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ISSN 1646-0030 | Mensal 5 euros www.impactus.org Setembro | Outubro 2008 N.

º 12

energias alternativas e o crescimento da população mundial:


fome ou desenvolvimento económico?
opinião internacional: FAO, World Food Programme, World Bank, IMF, EU
Nuclear, renováveis e efIciência energética - Entrevista: Pedro Sampaio Nunes e Nuno Ribeiro da Silva
Global Green - Empresa Portuguesa galardoada com o prémio EUBIA da Associação Europeia de Indústria de Biomassa
Energia das ondas: um Futuro de Portugal - Frank Neumann, Centro de Energia das Ondas
Sumário

4 Editorial 12 Ferran Tarradellas 20 Pedro Sampaio Nunes 31 REPORTAGEM- Global Green


J. Delgado Domingos
14 Michael Hopkins 22 Nuno Ribeiro da Silva 33 Frank Neumann
Energia e Produção 25 Paulo Caetano
17 EfIciência Energética - 34 Roteiro
Alimentar no Mundo
referências 26 Francisco Ferreira
6 Maria Kadlecikova
DesafIos da Energia - Visão 29 Cascais Energia
8 Manuel Aranda da Silva
Portuguesa
30 Álvaro Brandão Pinto
9 Donald O. Mitchell
18 Agostinho Miguel and João
10 Felix Fisher Saraiva

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Participação externa nesta edição


José Delgado Domingos, Maria Kadlecikova, Donald O. Mitchell, Manuel
Directores Aranda da Silva, Felix Fisher, Ferran Tarradellas, Michael Hopkins, Nuno
Sofia Santos Ribeiro da Silva, Francisco Ferreira, Brandão Pinto, Pedro Sampaio Nunes,
Rita Almeida Dias Frank Neumann, Paulo Caetano, Ashok Hansraj, Agostinho Miguel, João
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Sustentare, Lda
José Delgado Domingos
José Eduardo Martins
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Apoio Institucional
Editorial

J. Delgado Domingos
Professor Catedrático no IST, membro
do Conselho Editorial da Im))pactus
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Energia
e Crise Alimentar
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No âmbito dos debates públicos sobre a adesão à CEE, a revista geralmente em menor grau, o consumo directo em máquinas
“Vida Rural” convidou-me, em 1986, para escrever um artigo que agrícolas (incluindo equipamentos de bombagem). No seu conjunto
foi publicado sob o título de “Energia, Agricultura e a CEE”, no qual representam, todavia, a menor parcela do custo total em energia
alertava para as consequências de não ponderar devidamente as despendida para ter os alimentos na mesa do consumidor. A título
implicações do custo e da disponibilidade da energia na reconversão indicativo, valores recentes para Portugal e na Lezíria do Tejo [2]
da agricultura portuguesa aos paradigmas da PAC então vigente. variam entre os 0.14 Tep/ton (girassol) e os 0.08 Tep/ton (milho). Tendo
As questões “Energia, Produção de Alimentos e Sistema Alimentar” em conta as taxas de conversão em proteína animal, os tep/ton de
tinham já sido por mim abordadas em 1978 e muitos outros trabalhos carne são muito superiores (e variam acentuadamente com o animal
se lhe seguiram no Instituto Superior Técnico [1] sobre a situação considerado). Uma dieta rica em proteína animal é por isso muito mais
portuguesa. Se o refiro é apenas para sublinhar que a actual crise sensível ao custo da energia do que uma dieta vegetariana. O modo
alimentar (e as que irão seguir-se...) é uma inevitável consequência do como a subida do preço do petróleo se reflecte no custo em euros
modo como se estruturou e difundiu o sistema alimentar nos países sofre consideráveis distorções relativamente aos factores puramente
desenvolvidos. A população mundial é hoje sete vezes superior à que físicos devido às políticas fiscais e de subsídios que vigoram nos
existia há cerca de dois séculos e continua a crescer. Tal foi possível diferentes países. Retenha-se, todavia, que o efeito da subida do
pela utilização crescente dos combustíveis fósseis, sobretudo do custo da energia é diferido no tempo consoante o sector em causa
petróleo, mas tal sucesso tornou-a também criticamente dependente e só reflecte de imediato os custos directos. Por exemplo, o efeito
do seu custo. Sucede também que a generalização deste sistema indirecto através dos fertilizantes só surgirá na próxima cultura e o da
de produção e distribuição de alimentos aos países emergentes, maquinaria utilizada só quando ela for substituída o que ocorrerá, em
associado ao aumento da população mundial, fisicamente média, apenas uns anos depois.
incompatível, a prazo, com os recursos disponíveis sobretudo de
petróleo e gás natural. Em termos simples e genéricos, este tipo de O facto de a menor parcela do custo em energia ser na exploração
estrutura origina o consumo anual de cerca de 800 kg de petróleo (ou agrícola, põe em realce as outras parcelas, e nelas o transporte, no que
equivalente em energia) para alimentar cada habitante. Enquanto é comum a muitas outras actividades e remete para o problema básico
fonte primária de energia, o petróleo poderá vir a ser substituído do ordenamento do território e da espacialização das actividades
por outras fontes. Todavia, o petróleo é também uma matéria-prima económicas.
fundamental na produção de fertilizantes, herbicidas, fungicidas
e tantos outros produtos indispensáveis para o funcionamento do
sistema alimentar (industrial) tal como o conhecemos e no qual se Clarificada a influência directa e indirecta do preço do petróleo no
podem genericamente identificar três sectores fundamentais: a custo dos produtos alimentares é necessário ter em conta o efeito
exploração agrária, o processamento e transporte da sua produção, e de outros factores explicativos da crise actual, uns puramente
o consumo final. conjunturais, outros estruturais. Na crise actual, há certamente
movimentos especulativos, que exploram e amplificam desequilíbrios
Na exploração agrícola, são sobretudo importantes os consumos de mercado. Em termos de mercado, verificou-se nos últimos anos
originados a montante na produção dos fertilizantes. Acresce, uma acentuada procura de cereais e de produtos destinados a rações
“Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente
se poderá justificar em termos puramente energéticos ou
ambientais, salvo no caso de aproveitamento de resíduos
e mesmo então tendo em conta que a sua matéria
orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria para
manter a sua fertilidade.”

| Editorial
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animais, provocada pela alteração da dieta alimentar de muitos (tal como em Portugal), a produção de electricidade é feita sobretudo
milhões de consumidores nas economias emergentes, associada a com base no carvão. Como as reservas de carvão existentes são ainda
um aumento do nível de vida, sobretudo na China, que se traduziu, enormes e geograficamente dispersas, a segurança do abastecimento
nomeadamente, no crescente aumento do consumo de carne. Este e as reservas existentes são um não problema, pelo que os pretextos
aumento não foi acompanhado pelo aumento correspondente da invocados não convencem apesar da cruzada contra o carvão inspirada
produção e traduziu-se na redução dos stocks mundiais de cereais na quase religião das alterações climáticas. Em rigor, a questão central
seguidamente agravada por quebras de produção devidas a situações não está na oferta de energia mas na sua procura, incluindo o tipo e
climatéricas desfavoráveis. Neste contexto, o crescente desvio origem geográfica dos alimentos. Mas actuar sobre esta vai contra a
de cereais para a produção de biocombustíveis foi sumariamente cultura vigente e os hábitos estabelecidos. Felizmente ainda existem
apontada como a principal responsável, mas sem justificação recursos em combustíveis fósseis em quantidade suficiente para
convincente, na situação actual, salvo em casos pontuais. que seja possível uma transição para novas formas de organização
económica e social que preservem e expandam o melhor que nos
Em si mesma, a produção de biocombustíveis raramente se poderá trouxe a civilização actual. A procura de energia que hoje temos não
justificar em termos puramente energéticos ou ambientais, salvo no é sustentável e a subida dos preços é um aviso muito sério. Seguindo-
caso de aproveitamento de resíduos e mesmo então tendo em conta se aos avisos do primeiro e segundos choques petrolíferos, este será
que a sua matéria orgânica não retornará ao solo, onde contribuiria porventura o último aviso antes do esgotamento físico das reservas
para manter a sua fertilidade. Como combustível de substituição de combustíveis. Por isso é preferível encarar desde já e a sério o
nos transportes, o seu contributo será sempre marginal, em termos problema da energia no seu multifacetado conjunto, em vez de
globais. Na maioria das vezes, a sua sustentabilidade económica semear ilusões com miragens tecnológicas ou condicionar as opções
é artificial pois depende inteiramente de subsídios directos ou invocando supostos cataclismos.
indirectos, nomeadamente de natureza fiscal. Acresce que, a vir a
expandir-se, irá inevitavelmente competir, como já sucede, com
terrenos necessários para produção alimentar. Politicas fiscais e de
subsídios, como as da PAC no passado, podem inspirar o fomento
dos biocombustiveis para escoar excedentes na produção agrícola,
mas tal irracionalidade económica, ditada por motivos políticos, é
insustentável a prazo.

O fomento dos biocombustíveis, pelo menos a nível europeu, tem o


por José Delgado Domingos.
seu quê de análogo com a energia nuclear, subitamente na agenda
política a pretexto da subida no preço do petróleo e da dependência
[1] Muitos dos documentos de síntese encontram-se em http://jddomingos.ist.utl.pt.
externa. O absurdo do pretexto reside no facto de a energia nuclear [2] Tiago Domingos et al“Avaliação da sustentabilidade da agricultura de regadio da lezíria do
só servir para a produção de electricidade e de a utilização do petróleo Tejo e vale do Sorraia”, 2008. Note-se que estes são, certamente, dos melhores para a nossa
ser residual na produção de electricidade. A nível europeu e mundial agricultura.
Energia e Produção Alimentar no Mundo - fao

Maria Kadlecikova
Representante para a Europa
e Ásia Central da FAO

Im))pactus: 1. Plantações de milho para biocombustíveis. Onde


| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

ambiente se reuniram para debater as importantes ligações existentes


é que esta febre nos vai levar? E quais são os seus perigos? entre esses sectores”, afirmou a propósito do encontro Alexander Müller,
Maria Kadlecikova: A bioenergia é a principal fonte de energia para a Director do Departamento de Ambiente e Gestão de Recursos Naturais
maioria da população mundial que vive em extrema pobreza e a utiliza da FAO.
sobretudo para cozinhar. Têm acesso limitado a outras formas de energia,
tais como a electricidade ou os combustíveis líquidos. Este tradicional Apesar de existir uma preocupação legítima de alguns grupos de que a
uso da biomassa para a produção de energia, em particular através de bioenergia possa comprometer a segurança alimentar e provocar danos
resíduos agrícolas e florestais, está relacionado com impactos negativos ambientais, esta pode também ser uma importante ferramenta para
ao nível da saúde. melhorar o bem-estar das populações rurais se os governos tiverem
em consideração as preocupações relativamente ao ambiente e à
Mas um tipo diferente de bioenergia está a ganhar destaque através do segurança alimentar. Em termos de segurança alimentar, a bioenergia
recurso a culturas de rendimento e da transformação tecnologicamente só faz sentido se soubermos onde se encontram as populações com
avançada da biomassa em biocombustíveis. A bioenergia é encarada carências alimentares e aquilo de que necessitam de forma a melhorar
como uma fonte de energia renovável, e também como uma forma de as suas vidas. Em termos ambientais, devemos garantir que tanto os
proporcionar um rendimento e oportunidades de emprego às populações grandes como os pequenos produtores de bioenergia tenham em
dos meios rurais. A bioenergia surgiu como um factor-chave tanto a nível consideração todos os impactos positivos e negativos. Os governos
6 de desenvolvimento como ambiental. têm um papel fundamental a desempenhar ao definirem normas de
desempenho. As organizações internacionais tais como a FAO podem
Ao mesmo tempo, ficou demonstrado que a utilização sustentável também desempenhar um papel importante ao proporcionarem um
de bioenergia requer o equilíbrio entre muitos factores, incluindo espaço de debate neutro e também apoio político. É necessário um
a possível concorrência entre a segurança alimentar e a segurança compromisso internacional para garantir que a segurança alimentar
energética, a concorrência pela utilização dos recursos hídricos, os não é negligenciada e que os recursos naturais são usados de forma
efeitos no desenvolvimento rural, nos mercados agrícolas e nos preços sustentável.
dos bens alimentares, assim como os impactos no meio ambiente, na
biodiversidade entre outros. Este equilíbrio tem de ser alcançado a nível
local, nacional e internacional, com base em informação e compreensão
adequadas. A gestão, mobilização e implementação do conhecimento a I.: 3. De acordo com Ban Ki Moon, a subida do preço dos
nível nacional é um dos factores fundamentais desta abordagem. alimentos irá afectar os objectivos do Milénio. Concorda?
M.K.: Temos de admitir que os impactos negativos são inevitáveis a curto
A Conferência de Alto Nível da FAO e outros encontros de alto nível prazo. É difícil prever o que irá suceder a seguir. Mas temos de assegurar
confirmaram que a comunidade internacional está a considerar a que as organizações internacionais e os governos têm as ferramentas
utilização recessiva de milho para biocombustíveis como um risco necessárias para enfrentar este desafio a médio e longo prazo.
potencial de curto prazo. Alguns países deram até início a uma reavaliação
mais exacta dos seus stocks o que pode resultar numa manutenção do Os preços dos produtos de base agrícola aumentaram significativamente
preço do milho nesta época de colheitas. em 2006 e continuaram a aumentar de forma ainda mais acentuada
em 2007. Os períodos de preços altos não são casos raros nos mercados
A Plataforma Internacional de Bioenergia da FAO, bem como o seu apoio agrícolas, apesar das fases de alta de preços serem tendencialmente
à Parceria Global de Bioenergia (GBEP), da qual alberga o secretariado, e o mais curtas do que as de baixa. Aquilo que diferencia o estado actual
envolvimento no projecto Bioenergy Wiki são alguns dos mecanismos no dos mercados agrícolas é a simultaneidade da subida acentuada de
terreno que asseguram que os principais parceiros, accionistas e grupos praticamente todos os produtos agrícolas destinados à alimentação
de interesse trabalham de forma a garantir que a segurança alimentar, humana e animal. Consequentemente, os preços elevados das colheitas
a segurança energética, o desenvolvimento rural e a mitigação das agrícolas, a nível internacional, atingiram toda a cadeia de abastecimento
alterações climáticas não são objectivos que se excluem mutuamente. alimentar, contribuindo para os aumentos do preço de retalho de
produtos básicos tais como o pão, as massas alimentares, a carne e o leite.
Esta intensa subida dos preços foi acompanhada por uma volatilidade dos
I.: 2. Quais são os limites e os objectivos a defInir relativamente preços maior do que as registadas no passado, especialmente no sector
à plantação de cereais para a produção de biocombustíveis? dos cereais e oleaginosas, acentuando a incerteza nos mercados.
E quem deverá fIxar esses limites? Entidades supranacionais,
tais como o Banco Mundial ou o G8? Os factores que conduziram a um cenário de reduzida oferta mundial,
M.K.: Alguns dos maiores especialistas internacionais reuniram-se aumento da procura e forte aumento dos preços ficaram a dever-se tanto
em Roma, em Abril, para analisar o impacto ambiental e alimentar da ao lado da oferta como ao da procura. Entre eles incluem-se quebras na
indústria da bioenergia, que está em rápida e crescente expansão, e produção por motivos climáticos, uma redução gradual mas contínua dos
concordaram quanto ao facto dos governos poderem utilizar a bioenergia níveis mundiais de stocks de cereais desde meados dos anos 90 (cerca
como uma força positiva para o desenvolvimento do mundo rural.. “Foi de 3,4% por ano), o aumento do preço dos combustíveis que afectou
a primeira vez que especialistas em bioenergia, segurança alimentar e a produção, o transporte e a transformação dos produtos agrícolas e a
mudança na estrutura do lado da procura. que a produção e a utilização de biocombustíveis decorre de acordo com
os três pilares do desenvolvimento sustentável tendo em consideração
Os aumentos significativos dos preços dos combustíveis e dos alimentos a necessidade de alcançar e garantir a segurança alimentar mundial.
terão forçosamente um impacto negativo na balança comercial dos Estamos ainda convencidos da vantagem resultante da troca de
países importadores, a maioria dos quais é pobre; actualmente, 82 países experiências sobre as tecnologias, as normas e os regulamentos relativos
fazem parte da lista de Países de Baixo Rendimento com Défice Alimentar aos biocombustíveis. Desafiamos as organizações intergovernamentais,
(PBRDA). incluindo a FAO, no âmbito das suas competências e áreas de experiência,
em conjunto com os governos, os parceiros, o sector privado e a sociedade
Para limitar o impacto da subida dos preços dos cereais no consumo civil para que se envolvam na promoção de um diálogo internacional,
alimentar a nível interno, os governos dos países importadores e coerente, real e orientado para os resultados sobre os biocombustíveis no
exportadores de cereais implementaram várias medidas. Por exemplo, a contexto das necessidades da segurança alimentar e do desenvolvimento
União Europeia pôs fim à retirada obrigatória às margens dos terrenos, a sustentável. No entanto, deve ser cuidadosamente estudado o impacto
Federação Russa aumentou os impostos sobre as exportações, a Ucrânia da produção e utilização da bioenergia nos recursos naturais em especial

