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Economias emergentes:

a industrialização
recente
Capítulo 09
• Tendo como referência a industrialização ao longo da História, as economias
emergentes são consideradas recém-industrializadas porque nelas esse
processo teve início cerca de um século e meio depois de ter iniciado nos
países precursores. No entanto, o crescimento fabril foi muito rápido em
algumas delas. Neste capítulo analisaremos algumas das economias
emergentes mais industrializadas entre os países em desenvolvimento.
Classificamos os países analisados em três grupos distintos: os latino-
americanos, que implantaram o modelo de industrialização por substituição
de importações; os Tigres Asiáticos, que estabeleceram o modelo de
plataformas de exportações; e os pertencentes ao Fórum de Diálogo Índia,
Brasil e África do Sul (Ibas), com características semelhantes às dos países da
América Latina.
• Vamos estudar detalhadamente os países com produção mais relevante de
cada um desses grupos, respectivamente: Brasil, México e Argentina; Coreia
do Sul, Taiwan e Cingapura; Índia e África do Sul. O que há em comum e o
que há de diferente no processo de industrialização desses três grupos de
países? Qual modelo foi o mais bem-sucedido?
1 -América Latina
Os fatores da industrialização
• Brasil, México e Argentina são as maiores, mais industrializadas e diversificadas
economias da América Latina, por isso vamos analisá-las com mais profundidade
neste capítulo. No entanto, o processo de industrialização vem atingindo outros
países da região, como Venezuela, Colômbia, Chile e Peru.
• Esses três países se tornaram independentes no início do século XIX e, no fim
dele, iniciaram seu processo de industrialização. Até então, eram basicamente
exportadores de produtos minerais e agropecuários para os países já
industrializados. Com a crise de 1929 e a depressão econômica decorrente, esses
países passaram a importar menos, o que levou o Brasil, o México e a Argentina
a terem suas exportações drasticamente reduzidas.
• Esse fato dificultou a importação de diversos bens industrializados, o que
acelerou a construção de fábricas internamente, voltadas a produzir muitos bens
de consumo, em especial aqueles oriundos da Europa. Isso deu origem ao
modelo de industrialização que ficou conhecido por substituição de
importações.
América Latina
• A aristocracia latifundiária, que havia acumulado capital com as exportações de
produtos agropecuários, passou a investi-lo na indústria, no comércio e no
sistema financeiro. Os estancieros argentinos (donos de grandes propriedades
rurais) ganharam dinheiro exportando carne e trigo; no Brasil, destacavam-se os
cafeicultores, conhecidos como barões do café; e, no México, os proprietários
das haciendas (fazendas). Parte do dinheiro dos fazendeiros ficava depositada
em bancos e era emprestada para financiar a instalação de indústrias, muitas
das quais fundadas por imigrantes europeus.
• Outro agente importante no início da industrialização foi o Estado, que passou a
investir em indústrias de bens intermediários (mineração e siderurgia,
petrolífera e petroquímica, etc.) e em infraestrutura (transportes,
telecomunicações, energia elétrica, etc.).
• Após a Segunda Guerra Mundial, a industrialização por substituição de importações
mostrou suas limitações: carência de maiores volumes de capitais que permitissem
continuar o processo, inexistência de setores industriais importantes, como a indústria
de bens de capital, e defasagem tecnológica. Foi nessa época que teve início a entrada
de capitais estrangeiros.
• Com a entrada de investidores estrangeiros houve um grande avanço no processo de
industrialização de Brasil, México e Argentina, o qual passou a se assentar no tripé
capital estatal, nacional e estrangeiro. A entrada das corporações transnacionais
contribuiu para o surgimento de novas empresas nacionais em diversos setores,
muitas delas complementares às estrangeiras. Por exemplo, a entrada das empresas
automobilísticas estimulou o desenvolvimento de muitas indústrias nacionais de
autopeças.
• O modelo de substituição de importações incentivou a produção interna de muitos
bens de consumo, que deixaram de ser adquiridos no exterior, como roupas, calçados,
eletrodomésticos, carros, entre outros. Ao mesmo tempo, requeria a importação de
outros bens que não eram produzidos internamente, como máquinas e equipamentos,
e exigia a implantação de uma infraestrutura de transportes, energia e
telecomunicações, demandando cada vez mais investimentos. Como a poupança
interna era limitada, esse modelo de industrialização dependeu excessivamente de
capital estrangeiro, e os recursos externos entravam nesses países como investimento
produtivo, por meio da instalação de filiais de transnacionais ou por empréstimos
contraídos pelos governos e por empresas privadas nacionais.
2- Tigres Asiáticos
A origem dos Tigres
• Na década de 1970, quatro países da Ásia (Cingapura, Hong Kong, Coreia
do Sul e Taiwan) apresentaram um acelerado processo de
industrialização. Em razão da agressividade administrativa e da localização
dos países, eles ficaram conhecidos mundialmente como Tigres Asiáticos.
• O modelo industrial desses países é caracterizado como IOE
(Industrialização Orientada para a Exportação), ou seja, as indústrias
transnacionais que se estabeleceram nesses países e as empresas locais
implantaram um parque industrial destinado principalmente ao mercado
exterior.

