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EDITORIAL

Um projeto estruturante
Paula Franco, Bastonária

N o passado dia 13 de maio, o auditório da Ordem


foi o palco de um dos eventos com maior signifi-
cado e envergadura da história recente da profissão. E,
pretende é que prevaleça a pedagogia e sejam retirados
ensinamentos desta experiência: melhorar a profissão,
nos procedimentos, nas estratégias usadas e até na re-
ouso dizer, porventura a iniciativa mais estruturante do lação com os clientes. Tudo faremos para que nenhum
segundo mandato deste conselho diretivo, que tenho o profissional fique para trás. Mas é preciso, desde já, re-
privilégio de liderar. conhecer que pouco podemos fazer se existirem mem-
A apresentação pública do projeto de certificação de bros que, por expressa vontade própria, se decidam
qualidade é um passo decisivo para construir uma pro- colocar à margem deste projeto. É, por isso, crucial o
fissão que se pretende mais forte e mais coesa. Já o disse envolvimento de todos.
nesta coluna, mas não me canso de repetir: a afirmação **
interna e externa de qualquer classe profissional está Já se encontram abertas as inscrições para dois eventos
diretamente relacionada com os padrões de qualidade agendados para a segunda metade do ano. A 9 de julho,
adotados. o XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados
A posse dos órgãos sociais da Ordem, em 2018, coinci- regressará à Quinta da Malafaia, no Minho, onde já es-
diu com a imediata suspensão da Comissão de Controlo teve em 2007. Está em preparação um genuíno arraial
de Qualidade. Houve oportunidade para refletir, ama- minhoto para contabilistas certificados e respetivos fa-
durecer e definir objetivos para a “nova” certificação miliares provenientes de todo o país. No final de setem-
de qualidade. Inesperadamente, a pandemia levou ao bro, nos dias 21, 22 e 23, a Ordem e os seus membros
sucessivo adiamento da divulgação deste projeto que só regressarão a um local de boas recordações: o Altice
neste momento, em maio de 2022, vê a luz do dia. Arena. «A sustentabilidade e o relato não financeiro»
Mas agora que os membros já conhecem as linhas ge- foi o tema escolhido para as reflexões. E a 21 de setem-
rais desta iniciativa, queremos avançar. Com a maior bro, nunca é demais lembrar, é o Dia do Contabilista. A
celeridade possível e lado a lado com os profissionais. A ocasião perfeita para a entrega de medalhas aos profis-
primeira etapa, já no próximo mês de junho, passa pelo sionais que tenham cumprido 25 anos de carreira.
preenchimento obrigatório de um inquérito para todos **
os contabilistas certificados em exercício pleno de fun- À margem do bem-sucedido I Encontro Insular dos
ções. A fase seguinte será mais prática, com a imple- Contabilistas Certificados, o presidente do governo
mentação, em contexto de trabalho, do manual de pro- regional da Madeira concedeu, na Quinta Vigia, resi-
cedimentos do contabilista certificado. Numa terceira dência oficial de Miguel Albuquerque, uma entrevista
etapa, e caso se justifique, caberá à Ordem a verifica- à «Contabilista». A fiscalidade, o Centro Internacional
ção da implementação dos procedimentos adotados. de Negócios da Madeira e o papel dos contabilistas du-
Na designação caiu a palavra «controlo» e emergiu o rante a pandemia foram tópicos de uma conversa para
vocábulo «certificação», porque, na verdade, o que se ler nas páginas interiores.

ABRIL 2022 3
FICHA TÉCNICA SUMÁRIO

6
ANO XXII
REVISTA N.º 265 • ABRIL 2022

Propriedade
Ordem dos Contabilistas Publicidade
Certificados Departamento
de Comunicação
Avenida Barbosa e Imagem da Ordem
du Bocage, 45
1049-013 Lisboa Produção editorial
Contribuinte n.º 503 692 310 e revisão
Telefone: 217 999 700 Departamento
de Comunicação
Diretora e Imagem da Ordem
Paula Franco
Telefone:
Diretores adjuntos 217 999 715/17/18/19
Joaquim Jorge Barbosa Fax: 217 957 332
Cristina Pena Silva comunicacao@occ.pt Entrevista a Miguel Albuquerque
Manuel Teixeira
Helena Costa www.occ.pt
Álvaro Costa

38
Pedro Nuno Ferreira Impressão
LiderGraf
Redação
Jorge Magalhães Tiragem
Nuno Dias da Silva 10 001 exemplares

CONGRESSO
Design e paginação Depósito legal
Duarte Camacho N.º 150317/00
João Martins ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Sara Brás ISSN ALTICE ARENA · 21, 22 E 23 SETEMBRO 2022
1645-9237
Fotografia
Filipe Mendonça Organismos
Micaela Neto internacionais
Raquel Wise a que a Ordem pertence:

Secretariado
Raquel Carvalho
Inscrições abertas para o 7.º Congresso.
Colaboram nesta edição
Christina Oliveira

42
Eduardo Mendes Fonseca
Helena Saraiva
João Cabaços
Manuel Faustino
Paula Franco
Rui Portela

XVI
Encontro Nacional
dos Contabilistas
Certificados
9 julho 2022

Os artigos publicados são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.


Convívio anual decorrerá no Minho

4 CONTABILISTA 265
SUMÁRIO

19

I Encontro Insular levou até à Madeira contabilistas certificados de todo o país.

NOTÍCIAS
14 Apresentação pública do projeto de certificação de qualidade
19 I Encontro Insular dos Contabilistas Certificados
31 Conferência «Contabilidade e Tecnologia – Passado, presente e futuro»
37 Bastonária participou em webinar «Contabilista de sucesso»
38 7.º Congresso dos Contabilistas Certificados
39 Isenção de IVA – Esclarecimento da Autoridade Tributária | Formação sobre a Lei n.º 7/2021
40 SGPS – Inventário das partes de capital | Formação em contratação pública | Conferência dos colégios das especialidades
41 Conferência «A Contabilidade e Gestão na atividade agrícola», em Santarém | Proposta do OE 2022 – Análise da OCC |
Relato Integrado Intercalar | Atendimento técnico alargado
42 Inauguração da representação de Beja | XVI Encontro Nacional dos Contabilistas Certificados
43 Balanço do «Programa Empresas Turismo 360.º» | Reunião livre em Sernancelhe
44 Empossada nova presidente do CCISP | João Vieira Lopes reconduzido na CCP
45 Bastonária em conferência no ISCTE | Livro: «Impostos – Teoria geral»
46 Ordem nos media

FISCALIDADE
47 DAC 7 – Nova obrigação de informação para os operadores de plataformas digitais, inspeções conjuntas, relevância
previsível e outras modificações normativas
51 Racionalidade, ou falta dela, na evolução da tabela do IRS
53 A limitação da dedutibilidade fiscal em IRC e a aplicação de taxas de tributação autónoma sobre importâncias pagas ou
devidas a entidades submetidas a regimes de tributação mais favoráveis

COLABORAÇÃO ISCAC
64 O direito à desconexão do trabalhador na União Europeia e no ordenamento jurídico interno.

CONSULTÓRIO
69 Perguntas e respostas

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PERFIL
Miguel Albuquerque nasceu no
Funchal, a 4 de maio de 1961. Ad-
vogado de formação, atividade
profissional que exerceu entre
1986 e 1993, sucedeu na presi-
dência do Governo Regional da
Madeira ao histórico Alberto João
Jardim, após vencer as eleições
regionais com maioria absoluta,
em março de 2015. Foi reeleito
para novo mandato em setembro
de 2019. Antes de assumir a cadei-
ra do poder na Quinta Vigia, es-
teve praticamente duas décadas
como presidente da Câmara do
Funchal (1994-2013). Entre 1994 e
2002, foi membro do conselho
diretivo da Associação Nacional
dos Municípios Portugueses. Foi
ainda deputado, à Assembleia
Legislativa Regional, eleito pelo
PSD, entre 1988 e 1992.
ENTREVISTA

Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira

«Quanto mais baixam os impostos,


melhor é a cobrança.
Se os impostos não forem
exagerados, as pessoas pagam»
Uma região com baixa fiscalidade e capaz de atrair mais empresas
para o Centro Internacional de Negócios da Madeira. Estes são os objetivos
do presidente do Governo Regional mas, para tal, adverte, o Estado central tem de criar
condições de competitividade. Miguel Albuquerque defende ainda a revisão
da Constituição e da Lei das Finanças Regionais, sublinhando que o país só se liberta
do círculo vicioso em que se encontra crescendo economicamente e vencendo o desafio
da transição digital. Aos contabilistas certificados, o governante deixa uma palavra
de reconhecimento pelo trabalho feito durante a pandemia.
Entrevista Nuno Dias da Silva e Jorge Magalhães Fotos Filipe Mendonça

Contabilista – Disse que a propos- panorama, prosseguimos no caminho Madeira (RAM) ao abrigo da Lei das
ta do Orçamento do Estado (OE) do empobrecimento gradual, nomea- Finanças Regionais (LFR), o que
para 2022, entretanto chumbada damente face aos nossos principais corresponde a uma redução de 15
pela dissolução da Assembleia da competidores europeus. milhões face a 2021…
República, era «péssima». Que opi- M.A. – Creio que chegámos a um
nião tem sobre a proposta do OE Contabilista – Como é que se inver- beco sem saída. Ou o Estado assume
que está, atualmente, em debate no te este rumo? as responsabilidades constitucionais,
Parlamento? M.A. – Alterando a política, com o inclusive os custos de soberania nas
Miguel Albuquerque – As políticas Estado a dotar a sociedade dos instru- regiões – basta lembrar que até os
em Portugal estão ao contrário. O mentos necessários para o crescimen- subsistemas de saúde, neste momen-
que precisamos, neste momento, é de to económico e que passa pelo apoio às to, são suportados pelos contribuintes
apostar no crescimento económico e empresas, a captação de investimento da RAM – ou temos um problema.
na transição digital. Caso não o faça- estrangeiro, a qualificação e a inte-
mos teremos poucas hipóteses de sair gração das novas gerações na tran- Contabilista – E como se resolve?
deste círculo vicioso. A dívida públi- sição digital que, no fundo, constitui M.A. – Há dois caminhos: ou o Esta-
ca é praticamente de 130 por cento do – não me canso de repetir – a grande do comparticipa as áreas da educação
PIB, acumulamos, há mais de 25 anos, oportunidade para Portugal. e saúde na Região ou, em alternativa,
um crescimento medíocre e temos o passa a dotar a RAM dos instrumentos
problema que é o do Estado continuar Contabilista – Esta proposta de OE necessários para que possamos de-
a assumir responsabilidades e o ónus para 2022 contempla 217 milhões senvolver as nossas próprias políticas
sem ter receita para o fazer. Com este euros para a Região Autónoma da para a captação de receitas. Neste mo-

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ENTREVISTA

mento, é o que está em equação. Não mitação com a taxa dos impostos para para a economia digital. A sediação de
podemos é ter uma LFR que estran- a Região é de 30 por cento. Temos, empresas, plataformas e profissionais
gula e diminui as transferências, ano neste momento, o IRC a 14,7 por cento, em Portugal pode ser feita sem estar
após ano. que são os 30 por cento a menos dos 21 a onerar os custos de mobilidade de
por cento. A nossa ideia seria colocá- pessoas ou de bens e serviços. Esta é,
Contabilista – Depreende-se que -lo em 10 por cento. Presentemente, por isso, uma oportunidade que não
defende uma reforma da LFR... estamos a trabalhar para a redução podemos desperdiçar.
M.A. – A LFR precisa de ser mudada. gradual do IRS que, no próximo ano,
Todos os anos diminuem as receitas. ficará completa, nomeadamente no Contabilista – Pretende que a Ma-
Onde é que isto vai parar? que diz respeito aos primeiros qua- deira se torne uma espécie de Irlan-
tro escalões. O primeiro e o segundo da do Atlântico?
Contabilista – A Constituição da escalão já têm o diferencial de 30 por M.A. – O Centro Internacional de Ne-
República também devia merecer cento. O terceiro escalão 20 por cento gócios da Madeira (CINM) devia ser
algum ajuste? (era de 14 por cento) e o quarto escalão visto pela República e por quem pensa
M.A. – A Constituição devia ser revis- passou de 7 para 15 por cento. O que – se há alguém que pense neste país! –
ta. Existem um conjunto de matérias significa que, desde 2016, temos me- como uma sediação para as empresas
na Lei Fundamental que deviam ser nos 61 milhões de euros de IRS, com portuguesas. Não faz nenhum sentido
mudadas. É preciso não esquecer que as reduções dos escalões principais e que as principais empresas nacionais
a Constituição foi aprovada em 1976 e à volta de 14 a 15 milhões de euros/ano estejam localizadas na Holanda, em
se se olhar para a evolução do mun- menos com a redução no IRC. E temos vez de estarem em Portugal.
do nos últimos anos, é possível ver o também a redução dos 30 por cento
quanto está desfasada da realidade. A na derrama. O nosso objetivo é claro: Contabilista – E não estão porquê?
Constituição da República deve, por prosseguir esta redução fiscal, porque M.A. – Portugal não luta para criar as
isso, ser adaptada aos tempos mo- só assim é possível atrair empresas e mesmas condições de competitivida-
dernos. A economia mundial mudou captar capital estrangeiro. E isso só de no CINM, o que leva ao êxodo para
mais nos últimos 20 anos do que nos se concretiza criando um hub para a o estrangeiro das maiores e principais
últimos 200. Estou quase a cumprir 61 fixação das grandes multinacionais. empresas. É ridículo!
anos e devo confessar que gosto imen- O país está descapitalizado e precisa
so de falar com malta mais nova, para de criar empresas, preferencialmente Contabilista – É possível conciliar
perceber as mudanças. E o que temo com escala. Lamentavelmente, está o CINM  e a RAM como uma zona
é que os decisores políticos em Por- tudo ao contrário. de baixa fiscalidade? São objetivos
tugal estejam presos a um conjunto compatíveis?
de conceitos e de vivências que já não Contabilista – Que erros aponta à M.A. – São objetivos que se comple-
existem. Os desafios mudaram, são estratégia que está a ser seguida? mentam muito bem. Nós tomámos a
outros. M.A. – Portugal devia ter uma estra- decisão de acabar com as atividades
tégia para ser o grande hub tecnoló- financeiras no CINM que, como é sa-
Contabilista – Disse que a Madeira gico da Europa. E temos condições bido, eram muito importantes para
não cobra IRC mais baixo porque para o fazer, porque a transição para o Centro e para Portugal. Em conse-
«as regras constitucionais neste a economia digital vai ser a grande quência, o Luxemburgo, Malta, a Ho-
país esquisito» não permitem. Esse oportunidade para o nosso país. Como landa e a praça financeira de Londres
é um instrumento fulcral para de- país periférico na Europa, Portugal atraíram as empresas que abandona-
senvolver a Região? só consegue esbater a ultraperiferia ram o CINM. É preciso perceber, de
M.A. – É um dos instrumentos. A li- física aproveitando a transformação uma vez por todas, que o Estado tem

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ENTREVISTA

«As políticas em Portugal estão ao contrário.


O que precisamos, neste momento,
é de apostar no crescimento económico e na
transição digital. Caso não o façamos teremos
poucas hipóteses de sair deste círculo vicioso.»

de defender o CINM e a potencialidade segue identificá-lo?


deste Centro em sediar empresas in- M.A. – Quando estavam no governo
ternacionais, garantindo parcerias e aquelas criaturas que viviam em 1917
investimentos, que beneficiem Portu- – aquela “esquerdalhada” que jul-
gal e a Região. Caso contrário, a RAM ga que o dinheiro nasce debaixo das
fica sozinha nesta luta. pedras e que se deve repartir aquilo
que não se produz –, ou seja, o Bloco
Contabilista – O “Jornal de Negó- de Esquerda e o “paleolítico” Partido
cios” noticiou, a 18 de abril, que o Comunista, ainda se podia entender
Governo da República travou, para a resistência face ao CINM. Acredito
já, a entrada de novas empresas no que, pelo menos uma ala do Partido
CINM. Ficou surpreendido? Socialista, perceba que Portugal está
M.A. – Portugal ainda não o fez e, num beco sem saída. Se não crescer-
portanto, tem de agir agora. Estamos mos economicamente, o empobre-
há meses sem poder inscrever no cimento é o nosso caminho. Se não
CINM. Já em Espanha não se passa o instalarmos um ecossistema empre-
mesmo, porque o governo do país vi- sarial, dotado de empresas modernas
zinho acautela os seus próprios inte- e na vanguarda do desenvolvimento
resses. As Canárias foram autorizadas económico, vamos perder esta gera-
a inscrever empresas até dezembro de ção de jovens qualificados e habilita-
2023. dos. Portugal está a pagar a formação
desta mão-de-obra e por falta de con-
Contabilista – Pensa que a decisão dições estes jovens acabam por emi-
que consta no OE pode ser reverti- grar para outros países europeus.
da na especialidade?
M.A. – Sim, a ideia é essa. Há a inten- Contabilista – Que tipo de empre-
ção disso por parte de deputados do sas pretende atrair para o CINM?
PS. O que é estranho é por que é que M.A. – Todas. Mas, sobretudo, as
só o vão fazer agora. Não sei qual é o grandes empresas. É preciso perce-
problema. ber a evolução e a transição que se
está a operar na economia mundial.
Contabilista – Mas, pelos vistos, Há duas situações que a maior parte
existe mesmo um problema. Con- dos cidadãos não percebe: o chamado

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crescimento exponencial e o alcance ro e dívida para crescer. O que sucede uma linha política para permitir que
da acelerada transição tecnológica que é que estas duas tendências estão pa- conseguíssemos os nossos objetivos.
estamos a testemunhar. Relativamente tentes e constantes nas últimas duas
ao primeiro ponto, o cidadão comum décadas. Ninguém fala disto porque Contabilista – O alívio da carga fis-
não compreende porque estamos ha- estamos num surto de inflação, mas cal seria um dos caminhos para uma
bituados ao crescimento linear, que a tendência é a tecnologia contribuir nova estratégia?
é mensurável. O crescimento expo- para acelerar uma lógica deflacionária. M.A. – Em Portugal insiste-se em
nencial não é mensurável. Por outro tributar tudo o que mexe. Veja o caso
lado, de 18 em 18 meses, a capacidade Contabilista – Disse há momentos do alojamento local. Se há pessoas a
de computação no mundo duplica. Por que é preciso atrair grandes em- ganhar dinheiro com esta atividade,
isso, ou nos inserimos nessa acelera- presas. Mas estando a economia faz-se logo uma lei para acabar com
ção, lideramos, captamos e entende- nacional muito baseada nas micro e isso. Está tudo ao contrário. Não pode
mos o que se está a passar ou ficamos pequenas empresas, não estaremos ser. É uma cultura de taxas e taxinhas,
para trás. perante um obstáculo estrutural da mesquinhez e de repartir o que não
que inviabiliza esse objetivo? se consegue criar, com a qual discor-
Contabilista – E estamos mais pró- M.A. – É um erro que Portugal e a Euro- do frontalmente. E também há outra
ximos de ficar para trás ou entrar na pa vão pagar caro. As grandes empresas cultura muita enraizada na cabeça das
corrida? dão maior formação a colaboradores, pessoas, que é a ideia de que, para ter
M.A. – Temos duas tendências: as propiciam mais inovação e demons- segurança, é preciso ter emprego no
grandes empresas são todas platafor- tram mais capacidade de investiga- Estado.
mas. Isto é uma realidade recente. O ção, para além de pagarem melhores
crescimento nos últimos 20 anos tem salários. A comissária dinamarquesa Contabilista – O peso da receita
estado baseado na dívida e na emis- (NDR: Margrethe Vestager, Comissá- fiscal do CINM ronda cerca 100 mi-
são de moeda. Este segmento ou linha ria Europeia para a Concorrência) que lhões de euros. É um «mercado» que
económica está em confronto com ou- passa a vida a chatear as empresas, já está por explorar?
tra, que é a deflação. Por seu turno, a devia ter desaparecido! A ideia de que M.A. – Tem um grande potencial de
tecnologia permite tornar mais barato, o pequenino é que é bom, é um erro. E crescimento, mas para que isso acon-
e até gratuito, um conjunto de bens e está muito enraizada em Portugal pelo teça temos de remar todos para o mes-
serviços que estão ao simples alcance simples facto de não termos uma cul- mo lado. Nas negociações do próximo
do manuseamento do nosso telemóvel. tura empresarial. A Madeira, com as regime temos de fazer tudo para ofe-
A tendência atual é deflacionária. E te- limitações que tem e que nos impõem, recer melhores condições competi-
mos uma economia tradicional que se já é um polo de atração. Imagine o que tivas no Centro. Por exemplo, dispor
procura basear na emissão de dinhei- faríamos se existisse uma atitude e das mesmas condições que a Holanda

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«A Constituição
da República deve, por
isso, ser adaptada aos
tempos modernos.
A economia mundial
mudou mais nos últimos
20 anos, do que nos
últimos 200. »

apresenta. Seria muito favorável para a importância de a legislação sobre tem tudo, ao nível do shipping, para li-
Portugal, que poderia captar o inves- este assunto ser aprovada. E foi. Por- derar este processo. Infelizmente, sub-
timento de um conjunto de empresas tugal é das principais potências mé- sistem os obstáculos de sempre, como
muito importantes para o desenvolvi- dias marítimas da Europa. O Registo aqueles que lhes descrevi, que entra-
mento nacional. E é preciso esclarecer Internacional de Navios da Madeira, o vam o processo. Isto será muito bom
isto: para além dos benefícios decor- segundo do país, é um caso de sucesso para o CINM e também para Portugal,
rentes das empresas se instalarem no nacional. Em pouco tempo, atingimos enquanto país. Estou em crer que, se
nosso território, há que considerar o o 4.º maior registo internacional de na- na negociação do próximo regime,
know-how que isso adiciona ao país. vios na UE em termos quantitativos e conseguirmos reduzir as taxas para as
Portugal é um país ótimo a fazer planos o 3.º em tonelagem. Temos 26 milhões tecnológicas – talvez uns três por cento
e na retórica. de tonelagem de arqueação bruta aqui – atrairemos as grandes empresas nor-
registada e 828 grandes navios. Temos te-americanas.
Contabilista – Está com isso a que- ainda um protocolo com a Escola In-
rer que dizer que somos imbatíveis fante D. Henrique, para que os nossos Contabilista – Por falar nisso, este-
na teoria, mas pouco pragmáticos? jovens aí formados integrem, rapida- ve, recentemente, em Miami numa
M.A. – Aqui há uns tempos Portugal mente, os quadros das empresas de feira tecnológica – a Bitcoin 2022
fez um documento sobre um plano navegação aqui registadas. Já são mais – onde teve oportunidade de reunir
para o mar. Na altura, percebi que os de 10 mil. com diversos responsáveis destas
grandes armadores alemães estavam empresas…
a sair da Libéria, preferindo Malta e a Contabilista – Daqui se constata M.A. – Falei com as grandes empre-
Holanda. Ato contínuo, combinei um que o porfiar dá frutos… sas e expus aos meus interlocutores o
almoço em Lisboa com o embaixa- M.A. – Portugal é um país cheio de enorme potencial que o nosso país tem
dor da Alemanha e pedi ao diplomata confusões e preconceitos. Dou-lhes neste domínio. Por exemplo, a Madeira
que me indicasse quais as condições mais um exemplo: todos os navios que já está coberta com o 5G.
competitivas para que os armadores passavam ao largo da Somália tinham
germânicos escolhessem a ilha da Ma- autorização para ter uma guarda ar- Contabilista – A atração de empesas
deira. À boa maneira alemã, ao fim de mada para escolta por causa da pirata- tecnológicas podia ter reflexo visí-
três dias, fizeram-me chegar um do- ria. Portugal esteve dois anos para re- vel na criação de postos de trabalho
cumento com as condições todas. Me- solver este problema. Nem imaginam na RAM?
ti-me num avião e fui falar com o então o que passei para explicar aos alemães M.A. – Só o CINM tem cerca de quatro
primeiro-ministro, Passos Coelho, e que havia uma síndrome contra as ar- mil empregos, já para não falar das em-
depois cheguei à fala com o Presidente mas na Assembleia da República devi- presas ligadas às atividades de desen-
da República, sensibilizando-os para do à ação da “esquerdalhada”. Portugal volvimento do Centro. Sabem quanto