| Energia e Produção Alimentar - no Mundo


pensa incluir o trigo na lista de produtos com o preço sob controlo do na degradação dos solos.
estado, na Mongólia o governo eliminou o imposto de valor acrescentado
sobre a importação de trigo e farinha.
I.: 6.Quais as conclusões da conferência da FAO que terminou
A médio e a longo prazo, os preços elevados são também uma a 5 de Junho sobre a crise alimentar?
oportunidade para relançar a agricultura dos países em desenvolvimento M.K.: O mais importante foi o facto dos participantes terem reafirmado
através de investimentos públicos de longo prazo e de programas que as conclusões da Cimeira Mundial da Alimentação de 1996, que adoptou
irão, por sua vez, induzir o investimento do sector privado em resposta a a Declaração de Roma sobre a Segurança Alimentar Mundial e o Plano
um maior rendimento bruto que se poderá ou não traduzir em maiores de Acção da Cimeira Mundial da Alimentação, e o objectivo, confirmado
lucros. A FAO tem trabalhado com vários países concedendo-lhes apoio pela Cimeira Mundial da Alimentação cinco anos depois, de alcançar a
em ambas as frentes; as implicações económicas dos preços elevados dos segurança alimentar para todos através de um esforço contínuo para
bens alimentares a nível familiar e o facto da elevada rentabilidade do erradicar a fome em todos os países, com o objectivo imediato de reduzir
investimento na agricultura se constituir como uma oportunidade para para metade o número de pessoas subalimentadas até 2015, assim como
reforçar o sector. o nosso compromisso de atingir os Objectivos de Desenvolvimento do
Milénio. Os participantes da conferência concordaram em enfrentar
A FAO continuará a apoiar a produção para dar resposta às crises os desafios resultantes da bioenergia, das mudanças climáticas e
alimentares e às fases de preços elevados dos bens alimentares nos da actual subida dos preços dos bens alimentares que estão a ter
PBRDA. A FAO tem trabalhado em conjunto com vários países no impactos adversos na segurança alimentar, especialmente nos países
sentido de desenvolver os seus produtos financeiros e de gestão de risco em desenvolvimento e nos países em transição, ainda para mais devido
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relacionados com o sector agrícola. Para além da concepção de uma aos indicadores de que os preços dos bens alimentares se vão manter
estratégia de agricultura sustentável de longo prazo, esta cooperação elevados nos próximos anos.
inclui a criação de laços mais estreitos entre instrumentos financeiros e
de garantia mais eficientes para o sector agrícola, bem como a troca de Os conferencistas foram unânimes na necessidade da comunidade
produtos e ferramentas de gestão de risco indexados ao clima. internacional agir de forma urgente e coordenada de modo a combater
os impactos negativos dos elevados preços dos bens alimentares nos
países e populações mais vulneráveis do mundo. Estamos plenamente
convencidos de que serão necessárias medidas dos governos, com o
I.: 4. Em 2030 a população mundial atingirá um valor tão apoio da comunidade internacional, a curto, médio e longo prazo, para
elevado que será necessário aumentar a produção de fazer face às necessidades de segurança alimentar a nível mundial e
alimentos em 50%. Como poderá ser evitada uma crise familiar. Os participantes da conferência desafiaram todos os doadores
mundial? e o Sistema das Nações Unidas a aumentar o seu auxílio aos países em
M.K.: Terão de ser utilizadas todas as ferramentas disponíveis. Podemos desenvolvimento, em particular aos países menos desenvolvidos e a
enfrentar os desafios através de formas adequadas de investimento, todos aqueles que são afectados de forma mais negativa pela subida
de sistemas sustentáveis de produção, de gestão de risco, através do do preço dos bens alimentares. Os parceiros de desenvolvimento foram
desenvolvimento de espécies mais resistentes, da utilização de energia convidados a participar e a contribuir para as iniciativas internacionais e
renovável, de métodos de gestão ambiental apropriados e, ainda, através regionais relativas aos elevados preços dos alimentos, nomeadamente,
do recurso a métodos de produção e produtos tradicionais, de adaptação no âmbito da iniciativa da FAO lançada a 17 de Dezembro de 2007, em
às mudanças climáticas, da cooperação, solidariedade e compreensão apoio a medidas levadas a cabo pelos próprios países. Os membros da
internacionais e, por último, através de reformas comerciais. A Organização Mundial do Comércio (OMC) reafirmaram o compromisso
declaração saída da Conferência de Alto Nível reiterou ainda que os bens de concluírem de uma forma rápida e bem sucedida a Agenda de
alimentares não devem ser utilizados como instrumento de pressão Desenvolvimento de Doha da OMC e reiteraram a sua vontade de
política e económica. Deve também ser referido que até ao momento alcançar resultados abrangentes e ambiciosos que sejam catalisadores da
não têm sido utilizados de forma eficaz os terrenos agrícolas disponíveis, melhoria da segurança alimentar nos países em desenvolvimento.
nomeadamente no Cazaquistão, na Federação Russa e Ucrânia. Além
disso, nestes países e também na Moldávia a colheita média de cereais A declaração exorta os governos, todas as instituições financeiras, os
poderá ser aumentada de forma significativa através da utilização de doadores e a comunidade internacional, no seu todo, a abraçar por
tecnologias modernas e da gestão integrada de pragas. completo um enquadramento político centrado nas pessoas e que
apoia as populações pobres de zonas rurais, peri-urbanas e urbanas e
as condições de vida nos países em desenvolvimento, e o aumento do
I.: 5. É correcto afIrmar-se que a utilização de culturas investimento na agricultura. A este respeito, a FAO lançou a sua Iniciativa
agrícolas para a produção de biocombustíveis agravará a sobre a Subida do Preço dos Produtos Alimentares no âmbito da qual 54
desFlorestação e colocará em perigo a segurança alimentar? países são apoiados através da distribuição de sementes e fertilizantes.
M.K.: Se a gestão sustentável dos recursos naturais for um factor No contexto da próxima fase de actividades de médio prazo, será
fundamental do desenvolvimento, então os impactos negativos serão prestada atenção ao reforço das capacidades institucionais em relação à
evitáveis. É essencial abordar os desafios e as oportunidades resultantes produção, marketing e melhoria das capacidades de comercialização de
dos biocombustíveis na perspectiva mundial da segurança alimentar, da bens alimentares.
energia e das necessidades de desenvolvimento sustentável. Estamos
convictos de que são necessários estudos aprofundados para garantir por Maria Kadlecikova, Representante para a Europa e Ásia Central da FAO.
energia e produção alimentar no mundo - wfp

das populações mais pobres nas próximas décadas leve a um crescimento do


consumo e procura de produtos alimentares. Os aumentos de produtividade
agrícola que na década de 70 eram de cerca de 3% anuais foram se reduzindo
e hoje não são superiores a 1% nos países mais desenvolvidos e grande
produtores de cereais . Apenas a entrada de novas áreas em produção ou o
aumento de produtividade em países onde a produtividade agrícola ainda
bastante baixa em particular em África e alguns dos países da ex União
Soviética incluindo a Rússia poderão responder a crescente necessidade de
produtos alimentares .

Uma das respostas necessárias e o crescimento maciço dos investimentos


em investigação agronómica combinado por investimentos significativos
Manuel Aranda da Silva em infra-estruturas de produção agrícola nos países com potencial
WFP Senior Advisor, Ex-ministro do de crescimento da produção. Isto implica ajustamentos urgentes as
politicas de ajuda ao desenvolvimento de forma a privilegiar na ajuda ao
Governo Moçambicano desenvolvimento os investimentos na agricultura e criação do ambiente
mais favorável nestes países ao investimento privado na produção de bens
alimentares. Mesmo que este tipo de medidas aconteçam urgentemente
Preço dos Produtos Alimentares Uma questão de curto prazo ou de a resposta do ponto de vista de produção demorara algum tempo a fazer
consequências globais? sentir os seus efeitos nos mercados internacionais e nos preços e só terão um
A A subida dramática dos preços dos produtos alimentares nos últimos 12 impacto profundo a médio e longo prazo.
meses criou uma ameaça a segurança alimentar a nível do globo e uma
ameaça para a estabilidade socioeconómica de muitos países . Se não houver Entretanto milhões de pessoas correm o risco de cair na extrema
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

uma resposta global e multifacetada mais de 100 milhões de pessoas através pobreza...
de todos os continentes estarão em risco de não poderem comer o mínimo Pelo menos 135 milhões de pessoas sofrerão dramaticamente com a subida
necessário para sobreviverem . Esta situação afecta milhões da população dos preços e entrarão na categoria daqueles vivendo em extrema pobreza
urbana mais pobre em particular nos países mais frágeis economicamente. defendida como aqueles que vivem com menos de 1 dólar por dia. Esta
Esta situação também afecta dezenas de milhões de habitantes de zonas categoria de pessoas gasta mais de 50% do seus rendimentos em alimentação
rurais onde vivem 75% da população mais pobre do mundo. A subida e extremamente vulnerável as alterações dos preços de alimentação. Medidas
do preço dos produtos alimentares conjugada com a subida do preço do imediatas para estabilizar a situação e reduzir o impacto da subida dos preços
petróleo esta a levar a uma grande pressão inflacionista em todos os países nas camadas mais vulneráveis da população são necessárias e urgentes. O
e a aumento nos desequilíbrios na balança de pagamentos dos países mais não introduzir estas medidas urgentemente pode levar a um instabilidade
pobres e importadores de produtos alimentares e combustível . Embora os generalizada em muitos países e ter como consequencias perturbações serias
preços de alguns produtos alimentares tenham recentemente estabilizado no crescimento económico destes países e consequente seria instabilidade
a um nível alto , em médio termo o custo do petróleo, mudanças de clima politica e social. Esta instabilidade pode gerar novos conflitos e tensões afectar
e degradação dos recursos naturais manterão os preços dos produtos a paz e segurança em muitas regiões com efeitos em todos os países do
alimentares altos por um longo período. A dramática subida de preços dos mundo.
produtos alimentares não resulta dum choque climático imediato ou de uma
emergência. Ela é devida ao efeito acumulativo ao longo dos últimos anos de Que medidas a curto prazo para estabilizar a situação e reduzir a
varias variáveis entre as quais são de realçar a crescente aumento da procura consequencias nos países mais frágeis?
destes produtos devido ao crescimento da população, a melhoria do nível de A resposta imediata a crise passa por um conjunto de medidas . A combinação
8 vida em países como a China e a Índia e consequente diversificação das dietas destas medidas poderá criar o espaço político para as soluções de longo prazo
e aumento to consumo de carne e proteínas, progressiva redução de stocks mencionadas antes. Quais as medidas necessárias:
a nível mundial, crescente uso de cereais para a produção de combustível e 1) Aumentar a assistência alimentar as camadas em risco de entrarem numa
estagnação do aumento da produtividade na produção agricultura devido a situação de fome em países que já tenham uma situação humanitária
redução de investimentos na investigação agronómica. Mais recentemente extrema. Caso da Somália Afeganistão, Etiópia , Haiti etc.. Isto significa
o aumento do preço dos produtos petrolíferos tem um grande impacto no duplicar a assistência alimentar durante o ano de 2008 e manter esse nível
preço de fertilizantes combustíveis e outros produtos críticos para a produção nos próximos anos;
de produtos alimentares agravando a situação. Este impacto ainda não se fez 2) Introduzir ou alargar esquemas de protecção social dirigidos as camadas
sentir na sua extensão máxima e restringe a resposta que seria de esperar de mais vulneráveis , Contrariamente aos países mais desenvolvidos os sistemas
um aumento rápido da produção por parte dos produtores como resposta de assistência social ou não existem ou são bastante reduzidos nos países
aos preços mais altos ao produtor. Só em 2008 a FAO prevê que o mundo mais afectados. Este e o momento de introduzir um mínimo de programas
gastara US $ 1,035 em importações de Alimentação isto e US $ 215 biliões mais de assistência social que em primeiro lugar devem ser dirigidos as crianças
do que em 2007. com menos de dois anos e as suas mães mas que podem ser alargados
através do uso das cantinas escolares as crianças em idade escolar em
A subida dos preços dos produtos alimentares trás consigo o perigo de particular das escolas primarias. Estas medidas podem incluir programas de
instabilidade politica em alguns países onde manifestações e distúrbios já apoio nutricional, transferências financeiras ,cantinas escolares e programas
tiveram lugar em grande escala. Este perigo e particularmente agudo em de criação de emprego com mão de obra intensiva (plantação de arvores,
países de frágeis democracias acabados de sair de situações de conflito onde limpeza de lixo, recuperação de infra-estruturas escolares degradadas
as instituições políticas e sociais são frágeis e terão dificuldades financeiras de etc..).O objectivo destes programas devera ser proteger as camadas mais
responder rapidamente com medidas que acalmem o pânico social derivado vulneráveis e deste pode reduzir medidas de subsídios globais que não
da subida rápida dos preços. Outros países que serão bastante afectados distinguem aqueles que mais necessitam daqueles que não necessitam e
são aqueles que já se encontram devido a conflitos seco ou outros desastres que custam imenso ao Estado e não podem ser mantidos por muito tempo
em situações Humanitárias precárias . Exemplo deste tipo de países são a não ser com o risco de destabilizar os balanços macroeconómicos;
a Somália ou a Etiópia ou conflitos prolongados caso da Somália ou secas 3) Promover a produção agrícola dos pequenos camponeses das zonas mais
consecutivas caso da Etiópia reduziram significativamente a capacidade do afectadas através de subsídios a sementes melhoradas acesso a fertilizantes
pais alimentar a sua população. Vários relatórios das Nações Unidas indicam e outros insumos agrícolas;
que se a ajuda alimentar não duplicar nos próximos meses iremos assistir a 4) Rever taxas que penalizam o comercio de produtos agrícolas alimentares;
fomes em alguns destes países. Medidas de restrição das exportações ou 5) Tornar disponível aos países mais pobres grandes importadores de petróleo
estabelecimento de novas taxas de exportação de produtos alimentares por e produtos alimentares meios financeiros concessionais de apoio a balança
parte de países tradicionalmente exportadores de cereais e outros produtos de pagamentos e a importação de produtos alimentares;
alimentares vieram aumentar as dificuldades e criar pânico nos mercados 6) Restringir o uso de cereais para a produção de biocombustível .
internacionais de comercio de produtos alimentares levando a especulação
nos mercados de cereais deste modo aumentando as dificuldades dos países
mais frágeis de terem acesso a compra de produtos alimentares. Este conjunto de medidas urgentes pode ser financiada pelos governos dos
países afectados com o apoio dos países que hoje beneficiam da escalada de
Como enfrentar o problema da subida dos preços? preços que são essencialmente os países produtores de petróleo em particular
Não há soluções mágicas para o problema já que como explicamos antes e os países do Médio Oriente e os países grande exportadores de produtos
uma combinação de problemas complexos que se acumularam e levaram agrícolas nomeadamente a União Europeia e Estados Unidos. Se não houver
ao rebentar da crise. Apenas um aumento rápido da produção alimentar uma acção concertada mundial que ajude a estabilizar a situação podemos
e consequente oferta no mercado internacional poderá levar a uma estar a entrar numa década de grande instabilidade com consequencias
estabilização dos preços. Como vimos o crescimento da população que imprevisíveis na paz a nível mundial.
continuara nas próximas décadas – apenas por volta de 2050 a população
tendera a estabilizar a um nível de cerca de 9 biliões de habitantes cerca de por Manuel Aranda da Silva, WFP Senior Advisor, Ex-ministro do Governo
40% mais do hoje. E de esperar também que o melhoramento do nível de vida Moçambicano
energia e produção alimentar no mundo - banco mundial

““O
O Banco
Banco Mundial
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desfavorecidos que
que
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foram afectados
afectados pela
pela crise
crise alimentar.”
alimentar.” Donald O. Mitchell
Economista no departamento de
Economia e Desenvolvimento do Banco
Mundial

| Energia e Produção Alimentar - no Mundo


Uma menor produção agrícola, alterações climáticas,
mais consumo de carne e o uso dos cereais para em África…
21 de 36 países que se encontram numa crise de segurança
biocombustiveis tem levado a um aumento dos preços
alimentar estão na África Sub Sahariana, de acordo com
dos alimentos. O trigo subiu 120%, o arroz subiu 75% e a FAO. A região importa 45% do seu trigo e 84% de arroz.
as familias mais pobres gastam cerca de 80% do seu África Ocidental, o ‘Corno de África’ e estados frágeis estão
orçamento em alimentos. especialmente vulneráveis; Choques relacionados com
alterações climáticas e guerras civis aumentam o impacto
em alguns países.
O Banco Mundial contabilizou 33 países onde estão previstos
movimentos sociais violentos devido ao aumento do preço dos e na Ásia…
alimentos, isto foi ‘’Baseado num inquérito efectuado, a partir
da sede do Banco Mundial, a economistas que trabalham A maioria dos países do Sul Asiático são importadores de
nesses países, disse-nos Donald O. Mitchell. Ele expressou-nos alimentos e sofreram vários choques nestas trocas. Uma
a sua preocupação relativa à relação entre a busca de lucro e saca de 2Kg de arroz custa agora metade do orçamento
a fome mundial: “ Ele expressou-nos a sua preocupação relativa à diário de uma familia pobre do Bangladesh ou Indonésia, o
relação entre a busca de lucro e a fome mundial: ‘’O aumento da aumento de 10% no preço do arroz significa mais 2 milhões
utilização de culturas alimentares nos EUA e noutros países de pessoas que entram na pobreza, de acordo com um 9
é uma grande preocupação, especialmente quando esses estudo recente.
países estão a utilizar terrenos excedentários que não estão
disponíveis para a produção de biocombustíveis e também
quando existe uma concorrência directa com as culturas “Tentamos, de facto, dar resposta às verdadeiras necessidades.
alimentares’’. Podemos não conseguir ajudar em todas as situações tanto
como gostaríamos, mas tentamos seguramente responder
às necessidades dos pobres de todos os países e estamos
O alto preço dos bens alimentares é uma luta diária para muito activos em vários países que prosseguem políticas que
mais de 2 biliões de pessoas. Os preços altos ameaçam agradam a determinados países, mas tentamos apoiar o
máximo de casos possível. Por isso, não creio que estejamos
um aumento da sub nutrição, que já é causa de morte a tentar impor um forte juízo político ao responder às
pra mais de 3.5 milhões de crianças por ano. Estima-se necessidades dos pobres..”
que cerca de 100 milhões de pessoas estão na pobreza
Donal O. Mitchell insistiu que o Banco Mundial está ‘’ envolvido de
nos últimos 2 anos e é esperado que os preços se forma muito activa na análise das mudanças climáticas a nível
mantenham altos até 2015. mundial e respectivos impactos, e estamos preparados para
auxiliar os países a adaptarem-se a esses mudanças.
A subida dos preços dos alimentos é um problema muito
‘’O Banco Mundial tem sido extremamente rápido a actuar. grave e sério que criou dificuldades a muitas pessoas que
Temos tentado auxiliar os países para que estes consigam vivem na pobreza e que gastam pelo menos metade dos deus
enfrentar a subida dos preços dos bens alimentares e prestar rendimentos em alimentação. Tendo em conta que esta é uma
auxílio aos mais desfavorecidos que foram afectados pela grande preocupação para o banco, este tem estado muito
crise alimentar. Julgo que temos sido extremamente rápidos activo e envolvido na concepção de políticas de auxílio à
a actuar e fizemos muito, mas há sempre algo mais que pode pobreza e também aos países.’’
ser feito e não estamos sozinhos a enfrentar estes problemas,
mas o banco tem sido extremamente sensível a estas questões
e parece-me injusto afirmar que não temos actuado com
rapidez. Demos início a inúmeras acções para tentar ajudar
os países a enfrentar todas as consequências dos elevados
preços dos alimentos, incluindo o auxílio aos pobres, ajudando
os países no financiamento das importações de produtos
alimentares quando tal se revela necessário, contribuindo para
melhorar a capacidade produtiva dos pequenos agricultores
para que dessa forma possam contribuir para aumentar a
produtividade dos seus próprios países e, ao mesmo tempo,
beneficiar da subida do preço dos alimentos no caso de serem by Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt). As opiniões expressas
produtores e ajudar também os consumidores a enfrentar as neste artigo são as do autor e não representam necessariamente as do Banco
consequências dos elevados preços dos alimentos.” Mundial ou políticas do Banco Mundial.
energia e produção alimentar no mundo - fmi

Felix Fischer
Representante do FMI
em Maputo, Angola

Existe saída para a crise


| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

alimentar e petrolífera?
O Fundo Monetário Internacional (FMI)
orienta os países na resposta política
macroeconómica a um nível optimizado