Hong Kong é um dos países que formam os Tigres Asiáticos Cingapura


• Cingapura, Hong Kong, Coreia do Sul e Taiwan utilizaram métodos diferentes para o
desenvolvimento econômico, no entanto, essas nações apresentaram aspectos comuns,
como forte apoio do governo, proporcionando infraestrutura necessária (transporte,
comunicações e energia), financiamento das instalações industriais e altos investimentos em
educação e em qualificação profissional. .
Além disso, esses países (exceto Coreia do Sul) adotaram uma política de incentivos para
atrair as indústrias transnacionais. Foram criadas Zonas de Processamento de Exportações
(ZPE), com doações de terrenos e isenção de impostos pelo Estado.

Diferentemente dos outros Tigres Asiáticos, a Coreia do Sul demonstrou resistência a


instalações de empresas transnacionais em seu território. O desenvolvimento industrial do
país baseou-se nos chaebols, que se caracteriza por redes de empresas com fortes laços
familiares. Quatro grandes chaebols controlam a economia coreana e têm forte atuação no
mercado internacional: Hyunday, Daewoo, Samsung e Lucky Gold Star.
Somente na década de 1980 começaram a entrar transnacionais na Coreia do Sul, entretanto
estas são associadas a empresas coreanas. .
Os Novos Tigres Asiáticos
• Em consequência do grande desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos, houve
uma expansão para os países vizinhos do sudeste, o que proporcionou um processo de
industrialização na Indonésia, Vietnã, Malásia, Tailândia e Filipinas. Além dos
investimentos dos quatro Tigres originais, os novos Tigres passaram a fazer parte das
redes de negócios de empresas dos Estados Unidos, do Japão e de outros países
desenvolvidos. .
Nesses novos Tigres foram instaladas indústrias tradicionais, como têxteis, calçados,
alimentos, brinquedos e produtos eletrônicos. Nesses países há mão de obra menos
qualificada que a encontrada nos quatro Tigres originais, porém, muito mais barata.
Milhares de pequenas empresas produzem mercadorias sob encomenda, criadas e
planejadas em outros países do mundo. .