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ENTREVISTA

é que as tecnológicas estão a faturar na


Madeira? 300 milhões de euros em vo-
lume de negócios. Por este andar, vão
«O futuro dos contabilistas certificados está
ultrapassar o setor turístico em volume
de negócios. O que permitiria reduzir diretamente relacionado com o nível de crescimento
a dependência da Região face ao turis- económico do país. Se a economia estiver em contração,
mo, convertendo as tecnológicas como não há trabalho para estes profissionais.»
a principal indústria da Madeira. Neste
domínio, dispomos de centros cien-
tíficos muito bons – demos um salto
assinalável – mas precisamos ter capa- M.A. – Quanto mais baixam os impos- Contabilista – Está a querer dizer
cidade e atração fiscal para sediar es- tos, melhor é a cobrança. Se os impos- que pretende aprofundar a autono-
sas empresas. O ecossistema está a ser tos não forem exagerados, as pessoas mia fiscal?
criado – durante a pandemia, passá- pagam. As grandes empresas nacio- M.A. – O tema fiscal é uma competên-
mos a acolher mais nómadas digitais, nais não pagam impostos em Portugal. cia da Assembleia da República. Mas,
muitos deles trabalham para a NASA Nem sequer estão no CNIM. Estão to- se nos derem os instrumentos, eu não
e para a Google, por exemplo – mas das sediados na Holanda. Porquê? Tal- chateio o Estado. Até estou aberto
precisamos de decisões políticas que o vez fosse uma boa pergunta a fazer ao para o Estado ter uma participação
favoreça. É a prova de que a economia Governo da República. na Sociedade de Desenvolvimento
mudou radicalmente nos últimos anos. da Madeira (SDM), cujo capital é 100
Ou Portugal aproveita a transição digi- Contabilista – Admite que a estraté- por cento da Região. No fundo, seria
tal ou ficará pelo caminho. gia económica do país está ideologi- uma forma de Portugal defender o
camente contaminada? seu CINM. Enquanto não há decisões,
Contabilista – Mas temos bons M.A. – O país tem um problema: segue continuamos a ser ultrapassados em
exemplos ao nível do sucesso de uma estratégia centralizada e de con- matéria de competitividade por ou-
muitas startups portuguesas… trolo. E há dois tipos de políticos: os tras praças financeiras e aumenta o
M.A. – As startups, enquanto platafor- que deixam a sociedade criar e os que risco de as grandes empresas saírem
mas criadas para vender um serviço, não abrem mão de a controlar. O am- para outros países, como a Holanda.
começam com poucos clientes e depois biente de estagnação económica a 25 Isso é que me custa.
dispara a sua procura, o que obriga a anos é revelador dos tipos de políticos
uma necessidade absoluta de capita- que temos tido. Contabilista – O Plano de Recu-
lização. Recordo que os três grandes peração e Resiliência (PRR) re-
unicórnios criados em Portugal saí- Contabilista – No chamado conten- presenta um envelope financeiro
ram todos porque não tinham fundos cioso das autonomias a questão fis- avultado, também para a RAM.
de capitalização. A Bolsa de Lisboa está cal é o principal pomo da discórdia Quão importante vai ser mais este
estagnada há séculos. O que é revela- entre o Funchal e Lisboa? apoio?
dor de que temos de criar mecanismos M.A. – A questão tributária é uma das M.A. – Os fundos de coesão foram a
simultâneos de capitalização. O pior é questões. Se os custos das áreas do Es- grande solução para o desenvolvi-
que se for à Caixa Geral de Depósitos tado Social são assumidos pela Região mento da nossa Região. O melhor que
fazer um pedido de capitalização, eles – e a tendência, especialmente na saú- aconteceu à Madeira e a Portugal foi
não percebem. E há outro progresso a de e na educação, é que estes encargos a integração na União Europeia (UE).
salientar: metade das tecnológicas da sejam exponenciais – não param de Contudo, sempre disse que a UE de-
Madeira já só transacionam com bit- subir. Por isso, ou o Estado compar- via ser perspetivada, não somente
coins. ticipa estes custos ou então que nos numa perspetiva económica, mas
dê os instrumentos e a liberdade para também numa vertente política. Até
Contabilista – Tem dito repetida- atrairmos empresas e garantirmos o porque na génese do projeto europeu
mente que pretende que a Madeira pagamento desses custos através da estão os valores da paz e cooperação
seja uma Região de baixa fiscalida- receita fiscal arrecadada. Não podemos entre os povos europeus. Já agora,
de... é continuar bloqueados. permita-me que diga, que Putin deu

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ENTREVISTA

um grande contributo para reforçar eletricidade a partir de renováveis pandemia, destinámos 232 milhões
essa união e para que os próprios eu- e em breve chegaremos aos 50 por de euros em apoios para as empresas
ropeus olhem para a importância da cento. As renováveis têm ainda o fa- da Região. E não tenho qualquer dú-
UE ser mais cada vez mais forte, coe- tor desperdício como handicap. Mas vida em afirmar que os contabilistas
sa e interventiva. é uma situação que no futuro será foram decisivos na boa canalização
melhorada, com a criação de bate- desses apoios para as empresas. Fe-
Contabilista – Permita-nos que in- rias para aumentar a capacidade de lizmente que os contabilistas certi-
sista: a distribuição de fundos do armazenamento. É preciso tempo. ficados são profissionais altamente
PRR está a ser a que desejava para A transição digital, no Estado, nas qualificados e são fundamentais
a Região? empresas e nas administrações pú- para auxiliar as empresas, de forma
M.A. – A grande fatia dos fundos do blicas, é outro setor fundamental. a darem o seu contributo para o te-
PRR está concentrada na transição Neste processo, Portugal tem de ga- cido económico da Região. Por isso,
digital e climática ou energética. O nhar escala e produtividade. Mas em julgo que estes profissionais devem
dossiê climático tem de ser gerido vários setores: nas escolas, nas uni- ser nossos parceiros nas questões de
pela Europa com alguma cautela. versidades, na sociedade, etc. Não desenvolvimento económico do país.
Fui a primeira pessoa em Portugal – chega a centralização do processo,
mesmo antes de a guerra estalar – a em que se metem computadores na Contabilista – Ao nível da admi-
chamar a atenção para a importância administração pública napoleónica… nistração regional tem havido in-
da criação de um mercado único de tegração destes profissionais?
energia, como forma de autonomi- Contabilista – Vivem ou traba- M.A. – Também tem funcionado. Mas
zar a Europa relativamente a estes lham na RAM cerca de um milhar quero realçar o seguinte: o futuro dos
recursos. A Europa é responsável de contabilistas certificados. Qual contabilistas certificados está dire-
apenas por oito por cento dos gases a importância destes profissionais tamente relacionado com o nível de
com efeito de estufa, sendo a Chi- para a afirmação económica e fi- crescimento económico do país. Se a
na e os Estados Unidos os grandes nanceira da Madeira? economia estiver em contração, não
emissores. Acredito que o futuro da M.A. – Tenho visitado algumas em- há trabalho para estes profissionais.
energia é solar, mas terá de haver al- presas de contabilidade da Madeira, Mas se a economia – como aquela
gum tempo para o desenvolvimento sobretudo as principais. E aproveitei que eu quero – estiver em expansão
científico e tecnológico. Na Madei- essas oportunidades para agradecer e inovação, então haverá mais traba-
ra já produzimos 40 por cento de o trabalho desenvolvido. Durante a lho e novas oportunidades. 

ABRIL 2022 13
NOTÍCIAS

Apresentação pública do projeto de certificação de qualidade

Melhor, em menos tempo


e com mais qualidade
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Raquel Wise

«M ais um grande e necessário


projeto que vai diferenciar
a evolução da nossa profissão para
Pedagogia e recolha
de ensinamentos
Com a suspensão, em 2018, da Comis-
cias para os que virem, sem progressão,
todas as oportunidades para melhorar
esgotadas», advertiu. «Este projeto só
o futuro.» Foi desta forma que Paula são de Controlo de Qualidade, a imple- pode ser bem sucedido, mas depende-
Franco definiu o projeto de certifica- mentação do SAF-T, no ano seguinte, rá de cada um de nós. A vontade ditará
ção de qualidade, na sessão de aber- em contexto de trabalho, foi o tubo de toda a diferença. A Ordem estará cá
tura da sua apresentação pública, a 13 ensaio para o que se pretende agora para ajudar e tudo faremos para que
de maio, no Auditório António Domin- adotar. «Não há nada como conhecer o ninguém fique para trás, por isso, a for-
gues de Azevedo, em Lisboa. Perante terreno, para realidades e dificuldades mação e o processo de implementação
uma plateia bem composta, com os particulares. No fundo, ter as luzes para será gratuito.»
órgãos da Ordem em peso e largas sabermos como desenhar o futuro da
dezenas de membros, a bastonária profissão», acrescentou. «No passado, Inquérito de
lembrou ser esta uma iniciativa incluí- os contabilistas não percebiam o que preenchimento obrigatório
da no Plano de Atividades e Orçamen- lhes era exigido. Este projeto pretende A primeira etapa deste processo princi-
to para o presente ano, com o intuito ser pedagógico e de recolha de ensina- pia já em junho, com a disponibilização,
de «alterar mentalidades e formas de mentos. Mas é necessário que os mem- no site da Ordem, de um inquérito de
trabalho.» bros entendam que haverá consequên- preenchimento obrigatório para todos

14 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

«Este é um manual do manual de procedimentos do con-


que quer integrar tabilista certificado. Coube ao coor-
todos e está assente denador, Carlos Plácido, apontar os
nos valores highlights de um documento que será
da pedagogia central em todo o processo. «Este é um
e da formação.» manual que quer integrar todos e está
assente nos valores da pedagogia e da
Carlos Plácido formação. Estou certo que será coroa-
do de êxito, porque visa melhorar esse
bem maior que é a nossa profissão»,
referiu Carlos Plácido. O também pro-
fessor universitário acrescentou que
o manual «detalha processos e ope-
rações padronizadas, no sentido de
garantir a qualidade do serviço, esta-
belecendo metodologias fundamentais
para a qualidade do serviço prestado
pelo profissional.» Em jeito de balanço,
os contabilistas em exercício de fun- um problema que a certificação tem de Plácido referiu que «é preciso ter foco
ções. Será um questionário extenso e combater. O respeito e o reconhecimen- nas vantagens que podemos oferecer
que pretende fazer uma «boa reflexão» to entre pares é muito importante. Os aos nossos clientes.» O coordenador
sobre a profissão. Todas as respostas baixos honorários é outro dos grandes do manual elencou, seguidamente, uma
terão de chegar até final de setembro. A objetivos.» Não menos relevante é a dezena de pontos em que assenta a es-
etapa seguinte será de implementação, prestação de contas. «Somos mais res- trutura do manual: - o relacionamento
em contexto de trabalho, do manual de peitados pelo cumprimento das obriga- dos CC com a Ordem; o relacionamen-
procedimentos do contabilista certifica- ções fiscais e contributivas, mas a infor- to dos CC com os clientes; a organiza-
do. Posteriormente, «e caso seja neces- mação financeira, por ter consequências ção interna dos CC ou das sociedades
sário», como fez questão de enfatizar a para o futuro do país e do mundo, devia de contabilistas; a prestação de servi-
bastonária, «caberá à Ordem a verifi- ser mais valorizada. Precisamos de dar ços; o cumprimento de obrigações fis-
cação da implementação dos procedi- mais tempo e mais dedicação aos nos- cais; prestação de contas; a Informa-
mentos.» Cada profissional certificar sos clientes e com as obrigações que ção Empresarial Simplificada (IES); a
a sua própria empresa será, apesar de existem, torna-se difícil», afirmou. certificação de informação; prevenção
facultativo, o último objetivo de todo Para breve está prevista a conclusão de riscos.
este exaustivo processo.

Processos «Este projeto só pode


e operações padronizadas ser bem sucedido,
Depois das explicações mais genéri- mas dependerá
cas, Paula Franco debruçou-se sobre a de cada um de nós.
essência da certificação de qualidade: A vontade ditará toda
«Deve indicar o que pode ser melhora- a diferença. A Ordem estará
do e o que falha em ambiente de traba- cá para ajudar e tudo faremos
lho. O objetivo passa por alcançar uma para que ninguém fique
melhoria transversal. Fazer melhor, em para trás, por isso, a formação
menos tempo e com mais qualidade.» e o processo de implementação
A bastonária especificou, em detalhe, será gratuito».
as principais metas a alcançar: «A falta
de lealdade e de firmeza dos colegas é Paula Franco

ABRIL 2022 15
NOTÍCIAS

em Ponta Delgada, na ilha de S. Miguel,


«A rotatividade no mas gaba-se de trabalhar em todos os
escritório é muito baixa territórios do arquipélago. O novo mem-
ao nível dos contabilistas bro da comissão de certificação de quali-
e dos técnicos de dade lembra que na crise de 2010 «per-
contabilidade. Mas o deu muitos clientes e muito dinheiro.» Foi
recrutamento de novos necessário reaprender. O negócio recupe-
colegas é bastante difícil.» rou a olhos vistos. Elege a «serenidade,
confiança e segurança» como valores a
Ângela Silva passar permanentemente aos clientes.
Admite nunca ter despedido ninguém e
reconhece a «responsabilidade social»
por dele dependerem muitas famílias e
clientes. O ex-vice-presidente da mesa
«Não há que ter medo» clientes que temos e que estão a cres- da Assembleia Representativa da Ordem
«A importância dos procedimentos in- cer. Porquê? Quanto mais dou hoje às disse ainda «não trabalhar para cobrar
ternos para valorização dos serviços», minhas empresas, mais estou a receber impostos, mas para os meus clientes, que
foi o tema escolhido para o debate que amanhã», referiu. Sobre o polémico querem saber como está a sua vida.» Para
encerrou a sessão. Como moderadora do tema dos honorários, deixou um con- fornecer a fotografia completa do negó-
debate, a bastonária voltou a partilhar selho: «Não tenham medo de cobrar cio dos clientes, Emanuel Cordeiro opta
ideias sobre a profissão e a certificação avenças altas. Simplesmente, porque o por uma metodologia de que não abre
de qualidade: «há um segmento muito nosso serviço vai muito para além da mão. Elabora um relatório diário com
grande da nossa profissão que tem de contabilidade. Sou um parceiro perma- as tarefas para casa cliente, que inclui
mudar. Não há que ter medo. Esta Or- nente ao lado do cliente», acrescentou. demonstrações financeiras por entregar,
dem só quer o bem dos contabilistas. Pedro Lima deixou um derradeiro aler- declarações de IVA por entregar, horas de
Confiem em nós.» Depois da introdução, ta para as novas gerações: «Os nossos trabalho por cada cliente, etc. No fundo,
tempo para ouvir quatro profissionais. licenciados não vêm preparados para define-se a rentabilidade que o escritório
Todos com orgulho no que fazem e com exercer a profissão. e, ou se tem veia tem por cliente. Com várias décadas de
projetos de dimensões diferentes e loca- para isto, ou não se tem», resumiu. experiência, o contabilista açoriano de-
lizações distintas na geografia nacional. fende os princípios éticos no desempenho
Pedro Lima viajou de Santa Maria da Uma sã cultura ética da profissão: «Esta é uma profissão de
Feira. O membro da recém-empossada Emanuel Cordeiro é sócio-gerente de uma elite na interpretação da ética. Não po-
comissão da certificação mostrou-se empresa, de raiz familiar, com cerca de demos aldrabar as coisas. Urge promover
confiante no processo que agora se 50 trabalhadores. O escritório localiza-se uma sã cultura ética.» Sobre os mais jo-
inicia: «Do que depender de mim, os
colegas vão todos entrar no mesmo
“comboio”». O também membro da
Assembleia Representativa da Ordem, «Não tenham medo de
eleito por Aveiro, partilhou a expe- cobrar avenças altas. Sim-
riência no seu escritório, com os seus plesmente, porque o nosso
colaboradores: «A minha experiência serviço vai muito para além
chama-se…exigência. Tenho um escri- da contabilidade. Sou um
tório pequeno, mas até dizem que te- parceiro permanente ao
nho uma orquestra a trabalhar comigo lado do cliente.»
e partilhamos os momentos bons e as
dificuldades. Já não aceitamos empre- Pedro Lima
sas há muito. A preocupação passa por
disponibilizar mais recursos para os

16 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

crutamento de novos colegas é bastante


«Esta é uma profissão difícil. Estou em crer que o Processo de
de elite na interpretação Bolonha retirou valor às matérias leciona-
da ética. das nas faculdades, com prejuízo para os
Não podemos aldrabar mais novos», refere Ângela. Pouco entu-
as coisas. siasta do teletrabalho, argumentando que
Urge promover uma o contabilista «tem de estar no terreno, o
sã cultura ética.» seu habitat de trabalho», esta profissio-
nal do norte lembra que os dois últimos
Emanuel Cordeiro anos foram «caóticos», sustentando que a
pandemia «tirou-nos a partilha, seja pro-
fissional, seja nos momentos de convívio,
especialmente o contacto humano», e deu
o exemplo das festas de aniversários dos
vens que chegam à profissão, não escon- gar, o próprio cliente. Confessa-se pouco colaboradores.
de alguma apreensão: «Vejo que lhes falta adepta do adiamento dos prazos para o
calo.» cumprimento das obrigações fiscais, ou Libertação de tarefas,
não fosse «organização, método e pla- progressão na carreira
Recrutamento difícil neamento» uma divisa que cultiva com Duzentos colaboradores e duas mil
«Rigor, qualidade e profissionalismo, são esmero. Não ter receio foi a mensagem contabilidades. É esta a grande «nau»
valores entranhados na minha essência.» que Ângela Silva, repetidamente, procurou que Filipa Xavier de Basto tem de li-
A frase pertence a Ângela Silva, membro transmitir: «O objetivo da certificação de derar, como uma das sócias de um dos
suplente do conselho diretivo da Ordem, qualidade, seja em que moldes for, é o da maiores grupos no mercado. O mem-
que os justifica com a “herança” familiar melhoria constante. Por isso, ao receber- bro da Assembleia Representativa
que recebeu dos seus pais e que agora, na mos sugestões de melhorias, é sinal de eleita por Lisboa defendeu a adoção
companhia do seu irmão, dá continuidade. que o processo não está estagnado. Tudo de «padrões de qualidade e de relato
A contabilista de Arcozelo, Vila Nova de o que seja para valorizar a profissão é po- financeiro com a maior qualidade pos-
Gaia, sublinhou a importância de «manter sitivo.» A retenção de talentos e recruta- sível», acrescentando que «a unifor-
os padrões de qualidade no dia a dia» e mento de profissionais foi outro tema que mização potencia a qualidade. Come-
colocar o foco no cliente, «porque se fi- veio à liça. «A rotatividade no escritório çámos este processo há cinco ou seis
zermos algo mal, quem sai penalizada é é muito baixa ao nível dos contabilistas e anos e ainda estamos longe da per-
a classe profissional, mas, em primeiro lu- dos técnicos de contabilidade. Mas o re- feição», admite. Como os anteriores
oradores, Filipa Xavier de Basto re-
conhece que não tem sido fácil «cap-
tar novos talentos para a profissão.»
Perante esta dificuldade, a política
da casa tem sido formar os profissio-
«A maior fonte nais mais jovens, algo que considera
de aprendizagem «uma missão». Contudo, ressalva, que
é o erro.» «a maior fonte de aprendizagem é o
erro.» Questionada sobre o que fazer
Filipa Xavier de Basto para reter o talento, Filipa é partidá-
ria de uma «progressão na carreira»,
em que o profissional, após superar
várias etapas, transita de contabilis-
ta para o papel de consultor das em-
presas, liberto de tarefas que passam
a estar entregues á tecnologia. É o

ABRIL 2022 17
NOTÍCIAS

Comissão de certificação de qualidade* caso da análise financeira, do apoio


à tesouraria e das necessidades de
Membros empossados no dia 13 de maio
financiamento. Um know-how que, na
N.º CC Nome do membro
perspetiva de Filipa Xavier de Basto,
40 384 Ana Cristina Peralta Martins Caldeira
não «se paga com avenças de 100 ou
90 255 Ana Margarida Marques Ribeiro e Silva dos Santos
150 euros. É impossível.» Defensora
18 487 António de Jesus Nunes
do modelo de teletrabalho, em con-
44 801 António Paulo Lemos Marinho jugação com a atividade no escritó-
38 974 Carlos Alberto Monteiro da Silva rio, a oradora referiu ainda que o seu
4 183 Carlos Jorge de Sousa Oliveira grupo tem «uma política de recursos
21 522 Carlos Manuel Fernandes Plácido humanos muito ativa.» Pagar viagens
12 255 Emanuel Norberto Lourenço Silveira Cordeiro aos colaboradores em Portugal e no
85 572 Fernando Emanuel Pimenta Girão estrangeiro para celebrar conquistas
33 583 João Luís Morcela Rodrigues dos Reis é um dos incentivos. Sobre o proces-
10 902 Jorge Manuel Gonçalves da Costa so de certificação de qualidade, Filipa
Xavier de Basto mostrou-se confian-
43 686 Leonel Mendes Francisco
te: «A Ordem não está para fiscalizar,
12 080 Nelson Manuel de Oliveira Trindade
mas para nos ajudar a melhorar. Es-
7 104 Paula Margarida Costa Esteves da Costa
tamos todos no mesmo barco, somos
76 075 Paulo Jorge dos Santos Marques
todos família», concluiu.
50 854 Paulo Manuel Machado Marques
43 050 Pedro Nuno Bastos Lima Transmissão integral
87 526 Tiago Luís Sêco Preto da conferência

*Apesar de nomeada em janeiro a nova comissão de certificação de qualidade, tomou posse Galeria fotográfica
a 13 de maio.

18 CONTABILISTA 265
I Encontro Insular de Contabilistas Certificados | 22 e 23 de abril, na Madeira

Em defesa do CINM e de tributações


mais competitivas
Texto Jorge Magalhães | Fotos Filipe Mendonça

O arranque do I Encontro Insular de


Contabilistas Certificados teve a
capital da Região Autónoma da Madeira
para além de convidados de peso que,
dessa forma, quiseram também prestar
homenagem a uma profissão que se tem
retira imposto e receitas a Portugal.
Este regime traz benefícios para as em-
presas, mas também para Portugal e
como epicentro. O Museu Casa da Luz, revelado fulcral para o tecido empresa- para a RAM. E isso não se pode perder.»
em plena zona antiga do Funchal, aco- rial e para a sociedade como um todo. Paula Franco foi mais longe, lembrando
lheu a conferência destinada a debater que «há, por vezes, um fundamentalis-
a «Fiscalidade nas regiões autónomas» Incentivos fiscais para o CINM mo político que faz interpretações en-
e teve na plateia (e no púlpito) algumas «A importância deste encontro é enor- viesadas. Sabemos o que os investidores
das principais individualidades políticas me porque, seja em que situação for, a querem. Querem ter certezas, querem
da região. Para estreia deste modelo, descentralização é fundamental no país pagar menos imposto, o que é legitimo,
não se podia pedir mais... e nós quisemos também dar o nosso desde que seja dentro da legalidade.
Num edifício que conta um pouco da- contributo. Estamos aqui para refletir, Regimes como este existem em muitos
quilo que foi, e é, uma das grandes des- mas também para conviver com colegas outros países da Europa», rematou.
cobertas da Humanidade, a abertura de todo o país», salientou Paula Franco A bastonária manifestou-se otimista
deste primeiro Encontro Insular trouxe que, depois de anotar as especificida- quanto à continuidade do CINM, «mas
uma animação diferente ao Museu Casa des a que uma região como a Madeira tudo isto terá de ser transmitido com
da Luz. O seu auditório rapidamente está sujeita, defendeu a continuidade da muita certeza. É fundamental haver
lotou, com contabilistas certificados zona franca: «Temos que ser realistas. uma ideia, uma certeza sobre aquilo
da Madeira, pois claro, mas também de O Centro Internacional de Negócios da que Portugal quer para este regime de
Norte a Sul do continente e dos Açores Madeira (CINM) deve manter-se e não tributação», assentou, recordando, por

Paula Franco, Miguel Albuquerque, Jorge Barbosa, Rogério Gouveia, Pedro Calado, João Ramos e Ana Brum

ABRIL 2022 19
outro lado, os custos da insularidade palavras, «as contas públicas têm que
e o facto de a fiscalidade poder ajudar ser transparentes e isso só é possível
a «compensar estes custos de contex- com uma boa contabilidade analítica,
to. Por isso, é positivo e é bom que o gestão de custos e uma boa consolida- do Sol, uma vez que o meu avô era natu-
Governo Regional da Madeira mante- ção. A RAM está no bom caminho e só ral dessa freguesia, tendo partido para
nha todos os incentivos fiscais, porque espero que a nível nacional se deem os o Brasil em 1911, ainda muito novo. Sou
acabam sempre por atrair quer pessoas passos necessários para fortalecer esta brasileiro e sou português madeirense»,
quer investimentos para a região.» via, para bem do futuro do nosso país», revelou o também diretor do Conselho
Da iniciativa privada para o setor pú- concluiu Paula Franco. Federal de Contabilidade (CFC).
blico, Paula Franco elogiou a RAM «por Depois de acrescentar que todos os
ser um exemplo em termos de contas IFAC, a voz global anos regressa à Madeira para passar
públicas. A RAM está à frente do res- dos contabilistas as suas férias, «onde descanso a minha
to do país no tocante à qualidade das A partir do Brasil, Idésio Coelho trouxe alma e o meu coração», Idésio Coelho
contas públicas», sublinhou a respon- a este encontro uma perspetiva diferen- clarificou: «Falo de mim mesmo apenas
sável máxima da OCC que lembrou te. Na sua intervenção por meios tele- para provar que um filho dessa terra
que esse processo pode ser melhorado máticos, o diretor da International Fede- pode sonhar e realizar. Sonhar grande
com a «obrigatoriedade de um conta- ration of Accountants (IFAC) relembrou ou pequeno, custa a mesma coisa. So-
bilista público. Um país que deseja ter as suas raízes portuguesas e, mais em nhem grande, para realizar grandes coi-
boas contas públicas, tem que possuir particular, madeirenses: «Considero-me sas.»
profissionais qualificados.» Por outras um filho da Madeira, um filho de Ponta Há cinco anos como diretor da IFAC, or-
ganização que representa mais de três
milhões de contabilistas certificados
e auditores em todo o mundo e possui
mais de 170 associados, sendo a OCC
«um dos membros ativo e relevante»,
o responsável brasileiro lembrou que
«a IFAC tem como missão representar
a voz global dos contabilistas e apoiar
o desenvolvimento saudável dos mer-
cados por meio da emissão de normas
de alta qualidade, sempre em benefício
do interesse público. Mais de 100 países
adotam essas normas, incluindo Portu-
gal.» Antes de terminar, Idésio Coelho

20 CONTABILISTA 265
tividade. O que corre bem na Madeira
em termos de internacionalização e
captação de investimento, é bom para
o nosso país e para a nossa região», re-
matou, afiançando que só dessa forma
poderá ser possível, por exemplo, fazer
com que as grandes empresas portu-
guesas, «sedeadas na Holanda, possam
estar aqui connosco.»

