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EDITORIAL

Uma família unida e feliz


Paula Franco, Bastonária

A pós dois anos de interregno devido à pandemia,


o Encontro Nacional dos Contabilistas Certifi-
cados regressou em força. E de que maneira. Mais de
tabilistas certificados. A legislação em vigor permitiu
diferir prazos e suspender as notificações, permitindo
aos profissionais uma melhor e atempada planificação
duas mil pessoas rumaram até à Quinta da Malafaia, do período de descanso. Do feedback que tivemos, a
no concelho de Esposende, distrito de Braga, para uma pausa de agosto correu muito melhor do que no ano
celebração inesquecível. transato. Agora, há que olhar em frente e apontar ba-
Foram muitos os que repetiram a experiência, en- terias para os quatro meses que restam para acabar o
quanto outros viveram in loco este evento pela primei- presente exercício e, nesta fase mais tranquila, antes
ra vez. Confesso a emoção que senti ao testemunhar a do encerramento das contas, resolver situações que
felicidade estampada no rosto de contabilistas certifi- exijam uma dedicação detalhada e mais atenta. Nes-
cados e dos seus familiares que passaram um abrasa- te sentido, acredito que uma vez limadas as arestas
dor sábado de julho em fraterno e animado convívio. em falta, seja possível, em janeiro ou fevereiro, fazer
Os prazos e as obrigações ficaram, temporariamente, o encerramento de contas sem percalços de maior,
à margem das preocupações. Tudo por um dia descon- agora que a pandemia parece mais distante de ser uma
traído e bem passado. ameaça.
O XVI Encontro demonstrou, uma vez mais, que even-
tos desta natureza fazem cada vez mais sentido. Em **
paralelo com uma vida profissional intensa e exigen-
te, é imperioso que continuem a existir, com perio- A abordagem de uma temática atual e pertinente, pela
dicidade regular, momentos de pausa e de lazer. Com voz de uma personalidade de reconhecido mérito e
comida, bebida e boa disposição. Por isso, o Encontro destaque. É sempre este o objetivo, mês após mês, que
Nacional e a Festa de Natal são a demonstração inequí- preside à escolha dos entrevistados desta revista. A
voca de que há vida para além da contabilidade. In- publicação de julho não é exceção. A jurista da DECO
dependentemente do que se possa dizer, a família dos Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção
contabilistas está cada vez mais unida e feliz. Financeira da Associação Portuguesa para a Defesa do
Consumidor, aborda a sensível questão do sobre-endi-
vidamento das famílias e explica de que forma as baixas
** competências de literacia financeira podem contribuir
para a tomada de más decisões. Como sempre, uma lei-
O mês de agosto coincidiu, pela primeira vez, com as tura a não perder nas páginas interiores, agora que as
férias tributárias e contributivas em pleno para os con- finanças pessoais estão sob intensa pressão.

JULHO 2022 3
FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

6
ANO XXII
REVISTA N.º 268 • JULHO 2022
Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
e Imagem da Ordem
Avenida Barbosa
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Diretora Impressão
Paula Franco LiderGraf

Diretores adjuntos Tiragem


Joaquim Jorge Barbosa 10 001 exemplares
Cristina Pena Silva Entrevista a Natália Nunes.
Manuel Teixeira Depósito legal
Helena Costa N.º 150317/00

16
Álvaro Costa
Pedro Nuno Ferreira ISSN
1645-9237
Redação
Jorge Magalhães Organismos

CONGRESSO
Nuno Dias da Silva internacionais
a que a Ordem pertence:
Design e paginação
Duarte Camacho ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
João Martins ALTICE ARENA 21, 22 E 23 SETEMBRO 2022
Sara Brás

Fotografia
Jorge Gonçalves
Raquel Wise

Secretariado
Raquel Carvalho
Sete mil profissionais são esperados na Altice Arena.
Colaboram nesta edição
António Gil
Armando Almeida Tavares

26
Eduardo Sá e Silva
Elsa Marvanejo da Costa
Paula Franco
Pedro Lima
Telma Lopes

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.


Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial.

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SUMÁRIO

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Quinze anos depois, o Encontro Nacional regressou à Quinta da Malafaia, para o maior convívio de sempre.

NOTÍCIAS

16 7.º Congresso dos Contabilistas Certificados


18 XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados
25 Livro «Ser contabilista certificado» | Ordem presente no lançamento da plataforma Digital Leaders
26 Apresentação do livro «Comércio eletrónico»
28 Ordem nos media

COLABORAÇÃO ISCAP
29 Relatório não financeiro

COLABORAÇÃO ISCA-UA
32 A fixação de um nível mínimo mundial de tributação para os grupos multinacionais na União Europeia

FISCALIDADE
34 Alienação de viatura ligeira de passageiros

45 IRC: realizações de utilidade pessoal – conceito de despesas de pessoal

TOConline
49 Importação de mercadorias no TOConline (II)

CONSULTÓRIO TÉCNICO
60 Perguntas e respostas

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ENTREVISTA

Natália Nunes, coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira da DECO

«Há uma série de barreiras


que impedem as famílias
de beneficiar dos apoios»
As medidas de apoio do governo «têm de ser ágeis e não podem ser burocráticas».
O alerta é de Natália Nunes, que refere ainda que «as famílias continuam com baixas
competências de literacia financeira», o que acaba por explicar «más decisões»
em situações difíceis. A coordenadora do Gabinete de Proteção Financeira
da DECO chama ainda a atenção para as práticas agressivas e lesivas dos direitos
dos consumidores promovidas por empresas de recuperação de crédito.

Entrevista Nuno Dias da Silva Fotos Raquel Wise

Contabilista – A DECO – Associa- não havia qualquer estrutura, quer líquido mensal total, por agrega-
ção Portuguesa para a Defesa do judicial quer extrajudicial, que do familiar, a rondar os 1100 eu-
Consumidor é há 48 anos a «voz prestasse ajuda aos agregados fa- ros. São famílias multi-endivida-
dos consumidores» portugueses. miliares. E muito menos se falava das que acumulam cinco ou mais
O seu Gabinete de Proteção Fi- do termo sobre-endividamento. A créditos: por norma, um crédito à
nanceira (GPF) foi criado no ano DECO tem, por isso, o mérito de habitação, dois créditos pessoais
2000, tendo ajudado 152 famílias ter colocado na ordem do dia esta e ainda dois cartões de crédito.
nesse primeiro ano. De lá para problemática que afeta milhares Quando nos pedem ajuda, grande
cá, o volume de pedidos não tem de famílias. Os mecanismos atual- parte desses créditos encontram-
parado de crescer. Que balanço mente existentes para apoiar as fa- -se em situação de incumprimento
faz de mais de duas décadas de mílias, sem esquecer a prevenção ou à beira de estarem nessa con-
atividade? do sobre-endividamento, estão dição. Os cartões de crédito e os
Natália Nunes – A DECO teve o disponíveis, em boa medida, pelo créditos pessoais estão à frente na
mérito de, no final dos anos 90, ter trabalho desenvolvido pela nossa maior taxa de incumprimento re-
detetado a existência de um pro- associação. gistada, seguindo-se o crédito au-
blema que ainda não estava, de um tomóvel e só, em última instância,
modo geral, suficientemente reco- Contabilista – Qual tem sido a é que o crédito à habitação entra
nhecido pela sociedade portugue- evolução dos pedidos de ajuda em incumprimento. Nas situações
sa e pelas entidades oficiais. E esse que chegam à DECO? mais críticas, as pessoas chegam
problema dá pelo nome de endi- N.N. – Normalmente é um agrega- mesmo a recorrer a outros rendi-
vidamento excessivo e das conse- do familiar composto por três ele- mentos e poupanças, e inclusive a
quências ao nível do sobre-endivi- mentos, um deles menor a cargo. A saldos dos cartões de crédito, para
damento. Recordo-me que quando idade dos pais situa-se entre os 40 pagar a prestação do crédito à ha-
começamos a apoiar as famílias, e os 50 anos e têm um rendimento bitação.

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ENTREVISTA

PERFIL
Natália Nunes nasceu a 25 de dezembro de
1968, no distrito de Castelo Branco. Jurista
de formação – licenciada em Direito pela
Universidade Moderna e com pós-gradua-
ções em Direito pela Faculdade de Direito
da Universidade de Coimbra e uma pós-gra-
duação em Direito do Consumo – coordena
o Gabinete de Proteção Financeira da DECO,
desde o ano em que foi criado, em 2000.
Contudo, a sua relação como colaboradora
da Associação Portuguesa para a Defesa do
Consumidor remonta a 1991. É a porta-voz
da DECO para assuntos relacionadas com o
sobre-endividamento das famílias, surgin-
do com frequência na Comunicação Social
como comentadora destas matérias.

Contabilista – Chegam até à consumidores que é, o foco da significa que a maior parte das famí-
DECO casos de insolvência pes- DECO são apenas as famílias e os lias dispõe de rendimento, mesmo
soal? consumidores. sendo baixo. Durante a pandemia
N.N. – Claro que sim. Gostaria de registou-se uma grande redução de
referir que a nossa intervenção é Contabilista – A crise financeira, rendimentos nos agregados familia-
extrajudicial e, neste caso espe- a pandemia e agora a crise energé- res, formais ou informais. Contudo,
cífico, é um processo que já corre tica e a inflação, provocadas pela o governo lançou medidas de apoio
termos nos tribunais. Se cons- guerra, são três momentos parti- que aliviaram a situação financeira e
tatarmos que aquela família, ex- cularmente desafiantes para os o próprio confinamento gerou pou-
trajudicialmente, não conseguirá consumidores. O que distingue e panças em determinados agregados
recuperar, um dos caminhos que aproxima estes marcos? que, em abono da verdade, estão a
propomos é a possibilidade de re- N.N. – São três momentos que têm ser muito úteis agora.
curso à insolvência. Segundo da- em comum o facto de representarem
dos divulgados pelo Ministério da graves dificuldades financeiras para Contabilista – Essa rede de prote-
Justiça, mais de 70 por cento das as famílias. O momento que estamos ção está a tornar esta fase de difi-
insolvências declaradas em Por- a viver, atualmente, é completamen- culdades menos abrupta?
tugal são de particulares, ou seja, te diferente do que vivemos entre N.N. – A poupança acumulada
famílias. 2008 e 2012. Durante a crise finan- nos dois últimos anos permitiu
ceira, as taxas Euribor e os níveis de amortecer os efeitos que a inflação
Contabilista – Só para que fique desemprego eram extraordinaria- está a ter desde o início do ano e
claro, não aceitam pedidos de mente elevados. Atualmente, a taxa o próprio impacto da Euribor nas
ajuda de empresas? de desemprego encontra-se num prestações das casas. Mas esta
N.N. – Não. Como associação de nível historicamente baixo. O que poupança acabará por esgotar-se.

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ENTREVISTA

O contexto de estrangulamento fi-


nanceiro das famílias deverá con-
tinuar, o que impedirá níveis sig-
nificativos de poupança.

Contabilista – Concretamente so-


bre o crédito à habitação, o deba-
te está lançado: taxa fixa ou variá-
vel? Faz sentido mudar ou é uma
decisão precipitada?
N.N. – É uma decisão que cada um
deve ponderar e avaliar. Quem pre-
fere ter a certeza do valor da presta-
ção deve ponderar a passagem para
a taxa fixa. A prestação vai manter-
-se inalterável durante o período
de vigência do empréstimo. Contu- para aceitar a renegociação dos os créditos. E como anteriormente
do, esta certeza paga-se e tem um créditos dos particulares? referi, a legislação obriga os ban-
seguro inerente, que é pago pelos N.N. – A situação tem melhorado cos a abrirem um procedimento
consumidores. Em resumo, se eu ao longo dos anos. O crédito à ha- integral e avaliarem a situação fi-
hoje for contratar uma taxa fixa o bitação era quase como um produ- nanceira da família, verificando se
valor da prestação a pagar será su- to fechado, que não se podia alte- existe possibilidade de apresentar
perior ao valor da prestação com rar, até porque a própria legislação uma proposta de reestruturação
uma taxa variável. Por outro lado, impunha regras muito apertadas. financeira. Numa situação limite,
com uma taxa variável terei de es- Entretanto, a legislação mudou, se não existir essa viabilidade e a
tar preparado para as oscilações da os contratos foram flexibilizados família continuar em incumpri-
taxa Euribor. É tudo uma questão e o próprio consumidor tornou- mento, à banca não resta outra
de avaliação e ponderação que deve -se mais conhecedor dos produtos solução que não seja a venda das
ser feita pela família. financeiros, enquanto os bancos carteiras de crédito malparado,
foram acompanhando todas estas nomeadamente o crédito à habi-
Contabilista – Num empréstimo alterações. Os bancos têm, hoje, tação. Esta situação tem vindo a
para habitação, e sempre que uma maior abertura para nego- repetir-se, especialmente a partir
possível, as amortizações são a ciar os créditos à habitação. E os de 2017.
forma sugerida para diminuir a próprios bancos sabem que se
exposição ao crédito bancário? negociarem os contratos, vão ter Contabilista – A quem é que a
N.N. – É o indicado para quem ti- os clientes mais tempo consigo e banca vende essas carteiras de
ver essa disponibilidade de amorti- que estes não vão procurar enti- crédito malparado?
zação. Até porque terá a vantagem dades bancárias concorrentes, que N.N. – Por norma, as carteiras de
de diminuir o valor da prestação e eventualmente oferecem melhores crédito malparado são vendidas a
não vai encarecer o empréstimo. condições. empresas fora do sistema bancário
Quem não tiver essa capacidade, – por exemplo, grandes fundos –,
procurará prolongar ao máximo Contabilista – A negociação dos que depois não estão interessadas
os empréstimos, diminuindo o va- contratos é uma forma airosa em negociar com os consumidores
lor da prestação, mas no final da para evitar o crédito malparado? o crédito hipotecário nos termos
vigência do empréstimo vão pagar N.N. – Ninguém tem interesse idênticos em que uma instituição
muito mais a título de juros. em ter crédito malparado: nem os bancária está disposta a fazê-lo. E
bancos nem as famílias. Mesmo isso, muitas vezes, cria problemas
Contabilista – As entidades ban- em incumprimento os bancos têm aos particulares. O que se passa é
cárias estão mais sensibilizadas mostrado abertura em renegociar que as empresas de recuperação

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ENTREVISTA

Mas é preciso ter em atenção o lado


dos senhorios. Sabemos que existem
muitos proprietários que aplicaram
«Nas situações mais críticas, as pessoas chegam mesmo a
as suas poupanças na compra de al-
recorrer a outros rendimentos e poupanças, e inclusive a
guns imóveis que colocaram no mer-
saldos dos cartões de crédito, para pagar a prestação do cado de arrendamento e a totalidade
crédito à habitação.» ou quase totalidade do rendimento
que possuem provém daí. Anuncia-se
que serão compensados com a dife-
rença, em sede de IRS ou IRC, mas, de
de crédito começam a gerir a dívi- rio de um imóvel não tem apenas qualquer forma, não é a mesma coisa
da de particulares, mas não exis- o crédito à habitação para pagar. É receber todos os meses um determi-
te legislação a regulamentar esta preciso contar com os seguros, o nado valor ou receber determinado
atividade. São, por isso, frequentes condomínio, o IMI, bem como des- montante passado um ano.
práticas de recuperação de crédi- pesas relacionadas com eventuais
tos, mais ou menos agressivas, que necessidades de obras. Do lado do Contabilista – Segundo um estu-
acabam por atropelar e lesar os di- arrendamento, temos “só” as rendas do recentemente divulgado, três
reitos dos consumidores. e as atualizações anuais. O consumi- em quatro portugueses ganham
dor devia poder ponderar ambos os menos de mil euros mensais. Que
Contabilista – A habitação é, pro- pratos da balança. encargos financeiros, para a aqui-
vavelmente, o maior fardo das pes- sição de imóvel, devem ser su-
soas, sendo uma questão central Contabilista – O teto de dois por portados pelas famílias para não
nos orçamentos e, por norma, o úl- cento estabelecido pelo governo caírem em eventuais situações de
timo bastião em termos de prote- para a atualização das rendas em incumprimento?
ção financeira. Que preocupações 2023 acautela os interesses dos in- N.N. – A recomendação do Banco de
devem estar subjacentes à compra quilinos? Portugal é que o banco só deve em-
ou ao arrendamento de casa? N.N. – Para os inquilinos é uma boa prestar até 90 por cento do valor de
N.N. – Uma pessoa que está a ini- medida, até porque havia uma expe- avaliação do imóvel. Significa isto
ciar um projeto de vida, sozinho ou tativa e um receio do impacto que um que quando o particular avança para
em casal, deveria poder escolher grande aumento podia ter no próximo a compra do imóvel deve ter disponí-
entre comprar e arrendar casa. O ano, em especial para os agregados vel, pelo menos, 10 por cento do va-
problema é que o leque de escolha familiares de menores rendimentos. lor de avaliação do imóvel. Mas tão
fica mais reduzido porque, verda-
deiramente, não existe um mercado
de arrendamento em Portugal. Por
isso, é frequente os jovens, quando
saem de casa dos pais, procurarem
inicialmente o mercado de compra
do imóvel. Quando o mercado de
arrendamento podia ser uma boa al-
ternativa, mas atualmente apresenta
preços incomportáveis para a maior
parte das bolsas.

Contabilista – Mas é preciso que


se diga que as despesas associadas
à aquisição de casa não terminam
na prestação mensal…
N.N. – É um facto. Um proprietá-

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ENTREVISTA

importante quanto isto, é a taxa de 2021, verificamos que a taxa de es- N.N. – As explicações são várias.
esforço, que corresponde ao peso forço média das famílias que nos Durante muitos anos, até talvez
que as prestações com crédito têm pedem ajuda é superior aos 70 por final da primeira década deste sé-
no meu rendimento líquido men- cento. Mas temos casos de pessoas culo, falou-se dos três “D” como as
sal. Aquilo que a DECO recomen- com perto dos 100 por cento de taxa grandes causas de sobre-endivida-
da há anos é que as famílias não de esforço. São casos em que o cré- mento: desemprego, doença e o di-
se devem endividar para além dos dito absorve praticamente a totali- vórcio. Com o passar do tempo fo-
35 por cento do seu rendimento dade do salário. ram surgindo outras dificuldades,
líquido mensal. Ou seja, se o meu como é o caso do apoio dos filhos
rendimento líquido mensal for de Contabilista – Uma má gestão aos pais. O curioso é que nesta últi-
mil euros, devo saber que, para das finanças pessoais não expli- ma situação o papel desempenhado
acautelar possíveis dificuldades ca tudo, até porque há outros por pais e filhos alterou-se visto
financeiras, não devo gastar com argumentos, como é o caso da que, entre 2008 e 2012, em plena
créditos (considerando o crédito à perda repentina de rendimentos, crise financeira, foram os pais a
habitação e outras prestações exis- uma doença, o divórcio/separa- ajudar os filhos, quando estes fo-
tentes) mais de 350 euros. A banca ção, etc… ram confrontados com situações de
está atenta e, geralmente, quan-
do se ultrapassa ligeiramente esta
margem, começa a pedir garantias
«As empresas de recuperação de crédito começam a
aos seus clientes, nomeadamente a gerir a dívida de particulares, mas não existe legislação
questão dos fiadores. a regulamentar esta atividade. São, por isso, frequentes
práticas de recuperação de créditos, mais ou menos
Contabilista – Têm recebido pe- agressivas, que acabam por atropelar e lesar os direitos
didos de ajuda de pessoas com
dos consumidores.»
enormes taxas de esforço?
N.N. – Se olharmos para dados de

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ENTREVISTA

«Uma pessoa que está a iniciar um projeto de vida,


sozinho ou em casal, deveria poder escolher entre
comprar e arrendar casa. O problema é que o leque de
escolha fica mais reduzido porque, verdadeiramente, não
existe um mercado de arrendamento em Portugal.»

desemprego e perda de rendimen- do crédito estava completamente venha a ter um grande aumento,
tos. Nessa altura fomos confronta- fechado e quando se deu a abertu- já a partir de outubro. É, por isso,
dos com famílias a entregarem as ra, a corrida ao crédito foi enorme. fundamental para as famílias que a
casas ao banco e até a recorrerem a Grande parte do endividamento é opção de mudança seja agilizada,
insolvências. E isso obrigou muitos com crédito à habitação, mas esta é visto que o peso de serviços essen-
a regressarem, com os seus agrega- também uma forma de investimen- ciais, como a água, a luz e o gás, é
dos familiares, à casa dos pais. to. O nosso grande endividamento muito significativo nos orçamentos
é para a compra da nossa habitação familiares. O passado recente diz-
Contabilista – No atual contexto, própria permanente, sabendo-se, -nos que algumas medidas de apoio
ter emprego deixou de ser garan- como já aqui referi, as dificuldades adotadas e que obrigavam a alguma
tia para não passar dificuldades? que existem em aceder ao mercado burocracia, acabaram por desmo-
N.N. – Sim, isso é reconhecido por de arrendamento. Custa-me, por bilizar muitos consumidores. E é
todos. Atualmente, temos taxas de isso, assistir à conotação, nomea- preciso não esquecer outro aspeto:
desemprego historicamente baixas damente por parte de dirigentes parte dos consumidores tem gás
e vemos que quem nos pede ajuda políticos estrangeiros, que no auge natural, mas ainda são muitos os
encontra-se, de uma forma geral, a da crise financeira, passaram a que utilizam gás de botija. O apoio
trabalhar. Seja no setor privado ou ideia de que os portugueses eram «Botija Solidária» foi agora reati-
no setor público. Também é preci- um povo algo irresponsável, endi- vado. Para ter uma botija por mês,
so não esquecer os reformados, que vidando-se muito para além do re- a pessoa tem de dirigir-se a um bal-
quando passam da vida ativa para a comendável. cão dos CTT munido de uma fatura
reforma sofrem uma redução subs- ou um elemento que demonstre que
tancial dos seus rendimentos, sen- Contabilista – Portugal é o tercei- é portador de tarifa social ou que
do que os encargos, cada vez mais, ro país, entre 25 países europeus, beneficie de prestação social mí-
se prolongam para lá da idade da onde a energia mais pesa no or- nima, para obter a devolução de 10
reforma. Basta recordar que há uns çamento das famílias de menores euros. Esta é uma medida que já es-
anos, o crédito à habitação só ia até rendimentos. Antecipa-se um In- teve em vigor, aproveitada por um
aos 60 ou 65 anos e hoje, em muitos verno muito duro com o aumento número muito reduzido de famílias,
casos, já chega aos 75 anos. dos preços da eletricidade e do em particular pela falta de informa-
gás. Como escapar aos aumentos ção e pela burocracia associada.
Contabilista – O país tem um gigantes do gás, mudando para Mas há mais casos. Os agregados
histórico que aponta para uma o mercado regulado? Num país familiares aproveitaram o «Auto-
situação crónica de endivida- onde a burocracia impera em voucher», mas muitos outros não
mento de famílias, empresas e do muitos setores, é viável transferir o fizeram. Para aceder era preciso
próprio Estado. Pode falar-se de 1,2 milhões de consumidores de ter internet e email, e sabemos que
uma questão cultural de difícil gás de um operador para outro? há muitos consumidores que ainda
erradicação? N.N. – Espero que a mudança para não dispõem destas ferramentas in-
N.N. – No caso das famílias exis- o mercado regulado do gás seja um formáticas e digitais. Em resumo,
te uma explicação cultural por- processo simples e com a menor há uma série de barreiras que im-
que gostam de ser proprietárias de burocracia possível, até porque a pedem as famílias de beneficiar de
imóveis. Até aos anos 80 o mercado fatura do gás é a que se antecipa determinados apoios.

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«Se olharmos para dados de 2021,


verificamos que a taxa de esforço
média das famílias que nos pedem
ajuda é superior aos 70 por cento.
Mas temos casos de pessoas com
perto dos 100 por cento de taxa de
esforço. São casos em que o crédito
absorve praticamente a totalidade
do salário.»

