 2005 kotsifáli com a francesa na exportação. Tem do Peloponeso, que grego, com vinícolas
(US$ 43,50), um blend syrah (US$ 59). Da operações em Santorini tem apenas um terço espalhadas por várias
de várias castas, Macedônia, região onde e em Neméa, na região da resina de pinho regiões do país. Entre
como laghórti, rodítis a empresa começou, do Peloponeso. De que caracteriza essa eles, os brancos da
alepoú, chardonnay vem o Grande Réserve Santorini, destaque categoria de vinho. região de Halkidiki.
e outras (US$ 43,50), Náoussa Opap 2003, para os brancos Na Mistral. O Tsantali Halkidiki
e o tinto Nea Dris EO 100% xynomavro (US$ Thalassitis Wild (R$ 21,90), uma
2003, elaborado com 49,90). Na Vinci. Fermented Opap 2009 Gerovassilíou assemblage de assyrtiko
cabernet sauvignon (US$ 55,50) e Thalassitis Na Macedônia, faz com sauvignon blanc,
e cabernet franc (US$ Cambas Assyrtiko Oak um trabalho de e o orgânico Kali Gi
84,50). Na Mistral. Do mesmo grupo da Fermented Opap 2008 resgate de castas (R$ 28,90), corte de
Boutari, tem sede na (US$ 57,50), elaborados locais, como a branca assyrtiko e athiri, os
Boutari região da Ática, Grécia com assyrtiko, sendo malagousia, mas usa tintos Tsantali Nemea
É o maior produtor de Central. O branco que o último passa também variedades Reserve (R$ 28,90),
vinhos da Grécia e tem Mantínia OPP 2009, por madeira. Do estrangeiras como o 100% agiorgitiko. No
vinícolas em todas as 100% moschofílero Peloponeso, há o syrah. Destaque para Carrefour e no Sam’s
regiões, com diversas (US$ 29,90), está no 14-18h Agiorgitiko o branco Gerovassilíou Club.
uvas. Das ilhas egeias, mercado desde 1930. Rosé TO Peloponnisos Assyrtiko Malagousia
vem o branco Kallísti Há o despretensioso 2009 (US$ 38,50), 2006 (US$ 39,50) e o
Opap Santoríni 2008, Retsína "Karaváki" EkP, o tinto Gaia Estate tinto Avaton 2003 (US$
100% assyrtiko (US$ um retsina aos moldes Opap Nemea 2005 85,50), que combina
43,90). Do Peloponeso, tradicionais, vinho (US$ 94,50) e o Gaia as variedades limnió

70 janeiro/2012

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degustação reportagem na taça quiz

mundovinho
quiz

10 questões sobre o vinho português


1 Há uvas brancas mais associadas a certas 6 São uvas autóctones de Portugal:
regiões portuguesas. São elas: fernão pires, alicante bouschet e encruzado
bical na Bairrada e arinto dos Vinhos Verdes encruzado, loureiro e baga
antão-vaz no Alentejo e alvarinho no Dão touriga nacional, alvarinho e chardonnay
alvarinho nos Vinhos Verdes e encruzado no Dão
7 Sobre a região de Vinhos Verdes, é possível
2 O ano de 1756 é referência nos vinhos em afirmar que:
Portugal por: só elabora vinhos brancos, leves e frutados
ser a data que o marquês de Pombal delimitou a elabora brancos e tintos, em geral leves e de
região demarcada do Douro bom frescor
ter sido a data em que o vinho do Porto seus vinhos têm coloração verde e estão entre os
começou a ser elaborado mais complexos de Portugal
marcar o primeiro lote de vinhos do Porto
exportados para o Brasil 8 Espanha e Portugal têm muitas ligações no
mundo do vinho. Uma delas:
3 Portugal é conhecido como o “Novo Mundo a tempranillo, da Espanha, ganha o nome
no Velho Mundo” porque: de aragonês e tinta roriz em Portugal
elabora somente brancos e tintos com muita o rio Douro nasce em Portugal e termina
fruta e notas evidentes de carvalho americano na Espanha com o nome de Duero
é um dos últimos países europeus a elaborar a tempranillo, da Espanha, tem o nome
vinhos nos tempos modernos de touriga franca em Portugal
com o fim da ditadura salazarista e a entrada na
União Europeia, seus produtores retomaram, 9 São heranças da chamada “velha enologia”,
gradativamente, a produção de vinhos tranquilos usadas em Portugal com sucesso:
de qualidade fermentação em barricas antigas de carvalho
português, lagares e prensas pneumáticas
4 São DOC da região de Lisboa: ânforas, lagares e pisa a pé
Alenquer, Bucelas e Colares tanques com controle de temperatura,
Arruda, Alenquer e Palmela pisa a pé e envelhecimento em ânforas
Távora-Varosa, Trás-os-Montes e Alenquer
Dicionário do Vinho, Oxford Companion of Wine, e www.viniportugal.pt

10 Uma das vantagens da pisa a pé é:


5 São dois nomes de uma mesma uva: ter custo muito mais barato do que a
fernão pires e maria gomes mecanização
maria gomes e alvarinho tornar as uvas mais aromáticas e,
encruzado e viozinho consequentemente, seu vinho.
garantir uma prensagem suave das uvas,
sem romper os seus caroços e engaços

Se você acertou de 8 a 10 questões, parabéns e abra um vinho para comemorar. Se você acertou 6 ou 7 questões, você começa a dominar o assunto. Vale investir em bons rótulos
e livros para aprender mais. Se acertou 4 ou 5, você tem certo conhecimento, mas precisa levar o estudo do vinho mais a sério. Se acertou menos de 4 questões e gosta do assunto,
estude o tema e aguarde o quiz do mês que vem. Abaixo, as respostas:

10 9 8 7 6 5 4 3 2 1

janeiro 2012 71

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romeu&julieta

refinamento italiano
No Figurati, nova casa dos sócios do francês Le Vin, os clássicos
do país da Bota são levados a sério