«Nos próximos quatro anos


não há margem para errar»
Após duas horas de conferência, a pla-
teia mantinha-se atenta. Na sessão de
encerramento, que acabou por ter como
deixou um apelo a todos os contabilis- Miguel Albuquerque defendeu a trans- protagonistas três contabilistas certi-
tas certificados: «Invistam no vosso de- parência das contas públicas, adiantan- ficados (bastonária e dois autarcas),
senvolvimento profissional!» do que «o Governo Regional da Madei- Paula Franco reforçou a ideia de que
ra já está hoje a seguir a segunda fase «os governos regionais e nacionais têm de
«Trabalho dos contabilistas do projeto de consolidação das contas trabalhar em conjunto e se necessário, dar
certificados tem sido inestimável» públicas, com o apoio de um pacote da um murro na mesa. Não podemos chegar à
O presidente do Governo Regional da União Europeia. Seremos a primeira re- conclusão de que o governo espanhol, por
Madeira associou-se de forma clarís- gião do país a fazê-lo, não porque en- exemplo, defende muito melhor as suas re-
sima a este primeiro encontro insular. tendamos que seja algo que fica bem e giões do que nós. Não podemos desperdi-
Depois de, horas antes, ter dado uma está na moda, mas porque acreditamos çar recursos nem oportunidades», alertou a
oportuna entrevista a esta revista, que que é algo importante para garantir aos bastonária para quem «nem sempre a redu-
pode ler nas primeiras páginas deste nossos contribuintes e, sobretudo, aos
número, Miguel Albuquerque deixou empresários e à sociedade, uma ideia
bem claro o seu apreço pelo trabalho clara daquilo que fazemos e de como é
dos contabilistas certificados: «Quero gasto o dinheiro dos contribuintes.»
agradecer vivamente nas vossas pes- Numa visão mais abrangente, este res-
soas aos contabilistas certificados o ponsável governativo chamou a aten-
trabalho extraordinário que têm feito, e ção para a rapidez com que o mundo
em particular, ao trabalho que foi feito está a mudar, com a digitalização à
aquando da pandemia. Os CC foram de- cabeça, sendo imperioso entender essa
terminantes no sentido de garantir, num mudança. De outra forma, garantiu, «fi-
período de urgência e de crise aguda caremos para trás.»
para as nossas empresas, a canalização Na economia digital, referiu ainda Al-
transparente dos apoios para todo o buquerque, «o que interessa são as
setor empresarial. É um trabalho ines- competências que conseguimos fixar»,
timável, desenvolvido com total empre- pelo que «o grande objetivo da RAM é
nho e dedicação.» Em concreto, enfati- continuar a assegurar que conseguimos
zou o presidente do Governo Regional, captar para a nossa região as empresas
«no apoio de 232 milhões de euros que digitais.» Mas não só.
foram canalizados para as nossas em- «Precisamos de continuar a trabalhar
presas, os CC foram essenciais para para que a Madeira e o seu Centro
garantir a transparência e a urgência.» Internacional de Negócios, continue
Olhando depois para a vertente pública, a garantir as suas condições de atra-

ABRIL 2022 21
ção de taxas significa menos receita, pode coesão territorial e ao combate à erosão a ser pequeno e por culpa nossa. Já não
ter o efeito contrário. É aqui que Portugal se demográfica, irão marcar o desempenho acredito que alguma vez se possa mudar o
tem que basear. Reduzir impostos com me- da nossa geração. São desafios cuja com- estado em que estamos», disparou o pre-
didas fiscais que se traduzam num aumento plexidade exige uma ação coordenada e sidente da Câmara Municipal do Funchal.
de competitividade que gere mais receita.» assertiva.» «Temos o único registo internacional de
Paula Franco confessou ainda ter «uma E a fiscalidade, defendeu Ana Brum, «as- navios que tem sido a base do crescimen-
grande expetativa de mudança com o novo sume aqui um desafio fundamental nas to do Centro Internacional de Negócios da
ministro das Finanças, Fernando Medina. respostas que possamos dar» mas, por Madeira e não há um único elemento do
Nestes próximos quatro anos, está tudo em si só, poderá não ser suficiente: «Se nos governo português que olhe para o CINM
causa. Ou vencemos ou saímos derrotados. questionarmos sobre o verdadeiro grau de com a responsabilidade que deveria ter.
Não há margem para errar e nós, Ordem, eficácia das medidas fiscais positivas ver- Não há um único governante português
queremos ser parte da solução.» sus programas comunitários do incentivo que venha defender os postos de trabalho
A sessão de encerramento contou também ao investimento, temos de concluir que que temos na região. Para além de não re-
com a presença de uma autarca (e CC) os problemas estruturais, como a erosão conhecerem isso, o governo anterior ain-
açoriana. Ana Brum, presidente da Câmara demográfica e a ausência do crescimento da quis criar um regime concorrencial ao
Municipal das Lajes do Pico, depois de refe- sustentado das empresas locais, da limita- nosso CINM. É assim que o nosso governo
rir que seria uma honra o seu concelho po- da capacidade de atração do investimento olha para as regiões autónomas. É assim
der receber o segundo encontro insular dos externo e disparidade económica entre que temos de lidar com o governo da Re-
CC, afirmou que «as regiões autónomas concelhos, concluímos que sendo uma pública», desferiu o autarca madeirense.
não usufruem de um efetivo acesso ao mer- medida importante, isoladamente acaba Olhando depois para as incongruências da
cado único europeu em pé de igualdade e a por não ter os resultados desejados e não Lei das Finanças Regionais, novos remo-
pandemia colocou-nos ainda numa situação evitou o agravamento das desigualdades ques vieram à luz do dia: «Se somarmos
mais vulnerável.» entre concelhos e entre ilhas.» todos os valores que foram distribuídos
O concelho a que preside, reiterou, é um através daquela lei para os Açores e Ma-
bom exemplo disso mesmo. Soluções? «Os «O nosso país vai continuar a ser deira, temos um acréscimo positivo para
pilares estratégicos para a mudança terão pequeno por culpa nossa» os Açores em mais de mil milhões de eu-
de assentar na diferenciação, qualidade, Autarca da cidade anfitriã do primeiro ros em relação à RAM. Nada disto tem a
transição digital, inovação e empreende- dia do Encontro Insular, Pedro Calado, ver com os Açores. Mas o que é que leva
dorismo. A capacidade de resposta aos também ele contabilista certificado, foi a RAA, com uma população muito seme-
desafios da sustentabilidade económica, à contundente: «O nosso país vai continuar lhante à da Madeira, a receber mais mil

22 CONTABILISTA 265
milhões de euros? Não há coragem polí-
tica para se fazer a revisão da Lei das Fi-
nanças das regiões autónomas? Porquê?
Enquanto não tivermos a coragem para
tocar nos pontos essenciais, não sairemos
daqui.»
Pedro Calado defendeu também alteração
urgente às leis laborais. «Temos atual-
mente na RAM uma taxa de desempre-
go a rondar os 6,6 por cento. São cerca
de 14 mil desempregados. Há ofertas de
emprego. Mas a mão-de-obra não quer
trabalhar porque ganha mais ficando em
casa...»
Depois de recordar que a RAM «não teve
um único cêntimo de ajuda do Estado por-
tuguês para combater a pandemia, Calado
terminou com um desafio a Paula Franco:
«Nos contactos que tiver a nível governa-
tivo, tente influenciar quem de direito para
algo que é cada vez mais importante na
nossa gestão pública: porque é que os de-
cisores políticos não têm que possuir for-
mação específica para exercer as respon-
sabilidades? Alguém que vai, por exemplo,
para ministro das Finanças ou secretário
regional das Finanças não deveria ter uma
formação específica e adequada para o
cargo que vai desempenhar?»

ABRIL 2022 23
Clotilde Celorico Palma
«Precisamos de uma ação firme e decisiva»

Palma abordou ainda limitações ao poder é um regime típico de um paraíso fiscal,


tributário regional, fazendo notar que «de nem um regime offshore» e que «a Ma-
acordo com a jurisprudência constante do deira nunca figurou em nenhuma lista ofi-
TJUE, embora a fiscalidade direta seja uma cial de territórios ou regiões qualificadas
competência dos Estados-membros, estes como paraísos fiscais.»
devem exercer tais competências, mesmo A oradora lamentou que os governantes
que exclusivas, no respeito pelas disposi- portugueses «nunca mencionem que te-
ções do Direito da UE.» A oradora falou mos um registo de navios graças à Ma-
do caso Açores e do acórdão do TJCE, de 6 deira» que é, atualmente, «o 4.º maior
de setembro de 2006, Proc. C-88/03, tendo registo internacional de navios na UE em
Portugal sido condenado por estar a apli- termos quantitativos e o 3.º em tonela-
car uma taxa mais baixa de IRC às ope- gem.»
Clotilde Celorico Palma, profunda conhe- rações financeiras. «Foi um case study de- Clotilde Palma defendeu que «a altera-
cedora da realidade tributária madeirense, plorável por parte da Comissão Europeia ção da Lei de Finanças Regionais deve
foi a primeira a usar da palavra no painel e do tribunal, já que relativamente ao País ser feita de forma concertada entre as
dedicado a analisar a «Fiscalidade nas re- Basco decidiu precisamente o contrário», regiões autónomas» e deixou ainda um
giões autónomas», cuja moderação ficou concretizou Clotilde Palma apelo claro: «Precisamos de ter uma ação
a cargo de Ambrósio Teixeira, contabilista Relativamente aos auxílios de Estado sob firme e decisiva de defesa dos interesses
certificado madeirense. Depois do enqua- a forma fiscal, a também presidente do nacionais». Por fim, um conjunto de inter-
dramento legal, a oradora lembrou que Colégio da Especialidade dos Impostos rogações para meditar: «Nos termos da
«aquando da adesão, optou-se por uma in- sobre o Consumo da Ordem, lembrou que lei são concedidos poderes de adaptação
tegração plena das Regiões Autónomas em existe «a proibição geral da concessão do sistema fiscal às especificidades regio-
matéria fiscal, diversamente da opção de de auxílios de Estado. Contudo, podem nais, mas tem este poder sido utilizado
alguns Estados-membros como, por exem- ser autorizados auxílios às regiões ultra- devidamente? Tem existido efetivamente
plo, a Espanha em relação às Canárias e à periféricas, desde que autorizados pela uma cooperação entre o Governo da Re-
aplicação do sistema comum do IVA – nas Comissão Europeia.» No caso do Centro pública e o Governo Regional? Será que
Canárias não se aplica o IVA, vigorando um Internacional de Negócios da Madeira nós, portugueses, lutamos de facto pelos
imposto com taxas muito mais baixas.» (CINM), Clotilde Palma reforçou que «não interesses nacionais?»

24 CONTABILISTA 265
Lina Camacho
«Legislação obsoleta e espartilhada»

exercício do «poder tributário próprio.» cento mais baixas do que as taxas nacio-
Camacho socorreu-se também da Lei das nais.» Ou seja, e a título de exemplo, uma
Finanças Regionais para lembrar que um empresa que pague no continente uma
dos seus princípios gerais é «incentivar o taxa de IRC de 21 por cento, na Madeira
investimento na Região e assegurar o seu pagará 14,7 por cento.
desenvolvimento económico e social, com a Depois de deixar um lembrete, em jeito
estrutura do sistema fiscal regional.» de apelo, aos contabilistas certificados
Por outro lado, referiu ainda a oradora, para não se esquecerem de «preencher
«há uma falta de resposta do Estado para o anexo C», a oradora trouxe à colação
com a RAM», existindo, em seu entender, o regime atualmente em vigor para o
uma «legislação obsoleta e espartilhada» CINM e a sua influência na receita fiscal
o que tem levado a «desvios de receitas em da região. Apesar do regime possibilitar
prejuízo da RAM.» Esses valores, sustentou a tributação através de uma redução de
Lina Camacho, por seu lado, apresentou a oradora, chegam aos cerca de 31,4 mi- taxa, a verdade é que em 2021 o peso no
uma radiografia da Autoridade Tributária lhões de euros. IRC rondou os 45 por cento. Ou seja, «o
da Região Autónoma da Madeira, falando Lina Camacho referiu ainda que o Go- CINM é essencial para efeitos de execu-
da política de recursos humanos, da pro- verno Regional iniciou, em 2016, o desa- ção da receita fiscal, ao nível do IRC.»
ximidade e da forma de atendimento ao gravamento fiscal às famílias madeiren- E em jeito quase de desespero, Lina Ca-
público em tempos de pandemia. Mas a ses através do IRS e às empresas, desde macho deixou uma mensagem bem clara
intervenção da diretora regional da AT ti- 2018, com especial atenção para as PME, para o executivo: «A Madeira não pode
nha outros focos. Por exemplo, falou sobre através do IRC. Nestes impostos, con- parar. Nós somos Portugal. Avancem com
o caminho já percorrido da autonomia fis- cluiu, «estão esgotadas todas as possibi- a norma legislativa que permite avançar
cal da RAM e do constante no artigo 227.º, lidades de descida de taxas que a lei nos com o licenciamento das empresas na
n.º 1, al. i) da Constituição, onde se fala do permite» e que podem ser de até 30 por zona franca da Madeira.»

Mário Fortuna
«Lei das Finanças Regionais protege o Orçamento do Estado»

Mário Fortuna debruçou-se sobre «A apli- reposto no máximo admitido nas taxas de
cação da adaptação fiscal nos Açores: li- IRS, IRC e IVA, com um impacto orçamental
mites e potencialidades», começando estimado em cerca de 50 milhões de eu-
por uma retrospetiva sobre o caminho ros», recordou Fortuna.
percorrido pelo regime fiscal açoriano, nem O presidente da Câmara de Comércio e
sempre coincidente com o seguido na Ma- Indústria de Ponta Delgada apresentou
deira. «Nos Açores as principais alterações um conjunto de dados em que foi possível
acontecem em 2014 como consequência da perceber a evolução das taxas aplicadas ao
revisão de 2013. Daí até 2021 foram sendo IVA. Numa comparação com outras regiões
feitas pequenas alterações diferenciando a ultraperiféricas, Mário Fortuna adiantou
redução do IRS por escalões e as taxas do que «têm praticamente todas um sistema
IVA que deixaram de ter o diferencial máxi- de IVA muito melhor que o nosso», leia-se
mo no escalão mais elevado. Em 2021, com com taxas bem mais baixas. «Não devía-
o governo de coligação, o diferencial fiscal é mos estar a usar taxas similares às outras
>>
ABRIL 2022 25
>>
regiões ultraperiféricas?», questionou. atual, do papel da fiscalidade para a re- sinal de que há algo que não está resol-
Fortuna salientou ainda que a criação capitalização das empresas.» vido. Alguma coisa está estruturalmen-
de impostos próprios tem sido irrele- Mais tarde, no breve período dedicado te errada. A Lei das Finanças Regionais
vante (exceto no caso da taxa turística, ao debate, e em resposta à questão protege atualmente o Orçamento do
em curso), concluindo que «a utilização colocada pelo CC Emanuel Brás, sobre Estado. O dinheiro que a República gas-
da capacidade de adaptação fiscal tem quais os aspetos que deveriam ser al- ta connosco está predeterminado. Tem
sido usada essencialmente para reduzir terados na Lei das Finanças Regionais uma base que só evolui em função do
impostos com o intuito de melhorar a para que as regiões pudessem receber crescimento da despesa pública ou do
competitividade, em prejuízo do orça- do Estado valores mais substanciais, PIB. Se o crescimento for negativo nós
mento público e benefício das famílias e Mário Fortuna foi claro: «Se os gover- somos penalizados, como já aconteceu.
das empresas.» Contudo, salientou, «há nos regionais da Madeira e dos Açores Isto protege o OE, não é uma resposta
ainda espaço de melhoria, no sistema estão sistematicamente a endividar-se é às necessidades efetivas das regiões.»

Jorge Veiga França


«O CINM é um projeto que honra Portugal»

inexistente entre os órgãos que represen- concretizado no Orçamento, no caso de tal


tam a região e os órgãos de governação da vir a ser aprovado na especialidade, signifi-
República. Por isso, reafirmo que é necessá- ca que teremos pelo menos seis meses em
rio fazermos um benchmarking e olharmos que não foi possível inscrever qualquer nova
para a maneira como Espanha lida com as empresa no CINM. Isto já não é a primeira
Canárias. São muito mais agressivos. Te- vez que sucede.»
mos de ter mais força para dar um murro Falando de improviso e num registo solto e
na mesa. Daí eu acalentar o sonho de criar humorado, Jorge Veiga França reiterou que
uma confederação com as câmaras de co- «não há nada pior do que esta incerteza.
mércio da Macaronésia.» Nenhum investidor espera três ou quatro
O presidente da Associação Comercial e In- meses.» Por isso, exortou, «vamos tentar
dustrial do Funchal defendeu ser «inconce- por este país a funcionar. Vamos conceder
Jorge Veiga França abordou a visão em- bível que tenhamos passado de um governo às regiões ultraperiféricas aquilo que elas
presarial daquilo que é a fiscalidade nas anterior, onde estava tudo mais ou menos merecem. O CINM não é um projeto regio-
regiões autónomas. «Esta ligação é no míni- acertado relativamente à prorrogação da nal, é um projeto que cresce, desenvolve,
mo insuficiente, incompleta, para não dizer norma e que agora, ao não termos isso enaltece e honra Portugal», sintetizou.

Transmissão integral da conferência Galeria fotográfica

26 CONTABILISTA 265
I Encontro Insular de Contabilistas Certificados | 22 e 23 de abril, na Madeira

Conviver entre odores,


sabores e tradições
Reportagem Nuno Dias da Silva | Fotos Filipe Mendonça

C onstruído sob a pista do Aeroporto


Cristiano Ronaldo, num aterro ma-
rítimo resultante da ampliação da mes-
fitas no pulso identificavam os partici-
pantes neste convívio que juntou mais
de 200 pessoas. Dois blocos, uma cane-
«Barraca do Simeão». Uma bebida que
continentais e forasteiros não hesitam
em provar. Com moderação. Ou nem
ma, situa-se o Parque Desportivo de ta, um lápis, um recipiente para água, por isso. Para os menos apreciadores
Água de Pena. Um espaço lúdico-des- duas compotas – uma de maçã e horte- de poncha, houve a alternativa da cer-
portivo, em pleno concelho de Machico, lã e outra de maracujá, pera e tomate veja. Também com o carimbo regional,
procurado para passeios, corridas ou – e um licor de baga de uveira, eram o claro está. Uma verdadeira explosão de
outros exercícios junto ao mar. Ainda "menu" que integravam o saco ofertado odores, sabores e tradições da «pérola
a manhã de 23 de abril era uma crian- aos participantes. Para os mais novos do Atlântico» que fizeram as delícias de
ça, naquele local da ponta este da ilha havia slime e mochilas. locais e visitantes. Uma saia em vime,
da Madeira, quando começaram a afluir adornada com as famosas estrelícias,
os contabilistas certificados mais ma- Bebidas com carimbo regional foi ponto escolhido para muitas foto-
drugadores e respetivos acompanhan- Pela praça central, epicentro do evento, grafias. A decoração alusiva ao traje
tes para o I Encontro Insular. O vasto existiam caixas com bananas, da Madei- típico madeirense também não podia
programa da animação, para peque- ra, claro está, uma verdadeira referên- faltar. Tecidos com as conhecidas listas
nos e graúdos, espraiava-se ao longo cia da Região. Não menos emblemática, horizontais multicolores cobriam as me-
da manhã. O processo de acreditação e outra verdadeira instituição regional sas espalhadas pelo recinto de Água de
realizou-se, por isso, a conta-gotas. As da ilha, a poncha esteve presente na Pena, enquanto os elementos do staff

ABRIL 2022 27
estavam identificados com este adorno mais pequenos, pinturas faciais e brin-
em redor do pescoço. cadeiras com palhaços, sem esquecer os
jogos tradicionais. Para os mais deste-
Kart, zumba, futebol e… História midos, a escalada, uma prática despor-
São Pedro também quis associar-se à tiva que ganha cada vez mais adeptos
festa. O céu cor de chumbo, mas que em Portugal. Para os apreciadores de
permitia vislumbrar as ilhas Desertas no atividade física, também houve zumba,
horizonte, ameaçou sempre chuva. Mas com uma instrutora plena de dinâmica.
não passou disso mesmo, uma ameaça. Para os ases do volante, a pista de kart
A temperatura amena e o vento fraco do parque desportivo esteve sempre
tornaram as condições atmosféricas disponível para empolgantes momentos
praticamente perfeitas. O DJ Paulo Oli- de pilotagem. Os jogos de futebol tam-
veira animou com música todo o espaço bém foram muito procurados. Esta com-
e uma mestre de cerimónias procurou petição não teve direito a VAR, mas sim
mobilizar e dinamizar a assistência para a um árbitro implacável, sem tolerância
os diversos pontos de entretenimen- para com os infratores. Todas estas
to disponíveis. E eram muitos. Para os atividades tiveram a supervisão per-

28 CONTABILISTA 265
manente de elementos da corporação Tristão Vaz Teixeira, Bartolomeu Peres- elementos daquele agrupamento toca-
de bombeiros local. Não fosse o diabo trelo e Joao Gonçalves Zarco. ram e cantaram alguns dos temas mais
tecê-las. E não teceu. Salvo um apa- representativos do folclore da Região.
ratoso despiste de um condutor mais O obrigatório Bailinho E como festa sem bolo, não é festa, a
imprevidente e uma colisão na corrida da Madeira sobremesa contou com a abertura de
de karts, felizmente sem consequências, A desgastante atividade matinal exigia um alusivo ao evento. Só que desta fei-
não houve qualquer incidência de rele- a reposição de energia. Alimento, por- ta, e para algo completamente diferen-
vo a registar. Para os mais eruditos, e tanto. Espetada, milho frito, pudim de te, havia mais um bolo suplementar. De
que quiseram aliar o saber a uma ca- maracujá – com selo insular – e outras dimensões mais modestas, é certo, mas
minhada no parque, a organização pro- iguarias estiveram à disposição dos co- para assinalar o aniversário não de um,
videnciou uma professora de História, mensais. O início do repasto ficou mar- mas de dois contabilistas certificados: a
de uma escola do concelho de Machico, cado pela entrada em cena do Grupo Cristina e o Osvaldo. Dos discursos pas-
para falar sobre a descoberta do arqui- Folclórico e Etnográfico da Boa Nova, sou-se para a foto de família, coma pro-
pélago. Para avivar as memórias, dos instituição com 53 anos de atividade, messa que a próxima edição do encontro
mais e menos jovens, recorde-se que com centenas de atuações, em Portugal insular se realizará na Região Autónoma
a Madeira foi descoberta em 1419 por e além-fronteiras. Trajados a rigor, os dos Açores.

ABRIL 2022 29
Confiança, segurança e crescimento profissional

Aproveitaram o fim de semana prolon-


gado do 25 de abril e viajaram de diver-
sas proveniências: da Madeira, dos Aço-
res e do continente. «É cada vez mais
importante estarmos juntos, a conviver,
a estreitar laços, seja em trabalho ou
em convívio. Confiança, segurança e
crescimento profissional são valores
que temos de sedimentar», referiu Pau-
la Franco. No discurso da praxe, a bas-
tonária aproveitou a oportunidade para
agradecer à comissão organizadora a
nível regional constituída por Luísa Pi-
menta, João Ramos, Fernando Gonçal-
ves, Carlos Medeiros, Margarida Brazão
e Márcio Silva.

Reportagem vídeo Galeria fotográfica

30 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Conferência «Contabilidade e Tecnologia – Passado, presente e futuro»

Empresas de contabilidade procuram


o “Santo Graal” do sucesso
Texto Nuno Dias da Silva | Fotos Micaela Neto

N enhuma profissão nos dias de


hoje pode ficar à margem da re-
volução tecnológica em marcha. No
de vista as constantes transforma-
ções. Com esta combinação de cir-
cunstâncias, pode estar a nascer um
Reinvenção,
um inevitável destino
A evolução profissional e o impacto da
caso da contabilidade, a Inteligência novo tipo de consultor? súbita aceleração das novas tendências
Artificial (IA) possibilita a programa- Foi a esta e a muitas outras questões, tecnológicas foi tema que esteve per-
ção de tarefas repetitivas e automa- que vários intervenientes procuraram manentemente em foco durante as mais
tizadas, mas o lado humano não deve responder, a 18 de março, na conferên- de três horas de duração desta confe-
ser negligenciado, pela sua relevância cia «Contabilidade e Tecnologia - Pas- rência. «A contabilidade e os contabilis-
ao nível da reflexão, análise e inter- sado, presente e futuro», organizada tas são das atividades que mais devem
pretação de indicadores. Neste ma- pela Comissão de História da Conta- utilizar os meios tecnológicos para criar
ravilhoso e admirável (mas, também, bilidade (CHC) da Ordem. Com a pan- valor, deixando as tarefas mais admi-
muitas vezes, sombrio) mundo novo demia a dar algumas tréguas, o audi- nistrativas a serem feitas de forma inte-
que se abre, em que a automatização tório António Domingues de Azevedo, grada», começou por referir Paula Fran-
da contabilidade ainda está a dar os em Lisboa, voltou a ter muitos lugares co, na sessão de abertura. A bastonária
primeiros passos, compete aos pro- preenchidos para uma conferência que acrescentou que, no atual contexto que
fissionais desta área pensarem “fora teria sido realizada, há precisamente Portugal e o mundo atravessam – com
da caixa”, privilegiando os serviços de dois anos, não fosse o eclodir do vírus o conflito (sem fim à vista) da Ucrânia e
valor acrescentado, nunca perdendo que tem deixado o mundo em suspenso. com as tensões inflacionistas a ganha-

ABRIL 2022 31
NOTÍCIAS

«Com as empresas
rem peso – «o ato de prestação de con- e os mercados assustados
tas torna-se cada vez mais fundamental com a instabilidade,
no caminho das empresas. Com as em- as luzes ao fundo do túnel
presas e os mercados assustados com a são apontadas pela
instabilidade, as luzes ao fundo do túnel contabilidade.»
são apontadas pela contabilidade.» Mas
a própria prestação de contas também Paula Franco
não escapa ao processo de transfor-
mação, refletindo, crescentemente, as
preocupações de sustentabilidade. Re-
invenção é, por isso, o inevitável desti-
no comum da ciência contabilística e do
exercício profissional dos contabilistas
certificados.