Contabilista – Portanto, mais va- rem estes níveis de inflação, os mais dificuldades que estão a impactar a
les e tarifas sociais só serão úteis frágeis continuarão a necessitar de classe média. E só assim se explica
se o maior número de portugue- ajuda nos próximos tempos. que os apoios tenham sido alargados
ses conseguirem aceder a eles? até aos 2 700 euros de rendimen-
N.N. – Os apoios têm de ser ágeis Contabilista – O governo não to, por indivíduo. Mas este tipo de
e não podem ser burocráticos e, anunciou qualquer medida no apoios não elimina, de um dia para
preferencialmente, não devem de- âmbito do IVA dos produtos essen- o outro, as dificuldades com que as
pender muito da iniciativa do con- ciais, por exemplo. Com o cabaz famílias estão confrontadas, nem
sumidor, na medida em que muitas básico a preços muito elevados, sequer vai ter repercussões no cabaz
vezes ele acaba por não ter acesso à uma deslocação ao supermercado básico das famílias porque, nomea-
informação. Não nos podemos es- vai continuar a ser um exercício de damente nos produtos essenciais,
quecer que a Autoridade Tributária difíceis escolhas? não se registou descida no IVA.
e a Segurança Social têm a possibi- N.N. – O governo preferiu dar o
lidade de sinalizar os particulares apoio de 125 euros para salários bru- Contabilista – As famílias estão
economicamente vulneráveis. E tos até 2 700 euros. Pelo menos, há hoje mais protegidas e sensibili-
não temos dúvidas que, a continua- o reconhecimento de que existem zadas em casos de debilidade fi-

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ENTREVISTA

nacional é se essas entidades estão


devidamente credenciadas. Após o
«As famílias continuam com baixas competências pagamento de determinada verba
de literacia financeira, sem saber o que fazer perante a esses intermediários de créditos,
problemas financeiros e a tomar más decisões quando deixam de ter contacto com essa
entidade, consubstanciando-se a
estão confrontadas com situações difíceis.»
fraude.

nanceira ou em casos de créditos acabam por recorrer a crédito para Contabilista – As criptomoedas
enganosos? fazer face ao pagamento das presta- e os pagamentos em “MB Way”
N.N. – As famílias continuam a ter ções. Os consumidores, por deses- também são outras formas fre-
baixas competências de literacia pero e por falta de conhecimento, quentes de cometer ilícitos. As
financeira, mas é preciso subli- acabam por recorrer a entidades, pessoas com pouca destreza digi-
nhar que algum trabalho se tem como o caso dos falsos intermediá- tal tornam-se presas mais fáceis?
feito neste domínio. Os próprios rios de crédito, que lhes aconselham N.N. – Sim, sem dúvida. As pessoas
reguladores, o Banco de Portugal, negócios lesivos dos seus interesses. quando utilizam ferramentas que
a CMVM e a Autoridade de Super- Os consumidores, por disporem de desconhecem acabam, facilmen-
visão de Seguros já têm programas informação negativa na Central de te, por cair em situações de fraude.
de literacia financeira e esta é uma Responsabilidades de Crédito, op- Isto aplica-se à realidade digital,
matéria que já começa a estar pre- tam por ir para a internet pesquisar como acontece nas criptomoedas,
sente nos currículos escolares. Está e chegam a estas entidades que su- mas também na aplicação de pou-
em consulta pública a possibilidade postamente prometem ajuda e res- panças ou em investimentos. Se o
de introduzir, de forma transversal, postas aos seus problemas. O resto consumidor não tiver a informação
a questão da literacia financeira no da história já se sabe. Vão atrás do toda pode ser lesado. E isso chegou
programa da Matemática do ensino engodo, desconhecendo que os in- a acontecer em Portugal, pelo me-
secundário. Mas é sabido que to- termediários têm de estar devi- nos com um banco, que penalizou
dos estes esforços não dão frutos no damente registados e autorizados muitas pessoas. Enquanto con-
imediato. Contudo, é preciso referir pelo Banco de Portugal, quando a tinuar a faltar, à generalidade da
que no período entre 2008 e 2012, primeira coisa que deviam verifi- população, informação, cultura fi-
coincidindo com a crise financei- car no site da autoridade monetária nanceira e competências em termos
ra, as famílias apreenderam alguns
conceitos, muitos deles difundidos
com o apoio da comunicação social.
Mas o que é um facto é que as famí-
lias continuam com baixas compe-
tências de literacia financeira, sem
saber o que fazer perante problemas
financeiros e a tomar más decisões
quando estão confrontadas com si-
tuações difíceis.

Contabilista – Pode dar um exem-


plo concreto de uma má decisão
financeira?
N.N. – As famílias, quando são
confrontadas com a diminuição de
rendimentos ou com uma despesa
inesperada e não conseguem pagar
a prestação do crédito à habitação,

14 CONTABILISTA 268
ENTREVISTA

de literacia financeira, há sempre a


possibilidade de entidades pouco
credíveis tentarem lesar os interes-
«Os contabilistas estão muito bem posicionados para
ses dos consumidores. fazerem uma avaliação rigorosa da taxa de esforço em
termos financeiros, por possuírem uma visão global dos
Contabilista – Os consumidores rendimentos reais e da situação financeira das pessoas.»
dirigem-se à DECO quando não
conseguem cumprir com os pra-
zos para o pagamento das suas
obrigações tributárias e contri- saber e aconselhamento financei- termos financeiros, por possuírem
butivas? ro transparente, de qualidade e uma visão global dos rendimentos
N.N. – Sim, também, apesar de independente? reais e da situação financeira das
não intervirmos em matérias dessa N.N. – São os contabilistas que me- pessoas. O grande problema é que
natureza. Se atentarmos nos orça- xem com os números o que, equivale a maior parte dos particulares não
mentos das famílias verificamos a dizer, também com o dinheiro das recorre aos serviços destes profis-
que uma parte significativa diz pessoas. E é muito importante que sionais, nem sequer para o preen-
respeito ao cumprimento de obri- o cidadão comum seja sensibilizado chimento da declaração de IRS,
gações fiscais. A este propósito, e informado para a importância de porque se assim fosse podiam obter
permita-me que diga que a DECO se pedir uma simples fatura. É certo maiores reembolsos.
contribuiu muito para uma medida que, neste domínio, já foi feito algum Na minha opinião, se os contribuin-
que entrou em vigor há meia dúzia caminho, mas é preciso prosseguir. tes individuais vissem uma mais-
de anos, em que surgiu a alteração E os profissionais têm, neste campo, -valia e vantagem em recorrer aos
ao Código de Processo Tributário um papel fundamental, esclarecen- serviços do contabilista, penso que
que veio impedir a venda judicial do o impacto para o consumidor e o fariam. Mas por outro lado, enten-
dos imóveis sempre que estes são para as próprias famílias em futuros do que deverão ser os contabilistas a
de habitação própria e permanente. impostos a pagar. Estou certa de que demonstrarem a importância que o
Fizemos várias denúncias pelo fac- caso a sensibilização fosse maior, seu trabalho tem para o consumidor
to de famílias terem perdido as suas não haveria a fuga ao fisco como individual, visto que estes profis-
casas por dívidas ao fisco, muitos ainda existe. Da mesma forma, os sionais trabalham há muito tempo
delas de valor relativamente baixo, contabilistas estão muito bem posi- e diariamente em estreita colabora-
e os imóveis eram depois colocados cionados para fazerem uma avalia- ção com as empresas e os empresá-
em hasta pública. A lei impediu esta ção rigorosa da taxa de esforço em rios.
situação e consolidou uma proteção
em termos de execuções fiscais.
Sendo habitação própria e perma-
nente a casa pode ser penhorada,
mas não poderá ser vendida. Con-
tudo, se estivermos perante uma
dívida de telecomunicações ou com
um cartão de crédito a casa pode ser
penhorada e, inclusive, vendida.

Contabilistas – Uma pergunta fi-


nal sobre os contabilistas certifi-
cados. Que papel é que podem de-
sempenhar estes profissionais na
sensibilização para uma melhor
literacia financeira de particula-
res e empresários, usando o seu

JULHO 2022 15
Às portas do maior
Congresso de sempre!

O 7.º Congresso dos Contabilistas Cer-


tificados está aí! Os dias 21, 22 e 23
de setembro, na Altice Arena, em Lisboa,
cerca de sete mil contabilistas certificados e
que farão deste o maior congresso organi-
zado pela Ordem. Serão, certamente, múl-
5 500 estarão presentes na Altice Are-
na para receber das mãos da bastonária
Paula Franco e do restante Conselho
prometem ficar para a história. tiplos os contributos para reflexão numa Diretivo a respetiva lembrança.
Desde logo, porque o tema central é a sociedade que exige de todos os agentes A 22 e 23 de setembro, o foco estará
sustentabilidade e o relato não financeiro, económicos, onde os CC assumem papel de centrado no debate das matérias que
domínios que prometem marcar a agenda relevo, maior responsabilidade ambiental, sustentam o tema geral do congresso, ou
e a vida dos contabilistas certificados, e de social e de gestão. seja, a sustentabilidade e o relato finan-
todos os cidadãos de uma forma geral, nos Tal como sucedeu no 6.º Congresso, em ceiro.
próximos anos. Este mote genérico levará a 2019, um dos dias, neste caso o primeiro O programa é vasto e diversificado.
que se abordem outros tópicos como a res- dos três, coincide com o Dia do Contabilis- Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente
ponsabilidade empresarial, o empreende- ta (Dia de S. Mateus) que será assinalado da República, encerrará os trabalhos no
dorismo social, a economia sustentável ou de uma forma muito especial: a entrega de final da manhã do dia 23. No dia ante-
das métricas, passando pelos índices con- medalhas a todos quantos completaram 25 rior e na manhã do último dia, um vasto
tabilísticos e pelos desafios populacionais anos de inscrição na Ordem dos Contabi- painel de oradores, prometem muita re-
contemporâneos. São estes os principais listas Certificados. Num universo possível flexão e pistas diversas para enriqueci-
fios condutores de um evento que levará de cerca de 23 mil contabilistas certificados mento pessoal e profissional.
até à principal sala de espetáculos do país que celebram esta data, aproximadamente Pela Altice Arena passarão, entre outros,

Paula Franco Marcelo Rebelo de Sousa Mariza

16 CONTABILISTA 268
António Costa Silva, ministro da Eco-
nomia e do Mar, Ana Mendes Godinho,
ministra do Trabalho, Solidariedade e Segu-
rança Social, António Mendonça Mendes,
secretário de Estrado dos Assuntos Fiscais,
Alan Johnson, presidente da IFAC, a maior
organização mundial de contabilistas, Tia-
go Pitta e Cunha, administrador executivo
da Fundação Oceano Azul e Prémio Pessoa
António Costa Silva 2021; D. Américo Aguiar, Bispo Auxiliar Alan Johnson

de Lisboa; Francisco Assis, presidente do


CES, Gabriela Figueiredo Dias, presiden-
te da IESBA, e até Pedro Abrunhosa, não
no papel de cantor e intérprete, mas como
motivador.
Para a noite do dia 22 está igualmente
agendado um jantar de gala que terá o
seu ponto alto com o espetáculo da fadista
Mariza. A vertente lúdica voltará a marcar
presença no último dia do congresso, com
a exibição, ao longo de uma hora, de um
Ana Mendes Godinho espetáculo cénico de música e dança cria- Francisco Assis
do propositadamente para o efeito, sob o
tema «História da profissão – passado e
futuro».
O 7.º Congresso terá ainda espaço para
a apresentação, no dia 22, do CCCLix, o
novo projeto formativo e do novo Portal e
App da Ordem. No dia 23 estão previstos
os lançamentos do novo portal da revista
«Contabilidade & Gestão» e do projeto de
certificação de qualidade.
Com todos estes ingredientes, há muitos
e bons motivos para que se assista a mais
António Mendonça Mendes uma demonstração de vitalidade e arrojo Gabriela Figueiredo Dias
de uma classe profissional em perma-
nente mutação. 

Pedro Abrunhosa D. Américo Aguiar Tiago Pitta e Cunha

JULHO 2022 17
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

Mais de duas mil pessoas participaram no XVI convívio anual dos contabilistas certificados

Uma «multidão feliz»


na «catedral da alegria»
Reportagem Nuno Dias da Silva e Jorge Magalhães | Fotos Jorge Gonçalves

À medida que os condutores que se-


guem na autoestrada se aproximam
da freguesia de Antas, em Esposende, os
género organizado pela Ordem.
Eram 9 horas e 58 minutos quando se
abriu o portão principal para a entrada
atados à cintura ou à cabeça, para pro-
teger das radiações solares.

outdoors junto à autoestrada não dei- dos contabilistas certificados e dos seus Atividades para todos
xam margem para dúvidas: «A festa que familiares, provenientes de um pouco os gostos e idades
até faz parar o trânsito»; «Venha dançar de toda a geografia nacional. O sol in- No ato de credenciação uma dezena de
na melhor festa popular»; ou «Catedral clemente de um mês de julho abrasador colaboradores da Ordem procuravam
da alegria». levou a que as sombras, as garrafas de dar vazão a uma fila que começava a
A «festa» ou «catedral» dá pelo nome de água e os protetores solares fossem ganhar dimensão. Bolos de gema para
Quinta da Malafaia e ergue-se num dos muito disputados. Os lenços tradicionais uns; cavacas para outros e powerbanks
extremos do distrito de Braga, paredes minhotos, uma das ofertas a que os fo- eram as ofertas para os adultos, a par
meias com Viana do Castelo. Foi este liões tiveram direito e que são também dos já referidos lenços. Para os mais pe-
o local escolhido para a realização do conhecidos por lenços dos namorados – quenos, o saco continha um cubo mági-
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas característicos pelos bordados com fra- co e um livro da coleção «A Joaninha e
Certificados, no passado dia 9 de julho e ses e motivos variados – eram usados de os impostos», obra editada pela Ordem
foi este o epicentro do maior evento do múltiplas formas: em redor do pescoço, e que tem na educação e literacia fiscal

18 CONTABILISTA 268
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

o seu grande desiderato. fotos para a posteridade no photo oppor- Camila Silva aproveitaria, aliás, a visita de
No sentido de facilitar a ordeira disposi- tunity com desenhos de minhotas, ou com Paula Franco à sua banca para oferecer
ção das mais de duas mil pessoas no in- os jogos populares disponibilizados. O um tabuleiro com motivos minhotos alu-
terior do espaço para o almoço, ao lado jogo da malha, o pião, a corrida de sacos sivos ao XVI Encontro.
da credenciação marcava-se, antecipada- ou os insufláveis para os mais jovens fo-
mente, o lugar para o repasto. Qualquer ram algumas das atrações matinais. Uma oleada máquina
questão era respondida pelos elementos Mas não só. No piso superior do edifício organizativa
do staff, facilmente identificáveis com as foi criado um parque infantil improvisado, Com o aproximar da hora do almoço, au-
suas t-shirts vermelhas. em ambiente climatizado, com escorre- mentava a concentração de pessoas junto
Já que aqui se disse que a Quinta da Ma- gas, raquetes e pinturas faciais, estas ao coreto, próximo do corredor de acesso
lafaia recebeu contabilistas certificados sempre muito requeridas e recheadas de ao interior do enorme salão. Uma arrua-
de todas as regiões do país. Alguns, mui- cor e imaginação. da com cabeçudos, gigantones, bombos e
tos, chegaram de autocarro, em excur- Houve alternativas para todos os gostos gaiteiros despertava a atenção. O grupo
sões propositadamente organizadas para porque no exterior, enquanto não chega- de bombos dos Voluntários de Fornelos,
o efeito. O primeiro a chegar ao Minho va a hora do almoço, a cargo de um DJ de Barcelos, com as gaitas de foles e a
foi o que partira de Lisboa, pouco depois ficaram os primeiros sons do dia, para os concertina, deu o ritmo.
das 5 horas da madrugada. O transporte mais afoitos para um pezinho de dança. A entrada para o repasto e para o muito
dos membros do Porto e Braga chegaria Para os apaixonados pelas artes e pela mais que se lhe seguiria fez-se de forma
pouco depois. cultura popular, houve um workshop de espaçada e sem atropelos. As 320 mesas
Enquanto isso, nos bastidores da festa, bordados do Minho e olaria de figurado disponíveis ficaram preenchidas ao fim de
dezenas de colaboradores da Quinta da de Barcelos com artesãos. Camila Rio quase 45 minutos. O speaker de serviço
Malafaia afadigavam-se nos últimos pre- Silva, também conhecida por “Mi-linha”, deu as boas-vindas e garantiu, se dúvidas
parativos. Seis porcos começaram, bem e os irmãos Baraça, Vitor e Moisés, esti- houvesse, que a comida chegaria para
cedo, a ser assados no espeto, depois de veram disponíveis para partilhar ensina- todos. A oleada máquina da organização
preparados o louro e o molho que iriam mentos e alguns dos segredos aos parti- fez com que o processo fosse célere, o que
conferir um sabor especial à carne. cipantes interessados, primeiro ao ar livre para muito terá contribuído o serviço de
Por aqueles lados, em ambiente aberto e, posteriormente, no interior do edifício mesa integral, em que só as sobremesas
e aproveitando a sombra das árvores, o que albergou o almoço e o convívio, com se localizam num local distinto.
tempo era passado à conversa, a tirar a exposição de um considerável espólio. Para depois do almoço ficaram as atra-

JULHO 2022 19
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

ções musicais no palco panorâmico do


salão. O rancho folclórico de Eira de
Cima e Eira de Baixo, o Grupo de Dan-
ças e Cantares de Vila Fria e os cantares
ao desafio, com as inevitáveis referên-
cias aos contabilistas e aos impostos,
abriram as hostilidades. Cristina Sá e
Augusto Moreira, acompanhados pelo
conjunto da Malafaia, protagonizaram
cantares à desgarrada e ajudaram a
retirar das mesas os mais extroverti-
dos para os primeiros passos de dança.
Apesar do calor e do suor espelhado em
muitos rostos, a tarde era mesmo de fo-
lia, e muitos foram os que não resistiram
a embalar o corpo ao som dos acordes
da música popular.

Explosão de cor e energia


Celso Coelho é uma presença assídua
nestes convívios. O cantor e contabi-
lista certificado de Tondela trouxe até
ao palco da Malafaia os novos êxitos e
repescou alguns clássicos do seu reper-
tório. Para o lanche, e já com a digestão
do almoço feita, foi tempo de circular,
fosse para dançar ou para o reabasteci-
mento de energias.
A oferta era variada: pão de ló, sardi-
nhas, farturas e o já mencionado porco
no espeto. Pelo meio, tempo ainda para
muita dança, com o conjunto musical re-
sidente da Malafaia e para o espetáculo
de Champarrião, o artista mais pequeno
do mundo.
Com o aproximar das sete da tarde,
hora prevista para o encerramento da
festa, ainda houve oportunidade para a
abertura do bolo, para as marchas po-
pulares – com o regresso dos gigantones
e dos cabeçudos – e a largada de balões.
Mil, mais concretamente. Uma explosão
de cor, energia e alegria a fechar com
chave de ouro um convívio para recor-
dar. Sem tempos mortos e que exibiu o
genuíno arraial minhoto em todo o seu
esplendor. Pelo menos por um dia, houve
vida para além da contabilidade.

20 CONTABILISTA 268
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

JULHO 2022 21
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

Uma festa inesquecível

No dia 7 de julho de 2007 o encontro dos con-


tabilistas foi realizado, pela primeira vez, na
Quinta da Malafaia, no concelho de Esposen-
de. Nele participaram 700 pessoas. 15 anos e
dois dias volvidos, a Ordem e os seus profis-
sionais regressaram a um local onde já tinham
sido felizes. Desta feita, o número de inscritos
triplicou, para 2100, tornando este o mais
participado encontro da história da Ordem.
Num convívio que contou com a presença
de Benjamim Pereira, presidente da Câma-
ra Municipal de Esposende, o concelho onde
fisicamente se situa a Quinta da Malafaia, a
bastonária não escondia a sua satisfação por
«esta festa inesquecível», tendo, na mensa-
gem de boas-vindas, salientado a «multidão
feliz» que a aguardava no gigantesco salão da
Malafaia. «Este evento é a prova de que cada
vez nos reinventamos mais e esgotá-lo duas
semanas antes da sua realização é a prova
disso», referiu Paula Franco.
O XVI Encontro dos Contabilistas Certificados
teve, como tem sido habitual, uma comissão
organizadora, composta por membros do
distrito onde o evento se realiza. Desta fei-
ta, coube a Manuel Gonçalves, João Filipe
Machado e Osvaldo Neves, a árdua tarefa.
O conselho diretivo esteve representado na
organização pela diretora Helena Costa. 

22 CONTABILISTA 268
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

Fomentar a união e procurar novos negócios

Afonso Costa Ana Lima Rosalina Machado

Afonso Costa está longe de ser um es- Viajou de Lisboa com o marido e o filho mentando que «em todas as profissões
treante nestas andanças – leia-se en- para passar o fim de semana, ficando há conflitos.» Na companhia deste trio
contros dos contabilistas – e recorda-se instalada em Esposende. Os prazos e feminino encontrava-se Raúl Guimarães,
mesmo de ter estado presente em ante- as obrigações ficaram, temporariamen- que também reside em Braga. Nada tem
riores edições, em Viseu e Vila Flor. Vin- te, à margem das suas preocupações. a apontar à organização e lamenta ape-
do do Porto, este profissional considera «Fomentar a união entre colegas» é, na nas a elevada temperatura verificada,
que eventos desta natureza são uma for- sua perspetiva, a grande mais-valia do fazendo votos para que a próxima edi-
ma de «reunir a família dos contabilistas Encontro, à semelhança, aliás, da festa ção do Encontro seja novamente no Mi-
certificados», promovendo o intercâmbio de Natal anual também promovida pela nho. Em alternativa, sugere «um sunset
de ideias e pontos de vista entre pessoas OCC. Ana Lima promete repetir a pre- na praia». Uma ideia à consideração do
que representam uma profissão que «é sença no próximo ano, sempre com a sua conselho diretivo da Ordem.
muito valiosa.» Rosalina Machado afina inseparável família por perto. José Gomes apresentou-se em Esposen-
pelo mesmo diapasão. Assídua neste tipo de com uma atitude peculiar. «Mesmo
de eventos, «alegres e descontraídos», a Lazer e parcerias numa jornada de convívio, é possível que
bracarense sente-se «perfeitamente in- Isabel Silva fez uma curta viagem até existam oportunidades para negócios e
tegrada» pelo facto de o Encontro possi- à Quinta da Malafaia. Viajou de Braga outras parcerias», sustenta o contabilis-
bilitar o convívio entre amigos e colegas, com duas amigas, ambas professoras, ta certificado de Lamego. «Nunca con-
alguns dos quais «há muito tempo que e um amigo contabilista. Garantiu ter- seguimos, completamente, por de lado a
não mantinha contacto.» -se «divertido muito», especialmente profissão, mesmo num dia de descanso.
Ana Lima travou conhecimento do even- a dançar e a beber. Rejeita a teoria de Os contabilistas estão sempre em des-
to através das reuniões livres online. que a profissão está «desunida», argu- canso ativo», acrescenta. 

Isabel Silva Raúl Guimarães José Gomes

JULHO 2022 23
XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados

O Encontro em números
A organização de um encontro que juntou mais de duas mil pessoas, exigiu um grande esforço e articulação logística, tanto
da Quinta da Malafaia, como da Ordem. Como se pode imaginar, e pelo número de inscritos, a vertente alimentar foi a mais
sensível. As quantidades, em quilos e em unidades, usadas para o Encontro são impressionantes, como provam os números:

150 colaboradores
Quinta da Malafaia
No serviço das 320
Sumos de mesas, cada um
Laranja com 4 mesas
518 unidades a seu cargo. Bolo do evento
203 Kg

Espumante Balões
332 unidades 1000 unidades

Broa
556 Kg

Vinho
144 garrafas de vinho branco
332 garrafas de vinho tinto
356 garrafas de vinho verde branco
Pão de ló
352 Unidades

Cerveja
700 litros Sardinhas
2100 Unidades

Sangria
Farinha para
500 litros as farturas
100 Kg
Águas Salgados
2100 unidades de 1.5l 2000 pastéis de bacalhau
2304 unidades de 0.33cl 445 rissóis Reportagem 1
760 croquetes

Reportagem 2

Galeria fotográfica

24 CONTABILISTA 268
NOTÍCIAS

«Ser Contabilista Certificado»


Livro da autoria de Ana Lucas Martins

Acaba de ser lançado «Ser Contabilista como destinatários, os profissionais que


Certificado – O acesso e o exercício da a exercem, os candidatos e os investiga-
profissão», uma proposta de Ana Lucas dores.
Martins, profissional inscrita na Ordem Ana Lucas Martins é doutorada em Ges-
e uma confessa «apaixonada» por esta tão e encontra-se, neste momento, envol-
atividade. O livro, com a chancela da vida num doutoramento em Contabilida-
«Cordel d’Prata», surge na sequência da de. Possui mestrado em Contabilidade e
tese de doutoramento de Ana Lucas Mar- Fiscalidade e licenciatura em Organiza-
tins. Dividido em três partes – o acesso ção e Gestão de Empresas. É docente e
à profissão, o seu exercício e, finalmente, coordenadora da licenciatura em Gestão
a investigação – «Ser contabilista certi- de Empresas na Universidade Europeia e
ficado» é um estudo holístico sobre as docente na Escola Superior de Turismo e
várias dimensões que interagem com esta Tecnologia do Mar, do Instituto Politécni-
profissão, bem como os diversos agentes co de Leiria. Leciona as unidades curricu-
que com ela se relacionam. É, por isso, sa- lares de Contabilidade Financeira, Conta-
lienta a autora, que esta publicação tem bilidade de Gestão e Gestão Financeira.

