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EDITORIAL

Uma profissão sempre ligada

A
lealdade e a solidariedade entre pares e a qualifi- **
cação são os dois principais alicerces e o cimento No dia 21 de setembro comemorou-se o Dia do Contabi-
de qualquer profissão. São valores intemporais e lista. Mesmo sem o convívio proporcionado nos dois anos
perenes. É preciso afirmar sem rodeios: uma profissão que anteriores, no Porto e em Lisboa, o conselho diretivo quis,
descura a formação e a reciclagem de conhecimento dos à distância, manter-se ligado aos seus membros. Para
seus membros está condenada ao insucesso. Com ou sem isso, fizemos uma espécie de reunião aberta em que foram
pandemia, a formação é fundamental e imprescindível e respondidas muitas das questões que mais preocupam os
jamais poderá ser negligenciada. Trata-se de um dos prin- profissionais. Tratou-se de uma iniciativa simples, mas
cipais ativos na posse dos contabilistas certificados. que estou em crer revelou-se de grande utilidade. Estive-
No passado dia 18 de setembro a Ordem inaugurou um mos «juntos», mesmo distanciados. Para o ano, espere-
novo modelo formativo a que se deu o nome de plug-in. mos que com um contexto sanitário normalizado, volte-
O termo é moderno, mas para além disso, a base em que mos a estar juntos – leia-se, fisicamente próximos – para
assenta esta nova formação permite acompanhar as mu- celebrar, sem constrangimentos de qualquer espécie, esta
danças e os novos hábitos decorrentes do tempo novo que efeméride tão especial.
vivemos. O objetivo que presidiu à sua criação visa, acima
de tudo, possibilitar liberdade de escolha aos membros – **
optando pela formação em sala ou em modo remoto – da
forma mais conveniente e cómoda que entenderem. Temas Uma palavra final para o entrevistado desta edição. O ad-
pertinentes e formadores de qualidade são a garantia de vogado e fiscalista Tiago Caiado Guerreiro é uma cara co-
que esta formação tem tudo para ser bem-sucedida. Aliás, nhecida dos portugueses quando se fala de impostos. Sem
a avaliar pelo grau de satisfação dos participantes as pri- papas na língua, descreve, com uma clarividência meri-
meiras impressões apontam precisamente nesse sentido. diana a forma como a administração fiscal se relaciona (ou
Mas, obviamente, como em todas as experiências inova- não) com os contribuintes e os atropelos constantes aos
doras, há que fazer ajustamentos e aperfeiçoamentos, no- direitos e liberdades e garantias. O papel dos contabilistas
meadamente ao nível da plataforma. Para melhorarmos o certificados no apoio às empresas e aos empresários não
reforço da interatividade, contamos com os contributos de deixou de ser abordado por Caiado Guerreiro. Uma entre-
todos os membros. Façam-nos chegar as vossas sugestões vista para ler e refletir.
para melhorarmos este modelo formativo em que deposi-
tamos muita esperança. Paula Franco, Bastonária

SETEMBRO 2020 3
FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

ANO XX
REVISTA N.º 246 • SETEMBRO 2020
6
Propriedade Publicidade
Ordem dos Contabilistas Departamento
Certificados de Comunicação
e Imagem da Ordem
Avenida Barbosa
du Bocage, 45 Produção editorial
1049-013 Lisboa e revisão
Contribuinte n.º 503 692 310 Departamento
Telefone: 217 999 700 de Comunicação
e Imagem da Ordem
Diretora
Paula Franco Telefone:
217 999 715/17/18/19
Diretores adjuntos Fax: 217 957 332
Filomena Moreira comunicacao@occ.pt Entrevista a Tiago Caiado Guerreiro
José Pedro Farinha
Manuel Teixeira www.occ.pt

30
Joaquim Barbosa
Álvaro Costa Impressão
Cristina Pena Silva LiderGraf

Redação Tiragem
Jorge Magalhães 10 001 exemplares
Nuno Dias da Silva
Depósito legal
Design e paginação N.º 150317/00
Duarte Camacho
João Martins ISSN
Sara Brás 1645-9237

Fotografia Organismos internacionais


Raquel Wise a que a Ordem pertence:

Secretariado
Raquel Carvalho
Ana Abrunhosa participou em conferência da OCC
Colaboram nesta edição
Alexandre Marques

42
Armindo Lima

JUSTO
Clara Gariso
Cláudia Pereira
Conceição Soares

IMPEDIMENTO
Emília Alves
Helena Saraiva
Paula Franco
Rui Bastos Portaria n.º 232/2020 de 1 de outubro
Rui Bertuzi

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.


Obrigações fiscais abrangidas pelo regime

4 CONTABILISTA 246
SUMÁRIO

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Dia de S. Mateus foi comemorado de uma forma diferente

NOTÍCIAS
16 Formação plug-in
19 Dia do Contabilista | Pasta CC – Prazos máximos de resposta encurtados
30 2.º ciclo de conferências online - «ConVIVER com a pandemia» - Incentivos e apoios à retoma
33 2.º ciclo de conferências online - «ConVIVER com a pandemia» - Contabilidade e Fiscalidade versus gestão
de empresas
36 Estudo de viabilidade económica e financeira sobre as «Casa do CC»
38 Escritura de aquisição efetiva da sede | Curso de deontologia para membros estagiários
39 TOConline ensino | Reuniões livres TOConline regressaram em setembro
40 Prémio Professora Doutora Ana Maria Rodrigues | UCALP presente na internet
41 Bastonária participou em encontro da AECA | Ordem presente na «Ambição Agro 2020-30»
42 Justo impedimento | Reforço da bolsa de peritos da OCC
43 Ordem nos media

COLABORAÇÃO ISCAP
44 A importância de especialização do contabilista certificado

FISCALIDADE
48 Crédito Fiscal Extraordinário ao Investimento II (CFEI II)
52 Regularização de IVA em créditos de cobrança duvidosa ou incobráveis – Procedimentos de dedução

CONTABILIDADE
58 Inovação em contabilidade em tempos de crise – Desafios e oportunidades

DIREITO
60 Covid-19 e o regime das faltas ao trabalho

GESTÃO
65 As necessidades de informação não financeira e as possibilidades de contribuição da contabilidade de gestão

CONSULTÓRIO
67 Perguntas e respostas

SETEMBRO 2020 5
ENTREVISTA

Tiago Caiado Guerreiro, fiscalista

«O Estado só quer obter receita, seja


de que forma for: justa, injusta ou ilegal»
Tiago Caiado Guerreiro garante que são os políticos que impedem a AT de dialogar com os
contribuintes. O objetivo é claro: o Estado tem de ser «brutal e implacável» para arrecadar
receita que «nem sempre é legítima.» O fiscalista acrescenta que o Estado é uma «pessoa
de mal» e que vê as pessoas primeiro como contribuintes e só depois como cidadãos.

Entrevista Nuno Dias da Silva Fotos Raquel Wise

C
ontabilista – O governo estruturado, como devia ter sido pagariam metade do IRC. Isso for-
tem feito o suficiente para feito. taleceria as empresas, dando-lhes
mitigar os efeitos da crise mais possibilidade de conseguirem
pandémica na economia ou verifi- Contabilista – O que é que quer sobreviver a este ou a futuros cho-
ca-se um maior pendor de medi- dizer com apoio estruturado? ques. Por outro lado, em sede de
das contributivas em detrimento T.C.G. – Estou a referir-me à sus- IRS e de IMI, entendo que deveria
de apoios de âmbito fiscal? pensão de impostos, com o não ter havido igualmente uma deso-
Tiago Caiado Guerreiro – O esfor- pagamento dos mesmos, conside- neração, por uma razão muito sim-
ço que se fez no âmbito da Seguran- rando as enormes quebras de fa- ples: o nosso IRS é tão elevado que
ça Social foi razoável, com o lay-off turação registadas nas empresas e conheço pessoas que tinham dois
simplificado a revelar-se o apoio as falências maciças que já estão a e três empregos e reduziram o seu
com maior significado, apesar de acontecer e outras que se perfilam trabalho apenas para uma ocupa-
excluir, de forma absolutamente no horizonte. É de prever que o pior ção, porque o imposto é tão elevado
injusta, os gerentes e administra- da crise, em termos de encerra- e cresce tão exponencialmente, que
dores das empresas que são agentes mento de empresas e despedimen- não vale a pena trabalhar. Nós es-
extremamente importantes num tos, se comece a verificar a partir tamos exatamente no mesmo ponto
país que tem imensas microempre- de outubro, até tendo em conta o em que se encontravam os suecos
sas. Em minha opinião, tratou-se previsível agravamento da situação nos anos 60: os impostos eram tão
de uma decisão ideológica. Quero pandémica. elevados, que se dizia que os mé-
também destacar outras profissões, dicos daquele país nórdico eram
como a de advogado, que viram os Contabilista – O que defende ao os melhores jogadores de golfe do
seus rendimentos reduzidos dras- nível de medidas para garantir o mundo. Porquê? Porque trabalha-
ticamente e privados de qualquer emprego? vam umas horas de manhã e iam
apoio por parte do Estado. T.C.G. – Por exemplo, reduzir o IRC dar umas tacadas para os campos
das empresas para metade, durante de golfe à tarde. Defendo que se de-
Contabilista – Do ponto de vista um período de cinco anos. Pagavam via avançar com a seguinte medi-
fiscal podia ter-se ido mais longe? «só» 10 por cento. Outra hipótese: da: caso um dos elementos do casal,
T.C.G. – No âmbito fiscal o apoio foi se as empresas injetassem capitais que não estivesse a trabalhar, en-
escasso. Houve algumas medidas próprios e os mantivessem duran- trasse para o mercado de trabalho,
cosméticas, mas não existiu apoio te cinco ou oito anos, também só a taxa de IRS não deveria subir.

SETEMBRO 2020 7
ENTREVISTA

PERFIL
Tiago Caiado Guerreiro nasceu Lusíada Portuguesa, especiali-
a 22 de novembro de 1969, em zou-se em Gestão e Fiscalidade
Lisboa. É personalidade assídua pelo Instituto de Estudos Supe-
nos ecrãs de televisão e nas pá- riores Financeiros e Fiscais. Em
ginas dos jornais como comen- termos académicos, é professor
tador de assuntos na esfera fis- convidado de «Fiscalidade das
cal. É sócio na Caiado Guerreiro Instituições Financeiras» da pós-
– Sociedade de advogados e pre- -graduação de Gestão de Ban-
sidente do Instituto das Socieda- cos e Seguradoras, no Instituto
des de Advogados. Licenciado Superior de Economia e Gestão
em Direito pela Universidade (ISEG – IDEFE).

Contabilista – Aliviar o IRC seria, temos um sistema fiscal, temos olival e dos frutos secos. Agora, já
na sua perspetiva, indispensável é um sistema de financiamento se fala em proibir o olival porque
para as empresas e para o empre- do Estado. Pode desenvolver esta destrói o meio ambiente e a produ-
go? ideia? ção de azeite em Portugal. Isto são
T.C.G. – Gosto muito de taxas de T.C.G. – Simplesmente, porque dois exemplos de que quando há
IRC porque se aplicam a toda a não há um objetivo de crescimen- setores que começam a ter sucesso
gente, enquanto os benefícios fis- to. E isso tem sido visto nas últimas e a ganhar dinheiro, surge a fisca-
cais ou pecam por ser confusos ou décadas, em que a média de cres- lidade criada por inveja. É terrível,
são normalmente desenhados para cimento do PIB ronda os 0,4 ou 0,5 mas o nosso país é extremamente
empresas que têm lóbis ou algum por cento. Deixe-me avançar com invejoso. Basta lembrar a frase de
tipo de ligações ao poder político. um exemplo: recordo-me da Poló- um general romano que dizia «na
Por isso, entendo que a descida do nia que, aquando da queda do Muro Lusitânia, a inveja é a regra»). E
imposto sobre as pessoas coleti- de Berlim, era um país absoluta- também há outra do mesmo autor:
vas beneficia toda a gente. E isso é mente miserável. Em 2022 vai ul- «Que raio de povo é este que não se
que é justo, porque as pessoas e as trapassar Portugal no indicador per governa e não se deixe governar».
empresas devem ser tratadas com capita, o que é revelador da situação São duas frases com dois mil anos e
igualdade. Para além disso, deve- em que nós estamos e sintomático que ainda nos continuam a assen-
ria ter sido criada uma estratégia da má gestão que temos. Outro dos tar como uma luva.
para o sistema fiscal, porque o que problemas em Portugal é que a fis-
atualmente temos está baseado em calidade é criada por inveja. Contabilista – A presidente do
normas que aplicam impostos com Conselho das Finanças Públicas
o único objetivo de obter receita, Contabilista – Como assim? sugeriu, em entrevista ao «Ex-
independentemente da neutrali- T.C.G. – Passo a explicar: se o imo- presso», que se devia pensar num
dade fiscal, da justiça fiscal ou da biliário está a ter sucesso, ato con- imposto excecional de solidarie-
equidade fiscal. tínuo, atacam esta atividade com dade para a pandemia. Qual é a
impostos. A agricultura conheceu sua opinião?
Contabilista – Tem dito que não uma grande progressão ao nível do T.C.G. – Entre 1965 e a atualidade

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ENTREVISTA

«Quando há setores que


começam a ter sucesso
e a ganhar dinheiro, surge
a fiscalidade criada por inveja»

a carga fiscal em peso do PIB du- se recorrer a um serviço público do acontece na Alemanha, em Fran-
plicou para 35,4 por cento. Isto são Estado, na educação ou na saúde, ça ou em Espanha, por cá temos o
dados relativos a 2018, mas na ver- acaba por ser penalizado. A lógica oposto. Em Portugal uma empresa
dade o peso é muito maior, porque é: se ganha, tem de pagar mais. Não ou uma pessoa de sucesso torna-se
temos taxas, taxinhas e outras coi- é por isso de estranhar que muitos um alvo. É um problema cultu-
sas que são criadas todos os dias e não queiram auferir um valor su- ral gravíssimo e que nos acaba por
que, apesar de terem outro nome, perior ao salário mínimo nacional, condenar ao subdesenvolvimento e
também são impostos. A acres- porque a partir daí qualquer ser- aos custos da corrupção.
cer a isso, temos o problema de os viço que o Estado lhes dá é mui-
impostos serem incorretamente to oneroso e, em consequência, só Contabilista – O ministro das Fi-
distribuídos. Em consequência, perdem com isso. nanças afastou uma eventual su-
entendo que o nosso sistema fiscal bida de impostos para empresas e
desincentiva o trabalho e premeia Contabilista – E como é que esse famílias no próximo ano. Admite
a preguiça, porque as pessoas e as desequilíbrio se traduz nas em- uma austeridade disfarçada em
empresas que estão no mercado de presas? impostos indiretos?
trabalho são penalizadas com im- T.C.G. – Em Portugal quando as T.C.G. – Em Portugal os impostos
postos altamente progressivos e empresas ganham alguma dimen- só sobem, parece que não há qual-
quem não quer trabalhar não tem são e se tornam mais visíveis são quer gravidade que os leve para
de pagar imposto, com a particu- objetivo, permanente, por parte da baixo. O que acontece é que o Es-
laridade de ainda receber subsídios administração fiscal. tado e os políticos tornam-se mais
do Estado. poderosos quanto mais impostos
Contabilista – Está a querer dizer cobrarem e, em simultâneo, mais
Contabilista – O que descreve é a que há uma perseguição fiscal? frágil se torna a sociedade. Temos
injustiça fiscal em todo o seu es- T.C.G. – Há uma intensificação fis- uma crescente tendência estatis-
plendor… cal quando as empresas se tornam ta ou mesmo ditatorial, em que o
T.C.G. – Quem está no mercado de mais visíveis. Dito de outra forma: Estado quer controlar tudo e reu-
trabalho tem mais custos, porque em vez de haver um prémio, como nir em si todo o poder. Os políticos

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ENTREVISTA

«O nosso sistema fiscal


desincentiva o trabalho e
premeia a preguiça, porque
as pessoas e as empresas que
estão no mercado de trabalho
são penalizadas com impostos
altamente progressivos e
quem não quer trabalhar não
tem de pagar imposto, com
a particularidade de ainda
receber subsídios do Estado.»

pensam no mesmo: ter mais poder, çada dos contribuintes, empresas tor e os problemas eram resolvidos
para nas próximas eleições pode- ou pessoas para o Estado. Por isso, com sensatez e equilíbrio. Havia
rem arrecadar mais votos. existe uma grande concentração uma preocupação de aplicar o im-
de poder. E é preciso não esquecer posto justo, o chamado fair share.
Contabilista – Onde é que fica a que os próprios colaboradores da Na atualidade a única preocupação
preocupação com o sentido de Es- AT estão obrigados a atingir deter- passa por maximizar. Chega-se ao
tado e a justiça social? minados objetivos e estas metas são ponto de muitas inspeções serem
T.C.G. – Infelizmente, há mui- definidas pelos políticos e não pela feitas quando já se encontram defi-
to poucas pessoas com sentido de administração fiscal. nidos, à partida, os valores que vão
Estado. Quem governa está pouco ser corrigidos, independentemente
preocupado em criar uma econo- Contabilista – Mas mesmo obede- de haver justiça ou não. E isto tam-
mia mais dinâmica, mais equi- cendo a diretrizes governamen- bém acontece porque devíamos ter
tativa e mais justa. A política hoje tais, a postura da AT não devia ser no Estado um sistema de contabi-
em dia é uma questão de gestão de mais moderada, nomeadamente lidade semelhante ao que existe
poder. na relação com os contribuintes? nas empresas – e que já havia com
T.C.G. – A AT devia ter uma preo- o Marquês de Pombal, mas depois
Contabilista – E na ânsia de arre- cupação de equilíbrio, aplicar o acabaram com ele...–, mas o que
cadar receitas, a Autoridade Tri- imposto com justiça e esforçar-se interessa é única e exclusivamente
butária (AT) é, por assim dizer, o por compreender a complexida- o ingresso do imposto.
braço armado de quem governa? de da realidade, nomeadamente
T.C.G. – Não só a administração através da promoção do diálogo Contabilista – O que descreve não
fiscal, porque existe uma série de com os contribuintes. E o diálogo é um Estado que se diz uma pessoa
inspeções e de controlo das pessoas só não existe porque os políticos de bem…
que se manifestam nos inúmeros impediram que a AT dialogue com T.C.G. – Pelo contrário, o Estado
serviços do Estado. O caso da ad- os contribuintes. Recordo-me que é uma pessoa de mal. Criámos um
ministração fiscal reveste mais há 15 ou 16 anos dirigia-me a uma Estado e um setor público megaló-
importância porque o imposto é repartição de finanças para falar mano com custos elevadíssimos e
uma transferência patrimonial for- com um chefe ou com um inspe- que o setor privado tem de finan-

10 CONTABILISTA 246
ENTREVISTA

«Em Portugal qualquer


incumprimento é criminalizado.
Tudo é crime. Não há margem
para contraditório. Destrói-se a
vida das pessoas e o futuro das
empresas»

ciar, através dos impostos. esclavagismo ou de regime feu- to, ninguém consegue resolver. A
dal, em que o Estado vai ter com preocupação do Estado com os con-
Contabilista – O fisco durante a as pessoas ou as empresas e tira o tribuintes é zero. O objetivo é ape-
gestão de Paulo Macedo adquiriu que quer. Não existe o princípio da nas a receita.
uma eficiência enorme. O que se legalidade. O carater humanista e
ganhou em eficiência perdeu-se, de relação que existia, e que era tão Contabilista – Da experiência que
proporcionalmente, no respeito importante, desapareceu. A admi- tem com os seus clientes, gostaria
pelos direitos e garantias dos con- nistração fiscal, hoje em dia, não de partilhar algum caso mais re-
tribuintes? tem um rosto, que apareça e resolva cambolesco que ilustre a relação
T.C.G. – Paulo Macedo conseguiu os problemas. O Estado só quer que (ou a falta dela) entre o fisco e os
gerir bem e tornar mais eficiente a o seu computador aplique as regras, contribuintes?
administração fiscal, mas também sejam elas justas, injustas ou ile- T.C.G. – Tenho inúmeros casos. Por
o fez porque retirou garantias aos gais, para obter receita. exemplo, uma empresa farmacêu-
contribuintes. Hoje em dia só se tica foi penhorada em 35 milhões
consegue atingir esta receita fiscal Contabilista – Mas o computador de euros porque tinha uma dívida
porque os direitos dos contribuin- é programado por humanos… de imposto no valor de 50 cênti-
tes foram, pura e simplesmente, ig- T.C.G. – O computador é progra- mos. Mas há mais: uma multina-
norados e retirados da lei. Isto é to- mado por humanos, tendo em vista cional, que representa milhares de
talmente unívoco: o Estado só quer objetivos. O que é mais grave ain- postos de trabalho em Portugal,
obter receita, seja de que forma for: da. Para além disso, todo o sistema após muito tempo à espera de rece-
justa, injusta ou ilegal. fiscal foi pervertido no que diz res- ber do Estado montantes muito ele-
peito à relação entre administração vados de IVA (apenas para atingir
Contabilista – Mas que relação é, tributária e contribuintes. Deixa- os objetivos do défice) ameaçou fe-
afinal, a existente hoje entre a AT ram de haver mecanismos de de- char todas as fábricas que tinha no
e o contribuinte? fesa, relação e de correção simples nosso país. Também tenho casos de
T.C.G. – A relação entre a adminis- dos erros – o que existe é uma apli- litígios que se arrastaram em tri-
tração fiscal, no fundo o Estado, e cação cega. É, por isso, sintomático bunal cerca de 20 anos. E também
o contribuinte deixou de existir. que pequenas coisas que deviam e tenho processos crime instaurados
Estamos perante uma espécie de podiam ser resolvidas no momen- contra administradores de multi-

SETEMBRO 2020 11
ENTREVISTA

nacionais por erros de que não são alteração? tem de existir uma dialética per-
responsáveis, mas que até se apurar T.C.G. – Vem no sentido do que tem manente entre a AT e os cidadãos.
a verdade leva ao seu despedimen- sido feito. Só a brutalidade é que Ou seja, na administração fiscal ti-
to dessas empresas. Portugal, com permite ao Estado obter e au- nha de existir um grupo de pessoas
10 milhões de habitantes, tem esta mentar a receita neste momento. – naturalmente, com a diretora ge-
originalidade de iniciar milhares e É absolutamente injusto, imoral e ral da AT na primeira linha – que
milhares de processos por crimes inconstitucional. Só tenho pena prestaria esclarecimentos perma-
fiscais, todos os anos, quando os que as instâncias que deviam afe- nentes sobre as matérias. Simples-
Estados Unidos, com 350 milhões rir a constitucionalidade de cer- mente porque vivemos num siste-
de habitantes, instaura em média tas leis muitas vezes optem pela ma democrático e a aplicação do
dois mil processos crime por ano. passividade, em vez de agir. Se imposto é uma medida unilateral,
reparar no Orçamento do Esta- extremamente violenta, de retirar
Contabilista – Existe uma crimina- do, os montantes que lá constam o património às pessoas e às em-
lização desproporcional em maté- referentes a contraordenações, presas.
ria fiscal? multas e juros são elevadíssimos.
T.C.G. – Em Portugal qualquer in- E se não fossem arrecadados, o Contabilista – A introdução do
cumprimento é criminalizado. défice ficaria, certamente, to- SAF-T da contabilidade foi adiada,
Tudo é crime. Não há margem para talmente descontrolado. Isto já mas muitas dúvidas persistem so-
contraditório. Destrói-se a vida das não tem a ver com a lei. Tem a ver bre se não estaremos perante mais
pessoas e o futuro das empresas. com retirar dinheiro às pessoas. um big brother fiscal. Confia na
Aliás, deixe-me citar um estudo Basicamente, é o mesmo que na- forma como as autoridades fiscais
de muito interesse promovido pela cionalizar. lidam com os dados das empresas?
International Fiscal Association, que T.C.G. – Esse é um risco muito ele-
conclui que em 70 por cento dos ca- Contabilista – Pelo cenário que vado. O Estado continua a ir longe
sos em que é iniciado um processo descreve, a justiça fiscal fica apenas demais, quer meter-se em tudo e
crime contra a empresa esta acaba no papel e nas boas intenções… saber tudo o que se passa: desde as
por falir. É preciso sublinhar que T.C.G. – Não existe qualquer justiça contas bancárias, ao uso do cartão
há uma privação de liberdade, com fiscal no nosso país, nem qualquer de crédito, onde é que tomamos o
congelamento dos bens, quando preocupação para que ela seja uma café, etc. Isto é um sistema ditato-
em imensos casos não faz qualquer realidade. Um sistema fiscal digno rial. Quando liamos o livro “1984”
sentido. Um estudo da professora desse nome estimula o trabalho, a de George Orwell, estaríamos lon-
Glória Teixeira identificou 98 situa- iniciativa, o crescimento e o enri- ge de imaginar a quantidade de
ções de crimes desta natureza, mas quecimento das empresas, mas o informação que o Estado tem, hoje
acredito que hoje em dia já supere a que temos é a aplicação de normas, em dia, sobre os contribuintes.
centena. As multas e os crimes avo- muitas vezes brutais, injustas e ile-
lumam-se a grande ritmo porque o gais, para obter receita e garantir Contabilista – Mas teme que dados
Estado sabe que o imposto é injusto que haja dinheiro para a despesa do sensíveis caiam em mãos erradas?
e tem que ser brutal e implacável Estado. O nosso sistema fiscal não T.C.G. – Isso é uma preocupação
para obter receita que não é legíti- vai para além disso, o que torna di- que já é tema de conversa a nível
ma. fícil que a nossa economia venha a internacional e deriva do risco de
sobreviver. associações e empresas crimino-
Contabilista – Está em discussão no sas obterem esses dados relativos a
Parlamento, em sede de especia- Contabilista – São diversas as crí- pessoas e empresas. Por cá, prefe-
lidade, as alterações ao artigo 32.º ticas à forma como a AT comunica. re esconder-se o assunto. E admito
do RGIT, que retira a possibilidade Esta entidade devia promover con- que iremos começar a ter raptos e
haver eliminação de coima quando ferências de imprensa sempre que perseguições a pessoas e empresas
não se lesa o Estado. A OCC já disse se justificasse? porque existe uma permeabilidade
que tudo vai fazer para travar esta T.C.G. – Seria uma medida da mais para que esses dados fiquem à mer-
disposição. O que lhe parece esta elementar justiça. Em democracia cê de associações criminosas.