fotos Raphael Hupsel/Ag. IstoÉ

72 janeiro 2012

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romeu&julieta

O currículo generoso do casal de restaura-


teur Francisco e Nancy Barroso aguçou nossa
curiosidade de conhecer o italiano Figurati,
o novo restaurante paulistano dessa dupla. Os
dois fizeram história à frente do saudoso Café
Antique, de alta gastronomia francesa, e depois
souberam explorar o conceito de bistrôs fran-
ceses, com seu Le Vin, hoje com unidades em
São Paulo, no Rio de Janeiro e em Brasília.
O Figurati, inaugurado no fim do ano pas-
sado, é a primeira aposta italiana do casal.
Localizado na movimentada alameda Mi-
nistro Rocha Azevedo, no bairro dos Jardins,
quase não se nota a casa, bem discreta, com
alguns lugares na calçada para as noites de
verão. No salão, de poucas mesas com confor-
táveis cadeiras de cetim e decoração em tons
bege, uma adega, no centro, chama a atenção.
E logo na entrada há um convidativo bar, de
decoração classuda, onde eu fiquei aguardan-
do Romeu na companhia de um refrescante
suco de tomate temperado (R$ 9), observan-
do o bailar suave dos garçons, devidamente
envelopados em gravatas borboleta.
Assim que Romeu chegou, fomos enca-
O clássico carpaccio de
minhados a nossa mesa, onde dava para ver
filé-mignon à toscana, com
discretamente a movimentação na cozinha. lascas de grana padano,
Lá estava o jovem chef Fred Barroso, filho gominhos de limão e pinoli
do casal de proprietários, que executa o car-
dápio italianíssimo elaborado por Marcílio
Araújo, chef do grupo Le Vin.
“Aceita o couvert, senhora?”, pergunta o
garçom com uma cesta de pães na mão e um
pote de azeite na outra. Foi a prova de que a
lei que vigora na cidade de São Paulo de ofe-
recer e cobrar pelo couvert está sendo pra-
ticada. Assim que aceitamos, logo veio um
outro garçom que perguntou: “Os senhores
gostariam do sugerimento?” Era um prato
com mortadela italiana fatiada, um pote com
caponata e outro com sardela. Sem entender
direito (achamos que era um complemento
do couvert), acatamos. A caponata e a sarde-
la estavam suaves e com um toque de doçura
agradável. Salgado mesmo só o preço: o cou-
Acima, os saborosos tortellines
vert saiu por R$ 20 para o casal e o sugeri- de abóbora à Mantovana, com
mento acrescentou mais R$ 24 na conta. molho de manteiga, sálvia e
Namoramos o cardápio por um bom tem- pedacinhos de mostarda de
po. As descrições das massas, carnes, risotos Cremona; ao lado, o tradicional
e massas eram apetitosas. No fim, nos deci- risoto de funghi porcini

janeiro 2012 73

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romeu&julieta

O jovem chef
Fred Barroso

Ao lado, o aveludado
creme de mascarpone
com chocolate;
acima, a entrada de
polenta cremosa com
gorgonzola fresco

dimos por um carpaccio de filé-mignon à tellines de abóbora à Mantovana (R$ 48), de


toscana (R$ 38, com lascas de grana padano, massa fininha, com saboroso recheio do legu-
gominhos de limão e pinoli) e uma polen- me, molho de manteiga, folhas de sálvia fritas,
ta gratinada com gorgonzola fresco (R$ 34) parmesão ralado e pedacinhos de mostarda de
como entrada. Romeu ficou muito satisfeito Cremona – uma combinação que se mostrou
com sua polenta, bem cremosa, com o queijo equilibrada no prato. As criações foram bem
intenso na medida. O meu carpaccio tinha acompanhadas pelo vinho Prunotto Dolcetto
todo o frescor necessário à iguaria, mas pe- D’Alba 2009 (R$ 86,93 na carta e R$ 61 na im-
cou pela textura: a carne se desmanchava em portadora), uma das poucas opções abaixo de
miúdos pedaços, como se suas fibras tives- R$ 100 da carta sugerida pelo sommelier.
sem sofrido com o descongelamento. O final do jantar não fugiria da Itália.
Em compensação, a etapa seguinte foi im- O creme de mascarpone com chocolate
pecável. Romeu se deliciou com o risoto de (R$ 23) estava avelulado, encorpado e deixou
funghi porcini (R$ 58), devidamente al dente, um gostinho de quero mais, confirmando um
com cogumelos suculentos e salsinha pica- retorno ao Figurati. “Mas só quando estiver-
da, que deu mais frescor ao prato. “A porção mos com disposição para gastar”, lembra Ro-
é generosa, apesar de cara”, comentou meu meu. Afinal, não é todo dia que dá para gastar
companheiro. Eu fiquei satisfeita com os tor- quase R$ 400 por casal em um jantar...

guerra dos sexos Figurati


alameda Ministro Rocha Azevedo, 1.041
charmoso ambiente refinado Jardim Paulista
(11) 3062-4198 – São Paulo – SP
bem executada comida saborosa
impecável serviço profissional Segunda a quinta, das 12h às 16h e das 19h à
0h. Sexta, das 12h às 16h e das 19h à 1h.
Sábado, das 12h à 1h. Domingo, das 12h às 23h.

Nesta crítica de restaurante, Romeu e Julieta, um casal anônimo e especialista na arte de comer,
avaliam uma casa de destaque no cenário gastronômico brasileiro. Escolhemos um homem e uma
mulher por acreditar que eles e elas costumam ter sensações diferentes à mesa.

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quentinhas
Beatriz Marques

Novas atrações do Fasano


A badalação gastronômica nos restaurantes do grupo Fasano
só parece aumentar. Depois de inaugurar o Gero na Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro, e de o Fasano receber o prêmio de
melhor restaurante italiano da América do Sul e Central pela
revista inglesa Restaurant, o restaurauteur Rogério Fasano Sanduíche de
traz mais novidades. O Gero paulistano lançou um cardápio bresaola, criação do
de almoço com preço atraente, se comparado aos praticados chef Salvatore Loi
na casa. De segunda a sexta, o cliente pede uma entrada, um
prato principal e uma sobremesa e paga R$ 80. Ao todo, são
48 sugestões para montar a refeição. Com a calculadora na
mão, dá para ver a vantagem. No cardápio regular, se pedir um Cidade Jardim e Armani Caffé agora servem o menu panini,
carpaccio de filé-mignon ao molho de mostarda (R$ 45), um com seis sanduíches criados pelo chef Salvatore Loi, servido
risoto com açafrão e molho de ossobuco (R$ 73) e uma panna durante o verão, das 15h às 19h. Destaque para o pão italiano
cotta com calda de morango (R$ 24) – pratos que também com creme de queijo fresco, bresaola e aspargos (RS 29, foto).
aparecem na sugestão de almoço – , a conta sai por R$ 142.
Para aqueles que têm saudade da época em que a família Gero
Fasano dava as cartas na Forneria San Paolo, hoje do empresário rua Haddock Lobo, 1.629 – Jardins
João Paulo Diniz, os restaurantes Gero Caffé, Nonno Ruggero (11) 3064-0005 – São Paulo – SP