Kaesong: o complexo abriga 124 empresas sul-coreanas


e proporciona emprego a quase 53.000 norte-
coreanos (Kim Hong-Ji / Reuters/)
Os fatores da industrialização
O Estado teve papel fundamental no planejamento estratégico para estimular
a industrialização e as exportações. Entre outras medidas:
• concedeu incentivos às exportações, como redução de impostos;
• manteve uma política de desvalorização cambial;
• adotou medidas protecionistas (como a elevação de tarifas de importação)
contra os concorrentes estrangeiros;
• investiu intensamente em educação e concedeu bolsas de estudos no
exterior;
• impôs restrições ao funcionamento dos sindicatos;
• promoveu grandes investimentos em infraestrutura de transporte, energia,
etc.;
• restringiu o consumo para elevar o nível de poupança interna via medidas
fiscais (elevação de impostos) e controle das importações.
• A aceleração da industrialização nos Tigres Asiáticos se deve a um conjunto de
fatores: elevadas poupanças internas, ajuda financeira recebida dos Estados
Unidos, no contexto da Guerra Fria, e empréstimos contraídos em bancos no
exterior a taxas de juros fixas.
• No início desse processo, a mão de obra nesses países era muito barata e
relativamente qualificada e produtiva. Esse baixo custo, associado às medidas
governamentais, como os subsídios às exportações e o controle da política
cambial, tornava os produtos dos Tigres muito baratos. Isso lhes garantiu alta
competitividade no mercado mundial e, portanto, elevados saldos comerciais.
3 -Países do Fórum Ibas
• O Fórum de Diálogo Ibas (ou IBSA, da sigla em inglês) é uma cooperação
trilateral firmada em 2003 entre três importantes países emergentes: Índia,
Brasil e África do Sul. Como vimos no Capítulo 4, seu objetivo é aprofundar
a cooperação Sul-Sul no âmbito econômico, científico e cultural, além de
aumentar o poder de negociação com os países desenvolvidos nos
organismos internacionais, como a ONU e a OMC.
• Segundo o próprio Fórum, “Índia, Brasil e África do Sul procuram,
principalmente a partir da década de 1990, elevar seu perfil internacional a
partir de atributos cuja semelhança, por si só, justifica a maior
aproximação entre os três países: são potências intermediárias, com forte
influência em suas respectivas regiões, democracias consolidadas e
economias em ascensão e que, dadas as evidentes desigualdades internas,
confrontam desafios comuns de desenvolvimento”.
África do Sul
• O processo de industrialização da África do Sul foi intensificado depois da
independência política do Reino Unido, em 1961. Contou com uma forte
participação de capitais estrangeiros, predominantemente britânicos e norte-
americanos, distribuídos por vários setores, com destaque para a indústria
extrativa. Os capitais estatais concentraram-se na indústria de bens
intermediários e em obras de infraestrutura. Na atualidade, o parque industrial
sul-africano é diversificado.
• Em 2014, o PIB da África do Sul, apesar de corresponder a 20% do produto
interno bruto de toda a África subsaariana equivalia a somente 15% do PIB
brasileiro. Entre os fatores que contribuíram para a industrialização da África
do Sul destacam-se a disponibilidade de mão de obra barata – os trabalhadores
negros eram super explorados – e as enormes reservas minerais e energéticas.
• No início do processo, esses fatores serviram para atrair investimentos
estrangeiros, mas com o aumento da pressão internacional contra o apartheid,
principalmente a partir dos anos 1980, muitas empresas transnacionais
deixaram de investir no país.
Superação do Apartheid
• Além das pressões externas, muitos líderes sul-africanos lutaram contra o regime
segregacionista, entre os quais o mais conhecido é Nelson Mandela (1918-2013). Ele
foi o maior líder do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), como é
chamado o mais antigo grupo antiapartheid, fundado em 1912, e também o partido
político atualmente no poder. Com a introdução do voto secreto e universal em
1994, Mandela, recém-saído da prisão, foi eleito o primeiro presidente negro do
país.
• Apesar da extinção do regime do apartheid, a desigualdade socioeconômica
