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A REVISTA DO

FUTEBOL ALTERNATIVO
DEZ. 2015 e JAN. 2016 -- N. 1
No ano em que o primeiro draft do
futebol brasileiro foi realizado no
Brasileirão Feminino 2015, a ADECO
(SP) até tentou chegar as finais, mas
parou nas semifinais no confronto
contra o Rio Preto. Byanca foi uma
das responsáveis pela boa campanha
na segunda fase da competição
(Foto: Tasso Marcelo/AllSports).
BEM-VINDOS

S
im, o título é totalmente futebolística. Deu trabalho, mas valeu
clichê, mas esse é o a pena, por conhecer mais sobre o
pensamento. O Série Z, como assunto e apresentar mais uma mídia
blog, agora também é a Série especializada para todos que amam
Z, como revista. Você que já esse lado do futebol.
acompanha o trabalho feito São 80 páginas de futebol
desde 2013 terá a experiência de mais alternativo. A grande maioria, inédita.
uma plataforma com a marca. Algumas matérias do blog estão
Dessa vez, mais do que uma aqui, mas repaginadas e merecem
vontade, a Série Z é resultado de um estar nesse novo começo, pois foram
Trabalho de Conclusão de Curso em importantes em dados momentos.
Jornalismo, pela Faculdade Maringá. Temos a colaboração de amigos,
Desde as primeiras conversas, lá também. Vamos fazer uma viagem
no final de 2014, com o orientador pelo alternativo. Começando por
da pesquisa, tudo foi pensado para Macau, passando pelas experiências de
chegarmos neste ponto. O estudo “torcedores” brasileiros pelo mundo,
rendeu um capítulo específico sobre ver onde Toró está jogando, conversar
futebol alternativo, uma oportunidade um pouco com Marco Bianchi,
de oferecer referência para futuros descobrir o confronto entre Benício e
trabalhos. O FA chegou às bancas Neymar e chegar até Hong Kong, onde
examinadoras de trabalhos de a bola vai rolar depois do Natal.
faculdade. O texto científico sobre Vai começar...
o tema ainda será pensado em qual
forma será publicado. Aliás, a produção Felipe Augusto
contou com muitas colaborações de Criador e editor
pessoas que vivem a alternatividade do blog e revista Série Z

EDITOR REVISÃO
Felipe Augusto Felipe Augusto
Ronaldo Nezo
ORIENTAÇÃO
Ronaldo Nezo COLABORADORES
Álisson Albino
PROJETO GRÁFICO e Benicio Junior
DIAGRAMAÇÃO Dibradoras - Site
Felipe Augusto Kaique Augusto
João Vitor Poppi
E
S 6
C
A
L 24 30
A
Ç 14 34
à 44
O

50

62 68

70
76
CONEXÃO FUTEBOL BOLA DE CAPOTÃO
6 6 ENTREVISTA: BRUNO 50 O TÍTULO GOIANO

50
FIGUEIREDO DE 1992
54 ENTREVISTA: MARCO
APITO INICIAL BIANCHI

14
14 BRASILEIROS PELO 60 UM CARIBE X SÃO
MUNDO PAULO ESCONDIDO

54
22 CRÔNICA: CINCO MIL
VOZES

PELEJA
24 24 AMISTOSO: GRÊMIO
MARINGÁ X URSO

LADO B
30 30 ONDE ESTÃO JOE
COLE E TORÓ...
CAMISA 12
CONTEXTO

34
34 FUTEBOL NA REGIÃO
METROPOLITANA
62 62 CRÔNICA: QUANDO
ENFRENTEI NEYMAR
65 CRÔNICA: A
38 INTERIOR URUGUAIO HISTÓRIA DE UM TÍTULO
E COPA 2030
ESCRETE
38 68 68 AS DIBRADORAS
SÃO AS CONVIDADAS

GUIA
70 70 SEMIFINAIS HK
SENIOR SHIELD 2015/16

2-3-5 FUTEBOL UTÓPICO


44 44 ANÁLISE TÁTICA:
SENEGAL X TURQUIA
76 76 E SE A COPA
TIVESSE SETE DIVISÕES?
CONEXÃO FUTEBOL

Bruno com a camisa do


Sham Shui Po, de Hong Kong,
onde teve alguns problemas
(Foto: Ogol.com).