De casa nova
Feliz aniversário
A dupla Dionísio Chaves e Nicola Giorgio (foto abaixo), Para o restaurante carioca Guimas, que completa 30 anos e
sócios do restaurante Duo, na Barra da Tijuca, apostam reedita pratos de história da casa, como o risoto de camarão
em mais uma empreitada no Rio de Janeiro. A Bottega com lentilha vermelha (R$ 58,80) e o filé do Chico (filé-mignon
del Vino, aberta na badalada rua Dias Ferreira, no Leblon, com molho de vinho, champignon e creme de leite servido
é uma enoteca montada com quatro Enomatic, máquina com batata palha e arroz, R$ 48), primeiro prato do cardápio
moderna que mantém o vinho aberto por mais tempo. do restaurante. A Jullia Pizza Bar, em São Paulo, celebra os
São 300 rótulos selecionados por Dionísio, que podem ser 15 anos com novidades no cardápio: a Prima Giornata (massa
acompanhados de comidinhas italianas criadas por Giorgio brotinho fechada com catupiry, mascarpone, parmesão, azei-
com o chef da casa, Pedro Pecego. te, sal grosso e alecrim, R$25) e a pizza Finocchio (linguiça ca-
Outra novidade carioca vem do chef Pedro de Artagão, ex- labresa artesanal, erva-doce refogada no azeite e queijo petit
Laguiole (MAM-RJ). Agora ele pilota o restaurante Irajá, em um suisse, R$ 58).
casarão tombado da década de 1930, em Botafogo. O chef
mantém seu viés contemporâneo na cozinha, em pratos como
risoto primavera, com legumes orgânicos cortados no formato Pizza no almoço
do arroz (R$ 42) e galhinheiro (ovo caipira, glacê de galinha
caipira, curau de milho e crocante de canjiquinha, R$ 18). Quem disse que as redondas só podem ser saboreadas no
jantar? A Maremonti, em São Paulo, passou a servir todas as
Bottega del Vino pizzas de seu cardápio também na hora do almoço e já conta
rua Dias Ferreira, 78 – Leblon com a adesão da clientela. Entre as mais pedidas no horário
(21) 2512-6526 são a zucchini (abobrinha com queijo brie, R$ 43, individual) e
Rio de Janeiro – RJ a margherita napolitana (mussarela de búfala fresca, molho de
tomate e manjericão, R$ 43, individual).
Irajá
rua Conde de Irajá, 109 Maremonti Jardins
Botafogo – (21) 2246-1395 rua Padre João Manuel, 1.160 – Jardim Paulista
Rio de Janeiro – RJ (11) 3085-1160 – São Paulo – SP

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cerveja

AMOR E ÓDIO
Ao ser desafiado a criar receitas italianas com
o amargo lúpulo, o chef André Mifano acabou
desenvolvendo uma relação dúbia com o
ingrediente, que resultou em pratos saborosos

por Beatriz Marques fotos Eduardo Delfim


produção Ricardo Ferraz

prato, Benedixt

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cerveja

Foi paixão (somente) à primeira vista. Logo que levou ao nariz algumas flo-
res de lúpulo desidratadas, o chef André Mifano, do restaurante Vito, colocou
sua cabeça para funcionar. “Já estou pensando em um espaguete com caldo de
peixe e mariscos ou uma panna cotta com caldo de lúpulo”, disse o chef, em
uma empolgação notável. Tudo indicava que Mifano alçaria a flor de lúpulo ao
mais alto patamar de sua cozinha italiana, ao ser desafiado a elaborar pratos
com o ingrediente – Mifano é o terceiro chef desta série de reportagens com a
flor de lúpulo como ingrediente.
Mas os momentos de euforia foram escasseando, conforme o chef testava
o amargo componente da cerveja em diferentes receitas. “Fiz 16 tentativas de
pratos!”, reclamou Mifano. Ao longo de quatro semanas, ele foi mudando sua
relação com o lúpulo. Sua primeira aposta – a calda para o clássico pudim
italiano – não deu certo. “Usei desde açúcar refinado até melaço de açúcar
mascavo. Mas tudo ficava extremamente amargo”, relata. O macarrão foi tam-
bém descartado: o lúpulo rachou a massa quando esticada. Depois, ele tentou
fazer molhos à base de caldo de carne, de frango, de frutos do mar, que não
vingaram. Até um lagostim e bisque com lúpulo foi preparado, sem sucesso. “O
lúpulo existe há bilhões de anos, e a única coisa que o homem fez até agora foi
cerveja!”, esbravejou o chef.
A obsessão em tornar a flor a protagonista de uma receita foi um dos princi-
pais obstáculos para o chef, que queria fazer algo inovador. Todo o potencial de
amargor do lúpulo falou mais alto, e Mifano teve de dosar sua participação nas
criações. “Comecei usando uma colher de sopa. Aí diminuí para meia colher e
continuou forte. Fui reduzindo, reduzindo, e agora uso uma pitada, que é so-
mente uma flor desidratada!”, revela o chef. E foi com essa rendição ao lúpulo
que a primeira receita surgiu: a farofa de lúpulo. “Se isso vira um pó, dá para
fazer uma farofa”, pensou. A dosagem do amargor foi na medida, equilibrada
com a crocância da farinha de pão italiano ralado, e acompanhou a polenta
cremosa e uma redução de caldo de rabada, de grande concentração de sabor e
untuosidade. Mas essa era apenas uma receita, e o desafio eram três criações.
Antes de Mifano jogar definitivamente o avental e desistir do desafio, ele des-
pretensiosamente pegou um pouco de vinho branco e decidiu reidratar uma
flor de lúpulo. A brincadeira funcionou, criando um vinagre com aromas her-
bais e amargor contido, usado como o toque complementar para o risoto com
sopressata. Nela, o picante do embutido combina com o amanteigado do arroz
e um fundo amargo da flor.
Se o lúpulo foi bem com o vinho, formando um vinagre, por que não aroma-
tizar um azeite? Mifano mergulhou a flor em um pote com o óleo levemente
aquecido e deixou pegar gosto por três dias. O resultado foi um interessante
tempero para a salada de brotos e verdes com limão-siciliano, que acompanha
a tradicional barriga de porco do Vito. Foi um feliz casamento da gordura da
carne com a acidez da salada e o amargor do azeite.
Depois de tantas brigas e desentendimentos, Mifano assume. “Não estou
preparado para usar e gostar do lúpulo. Ainda é para poucos.” Essa relação de
amor e ódio, porém, não tem um final definitivo. “Isso não significa que eu não
possa mudar e gostar um dia.”
Na página ao lado,
Vito
a flor de lúpulo na
mesa e o risoto com rua Isabel de Castela, 529 – Vila Beatriz
sopressata (11) 3032-1469 – São Paulo – SP

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cerveja

prato e xícara, Benedixt, taças acervo


A polenta cremosa
com farofa de lúpulo
e, na página ao lado,
a barriga de porco

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O chef André Mifano

barriga de porco e salada


de brotos com azeite de lúpulo

barriga de porco 1 barriga de porco com a carne da


costela (porqueta) de 4 quilos; 150 g de farinha de
rosca de pão italiano clara; 50 g de noz-pecã; 10 g de
alecrim; 10 g de salsinha picada; 100 ml de azeite de
prato, Star Home

oliva; 40 g de sementes de erva-doce; sal e pimenta


preta moída na hora a gosto; 10 g de alho picado;
1/2 garrafa de vinho branco seco