permanece. A África do Sul é um dos países com distribuição de renda mais desigual
no mundo: de acordo com o World Development Indicators 2015, os 10% mais ricos
se apropriam de 51,3% da renda nacional, e os 10% mais pobres, de apenas 0,9%.
Segundo o mesmo relatório do Banco Mundial, 34,7% da população vive na pobreza,
com menos de 3,10 dólares PPC por dia, e 16,6%, na extrema pobreza, com menos
de 1,90 PPC dólar por dia. A maioria da população pobre é composta de negros; por
isso, como vimos no Capítulo 5, políticas de ação afirmativa têm sido instituídas por
sucessivos governos desde o fim do apartheid para compensar essa desigualdade. E
os investimentos em educação, como mencionado pelo próprio Mandela, são
fundamentais nesse processo.
Índia
A Índia é um dos mais importantes países emergentes. Com base em seu
gigantesco mercado consumidor (é a segunda população do planeta,
superada apenas pela da China), apresenta uma das economias que mais
crescem no mundo. Segundo o Banco Mundial, o país cresceu em média 7,6%
ao ano no período de 2000 a 2014. Entretanto, iniciou seu processo de
industrialização tardiamente, somente após a Segunda Guerra Mundial,
quando se libertou do domínio do Reino Unido. Em 1947, depois de longa
campanha liderada por Mohandas Gandhi (1869-1948), o país obteve sua
independência política.
Na Índia, sob o governo de Nehru, o Estado teve forte participação no
processo de industrialização, embora também houvesse investimentos
britânicos e americanos. Como se tratava de um governo do grupo dos países
não alinhados, ainda contou com a assistência técnica soviética em diversos
setores como o petroquímico e o militar. O Estado investiu principalmente na
indústria de bens intermediários, na indústria bélica e em obras de
infraestrutura. As grandes reservas de minérios, como cromo (terceiro
produtor mundial, em 2014), de ferro (quarto) e manganês (sexto),
contribuíram para o processo de industrialização.
• A Índia possui um parque fabril diversificado, com praticamente todos os setores
industriais, e também já abriga algumas empresas entre as maiores do mundo, com
destaque para a Indian Oil (maior do país e 119a do mundo na lista da Fortune
Global 500 2015). A empresa atua em extração, transporte e refino de petróleo e
também no setor petroquímico. A Indian Oil simboliza a intervenção estatal no
processo de industrialização da Índia (como a Petrobras, no Brasil) e até hoje é
controlada pelo governo central, que em junho de 2015 detinha 68,5% das ações da
empresa. Duas grandes empresas indianas são a Tata Motors, maior indústria
automobilística do país, e a Tata Steel, ambas pertencentes ao Grupo Tata, cujo
controle acionário está nas mãos do bilionário Ratan Tata.
• Os setores que mais se destacam na economia
indiana são as indústrias e os serviços de alta
tecnologia, como de informática, de biotecnologia e
de TI. O país possui algumas das principais empresas
desses setores e é um dos maiores exportadores
mundiais de softwares; abriga ainda um dos mais
importantes parques tecnológicos do mundo –
Bangalore –, onde estão instaladas praticamente
todas as empresas globais desses setores.
Contribuíram para o desenvolvimento dos setores de
alta tecnologia, especialmente da área de
informática, a política governamental de estímulos
ao setor, a existência de centros de pesquisas de
excelência e a enorme quantidade de mão de obra
qualificada, porém bem mais barata do que sua
correlata do Vale do Silício (Estados Unidos) ou de
Cambridge (Reino Unido). O retorno de muitos
trabalhadores de alta qualificação que antes
prestavam serviços naqueles dois países também
contribuiu para o desenvolvimento das indústrias de
alta tecnologia na Índia.
Atividade
1-Qual o modelo de industrialização adotado em países como: Brasil,
México e Argentina, algumas das maiores economias da América
Latina?
2-Cite alguns dos principais fatores que favoreceram a industrialização
dos Tigres Asiáticos.
3- Explique sinteticamente as bases do processo de industrialização:
a) da Índia;
b) da África do Sul.
4- Quais são os setores que mais vêm se destacando na economia
indiana?

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