10 Os preços elevados dos alimentos são actualmente uma entraves à necessária distribuição mundial de alimentos e estimulam
preocupação humanitária e ameaçam impedir que se alcancem o aumento do preço do petróleo. No entanto, todos os países
os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. São também uma dependem do comércio livre para alimentar as suas populações.
fonte de desafios macroeconómicos que afectam os orçamentos, as A conclusão da Agenda de Doha poderia desempenhar um papel
balanças comerciais e, obviamente, os rendimentos a nível mundial. fundamental a este respeito, pois permitiria reduzir as barreiras e
Mesmo que recentemente os preços tivessem baixado dos valores distorções comerciais e promover o comércio de produtos agrícolas.
mais altos de sempre, estes teriam permanecido substancialmente A liberalização agrícola conduziria à estabilização mundial dos
acima dos níveis registados nos últimos anos. O resultado é um preços dos produtos o que levaria a investimentos de longo prazo na
golpe devastador para os pobres espalhados por todo o mundo, produção agrícola.
que gastam frequentemente metade dos seus rendimentos em
alimentação. Para além de preocupações humanitárias os preços elevados
dos produtos agrícolas são também responsáveis por desafios
O problema dos preços elevados dos bens alimentares irá muito macroeconómicos. Estima-se que o preço elevado dos alimentos e
provavelmente acompanhar-nos durante os próximos tempos. Esta do petróleo tenha um impacto directo nas balanças comerciais dos
subida dos preços resulta, em parte, de um forte crescimento do países da África subsaariana que poderá atingir, em média, cerca
lado da procura que não é mais do que um reflexo do crescimento de 1% do PIB em 2008, enquanto que em alguns países, como por
do rendimento per capita nos mercados emergentes. Há já alguns exemplo o Malawi, esse impacto negativo poderá atingir 4% do
anos que o mundo tem vindo a consumir mais alimentos do que PIB. O impacto inflacionista dos recentes aumentos dos produtos
produz, fazendo com que os preços tenham aumentado e as reservas alimentares é uma preocupação especialmente para os países em
atingido níveis historicamente baixos. Além disso, o ciclo do preço desenvolvimento e para as economias emergentes, onde o aumento
dos bens alimentares está irrefutavelmente correlacionado com do preço dos alimentos foi responsável por cerca de 70% da inflação
o ciclo do petróleo. O custo dos fertilizantes e do transporte são global, em 2007. Os decisores políticos têm que definir o ritmo a que
afectados pelo preço do petróleo que aumentou de forma dramática aumentam os preços dos produtos alimentares, a forma de prevenir
num curto espaço de tempo, e mesmo que baixasse dos máximos que estes aumentos conduzam a expectativas inflacionistas cada vez
históricos já registados, o preço do petróleo permaneceria elevado. mais elevadas, e como solucionar qualquer falta de financiamento
resultante da balança de pagamentos e do saldo orçamental.
A subida dos preços dos alimentos foi agravada pelo ressurgimento
de restrições ao comércio. É também, em parte, resultado do O FMI recomendou, de uma forma geral, que as respostas políticas
aumento da produção de biocombustíveis. O FMI estima que os sigam alguns princípios gerais, começando pelos mais urgentes:
biocombustíveis tenham sido responsáveis por quase metade proporcionar alimentos àqueles que mais deles necessitam e
do aumento do consumo das principais culturas alimentares em reforçar as redes de segurança social através de transferências e
2006 e 2007. A quantidade de bens alimentares armazenados subsídios dirigidos aos grupos mais vulneráveis. Para além disso,
a nível mundial é suficiente para suprir a procura actual, mas as a transição para preços domésticos mais elevados tem de acabar
restrições ao comércio, o açambarcamento por parte dos governos, por ser permitida, podendo no entanto ser gradual. A primeira fase
o controlo de preços e outras políticas proteccionistas criam de aumento do preço dos alimentos e do petróleo não necessita
“A subida dos preços dos alimentos
foi agravada pelo ressurgimento de
restrições ao comércio. É também,
em parte, resultado do aumento
da produção de biocombustíveis. ”

| Energia e Produção Alimentar - no Mundo


da intervenção de uma política monetária de reequilíbrio, mas
antes de uma política firme para combater as expectativas Julho de 2008, 9 dos 18 países africanos mais afectados tinha já
inflacionistas e impedir que as primeiras fases de aumento de recebido assistência financeira adicional do Fundo, quer sob a forma
preços não se transformem em inflação generalizada. Outra das de alargamento do Programa de Financiamento para Redução da
medidas recomendadas inclui o investimento em infra-estruturas Pobreza e Crescimento (PRGF) – Benin, Burkina Faso, República
e na melhoria do acesso ao financiamento para investimento na Centro-Africana, Guiné, Madagáscar e Malawi – ou no contexto
agricultura. Por último, as medidas devem também combater de novos acordos – Burundi, Mali e Níger. Inúmeros pedidos para
as causas da crise: tais como a distorção dos mercados agrícolas alargamento das ajudas ou novos acordos, incluindo no âmbito
mundiais e regionais que desencorajam a produção em países de do Mecanismo para Choques Exógenos (ESF) do FMI, estão a ser 11
baixo rendimento; algumas políticas de biocombustíveis; e, ainda, debatidos. Ao mesmo tempo que as autoridades controlam a
os elevados preços da energia que levam ao aumento do custo dos sustentabilidade a longo prazo das suas políticas, podem investir em
fertilizantes e do transporte dos produtos alimentares. programas fundamentais para manter as populações bem nutridas.

A segurança alimentar é um dos principais objectivos de qualquer No entanto, a margem orçamental necessária para permitir o
governo e as políticas recomendadas pelo FMI pretendem apoiar financiamento sustentável de medidas compensatórias. Para muitos
este objectivo. No entanto, os países não devem ter como meta a países pobres a ajuda necessária será proveniente da comunidade
auto-suficiência alimentar. Devem, pelo contrário, ter como objectivo internacional que satisfará essas necessidades. O financiamento
a produção onde as vantagens comparativas sejam maiores. As externo suplementar pode desempenhar um papel fundamental,
políticas de auto-suficiência são na maioria dos casos ineficazes, ajudando a financiar importações indispensáveis e concedendo
provocam a distorção dos mercados e consomem recursos escassos alguma margem de manobra para os países implementarem os
que, caso contrário, poderiam ser aplicados nas áreas da saúde e ajustes necessários e permitir o aumento das despesas com a
educação. A segurança alimentar pode ser alcançada de uma forma agricultura e as redes de segurança social.
mais barata através de estratégias de seguros, incluindo estratégias
que envolvam a comercialização de futuros sobre mercadorias. Para um país como Moçambique que possui uma imensidão de
terrenos férteis inutilizados, a actual crise alimentar afigura-se
A maioria dos países recorre a algum tipo de subsídios. claramente como uma janela de oportunidade para aumentar a
Recomendamos a eliminação de subsídios generalizados, tais produção agrícola. As políticas a implementar devem ser capazes
como os subsídios aos combustíveis, pois são tendencialmente de solucionar as limitações dos agricultores de forma a aumentar a
regressivos e dispendiosos. Ao invés, as políticas adequadas para dar produção.
resposta a este problema devem incluir transferências direccionadas
sobretudo para os mais pobres. A maioria dos países tem numerosas Quando se define um conjunto de respostas políticas e o seu
necessidades sociais e económicas e recursos escassos, assim seria ritmo de implementação para fazer face à actual crise alimentar
inapropriado utilizá-los para apoiar o consumo dos ricos. e petrolífera é importante ter em consideração as implicações em
termos de desenvolvimento e redução da pobreza. A comunidade
O FMI, em cooperação com outros parceiros de desenvolvimento, internacional deve trabalhar em conjunto para assegurar que a
respondeu rapidamente à crise disponibilizando aconselhamento subida dos preços não provoca dificuldades excessivas seja em
político, avaliação do impacto da crise na balança de pagamentos, que parte do mundo for, mas ao mesmo tempo é necessário que
assistência técnica e apoio financeiro. Os programas apoiados os mercados respondam produzindo mais alimentos e fazendo-os
pelo FMI são concebidos para facultar rápido apoio financeiro que chegar aos mais necessitados.
permita fazer face às necessidades da balança de pagamentos e
para proporcionar margem de manobra orçamental que permita
por Felix Fischer, Representante Permanente do Fundo Monetário Internacional
identificar as despesas prioritárias dos governos, não colocando em Maputo, Moçambique. As opiniões expressas neste artigo são as do autor e
em perigo a estabilidade macroeconómica. No final do mês de não representam necessariamente as do FMI ou políticas do FMI.
energia e produção alimentar no mundo - união europeia

Ferran Tarradellas
Porta-Voz do Comissário
Europeu de Energia
Andris Piebalgs
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

“A comissão quer assegurar-se de que os preços dos alimentos não sofrerão


quaisquer impactos negativos, sendo que a directiva inclui um sistema de
monitorização que obrigará a Comissão a analisar, a cada dois anos, o impacto
da política de biocombustíveis, os preços dos bens alimentares e as condições
sociais dos trabalhadores. ”

Im))pactus: 1. Actualmente a energia é o principal tema países em desenvolvimento mais atingidos.


de debate a nível mundial. Qual é o maior problema: a
necessidade de aumentar a produção ou uma melhor I.: 2. Renováveis vs. nuclear. Berlusconi afIrmou recentemente
racionalização e poupança na forma como os agentes que o futuro da Europa pode passar pelas centrais nucleares…
12 Qual destas opções poderá fazer face aos problemas
económicos a utilizam?
Ferran Tarradellas: O mundo depara-se com um enorme desafio associados às emissões de CO2?
energético e ambiental, um desafio particularmente difícil para a Europa. F.T: Apesar de nem todos os países europeus terem optado pela energia
Estima-se que a procura energética aumente para mais do dobro até nuclear, esta representa mesmo assim 30% da electricidade produzida
2030, e que a procura de petróleo cresça 40% durante o mesmo período. na UE e é a maior fonte de energia disponível com baixas emissões de
A Europa já importa, actualmente, metade da energia que consome e carbono. A UE deveria proceder ao desenvolvimento de um quadro mais
prevê-se que este valor aumente para 2/3 até 2030 a não ser que sejam avançado para a energia nuclear, incluindo a gestão de resíduos e o
tomadas medidas. desmantelamento, respeitando os Estados-Membros que optem, ou não,
por esta forma de energia.
Os potenciais efeitos da dependência europeia face à importação de
energia são graves. Com os preços do petróleo a aproximarem-se dos I.: 3. A energia verde produzida a partir dos cereais constitui
150 dólares por barril, a factura energética da União Europeia (UE) pode actualmente uma das opções para a produção de energia
aumentar 170 mil milhões de euros ou 350 mil milhões de euros adicionais com menor emissão de CO2.Poderá o continente africano ser
que sairão dos bolsos dos cidadãos da UE. A Europa está particularmente encarado como um potencial “celeiro mundial”?
vulnerável a um choque provocado pela subida dos preços, e tal como F.T.: A Comissão sublinha a necessidade de um desenvolvimento
a Agência Internacional de Energia referiu “a capacidade e vontade de coordenado de biocombustíveis sustentáveis através da UE. É de especial
investimento dos maiores produtores de petróleo e gás natural, de forma importância definir esses objectivos agora, dado que os produtores darão
a satisfazerem a procura mundial, são particularmente incertas.” em breve início à concepção de veículos que, no futuro, funcionarão
com base nesses combustíveis. Apesar dos biocombustíveis serem
Apesar do impacto da importação europeia de energia ser motivo mais dispendiosos do que outras formas de energias renováveis, são
de preocupação, as consequências ao nível da segurança poderão actualmente a única forma de reduzir significativamente a dependência
ser terríveis. As reservas de petróleo e gás natural são cada vez mais do petróleo no sector dos transportes, nos próximos 15 anos. E a Comissão
controladas por monopólios de um punhado de países, e as acções irá definir condições extremamente humilhantes para assegurar que os
mais recentes de alguns destes monopólios sugerem que a segurança combustíveis utilizados na UE são produzidos de acordo com critérios de
energética é uma questão de contornos geopolíticos. A diversificação dos sustentabilidade.
abastecimentos energéticos da Europa é uma prioridade urgente.
O crescente aumento do consumo de energia não é apenas uma Este é o motivo pelo qual, pela primeira vez, a Comissão definiu critérios
ameaça à economia europeia e à estabilidade política, é também uma de sustentabilidade que asseguram aos consumidores europeus que
questão que se interliga aos desafios ambientais, nomeadamente às os biocombustíveis utilizados na Europa, e que recebem apoios, são
mudanças climáticas. Prevê-se que as emissões mundiais de dióxido sustentáveis. O público precisa de ter a garantia de que os biocombustíveis
de carbono (CO2) – que representam 75% de todos os gases com que compra não aumentam as emissões de gases com efeito de estufa,
efeito de estufa – aumentem 55% até 2030, prevendo-se ainda que as não contribuem para a destruição de florestas tropicais ou de outras áreas
emissões provenientes da UE aumentem 5%. O impacto deste cenário ricas em biodiversidade, não contribuem para a escassez de alimentos e
no ambiente, na economia e no modo de vida dos cidadãos europeus não são demasiado caros.
seria tremendo. Por exemplo, um aumento de seis metros no nível do
oceano provocaria a submersão de vastas áreas das cidades de Barcelona, I.: 4. Existe algum perigo dos principais produtores de cereais
Veneza, Amesterdão, Londres, Estocolmo e Lisboa, seria responsável pararem a sua exportação?
pelo agravamento da falta de água em várias regiões do Sul da Europa, e F.T.: Não creio que a nossa política de biocombustíveis tenha um grande
poderia dar origem a um fluxo de milhões de refugiados provenientes dos impacto nos mercados de cereais. O objectivo da UE (10% até 2020)
implica um crescimento no consumo de produtos agrícolas destinados a I.: 7. A UE defIniu a meta de 10% em biocombustíveis até 2010.
biocombustíveis de 4 milhões de toneladas por ano. O consumo mundial Este objectivo é, ou não, contraditório tendo em conta a crise
de cereais ronda as 2.200 milhões de toneladas por ano. Por isso, não alimentar?
compreendemos como é que um aumento de 4 milhões de toneladas por F.T.: Tal como já referi anteriormente, o objectivo da UE (10%, até 2010)
ano pode condicionar um mercado de 2.200 milhões de toneladas. implica um aumento do consumo de produtos agrícolas destinados a
biocombustíveis de 4 milhões de toneladas por ano. Em 2006, de acordo
I.: 5. Quais são os limites e os objectivos que devem ser com dados da FAO, o consumo mundial de cereais foi de 2.200 milhões
defInidos relativamente à plantação de cereais para de toneladas. É difícil compreender de que forma um aumento anual de 4
biocombustíveis? E quem deverá defInir esses limites? milhões de toneladas poderá condicionar os preços num mercado de 2.200
Organizações supranacionais tais como o Banco Mundial, o milhões de toneladas. Tem sido referido que talvez seja a produção de milho
G8 ou a UE? nos EUA a impulsionar os preços elevados que se registam actualmente,
F.T.: A comissão quer assegurar-se de que os preços dos alimentos não mas, mais uma vez, os dados demonstram o inverso. O aumento da procura
sofrerão quaisquer impactos negativos, sendo que a directiva inclui um de matéria-prima para a produção de biocombustíveis, nos EUA, entre 2006
sistema de monitorização que obrigará a Comissão a analisar, a cada e 2007, foi de 12,5 milhões de toneladas. Mais uma vez não se compreende
dois anos, o impacto da política de biocombustíveis, os preços dos bens de que forma 12,5 milhões de toneladas podem ter impacto num mercado
alimentares e as condições sociais dos trabalhadores. Um dos principais de 2.200 milhões de toneladas. De facto, mesmo que a produção norte-
responsáveis pelos elevados preços dos alimentos é precisamente o americana de milho, tenho dado resposta à procura de biocombustíveis, os
preço alto do petróleo. Uma das poucas ferramentas de que a Comissão EUA aumentaram a produção de bioetanol e aumentaram a exportação
dispõe para fazer baixar os preços é precisamente a utilização dos do milho excedentário. Ao contrário do que habitualmente se supõe, os

| Energia e Produção Alimentar - no Mundo


biocombustíveis. Consequentemente devemos colocar num dos pratos biocombustíveis não provocaram uma redução do milho existente no
da balança as oportunidades e no outro as apreensões. Não devem ser mercado, mas antes um aumento. De facto, não é o milho mas sim o
esquecidos os benefícios que os biocombustíveis podem provocar nos arroz o cereal acusado do aumento dos bens alimentares, e o arroz nunca
países em desenvolvimento. A FAO e outras organizações, tais como é utilizado para a produção de uma única gota de biocombustíveis. Na
o Banco Mundial, reconheceram que os biocombustíveis podem fazer verdade, a nível mundial, o produto agrícola mais utilizado para a produção
disparar o investimento na produtividade agrícola nos países do terceiro de biocombustíveis é a cana-de-açúcar, no Brasil, onde metade dos veículos
mundo. Mas para que tal suceda, os agricultores desses países necessitam utiliza um bioetanol à base deste açúcar. Mas, curiosamente, o preço do
de uma segurança de investimento que só objectivos vinculativos podem açúcar não sofreu os aumentos vertiginosos de outros produtos agrícolas,
proporcionar. bem pelo contrário, neste momento é mais baixo!

I.: 6. Como será possível, a longo prazo, atingir o equilíbrio Logicamente, devem existir outras causas para os aumentos dos preços dos
entre a oferta e a procura de bens alimentares e de bens alimentares. Os especialistas sugerem que o aumento dos preços, a
combustíveis ecológicos? nível mundial, se deve a vários factores: o principal é o dólar fraco (a ajuda
F.T.: A Comissão considera que os benefícios de longo prazo dos alimentar é comprada com dólares… uma das razões para o menor poder
biocombustíveis em termos de emissões de CO2, de segurança de de compra do PAM este ano, quando comparado com anos anteriores); o
fornecimento e de novas oportunidades agrícolas (na UE e a nível aumento da população mundial; as baixas colheitas em muitas regiões do
mundial) pode ser alcançado adoptando os seguintes princípios: um planeta; o aumento da procura na Ásia oriental – à medida que se alteram
objectivo limitado (10%); critérios de sustentabilidade robustos e o os hábitos de alimentação (aumento do número de refeições diárias e
último, mas não menos importante, uma aposta dos biocombustíveis aumento do consumo de carne); restrições às exportações na Ucrânia e 13
de segunda geração. Se não se perderem de vista estes princípios, creio na Rússia (são habitualmente dos maiores fornecedores mundiais) e por
que não haverá lugar a desequilíbrios nos mercados dos biocombustíveis último, mas não menos importante, o aumento do preço do petróleo (com
e de bens alimentares. No entanto, comprovar se este facto é, ou não, efeitos indesejáveis nos custos dos transportes). Não nos esqueçamos que
verdadeiro será o papel do sistema de monitorização que a directiva uma das poucas ferramentas ao dispor da Comissão para fazer baixar os
Renováveis implementará. preços do petróleo é, precisamente, os biocombustíveis.

por Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).


energia e produção alimentar - crítica

Michael Hopkins
Director, MHC International Ltd.

Será que o pilar AMBIENTAL


| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

da RSE foi sobrevalorizado?


“Apelo a todos aqueles que se preocupam com a futura catástrofe provocada pelas Alterações Climáticas, para que incluam não
só medidas de cariz Ambiental mas também de Desenvolvimento Socio-Económico, dado que ambas as áreas estão intimamente
interligadas e caso não sejam tomadas medidas haverá consequências gravosas para todos nós.”