salada folhas de azedinha roxa, capuchinha e rúcula


precoce quanto bastem; 1 limão-siciliano; sal e azeite
risoto com sopressata e lúpulo de lúpulo a gosto
no vinho branco
azeite de lúpulo 200 ml de azeite extravirgem;
280 g de arroz arbório; 1 cebola picada; 2 colheres 1 colher (sopa) de flor de lúpulo
(sopa) de azeite extravirgem; 1/2 litro de caldo de
frango (veja receita na pág. 88); 30 fatias finas de azeite de lúpulo misture o azeite com o lúpulo,
sopressata; 1 xícara (chá) de vinho branco; leve ao fogo médio e aqueça até 70ºC. Deixe
1 colher (sopa) de ciboulette; 1 colher (sopa) de esfriar. Coloque o azeite aromatizado em um
salsinha picada; 2 colheres (sopa) de manteiga; recipiente fechado e guarde em temperatura
3 colheres (sopa) de queijo grana padano ralado; ambiente por 3 dias.
1 pitada de flor de lúpulo, misturada com 2 colheres
(sopa) de vinho branco barriga de porco bata 20 g de sal e a erva-doce num
processador e tempere o porco com essa mistura.
risoto refogue a cebola no azeite numa panela, em Misture a farinha, o alho, o alecrim, a salsinha, as nozes
fogo alto, até ficar transparente. Coloque o arroz, e o azeite num recipiente, tempere com 1 pitada de sal
misture bem e acrescente o vinho branco. Adicione e pimenta e coloque essa mistura sobre a carne.
um pouco de caldo de frango quente e misture bem. Enrole o porco como um rocambole e amarre-o com
Quando o arroz secar, junte mais caldo e repita o barbante de algodão. Preaqueça o forno alto, a 250ºC,
processo por cerca de 18 minutos, até o arroz ficar e asse a carne por 10 minutos sobre uma grelha
cozido. Após esse período, acrescente a sopressata e vazada colocada dentro de uma assadeira. Reduza
cozinhe por mais 1 minuto. Junte a ciboulette picada, para 170ºC e asse por mais 2 horas. Ponha o vinho na
a salsinha, a manteiga, o grana padano e mexa bem assadeira e asse por mais 40 minutos.
para ficar cremoso.
salada ponha as folhas numa tigela e tempere-as com
para servir coloque o risoto num prato fundo e sal, gotas de limão e azeite de lúpulo.
despeje gotas do lúpulo com vinho branco por cima
de cada prato. para servir coloque 1 pedaço da porqueta no prato,
com a salada e o limão ao lado. Sirva em seguida.

dica do chef caso não encontre a sopressata, dica do chef usar azeite de baixa acidez, para
use um salame artesanal de boa qualidade. não acentuar o amargor do lúpulo. Confira a receita da polenta
cremosa com farofa de lúpulo
www.revistamenu.com.br

rendimento 4 porções preparo 40 minutos rendimento 4 porções preparo 3h30 (+ 3 dias para o
execução moderada azeite de lúpulo) execução moderada

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colarinho
Cilene Saorin

Muito prazer:
o lúpulo
O chef André Mifano, do Vito, em São
Paulo, aceitou com disposição o desafio de
trabalhar com o lúpulo. Com sentido
de originalidade aguçado e certa ansiedade que
lhe é peculiar, ele queria colocar essas flores em
evidência na preparação de seus pratos. Foram
inúmeras receitas, em um esforço desenfreado,
até aquietar-se com a descoberta de que o
ingrediente pode se sobressair na receita
mesmo com apenas algumas pétalas. esse prato ligeiramente picante. Em harmo-
Os lúpulos emprestaram toques marcan- nização, uma cerveja do estilo Märzen,
tes de amargor aos três pratos elaborados como a espanhola Voll Damm (R$ 14, 330
pelo chef, que foram elegantemente equili- ml, na BrazilWays), com discretos aromas
brados com a doçura, a acidez e a untuosi- caramelados de malte e alta força alcoólica,
dade na própria receita, além de harmoni- que valorizaram generosamente as caracte-
zar com as características singulares das rísticas do risoto.
cervejas escolhidas. Na última criação, a barriga de porco com
No primeiro prato, a polenta cremosa salada de brotos e verdes com azeite de
com farofa de lúpulo e gelatina de caldo de lúpulo, a intensidade da carne pediu uma
rabada, as notas adocicadas da carne encon- cerveja robusta como a belga Orval, do estilo
traram contraponto no amargor da farofa de Tripel (R$ 21, 330 ml, na Casa da Cerveja).
lúpulo. Na taça, a combinação se deu com a Ela oferece equilíbrio nessa combinação a
cerveja tcheca Bernard Dark (R$ 20, 500 ml, partir da acidez marcante, do poder frisante,
na Tarantino), do estilo Dunkel, em que as da alta força alcoólica e dos intensos aromas
notas tostadas abraçaram a carne e a polenta condimentados e cítricos de lúpulo.
em final de boca levemente doce. Nessa maratona de testes, depois de ajus-
Na sequência foi servido o risoto com tar a medida do lúpulo, só nos resta agrade-
sopressata e lúpulo no vinho branco, em cer ao irreverente chef pela perseverança e
que a acidez do vinho realçou os aromas de pelas intervenções inéditas e saborosas.
lúpulo, ajudando a perfumar ainda mais Grazie mille, Mifano!

estou bebendo A inglesa St. Peter's Old-Style Porter, do estilo Robust Porter. De cor castanho-escura avermelhada e fina espu-
ma, apresenta relevantes aromas tostados lembrando chocolate e café. Medianamente encorpada com amargor e acidez em
evidência, tem 5,1% de teor alcoólico, com final de boca seco. Uma bela variação para acompanhar sobremesas cremosas à
base de chocolate ou leite (500 ml, ainda sem preço definido – a cerveja está em processo de importação pela Melograno).

Cilene Saorin, mestre cervejeira e sommelier de cervejas, é presidente da Associação Brasileira dos Profissionais em
Cerveja e Malte e diretora de educação da Doemens Academie no Brasil. [cilene-colab@revistamenu.com.br]

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baixagastronomia
Beatriz Marques

Drinque do mês

fotos Divulgação
O Ciao! Vino & Birra lança
cinco versões do refrescante
drinque italiano spritz. Uma
delas é o ciao! limone, criada
pelo chef Denis Takenaka.

ciao! limone

100 ml de limoncello; 750 ml de vinho branco


frisante ou espumante; 200 ml de suco de
abacaxi; 1 limão-siciliano; gelo a gosto