A tecnologia ao serviço
de uma missão pública
Apesar da sua vetusta idade, o Tribu- nova plataforma para a fiscalização aproveitou a oportunidade de estar na
nal de Contas (TC) tem dado mostras prévia, no que à submissão de contratos OCC para demonstrar «o quanto ad-
de estar na vanguarda na adoção de diz respeito. «É a tecnologia ao serviço miro o trabalho da Ordem e dos seus
soluções tecnológicas. Fã confesso da da missão pública do tribunal», referiu profissionais, na busca permanente pela
história da contabilidade, pese embora José Tavares, que revelou ainda que são qualidade na elaboração e prestação
a sua formação jurídica, José Tavares cerca de 6 500 as entidades que pres- de contas.» José Tavares acrescentou que
referiu que o TC tem vindo a introduzir tam contas a este órgão de soberania. «quem trabalha na área contabilística tem
sistemas de IA, que permitem avaliar e A articulação, entre o TC e o Ministério de prestar atenção às inovações tecnoló-
tratar o volume de informação numa das Finanças, na plataforma eletrónica gicas e estar consciente que o seu futuro
abordagem de pendor mais qualitativo, já existente, tem permitido, segundo depende dos meios digitais. O contabilista,
bem como os seus impactos na gestão José Tavares, «evitar duplicações de in- por ser também um analista, tem de possuir
pública. Para muito breve, está previs- formação e reduzir custos.» a capacidade de conhecer por dentro as
ta a entrada em funcionamento de uma O juiz conselheiro que preside ao TC suas organizações», referiu. José Tavares
enunciou depois os prós e os contras do im-
pacto da tecnologia na contabilidade. Pela
«Quem trabalha na positiva, a redução de custos, o aumento da
área contabilística tem produtividade, a melhoria do desempenho
de prestar atenção às dos profissionais e o mais próximo acom-
inovações tecnológicas panhamento das mudanças legislativas.
e estar consciente que Pelo lado negativo, apontou que «o mundo
o seu futuro depende digital tem muitíssimos perigos», ao nível
dos meios digitais.» da privacidade, da ética, da confidencialida-
de, da proteção de dados, sem esquecer, a
José Tavares cibersegurança.

O poder dos números


«Um filósofo da contabilidade», foi como
Carlos Menezes, presidente da CHC da
OCC, apelidou Paolo Quattrone, o key-
note speaker desta conferência. Italiano,
nascido em Palermo, mas com uma longa

32 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

«A contabilidade
carreira académica em universidades bri- está no centro de uma
tânicas – nomeadamente em Manchester estreita relação entre
– assentou a sua intervenção no interface o conhecimento
entre a informação tecnológica e a história e a ação.»
da contabilidade. Profundo conhecedor da
cultura contabilística dos jesuítas, Quat- Paolo Quattrone
trone lembrou que para esta comunidade
«a contabilidade é uma ciência pragmá-
tica, que resolve problemas». Os jesuítas,
ao serem «percursores da contabilidade
de acréscimo», tinham uma grande pai-
xão pelos números, mas esta ciência era
entendida como um meio e não como um
fim. «Eles eram loucos pela contabilida-
de de dupla entrada, algo que se podia
assemelhar, na atualidade, ao big data e
aos algoritmos», precisou o orador tran-
salpino. Numa exposição longa, mas que
nunca deixou de prender a atenção da as-
sistência, Paolo Quattrone defendeu que, a ação». Sobre o papel dos profissionais, chegar até aos atuais dígitos, que tudo
uma vez confrontados com a complexi- Quattrone foi igualmente de clareza me- dominam, seja no mercado de valores,
dade, a ambiguidade e a incerteza, existe ridiana: «A contabilidade procura saber nos algoritmos e nas visualizações acu-
a tendência para «procurar conforto nos o que existe no centro e não nos extre- muladas nas redes sociais. Mas é em
números e na contabilidade.» Porquê? mos. Por isso, é que os contabilistas são plena revolução digital que «explode
«Porque os números têm poder», esclare- importantes para perceber o que existe a crença na transparência», «uma ilu-
ceu. E o poder dos números traduz-se em no meio.» Quattrone apresentou ainda são», segundo o orador, que exemplifica
«controlo, julgamento e sabedoria.» Para a evolução histórica da forma em que com o blockchain. Enquanto isso, simul-
o professor da Universidade de Manches- assenta a tomada de decisões: tudo taneamente, «o julgamento humano é
ter «a contabilidade está no centro de uma começou com os números, depois deu- reduzido ao mínimo», quase que subju-
estreita relação entre o conhecimento e -se a transição para os dados, para se gado pelos algoritmos. É também na era
pós-moderna que se instala, de forma
pujante, o ERP - o sistema integrado de
gestão empresarial.
«O trabalho
do contabilista está Inteligência Artificial
cada vez mais centrado não é esoterismo ou bruxaria
na interpretação Isabel Lourenço moderou a mesa-re-
da informação.» donda que aflorou diversas nuances do
impacto da tecnologia. Antes de passar
Isabel Lourenço a palavra aos oradores, sinalizou que o
trabalho do contabilista «está cada vez
mais centrado na interpretação da in-
formação», em detrimento do trabalho
de preparação. Paulo Novais rapida-
mente disse ao que vinha: «Ajudo pes-
soas a tomar decisões, desenvolvendo
sistemas no âmbito da IA que procuram
olhar para os dados.» Feita a apresen-

ABRIL 2022 33
NOTÍCIAS

públicas (SNC-AP). «Com a harmoni-


Da plateia surgiram zação contabilística, passou a ser um
várias perguntas imperativo e uma necessidade, ao ní-
sobre os temas vel da informação, garantir mais fia-
em discussão. bilidade, mais comparabilidade, em
suma, aumentar a confiança pública.»
«Estamos preocupados com a melhoria
dos sistemas de contabilidade e, nes-
se sentido, foram registadas melhorias
substanciais nos últimos três anos»,
referiu. As novas plataformas eletró-
nicas para a prestação de contas per-
mitiram «desmaterializar, assegurar a
integração e normalização, facilitando
a comunicação», ao mesmo tempo que
se consolidava, racionalizava e amplia-
vam as infraestruturas tecnológicas.
tação, o professor catedrático da Escola conheceu uma assinalável transforma- Maria da Luz Faria admitiu que o caso
de Engenharia da Universidade do Mi- ção para a transição digital. A juíza mais complexo é o que envolve o SNC-
nho procurou desmistificar a, por ve- reconheceu o esforço do tribunal para -AP, o que justificou «uma grande arti-
zes, conotação negativa atribuída à IA: acompanhar as transformações dos culação entre o TC e o Ministério das
«Não é o domínio do esotérico, nem dos sistemas orçamentais e contabilísti- Finanças», tendo em vista a existência
bruxos», sustentou, acrescentando que cos, nomeadamente com a introdução de uma única conta para cada entida-
«é apenas uma forma de extrair a me- da Lei de Enquadramento Orçamental de. «Todos podemos contribuir para a
lhor performance possível dos sistemas (LEO) e do sistema de normalização melhoria do processo de prestação de
tecnológicos para o desempenho de de- contabilística para as administrações contas. Os contabilistas, os auditores,
terminadas funções, necessariamente
repetitivas e rotineiras.» O ex-presiden-
te da Sociedade Portuguesa para a Inte-
ligência Artificial acrescentou que estes «As micro, pequenas
sistemas ajudam a «fazer previsões, a e médias empresas não
detetar padrões nas auditorias, apoiam têm, manifestamente,
a decisão de concessão de crédito e fa- capacidade para gerar
cilitam a personalização bancária, bem informação.»
como a deteção de lavagem de dinhei-
ro.» Contudo, não estão ao alcance de Paulo Novais
todas as bolsas, o mesmo é de dizer de
todo o universo de empresas. «As mi-
cro, pequenas e médias empresas não
têm, manifestamente, capacidade para
gerar informação», referiu.

Relatório de gestão,
o documento mais frágil
Maria da Luz Faria é juíza conselheira
do TC desde 2018, tutelando a pres-
tação de contas, área que também

34 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

mais otimistas apontam que durante a


«O relatório de gestão presente década os contabilistas e os
é, neste momento, auditores vão registar um acréscimo
o documento mais frágil na procura dos seus serviços. Apesar
na prestação de contas.» desta visão mais risonha, o impacto
no exercício profissional não pode ser
Maria da Luz Faria escamoteado e a contabilidade estará
sempre sob pressão. O robotic process
automation possibilita a «leitura inte-
ligente de documentos e a automação
das obrigações fiscais.» Isto obrigará a
que se abram duas tendências para os
profissionais: a reconfiguração das fun-
ções e cargos e o skillset das competên-
cias. No novo portfólio de competências
que se abre, poderá surgir o blockhain
accountant, o cybercrime accountant ou
os profissionais dos sistemas de in- não se pode desresponsabilizar pela o cloud accounting specialist. Para Pedro
formação, a academia, e claro, o TC gestão do dinheiro que é de todos.» Ferreira, o aliar de competências técni-
– como guardião da informação finan- cas e sociais (nomeadamente no campo
ceira e o garante da transparência das Humanizar a tecnologia da inteligência emocional), resultará
contas públicas – são todos atores», As tendências na profissão, a educação numa tentativa para «humanizar a tec-
disse. A magistrada enalteceu o papel e o modelo de negócio das empresas de nologia.» Inevitável para o modelo de
dos profissionais da contabilidade «na contabilidade foram os tópicos abor- negócio das empresas de contabilidade
fiabilidade e integridade dos dados dados por Pedro Ferreira. O professor novas e das já existentes no mercado
contabilísticos», mas admitiu que «o do departamento de Contabilidade do é a sua «reinvenção». E será, precisa-
relatório de gestão é, neste momento, ISCTE retirou dramatismo aos «catas- mente, da «combinação harmoniosa
o documento mais frágil na prestação trofistas» que antecipam o desapare- entre o uso inteligente das tecnologias
de contas», sendo fortemente reco- cimento de várias profissões, entre as e o alcançar/reforçar do seu estatuto
mendado que existam progressos. Sem quais se inclui a dos contabilistas cer- de indispensabilidade junto do cliente
se deter, deixou ainda outra advertên- tificados, com um nível de automatiza- que sairá o “Santo Graal” de sucesso
cia: «Quem assume cargos públicos ção a rondar os 95 por cento. Estudos do futuro modelo de negócio das em-
presas de contabilidade. No futuro, os
contabilistas passarão de profissionais
de confiança, para profissionais indis-
«É fundamental que não nos pensáveis, conjugando tecnologia e pro-
esqueçamos dos juízos de ximidade com o cliente.»
valor. Devemos confiar, mas
não tanto. As máquinas não Extrair o sumo
têm sentimentos, pelo que do registo das operações
os relatos são decisivos.» Repescando os pertinentes alertas dei-
xados por Paolo Quattrone, o presiden-
Carlos Menezes te da CHC da OCC, lembrou que, pese
embora ser «um grande adepto da re-
volução tecnológica», «é fundamental
que não nos esqueçamos dos juízos de
valor. Devemos confiar, mas não tanto.
As máquinas não têm sentimentos, pelo

ABRIL 2022 35
NOTÍCIAS

tudo, havia sido dito, mas o remate fi-


nal ficaria a cargo da bastonária, Paula
Franco. «Perante esta nova realidade, de
«No futuro, os contabilistas desmaterialização e simplificação dos
passarão de profissionais processos nas empresas, o posiciona-
de confiança, para mento do contabilista é como analista
profissionais indispensáveis, e criador de valor, extraindo o sumo do
conjugando tecnologia registo das operações. É aqui que temos
e proximidade de nos diferenciar.» A dirigente máxima
com o cliente.» da OCC aproveitou o ensejo para pegar
na referência da juíza conselheira do TC
Pedro Ferreira ao relatório de gestão: «Os empresários
têm dificuldade em fazer estes relató-
rios. Para a conceção de um verdadeiro
relatório de gestão – contendo as histó-
rias da empresa, as opções e as orienta-
ções, é necessário um trabalho conjunto
entre o empresário e o contabilista.»
que os relatos são decisivos.» Carlos do futuro será aquilo que a sociedade
Transmissão integral
Menezes concluiu, afirmando que sen- pretender dele. Mas será certamente
da conferência
do a contabilidade uma «técnica e uma alguém de quem se espera sempre mais
prática social», a escola deve valorizar para o sucesso das nossas empresas e Galeria fotográfica
esta última vertente. «O contabilista do nosso Estado.» Já tudo, ou quase

36 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Bastonária participou em webinar «Contabilista de sucesso»

Atrair e captar
novos talentos para a profissão
Texto Nuno Dias da Silva

A IT Insight e a
Bizdocs orga-
nizaram, a 28 de
nais - é outro fa-
tor que contribui
para transfigurar
abril, um webinar a profissão. «O
subordinado ao contabilista do
tema «Contabilista passado e o ex-
de Sucesso - Histó- cesso de tarefas
rias de vida, visões que tinha, muito
de futuro”, com o administra tivas
objetivo de debater e pouco desafia-
os atuais desafios doras, fazia com
de digitalização da que esta profis-
economia, da sim- são fosse muito
plificação e inova- cinzenta. Para
ção das atividades ser um contabi-
empresariais e de suporte à sua ativida- ria foi mudar esta visão», começou por lista certificado de sucesso é necessário
de. O evento decorreu de forma total- afirmar Paula Franco. O período mais minimizar as tarefas que não trazem
mente virtual e contou com a participa- agudo da pandemia, em que os conta- valor acrescentado. As tecnologias são
ção da bastonária da OCC, Paula Franco, bilistas foram chamados a intervir, com extremamente importantes para depois
do Presidente da Associação Industrial celeridade, para fazer chegar os apoios ajudar a parte empresarial, libertando
Portuguesa (AIP), José Eduardo Carvalho, às empesas, mudou, de alguma forma, o o papel e as tarefas rotineiras, utilizan-
de Carlos Latourrette, CEO da Bizdocs, e panorama. «A sociedade civil passou a do os mecanismos informáticos», disse.
de Henrique Carreiro, diretor da IT In- olhar-nos de outro modo. Mas ainda há É perante este novo contexto, que a
sight. Para além dos desafios colocados um longo caminho no elevar da contabi- bastonária acredita que será possível
à profissão de contabilistas certificados lidade para outro patamar», acrescen- «atrair e captar mais jovens talentos
e da relação com o Plano de Recupera- tou a bastonária. para a profissão.» Contudo, os obstá-
ção e Resiliência (PRR), o debate per- culos subsistem. E deu como exemplo a
mitiu ainda a partilha sobre o percurso Consultor e parceiro de negócio proposta de lei do Orçamento do Esta-
dos oradores, bem como das suas pers- A responsável máxima da Ordem dis- do para 2022 que prevê a diminuição do
petivas para o futuro da profissão. «A se ainda que o papel do contabilis- tempo de envio das faturas de dia 12
contabilidade é muito pouco respeitada. ta certificado de sucesso tem de ser, para dia 5, obrigação que, «apesar de
No âmbito das ciências económicas é, cada vez mais, o de um consultor, que não competir aos contabilistas», a sua
porventura, a profissão menos valo- acrescente valor às empresas. Ou seja, submissão acaba, muitas vezes, por fi-
rizada e com remunerações mais bai- é aquele que acompanha, um parceiro car a cargo destes profissionais.
xas. O que é um erro que a sociedade de negócio. A desmaterialização – com
pratica. Precisamente um dos objetivos a evolução rumo ao «zero papel», com
Transmissão integral
que levou a candidatar-me a bastoná- benefícios ambientais e organizacio-
da conferência

ABRIL 2022 37
CONGRESSO
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
ALTICE ARENA · 21, 22 E 23 SETEMBRO 2022

Inscrições abertas para o maior


evento do ano

A Ordem organiza a 21, 22 e 23 de setembro de Medalhas no Dia do Contabilista


2022, no Altice Arena, em Lisboa, o 7.º Congresso Os trabalhos iniciam-se a 21 de setembro,
dos Contabilistas Certificados. A sustentabilidade coincidindo com as comemorações do Dia do
e o relato não financeiro, a par da responsabili- Contabilista, com destaque para a entrega das
dade empresarial, do empreendedorismo social, medalhas aos profissionais com 25 ou mais anos
da economia sustentável ou das métricas e índices de profissão. A 22 de setembro, a sustentabilidade
contabilísticos, são algumas das linhas mestras e o relato financeiro será o painel a dar o pontapé
deste sétimo congresso que reunirá milhares de de saída para uma jornada repleta de reflexões
contabilistas de todo o país. Em mensagem cada vez mais pertinentes.
publicada no microssítio, antecipando O evento encerrará no dia 23, com mais um painel
o 7.º Congresso, a bastonária Paula Franco refere no âmbito da sustentabilidade, e com outras
que este evento «se focará no debate, reflexão surpresas que, a seu tempo, serão reveladas.
e discussão do papel dos contabilistas certificados Paralelamente ao congresso, existirá uma feira
numa sociedade que exige dos vários agentes com diversos stands de expositores.
económicos uma maior sustentabilidade ambien- Uma vez que o programa ainda não se encontra
tal, social e de gestão.» As inscrições já se encon- completo, sugere-se a consulta regular do
tram disponíveis e, tal como há três anos, o seu microssítio com toda a informação relativa ao
custo vai aumentando à medida que se aproxima maior evento do ano para a profissão e
a data do grande evento. Pode também os profissionais. Caso pretenda, remeta a sua
inscrever-se, desde já, para o jantar de gala, com dúvida ou pedido de esclarecimento para o email
um custo extra, que decorrerá na noite do dia 22. oficial do evento: viicongresso@occ.pt.
O 6.º congresso, realizado em 2019, também na
Altice Arena, e subordinada ao tema «Liderar a
profissão digital», reuniu cerca de quatro mil
Microssitio participantes.
38 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Isenção de IVA: artigo 4.º da Lei n.º 10-A/2022


Esclarecimento da Autoridade Tributária

A pós interpelação da Ordem dos


Contabilistas Certificados à Auto-
ridade Tributária (AT) sobre o âmbito da
malmente utilizado na produção agrícola.
Deste modo, estando em causa os bens
referidos no ofício-circulado (ressalvados,
te da qualificação do adquirente. É assim
aplicada ao longo do circuito económico,
seja a distribuidores, revendedores, reta-
aplicação da isenção do artigo 4.º da Lei naturalmente, os elencados nos pontos 4. e lhistas, consumidores finais, produtores
n.º 10-A/2022, de 28 de abril, foi obtido 7.), os mesmos beneficiam da aplicação da agrícolas ou outros, independentemente
o seguinte esclarecimento: «Tendo por re- isenção independentemente da qualifica- do fim a que tais bens se destinam. Real-
ferência o questionado, afigura-se ser de ção do operador que os transmite.» Como ça-se ainda que o âmbito da aplicação da
esclarecer que a Lei n.º 10-A/2022 não es- se constata, a aplicação da referida isen- isenção é efetuada nas mesmas condições,
tabelece qualquer limitação subjetiva, seja ção está dependente das características com as necessárias adaptações, à apli-
em função do fornecedor/transmitente dos bens, especificamente ali identificados cação da taxa reduzida das verbas 3.1 e
dos bens, seja em função do destinatário/ (sendo bens do tipo que normalmente são 3.3 da lista I anexa ao CIVA, tal como in-
adquirente dos mesmos, embora condicio- utilizados na produção agrícola), no mo- dicado no ponto 2 do Ofício-Circulado n.º
ne a sua aplicação aos bens do tipo nor- mento da transmissão, independentemen- 30246/2022, de 29 de abril.

Formação sobre a Lei n.º 7/2021


Cinco mil participantes

M ais de 5 mil pessoas, entre contabilis-


tas certificados e respetivos colabo-
radores, participaram na primeira forma-
ção eventual do ano, dedicada a analisar a
Lei n.º 7/2021 – Reforço das garantias dos
contribuintes e contabilistas certificados»,
organizada pela Ordem, a nível nacional,
entre os dias 28 de março e 9 de abril. Esta
foi também a primeira grande formação
promovida pela Ordem, após o fim a redu-
ção das medidas sanitárias no âmbito da
pandemia.

ABRIL 2022 39
NOTÍCIAS

SGPS - Inventário das partes de capital


Comunicação até 30 de junho de 2022

A s sociedades gestoras de partici-


pações sociais (SGPS) devem co-
municar anualmente à Inspeção-Geral
do Decreto Lei n.º 495/88, de 30 de de-
zembro, sendo que o período de comu-
nicação se iniciou a 1 de maio, e é feita
do dever de comunicação do inventário
das partes de capital, constitui contraor-
denação, punível com coima nos termos
de Finanças - Autoridade de Auditoria através da plataforma eletrónica disponi- do artigo 13.º do referido diploma. Nos
(IGF), até ao próximo dia 30 de junho de bilizada aqui. O acesso à plataforma exi- casos em que as comunicações sejam efe-
2022, o inventário das partes de capital ge o registo prévio das sociedades e dos tuadas pelos contabilistas certificados,
incluídas nos investimentos financeiros respetivos utilizadores. Os procedimen- devem ser indicados os endereços eletró-
constantes do último balanço aprovado, tos de registo e comunicação estão publi- nicos para contacto direto dos gerentes/
conforme determina o n.º 2 do art.º 9.º cados na página da IGF. O incumprimento administradores das SGPS.

Formação em contratação pública


Bolsa de contabilistas certificados

N a sequência do protocolo celebra-


do entre a Ordem dos Contabilistas
Certificados e a «Recuperar Portugal»,
correu a 29 de abril, no Porto e a 30 de
abril, no Auditório António Domingues
de Azevedo, em Lisboa, a formação em
com o objetivo de ter o apoio dos con- contratação pública destinada aos pe-
tabilistas certificados nas ações adminis- ritos aprovados em exame realizado no
trativas de controlo interno e nas ações início do ano. Nas duas cidades, e tam-
de acompanhamento junto dos bene- bém online, cerca de 400 contabilistas
ficiários intermediários e beneficiários marcaram presença. Em Lisboa, a sessão
finais das verbas provenientes do Plano contou igualmente com cerca de quatro
de Recuperação e Resiliência (PRR), de- dezenas de colaboradores da Ordem.

Conferência dos colégios das especialidades


3 de junho, em Lisboa

«N ovas tendências contabilísti-


cas e tributárias» é o título da
conferência organizada pelos colégios
Lisboa. Especialistas dos vários colégios
da Ordem (empossados a 17 de junho
do ano passado) vão apresentar expo-
tabilidade Financeira; Contabilidade de
Gestão; Contabilidade Pública; Impos-
tos sobre o Consumo; Impostos sobre
das especialidades da Ordem e que sições relativas à sua área específica. o Património; Impostos sobre o Rendi-
vai decorrer, a 3 de junho, no auditó- Recorde-se que existem oito colégios de mento; Procedimento tributário gracio-
rio António Domingues de Azevedo, em especialidade na Ordem, a saber: Con- so e Segurança Social.

40 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Conferência «A Contabilidade Relato Integrado


Intercalar
e Gestão na atividade agrícola» 1.º trimestre de 2022

6 de junho, no CNEMA, em Santarém A divulgação de forma regular e trans-


parente da informação económico-fi-
nanceira da Ordem continua a ser uma
marca do Conselho Diretivo. Deste
modo, a Ordem reitera o compromis-
so assumido com todos os contabilis-
tas certificados e a sociedade em geral
no âmbito de uma boa prestação de
contas. A 14 de abril foi oficialmente
apresentado o Relato Integrado Inter-
calar referente ao primeiro trimestre
de 2022.