Introdução A minha opinião


Al Gore efectuou um óptimo trabalho ao conseguir trazer o debate Parece claro que o aquecimento global é um dos principais temas
14
ambiental para a ordem do dia. Mas se, ao menos, tivesse feito o do momento. Curiosamente, a comprovação de que as emissões
mesmo esforço em relação a outra questão fundamental – a área de carbono contribuem para o aquecimento global ainda decorre.
social – quando teve oportunidade, o mundo seria actualmente Por exemplo [2], John Christy, Professor de Ciências da Atmosfera
um local bem melhor. Estou-me a referir às eleições presidenciais na Universidade de Alabama, é de opinião que a ciência não é
de 2000, onde acabou por desistir cedo demais, mesmo após ter totalmente fidedigna, até porque fazer previsões é uma “ciência”
obtido a maioria dos votos e sabendo que a contagem dos votos difícil e salienta que “quantificar o aquecimento que terá ocorrido
na Flórida tinha sido manipulada. Se tivesse continuado a lutar, devido ao aumento da emissão de gases de efeito de estufa e afirmar
recusando aceitar a derrota até à recontagem dos votos, então o aquilo que poderemos esperar no futuro, são respostas ainda repletas
maior desastre dos últimos sete anos – a guerra do Iraque, com um de enorme incerteza, na minha opinião”.
custo avaliado em 1.5 mil milhões de dólares – não teria acontecido.
O 11 de Setembro teria ocorrido, mas estaríamos numa posição A minha opinião, tal como a de muitos outros, é a de que se trata
moral bem mais confortável, em relação ao terrorismo, do que de uma ameaça demasiado importante e, por isso, se deve destinar
aquela em que nos encontramos neste momento devido à presença 1% do PIB, anualmente, para tornar o nosso planeta num local mais
desastrosa de George W. Bush na Casa Branca. É a isto que me refiro ecológico, tal como foi sugerido pelo Relatório Stern. Mas sejamos
quando relembro que as questões de cariz social não devem ser racionais acerca deste tema e actuemos onde possam ocorrer os
completamente dominadas pelo debate ambiental. maiores impactos.

Um e-mail que recebi recentemente estava imbuído da mesma A preocupação com o ambiente não é algo de novo. Os avisos de
linha de raciocínio. No grupo de discussão de RSE, CSR Chicks, catástrofe mundial vieram da equipa liderada por Donella Meadows
a Ulrika escreveu “Olá membros do grupo de discussão, será no livro “Os Limites do Crescimento” publicado em 1971. Mas os seus
que algum de vocês me saberá aconselhar relativamente a um autores tiveram o cuidado de referir que existiam outras catástrofes
seminário ou conferência de boa qualidade sobre Investimento e a falecida D. Meadows, com quem tive o privilégio de trabalhar, era
Socialmente Responsável (ISR)? O ISR parece estar muito centrado nessa altura uma entusiasta defensora da redução da pobreza na
em “Investimentos Ecológicos” e em questões ambientais. O que eu Índia.
procuro é uma conferência acerca de ISR, mas centrada em direitos
humanos, direitos laborais, corrupção e também sobre ambiente.” As questões ambientais são algo sobre o qual é fácil entusiasmarmo-
nos. Durante a Guerra Fria, nos anos 70, a única instituição
internacional criada para estabelecer uma ponte entre o Ocidente
Tendências e o Oriente foi o Instituto Internacional para a Análise de Sistemas
Num recente inquérito mundial às empresas sobre questões político- Aplicados (IIASA) [3]. Ficou sedeada nos arredores de Viena, com o
sociais, da autoria da McKinsey [1], mais de metade dos participantes objectivo de aplicar a técnica de análise de sistemas aos problemas
escolheu o ambiente, incluindo as alterações climáticas, como ambientais transfronteiriços – um sector considerado, na época,
um dos três temas que mais irá atrair a atenção dos políticos e como não político! Actualmente, como é óbvio, esta instituição
do público nos próximos cinco anos, em comparação com 31% no trabalha na criação de modelos de aquecimento global e 17 cientistas
anterior inquérito. do IIASA foram os autores e revisores do Quarto Relatório de
“As empresas e o público são bombardeados com a
necessidade de se tornarem mais ecológicos – reduzir
as emissões de dióxido de carbono, comprar produtos
orgânicos e produzidos localmente, poupar água – e,
sem surpresa, a parte “social” da RSE não está a ser alvo
de toda a atenção que merece. ”

| Energia e produção alimentar - critica


Avaliação do Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas da comunidade mais vasta na qual se inserem e desejam saber qual a
(PIAC) concluído recentemente. forma correcta de cuidar dos seus colaboradores que muitas vezes se
encontram em locais remotos e inóspitos.
Como os leitores saberão, defendi recentemente num artigo mensal
[4] que devemos escolher cuidadosamente as nossas catástrofes De facto, as grandes empresas, tal como já referi inúmeras vezes nos
mundiais! Escrevi o seguinte: “… na tentativa de solucionar a nossos artigos mensais, têm responsabilidades que vão muito para
potencial catástrofe do Aquecimento Global, estar-se-á a desviar a além das suas habituais dietas. Podem também, em alguns casos
atenção da catástrofe da pobreza e do subdesenvolvimento?” (consultar o artigo mensal, na MHCI, sobre RSE e o Complexo Militar
Industrial), afectar de forma negativa questões fundamentais. Logo,
a minha principal tese é a de que as grandes empresas não deviam
Pode a RSE ser o motor? ir ao extremo do entusiasmo em relação às questões ambientais
sem também terem em consideração as principais questões sociais
e, como é óbvio, as suas próprias questões económicas. Geralmente, 15
não se pretende que as empresas deixem de ter lucro pois, como é
evidente, acabariam por definhar e morrer, o que não tem qualquer
utilidade para os apoiantes da RSE. Que questões sociais são
estas? Quais são as implicações entre estar centrado nas questões
ambientais comparativamente às questões fundamentais de cariz
social? Qual a relação entre a degradação ambiental e a precariedade
social e a pobreza?

Apelo a todos aqueles que se preocupam com a futura catástrofe


provocada pelas Alterações Climáticas, para que incluam não só
medidas de cariz Ambiental mas também de Desenvolvimento
Socio-Económico, dado que ambas as áreas estão intimamente
interligadas e caso não sejam tomadas medidas haverá
consequências gravosas para todos nós.

Michael Hopkins é Professor de Responsabilidade Social Empresarial


na Middlesex University Business School e Director Executivo da
consultora de RSE e grupo de reflexão MHC International Ltd.. Entre
os seus livros já publicados encontram-se “The Planetary Bargain:
Acredito que a RSE é o motor que poderá estabelecer a ligação entre Corporate Social Responsibility Matters” (Earthscan, 2003) e
todos estes conceitos. A minha definição de RSE é actualmente a “Corporate Social Responsibility and International Development: Is
seguinte: “tratar os principais stakeholders das organizações de uma Business the Solution?” (Earthscan, 2006).
forma responsável”. Não a vou aqui defender dado que lhe dediquei
um longo capítulo no meu livro “CSR and International Development
– Is Business the Solution” (Earthscan, Londres, 2007) [5].
por Michael Hopkins com agradecimentos a Ivor Hopkins e a Jawahir Adam da
Assim, a RSE abrange a maioria dos stakeholders e as principais MHCi pelos comentários e alterações à versão preliminar.
áreas de âmbito social, económico e ambiental. Em parte alguma,
[1] Avaliar o impacto das questões de cariz social: A McKinsey Global Survey, Novembro, 2007
até à data, é possível encontrar uma avaliação tão abrangente sobre [2]Citado pela BBC a 13 de Novembro de 2007.
quais devem ser as prioridades. Para as empresas é muitas vezes Consultar http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/7081331.stm
evidente quem são os seus principais stakeholders e quais devem [3] http://www.iiasa.ac.at/docs/history.html?sb=3
[4] MHCi Monthly feature consulte www.mhcinternational.com
ser as suas prioridades de RSE. No entanto, as prioridades perdem [5]Michael Hopkins: CSR and International Development – Is Business the Solution?
clareza quando as empresas tentam ir ao encontro das preocupações (Earthscan, Londres, Dezembro 2006, cuja versão revista será publicada pela Earthscan em
Outubro de 2008).
efIciência energética - referências

EfIciência Energética

| Eficiência Energética - referências


Analisar, Agir e Transformar, por Bruno Cachaço

A eficiência energética tem de ser vista como uma necessidade, 6 anos, a economia Portuguesa tem tido periodos de recessão
como algo inerente ao desenvolvimento e crescimento sustentável. económica e abrandamento, o que tem implicações muito concretas
É por isso que assistimos a países, empresas e particulares, por na diminuição do poder de compra do cidadão.
todo o Mundo, a dar o próximo passo em busca de uma importante
transformação energética. Ao nível das empresas encontramos o Manual de boas práticas de
eficiência energética, publicado pelo BCSD, bem como estudos de
17
Esta transformação terá que se assumir como um compromisso privados que analisam a eficiência energética em PME’s; em Portugal
mundial, onde os Estados devem estabelecer metas e objectivos conclui-se que a manutenção e exploração de equipamentos
delineando um plano; onde as empresas e privados devem antecipar- consumidores de energia são as áreas com maior potencial de
se e por elas promover a sua eficiência energética reduzindo custos e poupança.Temos ainda análises aos lares Portugueses onde
transformando a sua energia; e onde cada um de nós pessoalmente percebemos que os mais jovens demonstram ter hábitos energéticos
tem de assumir responsabilidades e encontrar soluções adequadas. mais eficientes e que quanto maior o nível socio-económico,maior a
São já muitos os estudos, planos ou manuais de eficiência energética eficiência energética do lar.
que podemos encontrar. Da Comissão Europeia temos o Livro Verde
sobre eficiência energética [1] procurou identificar opções e facilitar A eficiência e poupança energética é vista por muitos como a
planos de acção concretos a nível comunitário, nacional, regional e ‘’4ª energia’’, ganhando às renováveis, combustiveis fósseis e
local. Pretendeu promover a eficiência energética pelos vários países nuclear considerando o desempenho energético, sustentável e
Europeus, fornecendo aos Estados os ‘’incentivos e instrumentos que o económico. Temos depois outra variante, a dimensão social do
estes necessitem para avançar para as acções’’. Mais recentemente tema, onde será imprescindivel a criação de uma cultura de hábitos
a International Energy Agency lançou um documento com comportamentais de eficiência energética, ainda distante, talvez
recomendações, inserido no plano de acção do G8, que não podia ser fruto das circunstâncias económicas adversas.
mais claro ao afirmar:’’Saving energy is the most rapid, least costly
way to reduce energy demand, CO2 emissions and energy supply Impõe-se então às empresas, particulares e sociedade de uma forma
investment needs’’ [2]. geral , que analisem as ineficiências energéticas, que ajam perante
elas, modificando a forma como consomem energia, reduzindo
Estamos numa fase de aprendizagem e de experiência, entenda-se: assim a sua factura energética e emissões associadas. É possível hoje
boas práticas energéticas, e identificação de formas inovadoras de realizarem-se auditorias energéticas, que permitem a identificação
poupar energia reduzindo as emissões e os custos. Encontramo-nos de mecanismos e tecnologias que permitirão reduzir a factura
assim em plena transformação\evolução energética. Exemplo disso de energia da sua empresa, condomínio e habitação. Que esta
é o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética(PNAEE), revolução energética já iniciada nos leve a uma nova era de energia,
que Quercus e LPN classificaram de “pouco ambicioso”, e que assegurando um futuro verdadeiramente sustentável.
prevê a redução do consumo de energia em 10% até 2015 partindo
de 4 áreas: transportes, residencial e serviços, indústria e Estado,
apostando também fortemente nas renovavéis. Temos por outro
lado estudos de empresas privadas que analisam o consumidor
europeu ,e o Português em particular, onde facilmente se conclui
que existe uma preocupação e intenção de tomar medidas, mas
existe ainda uma grande discrepância entre atitude e verdadeiro by Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).
comportamento, sendo que os custos financeiros prevalecem sobre
as preocupações ambientais como principal razão para a redução [1] (http://ec.europa.eu/energy/efficiency/doc/2005_06_green_paper_book_pt.pdf ).

do consumo energético. Não podemos esquecer que, nos últimos [2] (http://www.iea.org/textbase/papers/2008/G8_EE_2008.pdf ).
desafIos da energia - visão portuguesa

As energias
renováveis
e o impacto na
Agostinho Miguel economia mundial
e João Saraiva
Portal das Energias Renováveis
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Todos nós já ouvimos falar no “…dá-lhe uma cana de pesca e ensina-o solar fotovoltaico e dos biocombustíveis. No entanto a abordagem
a pescar…” em oposição a “…dá-lhe peixe para comer…” como sendo tem sido economicista e portanto todo o investimento tem vindo
uma metáfora de que é muito mais interessante aprender a resolver de fora com os dividendos a não ficarem em Portugal, nem o know
os problemas do que a ter a solução na mão sem qualquer esforço. how associado. Os portugueses não têm qualquer relação com as
As energias renováveis permitem a todas as comunidades agir de renováveis e os grandes problemas da nação actualmente: aumento
acordo com o ecossistema em que estão inseridos. O conceito de do preço dos combustíveis fósseis (todos estão indexados ao
desenvolvimento sustentável pode resumir-se no seguinte conceito: petróleo), desemprego, aumento do custo de vida podiam todos ter
não usar o que não temos. Esta forma de pensar levanta grandes uma resposta diferente caso o investimento nos recursos nacionais
18 questões aos padrões de vida actuais em que estamos habituados tivesse sido feito a par de formação de quadros nestas áreas.
a viver independentemente do ecossistema que nos rodeia. O facto
de passarmos a utilizar os recursos energéticos que nos rodeiam, Mesmo neste panorama sombrio as Energias Renováveis começam
apostando na descentralização, no equilíbrio ecológico, respeito pelo a fazer parte do léxico dos portugueses. Os “painéis solares” no
meio ambiente e sustentabilidade (por oposição a monopólios e a Alentejo, “as ventoinhas” na zona do oeste e norte do País são já
centralização) são a aposta clara para podermos viver em verdadeira citados por muitos, mas vejamos a real evolução da produção de
harmonia. energia eléctrica de acordo com a DGEG:

As energias renováveis caracterizadas no seu todo englobam:


solar fotovoltaico e térmico; eólica; biomassa e biocombustíveis;
hídrica; oceano, ondas e marés; geotermia. Todas estas fontes de
energia existem em diferentes proporções no planeta Terra e o uso
delas todas constitui a fórmula para que possamos aproveitar a ��� ��
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energia disponível em cada ecossistema sustentavelmente. Desde ��
calor, electricidade, passando por força motriz e indo mesmo ao ��

armazenamento temos tudo o que necessitamos. ��


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Grande parte dos problemas mundiais da humanidade actualmente ��
foram criados por nós próprios e a solução afigura-se algo �

complexa no mundo actual com todos os seus vícios. As Energias �



Renováveis e o seu uso resolverão grande parte dos problemas nos �
chamados países em desenvolvimento, porque poderão ter energia �
disponível com base nos seus recursos e não nos recursos dos países �������������������������������������������������������������������������������������������������

desenvolvidos (sejam eles tecnológicos ou mesmo em matérias


primas). O seu desenvolvimento será à medida das suas necessidades
versus disponibilidade. A verdadeira “cana de pesca” é ensinar “como
construir uma cana e quais os princípios básicos”!

Portugal é um país abençoado: ameno, com amplos recursos solares,


eólicos, em biomassa, hídricos, de marés, do oceano e mesmo
geotérmicos. No entanto somos totalmente dependentes dos
combustíveis fósseis, para lá da grande hídrica – apenas válida na
componente de produção de electricidade – e não apostámos em
qualquer outra forma de energia renovável para lá dos diversos mini
projectos de investigação que existem. Recentemente a energia
eólica saltou para os jornais como campeã das renováveis a par do
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Fonte: DGEG.
(PCH – Pequenas centrais hídricas > 10MW)

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


O crescimento eólico deu-se de pouco menos de 100 MW de potência instalada em 2000 para mais de 2000 MW em finais do ano de 2007,
isto significa um aumento de 20 vezes em apenas 20 anos. O fotovoltaico de 1,2 MW para 14,5 MW, em 7 anos quase 14 vezes.

Mas temos de ir aos menos falados: biomassa sem co-geração de 8 para 24, 3 vezes em 7 anos, biogás de 1 para 12,4, 12 vezes.
Comparemo-nos com a Europa:

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Fonte: DGEG

Estamos perto do topo e devemos estar contentes, mas pense-se em sustentável é um slogan e não um estilo de vida. Pode custar,
quantos de nós estiveram e estão ligados ao sector das renováveis; mas temos de ser capazes de perceber que existem limites!
Que o consumo energético não é electricidade apenas; Quantos Tecnologicamente precisamos de evoluir, necessitamos de nos
colectores solares térmicos temos instalados no nosso país? Que uso especializar e crescer numa vertente de independência e sermos
fazemos da geotermia? Porque continuamos a negligenciar as ondas capazes de nos sustentar e progredir em termos da nossa qualidade
do nosso mar? E as marés? de vida.

Fala-se também no aumento da fome e escassez de alimentos Ou seja podemos resolver o nosso problema com os nossos recursos
(cereais) a nível mundial e uma das formas de energia renovável – os e ao mesmo tempo poder ter algo em que podemos exportar
biocombustíveis – estão na sua origem, mas se observarmos o que conhecimento e tecnologia, bem como partilhar a nossa experiência
se passa na realidade vemos que os países desenvolvidos querem com outros povos.
irredutivelmente continuar agarrados aos seus estilos de vida e
os pobres têm de ver o seu milho e outras culturas alimentares
serem utilizadas para produzir combustível para os automóveis dos por Agostinho Miguel e João Saraiva, Portal das Energias Renováveis
norte-americanos e europeus. Mais uma vez o desenvolvimento (www.energiasrenovaveis.com).
desafios da energia - visão portuguesa

“Energia nuclear em
Portugal continua e ser uma
possibilidade real, e eu diria
agora uma inevitabilidade face
à evolução do contexto (...)”