drinque coloque o limoncello, o suco de abacaxi e o ¡Venga! sem praia


vinho frisante numa jarra. Acrescente o limão cortado
em meias-luas, sem a parte branca, e misture bem. Desde que abriu as portas em maio de 2009, no badalado bairro
carioca do Leblon, o bar ¡Venga! é um sucesso. A fórmula que replica
para servir complete a jarra com gelo e sirva o os bares de tapas espanhóis deu tão certo que seus proprietários,
drinque gelado em copos longos. Roberto e Fernando Kaplan e Daniel Oelsner, inauguraram uma filial
em Ipanema e acabaram de desembarcar em São Paulo. Os três sócios
dica do chef se preferir, adicione pedaços de escolheram a agitada Vila Madalena como endereço e fizeram uma
manga ou de frutas vermelhas. parceria de peso: a operação da casa ficará por conta da Companhia
Tradicional do Comércio, dos bares Astor e Original, entre outros.
Quem conhece o diminuto endereço do Leblon, pode se
rendimento 7 drinques (1,5 litro) preparo 15 minutos surpreender com o tamanho da nova casa. Mesas altas, um largo
execução muito fácil balcão de bar e até lugares ao ar livre completam o ambiente, que
mantém a decoração espanhola com traços de informalidade – pata
Ciao! Vino & Birra
de presunto cru pendurada, latas de atum e azeite à venda, caixas de
rua Tutoia, 451 – Paraíso
(11) 2306-3561 – São Paulo – SP bebidas à mostra e lousa com sugestões de petiscos. Se por um lado
o grande número de mesas evita a maior espera da clientela (algo
recorrente no Rio), por outro ele perde o clima intimista, que é típico
de um bar de tapas.
Comida di Buteco está de volta O cardápio não sofreu alterações ao chegar a São Paulo, ao menos
por enquanto. Lá estão as variadas sangrias, como a que leva o nome
Um dos concursos gastronômicos mais importantes do Brasil da casa, feita com vinho branco, refrigerante de limão, conhaque
volta a São Paulo. O Comida di Buteco está marcado para e frutas (R$ 37, um litro), bem refrescante para os dias quentes. E,
acontecer entre 1º de junho e 1º de julho, quando 50 botequins claro as tapas, como os aspargos grelhados com ovo pochê, azeite
serão avaliados pelo público e por um júri especializado. trufado e crisps de presunto cru serrano (R$ 22), que só pecaram pelo
O evento era parceiro do Boteco Bohemia, concurso que acabou pouco sal e pela ausência do aroma de trufas. Outras pedidas são o
em 2009 e permitiu a volta do Comida di Buteco à capital. croquete de presunto cru com emmental (R$ 6 cada) e o de paella,
“Estamos definindo os concorrentes, que devem ter algum também com emmental e um camarão grelhado espetado (R$ 8,50
familiar à frente do bar”, explica Eduardo Maya, um dos cada), ambos com queijo bem derretido e crocante, mas ainda com
idealizadores. Os quesitos votados serão: melhor petisco, pouco sal. São pequenos tropeços que não tiram a vontade de tapear
higiene, atendimento e temperatura da bebida. O Comida di no ¡Venga! paulistano. Ainda para os leitores da Menu, o bar revela a
Buteco também acontece simultaneamente, entre 13 de abril e receita dos gambas al ajillo na página 89.
13 de maio, em 15 cidades, como Belo Horizonte (MG) e Belém
(PA). Mais informações pelo site www.comidadibuteco.com.br ¡Venga!
rua Delfina, 196 – Vila Madalena
(11) 3097-9252 – São Paulo – SP

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matéria

aromas
pelo ar

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naxícara

A tendência de incrementar cafés de qualidade com


especiarias como cardamomo, noz-moscada, anis e
baunilha, além de chocolate

por Luciana Mastrorosa foto Eduardo Delfim produção Ricardo Ferraz

É quase impossível resistir ao aroma de um café feito na hora. Se o perfu-


me natural do grão receber uma pitada de especiarias, o prazer olfativo pode
ser ainda maior. Pensando nisso, a Martins Café, com sede em São Manuel,
no interior de São Paulo, adicionou canela, cardamomo, noz-moscada e anis
moídos ao seu café 100% arábica produzido na Fazenda Santa Margarida. A
novidade chegou ao mercado em dezembro e conquista pelo diferencial de
acrescentar o aroma natural direto aos grãos de café. Quem observa o pó de
perto, consegue ver até os vestígios dos temperos. “Não queríamos fazer um
aromatizado comum, com produtos artificiais. Nossas especiarias são moídas
em separado e adicionadas ao café já torrado e moído”, conta Mariano Martins,
sócio-proprietário da marca.
Na mesma época, a Nespresso trouxe ao Brasil a linha Variations de cafés aro-
matizados que existe na Europa e nos Estados Unidos desde 2006. Os sabores
escolhidos para a estreia no País, com lançamento mundial simultâneo, são
flor-de-baunilha, cereja e chocolate amargo. “A base de todos é o Livanto, que
combina com outros aromas, com suas notas de caramelizado e torrado”, diz
Claudia Leite, gerente da marca. A executiva explica que os aromas dessa nova
linha também são naturais, mas não visíveis a olho nu. “Usamos uma tecnologia
que permite inserir os microgrãos direto no café moído”, conta Claudia. A novi-
dade ficará disponível no mercado por apenas oito semanas. No caso da Martins
Café, a ideia é manter os cafés adicionados de aromas como parte permanente
da linha. “Testamos de 15 a 20 variações até chegar a esses quatro sabores”, revela
o consultor Marco de la Roche, responsável pelas combinações da Martins Café.
Mais: ele promete para breve outras novidades.
A Baggio Coffees foi uma das pioneiras a apostar na adição de essências ao
café, há cinco anos. “Começamos com chocolate com menta, caramelo e ama-
retto. Hoje temos também limão-siciliano, açaí e chocolate trufado, o campeão
de pedidos”, diz Liana Baggio Ometto, sócia-proprietária da marca. Liana conta
que o início foi tímido, pois havia o temor de que o mercado não aceitaria bem
um café perfumado com outros ingredientes. Mas, para sua surpresa, a produção
triplicou de lá para cá. “Estamos torrando 1,5 mil quilos por mês de cafés aroma-
tizados”, conta ela. Para adicionar esse diferencial a seus grãos arábica produzidos
em Araras, no interior de São Paulo, Liana conta com o apoio de uma empresa
Xícaras, Oxford Porcelanas

que desenvolve aromas exclusivos e planeja lançar um sabor novo por ano. O de
2011 foi o chocolate trufado.
A sugestão é consumir esses cafés puros, com leite ou um pouco de açúcar,
por terem personalidade marcante. Para os que gostam de ousar, vale usar as
bebidas aromatizadas em drinques, como os criados pela dupla Vitor Gabira,
especialista em cafés, e a chef Tatiana Torres, da Nespresso. Confira, a seguir,
a receita de dois destes coquetéis, bebidas refrescantes, próprias para o verão.

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naxícara

Onde encontrar
Baggio Coffees Martins Café Nespresso
Os cafés com aromas de açaí, limão- A primeira iniciativa da marca com cafés A linha Variations 2011, com cafés
siciliano, amaretto, caramelo, chocolate aromatizados está disponível em quatro aromatizados com cereja, flor-de-baunilha
com menta e chocolate trufado são ven- versões: noz-moscada, canela, anis ou ou chocolate amargo, está disponível nas
didos em embalagens de 250 g (R$ 13 cardamomo. Os cafés são comerciali- boutiques Nespresso pelo País ou no site
a R$ 16 cada pacote), já moídos. Alguns zados em pacotes de 250 g, torrados e da marca, até durarem os estoques. As
também são oferecidos em miniem- moídos, ao preço de R$ 21,90 cada um. embalagens com dez cápsulas custam
balagens de 100 g ou em sachês. Mais Mais informações: R$ 30 (cada sabor). Os drinques fresh
informações: www.baggiocoffees.com.br. www.martinscafe.com.br. vanilla (R$ 13) e cherry mojito (R$ 14) são
preparados na Boutique Bar Nespresso,
na capital paulista. Mais informações:
www.nespresso.com.br.

fresh vanilla cherry mojito

1 cápsula de nespresso variations flor-de-baunilha 1 cápsula de nespresso variations cereja;