Digital Leaders
Ordem esteve presente no lançamento de plataforma online

A Ordem esteve representada, a 12 de


julho, no lançamento oficial da Digital
Leaders, em Lisboa, uma iniciativa do
.PT e da Associação da Economia Digital
(ACEPI). O .PT, entidade responsável pela
gestão do domínio de topo português, e
a ACEPI apresentaram uma plataforma
online para dar voz aos líderes que estão
a contribuir para a transformação digital
da economia e da sociedade em Portu-
gal. Na foto, da esquerda para esquerda:
Mário Campolargo, secretário de Estado
da Digitalização e da Modernização Ad-
ministrativa, Cristina Pena Silva, diretora
da OCC, Jorge Barbosa, vice-presidente
da OCC, Luísa Ribeiro Lopes, presidente
do .PT e Alexandre Nilo Fonseca, presi-
dente da ACEPI.

JULHO 2022 25
NOTÍCIAS

Livro «Comércio eletrónico», de Luís Caetano, apresentado a 7 de setembro

«Obra atual» de um
«fazedor de pontes»
Reportagem Jorge Magalhães | Fotos Raquel Wise

C hama-se «Comércio eletrónico», é


da autoria de Luís Filipe Caetano,
vogal do Conselho Jurisdicional da Or-
da CCDR-Centro e vários membros do
Conselho Diretivo e do Conselho Juris-
dicional da Ordem, para além de familia-
com muitas orientações e reflexões per-
tinentes.»
António Fernandes, autor do prefácio,
dem e foi apresentado, no passado dia res, amigos e contabilistas certificados, reforçou a relevância do tema central em
de 7 de setembro, na biblioteca da sede a responsável máxima da OCC recordou análise, assinalando que estamos diante
da Ordem dos Contabilistas Certifica- que «este é um projeto que Luis Caeta- «de um livro importante para se ler e que
dos, em Lisboa. no perseguia desde há muito. Não tenho merece ser lido, partindo de uma visão
Ante uma plateia vasta, na qual pontifi- dúvidas de que é sempre difícil dar um pragmática de um homem experiente.»
cavam Paula Franco, bastonária da OCC, trabalho destes por concluído. Estamos Luís Caetano, por seu lado, foi parco em
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão perante uma obra atual e que assim se palavras, preferindo colocar o acento tó-
Territorial, António Fernandes, presi- vai manter nos próximos anos.» Paula nico nos sentidos agradecimentos a di-
dente do Instituto Politécnico de Castelo Franco sublinhou ainda que o livro reve- versas individualidades, entre as quais a
Branco, Isabel Damasceno, presidente la «a capacidade de nos reinventarmos, bastonária Paula Franco.

26 CONTABILISTA 268
NOTÍCIAS

Ana Abrunhosa, que desde logo fez ques- editora «Edições Esgotadas» e é o resul-
tão de clarificar que marcou presença tado do percurso profissional do autor ao
como «amiga e não como ministra da longo de três décadas, apresentando uma
Coesão Territorial» não poupou nas pala- análise da medição realizada em platafor-
vras para traçar um breve perfil do autor, mas digitais entre a oferta e a procura,
vincando tratar-se de «uma pessoa com identificando os fatores de inovação do
um humor maravilhoso e com caracterís- comércio online e analisando-os à luz das
ticas únicas.» Nesse sentido, revelou, «é transformações que ocorrem atualmente
das pessoas mais leais que conheci em nas sociedades.
toda a minha vida profissional. Trabalha- Desde 2012 e durante quase uma década,
mos juntos quase uma década e sou teste- Luis Caetano foi vice-presidente da Comis-
munha de que essa lealdade se transmitia são de Coordenação e Desenvolvimento
em todos os atos. É um fazedor de pon- Regional do Centro e, desde 2018, é mem-
tes, alguém sempre pronto para encontrar bro do Conselho Jurisdicional da Ordem
soluções.» Sobre a obra, a responsável dos Contabilistas Certificados. É professor
governativa foi clara: «Mostra-nos com adjunto do Instituto Superior de Educação
clareza que Luís Caetano anda, muitas das e Ciências (ISEC Lisboa) na área da Gestão
vezes, à frente do seu tempo.» Autárquica.
«Comércio eletrónico» tem a chancela da Galeria fotográfica

JULHO 2022 27
ORDEM NOS MEDIA

Segurança Social perdoa TSU


a milhares de empresas
«"Poderão estar em causa alguns mi-
lhares de empresas", admite Anabela
Santos, da Ordem dos Contabilistas
Certificados (OCC). A ordem profis-
sional emitiu uma nota explicativa
sobre a medida com a indicação, dada
pelo Instituto da Segurança Social, de
que será feita a devolução de valores
através do "reconhecimento do cor-
respondente crédito na conta corren-
te, no âmbito da avaliação da situa-
ção contributiva" (…)»

Em entrevista ao jornal “Público”, na edição de 12 de setembro de 2022,


a bastonária Paula Franco abordou, entre outros temas, o pacote de apoios
às famílias anunciado pelo governo.

Empresas já veem a recessão


REDES SOCIAIS
como certa
«Paula Franco, bastonária da Ordem
5 454 604 VISUALIZAÇÕES
34 126 FOTOS
dos Contabilistas, diz ser compreen-
30 318 SUBSCRITORES sível o pessimismo dos empresários
face ao quadro geral no país e na
Europa. “Haverá provavelmente uma
diminuição da facturação e isso vai
73 404 GOSTOS provavelmente contribuir para uma
2034 SEGUIDORES
80 287 SEGUIDORES recessão transversal na Europa. Era
um desfecho inevitável, mas não é o
cenário grave que vivemos em 2008
ou 2012.” (…)»
8447 SEGUIDORES 299 SEGUIDORES

NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO * CONTAS & IMPOSTOS


OE 2022 - Emissão e comunicação
da faturação
Pareceres técnicos mais vistos em julho
Artigo de Daniela Cunha, consultora da
Ordem

∞ IVA – Localização das prestações de serviços ∞ IRS – Atividades empresariais e profissionais OE 2022 - Alterações ao "IRS
∞ IVA – Transmissão de património ∞ Pagamento especial por conta Jovem"
∞ IVA – Taxas ∞ Ativos intangíveis Artigo de Bernardo Correia, consultor
∞ IRC – Dupla tributação internacional ∞ Adiantamentos da Ordem
∞ IRC – Transparência fiscal ∞ Donativo
IRC – encargos não dedutíveis
Artigo de Júlio Wilson, consultor da
*Mais informação em: https://www.occ.pt/pt/noticias/pareceres-tecnicos/ Ordem

28 CONTABILISTA 268
COLABORAÇÃO ISCAP

Relatório não financeiro


Em Portugal, bem como em muitos países europeus, o relatório não financeiro é facultativo,
o que faz com que os utentes da informação tenham dificuldades quando pretendem
comparar empresas. O caminho terá de passar por legislação que fomente outras entidades
a produzir igualmente este tipo de informação.

Por Eduardo Sá e Silva* | Artigo recebido em agosto de 2022

A orientação internacional para o


relato de informação não finan-
ceira assenta numa sociedade mais
tão. Os relatórios financeiros refletem
uma imagem do passado da empresa,
de encerramento do seu balanço ex-
cedam um número médio de 500 tra-
apresentando apenas uma retrospe- balhadores durante o exercício anual,
inclusiva e numa economia mais sus- tiva do que se passou. Regra geral, devem incluir no seu relatório de ges-
tentável, pelo que as sociedades exi- os relatórios financeiros tradicionais tão uma demonstração não financei-
gem cada vez mais às empresas uma não são suficientes para que os utentes ra. A demonstração não financeira a
atuação responsável e transparente. da informação de uma empresa façam que se refere o número anterior deve
O relato das organizações tem sofrido uma correta avaliação da mesma. conter as informações bastantes para
alterações ao longo do tempo, com a Por meio dos relatórios não financei- uma compreensão da evolução, do
adição de diferentes relatórios para ros, as empresas comunicam o seu desempenho, da posição e do impac-
além dos financeiros. O objetivo tem desempenho em vários aspetos, tais to das suas atividades, referentes, no
sido a disponibilização de mais infor- como parâmetros ambientais, sociais mínimo, às questões ambientais, so-
mações acerca da empresa cobrindo e de governo. Isto permite às empre- ciais e relativas aos trabalhadores, à
áreas como o governo das sociedades, sas serem mais transparentes sobre igualdade entre mulheres e homens,
higiene e saúde no trabalho, desem- os riscos e oportunidades que enfren- à não discriminação, ao respeito dos
penho ambiental e social, entre ou- tam, possibilitando que os utentes da direitos humanos, ao combate à cor-
tras. Tudo isto permitirá aos utentes informação tenham uma visão mais rupção e às tentativas de suborno, in-
da informação financeira um conjun- alargada sobre o desempenho além cluindo:
to mais completo de informação no dos resultados financeiros. Em Por- a) Uma breve descrição do modelo
sentido da tomada de decisões mais tugal, e em grande parte dos países empresarial da empresa;
informadas. europeus, este relatório é facultativo, b) Uma descrição das políticas se-
O relatório financeiro consiste na o que faz com que os utentes da infor- guidas pela empresa em relação a
compilação de dados financeiros de mação tenham dificuldades quando essas questões, incluindo os pro-
um determinado período de tempo. pretendem comparar entidades em- cessos de diligência devida aplica-
Este tipo de relatório baseia-se nos presariais. dos;
elementos essenciais à prestação de De acordo com o artigo 66.º-B – De- c) Os resultados dessas políticas;
contas, ou seja: balanço, demonstra- monstração não financeira do Código d) Os principais riscos associados
ção dos resultados, fluxos de caixa, das Sociedades Comerciais (CSC), «as a essas questões, ligados às ativi-
demonstração de alterações de capi- grandes empresas que sejam entida- dades da empresa, incluindo, se
tal próprio, anexo e relatório de ges- des de interesse público, que à data relevante e proporcionado, as suas

JULHO 2022 29
COLABORAÇÃO ISCAP

relações empresariais, os seus pro- Para efeitos deste Decreto-Lei n.º apoia a capacidade da empresa em
dutos ou serviços suscetíveis de ter 98/2015: gerar valor no curto, médio e longo
impactos negativos nesses domí- «3 - Consideram-se médias entidades prazo;
nios e a forma como esses riscos são aquelas que, de entre as referidas no • Modelo de negócios: qual é o modelo
geridos pela empresa; artigo 3.º, excluindo as situações refe- de negócios da empresa e como é que
e) Indicadores-chave de desempe- ridas nos números anteriores, à data do este se adequa ao meio envolvente;
nho relevantes para a sua atividade balanço, não ultrapassem dois dos três • Riscos e oportunidades: que riscos
específica.» limites seguintes: e oportunidades específicos afetam a
Para efeitos deste artigo 66.º-B, consi- a) Total do balanço: 20 000 000 capacidade da empresa em gerar va-
dera-se, basicamente: euros; lor e como é que a empresa os gere;
- Entidades de interesse público, as b) Volume de negócios líquido: • Estratégia e alocação de recursos:
assim qualificadas pelo artigo 3.º do 40 000 000 euros; para onde a organização deseja ir e
Regime Jurídico de Supervisão de c) Número médio de empregados du- como pretende chegar lá;
Auditoria, aprovado nos termos do rante o período: 250. • Desempenho: até que ponto a em-
artigo 2.º da Lei n.º 148/2015, de 9 de 4 - Grandes entidades são as entida- presa já alcançou seus objetivos es-
setembro. De acordo com esta regula- des que, à data do balanço, ultrapas- tratégicos para o período e quais são
mentação, as entidades de interesse sem dois dos três limites referidos no os impactos no tocante aos efeitos so-
público são essencialmente: os emi- número anterior.» bre os capitais;
tentes de valores mobiliários admiti- • Perspetiva: quais são os desafios e
dos à negociação num mercado regu- Aspetos que devem constar as incertezas que a empresa provavel-
lamentado situado ou a funcionar em de um relatório não financeiro mente enfrentará ao perseguir a sua es-
Portugal e as instituições de crédito; A título exemplificativo, elencam-se tratégia e quais são as potenciais impli-
- Grandes empresas, aquelas que alguns aspetos que devem constar de cações para o seu modelo de negócios e
excedam pelo menos dois dos três um relatório (demonstração) não fi- seu desempenho futuro;
limites definidos no n.º 3 do arti- nanceiro: • Base para apresentação: como é que
go 9.º, apurados nos termos do ar- • Visão geral organizacional e am- a empresa determina os temas a se-
tigo 9.º-A, ambos do Decreto-Lei biente externo: o que a empresa faz e rem incluídos no relatório não finan-
n.º 158/2009, de 13 de julho, com a sob que circunstâncias atua; ceiro e como estes temas são quanti-
redação dada pelo Decreto-Lei n.º • Governo: como é constituído o go- ficados ou avaliados
98/2015, de 2 de junho. verno da empresa e como é que este Refira-se que, em termos interna-

30 CONTABILISTA 268
COLABORAÇÃO ISCAP

cionais, a abordagem para a elabo- ra equilibrada e isenta de erros ma- • Permitem a comparação entre o
ração de um relatório não financeiro teriais. As informações num relatório desempenho internamente, e entre
baseia-se essencialmente em prin- não financeiro devem ser apresenta- empresas e setores.
cípios e não em regras. A intenção é das: em bases coerentes ao longo do Na prática só são obrigadas a este re-
encontrar um equilíbrio adequado tempo; e de maneira a permitir uma latório (demonstração) não financeiro
entre flexibilidade e prescrição que comparação com outras empresas. as empresas com valores mobiliários
reconheça a grande variedade de cir- cotados em mercados organizados
cunstâncias individuais de diferentes Vantagens dos relatórios (desde que sejam consideradas gran-
organizações, e que permita um grau não financeiros des empresas) e as instituições de
suficiente de comparabilidade entre Em termos gerais, podemos afirmar crédito. Deste modo, em Portugal
organizações para atender a impor- que os relatórios não financeiros têm e em grande parte dos países euro-
tantes necessidades de informação. as seguintes vantagens: peus este relatório é maioritaria-
Deste modo, não são impostos indi- • Aumentam a compreensão dos mente facultativo, o que faz com que
cadores de desempenho específicos, riscos e oportunidades; os utentes da informação tenham
métodos de mensuração ou divulga- • Enfatizam a ligação entre o desem- algumas dificuldades quando pre-
ção de assuntos individuais. penho financeiro e não financeiro; tendem comparar empresas.
Basicamente, um relatório não fi- • Influenciam a estratégia, políti- No nosso entendimento, deveria a
nanceiro deve estar orientado para o ca de gestão e planos de negócios a legislação fomentar que outras em-
futuro, fornecendo uma visão da es- longo prazo; presas também produzissem este
tratégia da empresa. Deve evidenciar • Racionalizam os processos, redução tipo de informação. Os mercados
como é que os diversos fatores afetam de custos e melhoria da eficiência; ganhariam com mais transparên-
a capacidade da empresa em gerar • Comparam e avaliam o desempenho cia e divulgação de informação ne-
valor. Como é que a empresa respon- de sustentabilidade em relação às leis, vrálgica que ajudaria os utentes, se-
de aos legítimos interesses das partes normas, códigos, padrões de desem- jam eles quais forem, a decidir com
interessadas. Um relatório não fi- penho e iniciativas voluntárias; maior assertividade. Esperemos que
nanceiro deve ser conciso e abranger • Ajudam a empresa a evitar falhas se caminhe nesse sentido.
todos os assuntos relevantes, tanto ambientais, sociais e de governação
positivos como negativos, de manei- públicas; *Docente do ISCAP

JULHO 2022 31
COLABORAÇÃO ISCA-UA

A fixação de um nível mínimo


mundial de tributação para os grupos
multinacionais na União Europeia
A definição de regras contra a erosão das bases tributáveis mantém-se na agenda
política, tendo como objetivo um sistema de tributação global mais justo e de combate à
concorrência fiscal prejudicial. A União Europeia tem um papel crucial ao estabelecer um
equilíbrio entre os vários interesses dos Estados-membros.

Por Armando Jorge de Almeida Tavares* | Artigo recebido em julho de 2022

N os últimos anos tem-se verifica-


do um esforço global no senti-
do de combater práticas fiscais que
vas bem como uma maior proteção
das bases de tributação das diversas
jurisdições 1.
presas multinacionais e a grandes
grupos nacionais com um volume
de negócios anual conjunto de pelo
conduzem à denominada concor- Este objetivo político encontra-se menos 750 milhões de euros com
rência fiscal prejudicial alcançada, consagrado nas «Regras-modelo Glo- base em demonstrações financei-
nomeadamente, através da utiliza- Be» contra a erosão da base tributá- ras consolidadas. Este montante foi
ção de planeamento fiscal agressivo vel, aprovadas em 14 de dezembro de considerado pelo Quadro Inclusivo
por parte de grandes grupos econó- 2021 pelo Quadro Inclusivo da OCDE/ de forma a assegurar a coerência
micos que lhes permite transferir G20 sobre o BEPS (Base Erosion and com as atuais políticas internacio-
lucros para jurisdições com uma tri- Profit Shifting) e com o qual os Esta- nais em matéria de tributação das
butação nula ou muito reduzida. dos-membros se comprometeram. sociedades.
Neste âmbito, a OCDE tem tido um Compreendendo esta análise como Neste contexto, em 22 de dezembro
papel fundamental, promovendo o uma extensão do projeto BEPS da de 2021, a Comissão Europeia pro-
estudo e o desenvolvimento de re- OCDE, tendo em consideração os pôs uma diretiva – COM (2021) 823
gras fiscais internacionais que per- desafios fiscais crescentes da glo- final – tendo como objetivo asse-
mitam combater a concorrência em balização e digitalização da econo- gurar uma taxa de imposto efetiva
matéria de taxas de imposto sobre mia, o Quadro Inclusivo concen- mínima para as atividades a nível
o rendimento das sociedades atra- trou-se em duas ideias principais: mundial dos grandes grupos mul-
vés do estabelecimento de um nível o Pilar 1, que propõe uma reafeta- tinacionais. Esta proposta concre-
mínimo de tributação à escala mun- ção parcial de direitos de tributa- tiza assim o compromisso da União
dial. Esta reforma, que tem como ção para jurisdições de mercado, e Europeia de ser um dos primeiros
objetivo eliminar parte das vanta- o Pilar 2, que propõe a introdução a aplicar esta reforma fiscal a nível
gens de transferência de resultados de uma tributação mínima efetiva mundial, que visa trazer equida-
para jurisdições com baixa ou nula dos grandes grupos multinacio- de, transparência e estabilidade ao
tributação, permitirá criar condi- nais. quadro internacional do imposto
ções de concorrência mais equitati- O Pilar 2 aplica-se a grupos de em- sobre as sociedades.

32 CONTABILISTA 268
COLABORAÇÃO ISCA-UA

Medidas comuns para de euros nas suas demonstrações fi- 2022, numa reunião dos ministros das
a tributação mínima efetiva nanceiras consolidadas em, pelo me- Finanças da União Europeia, a Hun-
A proposta de diretiva enquadra-se nos, dois dos últimos quatro exercí- gria veio inesperadamente afirmar
assim no acordo internacional e esta- cios fiscais consecutivos, prevendo, que não apoia a introdução do impos-
belece as modalidades de aplicação no entanto, algumas exceções. to mínimo global, pelo que os esforços
prática dos princípios da taxa de im- As regras propostas preveem que se a desenvolvidos nos últimos anos nesta
posto efetiva de 15 por cento na UE, taxa de imposto efetiva mínima não matéria voltam a dar um passo atrás.
incluindo um conjunto de regras so- for aplicada pelo país em que se en- O mundo global em que vivemos está
bre o método de cálculo desta taxa de contra estabelecida uma empresa su- marcado por inúmeros desafios, sen-
imposto efetiva, para que seja aplica- jeita a uma baixa tributação, existem do a fiscalidade internacional sub-
da de forma coerente em toda a UE. disposições que permitem que o Esta- jacente à globalização da economia
Conforme referido na proposta de do-membro da empresa-mãe aplique uma matéria de elevada complexi-
diretiva, são estabelecidas medidas um imposto complementar. dade pelas características inerentes
comuns para a tributação mínima Por outro lado, a proposta de direti- e pela concorrência fiscal em parti-
efetiva dos grupos de empresas mul- va prevê igualmente determinadas cular.
tinacionais sob a forma de: exceções, nomeadamente a possibi- A definição de regras contra a erosão
- Uma regra de inclusão de ren- lidade, em determinados casos, das das bases tributáveis mantém-se con-
dimentos segundo a qual uma empresas poderem excluir um mon- tinuamente na agenda política tendo
entidade-mãe de um grupo de tante de rendimentos equivalente a como objetivo um sistema de tribu-
empresas multinacionais ou de cinco por cento do valor dos ativos tação global mais justo e de comba-
um grande grupo nacional calcula tangíveis e a cinco por cento dos ven- te à concorrência fiscal prejudicial.
e cobra a sua percentagem de afe- cimentos. Neste âmbito, a União Europeia tem
tação do imposto complementar Em maio de 2022, o texto da propos- um papel crucial ao estabelecer um
no que respeita às entidades cons- ta de diretiva foi aprovado no Parla- equilíbrio entre os vários interesses
tituintes do grupo sujeitas a baixa mento Europeu com algumas altera- dos Estados-membros. No entanto, a
tributação; e ções que se encontram patentes no unanimidade requerida reflete igual-
- Uma regra de pagamentos sub- relatório sobre a proposta de diretiva mente a dificuldade na obtenção do
tributados segundo a qual uma do Conselho relativa à fixação de um consenso necessário sobre esse mes-
entidade constituinte de um grupo nível mínimo mundial de tributação mo equilíbrio. 
de empresas multinacionais cobra para os grupos multinacionais na
uma percentagem de afetação do União Europeia, tendo como relatora
imposto complementar calculado Aurore Lalucq 2 . Neste âmbito, é tam- *Professor adjunto convidado do ISCA-UA
pela entidade-mãe final do grupo bém indicado que o Grupo do Código Contabilista certificado
que não foi cobrada ao abrigo da de Conduta do Conselho (fiscalidade Revisor oficial de contas
regra de inclusão de rendimentos das empresas) deve acompanhar em
no que respeita às entidades cons- permanência o desenvolvimento das Bibliografia disponível em («A Ordem – Publica-
tituintes do grupo sujeitas a baixa normas de contabilidade e a sua apli- ções – Revista Contabilista – Bibliografia»)
tributação. cação para efeitos fiscais mínimos e
se necessário apresentar propostas de Notas
Âmbito de aplicação da diretiva ajustamento das regras para determi- 1
Comissão Europeia, COM (2021) 823 final,
Quando ao âmbito de aplicação a nação dos lucros devendo a Comissão 22.12.2021
proposta de diretiva prevê a sua prestar assistência neste domínio. 2
Parlamento Europeu, Comissão dos As-
aplicação às entidades constituin- No entanto, importa referir que o tex- suntos Económicos e Monetários, «Relató-
tes localizadas na União que sejam to final da diretiva terá que ser apro- rio sobre a proposta de diretiva do Conse-
membros de um grupo de empresas vado por unanimidade dos Estados- lho relativa à fixação de um nível mínimo
multinacionais ou de um grande -membros para que a diretiva possa mundial de tributação para os grupos mul-
grupo nacional com receitas anuais ser efetivamente aplicada. tinacionais na União» (COM (2021)0823 –
iguais ou superiores a 750 milhões Mais recentemente, em junho de C9-0040/2022 – 2021/0433(CNS)), 3.5.2022

JULHO 2022 33
FISCALIDADE

Alienação de viatura ligeira


de passageiros
Este trabalho apresenta-lhe vários cenários que se colocam aquando da alienação
de uma viatura ligeira de passageiros, quer no que se refere aos registos contabilísticos
e cálculo da mais ou menos-valia contabilística quer ao nível fiscal.