Relatório integrado intercalar

A Ordem e a Confederação dos Agri-


cultores de Portugal (CAP) organi-
zam no próximo dia 6 de junho de 2022,
za entre as 9h30 e as 13 horas, decorre
durante a Feira Nacional da Agricultura,
agendada entre 4 e 12 de junho. Recor-
no auditório do CNEMA, em Santarém, a de-se que nos dois últimos anos, devido
tradicional conferência anual subordinada às restrições fruto da pandemia, as con-
ao tema «A contabilidade e gestão na ati- ferências OCC/CAP aconteceram através
vidade agrícola». «A gestão da atividade de plataformas digitais. As inscrições são
agrícola na era digital - desafios para o gratuitas, mediante registo prévio no site
contabilista» e «Subsídios e apoios na ati- da Ordem.
vidade agrícola» são os temas previstos
para os painéis. O evento, que se reali- Programa e inscrições Atendimento
técnico alargado
Entre 2 de maio

Análise da OCC e 30 de junho

à proposta do OE/2022
O call center do departamento de
consultoria da OCC, a exemplo de
anos anteriores, funcionará em ho-
Votação final global a 27 de maio rário alargado (até às 19 horas), nos
dias úteis, entre 2 de maio e 30 de

O Governo entregou no Parlamen-


to, a 13 de abril, a proposta de
Orçamento do Estado para 2022. A
novidades a nível fiscal que poderão vir
a fazer parte da proposta final que foi
discutida e votada na generalidade, na
junho, período que coincide com os
prazos de entrega das declarações
modelo 3 (30 de junho) e modelo 22
exemplo do que tem sucedido em anos Assembleia da República, a 28 e 29 de
(31 de maio).
anteriores, a Ordem disponibilizou a abril. A votação final global está mar-
análise às opções do Executivo efetuada cada para 27 de maio. 
pelos seus consultores. É um documento
no qual são apresentadas, de forma sis- Análise OCC
tematizada, as principais alterações e

ABRIL 2022 41
NOTÍCIAS

Inauguração da representação de Beja


É a 18.ª representação da Ordem

R ealizou-se a 12 de maio a inau-


guração oficial da representação
permanente de Beja. Adiada devido aos
uma medida tomada pelo conselho dire-
tivo da Ordem para aproximar os seus
membros da instituição e que servirá,
constrangimentos sanitários causados entre outras finalidades, para acolher
pela pandemia, a cerimónia contou com sessões de formação. Com a inaugura-
a presença do presidente da Câma- ção em Beja, ficará apenas pendente a
ra Municipal da localidade alentejana, abertura das instalações em Viana do
Paulo Arsénio. Em funcionamento des- Castelo para que a cobertura nacional,
de o passado dia 13 de janeiro, a 18.ª por distrito, fique completa. São 457
representação da Ordem situa-se na os contabilistas certificados inscritos
Avenida Miguel Fernandes, n.º 28, no no maior distrito do país em termos
centro da cidade alentejana e funciona de área e um dos que mais sofre com
no horário compreendido entre as 9h e o fator interioridade. A reportagem do
as 17h30, com pausa para almoço entre evento pode ser consultada na próxima
as 12h30 e as 13h30. Trata-se de mais Revista «Contabilista».

XVI Encontro Nacional


dos Contabilistas Certificados
Quinta da Malafaia, em Esposende, a 9 de julho

R ealiza-se no próximo dia 9 de ju-


lho o XVI Encontro Nacional dos
Contabilistas Certificados. A Quinta da
de ser, a gastronomia minhota (e não
só) promete aconchegar os estôma-
gos mais e menos necessitados. Mas
Malafaia, no concelho de Esposende, os pontos de animação e interesse não
distrito de Braga, vai acolher o conví- se ficam por aqui. Haverá, igualmente,
vio que anualmente junta centenas um workshop de bordados do Minho e
de contabilistas e respetivas famílias. olaria com artesãos para quem quiser
Dentro e fora da Quinta da Malafaia ficar a conhecer melhor as tradições
será recriado um verdadeiro arraial daquela região do país. As inscrições
minhoto, com arruadas de bombos e têm o seguinte custo: Adultos (mem-
gaiteiros, cabeçudos, gigantones, sem bros e respetivos acompanhantes): 10
esquecer os inevitáveis ranchos folcló- euros; Crianças entre os 8 e 15 anos: 5
ricos. Corridas de sacos, jogo da ma- euros; Crianças até aos 7 anos, inclusi-
lha, jogo do lenço, jogos de cartas e ve: Gratuito.
dominó, são alguns dos jogos tradicio-
Microssítio
nais previstos. Como não podia deixar

42 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Balanço do «Programa
Empresas Turismo 360.º
Turismo de Portugal e Ordem organizam formação
para profissionais

Reunião livre
em Sernancelhe
Bastonária marcou presença

A vila de Sernancelhe, no distrito


de Viseu, recebeu, a 10 de maio,
pela primeira vez, uma reunião livre

A bastonária, Paula Franco, esteve


presente, a 19 de abril, no Museu
da Eletricidade, em Lisboa, na sessão
âmbito do Programa Empresas Turismo
360.°, visando fomentar a incorporação
nas empresas de turismo dos fatores ESG
presencial. O evento contou com a
presença de Carlos Silva, presidente
da edilidade, da bastonária Paula
pública «Programa-Empresas Turismo (Environmental, Social and Governance). A Franco e do diretor Manuel Teixei-
360.º: Resultados e desafios» promovi- ação de formação inicia-se a 18 de maio, ra. Paulo Marques e Osvaldo Seixas
do pelo Turismo de Portugal. O evento, prolongando-se para 23 e 27 do mes- foram os formadores. A ocasião foi
que serviu para um balanço dos pri- mo mês, com a duração total de 8h30m. ainda aproveitada para a assinatu-
meiros meses do «Programa Empresas Apesar de a inscrição ser gratuita, a par- ra de um protocolo de cooperação
Turismo 360.º» e reconhecer formalmente ticipação dos contabilistas certificados entre a autarquia e a Ordem para
a adesão das empresas que participaram obriga a inscrição na Academia Digital do a cedência do Centro Municipal de
nas ações piloto de capacitação em Ges- Turismo de Portugal. Devem ser seguidos Artes que, desta forma, passará a
tão ESG, contou com a participação, na os seguintes procedimentos: 1 - Primeiro acolher as futuras reuniões livres.
sessão de encerramento, do ministro da tem de ser criada uma conta; 2 - Após a O autarca local presenteou ainda a
Economia e do Mar, António Costa Silva. criação da conta o utilizador vai receber Ordem com uma lembrança. Estive-
A ocasião foi ainda aproveitada para uma um email para ativar e completar o seu ram presentes cerca de 50 contabi-
foto de conjunto com os stakeholders do registo;3 - Com a ativação da conta o uti- listas certificados que, assim, pas-
«Compromisso Empresas Turismo 360°», lizador já poderá efetuar a sua inscrição saram a sentir a sua Ordem de uma
onde se inclui a Ordem dos Contabilistas no curso indicado, bastando para isso cli- forma bem mais próxima.
Certificados. car na seguinte ligação. Após a inscrição
será enviado novo email a confirmar a
Formação participação do utilizador, contendo já as
para contabilistas certificados informações de como poderá aceder às
Entretanto, o Turismo de Portugal e a Or- sessões do curso. 
dem promovem, nos dias 18, 23 e 27 de
Mais informações
maio, uma ação de formação online no

ABRIL 2022 43
NOTÍCIAS

Empossada nova presidente do CCISP

M aria José Fernandes, presidente


do IPCA e do Colégio de Especia-
lidade de Contabilidade Pública da Or-
dem, tomou posse, a 27 de abril, como
presidente do Conselho Coordenador
dos Institutos Superiores Politécnicos
(CCISP). A sessão decorreu ao final da
manhã no Auditório Nobre do Politéc-
nico de Setúbal. A Ordem esteve repre-
sentada pelo seu diretor, Álvaro Costa.
À tarde, no mesmo local, nova tomada
de posse, desta feita de Ângela Lemos
como nova presidente do Politécnico se-
tubalense. A Ordem esteve representada
pelo seu vice-presidente, Jorge Barbosa
e pelo diretor Álvaro Costa. 

João Vieira Lopes reconduzido na CCP

D ecorreu a 27 de abril, na Fun-


dação Oriente, em Lisboa, a
tomada de posse dos órgãos sociais
da Confederação do Comércio e Ser-
viços de Portugal (CCP) para o qua-
driénio 2022/2025, mantendo-se na
sua presidência João Vieira Lopes. A
Ordem esteve representada pelo seu
vice-presidente, Jorge Barbosa. A ce-
rimónia contou ainda com a presença
de Ana Mendes Godinho, ministra do
Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social e de António Mendonça Men-
des, secretário de Estado Adjunto e
dos Assuntos Fiscais.

44 CONTABILISTA 265
NOTÍCIAS

Bastonária participou em conferência no ISCTE


Cláudio Pais, docente daquela escola.
Partindo do mote, «O que é ser contabi-
lista?», a bastonária não escondeu a sua
inquietação por «existirem menos jovens a
quererem vir para a área da contabilida-
de.»
Paula Franco acrescentou que, agora mais
do que nunca, «é preciso ter uma impor-
tante base de contabilidade, para não fa-
lhar no futuro.» Ocupando os profissionais
posições-chave nas empresas, em cargos
de gestores ou diretores financeiros, a res-
ponsável máxima da Ordem sustentou que
a formação é de primordial importância.

P aula Franco participou, a 10 de maio,


numa conferência promovida pelo De-
partamento de Contabilidade (curso de Fi-
tência atenta, composta na esmagadora
maioria por alunos, para além da basto-
nária da OCC, participaram também nesta
«A construção e a interpretação da infor-
mação financeira assume tal relevância
nas nossas sociedades, que estes profissio-
nanças e Contabilidade) do ISCTE - Institu- iniciativa, Virgílio Macedo, bastonário da nais podem, hoje em dia, mudar o futuro
to Universitário de Lisboa, subordinada ao OROC e Miguel Paulo, responsável pelo de um país e também do mundo.» 
tema «O futuro da contabilidade». departamento de contabilidade do El Cor-
Num auditório que contou com uma assis- te Inglês. A moderação esteve a cargo de Conferência integral

«Impostos – Teoria geral»


Lançamento da 6.ª edição

A caba de ser lançada a 6.ª edição -


reorganizada, aumentada e atuali-
zada - do livro «Impostos - Teoria Geral»,
da parte geral de Fiscalidade I, nas licen-
ciaturas do ISCTE. Américo Brás Carlos foi
professor no INDEG-ISCTE-IUL e acumula
da autoria de Américo Brás Carlos. Esta uma experiência de 35 anos de docência
edição da Almedina, inicialmente publica- universitária. Desempenhou ainda fun-
da em 2016, resultou das aulas da Teoria ções como técnico e dirigente da admi-
Geral dos Impostos nas pós-graduações nistração fiscal portuguesa e consultor do
do Instituto para o Desenvolvimento da Fundo Monetário Internacional, do Banco
Gestão do Instituto Superior de Ciências Mundial, da União Europeia e do Departa-
do Trabalho e da Empresa-Instituto Uni- mento do Tesouro dos Estados Unidos da
versitário de Lisboa (INDEG-ISCTE-IUL) e América. 

ABRIL 2022 45
ORDEM NOS MEDIA

Autarca do Funchal quer


formação específica para
cargos públicos
«No encerramento do I Encontro
Insular de Contabilistas Certifica-
dos que, decorreu na passada sex-
ta-feira no Museu da Casa da Luz,
o presidente da Câmara Municipal
do Funchal deixou um “desafio” à
Bastonária da OCC, Paula Franco
para que “tente influenciar” altera-
ções significativas de forma a que
RTP-Madeira - Zona Franca da Madeira
haja “uma mudança de mentalida-
Declarações da bastonária, Paula Franco, à margem do I Encontro Insular
de” no que é exigido a quem detém
de Contabilistas Certificados
cargos políticos. Neste sentido, Pe-
dro Calado salientou ser “cada vez
REDES SOCIAIS mais importante na gestão pública”
que os “decisores políticos” tenham
“formação específica”, de modo, a
5 265 209 VISUALIZAÇÕES poderem “desempenhar as funções”
32 001 FOTOS
corretamente(…).»
29 948 SUBSCRITORES

71 975 GOSTOS

1 973 SEGUIDORES «Temos uma economia que


77 902 SEGUIDORES
tem de recuperar»
«Sobre o evento, que contou com a
participação de mais de 200 pessoas,
a bastonária da Ordem dos Conta-
8 025 SEGUIDORES 276 SEGUIDORES
bilistas Certificados defendeu que é
fundamental juntar os contabilistas
de todo o país, incluindo as regiões
autónomas, e apostar na descentra-
NOVIDADES DE ÂMBITO TÉCNICO * lização (…)».

Pareceres técnicos mais vistos em abril


CONTAS & IMPOSTOS
O enquadramento fiscal dos
∞ IRC – Declaração modelo 22 ∞ IRC - Liquidação
trabalhadores independentes
∞ IRC – Benefícios fiscais ∞ IVA – Declaração periódica
Artigo de Catarina Esgaio,
∞ IRS – Alienação de quotas ∞ Retenção na fonte - Pensões de não
consultora da Ordem
∞ IRS – Gratificações residente
∞ IRC – Gratificações de balanço ∞ IES - Dispensa
As deduções à coleta com
dependentes no divórcio
Artigo de Elsa Marvanejo da
*Mais informação em: https://www.occ.pt/pt/noticias/pareceres-tecnicos/ Costa, consultora da Ordem

46 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

A DAC 7 - Nova obrigação


de informação para os operadores
de plataformas digitais, inspeções
conjuntas, relevância previsível
e outras modificações normativas
A DAC 7 corporiza os enormes avanços de cooperação entre administrações fiscais
na Europa, apostando na troca de informações como um dos elementos essenciais
para melhorar o cumprimento fiscal.

Por Manuel Faustino* | Artigo recebido em fevereiro de 2022

E m 22 de março de 2021 foi apro-


vada a sexta1 alteração à diretiva
2011/16/UE (DAC 1) relativa à coo-
a novas áreas, a fim de enfrentar os
desafios colocados pela crescente
digitalização e desmaterialização
DAC 7:
Regulamentação de três áreas
A DAC 7 tem por objeto a regulamen-
peração administrativa em matéria da economia. Em suma, acompanha tação de três áreas principais:
fiscal, à Diretiva (UE) 2021/514, do o processo contínuo de melhoria da -O aperfeiçoamento técnico de al-
Conselho de 22 de março de 2021, cooperação entre as administrações guns aspetos da diretiva 2011/16/UE;
doravante DAC 7 . Isto significa que,
2
fiscais dos Estados-membros da UE -O estabelecimento de uma nova
entre 2011 e 2021, foram feitas seis al- através do intercâmbio de informa- obrigação de reporte para os opera-
terações à DAC 1, a mater da coopera- ções fiscais. Constata-se, porém, que dores de plataformas digitais.
ção administrativa na sua «segunda ainda se não avança, por um lado, -A implementação das chamadas
vida» , uma "instabilidade" legisla-
3
para troca obrigatória de informa- «inspeções conjuntas».
tiva justificada pelo alargamento da ção tributária que beneficie o contri- Quanto ao primeiro dos aspetos
cooperação administrativa (diga-se, buinte, designadamente o montante supracitados, a diretiva densifi-
entre administrações fiscais da União dos impostos suportados nos Estados ca, com base na jurisprudência do
Europeia ) a campos cada vez mais
4
da fonte tendo em vista eliminar a TJUE, o conceito de «relevância
vastos, suscetíveis de relevância eco- dupla tributação jurídica internacio- previsível», a espinha dorsal em que
nómica e tributária. Cada vez menos, nal 5 , e, por outro, para a obrigato- assenta a legitimidade dos pedidos
a plurilocalização dos factos tributá- riedade de os sujeitos passivos dessa de informação fiscal de um Estado-
rios é, pois, um obstáculo à sua efeti- informação serem notificados pelos -membro. Além disso, a diretiva
va tributação no Estado onde devem Estados informadores, da informa- confere igualmente legitimidade
sê-lo, nomeadamente em matéria de ção que, sobre eles, foi trocada 6 . aos chamados «requerimentos de
impostos sobre o rendimento. Como todas as outras, esta diretiva grupo», na medida em que os con-
É nessa linha que a DAC 7 visa melho- exige a transposição para o nosso tribuintes sobre os quais a informa-
rar o quadro existente para o inter- direito interno, processo que deve ção é solicitada, não só podem ser
câmbio de informações e cooperação ser concluído durante o ano de 2022 identificados de forma específica,
administrativa na União Europeia, para ser aplicado, em termos gerais, nome e apelidos ou razão social,
bem como alargar esses objetivos a partir de 2023. mas também podem ser identifica-

ABRIL 2022 47
FISCALIDADE

dos coletivamente através da des- a utilização da informação obtida trado na informação obtida junto dos
crição detalhada do grupo. através da DAC para outros fins não operadores de plataformas digitais.
Outra medida a destacar é que abre previstos na diretiva, não só com a Neste ponto, a relevância desta nova
a possibilidade de utilização da in- autorização individualizada e espe- área deve ser procurada na crescen-
formação obtida através dos ins- cífica do Estado-membro cedente da te importância das atividades eco-
trumentos de informação incluídos informação, mas também, será cons- nómicas que são intermediadas nas
na diretiva para impostos que, em truído um novo e voluntário sistema plataformas geridas por este tipo de
princípio, estão fora dela, como o IVA de lista de finalidades previamente operadores.
e outros impostos indiretos. Pode autorizadas pelos Estados-membros Em esquema:
tratar-se, afinal, dos primórdios da para que não seja necessário solicitar Em termos muito gerais, os operado-
aprovação de um Código Europeu uma autorização individualizada em res devem prestar à administração
de Cooperação Administrativa que cada caso de utilização fora das fina- tributária do Estado-membro «em
reúna, sistematize e torne coerentes lidades da diretiva. que estão registados», determina-
todas as modalidades de cooperação Relativamente ao segundo bloco, a das informações relacionadas com
administrativa que estão dispersas DAC 7 determina o estabelecimento as atividades económicas em que são
por diplomas avulsos 7. de um novo intercâmbio de informa- intermediários, pondo em contacto
Da mesma forma, será permitida ção entre os Estados-membros cen- os vendedores de bens ou prestadores

Plataformas
(Operadores)

Compradores Vendedores
Bens e serviços Bens e serviços

Estado da residência e também


Estado do registo
o Estado de localização
do estabelecimento
do imóvel

Da UE De Estados terceiros
No Estado da residência Em qualquer Estado-
membro da UE

48 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

de determinados serviços, denomi- do-membro de registo determina a clientes devem ser reportados, uma
nados «vendedores», e os usuários administração tributária a que a in- vez que existem vários vendedores
dessas plataformas. Subsequente- formação deve ser submetida. Nes- excluídos como entidades estatais
mente, a administração tributária te ponto, distinguem-se dois tipos e entidades cotadas. É criada uma
que receber a referida informação de operadores. Europeus, que são franquia por estabelecimento para
deve fornecer a mesma à adminis- aqueles em que concorre algum cri- vendedores ocasionais, desde que
tração tributária do Estado-membro tério de estabelecimento com a UE, realizem menos de 30 operações
de residência do vendedor e, no caso sendo o principal o de residência, o anuais na plataforma e o valor to-
de arrendamento de imóveis, tam- que significa que devem registar-se tal não exceda dois mil euros. Tam-
bém à administração tributária do no Estado onde o referido critério bém está prevista a exclusão para
território onde se situa o imóvel. for cumprido. Os restantes, ou seja, «grandes arrendatários» quando a
Para efeitos de obtenção das infor- aqueles que não cumprem nenhum intermediação se referir ao mesmo
mações que devem ser prestadas, critério localização na UE, poderão imóvel e se ultrapassem as duas mil
os operadores obrigados devem escolher livremente o Estado-mem- operações realizadas durante o ano.
cumprir uma série de regras e pro- bro para se inscrever.
cedimentos de due diligence aos Nem todas as atividades económi- Regulamentação
vendedores que estão obrigados a cas exercidas nas plataformas serão das «inspeções conjuntas»
transferir esses dados para os ope- objeto de prestação de informações. A última novidade desta Diretiva é
radores. Uma informação essencial Apenas as expressamente determi- a regulamentação das «inspeções
é esclarecer a residência fiscal do nadas pela DAC 7, que são: conjuntas», há muito previstas e
vendedor, pois determinará o Esta- -A locação de imóveis que já se vão realizado, que as ad-
do-membro para o qual, em última -A locação de meios de transporte; ministrações fiscais dos Estados-
instância, a informação deverá ser -A prestação de serviços pessoais; -membros podem efetuar relativa-
enviada. -A venda de mercadorias. mente aos contribuintes de interesse
O operador deve registar-se num Da mesma forma, nem todos os ven- comum.
Estado-membro, sendo esta obriga- dedores que utilizam estas platafor- Nesse sentido, um Estado-membro
ção essencial, uma vez que o Esta- mas digitais para contactar os seus pode dirigir-se a um ou mais Esta-

ABRIL 2022 49
FISCALIDADE

dos-membros para solicitar o iní- tes. O referido relatório será comu- 1977, relativa à assistência mútua das
cio de uma inspeção conjunta. Este nicado aos interessados. autoridades competentes dos Estados-
pedido deve ser respondido no pra- Conclusão: a DAC 7 continua a cor- -membros no domínio dos impostos
zo máximo de 60 dias e só pode ser porizar os enormes avanços de coo- diretos e dos impostos sobre prémios de
rejeitado por decisão devidamente peração entre administrações fiscais seguros.
fundamentada. na Europa, apostando na troca de 3
Não podendo deixar de ser "relembrar"
Em qualquer caso, as autoridades informações como um dos elementos que foram criados e estão em vigor mais
fiscais terão de acordar previamente essenciais para melhorar o cumpri- dois instrumentos de cooperação admi-
sobre a aplicação prática da inspe- mento fiscal. nistrativa, mas com espaços territoriais
ção conjunta, por exemplo, o regime diferentes: o FATCA, exclusivamente
linguístico aplicável. *Jurista aplicável aos Estados Unidos da América;
Os funcionários de um Estado- Árbitro no CAAD ea
-membro podem exercer as suas 4
O que evitaria múltiplas burocracias e
funções no outro Estado membro Notas algumas guerras "entre gato e rato".
onde as ações sejam realizadas 1
Não conta para a numeração sucessiva 5
O que evitaria trocas de informação,
no âmbito da inspeção conjunta, que vem sendo atribuída às diretivas que quer indevidas quer erróneas, qualita-
sempre respeitando a legislação alteram a DAC 1 - a diretiva 2011/16/UE tiva e quantitativamente, e as sequelas
do Estado-membro de acolhi- a diretiva 2020/876, uma vez que esta se que tais situações acabam por provocar.
mento, que será a regulamentação limitou, com justificação na pandemia 6
Lembramo-nos, por exemplo, da as-
aplicável. COVID, a diferir o cumprimento de cer- sistência administrativa em matéria de
Por fim, as conclusões derivadas da tos prazos. cobrança e, naturalmente, das disposi-
inspeção conjunta poderão ser reco- 2
A transpor para o ordenamento jurídico ções legislativas sobre a troca de infor-
lhidas num relatório final que deve- interno até 31 de dezembro de 2022. mação no domínio dos impostos indi-
rá ser tido em conta nos eventuais Até então, vigorou a Diretiva n.º 77/779/ retos, principalmente no que ao IVA diz
procedimentos internos subsequen- CEE do Concelho, de 19 de dezembro de respeito.

50 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

Racionalidade, ou falta dela,


na evolução da tabela do IRS
Onde se aponta a falta de racionalidade na evolução da tabela do IRS
e onde se propõe um novo desdobramento dos escalões.
Por Eduardo Mendes Fonseca* | Artigo recebido em dezembro de 2021

A proposta de Lei do Orçamen-


to do Estado para 2022, que a
Assembleia da República rejeitou,
sagravamento dos rendimentos mais
baixos, sendo o impacto transversal
a todos os níveis de rendimento. De
cialmente, o primeiro escalão (até 7
091 euros) - a proclamação que essa
revisão se concentrou especialmente
incluía nova alteração da tabela das resto, já aquando da apresentação nos rendimentos mais baixos.
taxas gerais do IRS e, consequen- do Orçamento do Estado 2018, o Go- Os segregados rendimentos, exclusi-
temente, do artigo 68.º do Código. verno havia afirmado e sublinha- vamente coletáveis pelo primeiro pa-
Desta modificação, que consistia no do que todos os contribuintes iriam tamar da tabela, ficaram desde então
desdobramento dos terceiro e sexto ter, nesse ano, uma redução de IRS, numa espécie de limbo, a aguardar o
escalões e ajustamento nos limites o que, em relação aos rendimentos seu posterior enquadramento no al-
dos quarto, quinto e sétimo escalões, mais elevados ocorreria com o fim da ternativo esquema de tributação que
resultava um desagravamento da sobretaxa (só aplicada, em 2017, aos salvaguarda o «mínimo de existên-
tributação em todos os rendimentos rendimentos coletáveis em IRS acima cia» (artigo 70.º do CIRS), seja pela
neles inscritos; mais relevante, na- de 20 261 euros). isenção ou pela redução de impos-
turalmente, nos dos escalões seccio- Porém, em termos de realidade cir- to. Foi, é e seria ou será, assim que
nados. cunscrita ao IRS, a revisão da tabela - considerando, e somente, como
Segundo a argumentação governa- em 2018 apenas aligeirou o imposto dedução à coleta as despesas gerais
mental, o desdobramento proposto nos rendimentos tributáveis entre 7 familiares - os titulares de remune-
vinha completar a primeira revisão 092 e 40 521 euros, invalidando - ao rações/pensões até 800 euros men-
escalonar em 2018, com o então de- não desdobrar, também e preferen- sais, a partir de 682 euros em 2018,

ABRIL 2022 51
FISCALIDADE

694 euros em 2019, 708 euros em e a taxa média desse aumento do IRS de existência», teriam, desde 2018,
2020 e 2021, 754 euros em 2022, pa- que subsistiu relativamente aos dois pago menos 94 euros em cada ano.
garam e vão pagar o mesmo imposto escalões desdobrados em 2018, parte Também os rendimentos enqua-
de 2017. Acresce que, paradoxalmen- da tabela que passou a vigorar: drados naquele que passaria a ser
te, enquanto o primeiro escalão não o terceiro escalão (+7 091 até 10 700
foi desagravado em 2018, nem o iria Rendimento Taxas euros) beneficiariam desta tabela,
ser em 2022, o terceiro escalão, que coletável (percentagens) com começo nos mesmos 94 euros,
(euros) Normal Média
já tinha sido beneficiado em 2018 (a montante que se desvanecia em 2,6
coleta de todos os rendimentos nele Até 7 091 14,50 14,500 por cento da parte que superasse os
incluídos reduziu-se em 198 euros, De mais de 7 091 7 092 euros.
23,00 17,367
até 10 700
em virtude do desdobramento, de Face à relativa relevância do acu-
que foram os principais favorecidos, mulado diferencial entre a tribu-
do então segundo escalão), seria de deveria ter dado lugar à seguinte: tação realizada e a que, à luz da
novo suavizado. equidade, se deveria ter processa-
Põe-se, agora, a questão de como, Rendimento Taxas do, julgo que se impõe a decorrente
em 2018, deveria ter sido desdobra- coletável (percentagens) interrogação: deverá o Orçamento
(euros) Normal Média
do o primeiro escalão, dando lugar a para 2022 albergar - precedendo
um novo degrau na tabela, manten- Até 3 128 11,50 11,500 medidas de desagravamento dos
do a taxa de 14,50 por cento naquele De mais de 3 128 escalões de rendimento, incluindo
14,50 13,177
até 7 091
que passaria a segundo e alterando a obviamente o primeiro - a restitui-
De mais de 7 091
taxa normal (23 por cento) dos rendi- 25,60 17,367 ção, aos milhares de afónicos traba-
até 10 700
mentos entre 7 092 e 10 700 euros, de lhadores e pensionistas, do que, em
forma a manter nesse escalão a taxa termos comparativos e desde 2018,
média de 17,367 por cento. A partir de Com esta lógica e justa tabela alter- lhes foi exigido pagar em excesso
tais pressupostos, e tomando como nativa, todos os rendimentos tribu- ou, em caso contrário, constituirá
referencial a tabela que vigorava an- táveis até 7 091 euros (7 112, na atua- este texto, de motivação exclusiva-
tes de 2013 - ano em que, dando lu- lidade, ou qualquer outro posterior mente técnica, apenas um memorial
gar ao enorme e célebre aumento do valor de limite no escalão), não de uma injustiça fiscal? 
imposto, se verificou a aglutinação abrangidos pela redução ou isenção
dos escalões e a elevação das taxas - de imposto, por via do «mínimo *CC n.º 6 039

52 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

A limitação da dedutibilidade
fiscal em IRC e a aplicação de taxas
de tributação autónoma sobre
importâncias pagas ou devidas
a entidades submetidas a regimes
de tributação mais favoráveis
Este trabalho debruça-se sobre o enquadramento fiscal em IRC das importâncias pagas
ou devidas a pessoas singulares ou coletivas residentes fora do território português
e aí submetidas a um regime fiscal claramente mais favorável, abordando igualmente
a limitação da dedutibilidade fiscal.