Pedro Sampaio Nunes


Administrador da GreenCyber,SA
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Im))pactus.: 1. Pode-nos dar uma ideia do estado actual em chuvosos em 2009 e 2010. A chamada correcção da hidraulicidade que
que se encontra a energia nuclear em Portugal? é realizada para os valores reais que referi, é feita de forma incorrecta
Pedro Sampaio Nunes.: A energia nuclear em Portugal continua mesmo em relação à declaração sueca anexa a essa directiva que a
e ser uma possibilidade real, e eu diria agora uma inevitabilidade prevê, e está a induzir a opinião pública em erro.
face à evolução do contexto energético mundial, que se encontra
devidamente estudada desde o Plano Nuclear que culminou com
o Livro Branco dirigido ao Governo em 1983, e sobre o qual acabou I.: 3. Estamos a assistir a uma reactivação de centrais por
por não haver nenhuma decisão na altura. Esse Livro Branco foi o parte de alguns países, nomeadamente os ingleses. Como
culminar de um processo em que o País se preparou durante décadas, entende este facto?
e de que resultou hoje ainda em funcionamento o Instituto de P.S.N.: Estamos a assistir a uma reactivação do interesse pela energia
Tecnologia Nuclear, onde funciona o Reactor de Sacavém para fins de nuclear em todo o Mundo. No Reino Unido está em curso o processo
investigação. de substituição das centrais nucleares em fim de vida, nomeadamente
as de tecnologia mais obsoleta, como as centrais Magnox, por centrais
20 Mais recentemente, e desde 2004 um grupo privado decidiu investir de terceira geração, como nos EUA e em França. Na Ásia o ritmo de
na possibilidade de construir e operarar reactores nucleares de construção nunca abrandou, nomeadamente no Japão, China, Índia e
potência.Para tal fim foi criada uma empresa, a ENUPOR, Energia Coreia do Sul. Este país, com uma superfície semelhante á de Portugal,
nuclear de Portugal SA, que promoveu o estudo de pré-viabilidade de e uma situação geográfica parecida – numa península e apenas com
um reactor comercial em Portugal. um fronteira – tem 20 reactores em funcionamento e planeados mais
oito.
Em 2005 estavam em construção 24 reactores nucleares em todo o
I.: 2. Existe uma clara ruptura deste Governo com o Mundo, estavam encomendados 40 e planeados 73. Hoje estão em
nuclear, as opções pelas renováveis parecem-lhe acertadas? construção 36, estão encomendados 93 e planeados 218. Se há uma
P.S.N.: As opções pelas renováveis seriam acertadas na medida verdadeira revolução industrial e energética no Mundo hoje em dia,
em que houvesse uma noção tecnicamente correcta do seu real ela está em curso na energia nuclear e nos biocombustíveis. É por essa
potencial e custo, com as tecnologias disponíveis actualmente, e via que a Humanidade vai resolver o forte aperto em que se encontra
do seu contributo para ajudar a solucionar a grave dependência durante as próximas três décadas.
que o País tem de importação de energia primária. Ora essa noção
infelizmente não existe, e o que estamos a assistir é uma mobilização
maciça de recursos que se vão buscar à economia, onerando de forma
hoje já dificilmente recuperável a competitividade do nosso tecido I.: 4. A energia nuclear, é em sua opinião e ainda, um tabu?
produtivo, peloapoio indiscriminado dado a essas forma de energias, Como se compreende se a nível energético e económico é
partindo do principio que se poderia cobrir de forma significativa a uma opção viável?
nossa dependência por uma produção endógena não-nuclear. Ora P.S.N.: Em Portugal não é já um tabu, mas existe um forte preconceito
isso deveu-se à grande influência de uma escola de pensamento baseado na falta de informação e de conhecimento sobre esta
em temas de energia activamente anti-nuclear, e que foi já em 1983 matéria, e no receio dos políticos de abordarem um tema em que
determinante para o abandono do Plano Nuclear. receiam uma discussão aberta, devido à influência da escola de
pensamento de que fiz já referência, de velhos lutadores contra o
Ora a realidade mostra-nos que apesar deste enorme esforço em nuclear assentes numa concepção ideológica e não científica, das
prol das renováveis, com um reflexo cada vez mais impportante na questões energéticas.
factura eléctrica nacional, as renováveis têm vindo sistematicamente
a diminuir a usa presença no “mix” eléctrico, pelo que Portugal tem
continuado a depender cada vez mais da sua geração fóssil, e também I.: 5. Quanto a localizações de uma possível central
de forma crescente de importações de Espanha – e esta de origem nuclear em Portugal, quais seriam as possíveis? O ideal
nuclear. seria uma proximidade com água e com Espanha. Existe
abertura por parte das autarquias e condições de
A contribuição das renováveis era de 80% noa anos 70, passou para aceitação social para um projecto deste nível?
40 % nos anos 80, e para 30 % nos anos 90. Desde 2000 foi em média P.S.N.: Existem múltiplos factores que determinam a escolha da
de 28,5 % e actualmente é de 27%, embora se anuncie de uma forma localização ideal de uma central nuclear. O ideal seria fazê-la junto
enganadora que já tenhamos atingido os 39% da Directiva Renováveis ao mar para evitar a construção de torres de arrefecimento. Mas
o ano passado e que iremos cumprir os 45 % anunciados pelo considerações ligadas à realidade do mercado ibérico de energia
Governo para 2010. Parece-me totalmente impossível que isso venha apontam hoje para uma localização mais próxima dos grandes centros
a acontecer, a não ser que tivéssemos dois anos excepcionalmente de consumo nesse mercado, e por isso os estudos mais recentes
apontam para uma localização mais próxima da fronteira. Das várias continente, com um terço de toda a geração de electricidade. Existe
autarquias contactadas, algumas mostraram uma boa aceitação, a hoje na energia eléctrica uma Europa a duas velocidades: o centro do
exemplo do que se passa em Espanha ou em França, em que existe Continente fortemente nuclearisado – a França, a Bélgica, a Suiça, a
uma espécie de concurso para fazer a selecção de entre as várias Suécia, etc. - e depois os países da Peninsula Ibérica que estão a tentar
autarquias candidatas. resolver o problema com uma aposta muito forte nas renováveis.
Uma vez que a actividade económica depende sempre da energia
I.: 6. Entende esta fase das renováveis como de transição em maior ou menor grau, esse facto obrigou a que os países ibéricos
para o nuclear? tenham entrado numa subsidiação encapotada das tarifas eléctricas,
P.S.N.: Não, investir nas renováveis é absolutamente necessário para criando défices tarifários explosivos, e que em Espanha atingem já
manter um contacto com o desenvolvimento tecnológico em curso, e o valor inacreditável de 15 mil milhões de euros. Ora essa factura,
entrar em força quando a curva de aprendizagem dessas tecnologias quer venha a ser paga pelos consumidores quer pelos contribuintes,
lhes der capacidade competitiva. Agora, investir nas renováveis para representa um ónus tremendo para a economia desses países, e a meu
lhes dar escala e assim construir essa capacidade competitiva, é um ver, o principal obstáculo futuro à retoma económica do nosso País.
erro enorme de alocação de recursos, num País que os não tem em
abundância. Agora eu estou certo que o futuro se fará por um tandem
renováveis-nuclear, e dependendo da evolução tecnológica, sobretudo I.: 8. A segurança ainda é um factor problemático na
na área dos materiais, poderíamos eventualmente ver o nuclear energia nuclear?
como uma transição para as renováveis e não o contrário. No futuro P.S.N.: Se a segurança fosse um factor problemático na energia
tudo dependerá de como a tecnologia dos materiais poder resolver nuclear, não existiria seguramente interesse privado em investir nessa
as barreiras à larga disseminação do fotovoltaico e da viabilização da forma de energia. A realidade é que as estatísticas mostram que de
fusão nuclear. todas as formas de geração eléctrica com significado, a energia nuclear
é, de longe, a mais segura. O único acidente sério e com consequências
fatais em 50 anos de energia nuclear, Chernobil, está hoje bem
I.: 7. Podemos afIrmar que existem investidores nacionais conhecido quer nas suas reais consequências, muito inferiores ás
interessados neste projecto? propaladas na altura pela comunicação social, quer na impossibilidade
P.S.N.: Não só pode afirmar, como ter a certeza que existem vários de se repetir com a tecnologia actual.
investidores interessados na energia nuclear civil em Portugal, a
exemplo da Finlândia, onde o Governo terá que decidir entre os vários
candidatos ao 6º e 7º reactor naquele país. Esse interesse deriva da
enorme vantagem competitiva que tem actualmente a energia nuclear
na Europa, sendo a forma mais importante de geração eléctrica no por Pedro Sampaio Nunes, Administrador da GreenCyber, SA.
desafIos da energia - visão portuguesa

Nuno Ribeiro da Silva


Presidente Endesa Portugal
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de Faz todo o sentido África ser um alvo para a implementação dos
cereais, constitui hoje uma das opções para a produção mecanismos de CDM e de mitigação de CO2. Neste contexto, faz
de energia com menos emissões de CO2. O continente sentido olhar para África , porque é realmente um continente onde o
Africano pode ser visto como um potencial ‘’Celeiro’’ solo está sub utilizadissímo do ponto de vista de potencial agrícola, e
Mundial ? portanto plantações, florestação, usos que sejam sorvedores de CO2
Nuno Ribeiro da Silva: Dois pontos prévios, não esqueçamos que tem todo o sentido. E todos ganham com esta abordagem.
os biocombustíveis sao um paliativo relativamente à problemática
dos combustíveis para os transportes, aparecem como um No que toca às soluções convencionais, África tem também um
sucedaneo aos derivados do petróleo. O problema fundamental dos potencial enorme e mal conhecido associado ao limitadissímo
transportes está associado ao anacronismo do motor de explosão. conhecimento aí existente - quando comparado ao da Europa ou da
Como tal a grande questão que hoje se coloca, sendo também uma Ásia -sobre “ onshore”, “offshore”, potencial de carvão, gás natural e
22
oportunidade ao fim de um século, é promover-se uma alteração ao petróleo. É um continente muito pouco explorado sobre o ponto de
nível dos transportes que têm vindo a utilizar o motor de explosão, vista do potencial de petróleo, gás e mesmo carvão. É precisamente
até porque, pelas leis da física e da termodinâmica, não pode ter nestes pontos que China essencialmente aposta. A China, nos
um rendimento superior a 15% . Para dar uma ideia, a eficiência do programas que tenta estabelecer com os governos africanos, aposta
Sr. Ford à cem anos é a mesma eficiência dos motores dos carros essencialmente nos combustíveis fosseis tradicionais.
modernos - sao leis da física, é a termodinâmica. Portanto não
esqueçamos que biocombustíveis é apenas um paliativo, é apenas
um interludio, um intervalo num problema crítico que está ligado ao
abandono definitivo do motor de combustão. E portanto continuar I.: 3. Existirá o perigo, de mais uma vez, África vir a ser
a apostar em combustíveis para motores de explosão é errado. Dito explorada para satisfazer uma necessidade dos países
isto, e ligando os biocombustíveis às questões do conflito com os ricos, sem que exista uma preocupação evidente prática
produtos alimentares, faz sentido produzir biocombustíveis nos com o factor humano e social? Se sim, quais são as medidas
sitios em que existem as condições bioclimáticas, disponiblilidade que têm necessariamente de existir?
de terra e as eficiências de processo, nomeadamente a fotossíntese, N.R.S.: Tem a ver com os dirigentes africanos. Nós temos hoje uma
que nao conflituem com a produção de produtos agrícolas com série de países em África que estão a viver dos combustíveis fosseis,
vocação alimentar. Nessas condições faz todo o sentido produzir como o Gabão, a Nigária e Angola. É expectável que surja uma
alcóol e gasolinas derivados da cana de açúcar. O que não faz Guiné Equatorial, estando São Tome e Moçambique a começar a
sentido é forçar, por razões meramente economicistas e no sentido concessionar, com bons prémios, zonas de prospecção e pesquisa no
de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no middle west offshore Moçambicano, na Tanzânia, etc. Há um problema de gestão
nos EUA. Resumindo, nao tenhamos a ilusão que os biocombustíveis interna. Não é apenas um problema do ocidente pois países que têm
são um adiar da questão crítica e decisiva para o Mundo, e que se rendas petrolíferas no médio oriente, independentemente de não
prende com a capacidade em abandonar, ao fim de um século, os serem propriamente transparentes, as populações usufrem muito
bons serviços que o motor de explosão produziu, e ir produzindo mais do que acontece na Nigéria em Angola ou no Gabão e do que vai
biocombustível em locais específicos sem se entrar em conflito com acontecer na Guiné Equatorial e por aí fora. Os países constituiram,
a produção alimentar e onde a eficiência do processo, sob o ponto de companhias nacionais, como acontece na Nigéria com a NNPC e em
vista energético, faz sentido. Para ter uma ideia, produzir alcóol com Angola com a Sonangol, portanto não é um problema dizer que as
base na cana do brasil tem uma relação de 1 para 8, produzir alcóol companhias trasnacionais e as multinacionais aparecem e apoderam-
com base no milho do middle west americano tem uma relação de 1 se dos recursos nacionais... é mal gerido, e os dirigentes locais sao
pra 2 , portanto não faz sentido. oportunistas, portanto não é tanto um problema ocidental e de séc
.19 conferência de Berlim como aconteceu, no quadro colonial, em
que se chegava e tirava o ferro os metais e as coisas da 1ª revolução
I.: 2. Poderá África constituir uma forte solução para os industrial. Agora é um problema deles.
problemas energéticos da economias desenvolvidas e em
grande crescimento como a China?
N.R.S.: A questão aparece na sequencia da anterior. Faz sentido I.: 4. A União Europeia defIniu como meta que os
desenvolverem-se programas em África não numa óptica de biocombustíveis passem a representar 10% das necessidades
produção intensiva e de monocultura de biocombustíveis , mas de combustiveis para transportes até 2020. Não será uma
essencialmente associada aos mecanismos de Kyoto para o CO2. meta contraditória face à crise alimentar que se vive?
“Faz sentido produzir biocombustíveis nos sítios em que existem as condições
bioclimaticas, disponiblilidade de terra e as eficiencias de processo, nomeadamente
a fotossintese, que nao conflituem com a produçao de produtos agricolas com
vocação alimentar.... O que não faz sentido é forçar, por razões meramente
economicistas e no sentido de subsidiação, a produção de milho, por exemplo, no
middle west nos EUA”.

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


“O estado tem estado a criar anos excepcionais todos os anos, uma vez que quando, sob o ponto de vista politico, se sente
desconfortavel em actualizar os preços que reflitam o aumento dos custos de produçao e electricidade”.

N.R.S.: É um pouco, mas na linha do que já falamos, na Europa, dos objectivos fundadores da ERSE em causa, quando o governo
que tem vindo a ser posta de parte o célebre setaside em termos de diz no diploma que define os preços em anos excepcionais, sem
terrenos e com a diminuição do uso de solos para produçao agrícola especificar o que sao anos excepcionais. E tem estado a criar anos
(até por produzirmos manteiga subsidiada e leite subsidiado, etc), excepcionais todos os anos, uma vez que quando, sob o ponto de 23
a reforma da PAC deu estímulos para diminuir a área agrícola. vista político, se sente desconfortável em actualizar os preços que
Quando a Europa coloca este objectivo de aumentar contributo reflitam o aumento dos custos de produção e electricidade. Portanto,
dos biocombustíveis, pode fazer todo sentido sob vários pontos de nomeadamente em Portugal, se é correcta a política que tem sido
vista. Quando a Europa pode aproveitar terrenos que não estão a seguida a nível dos preços dos derivados do petróleo e ao nível de
ser utilizados e, pelo contrário, estavam a ser subsidiados para ser preços da electricidade? Afirmo que não.
abandonada a actividade agrícola, pode introduzir nesses terrenos
culturas energéticas. E nessa caso faz todo o sentido. Estamos
por um lado a criar rendimento para as zonas rurais e por outro a
contribuir para uma autoprodução de combustíveis para mitigar I.: 6. Como vê a introdução de portagens nas cidades,
a dependência dos derivados do petróleo no quadro europeu. Em parece-lhe uma boa medida a tomar?
resumo, esse objectivo tem sentido , os terrenos que têm estado a N.R.S.: Claro, é uma medida correctíssima, é uma das medidas... há
ser desactivados no âmbito da reforma da PAC permite trasnportar muita experiência e muita prática no uso de dezenas de intrumentos
ou transferir rendimento para o espaço rural sem conflituar com as políticos, para mitigar o uso do transporte particular. No nosso caso
regras da OMC e contribuir para resolver um problema europeu. é escandaloso pois nas deslocações casa-trabalho-casa não deve
haver nenhum país na Europa que tenha taxas na ordem dos 90%
de um carro uma pessoa. Logo este tipo de medidas é essencial,
I.: 5. Concorda com as políticas actuais para fazer face ao nomeadamente se as portagens vão em abono de apoiar o uso dos
aumento do preço dos combustiveis? transportes públicos. Existem muitas medidas para desencentivar
N.R.S.: Os países produtores e países emergentes como a China, a o uso do trasnporte particular nas cidades e estimular o uso do
India, entre outros, estão a subsidiar os preços dos combustíveis, o transporte público e penalizar quem opta por levar o seu transporte
que é um disparate absoluto e os resultados sao dramáticos porque, particular para a cidade. É óbvio que é um ‘luxo’ que tem de ser pago
no fundo, o consumo continua a crescer de uma maneira colossal e - quem quiser paga quem não quiser não paga. É um ciclo vicioso,
não se transmite às pessoas os sinais, através do preço, que levem a por exemplo, no caso da CARRIS tem uma penalizaçao brutal pelo
um uso racional, nem se está a introduzir uma serie de mecanismos facto de ter as ruas de Lisboa completamente condicionadas, o que
que reflictam o que é efectivamente o custo das matérias primas e lhes dá uma velocidade comercial miserável, de 15 km\h . É todo
do consumo desses bens. Ao nível Europeu e até mesmo da OCDE, um efeito cascata, não só para as pessoas. Para o sector, diminui
mas para a Europa em particular, o reflexo de aumento dos custos enormemente o investimento, pois os autocarros passam a fazer
nos preços é correctíssimo, é a unica atitude a ter, embora os Estados muito mais serviço em menos tempo porque não estão parados no
estejam a ganhar mais dinheiro, como o nosso, porque como se trânsito. É todo um processo lógico, tirar os carros da cidade e por
sabe os impostos (quer o IVA quer o imposto sobre os produtos os transportes públicos rodoviários a funcionar e a circular. É uma
petrolíferos) são ad valorem. A partir do momento em que aumenta medida crucial e a grande oportunidade histórica de o fazer, porque
o custo do produto - embora a percentagem do IVA e do ISP seja as pessoas percebem isso.
muito próxima (que é cerca de 50% no gasoleo e 60% na gasolina)
- o valor aumenta porque é ad valorem. Mas é a política certa a ter
e não se deve mitigar e’’ tentar tapar o sol com a peneira’’. Energia I.: 7. Concorda com opinões que nos dão conta das
e preços não é só gasolina, gasóleo e gás natural. Aí, no plano da difIculdades em ganhar concursos à GALP e EDP por
electricidade, nomeadamente no nosso país comete-se um ‘crime’, e exemplo?
a lei da semana passada é a expressão desse crime, colocando alguns N.R.S.: Está no programa do governo e na resoluçao do conselho de
desafIos da energia - visão portuguesa

“Hoje, tal como estamos, sob o ponto de vista


económico é um disparate. Sob o ponto de vista
tecnico é uma estupidez. E sob o ponto de vista
ambiental é um wishfull thinking… Quando
alguém diz que a maior parte do contributo da
produçao de electricidade na europa vem do
nuclear, isso é mentira. ”

ministros de 2005 que a Galp e EDP serão os operadores relevantes não têm nuclear. Quando algumas pessoas dizem que a maior parte do
energéticos em Portugal, portanto não há mercado em Portugal. Aliás contributo da produção de electricidade na Europa vem do nuclear, isso
o diploma da semana passada é expressão disso. O governo decidiu é mentira. Basta olhar para os dados e número que se conhecem. E em
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

proteger a EDP e a Galp, e os portugueses pagam para a EDP e Galp. Se ultima instância discuto o problema da segurança do nuclear...
do lado Espanhol houvesse uma retaliação não seria de surpreender,
pois o governo espanhol tem tido uma atitude perante a EDP e Galp
muito mais aberta do que o governo Português relativamente as I.: 8.2. A segurança ainda é um problema...
empresas espanholas. O governo Português, que tem ganho muito com N.R.S.: Sem dúvida claro, eu andei em Chernobyl 3 vezes... sob o ponto
a relação íntima que mantém com a EDP, optou por esta via. de vista económico e técnico o nuclear não cabe em Portugal. Mas
mesmo indo para a discussão esotérica da segurança, o que digo é
I.: 7.1. Relação com Espanha segundo governo é muito que num acidente de uma mina de carvão, explosão duma refinaria,
saudável... podem existir fatalidades, mas é um acidente que controlamos. Mas
N.R.S.: O governo Espanhol tem estado muito distraído mas sabe o que quando se dá um acidente nuclear embora a probabilidade seja muito
se passa, mas isso é entre governos. Para mim e eu posso parecer parcial, baixa, é algo que nos não temos anticorpos, mecanismos para controlar
o que acontece é que quer a EDP quer a Galp não são empresas públicas, esse acidente. Esse é um problema qualitativamente diferente. Mas
se o fossem formalmente em que o capital fosse público, ainda podia focalizando a questão no ponto de vista económico e técnico, e eu
dizer, como português, que perdia dum lado ganhava doutro. Mas não. tenho os números pois a minha empresa opera 8 centrais nucleares, o
A Galp tem 8% capital público directa ou indirectamente e a EDP tem nuclear não é barato e, tecnicamente, não entra no sistema eléctrico
24 um quarto. Portanto os portugueses estao a pagar para os previlégios portugues sem subsídios.
que Galp e EDP têm.