12 CONTABILISTA 246
ENTREVISTA

«Portugal tinha tudo para ser


um misto de uma Suíça, de uma
Flórida e de uma Califórnia, mas
infelizmente fazemos tudo ao
contrário. Temos um regime de
residentes não habituais, mas
depois somos céleres em investigar
quem se pretende fixar por cá,
arranjando-lhes problemas, sem
razão nenhuma de ser, apenas para
alcançar objetivos de tributação»

Contabilista – Quando fala em per- sentido em que finalmente houve mina de «imigrantes de luxo». Que
meabilidade refere-se a falhas in- coragem para atacar estas ques- receita advoga?
formáticas? tões de corrupção. Lembro-me que T.C.G. – Eu vou dar o exemplo de
T.C.G. – Há falhas informáticas e há durante anos a fio ninguém ousa- três países/regiões do mundo: a
outras coisas. Quero recordar que va tocar na podridão. Quando se Suíça, a Califórnia e a Flórida. Em
até há pouco tempo não se falava de descobrem situações de corrupção 1950, logo a seguir à guerra, a Suíça
corrupção na Justiça e agora o as- o que devemos é elogiar e não cri- – um país no meio das montanhas e
sunto já chegou ao setor judicial, o ticar, porque se está a fazer algo pobre do ponto de vista de recursos
que faz com que seja completamen- (por pouco que seja) para debelar naturais – tornou-se um refúgio
te transversal à sociedade. Por isso, o problema. Já quanto à capacida- de pessoas com grande capacidade
ao estar uma grande quantidade de de de atrair investimento estran- económica, através de uma política
dados ao alcance de milhares de geiro, o facto de a justiça não fun- pragmática de impostos extraordi-
pessoas, é como em tudo na vida, cionar torna impossível que haja nariamente baixos. As pessoas e as
há as pessoas boas e as más. investimentos sérios em Portugal. empresas que se fixaram neste país,
Em litígios que acabam sempre por devido ao seu poder de compra, fa-
Contabilista – A acusação na aparecer na vida das empresas, não zem consumos elevados, em vários
«Operação Lex», que envolve vá- é possível estar à espera 5, 10 ou 15 domínios: educação, infraestrutu-
rios magistrados de tribunais su- anos por uma decisão judicial. As ras, serviços de advogados, conta-
periores, foi conhecida há poucos empresas optam por outros desti- bilistas, médicos, etc. Além disso,
dias. Aliado à burocracia e lentidão nos, o que mata, logo à partida, o estamos a falar de pessoas social-
do sistema, este escândalo mancha, investimento. mente influentes e com peso inter-
ainda mais, a imagem do sistema nacional, porque são empresários,
judicial e prejudica a atração de in- Contabilista – Ainda do ponto de médicos ou artistas de topo. Isto
vestimento estrangeiro? vista fiscal, defende que teríamos confere visibilidade ao país para
T.C.G. – O escândalo até é bom no condições para atrair o que deno- onde vão residir. Por seu turno, a

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ENTREVISTA

Flórida, para enriquecer, fez exa-


tamente o mesmo, com uma aposta
fortíssima na indústria do turismo «Devia ser absolutamente proibido por lei fazer
e em feiras internacionais. A Ca- notificações fiscais no mês de agosto (…).
lifórnia não tem impostos baixos,
mas foi hábil a combinar dois atra- É pura caça à coima e tentar passar os prazos legais
tivos: o clima e a tecnologia. Por para que não seja possível contestar.»
isso, digo que Portugal tinha tudo
para ser um misto de uma Suíça, de
uma Flórida e de uma Califórnia,
mas, infelizmente, fazemos tudo ao que leva a que muitos contabilistas dislexia do Estado.
contrário. Temos um regime de re- tenham uma grande dificuldade
sidentes não habituais, mas depois no acompanhamento das mudan- Contabilista – É voz corrente que
somos céleres em investigar quem ças permanentes, com os inevitá- os contabilistas são funcionários
se pretende fixar por cá, arranjan- veis custos económicos associados da AT na cobrança de impostos. É
do-lhes problemas, sem razão ne- extraordinariamente elevados. Já uma observação com aderência à
nhuma de ser, apenas para alcançar para não falar das consequências realidade?
objetivos de tributação. ao nível da saúde, visto que é um T.C.G. – Os contabilistas são co-
trabalho absorvente e com poucos laboradores nesse objetivo. E isto
Contabilista – Está a referir-se aos tempos de descanso. Tenho imen- explica-se porque a contabilidade é
vistos gold? sos contabilistas que me telefonam que vai definir, quer para as pessoas
T.C.G. – Não propriamente. Temos com problemas nas interpretações quer para as empresas, o imposto a
tido inúmeros casos de inspeções a de leis ou com clientes sujeitos a pagar. Isto faz sentido. O que não faz
estes residentes não habituais para mais uma inspeção fiscal, etc. O sentido é a crescente complexidade
lhes cobrar imposto que não é devi- problema é que tudo muda, a toda a dessa mesma tarefa, através da per-
do, no cumprimento das instruções hora. Em suma, o meu aplauso para manente alteração da lei e da falta
do Estado para obter receita. os contabilistas, que têm um pa- de transparência do próprio Estado
pel extremamente ingrato e difícil nestas matérias.
Contabilista – Falemos agora dos e sobre os quais existe a pressão de
contabilistas certificados. Estes que consigam cumprir, sem falhas, Contabilista – Concorda com a im-
profissionais são as principais víti- todas as tarefas e os problemas que plementação das férias fiscais, à
mas das constantes mudanças fis- se lhes deparam. semelhança do que já existe na jus-
cais em Portugal? tiça?
T.C.G. – Os contabilistas tornaram- Contabilista – E enquanto isto, o T.C.G. – Concordo. Aliás, devia ser
-se, e bem, fruto de um trabalho tempo torna-se escasso para acres- absolutamente proibido por lei fazer
excelente desenvolvido pela sua Or- centarem valor no âmbito do apoio notificações fiscais no mês de agos-
dem, os interlocutores privilegiados à gestão e à tomada de decisão? to. No meu escritório fazemos uma
entre as empresas e o Estado. A ver- T.C.G. – O apoio à gestão por parte grande parte de contencioso fiscal e
borreia, quase diarreia legislativa e dos contabilistas é muito limitado, as notificações enviadas em agosto
a alterações permanentes de pressu- porque não é possível consegui- aos clientes são uma constante. E o
postos das interpretações não com- rem acompanhar tantas altera- objetivo é só um: má fé. Trata-se de
preensíveis da lei fiscal, a falta de ções. O apoio à gestão pressupõe um mês em que por tradição as pes-
acesso às posições oficiais da AT – o um conhecimento aprofundado soas estão de férias e as empresas fe-
que revela uma falta de transparên- de determinado assunto e quando cham. É pura caça à coima e tentar
cia – e as constantes mudanças de o profissional começa a dominar passar os prazos legais para que não
formulários, apresentações, decla- melhor esse tema, surgem novas seja possível contestar.
rações, etc., representam um peso alterações. Torna-se difícil. Ser
esgotante e um desafio permanente contabilista é uma profissão que se Contabilista – Estamos às portas da
para esta classe de profissionais. O torna quase kafkiana, fruto da total apresentação do Orçamento do Es-

14 CONTABILISTA 246
ENTREVISTA

«Ser contabilista é uma


profissão que se torna
quase kafkiana, fruto da
total dislexia do Estado»

tado para 2021, mas para já o que se sobrecarregar as prestações da Se- fiscal e os impostos digitais so-
debate é o Plano de Recuperação e gurança Social nos próximos meses bre os gigantes tecnológicos. Há
Resiliência. É um plano que tem o e anos. Acho perfeitamente irracio- vontade política para concretizar
que o país precisa? nal. Portugal tem um gravíssimo estes objetivos ou a UE continuará
T.C.G. – Este plano é, basicamente, problema de solvabilidade. Penso fiscalmente a várias velocidades?
pegar em todos os capitais existen- que, inclusive, estamos em pior si- T.C.G. – Vontade da Comissão Eu-
tes e metê-los no Estado. Não há tuação do que aquando da crise fi- ropeia para a harmonização fiscal
qualquer preocupação com as em- nanceira. é coisa que não falta, mas é uma
presas nem com a iniciativa priva- matéria que exige unanimidade.
da. O foco deste governo é apenas Contabilista – Existe a possibilidade Muitos países sabem que os in-
o setor público e esquece o setor de voltarmos a ter uma troika a ba- centivos fiscais são fundamentais
privado, nomeadamente o apoio às ter à nossa porta? para a captação de investimento.
empresas. T.C.G. – Não será uma troika porque Os Estados Unidos e algumas ou-
a UE não se vai querer meter nisso. tras nações mais ricas do mundo
Contabilista – As propostas para o Podemos é vir a ter sérios proble- “jogam” imenso com os incen-
Orçamento começam a surgir, de mas com o Fundo Monetário In- tivos fiscais. Por isso, é que são
diversas proveniências. Por exem- ternacional (FMI). Estou em crer ricos. Nessa perspetiva, acho di-
plo, a CIP já sugeriu linhas Covid a que se o Estado português não for fícil uma harmonização. Sobre
fundo perdido para as empresas. reestruturado e os seus custos se- a outra questão, acho imoral que
Mas em março, o governo contestou riamente reduzidos, vai ter pro- não existam impostos no mundo
medidas desta natureza, afirmando blemas gravíssimos em honrar os digital. Não compreendo como é
que «despesas hoje, são impostos seus compromissos. a Google, a Facebook e a Amazon,
amanhã». Qual é a sua opinião? que ganham biliões, não têm apli-
T.C.G. – Então o dinheiro que vai Contabilista – Para finalizar, e cação de impostos. E, enquanto
todo para o Estado também não re- por falar em Europa, a UE con- isso acontece, perde-se tempo a
presenta impostos amanhã? Não fronta-se, entre outras temáticas, perseguir pequenas e médias em-
ajudar as empresas hoje é que vai com a questão da harmonização presas. É inadmissível.

SETEMBRO 2020 15
Moderno no nome, cómodo e interativo na prática
Novo modelo plug-in arrancou a 18 de setembro
Texto Nuno Dias da Silva

S
egundo a enciclopédia online no e leve, é usado somente sob de- funcionalidade adicional ou uma nova
Wikipedia, na informática, «um manda». Plugin, que também se pode característica ao software. No nosso
plugin ou módulo de extensão mencionar como plug-in, é um termo idioma, por conseguinte, pode desig-
(também conhecido por plug-in, add- que não faz parte do dicionário de nar-se plug-in como um complemento.
-in, add-on) é um programa de com- língua portuguesa. Trata-se de um Foi precisamente a partir desta de-
putador usado para adicionar funções conceito anglo-saxónico que se pode signação, moderna na terminologia,
a outros programas maiores, proven- entender como «inserção» e que se e que na prática pretende ser ino-
do alguma funcionalidade especial ou usa no campo da informática. Um plu- vadora, interativa e cómoda para os
muito específica. Geralmente peque- gin é uma aplicação que acresce uma membros, que se deu início ao novo

16 CONTABILISTA 246
NOTÍCIAS

modelo formativo da Ordem que se A bastonária, Paula Franco, desejou boa», o nível máximo na escala apre-
estreou, oficialmente, a 18 de setem- uma boa formação às quatro dezenas sentada, e 6 como «Boa».
bro. de participantes e mostrou-se convic-
ta de que este será um novo modelo 20 formações até final do ano
Primeiras impressões positivas que «veio para ficar», tanto pelos O calendário deste novo modelo de
Passavam 19 minutos das 9 da manhã, condicionalismos sanitários, como formação já se encontra disponível
quando o novo modelo de formação pelo caráter inovador que aporta. pelo que é possível, desde já, esco-
promovido pela Ordem entrou no “ar”. As primeiras impressões sobre a for- lher os temas que mais lhe interes-
Abílio Sousa foi o formador escolhido mação do novo modelo plug-in foram sam, a forma que mais se adequa às
para ministrar a sessão subordinada encorajadoras, a avaliar pelas opi- suas necessidades (presencial ou on-
ao tema: «Código Fiscal ao Investi- niões deixadas pelos membros parti- line) e submeter a sua inscrição. São
mento (RFAI, DLRR e SIFIDE)», e que cipantes na mesma. Das 32 avaliações as seguintes as formações agendadas
foi feita, pela primeira vez, em regime recebidas (participaram 32 formandos até final do ano:
misto: presencial (nas instalações da online e 10 presenciais), 26 classifi-
Ordem, no Porto) e à distância. caram esta formação como «Muito Vídeo disponível no canal OCC

SETEMBRO 2020 17
«Neste modelo estamos
todos à mesma distância
e em pé de igualdade»
Abílio Sousa, formador da primeira sessão plug-in

Contabilista – Habituado que está A.S. – Muitas das coisas que fazemos Contabilista – Com esta platafor-
a falar para salas repletas, como na nossa vida carecem de habituação ma, o formando tem a faculdade
foi a primeira experiência na for- e confiança no processo. Este modelo de clicar num simples botão para
mação plug-in, com um auditório tem a vantagem de evitar deslocações, interagir com o formador, no-
reduzido a uma dezena de for- o que no tempo presente se mostra meadamente para tirar alguma
mandos e cerca de 30 a assistirem fundamental para a proteção da saúde questão ou pedir algum esclareci-
à distância? de todos. mento, em tempo real. É um ga-
Abílio Sousa – O primeiro sentimen- Mas esta vantagem não se cinge a nho em termos de interatividade?
to foi um pouco estranho. Ao longo este aspeto, porque é necessário A.S. – Estou convencido que sim. Mui-
dos anos desenvolvemos contactos pensar em todos os contabilistas que tas vezes, em sala, alguns formandos
muito próximos com os formandos e exercem a sua atividade em locais são mais tímidos e não fazem inter-
até amizades. Esta proximidade é que mais distantes e também nas ilhas, venções. Muitas vezes ficam à espera
permitiu capitalizar a confiança nas onde os transportes nem sempre são que outros coloquem uma questão, na
opiniões e análises que transmitimos compatíveis com os horários da for- esperança que o tema lhes interesse,
durante as formações. Não ter o au- mação. Neste modelo estamos todos ou que seja semelhante à dúvida que
ditório cheio causou-me um vazio, o à mesma distância, todos em pé de têm. Creio que este modelo vem mais
qual rapidamente ultrapassei, porque igualdade no acesso à informação. ao encontro deste tipo de formandos.
era necessário dar vida à sessão e tra- Todavia, não estamos perante um Para isto, é necessário também que
zer para o mais perto de mim todos os projeto concluído, mas apenas num os formadores se adaptem, tornan-
formandos que estavam a participar, primeiro passo. Temos de melhorar do a sessão dinâmica. Há algo muito
principalmente, os que acompanharam aspetos tecnológicos, tornando a pla- importante para mim e que nunca de-
a formação à distância. taforma mais friendly, ou seja, mais vemos perder de vista, seja qualquer
intuitiva. Mostra-se também neces- for o modelo de formação: os conta-
Contabilista – Pode identificar as sário repensar as horas de formação, bilistas têm cada vez menos tempo,
principais vantagens deste modelo seguindo modelos de horários mais dado o elevado conjunto de obriga-
e, eventualmente, apontar aspetos curtos para estudo de temas especí- ções a cumprir, por isso a formação
que, na sua opinião, podem ser ficos, estimulando mais a intervenção tem, obrigatoriamente, de gerar valor
melhorados? dos participantes. acrescentado.

18 CONTABILISTA 246
DIA DO CONTABILISTA 21 SET

Longe da vista, perto do coração


Conselho diretivo promoveu reunião aberta para dar respostas e novidades aos membros

Texto Nuno Dias da Silva Fotos Raquel Wise

E
m 2018, no Porto, e no ano se- duas horas, às questões formuladas bastonária, Paula Franco, que subli-
guinte, em Lisboa, o Dia do Con- pelos membros sobre uma panóplia de nhou a importância de celebrar um dia
tabilista foi celebrado com even- temáticas diretamente relacionadas tão especial, mesmo tendo em conta as
tos motivacionais e de apelo à coesão com a profissão. Apesar de longe das restrições de distanciamento físico. O
para nutridas plateias de profissionais multidões, foi um acontecimento que presente ano tem sido, provavelmente,
e restantes convidados. Este ano, 2020, se pretendeu de afetos, com respostas um dos mais desafiantes para a histó-
os riscos e as proibições decorrentes da francas, conselhos avisados e o alerta ria da profissão, mas as manifestações
pandemia alteraram todos os planos para as oportunidades que também de competência e entrega demonstra-
idealizados. O ponto forte das come- existem mesmo no atual contexto ad- das pelos contabilistas tiveram, como
morações aconteceu a meio da manhã verso. Os abraços, os apertos de mão consequência, «que toda a sociedade
de 21 de setembro com a transmissão e os beijos foram substituídos por uma civil nos reconheça pelo trabalho exem-
online de uma reunião aberta do con- reunião em que não existiram temas plar», referiu a bastonária.
selho diretivo, que teve lugar, não na tabu. E em dia de festa não podia faltar Após as notas introdutórias, foi tempo
sala de reuniões do sexto andar, mas o bolo alusivo ao dia de São Mateus, o de responder a algumas das dezenas
no foyer da sede de Lisboa. A basto- padroeiro dos contabilistas, e a inevi- de questões que chegaram até à Or-
nária, Paula Franco, a vice-presidente tável taça de champanhe para o brinde dem. E o primeiro tópico não podia ser
Filomena Moreira, e os diretores José que se impunha. mais escaldante: avenças e formação
Pedro Farinha, Jorge Barbosa, Álvaro profissional. A bastonária considerou
Costa, Manuel Teixeira e Cristina Pena A união faz a força que a questão das avenças baixas é um
Silva responderam, durante cerca de As primeiras palavras pertenceram à «problema transversal à profissão» e

SETEMBRO 2020 19
DIA DO CONTABILISTA 21 SET

sobre a eventual criação de uma tabe- indispensável para o dia a dia do pro- chegar as vossas sugestões», referiu.
la de honorários mínimos argumentou fissional.» É por esse motivo que a Or- Ou seja, todos os contributos contam.
que tal não é viável, por imposição da dem, anualmente, prepara e disponibi- O tópico seguinte foi a situação da te-
Autoridade da Concorrência a todas as liza, um plano de formação extenso e souraria da Ordem. Após um período
profissões de âmbito geral. diversificado, «de forma a possibilitar de estabilização, os membros questio-
«Não precisamos de ter honorários que os profissionais estejam mais aptos naram se as consequências da pande-
mínimos, precisamos é de estar unidos. para responder aos desafios que se lhes mia – onde se incluem os apoios sociais
Os contabilistas certificados têm de colocam.» A suspensão das formações e profissionais – podiam colocar em
vencer os obstáculos e resistir à pres- em sala, a partir de março, obrigou a risco o trabalho feito nos últimos dois
são de baixar honorários. Temos de transferir as sessões para as platafor- anos e meio. A diretora Cristina Pena
praticar honorários dignos (superiores mas digitais e a resposta dos membros Silva, responsável pela área da tesoura-
a 200 euros + IVA) e condizentes com não podia ter sido mais positiva. Entre ria, apresentou os argumentos de quem
a nossa responsabilidade. É preciso ter abril e julho, cerca de 60 mil profis- conhece as contas por dentro. «As
a noção que o pagamento de uma coi- sionais participaram nas formações à contas da Ordem continuam de saúde.
ma é superior a certas avenças que se distância. Poucos dias antes desta reu- Devido ao contexto pandémico fizemos
praticam», declarou a bastonária, não nião aberta, a Ordem estreou um novo um ajustamento e temos uma gestão
sem antes de terminar referir que «a modelo formativo: o plug-in, sendo esta diária prudente, tendo sempre como
problemática dos honorários é das que «uma forma de potenciar mecanismos objetivo a sustentabilidade», referiu.
nos retira mais qualidade e competên- alternativos para que os membros pos- A responsável identificou uma quebra
cia à nossa atividade.» sam fazer as escolhas que lhes sejam substancial nos rendimentos da for-
mais confortáveis e convenientes», re- mação, estimada de um milhão e 700
Uma gestão diária feriu Filomena Moreira. mil euros, mas apontou que relativa-
e prudente das contas A poucas semanas da disponibilização mente a 2018 o endividamento de 10
Depois das avenças, passou-se para do calendário formativo para 2021, a milhões de euros sofreu uma redução
outro tema não menos quente e sen- dirigente lançou ainda um repto aos de 48 por cento. Por seu turno, as con-
sível: a formação. Filomena Moreira, membros: «Caso tenham alguma te- tas caucionadas, que eram, porventura,
vice-presidente e coordenadora desta mática concreta que gostassem de ver a maior dor de cabeça financeira que
área, considerou que a «formação é abordada nas formações, façam-nos este conselho diretivo encontrou quan-

20 CONTABILISTA 246
NOTÍCIAS

do que «é bom que as nossas contas


Paula Franco: «A AT é um sirvam de exemplo e sejam referência
lobo com pele de cordeiro, para outras instituições, especialmente
que quer morder as as do setor não lucrativo.»
empresas, os contabilistas Os seguros de saúde e de responsabi-
e os contribuintes. Mas lidade civil foram os seguintes temas a
contra isso, cá estaremos
serem chamados à colação. Sublinhan-
na defesa do interesse
do a importância de ambos – em es-
público dos profissionais
pecial o segundo que é obrigatório – o
e da sociedade.»
diretor Manuel Teixeira reconheceu a
elevada sinistralidade do seguro que
os protege no seu exercício profissional
e admitiu que «são poucos os colegas
que têm acesso ao seguro devido ao
valor da franquia», tendo dado o caso
dos gabinetes de contabilidade de re-
duzida dimensão que se esqueçam, por
Filomena Moreira: «A formação
plug-in é uma forma de exemplo, de remeter duas ou três de-
potenciar mecanismos clarações de IVA.
alternativos para que os A bastonária aproveitou a deixa para
membros possam fazer as afirmar que «a lei completamente
escolhas que lhes sejam mais cega que a AT tem» condiciona muito
confortáveis e convenientes.» a forma como as coimas são aplicadas.
Caso contrário, esclareceu, «teríamos
mais margem para aplicar o seguro de
responsabilidade civil em situações de
outra dimensão.»
Estava dado o mote para abordar um
do assumiu funções, já se encontram to- vra para responder a uma pergunta dos temas que promete dar que falar
talmente liquidadas. Cristina Pena Silva que há muito tempo ecoa de boca em nos próximos meses: o artigo 32.º do
admitiu, contudo, que caso a situação boca: a Ordem é sustentável sem for- RGIT. A bastonária garantiu que duran-
se deteriore, por razões externas à Or- mação? «Mesmo sem os rendimentos te a discussão da lei na especialidade
dem, existe um plafond disponível para da formação a Ordem manteve-se au- a Ordem vai intensificar os contactos
qualquer eventualidade. A diretora fez tossustentável», referiu a bastonária. com os partidos representados na As-
ainda questão de destacar o esforço de Paula Franco quis deixar uma palavra sembleia da República no sentido de os
muitos membros que tudo fizeram para de tranquilidade para os profissionais: sensibilizar para uma proposta que não
pagar as suas quotas antecipadamente, «Até ao final do ano a situação estará «respeita os direitos e as garantias dos
numa lógica de «ajudar a Ordem num controlada, com salvaguarda de tesou- contribuintes» e que promete terminar
momento difícil.» Ainda assim a tesou- raria, mas caso seja necessário pode- com a possibilidade de as coimas serem
raria conseguiu fechar o mês de agos- mos recorrer ou ao endividamento ou a eliminadas. Paula Franco promete fazer
to com uma disponibilidade de 580 mil contas caucionadas como mecanismos finca pé: «Se lesou o Estado tem de ha-
euros. para ajudar os membros. Se há anos ver consequências, mas se não lesou há
que isto se justifica, é precisamente que ser justo e não pode haver conse-
O polémico artigo 32.º do RGIT este que estamos a viver», disse. Paula quências.» Para a bastonária, a Ordem
A bastonária voltou a usar da pala- Franco finalizou este tópico afirman- terá de ir até às últimas consequências

SETEMBRO 2020 21
DIA DO CONTABILISTA 21 SET

feriu que a Ordem tudo tem feito para


esclarecer os membros de forma diá-
José Pedro Farinha:
«De uma vez por todas, ria e permanente, com a divulgação de
temos de nos assumir simuladores, pareceres e a newsletter.
como colegas de O objetivo é claro: dar aos membros
profissão e não como todas as ferramentas de modo a redu-
concorrentes. O lema zir ao máximo o erro. «O que acontece
tem de ser trabalhar é que, por vezes, a pouca clareza das
em cooperação leis dificulta a interpretação das mes-
e partilhar.» mas», acrescentou Filomena Moreira,
defendendo que a melhoria só poderá
ser alcançada ao nível do legislador e
esse, reconheceu, é um combate demo-
rado. Já quanto ao seguro de saúde,
afirmou ter sido intenção do conselho
diretivo incluir mais coberturas, mas tal
Jorge Barbosa: «As coimas
não foi possível devido ao aumento na
têm muito peso no seguro
sinistralidade.
de responsabilidade civil.
Tudo o que seja reduzir
coimas é importante AT, «um lobo
para reduzir o preço com pele de cordeiro»
do seguro. Temos de Justo impedimento, SAF-T da contabili-
nos empenhar contra dade e a relação dos contabilistas com
a aplicação injusta das a Segurança Social foram temas que
coimas.» vieram à liça. Sobre o primeiro tema, a
bastonária mostrou-se convicta que a
portaria, «fechada na semana passada,
venha a ter a sua plena eficácia» num
para que esta lei não seja aprovada na justa das coimas. No último ano, devido processo que acabou por se atrasar
generalidade, o que só contribuiria, na à redução da sinistralidade, conseguiu- fruto da pandemia e da «culpa da pró-
sua opinião, ainda mais para reforçar a -se uma ligeira diminuição do preço e pria máquina fiscal.» Relativamente ao
ideia de que «a máquina da AT nada faz da própria franquia», referiu. Um pro- SAF-T da Contabilidade, reiterou que
para simplificar o trabalho dos conta- blema recorrente prende-se com o fac- «não tem condições para avançar, mui-
bilistas.» to de serem poucas as seguradoras ou to menos como está definido.» «Com
corretoras interessadas em participar tecnicidade, rigor e sem populismos,
Ferramentas para reduzir os erros neste concurso público internacional. apontaremos os seus principais defei-
Jorge Barbosa é um dos diretores da Motivo: a redução da rentabilidade tos e acompanharemos a evolução do
Ordem que acompanha mais de perto para as entidades bancárias. «99 por processo com o governo e os grupos
a contratação dos seguros de saúde e cento dos nossos sinistros são coimas parlamentares, tendo como único ob-
de responsabilidade civil profissional. que seguem diretamente para os cofres jetivo garantir os direitos dos contri-
Sabe, por isso, com propriedade, do do Estado. Não é este o objetivo de um buintes e dos portugueses em geral,
que fala. «As coimas têm muito peso no seguro de responsabilidade civil, mas o evitando intrusões injustas e erradas
seguro de responsabilidade civil. Tudo problema é que o erro está na base», por parte da administração fiscal.»
o que seja reduzir coimas é importante referiu a bastonária. E a base, acres- Apontando, uma vez mais, a mira para
para reduzir o preço do seguro. Temos centamos nós, é a administração fiscal. a Autoridade Tributária, Paula Fran-
de nos empenhar contra a aplicação in- A este propósito, a vice-presidente re- co afirmou sem rodeios: «As próprias

22 CONTABILISTA 246
Álvaro Costa: «O artigo 24.º porta aberta para que o contabilista
da LGT, o artigo 32.º do passe a ter um papel equivalente na SS
RGIT e as férias fiscais são ao que desempenha na AT, com respon-
sonhos que têm passado sabilidades, competências e obrigações
por várias gerações e diretas e exclusivas. A responsável má-
cá estaremos a lutar por
xima da Ordem admitiu que este passo
eles e a trabalhar pela
implicará, num futuro próximo, altera-
profissão, sem alarido,
e em busca de resultados ções ao Código Contributivo e ao Esta-
práticos.» tuto da OCC, e desafiou os membros a
pronunciarem-se com sugestões sobre
o tema.