Por Elsa Marvanejo da Costa* | Artigo recebido em julho de 2022

A venda de uma viatura que se económicos do seu uso como, por os proventos líquidos da alienação,
configure como um elemento exemplo, abate por obsolescência ou se os houver, e a quantia escriturada
do ativo fixo tangível é uma ope- sinistros, doação, atribuição na par- do item.
ração suscetível do apuramento de tilha, entre outras. Em complemento ao registo con-
mais ou menos-valias quer conta- O registo do desreconhecimento do tabilístico deverá ser efetuado um
bilísticas quer fiscais. Consideran- item será efetuado pela quantia es- cálculo extracontabilístico para
do a prática relativamente comum criturada à data. Por definição, a apuramento da mais-valia ou me-
que existe de praticar depreciações quantia escriturada de um ativo é nos-valia. A fórmula para apurar
atendendo ao período de vida útil a sua quantia recuperável no final essa mais-valia ou menos-valia con-
estabelecido para efeitos fiscais, e do período, ou seja, será o respetivo tabilística será como segue na tabela
não pela realidade económica, as- custo líquido de quaisquer deprecia- em baixo.
sim como a não utilização de valor ções e/ou perdas por imparidade já Os registos contabilísticos a efetuar
residual, importa analisar o efeito reconhecidas. serão:
destes procedimentos aquando da O ganho ou perda decorrente do - Pela anulação das depreciações
venda da viatura e consequente cál- desreconhecimento de um item do acumuladas e determinação da
culo da mais-valia. ativo fixo tangível deve ser incluí- quantia escriturada:
Acresce que as viaturas cujo valor de do nos resultados do período, sendo Débito: 438 - Ativos fixos tangíveis -
aquisição excede o limite fiscalmen- que este resulta da diferença entre Depreciações acumuladas
te aceite para as mesmas, também
comportam algumas especificida-
des aquando da sua alienação. Com Mais-valia ou menos-valia contabilística
este artigo pretendemos exemplifi- Mvc ou mvc = VR - (Vaq (ou Vreav) - DAc/PIac)
car o efeito das depreciações prati-
Em que:
cadas aquando do cálculo da mais-
-valia resultante da alienação de Mvc ou mvc - Mais-valia contabilística ou menos-valia contabilística
viatura. VR - Valor de realização, líquido dos encargos que lhe sejam inerentes
Vaq - Valor de aquisição
Tratamento contabilístico
O desreconhecimento de itens do Vreav - Valor de reavaliação
ativo fixo tangível deve ocorrer no DAc - Depreciações acumuladas contabilizadas
momento da alienação ou quan-
PIac - Perdas por imparidade acumuladas contabilizadas
do não se espere futuros benefícios

34 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

Débito: 439 - Ativos fixos tangíveis - credores (valor de venda) rosa de bens do ativo fixo tangível,
Perdas por imparidade acumuladas Débito: 6871 – Outros gastos - Gas- qualquer que seja o título por que
Por contrapartida a: tos em investimentos não financei- se opere e, bem assim, os decorren-
Crédito: 434 - Ativos fixos tangí- ros – Alienações (menos-valia, que tes de sinistros ou os resultantes da
veis – Equipamento de transporte será a diferença negativa entre o va- afetação permanente a fins alheios à
Pelo montante das depreciações e/ lor de venda e a quantia escriturada) atividade exercida, nos termos pre-
ou perdas por imparidade acumu- Por contrapartida a: vistos no artigo 46.º do Código do
ladas Crédito: 434 - Ativos fixos tangí- IRC.
- Pelo desreconhecimento do ati- veis – Equipamento de transporte Admitindo a existência de uma
vo fixo tangível considerando a (quantia escriturada) mais-valia, esta configura um ren-
existência de mais-valia contabi- No caso dos itens do ativo fixo tan- dimento tributável nos termos do
lística: gível já se encontrarem totalmente disposto na alínea h) do n.º 1 do ar-
Débito: 278 – Outras contas a re- depreciados, ou seja, a sua quantia tigo 20.º do Código do IRC. Por sua
ceber e a pagar – Outros devedo- escriturada é zero, no momento do vez, sendo apurada uma menos-va-
res e credores (valor de venda) respetivo abate, deverão ser des- lia, esta configura uma perda dedu-
Por contrapartida a: reconhecidos do ativo da entidade, tível nos termos previstos na alínea
Crédito: 434 - Ativos fixos tangí- bastando efetuar um registo con- l) do n.º 2 do artigo 23.º do Código
veis – Equipamento de transporte tabilístico de anulação da conta do do IRC, com a limitação resultante
(quantia escriturada) ativo por contrapartida da anulação da alínea l) do n.º 1 do artigo 23.º-
Crédito: 7871 – Outros rendimen- do montante das depreciações e/ou A do Código do IRC, cuja fórmula se
tos - Rendimentos em investimen- perdas por imparidade acumuladas. encontra na Circular n.º 6/2011, de
tos não financeiros – Alienações O valor de realização, neste caso, 5 de maio.
(mais-valia, que será a diferença configura um rendimento (7871) na As mais-valias e as menos-valias são
positiva entre o valor de venda e a sua totalidade, movimentado por dadas pela diferença entre o valor
quantia escriturada) contrapartida do devedor (278). de realização, líquido dos encargos
- Pelo desreconhecimento do ativo que lhe sejam inerentes e o valor de
fixo tangível considerando a exis- Enquadramento fiscal aquisição, deduzido das deprecia-
tência de menos-valia contabilísti- Em termos fiscais, consideram-se ções e amortizações aceites fiscal-
ca: mais ou menos-valias realizadas os mente, das perdas por imparidade e
Débito: 278 – Outras contas a rece- ganhos obtidos ou as perdas sofri- outras correções de valor previstas
ber e a pagar – Outros devedores e das, decorrentes da alienação one- para efeitos fiscais, atualizado pelo
coeficiente de desvalorização mo-
Mais-valia ou menos-valia fiscal netária (quando tenham decorridos
dois anos desde a sua aquisição).
Mvf ou mvf = VR - (Vaq - Pim - Daf) x Coef.
Sendo que a Autoridade Tributária
Sendo: e Aduaneira emitiu esclarecimen-
Mvf ou mvf - Mais-valia fiscal ou menos-valia fiscal tos – a Circular n.º 6/2011, de 5 de
maio – considerando que no caso de
VR - Valor de realização, líquido dos encargos que lhe sejam inerentes
alienação de viatura ligeira de pas-
Vaq - Valor de aquisição sageiros adquiridas acima do limite
Pim - Perdas de imparidade (aceites fiscalmente) nos termos dos artigos legal previsto, deve considerar-se o
valor das depreciações praticadas (e
28.º-A e 31.º-B do Código do IRC
não as fiscalmente aceites).
Daf - Depreciações ou amortizações acumuladas aceites fiscalmente (ou Ou seja, a Circular n.º 6/2011, de 5
praticadas no caso das viaturas ligeiras de passageiros adquiridas acima de maio, além de clarificar a inter-
pretação da alínea l) do n.º 1 do arti-
do limite fiscal)
go 23.º-A do Código do IRC, através
Coef. - Coeficiente de desvalorização da moeda (Portaria do Ministro das da disponibilização da fórmula para
Finanças) cálculo desse limite, veio também

JULHO 2022 35
FISCALIDADE

referir-se quanto ao disposto no n.º do qual as depreciações das viatu- é de 25 mil euros ou de 50 mil euros
2 do artigo 46.º do Código do IRC. ras ligeiras de passageiros ou mis- caso se trate de viaturas exclusiva-
Ainda que o n.º 2 do artigo 46.º do tas (desde que tais bens não estejam mente elétricas.
Código do IRC estabeleça que no afetos ao serviço público de trans- Para as viaturas ligeiras de passa-
cálculo da mais-valia deve consi- portes nem se destinem a ser aluga- geiros ou mistas adquiridas em 2015
derar-se o valor das depreciações dos no exercício da atividade normal ou nos anos seguintes, o montante
fiscalmente aceites, a AT através do sujeito passivo) não são fiscal- do limite passa a ser de:
de doutrina, impõe que no caso de mente aceites, importa analisar o - 62 500 euros relativamente a
viaturas ligeiras de passageiros ad- disposto na Portaria n.º 467/2010, de veículos movidos exclusivamente
quiridas acima do limite legal, deve 7 de julho. a energia elétrica;
considerar-se as depreciações pra- Este limite está dependente da data - 50 000 euros relativamente a
ticadas. Se assim não fosse, o sujeito de aquisição da viatura. veículos híbridos plug-in;
passivo que ao longo dos anos teve Para as viaturas adquiridas durante - 37 500 euros relativamente a veí-
que acrescer o excesso do gasto com o ano de 2010 o limite é de 40 mil eu- culos movidos a gases de petróleo
depreciações praticadas acima do ros. Nas viaturas adquiridas durante liquefeito ou gás natural veicular;
limite legal, iria “recuperar” a pe- o ano de 2011 o limite é de 30 mil eu- - 25 000 euros relativamente às
nalização sofrida aquando do cálcu- ros ou de 45 mil euros caso se trate restantes viaturas não abrangidas
lo da mais-valia pela venda do item. de viaturas exclusivamente elétri- nas alíneas anteriores.
(ver tabela da página anterior). cas. As viaturas adquiridas durantes Para as viaturas adquiridas antes de
No que se refere ao limite a partir os anos de 2012, 2013 e 2014 o limite 2010, o limite fiscal das depreciações

Limite das viaturas ligeiras de passageiros para efeitos fiscais*

Outros (gasóleo, gasoli-


Ano de aquisição Elétricos Híbridos plug-in GPL OU GNV
na, etc)
Antes 2010 29 927,87
2010 40 000,00
2011 45 000,00 30 000,00
2012, 2013 ou 2014 50 000,00 25 000,00
2015 ou posterior 62 500,00 50 000,00 37 500,00 25 000,00

*Desde que tais viaturas não estejam afetas ao serviço público de transportes nem se destinem a ser alugados no exercício da
atividade normal do sujeito passivo.

Campos relevantes aquando do preenchimento do quadro 7 da declaração modelo 22

A acrescer

736: Menos-valias contabilísticas

739:Diferença positiva entre as mais-valias e as menos-valias fiscais sem intenção de reinvestimento (art.º 46.º)

740: 50% da diferença positiva entre as mais-valias eas menos-valias fiscais com a inteção expressa de reinvestimento (art.º 48.º n.º1)

752:Outros acréscimos

A deduzir

767: Mais-valias contabílisticas

769: Diferença negativa entre as mais-valias e as menos-valias fiscais (art.º 46.º)

36 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

estava fixado em 29 927,87 euros, sen- regime de tributação com base nas A sociedade “XYZ” alienou uma via-
do este limite a ter em consideração, regras da contabilidade organiza- tura de turismo em 2021 por 7 000
conforme entendimento da Autori- da, então os campos a preencher do euros A viatura havia sido adquirida
dade Tributária e Aduaneira através quadro 04 do anexo C à declaração em 2017 por 20 000 euros e já se en-
de Informação Vinculativa (Proc.: modelo 3 serão os constantes tabela contrava totalmente depreciada.
816/2011, com despacho concordan- em baixo. Cálculo da mais-valia contabilística:
te do diretor-geral dos Impostos em MVc / mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) -
20.05.2011, proferido no parecer n.º Exemplos DAc/PIac)
16/2011, do Centro de Estudos Fiscais). De seguida, iremos considerar vá- Mais-valia contabilística = 7 000 –
As correções fiscais nesta matéria rios exemplos, em sede de IRC, com (20 000 – 20 000) = 7 000
são efetuadas aquando do preenchi- o intuito de demonstrar a aplicação Registos contabilísticos:
mento do quadro 07 da declaração prática dos diversos normativos. Débito: 438x – Depreciações acu-
modelo 22. Num primeiro momento, Para simplificação utilizamos os se- muladas
o resultado contabilístico será ex- guintes pressupostos: Crédito: 434x – AFT Equipamento de
purgado do efeito da venda do ativo - Nunca se considera a utilização do transporte – Viatura
fixo tangível, isto é, a mais-valia regime do reinvestimento; Valor: 20 mil euros

Preenchimento do quadro 04 do anexo C à Modelo 3

A acrescer

432: Menos-valias contabilísticas

434:Diferença positiva entre as mais-valias e as menos-valias fiscais sem intenção de reinvestimento (art.º 46.º)

435: 50 por cento da diferença positiva entre as mais-valias eas menos-valias fiscais com a inteção expressa de reinvestimento (art.º 48.º
n.º1)

441: (linha em branco-equivalente a outros acréscimos)

A deduzir

454: Mais-valias contabílisticas

456: Diferença negativa entre as mais-valias e as menos-valias fiscais (art.º 46.º)

contabilística será deduzida e/ou - É sempre considerada a taxa de IRC Débito: 278x – Outros devedores e
a menos-valia contabilística será de 21 por cento; credores
acrescida. Posteriormente, impor- - Não se considera a penalização de Crédito: 7871 - Rendimentos e ganhos
ta adicionar o resultado fiscal, pelo 10 por cento na taxa de tributação em investimentos não financeiros –
que será acrescida a mais-valia fis- autónoma pela existência de prejuí- Alienações
cal (ou 50 por cento no caso de ser zos fiscais; Valor: 7 mil euros
utilizado o regime do reinvestimen- - Nos exemplos 4, 5 e 6 é considerada Cálculo da mais-valia fiscal:
to) e/ou será deduzida a menos-valia a taxa de 17,5 por cento admitindo Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim
fiscal ou parte dela, por aplicação da que a viatura se enquadra no n.º 18 - Daf - Vgf) x Coef
alínea l) do n.º 1 do artigo 23.º-A do do artigo 88.º do Código do IRC; Mais-valia fiscal = 7 000 – (20 000 –
Código do IRC. - Para determinação do coeficiente 20 000) x 1,01 = 7 000
Assim, aquando do preenchimento de desvalorização monetária foi uti- Neste caso, como a viatura está total-
do quadro 07 da declaração modelo lizada a Portaria n.º 220/2021, de 22 mente depreciada a mais-valia con-
22 são relevantes os campos cons- de outubro. tabilística é igual à mais-valia fiscal,
tantes da segunda tabela da página Exemplo 1 - Venda de viatura ligeira pois o coeficiente de desvalorização
anterior. de passageiros adquirida abaixo do não produz qualquer efeito, uma vez
Caso se trate de um sujeito passi- limite fiscal e que se encontra total- que a quantia escriturada é zero.
vo pessoa singular enquadrado no mente depreciada. Preenchimento do quadro 07 da de-

JULHO 2022 37
FISCALIDADE

- Daf - Vgf) x Coef


Mais-valia fiscal = 7 000 – (20 000 –
«Ainda que o n.º 2 do artigo 46.º do Código do IRC estabeleça 15 000) x 1,01 = 1 950
que no cálculo da mais-valia deve considerar-se o valor das Preenchimento do quadro 07 da de-
depreciações fiscalmente aceites, a AT através de doutrina, impõe claração modelo 22:
que no caso de viaturas ligeiras de passageiros adquiridas acima A acrescer:
do limite legal, deve considerar-se as depreciações praticadas.» Campo 739: Diferença positiva entre
as mais-valias e as menos-valias fis-
cais sem intenção de reinvestimento
(art.º 46.º) – 1 950
A deduzir:
claração modelo 22: 2 000 euros; Campo 767: Mais-valias contabilísti-
A acrescer: Potencial “redução” de IRC com as cas – 2 000
Campo 739: Diferença positiva entre depreciações, considerando taxa de Preenchimento do mapa de mais-
as mais e as menos-valias fiscais sem IRC a 21 por cento: 4 200 euros; -valias:
intenção de reinvestimento (art.º 46.º) Mais-valia sujeita a IRC: 7 000 euros; Coluna (2) – Valor de realização: 7
– 7 000 IRC sobre a mais-valia (taxa 21%): 1 000
A deduzir 470 euros. Coluna (3) – Valor de aquisição para
Campo 767: Mais-valias contabilísti- Exemplo 2: venda de viatura ligeira efeitos fiscais: 20 000
cas – 7 000 de passageiros adquirida abaixo do Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017
Preenchimento do mapa das mais- limite fiscal que não está totalmente Coluna (5) - Valor de aquisição para
-valias depreciada e de cuja alienação resulta efeitos contabilísticos: 20 000
Coluna (2) – Valor de realização: 7 000 uma mais-valia contabilística. Coluna (6) – Depreciações/ amortiza-
Coluna (3) – Valor de aquisição para A sociedade “KWF” alienou uma via- ções e perdas por imparidade regista-
efeitos fiscais: 20 000 tura de turismo em 2021 por 7 000 eu- das: 15 000
Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017 ros. A viatura havia sido adquirida em Coluna (7) – Mais-valia ou menos-va-
Coluna (5) - Valor de aquisição para 2017 por 20 000 euros e, à data, o valor lia contabilística - Sinal: + (positivo)
efeitos contabilísticos: 20 000 das depreciações acumuladas ascen- Coluna (8) – Mais-valia ou menos-
Coluna (6) – Depreciações/amortiza- dia a 15 000 euros. -valia contabilística - Valor: 2 000
ções e perdas por imparidade regista- Cálculo da mais-valia contabilística: Coluna (10) – Depr./amort. e perdas
das: 20 000 MVc / mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) - por imparidade aceites fiscalmente:
Coluna (7) – Mais-valia ou menos-va- DAc/PIac) 15 000
lia contabilística - Sinal: + (positivo) Mais-valia contabilística = 7 000 – (20 Coluna (11) - Coeficiente de desvalo-
Coluna (8) – Mais-valia ou menos-va- 000 – 15 000) = 2 000 rização da moeda: 1,01
lia contabilística - Valor: 7 000 Registos contabilísticos: Coluna (12) – Mais-valia ou menos-
Coluna (10) – Depr./amort. e perdas 1) Débito: 438x – Depreciações acu- -valia fiscal - Sinal: + (positivo)
por imparidade aceites fiscalmente: muladas Coluna (13) – Mais-valia ou menos-
20 000 Crédito: 434x – AFT Equipamento de -valia fiscal - Valor: 1 950
Coluna (11) - Coeficiente de desvalori- transporte – Viatura Observações:
zação da moeda: 1,01 Valor: 15 000 Total de gastos registados com depre-
Coluna (12) – Mais-valia ou menos- 2) Débito: 278x – Outros devedores e ciações: 15 000
-valia fiscal - Sinal: + (positivo) credores: 7 000 Tributação autónoma sobre as depre-
Coluna (13) – Mais-valia ou menos- Crédito: 434x – AFT Equipamento de ciações praticadas (taxa 10%): 1 500
-valia fiscal - Valor: 7 000 transporte – Viatura: 5 000 Potencial “redução” de IRC com as
Observações: Crédito: 7871 - Rendimentos e ganhos depreciações, considerando taxa de
Total de gastos registados com depre- em investimentos não financeiros – IRC a 21 por cento: 3 150.
ciações: 20 000 euros; Alienações: 2 000 Mais-valia sujeita a IRC: 1 950.
Tributação autónoma sobre as depre- Cálculo da mais-valia fiscal: IRC sobre a mais-valia (taxa 21 por
ciações praticadas (taxa 10 por cento): Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim cento): 409,50

38 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

Exemplo 1 Exemplo 2
Ativo fixo tangível 20 000,00 Ativo fixo tangível 20 000,00

Depreciações acumuladas 20 000,00 Depreciações acumuladas 15 000,00

Venda 7 000,00 Venda 7 000,00

Mais-valia contabilística 7 000,00 Mais-valia contabilística 2 000,00

Registo contabilístico Registo contabilístico

D438 D438
1 1
C434 20 000,00 C434 15 000,00

D278 7 000,00 D278 7 000,00

2 C434 0,00 2 C434 5 000,00

C781 7 000,00 C781 2 000,00

Coeficiente 1,01 Coeficiente 1,01

Mais-valia Fiscal 7 000,00 Mais-valia Fiscal 1 950,00

Preenchimento Q07 Preenchimento Q07

Acrescer Acrescer

739: Dif. positiva sem intenção rein- 7 000,00 739: Dif. positiva sem intenção rein- 1 950,00
vestimento vestimento

Deduzir Deduzir

767: Mais-valia contabilística 7 000,00 767: Mais-valia contabilística 2 000,00

Observações: Observações:

Valor depreciações sujeito TA 20 000,00 Valor depreciações sujeito TA 15 000,00

TA 10% 2 000,00 TA 10% 1 500,00

"Potencial" redução IRC c/depr. -4 200,00 "Potencial" redução IRC c/depr. -3 150,00

Mais-valia sujeita a IRC 7 000,00 Mais-valia sujeita a IRC 1 950,00

IRC 21% 1 470,00 IRC 21% 409,50

Com os exemplos 1 e 2 pretende-se o próprio cálculo da mais-valia seja limite fiscal que não está totalmente
alertar para o diferente momento influenciado pelo coeficiente de des- depreciada e de cuja alienação resul-
de sujeição a IRC. Isto é, no exemplo valorização monetária. Não são aqui ta uma menos-valia.
1 foi considerado o período de vida equacionados outros elementos que A sociedade “RTS” alienou uma via-
útil mínimo, resultando deste pro- podem conduzir a diferentes con- tura de turismo em 2021 por 3 000
cedimento um gasto com deprecia- clusões, nomeadamente o facto de euros. A viatura havia sido adquirida
ções superior, comparativamente ao existirem prejuízos fiscais que po- em 2017 por 20 000 euros e, à data,
exemplo 2, em que o período de vida derão não permitir a utilização total o valor das depreciações acumuladas
útil considerado foi superior e, logo, do gasto (nesse ano) e que podem ter ascendia a 15 000 euros.
a taxa de depreciação mais baixa. O conduzido à penalização da taxa de Cálculo da mais-valia contabilística:
facto de a viatura estar totalmente tributação autónoma em dez pontos MVc / mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) -
depreciada aquando da sua aliena- percentuais. DAc/PIac)
ção conduz a que a totalidade do va- Exemplo 3: venda de viatura ligeira Menos-valia contabilística = 3 000 –
lor de venda seja tributado, sem que de passageiros adquirida abaixo do (20 000 – 15 000) = -2 000

JULHO 2022 39
FISCALIDADE

Registos contabilísticos:
1) Débito: 438x – Depreciações acu-
muladas
Crédito: 434x – AFT Equipamento de
«No que se refere à tributação de imposto sobre o rendimento,
transporte – Viatura além da tributação autónoma a que estas viaturas estão sujeitas,
Valor: 15 000 as políticas adotadas acerca da determinação do período
2) Débito: 278x – Outros devedores e de vida útil esperado e da atribuição, ou não, de valor residual,
credores: 3 000 podem também ser relevantes.»
Débito: 6871 – Gastos e perdas em
investimentos não financeiros –
Alienações: 2 000 Coluna (12) – Mais-valia ou menos- DAc/PIac)
Crédito: 434x – AFT Equipamento de -valia fiscal - Sinal: - (negativo) Menos-valia contabilística = 3 000 –
transporte – Viatura: 5 000 Coluna (13) – Mais-valia ou menos- (20 000 – 0,00) = - 17 000
Cálculo da mais-valia fiscal: -valia fiscal - Valor: 2 050 Registos contabilísticos:
Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim Observações: Débito: 278x – Outros devedores e
- Daf - Vgf) x Coef Total de gastos registados com de- credores: 3 000
Menos-valia fiscal = 3 000 – (20 000 preciações: 15 000 Débito: 6871 – Gastos e perdas em in-
– 15 000) x 1,01 = - 2 050 Tributação autónoma sobre as depre- vestimentos não financeiros – Alie-
Preenchimento do quadro 07 da de- ciações praticadas (taxa 10%): 1 500 nações: 17 000
claração modelo 22: Potencial “redução” IRC com as de- Crédito: 434x – AFT Equipamento de
A acrescer: preciações, considerando taxa de IRC transporte – Viatura: 20 000
Campo 736: Menos-valia contabilís- a 21 por cento: 3 150 Cálculo da mais-valia fiscal:
tica – 2 000 Menos-valia dedutível: 2 050 Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim
A deduzir: Potencial “redução” de IRC com a - Daf - Vgf) x Coef.
Campo 769: Diferença negativa en- menos-valia, considerando taxa de Menos-valia fiscal = 3 000 – (20 000
tre as mais e as menos-valias fiscais IRC de 21 por cento: 430,50 – 10 000) x 1,01 = -7 100
(art.º 46.º) – 2 050 Neste caso, como o valor de aquisição Referimos que, neste caso, ainda que
Preenchimento do mapa de mais- da viatura foi abaixo do limite fiscal não tenham sido praticadas depre-
-valias: previsto, a menos-valia apurada é ciações, no cálculo da mais-valia ou
Coluna (2) – Valor de realização: 3 dedutível na totalidade. menos-valia fiscal teremos que con-
000 Exemplo 4 - venda de viatura ligeira siderar as quotas mínimas, pois estas
Coluna (3) – Valor de aquisição para de passageiros adquirida abaixo do configuram-se como gastos perdi-
efeitos fiscais: 20 000 limite fiscal sobre a qual não foram dos.
Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017 praticadas depreciações. Alertamos que desconhecemos qual
Coluna (5) - Valor de aquisição para A sociedade “LPY” alienou uma via- a interpretação da Autoridade Tri-
efeitos contabilísticos: 20 000 tura de turismo em 2021 por 3 000 butária acerca deste tipo de “pla-
Coluna (6) – Depreciações/amorti- euros. A viatura havia sido adquiri- neamento”. Efetivamente, não ten-
zações e perdas por imparidade re- da em 2017 por 20 000 euros e, até à do sido considerado o gasto com as
gistadas: 15 000 data, não foram praticadas deprecia- depreciações, não houve lugar ao
Coluna (7) – Mais-valia ou menos- ções. apuramento da tributação autónoma
-valia contabilística - Sinal: - (ne- Do ponto de vista contabilístico esta- nesses anos. Este procedimento deve
gativo) mos perante um erro contabilísticos ser analisado ao abrigo do disposto
Coluna (8) – Mais-valia ou menos- que importaria corrigir nos termos no artigo 38.º da Lei Geral Tributária
-valia contabilística - Valor: 2 000 previstos na NCRF 4. Não obstan- sob a epígrafe de «Ineficácia de atos e
Coluna (10) – Depr./amort. e perdas te, nas situações em que tal não se negócios jurídicos.»
por imparidade aceites fiscalmente: verifique, o procedimento a adotar Preenchimento do quadro 07 da de-
15 000 aquando da venda seria o seguinte. claração modelo 22:
Coluna (11) - Coeficiente de desvalo- Cálculo da mais-valia contabilística: A acrescer:
rização da moeda: 1,01 MVc /mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) - Campo 736: Menos-valias contabilís-