80 ml de água Acqua Panna 8 folhas de hortelã; 20 ml de xarope Monin de limão-
20 ml de xarope Monin de limão-siciliano siciliano; 80 ml de água Perrier; 6 pedras de gelo
20 ml de chá de pêssego picadas; 4 cerejas ao marasquino (sem a calda)
6 casquinhas de limão-siciliano
cherry mojito extraia o espresso numa jarrinha com
fresh vanilla coloque as casquinhas de limão, o gelo. Resfrie bem o café e coe a mistura num copo
xarope e a água em forminhas de gelo e leve ao pequeno, como o de vodca. Reserve o restante.
congelador. Quando estiver congelado, coloque 6 Coloque esse copinho cheio de café no fundo de
pedras desse gelo num copo grande. Cubra o fundo outro copo grande, com a boca virada para baixo, de
do copo com o chá de pêssego e reserve. Extraia o modo a “prender” o café. Ponha as folhas de hortelã
espresso numa jarrinha à parte. picadas e preencha o copo com o xarope misturado
com a água. Decore com as cerejas.
para servir coloque o copo montado numa bandeja
e sirva em seguida, junto com o café recém-extraído, para servir finalize o drinque com o restante do
para o drinque ser finalizado à mesa. espresso com gelo e sirva em seguida, sem canudo.

dica dos chefs faça os gelos em forminhas dica dos chefs para variar o drinque,
semicirculares, que ficam mais bonitas no copo. use pedaços de manga em vez de cerejas
e use pedras de gelo bem picadas para
facilitar na hora de beber.

rendimento 1 drinque
preparo 10 minutos (+ 2 horas para formar o gelo) rendimento 1 drinque preparo 10 minutos
execução muito fácil execução muito fácil

84 janeiro/2012

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estante
Luciana Mastrorosa

Delícias na telona
Filmes com temática gastronômica têm feito suces-
so no cinema nos últimos tempos, como o saboro-
so Julie&Julia, que retrata a vida da chef norte-ame-
ricana Julia Child do ponto de vista da blogueira
Julie Powell. Mas a graça do novo livro Jantares de
cinema: receitas dos seus filmes favoritos, da inglesa
Becky Thorn, é justamente dar o devido destaque a
comidas, bebidas e belisquetes que aparecem na
telona para abrir nosso apetite – em filmes gastro-
nômicos ou não. Estão lá o mint julep de ...E o vento
levou, comprovando o gosto de Scarlett O’Hara por
drinques com bourbon; o cosmopolitan eternizado foto Sheila Oliveira/Empório Fotográfico/ produção Marcia Asnis

pelas quatro amigas de Sex and the city; e delícias


como o big kahuna burger, de Pulp fiction ou os
doces cannoli que aparecem em cena de O pode-
roso chefão. A diagramação ajuda a manter o clima
Receitas de alma
do livro, com as receitas descritas em itens como Todo mundo tem em casa um caderninho antigo, com um
“elenco & apoio” para os ingredientes, “voz em off” punhado de receitas de família. A italiana Cristina Bottari percor-
para dicas gerais e “roteiro” para o modo de prepa- reu os dela – e os de parentes e amigos – para escrever Mamma
ro. Entre filmes pop e obras menos óbvias, são 74 mia – receitas italianas e estórias de cozinha. Ricamente ilustrado
receitas e mais algumas sugestões de pratos e drin- com fotos dos pratos e de cenas cotidianas da Itália, o livro traz
ques, todas retiradas de cenas de cinema. Ao final, uma compilação de receitas caseiras que se destacam de norte
Becky faz um discurso de agradecimento similar a sul do País da Bota. Uma variedade incrível de massas, molhos,
aos do Oscar. Só ficou faltando uma pequena bio- pães e entradinhas é apresentada na obra, sempre com indica-
grafia da autora, para saber um pouco mais de sua ções de vinhos italianos para harmonizar. Em alguns casos, as
paixão por filmes e suas comidinhas maravilhosas. receitas não apresentam listas precisas de ingredientes, o que
pode dificultar a vida do cozinheiro iniciante. Por outro lado,
Jantares de cinema: receitas dos seus filmes favori- Mamma mia é cheio de dicas úteis que ensinam a tirar manchas
tos – Becky Thorn – Editora Gutenberg (176 págs.) de toalhas de mesa, ajudar no amadurecimento de tomates ou
– R$ 34,90 identificar o ponto correto de uma carne.

Mamma mia – receitas italianas e estórias de cozinha – Cristina


A arte do fogo Bottari – Ambientes & Costumes (288 págs.) – R$ 86

O chef argentino Francis Mallmann gosta de brin-


car com fogo. Foi com suas brasas que ele se tor- Cozinha erótica
nou um dos chefs mais conhecidos de seu país e
pôde influenciar várias cozinhas, inclusive em São Fugu é o nome japonês para o peixe baiacu, aquele de aspecto
Paulo – são dele os fornos de alta temperatura do ligeiramente espinhudo, que infla quando ameaçado. Além da
restaurante A Figueira Rubaiyat, e a competente carne saborosa, esse pescado é conhecido por ter um veneno
chef Paola Carosella, do Arturito, foi, por anos, sua que mata mesmo em pequenas doses. Por isso, é um sinal de
fiel escudeira. Os segredos de Mallmann com o confiança pedir fugu num restaurante. Em Duas bocas – histó-
fogo são a base de seu livro, que ganha agora tra- rias de comida e sexo, este é justamente o pseudônimo escolhi-
dução para o português – a obra foi publicada ini- do pela autora, uma mulher na casa dos 50 anos, para contar
cialmente em inglês em 2009 e premiada pelo suas aventuras amorosas com o amante. Usando uma lingua-
Gourmand Cookbook Award, no mesmo ano, e gem ao mesmo tempo erótica e delicada, Fugu ensina as recei-
pelo James Beard Foundation em 2010. No livro, tas que preparava para o idílio amoroso e, entre um refogado e
o chef apresenta seus segredos e técnicas, como outro, tempera a prosa com descrições que fazem aumentar a
o infiernillo, com dois níveis de fogos, para assar temperatura. Sabores frugais, como pão caseiro, doce de ovos
carnes grandes. E, melhor, várias das mais de 100 caramelados, moelas ensopadas e panquecas americanas de
receitas de Mallmann foram adaptadas para ricota e maçã figuram entre as opções de pratos que ajudam a
serem preparadas em casa e todas trazem fotos estimular ou abrandar a montanha-russa de sentimentos que
apetitosas. (Suzana Barelli) acomete o casal.