Cooperação e partilha
O diretor Álvaro Costa elencou três
bandeiras que têm sido desfraldadas,
desde a primeira hora, por este con-
Manuel Teixeira: «São selho diretivo: o artigo 24.º da LGT, o
poucos os colegas que artigo 32.º do RGIT e as férias fiscais.
têm acesso ao seguro «São sonhos que têm passado por vá-
de responsabilidade civil rias gerações e cá estaremos a lutar
devido ao valor por eles e a trabalhar pela profissão,
da franquia.» sem alarido, e em busca de resultados
práticos.»
José Pedro Farinha não esteve com
meias medidas quando lhe pediram
para definir os profissionais neste seu
dia a dia: «Somos todos uns super-he-
róis.» E o diretor da Ordem falava de
super-heróis na vida real e de carne
Cristina Pena Silva: e osso, não os da banda desenhada.
«As contas da Ordem
Para todos deixou uma mensagem:
continuam de saúde.
«De uma vez por todas, temos de nos
Devido ao contexto
pandémico fizemos assumir como colegas de profissão e
um ajustamento e não como concorrentes. O lema tem
temos uma gestão de ser trabalhar em cooperação e par-
diária prudente, tendo tilhar. E não nos desviarmos do rumo
sempre como objetivo da digitalização profissional, que é ir-
a sustentabilidade.» reversível. O TOConline é o exemplo
de uma ferramenta de vanguarda, em
que se pode trabalhar em rede, coo-
associações empresariais ainda não se interesse público dos profissionais e da perar e partilhar», enfatizou Farinha.
aperceberam das implicações destas sociedade.» Sobre as nem sempre fá- A reunião aberta aproximava-se a
mudanças. A AT é um lobo com pele de ceis relações entre os contabilistas e os passos largos do epílogo. O calendário
cordeiro, que quer morder as empresas, mecanismos burocráticos da Seguran- fiscal a literacia financeira foram os
os contabilistas e os contribuintes. Mas ça Social, Paula Franco levantou o véu dois tópicos seguintes. A bastonária
contra isso, cá estaremos na defesa do sobre algumas novidades: «Temos uma defendeu que as alterações perma-

SETEMBRO 2020 23
DIA DO CONTABILISTA 21 SET
nentes à legislação levam à iliteracia pensável para as empresas e para o parece ser o limite e anunciam-se no-
financeira por parte de empresários e próprio Estado. Enquanto falava, de vidades para breve, nomeadamente ao
da própria comunicação social. Apesar microfone em riste, Farinha vislumbrou nível das funcionalidades do produto:
disso, no ar, ficou a pairar a dúvida: a frase do ex-bastonário, Domingues reconciliações bancárias até final do
«Os empresários são pouco evoluídos de Azevedo, e que há anos repousa na ano; webservice para envio da decla-
ou a legislação é que é muito comple- parede junto ao salão nobre da Or- ração periódica do IVA, declaração re-
xa?» dem: «A contabilidade ainda continua capitulativa do IVA e comunicação das
a ser o melhor meio para avaliação e séries até final do ano; e, finalmente,
Novidades no TOConline expressão do estado económico e fi- a muito aguardada App TOConline,
José Pedro Farinha voltou a usar da nanceiro das empresas.» Os anos pas- que vai permitir tirar fotos de faturas
palavra para esmiuçar a relação entre sam e a frase permanece mais atual do e recibos e enviar diretamente para o
contabilistas e empresários ou, como que nunca. arquivo digital. Por falar em arquivo
definiu, uma espécie de em “contabi- A ferramenta informática TOConline, digital, o diretor Jorge Barbosa anun-
lês” nos entendemos. «Os empresá- uma das coqueluches da Ordem, não ciou que estão em curso trabalhos
rios têm de ser mais exigentes com o podia deixar de ter uns minutos de para «torná-lo mais flexível.»
nosso trabalho. Somos os médicos das atenção. Paula Franco defendeu este
empresas e temos em nosso poder a software da Ordem: «Estou a ser com- 25 anos de regulamentação
“vacina” profilática para prevenir as pletamente isenta quando digo que da profissão
doenças que afetam as empresas e se trata de uma referência. Os con- A última questão debruçou-se sobre o
olhar para a frente», disse Farinha, tabilistas que a usam estão um passo cancelamento de eventos presenciais
não sem antes também deixar um con- à frente e têm as suas tarefas muito como o Encontro Insular na Madeira,
selho aos responsáveis das empresas: facilitadas», afirmou. Uma opinião o Encontro dos CC no distrito de Setú-
«Os empresários deviam ter todos for- coincidente com os profissionais, visto bal e a inauguração da representação
mação de base em contabilidade assim que relativamente ao ano transato a de Bragança. Como confirmou o Con-
que abrem a sua atividade.» ferramenta registou um aumento de selho Diretivo, estes e outros eventos
Em suma, com crise ou sem crise, a 27 por cento. Mas para a direção da irão realizar-se, assim sejam levanta-
contabilidade é absolutamente indis- Ordem na aposta no TOConline o céu das as restrições ao nível do distancia-

Foram milhares os contabilistas que presenciaram a transmissão onli-


ne. Largas dezenas juntaram-se ao chat nos comentários de felicitações
sobre o Dia do Contabilista. O planeta da contabilidade em língua por-
tuguesa também esteve atento ao que era dito de Lisboa para os qua-
tro cantos do mundo. Zulmir Breda, presidente do Conselho Federal de
Contabilidade (CFC), a congénere da OCC no Brasil, deixou uma men-
sagem no chat do YouTube: «Parabéns a todos os colegas contabilistas
de Portugal pelo seu Dia. Muito sucesso a todos os que atuam nessa
importante e dignificante profissão.»
Mensagem Uma nota que calou fundo. A maior curiosidade é que no Brasil o «Dia
de Zulmir Breda do Contador» é comemorado a 22 de setembro, ou seja, imediatamente
Presidente do CFC saudou a seguir ao Dia do Contabilista em Portugal.

contabilistas portugueses

24 CONTABILISTA 246
Mensagem de D. Américo Aguiar,
bispo auxiliar de Lisboa
Dia de São Mateus, Padroeiro dos Contabilistas

«Caríssimos Amigos,
Hoje é o dia de celebrarmos a vida de um grande Santo, um homem que tinha
tanto e que deixou tudo para seguir Jesus. São Mateus foi um dos Doze Apósto-
los, aquele grupo que viveu mais próximo de Mestre e que por Ele morreu.
Naquele tempo os cobradores de impostos não tinham muitos amigos… hoje em
dia também não! Mas o coração de Jesus vê e toca as vidas muito para lá das
aparências e conhece profundamente o coração de cada um.
Nem a todos pede a radicalidade de deixar tudo para O seguir. Mas a todos pede
uma vida séria, generosa, capaz de se dar aos outros, muitas vezes na monotonia
dos dias ou dos trabalhos.
Ser contabilista é uma profissão muito digna, porque quando desempenhada em
espi-rito de serviço, pode ajudar tanto e, de um modo especial, pode ajudar os
mais ve-lhos, os mais desprotegidos, os mais frágeis.
Que São Mateus vos acompanhe sempre e que seja aquele a quem podem re-
correr nas dificuldades e nas alegrias. Que São Mateus vos leve ao encontro de
Jesus!»

mento social e da permanência de um mento em vídeo, na referida exposição ainda houve alguma condescendência
número mínimo de pessoas no mesmo que deverá ficar patente durante um para se falar do controlo de qualida-
local. O que irá mesmo ter lugar, mes- ano. De forma algo inesperada, a bas- de, que provavelmente irá mudar de
mo sem assistência, será a celebração, tonária acabou por fazer uma revela- designação e do contabilista público
a 17 de outubro, dos 25 anos da regu- ção: «O lema da nossa candidatura foi nas entidades do Estado, outro com-
lamentação da profissão de contabilis- manter o que de bom foi feito e fazer bate que está longe de estar perdido,
ta certificado. Está a ser preparada, no mais e melhor. Estragar o que foi feito, mas que também não se vislumbra que
edifício sede, uma exposição alusiva a faz-se rapidamente. A nossa priorida- seja rapidamente alcançado. «Como
esta efeméride e que vai coincidir com de foi melhorar o serviço prestado aos se podem ter contas públicas credíveis,
a abertura da renovada biblioteca da membros e alocar todos os recursos sem profissionais competentes?»; foi a
Ordem, que para além de um espaço da Ordem, técnicos e humanos, em questão deixada por Paula Franco, fe-
de leitura se deseja seja um espaço prol dos profissionais. Queremos dar chando com chave de ouro a reunião
cultural, preparado para receber a sequência a este projeto, que é para aberta. Sem calor humano dos mem-
apresentação de livros, momentos mu- oito anos, por isso, vamos recandida- bros, mas com mensagens plenas de
sicais e de poesia. tar-nos», garantiu. afeto. Ou como diz o ditado popular,
Paula Franco, com uma ligação de longe da vista, perto do coração.
mais de duas décadas à Ordem, re- O contabilista público
cordou o papel e a intervenção muito na esfera do Estado
Vídeo disponível no canal OCC
positiva de diversas personalidades e Já em tempo de compensação, como
que vão constar, através do seu depoi- se diz em linguagem futebolística,

SETEMBRO 2020 25
DIA DO CONTABILISTA 21 SET
O auto-retrato dos «super-heróis»

O
Dia do Contabilista comemorou-se oficialmente, pelo terceiro ano consecutivo, num contexto novo e de todo imprevisto.
Mas como a necessidade aguça o engenho, a Ordem desafiou os seus membros a partilharem os seus sentimentos mais
profundos sobre «O que é ser contabilista?»
Através de frases ou de vídeos, os contabilistas certificados confidenciaram os sonhos, os desafios, as paixões e também as frus-
trações de uma profissão tão exigente.
São esses testemunhos, na primeira pessoa, que agora reproduzimos.

Ser contabilista é: Ser contabilista Ser contabilista


SONHO de uma vida é ABRAÇAR UM DESAFIO é o concretizar
concretizado com de constante formação de UM SONHO,
honra e muito e altruísmo UMA REALIZAÇÃO
orgulho. pelos clientes. PESSOAL.

Elisa Lopes Leonel Francisco Luís Miguel Barroca


CC 10 564 CC 43 686 CC 40 736

O contabilista Ser contabilista Ser contabilista:


é o ALICERCE é ter prazer em fazer É ser uma
de uma empresa das CONTAS pessoa HONESTA,
bem-sucedida! UMA PROFISSÃO. DINÂMICA
e RESPONSÁVEL.
Hermínia Petronilha Paulo Oliveira
CC 4 895 CC 8 328 Nicole Anabela
CC 24 270

Todos os vídeos disponíveis no canal OCC

26 CONTABILISTA 246
FRASES DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ser contabilista Ser contabilista é Ser contabilista


é ser um indivíduo mais do que DEBITAR é não esperar
de CARÁCTER E CREDITAR. recompensas,
e, muitas vezes, É acrescentar mas ficar feliz.
UM ALTRUÍSTA VALOR ÀS EMPRESAS, Ser Contabilista
AOS EMPRESÁRIOS é aprender, errando.
Alfredo Santos E À ECONOMIA DO PAÍS.
CC 14 320 Manuel Júlio Arcanjo Pinto
Otília Caetano Silva CC 7 642
CC 16 571

Ser Conta Bi Lista, Ser contabilista: Ser contabilista:


o TÉCNICO ESPECIALISTA HONESTIDADE, Passar cinquenta
que sabe CONTAR EM COMPETÊNCIA por cento do MEU
DUAS LISTAS: e em constante TEMPO “CONTANDO”
a do DEVE E formação. COM RIGOR
A DO HAVER e o RESTANTE TEMPO
Gabriela Silva OUVIR “CONTAR”
António Manuel Santos CC 20 812 COM COMPAIXÃO.
CC 25 588
Eusébio Couto
CC 9 786

Ser contabilista Ser contabilista é Contabilista:


significa desafios, ser um parceiro uma profissão exigente
compromisso, da gestão, numa melhoria contínua,
constante aprendizagem qualificado e íntegro, que traz valor acrescentado
e evolução, com fortes competências às empresas (e contribuintes)
colaboração técnicas (hard skills) mas que persiste em continuar
e uma enorme e comportamentais a ser desconsiderada
paixão pela profissão. (soft skills). (o contabilista é confundido
muitas vezes
Sérgio Santos Sandra Lino com o fiscal da AT, a pessoa
CC 85 624 CC 38 460 que inventa complicações).

Maria da Luz Gonçalves


CC 30 535

SETEMBRO 2020 27
DIA DO CONTABILISTA 21 SET

Ser contabilista é: Ser contabilista: Ser contabilista é…


ser apaixonado por ORGANIZAMOS, ser o médico das
números, CONTABILIZAMOS, empresas.
pela criação e inovação. CUIDAMOS.
É ser fonte de verdade (OCC) Andreia Marques
e de informação para CC 91 924
o mundo. Maria Cristina Mendes
CC 26 816
Sofia Brás
CC 95 487

Ser contabilista é ser Ser contabilista Ser contabilista


parte de um todo, é muito mais do que é olhar para as dificuldades
como que uma máquina exercer da profissão e saber
transformadora de uma profissão. transformá-las em desafios,
números e resultados em Ser contabilista é conciliar encarar as mudanças como
informação imprescindível o conhecimento sobre oportunidades
para todos números, e ter a sabedoria
os envolventes da contas, legislação fiscal, de tornar a profissão
entidade. SNC... com a vida numa tarefa que se
de muitas pessoas. desempenha com prazer.
Ana Moreira
CC 92 252 Susana Barbosa José Pires
CC 95 665 CC 22 530

Nos 365 dias do ano, Ser contabilista é Ser contabilista é


nos bons e maus um misto de emoções. ser jurista, advogado,
momentos, É juntar numa única pessoa técnico informático,
o contabilista com esforço, um SUPER HERÓI. moderador,
dedicação e determinação Somos confidentes, paciente, economista,
está sempre presente. amigos, conselheiros, previdente, matemático,
inspiradores, um porto diplomata, incorrupto,
Emanuel Brás seguro para cumpridor.
CC 61 322 os nossos clientes.
Rute Paulo Rato
Edite Pereira CC 14 590
CC 6 164

28 CONTABILISTA 246
FRASES DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Ser contabilista... Ser contabilista é


É ser mãe, que ajuda o seu bebé a viver em constante sobressalto
crescer e a enveredar por bons caminhos; numa exposição ao risco
É ser padre, que ouve os problemas desmedida, com a esperança
e ajuda a lidar com eles; num reconhecimento
É ser professor, que ensina a trabalhar, a pensar que tarda mas
e a resolver os problemas, que há de surgir. Acreditemos!
É ser engenheiro, que ajuda a construir
um património; Davide Ribeiro
É ser médico, que ajuda a manter CC 38 114
de boa saúde as empresas;
É ser escritor, que escreve para todos os órgãos
sempre que necessário;
É ser atleta, que luta para entregar a tempo
todas as obrigações fiscais; Ser contabilista é
É ser gestor de recursos humanos, que comunica ter paixão pelo rigor;
com todo o tipo de pessoas; estar disponível quando
No fundo... é ser uma referência para é preciso; tratar os números
todos os outros profissionais!... como matéria-prima
que gera um produto acabado;
Sara Azevedo ter sentido de responsabilidade,
CC 87 879 solidariedade e competência;
é ser pessoa de bem.

Carlos Cerejeira
CC 1 786

Depois do 6.º dia, após Deus


ter completado o céu e a terra,
Ser contabilista é
com tudo aquilo que contém,
ser o alicerce dos sonhos
antes de descansar ao 7.º dia,
dos outros, o suporte que está
Deus inventariou a sua obra
sempre lá...
e criou o primeiro Inventário
Estamos presentes quando as
e Balanço do Universo.
ideias fervilham, quando os
Só depois Ele criou o homem!
desejos se tornam realidade,
Mais tarde, a mulher!
quando a vida
Não fora o “Inventário & Balanço”,
sorri, mas também quando
Deus não teria dado pela falta da maçã!!!
o dia a dia se torna
pesado e as aspirações
Mário Vicente
se esvaem...
CC 1 558
Susana Barbedo
CC 95 926
Compliação das frases

SETEMBRO 2020 29
2.º CICLO DE CONFERÊNCIAS
ONLINE

Apoios e incentivos para a vaga da recuperação


Primeira sessão do segundo ciclo «ConVIVER com a pandemia»
Texto Jorge Magalhães

A
abertura do segundo ciclo de sou à etapa seguinte, o mesmo é dizer à mil quatro vezes. Em agosto, eram já me-
conferências online «ConVIVER fase das questões. «Quais os apoios que nos de 800 as empresas abrangidas.
com a pandemia» arrancou a 17 temos, o que podemos aprender com o A esta catadupa de números, a ministra
de setembro, com um painel reduzido, que já tivemos nos últimos seis meses?» do Trabalho fez questão de juntar mais
mas de extrema relevância: Ana Mendes Na resposta, Ana Mendes Godinho, de- alguns: «No total das medidas criadas na
Godinho, ministro do Trabalho, Solidarie- pois de ter agradecido à OCC «a forma fase de emergência, foram gastos 1 340
dade e Segurança Social e Ana Abrunho- extraordinária como tem ajudado a ul- milhões de euros, excluindo as isenções
sa, ministra da Coesão Territorial, para trapassar problemas e a encontrar so- de contribuições sociais.» Tudo junto,
além, claro, da presença de Paula Franco, luções» dividiu a sua resposta em três chega-se a uma conclusão: «Foi uma fase
bastonária da Ordem dos Contabilistas momentos, ou se se quiser usar um ter- muito desafiante do ponto de vista de
Certificados. Apoios, verbas já investidas mo mais em voga em dias de pandemia, construir medidas que pudessem chegar
ou em vias de, programas para o empre- em três vagas: emergência, estabilização a todos”, sublinhou Ana Mendes Godi-
go, incentivos foram, grosso modo, os e recuperação. Na primeira fase, assis- nho, referindo que o apoio extraordiná-
tópicos essenciais da sessão dedicada a tiu-se à criação de «medidas extraordi- rio à redução da atividade, por exemplo,
analisar, precisamente, os «Incentivos e nárias» que se saldaram pelos seguintes chegou a 162 mil trabalhadores indepen-
apoios à retoma.» números: o lay-off simplificado chegou dentes e a 22 500 sócios-gerentes.»
Depois de, no arranque, Paula Franco ter a 109 mil empresas e abrangeu 891 mil Na fase de estabilização, «procuramos
salientado a «presença de duas grandes trabalhadores, sendo que 31 mil empre- apresentar instrumentos para ajudar as
ministras com uma importância enorme sas só pediram uma vez a prorrogação empresas na fase de retoma. Criamos
naquilo que pode mudar Portugal e a do apoio; 25 mil pediram-no duas vezes, três alternativas de forma a que as pes-
nossa economia», rapidamente se pas- outras 25 mil pediram três vezes e seis soas e empresas pudessem escolher.» O

30 CONTABILISTA 246
17 set.
NOTÍCIAS

incentivo à normalização da atividade


empresarial prevê a atribuição de um Ana Mendes Godinho: «A formação tem que ser a nossa
ou dois salários mínimos por trabalha-
dor retirado do lay-off simplificado pe-
prioridade, por uma questão de competitividade, até porque
los empregadores. Já o apoio à retoma é o único instrumento que verdadeiramente combate os ciclos
progressiva foi desenhado como suce-
dâneo do lay-off simplificado, permitindo de pobreza, dando às pessoas condições para terem igualdade
a redução dos horários dos trabalhado- de acessos às oportunidades.»
res em função da quebra de faturação
das empresas. Estas medidas levaram
a que, sublinhou a ministra, «até ao programas como o ATIVAR.pt, um apoio está desempregado. Existem vários ins-
momento, 30 800 empresas tivessem financeiro destinado aos empregadores trumentos disponíveis no IEFP.»
aderido a estes apoios, abrangendo 315 que celebrem contratos de trabalho sem Para Ana Mendes Godinho, a formação
mil trabalhadores. A maior parte, cerca termo ou a termo certo, por prazo igual «tem que ser a nossa prioridade, por uma
de 82 por cento, está a optar pelas me- ou superior a 12 meses, com desempre- questão de competitividade, até porque é
didas que implicam a manutenção mais gados inscritos no IEFP, com a obrigação o único instrumento que verdadeiramen-
longa do contrato de trabalho», revelou a de proporcionarem formação profissio- te combate os ciclos de pobreza, dando
responsável, que acrescentou: «A maior nal aos trabalhadores contratados. às pessoas condições para terem igual-
parte destes empregadores são dos se- «Vamos avaliando para tentarmos ar- dade de acessos às oportunidades.» Por
tores do turismo, comércio e dos servi- ticular todas estas medidas de apoio à. outras palavras, «temos neste capítulo
ços de apoio.» Esta medida implicou um Estamos também a acompanhar a exe- um desafio enorme como país. É uma
custo de 160 milhões de euros, de acordo cução financeira das medidas que foram necessidade imperiosa conseguirmos que
com a ministra. criadas», garantiu a ministra do Traba- a nossa força de trabalho aquira com-
lho antes de anotar que o Executivo tem petências que lhe acrescentem valor. A
Mais 105 mil desempregados procurado que «todas estas medidas formação vai ter que estar nos nossos
Para a fase de recuperação, «temos pro- sejam suportadas por transferências do instrumentos de apoio de recuperação e
curado calibrar as medidas, validando a OE para que não ponha em causa a sus- resiliência.»
situação das empresas», sustentou Men- tentabilidade do sistema de Segurança Relativamente aos lares, um tema que
des Godinho. Restauração, alojamento, Social.» nas últimas semanas tem feito correr
comércio e algumas áreas de indústria muita tinta, Mendes Godinho enveredou
setorial, são os setores que geram mais A formação como prioridade por uma perspetiva holística, ao falar de
preocupação. A ministra revelou ainda e os «heróis invisíveis» envelhecimento da população e sobre a
que, em agosto, havia mais 105 mil de- Paula Franco questionou ainda Ana Men- forma como Portugal tem olhado para as
sempregados, mais duas mil pessoas do des Godinho sobre a importância da alterações demográficas. «Somos o país
que no mês anterior. Contudo, «temos de formação e sobre se as grandes apostas com a terceira população mais envelheci-
ir acompanhando para ver o que aconte- nos próximos meses não deverão ser di- da da Europa. O problema dos lares não
ce nos próximos meses», sendo que «to- recionadas para essa área. Na resposta, é só um problema português, é mundial,
das estas medidas terão sempre como a ministra lembrou que «quando o lay-off porque ninguém estava preparado para
preocupação a manutenção de emprego, simplificado foi aprovado já previa que as uma pandemia. A questão é perceber
apoio ao rendimento, apoio aos mais vul- empresas pudessem recorrer à formação, agora em que tipo de respostas e de equi-
neráveis e melhoria das qualificações.» até como uma forma de complementar o pamentos sociais devemos investir para
Questionada por Paula Franco sobre se rendimento através de uma bolsa em si- que se promova cada vez mais um enve-
os apoios à retoma serão suficientes para multâneo com o lay-off simplificado. Não lhecimento ativo e saudável», garantiu a
alguns setores, como o turismo, e sobre teve muita adesão. Com as medidas do ministra.
a capacidade que o país ainda terá para apoio à retoma voltamos a insistir nesse Para já, referiu a responsável governati-
ajudar as empresas, Ana Mendes Go- ponto: aproveitar o momento para re- va, «estamos a reforçar as medidas para
dinho referiu que estão a ser lançados qualificar quer trabalhadores quer quem os recursos humanos. Está já disponível

SETEMBRO 2020 31
2.º CICLO DE CONFERÊNCIAS
17 set.
NOTÍCIAS

ONLINE

uma linha de financiamento protocolada


para o setor social de 165 milhões de eu- Ana Abrunhosa: «Os contabilistas certificados
ros.» O aumento extraordinário de 5,5
por cento nos acordos de cooperação do são profissionais que valorizam a cadeia de valor
Estado com lares ou o programa Adaptar e são parceiros fundamentais das entidades.
Social+ foram outras medidas destaca-
das. São polivalentes, atentos e informados. Sentimos
A necessidade de qualificação e valori- que foram parceiros das instituições e também do próprio
zação das pessoas e a vontade de atrair
para dentro do setor social enfermeiros, governo.»
psicólogos, nutricionistas, são outros
objetivos que a tutela persegue, avan- grama? Ana Abrunhosa, apesar das cau- podem ir até 150 mil euros e financiado
çou a ministra, que terminou lembrando telas, deixou também a porta aberta: até 50 por cento a fundo perdido. Even-
que «as pessoas que trabalham no setor «Vamos ponderar até que ponto é que tualmente, para o interior, poderá existir
social são muitas vezes esquecidas. Mas podemos reforçar o programa. Aprende- uma majoração desta taxa de apoio.» Em
elas têm demonstrado um espírito de mos que esta medida reflete as necessi- contrapartida, «vamos exigir às empre-
missão incrível. São heróis invisíveis.» dades das empresas, da economia social, sas que mantenham os postos de traba-
porque a procura indicia isso mesmo. Se lho. É algo que já está negociado com a
Reforço do +CO3SO em análise à quantidade se juntarem os projetos de União Europeia.»
Ana Abrunhosa debruçou-se sobre outras qualidade, a lição que tiramos é que te- Outra medida diz respeito ao apoio ao
vertentes. Por exemplo, instada a pro- mos de continuar a repetir este tipo de comércio digital, que pretende «estimular
nunciar-se sobre o os objetivos atingidos medidas.» Para já, a prioridade é outra. as cadeias curtas de distribuição. É muito
e as eventuais necessidades de reforço «Rigor e celeridade na análise», definiu importante para o setor agroalimentar,
do +CO3SO, um conjunto de programas a ministra que desde logo esclareceu que por exemplo, porque ajudará a robuste-
transversais e multissetoriais dedicados «muitos dos projetos que apoiamos vão cer a nossa cadeia de valor para ficarmos
a empresas, entidades da economia so- continuar mesmo depois da pandemia, cada vez menos dependentes do exterior
cial e do sistema científico e tecnológico, porque permitiram às empresas diver- naquilo que são bens ou serviços essen-
a ministra lembrou que se está diante de sificar a sua produção e diversificar, por ciais», afirmou ainda a ministra
«uma medida de contratação de liquidez. vezes, para áreas mais exigentes tecno- Ana Abrunhosa relevou ainda o papel dos
Abrimo-la com duas fases, com 90 mi- logicamente.» contabilistas certificados, considerando
lhões de euros e com estimativa de cria- «Vamos harmonizar procedimentos. De- que «são profissionais que valorizam a
ção de 1 700 postos de trabalho. Em mui- pois tentaremos encontrar meios para cadeia de valor e são parceiros funda-
tos locais tivemos que fechar os avisos reforçar os projetos que tenham quali- mentais das entidades. São polivalentes,
porque a procura foi muito, muito gran- dade. Não me posso comprometer com atentos e informados. Sentimos que fo-
de.» Os números falam por si: 4 434 can- valores», defendeu a responsável da ram parceiros das instituições e também
didaturas que corresponderiam a 480 mi- Coesão Territorial lembrando que «se do próprio governo», rematou. Já Men-
lhões de euros quando o programa está 70 por cento destas candidaturas forem des Godinho destacou, a este propósito,
limitado aos 90 milhões. «No interior são boas, teríamos a criação de cerca de cin- a «grande capacidade para fazer pontes
260 milhões, no litoral 190 milhões e no co mil postos de trabalho. O +CO3SO é e encontrar soluções. Sabemos que pode-
empreendedorismo social, 30 milhões de uma boa medida e temos de continuar a mos contar convosco para nos ajudarem
euros», revelou a responsável pela pasta apostar nas boas medidas.» a calibrar as medidas e ir corrigindo o que
da Coesão Territorial que acrescentou A curto prazo, contudo, outras medidas está mal. Há um compromisso comum
mais um dado: «Dos 480 milhões, cerca se preparam. Ana Abrunhosa referiu es- que é o de fazer o melhor que sabemos
de 330 milhões de euros são feitos por tar para breve o lançamento de um pro- dentro do momento que vivemos», refe-
sociedades por quotas, o que indicia que grama de apoio à produção nacional, riu.
querem crescer.» sobretudo para a indústria e turismo, Vídeo disponível no canal OCC
O que é que se aprendeu com este pro- «apoiando projetos de investimento que

32 CONTABILISTA 246
21 set.
NOTÍCIAS

2.º CICLO DE
CONFERÊNCIAS
ONLINE

Desesperadamente à procura de um desígnio fiscal


Segunda conferência do segundo ciclo «ConVIVER com a pandemia»
Texto Nuno Dias da Silva