Por Rui Portela*, João Cabaços** e Helena Saraiva*** | Artigo recebido em dezembro de 2021

P
retendemos neste artigo abor- tigative Journalists - ICIJ , na sigla raísos fiscais para evitar a tributação
dar o enquadramento fiscal em em inglês), denominada Pandora Pa- no país, cerca de um quarto do PIB,
imposto sobre o rendimento pers, que veio revelar que 35 líderes e, com isso, perdidas receitas fiscais
das pessoas coletivas (IRC) das im- mundiais (alguns atualmente ainda num valor equivalente a um por cen-
portâncias pagas ou devidas, a qual- nesses cargos) e mais de 330 políticos to do PIB.
quer título, a pessoas singulares ou e funcionários públicos, de 91 países Pode definir-se “paraíso fiscal”
coletivas residentes fora do território e territórios, esconderam fortunas de como «um país ou um território que
português e aí submetidas a um regi- milhares de milhões de dólares em atribua a pessoas físicas ou coletivas
me fiscal claramente mais favorável, offshores para não pagarem impostos vantagens fiscais suscetíveis de evi-
abordando a limitação da dedutibili- nos seus países de origem. tar a tributação no seu país de origem
dade fiscal das importâncias pagas ou Num dos Taxation Papers emitidos ou de beneficiar de um regime fiscal
devidas a essas entidades e as tributa- pela Comissão Europeia Vellutini et mais favorável», ou seja, um “paraí-
ções autónomas. al.(2019), estimou-se que residentes so fiscal” é um país onde existe um
A problemática destes regimes, tam- fiscais da União Europeia detinham sistema tributário que é mais favo-
bém designados de paraísos fiscais 1,5 biliões de euros em paraísos fis- rável para o contribuinte do que o do
, encontra-se na ordem do dia face cais offshore em 2016, o equivalente Estado onde tem a sua residência.
aos recentes casos noticiados em a cerca de 10 por cento do produto Os “paraísos fiscais” são uma rea-
diversos canais de comunicação na da UE, originando perdas de receita lidade que evolui com a sociedade,
sequência da publicação de uma in- fiscal na ordem dos 46 mil milhões tendo a globalização dos sistemas
vestigação do Consórcio Internacio- de euros em cada ano. Entre 2004 e financeiros, a não harmonização da
nal de Jornalistas de Investigação 2016, em Portugal terão sido desvia- matéria fiscal, a livre circulação de
(International Consortium of Inves- dos 50 mil milhões de euros para pa- pessoas e capitais, o surgimento de

ABRIL 2022 53
FISCALIDADE

novos instrumentos financeiros e o OCDE, têm vindo a adotar diversas tributária (LGT) aditado pelo artigo
desenvolvimento tecnológico, con- medidas antiabuso destinadas a pre- 214.º da Lei n.º 83-C/2013, de 31 de
tribuído para o aumento da procura venir e sancionar os agentes que pra- dezembro (OE/2014), nomeadamen-
por estes territórios. ticam esse tipo de comportamentos te:
Embora a sua existência seja legal, e anular as vantagens fiscais ilegal- - Inexistência de um imposto de na-
e até defendida por alguns, nomea- mente obtidas. tureza idêntica ou similar ao IRC ou,
damente por proporcionarem in- Assim, vários países, incluindo Por- existindo, a taxa aplicável seja infe-
vestimentos às regiões desfavoreci- tugal, instituíram listas negras, onde rior a 60 por cento da taxa geral desse
das onde muitos deles se situam, é se incluem países, territórios ou re- imposto;
inegável que, devido às suas parti- giões, qualificados como “paraísos - As regras de determinação da ma-
cularidades, os paraísos fiscais são fiscais” ou sujeitos a regimes de tri- téria coletável sobre a qual incide o
também bastante utilizados com o butação privilegiada, no âmbito dos imposto sobre o rendimento divir-
intuito de realizar atividades ilícitas impostos sobre o rendimento e sobre jam significativamente dos padrões
e criminosas, como por exemplo a la- o património. As consequências da internacionalmente aceites ou pra-
vagem de dinheiro, as fraudes finan- inclusão nessa lista situam-se, prin- ticados;
ceiras e a constituição de instituições cipalmente, ao nível da aplicação de - A existência de regimes especiais
fantasmas. taxas de tributação agravadas, da li- ou de benefícios fiscais dos quais re-
Devido ao facto de alguns “paraí- mitação na dedutibilidade de gastos e sulte uma redução substancial da tri-
sos fiscais” serem utilizados como na instituição de tributações autóno- butação; e
mecanismos de elisão e evasão fis- mas sobre negócios realizados com - A legislação ou a prática adminis-
cal, são muitos os organismos que essas jurisdições, estando previstas trativa não permitir o acesso e troca
se erguem contra estes, sendo um normas específicas em diversos có- efetiva de informações relevantes
dos mais ativos a Organização para digos fiscais. para efeitos fiscais.
a Cooperação e o Desenvolvimento Os critérios gerais que Portugal defi- Adicionalmente, o n.º 5 deste artigo
Económico (OCDE). niu para inclusão de um país ou terri- contém uma cláusula que permite à
Nesse sentido, os Estados, frequente- tório nessa lista constam atualmente Administração Tributária, preen-
mente sob a égide das iniciativas da no n.º 2 do art.º 63.º-D da Lei Geral chendo os pressupostos nele refe-

54 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

ridos, poder considerar uma juris- gatoriedade de publicação do valor Combate à Fraude e Evasão Fiscais e
dição não incluída na referida lista anual das transferências realizadas. Aduaneiras e dados estatísticos que
como um paraíso fiscal. Ao invés, no Numa vertente iminentemente fis- demonstram a materialidade do va-
n.º 6 desse artigo está uma cláusula cal, desenvolveremos as cláusulas lor das transferências realizadas para
de salvaguarda que exclui do âmbito específicas antiabuso previstas no estas jurisdições e os ajustamentos
de aplicação desta base legal os paí- CIRC no que respeita à dedutibilida- fiscais que as empresas portuguesas
ses membros da União Europeia e, de em sede de IRC das importâncias têm declarado nas suas declarações
ainda, os países que fazem parte do pagas ou devidas, a qualquer título, a de rendimentos por via da aplicação
Espaço Económico Europeu com os pessoas singulares ou coletivas resi- destas normas aqui analisadas, se-
quais existam instrumentos vincu- dentes fora do território português e guido das conclusões gerais.
lativos de cooperação administrativa aí submetidas a um regime fiscal cla-
interestadual equivalentes aos exis- ramente mais favorável bem como a A lista dos países, territórios
tentes no quadro da União Europeia. tributação autónoma prevista para e regiões com um regime fiscal
Neste artigo, atendendo ao objetivo este tipo de fluxos financeiros. claramente mais favorável
definido, não iremos desenvolver es- Feito este enquadramento, analisa- No sistema fiscal português, a pri-
ses critérios, pelo que se aconselha a remos aspetos relacionados com a meira lista de países, territórios e
sua consulta. prova e processos a ela associados, regiões com um regime fiscal cla-
Iremos, no entanto, nos pontos se- com enquadramento jurispruden- ramente mais favorável surge com a
guintes, analisar as principais ques- cial, que os sujeitos passivos terão de Portaria n.º 377-B/94, de 15 de junho,
tões relacionadas com a temática ge- cumprir de forma a evitar que estas onde são identificadas 53 jurisdições.
ral deste trabalho, começando pela cláusulas antiabuso sejam aplicadas. A publicação desta portaria resul-
identificação da lista com os países, Também pela sua atualidade, a ques- ta do Decreto-Lei n.º 88/94 que re-
territórios e regiões com um regime tão da articulação destas normas in- gulamentou a isenção de tributação
fiscal claramente mais favorável. ternas com as CDT é contextualizada dos rendimentos de títulos da dívida
Depois abordaremos a obrigação le- face ao enquadramento dado pela pública detidos por não residentes,
gal da comunicação bancária à AT Autoridade Tributária e Aduanei- excluindo de tal isenção os auferidos
das transferências bancárias reali- ra (AT) e pelo Centro de Arbitragem por residentes em países, territórios
zadas para essas jurisdições, por nú- Administrativa (CAAD). ou regiões cujo regime de tributação
mero de contribuinte do ordenante Por último, apresentaremos o Rela- se mostre claramente mais favorável
e respetivo valor, bem como a obri- tório de Atividades Desenvolvidas de do que o correspondente à tributação
daqueles em território português.
Houve, entretanto, diversas altera-
ções a esta lista, publicadas através
de sucessivas portarias.
Atualmente, estes países, territórios
e regiões estão identificadas na Por-
taria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro,
com a alteração subsequente produ-
zida pela Portaria n.º 292/2011, de 8
de janeiro (na qual foram retirados
da lista o Chipre e Luxemburgo) e
Portaria n.º 309-A/2020, de 31 de
dezembro (na qual é retirado da lista
Andorra).
No quadro 1 identificam-se os países,
territórios e regiões com um regime
fiscal claramente mais favorável,
atualmente em vigor conforme por-
tarias referenciadas:

ABRIL 2022 55
FISCALIDADE

Quadro 1: Países, territórios e regiões com um regime fiscal mais favorável


1) Revogado; 23) Ilhas Falkland ou Malvinas; 45) Ilhas Marshall; 67) São Marino;

2) Anguilha; 24) Ilhas Fiji; 46) Maurícias; 68) Ilha de São Pedro e Miguelon;

3) Antígua e Barbuda; 25) Gâmbia; 47) Mónaco; 69) São Vicente e Grenadinas;

4) Antilhas Holandesas; 26) Grenada; 48) Monserrate; 70) Seychelles;

5) Aruba; 27) Gibraltar; 49) Nauru; 71) Suazilândia;

6) Ascensão; 28) Ilha de Guam; 50) Ilhas Natal; 72) Ilhas Svalbard;

7) Bahamas; 29) Guiana; 51) Ilha de Niue; 73) Ilha de Tokelau;

8) Bahrain; 30) Honduras; 52) Ilha Norfolk; 74) Tonga;

9) Barbados; 31) Hong Kong; 53) Sultanato de Oman; 75) Trinidad e Tobago;

10) Belize; 32) Jamaica; 54) Ilhas Pacífico; 76) Ilha Tristão da Cunha;
11) Ilhas Bermudas; 33) Jordânia; 55) Ilhas Palau; 77) Ilhas Turks e Caicos;

12) Bolívia; 34) Ilhas Keslim; 56) Panamá; 78) Ilha Tuvalu;

13) Brunei; 35) Ilha de Kiribati; 57) Ilha de Pitcairn; 79) Uruguai;

14) Ilhas do Canal (Alderney, 36) Koweit; 58) Polinésia Francesa; 80) República de Vanuatu;
Guernesey, Jersey, Great Stark,
Herm, Little Sark, Brechou,
Jethou e Lihou);
15) Ilhas Cayman; 37) Labuán; 59) Porto Rico;

16) Ilhas Cocos e Kelling; 38) Líbano; 60) Quatar; 81) Ilhas Virgens Britânicas;

17) Revogado; 39) Libéria; 61) Ilhas Salomão; 82) Ilhas Virgens dos Estados
Unidos da América;
18) Ilhas Cook; 40) Liechtenstein; 62) Samoa Americana; 83) República Árabe do Yémen.

19) Costa Rica; 41) Revogado 63) Samoa Ocidental;

20) Djibouti; 42) Ilhas Maldivas; 64) Ilha de Santa Helena;

21) Dominica; 43) Ilha de Man; 65) Santa Lúcia;

22) Emiratos Árabes Unidos; 44) Ilhas Marianas do Norte; 66) São Cristóvão e Nevis;

Fonte: Elaboração própria com base na legislação mencionada

Comunicação bancária envio de fundos que tenham como termos do n.º 4 do artigo 63.º do
e publicação do valor anual destinatário entidade localizada em Código do IRC, sempre que a ins-
das transferências país, território ou região com regi- tituição de crédito, sociedade fi-
O n.º 2 do artigo 63.º -A da LGT me de tributação privilegiada mais nanceira ou entidade prestadora
prevê a obrigatoriedade de as ins- favorável que não sejam relativas de serviços de pagamento tenha ou
tituições de crédito, as sociedades a operações efetuadas por pessoas devesse ter conhecimento de que
financeiras e as demais entidades coletivas de direito público. aquelas transferências ou envios de
que prestem serviços de pagamento Esta obrigação de comunicação fundos têm como destinatário final
comunicarem à Autoridade Tribu- abrange igualmente as transferên- uma entidade localizada em país,
tária e Aduaneira (AT), até ao final cias e os envios de fundos efetua- território ou região com regime de
do mês de março de cada ano, atra- dos através das respetivas sucur- tributação privilegiada mais favo-
vés de declaração de modelo oficial, sais localizadas fora do território rável, tal como previsto no n.º 7 do
aprovada por portaria do membro português ou de entidades não re- artigo 63.º-A da LGT.
do Governo responsável pela área sidentes com as quais exista uma A referida comunicação é feita
das finanças, as transferências e situação de relações especiais, nos através da denominada «Declara-

56 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

ção de Operações Transfronteiras» ra está obrigada a publicar anual- Cláusulas específicas antiabuso
- modelo 38. O modelo que está mente, no seu sítio na Internet, o no CIRC relativas à dedutibilidade
em vigor foi aprovado pela Portaria valor total anual das transferên- de gastos e tributações autónomas
n.º 191/2017, de 16 de junho, sen- cias e envio de fundos, bem como Em matéria de imposto sobre o ren-
do utilizado para a comunicação de o motivo da transferência, por ca- dimento das pessoas coletivas, o le-
operações relativas a transferên- tegoria de operação e de acordo gislador nacional introduziu diver-
cias e envios de fundos efetuados a com a respetiva tipologia, quando sas cláusulas específicas antiabuso.
partir de 1 de janeiro de 2016 e anos tenham como destinatários países, Iremos aqui analisar as que constam
seguintes. territórios e regiões com regime de nos artigos 23.º-A e 88.º do código do
Nesta portaria clarificam-se as tributação privilegiada mais favo- IRC por entendermos serem aquelas
instruções de preenchimento no rável, tal como definido no n.º 3 que comummente se verificam.
sentido de terem de ser reportadas do artigo 63.º-A da LGT (obrigação Assim, decorre do artigo 23.º-A do
não apenas as transferências indi- que foi criada pela Lei n.º 14/2017, CIRC (com a redação atualmente em
viduais superiores a 12 500 euros de 3 de maio, que alterou este n.º 3 vigor):
mas também as operações fracio- do artigo 63.º-A da LGT). «1 - Não são dedutíveis para efeitos
nadas que no seu conjunto exce- Ou seja, a AT dispõe anualmente da da determinação do lucro tributá-
dam aquele montante, para todas identificação das pessoas singula- vel os seguintes encargos, mesmo
as jurisdições constantes do anexo res e coletivas que transferiram di- quando contabilizados como gastos
III do aviso do Banco de Portugal nheiro para estas jurisdições, bem do período de tributação:
n.º 8/2016. como o valor dessas transferências, (…)
Tendo por base esta informação, a analisando o cumprimento das r) As importâncias pagas ou devidas,
Autoridade Tributária e Aduanei- normas fiscais em vigor. a qualquer título, a pessoas singu-

ABRIL 2022 57
FISCALIDADE

lares ou coletivas residentes fora do pagas ou devidas, a qualquer título, a casos, visam-se operações não reais
território português e aí submetidas pessoas singulares ou coletivas resi- ou falsas, cuja veracidade seria sem-
a um regime fiscal a que se referem dentes fora do território português e pre de difícil contestação ao nível da
os números 1 ou 5 do artigo 63.º-D aí submetidas a um regime fiscal cla- prova pela Administração Fiscal; no
da Lei Geral Tributária, ou cujo pa- ramente mais favorável a que se refe- segundo, operações reais pretendi-
gamento seja efetuado em contas re o n.º 1 do artigo 63.º-D da Lei Geral das pelas partes, embora por vezes
abertas em instituições financeiras Tributária, ou cujo pagamento seja estruturadas de modo a obter uma
aí residentes ou domiciliadas, salvo efetuado em contas abertas em ins- vantagem fiscal indevida. Sendo que,
se o sujeito passivo provar que tais tituições financeiras aí residentes ou para ambos os casos, se determinou
encargos correspondem a operações domiciliadas, salvo se o sujeito passi- como sanção a não dedução de tais
efetivamente realizadas e não têm vo puder provar que correspondem a quantias para efeitos de determi-
um caráter anormal ou um montante operações efetivamente realizadas e nação do lucro tributável, salvo de-
exagerado. não têm um caráter anormal ou um monstração em contrário da previsão
(…) montante exagerado.» pelo contribuinte (inversão do ónus
7 - O disposto na alínea r) do n.º 1 De ressalvar que esta tributação au- da prova).»
aplica-se igualmente às importân- tónoma também se aplica aos sujeitos
cias indiretamente pagas ou devidas, passivos sob o regime simplificado As provas e a inversão
a qualquer título, às pessoas singu- de determinação da matéria coletá- do ónus da prova
lares ou coletivas residentes fora do vel, uma vez que a sua exclusão não Sobre esta temática da substância da
território português e aí submetidas está prevista no n.º 16 do artigo 88.º prova e inversão do ónus, importa
a um regime fiscal claramente mais do CIRC. analisar a jurisprudência existente.
favorável a que se referem os núme- Assim, resulta das normas apresen- Para tal, iremos apresentar extra-
ros 1 ou 5 do artigo 63.º-D da Lei Geral tadas que os princípios gerais de de- tos de dois Acórdãos, um do Cen-
Tributária, quando o sujeito passivo dutibilidade dos gastos, definidos no tro de Arbitragem Administrativa
tenha ou devesse ter conhecimento CIRC, são objeto de um dever acres- (CAAD) e outro do Tribunal Central
do seu destino, presumindo-se esse cido de fundamentação e comprova- Administrativo (TCA), que, pela sua
conhecimento quando existam rela- ção no caso de pagamentos a enti- importância, são, no entanto, refe-
ções especiais, nos termos do n.º 4 do dades não residentes em Portugal e renciados em muitas outras decisões
artigo 63.º, entre o sujeito passivo e as localizadas em países, territórios ou judiciais:
referidas pessoas singulares ou cole- regiões com um regime fiscal clara- Acórdão do CAAD
tivas, ou entre o sujeito passivo e o mente mais favorável, assim identi- «Conforme já amplamente discuti-
mandatário, fiduciário ou interposta ficados, como forma de obviar à ero- do no Acórdão relativo ao Proc. n.º
pessoa que procede ao pagamento às são da base tributável, não bastando 198/2017-T:
pessoas singulares ou coletivas. a comprovação formal da existência Trata-se duma dupla prova que in-
8 - A Autoridade Tributária e Adua- dos gastos mas a comprovação mate- cumbirá ao sujeito passivo produzir o
neira notifica o sujeito passivo para rial das operações e da normalidade qual, em primeiro lugar, tem de de-
produção da prova referida na alínea dos valores declarados, cabendo o monstrar que os gastos se materiali-
r) do n.º 1, devendo, para o efeito, ser ónus da prova ao sujeito passivo da zaram em atos efetivos, não bastando
fixado um prazo não inferior a 30 relação jurídica tributária. a mera existência formal tais como
dias.» Como explica Courinha (2004): contratos, faturas e transferências
Sendo sujeitas a tributação autóno- «Nestes casos, encontramo-nos bancárias e, em segundo lugar, que
ma, tal como previsto no artigo 88.º, diante de uma reação especial de esses gastos não são anormais ou
n.º 8 do CIRC (com a redação atual- caráter anti abusivo, que contempla excessivos, o que se poderá operar
mente em vigor): nitidamente situações de manifesta mediante a confrontação com situa-
«8 — São sujeitas ao regime dos nú- simulação fiscal – “operações efe- ções comparáveis de mercado num
meros 1 ou 2, consoante os casos, tivamente realizadas” – e outras de contexto de plena concorrência.»
sendo as taxas aplicáveis, respeti- planeamento abusivo – “operações Processo n.º 313/2019-T, do CAAD de
vamente, 35 % ou 55 %, as despe- (com) carácter anormal ou um mon- 4 de maio de 2020 que julgou um caso
sas correspondentes a importâncias tante exagerado”. No primeiro dos de desconsideração dos gastos com

58 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

os serviços prestados por empresas art.º.352 e seg. do C. Civil). ração dessas vantagens, mormen-
residentes em Hong-Kong e uma em No que diz respeito à prova da ve- te, por comparação com os custos
Malta. racidade da operação não bastará de serviços análogos no mercado.»
Acórdão do TCA - «A introdução da a exibição de documentos escritos, Acórdão proferido em 19 de feve-
solução da inversão do ónus da prova nomeadamente contratos celebra- reiro 2015, no processo 08126/14 no
ora em exame foi adotada por inspi- dos entre as partes, já que estes se Tribunal Central Administrativo do
ração do art.º 238-A, do Côde Géne- presumem simulados, nem a de- Sul (TCAS), que julgou um caso de
ral des Impôts francês. Trata-se da monstração do pagamento do pre- pagamento a entidades não residen-
aplicação da regra de não aceitação ço, pois tal não é posto em causa. O tes e sujeitas a um regime fiscal pri-
de encargos dedutíveis quando em que deve ser objeto de prova é an- vilegiado, evidenciando a impor-
causa estão pagamentos efetuados tes a efetiva prestação de serviços, tância da demonstração das provas,
a pessoas singulares ou sociedades ou o recebimento de um emprésti- em detrimento da forma.
instaladas em paraísos fiscais, a me- mo, ou seja, o facto comercial que
nos que o sujeito passivo faça prova esteve na origem do pagamento do Processo de produção de prova
dos vetores supra identificados: mesmo preço que surge como custo Sobre o processo de apresentação e
1 - Estarmos perante operações efeti- a deduzir em sede de IRC. Já quanto análise das provas, dispõe o n.º 8 do
vamente realizadas; à prova da inexistência do caráter artigo 23.º-A do CIRC, a AT notifica o
2 - Que não têm um caráter anormal anormal ou exagerado das despesas sujeito passivo para apresentação da
ou que o montante em causa não é esta deve passar pela demonstração prova, devendo para o efeito ser fi-
exagerado. de que o contrato, cuja veracidade xado um prazo não inferior a 30 dias.
Desde logo, se deverá referir que se provou, se apresenta equilibrado. Cabe ao sujeito passivo apresentar
não exige a lei qualquer formalis- Para esse efeito, o sujeito passivo os meios de prova da efetividade do
mo nestas provas, assim vigoran- deverá demonstrar qual a impor- gasto e do caráter normal e não exa-
do quanto às mesmas o sistema da tância real das vantagens auferidas gerado, competindo à AT avaliar se a
prova livre e podendo socorrer-se o pelo contrato em causa, tal como prova apresentada cumpre os requi-
sujeito passivo de todos os meios de fazer prova que os encargos estabe- sitos de efetividade, o caráter normal
prova permitidos pela lei (cfr. v.g. lecidos constituem a justa remune- e montante não exagerado.