Sete fogos: churrasco ao estilo argentino – Francis Duas bocas – histórias de comida e sexo – Fugu – Editora Nova
Mallmann – V&R Editoras (278 págs.) – R$ 89,90 Fronteira (128 págs.) – R$ 24,90

86 janeiro 2012

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receitas

tucunaré com retirar a casca. Acrescente 110 ml


polenta cremosa com alto, sem deixar pegar cor.
crosta de ervas da do azeite e junte o azeite de
farofa de lúpulo e Acrescente as ervas e cubra
Amazônia, purê urucum. Adicione o purê de alho,
gelatina de caldo de tudo com 3 litros de água.
de batata com alho misture e corrija o tempero, se
rabada Deixe cozinhar em fogo baixo
e urucum e folhas necessário. Reserve.
por André Mifano, do Vito
de couve (leia reportagem na página 76)
por 1h20. Após o cozimento,
por Gabriel Broide e Felipe coe o caldo, reservando o
couve lave as folhas de couve e polenta 100 g de fubá para líquido e descartando os
Ribenboim (leia reportagem na
separe os talos das folhas.
página 24) polenta; 1 1/2 litro de caldo de sólidos. Esta receita rende
Branqueie separadamente as
tucunaré 800 g de filé de frango; 1/2 xícara (chá) de 2 litros de caldo. O que não
folhas e os talos para que as
tucunaré limpo, sem pele e sem queijo grana padano ralado; for usado pode ser congelado
folhas fiquem crocantes e os
espinha; 120 g de farinha de 100 g de manteiga sem sal; para uso posterior.
talos, macios. Reserve. Aqueça o
rosca grossa; 10 g de jambu; 5 g
azeite numa panela e salteie os sal a gosto
de chicória-do-pará; 5 g de
talos e as folhas de couve em polenta aqueça o caldo numa
salsinha; 5 g de alfavaca; 20 ml
fogo alto. Tempere com sal a
de azeite de oliva; água quanto farofa de lúpulo 1 colher (sopa) panela e, quando começar a
gosto.
baste; sal e pimenta-do-reino a de azeite extravirgem; 1 xícara ferver levemente, coloque a
gosto (chá) de pão italiano farinha aos poucos, mexendo
tucunaré separe as folhas das
ervas dos talos. Reserve os talos amanhecido ralado; 1 pitada de sem parar. Cozinhe em fogo
couve 1 maço de couve; 40 ml flor de lúpulo desidratada; baixo por 3 horas, mexendo
e pique bem as folhas em
de azeite de oliva; água quanto
tamanho homogêneo. Misture 1 colher (sopa) de salsinha sempre, até obter a consistência
baste; sal a gosto
as ervas picadas com a farinha picada grosseiramente cremosa de polenta. Tempere
de rosca, acrescente o azeite,
purê de batata 1 kg de batata; com sal a gosto, adicione o
tempere com sal e pimenta e
10 g de sal grosso; 300 g de gelatina de caldo de rabada queijo ralado, a manteiga e
amasse bem com as mãos ou
alho; 10 ml de azeite de 5 talos de salsão picado; misture bem.
com o auxílio de uma espátula
urucum; 125 ml de azeite de 2 cenouras descascadas e
de silicone. Verifique o tempero
oliva; sal e pimenta-do-reino a
e reserve. Tempere o tucunaré picadas; 2 cebolas médias farofa aqueça o azeite numa
gosto; água quanto baste
com sal e pimenta e cubra um picadas; 1 alho-poró picado; frigideira em fogo alto.
dos lados do peixe com a 1 ramo de tomilho; 1 ramo de Acrescente o pão ralado e a
azeite de urucum 100 ml de
farinha de rosca com ervas,
óleo de girassol; 10 g de alecrim; 2 folhas de louro; 100 flor de lúpulo e deixe aquecer
formando uma crosta. Reserve.
sementes de urucum ml óleo de canola; 8 pedaços até ficar crocante. Tempere
Ponha os talos das ervas com a
água numa vaporeira e leve a de rabada grandes e limpos; com a salsinha picada, misture
azeite de urucum aqueça o 300 ml de vinho tinto; 4 litros bem e reserve.
panela ao fogo. Quando
óleo com o urucum, em fogo
desprender um vapor de água; 50 g de alho bem
baixo, até chegar a 62ºC.
perfumado, coloque o peixe na picado; sal e pimenta-do-reino gelatina refogue os legumes,
Mantenha no fogo por 15
panela e deixe-o cozinhar nesse a gosto a cebola e o alho em 50 ml de
minutos, retire e deixe esfriar.
vapor até ficar macio.
Guarde em um recipiente de óleo de canola, numa panela
vidro, com tampa. caldo de frango 1 frango inteiro grande, até ficarem bem
para servir coloque o
tucunaré nos pratos, guarneça sem pele (sem o peito e as corados, mas sem queimar.
purê de batata cozinhe as asas) cortado em pedaços Reserve. Tempere a rabada
com o purê e sirva com as
batatas, com casca, em bastante
folhas e os talos de couve grandes; 2 cenouras ; 2 cebolas; com sal e pimenta e refogue-a
água temperada com o sal
salteados. 4 talos de salsão; 1 alho-poró; numa frigideira bem quente,
grosso até ficarem macias.
Reserve. Descasque os dentes 50 ml de azeite extravirgem; em fogo alto, com o restante
de alho e coloque-os num 1 ramo de tomilho; 1 ramo de do óleo, dourando-a bem.
“envelope” de papel-alumínio dica dos chefs amasse as alecrim; 3 folhas de louro; água Junte a carne à panela com
com 15 ml de azeite. Tempere-os batatas usando dois garfos quanto baste os legumes e mantenha em
com sal e pimenta e asse-os em juntos para obter um purê fogo alto. Adicione as ervas e
forno médio, a 180°C, até que pedaçudo. caldo pique todos os o vinho tinto, raspando bem
estejam bem macios. Retire-os
legumes em cubos pequenos. o fundo da panela com uma
do alumínio, passe-os por uma
rendimento 4 porções Coloque o azeite em uma colher de pau para soltar os
peneira fina e reserve. Amasse
preparo 2 horas panela grande e refogue o resíduos. Cozinhe por 5
as batatas com um garfo, sem
execução fácil
frango e os legumes, em fogo minutos em fogo alto e junte