A
segunda conferência do ciclo trimestre, o agravamento da crise das voluntária e antecipadamente. «Hoje
«ConVIVER com a pandemia» empresas e desejou que no Orçamento em dia, a AT, mais do que cobrar, rece-
reunia todos os ingredientes para do Estado para o próximo ano possam be», referiu, aludindo a dados de 2019
ter um auditório repleto, coincidindo com ser contempladas medidas fiscais efica- em que a administração fiscal cobrou 1,2
o Dia do Contabilista. Quis o destino (e zes que consigam aliviar a tesouraria das mil milhões de euros, em cobrança coer-
a pandemia) que tal não fosse possível. empresas. Para Paula Franco «é na fisca- civa, o correspondente a três por cento
A alternativa foi o recurso aos meios te- lidade que pode estar a recuperação das da receita total arrecadada. Sem se de-
lemáticos. Ao longo de 95 minutos deba- empresas.» ter, Faustino acrescentou que estão a
teu-se a contabilidade e a fiscalidade e o O papel de moderador pertenceu a Ma- ser dados passos naquilo a que chamou
seu papel para ajudar empresários e con- nuel Faustino. O ex-quadro da direção de «nacionalização das declarações.» E
tabilistas a ultrapassarem a crise, trocou- geral dos impostos e do Banco de Por- passou a explicar: mais de 5 milhões de
-se argumentos sobre os vários balões tugal, durante 20 e 12 anos, respetiva- declarações pré-preenchidas, 1,8 milhões
de oxigénio para o tecido empresarial e mente, começou por afirmar que «nunca de declarações automáticas e as próprias
destacou-se o trabalho dos contabilistas como agora existiu uma relação tão ínti- declarações do IRC já contam com alguns
certificados para interpretar os apoios ma entre os contabilistas e os impostos.» campos já preenchidos. «Sobram 20 ou
tributários e contributivos. Crítico feroz do funcionamento da AT, 30 declarações intermédias que são alvo
o ex-membro membro do Gabinete de do trabalho manual dos contabilistas»,
«A nacionalização das declarações» Estudos da Ordem recuou até aos anos ressalva. Manuel Faustino concluiu dizen-
Coube à bastonária da Ordem a aber- 80/90, do século passado, identificando do que «esta é uma maneira de privile-
tura da conferência «Contabilidade e o marco da «privatização da cobrança», giar a forma sobre a substância» e que,
fiscalidade versus gestão das empresas». altura em que os contribuintes passaram caso a AT «não acorde para este proble-
Paula Franco antecipou, para o último a pagar os seus compromissos fiscais ma, corre sério riscos de cometer muitas

SETEMBRO 2020 33
NOTÍCIAS 2.º CICLO DE CONFERÊNCIAS
ONLINE

injustiças.» Antes de passar a palavra


aos demais convidados, Faustino deixou Carlos Lobo: «Estamos em terreno desconhecido, mesmo
a pergunta: «A AT segue uma política de
arrecadação ou uma política tributária?» ao nível da decisão política. Temos problemas de gravíssimas
Estava dado o mote para uma discussão proporções entre mãos, que só uma mudança estrutural
muita intensa por parte de todos os in-
tervenientes e com algumas respostas às pode ultrapassar. Mas o pior é a ausência de ideias e a falta de
perguntas formuladas.
vontade de mudar.»
Contabilistas,
os gestores de informação com os lay-off, as moratórias e as linhas as normas nacionais, as internacionais e
Jorge Pisco, um dos oradores convida- de crédito. Sem eles os empresários não as setoriais. «As empresas sem a conta-
dos, esteve particularmente ativo nos teriam conseguido “desembrulhar” esta bilidade em dia e sem a certificação do
últimos meses. O presidente da Confe- situação. Os contabilistas são e conti- contabilista, tiveram mais dificuldade em
deração Portuguesa das Micro, Pequenas nuarão a ser os gestores de informação candidatar-se aos apoios estatais», afir-
e Médias Empresas (CPPME) tem saído a e os braços direitos das PME», declarou. ma Banza, que lamentou o facto de as
terreiro para denunciar a «discriminação A bastonária Paula Franco apressou-se medidas fiscais terem sido parcas, com-
negativa» a que têm sido votados pelo a retribuir os elogios. «Gostaria de sa- parativamente com os apoios no âmbito
governo, antes e depois da pandemia. lientar a coragem demonstrada pelos da segurança social. Sobre o futuro da
Para o dirigente associativo «estas em- empresários, nomeadamente, das micro profissão, João Banza acredita que a
presas sempre foram o parente pobre da e pequenas empresas, que tudo estão a digitalização vai permitir ao contabilista
política económica, sempre vistas como fazer para não despedirem. Perante con- dedicar mais tempo a tarefas desafiado-
empresas pouco eficientes.» Contudo, dições incertas e difíceis, souberam estar ras, mas que continuarão sempre a ser
os dados estão à vista e revelam a sua à altura dos desafios.» Jorge Pisco ainda «o parceiro de confiança» das empresas
importância no contexto nacional: as mi- teve oportunidade de deixar mais uma e dos empresários, sublinhando que «a
cro, pequenas e médias empresas geram alfinetada ao poder político, desta feita confiança é a mais importante commo-
68,3 por cento da riqueza, 77,3 por cento sobre o tardio apoio aos sócios-gerentes, dity do mundo.»
do emprego e constituem 99,9 por cento justificando que «por nunca ter estado de Aproveitando a oportunidade de se estar
do tecido empresarial português. Jorge acordo com esta medida, o governo está a falar de contabilistas e empresários,
Pisco defendeu que é necessário da par- a adiar a resolução do problema.» Tiago Caiado Guerreiro referiu que es-
te dos governantes «inverter as políticas tas duas profissões «têm de ter sentido
económicas, fiscais e de crédito», termi- Caos legislativo de humor para conseguirem viver em
nando com a lógica de «privilegiar uma e falta de apoios fiscais Portugal». E explicou o motivo: normas
pequena minoria de empresas.» O pre- É dele a autoria de uma das frases para a fiscais dificilmente compreensíveis, pouco
sidente da CPPME acrescentou ser «es- posteridade neste período crítico do pon- claras, contraditórias e com interpreta-
cassa» a informação sobre as técnicas to de vista económico e social: «Quem ções diversas durante as inspeções. Um
de gestão à disposição dos proprietários liga os “ventiladores” nas empresas são caos legislativo que deixa contabilistas
das micro, pequenas e médias empresas, os contabilistas», escreveu João Banza e empresários à beira de um ataque de
mas que, apesar disso, os empresários no sítio do “Jornal Económico”, a 8 de nervos. Mas os problemas (e as críticas)
«têm desenvolvido todos os esforços julho. Contabilista certificado há mais de não terminam aqui. Falta de apoios fis-
para evitar falências», socorrendo-se do 20 anos, os últimos anos têm sido ocupa- cais e à tesouraria das empresas e car-
inestimável apoio dos contabilistas certi- dos em funções de gestão na área de tax ga fiscal muito elevada são, para Caiado
ficados. «Se não fosse o apoio dos con- reporting & strategy da consultora PwC. Guerreiro, argumentos que façam com
tabilistas nestes últimos seis meses a si- Para João Banza, o contabilista é o pro- que garanta que «este governo não tem
tuação seria mais complicada. Ajudaram tótipo do «profissional completo», co- qualquer ligação às empresas.» O fisca-
os empresários a interpretar e aplicar nhecedor das empresas por dentro, que lista chegou mesmo a apontar a OCC
mais de 300 regulamentos, leis, normas, tem de dominar diversas matérias, desde como um «interface extraordinariamen-

34 CONTABILISTA 246
21 set.
NOTÍCIAS

A crise só pode ser ultrapassada com a redefinição da estrutura de funcionamento do Estado.

te importante» para sensibilizar o poder o país sair da crise. Como? «Fornecendo tesouraria das empresas, simplificar e
político para estas necessidades do meio o que mais falta hoje em dia: confiança. desburocratizar toda a legislação. «O OE
empresarial. Caiado Guerreiro referiu Se não tivermos confiança nos números e 2021 não augura nada de bom. Enquanto
ainda que «Portugal tem um grande pro- nas demonstrações financeiras nunca va- isso as decisões estão a ser adiadas e a
blema de gestão e existe a forte possi- mos poder sair daqui. O sucesso do país apreensão é grande. Mas com uma fraca
bilidade de ficarmos insolventes». Fica o depende do sucesso da contabilidade pú- faturação, o fecho de muitas empresas e
(sério) aviso. blica e privada», acrescentou. o desemprego de milhares de pessoas é
Carlos Lobo criticou ainda a forma como inevitável.», resumiu o representante da
Confiança nos números o Estado está a fazer (ou não) a reforma CPPME.
e nas demonstrações financeiras em termos de contabilidade pública, por Antes do encerramento, a bastonária
O último interveniente a usar da palavra manifesta «falta de vontade da adminis- antecipou um «grave e desnecessário
foi Carlos Lobo, o mais experiente politi- tração pública ser gerida de forma mais problema» que poderá ter de ser resolvi-
camente, que fez um ponto de situação transparente.» «Infelizmente, temos um do em dezembro, a propósito dos paga-
pouco otimista: «Estamos em terreno Estado que não se quer reformar. Como mentos por conta. «Ao termos de fazer o
desconhecido, mesmo ao nível da decisão é que com esta atitude pode obrigar as cálculo dos pagamentos por conta para
política. Temos problemas de gravíssimas empresas a ser mais eficientes?». Firme o próximo ano, os contabilistas não vão
proporções entre mãos, que só uma mu- e detalhado na crítica, Lobo vai mais dispor de dados suficientes para tal, o
dança estrutural pode ultrapassar.» Mas longe ao referir que «em termos de con- que vai gerar uma relação tensa com os
o pior é «a ausência de ideias e a falta de tabilidade pública, estamos mais atra- empresários. A responsabilidade não é
vontade de mudar», apontou o ex-secre- sados do que no tempo do Marquês de de nenhum dos dois, mas depois alguém
tário de Estado dos Assuntos Fiscais. «A Pombal.» Debruçando-se sobre o papel vai ter de pagar as coimas», referiu Paula
chave para ultrapassar tudo isto passa da componente fiscal para a recupera- Franco.
pela redefinição da estrutura de funciona- ção, o ex-governante lamenta que o país O vírus continua (e, dizem os entendidos,
mento do Estado, com ganhos de eficiên- continue à procura de um desígnio fiscal manter-se-á mais algum tempo) entre
cia, rapidez, justiça e mais equilíbrio», re- que o norteie nos próximos 20 anos. Por nós e os problemas não param de avo-
feriu o professor da Faculdade de Direito isso, sem um rumo definido, a tendência lumar-se. Por isso, os próximos meses
da Universidade de Lisboa. Carlos Lobo será «aumentar a carga fiscal para recu- serão cruciais para o tecido empresarial
entende que não será possível salvar to- perar a receita perdida.» Por seu turno, nacional.
das as empresas e os empregos, mas a para Jorge Pisco o caminho devia ser o
Vídeo disponível no canal OCC
contabilidade pode dar uma ajuda para diametralmente oposto: um fundo de

SETEMBRO 2020 35
NOTÍCIAS

Estudo de viabilidade económica


e financeira sobre as «Casas do CC»
Documento está disponível para consulta antes da realização do referendo

A
Assembleia Representativa ser revertida pelos membros. Não pansão dos serviços prestados aos
(AR) de 19 de junho último, seria correto mudarmos o destino do membros?»
realizada em Lisboa, aprovou, projeto sozinhos».
por expressiva maioria, a proposta Para melhor se decidir qual o caminho Exploração própria ou concessão
do Conselho Diretivo (CD) de reali- que as «Casas do CC» de Lisboa e Em traços gerais, o estudo levado a
zação de um referendo relativo à não Porto devem tomar, o Conselho Dire- cabo pela BDO não inclui a possibili-
execução do projeto «Casas do CC», tivo encomendou um estudo de viabi- dade de a Ordem comparticipar uma
em Lisboa e no Porto, com 78 votos a lidade económica e financeira (EVEF) parte das mensalidades dos uten-
favor, 1 abstenção e 2 votos contra, que ficou concluído em final de 2019 tes das estruturas residenciais para
tendo sido avançada a data de 6 de e que agora é divulgado publicamente pessoas idosas (ERPI), vulgo «Casas
novembro para a consulta aos mem- para que todos os membros o possam do CC», lembrando também que «os
bros. analisar e decidir conscientemente pressupostos operacionais da explo-
Nessa mesma AR, Paula Franco justi- qual o seu sentido de voto para a ração das ERPI foram definidos tendo
ficou essa decisão da seguinte forma: questão que deverá ser colocada a em consideração uma gestão eficien-
«Dissemos durante a campanha que todos os contabilistas certificados: te e com know-how sobre o setor.»
os membros teriam de se pronunciar «Concorda com a não execução do A consultora avançou com dois ce-
sobre isto. A decisão de avançar foi projeto da Casa CC no Porto e em nários principais: exploração da ati-
aprovada, na altura, em assembleia- Lisboa, alocando-se esses recursos vidade de ERPI por parte da OCC ou
-geral. Agora, essa decisão teria de em imobiliário necessário para a ex- concessão de exploração. A título

36 CONTABILISTA 246
NOTÍCIAS

meramente indicativo, a BDO apre- E quais os resultados previsíveis para um serviço de lar de idosos ou centro
sentou também a rendibilidade pos- o caso de se pretender conceder a ex- de dia aos membros da Ordem aposen-
sível da exploração imobiliária dos ploração a uma entidade externa? Para tados e com necessidade de acompa-
imóveis de Lisboa e Porto, tendo por esse cenário, sustentam os consultores nhamento especial numa altura avan-
base os valores praticados no merca- «a rendibilidade obtida pela OCC com çada da sua vida. Por outras palavras,
do de arrendamento de escritórios. a renda de concessão corresponde a pretende promover o envelhecimento
As conclusões, que constam do rela- um montante reduzido face aos investi- saudável e participativo, sendo mais
tório agora disponibilizado apontam mentos efetuados/a efetuar pela OCC uma medida de caráter social desen-
para que «o EBITDA médio expectável (investimento já realizado na compra volvida pela Ordem com o intuito de
para a exploração de ambas as ERPI dos imóveis + investimento adicional difundir também a solidariedade entre
pela OCC é de 29 por cento do volu- necessário) e face ao custo de opor- os seus membros.
me de negócios», acrescentando ain- tunidade de arrendamento/venda dos Face a todos estes elementos, o conse-
da que «considerando os pressupos- imóveis para outros fins.» lho diretivo entendeu colocar à conside-
tos apresentados, o VAL dos projetos ração dos membros o destino final a dar
de exploração das ERPI de Lisboa e Enquadramento do projeto ao projeto. «Não era obrigatório ser um
do Porto, pela OCC, são inferiores O projeto das «Casas do CC» em Lis- referendo, mas é perfeitamente legítimo
ao valor contabilístico dos respetivos boa e Porto nasceu e desenvolveu-se que se faça. A reflexão e a decisão de al-
imóveis (valor de aquisição + investi- tendo como responsável máximo da terar ou manter o projeto tem de ser de
mento). Refira-se também que o valor instituição António Domingues de Aze- todos», justificou na AR de 19 de junho
contabilístico dos imóveis poderá es- vedo. Em assembleia-geral realizada a a bastonária. A palavra pertence agora
tar abaixo do seu valor atual, tendo 29 de abril de 2014, na Faculdade de aos contabilistas certificados.
em consideração o atual dinamismo Medicina Dentária, em Lisboa, foi dada
do mercado imobiliário em ambas as luz verde para avançar com a ideia que Estudo de viabilidade económica
cidades.» tem como objetivos principais oferecer e financeira

SETEMBRO 2020 37
NOTÍCIAS

Escritura de aquisição efetiva da sede


Última prestação liquidada em junho

A
sede da Ordem dos Conta- de compra e venda a 30 de maio de a liquidação da última prestação, refe-
bilistas Certificados passou, 2005, por 8 milhões e 730 mil euros, rente ao valor residual, em 25 de junho
desde 22 de setembro de e após profundas obras de remodela- último, a sede passou definitivamente
2020, a ser oficialmente propriedade ção, a sede da OCC, na Av. Barbosa para a posse da instituição.
da instituição, com a celebração da du Bocage, n.º 45, foi inaugurada a 16 Paula Franco, bastonária da OCC, na
escritura de aquisição efetiva, após a de maio de 2006, por Fernando Tei- presença de mais cinco elementos do
conclusão do contrato de leasing. xeira dos Santos, então ministro das Conselho Diretivo, rubricou os docu-
Celebrado o contrato de promessa Finanças. Quinze anos volvidos, e após mentos que efetivaram a transação.

Curso de Deontologia para membros estagiários


Entre 6 e 20 de outubro

T
em a designação de «Deontolo- forma de e-learning da OCC e aborda-
gia profissional do contabilista rá o enquadramento institucional da
certificado» e é o tema do mais profissão, o exercício da atividade de
recente curso de formação à distância contabilista certificado, o regime jurí-
que a Ordem dos Contabilistas Certi- dico das sociedades de contabilistas e
ficados disponibiliza, desta feita não das sociedades profissionais de CC, os
aos seus membros efetivos mas a to- direitos e deveres, entre muitos outros
dos aqueles que são membros estagiá- tópicos que podem ser consultados no
rios. programa disponibilizado no sítio da
O curso é facultativo e estará disponí- OCC. As inscrições têm um custo de
vel, entre 6 e 20 de outubro, na plata- 75 euros.

38 CONTABILISTA 246
NOTÍCIAS

TOConline ensino
Ferramenta gratuita para alunos e professores

O
TOConline, o mais completo fissional, secundário e ensino superior explorar todas as potencialidades do
sistema de apoio ao exercício com cursos de formação que permitam TOConline Ensino, aos professores
da profissão de contabilista o acesso à profissão de contabilista responsáveis pelas disciplinas em que
certificado, com seis módulos (con- certificado, permitirá que todos os se utilizará o programa, é disponibili-
tabilidade, salários, gestão de ativos, estudantes tenham, no seu projeto zado gratuitamente um curso de for-
vendas, gestão de stocks e compras) de simulação empresarial ou idêntica mação em TOConline.
por forma a abranger as mais variadas disciplina, uma ferramenta de trabalho Para acesso ao TOConline, os esta-
necessidades dos profissionais, é dis- que melhor os prepare para o merca- belecimentos de ensino interessados
ponibilizado agora na versão Ensino. O do de trabalho, simulando, da forma deverão enviar um e-mail para geral@
TOConline Ensino, gratuito para todos mais fiável possível, as tarefas diárias occ.pt por forma a que se possa cele-
os estabelecimentos de ensino pro- de um contabilista certificado. Para brar um protocolo de colaboração.

Canal
OCC

REUNIÕES LIVRES

Reuniões livres online retomadas em setembro


Sessões sobre o TOConline, quinzenalmente, às sextas-feiras

A
s reuniões livres dedicadas em processamento automático das com- meter as suas questões, até à véspera
exclusivo ao TOConline foram pras, o QR Code e as faturas eletróni- da sessão, para o mail: perguntato-
retomadas em setembro. No cas. Em ambas as sessões houve opor- conline@occ.pt 
dia 11 falou-se, entre outros temas, tunidade para responder a diversas
dos apoios à retoma progressiva e da questões colocadas pelos utilizadores Vídeo da Reunião Livre de 11 de
configuração do envio da Informação desta plataforma colaborativa da Or- setembro no canal OCC

Empresarial Simplificada (IES). No dia dem. Estas reuniões livres de caráter


25 de setembro os temas em análise temático vão prosseguir em outubro. Vídeo da Reunião Livre de 25 de
foram as categorias de despesas, o Os membros que quiserem podem re- setembro no canal OCC

SETEMBRO 2020 39
NOTÍCIAS

Prémio Professora Doutora Ana Maria Rodrigues


Ordem esteve representada na entrega da distinção em Coimbra

O
auditório da Faculdade de ças, foi o autor do trabalho vencedor Este prémio destina-se a preservar o
Economia da Universida- da primeira edição, subordinado ao legado académico e científico da pro-
de de Coimbra foi o palco tema «Cumprimento dos requisitos de fessora Ana Maria Rodrigues no do-
escolhido para a entrega do Prémio divulgação da Norma Internacional de mínio da contabilidade e a distinguir
Professora Doutora Ana Maria Ro- Contabilidade 17 sobre as locações». a melhor dissertação apresentada no
drigues. Uma cerimónia que decor- Ana Maria Rodrigues é membro hono- curso de mestrado em Contabilidade
reu no mesmo dia (25 de setembro) rário (a título póstumo) da OCC, en- e Finanças da Universidade de Coim-
da sessão de abertura do ano letivo tidade que, em conjunto com a FEUC bra. A Ordem esteve representada na
2020/2021. João Sousa, aluno do e a Editora Almedina, uniram esforços cerimónia pelo diretor Manuel Teixei-
mestrado em Contabilidade e Finan- para patrocinar este galardão. ra.

UCALP já está presente na internet


Com sítio próprio e página no Facebook

A
União dos Contabilistas e Au-
ditores de Língua Portuguesa
(UCALP) está, desde setembro,
presente na internet, com um sítio e com
uma página oficial no Facebook. A UCALP
nasceu oficialmente há cerca de um ano,
em Lisboa, no decorrer do VI Congres-
so dos Contabilistas Certificados e tem
como missão reforçar os laços entre pro-
fissionais dos diversos países que se ex-
Consulte o site da UCALP Consulte o Facebook da UCALP pressam em português. É presidida por
Paula Franco, bastonária da OCC. 

40 CONTABILISTA 246
NOTÍCIAS

Bastonária participou no XIX


Encuentro Internacional AECA
Debate sobre a economia e os negócios face à crise

A
bastonária Paula Franco parti- crise pandémica demonstrou que os con- Este evento, no qual a Ordem foi um dos
cipou, a 18 de setembro, numa tabilistas certificados são «profissionais patrocinadores, vem dar continuidade
mesa redonda digital subordina- de excelência» e que sem o seu esforço aos laços de intercâmbio académico e
da ao tema «Economia e negócios face muitas das empresas não teriam sobrevi- científico entre as instituições de ensino
à crise: a situação em Espanha e Portu- vido. Para Paula Franco os auditores e os superior portuguesas e espanholas e a
gal», no âmbito do XIX Encuentro Inter- contabilistas certificados demonstraram AECA, com o intuito de incentivar a di-
nacional AECA, promovido pela Escola ser «os sócios invisíveis das empresas». vulgação e o desenvolvimento de inves-
Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) Segundo a bastonária este contexto tigação nas áreas abrangidas pelo mes-
do Instituto Politécnico da Guarda, em reserva um «novo posicionamento de mo, nomeadamente a Contabilidade e a
conjugação com a Associación Españo- contabilistas e auditores», reforçando o Gestão.
la de Contabilidad y Administración de papel imprescindível conquistado pelos
Empresas (AECA). Na sua intervenção, profissionais da contabilidade numa pers- Apresentações dos trabalhos
disponíveis no site
a responsável da Ordem referiu que a petiva de futuro.

«Ambição Agro 2020-30»


Ordem esteve presente na cerimónia

A
Confederação dos Agriculto- cuperação da economia nacional. No
res de Portugal (CAP) apre- evento, que contou com a participação
sentou a 24 de setembro, no do Presidente da República e do primei-
Centro Cultural de Belém, em Lisboa, ro-ministro (em intervenção gravada),
o documento «Ambição Agro 2020-30», a Ordem esteve representada pelo seu
um contributo da agricultura para a re- diretor, José Pedro Farinha.

SETEMBRO 2020 41
NOTÍCIAS

JUSTO
IMPEDIMENTO
Portaria n.º 232/2020 de 1 de outubro

Justo impedimento
- Obrigações fiscais abrangidas pelo regime
Portaria n.º 232/2020 foi publicada a 1 de outubro

A
s obrigações declarativas fis- A figura do justo impedimento só foi estatutária do regime do justo impedi-
cais abrangidas pelo regime do regulamentada no ano passado, permi- mento – regime que protege os conta-
justo impedimento de curta du- tindo que não sejam aplicadas coimas bilistas certificados em caso de impos-
ração dos contabilistas certificados fo- aos contabilistas certificados impedidos sibilidade de cumprirem com obrigações
ram definidas na portaria n.º 232/2020, de cumprir prazos de entrega de decla- profissionais.
publicada a 1 de outubro. Em anexo ao rações fiscais dos seus clientes, e que Em mensagem aos membros a bastoná-
diploma, são listadas as obrigações de- não tenham nomeado um contabilista ria congratula-se ao afirmar que esta
clarativas fiscais abrangidas pelo regime suplente, à semelhança do que acontece etapa é o corolário de «um contínuo e
do justo impedimento de curta duração, noutras classes como a dos advogados. árduo trabalho da Ordem dos Contabi-
e quais os modelos que os contabilistas Esta portaria surge na sequência da pu- listas Certificados junto da Secretaria de
devem preencher, para cada situação de blicação da lei n.º 119/2019, de 18 de Estado dos Assuntos Fiscais e da Autori-
impedimento. setembro, que procedeu à concretização dade Tributária e Aduaneira.»

Reforço da bolsa de peritos da OCC


Para exercer funções de peritagem junto da PJ e tribunais

N
o âmbito do previsto na al. e diretrizes legalmente aplicáveis e pela Caso pretenda reforçar a bolsa de con-
c) do n.º 2 e n.º 4 do artigo informação contabilística, da realidade tabilistas certificados disponíveis para
10.º do Estatuto da Ordem dos patrimonial que lhe subjaz. exercer funções de peritagem junto da
Contabilistas Certificados, compete aos Para concretizar tal disposição estatu- Polícia Judiciária e tribunais, deverá
contabilistas certificados as funções de tária, a Ordem celebrou um protocolo preencher a ficha de candidatura dis-
perito nomeado pelos tribunais ou por de cooperação com a Polícia Judiciária ponível na sua área reservado do sítio,
outras entidades públicas ou privadas, para assessoria especializada na inves- em «Informações do contabilista > For-
compreendendo tais funções as defini- tigação de crimes tributários e agilizou mulários e minutas > Ficha de inscrição
das pelo tribunal no âmbito da peritagem junto dos tribunais o processo de no- - Peritos em assessoria e consultadoria
judicial, a avaliação da conformidade da meação de peritos constantes na bolsa técnica» e submeter tal pedido via Pasta
execução contabilística com as normas de peritos da Ordem. CC.

42 CONTABILISTA 246
ORDEM NOS MEDIA

REDES SOCIAIS

2 847 090 visualizações


Como os bancos mandam
na sua vida
21 160 subscritores «Foram precisos cerca de 10
emails para convencer o cliente a
não alterar as contas da empre-
sa. A bastonária da Ordem dos
Contabilistas Certificados, Paula
Franco, não escapou às pressões
de dois empresários que queriam
ter acesso às linhas de apoio Co-
vid — mas que não reuniam con-
dições para beneficiar dos mais de
6 mil milhões de euros de financia-
mento garantidos pelo Estado. E
apesar de a pressão lhe ter chega-
do através dos clientes, vinha ori-
ginalmente da banca, garante (...)»

SIC-Notícias - Entrevista à bastonária


No Dia do Contabilista, Paula Franco foi a convidada da «Edição da Noite» e falou
com o jornalista Rodrigo Pratas sobre as alegadas pressões dos bancos aos conta-
bilistas certificados.
ANÁLISE DA ORDEM

65 023 GOSTOS
Alojamento local - a COVID-19
e os potenciais impactos fiscais
65 899 seguidores
Artigo de Júlio Wilson,
consultor da Ordem

Alargamento do apoio
28 041 FOTOS extraordinário à redução
de atividade económica
Artigo de Fátima Guerra,

21 922 reproduções
consultora da Ordem

1508 SEGUIDORES
CONTAS & IMPOSTOS
NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO * Comércio eletrónico – novas
Pareceres técnicos mais vistos em setembro regras em janeiro
Artigo de Ana Alves,
| Crédito fiscal extraordinário ao | QR Code consultora da Ordem
investimento II | IMT – Cessação de atividade
| Benefícios à interioridade | Mínimo de existência Incentivo à normalização
| Cessação de atividade | Reembolso PEC – OE Suplementar versus apoio à retoma: qual o
| IVA - bicicletas elétricas | Coima relativa à declaração modelo 3 mais indicado?
Artigo de Bernardo Correia,
consultor da Ordem
*Mais informação em: https://www.occ.pt/pt/noticias/pareceres-tecnicos/

SETEMBRO 2020 43
COLABORAÇÃO ISCAP

A importância de especialização
do contabilista certificado
A revisão constante das normas internacionais de relato financeiro ou as características
específicas de alguns setores de atividade, nomeadamente o caso do setor público,
constituem exemplos de necessidade constante de atualização dos conhecimentos pelos
profissionais.