40 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

ticas – 17 000 A sociedade “XYZ” alienou uma efeitos fiscais: 60 000


A deduzir: viatura de turismo híbrida plug-in Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017
Campo 769: Diferença negativa entre em 2021 por 20 000 euros. A viatura Coluna (5) - Valor de aquisição para
as mais-valias e as menos-valias fis- havia sido adquirida em 2017 por 60 efeitos contabilísticos: 60 000
cais (art.º 46.º) – 7 100 000 euros e já se encontrava total- Coluna (6) – Depreciações/amortiza-
Preenchimento do mapa de mais- mente depreciada. ções e perdas por imparidade regis-
-valias: Cálculo da mais-valia contabilística: tadas: 60 000
Coluna (2) – Valor de realização: 3 MVc / mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) - Coluna (7) – Mais-valia ou menos-
000 DAc/PIac) -valia contabilística - Sinal: + (po-
Coluna (3) – Valor de aquisição para Mais-valia contabilística = 20 000 – sitivo)
efeitos fiscais: 20 000 (60 000 - 60 000) = 20 000 Coluna (8) – Mais-valia ou menos-
Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017 Registos contabilísticos: -valia contabilística - Valor: 20 000
Coluna (5) - Valor de aquisição para 1) Débito: 438x – Depreciações acu- Coluna (10) – Depr./amort. e perdas
efeitos contabilísticos: 20 000 muladas por imparidade aceites fiscalmente:
Coluna (6) – Depreciações/amortiza- Crédito: 434x – AFT Equipamento de 60 000
ções e perdas por imparidade regis- transporte – Viatura Coluna (11) - Coeficiente de desvalo-
tadas: 0,00 Valor: 60 000 rização da moeda: 1,01
Coluna (7) – Mais-valia ou menos- 2) Débito: 278x – Outros devedores e Coluna (12) – Mais-valia ou menos-
-valia contabilística - Sinal: - (ne- credores -valia fiscal - Sinal: + (positivo)
gativo) Crédito: 7871 - Rendimentos e gan- Coluna (13) – Mais-valia ou menos-
Coluna (8) – Mais-valia ou menos- hos em investimentos não financei- -valia fiscal - Valor: 20 000
-valia contabilística - Valor: 17 000 ros - Alienações Observações:
Coluna (10) – Depr./amort. e perdas Valor: 20 000 Total de gastos registados com de-
por imparidade aceites fiscalmente: Cálculo da mais-valia fiscal: preciações: 60 000
10 000 Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim Tributação autónoma sobre as depre-
Coluna (11) - Coeficiente de desvalo- - Daf - Vgf) x Coef ciações praticadas (taxa 17,5 por cen-
rização da moeda: 1,01 Mais-valia fiscal = 20 000 - (60 000 - to): 10 500
Coluna (12) – Mais-valia ou menos- 60 000) x 1,01 = 20 000 Depreciações não aceites fiscalmen-
-valia fiscal - Sinal: - (negativo) Ainda que a viatura esteja totalmente te: 10 000
Coluna (13) – Mais-valia ou menos- depreciada, como esta foi adquirida Potencial “redução” IRC com as de-
-valia fiscal - Valor: 7 100 acima do limite legal, no cálculo da preciações, considerando taxa de IRC
Observações: mais ou menos-valia resultante da de 21 por cento: 10 500
Total de gastos registados com de- alienação terão que ser consideradas Mais-valia sujeita a IRC: 20 000
preciações: 0 as depreciações praticadas (e não as IRC sobre a mais-valia (taxa 21%): 4 200
Tributação autónoma sobre as depre- fiscalmente aceites). Acerca da utilização das «depre-
ciações praticadas (taxa 10 por cen- Preenchimento do quadro 07 da de- ciações praticadas» conforme pre-
to): embora não tenham sido calcu- claração modelo 22: visto na Circular n.º 6/2011, de 5 de
ladas, é nossa opinião que no âmbito A acrescer: maio, em detrimento das «depre-
de uma inspeção estas possam ser Campo 739: Diferença positiva entre ciações aceites fiscalmente» nos
“exigidas”. as mais-valias e as menos-valias fis- termos que resultam do n.º 2 do ar-
Potencial “redução” de IRC com as cais sem intenção de reinvestimento tigo 46.º do Código do IRC, aquan-
depreciações, considerando a taxa de (art.º 46.º) – 20 000 do do cálculo da mais-valia resul-
IRC a 21 por cento: 0 A deduzir: tante da venda de viatura ligeira
Menos-valia dedutível: 7 100 Campo 767: Mais-valias contabilísti- de passageiros adquirida acima do
Potencial “redução” de IRC com a cas – 20 000 limite fiscalmente aceite, a Autori-
menos-valia, considerando taxa de Preenchimento do mapa de mais- dade Tributária e Aduaneira, atra-
IRC a 21 por cento: 1 491 -valias: vés da doutrina referida, aumenta o
Exemplo 5: venda de viatura híbrida Coluna (2) – Valor de realização: 20 000 valor da base tributável neste tipo
plug-in totalmente depreciada. Coluna (3) – Valor de aquisição para de operações.

JULHO 2022 41
FISCALIDADE

Mas vejamos: se na fórmula fosse uti- transporte – Viatura das: 42 000


lizado o previsto no Código do IRC, Valor: 42 000 Coluna (7) – Mais-valia ou menos-va-
a mais-valia fiscal apurada seria, no Débito: 278x – Outros devedores e cre- lia contabilística - Sinal: + (positivo)
exemplo anterior: dores: 20 000 Coluna (8) – Mais-valia ou menos-va-
Mais-valia fiscal = 20 000 - (60 000 – 2) Crédito: 434x – AFT Equipamento lia contabilística - Valor: 2 000
50 000) x 1,01 = 9 900 de transporte – Viatura: 18 000 Coluna (10) – Depr./amort. e perdas
Ou seja, ao longo dos anos o gasto com Crédito: 7871 - Rendimentos e ganhos por imparidade aceites fiscalmente:
as depreciações praticadas além do li- em investimentos não financeiros – 42 000
mite, 10 000 euros foram acrescidas. Alienações: 2 000 Coluna (11) - Coeficiente de desvalori-
Com a venda, tal acréscimo iria “recu- Cálculo da menos-valia fiscal: zação da moeda: 1,01
perar-se”, praticamente na totalidade, Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - Pim - Coluna (12) – Mais-valia ou menos-va-
não fosse a aplicação do coeficiente de Daf - Vgf) x Coef. lia fiscal - Sinal: + (positivo)
desvalorização monetária. Menos-valia fiscal = 20 000 - (60 000 - Coluna (13) – Mais-valia ou menos-
Exemplo 6: Venda de viatura híbri- 42 000) x 1,01 = 1 820 -valia fiscal - Valor: 1 820
da plug-in que não está totalmen- Preenchimento do quadro 07 da de- No cálculo da mais-valia fiscal no
te depreciada, porque se admitiu claração modelo 22: preenchimento da coluna 13 iremos
a existência de valor residual (30 A acrescer: utilizar a fórmula prevista na Cir-
por cento do valor de aquisição da Campo 739: Diferença positiva entre as cular n.º 6/2011, de 5 de maio, pelo
viatura) e de cuja alienação resulta mais-valias e as menos-valias fiscais que não se segue as instruções de
uma mais-valia contabilística. sem intenção de reinvestimento (art.º preenchimento do mapa de mais-
A sociedade “KWF” alienou uma via- 46.º) – 1 820 -valias.
tura de turismo híbrida plug-in em 2021 A deduzir: Observações:
por 20 000 euros. A viatura havia sido Campo 767: Mais-valias contabilísticas Total de gastos registados com depre-
adquirida em 2017 por 60 000 euros e, à – 2 000 ciações: 42 000
data, o valor das depreciações acumula- Preenchimento do mapa de mais-va- Tributação autónoma sobre as depre-
das ascendia a 42 000 euros. lias: ciações praticadas (taxa 17,5 por cen-
Cálculo da mais-valia contabilística: Coluna (2) – Valor de realização: 20 to): 7 350
MVc / mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) - DAc/ 000 Depreciações não aceites fiscalmente:
PIac) Coluna (3) – Valor de aquisição para 7 000
Mais-valia contabilística = 20 000 - (60 efeitos fiscais: 60 000 Potencial “redução” de IRC com as de-
000 - 42 000) = 2 000 Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017 preciações, considerando taxa de IRC
Registos contabilísticos: Coluna (5) - Valor de aquisição para de 21 por cento: 7 350 euros
1) Débito: 438x – Depreciações acu- efeitos contabilísticos: 60 000 Mais-valia sujeita a IRC: 1 820 euros
muladas Coluna (6) – Depreciações/ amortiza- IRC sobre a mais-valia (taxa 21 por
Crédito: 434x – AFT Equipamento de ções e perdas por imparidade regista- cento): 382,20

42 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

Exemplo 5 Exemplo 6
Ativo fixo tangível 60 000,00 Ativo fixo tangível 60 000,00
Depreciações acumuladas 60 000,00 Depreciações acumuladas 42 000,00
Venda 20 000,00 Venda 20 000,00
Mais-valia contabilística 20 000,00 Mais-valia contabilística 2 000,00
Registo contabilístico Registo contabilístico
D438 D438
1 1
C434 60 000,00 C434 42 000,00
D278 20 000,00 D278 20 000,00
2 C434 0,00 2 C434 18 000,00
C781 20 000,00 C781 2 000,00
Coeficiente desvalorização monetária 1,01 Coeficiente desvalorização monetária 1,01
Depreciações fiscalmente aceites 50 000,00 Depreciações fiscalmente aceites 35 000,00
Mais-valia fiscal 20 000,00 Mais-valia fiscal 1 820,00
Preenchimento Q07 Preenchimento Q07
Acrescer Acrescer
739: Dif. positiva sem intenção reinvestimen- 20 000,00 739: Dif. positiva sem intenção reinves- 1 820,00
to timento
Deduzir Deduzir
767: Mais-valia contabilística 20 000,00 767: Mais-valia contabilística 2 000,00
Observações: Observações:
Valor depreciações sujeito TA 60 000,00 Valor depreciações sujeito TA 42 000,00
TA 17,5% 10 500,00 TA 17,5% 7 350,00
Gastos não aceites 10 000,00 Gastos não aceites 7 000,00
"Potencial" redução IRC c/ depr. 10 500,00 "Potencial" redução IRC c/ depr. 7 350,00
Mais-valia sujeita a IRC 20 000,00 Mais-valia sujeita a IRC 1 820,00
IRC 21% 4 200,00 IRC 21% 382,20

Alertamos que nestes exemplos foi híbridas plug-in, cuja bateria possa nas alíneas a), b) e c) do n.º 3 são,
considerado um cenário em que a ser carregada através de ligação à respetivamente, de 5%, 10% e 17,5%
viatura reunia as condições para rede elétrica e que tenham uma au- (...).»
enquadramento no n.º 18 do artigo tonomia mínima, no modo elétrico, Numa situação em que a viatura seja
88.º do Código do IRC: «(…) no caso de 50 km e emissões oficiais inferio- sujeita a uma taxa de tributação au-
de viaturas ligeiras de passageiros res a 50 gCO2/km, as taxas referidas tónoma de 35 por cento, o efeito seria

Observações Observações

Valor depreciações sujeito TA 60 000,00 Valor depreciações sujeito TA 42 000,00

TA 35% 21 000,00 TA 35% 14 700,00

Gastos não aceites 10 000,00 Gastos não aceites 7 000,00

"Potencial" redução IRC c/depr. 10 500,00 "Potencial" redução IRC c/depr. 7 350,00

Mais-valia sujeita a IRC 20 000,00 Mais-valia sujeita a IRC 1 820,00

IRC 21% 4 200,00 IRC 21% 382,20

JULHO 2022 43
FISCALIDADE

o seguinte: Diferença a acrescer: 1 716,67 Tributação autónoma sobre as depre-


Ou seja, é fundamental a devida Preenchimento do quadro 07 da de- ciações praticadas (taxa 17,5 por cen-
ponderação de atribuição de vida claração modelo 22: to): 5 250 euros
útil e/ou da expetativa sobre a uti- A acrescer: Depreciações não aceites fiscalmente:
lização da viatura e eventual atri- Campo 736: Menos-valias contabi- 5 000
buição de valor residual, pois são lísticas – 10 000 Potencial “redução” de IRC com as de-
fatores que têm influência direta no Campo 752: Outros acréscimos – 1 preciações, considerando taxa de IRC a
valor do IRC a pagar, quer durante a 716,67 21 por cento: 5 250
posse da viatura quer no momento A deduzir: Menos-valia dedutível: 8 583,33
da sua alienação. Campo 769: Diferença negativa en- Potencial “redução” IRC com a menos-
Exemplo 7: venda de viatura híbrida tre as mais-valias e as menos-valias -valia, considerando taxa de IRC de 21
plug-in que não está totalmente de- fiscais (art.º 46.º) – 10 300 por cento: 1 802,50
preciada e de cuja alienação resulta Preenchimento do mapa de mais- Quando a venda de uma viatura li-
uma menos-valia contabilística. -valias: geira de passageiros adquirida acima
A sociedade “RTS” alienou uma Coluna (2) – Valor de realização: 20 do limite fiscalmente aceite gera uma
viatura de turismo em 2021 por 20 000 menos-valia, esta perda não será in-
000 euros. A viatura havia sido ad- Coluna (3) – Valor de aquisição para tegralmente dedutível. A este respeito
quirida em 2017 por 60 000 euros e, efeitos fiscais: 60 000 ver o disposto na Circular n.º 6/2011,
à data, o valor das depreciações acu- Coluna (4) – Ano de aquisição: 2017 de 5 de maio, que contempla a seguin-
muladas ascendia a 30 000 euros. Coluna (5) - Valor de aquisição para te fórmula:
Cálculo da mais-valia contabilística: efeitos contabilísticos: 60 000 mv fiscal dedutível = valor limite / va-
MVc/mvc = VR - (Vaq.(ou Vreav) - Coluna (6) – Depreciações/ amor- lor de aquisição x mv fiscal
DAc/PIac) tizações e perdas por imparidade
Menos-valia contabilística = 20 000 registadas: 30 000 Conclusão
- (60 000 - 30 000) = - 10 000 Coluna (7) – Mais-valia ou menos- Pretendeu-se com este artigo conside-
Registos contabilísticos: -valia contabilística - Sinal: - (ne- rar os vários cenários que se colocam
1)Débito: 438x – Depreciações acu- gativo) aquando da alienação de uma viatu-
muladas Coluna (8) – Mais-valia ou menos- ra ligeira de passageiros, quer no que
Crédito: 434x – AFT Equipamento -valia contabilística - Valor: 10 000 se refere aos registos contabilísticos e
de transporte – Viatura Coluna (10) – Depr./amort. e perdas cálculo da mais-valia ou menos-valia
Valor: 30 000 por imparidade aceites fiscalmente: contabilística quer ao nível fiscal. No
2) Débito: 278x – Outros devedores 30 000 que se refere à tributação de imposto
e credores: 20 000 Coluna (11) - Coeficiente de desva- sobre o rendimento, além da tribu-
Débito: 6871 – Gastos e perdas em lorização da moeda: 1,01 tação autónoma a que estas viaturas
investimentos não financeiros – Coluna (12) – Mais-valia ou menos- estão sujeitas, as políticas adotadas
Alienações: 10 000 -valia fiscal - Sinal: - (negativo) acerca da determinação do período de
Crédito: 434x – AFT Equipamento Coluna (13) – Mais-valia ou menos- vida útil esperado e da atribuição, ou
de transporte – Viatura: 30 000 -valia fiscal - Valor: 10 300 não, de valor residual, podem tam-
Cálculo da menos-valia fiscal: No cálculo da mais-valia fiscal no bém ser relevantes. Consideramos
Mvf ou mvf = VR líquido - (Vaq - preenchimento da coluna 13 iremos vários exemplos (com os pressupostos
Pim - Daf - Vgf) x Coef. utilizar a fórmula prevista na Cir- enumerados) elucidativos dos diver-
Menos-valia fiscal = 20 000 - (60 cular n.º 6/2011, de 5 de maio, pelo sos cenários que se colocam, sen-
000 - 30 000) x 1,01 = - 10 300 que não se segue as instruções de do certo que um bom planeamento
Menos-valia fiscalmente aceite por preenchimento do mapa de mais- a este nível pode conduzir a uma
aplicação da Circular 6/2011: -valias. maior eficiência fiscal.
Menos-valia aceite = Valor limite/ Observações:
valor aquisição x menos-valia fiscal Total de gastos registados com de- *Consultora da Ordem
Menos-valia aceite = 8 583,33 preciações: 30 000 dos Contabilistas Certificados

44 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

IRC: realizações de utilidade social –


conceito de despesas com pessoal
O tema não é linear e suscitou interpretações divergentes entre a Autoridade Tributária e
Aduaneira e os tribunais. Conheça o caminho que levou a AT a rever a sua posição, aderindo
àquele que é o entendimento da jurisprudência dos tribunais tributários e das decisões
arbitrais do CAAD.
Por Telma Lopes* e António Gil** | Artigo recebido em abril de 2022

S ão diversificados e plurais os fato-


res motivacionais com impacto na
produtividade dos colaboradores das
gados que regula a contabilização dos
benefícios dos empregados.
Com efeito, de harmonia com a alí-
também os seus familiares.
No entender do Tribunal Central Ad-
ministrativo (TCA) Sul enunciado por
empresas. As organizações tendem, nea d) do n.º 2 do artigo 23.º do Có- acórdão proferido em 14/02/2019 no
não raras vezes, a procurar assegurar, digo do Imposto sobre o Rendimento processo 74/01.7BTLRS, consagra-
no ambiente de trabalho, a satisfação das Pessoas Coletivas (CIRC), estão -se aqui um regime que permite que
dos seus colaboradores esperando que abrangidos pelo conceito de gastos sejam deduzidos ao lucro tributável
a sua permanente e/ou crescente mo- e perdas dedutíveis os de «natureza os gastos incorridos pelas empresas e
tivação incremente a desejada perfor- administrativa, tais como remunera- nele tipificados, cuja finalidade é, es-
mance empresarial. ções, incluindo as atribuídas a título sencialmente, extrafiscal, revelando,
Entre esses fatores encontram-se os de participação nos lucros, ajudas de sobretudo, uma especial preocupa-
benefícios sociais cujos efeitos não só custo, material de consumo corrente, ção com a promoção da melhoria da
se produzem a nível profissional, mas transportes e comunicações, rendas, segurança social dos trabalhadores
sobretudo na esfera da vida pessoal do contencioso, seguros, incluindo os de e familiares e protegendo indivíduos
trabalhador. Incluem-se nestas con- vida, doença ou saúde, e operações sem direito a pensões da Segurança
dições o fornecimento de produtos do ramo 'Vida', contribuições para Social. Pretende-se que estes encar-
como seguros de saúde, seguros de fundos de poupança-reforma, contri- gos tenham como contrapartida a
vida, complementos de reforma, ou buições para fundos de pensões e para atribuição ao trabalhador de regalias
de apoio à infância, entre outros. quaisquer regimes complementares de feição pessoal e fito social, com im-
A contabilidade, designa por «bene- da Segurança Social, bem como gas- pacto fiscal no apuramento do IRC.
fícios dos empregados» o conjunto de tos com benefícios de cessação de em- A necessidade de serem evitados abu-
vantagens passíveis de quantificação, prego e outros benefícios pós-empre- sos, como seja a constituição de re-
concedidos pelas entidades aos seus go ou a longo prazo dos empregados.» munerações ocultas, que possam fu-
colaboradores, em que a contrapar- O artigo 43.º do CIRC gir à tributação em sede de IRS, não
tida pelo serviço por estes prestados Todavia, sob a epígrafe «realizações merece mais do que uma referência
se revela mais ténue. Estão em causa de utilidade social», o artigo 43.º geral, cuja ausência de densificação,
retribuições fixas, retribuições variá- do CIRC enumera um outro conjun- estando em causa vantagens que se
veis e outros benefícios, designada- to de contribuições efetuadas pelas assume serem de natureza pessoal
mente, de pós-emprego e/ou cessação empresas, sociedades ou grupos – revela, de forma manifesta, uma
da relação laboral, a curto ou a longo económicos que visam beneficiar, despreocupação para com o interesse
prazo – concedidos pelas empresas. indireta e indiscriminadamente, os público.
É a NCRF 28 – Benefícios dos empre- trabalhadores e, em alguns casos, Esta orientação, aliás, já resultava do

JULHO 2022 45
FISCALIDADE

acórdão do TCA Sul de 24-10-2006, compreendem as trazidas pelo sujeito radores. Aparentemente exige-se, no
proferido no processo 00763/05, afir- passivo e que se encontram em análi- presente, ou no passado, que tenha
mando-se: se, convém integrar no respetivo âm- sido constituído um vínculo laboral.
«O legislador fiscal, por motivos de bito de aplicação os requisitos que te- O regime fiscal é atrativo não só para
ordem política e social, entendeu rão de verificar-se de forma positiva e as empresas que assim podem ver o
considerar como gastos outras des- negativa, a saber: que “as realizações gasto deduzido ao lucro tributável su-
pesas que, apesar de se considerarem de utilidade social, feitas em benefício jeito a IRC, mas também para o cola-
despesas facultativas, poderão ter al- do pessoal da empresa dos reforma- borador, porquanto, apesar de quan-
guma conexão com a realização dos dos e respetivos familiares, tenham tificável na sua esfera patrimonial
rendimentos, designadamente as fei- carácter geral e não revistam a natu- como regalia, está excluída de tribu-
tas no âmbito da solidariedade social reza de rendimentos de trabalho de- tação em sede de IRS.
de que aproveita o pessoal da empresa pendente ou, revestindo-o, sejam de Prevê o n.º 1 do artigo 43.º CIRC a
e respetivos familiares. Nesse senti- difícil ou complexa individualização possibilidade de deduzir gastos, in-
do, dentro do espírito de liberalida- relativamente a cada um dos benefi- cluindo depreciações ou amortiza-
de das empresas, muitas entidades ciários.”» ções e rendas de imóveis, relativos à
conseguem prosseguir o seu escopo Assim, gastos que não seriam acei- manutenção facultativa de creches,
social graças ao contributo dado pelas tes, por não terem enquadramento no lactários, jardins-de-infância, canti-
empresas com realizações de carácter disposto no artigo 23.º do CIRC, são nas, bibliotecas e escolas, bem como
social. dedutíveis para efeitos fiscais, face à outras realizações de utilidade social
É de realçar que, para além das rea- norma especial do artigo 43.º do men- como tal reconhecidas pela Autori-
lizações de utilidade social taxativa- cionado código, mesmo que a deduti- dade Tributária e Aduaneira, feitas
mente enumeradas no n.° 1 do art.º bilidade se encontre, posteriormente, em benefício do pessoal ou dos re-
40.°, outros benefícios poderão ser sujeita a específicas condições adicio- formados da empresa e respetivos
concedidos ao pessoal da empresa e nais. familiares, desde que tenham caráter
seus familiares e considerados como Estas realizações assumem natureza geral e não revistam a natureza de
de utilidade social, desde que reco- social sobre a esfera patrimonial dos rendimentos do trabalho dependente
nhecidos pela DGCI. seus ex-trabalhadores, trabalhado- ou, revestindo-o, sejam de difícil ou
Para melhor compreensão do con- res e respetivos familiares, sem que complexa individualização relativa-
ceito “outras realizações de carácter a contrapartida económica decorra, mente a cada um dos beneficiários.
social”, uma vez que as enumeradas necessariamente, da prestação de Este normativo introduz uma válvula
exemplificativa e taxativamente não trabalho exercida pelos seus colabo- de escape, permitindo a introdução