ABRIL 2022 59
FISCALIDADE

Regimes fiscais privilegiados gamento de comissões a consultores salvaguardou-se a possibilidade de


e as convenções de dupla tributação imobiliários de Hong Kong por parte proceder à sua aplicação ao prever-se,
Uma outra questão que impor- de uma empresa portuguesa e na qual no artigo 27.º da CDT que «o disposto
ta também analisar neste domínio profere, resumidamente e no que res- no presente Acordo não prejudicará
prende-se com as situações em que peita a esta temática, o seguinte en- o direito de cada Parte Contratante
as empresas emitentes das faturas ou tendimento: de aplicar a sua legislação e medidas
destinatárias dos pagamentos este- - A questão tem de ser analisada com internas relativas à evasão fiscal, quer
jam domiciliadas em países, territó- base na articulação entre as normas seja ou não qualificada como tal»,
rios ou regiões com um regime fiscal convencionais e as normas internas, disposição esta que é, igualmente,
claramente mais favorável, mas com aplicando-se a legislação interna, a aplicável às normas do CIRC em apre-
os quais esteja em vigor uma con- menos que exista norma convencional ço.
venção de dupla tributação (CDT) que limite ou elimine os seus efeitos; Também o CAAD, no processo n.º
celebrada com Portugal. Ou seja, em - Não existindo na CDT celebrada 102/2019-T, com data de 25 de se-
que medida a aplicação da norma qualquer referência expressa ao tra- tembro de 2019, em que é analisada a
antiabuso prevista no artigo 23.º-A tamento fiscal dos rendimentos pa- dedução fiscal em sede de IRC e res-
n.º 1 r) e a tributação autónoma de- gos a entidades residentes em Hong petiva tributação autónoma relacio-
finida no artigo 88.º, n.º 8 do CIRC, Kong em função do facto desta re- nada com gastos suportados com as
são compatíveis com as convenções gião administrativa se encontrar comissões pagas a entidades sediadas
de dupla tributação vigentes. incluída na lista relativa a países, em Hong Kong e nos Emirados Árabes
A AT publicou a informação vincula- territórios e regiões, com regimes de Unidos (Dubai), decidiu, que apesar
tiva - Processo: 11 175/2019, despacho tributação privilegiada claramente de estarem em vigor convenções para
de 26/12/2019, da subdiretora-geral mais favoráveis, terão plena aplica- evitar a dupla tributação com essas
da Área do IR, a qual tem por base o ção as normas internas; jurisdições, não implica que normas
enquadramento fiscal em IRC do pa- - Na CDT celebrada com Hong Kong fiscais como as que se encontram em

60 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

análise não possam vigorar no or- o relatório detalhado sobre a evolu- tras áreas da Autoridade Tributária
denamento jurídico português. Isto ção do combate à fraude e à evasão e Aduaneira e de outras entidades
porque, relativamente a algumas ma- fiscais, deve incluir a evolução dos que colaboram no combate à fraude
térias (como a competência para tri- montantes de transferências e envio e evasão fiscais e aduaneiras relati-
butar determinados rendimentos ou de fundos quando tenham como des- vamente a esta matéria, designada-
as taxas a que esses rendimentos po- tinatários países, territórios e regiões mente quanto a número de inspeções
dem ser tributados em cada país), as com regime de tributação privilegia- realizadas, divergências detetadas,
normas convencionais primam sobre da mais favorável, nos termos do n.º 3 correções à matéria coletável, liqui-
o direito interno. No entanto, isto não do artigo 63.º-A. dação de imposto correspondente e
inviabiliza que Portugal possa aplicar Também devem ser incluídos os re- remessa ao Ministério Público.
normas que permitem a limitação da sultados da ação da inspeção tribu- Assim, no Relatório sobre o Com-
dedutibilidade fiscal de pagamentos tária, da justiça tributária, de ou- bate à Fraude e Evasão Fiscal e
realizados a entidades de jurisdições
de tributação mais favorável, ou a
Quadro 2: Transferências e envio de fundos - Modelo 38
aplicação de taxas de tributação au- valores em milhões de euros
tónoma mais elevadas, uma vez que
Modelo 38 2016 2017 2018 2019
são normas internas cuja aplicação
não está limitada pelas convenções N.º de transferências 93 654 102 305 113 906 105 361
em vigor.
Valor 10 552 10 381 8 963 5 985
Tendo por base a doutrina emana-
da pela AT e a decisão do CAAD, Fonte: Autoridade Tributária (outubro 2021).

podemos concluir na convergência


Quadro 3: Apuramento do lucro tributável – entidades que declaram nos campos 746 e 439
de posições sobre a legitimidade da
valores em milhões de euros
aplicação destas disposições legais,
DESIGNAÇÃO 2017 2018 2019
independentemente de estar em vigor
uma CDT com a jurisdição do forne- Número de declarações 2 5 3

cedor ou destinatário do pagamento Valor declarado 0,00019225 0,12303035 0,46007846


efetuado ou devido. Fonte: AT - Autoridade Tributária e Aduaneira (Portal das Finanças, outubro de 2021)

Relatório de atividade desenvolvidas Quadro 4: Tributações autónomas declaradas


valores em milhões de euros
de combate à fraude e evasão fiscais
e aduaneiras DESIGNAÇÃO 2017 2018 2019

O artigo 64.º-B da LGT - Combate à Número de declarações 2 0 2


fraude e à evasão fiscais, estabelece
Valor 0,00051466 0 0,00164563
a obrigação de o Governo apresen-
Fonte: AT - Autoridade Tributária e Aduaneira (Portal das Finanças, outubro de 2021)
tar à Assembleia da República, até
ao final do mês de junho de cada Quadro 5: Transferências efetuadas para offshores e territórios com tributação
ano, um relatório detalhado sobre privilegiada no ano de 2020
valores em milhões de euros
a evolução do combate à fraude e à
Não residentes
evasão fiscais em todas as áreas da
Residentes (NIF iniciados por 45 Total
tributação, explicitando os resul- Tipo de sujeito
ou 71)
passivo
tados alcançados, designadamen- N.º de N.º de N.º de
Valor Valor Valor
te quanto ao valor das liquidações ordenantes ordenantes ordenantes
Pessoas em nome
adicionais realizadas, bem como 4 973 499 235 17 5 208 516
individual
quanto ao valor das coletas recupe- Pessoas
6 180 4 333 380 1 996 6 560 6 329
radas nos diversos impostos. coletivas
Com a Lei n.º 14/2017, de 3 de maio, Total 11 153 4 832 615 2 013 11 768 6 845
foi aditada a alínea d) ao n.º 2 do arti- Fonte: AT - Autoridade Tributária e Aduaneira, (Dados recolhidos em Portal das Finanças/Estatísticas,
go 64.º-B da LGT, estabelecendo que outubro de 2021

ABRIL 2022 61
FISCALIDADE

Aduaneira (Autoridade Tributária, contencioso, com montante contes- portâncias pagas ou devidas a en-
2021: 104-105), consta a informa- tado global de 6,5 milhões de euros; tidades não residentes sujeitas a
ção apresentada no quadro 2, que - Foram proferidas sete decisões, sen- um regime fiscal privilegiado [art.º
apresenta o número de transferên- do cinco favoráveis ao Estado e duas 23.º-A, n.º 1, al. r)]» e campo 439
cias e respetivo valor, declaradas parcialmente favoráveis aos sujeitos «Importâncias pagas ou devidas a
na modelo 38. passivos. O valor global desfavorável entidades não residentes sujeitas a
A Inspeção Tributária tem vindo a uti- aos sujeitos passivos foi de 2,5 milhões um regime fiscal privilegiado [art.º
lizar com regularidade a informação de euros e o valor favorável foi de 0,15 88.º , n.ºs 1 e 8] residentes que não
disponibilizada por esta declaração na milhões de euros; exercem a título principal, atividade
identificação de sujeitos passivos de - Foram instaurados processos de in- comercial, industrial ou agrícola,
risco, tendo por base as transferências quérito pela prática do crime de frau- regime simplificado ou OIC abran-
que efetuaram. de fiscal na sequência de duas ações gidos pelo art.º 22.º, n.º 8 do EBF)»,
Consta nesse relatório que, em inspetivas. obtêm-se os dados constantes no
2020, foram realizados 204 proce- quadro 3 relativos às entidades que
dimentos inspetivos, com corre- Estatísticas do Portal das Finanças declaram nos campos referidos da
ções e regularizações voluntárias Através da análise dos dados es- declaração modelo 22.
de 13,3 milhões de euros de maté- tatísticos sobre as declarações Em seguida, analisando as tributa-
ria coletável e 11,8 milhões de eu- modelo 22 de IRC, publicados na ções autónomas declaradas, obtém-
ros de imposto. página da AT, no que respeita ao -se a informação constante no qua-
E ainda que, nesse mesmo ano: número de declarações com valo- dro 4.
- Foram instaurados 11 processos de res declarados no campo746 «Im- Os dados mostram que em 2020

62 CONTABILISTA 265
FISCALIDADE

foram realizadas transferências no cação de taxas de tributação autóno- - Publicações – Revista Contabilista –
valor total de 6 845 milhões de eu- ma mais elevadas, visam prevenir Bibliografia»)
ros (quadro 5), representando este práticas de evasão e fraude fiscais, Nota
valor uma variação de mais 14,3 por crescentemente de dimensão inter- 1
Não obstante a existência de alguma con-
cento relativamente ao ano anterior nacional, com vista a restringir a trovérsia na utilização da terminologia,
(cerca de 900 milhões de euros), deslocalização de rendimentos para neste artigo utilizaremos as expressões
tendo a maior parcela (4 832 mi- tais jurisdições. territórios e regiões com um regime fiscal
lhões de euros) sido realizada por No que respeita à dedutibilidade de claramente mais favorável e paraísos fiscais
residentes e o restante valor por não gastos, as disposições legais ana- com o mesmo alcance e significado.
residentes. lisadas no presente artigo transfe- 2
Disponível em https://ec.europa.eu/taxa-
Da análise aos dados obtidos, veri- rem para a esfera do sujeito passivo tion_customs/system/files/2019-10/2019-
fica-se que os principais destina- o ónus de prova associado à dedu- -taxation-papers-76.pdf.
tários identificados na Portaria n.º tibilidade em IRC dos gastos decla- 3
Abrange as jurisdições identificadas na
150/2004 foram as Bahamas (988,8 rados, cabendo àquele demonstrar: Portaria n.º 150/2004, de 13 de fevereiro
milhões de euros) e Hong Kong que as operações em causa são reais, com as alterações subsequentes e ainda:
(com 953,7 milhões de euros). não tendo natureza evasiva; que tais Cabo Verde; Chipre; Delaware; Egito; Fili-
operações são motivadas por razões pinas; Guatemala; Indonésia; Irão; Região
Considerações finais de mercado; que a importância paga Administrativa de Macau; Malásia; Ilhas
Conforme se infere do preâmbulo da ou devida não apresenta um mon- Menores (EUA); Mianmar; Nevada; Nigéria;
Portaria n.º 150/2004, de 13 de feve- tante exagerado. Oklahoma; Paquistão; S. Tomé e Príncipe;
reiro, a luta contra a evasão e fraude Noutra vertente analisada, o facto Ilhas Sandwich do Sul; Singapura; Suíça;
internacionais passa pela adoção de de Portugal ter assinado convenções Turquemenistão; Ucrânia; Usbequistão;
medidas antiabuso, traduzidas em para evitar a dupla tributação com Wyoming*Cabo Verde; Chipre; Delawa-
práticas restritivas no âmbito dos as jurisdições identificadas na “lis- re; Egito; Filipinas; Guatemala; Indoné-
impostos sobre o rendimento e sobre ta” não implica que normas fiscais sia; Irão; Região Administrativa de Macau;
o património, benefícios fiscais e como as que se encontram em aná- Malásia; Ilhas Menores (EUA); Mianmar;
imposto do selo, que têm como alvo lise não possam vigorar no ordena- Nevada; Nigéria; Oklahoma; Paquistão; S.
operações realizadas com entidades mento jurídico português. Tomé e Príncipe; Ilhas Sandwich do Sul;
localizadas em países, territórios ou Por último, a AT dispõe anualmente Singapura; Suíça; Turquemenistão; Ucrâ-
regiões qualificados como “paraísos da informação dos montantes trans- nia; Usbequistão; Wyoming
fiscais” ou sujeitos a regimes de tri- feridos e identificação dos respeti- 4
Portaria n.º 256/2017, de 14 de agosto re-
butação privilegiada. vos ordenantes, para os denomina- gulamentou a publicação pela Autoridade
Face às dificuldades em definir dos “paraísos fiscais”, cabendo-lhe, Tributária e Aduaneira da informação re-
«paraíso fiscal» ou «regime fis- dentro das suas competências, de- lativa às transferências e envios de fun-
cal claramente mais favorável», o senvolver os procedimentos de con- dos, a que se refere o n.º 3 do artigo 63.º-A
legislador nacional, no esteio das trolo e fiscalização dos valores de- da Lei Geral Tributária, no seu artigo 2.º,
orientações seguidas por outros or- clarados.  bem como a informação relativa às trans-
denamentos jurídico-fiscais, optou, ferências e envios de fundos, que deve
pela identificação dessas jurisdições *Docente na Escola Superior de Tecno- ser incluída no relatório detalhado sobre
em portaria, sendo vulgarmente logia e Gestão - Instituto Politécnico da a evolução do combate à fraude e à evasão
designada como a «Lista», a qual Guarda e Inspetor Tributário da AT fiscais, a ser apresentado pelo Governo à
é suscetível de revisões periódicas **Docente na Escola Superior de Tecno- Assembleia da República, de acordo com o
atendendo aos critérios legalmente logia e Gestão - Instituto Politécnico da artigo 64.º-B da LGT, no seu artigo 3.º.
definidos. Guarda e Inspetor Tributário da AT 5
O Conteúdo da Informação está regu-
A criação de disposições antiabuso ***Docente na Escola Superior de Tecno- lamentado no artigo 3º da Portaria n.º
que permitem a limitação da dedu- logia e Gestão - Instituto Politécnico da 256/2017 de 14 de agosto.
tibilidade fiscal de pagamentos rea- Guarda 6
O Conteúdo da Informação está regu-
lizados a entidades de jurisdições de lamentado no artigo 3.º da Portaria n.º
tributação mais favorável, ou a apli- Bibliografia disponível em («A Ordem 256/2017 de 14 de agosto.

ABRIL 2022 63
COLABORAÇÃO ISCAC

O direito à desconexão
do trabalhador na União Europeia
e no ordenamento jurídico interno
Este artigo reflete sobre o regime do direito à desconexão e suas exceções e,
através de uma análise legal, doutrinal e jurisprudencial, esclarece sobre a importância
que este direito representa no âmbito dos direitos fundamentais do trabalhador.

Christina Oliveira* | Artigo recebido em março de 2022

E ste artigo procura conceptua-


lizar o direito à desconexão
aludindo à sua consagração ao ní-
go do Trabalho, bem como no artigo
169.º - B do mesmo Código relativa-
mente ao teletrabalho.
Enquadramento, concetualização e
eventuais obstáculos sentidos
Com o advento das novas tecnolo-
vel da União Europeia e no nosso Este artigo reflete sobre o regime gias de informação e comunicação, a
ordenamento jurídico interno. Para do direito à desconexão e suas ex- nossa sociedade surge caraterizada
tal, faz-se expressa referência à Re- ceções contribuindo, assim, para a como uma «sociedade conectada»,
solução do Parlamento Europeu, de análise crítica do tema. Através de pautada por uma facilidade de co-
21 de janeiro de 2021, relativa ao di- uma análise legal, doutrinal e ju- municação, em qualquer período
reito à desconexão em que se apela risprudencial elucida-se a comu- e em qualquer lugar, durante as
à Comissão que elabore uma direti- nidade científica e a sociedade em 24 horas do dia, por telefone, sms,
va nesse sentido. Ao nível interno, geral sobre a importância que este Whatsapp, Messenger, Skype, Te-
o direito à desconexão encontra-se direito detém no âmbito dos direi- legram, Facetime, entre outros.
previsto no artigo 199.º - A do Códi- tos fundamentais do trabalhador. Surgem novas realidades nos mo-
delos de organização do trabalho
existindo uma pautada flexibilida-
de no domínio do local e horário de
trabalho. Surgem também novas
formas de trabalho.
Face a um novo mundo de concor-
rência global e desenfreada e face
aos níveis de desemprego existen-
tes, o próprio trabalhador sente-se
instigado a demonstrar uma reite-
rada prontidão para com o empre-
gador, uma reiterada disponibili-
dade.
Poder-se-á afirmar que se trata de
uma «servidão coletivamente va-
lorizada» em que se demarca como
uma «normalidade» responder a
um email fora do tempo de traba-

64 CONTABILISTA 265
COLABORAÇÃO ISCAC

lho ou atender telefonemas em pe-


ríodos reservados para o descanso «Em matéria do regime jurídico do teletrabalho prevê-se que o
do trabalhador. direito à privacidade do trabalhador deva ser respeitado, assim
Estritamente relacionado com o como o seu horário de trabalho, períodos de descanso e de repouso
direito à desconexão está o direito e da sua família. Sendo o teletrabalho realizado no domicílio do
fundamental à integridade, ao la- trabalhador (...) deve ter lugar durante o seu horário de trabalho.»
zer, à segurança no trabalho, aos
limites nas jornadas de trabalho, o
direito ao descanso, à vida privada
e à família. O direito à descone- os seus períodos de repouso? Esta- quentemente por outra decisão do
xão está intimamente ligado com o rá disposto a correr o risco de ser mesmo tribunal, de 17 de fevereiro
facto de ter de se garantir o direito “desligado” da empresa por fazer de 2004, que decidiu que o facto de
ao descanso e ao lazer, a concilia- valer o seu direito? O Código do o trabalhador não estar contatável
ção da atividade profissional com Trabalho já regula estas situações no no seu telemóvel fora da jornada de
a vida familiar e a intimidade da artigo 199.º - A. trabalho diária não pode ser qua-
vida privada. Na sua maioria são Torna-se necessário desfazer os sen- lificado como uma infração disci-
direitos estritamente conectados timentos de incerteza ou de angústia, plinar .
com o direito à dignidade humana. garantindo ao trabalhador a desco- Também em termos de regulamen-
Acresce também que o direito à nexão, imposta, entre outros, tam- tação coletiva existiram iniciativas
desconexão previne os riscos de bém pelas normas referentes à limi- nesse sentido.
burnout, de doenças cardíacas, de tação dos tempos de trabalho e pela Em 2014, através da Convenção
stress laboral. Estimula a produti- consagração de períodos de descanso Coletiva da Syntec, impôs-se a
vidade também na empresa. bem como pela previsão direta deste desconexão em que «a efetividade
Coloca-se a questão de saber como direito. Torna-se necessário impedir do respeito pelo trabalhador das
este direito poderá ser garantido, esta atitude invasiva do empregador durações mínimas de repouso im-
não obstante ser certo que existem que apenas poderá ser justificada em plica para este último uma obriga-
mecanismos legais excecionais que situações devidamente fundamen- ção de desconexão em relação aos
implicam a disponibilidade do tra- tadas. O mesmo se aplica quanto ao meios de comunicação à distân-
balhador fora do seu período nor- trabalhador. Também nele deve ser cia.»
mal de trabalho. É o que sucede reiterada uma cultura que exprima a Já em 2011, na Alemanha, a Volks-
com a prestação de trabalho suple- eficácia do direito à desconexão. wagen bloqueou os servidores de
mentar. Nestas situações, se não comunicação eletrónica relativa-
existir motivo atendível para a sua Os primeiros sinais do direito mente aos seus trabalhadores entre
dispensa e se o trabalho suplemen- à desconexão na jurisprudência as 18h15m e as 7h00m.
tar for justificado, o trabalhador é estrangeira e a proteção conferida ao Sobre o contexto ao nível da União
obrigado a tal prestação, sem pre- nível da União Europeia Europeia é de frisar que a direti-
juízo da compensação devida a este O direito à desconexão tem origem va relativa a certos aspetos da or-
título. na doutrina, na jurisprudência e no ganização do tempo de trabalho
Relativamente ao direito à desco- domínio da regulamentação coleti- apresenta limites às jornadas de
nexão, estará o trabalhador dis- va do trabalho. trabalho semanal e indica regras
posto a exercer tal direito sujei- O Supremo Tribunal de Justiça, Se- aplicáveis aos períodos de des-
tando-se a eventuais represálias ção Social, de França, em 2 de ou- canso. Estabelece como tempo de
por parte do empregador? Face, tubro de 2001, decidiu que o traba- trabalho médio máximo por cada
por exemplo, a uma futura possi- lhador não tem qualquer obrigação semana as 48 horas; estabelece que
bilidade de progressão na carreira, de aceitar trabalhar em casa ou os trabalhadores têm direito a pelo
estará o trabalhador, exausto, sem levar para esse local os seus fichei- menos 11 horas de descanso diá-
tempo para si, disposto a exercer o ros e instrumentos de trabalho . rio entre cada jornada de trabalho
seu direito à desconexão durante Tal decisão foi confirmada conse- diário; e, estabelece que os traba-

ABRIL 2022 65
COLABORAÇÃO ISCAC

lhadores têm direito a férias anuais mínimos para o trabalho remoto e dos. Este direito foi posteriormente
remuneradas. clarificar as condições de trabalho, transformado em lei a 8 de agosto de
De sublinhar ainda a diretiva so- horas e períodos de descanso. 2016 e está atualmente regulado pelo
bre a conciliação entre a vida pro- O projeto de diretiva define o direito artigo L.2242-17 do Código do Traba-
fissional e a vida familiar dos pro- à desconexão, como o «direito dos lho francês.
genitores e cuidadores . Pretende trabalhadores de não exercerem ta- A abordagem da França inspirou ou-
conciliar a vida profissional e a vida refas ou comunicações fora do horá- tros países da União Europeia. De
familiar exigindo que os Estados- rio de trabalho através de meios di- acordo com um relatório Eurofound
-membros adotem medidas que ga- gitais, como chamadas telefónicas, de 2021, Bélgica, França, Itália e Es-
rantam os direitos dos trabalhadores e-mails ou outras mensagens.» panha têm legislação que inclui o
em matéria de parentalidade. O projeto de diretiva exige que os direito à desconexão e as discussões
Também o Pilar Europeu de Direitos Estados- membros assegurem que as estão em curso noutros Estados-
Sociais, com a finalidade de alcançar entidades patronais tomem as me- -membros.
uma Europa mais social, justa e in- didas necessárias para proporcionar A lei italiana (Lei n.º 81/2017) reco-
clusiva, estabelece 20 princípios que aos trabalhadores os meios necessá- nhece o direito à desconexão dos
devem ser seguidos, destacando-se rios para exercerem o seu direito de trabalhadores remotos. Existem
o nono e o décimo relativos a am- desconexão, reiterando a necessida- também convenções coletivas seto-
bientes de trabalho saudáveis, segu- de de estabelecer um sistema «obje- riais e empresariais que preveem o
ros, com uma equilibrada política de tivo, fiável e acessível» para medir o direito à desconexão.
proteção de dados. Tal encontra-se tempo de trabalho diário. A lei espanhola reconhece este di-
intimamente relacionado com o di- Quanto aos passos dados por alguns reito ao abrigo da legislação em vigor
reito à desconexão. Estados-membros no sentido de im- sobre a proteção de dados no âmbi-
Foi aprovada, em 21 de janeiro de plementar o direito à desconexão, to da legislação laboral. O direito à
2021, uma Resolução pelo Parla- importa aludir ao caso pioneiro da desconexão foi introduzido no âm-
mento Europeu relativa ao direito à França. Já em 2013, um acordo inter- bito da implementação da legislação
desconexão. Apela-se à Comissão sectorial nacional sobre a qualidade europeia de proteção de dados em
a elaboração de uma diretiva que de vida no trabalho incentivou as 2018. A legislação espanhola estabe-
«que permita a quem trabalha digi- empresas a evitar qualquer intrusão lece um quadro jurídico para os par-
talmente desligar-se fora do seu ho- na vida privada dos trabalhadores, ceiros sociais acordarem no direito à
rário de trabalho.» A diretiva deve especificando períodos em que os desconexão nas convenções coleti-
igualmente estabelecer requisitos dispositivos deveriam ser desliga- vas setoriais ou empresariais.