Por Cláudia Pereira*, Armindo Lima** e Rui Bertuzi*** | Artigo recebido em julho de 2020

N
a sequência da evolução e lítica e não entendam que uma boa nais devidamente credenciados.
da normalização da Con- organização é o melhor auxiliar que Relativamente ao conceito de Es-
tabilidade para o setor pú- podem ter no desempenho do seu tado, este é definido por vários au-
blico, culminando na mais recente trabalho diário.» Desde há vários tores como organização económica
atualização do Sistema de Norma- anos que esta ideia tem sido de- com um conjunto de técnicas, pro-
lização Contabilística para a Ad- fendida, no sentido de aprimorar gramas, práticas, racionalidades
ministração Pública (SNC-AP), e melhorar a gestão dos dinheiros e intervenções, dotados de uma
a formação e a especialização do públicos com a participação ativa unidade e individualidade tempo-
contabilista certificado, continua dos profissionais de Contabilidade, rárias [1-9]. Sejam entidades do
a estar na ordem do dia. Apesar de neste caso, um contabilista certi- setor público ou privado, enquanto
existir cada vez menos casos, ainda ficado especializado para o setor organizações económicas, é exigido
persiste ao nível da Administração público.2 De referir ainda que no o seu controlo através de governa-
Pública (AP), a não aplicação do campo de atuação e de fiscaliza- ção e regulação [10]. Cada vez mais
SNC-AP. No quadro seguinte, apre- ção das contas públicas, Guilherme os desenvolvimentos dos sistemas
sentamos um resumo dos exemplos d’Oliveira Martins, afirma «uma contabilísticos passam a ser asso-
da não aplicação do SNC-AP, pu- inequívoca aposta nos técnicos ofi- ciados não só à gestão dos recursos
blicado no Relatório de Auditoria ciais de contas para a administração financeiros, mas também à criação
à Implementação do SNC-AP e da pública como forma de credibilizar de padrões particulares de visibi-
Entidade Contabilística Estado - as contas e facilitar a tarefa do pró- lidade organizacional [11], onde os
ECE:(páginaseguinte...) prio Tribunal de Contas.» 3 cálculos económicos fornecidos
Já em 2007, na «Revista TOC», da Apesar da profissão ter sido regula- pelos sistemas contabilísticos de
então Câmara dos Técnicos Oficiais mentada apenas em 1995, pelo De- nível empresarial são utilizados não
de Contas 1 Domingues de Azevedo, creto – Lei n.º 265, de 17 de outubro, apenas como base para a tributação
referia duas situações a este respei- o Código da Contribuição Industrial 4 do Estado, mas essencialmente para
to: a primeira é que se a AP gere o em 1963, já referia a necessidade permitir uma gestão económica
que é de todos, esta deve seguir um de disciplinar a atividade dos que mais geral, em busca de uma maior
processo rigoroso e seletivo; a se- exercem a profissão de técnico de eficiência administrativa, seja ela
gunda é que lamentando «(…) que contas, com vista a melhorar o tra- pública ou privada.
o Estado e os políticos continuem tamento contabilístico das contas A Contabilidade, seja do setor pú-
fechados na velha conceção de po- das empresas através de profissio- blico ou privado, é vista como uma

44 CONTABILISTA 246
COLABORAÇÃO ISCAP

Motivo Entidades abrangidas


Entidades da administração local, as instituições de Se-
Excecionadas da aplicação do SNC-AP gurança Social, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
e a Caixa Geral de Aposentações.
Serviços integrados da Defesa, Instituto de Ação Social
das Forças Armadas (IASFA), Instituto do Emprego e
Formação Profissional (IEFP), IAPMEI - Agência para a
Competitividade e Inovação (IAPMEI), Turismo de Por-
tugal, Entidade Nacional para o Mercado de Combustí-
veis, Agência para o Investimento e Comércio Externo
Entidades que estão em diferentes estádios de adapta- de Portugal (AICEP), MOBI.E, SPGM - Sociedade de In-
ção dos respetivos sistemas de informação vestimento (SPGM), FCGM - Sociedade de Investimento
(FCGM), Instituto de Financiamento da Agricultura e
Pescas (IFAP), Instituto Português do Mar e da Atmos-
fera (IPMA), Serviço de Saúde da Região Autónoma da
Madeira (RAM) e Instituto de Administração de Saúde
da RAM. Acresce uma entidade da Região Autónoma
dos Açores (RAA) não identificada.
Em contraditório, a SPMS informou que o Centro
Hospitalar de Setúbal, o Hospital Garcia de Horta e o
O sistema de contabilidade utilizado não vai ser adap- Centro Hospitalar Barreiro-Montijo concluíram com
tado ao SNC-AP, estando em migração para sistemas sucesso a migração para o SICC (desenvolvido pela
de serviços partilhados ou prevendo migrar em 2019 SPMS) em 01/01/2019; a Escola Portuguesa de Cabo
Verde e o Instituto da Vinha e do Vinho para o GeRFiP
(eSPap).
Centro de Formação Profissional da Indústria Me-
talúrgica e Metalomecânica (CENFIM) (por força da
respetiva lei orgânica); Entidade Reguladora dos Ser-
viços Energéticos (ERSE) e Autoridade da Mobilidade
Entidades que não se consideram abrangidas pelo e Transportes (entidades reguladoras); Metropolitano
normativo de Lisboa (detenção de empréstimos obrigacionistas),
Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento
(natureza privada); GNB - Concessões (ter deixado de
ser classificada como Entidade Pública Reclassificada
(EPR).
Serviços periféricos externos do MNE – o instituto
Entidades com constrangimentos específicos a resolver Camões prevê que a aplicação do SNC-AP se inicie a
01/01/2019.
Entidades com orçamento residual Metro do Porto Consultoria (situação em análise).
Fonte: Tribunal de Contas - Auditoria à Implementação do SNC-AP e da ECE Relatório Intercalar VI Relatório n.º 13/2019
2.ª Secção

prática social e institucional [4] e história de um país ou de uma re- -o ao desempenho de uma mera
não apenas como uma mera prática gião [12-14]. Apesar do contabilista prática ou técnica, para diminuir
ou técnica isolada, mas sim como certificado ser envolvido pela po- o incumprimento fiscal (Azevedo,
um fenómeno social que represen- lítica e pelos sucessivos governos, 2007), tem certamente um papel e
ta uma componente essencial da ao socorrer-se deste, remetendo- um contributo mais importante do

SETEMBRO 2020 45
COLABORAÇÃO ISCAP

que um mero fiscal dos contribuin- lidade Pública, quer como unidade contabilistas certificados necessi-
tes. Apesar do ensino da Contabili- curricular integrada na licenciatura tam, em muito, fruto das constan-
dade incidir mais para o setor pri- quer como pós-graduação, assim tes alterações legislativas e outras
vado, onde se privilegia a obtenção como a formação que a Ordem dos alterações que vão sendo introduzi-
do lucro, já se começa a notar uma Contabilistas Certificados tem vin- das na profissão, quer pelo Governo
difusão do ensino da Contabilidade do a desempenhar, deve permitir quer pelos organismos reguladores
Pública mais orientada para a ges- que um contabilista certificado es- da profissão. A revisão constante
tão financeira e orçamental, para os teja apto para assumir o papel de das normas internacionais de rela-
aspetos legais e a orientação para o contabilista certificado em qual- to financeiro constitui também um
interesse público. A missão das em- quer setor de atividade, nomeada- dos exemplos da necessidade cons-
presas públicas e do setor empresa- mente no setor público. As licencia- tante de atualização dos conheci-
rial do Estado é a satisfação das ne- turas são cursos que normalmente mentos pelos profissionais. Acresce
cessidades dos cidadãos, devendo versam sobre as bases da profissão, a tudo do que foi dito as caracterís-
prestar serviços de qualidade, eco- dotando os futuros profissionais de ticas específicas de alguns setores
nómicos, eficientes e eficazes. A sua competências e conhecimentos que de atividade, nomeadamente o caso
capacidade técnica e a sua formação possibilitam uma especialização do setor público.
de base, caracterizam o contabilis- futura. Essa especialização surge
ta certificado, apto para o bom de- muitas vezes das opções e dos de- Setor público e SNC-AP
sempenho e controlo da organiza- safios profissionais que ocorrem no O setor público sofreu altera-
ção/administração pública. Assim, dia a dia de cada profissional. Desse ções profundas com a entrada do
resulta ser urgente a necessidade de modo, a necessidade de uma forma- SNC-AP, criando uma necessidade
uma formação permanente e cons- ção permanente e constante, será adicional e específica de atualiza-
tante, auxiliada pelas instituições auxiliada pelas instituições do en- ção de conhecimentos, por forma a
do ensino superior, nomeadamente sino superior, nomeadamente atra- ser possível a mudança para o novo
na especialização em Contabilidade vés da especialização da Contabili- normativo de forma organizada,
Pública, assim como orientações dade Pública, seja sobre a forma de eficiente e eficaz. Dado que a for-
e formações também ministradas mestrado, pós-graduação ou curso mação recebida por estes profissio-
pela Ordem dos Contabilistas Cer- de especialização associada à natu- nais é maioritariamente destinada
tificados. A formação em Contabi- ral necessidade de formação que os a organizações com fins lucrativos

46 CONTABILISTA 246
COLABORAÇÃO ISCAP

e pertencentes ao setor privado, as necessidade de especialização sur- é uma opção a ter em conta por to-
características das empresas do se- girá a necessidade de formação es- dos os profissionais que ambicionam
tor público trazem novos desafios pecializada para o desempenho das fazer carreia no setor público.
para a profissão. suas funções enquanto profissional
Recai sobre os profissionais o ónus de um setor de atividade com parti- Bibliografia disponível em («A Ordem
da atualização contínua dos seus cularidades e regras contabilísticas – Publicações – Revista Contabilista –
conhecimentos técnicos e muita específicas. Bibliografia»)
dessa atualização passa por recur- O domínio das regras e normativos
so a cursos de formação avançada, aplicáveis no SNC-AP apresenta um *Professora adjunta
como por exemplo, mestrados, pós- conjunto de vantagens aos profis- Coordenadora da Área Científica de
-graduações ou cursos de especiali- sionais que as dominem, designada- Contabilidade do ISCAP
zação direcionados a áreas que não mente o conhecimento aprofundado **Professor adjunto do ISCAP
são comuns nos cursos de licencia- dos normativos específicos do setor, ***Professor adjunto convidado do ISCAP
tura. Os contabilistas têm vindo a novas oportunidades de progressão
ganhar relevância nas organizações, na carreira, fortalecimento do currí- Notas
em particular no setor público, culo, reconhecimento público e par- 1
«Revista TOC», da Câmara dos Técnicos
como intervenientes que avalizam ticipação em novos projetos. Dado Oficiais de Contas, (82), pp. 6-12 – Do-
e garantem a qualidade das infor- que as empresas públicas estão mui- mingues de Azevedo
mações prestadas, trazendo assim to expostas e fiscalizadas, nomea- 2
«Revista TOC», da Câmara dos Técni-
a discussão da necessidade de es- damente pelo Tribunal de Contas, a cos Oficiais de Contas, (63): 6-10 – João
pecialização do contabilista certi- certificação das contas por profis- Carvalho.
ficado no setor público. A figura do sionais especializados é um garante 3
«Revista TOC», da Câmara dos Técnicos
contabilista certificado especialista de qualidade das informações finan- Oficiais de Contas, (72): 6-11 – Guilher-
deve ser encarada como um reforço ceiras prestadas. Na nossa opinião, a me d’Oliveira Martins.
da profissão, em termos de notorie- especialização após a conclusão do 4
Decreto-Lei 45103, de 1 de julho de
dade e de responsabilidade. Com a ciclo de estudos inicial (licenciatura) 1963.

SETEMBRO 2020 47
FISCALIDADE

Crédito Fiscal Extraordinário


ao Investimento II (CFEI II)
Este trabalho apresenta-lhe as características fundamentais do novo benefício fiscal em
sede de IRC, de caráter extraordinário e temporário, que opera por via da dedução à coleta.
São elencadas algumas particularidades, suscitadas aquando da aplicação, em 2013,
do CFEII, dotadas de uma nova atualidade.

Por Rui Bastos* | Artigo recebido em setembro de 2020

O
Crédito Fiscal Extraor- quentes a 2020 ou a 2021, consoante da, nos termos definidos pelo art.º
dinário ao Investimento o caso. 177.º-A do Código do Procedimento
(CFEI II), aprovado pelo ar- O CFEI II representa um incentivo e Processo Tributário (CPPT).
tigo 16.º da Lei n.º 27-A/2020 de 24 fiscal claramente atrativo para as Não obstante, o CFEI II possui um
de julho (Lei do Orçamento do Esta- empresas que apresentem disponi- requisito adicional, que o distingue
do “suplementar”), consubstancia- bilidade financeira para concreti- do CFEI I pois era nele inexistente
-se, em síntese, num benefício fiscal zar investimentos naquele período, (CFEI I que se direcionava, recorde-
ao investimento que opera por via potenciando mesmo a sua anteci- -se, a investimentos concretizados
de uma dedução à coleta do IRC, no pação, não distinguindo empresas num período mais curto, de 1 de ju-
montante de 20 por cento, do inves- em função da sua dimensão nem nho de 2013 até ao final desse ano),
timento elegível (o montante máxi- excluindo nenhum tipo de ativi- resultante do contexto económico-
mo das despesas de investimento dade económica da sua abrangên- -social 3 que atravessamos, à luz do
elegíveis é de cinco milhões de eu- cia, sendo aplicável, por exemplo, qual os sujeitos passivos beneficiá-
ros), até um máximo de 70 por cento ao setor agrícola ou atividades de rios não poderão cessar contratos
daquela coleta, o que representará, transformação de produtos agríco- de trabalho durante três anos, con-
no limite, uma redução para 6,3 por las. tados a partir da data de produção
cento da taxa geral efetiva de IRC. Os sujeitos passivos de IRC, in- de efeitos do benefício, ou seja, o
Tal benefício deverá ser suportado cluindo os que estão abrangidos paradigma já não passa pela criação
por investimentos em ativos afetos pelo regime de transparência fiscal2, líquida de postos de trabalho, como
à exploração, realizados no segundo destinatários deste benefício, que sucede, por exemplo, com o RFAI,
semestre de 2020 e no primeiro se- necessariamente deverão exercer, mas a ausência de despedimentos.
mestre de 2021 (período de 12 meses a título principal, uma atividade de Note-se, no entanto, que esta limi-
mediados entre 1 de julho de 2020 e natureza comercial, industrial ou tação está circunscrita às modali-
30 de junho de 2021).1 agrícola, deverão dispor de conta- dades de despedimento coletivo ou
O montante da dedução, que não bilidade regularmente organizada, despedimento por extinção do pos-
possa ser utilizado por insuficiência de acordo com a normalização con- to de trabalho, previstos, respetiva-
de coleta, poderá sê-lo, nas mes- tabilística aplicável; o seu lucro tri- mente, nos artigos 359.º e seguin-
mas condições (por exemplo, limite butável não poderá ser determinado tes e 367.º e seguintes do Código do
de 70 por cento da coleta), nos cin- por métodos indiretos e deverão ter Trabalho, pelo que estarão excluídas
co períodos de tributação subse- a sua situação tributária regulariza- da referida limitação outras moda-

48 CONTABILISTA 246
FISCALIDADE

lidades de cessação de contratos de 11), com especial relevância para o do afetos a atividades produtivas ou
trabalho, nomeadamente, a caduci- caso em apreço, problema que po- administrativas.
dade ou revogação, o despedimento derá ser suscitado, por exemplo, no Os ativos subjacentes às despesas
por facto imputável ao trabalhador âmbito das atividades imobiliárias, elegíveis devem ser detidos e con-
ou por inadaptação deste, assim chamamos a atenção para a FAQ n.º tabilizados de acordo com as re-
como, como se compreenderá, a 16 da Comissão de Normalização gras que determinaram a sua ele-
sua resolução ou denúncia pelo pró- Contabilística, na qual, à questão se gibilidade por um período mínimo
prio trabalhador. numa empresa cuja principal ativi- de cinco anos ou, quando inferior,
dade é a detenção de imóveis para durante o respetivo período míni-
Investimentos elegíveis rendimento, esses imóveis deverão mo de vida útil, determinado nos
Para efeitos do CFEI II consideram- ser considerados propriedades de termos do Decreto Regulamentar
-se «despesas de investimento em investimento ou ativos fixos tangí- n.º 25/2009, de 14 de setembro, ou
ativos afetos à exploração» as rela- veis, dado que são o objeto social até ao período em que se verifique
tivas a ativos fixos tangíveis e ativos da empresa, se refere que «a NCRF o respetivo abate físico, desmante-
biológicos que não sejam consumí- 7 define ativos fixos tangíveis como lamento, abandono ou inutilização,
veis, adquiridos em estado de novo, sendo os itens detidos para uso na observadas as regras previstas no
ainda que, a nosso ver, no regime produção ou fornecimento de bens artigo 31.º-B do Código do IRC.
de locação financeira,5 desde que ou serviços, para arrendamento a
entrem em funcionamento ou uti- outros ou para fins administrativos. Período de investimento
lização até ao final do período de Esta definição abrange, assim, mui- Uma situação que causou alguns
tributação que se inicie em/ou após tas outras categorias de ativos, para constrangimentos e dúvidas na im-
1 de janeiro de 2021 (também este além dos terrenos e edifícios, que plementação do CFEI I relacionava-
diferimento já existia no CFEI I). poderão ser objeto de arrendamen- -se com a tempestividade dos in-
São ainda elegíveis as despesas de to. Se, porém, for um terreno ou um vestimentos a realizar, ou seja, qual
investimento em ativos intangíveis 6 edifício o ativo que esteja arrenda- o momento a atender: se a realiza-
sujeitos a deperecimento7 efetuadas do, então há que apelar à norma que ção do hipotético adiantamento; se
nos referidos períodos, designada- especificamente trata estas situa- a contabilização, quando aplicável,
mente, as despesas com projetos de ções (a NCRF 11) e não à NCRF 7.» dos investimentos em curso ou a
desenvolvimento e com elemen- Como habitual neste tipo de bene- transferência deste para ativo “fir-
tos da propriedade industrial, tais fícios, estão excluídas as despesas me”.
como patentes, marcas, alvarás, de investimento em ativos suscetí- Como vimos, o CFEI II abrange os
processos de produção, modelos ou veis de utilização na esfera pessoal, investimentos em ativos afetos à
outros direitos assimilados, adqui- considerando-se como tais: exploração, realizados (quando o
ridos a título oneroso e cuja utiliza- - As viaturas ligeiras de passageiros período de tributação coincide com
ção exclusiva seja reconhecida por ou mistas, barcos de recreio e ae- o ano civil) num período de 12 me-
um período limitado de tempo. ronaves de turismo, exceto quando ses mediados entre 1 de julho de
Como se vê, tal como sucedeu no tais bens estejam afetos à explora- 2020 e 30 de junho de 2021.
CFEI I, estão afastados do benefício ção do serviço público de transpor- Deverão, a nosso ver, considerar-se
fiscal os investimentos concreti- te ou se destinem ao aluguer ou à despesas de investimento elegíveis
zados em propriedades de investi- cedência do respetivo uso ou frui- as correspondentes às adições de
mento. ção no exercício da atividade nor- ativos verificadas naquele período e
Estamos na presença de conceitos mal do sujeito passivo; as que, não dizendo respeito a me-
eminentemente contabilísticos que - O mobiliário e artigos de conforto ros adiantamentos, que deverão ser
deverão, a nosso ver, ser interpre- ou decoração, salvo quando afetos à expurgados para este efeito 9, se tra-
tados nos termos do n.º 2 do artigo atividade produtiva ou administra- duzam em adições aos investimen-
11.º da LGT, à luz do SNC8. Assim, tiva; tos em curso iniciados naqueles pe-
no que se refere à distinção entre - As incorridas com a construção, ríodos, pelo que, não se consideram
ativo fixo tangível (NCRF 7) e pro- aquisição, reparação e ampliação as adições de ativos que resultem de
priedades de investimento (NCRF de quaisquer edifícios, salvo quan- meras transferências contabilísti-

SETEMBRO 2020 49
FISCALIDADE

cas de investimentos em curso para CFEI II (ambos operam por dedução como sucede com a DLRR e RFAI,
AFT ou AI. com possibilidade de reporte), que não existe neste benefício o requisi-
ocorra uma concorrência de dedu- to de «investimento inicial»12, assim
Impedimento à cumulatividade ções à coleta no próprio ano ou, por como, consequentemente, a necessi-
dos benefícios fiscais via do reporte, em anos subsequen- dade da sua demonstração.
Estabelece o artigo 5.º do anexo V da tes, no pressuposto dos incentivos Estar ciente das especificidades do
LOES que o CFEI II não é cumulável, fiscais se concretizarem em investi- CFEI II quando comparado com ou-
relativamente às mesmas despesas de mentos distintos. tros benefícios fiscais ao investimen-
investimento elegíveis, com quais- Note-se, ainda, que o disposto no n.º to e das limitações ou imposições que
quer outros benefícios fiscais da mes- 1 do artigo 92.º do Código do IRC (re- os mesmos evidenciam, destacan-
ma natureza previstos noutros diplo- sultado da liquidação10), que se ma- do-se, a nosso ver, o CFEI II como
mas legais, como sucederá, a título terializa numa limitação às deduções um benefício bastante mais flexível
meramente exemplificativo, com a ao lucro tributável, à matéria cole- e abrangente, face ao seu caráter ex-
DLRR ou o RFAI (estes sim, cumulá- tável ou à coleta de IRC, resultantes traordinário e temporário, quando
veis entre eles). da consideração de determinados comparado com os restantes, cons-
Nessa medida, deverão as empre- regimes ou benefícios fiscais, não é titui um importante instrumento
sas ponderar, face aos requisitos e aplicável ao CFEI II11, não lhe sendo de apoio à gestão no que concerne à
circunstâncias dos mesmos, qual o igualmente aplicável os limites máxi- eficiência fiscal das medidas a tomar
benefício fiscal mais apropriado a mos aos auxílios estatais de finalida- no âmbito da política de investimen-
aplicar a determinado investimento, de regional previstos no art.º 43.º do tos de uma entidade, ficando aqui um
nomeadamente por via da compa- Código Fiscal do Investimento. singelo contributo para esse deside-
ração do CFEI II com o RFAI e/ou a Acrescenta-se ainda que, num con- rato.
DLRR. texto de comparabilidade do CFEI II
O facto daqueles benefícios fiscais com os benefícios fiscais presentes *Professor adjunto na Escola Superior de
não serem cumuláveis para o mesmo no Código Fiscal ao Investimento, Gestão do IPCA
investimento, não impede, nomea- nomeadamente no que se refere aos Notas
damente no que se refere ao RFAI e ao utilizados de forma mais recorrente, 1
No caso de sujeitos passivos que

50 CONTABILISTA 246
FISCALIDADE

adotem um período de tributação di-


ferente do ano civil, com início após «(...) o CFEI II destaca-se como um benefí­cio bastante mais
1 de julho de 2020, são despesas re-
levantes as efetuadas em ativos ele-
flexível e abrangen­te, face ao seu caráter extraordinário
gíveis desde o início do referido pe- e temporário, quando comparado com os restantes e constitui
ríodo até ao final do décimo segundo
mês seguinte. um importante instrumento de apoio à gestão no que
2
Note-se que o benefício é ainda apli- concerne à eficiência fiscal das me­didas a tomar no âmbito
cável às sociedades abrangidas pelo
regime de transparência fiscal que, da política de investimentos de uma entidade.»
não obstante não apurarem coleta de
IRC, salvo quanto às tributações au- gime de locação financeira, pode ser as regras contabilísticas assentam em
tónomas, poderão imputar a dedu- tomado em consideração, desde que larga medida em expectativas, juízos
ção suscitada por este benefício fiscal sejam observados os respetivos re- de valor ou previsões.»
aos respetivos sócios, tendo por base quisitos. 9
Claro está, se a adição do ativo alu-
uma «coleta simulada». 6
Não se consideram despesas elegí- sivo ao adiantamento se materializar
3
Conforme já se antecipava no pa- veis as relativas a ativos intangíveis, dentro do período relevante do CFEI,
rágrafo 4.3.6 da Resolução do Con- sempre que sejam adquiridos em re- o seu valor será considerado para
selho de Ministros n.º 41/2020, de 6 sultado de atos ou negócios jurídicos efeitos de cálculo do crédito fiscal.
de junho, que aprovou o Programa do sujeito passivo beneficiário com 10
Limitação à luz da qual, as entida-
de Estabilização Económica e Social entidades com as quais se encontre des que exerçam, a título principal,
(PEES), no qual se previa a criação numa situação de relações especiais, uma atividade de natureza comercial,
deste benefício e se estabelecia obri- nos termos definidos no n.º 4 do arti- industrial ou agrícola, bem como as
gação de manutenção de postos de go 63.º do Código do IRC. não residentes com estabelecimen-
trabalho durante o período de utili- 7
Por regra, os ativos intangíveis são to estável em território português, o
zação do crédito fiscal, com um mí- amortizáveis quando sujeitos a de- imposto liquidado nos termos do n.º
nimo de três anos. perecimento, designadamente por 1 do artigo 90.º, líquido das deduções
4
De acordo com a posição assumida terem uma vigência temporal limita- previstas nas alíneas a) a c) do n.º 2 do
pela AT, ainda que percecionado no da. Exceto em caso de deperecimento mesmo artigo, não pode ser inferior a
âmbito do RFAI, no que se refere ao efetivo, devidamente comprovado 90 % do montante que seria apurado
requisito de «estado de novo», de- e reconhecido pela Autoridade Tri- se o sujeito passivo não usufruísse de
verá entender-se como referente a butária e Aduaneira, não são amor- benefícios fiscais.
ativo fixo tangível que não integrou tizáveis os trespasses de estabeleci- 11
Sobre a aplicação prática da ex-
anteriormente o ativo não corren- mentos comerciais, industriais ou clusão daquela limitação, veja-se o
te da empresa que pretende usufruir agrícolas. exemplo 5 da Circular n.º 6/2013 da
daquele benefício ou de qualquer 8
Sobre a polémica suscitada pela (in) DSIRC.
outra empresa (processo n.º 2015 correta classificação contabilística 12
Considerando-se como tal:
002015, PIV n.º 8949, com Despacho dos centros comerciais e a sua rele- - Os investimentos relacionados com
de 2015-07-07, da Diretora de Servi- vância para efeitos de acesso ao CFEI a criação de um novo estabelecimen-
ços). Os terrenos não são, para efeitos I veja-se, entre outros, a sentença do to;
deste benefício, ativos adquiridos em CAA, processo n.º 172/2018-T e a ju- - O aumento da capacidade de um
estado de novo. risprudência nele assinalada, de onde estabelecimento já existente;
5
Conforme se refere na Circular n.º se conclui que desta «(…) resulta que - A diversificação da produção de
6/2013 da DSIRC, direcionada ao uma certa classificação contabilística um estabelecimento no que se refere
CFEI I mas perfeitamente aplicável, a não deve impedir o tribunal de aten- a produtos não fabricados anterior-
nosso ver, ao CFEI II face à similitude der à realidade material ou substan- mente nesse estabelecimento; ou
da redação das normas, o «custo de cial das coisas e indagar a efetiva na- - Uma alteração fundamental do pro-
aquisição» dos ativos elegíveis para tureza das coisas e não apenas à sua cesso de produção global de um esta-
efeitos do CFEI, «adquiridos» em re- veste contabilística. Tanto mais que belecimento já existente.

SETEMBRO 2020 51
FISCALIDADE

Regularização de IVA em créditos


de cobrança duvidosa ou incobráveis -
procedimentos de dedução
Face às esperadas dificuldades emergentes da situação pandémica, importa prestar atenção
aos mecanismos legais de recuperação de IVA liquidado e entregue nos cofres do Estado,
relativo a faturas não recebidas, como forma de minorar os prejuízos que tais situações
causam nas empresas.