46 CONTABILISTA 268
FISCALIDADE

de outras «realizações de utilidade


social», conquanto reconhecidas pela
Autoridade Tributária e Aduaneira, e,
desde que as condições de atribuição «(…) as despesas com o pessoal que relevam são aquelas que,
referidas no parágrafo anterior sejam em termos contabilísticos, devem ser escrituradas como
cumpridos. remunerações, ordenados ou salários, não se vislumbrando
Face ao disposto no n.º 2 e 3 do artigo na lei outro critério que permita considerar apenas as despesas
43.º do CIRC são igualmente conside- que sejam objeto de descontos para a Segurança Social.»
rados gastos do período de tributação,
os suportados com contratos de segu-
ros de acidentes pessoais, bem como siste em saber se o conceito de retribui- gado pelo STA, considerou o Tribunal
com contratos de seguros de vida, de ção constante do n.º 2 do artigo 43.º do Central Administrativo do Sul, atra-
doença ou saúde, contribuições para CIRC abrange todas as despesas como vés do acórdão datado de 2015.06.18,
fundos de pensões e equiparáveis ou tal registadas na contabilidade do con- referente ao Processo 07526/14 que
para quaisquer regimes complemen- tribuinte ou apenas as que são sujeitas a remunerações são aquelas que nos
tares de segurança social, que garan- tributação em sede de taxa social única. termos do contrato, das normas que o
tam, exclusivamente, o benefício de O regime define, em termos fiscais, a regem ou dos usos, o trabalhador tem
reforma, pré-reforma, complemento noção de remuneração, pelo que a AT, direito como contrapartida do seu
de reforma, benefícios de saúde pós- através da Informação Vinculativa, trabalho.
-emprego, invalidez ou sobrevivência Processo n.º 695/1996, com despacho Segundo o STA, a AT não se limitou
a favor dos trabalhadores da empresa, de 1996.06.21, do SEAF, veio clarificar a esclarecer aquele normativo legal.
bem como os contratos de seguros de a amplitude do conceito de despesas Logrou introduzir restrições ao con-
doença ou saúde em benefício dos tra- com pessoal, para efeitos do limite do teúdo de uma norma de dedutibilida-
balhadores, reformados ou respetivos n.º 2 do artigo 43.º (correspondente ao de dos custos, por forma a abranger
familiares, até ao limite de 15 por cento artigo 40.º antes da republicação do apenas as despesas sujeitas a descon-
(25 por cento se os trabalhadores não CIRC, pelo Decreto-Lei n.º 159/2009, tos para a Segurança Social, alargan-
tiverem direito a pensões da Segurança de 13/07): «Para efeitos do limite pre- do dessa forma a base de incidência de
Social) das despesas com o pessoal con- visto no n.º 2 do artigo 40.º do Código IRC, ao arrepio do princípio da lega-
tabilizadas a título de remunerações, do IRC, são consideradas despesas com lidade, o qual determina que todos os
ordenados ou salários respeitantes ao o pessoal todas as despesas que, tendo elementos necessários à caracteriza-
período de tributação. a natureza genérica de remunerações, ção e à aplicação dos impostos devem
Ora, nos termos da alínea e) do artigo sejam objeto de descontos obrigatórios ser criados por lei e ser por ela previs-
2.º-A do CIRS, não se consideram ren- para a Segurança Social ou para qual- tos.
dimentos de trabalho dependente, «as quer regime substitutivo.» Com efeito, no acórdão do STA de
importâncias suportadas pelas entida- Diferentemente, o Supremo Tribunal 22-02-2017 proferido no processo n.º
des patronais com seguros de saúde ou Administrativo (STA) – no seu acór- 01245/16 in fine adere à posição su-
doença em benefício dos seus trabalha- dão n.º 013/14 de 29/11/2017 - decidiu fragada pelo Pleno do STA entenden-
dores ou respetivos familiares desde que para a determinação do limite de do que em matéria de exclusão tribu-
que a atribuição dos mesmos tenha ca- 15 por cento das despesas com pessoal, tária mostra-se proibido o recurso ao
rácter geral», entendendo-se que terá até ao qual podem ser deduzidos os cus- princípio da substância económica
carácter geral se for atribuído a todos os tos com realizações de utilidade social dos factos, afirmando-se o seguinte:
trabalhadores em condições idênticas, efetuadas pelas empresas a favor do seu «Acresce dizer, como se sublinhou
não podendo a sua atribuição estar su- pessoal, relevam todas aquelas que, em no citado Acórdão 1243/16, que “o
jeita a outras condições adicionais im- termos contabilísticos, devam ser es- acórdão do Pleno deste STA invocado
postas pela entidade empregadora. crituradas como remunerações, orde- pela recorrente nas suas alegações de
nados ou salários, independentemente recurso trata de questão diversa da
A amplitude do conceito de estarem ou não sujeitas a descontos que é objeto dos presentes autos, sen-
de despesas com pessoal para a Segurança Social. do abusivo dele extrair consequên-
A principal questão controvertida con- E, na esteira do entendimento sufra- cias para o caso presente, pois que

JULHO 2022 47
FISCALIDADE

dele não cura” e que a “interpretação pal de que o contribuinte dispõe para sedimentado pelo STA, por Despacho
económica das normas fiscais”, para quantificar o resultado do exercício, n.º 227/2020 – XXII, do secretário de
quem a advogue, tem o seu campo sendo ponto de partida para a deter- Estado dos Assuntos Fiscais, prola-
de aplicação por excelência na inter- minação da matéria coletável – con- tado no âmbito da informação vin-
pretação das normas de incidência, forme, de resto, o determina o artigo culativa n.º 2020 000298, foi decidi-
que não nas de benefícios fiscais, as 17.º do CIRC. do rever a posição defendida pela AT
quais, por se traduzirem em exceções Sobre esta temática as decisões ar- no passado (Informação Vinculativa,
ao princípio da generalidade da tri- bitrais do CAAD têm alinhado o Processo n.º 695/1996, com despacho
butação, não devem ver o seu âmbito diapasão com aquele que é o en- de 1996.06.21 do SEAF) aderindo-se,
de aplicação alargado a casos que o tendimento da jurisprudência dos assim, àquele que é o entendimento
legislador não tenha expressamente tribunais superiores, infirmando a convergente da jurisprudência dos
contemplado.» ideia de que a interpretação da AT tribunais tributários e das decisões
Recorre-se à interpretação estrita constituía uma restrição ao conceito arbitrais do CAAD nesta matéria.
precisamente em virtude do risco que de «despesas com o pessoal escritu- Ultrapassada a controvérsia que con-
é fazer uso da interpretação extensiva radas a título de remunerações, or- tende com o apuramento do limite
perante a natureza antissistemática denados ou salários respeitantes ao estabelecido nos números 2 e 3 do
do benefício fiscal. exercício.» (Decisões proferidos nos artigo 43.º do CIRC para efeitos de
No mesmo sentido temos outro acór- processos 8/2001-T e 4/2012-T, do quantificação do gasto dedutível ao
dão do STA de 22/03/2018, proferido CAAD, disponíveis no sitio da Inter- abrigo deste regime, é pertinente ter
no processo 01169/17: «Para determi- net www.caad.org.pt e do TCAS, de em conta que esta dedutibilidade está
nação desse limite as despesas com o 2012.09.25-P.05073/11) sujeita ao preenchimento cumulativo
pessoal que relevam são aquelas que, Conclui-se, pois, que para a deter- dos pressupostos previstos no seu n.º
em termos contabilísticos, devam ser minação do limite referido, as des- 4 – e que, de algum modo, visa trazer
escrituradas como remunerações, or- pesas com o pessoal que relevam são objetividade à motivação que subjaz
denados ou salários, não se vislum- aquelas que, em termos contabilís- à decisão de incorrer neste tipo de
brando na lei outro critério que per- ticos, devem ser escrituradas como encargos por parte das empresas.
mita considerar apenas as despesas remunerações, ordenados ou salá-
que sejam objeto de descontos para a rios, não se vislumbrando na lei ou- *Docente na Universidade Lusófona de Huma-
Segurança Social.» tro critério que permita considerar nidades e Tecnologias de Lisboa
Trata-se, em suma, de um critério apenas as despesas que sejam objeto **Jurista
contabilístico, perfeitamente coeren- de descontos para a Segurança So-
te com o princípio de que a contabili- cial. Bibliografia disponível em («A Ordem – Publica-
dade constitui o instrumento princi- Perante o entendimento sufragado e ções – Revista Contabilista – Bibliografia»)

48 CONTABILISTA 268
TOCONLINE

Importação de mercadorias
no TOConline (II)
Este artigo apresenta-lhe, de forma simples e prática, e em complemento de um outro
trabalho aqui publicado, a melhor maneira de lançar faturas de importações no TOConline,
em que a fatura do fornecedor terceiro dos bens, a fatura do despachante, e o recibo do
pagamento do IVA, chegam em períodos de imposto diferentes para contabilização.

Pedro Lima* | Artigo recebido em junho de 2022

N a revista «Contabilista» n.º 248,


de novembro de 2020, publiquei
um artigo sobre o tema «Importação
rentes de contabilização das faturas
dos fornecedores. Iniciamos com o
exemplo 3 em que a empresa se en-
novo fornecedor. (ver imagem 1)
Segundo passo - Criar a conta 314
para Compras - Mercadorias em
de mercadorias no TOConline», onde contra no regime normal mensal do trânsito 3 :
demonstrei de uma forma simples e IVA. Contabilidade > Planos > Plano de
prática, como lançar as faturas de Exemplo 3 Contas SNC > Na conta 31 + Criar sub-
importações no módulo «Gestão Co- - Fatura do fornecedor «Turquia conta. (ver imagem 2)
mercial» do TOConline, efetuando Têxtil» de inventários (fornecedor Terceiro passo - Lançar a compra do
os movimentos automáticos na con- da Turquia – país terceiro): 10 mil fornecedor «Turquia Têxtil» em dois
tabilidade e preenchendo correta- euros; períodos distintos:
mente a declaração periódica do IVA. Data da fatura: jan/2022. Em janeiro/2022:
Nos exemplos utilizados, conside- - Fatura do fornecedor «Só Despa- Preenchemos os elementos da fatu-
rou-se que a fatura do fornecedor chos, Lda.» (despachante nacio- ra do fornecedor terceiro, nomea-
terceiro dos bens, a fatura do despa- nal): 2 599,50 € (IVA importação: damente o nome e data. Na linha 1
chante, e o recibo do pagamento do 2 415,00 € 2
+ Serviço despacho: preenchemos com «314 Compras –
IVA, chegavam no mesmo período de 150,00 € + IVA) outras mercadorias» o valor da fatu-
imposto para contabilização. Data da fatura: fev/2022. ra em euros (10 mil euros), indicando
Por forma a complementar o artigo Procedimentos: no IVA a taxa zero com justificação
anterior, irei demonstrar o lança- Primeiro passo - Criação do forne- M99. (ver imagem 3)
mento das faturas de importações cedor: tendo em conta que se trata No módulo contabilidade, teremos:
em que a fatura do fornecedor tercei- de um fornecedor de país terceiro, (ver imagem 4)
ro dos bens, a fatura do despachan- a sua fatura não consta do portal e- Em fevereiro/2022 4:
te, e o recibo do pagamento do IVA, -fatura. Como tal, teremos que criar Quarto passo - Criar a categoria de
chegam em períodos de imposto di- manualmente a ficha do fornecedor. despesa para o IVA suportado da im-
ferentes para contabilização. Na ficha do fornecedor, devemos ter portação 5 : Empresa > Itens > Catego-
Vou usar dois exemplos (exemplo 3 e em atenção marcar na questão «Su- rias de despesas > + Criar categoria de
exemplo 4 1), tendo estes por base as jeito passivo?», e colocar o país do despesa. (ver imagem 5 e 6)
premissas dos exemplos 1 e 2 respeti- fornecedor em «País/Região» (no Quinto passo - Lançar a fatura do
vamente do anterior artigo. Os atuais nosso exemplo: Turquia): Empresa > fornecedor «Só Despachos, Lda»: na
exemplos contam com datas dife- Entidades > Fornecedores > + Criar linha 1 preenchemos com «311 com

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TOCONLINE

Figura 1:
pras mercadorias» o valor do servi-
ço de despacho: 150 euros 6 . Na linha
2 com “2431001 IVA importação”, o
valor do IVA da importação: 2 415,00
euros. (ver imagem 7)
No módulo contabilidade, teremos:
(ver imagem 8)
Sexto passo - Criamos uma nova
fatura de compra preenchendo de
novo os elementos da fatura do
fornecedor terceiro. Como data do
documento, sugiro por exemplo a
data do recibo do pagamento do IVA
emitido pela tesouraria da DGAIEC.
Na linha 1 preenchemos com «311
- Compras mercadorias» o valor
aduaneiro em euros (10 500 euros 7),
indicando no IVA a taxa respetiva
(por exemplo, 23 por cento), na li-
nha 2, a negativo com “2431001 IVA
importação”, o valor do IVA dedutí-
vel (-2 415,00 €), na linha 3 preen-
chemos com 318 o valor da diferença
entre a fatura do fornecedor e o va-
lor aduaneiro 8 e por fim na linha 4
a negativo com «314 - Compras ou-
tras mercadorias» o valor original Fonte: elaboração própria

da fatura 10 000 euros.


Compras > Faturas > Faturas de com- Exemplo 4 períodos distintos:
pra > + Fatura de compra. (ver ima- Em janeiro/2022:
gem 9) - Fatura do fornecedor «China Shoes» Lançar a compra do fornecedor
No módulo contabilidade, teremos: de inventários (fornecedor da China «China Shoes»: preenchemos os ele-
(ver imagem 10) – país terceiro): 20 000 euros; mentos da fatura do fornecedor ter-
Movimentos contabilísticos das Data da fatura: janeiro/2022; ceiro, nomeadamente o nome e data.
operações de compra ao fornece- - Declaração aduaneira de importa- Preenchemos unicamente a linha 1
dor terceiro e ao fornecedor des- ção; com «314 - Compras outras merca-
pachante no formato de «T»: (ver Data da declaração: fevereiro/2022 dorias» o valor da fatura em euros
Figura 1) Valor aduaneiro: 21 000,00 euros10 (20 000 euros). Compras > Faturas >
Em termos da declaração periódica IVA: 4 830,00 euros Faturas de compra > + Fatura de com-
do IVA em janeiro/2022, nada temos Procedimentos: pra. (ver imagem 12)
que preencher. Em fevereiro/2022, Primeiro passo - Criação do forne- No módulo contabilidade, teremos:
teremos os campos devidamente cedor: tendo em conta que se trata de (ver imagem 13)
preenchidos (no nosso exemplo o um fornecedor de país terceiro, a sua Em fevereiro/2022:
campo 22). (ver imagem 11) fatura não consta do portal e-fatura. Terceiro passo - Criar a categoria
No próximo exemplo, demonstra- Como tal, teremos que criar manual- de despesa para «Diferenças valor
mos quando os sujeitos passivos mente a ficha do fornecedor (proce- aduaneiro»: Empresa > Itens > Cate-
optaram pelo regime de autoliqui- dimento idêntico ao exemplo 3). gorias de despesas > + Criar categoria
dação do imposto, nas importações Segundo passo - Lançar a compra do de despesa. (ver imagem 14 e 15)
de bens . 9 fornecedor «China Shoes» em dois Quarto passo - Criamos uma nova

50 CONTABILISTA 268
TOCONLINE

fatura de compra preenchendo de fim na linha 3 a negativo com «314 22 devidamente preenchidos. (ver
novo os elementos da fatura do - Compras outras mercadorias» o imagem 18)
fornecedor terceiro. Como data valor original da fatura 20 000 eu- Com o presente artigo pretendeu-se,
do documento, sugiro tal como no ros. Neste lançamento devemos ter de forma simples e prática, satisfazer
exemplo três, a data do recibo do em atenção, escolher o código «M08 os utilizadores no pedido reiterado
pagamento do IVA emitido pela te- – Artigo 2.º n.º 1 alínea i), j) ou l) do ao Apoio TOConline, de completar
souraria da DGAIEC. Na linha 1 CIVA (IVA – autoliquidação)».13 o artigo anterior com mais exemplos
preenchemos com «311 - Compras Compras > Faturas > Faturas de ilustrativos, alargando assim a base
mercadorias» o valor aduaneiro em compra > + Fatura de compra. (ver de consulta e sua aplicação a outras
euros (21 000 euros 11), indicando no imagem 16) especificidades da vida prática do
IVA a taxa zero por cento, na linha No módulo contabilidade, teremos: contabilista certificado.
2 preenchemos com 318001 o valor (ver imagem 17)
da diferença entre a fatura do for- Em termos da declaração periódica *Contabilista certificado
necedor e o valor aduaneiro 12 e por do IVA teremos os campos 18, 19 e Formador, Consultor

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Notas exista) da conta 314 para a conta 325. prática.


1
Optou-se pela continuidade da nume- 4
Mês em que obtivemos o recibo do pa- 8
No nosso exemplo temos uma diferen-
ração dos exemplos para melhor facili- gamento do IVA emitido pela tesouraria ça negativa de 500 euros.
tar a consulta dos colegas aquando da da DGAIEC. 9
Artigo 27.º, n.º 8 do CIVA.
leitura dos artigos. 5
A conta «IVA suportado» servirá como 10
Considerei um valor aduaneiro dife-
2
Considerei um valor aduaneiro dife- conta de passagem para nos ajudar na rente da fatura propositadamente para
rente do valor da fatura propositada- simplificação dos procedimentos. No tornar o exemplo mais próximo da vida
mente para tornar o exemplo mais pró- nosso exemplo consideramos IVA a 23 prática.
ximo da vida prática: 2 415,00 € (IVA por cento. 11
Considerei um valor aduaneiro dife-
importação) = 10 500,00 € (valor adua- 6
Os custos de compra de inventários rente da fatura propositadamente para
neiro) x 23% (IVA). incluem o preço de compra, direitos tornar o exemplo mais próximo da vida
3
O TOConline não disponibiliza a cate- de importação e outros impostos (não prática.
goria de despesa 325 para a correta con- recuperáveis) e custos de transporte, 12
No nosso exemplo temos uma diferen-
tabilização de mercadorias em trânsito. manuseamento e outros custos direta- ça negativa de 1 000 euros.
Para usufruir dos automatismos dispo- mente atribuíveis à aquisição de bens, 13
Efetivamente o artigo do IVA que nos
níveis do software nesta operação sugi- de materiais e serviços (parágrafo 11 da permite a autoliquidação na importação
ro a criação da conta 314, para podermos NCRF 18 – Inventários e capítulo 11.5 da é o artigo 27.º do CIVA e não o artigo 2.º.
usar a categoria de despesa 314. Os co- NC-ME – Inventários). Não tendo o TOConline disponível esse
legas devem ter em atenção no final do 7
Considerei um valor aduaneiro dife- código ainda, podemos utilizar o códi-
período económico, aquando do encer- rente da fatura propositadamente para go proposto, que o programa irá fazer o
ramento de contas, passar o saldo (caso tornar o exemplo mais próximo da vida tratamento automático devido.

JULHO 2022 59
CONSULTÓRIO

IVA - Isenções
Determinada empresa tem como ob-
jeto social o «comércio por grosso
e a retalho de rações para animais;
máquinas e equipamentos agrícolas;
adubos e produtos químicos para
agricultura; animais de companhia;
sementes; frutas e produtos hortíco-
las; mercearia e gás de garrafa.» Tem
CAE 47191 (principal) e CAE 47890,
47784, 47762 (secundárias).
A Lei n.º 10-A/2022, de 28 de abril,
passou a consagrar uma isenção
aplicável a determinados bens para
a produção agrícola, aos quais se
aplicava a taxa de seis por cento de
IVA, com base na verba 3.1 e verba
3.3 da Lista I - Bens e serviços à taxa
reduzida;
A empresa tem clientes consumido- ção agrícola, estes clientes devem missão dos referidos bens.
res finais e outros que têm atividade apresentar algum comprovativo Em conformidade com o disposto no
aberta. desta atividade aberta? Se sim, qual artigo 1.º do Código do IVA, estão su-
Não obstante os esclarecimentos do comprovativo? jeitas a imposto sobre o valor acres-
Ofício-Circulado n.º 30246, subsistem centado as transmissões de bens e as
dúvidas. prestações de serviços efetuadas no
Os fornecedores da empresa enten- A questão colocada refere-se à aplica- território nacional, a título oneroso,
dem que as suas vendas, feitas depois ção da isenção temporária prevista no por um sujeito passivo agindo como
de 29 de abril de 2022, continuem a artigo 4.º da Lei n.º 10-A/2022, de 28 tal; as importações de bens; e as ope-
aplicar a taxa de IVA de seis por cen- de abril, relativamente às transmissões rações intracomunitárias efetuadas no
to e não a isenção de IVA. Está corre- dos seguintes bens, quando normal- território nacional, tal como são defini-
to este procedimento do fornecedor? mente utilizados no âmbito das ativi- das e reguladas no Regime do IVA nas
Caso a fatura do fornecedor esteja dades de produção agrícola: Transações Intracomunitárias.
incorreta (em que deveria ter aplica- - Adubos, fertilizantes e corretivos de Por outro lado, determina o artigo 18.º
do a isenção), deve emitir nota de cré- solos; e do referido Código que as transmis-
dito do IVA indevidamente liquidado - Farinhas, cereais e sementes, incluin- sões de bens e as prestações de servi-
a seis por cento? do misturas, resíduos e desperdícios ços serão tributadas à taxa de seis por
A empresa a partir de 29 de abril de das indústrias alimentares, e quaisquer cento caso constem da lista I anexa ao
2022 deve aplicar esta isenção nas outros produtos próprios para alimen- Código, à taxa de 13 por cento caso
suas vendas a consumidores finais tação de gado, aves e outros animais, constem da lista II anexa ao Código, ou
que adquirem estes bens ou só deve referenciados no Codex Alimentarius, à taxa de 23 por cento caso não es-
aplicar a isenção para clientes que te- independentemente da raça e funcio- tejam especificamente nomeadas em
nham atividade aberta de produção nalidade em vida, incluindo os peixes nenhuma das referidas listas anexas.
agrícola? de viveiro, destinados à alimentação Não estando os bens em questão pre-
Caso na resposta anterior só se deva humana. vistos em qualquer verba da Lista I ou
aplicar a isenção para clientes que Antes de respondermos concretamente da Lista II, serão tributados à taxa nor-
tenham atividade aberta de produ- às questões colocadas iremos dar um mal de imposto atualmente fixada em
enquadramento geral sobre a trans- 23 por cento.