66 CONTABILISTA 265
COLABORAÇÃO ISCAC

A proteção conferida balho estipula os limites ao período tro lado, o trabalhador tem direito a,
pelo ordenamento jurídico normal de trabalho: 8 horas diárias e pelo menos, um dia de descanso por
interno 40 semanais. O sentido que se deduz é semana sendo que, por instrumento
Em Portugal, existiram diversas ini- o de que fora destes períodos o traba- de regulamentação coletiva de traba-
ciativas legislativas sobre este tema lhador não deve estar disponível para lho ou contrato de trabalho, pode ser
para além de existirem normas cons- o empregador. instituído um período de descanso
titucionais e laborais que já impõem Os artigos 199.º, 214.º, 213.º, n.º 1, e semanal complementar, contínuo ou
este direito. 232.º, n.º 1 do Código do Trabalho descontínuo, em todas ou algumas
O recente Projeto de Lei n.º 1217/ referem-se ao período de descanso semanas do ano.
XIII/4.ª do Partido Socialista aprovou do trabalhador impondo períodos Com a aprovação e entrada em vigor
a Carta dos Direitos Fundamentais na mínimos de descanso ao trabalha- da Lei n.º 83/2021, de 6 de dezembro,
era Digital tendo esta iniciativa, po- dor. prevê-se expressamente o direito à
rém, caducado em 2019. Entre outros Nos termos dos artigos elencados, desconexão.
direitos, o artigo 15.º era relativo aos entende-se por período de descanso o O artigo 199.º - A do Código do Tra-
direitos digitais dos trabalhadores. que não seja tempo de trabalho sen- balho prevê que o empregador tem
O art.º 16.º referia-se expressamente do que, em regra, o trabalhador tem o dever de se abster de contactar o
ao direito de os trabalhadores desli- direito a um período de descanso de, trabalhador no período de descan-
garem os aparelhos digitais fora dos pelo menos, 11 horas seguidas en- so, ressalvadas as situações de for-
tempos de trabalho, excecionando-se tre dois períodos diários de trabalho ça maior. Deverá a regulamentação
os contactos a realizar pelo empre- consecutivos. O período de trabalho coletiva, bem como os tribunais de
gador em casos de urgência de força diário deve ser interrompido por um trabalho precisar o conceito concreto
maior ou no quadro de relações pro- intervalo de descanso, de duração desta exceção. Salienta-se, no entan-
fissionais de confiança pessoal. não inferior a uma hora nem supe- to, que se incluem aqui situações im-
As alíneas b) e d) do artigo 59.º da rior a duas, de modo que o trabalha- previstas e urgentes, como incêndios
Constituição da República Portugue- dor não preste mais de cinco horas de ou acidentes; situações externas à or-
sa consagram a conciliação entre a trabalho consecutivo, ou seis horas de ganização do trabalho.
vida pessoal e profissional. trabalho consecutivo caso aquele pe- Esta norma aplica-se a todos os traba-
O artigo 203.º, n.º 1, do Código do Tra- ríodo seja superior a 10 horas. Por ou- lhadores, em regime de teletrabalho e

ABRIL 2022 67
COLABORAÇÃO ISCAC

em regime presencial.
Constitui ação discriminatória qual-
quer tratamento menos favorável
dado a trabalhador, designadamente
em matéria de condições de trabalho
e de progressão na carreira, pelo facto
de exercer o direito ao período de des-
canso, nos termos previstos e consti-
tui contraordenação grave a violação
do preceituado.
Em matéria do regime jurídico do
teletrabalho prevê-se que o direito à
privacidade do trabalhador deva ser
respeitado, assim como o seu horário
de trabalho, períodos de descanso e
de repouso e da sua família. Sendo o
teletrabalho realizado no domicílio
do trabalhador, uma visita por parte
do empregador como forma de con-
trolo da atividade laboral, deve ter
lugar durante o horário de trabalho
do trabalhador.
Nos termos do artigo 169.º - B do Có-
digo do Trabalho e sem prejuízo dos
deveres gerais consagrados no Có-
digo, o regime de teletrabalho im-
plica, para o empregador, deveres
especiais, mormente e entre outros,
o dever de se abster de contactar o
trabalhador no período de descan-
so nos termos a que se refere o artigo
199.º-A, isto é, o dever de respeitar o
direito à desconexão do trabalhador. outubro de 2001, processo n°99-42.727. 6
A discussão sobre este direito teve início no
Paralelamente, urge enaltecer que a 2
Labor Chamber of the Cour de Cassation, 17 de nosso país através do partido Bloco de Es-
violação reiterada deste direito à des- fevereiro de 2004, processo n.° 01-45.889. querda que propôs o Projeto de Lei n.º 552/
conexão pode implicar uma situação 3
Diretiva 2003/88/CE do Parlamento Europeu XIII/2ª com o objeto consagrar o dever de
de assédio moral no trabalho, previs- e do Conselho. de 4 de novembro de 2003 re- desconexão profissional, através da negocia-
ta e proibida nos termos do art.º 29.º lativa a determinados aspetos da organização ção coletiva. Também o Partido Socialista, no
do Código do Trabalho conferindo à do tempo de trabalho. Projeto de Lei n.º 644/XIII, admitiu exceções
vítima o direito a indemnização nos 4
Diretiva (UE) 2019/1158 do Parlamento Eu- para este direito fundadas em exigências im-
termos gerais.  ropeu e do Conselho, de 20 de junho de 2019, periosas do funcionamento da empresa. Igual
relativa à conciliação entre a vida profissional previsão foi feita pelo Partido das Pessoas,
* Professora adjunta convidada, CBS- ISCAC; e a vida familiar dos progenitores e cuida- dos Animais e da Natureza, no Projeto de Lei
Pós-doutoranda no domínio do Direito Privado; dores e que revoga a diretiva 2010/18/UE do n.º 640/XIII/3ª e pelo grupo parlamentar os
Investigadora no Politécnico de Coimbra, Conselho. Verdes, no Projeto de Lei n.º 643/XIII/3ª. O
Coimbra Business School Research Centre/ISCAC. 5
Resolução do Parlamento Europeu, de 21 de mesmo sucedeu com os projetos de resolução
janeiro de 2021, com recomendações dirigi- n.° 1085/XIII/3ª do Partido Comunista Portu-
Notas das à Comissão sobre o direito à desconexão guês e n.º 1086/XIII/3ª do Partido do Centro
1
Labor Chamber of the Cour de Cassation, 2 de (2019/2181(INL). Democrático Social.

68 CONTABILISTA 265
CONSULTÓRIO

Isenção rogou, de facto, a vigência da Lei n.º abrangesse nesta disposição, igual-
de IVA em produtos 13/2020, de 7 de maio, mas apenas mente, face à Decisão (UE) 2020/491
para combater até 31 de dezembro de 2021. da Comissão, de 3 de abril de 2020,
a Covid-19 Todavia, chamamos a atenção de que o IVA devido nas importações, bem
esta vigência foi, mais recentemente, como os direitos aduaneiros, tendo
A isenção de IVA aplicável aos bens prorrogada através do artigo 10.º do sido, para o efeito, publicado o Ofício-
considerados necessários para com- Decreto-Lei n.º 119-A/2021, de 22 de -Circulado n.º 15 762/2020, de 22 de
bater os efeitos do surto de Covid-19, dezembro, que refere que: abril.
prevista na Lei n.º 13/2020, de 7 de «1 – A vigência do artigo 2.º da Lei n.º Poderá encontrar este Ofício Circu-
maio, foi prorrogada em 2022 ou ter- 13/2020, de 7 de maio, na sua redação lado através do seguinte link: https://
minou em 31 de dezembro de 2021, atual, é prorrogada até ao dia 30 de info-aduaneiro.portaldasfinancas.gov.
conforme a Lei n.º 33/2021? junho de 2022. pt/pt/legislacao_aduaneira/oficios_
O Ofício-Circulado n.º 15 872, de 28 2 – Para efeitos do disposto no artigo circulados_doclib/Documents/Of%-
de dezembro de 2021, da Direção de 5.º da Lei n.º 13/2020, de 7 de maio, C3%ADcio_circulado_15762_2020.pdf
Serviços de Regulação Aduaneira, na sua redação atual, é considerado o Mais recentemente, e tendo em con-
terá alguma relação com a isenção de período compreendido entre 30 de ja- ta a Decisão (UE) 2021/2313 da Co-
IVA prevista na Lei n.º 13/2020? neiro de 2020 e 30 de junho de 2022.» missão, de 22 de dezembro de 2021,
Relativamente à segunda questão, re- foi publicado o Ofício-Circulado n.º
fira-se o seguinte: 15 872/2021, de 28 de dezembro, já
As questões colocadas referem-se à Uma vez que a isenção de IVA prevista mencionado, que apenas prorrogou a
vigência da Lei nº. 13/2020, de 7 de no artigo 2.º da Lei n.º 13/2020 apenas vigência de tal disposição, igualmente,
maio, durante o ano de 2022. abarca as «transmissões e aquisições para 30 de junho de 2022.
Ora, tal como sugerido, o artigo 2.º da intracomunitárias», houve necessi-
Lei n.º 33/2021, de 28 de maio, pror- dade de doutrina complementar que Resposta de dezembro de 2021

ABRIL 2022 69
CONSULTÓRIO

NCRF 4, erros e ativos


por impostos diferidos

Determinado contabilista certificado


tem um cliente com um valor na con-
ta 274 - «Ativo por imposto diferido»
referente a uma desvalorização de
material de inventário considerada
em 2016 no valor de 584 euros. Esta
situação não parece ser revertível,
sendo que este material já nem se-
quer existe. O que é possível fazer
para eliminar este saldo?

A questão colocada refere-se à reversão procedimentos: da materialidade, é aferir se esse erro irá
de um ativo por imposto diferido reco- - Primeiro: o registo no período corrente influenciar a tomada de decisão dos utili-
nhecido em função do reconhecimento das respetivas correções nas respetivas zadores das demonstrações financeiras.
de um ajustamento do custo de inventá- contas de balanço, sendo que, quando Se considerar que esse erro influenciou
rios para o valor realizável líquido (perda esses erros tenham influenciado os re- essa tomada de decisão deve conside-
por imparidade) que não foi aceite em sultados do(s) período(s) anterior(es), a rar o erro como material, e proceder à
termos fiscais no período de tributação contrapartida será resultados transita- reexpressão retrospetiva, ou seja, refle-
em que foi reconhecida contabilistica- dos; tir na informação comparativa das de-
mente nos resultados. - Segundo: E, pela correção da informa- monstrações financeiras, a correção do
Com a venda dos bens de inventário ção comparativa das quantias compa- erro de modo a efetuar os ajustamentos
em causa, haveria que se ter anulado a rativas desse(s) período(s) anterior(es) necessários para que estas apresentem a
perda por imparidade reconhecida em apresentados nas demonstrações finan- informação como se o erro nunca tivesse
períodos anteriores, e nesse período an- ceiras do período corrente, até ao limi- ocorrido.
terior efetuar-se a reversão do ativo por te do período mais antigo apresentado, No período corrente, o efeito desse erro
imposto diferido. em que se deve reexpressar os saldos de material, com influência nos resultados
Se não foi efetuado esse procedimento, abertura dos ativos, passivos e capitais de períodos anteriores, passa a estar
tal constitui um erro contabilístico que próprios (resultados transitados). refletido nos resultados transitados, pois
deve ser objeto de correção. Tal erro A correção de erros materiais de perío- decorre da correção nos resultados des-
contabilístico afeta os resultados de pe- dos anteriores nunca deve ser reconhe- se período anterior.
ríodos anteriores. cida nos resultados do período corrente Se considerar que o erro é imaterial,
Esse erro contabilístico que afeta resul- em que se esteja a efetuar a correção. pode não aplicar a NCRF 4, e corrigir
tados anteriores, sendo considerado ma- A questão da avaliação, se uma deter- o erro, que afetou resultados de pe-
terialmente relevante, deve ser objeto de minada operação (facto ou transação) é ríodos anteriores, nos resultados do
correção nos termos da NCRF 4 – «Polí- material, ou não, deve ser efetuada pela período corrente (por exemplo, conta
ticas contabilísticas, alterações nas esti- entidade em causa, não dependendo ex- 6881 ou 7881 – «Correções relativas
mativas contabilísticas e erros». clusivamente dos montantes em causa, a períodos anteriores»).
De acordo com os parágrafos 32 a 39 mas também da natureza e dimensão Como se percebe, é muito diferente im-
da NCRF 4, a correção de erros mate- das operações, e da situação económica putar o erro a resultados de anos ante-
riais que afetem resultados de períodos e financeira da própria entidade, confor- riores (transitados) ou ao resultado do
anteriores deve ser efetuada através da me previsto nos parágrafos 29 e 30 da período, principalmente se tiver existido
reexpressão retrospetiva de acordo com estrutura conceptual do SNC. a alteração do órgão de gestão entre es-
o procedimento que se segue. O que a entidade deve verificar, para efe- ses dois períodos.
A reexpressão retrospetiva implica dois tuar esse juízo de valor na determinação Com certeza, se um gestor deteta um

70 CONTABILISTA 265
CONSULTÓRIO

erro nas contas de períodos anteriores, reexpressão retrospetiva desse resulta- ano de comparativo):
em que não detinha a gestão, não quer do líquido e do respetivo imposto sobre Este procedimento não implica qualquer
afetar os resultados do período que lhe o rendimento. registo contabilístico, mas a alteração
compete. Efetivamente, a aplicação do procedi- direta nas rubricas da informação com-
O objetivo principal da necessidade de se mento de correções de erros de resulta- parativa nas demonstrações financeiras
proceder à reexpressão retrospetiva de dos anteriores, através da reexpressão do período corrente.
erros materiais está fundamentalmen- retrospetiva, implica a alteração da in- No balanço de 31 de dezembro de 2022
te relacionado com a necessidade da formação comparativa (coluna N-1) das (na coluna do período comparativo
existência de comparabilidade na infor- demonstrações financeiras do período 31/12/2021):
mação financeira, nomeadamente entre presente em que se estará a corrigir o Ativo corrente
diferentes períodos. erro. Diminuição da rúbrica do ativo não cor-
No caso da correção de erros imateriais No caso em concreto, a não contabiliza- rente «Ativo por imposto diferido», pelo
não se aplicam os procedimentos de ree- ção da reversão do ativo por impostos valor do ativo por imposto diferido.
xpressão retrospetiva, não se devendo diferidos no período em que se veri- Capital próprio
proceder a qualquer reexpressão da in- ficou, pode ser considerada como um Diminuição da rubrica «Resultados tran-
formação comparativa das demonstra- erro, devendo ser objeto de correção sitados» pelos valores do ativo por im-
ções financeiras. nos termos da NCRF 4 caso seja um posto diferido, que já deveriam ter sido
Apenas quando se trate de correções erro materialmente relevante. revertidos antes de 1 de janeiro de 2021.
de erros materiais se deve proceder à Em termos práticos, o procedimento de E/ou diminuição da rubrica «Resultado
reexpressão retrospetiva da informação correção do erro material deve ser: líquido do período», pelos valores do
comparativa das demonstrações finan- Primeiro - Registo contabilístico no pe- ativo por imposto diferido, que deveriam
ceiras, sendo que essa correção de erros ríodo corrente: ter sido reconhecidos no período 2021.
deve ser líquida dos respetivos ativos Em 01/01/2022: Na demonstração de resultados do pe-
e passivos por impostos diferidos pela Pelo reconhecimento da reversão do ati- ríodo de 2022 (na coluna do período
existência de diferenças tributáveis ou vo por imposto diferido: comparativo – 2021):
dedutíveis temporárias relativas a essas - Débito da conta 56 – «Resultados tran- Diminuição do «Resultado líquido do
correções, conforme previsto no pará- sitados» por contrapartida a crédito da período», pelos valores do ativo por
grafo 4 da NCRF 4. conta 2741 – «Ativo por imposto diferi- imposto diferido, que deveriam ter sido
O reconhecimento desses impostos dife- do», pelo respetivo montante estimado. reconhecidos no período 2021.
ridos relativos a correções dos resulta- Segundo - Alteração da informação
dos do período anterior (N-1) implica a comparativa (pressupondo apenas um Resposta de janeiro de 2022

ABRIL 2022 71
CONSULTÓRIO

Comunicação território nacional, que disponham de - Tenha sede, estabelecimento estável


de inventários contabilidade organizada e estejam ou domicílio fiscal em território portu-
obrigadas à elaboração de inventário, guês;
Em dezembro de 2020, foi adiada a devem comunicar à AT, até ao dia 31 - Disponha de contabilidade organiza-
comunicação do inventário valoriza- de janeiro, por transmissão eletróni- da; e
do referente ao ano fiscal de 2020, ca de dados, o inventário valorizado - Não esteja enquadrada em nenhum
passando para o ano fiscal seguinte respeitante ao último dia do exercício regime simplificado de tributação.
(2021). Vislumbra-se um novo adia- anterior, através de ficheiro com ca- Para a comunicação dos inventários
mento ou o prazo para o envio dos racterísticas e estrutura a definir por a efetuar até 31 de janeiro de 2022,
inventários valorizados é mesmo 31 portaria do membro do Governo res- dada a conjuntura atual, a obrigação
de janeiro de 2022? ponsável pela área das finanças. de utilizar a nova estrutura de dados
2 - Relativamente às pessoas que ado- (inventários valorizados) voltou, nova-
tem um período de tributação diferen- mente, a ser adiada através do despa-
Na situação em análise a questão colo- te do ano civil, a comunicação referida cho n.º 351/2021-XXII, de 10 de no-
cada refere-se à comunicação dos in- no número anterior deve ser efetuada vembro, estando prevista, atualmente,
ventários valorizados a efetuar até 31 até ao final do 1.º mês seguinte à data apenas para a comunicação dos inven-
de janeiro de 2022. do termo desse período. tários a efetuar até 31 de janeiro de
A obrigação de comunicação dos in- 3 - Ficam dispensadas da obrigação de 2023.
ventários está prevista no artigo 3.º- comunicação a que se refere o n.º 1 as Assim, a comunicação dos inventários
A do Decreto-Lei n.º 198/2012, de 24 pessoas aí previstas a que seja aplicá- a efetuar até 31 de janeiro de 2022,
de agosto. Este artigo foi alterado vel o regime simplificado de tributação referente aos inventários reportados a
com a publicação do Decreto-Lei n.º em sede de IRS ou IRC.» 31 de dezembro de 2021, poderá ser
28/2019, de 15 de fevereiro, passando Assim, a partir de 1 de janeiro de 2020, feita, neste sentido, na estrutura de
o mesmo a ter a seguinte redação: estará obrigada a proceder à comuni- dados anterior às alterações impostas
«1 - As pessoas, singulares ou cole- cação dos inventários valorizados a pela Portaria n.º 126/2019.
tivas, que tenham sede, estabeleci- entidade que reúna, cumulativamente,
mento estável ou domicílio fiscal em as seguintes condições: Resposta de dezembro de 2021

72 CONTABILISTA 265
CONSULTÓRIO

Relativamente aos donativos, o Es- custos fiscais quando resultem de en-


Mecenato cultural -
tatuto dos Benefícios Fiscais (artigos tregas, em dinheiro ou em bens, em
donativos
61.º a 66.º), que consagra o regime de que não exista uma contrapartida por
dedutibilidade e majoração dos dona- parte da entidade beneficiária des-
Determinada sociedade recebeu em tivos, está concebido numa ótica emi- ses donativos, de caráter pecuniário
2021 uma fatura de uma fundação nentemente nacional, quer no que res- ou comercial, conforme disposto pelo
referente a um donativo atribuído peita às entidades beneficiárias quer artigo 61.º do Estatuto dos Benefícios
ao abrigo de um protocolo pluria- aos mecenas. Fiscais (EBF).
nual, mas só no início de 2022 é que Em termos fiscais, conforme disposto Para que os donativos atribuídos pos-
a faturada foi liquidada. O recibo foi no artigo 61.º do Estatuto dos Bene- sam ter relevância fiscal para as en-
emitido em 2022. Como contabilizar fícios Fiscais que, os donativos cons- tidades mecenas (pessoas singulares
o donativo, se o mesmo é aceite fis- tituem entregas de dinheiro ou de ou empresas), estes terão que poder
calmente na esfera da sociedade me- valores em espécie (direitos ou bens), ser enquadrados no regime fiscal do
cenas visto que o volume de negócios que tenham sido concedidos sem con- mecenato, previsto nos artigos 61.º a
da sociedade é nulo, pelo que, se o trapartidas, ou seja, não existe uma 66.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais
donativo for considerado no ano de obrigação de caráter comercial ou (EBF).
2021, terei que acrescer no campo pecuniário das entidades que recebam Por outro lado, a entidade beneficiária
751 o valor total do mesmo? tais bens ou valores. do donativo tem que estar identificada
Esta norma pressupõe um espírito de e enquadrada no artigo 62.º, 62.º-A ou
liberalidade dos doadores, ou seja, 62.º B do EBF, como exercendo ativi-
O pedido de parecer está relacionado sem que exista a expectativa de re- dade de mecenato religioso, mecenato
com o enquadramento fiscal de um ceber contrapartidas pecuniárias ou social, mecenato familiar, mecenato
donativo atribuído a determinada comerciais da entidade beneficiária cultural, ambiental, desportivo, educa-
fundação. da doação, às entidades públicas ou cional ou científico.
No caso em apreço, a entidade con- privadas, previstas nos artigos 62.º, Atendendo que se trata de uma fun-
cede um donativo ao abrigo de um 62.º-A e 62.º-B do EBF, cuja atividade dação, importa atender às disposições
contrato plurianual. A fundação emi- consista predominantemente na reali- do n.º 1 do artigo 62.º do EBF:
tiu uma fatura em 2021, no entan- zação de iniciativas nas áreas social, «1 - São considerados custos ou per-
to o valor apenas foi transferido em cultural, ambiental, desportiva ou edu- das do exercício, na sua totalidade,
2022, ano em que foi emitido o reci- cacional. os donativos concedidos às seguintes
bo de quitação. Os donativos são considerados como entidades:

ABRIL 2022 73
CONSULTÓRIO

a) Estado, Regiões Autónomas e au- giões autónomas ou as autarquias locais donativos são obrigadas a:
tarquias locais e qualquer dos seus participem no património inicial. a) Emitir documento comprovativo dos
serviços, estabelecimentos e organis- 5 - São considerados gastos ou perdas montantes dos donativos recebidos dos
mos, ainda que personalizados; do exercício, até ao limite de 8/1000 seus mecenas, com a indicação do seu
b) Associações de municípios e de fre- do volume de vendas ou de serviços enquadramento no âmbito do presente
guesias; prestados, em valor correspondente a capítulo e, bem assim, com a menção de
c) Fundações em que o Estado, as Re- 130% para efeitos do IRC ou da cate- que o donativo é concedido sem contra-
giões Autónomas ou as autarquias lo- goria B do IRS, os donativos atribuídos partidas, de acordo com o previsto no
cais participem no património inicial; às entidades de natureza privada, pre- artigo 60.º;
d) Fundações de iniciativa exclusiva- vistas no n.º 1. b) Possuir registo atualizado das en-
mente privada que prossigam fins de 6 - Os donativos previstos nos n.ºs 4 tidades mecenas, do qual constem,
natureza predominantemente social, e 5 são considerados gastos em valor nomeadamente, o nome, o número de
relativamente à sua dotação inicial, correspondente a 140% do seu valor identificação fiscal, bem como a data e
nas condições previstas no n.º 9.» quando atribuídos ao abrigo de con- o valor de cada donativo que lhes tenha
No caso em concreto, a fundação foi tratos plurianuais que fixem objetivos sido atribuído, nos termos do presente
instituída pelo em 1989 e o artigo 5.º a atingir pelas entidades beneficiárias capítulo;
do diploma refere que o património da e os montantes a atribuir pelos sujei- c) Entregar à Direcção-Geral dos Impos-
fundação é constituído, entre outros, tos passivos.» tos, até ao final do mês de fevereiro de
«pelo imóvel designado por “x”, que No caso em concreto, salvo melhor cada ano, uma declaração de modelo
constitui a entrada do Estado, na sua opinião, a Fundação exerce a ativi- oficial referente aos donativos recebidos
qualidade de fundador.» dade de mecenato cultural, em que o no ano anterior.
Assim sendo, consideramos que o do- Estado participa no património inicial. 2 - Para efeitos da alínea a) do núme-
nativo atribuído à fundação poderá ser Nestes termos, considerando que o ro anterior, o documento comprovativo
enquadrado na alínea c) do n.º 1 do EBF. donativo será atribuído ao abrigo de deve conter:
Em termos de mecenato, de acordo contrato plurianual, a Fundação pode- a) A qualidade jurídica da entidade be-
com a alínea a) do n.º 1 do artigo rá ser enquadrada na alínea c) do n.º 4 neficiária;
62.º-B do EBF são consideradas enti- do artigo 62.º-B do EBF. Assim sendo, a b) O normativo legal onde se enquadra,
dades beneficiários do mecenato cul- entidade que o atribui, no apuramento bem como, se for caso disso, a identifi-
tural: «As pessoas previstas no n.º 1 do lucro tributável, poderá majorar em cação do despacho necessário ao reco-
do artigo 62.º e as pessoas coletivas 140 por cento o gasto com o donativo, nhecimento;
de direito público.» sem atender a qualquer limite. c) O montante do donativo em dinheiro,
Relativamente à majoração dos gas- De notar que, estando perante um do- quando este seja de natureza monetá-
tos, citamos as seguintes disposições nativo enquadrado no conceito de me- ria;
do artigo 62.º-B do EBF: cenato, a entidade beneficiária do dona- d) A identificação dos bens, no caso de
«4 - São considerados gastos ou per- tivo é obrigada a emitir um documento donativos em espécie.»
das do exercício, em valor correspon- comprovativo dos montantes dos dona- Face ao exposto, no caso em apreço,
dente a 130 por cento do respetivo tivos recebidos, a entregar à entidade tratando-se de um donativo e não de
total, para efeitos de IRC ou de cate- mecenas (artigo 66.º do EBF), devendo uma prestação de serviços, somos do
goria B do IRS, os donativos atribuí- tal documento conter a indicação do seu entendimento que a emissão da fatura
dos às entidades referidas no n.º 1, enquadramento como entidade benefi- no ano de 2021 não fará sentido. Na
pertencentes: ciária de donativos, de acordo com as perspetiva da entidade concedente do
a) Ao Estado, às regiões autónomas e definições estabelecidas nos artigo 61.º donativo o documento relevante será
autarquias locais e a qualquer dos seus e seguintes do EBF e, ainda com a men- o recibo de quitação ocorrido no ano
serviços, estabelecimentos e organis- ção de que o donativo será concedido de 2022 (período em que a entidade
mos, ainda que personalizados; sem contrapartidas, conforme conceito deve reconhecer o donativo como gas-
b) associações de municípios e fregue- estabelecido no artigo 61.º do EBF. to).
sias; Assim, em conformidade com o artigo
c) A fundações em que o Estado, as re- 66.º: «As entidades beneficiárias dos Resposta de abril de 2022

74 CONTABILISTA 265

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