Por Clara Gariso* e Alexandre Marques** | Artigo recebido em setembro de 2020

D
e acordo com dados do Ins- apresenta várias limitações, a obri- Ora, o Código do IVA (CIVA) consa-
tituto Nacional de Estatísti- gatoriedade de entrega do imposto gra um mecanismo de regularização
ca (INE), o produto interno sobre o valor acrescentado (IVA) do IVA respeitante a créditos consi-
bruto (PIB) registou uma quebra de sem o devido recebimento, por par- derados incobráveis ou de cobrança
16,5 por cento em termos homólo- te do cliente, continua a constituir duvidosa, ou seja, a possibilidade
gos e de -14,1 por cento em cadeia um dos grandes desafios de tesou- de o sujeito passivo recuperar o IVA
no 2.º trimestre de 2020. raria dos sujeitos passivos. entregue nos cofres do Estado no
Este valor, que reflete o impacto da Efetivamente, com os espera- caso de não ter logrado o pagamen-
pandemia na economia portugue- dos efeitos da situação espoletada to do seu crédito por parte do seu
sa, torna premente uma cuidadosa pela Covid-19, urge estar ciente da cliente.
análise e diligente atuação, no que existência dos mecanismos legais Nos seus artigos 78.º-A a 78.º-D, o
à diminuição dos encargos suporta- que permitam aos sujeitos passivos Código do IVA contém as normas
dos pelas empresas e à diminuição de IVA minorar o impacto dos in- que regulamentam a regularização
da carga fiscal por si suportada diz cumprimentos comerciais e lograr do IVA para os créditos vencidos
respeito. a necessidade/obrigatoriedade do após 1 de janeiro de 2013, sendo
Neste âmbito, sendo esperado um cumprimento fiscal por parte das que para os créditos anteriores a
aumento das insolvências das so- sociedades. esta data importa atentar às normas
ciedades comerciais, assim como Assim, e até que exista um amplo previstas nos n.ºs 7 a 12, 16 e 17 do
um acréscimo do incumprimento regime que possibilite a desejada e artigo 78.º do referido diploma le-
das obrigações comerciais assumi- ideal entrega de imposto aquando gal.
das, importa ter presente os me- do seu recebimento por parte dos
canismos legais de recuperação de devedores, incumbe aos contabi- Regularização do IVA para créditos
tributos suportados pelas socieda- listas certificados (CC) utilizar os vencidos após 1 de janeiro de 2013
des relativos à atividade comercial mecanismos legais à sua disposi- Numa tentativa de tornar útil e apli-
que não se concluíram com norma- ção, que possibilitem, no caso de cável ao maior número de situações
lidade. incumprimento, minorar o dano existentes, analisaremos com par-
De facto, e pese embora a existên- causado pelo mesmo na vida finan- ticular relevo as situações após 1
cia do regime «IVA de caixa», que ceira dos seus clientes. de janeiro de 2013, a que se aplica

52 CONTABILISTA 246
FISCALIDADE

o regime jurídico previsto no artigo


78.º-A e seguintes. «Para efeitos de contagem de prazos, considera-se que
A regularização do IVA liquidado
o vencimento do crédito ocorre na data prevista no contrato
respeitante a créditos considerados
incobráveis e a créditos de cobrança celebrado entre as partes ou, na ausência deste, na data da
duvidosa sofreu profundas altera-
interpelação judicial ou extrajudi­cial para o cumprimento,
ções aplicáveis aos créditos venci-
dos a partir de 1 de janeiro de 2013, nos ter­mos do artigo 805.º do Código Civil. »
por força da introdução no Código
do IVA dos artigos 78.º-A a 78.º-D,
aditados pela Lei n.º 66-B/2012, de exigente. mentemente a existência de provas
31 de dezembro (Lei do Orçamento Assim, ao abrigo do n.º 3 do artigo de forte cariz documental, ou seja,
do Estado para 2013). 78.º- B do CIVA, a regularização do e somente a título de exemplo, en-
Nos termos do n.º 3 do artigo 78.º- IVA abrangido pelas situações des- vio de email, com recibo de leitura,
A do CIVA, considera-se créditos critas na alínea b) do n.º 2 do arti- carta registada com aviso de rece-
de cobrança duvidosa aqueles que go 78º- A do mencionado código, ção intimando para o cumprimento
apresentem um risco de incobra- não carece de pedido de autoriza- da obrigação vencida.
bilidade devidamente justificado, o ção prévia à Autoridade Tributaria Verificando-se tais requisitos e en-
que se verifica nos seguintes casos: e Aduaneira (AT). A respetiva re- contrando-se o crédito em mora há
- O crédito esteja em mora há gularização deverá ser efetuada no mais de 12 meses, procedimental-
mais de 12 meses desde a data do prazo de dois anos a contar após o mente deverá o sujeito passivo, nos
respetivo vencimento e existam primeiro dia do ano cível seguinte termos do previsto no n.º 1 do ar-
provas objetivas de imparidade e à verificação da mora e será efetua- tigo 78.º- B do CIVA, solicitar à AT,
de terem sido efetuadas diligên- do por fatura, e não por devedor. O por via eletrónica, no prazo de seis
cias para o seu recebimento; que equivale a dizer que se o sujeito meses, pedido de autorização pré-
- O crédito esteja em mora há passivo tiver um devedor com di- via para a dedução do imposto as-
mais de seis meses, no caso do versas dívidas menores que 750 eu- sociado a créditos considerados de
valor do crédito ser inferior a 750 ros, beneficia deste regime por cada cobrança duvidosa. Estes pedidos
euros (IVA incluído) e o devedor fatura e não pela soma das faturas de autorização prévia, devem obe-
seja um particular ou sujeito pas- em dívida que, a exceder 750 euros, decer aos requisitos estabelecidos
sivo que realize exclusivamente implicaria a aplicação de um proce- na Portaria n.º 172/2015, de 5 de ju-
operações isentas que não confi- dimento mais exigente. nho. A apresentação de um pedido
ram direito à dedução. Como é também natural, pese em- de autorização prévia determina a
Para efeitos de contagem de prazos, bora não exista necessidade de au- notificação do adquirente pela AT,
considera-se que o vencimento do torização prévia, a AT tem a facul- também por via eletrónica, para
crédito ocorre na data prevista no dade de controlar posteriormente a que efetue a correspondente retifi-
contrato celebrado entre as partes legalidade das regularizações. cação, a favor do Estado, da dedu-
ou, na ausência deste, na data da Já no que aos créditos considerados ção inicialmente efetuada (n.º 5 do
interpelação judicial ou extrajudi- de cobrança duvidosa de maior va- artigo 78.º-B do CIVA) a realizar nos
cial para o cumprimento, nos ter- lor diz respeito, para além da evi- termos do n.º 1 do artigo 78.º-C do
mos do artigo 805.º do Código Civil. dência contabilística, importará CIVA.
Em termos procedimentais, e como também atentar à necessária: O pedido de autorização prévia
é de fácil compreensão, os crédi- - Prova de imparidade; considera-se indeferido se não for
tos de cobrança duvidosa de me- - Diligências efetuadas tendentes apreciado no prazo de quatro meses
nor valor e relativos a particulares à cobrança da dívida. e se o valor de cada fatura for su-
ou sujeitos passivos que realizem Apesar da AT estar vinculada à perior a 150 mil euros (n.ºs 2 e 4 do
exclusivamente operações isentas obrigatoriedade de aceitar todos os artigo 78.º-B do CIVA).
que não confiram direito à dedução, meios de prova admitidos em Direi- Ou seja, e a contrario, consideram-
possuem um formalismo menos to, o facto é que se recomenda vee- -se tacitamente deferidos, após

SETEMBRO 2020 53
FISCALIDADE

esse prazo, os pedidos relativos a Créditos incobráveis Caso não seja utilizado esse meca-
créditos que sejam inferiores a 150 No que concerne aos créditos consi- nismo, fica excluída a possibilidade
mil euros (IVA incluído), por fatu- derados incobráveis, a matéria é di- de efetuar essa dedução em mo-
ra. A dedução do imposto a favor do versa quanto ao procedimento, mas mento posterior, usando as disposi-
sujeito passivo deve ser efetuada na não quanto ao efeito da recuperação ções relativas a créditos incobráveis
declaração periódica, até ao final do do tributo suportado. (n.º 5 do artigo 78.º-A do CIVA).
período seguinte àquele em que se De harmonia com o n.º 4 do artigo Note-se que o prazo para efetuar
verificar o deferimento do pedido 78.º-A do CIVA (para os créditos o pedido de regularização prévia à
de autorização prévia (n.º 8 do arti- vencidos a partir de 1 de janeiro de AT é de apenas seis meses, pelo que
go 78.º-B do CIVA). 2013), os sujeitos passivos podem uma desatenção pode impossibili-
Neste caso, o credor preencherá o deduzir o imposto relativo a cré- tar, definitivamente, a regulariza-
quadro 1-G do anexo 40 da declara- ditos considerados incobráveis nas ção do IVA não pago pelo cliente. E
ção periódica do IVA. seguintes situações: isto porque, de harmonia com n.º 4
Já a regularização por parte do de- - Em processo de execução; do artigo 78.º-A, a regularização do
vedor é efetuada nos termos do - Em processo de insolvência; IVA relativo a créditos incobráveis
artigo 78.º-C do CIVA e implica o - Em processo especial de revita- apenas pode ser efetuada «sempre
preenchimento do quadro 1-E do lização (PER); que o facto relevante ocorra em mo-
anexo referente ao campo 41 da de- - Nos termos previstos no Siste- mento anterior ao do n.º 2.»
claração periódica do IVA. ma de Recuperação de Empresas Como já mencionamos, são diver-
O Orçamento do Estado para 2020 por Via Extrajudicial (SIREVE);(- sos os meios processuais judiciais
(Lei n.º 2/2020, de 31 de março), in- norma entretanto revogada mas no âmbito dos quais pode resultar a
troduziu várias alterações ao regime passível de regularização para declaração de existência de créditos
de regularização de IVA a favor do procedimentos havidos anterior- incobráveis.
sujeito passivo em créditos de co- mente.) Em termos de procedimento, para
brança duvidosa ou incobráveis, - No Regime Extrajudicial de Re- a regularização de créditos consi-
que entraram em vigor no passado cuperação de Empresas (RERE). derados incobráveis, a dedução é
dia 1 de abril. Fundamental será ter presente efetuada pelo sujeito passivo, sem
A comprovação e certificação dos que, para que esta regularização necessidade de pedido de autoriza-
elementos e diligências respeitan- possa ocorrer, o Código do IVA ção prévia, no prazo de dois anos a
tes a cada crédito de cobrança du- exige que o facto relevante ocorra contar do primeiro dia do ano civil
vidosa e, bem assim, a certificação em momento anterior ao referido seguinte (n.º 3 do artigo 78.º-B do
de que se encontram verificados no n.º 2 do artigo 78.º-A do CIVA. CIVA).
os requisitos legais para a dedução De harmonia com o ofício-circula-
do imposto respeitante a créditos do n.º 30 161, de 8 de julho de 2014, Processos de execução
considerados incobráveis abrangi- da Área de Gestão Tributária do IVA, No âmbito de processos de execu-
dos pelo n.º 4 do artigo 78.º-A, até a situação de incobrabilidade, refe- ção a incobrabilidade considera-se
aqui asseguradas em exclusivo por rida em alguma das alíneas a) a d) verificada na data do registo a que
revisor oficial de contas, passaram do n.º 4 do artigo 78.º-A do CIVA, se refere a alínea b) do n.º 2 do arti-
a poder ser também efetuadas por ocorre em momento prévio ao de- go 717.º do Código do Processo Civil
contabilista certificado indepen- curso dos prazos de mora exigidos (registo informático de execuções),
dente, desde que, relativamente para a regularização do IVA dos pelo que:
aos créditos de cobrança duvido- créditos considerados de cobrança • O processo de execução deve-
sa, a correspondente regularização duvidosa. rá encontrar-se extinto por não
do imposto não exceda 10 mil eu- Ou seja, caso se verifiquem primei- terem sido encontrados bens pe-
ros por declaração periódica, con- ro as condições para a dedução do nhoráveis.
forme consta do artigo 78.º-D do IVA a favor do sujeito passivo relati- • A sua extinção deverá estar ins-
CIVA. (ofício-circulado n.º 30 219, vas a créditos de cobrança duvido- crita no registo informático de
de 2020-04-02, da Área de Gestão sa, é esse o mecanismo que terá de execuções.
Tributária do IVA). ser acionado. Caso tal se verifique, dever-se-ão

54 CONTABILISTA 246
FISCALIDADE

observar os seguintes formalismos:


para além da certificação, agora a
efetuar por revisor oficial de con- «Para a regularização de créditos consi­derados incobráveis,
tas ou contabilista certificado in- a dedução é efetuada pelo sujeito passivo, sem necessidade
dependente, e da comunicação da
regularização ao devedor, o cre- de pedido de autoriza­ção prévia, no prazo de dois anos a contar
dor deve estar na posse de certidão
do primeiro dia do ano civil seguinte (n.º 3 do artigo 78.º-B
comprovativa de que o crédito foi
julgado extinto por não terem sido do CIVA).»
encontrados bens penhoráveis e
documento extraído do CITIUS1,
comprovativo de que a extinção do ráter pleno e for deliberado o en- trânsito em julgado.
crédito consta do registo informá- cerramento da empresa, os cre-
tico de execuções. dores podem regularizar o IVA, Processo especial
após a realização do rateio final, de revitalização (PER)
Processo de insolvência do qual resulte o não pagamen- Da mesma forma os credores po-
Já quando o processo judicial resul- to definitivo do crédito (até 31 de dem regularizar o IVA incluído na
ta na insolvência e esta é decretada dezembro de 2017 a regulariza- parte perdoada, quando seja pro-
com caráter limitado, por inexis- ção era possível após o trânsito ferida sentença de homologação do
tência ou insuficiência da massa em julgado da sentença de veri- plano de revitalização que preveja
insolvente, os sujeitos passivos que ficação e graduação de créditos). o não pagamento definitivo do cré-
tenham créditos sobre o insolven- Há, no entanto, processos judiciais dito, devendo nestes casos, possuir
te, independentemente de terem que resultam na insolvência da so- a certidão demonstrativa da homo-
intervindo no processo ou de terem ciedade com caráter pleno, e exis- logação do PER, com indicação da
reclamado os respetivos créditos, tência de plano de recuperação da data do trânsito em julgado dessa
podem regularizar a seu favor o empresa. Nestes casos, os credores homologação.
IVA correspondente ao montante somente podem regularizar o IVA Os credores podem regularizar
que tenha ficado por pagar, após quando seja proferida sentença de o IVA incluído na parte perdoa-
o trânsito em julgado da sentença homologação do plano de insol- da após a celebração do acordo
que declarou a insolvência com ca- vência, que preveja o não paga- de recuperação. Recorda-se que o
ráter limitado. mento definitivo do crédito. Decreto-Lei n.º 178/2012, de 3 de
Para tal dever-se-á observar o se- Haverá então que ter em atenção agosto, que regulava o SIREVE, foi
guinte: para além da certificação e que existindo plano de insolvên- revogado pela Lei n.º 8/2018, de 2
da comunicação da regularização cia, plano de recuperação ou acor- de março, que aprovou o Regime
ao devedor, o credor deve estar do homologados, envolvendo um Extrajudicial de Recuperação de
na posse de certidão judicial onde plano de pagamentos com perdão Empresas (RERE), podendo, po-
conste que a insolvência foi de- de dívida, só é possível regularizar rém, os procedimentos que esti-
clarada com caráter limitado, bem o IVA incluído na parte perdoa- vessem em curso sem que tenha
como a data do trânsito em julgado da. Nestas situações, para além da sido celebrado acordo, ser concluí-
da respetiva sentença. certificação e comunicação já re- dos ao abrigo do regime em que fo-
Quando a insolvência tiver caráter ferida, acresce a necessidade de ter ram desencadeados.
pleno, os credores podem regulari- na sua posse certidão judicial que Como documentos comprovati-
zar o IVA: certifique o teor da sentença que vos, para além de estar na posse da
• Quando for determinado o en- determinou o encerramento do certificação, a efetuar por ROC ou
cerramento do processo por in- processo por insuficiência de bens contabilista certificado indepen-
suficiência de bens, ao abrigo do ou homologou o rateio final ou de dente e da comunicação da regula-
artigo 232.º do CIRE (situação certidão contendo o teor da homo- rização ao devedor, o credor deve
nova criada pelo OE para 2018). logação do plano de regularização obter certidão emitida pelo IAP-
• Quando a insolvência tiver ca- e, bem assim, a data do respetivo MEI, comprovativa da data da ce-

SETEMBRO 2020 55
FISCALIDADE

lebração do acordo. Dever-se-á ter reestruturação compreende a rees- pondente a favor do Estado.
presente que, neste caso, o acordo truturação de créditos correspon- •Em caso de insolvência (com
terá de ser assinado pela empresa, dentes a, pelo menos, 30 por cento caráter pleno) - a notificação
pelo IAPMEI (Instituto de Apoio do total do passivo não subordina- deve ser efetuada na pessoa do
às Pequenas e Médias Empresas e do do devedor e que, em virtude do administrador de insolvência.
à Inovação) e pelos credores (que acordo de reestruturação, a situa- Certificação dos créditos:
não poderão representar menos de ção financeira da empresa fica mais O artigo 78.º-D do CIVA, sob a
50 por cento das dívidas apuradas). equilibrada. epígrafe «Documentos de su-
Em comum, entre ambos os regi- porte», sofreu alterações com o
Regime Extrajudicial mes, de regularização de créditos Orçamento do Estado para 2020
de Recuperação de Empresas de cobrança duvidosa e créditos (Lei n.º 2/2020, de 31 de mar-
Os credores podem regularizar incobráveis vencidos a partir de 1 ço). Na redação atualmente em
o IVA incluído na parte perdoa- de janeiro de 2013, há que observar vigor, e de harmonia com o n.º 1
da após a celebração do acordo de os seguintes requisitos: do mencionado artigo, «a iden-
reestruturação e respetivo depósito •Notificação ao devedor; tificação da fatura relativa a cada
na Conservatória do Registo Co- •Certificação dos créditos por crédito de cobrança duvidosa,
mercial, desde que o acordo cum- contabilista certificado indepen- a identificação do adquirente, o
pra com o disposto no n.º 3 do ar- dente ou ROC, de acordo com o valor da fatura e o imposto liqui-
tigo 27.º do RERE e do qual resulte artigo 78.º-D do CIVA; dado, a realização de diligências
o não pagamento definitivo do cré- •Organização do dossiê fiscal. de cobrança por parte do credor
dito. Notificação ao devedor: e o insucesso, total ou parcial,
Acresce à certificação e à comuni- •Em caso de pedido de autori- de tais diligências, bem como
cação da regularização ao devedor, zação prévia – a notificação ao outros elementos que eviden-
a posse de documentos comprova- devedor é efetuada pela AT. ciem a realização das operações
tivos do acordo de reestruturação •No caso de créditos incobrá- em causa, devem encontrar-se
e do respetivo depósito na Con- veis – o credor está obrigado a documentalmente comprovados
servatória do Registo Comercial, notificar o devedor de que vai e ser certificados nos seguintes
declaração emitida por ROC ou proceder à regularização do termos:
contabilista certificado indepen- IVA a seu favor, para que este a) Por revisor oficial de contas
dente a certificar que o acordo de efetue a regularização corres- ou contabilista certificado inde-

56 CONTABILISTA 246
FISCALIDADE

pendente, nas situações em que do conceito de créditos de cobrança face às esperadas dificuldades emer-
a regularização de imposto não duvidosa ou incobráveis: gentes da situação pandémica que
exceda 10 000 (euro) por decla- - Os créditos cobertos por segu- vivemos, mas também para fazer face
ração periódica; ro, com exceção da importância às naturais, embora não desejáveis,
b) Exclusivamente por revisor correspondente à percentagem situações de incumprimento de paga-
oficial de contas, nas restantes de descoberto obrigatório, ou por mento existentes no trato comercial,
situações.» qualquer espécie de garantia real; e face à inexistência de um regime
Esclarece o 2 do referido preceito - Os créditos sobre pessoas sin- de «IVA de caixa» generalizado, im-
legal que a certificação é efetua- gulares ou coletivas com relações porta estarmos cientes e atentos aos
da para «cada um dos documen- especiais com o sujeito passivo cre- mecanismos legais de recuperação
tos e períodos a que se refere a dor; de IVA liquidado e entregue nos co-
regularização e até à entrega do - Os créditos cujo adquirente ou fres do Estado, relativo a faturas não
correspondente pedido, sob pena devedor, à data do negócio, já recebidas, como forma de minorar os
de o pedido de autorização pré- constava de lista de acesso públi- prejuízos que tais situações causam
via não se considerar apresen- co de execuções extintas com pa- nas nossas empresas, sendo não só tal
tado, devendo a certificação ser gamento parcial ou por não terem situação uma obrigação profissional
feita, no caso de a regularização sido encontrados bens penhorá- do CC como também uma possibili-
dos créditos não depender de pe- veis, assim como, sempre que o dade de nova abordagem e oferta de
dido de autorização prévia, até ao adquirente tenha sido declarado serviços a considerar na resposta às
termo do prazo estabelecido para falido ou insolvente em processo dificuldades que o universo comercial
a entrega da declaração periódica judicial anterior; nos coloca.
ou até à data de entrega da mes- - O credor quer seja o Estado, re-
ma, quando esta ocorra fora do giões autónomas, autarquias locais Bibliografia disponível em («A Ordem
prazo.» ou aqueles em que estas entidades – Publicações – Revista Contabilista –
No que concerne aos créditos tenham prestado aval. Bibliografia»)
considerados incobráveis, o ROC Por fim, importa recordar que, caso o *Docente no Instituto Superior de
ou o CC independente devem, sujeito passivo de IVA tenha recorrido Contabilidade e Administração de Lisboa e
ainda, certificar que se encon- a um dos procedimentos para recu- na Universidade Lusófona de Humanidades e
tram verificados os requisitos le- peração do IVA e, entretanto, o crédi- Tecnologias de Lisboa
gais para a dedução do imposto, to venha a ser pago (total ou parcial- **Formador e jurista
atento o disposto no n.º 4 do arti- mente), deverá proceder à retificação
go 78.º-A do CIVA. da declaração, de forma a ser efetua- Notas
Nos termos do n.º 6 do art.º 78.º-A do o respetivo acerto. 1
Aplicação de gestão processual nos
do CIVA, encontram-se excluídos Em suma, numa atitude proativa e tribunais judiciais de Portugal.

SETEMBRO 2020 57
CONTABILIDADE

Inovação em contabilidade em tempos


de crise – desafios e oportunidades
Há muito que os serviços de contabilidade precisam de alterar a sua imagem pouco
apelativa. Isso é possível através de bons resultados do serviço prestado, em que se
privilegia a imagem do contabilista como alguém que se consulta regularmente e não um
mero cumpridor de prazos.

Por Emília Alves*| Artigo recebido em julho de 2020

O
Covid 19 mudou-nos os aumenta proporcionalmente com a dade está a alterar-se, e a nossa visão
planos para 2020! nossa insatisfação com o status quo. de futuro a nível profissional/empre-
Vivemos num tempo e num Crise é turbulência e desiquilíbrio, sarial foi obrigada a mudar também,
espaço diferentes e altamente desa- onde temos de encontrar novas ma- concomitantemente, dada a insatis-
fiantes! Aliás, pela primeira vez des- neiras de ser e de fazer, e se o percur- fação crescente com o estado em que
de há dezenas de anos, estamos todos so pode ser altamente conturbado, nos encontramos.
no mesmo planeta, constrangidos o resultado vai depender em larga O que nos falta agora? Dar os pri-
pelo mesmo problema de saúde, pla- medida do nosso posicionamento e meiros passos para quebrar a nossa
netário, e sem uma perspetiva clara da nossa maneira de pensar: do nos- resistência à mudança, aproveitando
de solução. Flexibilidade e adaptabi- so mindset; e daquilo em que conse- as oportunidades de desenvolvimen-
lidade são imperativas face ao desco- guirmos transformar-nos. to, até porque esta pandemia não é a
nhecido, e se este é sempre neutro, a A Covid-19 isolou-nos, confinou- responsável por tudo o que nos está
incerteza que envolve é emocional- -nos, e as empresas que foram mais a acontecer. A pandemia mudou o
mente impactante, fruto de medo rápidas a tomar decisões são as que ambiente em que nos encontrava-
que gera e dissemina. Mudar implica melhor sobreviveram e, ainda que mos, condicionou-nos e continua a
sair de uma zona de conforto, perder haja setores de atividade em que condicionar-nos, e para podermos
eficiência e eficácia; mas só a mu- muitas desapareceram, infeliz e ir- lidar com esta mudança tão profunda
dança potencia o desenvolvimento, o remediavelmente, outros há em que vamos ter que mudar as nossas cren-
crescimento, até ser encontrado um não só sobreviveram, como tiveram ças e as nossas competências, talvez
novo equilíbrio. Não há inovação sem mesmo alguma dificuldade em lidar mesmo alguns valores.... a nossa
disrupção e não há eficiência e eficá- com o aumento do fluxo de trabalho, maneira de nos pensarmos, pensar-
cia no processo de inovação, mas sim para conseguirem dar resposta a to- mos as nossas empresas e o mundo:
uma previsão de ganhos futuros. das as solicitações. E este foi certa- uma questão de mindset. A necessi-
A minha definição de crise é «fase mente o caso de muitas empresas de dade de mudança já existia antes da
de disrupção e de mudança verti- contabilidade ou mesmo de CC/ENI. pandemia!
ginosa»; perda de velhos hábitos, e Estavam preparados para isto? Clara-
abertura de uma infinidade de opor- mente que não! A criatividade na Contabilidade
tunidades, conducentes a algo novo, A Covid-19 está a dar-nos a oportu-
que poderá ser aquilo que formos ca- Tempo de mudança nidade de repensar os nossos negó-
pazes de construir com base na visão mesmo antes da pandemia cios, a sua sustentabilidade e, no caso
que temos para um futuro, ainda sem E agora é tempo de mudar! A nossa da contabilidade, a possibilidade de
saber bem qual será. A nossa visão visão do mundo e da sua vulnerabili- se tornar mais criativa (eu nunca me

58 CONTABILISTA 246
CONTABILIDADE

atreveria a chamar a Contabilidade de presas se sintam seguros, incluídos, dos nossos clientes.
«criativa», se não tivesse tido um se- comprometidos e motivados para
minário sobre «Contabilidade Criati- superar esta época de mudança e Primazia às pessoas
va» na UCP), sustentada pela tecno- consolidar uma nova maneira de vi- Qual a sua prioridade na sua em-
logia e pela sistematização que esta ver e de trabalhar. Uma nova manei- presa? Qual a sua ordem de priori-
potencia, com ganhos relevantes de ra de ser! dades? Crescimento, primazia dos
produtividade, com uma maior re- Todas as empresas precisam de ser- acionistas, clientes e, por fim, equi-
tenção de clientes e com equipas mais viços de contabilidade. Serviços pa? Se assim for, estamos votados ao
comprometidas e satisfeitas. A tec- imprescindíveis, regulamentados e fracasso. As pessoas em primeiro lu-
nologia é o que nos permite continuar obrigatórios, como alguns outros se- gar: a equipa, que vai cuidar dos seus
ligados e em teletrabalho ou trabalho tores de atividade; por exemplo, se- clientes. E não há boas equipas sem
remoto durante a pandemia e isto le- guros. Mas há muito que os serviços uma liderança forte, em que existem
va-me a uma outra reflexão. Aquilo de contabilidade precisam de alterar objetivos comuns e que todos sabem
que tivemos não foi teletrabalho; foi a sua imagem cinzenta, se me permi- as regras do jogo; equipa em que
um confinamento obrigatório, com tem a expressão, e pouco apelativa, e os planos de ação se constroem em
uma adaptação ao teletrabalho for- isso é possível através de bons resul- conjunto, em que há apoio ao risco,
çado, sem as condições ideais para o tados do serviço prestado, em que se envolvimento e inclusão. O que pre-
fazer; ou seja, com famílias confina- privilegia a imagem do contabilista fere ter na sua empresa? Top perfor-
das em espaços restritos e restritivos, como alguém que se consulta regu- mers ou pessoas que só atinjam um
com crianças e adolescentes em casa larmente, um coadjuvante na busca grau de performance aceitável, mas
e com horários e aulas à distância, e de melhores soluções e não um mero em que existe confiança?
sem qualquer planeamento adequado preparador de impostos e cumpridor Estamos num tempo privilegiado de
e, por vezes, sem meios para o fazer. de prazos, e de desenvolvimento de reflexão, até porque fechados em casa
Não será agora a altura de falar em te- uma relação de confiança e proxi- poupamos e criamos tempo diaria-
letrabalho a sério? midade. Clientes satisfeitos são uma mente e se há uma certeza em qual-
Não será esta uma oportunidade úni- fonte de referenciação e fidelização. quer crise, é que ela marca indelevel-
ca de olharmos para os escritórios de Clientes satisfeitos recomendam- mente tudo e todos, mas é somente
uma maneira diferente, como espa- -nos, retribuem-nos; vendem por uma fase, cuja duração por vezes é
ços de partilha, mas não necessaria- nós. Cabe-nos dar o primeiro passo difícil de prever. Se não a aprovei-
mente de trabalho presencial cons- na construção de uma nova relação, tarmos para nos reinventarmos e
tante e obrigatório? E novos desafios mostrando uma nova imagem e um reinventarmos os nossos negócios, é
se levantam em termos de liderança. novo posicionamento. Mas não há porque nada aprendemos com ela.
É preciso uma liderança forte; é im- clientes satisfeitos sem equipas sa-
perativo que todos nas nossas em- tisfeitas, já que são elas que cuidam *Business & executive coach


SETEMBRO 2020 59

DIREITO

Covid-19 e o regime das faltas


ao trabalho
Numa altura em que muitas entidades voltaram a chamar os trabalhadores aos seus postos
de trabalho, apresentamos aqui o regime e tratamento específico das ausências justificadas
pela Covid-19.