I.: 9. Ao nível do sector fInanceiro e do papel que este deve


I.: 8. A energia nuclear deveria ser uma aposta imediata? Seria desempenhar, os bancos deveriam promover empréstimos
uma boa solução para os transportes(hidrogénio)? diferenciados pera investimentos e consumos com menos
N.R.S.: Isto é um tema para uma grande conversa... emissões de CO2 e menos consumo energético?
N.R.S.: Tem todo o sentido que haja essa diferenciação. Com a entrada
recente em vigor da directiva sobre as responsabilidades ambientais,
I.: 8.1.Acha portanto que faz falta uma discussão séria? estas preocupações são reflectidas directamente no risco dos clientes
N.R.S.: Séria , objectiva e complexa! Eu tenho uma fórmula... eu prefiro e do empréstimo. Faz todo o sentido ter condições diferenciadas
que a China e a India que são mercados eléctricos em crescimento para o financiamento ao investimento e à actividade das empresas,
aceleradíssimo façam nuclear em vez de fazer carvão, prefiro. Em considerar esses requisitos ambientais, nomeadamnete as emissões.
Portugal actualmente( nuclear so serve para fazer electricidade), Já nao se trata apenas de um voluntarismo das instituições financeiras
electricidade tem 25% do consumo final de energia, da produção em terem o arauto da promoção de soluções mais nacionais e mais
electrica 40% vem de renováveis, o que signigfica que falamos de 13% friendly do ponto de vista ambiental, é uma questão que mesmo
do problema energético do país. Tendo em conta que o sistema eléctrico na analise de risco faz sentido. A banca, e num quadro de ser uma
Português é mais do que maduro, não faz o mínimo sentido fazer uma entidade que supostamente no plano da analise do risco equaciona
central nuclear em Portugal, sob o ponto de vista económico e técnico. rodos os parametros, tem hoje objectivamente razões para fazer uma
E ninguém consegue construir uma central em Portugal sem subsídios. diferenciação. Discriminação relativamente a empresas e projectos que
Depois há outra questão, inerente à questão inicial, que é pressupor têm menos risco ambiental, lá está, a directiva ambiental acciona um
que os transportes se reconvertem a electricidade. Na minha opinião, conjunto de responsabilidades sobre as empresas e sobre os gestores.
o problema eléctrico deixaria de ser 25% para passaria a ser cerca de Estamos a falar de sinais que a legislação assimilou e materializa sob o
60% do consumo final de electricidade. E aí temos um problema novo. ponto de vista de mercado e que afecta o risco dos emprestimos e da
Aí discutia o nuclear em Portugal, mas nao no contexto actual. Ou exposição da banca.
seja, se os transportes, passassem a consumir energia, por via directa
(veículos usarem electricidade directamente, carregadores, baterias etc)
ou indirecta através do hidrogénio ( para produzir hidrogénio é preciso
centrais eléctricas), o consumo final de energia passaria de 25% para
25%+38% (consumo actual de energia final)e portanto falariamos em
60% (que é o consuno

final de energia sobre a forma eléctrica) consumo final energia sobre


a forma eléctrica. Nestas circunstâncias parece-me que faz sentido
pensar na questão do nuclear. Mas pensar e discutir... ainda não é Eng. Nuno Ribeiro da Silva, formado em Engenharia e Economia e Mestre
linear. Hoje, tal como estamos, sob o ponto de vista económico é um em Economia Politica e Planeamento Energético pela Universidade
disparate. Sob o ponto de vista técnico é uma estupidez. E sob o ponto Técnica de Lisboa, é actualmente presidente da Endesa Portugal.
de vista ambiental é um wishfull thinking. Eu não tenho preconceitos
sobre isto, aliás é possível identificar 15 países civilizados da europa que por Bruno Cachaço, Sustentare (www.sustentare.pt).
Paulo Caetano
Administrador da
Ecoprogresso

Como se os biocombustíveis

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


explicassem tudo...
Não há dia que não se fale neste assunto desde há uns meses para cá: preços finais dos cereais.
o aumento vertiginoso do preço dos cereais está a causar uma crise,
inclusive de cariz humanitário, de proporções gigantescas, havendo Tão ou mais importante ainda são os sempre debatidos e controversos
quem chegasse a referir o receio de que tal aumento viesse a aumentar subsídios à agricultura nos EUA e na Europa, que tem levado à destruição
a pobreza também em Portugal. A verdade é esta: no último ano o de milhares de pequenas explorações agrícolas sustentáveis nos países
aumento médio do preço dos cerais foi de 75%. Só o trigo registou um em desenvolvimento, precisamente aqueles onde o aumento do preço
aumento de 130% no mesmo período e o preço do arroz está o dobro do dos cereais tem impactos mais gravosos. Cerca de 70% dos países em
que estava no início do ano, a bater recordes com preços nunca vistos em desenvolvimento são importadores líquidos de produtos agrícolas, a 25
Abril. O Banco Mundial salienta que devido a este aumento de preços, maior parte em resultado directo destas políticas.
só neste último ano mais de 100 milhões de pessoas estão sem comida
e em muitos países está a haver revoltas nas ruas por causa dos preços Finalmente, não pode deixar de ser referido, por ser talvez a causa
exorbitantes e por não haver comida suficiente para a sobrevivência. maior, que, com o colapso dos mercados financeiros em virtude da crise
do sub-prime, houve um forte desvio dos capitais especulativos para
A razão mais comummente apontada para o aumento do preço dos as commodities agrícolas – actualmente, os fundos de investimento
cereais é a respectiva utilização para produção de biocombustíveis, em controlam cerca de 60% do comércio de trigo.
virtude das políticas agressivas nesta área da UE e dos EUA. Mais do que Na realidade, enquanto 100 milhões de pessoas passam agora fome por
esta ser a razão mais comummente apontada é, na realidade a única de causa do aumento do preço dos cereais, os lucros das 6 maiores traders de
que se fala. cereais (4 dos EUA, uma do Japão e uma de Singapura) aumentaram entre
30 e 92% em 2007.
Contudo, é necessário também apresentar outros argumentos que
explicam esta crise e que retiram o ónus da crise humanitária à única Desta forma, e como se pode verificar, existem vários factores que estão a
solução e alternativa real e funcional a curto prazo aos combustíveis afectar os preços de cereais à volta do mundo, pelo que a discussão não se
fósseis. deverá limitar nem tão pouco centrar na promoção dos biocombustíveis.
Nada terá maior interesse dos que realmente ganham com este aumento
Temos vivido nos últimos 30 anos uma quebra total de estrutura de do preço dos cereais, do que culpar uma medida fundamental para o
exportação e importação mundial de cereais com a perda de cerca combate às alterações climáticas pelo aumento da fome no Mundo.
de 75% da biodiversidade por causa de monoculturas industriais que
causam esgotamento do solo, das reservas de água e desertificação. Arriscaria mesmo a afirmar que os biocombustíveis poderão vir a ser, ao
Ao mesmo tempo, as alterações climáticas, que são agravadas pela contrário do que se tem especulado, a solução para a crise dos cereais, e
agricultura industrial, também têm um efeito significativo na redução de não só, pois devido às necessidades das empresas de biocombustíveis,
quantidades de cereais produzidos em muitos países (como o Quénia e produções dedicadas destas matérias-primas, poderão vir a utilizar solos
Moçambique, embora do ponto de vista global 2007 tenha sido um ano abandonados e mão-de-obra em países em vias de desenvolvimento,
com produções record). suprindo assim as necessidades locais de cereais e proporcionado às
populações empregos e desenvolvimento.
Além destes factores existem outros como o aumento da procura de
comida e ração na China e Índia (em que mais de 2,5 biliões de pessoas
estão agora a ganhar capacidade económica para se alimentar) e/ou o
aumento incrível do preço do petróleo que torna a agricultura industrial
mais cara. Igualmente não podemos esquecer o impacto de alguns
factores de produção como pesticidas e fertilizantes, cujo forte aumento
da procura pode potenciar o aumento da produtividade levou a um
aumento significativo dos respectivos custos, com efeitos directos nos
por Paulo Caetano, Administrador de Ecoprogresso.
desafIos da energia - visão de uma ONG portuguesa

Francisco Ferreira
QUERCUS, com contributos do Grupo
de Energia e Alterações Climáticas
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Im))pactus: 1.Energia verde proveniente da queima de cereais, transportes até 2020. Não será uma meta contraditória à
constituiu hoje uma das opções para a produção de energia crise alimentar que se vive?
com menos emissões de CO2. O continente Africano pode ser Q.: No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento
visto como um potencial “Celeiro” mundial? Europeu reviu em baixa a meta dos biocombustíveis para 2020, isto
Quercus: A questão não pode ser colocada nestes termos, pois a mostra um sinal de viragem das próprias instituições europeias em
queima de cereais não é uma energia verde. A utilização de cereais relação a esta matéria.
para a produção de biocombustíveis – que é disso que estamos a falar
– pode ser sob determinados critérios, uma substituição parcial dos O Comité do Ambiente do Parlamento Europeu, acordou, por
combustíveis fósseis nos automóveis. votação em Estrasburgo, uma meta de 4% relativa à incorporação de
biocombustíveis em 2015, sendo que para 2020 o objectivo é alcançar
No passado dia 7 de Julho o Comité de Ambiente do Parlamento Europeu uma taxa entre os 8 e 10%. Na base desta medida estão os assumidos
aprovou novas metas mais contidas de utilização de biocombustíveis nos efeitos negativos associados a alguns destes combustíveis alternativos,
26 transportes. quer em termos ambientais, quer sociais.

A utilização de biocombustíveis não pode ser a forma a única ou grande Mais ainda, os deputados do Parlamento Europeu sustentaram ainda
aposta de redução de emissões nos transportes. O investimento no que a meta para 2020 de bio-energia deve prever uma incorporação
desenvolvimento tecnológico é um factor fundamental e o que contribui entre os 40 e os 50% de veículos eléctricos ou movidos a hidrogénio a
para um desenvolvimento mais sustentado ao médio-longo prazo. partir de energias renováveis, biogás e biocombustíveis de 2ª geração.

Existe agora uma maior preocupação no que respeita à produção


I.: 2. Poderá África constituir uma forte solução para os de biocombustíveis e ao conflito que podem causar em termos de
problemas energéticos das economias desenvolvidas e em alimentação e de conservação da natureza. Este é um sinal político
grande crescimento como a China? claro de reduzir a utilização de culturas energéticas para a produção de
Q.: Mais uma vez África não poder ser vista como um celeiro mundial biocombustíveis.
para a produção de biocombustíveis. África precisa de produzir alimento
para a sua população e é com este ponto que os países desenvolvidos É preciso não esquecer que a meta portuguesa é ainda mais ambiciosa
devem preocupar-se em ajudar África. Poderão existir algumas zonas do que a europeia, fixando a incorporação de biocombustíveis nos
onde determinadas culturas não alimentares e em espaços onde o transportes em 10% até 2010. Esta meta no entender da Quercus
impacte ambiental seja reduzido e devidamente avaliado se consigam também devia ser revista, mais ainda agora com a revisão em baixa
cumprir os exigentes critérios de sustentabilidade e de rendimento da meta europeia. Apesar de não ser um aspecto crítico em termos
efectivo em termos de dióxido de carbono evitado face aos combustíveis ambientais, vários fabricantes de veículos noutros países têm-se
fósseis. Porém, generalizar esse facto para um Continente que já sofre recusado a assegurar a garantia dos automóveis adquiridos face a uma
as consequências do aquecimento global e que lida com uma grave crise utilização desde já tão extensa dos biocombustíveis. Em Portugal, a
social, económica e política, deve ser feito com cuidado. taxa actual de incorporação é de 4% e para se conseguir cumprir os 10%
até 2010, estabelecidos pelo actual Governo no âmbito do Programa
Nacional paras as Alterações Climáticas, tal será feito à custa de
I.: 3 Existirá o perigo de, mais uma vez, África vir a ser importação.
explorada para satisfazer uma necessidade dos países ricos,
sem que exista uma preocupação evidente e prática com o
factor humano e social? Se sim, quais são as medidas que têm I.: 5. Como assiste ao trabalho desenvolvido pelo actual
necessariamente de existir? Governo na área da Energia, e nomeadamente das
Q.: Perigo há sempre. Mas por isso é que as atenções de vários Governos renováveis? Como vê o atraso no concurso para as 15
impondo critérios de transparência e sustentabilidade ambiental ao centrais eléctricas de biomassa?
desenvolvimento e a actuação das Organizações Não Governamentais Q.: A capacidade instalada para produção de electricidade por fontes
(ONG) são aspectos chave. Neste tema específico de biocombustíveis renováveis passou de 4800 MW em 2001 para 7700 MW em 2008.
tem sido desenvolvido trabalho conjunto entre ONG de Ambiente e
Desenvolvimento, precisamente para melhor acompanhar de forma A energia eólica continua a ganhar peso na produção de electricidade.
integrada este assunto e reduzir os riscos de más práticas. Entre 2004-2005 a energia eólica cresceu 121%, entre 2005-2006, 67% e
entre 2006-2007 cresceu 38%; no contexto das energias renováveis, a
I.: 4. A EU defIniu como meta que os biocombustíveis passem energia eólica representou cerca de 28% da produção em 2007.
a representar 10% das necessidades de combustíveis para
“Mais uma vez África não
poder ser vista como um
celeiro mundial para a
produção de biocombustíveis.”

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


As centrais de biomassa em nosso entender deviam funcionar em co- 14. Secretismo e estímulo ao militarismo
geração, ou seja, produzir calor e electricidade. É sabido que a eficiência 15. Dificuldade em encontrar uma localização
de uma central a biomassa em co-geração é muito maior que uma de
produção de electricidade e a sua localização poderia atender a este
factor para que muitas empresas que requerem vapor estivessem numa I.: 7. Ao nível dos transportes, nomeadamente o rodoviário,
área próxima. parece-lhe correcta a aposta que Sócrates quer fazer nos
carros eléctricos? E portagens nas cidades?
O Governo tem de pensar a energia como um pacote global: não pode Q.: A aposta nos carros eléctricos é necessária mas o seu impacte vai
pensar nas barragens para armazenar energia renovável de eólica, demorar bastante tempo em termos de substituição de parte da frota
sem estudar alternativas. Não pode pensar em centrais em biomassa automóvel e não pode ser encarada como a chave da resolução dos
apenas para prevenir incêndios. A política energética requer uma maior problemas ao nível das emissões dos transportes.
concertação. É preciso fazer uma aposta clara e forte na rede de transportes colectivos
e conseguir transferir passageiros do transporte individual para o 27
transporte colectivo. No último relatório de execução das medidas
I.: 6. Parece-lhe que ainda se vive um tabu à volta da energia previstas no Plano Nacional para as Alterações climáticas é referido que
nuclear? No Reino Unido estão a reactivar centrais que já o investimento realizado no alargamento da rede de metropolitano
tinham desactivado e muitos dizem ser a aposta certa… de Lisboa e Porto não teve o efeito esperado, ou seja, não houve a
Q.: Não há tabu à volta do nuclear. A Quercus em 2007 participou em transferência de passageiros esperada do transporte individual para o
debates por todo o país, promovidos por várias entidades, onde foi transporte colectivo. É aqui que se tem de actuar.
discutido o nuclear, infelizmente porém numa discussão mais limitada e
nem sempre global de todo o sistema energético do país com a Quercus
desejaria.
I.: 8 E ao nível da aviação, que soluções a curto prazo terão
Rapidamente podem ser enumeradas 15 razões para contestar a energia as companhias? Muitas já começaram com despedimentos e a
nuclear: cortar rotas devido ao aumento dos combustíveis…
1. Portugal tem uma enorme oportunidade na conservação de Q.: A aviação em 2012 entra para o Comércio Europeu de Licenças de
energia e eficiência energética emissão, tal como outros sectores já estão. Serão novas regras mas que
2. O potencial de implementação das energias renováveis em todos terão as mesmas regras. Provavelmente os preços das viagens
Portugal é enorme de avião vão subir, mas é importante apostar no desenvolvimento
3. A energia nuclear serve para produzir electricidade e esta ferroviário para o transporte de pequenas e médias distâncias (dentro da
representa apenas cerca de 20% do consumo de energia final do Europa, por exemplo). De resto, são os elevados preços do petróleo que
país estão a determinar a mudança de paradigma no transporte aéreo que
4. A energia nuclear é muito mais cara necessariamente vai ter que ter um peso menor e preços mais elevados.
5. A falácia da produção limpa em termos de emissões de gases de
efeito de estufa
6. Segurança de abastecimento comprometida - Potencialidade I.: 9. Que papel tem o sector da construção, o mais poluente,
de descentralização oferecida pelas energias renováveis é na factura energética portuguesa? Poderá este sector agir
contrariada por uma central nuclear como dinamizador de boas práticas ao nível da efIciência
7. A energia nuclear só é viável à custa de enormes subsídios energética?
governamentais – Portugal apoia muito mais investigação no Q.: O sector da construção é efectivamente um dos mais poluentes,
nuclear que na conservação de energia e renováveis apenas sendo ultrapassado pelo sector dos transportes. De acordo com
8. Portugal ficará dependente de tecnologia importada e cara; é dados da DGEG (Balanço Energético de 2005, Energia Final), o sector
mais uma dependência, neste caso perigosa, de outros países que mais consome energia final é o sector dos transportes (35%), sendo
9. Cenários oficiais mostram que a Europa não aposta no nuclear e o sector dos edifícios (residencial e serviços) responsável por 30% do
Portugal iria estar em contra-ciclo consumo de energia final – e continua a verificar-se um aumento nestes
10. Longevidade dos resíduos e herança para as gerações futuras dois sectores.
11. Riscos associados ao transporte e armazenamento dos resíduos
nucleares É fundamental que o sector da construção (bem como os outros) se torne
12. Tempo de construção previsto cada vez mais eficiente, não só ao nível da alteração de comportamentos
13. Custo de desmantelamento das centrais e suas consequências no sector, mas também ao nível da selecção criteriosa dos seus materiais,
ainda não estão suficientemente avaliados sistemas construtivos e ferramentas de trabalho (em sentido alargado).
desafIos da energia - visão de uma ONG portuguesa

“As energias renováveis já têm diversas


aplicações que podem ser adquiridas
por um consumidor final, ou cidadão:
produzir águas quentes sanitárias (solar
térmico), ou produzir electricidade
(fotovoltaico e/ou eólico).”