60 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

Existem diversos tipos de produtos aplicação em jardins e plantas orna- Posto isto, e respondendo concreta-
químicos utilizados no âmbito das ati- mentais, sem prejuízo, porém, de po- mente às questões colocadas, referi-
vidades agrícolas que constam da lista derem também ser aplicados na agri- mos o seguinte:
I anexa ao CIVA, como sendo nomea- cultura em geral.» Os fornecedores da empresa enten-
damente os constantes da verba 3. Sobre esta matéria aconselhamos dem que as suas vendas, feitas depois
Os bens constantes das verbas 3.1 a a leitura da informação vinculati- de 29 de abril de 2022, continuem a
3.10 da Lista I anexa ao Código do va, processo n.º 6 943, Despacho de aplicar a taxa de IVA de seis por cento
IVA, nomeadamente os adubos, ferti- 2014-05-14. e não a isenção de IVA. Está correto
lizantes e corretivos de solos, produ- O artigo 4.º da Lei n.º 10-A/2022, de este procedimento do fornecedor?
tos fitofarmacêuticos, são tributados 28 de abril, prevê a partir de 29 de Nesta situação, os fornecedores da
à taxa reduzida (seis por cento no abril uma isenção temporária até 31 empresa, ao venderem bens previstos
Continente e quatro por cento nas Re- de dezembro de 2022 aos produtos nas verbas 3.1 e 3.3 da Lista I anexa
giões Autónomas), independentemen- elencados nas verbas 3.1 e 3.3 da lista ao CIVA, deverão aplicar a isenção
te do seu destino, já que a verba 3 da I anexa ao CIVA. temporária prevista no artigo 4.º da
referida lista não põe qualquer condi- Sobre a isenção prevista no artigo 4.º Lei n.º 10-A/2022 até final do ano de
ção para a aplicação da taxa reduzida da Lei n.º 10-A/2022, de 28 de abril, a 2022.
àqueles produtos. Autoridade Tributária divulgou o Ofí- Caso a fatura do fornecedor esteja in-
Em relação aos adubos, a verba 3.1 cio-Circulado n.º 30246, de 29 de abril correta (em que deveria ter aplicado a
da Lista I anexa ao CIVA, inserida no de 2022. isenção), deve emitir nota de crédito
grupo subordinado ao tema «Bens de De acordo com o ponto 1 do OFCD do IVA indevidamente liquidado a seis
produção da agricultura», abrange os n.º 30 246, de 29 de abril de 2022, é por cento?
«adubos, fertilizantes e corretivos de referido: De facto, o fornecedor deverá aplicar
solos.» «1- Âmbito da isenção a isenção. Não tendo sido aplicada a
A verba 3.3 da Lista I anexa ao CIVA, De acordo com o disposto no n.º 1 do referida isenção, em bom rigor deve-
abrange «Farinhas, cereais e semen- artigo 4.º da Lei n.º 10-A/2022, de 28 rá corrigir a fatura inicial através de
tes, incluindo misturas, resíduos e des- de abril, estão isentas do imposto as emissão de nota de crédito.
perdícios das indústrias alimentares e transmissões de: A empresa a partir de 29 de abril de
quaisquer outros produtos próprios i) Adubos, fertilizantes e corretivos de 2022 deve aplicar esta isenção nas
para alimentação de gado, de aves e solos; suas vendas a consumidores finais
outros animais, referenciados no Co- ii) Farinhas, cereais e sementes, in- que adquirem estes bens ou só deve
dex Alimentarius, independentemente cluindo misturas, resíduos e desper- aplicar a isenção para clientes que
da raça e funcionalidade em vida, in- dícios das indústrias alimentares, e tenham atividade aberta de produção
cluindo os peixes de viveiro, destina- quaisquer outros produtos próprios agrícola?
dos à alimentação humana.» para alimentação de gado, aves e ou- Como já foi referido neste parecer, a
As orientações administrativas vei- tros animais, referenciados no Codex venda dos produtos previstos na ver-
culadas pelo Ofício-Circulado n.º 100 Alimentarius, independentemente da ba 3.1 e 3.3 é aplicável a isenção in-
216, de 11 de julho de 1990, do SAI- raça e funcionalidade em vida, incluin- dependentemente de o adquirente ser
VA, DSCA, cuja leitura se aconselha, do os peixes de viveiro, destinados à particular ou sujeito passivo.
esclarecem o âmbito daquela verba, alimentação humana, quando normal- Caso na resposta anterior só se deva
importando para o caso o que é re- mente utilizados no âmbito das ativi- aplicar a isenção para clientes que
ferido no ponto 4 que se transcreve: dades de produção agrícola. tenham atividade aberta de produ-
«Assim, devem considerar-se tributá- 2. A lei vem, assim, estabelecer uma ção agrícola, estes clientes devem
veis à taxa normal as transmissões de isenção temporária, com direito a de- apresentar algum comprovativo desta
adubos e fertilizantes líquidos ou só- dução a montante, aplicável, nas mes- atividade aberta? Se sim, qual com-
lidos, acondicionados em embalagens mas condições, aos bens abrangidos provativo?
inferiores a 1l ou 1kg, porquanto, se pelas verbas 3.1 e 3.3 da lista I anexa Não aplicável.
deve entender que, nesses casos, se ao Código do IVA.
trata de adubos ou fertilizantes para (...).» Resposta de maio de 2022

JULHO 2022 61
CONSULTÓRIO

IVA - Regras passivos do imposto, a regra geral de Regulamento de Execução (UE) n.º
de localização localização atende ao lugar em que 282/2011 do Conselho, de 15 de mar-
estes disponham da respetiva sede, de ço de 2011, para a aplicação da Direti-
Determinado sujeito passivo, com um estabelecimento estável ou do do- va 2006/112/CE, consideram-se “bens
residência em Portugal, iniciou a ati- micílio fiscal (alínea a)). imóveis”:
vidade como prestador de serviços Quando o destinatário dos serviços a) Qualquer parcela delimitada do
(CIRS - 1519). O trabalho consiste em não seja um sujeito passivo de IVA, a solo, situada à sua superfície ou sob a
fazer inspeções às eólicas recorrendo operação é tributada no lugar da sede, sua superfície, que possa ser objeto de
a drones. O trabalho vai ser realizado estabelecimento estável ou domicílio um direito real;
em Portugal, Espanha, Itália e Alema- do prestador dos serviços (alínea b)). b) Qualquer edifício ou construção
nha, mas a empresa para quem vai É preciso sempre, no entanto, ave- fixado ao solo ou no solo, acima ou
trabalhar e faturar tem sede na Co- riguar se a situação exposta não se abaixo do nível do mar, que não possa
reia do Sul. Em termos de IVA, aplica- encontra prevista nas exceções (nú- ser facilmente desmantelado ou deslo-
-se a regra da localização do trabalho meros 7 e 8 para sujeitos passivos e cado;
(UE), ou seja, aplica-se a regra do IVA não sujeitos passivos; números 9, 10 e c) Qualquer elemento que tenha sido
- regime intracomunitário, ou apli- 11 apenas para não sujeitos passivos; instalado e faça parte integrante de
ca-se a regra da sede da empresa a e os números seguintes são para situa- um edifício ou de uma construção, sem
quem vai faturar (Coreia do Sul), que ções residuais). o qual estes não estão completos, tais
está sujeita a IVA normal? Analisando estas exceções, verifica- como portas, janelas, telhados, esca-
mos que as prestações de serviços re- das e elevadores;
lacionadas com imóveis possuem uma d) Qualquer elemento, equipamento
As questões colocadas referem-se ao regra específica (alínea a) dos núme- ou máquina permanentemente insta-
enquadramento, em sede de IVA, de ros 7 e 8), da qual resulta que estes lado num edifício ou numa construção
prestações de serviços relacionadas serviços localizar-se-ão no local onde que não possa ser deslocado sem des-
com inspeções. esteja sito o imóvel. truir ou alterar o edifício ou a cons-
No caso concreto, estamos peran- Salientamos, neste âmbito, a exis- trução.»
te um sujeito passivo cuja atividade tência do Ofício-Circulado n.º 30 Face ao disposto na alínea d), parece-
«consiste em fazer inspeções às eóli- 191/2017, de 8 de junho, cujo título é: -nos que uma turbina eólica poder-se-
cas através de drones.» «IVA - Lugar das prestações de servi- -á enquadrar, de facto, em princípio,
Embora não resulte claro da questão, ços relacionadas com bens imóveis», como um «bem imóvel» para efeitos
partimos do pressuposto de que ao cuja leitura recomendamos e que po- de IVA, nomeadamente no tocante à
dizer-se «eólicas» estará a referir-se derá encontrar no seguinte link: aplicação da regra de localização es-
a turbinas eólicas. Ou seja, o sujeito http://info.portaldasfinancas.gov.pt/ pecífica constante da alínea a) dos nú-
passivo irá utilizar o drone para ve- pt/informacao_fiscal/legislacao/ins- meros 7 e 8 do artigo 6.º do CIVA.
rificar o estado das hélices destas trucoes_administrativas/Documents/ Este entendimento é corroborado pe-
mesmas turbinas, dada a altura a que Oficio_circulado_30191_2017.pdf los pontos 64 e 65 das notas explica-
estas se encontram. Este Ofício-Circulado procedeu ao es- tivas emitidas pela Comissão Europeia
Uma vez que o sujeito passivo irá clarecimento das alterações introduzi- sobre esta matéria, que referem o se-
prestar um serviço neste âmbito a ou- das no Regulamento de Execução (UE) guinte:
tro sujeito passivo sediado na Coreia n.º 282/2011 do Conselho, de 15 de «2.2.2.1. What is meant by buildings
do Sul, pretende saber-se o enquadra- março de 2011, em particular, como o and constructions under Article 13b(b)?
mento em sede de IVA desta operação. nome indica, questões suscitadas rela- 64. A building can be defined as a (man-
Em sede de IVA, estão previstas duas tivamente ao lugar das prestações de -made) structure with a roof and walls
regras gerais de localização das pres- serviços relacionadas com bens imó- such as a house or factory.
tações de serviços que constam no nú- veis. 65. The term ‘construction’ has a broa-
mero 6 do artigo 6.º do Código do IVA. Ora, esclarece o ponto 1 deste Ofício- der meaning and encompasses other
Nas prestações de serviços que te- -Circulado que: (manmade) structures that do not typi-
nham como destinatários sujeitos «De acordo com o artigo 13.º-B do cally qualify as a building (for additional

62 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

explanations on items, equipment and Este Ofício-Circulado, no mesmo pon- ração localizada e, desse modo, tri-
machines that can qualify as immovable to 2, possui exemplos de operações butada em território nacional, nos
property, see from point 2.2.3 to 2.2.4 que se consideram relacionadas com termos da alínea a) do número 8 do
below). Constructions may include civil bens imóveis. Devido à descrição for- artigo 6.º do CIVA, devendo o sujeito
engineering work, such as roads, brid- necida («inspeções às eólicas»), os passivo, deste modo, liquidar IVA nos
ges, airfields, harbours, dikes, gas pipeli- serviços em causa poderão ser incluí- termos gerais;
nes, water and sewerage systems as well dos em, pelo menos, duas alíneas, de- - Por outro lado, caso o trabalho seja
as industrial installations such as power pendendo dos serviços efetivamente prestado noutro país (ou países), tal
generating plants, wind turbines, refine- prestados: operação considerar-se-á como não
ries, etc.» «(...) localizada em Portugal, não sendo,
Poderá encontrar estas notas explica- f) O estudo e avaliação do risco e da deste modo, sujeita a qualquer IVA
tivas através do seguinte link: integridade dos bens imóveis; português. Neste cenário, a fatura a
https://ec.europa.eu/taxation_cus- (...) emitir pelo sujeito passivo nacional
toms/system/files/2016-09/explana- n) A manutenção e reparação, ins- deverá conter a menção: «IVA - Não
tory_notes_new_en.pdf peção e fiscalização de máquinas ou sujeito, alínea a) do número 7 do ar-
Ora, tendo já presente que uma tur- equipamentos no caso de estes pode- tigo 6.º do CIVA» (ou similar). Estas
bina eólica deverá, para efeitos de rem ser considerados bens imóveis.» operações deverão ser incluídas no
IVA, ser considerada como um bem Partindo do pressuposto de que o campo 8 do quadro 06 da declaração
imóvel, será preciso avaliar se os serviço de «inspeção» em causa cum- periódica. Eventuais obrigações fiscais
serviços prestados têm, ou não, uma pre, de facto, as condições para ser nesses países deverão ser averiguadas
relação suficientemente direta com considerado como tendo relação di- junto das respetivas autoridades fis-
este imóvel para ficar abrangidos reta com o bem imóvel (o que nos pa- cais;
pela regra de localização específica rece ser o caso), esta operação, nos - Poder-se-á, ainda, dar o caso de o
acima referida. termos da alínea a) dos números 7 e serviço ser repartido por vários paí-
De acordo com o ponto 2 do já referi- 8 do artigo 6.º do CIVA, localizar-se- ses/jurisdições. Neste caso, somos de
do Ofício-Circulado n.º 30 191/2017, -á no local onde as turbinas eólicas opinião de que deverá o sujeito pas-
uma das situações em que esta condi- se encontrem. sivo arranjar uma base de repartição
ção é cumprida é quando: Uma vez que se refere que os tra- (por exemplo, número de turbinas ins-
- Os mesmos derivam de um bem imó- balhos poderão ser feitos em vários pecionadas num país/número total de
vel; e países («Portugal, Espanha, Itália e turbinas inspecionadas) e aplicar, com
- Esse bem é um elemento constituti- Alemanha»), tenha-se em conta o se- as devidas adaptações, o disposto nos
vo do serviço e constitui um elemento guinte: pontos anteriores.
central e essencial para a prestação - Caso o trabalho seja prestado em
dos serviços. Portugal, considerar-se-á tal ope- Resposta de maio de 2022

JULHO 2022 63
CONSULTÓRIO

IRC - Isenções efetuando-se a tributação pelo lucro con- des alheias aos próprios fins da coopera-
na tributação de lucros tabilístico (de resultados e capital próprio), tiva. Assim, a isenção de IRC abrangerá
corrigido pelas disposições do código des- as atividades efetuadas pela cooperativa
Uma cooperativa tenciona adquirir te imposto, conforme previsto na alínea a) no âmbito do seu objeto principal, a de-
uma participação de 40 por cento do n.º 1 do artigo 3.º e n.º 1 do artigo 17.º finir estatutariamente e de acordo com o
numa empresa. Essa empresa dis- ambos do Código do referido imposto. Código Cooperativo, realizadas com coo-
tribui resultados, anualmente, pelos Em termos de benefícios fiscais, as coo- perantes, ficando, pois, excluídas da isen-
seus sócios. Pode uma cooperativa perativas podem aplicar as isenções pre- ção operações realizadas com os clientes
beneficiar do regime previsto no arti- vistas no artigo 66.º-A do Estatuto dos que não sejam cooperantes ou operações
go 51.º do CIRC (eliminação da dupla Benefícios Fiscais (EBF), desde que cum- alheias aos próprios fins da cooperativa,
tributação económica de lucros e re- pridos os requisitos exigidos. Assim, em aquelas que não estão relacionadas com
servas distribuídos)? termos do n.º 1 do artigo 66.º-A do EBF, o seu objeto.
estão isentas de IRC as cooperativas agrí- A referida isenção de IRC não abrange ain-
colas, culturais, de consumo, de habitação da os rendimentos sujeitos a IRC por reten-
O pedido de parecer está relacionado e construção e solidariedade social. ção na fonte, a qual tem caráter definitivo
com a tributação da distribuição de lu- Estão ainda isentas de IRC as cooperati- no caso de a cooperativa não ter outros
cros quando o detentor do capital é uma vas dos demais ramos do setor cooperati- rendimentos sujeitos a imposto, aplicando-
cooperativa. vo desde que, cumulativamente: -se as taxas que lhe correspondam, confor-
No caso em apreço, é questionado se na - 75 por cento das pessoas que nelas aufi- me o n.º 5 do artigo 66.º-A do EBF.
distribuição de lucros a uma cooperativa ram rendimentos do trabalho sejam mem- O n.º 6 estabelece ainda que são isentos
se pode aplicar a dispensa de tributação bros da cooperativa; de IRC:
prevista no artigo 51.º do CIRC. - 75 por cento dos membros da cooperati- «(...) a) Os apoios e subsídios financeiros
Para efeitos de IRC, as cooperativas serão va nela prestem serviço efetivo. ou de qualquer outra natureza atribuídos
consideradas como entidades que exer- Todavia, essa isenção de IRC não pode pelo Estado, nos termos da lei às coope-
cem, a título principal, uma atividade de ser aplicada aos resultados provenientes rativas de primeiro grau, de grau superior
natureza comercial, industrial ou agrícola, de operações com terceiros e de ativida- ou às régies cooperativas como compen-

64 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

sação pelo exercício de funções de in- Sobre a questão colocada, a Auto- que os réditos estiverem a influen-
teresse e utilidade públicas delegados ridade Tributária e Aduaneira, já se ciar a base tributável. E, uma vez que
pelo Estado; pronunciou por intermédio da In- os lucros que a cooperativa venha a
b) Os rendimentos resultantes das formação Vinculativa Processo n.º receber das suas participadas caem
quotas pagas pelas cooperativas as- 1871/2017, despacho de 2017-08-22, fora da isenção estabelecida no ar-
sociadas e cooperativas de grau su- da qual transcrevemos o seguinte: tigo 66.º-A do EBF, estão os mesmos
perior (...).» «O regime previsto no artigo 51.º do sujeitos a IRC.
O n.º 14 vem estabelecer que as isen- CIRC é aplicável desde que os lucros Assim, no período em que esses lucros
ções e demais benefícios previstos distribuídos sejam incluídos na base venham a influenciar a base tributável
no artigo 66.º-A do EBF aplicam-se tributável e esses devem ser incluídos da cooperativa, é possível a aplicação
às cooperativas de primeiro grau, de no período em que se verifica o direito do regime previsto no artigo 51.º do
grau superior e às régies cooperati- aos mesmos. CIRC, não concorrendo esses lucros
vas, desde que constituídas, regista- Para além disso, considera-se que, para a determinação do lucro tributá-
das e funcionando nos termos do Có- quando aos lucros e reservas dis- vel, desde que se verifiquem os requi-
digo Cooperativo e demais legislação tribuídos seja aplicável o regime do sitos aí expressamente referidos.
aplicável. artigo 51.º, há dispensa de retenção Por outro lado, esses lucros, aos quais
A cooperativa tem a possibilidade na fonte, de acordo com o previsto seja aplicável o regime do artigo 51.º
de optar pela renúncia à isenção de na alínea c) do n.º 1 do artigo 97.º, do CIRC, poderão ficar dispensados
IRC, com efeitos a partir do período ambos do CIRC, desde que a partici- de retenção na fonte, desde que a
de tributação seguinte àquele a que pação no capital tenha permanecido participação no capital tenha perma-
respeita a declaração periódica de na titularidade da mesma entidade, necido na titularidade da entidade,
rendimentos em que manifestarem de modo ininterrupto, durante o ano de modo ininterrupto, durante o ano
essa intenção, aplicando-se então o anterior à data da sua colocação à anterior à data da sua colocação à
regime geral de tributação em IRC disposição. disposição.»
durante, pelo menos, cinco períodos Deste modo, o mecanismo do artigo
de tributação. 51.º do CIRC opera no período em Resposta de maio de 2022

JULHO 2022 65
CONSULTÓRIO

Reservas legais e livres possa ser coberto pela utilização de IRS - Rendimentos
outras reservas; de categoria A
Como e quando se podem utilizar as - Para cobrir a parte dos prejuízos
reservas legais? transitados do exercício anterior que Uma trabalhadora de um centro de
não possa ser coberto pelo lucro do dia de apoio a idosos, com a cate-
exercício nem pela utilização de ou- goria profissional de cozinheira, re-
Pretende-se um parecer sobre a utili- tras reservas; cebe 25 euros mensais de subsídio
zação das reservas legais. - Para incorporação no capital. de transporte. Sendo atribuído por
Determina o artigo 218.º do Código Assim sendo, sempre que uma empre- deslocação em automóvel próprio
das Sociedades Comerciais (CSC) que, sa tiver lucros tem de aplicar cinco por de casa para o trabalho e vice-versa,
sempre que uma sociedade tenha re- cento dos lucros na reserva legal até não havendo registo de quilómetros,
sultados positivos (lucros) deve afetar perfazer 20 por cento do capital so- nem o respetivo mapa de desloca-
cinco por cento desses lucros a reser- cial. No caso em que 20 por cento do ções, porque a trabalhadora não faz
vas legais até que perfaça 20 por cen- capital social, é inferior a 2 500 euros deslocações ao serviço da empresa,
to do capital social da empresa. esta empresa tem de ter de reservas este subsídio é tributado em sede de
O artigo 218.º do CSC estabelece que legais 2 500 euros, ou seja, só quando IRS e Segurança Social?
é obrigatória a constituição de uma tiver 2 500 euros de reservas legais é
reserva legal e, no seu número 2, que é que deixa de estar obrigada a aplicar
aplicável o disposto nos artigos 295.º cinco por cento dos lucros em reservas Na questão colocada pretende-se saber
e 296.º, salvo quanto ao limite mínimo legais a tributação em sede de IRS e Segurança
de reserva legal, que nunca será infe- Tratando-se de cobertura de prejuí- Social da atribuição de um subsídio de
rior a 2 500 euros. zos com reservas legais, o movimento transporte a uma trabalhadora de um
Por outro lado, a reserva legal só pode contabilístico a efetuar será 551 - Re- centro de dia de apoio a idosos.
ser utilizada, nos termos do artigo servas legais a 56 - Resultados tran- Começamos por referir que de acordo
296.º do CSC: sitados. com a alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º
- Para cobrir a parte do prejuízo acu- do CIRS, consideram-se rendimentos do
sado no balanço do exercício que não Resposta de maio de 2022 trabalho dependente todas as remune-
rações pagas ou postas à disposição do
seu titular, provenientes de trabalho por
conta de outrem prestado ao abrigo de
contrato individual de trabalho ou de
outro a ele legalmente equiparado. As-
sim sendo, estão sujeitas a retenção na
fonte no momento do seu pagamento ou
colocação à disposição dos respetivos
titulares de acordo com o estipulado no
n.º 1 do artigo 99.º do CIRS.
Os subsídios de transporte que se des-
tinem a compensar o trabalhador dos
dispêndios suportados nas deslocações
de casa para o trabalho e vice-versa,
constituem um benefício ou regalia, não
compreendido na remuneração prin-
cipal, auferido devido a prestação de
trabalho e constituem para o respetivo
beneficiário uma vantagem económica,
sendo por isso, na sua totalidade, con-
siderados rendimentos do trabalho de-

66 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

pendente (artigo 2.º, n.º 2). lizar a atribuição dos passes sociais. nos parece ser o caso em análise,
Chamamos a atenção que não é in- Naturalmente, nestes casos a AT estamos perante rendimentos da
diferente se a atribuição referida é aceita o reconhecimento do custo por categoria A pelo que deverá, para o
efetuada em espécie (ou seja, a em- parte da empresa, apesar da atribui- efeito, e conforme resulta do dispos-
presa paga mediante comprovativo ção da regalia não ter sido atribuída to no n.º 2 do artigo 99.º-C do CIRS,
de despesa o valor do passe, desde a todos os trabalhadores. no cômputo da remuneração men-
que nos documentos dessa aquisição Assim, a análise da verificação do sal bruta, considerar-se o montante
conste a identificação da empresa), «caráter geral» tem de ser analisa- pago a título de remuneração atribuí-
ou atribuída em dinheiro, por conse- da caso a caso e compete à empresa da em numerário acrescida de quais-
guinte acrescida à remuneração de demonstrar o motivo da regalia não quer outras importâncias que tenham
cada trabalhador. cumprir aquele requisito. Note-se a natureza de rendimentos do traba-
que o valor do passe social não tem lho dependente pagas ou colocadas
Subsídio transporte em espécie que ser necessariamente igual. à disposição pela respetiva entidade
Com o OE/2009 (Lei n.º 64-A/2008, Em resumo, cumprindo as condições patronal no mesmo período.
de 31 de dezembro) foi aditada a alí- do artigo 43.º do CIRC, os custos su- Na DMR, tais rendimentos devem
nea d) ao n.º 8 do artigo 2.º do Có- portados com a atribuição de subsí- constar com o código «A - Rendimen-
digo do IRS prevendo a não tributa- dio de transporte são aceites como tos sujeitos a IRS, nos termos do ar-
ção do pagamento de passes sociais gasto fiscal na esfera da empresa tigo 2.º do Código do IRS», ou seja,
aos trabalhadores como rendimento não terão que ser considerados ren- devem acrescer a remuneração men-
em espécie, e nos documentos dessa dimento da categoria A, na esfera do sal do trabalhador.
aquisição conste o nome da empresa. beneficiário. Em termos de Segurança Social deve-
Atualmente este benefício encontra- A partir de 2015, todos os rendimen- rá atender-se ao disposto no artigo
-se previsto na alínea d) do n.º 1 do tos em espécie estão dispensados de 46.º, n.º 2, alínea t) do Código Contri-
artigo 2.º-A do CIRS - Delimitação retenção na fonte conforme altera- butivo, que refere o seguinte:
negativa dos rendimentos de catego- ção dada à redação do artigo 99.º, «2 - Integram a base de incidência
ria A. n.º 1, alínea a) do CIRS, pela Lei n.º contributiva, designadamente, as se-
Por seu turno, a mesma lei aditou o 82-E/2014, de 31 de dezembro - Re- guintes prestações: (...)
n.º 15 ao artigo 43.º do Código do forma IRS. t) As despesas de transporte, pecu-
IRC, no sentido de serem aceites os Verificando-se este cenário, o valor niárias ou não, suportadas pela en-
custos suportados com a aquisição deste «benefício» será relevado na tidade empregadora para custear as
de passes sociais em benefício do DMR com o Código «A23 - Outros deslocações em benefício dos traba-
pessoal da empresa, desde que veri- rendimentos não sujeitos - Rendi- lhadores, na medida em que estas
ficados os requisitos enumerados no mentos do trabalho dependente não não se traduzam na utilização de
n.º 1 deste artigo, designadamente sujeitos a tributação nos termos das meio de transporte disponibilizado
«desde que tenham caráter geral.» disposições contidas na alínea b) pela entidade empregadora ou em
Existe um entendimento por par- do n.º 3 do artigo 2.º do Código do que excedam o valor de passe social
te da Autoridade Tributária sobre a IRS», caso o subsídio de transporte ou, na inexistência deste, o que re-
expressão «caráter geral», devendo for pago em espécie mas não cumpre sultaria da utilização de transportes
ser a própria empresa a demonstrar com o «caráter geral», então deveria coletivos, desde que quer a disponi-
e comprovar o não cumprimento, em ser declarados da DMR com o códi- bilização daquele quer a atribuição
certos casos, deste requisito. A título go «A - Rendimentos sujeitos a IRS, destas tenha carácter geral.»
exemplificativo, refira-se o caso de nos termos do artigo 2.º do Código Neste sentido, referimos que se for
trabalhadores que prescindem da re- do IRS», mas não ser aplicada a re- atribuído em dinheiro, o valor con-
galia de lhes ser pago o passe social. tenção. cedido pela entidade, desde que não
Nestas situações, estes trabalhado- exceda o valor do passe social, não
res deverão fazer uma comunicação Subsídio de transporte em dinheiro será tributado em Segurança Social.
por escrito à empresa, de modo que Tratando-se de um subsídio de trans-
esta consiga provar que quis genera- porte atribuído em dinheiro, como Resposta de junho de 2022

JULHO 2022 67
CONSULTÓRIO

IRC - Donativos

Determinada sociedade por quotas,


com sede em Portugal, envia um
donativo por transferência bancária
de, por exemplo, mil euros para uma
fundação humanitária no EUA. Esta
fundação é auditada e tem controlo
rigoroso das contas. Este donativo
pode ser considerado como custo
para efeitos fiscais?