Por Conceição Soares* | Artigo recebido em setembro de 2020

A
pandemia criada pelo novo garantia1, do índice de profissionali- para 55 por cento da remuneração de
coronavírus SARS-CoV-2, dade2 e da certificação da incapaci- referência a partir do 15.º dia até ao
responsável pela doença dade temporária para o trabalho. 30.º dia de faltas.
Covid-19, veio alterar significati- Além disso, e muito importante, pois Caso a ausência se prolongue por pe-
vamente o paradigma das relações trata-se de um regime totalmente ríodo superior a 30 e até 90 dias, o
laborais. Uma das matérias em que distinto daquele que se aplica aos ca- montante do subsídio a pagar passa
é possível constatarmos alterações sos de doença natural não resultante para 60 por cento.
relevantes, é a que respeita ao regi- da infeção pelo novo coronavírus, a Se as ausências ultrapassarem os 90
me de faltas ao trabalho. atribuição do subsídio de doença nos dias e até completarem os 365 dias, o
Num momento de regresso de muitos casos de isolamento profilático não beneficiário tem direito a 70 por cento
trabalhadores aos seus postos de tra- está sujeita ao período de espera. do rendimento de referência, mon-
balho habituais e da reabertura dos Recordamos que o período de espera tante este que é aumentado para 75
estabelecimentos de ensino em regi- para os trabalhadores por conta de por cento no caso de faltas para além
me presencial, é importante conhe- outrem é de três dias e para os traba- deste período.
cer o regime e tratamento específico lhadores independentes é de 10 dias. Importa esclarecer que remuneração
das ausências ao trabalho justificadas Já para o regime de inscrição faculta- de referência é definida por R/180, em
pela Covid-19. tiva (trabalhadores marítimos e bol- que “R” representa o total das remu-
seiros de investigação), o período de nerações registadas nos primeiros seis
Isolamento profilático espera é de 30 dias. meses civis que precedem o segundo
É equiparada a doença a situação de mês anterior ao mês em que teve iní-
isolamento profilático até 14 dias, Montante do subsídio cio a incapacidade temporária para o
seguidos ou interpolados, dos traba- O montante do subsídio a pagar aos trabalho 3.
lhadores por conta de outrem e dos trabalhadores em situação de isola- No caso de os beneficiários não apre-
trabalhadores independentes do re- mento profilático corresponde a 100 sentarem seis meses com registo de
gime geral de Segurança Social, mo- por cento da remuneração de referên- remunerações, a remuneração de re-
tivado por situações de grave risco cia. ferência é definida por R/(30 x n), em
para a saúde pública decretado pelas Após o 14.º dia aplicam-se as regras do que “R” representa o total das remu-
entidades que exercem o poder de regime geral do subsídio de doença, nerações registadas desde o início do
autoridade de saúde. correspondendo o valor a pagar àque- período de referência até ao dia que
O reconhecimento do direito ao res- le que é atribuído numa situação nor- antecede o isolamento profilático e
petivo subsídio de doença não de- mal de incapacidade para o trabalho. "n" o número de meses a que as mes-
pende de verificação do prazo de Assim, o valor do subsídio é reduzido mas se reportam.

60 CONTABILISTA 246
DIREITO

Social, a atribuição do subsídio por dade temporária de duração inferior


Justificação das faltas doença não está sujeita a período de ou igual a 30 dias;
por isolamento profilático espera. b) 60 por cento para o cálculo do sub-
do trabalhador Salientamos ainda que a atribuição sídio referente a período de incapaci-
As ausências ao trabalho por isola- de subsídio de doença nestes casos dade temporária de duração superior
mento profilático são consideradas corresponde a 100 por cento da re- a 30 e que não ultrapasse os 90 dias;
faltas justificadas, sendo necessária muneração de referência líquida do c) 70 por cento para o cálculo do sub-
a certificação do impedimento me- trabalhador, tendo como limite má- sídio referente a período de incapaci-
diante declaração emitida pela autori- ximo de 28 dias, ao qual é descontado dade temporária de duração superior
dade de saúde local (modelo GTI 70- o período de isolamento profilático, se a 90 e que não ultrapasse os 365 dias;
DGSS), disponível em http://www. aplicável. d) 75 por cento para o cálculo do sub-
seg-social.pt/formularios?bun- Para efeitos de atribuição do subsí- sídio referente a período de incapaci-
dleId=16820294. dio de doença com fundamento na dade temporária que ultrapasse os 365
O trabalhador deve enviar a sua de- Covid-19, o médico deverá avaliar a dias.
claração de isolamento profilático à situação clínica do beneficiário/tra-
respetiva entidade empregadora, e balhador no máximo a cada 14 dias, Justificação das faltas ao trabalho
esta deve remetê-la à Segurança So- atestando a data de início e a data de por infeção pela Covid-19
cial no prazo máximo de cinco dias, a fim da situação de doença. A justificação das ausências ao traba-
fim de poder ser atribuído o subsídio Após o decurso do período de 28 dias lho decorrentes da doença por infeção
correspondente. em que o trabalhador recebe o sub- da Covid-19 é feita mediante a apre-
sídio a 100 por cento da sua remune- sentação do respetivo certificado de
Doença por Covid-19 ração de referência, aplicar-se-ão as incapacidade temporária para o tra-
À semelhança do que já vimos para as regras para o cálculo do subsídio de balho (CIT).
situações de isolamento profilático, doença que já vimos para os casos de
nas situações de doença por Covid-19 isolamento profilático para além do Faltas para assistência a filho
dos trabalhadores por conta de ou- 14.º dia, ou seja: ou neto em isolamento profilático
trem e dos trabalhadores indepen- a) 55 por cento para o cálculo do sub- ou com Covid-19
dentes do regime geral de Segurança sídio referente a período de incapaci- Considera-se falta justificada a situa-

SETEMBRO 2020 61
DIREITO

ção decorrente do acompanhamento «As ausências ao trabalho por isola­mento profilático são
por isolamento profilático motivado
por situações de grave risco para a
consideradas faltas justificadas, sendo necessá­ria a certificação
saúde pública decretado pelas enti- do impedimento mediante declaração emitida pela autoridade
dades que exercem o poder de au-
toridade de saúde, ou de doença por
de saúde local (...). O trabalhador deve enviar a sua de­claração de
Covid-19, até ao limite de 14 dias, em isolamento profilático à respetiva entidade empregadora,
cada uma das situações, de filho ou
outro dependente a cargo dos traba- e esta deve remetê-la à Seg. So­cial no prazo máximo
lhadores por conta de outrem do re- de cinco dias.»
gime geral de Segurança Social.
Em caso de isolamento profilático de www.seg-social.pt/formularios?k- sogra) que se encontre a cargo do
criança menor de 12 anos ou, inde- w=RP+5052, anexando a declaração trabalhador e que frequente equi-
pendentemente da idade, com de- de isolamento profilático da crian- pamentos sociais cuja atividade seja
ficiência ou doença crónica, a atri- ça, se for o caso. Este requerimen- suspensa por determinação da au-
buição do subsídio para assistência a to é dispensado nas situações em toridade de saúde ou pelo Governo,
filho e do subsídio para assistência a que o impedimento para o trabalho desde que não seja possível conti-
neto, não está dependente do cum- é certificado pelo CIT - Certificado nuidade de apoio através de respos-
primento do prazo de garantia.4 No de Incapacidade Temporária para o ta social alternativa. Nestes casos as
caso de os beneficiários não apre- Trabalho, através do Serviço Nacio- faltas são justificadas, não implicam
sentarem seis meses com registo de nal de Saúde (Centros de saúde, in- a perda de quaisquer direitos, como
remunerações, a remuneração de cluindo os serviços de atendimento a antiguidade, mas determinam a
referência é definida por R/(30 x n), permanente (SAP), estabelecimen- perda de remuneração.7 Além dis-
em que “R” representa o total das re- tos hospitalares da rede pública, ex- so, estas faltas não são contabili-
munerações registadas desde o início ceto os serviços de urgência e outros zadas para o limite dos 15 dias/ano
do período de referência até ao dia serviços desde que devidamente au- previstos no artigo 252.º do Código
que antecede o isolamento profiláti- torizados). do Trabalho.
co e “n” o número de meses a que as Junto da entidade empregadora, o
mesmas se reportam. trabalhador deverá cumprir o pro- Justificação das faltas
cedimento previsto no artigo 253.º O trabalhador deve observar o pro-
Montante do subsídio do Código do Trabalho, ou seja, tra- cedimento previsto no artigo 253.º
O subsídio para assistência a filhos tando-se de uma ausência previsí- do Código do Trabalho para justi-
numa destas situações – isolamento vel, comunicar a falta com a antece- ficar as suas ausências, comuni-
profilático ou infeção por Covid-19 dência mínima de cinco dias, sendo cando ao empregador com a ante-
– é pago a 100 por cento.5 Já no caso imprevisível, a comunicação deve cedência mínima de cinco dias ou
de subsídio para assistência a neto, ser feita logo que possível, acompa- logo que possível, tratando-se de
o montante da prestação social cor- nhada dos documentos idóneos (por falta imprevisível (por exemplo,
responde a 65 por cento do valor da exemplo, CIT). encerramento com efeitos imedia-
remuneração de referência. tos de um centro de dia, devido a
Faltas para assistência surto).
Justificação das faltas a outros familiares É ainda necessário que o traba-
O trabalhador que tenha necessida- O atual regime legal 6 prevê a possi- lhador faça prova da suspensão
de de faltar ao trabalho para acom- bilidade de o trabalhador faltar jus- ou encerramento da atividade das
panhamento de filho ou neto que se tificadamente ao trabalho em caso respostas sociais frequentadas pelo
encontre em isolamento profilático de assistência a cônjuge ou pessoa familiar do trabalhador. Impor-
ou infetado por Covid-19, deve- que viva em união de facto ou eco- ta ter presente que a justificação
rá preencher e entregar o requeri- nomia comum com o trabalhador, de faltas não se basta apenas com
mento constante do formulário RP- parente ou afim na linha reta ascen- a verificação do respetivo funda-
5052-DGSS, disponível em http:// dente (por exemplo, mãe, pai, sogro, mento, sendo ainda necessária a

62 CONTABILISTA 246
DIREITO

comunicação e apresentação de cedência mínima de cinco dias ou oncológicos e os portadores de in-


prova.8 logo que possível, tratando-se de suficiência renal, podem faltar jus-
falta imprevisível, devendo ainda tificadamente ao trabalho median-
Outras faltas para assistência entregar prova do caráter inadiá- te declaração médica, desde que
a membros do agregado familiar vel e imprescindível da assistência não possam desempenhar a sua
O artigo 252.º do Código do Traba- (por exemplo, declaração médica atividade em regime de teletraba-
lho prevê ainda a possibilidade de que ateste essa necessidade). lho ou através de outras formas de
o trabalhador faltar ao trabalho até Importa referir que o emprega- prestação de atividade.
15 dias por ano para prestar assis- dor pode exigir ao trabalhador que
tência inadiável e imprescindível, apresente declaração comprovativa Justificação
a cônjuge ou pessoa que viva em de que outros membros do agrega- e remuneração das faltas
união de facto ou economia co- do familiar, caso exerçam ativida- Os trabalhadores que se encontrem
mum com o trabalhador, parente de profissional, não faltaram pelo em alguma destas situações deverão
ou afim na linha reta ascendente ou mesmo motivo ou estão impossibi- entregar ao empregador com cinco
no 2.º grau da linha colateral (por litados de prestar a assistência. dias de antecedência relativamente
exemplo, falta de trabalhador para ao início das ausências, declaração
assistência ao seu pai infetado com Faltas ao trabalho dos trabalhadores médica que ateste a condição de
Covid-19) imunodeprimidos e doentes saúde do trabalhador que justifica a
Estas faltas são consideradas jus- crónicos sua especial proteção.
tificadas, mas determinam a perda Os trabalhadores imunodeprimi- Estão excluídos deste regime exce-
de retribuição.9 dos e os portadores de doença cró- cional de proteção os trabalhadores
nica que, de acordo com as orien- dos serviços essenciais.10
Justificação das faltas tações da autoridade de saúde, Uma vez que o diploma que criou
O trabalhador deve cumprir o pro- devam ser considerados de risco, este regime excecional de proteção
cedimento previsto no artigo 253.º designadamente os hipertensos, os dos trabalhadores imunodeprimi-
do Código do Trabalho para justi- diabéticos, os doentes cardiovas- dos e doentes crónicos é omisso
ficar as suas ausências, comuni- culares, os portadores de doença quanto a remuneração ou não destas
cando ao empregador com a ante- respiratória crónica, os doentes faltas, foram várias as dúvidas à vol-

SETEMBRO 2020 63
DIREITO

ta deste tema. do e descontado pelo menos um dia nes- subsídio nestas situações correspondia
O Ministério do Trabalho, Solida- se mesmo mês. Insistimos, porém, que a 65% do valor da remuneração de refe-
riedade e da Segurança Social veio no caso do subsídio de doença atribuído rência.
entretanto esclarecer que as faltas nas situações de isolamento profilático, 6
Artigo 2.º do Decreto-Lei n.º 10-
justificadas destes doentes são pagas não se exige o cumprimento do prazo de K/2020, de 26 de março, na sua atual
pelo empregador durante o período garantia. redação.
máximo de 30 dias, nos termos do 2
O índice de profissionalidade para a 7
Artigo 2.º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 10-
disposto no artigo 249.º, n.º 2, alí- atribuição do subsídio de doença im- K/2020, de 26 de março, na sua atual
nea k) e 255.º, n.º 2, alínea d) do põe que o beneficiário tenha trabalhado redação.
Código do Trabalho. A partir deste pelo menos 12 dias nos primeiros quatro 8
Pedro Romano Martinez, Luís Miguel
limite, as ausências deixam de ser meses dos últimos seis. Estes seis me- Monteiro, Joana Vasconcelos, Pedro
remuneradas, não estando também ses incluem o mês em que o beneficiário Madeira Brito, Guilherme Dray e Luís
para já prevista a atribuição de qual- fica incapacitado para o trabalho e os Gonçalves Silva, in Código do Trabalho
quer subsídio a estes trabalhadores, 12 dias de trabalho podem verificar-se anotado, 2016, 10.ª Edição, Almedina,
para além deste período.  apenas num só mês ou decorrerem da pág. 623.
contabilização total dos dias de trabalho 9
Artigo 252.º, n.º 2, alínea c) do Código
*Advogada e docente do ensino superior ocorridos durante os 4 meses imediata- do Trabalho.
Formadora mente anteriores ao mês que antecede o 10
São considerados trabalhadores de ser-
da data de início da incapacidade para o viços essenciais, nos termos do disposto
Notas trabalho. Também no caso de isolamento no artigo 10.º, n.º 1 do Decreto-Lei n.º
1
A atribuição do subsídio de doença está profilático por Covid-19, a atribuição do 10-A/2020, de 13 de março, na sua atual
dependente de o beneficiário ter traba- subsídio de doença não está dependente redação, os profissionais de saúde, das
lhado e descontado durante seis meses do cumprimento desta condição. forças e serviços de segurança e de so-
(seguidos ou não) para a Segurança So- 3
Percentagens definidas no artigo 16.º do corro, incluindo os bombeiros voluntá-
cial ou outro sistema de proteção social, Decreto-Lei n.º 28/2004, de 4 de feve- rios, e das forças armadas, os trabalha-
nacional ou estrangeiro; que assegure reiro, na sua atual redação. dores dos serviços públicos essenciais e
um subsídio em caso de doença. Para 4
Seis meses civis com registo de remu- de instituições ou equipamentos sociais
completar este prazo de seis meses é nerações. de apoio aos idosos como lares, centros
contado, se for necessário, o mês em que 5
Até à entrada em vigor do Orçamen- de dia e outros similares, de gestão e ma-
inicia a baixa desde que tenha trabalha- to do Estado para 2020 o montante do nutenção de infraestruturas essenciais.

64 CONTABILISTA 246
GESTÃO

As necessidades de informação
não financeira e as possibilidades
de contribuição da contabilidade
de gestão(*)
O tipo e a composição dos indicadores definidos e usados para avaliar e medir a capacidade
de as organizações obterem uma melhoria dos seus níveis de gestão, nomeadamente os
relacionados com os objetivos de desenvolvimento sustentável, podem ser campo para
futuras investigações.
Por Helena I. B. Saraiva** | Artigo recebido em março de 2020

D
urante os últimos anos te- um conjunto de informação não-fi- retrizes podem ser seguidos pelas
mos assistido a um desen- nanceira que parte de certas grandes empresas nos seus relatórios, por
volvimento sustentado do empresas e grupos passam a abordar exemplo as GRI Standards da Glo-
relato não-financeiro. O interesse obrigatoriamente nos seus relatórios bal Reporting Initiative ou a aborda-
da grande maioria dos stakeholders anuais. No entanto, a referida infor- gem de relato integrado do Interna-
pelos aspetos relacionados com a mação não-financeira ocorre em ce- tional Integrated Reporting Council
manutenção do ambiente e a sus- nários em que existem ainda diversos (IIRC), ou ainda o Sistema Comu-
tentabilidade como fatores relevan- tipos de lacunas: nitário de Ecogestão e Auditoria
tes no desempenho das organiza- ∞ Em primeiro lugar o conjunto (EMAS), o Pacto Global das Nações
ções e na forma como as empresas de empresas a que se encontra Unidas, os princípios orientadores
abordam as suas responsabilidades, aplicada, em termos legais, é um sobre empresas e direitos humanos
provoca e requer a definição e o de- conjunto bastante reduzido em que aplicam o quadro das Nações
senvolvimento de indicadores não- número – por exemplo, por força Unidas «Proteger, Respeitar e Re-
-financeiros adequados e que se- da legislação referida, é aplicável, parar», as diretrizes da Organiza-
jam demonstrativos, por exemplo, com caráter obrigatório, a gran- ção para a Cooperação e o Desen-
da prossecução dos United Nations des empresas e às empresas-mãe volvimento Económico (OCDE)
Sustainable Development Goals de um grande grupo, que tenham para as empresas multinacionais, a
(U.N., 2015), por parte das entidades o estatuto legal de entidades de in- norma ISO 26000 da Organização
nas mais diversas áreas. teresse público e que tenham em Internacional de Normalização, a
A publicação de legislação euro- média mais de 500 trabalhadores; Declaração de Princípios Tripartida
peia, nomeadamente das diretivas claramente um conjunto muito li- da Organização Internacional do
2013/34/UE e 2014/95/EU, indu- mitado de empresas, o que faz com Trabalho sobre as empresas multi-
ziram a aparição de legislação nos que a sua utilização seja bastante nacionais e a política social, entre
diversos países membros, tal como reduzida; outras;
aconteceu em Portugal, com a pu- ∞ Em segundo lugar, o problema ∞ Em terceiro lugar, a escassez de
blicação do Decreto-Lei n.º 89/2017, da limitação da comparabilidade definição de indicadores-chave de
de 28 de julho de 2017, que define – diversos tipos de sistemas ou di- desempenho relevantes para a ati-

SETEMBRO 2020 65
GESTÃO

vidade específica das empresas – precisamente, quer nos resultados (2016), Bebbington & Thomson
estes indicadores são referenciados esperados por aqueles quer no resul- (2013), Virtanen et al. (2013), Son-
na legislação, mas não são, de for- tado esperado pela organização (Di- gini & Pistoni (2012), Gond et al.
ma alguma, definidos ou, sequer, mitropoulos et al., 2107; Tomaževič, (2012), Milne (1996), evidenciam a
indicados. et al., 2017; Buick et al., 2015; West & necessidade de realizar estudos na
Blackman, 2015; Bryson et al., 2014). área da sustentabilidade na literatura
Os objetivos de desenvolvimento Esta reorientação focada em novos contabilística. Assim, parece haver,
sustentável tipos de resultados, novos indicado- sem qualquer sombra de dúvida, um
Todas estas questões parecem abrir res de resultados, novas realidades de alargado leque de oportunidades de
caminho para algumas oportunidades gestão de diferentes recursos e consi- investigação na área dos indicadores
a considerar por parte da comunida- deração e definição de novos tipos de não financeiros, da sua definição, for-
de académica: interessantes questões recursos, abre caminho a que diversos mas de utilização e resultados da sua
de investigação podem surgir relati- ramos da contabilidade – nomeada- implementação, que os investigado-
vamente ao tipo e à composição dos mente a contabilidade de gestão, te- res em contabilidade e, de forma mais
indicadores definidos e usados para nha de se reorientar para melhor gerir restrita, em contabilidade de gestão,
avaliar e medir a capacidade de as e avaliar estes recursos. Neste sentido, poderão prosseguir e explorar, por
organizações obterem uma melhoria o papel da contabilidade de gestão é forma a desenvolver esta área do co-
dos seus níveis de gestão dos recursos relevado desde há algum tempo, por nhecimento numa senda que, apa-
de diversas naturezas, nomeadamen- exemplo, por Lowe & Tinker (1989), rentemente, ainda se encontra pouco
te dos relacionados com a obtenção que defendem que a cibernética, a explorada.
dos SDG. De acordo com Bebbington gestão e a teoria organizacional de-
& Unerman (2018), esta temática dos vem conferir a este ramo da contabili- *Artigo inicialmente divulgado na 20.ª
Sustainable Development Goals (SDG) dade capacidades antecipatórias, pela edição da Grudisletter, Rede Portuguesa de
- objetivos de desenvolvimento sus- capacidade que esta pode assumir na Investigação em Contabilidade, em outubro
tentável -, está a emergir em diversas monitorização de variáveis-chave de 2019.
disciplinas, mas está apenas a iniciar ambientais e na utilização de contro-
a sua aparição de forma incipiente na los auto alimentados, enfatizando a **CC n.º 26 466
literatura contabilística. sobrevivência organizacional de lon- Professora adjunta no Instituto Politécnico
Por outro lado, a resposta a novos de- go prazo e o crescimento, em lugar da da Guarda
safios relacionados com a satisfação maximização do lucro, concebendo
da totalidade dos stakeholders, fre- sistemas de controlo ajustados à com- Bibliografia disponível em («A Ordem
quentemente assume uma reorienta- plexidade ambiental. – Publicações – Revista Contabilista –
ção estratégica, de modo a focar-se, Outros autores como Hoper & Bui Bibliografia»)

66 CONTABILISTA 246
CONSULTÓRIO

Benefícios fiscais II – artigos 2.º a 21.º), sendo este con- vestimento produtivo devem respeitar
ao investimento siderado como um auxílio estatal com os limites máximos aplicáveis aos au-
finalidade regional. xílios com finalidade regional em vigor
Em julho de 2019 foi assinado um As orientações da União Europeia em na região na qual o investimento seja
contrato de benefícios fiscais e con- matéria de auxílios estatais com fina- efetuado, nos termos do artigo 43.º do
tratuais ao investimento produtivo, lidade regional para 2014-2020 estão CFI.
para o período de abril de 2016 a publicadas no Jornal Oficial da União Tal como referido, os benefícios fiscais
dezembro de 2018. Para o mesmo Europeia n.º C 209/1, de 27 de julho contratuais ao investimento produti-
investimento foi assinado um con- de 2013 (OAR) e no Regulamento (UE) vo é cumulável com outros apoios de
trato de apoio ao investimento com n.º 651/2014, de 16 de junho de 2014, Estado com finalidade regional, no-
a Agência para o Investimento e Co- que aprovou o Regulamento Geral de meadamente incentivos financeiros,
mércio Externo de Portugal (AICEP). Isenção por Categoria (RGIC), publica- como os subsídios não reembolsáveis
Dado o atraso na análise dos proje- do no Jornal Oficial da União Europeia e empréstimos sem juros ou com juros
tos por parte da AICEP, ainda não foi n.º C 187/1, de 26 de junho de 2014. reduzidos de medidas de apoio finan-
efetuada a avaliação do encerramen- A Portaria n.º 94/2015, de 27 de mar- ceiro do Portugal 2020, para o mesmo
to do investimento. ço, estabelece a regulamentação para investimento. Todavia, quando assim
Apesar de o investimento apresen- a aplicação dos benefícios fiscais con- seja, os limites referidos para a deter-
tado ser superior ao investimento tratuais ao investimento produtivo, minação do incentivo máximo para o
inicial, a parte elegível a esta data nomeadamente quanto à definição e benefício fiscal devem também aten-
é inferior ao investimento elegível âmbito de aplicação a investimentos der ao montante desses apoios finan-
apresentado. Foi comunicado pela iniciais e limitações, bem como das ceiros, conforme previsto no n.º 2 do
AICEP que parte do investimento obrigações acessórias relacionadas artigo 10.º do CFI.
apresentado ficaria sujeito a ava- com a documentação. Para efeitos do apuramento dos li-
liação em sede de encerramento do Nos termos do n.º 2 do artigo 10.º do mites máximos dos benefícios fiscais
investimento. Código Fiscal do Investimento (reda- contratuais ao investimento produti-
Para submeter as declarações de ção do Decreto-Lei n.º 162/2014, de vo, previstos no artigo 10.º do Código
substituição da modelo 22 para os 31 de outubro), o benefício fiscal con- Fiscal do Investimento, o artigo 6.º da
três períodos, quais os valores a con- tratual ao investimento produtivo é Portaria n.º 94/2015, de 27 de março
siderar? Os valores do investimento cumulável com auxílios de Estado para estabelece:
realizado? Os valores do investimen- o mesmo investimento, nomeadamen- - Qualquer investimento inicial inicia-
to elegíveis à data de hoje conforme te apoios financeiros, desde, e na me- do pelo mesmo beneficiário, incluindo
comunicação da AICEP, sabendo que dida em que, não sejam ultrapassados qualquer empresa do mesmo grupo,
este valor ainda será revisto? Como os limites máximos aplicáveis aos au- num período de três anos a contar da
calcular os valores atualizados para xílios com finalidade regional em vigor data de início dos trabalhos de um ou-
cada um dos períodos? na região na qual o investimento seja tro projeto de investimento relativa-
efetuado, previstos no artigo 43.º do mente ao qual tenham sido concedidos
A questão colocada refere-se à utili- CFI. benefícios fiscais ou qualquer outro
zação dos benefícios fiscais ao inves- O benefício fiscal contratual ao inves- auxílio de Estado com finalidade regio-
timento das empresas, nomeadamente timento produtivo pode ser determi- nal na mesma região de nível 3 da No-
benefícios fiscais contratuais ao in- nado em função de dez por cento dos menclatura das Unidades Territoriais
vestimento produtivo, em simultâneo investimentos relevantes do projeto para Fins Estatísticos (NUTS) deve ser
para o mesmo investimento, de apoios efetivamente realizadas, podendo essa considerado parte de um projeto de
financeiros de Estado. percentagem ser majorada nos termos investimento único;
O benefício fiscal contratual ao inves- dos n.os 2 e 3 do artigo 9.º do CFI, com - O valor dos benefícios fiscais conce-
timento produtivo está atualmente in- o limite total de 25 por cento das apli- didos nos termos do contrato referido
cluído no Código Fiscal do Investimen- cações relevantes efetivamente reali- no artigo 16.º do Código Fiscal do In-
to (CFI), aprovado pelo Decreto-Lei n.º zadas. vestimento bem como das aplicações
162/2014, de 31 de outubro (Capítulo Os benefícios fiscais contratuais ao in- relevantes nos termos do artigo 11.º