A eficiência deste sector verifica-se em todo o processo de construção de partem de nós e fazem a diferença.
uma habitação, em que logo no processo de concepção (fase de projecto)
devem ser adoptadas boas práticas tendo em atenção o lugar em que
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

se insere, toda a sua envolvente e a exposição solar. Tendo em conta os I.: 11. Para as empresas que pretendem entrar no mundo das
princípios bioclimáticos, adoptando soluções passivas (sem consumo renováveis que condições encontram a nível de benefícios
de energia), o seu desenho, a forma do edifício, os materiais escolhidos fIscais? ( esta pergunta não é bem para a Quercus…)
(preferindo, por exemplo, materiais locais – diminuindo gastos e Q.: Para as empresas que pretendam investir em equipamentos de
emissões nas deslocações –, reutilizar materiais de outras construções, e energias renováveis, existem deduções em IRC, que podem ser feitas por
amigos do ambiente), investir numa envolvente construída bem isolada um período de 4 anos.
(quer ao nível das paredes, envidraçados e coberturas) são, entre outros
aspectos, factores determinantes para as necessidades de aquecimento/ As energias renováveis já têm diversas aplicações que podem ser
arrefecimento para alcançar o conforto no seu interior, e melhorando adquiridas por um consumidor final, ou cidadão: produzir águas quentes
assim o seu desempenho energético. Ainda neste processo, não sanitárias (solar térmico), ou produzir electricidade (fotovoltaico e/
podemos ignorar os resíduos produzidos ao longo das várias etapas. ou eólico). Actualmente um consumidor pode investir em energias
renováveis para produzir electricidade, principalmente no fotovoltaico, e
Sem dúvida que melhorando a eficiência no sector, através da este sistema pode tornar-se rentável se vender toda a energia produzida
implementação de boas práticas, será um factor dinamizador e à rede no regime bonificado do Programa Renováveis na Hora.
contribuirá para a diminuição da factura energética. http://www.renovaveisnahora.pt/ . Quem queira aderir a este programa
28 terá de ter um sistema solar térmico.
Sendo que o parque urbano tem um período de renovação relativamente
longo (ao contrário por exemplo do parque automóvel), a eficiência Também é possível a dedução em IRS, que este ano (IRS de 2008) é
energética neste sector tem um peso acrescido. de 777€ e separada do crédito à habitação (para as componentes de
energias renováveis com IVA a 12%).
Neste sentido, a criação da Etiqueta de Eficiência Energética para os
edifícios vem obrigar a uma maior eficiência energética, em que os Ainda é preciso que a taxa sobre equipamentos de energias renováveis
novos edifícios logo de raiz não podem ser de classe inferior à classe B-, seja equiparada às energias não renováveis. O consumo de electricidade
e procurar fomentar a melhoria da eficiência nos edifícios já existentes, e gás são taxados a 5% enquanto alguns componentes de energias
com a obrigação da existência do certificado sempre que um edifício seja renováveis – como a instalação dos equipamentos são taxados a 20% de
transaccionado. IVA. Não se compreende esta diferença numa altura em que há sinais da
parte do governo numa aposta das energias renováveis.

I.: 10. Que papel energético tem o cidadão? Podemos falar de


uma responsabilidade social energética? I.: 12. Um estudo da Union Fenosa apresentou uma 4ª energia,
Q.: O cidadão tem um papel determinante nestas questões. Ao falarmos a que não se consome, a efIciência e poupança energética
de eficiência energética falamos em exigência, rigor e qualidade. Um como a melhor solução entre renováveis, combustíveis
cidadão informado e consciente saberá o que procurar e dará preferência, fosseis e nuclear. Como entende esta conclusão?
no caso da construção, a edifícios mais eficientes, interferindo assim na Q.: A eficiência energética é de facto a forma mais barata de “produzir”
eficiência energética. energia. Um kWh poupado, de acordo com a Entidade Reguladora do
Sector Energético (ERSE), é dez vezes mais barato que um kWh a ser
A etiqueta de eficiência energética, já obrigatória em muitos produzido, inclusive por energias renováveis.
electrodomésticos, tornou-se numa ferramenta fundamental para
os cidadãos, que assim têm conhecimento dos consumos que os A aposta na eficiência energética é essencial nesta era de viragem
equipamentos têm associados à sua utilização, bem como a eficiência na sobre a forma como se olha para o consumo e produção de energia. A
utilização destes recursos, permitindo-lhes fazer uma opção consciente. Comissão Europeia identificou um potencial de poupança energética
pelo melhoramento da eficiência de 20%. Esta é também a meta
Também nos comportamentos temos um papel importante a definida no Pacote Energia Clima para 2020.
desempenhar na eficiência energética. O Projecto EcoFamílias 225
(financiado no âmbito do Plano de Promoção de Eficiência no Consumo A eficiência energética tem um valor económico associado – o do
financiado pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE)), investimento que deixa de ser necessário se aquela energia fosse
que a Quercus desenvolveu em parceria com a EDP, demonstrou a consumida. É este o enorme valor económico que é necessário dar à
existência de um potencial significativo em consumos desnecessário, em eficiência energética para se poder comparar com outras formas de
que os consumos de stand-by e off-mode representam uma poupança produção de energia.
anual de 35.815 kWh/ano, 5,3% do consumo total de electricidade das
EcoFamílias.

É responsabilidade de todos nós procurarmos a eficiência, fazendo as por Francisco Ferreira , QUERCUS, com contributos do Grupo de Energia e
escolhas certas e adoptando boas práticas no dia-a-dia. Estas alterações Alterações Climáticas.
desafIos da energia - visão portuguesa

Agência Municipal
de Energia de Cascais

As alterações climáticas, a escalada do preço do petróleo e o aumento da sensibilizar os seus alunos. Também a futura piscina municipal da Abóboda,

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


factura de electricidade trazem constantemente o tema da energia para tem o acompanhamento da Cascais Energia em todas as fases de concepção
a agenda do dia, tornando urgente a reflexão e a acção. É neste contexto do projecto base na optimização energética do equipamento permitirá uma
de contornos ambientais, económicos, e sociais que a Câmara Municipal poupança anual estimada de €68,000 e de uma redução de 215 toneladas na
de Cascais apostou na Agência Cascais Energia, que tem como principais emissão de dióxido de carbono. Querendo fazer do Centro de Interpretação
objectivos a promoção do uso racional de energia e eficiência energética e Ambiental da Ponta do Sal, um edifício modelo no Concelho, criando um
potenciar o aproveitamento de energias renováveis. Através da acção local cenário de consumo sustentado, a agência levou a cabo uma auditoria, a que
a um problema global, a Agência Cascais Energia pretende contribuir para se seguiu a implementação de medidas de redução de consumos. Como
o desenvolvimento sustentável do município, combatendo as alterações resultado, este é em Junho de 2008, o primeiro edifício municipal do país a
climáticas e promovendo a coesão social. Na prossecução destes objectivos, receber a certificação energética. No local serão ainda instalados sistemas
a Cascais Energia usa como principal ferramenta de apoio na definição de fotovoltaicos optimizados e aerogeradores urbanos, bem como uma
prioridades na estratégia local: a Matriz Energética do Concelho. Realizada em estação de dessalinização solar, uma estação meteorológica e um expositor
parceria com o Grupo de Investigação para o Desenvolvimento Sustentável com informação em tempo real sobre consumo, produção eléctrica e
do Instituto Superior Técnico, a Matriz Energética caracteriza os fluxos de disponibilidade de recursos. Tendo em conta que o sector dos equipamentos
energia e identifica as áreas que devem ser alvo de actuação prioritária no de eficiência energética e energias renováveis está a verificar um forte
município. Considerando o ano de 2005, o Concelho utiliza cerca de 1,2% desenvolvimento tecnológico, a Cascais Energia desenvolve projectos em
do total de energia consumida em Portugal, principalmente na forma de parcerias com instituições europeias, garantindo a troca de experiências e a
gasóleo e gasolina (Combustíveis fósseis). Já o consumo da Autarquia ocorre disseminação de novas tecnologias
sobretudo na forma electricidade. O Município é responsável pela emissão 29
do equivalente a cerca de 800.000 toneladas de dióxido de carbono por ano, Salienta-se o Projecto CYBER DISPLAY, do Consórcio Energie Cités com mais
o que corresponde a aproximadamente 4,4 toneladas por habitante por ano. 150 membros em 24 países, que visa sensibilizar os munícipes de áreas
urbanas para uma utilização mais eficiente dos equipamentos eléctricos,
Neste contexto, o sector doméstico é o principal responsável pelo consumo da água e gás. Em cascais, este projecto será implementado em 50 edifícios
de electricidade e gás no Concelho este modo, a Cascais Energia desenvolveu públicos, desde escolas, edifícios desportivos, edifícios de escritórios, centros
um conjunto de acções inovadoras que visam ajudar o munícipe a melhorar de saúde, entre outros. O Projecto PRO-EE (Compras Públicas Eficientes)
a sua eficiência energética e a utilização de energias renováveis. Os é parte integrante de um consórcio de 18 países, no âmbito do programa
munícipes de Cascais podem solicitar a visita de um técnico que realizará um Inteligent Energy, e tem como objectivo desenvolver e implementar, no
diagnóstico energético à sua habitação através do projecto “Caça Watts”. sector público, procedimentos no processo de compra pública que garantam
Com o auxílio de um software especializado, é feito um levantamento de a eficiência energética das aquisições. No Concelho de Cascais este irá focar as
todos os equipamentos eléctricos e de gás, bem como em alguns casos uma suas atenções na iluminação pública, equipamentos de escritório e veículos,
análise termográfica. O proprietário recebe, no final da visita, um relatório tendo em conta que a iluminação pública representou em 2005, cerca de
que ilustra o padrão de consumos da casa e identifica os pontos de maior 80% na factura eléctrica da autarquia.
desperdício de energia. O relatório faz também uma série de recomendações
e simula as poupanças que estas poderão gerar. Cascais tem uma excelente A Cascais Energia colabora ainda no Projecto SMART-SPP que visa a promover
exposição solar, aliada a um parque habitacional com muitas moradias. o lançamento no mercado de tecnologias inovadoras de alta eficiência que
De modo a potenciar a aquisição de painéis solares térmicos, a Cascais se encontrem na fase final de desenvolvimento tecnológico.Demonstrando
Energia pretende apoiar os munícipes no processo de escolha e instalação a ambição na prossecução da redução da pegada ecológica e na melhoria da
de sistemas de energia solar térmica com o projecto “Cascais Solar”. A eficiência energética, a Autarquia vai aderir ao Pacto dos Autarcas. Este surge
Cascais Energia estabeleceu protocolos com 10 empresas locais e garantiu no âmbito do Plano Europeu de Acção para Eficiência Energética, que tem
condições atractivas para os munícipes, como um desconto no valor de €200 prevista uma redução de GEE em mais de 20 por cento até 2020.
na aquisição do equipamento. Um painel solar térmico evita, em média, a
emissão de 1 tonelada de dióxido de carbono por ano. Com 2600 horas de sol Até agora já conta com 95 cidades aderentes, das quais 15 capitais europeias.
por ano, esta é uma fonte de energia que não se pode ignorar. Para a Cascais Para atingir este objectivo a Cascais Energia pretende reforçar e alargar o
Energia, é ainda fundamental a disseminação de informação e sensibilização conjunto de projectos descritos. A meta é ambiciosa mas também necessária,
dos munícipes no que diz respeito à eficiência energética e à redução da trazendo claras vantagens do ponto de vista da redução dos custos com a
pegada ecológica. energia por parte da autarquia e uma melhoria significativa dos indicadores
Assim, a Cascais Energia implementará no ano lectivo 2008/2009 um ambientais e consequentemente da qualidade de vida dos munícipes.
programa educativo abrangendo todas as escolas do Município, contribuindo
para o reforço da temática da energia no âmbito escolar e familiar. É A Cascais Energia irá realizar nos dias 16 e 17 de Outubro no Centro de
importante que o exemplo venha de dentro e por esse motivo a Cascais Congressos do Estoril a conferência internacional “Sustentabilidade
Energia também promove a adopção de boas práticas na própria autarquia. Energética: o desafio do século”. A Jornadas pretendem fomentar a discussão
Através da monitorização de consumos em tempo real e da realização de da Sustentabilidade energética em torno de quatro painéis: comunidades
auditorias nos edifícios municipais, a Agência procura optimizar o consumo sustentáveis e o papel das autarquias na eficiência energética, pela discussão
de energia e fortalecer a sensibilização dos seus utilizadores. necessária sobre a energia nuclear e as alternativas aos combustíveis fosseis e
a gestão de energias renováveis para optimizar a sua procura.
Destaca-se a Escola Básica 23 Pereira Coutinho, sendo a primeira escola
em Portugal a beneficiar desta metodologia inovadora, e utiliza-a para por Agência Municipal de Energia de Cascais.
desafIos da energia - visão portuguesa

Álvaro Brandão Pinto


Vice-Presidente da COGEN Portugal

A produção de electricidade
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

e a necessidade da eficiência energética


A evolução ocorrida nos últimos tempos a nível mundial demonstrou de electricidade e apenas 15.623 TWh chegam efectivamente aos
que existe uma pressão significativa do lado da procura de utilizadores finais. Estes números definem um rendimento global
energia, induzida, entre outras razões, por taxas de crescimento do sector de 31,5%, o que implica uma percentagem de perdas em
particularmente elevadas das economias de países em vias de todo o processo que tem que ser obrigatoriamente reduzida no
desenvolvimento, de que são exemplo a China e a Índia. A satisfação futuro próximo. Em segundo lugar, porque a melhoria da eficiência
deste acréscimo da procura tem-se feito, na maior parte dos casos, de produção de electricidade induzida pela instalação de uma central
através de tecnologias de produção de energia útil que, para além de cogeração pode ser significativa, bastando para isso que seja
de apresentarem níveis de eficiência especialmente baixos, utilizam importante o nível de aproveitamento do calor habitualmente perdido
também combustíveis com elevado teor em carbono. A combinação nas soluções convencionais. Para se ter uma ideia, o rendimento
30 destes dois factores negativos é particularmente evidente na eléctrico equivalente de uma central de cogeração que entrega
produção de electricidade e põe em causa as desejáveis condições directamente electricidade a um consumidor final pode atingir
de sustentabilidade deste sector na sua globalidade, pelo que se valores entre 55 e 90%, enquanto as melhores soluções convencionais
justifica a implementação urgente de soluções alternativas menos disponibilizam, no mesmo ponto, a mesma electricidade, com um
penalizantes. Assim, é de particular relevância a promoção de rendimento global de produção e transporte que variará entre 45
projectos que assegurem a produção de energia útil, em especial a e 50%. Esta diferença de rendimentos, que pode chegar a valer 40
electricidade, com recurso a menos quantidade de energia primária. pontos percentuais, tem obviamente um impacto extremamente
Esse objectivo, de primordial importância, pode ser conseguido, favorável na redução dos consumos de energia primária na produção
no caso da produção de electricidade, com o recurso a centrais de electricidade, para além da redução de emissões de CO2 que é
de cogeração. Com efeito, esta solução tecnológica de produção induzida por esse menor consumo.
de electricidade consubstanciada na promoção de unidades de
cogeração, permite que o calor normalmente perdido nas centrais Perante os números e os dados anteriormente apresentados, pode-
convencionais seja entregue a um consumidor suficientemente se legitimamente questionar porque é que continuam a subsistir
próximo e com as necessidades adequadas para permitir unidades de produção de electricidade claramente ineficientes e
tecnicamente esse aproveitamento. porque é que a cogeração não se tem desenvolvido mais, atendendo
à sua eficácia em aumentar a eficiência energética nesse domínio.
A instalação de Cogeração pode, efectivamente, ser considerada como A primeira razão justificativa que pode ser dada, tem a ver com a
uma das medidas que concretiza de forma mais eficaz o objectivo de impossibilidade prática de encontrar consumidores para toda a
melhorar a eficiência energética do processo de conversão de energia energia térmica que é perdida pelas centrais convencionais. A segunda
primária em electricidade. Em primeiro lugar porque a situação razão é de natureza económica e tem a ver com o facto de, por
de partida é francamente má e, por isso, o potencial de melhoria é vezes, a medida de eficiência energética associada a um projecto de
enorme. Para suportar este entendimento, basta referir que, de acordo cogeração não resultar em redução da factura energética. Com efeito,
com estudos da Agência Internacional de Energia, a eficiência média nem sempre uma acção que permite reduzir os consumos de energia
das centrais convencionais de produção de electricidade baseadas em primária, necessários à disponibilização das mesmas quantidades
combustíveis fósseis tem-se mantido praticamente estável ao longo de energia útil, resulta em menores custos para os respectivos
das duas últimas décadas, situando-se numa banda estreita de valores consumidores finais. Tal situação, aparentemente contraditória,
compreendidos entre 35 e 37%. Se a esta baixa eficiência de conversão, resulta de distorções do mercado energético, de políticas de
se adicionarem cerca de 9% de perdas introduzidas pelas linhas de diferimento dos custos de produção com a electricidade, de valores
transporte e distribuição que permitem a entrega da electricidade aos diferenciados de investimento específico em função da escala das
consumidores finais, facilmente se conclui que o sector desperdiça unidades de produção e de diferentes estruturas de custo de produção
mais do que dois terços da energia primária utilizada na produção para distintas tecnologias que disponibilizam o mesmo produto
desta forma de energia útil. Para reforçar o carácter dramático desta energético. Por essas razões, é necessário ter políticas pró-activas
situação, poder-se-á referir ainda que, de acordo com um diagrama de desenvolvimento da cogeração, sob pena de se desperdiçar um
da responsabilidade da mesma Agência Internacional de Energia, potencial significativo de poupança de energia primária. A acontecer
no qual se resumem os fluxos de energia na globalidade do sector tal desperdício seria injustificável em quaisquer circunstâncias. No
eléctrico, incluindo os que resultam da produção de electricidade actual cenário de preços elevados de combustíveis seria, no mínimo,
com base em centrais nucleares e outras soluções convencionais recriminável.
que utilizam combustíveis renováveis, de um total de 44.555 TWh de
energia primária consumida, só 17.219 TWh aparecem sob a forma por Álvaro Brandão Pinto, Vice-Presidente da COGEN Portugal.
desafIos da energia - visão portuguesa
REPORTAGEM– Global Green

Antecipação
do futuro

A Global Green, empresa da área das Renováveis, inovação

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


tecnológica e I&D foi recentemente premiada pelo projecto que está
a implantar no concelho de Idanha-A-Nova. Foi-lhe atribuido o EUBIA
(European Biomass Industry Association Award), prémio de grande
prestigio internacional no “16th European Biomass Conference &
Exihb.”, premiando o contributo ao progresso feito nas BioEnergias.
De salientar o facto de o prémio só ser atribuido quando o juri
encontra um projecto ao qual atribua um valor extremo. O Banco
Mundial, a Ford ou o Governo Canadiano são alguns dos anteriores
premiados.