As questões colocadas referem-se ao relativos ao mecenato, que se en- dos Unidos da América, pelo que, na
enquadramento fiscal de um donativo contram previstos nos artigos 61.º a nossa opinião, tais interpretações não
efetuado a uma associação não resi- 66.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais poderão ser aplicadas nesta operação.
dente. (EBF). Sem prejuízo do referido anterior-
No caso concreto, uma sociedade por Deste modo, caso estejamos perante mente e de modo a respondermos à
quotas, com sede em Portugal, irá efe- um sujeito passivo beneficiário que se questão concreta, socorrer-nos-emos
tuar um donativo, em dinheiro, a uma enquadre nos artigos 62.º, 62.º-A (me- do penúltimo parágrafo da informa-
fundação humanitária, com sede nos cenato científico) ou 62.º-B (mecenato ção vinculativa referente ao Processo
Estados Unidos da América. cultural) do EBF, então, os donativos n.º 3 094/2020, PIV n.º 17 966, com
Pretende-se saber, neste sentido, o efetuados, incluindo os donativos em despacho da diretora de serviços do
enquadramento fiscal desta operação. espécie, por parte de outras entida- IRC, de 2020-12-02, que passamos a
Em sede de IRC, no tocante à aceita- des, poderão ser considerados como transcrever: «Face ao exposto o do-
ção fiscal, o número 1 do artigo 23.º fiscalmente relevantes na esfera des- nativo atribuído por uma sociedade,
do CIRC indica que «para a determi- tes mecenas, ainda que não se encon- residente em Portugal, a uma entida-
nação do lucro tributável, são dedutí- tre cumprido o disposto no número de não residente, que não desenvolva
veis todos os gastos e perdas incorri- 1 do artigo 23.º do CIRC, dentro dos em território nacional a sua atividade
dos ou suportados pelo sujeito passivo requisitos definidos naqueles artigos. principal, não poderá usufruir dos be-
para obter ou garantir os rendimentos Refira-se que a temática da aceitação nefícios fiscais relativos ao mecenato,
sujeitos a IRC». fiscal dos donativos efetuados a enti- previstos no Capítulo X do EBF.»
O que significa que, estando em causa dades não residentes já foi objeto de Assim, entende a Autoridade Tribu-
donativos, se não se conseguir provar análise em vários acórdãos do TJUE tária, como vimos, que os donativos
que o encargo foi suportado para a ob- que, com base na legislação cons- efetuados a entidades não residentes,
tenção de rendimentos sujeitos e não tante dos tratados da UE, se opõe caso a sua atividade principal não seja
isentos de IRC (o que, além de outras a que o benefício da dedução fiscal desenvolvida em território nacional,
condições, implica que a entidade que só seja concedido relativamente a não poderão beneficiar dos benefícios
beneficiou do donativo tenha alguma donativos feitos a favor de institui- fiscais associados ao Estatuto do Me-
relação comercial ou de prestação de ção com sede no território nacional, cenato, não sendo, desse modo, o res-
serviços com a empresa), o mesmo devendo sempre ser dada ao contri- petivo gasto aceite fiscalmente.
não será aceite em termos fiscais. buinte a possibilidade de demonstrar A confirmar-se este enquadramento
Assim, em circunstâncias normais, as que a entidade não residente satisfaz (não aceitação do gasto fiscal), deve-
ofertas de bens ou de dinheiro de cariz as condições para a concessão desse rá tal valor ser inscrito/acrescido no
filantrópico, sem quaisquer contrapar- benefício. campo 751 do quadro 07 da declara-
tidas, não serão aceites fiscalmente. De todo o modo, tenha-se em conta ção modelo 22.
Sem prejuízo do exposto, chamamos que, no caso concreto, estamos peran-
a atenção para os benefícios fiscais te uma fundação com sede nos Esta- Resposta de junho de 2022

68 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

IVA - dúvidas Em termos de IVA, começamos por re- sua realização.


sobre isenções ferir que as transmissões de bens e as As isenções previstas no artigo 9.º do
prestações de serviços efetuadas no Código do IVA são de aplicação obri-
Determinada empresa, no regime território nacional, a título oneroso, gatória, sem prejuízo dos casos de re-
de transparência fiscal, com isenção por um sujeito passivo agindo como núncia devidamente previstos no Códi-
de IVA, ao abrigo do artigo 9.º, tem tal, as importações de bens e as ope- go do IVA.
como atividade a de fisioterapia, coa- rações intracomunitárias efetuadas no Na questão é solicitado o enquadra-
ching, meditação com CAE 86906. território nacional, tal como são defi- mento das atividades de coaching e
Os sócios são profissionais de saúde, nidas e reguladas no regime do IVA nas meditação, pelo que apresentaremos
sendo um fisioterapeuta e outro far- transações intracomunitárias (RITI), o entendimento da Autoridade Tribu-
macêutico. A empresa presta servi- são sujeitas a imposto sobre o valor tária e Aduaneira sobre as referidas
ços em clínicas de saúde e num centro acrescentado. atividades. Os excertos retirados não
de psicologia. Todavia, as operações realizadas por dispensam a consulta dos processos na
Relativamente à fisioterapia, na fatu- sujeitos passivos poderão estar isen- integra.
ração tem-se indicado isento nos ter- tas de IVA, mas ressalvamos que não Coaching e Meditação - Informação
mos do artigo 9.º do CIVA. Porém, re- é a CAE que determina se os sujeitos Vinculativa Processo: n.º 15 519, por
lativamente às atividades de coaching passivos são isentos ou não isentos, despacho de 2019-04-23, da diretora
e meditação existem dúvidas quanto mas sim as operações efetuadas pelo de serviços do IVA, (por subdelegação)
ao enquadramento fiscal. A faturação sujeito passivo. «37. Quanto aos serviços prestados
é feita em nome das clínicas e são es- No artigo 9.º do CIVA encontram-se no âmbito das atividades que a Reque-
tas por sua vez que faturam ao con- elencadas todas as atividades, que rente identifica como: “Coaching” [1];
sumidor final. pela sua natureza, independentemente “Programação Neurolinguística” [2];
dos valores recebidos, se encontram “Meditação” [3]; “Reiki” [4]; “Reflexolo-
As questões colocadas referem-se com automaticamente isentas de IVA. gia” [5]; “Radiestesia” [6]; “Kinesiolo-
o enquadramento fiscal, em sede de As isenções previstas no artigo 9.º do gia” [7]; “Ioga” [8] e “Tai chi” [9], dado
IVA, relativamente às operações de CIVA são vulgarmente denominadas de que: i) não se encontram elencados na
coaching e meditação prestados por incompletas, isto é, não há liquidação Lista anexa ao Decreto-Lei n.º 261/93,
sociedade (regime transparência fiscal) de imposto. Contudo, o sujeito passivo de 24/7, ou nas profissões designa-
através dos seus sócios (farmacêutico também não pode exercer o direito à das no artigo 2.º do Decreto-Lei n.º
e fisioterapeuta). dedução do imposto suportado para a 320/99, de 11/8 (diplomas do Minis-

JULHO 2022 69
CONSULTÓRIO

tério da Saúde que contêm os requi- das operações de coaching e medita- IVA - Reembolso
sitos a observar para o exercício das ção não tem enquadramento no artigo
atividades paramédicas); ii) não foram 9.º do CIVA, então o sujeito passará a Determinado empresário em nome
objeto de regulamentação que os equi- ser um sujeito passivo misto, sujeito e individual, sem contabilidade orga-
pare às profissões paramédicas; iii) isento pelas operações enquadráveis e nizada e no regime do IVA, com a
não se encontram reconhecidos como sujeito e não isento pelas operações atividade de avicultura, tem IVA a
atividades terapêuticas não conven- que não cumprem com as condições, reportar de mais de seis mil euros.
cionais, o que implica o afastamento devendo por esse facto liquidar IVA à Pretende encerrar a atividade junto
do seu exercício do campo de aplica- taxa do serviço realizado. da Autoridade Tributária e Aduaneira
ção da isenção prevista na alínea 1) do Neste caso, exercendo uma atividade (AT) durante mais ou menos um ano.
artigo 9.º do CIVA. que não confere o direito à dedução e Quando voltar a iniciar a atividade na
38. Considerando que os referidos ser- outra que confere direito à dedução, o AT continua a ter direito ao reporte
viços não merecem, igualmente, aco- sujeito passivo será um sujeito passivo do IVA que existia antes de encerrar a
lhimento em qualquer outra isenção misto. atividade ou terá que pedir reembol-
prevista no artigo 9.º do CIVA, cons- Sobre o tratamento em IVA das ope- so antes de encerrar?
tituem a prática de operações sujeitas rações realizadas por sujeitos passivos
a imposto e dele não isentas, passíveis mistos, sugerimos a análise do Ofício-
de tributação à taxa normal prevista -Circulado n.º 30 103/2008, de 23 de O pedido de parecer está relaciona-
na alínea c) do n.º 1 do artigo 18.º do abril, do gabinete do subdiretor-geral do com a possibilidade de pedido de
CIVA (taxa de 23 por cento em vigor da Área de Gestão Tributária do IVA. reembolso nas situações em que a
no território do Continente).» entidade pretende cessar a atividade
Face ao exposto, no caso em concreto Resposta de junho de 2022 em IVA durante um ano e, posterior-
mente, voltar a reiniciar a atividade.
Em concreto é questionado se perde
o direito ao valor do IVA a favor do
sujeito passivo.
Atendendo à questão colocada, consi-
deramos importante começar por efe-
tuar o enquadramento genérico dos
pedidos de reembolso do IVA.

Regras aplicáveis
aos pedidos de reembolso de IVA
O pagamento e os reembolsos de IVA
encontram-se regulados no Decreto-
-Lei n.º 229/95, de 11 de setembro.
De harmonia com o artigo 14.º do De-
creto-Lei n.º 229/95, com a redação
que lhe foi dada pela Lei n.º 64/2012,
de 20 de dezembro:
«1 - Os reembolsos do IVA são soli-
citados:
a) Nos casos previstos nos n.ºs 5 e 6
do artigo 22.º do Código do IVA, atra-
vés da declaração prevista na alínea c)
do n.º 1 do artigo 29.º ou, tratando-se
de sujeitos passivos abrangidos pelo
regime especial dos pequenos retalhis-

70 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

tas, na declaração referida na alínea vado pelo Decreto-Lei n.º 433/99, de casos em que exista crédito de impos-
b) do n.º 1 do artigo 67.º, ambas do 26 de outubro, sem prejuízo de poder to no momento da cessação da ativi-
mesmo Código; ser efetuada a compensação com cré- dade, ou altere o enquadramento do
b) Nos demais casos previstos na lei, ditos tributários, nos termos do artigo regime de tributação de IVA, passando
em formulário de modelo aprovado. 90.º deste Código. a efetuar operações isentas sem direi-
2 - Apresentado o pedido de reembol- 5 - No caso de cessação de ativida- to à dedução ao abrigo do artigo 9.º,
so, fica o sujeito passivo impedido de de, de alteração para um dos regimes ou optando pelos regimes de isenção
proceder à dedução prevista no n.º 4 especiais ou quando o sujeito passivo do artigo 53.º (nas respetivas condi-
do artigo 22.º do Código do IVA pela passe a praticar exclusivamente ope- ções) ou dos pequenos retalhistas (ar-
respetiva importância, até à comuni- rações isentas que não conferem direi- tigo 60.º), se o valor do reembolso for
cação da decisão que recair sobre o to à dedução, os pedidos de reembolso superior a 25 euros.
pedido. apenas são considerados se solicita- Nas restantes situações, só poderá
3 - Para efeitos de concessão do reem- dos em declaração apresentada den- solicitar o reembolso antes do período
bolso, são considerados apenas os tro do prazo fixado no n.º 2 do artigo de 12 meses, se o crédito a favor do
pedidos que constem de declaração 98.º do Código do IVA.» sujeito passivo for superior a três mil
periódica enviada dentro do respetivo Em face do que antecede, para efeitos euros.
prazo legal, ainda que se trate de de- de concessão de reembolso, são consi- A Administração Tributária pode exi-
claração de substituição, sem prejuízo derados apenas os pedidos que cons- gir caução, fiança bancária ou outra
dos respetivos acertos em conta cor- tem de declaração periódica enviada garantia adequada quando a quantia
rente resultantes de valores apurados dentro do respetivo prazo legal, ainda a reembolsar exceder 30 mil euros -
em declarações apresentadas para que se trate de declaração de substi- n.º 7 do artigo 22.º do Código do IVA.
além do referido prazo. tuição. A garantia é ainda obrigatória para
4 - Sempre que o sujeito passivo seja Assim, se o valor do crédito a favor do os casos de primeiro reembolso dos
devedor de IVA é suspensa a conces- sujeito passivo se mantiver durante 12 sujeitos passivos previstos no artigo
são de reembolsos que não estejam meses em relação ao período em que 9.º do Despacho Normativo n.º 18-
garantidos nos termos do artigo 22.º se iniciou o excesso, poderá ser solici- A/2010, de 1 de julho de 2010, quando
do Código do IVA, até que o impos- tado o reembolso, desde que o valor o valor do reembolso solicitado for su-
to seja pago ou garantido nos termos seja superior a 250 euros. perior a 10 mil euros.
do artigo 169.º do Código de Procedi- Poderá ainda solicitar o reembolso an- O pedido de reembolso deverá ser
mento e de Processo Tributário, apro- tes do fim do período de 12 meses nos mencionado em declaração periódica

JULHO 2022 71
CONSULTÓRIO

de IVA entregue dentro do prazo legal, A concessão de qualquer reembolso Adiantamentos


que no caso de cessação de atividade depende da verificação cumulativa dos por conta de lucros
será a última entregue. Esta deve ser requisitos previstos no despacho nor- e caducidade
acompanhada dos seguintes anexos mativo n.º 18-A/2010, de 1 de julho
(também preenchidos eletronicamen- de 2010, redação dada pelo despacho Numa empresa com um saldo de con-
te): normativo n.º 17/2014, de 26 de de- ta de sócios no valor aproximado de
- Relação com identificação dos clien- zembro. 250 mil euros, correspondente a reti-
tes a quem, com referência ao período Face ao exposto temos que para efeito radas de valores entre 2010 a 2021,
declarativo, foram efetuadas as trans- do pedido de reembolso o sujeito pas- aplica-se a caducidade da liquidação
missões de bens e as prestações de ser- sivo ainda terá de observar os termos prevista no n.º 1 do artigo 45.º da
viços referidas na alínea b) do n.º 1 do e condições elencados no despacho LGT?
artigo 20.º do Código do IVA, previstas normativo n.º 18-A/2010 para efetuar
em legislação especial, sem liquidação o pedido de reembolso.
do IVA, com direito a dedução e indica- Deste modo, somos do entendimento Pretende-se um parecer sobre a pre-
ção do respetivo valor, conforme o mo- que, antes da cessação da atividade sunção a título de adiantamento por
delo do anexo I do referido despacho. em IVA deverá efetuar o pedido de conta de lucros em sede de IRS.
- Relação com identificação por campo reembolso do IVA devido, pois é este O artigo 6.º, n.º 4 do Código do IRS é
da declaração periódica dos fornecedo- o procedimento que resulta do CIVA. muito claro e estabelece que os lança-
res de bens ou serviços e das importa- Não obstante, tendo sido já cessada mentos a seu favor, em quaisquer con-
ções em que, com referência ao período a atividade em IVA, após o reinício tas correntes dos sócios, escrituradas
declarativo, tenha havido liquidação de da atividade, o sujeito passivo poderá nas sociedades comerciais ou civis sob
imposto, com indicação do respetivo pedir o reembolso do IVA a seu favor, forma comercial, quando não resultem
valor de aquisição, do IVA dedutível e, numa declaração apresentada dentro de mútuos, da prestação de trabalho
se for caso disso, das situações em que, do prazo, desde que, o crédito se man- ou do exercício de cargos sociais, pre-
por força da lei, o sujeito passivo ad- tenha, nos termos do n.º 2 do artigo sumem-se feitos a título de lucros ou
quirente dos bens ou destinatário dos 98.º do CIVA, isto é, crédito do impos- adiantamento dos lucros.
serviços se substitui ao fornecedor na to inferior a quatro anos. Assim sendo, se aqueles montantes
liquidação do imposto, conforme o mo- não estiverem devidamente justifica-
delo do anexo II do despacho. Resposta de junho de 2022 dos e fundamentados nos termos des-

72 CONTABILISTA 268
CONSULTÓRIO

critos, a Autoridade Tributária pode de 2012, quer o facto tributário da dis- das referidas distribuições gera, ela
efetuar aquela presunção e tributar a tribuição de lucros e reservas no valor mesma, o facto tributário previsto na
28 por cento. de 595 382,55 euros, nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 5.º do CIRS.
Sobre o prazo de caducidade para li- alínea h) do n.º 2 do artigo 5.º do CIRS, Caso tivesse sido feita pela Requeren-
quidar tributos previsto no artigo 45.º quer o facto tributário presumido (iuris te a retenção de IRS na fonte ao longo
da Lei Geral Tributária, existe um acór- tantum) de serem lucros ou adianta- dos exercícios em que os sócios-geren-
dão do CAAD muito interessante que mentos de lucros os lançamentos a seu tes se foram apropriando de valores
considera «que o facto tributário pre- favor, em quaisquer contas correntes gerados pela atividade da Requerente,
sumido se deve situar temporalmente dos sócios, escrituradas nas socieda- como deveria ter ocorrido, este facto
no exercício em que se dá a inscrição des comerciais, quando não resultem tributário ulterior, quando das delibe-
contabilística de valores na conta dos de mútuos, da prestação de trabalho rações de distribuição, embora real-
sócios, destinada, precisamente, a re- ou do exercício de cargos sociais. mente existente, não importaria nova
gularizar retiradas de valores ocorri- No entendimento da Requerente, tais liquidação de imposto. No limite, uma
das em períodos anteriores e não de- factos tributários existiram efetiva- nova liquidação de imposto geraria du-
vidamente contabilizadas.» mente no mundo jurídico, mas nos plicação de coleta, nos termos do n.º 1
«Processo n.º 395/2017 exercícios em que os sócios foram do artigo 205.º do Código de Procedi-
Data da decisão: 2018-02-28 fazendo, pelas várias formas acima mento e de Processo Tributário (CPPT),
Valor do pedido: 259 699,66 referidas, apropriações de valores da com efeito de ilegalidade do ato tribu-
Tema: IRS - Adiantamento por conta de Requerente, pelo que a liquidação ad- tário.
lucros - Presunção ministrativa tomando por base a exis- Inversamente, deliberações de distri-
(...) tência de tais factos tributários em buição de lucros (ou reservas), como
Posto isto, a situação dos presentes 2012 está viciada de ilegalidade. as adotadas pelos sócios da Requeren-
autos, no que a esta matéria diz respei- Como se viu, o tribunal dá como prova- te em 2012 ou 2103, geram um facto
to, é análoga à decidida no processo da a retirada de valores, não especifi- tributário na data em que tais saídas
arbitral 3/2017T, onde se julgou que: cados, pelos sócios - rectius, pelos dois de caixa são contabilizadas, sobre o
“O que está em causa é o tratamento sócios que também são gerentes. Tais qual - não tendo havido anteriormente
jurídico-tributário das regularizações valores deveriam ter sido sujeitos a tri- liquidação de IRS, quando das apro-
de caixa, no valor agregado de 595 butação em IRS, por retenção na fonte, priações ou levantamentos - deve ha-
382,55 euros, e da saída do valor de por referência a cada um dos exercí- ver liquidação, ou por retenção na fon-
116 845,08 euros, com destino às con- cios em que ocorreram as retiradas. A te feita pelo substituto tributário, ou
tas de sócios, ambas contabilizadas em Requerente não procedeu às retenções administrativa, na verificação da falta
dezembro de 2012. na fonte, nem, consequentemente, ao daquela, sem que se gere duplicação de
No entendimento da AT, como expla- pagamento do imposto devido nos co- coleta, pois que a Requerente incum-
nado no RIT e replicado na resposta fres do Estado. (...) priu a obrigação de retenção na fonte
apresentada, ocorreram, em dezembro Ora, a deliberação pelos sócios (...) do IRS devido em função de factos tri-

JULHO 2022 73
CONSULTÓRIO

butários que se tinham verificado nos vias”, nas quais são deliberadas dis- Ou seja, e em suma: não se demons-
exercícios anteriores. tribuições de resultados desses anos.” tra no caso que a utilização de fun-
Não se julga, pois, por verificada qual- Subscrevem-se aqui os fundamentos dos próprios da sociedade em be-
quer ilegalidade do ato de liquidação do aresto transcrito, considerando-se nefício dos sócios no decurso dos
objeto do pedido de decisão arbitral, que o facto tributário presumido se anos anteriores ao exercício sub
designadamente a de caducidade do deve situar temporalmente no exercí- iudice, confessadamente verificada,
direito a liquidar, pelo que improcede cio em que se dá a inscrição contabi- haja sido anteriormente regulari-
o pedido da Requerente. lística de valores na conta dos sócios, zada (contabilística, jurídica e/ou
Aliás, importa acrescentar que repug- destinada, precisamente, a regulari- fiscalmente) pela Requerente (o que
naria à própria axiologia da tributa- zar retiradas de valores ocorridas em implicava, para além do mais, a sua
ção que a obrigação de pagar impos- períodos anteriores e não devidamen- tributação), apenas se verificando
to sobre uma capacidade contributiva te contabilizadas. tal regularização, presumidamente
gerada pela apropriação pelos só- Com efeito, até esse momento a Re- a título de lucros ou adiantamen-
cios gerentes das disponibilidades querente não tinha, por qualquer to de lucros, em 2014, devendo-se,
de caixa da Requerente pudesse ser modo, formalizado a vontade de atri- por isso, considerar verificado nesse
afastada por uma ‘fórmula’ tão ‘bá- buir patrimonialmente aos sócios o ano o correspondente facto tributá-
sica’ quanto a da omissão, ao longo valor que acabou por contabilizar nas rio, não ocorrendo, assim, qualquer
de anos bastantes para a caducidade respetivas contas. A inscrição con- violação do artigo 68.º-A da LGT, ao
do direito a liquidar, de lançamentos tabilística operada pela Requerente contrário do arguido pela Requeren-
na conta Caixa correspondentes aos exterioriza o propósito (pelo menos te.
atos de apropriação, seguida de uma presumido) de tornar definitiva a uti- Deste modo, e pelo exposto, julga-se
ou mais regularizações contabilísticas lização, até aí precária, pelo sócios, ser de improceder também este fun-
retroativas, feitas em data já para lá das disponibilidades financeiras por damento do pedido arbitral.»
do período de exercício do direito a si geradas ao longo dos anos, legi- Assim, a aferição da eventual cadu-
liquidar. E ainda repugnaria mais se timando tal utilização a título de lu- cidade do direito por parte da AT a
essa ‘fórmula’ que se revelasse apta cros, ou adiantamento de lucros, já liquidar o imposto poderá ter a ver
a evadir a tributação fizesse recurso que até essa altura a referida utiliza- com o momento em que as verbas
a atas em que falsamente se faz cons- ção de fundos próprios da sociedade são registadas na conta de sócios e
tar a realização, em certos dias e em pelos sócios, por carente de título, não no momento em que há a respe-
certas horas de anos já abrangidos era abusiva, gerando-se assim naque- tiva regularização de saldos de caixa
pela caducidade do direito a liqui- les sócios um acréscimo patrimonial fictícios.
dar, de reuniões da Assembleia Geral equivalente, que se materializa nessa
“com dispensa de formalidades pré- altura. Resposta de junho de 2022

74 CONTABILISTA 268
MERCHANDISING
INSTITUCIONAL
30€ 30€ 20€ 20€

LENÇO INSTITUCIONAL - A LENÇO INSTITUCIONAL - B GRAVATA BORDADA GRAVATA BORDADA

12.30€ 10€ 6€ 1.90€

AGENDA DO
CONTABILISTA 2022 GARRAFA DE VIDRO CANECA OCC FRASCO ÁLCOOL GEL

6€ 16€ 2€ 6€

BLOCO A5 TOALHA DE PRAIA OCC CANETA SACO OCC

A B C D

4€ 5€ 6€ 10€ 2.45€
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