SETEMBRO 2020 67
CONSULTÓRIO

do mesmo diploma corresponde ao


seu valor atualizado reportado ao mo-
mento da celebração do contrato;
- O valor atualizado dos benefícios
fiscais é determinado com base nas
taxas de atualização aplicáveis nos
vários momentos em que os benefícios
fiscais são utilizados, tal como estabe-
lecido na Comunicação da Comissão
sobre a revisão do método de fixação
das taxas de referência e de atuali-
zação publicada no Jornal Oficial da
União Europeia, n.º C 14, de 19 de ja-
neiro de 2008.
As taxas de referência podem ser con-
sultadas através do sítio de internet
da Direção-Geral da Concorrência da nais é necessário tomar em considera- na diferença, para um determinado
União Europeia: ção a intensidade do auxílio a atribuir. ano, entre os juros de referência cal-
http://ec.europa.eu/competition/sta- A unidade de medida comum da inten- culados à taxa de referência em vigor
te_aid/legislation/reference_rates. sidade do auxílio é o equivalente-sub- no momento da concessão e os juros
html. venção bruto, que permite comparar a efetivamente pagos, ou seja, constitui
Para determinar se um auxílio é ou intensidade dos auxílios concedidos de o apuramento do elemento de auxílio
não compatível com o Mercado Co- diferentes formas. enquanto vantagem conferida ao be-
mum é necessário tomar em conside- O equivalente subvenção bruto (ESB) é neficiário que este não conseguiria ob-
ração a intensidade do auxílio e, por o valor que efetivamente corresponde ter em condições normais de mercado.
conseguinte, o montante do auxílio a uma vantagem financeira atribuída Este cálculo deve ser efetuado durante
expresso em equivalente-subvenção. pelo Estado (independentemente do o período da concessão do subsídio,
Para efeitos do benefício fiscal, essa organismo que atribui a ajuda). e não em função do seu recebimento.
intensidade do auxílio corresponde No caso de se tratar de um incenti- Pelo que a totalidade do montante do
aos limites máximos de auxílios esta- vo a fundo perdido (não reembolsá- valor concedido/atribuído como sub-
tais de finalidade regional previstos no vel) o correspondente equivalente de sídio não reembolsável, deve ser con-
artigo 43.º do CFI. subvenção bruto é igual ao valor do siderado como auxílio de Estado para
No cálculo do equivalente-subvenção incentivo, uma vez que a totalidade efeitos do controlo dos limites máxi-
dos auxílios a desembolsar em diver- do apoio corresponde de facto a uma mos definidos no artigo 43.º do CFI.
sas prestações deve ser aplicada a vantagem financeira que o Estado pro- Para os subsídios reembolsáveis, que
taxa de juro prevalecente no mercado porciona à empresa. são normalmente empréstimos obti-
aquando da concessão do auxílio. Para No caso de se tratar de um subsídio dos a taxas de juro mais favoráveis ou
assegurar uma aplicação uniforme, reembolsável ou de uma bonificação sem taxa de juro (ou período de carên-
transparente e simples das regras em de juros, o respetivo equivalente de cia), esses auxílios de Estado devem
matéria de auxílios estatais, é conve- subvenção tem de ser calculado uma ser determinados pela diferença entre
niente considerar que as taxas do mer- vez que o valor do reembolso não con- os juros pagos (de valor reduzido ou
cado aplicáveis são as taxas de refe- fere uma vantagem para a empresa zero) e aqueles que seriam devidos por
rência. Estas taxas referidas acima são encontrando-se esta vantagem apenas aplicação das referidas taxas de refe-
as publicadas pela Comissão Europeia. no valor dos juros que a empresa fica rência.
Os níveis de auxílio são definidos como dispensada de pagar. Para efeitos desse controlo da utiliza-
uma percentagem dos custos elegíveis. No caso de um empréstimo em con- ção do benefício fiscal, face à dedução
Assim, para determinar se um auxílio é dições favoráveis (por exemplo, sub- à coleta de IRC e aos limites máximos
ou não enquadrado nos auxílios regio- sídio reembolsável), o ESB consistirá dos auxílios de finalidade regional,

68 CONTABILISTA 246
CONSULTÓRIO

devem ser preenchidos os subquadros zados pelas taxas de referência e dos tante total previsto das aplicações
071 e 078-A do quadro 07 do anexo referidos benefícios fiscais, que irá ser relevantes associadas ao projeto de
D da modelo 22, conforme as instru- dividido pelo montante de despesas investimento.
ções da modelo 22 para os respetivos elegíveis do investimento. Para o correto preenchimento deste
campos. Será essa proporção que devida a in- campo deve ter-se em atenção os con-
No caso dos subsídios não reembol- tensidade dos auxílios de Estado que ceitos de investimento inicial e de pro-
sáveis que preveem a atribuição por deve ser aferida face ao limite previsto jeto de investimento único já referidos
cumprimento ou superação de de- no artigo 43.º do CFI. nas instruções gerais de preenchimen-
terminados objetivos, os cálculos do De qualquer forma, não sendo um to do quadro 078-A.
montante dos incentivos para os li- assunto que esteja devidamente es- Como se verifica, para a linha corres-
mites devem ter em conta o incentivo clarecido na informação vinculativa pondendo ao benefício fiscal, o cam-
obtido em cada período à medida da (Proc. 2016 000717, com despacho da po 758 corresponde ao investimento
respetiva obtenção (concessão), e não diretora-geral de 04/07/2017), sugere- elegível no âmbito desse benefício.
do momento do seu recebimento. -se que seja solicitada um novo escla- Para a linha correspondendo ao sub-
Por outro lado, no momento da atri- recimento à AT através de pedido de sídio do Portugal 2020, o campo 758
buição inicial de subsídio reembolsável informação vinculativa nos termos do corresponde ao investimento elegível
(no momento da contratação da medi- artigo 68.º da Lei Geral Tributária. no âmbito desse diploma. É claro que
da de apoio), o incentivo financeiro é Apesar deste entendimento, e caso em caso de cumulação de ambos os
apenas o montante dos juros que irá não seja possível efetuar com segu- apoios de Estado (benefícios fiscais
deixar de ser pago, devendo ser esse rança os referidos cálculos, a Autori- e subsídios do Portugal 2020), esse
montante a ter em consideração para dade Tributária e Aduaneira emitiu um campo 758 deve ser preenchido com
o montante do incentivo financeiro, esclarecimento para ajuda ao preen- os investimentos incluídos em cumu-
que irá ser adicionado aos benefícios chimento do quadro 078-A2, nomea- lação com ambos os apoios, e não a
fiscais do CFI (também apenas o mon- damente para os campos referentes totalidade dos investimentos elegíveis
tante utilizado para dedução à coleta aos montantes a considerar como considerados no projeto de investi-
de IRC em cada período de tributa- apoios de Estado financeiros e o res- mento.
ção, ou de isenção ou redução de IMT, petivo valor atualizado. O objetivo da indicação do montante
IMI, imposto do selo obtido em cada Esse esclarecimento pode ser obtido dos investimentos elegíveis é a veri-
período de tributação), para verificar no Portal das Finanças em: Apoio ao ficação do cumprimento dos limites
se está, ou não, o limite máximo para Contribuinte » IRC » Ajudas ao preen- máximos de apoios estatais de finali-
auxílios de finalidade regional. chimento do campo 763 do quadro dade regional previstos no artigo 43.º
Nos períodos seguintes, há que efe- 078-A2 Anexo D da Modelo 22 (link: do CFI, que terão em consideração os
tuar novamente o respetivo cálculo do http://info.portaldasfinancas.gov.pt/ investimentos do benefício fiscal e do
incentivo financeiro, tendo em conta pt/apoio_contribuinte/Documents/ Portugal 2020 para o mesmo investi-
quaisquer alterações, concretamente Ajuda_preenchimento_Q078_A2__ mento único conforme definição pre-
da atribuição do prémio de passar a Anexo_D__mod_22.pdf). vista na Portaria n.º 94/2015.
ser não reembolsável. Nesse caso, o De acordo com entendimento veicula- O montante total atualizado das apli-
ESB desse incentivo deixa de ser (total do, o preenchimento do referido cam- cações relevantes previstas, a inscre-
ou parcialmente) os juros e passa a ser po, e do respetivo valor atualizado, ver no campo 759 do quadro 078-A1,
o montante atribuído em prémio. pode ser efetuado com base no mon- deve ser determinado em função e re-
A determinação se a utilização dos tante previsional total pela entidade portado aos seguintes momentos:
benefícios fiscais do CFI ultrapassam, gestora da atribuição dos subsídios. - Da celebração do contrato (confor-
ou não, os limites máximos de auxílios Quanto ao preenchimento dos campos me alínea b) do n.° 1 do art.° 6.° da
de estado de finalidade regional pre- do quadro 07 do anexo D da declara- Portaria n.° 94/2015, de 23 de março),
vistos no artigo 43.º do CFI é efetuada ção modelo 22, há a referir o que se no caso de benefícios contratuais (fi-
pela soma dos incentivos financeiros segue: nanceiros e ou fiscais) ao investimento
concedidos (montante apurado no pe- - Campo 758 quadro 078-A1: Este produtivo;
ríodo em causa) devidamente atuali- campo destina-se a inscrever o mon- - Da concessão dos incentivos finan-

SETEMBRO 2020 69
CONSULTÓRIO

ceiros, ou seja, da data em que é


conferido ao beneficiário o direito de
receber o auxílio de acordo com o re-
gime jurídico aplicável [conforme pon-
to 28) do artigo 2.° do Regulamento
(UE) n.° 651/2014, da Comissão, de 17
de junho de 2014];
- Ou do termo do período de tribu-
tação em que foram realizadas as
primeiras aplicações relevantes, no
caso do benefício fiscal (sem a atri-
buição de incentivo financeiro) e nas
situações em que o investimento seja
considerado investimento único e seja
realizado durante vários períodos de De acordo com as instruções de do n.° 1 do art.° 6.° da Portaria n.°
tributação (conforme subalínea i) da preenchimento da declaração mode- 94/2015, de 23 de março), no caso de
alínea b) do n.° 1 do art.° 4.° do CFI). lo 22, considerando que as entida- benefícios contratuais (financeiros e
O campo 761 do quadro 078-A2 deve des que analisam as candidaturas a ou fiscais) ao investimento produtivo;
incluir o montante das aplicações re- incentivos financeiros disponibilizam da data da concessão dos incentivos
levantes realizadas no período de tri- informação às entidades promoto- financeiros, ou seja, da data em que é
butação a que respeita a declaração ras (sujeitos passivos do IRC) sobre conferido ao beneficiário o direito de
modelo 22. Na prática, diz respeito às o montante total previsional do Equi- receber o auxílio de acordo com o re-
aplicações relevantes previstas incluí- valente Subvenção Bruto (ESB) no gime jurídico aplicável [cf. ponto 28)
das no campo 758, que foram realiza- período de tributação em que o in- do artigo 2.° do Regulamento (UE) n.°
das (adquiridas) durante o período de centivo é concedido, o qual pode ser 651/2014, da Comissão, de 17 de ju-
tributação a que respeita a declara- diferente daquele em que as despesas nho de 2014]; ou do termo do período
ção modelo 22. são efetivamente realizadas e as difi- de tributação em que foram realiza-
O campo 762 do quadro 078-A2 deve culdades em determinar o montante das as primeiras aplicações relevan-
incluir o montante das aplicações do incentivo financeiro imputável a tes, no caso do benefício fiscal (sem
realizadas no período de tributação, cada período de tributação e que o a atribuição de incentivo financeiro) e
atualizadas face aos momentos refe- objetivo de controlo da intensidade nas situações em que o investimento
ridos para o campo 759. de auxílio ao investimento com finali- seja considerado investimento único e
O cálculo de atualização desses mon- dade regional se mostra assegurado, seja realizado durante vários perío-
tantes é o valor atual líquido desses os sujeitos passivos podem optar por dos de tributação (cf. subalínea i) da
montantes realizados no ano corren- indicar no campo 763 do anexo D o alínea b) do n.° 1 do art.° 4.° do CFI).
te para os momentos referidos para o valor total previsional do ESB apura- Para o campo 766, o valor atualizado
campo 759. do pelas entidades que analisaram a dos benefícios fiscais, em regra, deve
O campo 763 do quadro 078-A3 deve candidatura. ser reportado aos momentos indica-
incluir o montante do incentivo finan- Como se constata, sugere-se que so- dos nas instruções de preenchimento
ceiro usufruído no período de tributa- licite esta informação à entidade ges- do campo 759, sendo determinado
ção, o qual corresponde à parcela do tora da atribuição do subsídio, para o com base nas taxas de atualização
subsídio não reembolsável, do prémio preenchimento do campo 763. aplicáveis nos vários momentos em
de realização (isenção de reembolso) Quanto às atualizações dos valores que os benefícios fiscais são utiliza-
e/ou ao montante da poupança de dos subsídios e do benefício fiscal dos (cf. alíneas b) e c) do n.° 1 do art.°
juros (montante dos juros que, caso (campos 764 e 766), para o campo 6.° da Portaria n.° 94/2015, de 23 de
fossem devidos, incidiriam sobre a 764, essa informação também reali- março e alíneas b) e c) do n.° 1 do
parte do incentivo reembolsável), im- za a atualização reportada à data da art.° 4.° da Portaria n.° 297/2015, de
putável a esse mesmo período. celebração do contrato (cf. alínea b) 21 de setembro).

70 CONTABILISTA 246
CONSULTÓRIO

De acordo com as instruções de vamente ao qual tenham sido conce- no campo 760, nas várias linhas deste
preenchimento do anexo D, o quadro didos benefícios fiscais, ou qualquer campo, a informação a ser apresentada
078-A1 deve ser preenchida uma li- outro auxílio de Estado com finali- deve obedecer à mesma ordem cons-
nha por cada projeto de investimento, dade regional na mesma região de tante do campo 782 do quadro 078-A1
assinalando no campo 750 se se trata nível 3 da Nomenclatura das Unida- (de acordo com o número do projeto de
de um projeto de investimento distin- des Territoriais para Fins Estatísticos investimento e/ou benefício fiscal).
to ou de um projeto de investimento (NUTS). Para o subquadro 078-A3 – Incentivos
único, de acordo com a definição que Também se considera parte de um financeiros usufruídos e fiscais utiliza-
a seguir se indica. projeto de investimento único o investi- dos – Valores atualizados acumulados,
Conceito de projeto de investimento mento inicial iniciado por qualquer em- no campo 772, nas várias linhas deste
distinto: presa do mesmo grupo num período de campo, a informação a ser apresentada
Para efeitos destas instruções, con- três anos a contar da data do início dos deve obedecer à mesma ordem cons-
sidera-se projeto de investimento trabalhos de um outro investimento re- tante do campo 782 do quadro 078-A1
distinto aquele que é considerado lativamente ao qual tenham sido con- e campo 760 do quadro 078-A2.
isoladamente por não fazer parte de cedidos benefícios fiscais, ou qualquer O preenchimento destes quadros é efe-
um projeto de investimento único. outro auxílio de Estado com finalidade tuado por cada projeto/investimento,
Conceito de projeto de investimento regional na mesma região de nível 3 da indicado no quadro 078-A1, em função
único: NUTS. do tipo de investimento, tal como expli-
De acordo com a alínea a) do n.º 1 do O campo 751 do quadro 078-A1, es- cado em cima.
artigo 4.º da Portaria n.º 297/2015, tando em causa incentivos financeiros, No quadro 078-A2 e 078-A3, no cam-
de 21 de setembro, considera-se que deve ser indicado o número de candi- po 765, o montante de IRC a indicar
faz parte de um projeto de investi- datura ou de projeto atribuído pela é o valor do benefício fiscal deduzido
mento único qualquer investimento entidade responsável pela análise da no período de tributação em causa,
inicial iniciado pelo mesmo bene- candidatura. conforme as respetivas instruções de
ficiário num período de três anos a Para o subquadro 078-A2 – Incentivos preenchimento.
contar da data do início dos traba- financeiros usufruídos e fiscais utiliza-
lhos de um outro investimento relati- dos – Valores do período de tributação, Resposta de junho de 2020

SETEMBRO 2020 71
CONSULTÓRIO

Prejuízos fiscais

Após envio das declarações modelo


22, determinado contabilista certifi-
cado verificou que algumas estavam
erradas. Numa delas existe saldo de
«prejuízos» disponível para deduzir
70 por cento do lucro tributável.
Em 2019 apenas poderá deduzir pre-
juízos de:
2014 – Lucro;
2015 - Prejuízo regime geral: 6103,
84 euros;
2016 - Prejuízo regime geral:
1 113, 69 euros;
2017 - Prejuízo redução de taxa:
1 087, 68 euros;
2018 Prejuízo redução de taxa:
7 175,89.
Em 2019 foi apresentado um lucro
tributável de 15 481,66 euros. Apli-
cando a redução de taxa, só se pode
deduzir o ano 2017 e 2018? Se este
raciocínio estiver correto, como re-
solver a situação? butação posteriores, à exceção dos período de tributação, dos lucros
sujeitos passivos que exerçam, dire- tributáveis das restantes, conforme
tamente e a título principal, uma ati- n.º 5 do artigo 52.º do CIRC. Porém,
Questiona-se quanto ao mecanismo vidade económica de natureza agrí- terminada a aplicação do regime de
de dedução de prejuízos fiscais em cola, comercial ou industrial e que isenção parcial ou de redução de taxa
sede de imposto sobre o rendimento estejam abrangidos pelo Decreto-Lei considera-se que o remanescente de
das pessoas coletivas (IRC). No caso n.º 372/2007, de 6 de novembro, os um prejuízo sofrido numa atividade
concreto, questiona se existe alguma quais podem fazê-lo em um ou mais isenta ou com redução de taxa, que
limitação à dedução e prejuízos obti- dos doze períodos de tributação pos- não foi possível reportar aos lucros
dos em que a entidade aplicava o regi- teriores (...).» tributáveis sujeitos a idêntico regime
me taxa de IRC do regime geral, tendo A dedução a efetuar em cada um dos de tributação, pode vir a ser reporta-
em consideração que no período de períodos de tributação, nos prazos do, desde que observados os limites
tributação atual aplica o regime da referidos, não pode exceder o mon- temporais gerais que permitem o re-
taxa reduzida. tante correspondente a 70 por cen- porte, nos lucros tributáveis da mesma
É o artigo 52.º do Código do IRC que to do lucro tributável desse período, empresa respeitantes ao conjunto das
se refere quanto à dedução de prejuí- não ficando prejudicada a dedução da suas atividades.
zos fiscais, estabelecendo o n.º 1 desta parte que não tenha sido deduzida, No caso concreto, pressupondo que os
norma que: «(...) sem prejuízo do dis- nas mesmas condições e até ao final prejuízos e lucros foram gerados na
posto no número seguinte, os prejuí- do respetivo prazo. mesma atividade, tendo em conside-
zos fiscais apurados em determinado Quando o contribuinte beneficiar de ração o artigo 52.º admitimos que os
período de tributação, nos termos das isenção parcial e/ou de redução de prejuízos fiscais da entidade em 2015,
disposições anteriores, são deduzidos IRC, os prejuízos fiscais sofridos nas 2016, 2017 e 2018, são dedutíveis.
aos lucros tributáveis, havendo-os, de respetivas explorações ou atividades
um ou mais dos cinco períodos de tri- não podem ser deduzidos, em cada Resposta de agosto de 2020

72 CONTABILISTA 246
CONSULTÓRIO

Lugares genérica, podendo ser utilizado por que permitirão um acesso mais fa-
de estacionamento qualquer trabalhador ou mesmo por cilitado às instalações da empresa
terceiros (clientes, fornecedores ou por parte destes, somos de opinião
Determinada empresa não tem car- outros) em visita à empresa. de que, à partida, desde que cumpri-
ros no seu imobilizado, está localiza- Isto porque, na primeira situação, do o requisito mencionado, os gas-
da em local de difícil estacionamento ou seja, caso um lugar de garagem tos com a locação dos lugares de
e acabou por alugar quatro espaços esteja destinado a ser utilizado ex- estacionamento poderão ser aceites
para funcionários e/ou clientes po- clusivamente por um determinado fiscalmente.
derem estacionar. Como poderá ser trabalhador, somos de opinião de Contudo, chamamos a atenção que
contabilizado este custo? O mesmo é que os encargos suportados pela será importante que a natureza da
aceite fiscalmente? empresa serão, à partida, conside- atividade desta empresa permita
rados como rendimentos do traba- justificar a necessidade de um espa-
lhado dependente (em espécie) na ço de estacionamento destinado a
As questões colocadas referem-se esfera do trabalhador, sendo tribu- essa mesma atividade e que se pro-
ao enquadramento, quer contabi- tados de acordo com as regras da ve, de facto, a utilização genérica
lístico quer em sede de IRC, do ar- categoria A de IRS nos termos do dos lugares em causa (por exemplo,
rendamento de lugares de estacio- artigo 2.º do CIRS. através dos registos de entrada do
namento. Se for este o enquadramento, esses segurança).
No caso concreto, estamos perante encargos, por estarem em causa Refira-se ainda que, se não se tra-
uma entidade que, devido às imedia- remunerações tributadas na esfe- tar de encargos relacionados com
ções do local onde se situa a sede ra particular do trabalhador, serão qualquer viatura de propriedade ou
não serem propícias a estacionar considerados como gastos dedutí- locada pela empresa, estes gastos
as viaturas, procedeu ao arrenda- veis para efeitos de IRC, de acordo com os lugares de garagem não es-
mento de quatro lugares de estacio- com a alínea d) do n.º 2 do artigo tão sujeitos a tributação autónoma
namento no prédio onde se situa a 23.º do CIRC, não estando sujeitos a de IRC, por não terem enquadra-
sede, a serem utilizados quer pelos qualquer tributação autónoma. mento em qualquer dos números do
colaboradores, quer pelos clientes. Por outro lado, caso um lugar de artigo 88.º do CIRC.
Pretende-se saber, neste sentido, garagem não esteja afeto especifi- Pelo contrário, tratando-se de en-
qual o enquadramento contabilísti- camente a nenhum trabalhador, po- cargos relacionados com qualquer
co e fiscal desta operação. dendo ser utilizado genericamente viatura de propriedade ou locada
Em sede de IRC, no tocante à acei- pelos trabalhadores, clientes ou for- pela empresa, ficarão sujeitos a tri-
tação fiscal, o número 1 do artigo necedores, esse encargo, desde que butação autónoma.
23.º do CIRC indica que «para a de- cumprido o requisito do número 1 Apesar de não ser questionado,
terminação do lucro tributável, são do artigo 23.º do CIRC, poderá ser, para análise da dedutibilidade do
dedutíveis todos os gastos e perdas de facto, aceite como gasto fiscal. IVA suportado nas rendas dos luga-
incorridos ou suportados pelo sujei- No caso concreto, estamos perante res de estacionamento, recomenda-
to passivo para obter ou garantir os o segundo cenário, ou seja, os lu- mos a leitura da informação vincu-
rendimentos sujeitos a IRC», pelo gares de estacionamento poderão lativa referente ao processo n.º 15
que deverá ser averiguado esta in- ser utilizados pelos trabalhadores, 110, por despacho de 2020-02-20,
dispensabilidade em relação aos lu- fornecedores e clientes, tendo a lo- da diretora de serviços do IVA, (por
gares de estacionamento em causa. cação dos mesmos ter sido contra- subdelegação), que poderá encon-
Assim, relativamente a esta ques- tada devido ao facto de a sede da trar no seguinte link:
tão, em primeiro lugar, haverá que entidade ser localizada numa zona https://info.portaldasfinancas.gov.
identificar se os referidos lugares de difícil estacionamento. pt/pt/informacao_fiscal/informa-
de estacionamento estão destina- Assim, tratando-se de lugares de coes_vinculativas/despesa/civa/Do-
dos a ser utilizados por algum tra- estacionamento que poderão ser cuments/INFORMACAO_15110.pdf
balhador específico da empresa, ou utilizados genericamente por traba-
se os mesmos têm uma utilização lhadores, clientes e fornecedores, e Resposta de agosto de 2020

SETEMBRO 2020 73
CONSULTÓRIO

Modelo 30 – Subsídio em território nacional. Apenas os b) As remunerações acessórias, nelas


de refeição casos previstos nesta enumeração se compreendendo todos os direitos,
é que são suscetíveis de tributação benefícios ou regalias não incluídos na
Os rendimentos a declarar na decla- em território nacional. Caso se este- remuneração principal que sejam au-
ração modelo 30 deverão ser pela to- ja perante algum tipo de rendimen- feridos devido à prestação de trabalho
talidade dos rendimentos, incluindo o to obtido por não residente que não ou em conexão com esta e constituam
subsídio de alimentação (com a parte conste do rol das situações elencadas, para o respetivo beneficiário uma van-
não sujeita do mesmo – 4,77 euros/ então tal rendimento não se considera tagem económica, designadamente:
dia) ou apenas pela totalidade dos abrangido pelas normas de incidência (…)
rendimentos sujeitos (sem a parte em sede de IRS. 2) O subsídio de refeição na parte
não sujeita do subsídio de alimenta- Assim, estabelece a alínea a) do n.º em que exceder o limite legal esta-
ção – 4,77 euros/dia)? 1 do artigo 18.º do Código do IRS, belecido ou em que o exceda em 60%
que os rendimentos do trabalho de- sempre que o respetivo subsídio seja
pendente decorrentes de atividades atribuído através de vales de refeição;
A questão em apreço prende-se com exercidas em território nacional, ou (…).»
o enquadramento fiscal da inclusão quando tais rendimentos sejam de- Face ao exposto, pela subalínea 2) da
dos rendimentos do trabalho depen- vidos por entidades que nele tenham alínea b) do n.º 3 do artigo 2.º do CIRS,
dente pagos a sujeitos passivos não residência, sede, direção efetiva ou o subsídio de refeição só é considera-
residentes na declaração modelo 30, estabelecimento estável a que deva do rendimento do trabalho dependen-
nomeadamente o pagamento do sub- imputar-se o pagamento, são conside- te na parte que excede o limite legal.
sídio de alimentação. rados rendimentos obtidos em territó- Nesta circunstância, a parte do subsí-
De acordo com a regra da territoria- rio nacional. dio de refeição que não excede o limi-
lidade prevista no n.º 2 do artigo 15.º Por sua vez, a subalínea 2) da alínea te legal não se considera rendimento
do Código do IRS, os não residentes b) do n.º 3 do artigo 2.º do CIRS, de- da categoria A e desta forma o respe-
são tributados em território nacional termina: tivo rendimento atribuído não se en-
pelos rendimentos aqui obtidos. «(…) contra sujeito a IRS em Portugal, não
É no artigo 18.º do Código do IRS que 3 - Consideram-se ainda rendimen- devendo ser incluído na modelo 30.
se identificam as diversas situações tos do trabalho dependente:
que configuram rendimentos obtidos (…) Resposta de agosto de 2020

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