1º projecto em Portugal destinado à produção em


simultâneos de múltiplo tipo de Bioenergias, próximo da
fonte de recursos e no seio dos agricultores;

Promoção da produção endógena e auto-sustentada da


oferta das matérias-primas Nacionais;
31
Área de intervenção Beira Interior: Idanha-A-Nova, Cova da
Beira, Castelo Branco e Vila Velha de Ródão
Investimento: 100 milhões de Euros;

Capacidade Produção: 250,000 Litros por dia de Bio-Etanol


e de cerca de 20MW de Bio-Energia eléctrica das quais
O projecto consiste na implementação de uma unidade inovadora serão injectadas e vendidas como excedentária na ordem
para a produção de Bio-Energias e Bio-Combustiveis, aliando um de 13,8 MW;
eficiente sequestro de CO2. O projecto consegue Postos de trabalho: 250 directos; milhares indirectos;
‘’gerar receitas, que são duas vezes superiores às provindas da
melhor solução energetica em termos de alternativas existentes Futura candidatura a um projecto pin plus por sugestão do
actualmente’’, afirma Ashok Hansraj. Este projecto nasce como uma Governo...
alternativa à produção de tabaco, tendo-se transformado numa
gigante e ambiciosa solução, ou ‘’soluções integradas’’.
Projecto de uma grande abrangência...
Através de melhorias genéticas introduzidas ao longo de 13 anos,
chegaram à Cana-de-Açucar Europeia (6ºano em solo português),
uma variedade que tem características únicas por ser resistente às
Produção em simultâneo de Bio-Combustiveis e Bio-
condições climatéricas da Europa, mais precisamente dos Países Energia no aproveitamento da Biomassa enquanto
Mediterrânicos, com temperaturas extremas, bem como variedades residuos industriais, alívio da dependência exterior
especiais de Sorgo-Sacarino que têm a particularidade de darem de matérias-primas, maior rentabilidade por hectare
maior volume de produtividade e rentabilidade. do que qualquer produção energética (o etanol dá
para produzir quatro a cinco vezes mais do que o
A partir destas novas espécies, ideais para a produção de etanol e Biodiesel, p/ha), promoção da inclusão social oferecendo
biodiesel através de tecnologia de 2ªgeraçao, no aproveitamento dos condições atractivas a jovens agricultores (inclusíve
resíduos agrícolas chegou-se ao conceito de Agro-Biomassa. formação a agricultores), inversão da tendência de
desertificação do interior, oportunidades para a Indústria
O projecto contempla uma unidade de produção de Biocombustiveis Portuguesa, implementação ideal em países em vias de
uma outra de Trigeração de Bioenergias, electricidade, quente e frio,
desenvolvimento, com ganho extra ao nível de créditos
bem como um Centro de de Investigação e de Inovação Tecnológica
de carbono. ‘’Já fomos convidados por vários grupos
de Excelência, que irá assessorar todas as actividades. É importante
salientar o papel da Autarquia de Idanha-A-Nova, que desde o internacionais para a implementação deste projecto
início tem vindo apoiar e ao disponibilizar os terrenos (ainda sem lá fora, mas fizemos questão que seja fundado como
licenciamento) e o da Universidade de Castelo Branco, verificação dos projecto Português, só depois o replicariamos’’.
resultados (entrará numa fase de produção industrial mais tarde).
desafIos da energia - visão portuguesa
REPORTAGEM– Global Green

Ashok Hansraj na 1ª pessoa: A Biodiversidade


não foi esquecida
| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

‘’É a solução à altura do Fóssil porque de facto gera mais do que


uma fonte de energia e em simultâneo num único processo, o
Bio-Combustível (Fuel liquido), o Bio-gas e a Bio-electricidade “Graças à nossa inovadora concepção, de processamento
(atravês da Biomassa que em trigeração dá o “CHP - Cool, Heat and
Power”), em grande volume, ao contrário das chamadas alternativas de multi matérias-primas, asseguraremos o escoamento
convencionais que só geram uma das fontes energéticas e não das culturas tradicionais e o melhor aproveitamento da
resultam em desenvolvimento Sócio-Económico auto-sustentado biodiversidade. Apoiados pelo centro tecnológico, iremos
que provê desta nova solução’’. introduzir politicas de protecionismo da biodiversidade local
‘’O Etanol não tem limitações como o biodiesel , tem múltiplas contrabalançando com a produção energetica. No caso da Cana
aplicações, com escoamento assegurado em variadíssimos mercados; de Açúcar esta é amiga do ambiente porque nos dá elevadíssimos
químicos, farmacêutico, perfumaria, cervejas, bebidas espirituosas, niveis de sequestro de CO2, tão bons como os projectos de
etc.. A nível mundial a necessidade do Etanol é superior à do
biodiesel.. Não queremos que alguma destas variedades se destine florestação, cujos custos são muito elevados representando
para a produção alimentar precisamente para não conflituar com a também riscos elevados de incêndios. No caso da nossa Cana de
produção de consumo humano ou animal. São plantas destinadas Açúcar esta só precisa de ser plantada de cinco em cinco anos.
exclusivamente para produção energética e criadas só para esse Faz foto-sintese durante 300 dias ao ano, e não só, é resistente
propósito. São as plantas do futuro excelentes para as tecnologias
32 do futuro. Tenho encomendas 3 vezes superiores do que aquilo que a geadas como a fortes rajadas de ventos e chuvas, que hoje em
vamos produzir.’’ dia, infelizmente, são já uma constante.”
‘’A Agro-Biomassa, tem sido desvalorizada devido ao alto teor de
humidade que contem e os ganhos energeticos nesse estado As questões climatéricas continuam a agravar-se. São
são insignificativos. Uma das inovações por nós introduzidas foi necessárias soluções imediatas. “Esta solução acima de
precisamente resolver esse aspecto conseguindo reduzir a humidade tudo é extremamente eficiente no combate do CO2, se
até atingir o nível dos 10% de forma eficaz sem desperdício de
energia. Em termos práticos resulta em ganhos de cerca de três vezes gera 3 vezes energia, estamos a falar em 3 vezes ganhos
mais unidades de energia, logo créditos de carbono, logo maiores em CO2. É uma solução muito boa para o ambiente, na
receitas, Já lhe chamam de “Carvão-Verde”, uma nova componente mitigação do CO2, implementável em todos os países,
para produzir energia de forma tão eficaz como o Carvão, melhor aproveitamos todos os resíduos quer agrícolas quer
ainda, é amiga do ambiente. ‘’ Industriais, principalmente porque não compete com a
produção dos bens alimentares.”
‘’As nossas Inovações, vão desde super-variedades de plantas
lignocelulosicas a Cana-de-Açucar e o Sorgo Sacarino, matérias
primas para a tecnologia do futuro, ideais para produzir Biodiesel
(2ª Geração) ou Bioetanol na tecnologia da 1ª Geração, introduzimos Decorrem negociações, algumas em fase adiantada, para a
soluções para a multi-geração de energias em cadeia, por concretização da implementação das réplicas do projecto
equipamentos inovadores que processam multi-matérias-primas
e por sistema de multi-processamento, de sacaroses e amidos em parcerias e em escala maior, países como Angola, Àfrica-
em cooexistência, ou seja, tanto pode processar Cana-de-Açucar do-Sul e Roménia, com o apoio dos respectivos organismos
como Milho na mesma unidade, o que é inédito, permitindo assim governamentais, além do interesse já manifesto por uma das
ter feed-stocks durante o ano inteiro sem interregno, assim como mais conceituadas Associações de produtores dos EUA.
nos euqipamentos de manusuamento e colheita introduzimos,
por nossa criatividade, novos métodos que iram permitir com os Futuros Objectivos- ‘’A nível tecnológico ensaiamos, com
mesmos equipamentos e tractores fazer a colheita de ambas as sucesso, a produção do Hidrogénio na forma mais económica e
espécies de Lignocelulósicas amortizando-os em metade de tempo a utilização de uma solução com Etanol em motores a Diesel …
do que via método tradicional. ‘’ ‘’As nossas Inovações, vão desde Estamos receptiveis a investimentos e parcerias que possam
super-variedades de plantas lignocelulosicas a Cana-de-Açucar e o
Sorgo Sacarino, matérias primas para a tecnologia do futuro, ideais contribuir na implementação das nossas soluções e inovações, a
para produzir Biodiesel (2ª Geração) ou Bioetanol na tecnologia da 1ª nível Global.’’
Geração, introduzimos soluções para a multi-geração de energias em
cadeia, por equipamentos inovadores que processam multi-matérias-
primas e por sistema de multi-processamento, de sacaroses e amidos
em cooexistência, ou seja, tanto pode processar Cana-de-Açucar
como Milho na mesma unidade, o que é inédito, permitindo assim
ter feed-stocks durante o ano inteiro sem interregno, assim como
nos euqipamentos de manusuamento e colheita introduzimos, por
nossa criatividade, novos métodos que iram permitir com os mesmos Renewable Energy-Technological Innovation-R&D
equipamentos e tractores fazer a colheita de ambas as espécies de
Lignocelulósicas amortizando-os em metade de tempo do que via por Ashok Hansraj (ashok@globalgreen.eu).
método tradicional. ‘’ (www.eubia.org).
desafIos da energia - visão portuguesa

Energia das Ondas:


Frank Neumann
um Futuro de Portugal? Director Adjunto, Wave Energy
Centre – WavEC

A conversão da energia das ondas em electricidade tem sido alvo de intensos com esse mesmo objectivo. Para além disso, o Centro começou a ser um dos

| DesafIos da Energia - Visão Portuguesa


esforços de Investigação e Desenvolvimento (I&D) desde os anos 70, contudo principais pontos de contacto e participante dos esforços internacionais de I&D
só recentemente é que o sector começou a ser alvo de maior interesse a nível (e.g. CORES - Irish floating OWC OEBuoy; Equimar – Pre-Normative Research on
político e industrial, bem como do público em geral. EU level), assim como o fundador e orientador de dois projectos europeus de
redes de formação para jovens profissionais da energia das ondas
A necessidade cada vez maior de energias renováveis (que não serão tratadas (www.wavetrain.info).
de uma forma mais aprofundada neste artigo) só foi formalmente reconhecida
no início do séc. XXI. Aquando do sucesso da energia eólica, também a energia Em 2004, o WavEC preparou um estudo abrangente para a Direcção-Geral
das ondas começou a receber alguma atenção, apesar de alguns problemas de de Energia e Geologia, em que estimava um potencial nacional de energia das
credibilidade relacionados sobretudo com algumas falhas ocorridas no passado. ondas de 5GW na primeira fase da penetração da tecnologia, o que implica uma
contribuição eléctrica de até 20% das necessidades de Portugal. No seguimento
O renascimento do sector ficou a dever-se a financiamentos públicos no da ideia e esforços significativos do Director do WavEC, o Prof. António
âmbito de projectos de I&D, e rapidamente contou com o envolvimento de Sarmento, a criação de uma zona de acesso facilitado a licenças e ligações à
alguns parceiros do sector energético e de áreas correlacionadas, bem como rede eléctrica para as centrais de energia das ondas começou a ser discutida,
do capital de risco, que conduziram ao desenvolvimento relativamente rápido para se conseguir colmatar a transição da fase de desenvolvimento tecnológico
de vários protótipos de mar entre 2001 e 2004. A partir de 2005 houve um para a de mercado. O Governo decidiu investigar essa possibilidade através da
aumento significativo de novos conceitos e esforços industriais, sobretudo criação de um grupo de trabalho para o efeito, o qual concluiu essa tarefa com
por parte de PME especializadas o que conduziu à fase actual, que poderia a elaboração de um documento final em 2006; no início de 2007, em resultado
ser designada como a “febre do ouro” pré-comercial deste ramo tecnológico: desse documento foi elaborada uma proposta de lei para a criação de uma 33
apesar do mercado não estar (ainda) preparado, pois persistem alguns zona-piloto para a energia das ondas, em território nacional: uma vasta área de
problemas de utilização no mar e de ligação à rede eléctrica que precisam de 320 Km2 ao largo de S. Pedro de Moel, com uma capacidade instalada de 800
ser solucionados com maior detalhe e também a falta de outros requisitos MW na primeira fase e 250 MW na segunda fase, incluindo uma estratégia de
estruturais, existem actualmente mais de 50 produtores a nível mundial centralização para o licenciamento e ligação à rede eléctrica nacional.
que pretendem desempenhar um papel de destaque no futuro mercado. O documento entrou em vigor em Janeiro de 2008 (DL, 5-2008), no entanto até
Apesar de boa parte destes produtores ainda se encontrar numa fase de ao final do Verão não se seguiram quaisquer acções.
desenvolvimento relativamente inicial, há pelo menos 10 a 20 conceitos que A existência de uma área exclusiva de desenvolvimento esconde várias
possuem um currículo notável de I&D e/ou desenvolvimento tecnológico, pelo vantagens:
que, em termos tecnológicos, podemos estar a poucos anos de distância do (i) Os responsáveis pelo desenvolvimento têm poucos entraves ao nível
fornecimento de uma grande quantidade de electricidade produzida a partir do licenciamento, têm uma tarifa de alimentação garantida e justa, e
da energia das ondas. Portugal tem estado tradicionalmente activo no campo podem contar com uma infra-estrutura adequada ao desenvolvimento do
da investigação da energia das ondas, sobretudo através do grupo de energia respectivo protótipo, podendo concentrar-se nos principais problemas – a
das ondas do Departamento de Engenharia Mecânica do Instituto Superior tecnologia.
Técnico (IST), no entanto o know-how tinha sido desenvolvido sobretudo na (ii) O desenvolvimento tem início numa área principal, permitindo o
área da modelação e simulação, no âmbito do desenvolvimento e construção desenvolvimento mais rápido de clusters e, simultaneamente, acompanhar
da primeira central piloto CAO (Coluna de Água Oscilante) a nível europeu, na a utilização em larga escala numa fase inicial de um modo controlado e
ilha do Pico (Açores). Este projecto foi um marco importante nas actividades monitorizado.
portuguesas, apesar da sua implementação estrutural ter sofrido inúmeras Infelizmente existem alguns aspectos negativos nesta abordagem:
vicissitudes. A partir de 2000, inúmeros estudos contribuíram para uma (i) O carácter exclusivo da zona, pode constituir um potencial entrave a
melhor percepção do elevado nível de desenvolvimento e das potencialidades outros esforços de instalação de centrais de energia das ondas. De acordo
da energia das ondas, nomeadamente estudos de viabilidade em termos com os conhecimentos existentes actualmente, este tipo de centrais não
de dimensão do projecto mas também do potencial socio-económico para pode ser instalado num lugar qualquer.
Portugal e também para outros países. Um ano mais tarde, Portugal foi o (ii) O tempo de espera é excessivo; 2 anos após as recomendações do grupo
primeiro país a introduzir de forma explícita uma tarifa de alimentação para a de trabalho ainda não existe nenhum órgão de gestão e praticamente nada
tecnologia de energia das ondas. A tarifa, considerada na época uma novidade pôde ser feito. Noutros países (Espanha, França, Irlanda), algumas áreas de
mundial, nunca foi usada por uma equipa de desenvolvimento, no entanto testes de menores dimensões foram constituídas posteriormente e já estão
aparentemente estimulou iniciativas idênticas em muitos outros países, parcialmente em construção.
sobretudo no Reino Unido, mas também na Irlanda e mais tarde em Espanha
e França. Em resultado de uma combinação dos pontos anteriores, existe actualmente
(e continuará a existir ainda durante algum tempo) uma zona “cinzenta” para a
Em 2003, o mesmo grupo responsável por estes estudos deu início ao Wave implementação da energia das ondas em Portugal, pelo menos até à existência
Energy Centre – Centro de Energia das Ondas (WavEC; www.wavec.org), de uma zona-piloto. O atraso poderá implicar a perda de investimentos em
uma associação sem fins lucrativos constituída por 15 entidades que têm em Portugal de muitas potenciais sociedades de investimento em tecnologia.
comum o objectivo de possibilitar e acelerar a utilização da energia das ondas Se, por outro lado, a implementação da zona-piloto for considerada uma
em Portugal e no estrangeiro. O WavEC já adquiriu muita experiência prática, prioridade política a partir deste momento, existem boas hipóteses de ser
em primeiro lugar devido à participação nos testes do protótipo à escala real criado um mercado interno inovador e forte para este novo ramo tecnológico
da tecnologia holandesa AWS (hoje uma empresa britânica; www.awsocean. das energias renováveis.
com), mas também devido à recuperação, realização de testes e constante
por Frank Neumann, Director Adjunto, Wave Energy Centre – WavEC.
melhoramento da central CAO no Pico, que foi transferida para a WavEC
Roteiro

Websites de Referência em Portugual Eventos


| Im))pactus Setembro | Outubro 2008

Quercus Energia
http://www.quercus.pt Setembro 2008
Direcção Geral de Energia e Geologia
www.dgge.pt 16 e 17 BioEnergy World Americas 2008, Salvador da
Agência para a Energia Bahia, Brasil.
www.adene.pt
24 a 26 PowerExpo, Zaragoza, Espanha.
Portal das Energia Renováveis
www.energiasrenovaveis.com
Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
www.erse.pt Outubro 2008
Cogeração em Portugal
www.cogenportugal.com 7e 8 Conferência Energias Renováveis, Lisboa , Portugal.
Agência Cascais Energia RENEXPO 2008, Augsburg, Alemanha.
www.cascaisenergia.org 9 a 12
Associação de Energias Renováveis
34 www.apren.pt Novembro 2008
Associação Portuguesa de Energia
www.apenergia.pt Wind Energy Operations and Maintenance
11 e 12
Ministério da Economia e Inovação(Energia) Summit, Londres, Inglaterra.
http://www.min-economia.pt
Instituto Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial Dezembro 2008
www.ineti.pt
Sociedade Portuguesa de Energia Solar 11 e 12 II Congresso de Energias Renováveis, Alternativas
www.spes.pt e ambiente, Viana do Castelo, Portugal.
Centro de Energia das Ondas
www.wave-energy-centre.org Janeiro 2009
Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico
www.apve.pt
19 a 21 World Future Energy Summit, Abu Dhabi, Arabia.

Websites de Referência Interancionais


Livros
United Nations(Energy)
http://esa.un.org/un-energy
European Commission (Energy) Energy Subsidies, Lessons Learned in Assessing their Impact
http://ec.europa.eu/energy/index_en.html
and Designing Policy Reforms, editor: Anja von Moltke, Colin
European Biomass Industry Association McKee and Trevor Morgan, GreenLeaf Publishing.
www.eubia.org
Food and Agriculture Organization (FAO)
www.fao.org The Business of Sustainable Mobility, From Vision to Reality,
World Bank (Energy)
editor: Paul Nieuwenhuis, Philip Vergragt and Peter Wells, GreenLeaf
www.worldbank.org/energy Publishing.
World Food Programme( UN food aid agency)
www.wfp.org Solar Revolution: The Economic Transformation of the Global
IMF Energy Industry, por Travis Bradford.
www.imf.org
Europe’s Energy Portal
www.energy.eu
Renewable Energy: Sustainable Energy Concepts for the
Future por Roland Wengenmayr and Thomas Bührke.
European Solar Thermal Industry
www.estif.org
European Wind Energy Association
Earth: The Sequel: The Race to Reinvent Energy and Stop
www.ewea.org Global Warming por Fred Krupp and Miriam Horn.
European Commission (Energy and Transport)
http://ec.europa.eu/dgs/energy_transport/index_en.html Renewable Energy: Techonology, Economics and Environment,
por Martin Kaltschmitt, Wolfgang Streicher, and Andreas Wiese.
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