88 janeiro/2012

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Endereços
Adega Casa Santa Luzia Minetta Tavern Sotero
Alentejana (11) 3897-5000 00xx1 (212) 253- (11) 3666-3066
(11) 5044-5760 1602
a água. Abaixe o fogo e gambas al ajillo aqueça o azeite Chef Rouge Spicy
cozinhe por cerca de 4 horas numa frigideira, junte o alho Alimport (11) 3081-7539 Mistral 0800 16 8388
(11) 3392-2202 (11) 3372-3400
e meia, até a carne começar a cortado em lâminas e deixe D.O.M. Spot
soltar do osso. Durante o fritar durante 1 minuto em fogo Ambientes & (11) 3088-0761 Nelise Ometto (11) 3284-6131
médio. Tempere os camarões Costumes (11) 3813-2395
cozimento, remova as (11) 3661-6678 D’Agostino Star Home
com sal e pimenta e junte-os
impurezas e a gordura que 00xx1 (212) 486- Nonno Ruggero (11) 3061-0407
ao alho. Frite-os por 2 minutos, Armani Caffé 0340 Cidade Jardim
se acumularem na superfície mexendo sempre. Adicione o (11) 3814-8264 (11) 3552-7000 Sushi Leblon
do caldo. Depois de cozida, vinho branco e deixe reduzir Decanter (21) 2512-7830
Art Mix (47) 3326-0111 Olympe
retire a carne do líquido e por cerca de 2 minutos. (11) 3853-2542 (21) 2539-4542 Tarantino
deixe esfriar. Coe o caldo em Editora (11) 3092-2337
para servir coloque os Bacco’s Gutenberg Oxford
uma peneira e volte-o ao fogo (11) 3660-8101 0800 28 31 322 Porcelanas The Meadow
camarões em uma tigela, decore (47) 3631-3000 00xx1 (212) 645-
baixo até reduzir o volume
com a salsa picada e sirva com Barbuto Editora Nova 4633
em 85%. O caldo deve ficar bem 00xx1 (212) 924- Fronteira Pão de Açúcar
fatias de pão quente.
concentrado, com aspecto de 9700 (21) 3882-8200 0800 15 2134 The Special
Épice Wineries
gelatina. Transfira-o para uma Barrinhas (11) 2910-4662 Paula Almeida (11) 4306-6151
travessa e deixe esfriar. dica do chef cuidado para (21) 2131-0021 (11) 3849-2279
não deixar o alho queimar, Escola da Arte Tordesilhas
Benedixt Culinária Premium (11) 3107-7444
pois isso deixa o prato (11) 3081-5606 Laurent (31) 3282-1588
para servir coloque a polenta
com gosto amargo. (11) 3887-0170 V&R Editoras
bem quente num prato fundo. Benjamin (11) 4612-2866
Ao lado, ponha a farofa Abrahão Futurama Presentes
(11) 3061-4004 (11) 3662-2922 Mickey Vinci
de lúpulo e um pedaço da rendimento 1 porção (11) 3088-0577 (11) 2797-0000
gelatina de caldo de rabada. preparo 20 minutos Bia Ferreira da Gero Caffé
Rosa (11) 3813-8484 Qualimpor Vinho Sul
Sirva em seguida. execução fácil (11) 3082-5989 0800 702 4492 (11) 3507-7393
Guimas
BrazilWays (21) 2259-7996 Regatta Casa Viníssimo
dica do chef use a carne (41) 3022-0740 (11) 5543-8144 (11) 4195-5554
Jullia Pizza Bar
da rabada que sobrou do Cantu (11) 2959-5077 Ritz Wondercakes
preparo para outras 0300 210 1010 (11) 3079-2725 (11) 3063-1209
receitas, como sanduíches Lorena 1989
Carrefour (11) 3081-2966 Roberta Zahil
ou recheio de massas.
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Para um melhor resultado, Melograno (21) 3874-0139
use fubá para polenta, e Casa da Cerveja (11) 3031-2921
não a farinha pré-cozida. (11) 2538-5136 Sam’s Club
Mercearia do (11) 5545-5800
Casa Flora/Porto Francês
a Porto (11) 3214-1295 Sonda
(11) 3327-5199
rendimento 4 porções coco espumante (11) 2145-6220

preparo 8 horas por Rafael Sessenta,


execução difícil do restaurante Sotero,
inspirado na receita da
sorveteria Cubana
gambas al ajillo (leia reportagem na pág. 52) para servir coloque a bebida
por Nery Owczarzak, em um copo longo, acrescente
do Venga! (leia reportagem cubos de gelo e decore com um
na página 81) 30 ml de cachaça canudo.
envelhecida;
5 colheres (sopa) de azeite 3 colheres (sopa) de polpa do
de oliva; 3 dentes de alho coco verde; dica do chef se preferir,
7 camarões médios, sem casca, 100 ml de água de coco; substitua a cachaça por
mas com o rabo; 1 pitada gelo de água de coco a gosto gim ou vodca.
de pimenta-do-reino preta;
sal grosso a gosto; 50 ml de coco espumante bata todos
vinho branco; salsa quanto os ingredientes no rendimento 2 copos
baste para decorar; fatias de liquidificador e deixe espumar preparo 15 minutos
pão a gosto bastante. execução muito fácil

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foto: Carla Alves; locação, The Standard Grill; cabelo, Benjamin Thigpen
eugosto

Tartare de cavalo
e hambúrguer
As preferências do apresentador
Pedro Andrade, que se divide entre
São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York

por Shoichi Iwashita

Descoberto em Ipanema pelo fotógrafo Mario Testino, Pe- Nova York é famosa pelos restaurantes estrelados e pela
dro Andrade já viajou o mundo como modelo e, hoje, além comida de rua. O que prefere?
de fazer parte da trupe do Manhattan Connection, no GNT, Curto as duas. Tenho a sorte de ter um trabalho que me
apresenta o LXTV, programa de lifestyle da tevê norte-ame- permite experimentar a cozinha de alguns dos maiores
ricana NBC. Por não saber cozinhar, a única refeição que chefs do mundo, mas consigo ver graça tanto num pra-
Pedro faz em casa, em Nova York, é o café da manhã, o que to da gastronomia molecular quanto numa tapioca com
o torna uma ótima fonte de informações sobre restaurantes queijo coalho ou num milho na brasa benfeito. Custo
do eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York. não tem nada a ver com sabor.

O que comeu de mais estranho em suas viagens? Quais lugares você frequenta no circuito NY-SP-RJ?
Adoro experimentar coisas novas. Já comi baratas, besou- Em Nova York, o Barbuto, do chef Jonathan Waxman, e o
ros, grilos, jacaré, javali... Um prato que me marcou foi um Minetta Tavern e o Morandi, do restaurateur Keith McNally.
tartare de cavalo no Canadá. Meu programa da NBC teve Faço compras no D’Agostino e na The Meadow, uma loja
até problemas, pois a prática é proibida nos EUA. com mais de 100 tipos de sal! Em São Paulo, adoro o Spot,
o Ritz, o Gero e o D.O.M. Conheci recentemente o Lorena
O que você não come de maneira alguma? 1989 e já o incluí na minha lista de favoritos. No Rio, Sushi
A única coisa que não suporto é anis. Num jantar na Gré- Leblon, Roberta Sudbrack e todos do Troisgros.
cia, meu chefe fez questão de que eu provasse o uzo, bebida
típica local. Senti o cheiro de anis já na bandeja. Foi como se Quais suas bebidas prediletas?
estivesse tomando novalgina: intragável! Adoro um bom vinho tinto, uma caipirosca de lima da pér-
sia sem açúcar nem adoçante e um bom dirty vodca marti-
Qual seu prato favorito? ni, que leva um pouquinho do suco da azeitona.
É o black label burger, do Minetta Tavern, em Nova York,
feito com filé-mignon, côte du boeuf e cebolas carameli- E você nunca tentou cozinhar?
zadas. O chef recomenda sem queijo, mas discordo: sem- Meu pai é um cozinheiro de mão cheia, mas desde muito
pre peço o meu com cheddar e sem pão. cedo vi que minha vocação era nula. Já explodi ovo e salsicha
no micro-ondas, quase botei fogo em casa, tentei fazer sopa
O que não falta em sua geladeira? sem adicionar água, sem falar nos cortes nas mãos tentando
Pão integral, pasta de amendoim, café e leite. O café da descascar frutas e vegetais. Decidi então que nasci para de-
manhã é a única refeição que faço em casa. Também não gustar. Hoje, como moro sozinho, recebo cartas da empresa
vivo sem chocolate amargo, melhor ainda se acompa- de gás alegando que o medidor do meu apartamento está
nhado de um bom vinho tinto. quebrado. A verdade é que eu nunca ligo o fogão.

Confira os endereços citados na página 89


90 dezembro/2011

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177 Do jardim para a mesa ano 15 setembro/2013

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