6
“ MENTE SÃ,
CORPO SÃO

É dessa maneira que Bruno Figueiredo, jogador do CPK, clube do Macau vem
tratando o futebol. Jornais locais já o chamaram de um “verdadeiro globetrotter”
da bola, também pudera, o meio-campo tem passagens por Hong Kong, Índia,
Polônia, Irã, entre outros. Santista de nascimento almejava a estabilidade no
futebol e em sua nova morada encontrou.Vê de perto certa evolução no futebol
macauense, onde tem deixado seus gols e tem muita história para contar

Vamos começar pelo presente. São Você nasceu em Santos. Ficou uma
vários países e clubes. O que te levou a vontade lá atrás de jogar pelo time da
essas experiências? sua cidade?
Vivo no futebol desde os quatro anos de Isso é uma questão que qualquer um que
idade, e nós brasileiros parece-me que vive no futebol, responderia que sim, o
nascemos com o sonho de ser jogador Santos Futebol Clube teve em minha vida
de futebol, famoso e poder viver bem. Eu, durante anos, com certeza adoraria poder
por um acaso desde pequeno gostaria ter me firmado lá e poder ter atuado pelo
de ser jogador por gostar daquilo que profissional, mas Deus quis que fosse de
fazia, gostar de treinar e buscar sempre a outro jeito.
estabilidade financeira. Calhou de poder
viajar e conhecer lugares, onde também Como foi enfim, atuar por um clube da
é uma paixão minha, mas com o passar sua cidade, a Portuguesa Santista?
do tempo, penso eu que todos buscamos Olha, para mim foi ótimo poder atuar na
firmar-se em um lugar e por lá construir Briosa, tive no grupo em uma época de
sua família. Assim busco hoje em Macau, muitos jogadores de nome, como: Souza,
e venho concretizando bem isso. Rico, Ronaldo (goleiro), entre
7
outros. Pude aprender muito e assim ir
adquirindo experiência para mais tarde.
E claro, ser da cidade ajudava muito por
conhecer todos, ter o apoio da grande
maioria que conhecia o meu trabalho e
também estar com a minha família.

Você atuou pelo Guarujá e foi parar no


Grêmio Pinheiros, de Lages (SC). Como
aconteceu essa mudança?
Foi uma época, que ia para fora do país,
porém, não deu certo, fiquei meio que
sem rumo, esperando em empresários.
Quando o treinador do Guarujá me ligou
e perguntou se gostaria de me juntar a
eles, agradeci o convite e fui então jogar
o campeonato com eles. Depois disso, o
mesmo empresário que estava tentando
me levar para fora, assumiu o Pinheiros
naquela época e tinha um projeto de
colocar o time na primeira divisão de
Santa Catarina, fui com o foco de subir,
não aconteceu, mas me destaquei. Tive a
sondagem da Chapecoense, mas acabou
de que não fechamos sem saber o
porque até hoje. Tive para ir para o Oeste
de Itápolis, também não acertei valores e
decidi ir para fora do Brasil.

A partir de 2009 começou a suas


experiências mundo afora, para jogar
na segunda divisão iraniana, pelo
Payam Mashhad. Como você recebeu
essa proposta e o que pensou?
Vinha mandando meu material para
alguns amigos, empresários, quando
um empresário que trabalhava com um
amigo me contatou, perguntou se eu
me interessaria em ir pro Irã, na hora
realmente nem quis saber, falei que
ia e pronto. Queria jogar fora e estava
decidido, ainda por cima o dinheiro era

8
Até o final de 2014, defendia
o Ka I, seu segundo clube no
Macau (Foto: Acervo Pessoal).

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ótimo e o time era de primeira divisão
havia caído aquele ano, me informei INFO CONEXÃO FUTEBOL
sobre tudo que tinha lá, sabia da guerra
com Iraque e tal. Mas nada me abalava
Bruno Nogueira Figueiredo
na decisão de ir jogar fora. Adorei a
Meia | 29 anos
experiência, fui muito bem, fiz 16 gols, e
estava para renovar, mas como sempre Santos (SP)
empresários bloqueando de alguma 1,81 m | 75Kg
forma, querendo mais dinheiro, essas Ambidestro
coisas de negociações.
Clubes: Santos (2003), Ponte Preta (2004),
Em 2011, você chegou a Hong Kong. O Portuguesa Santista (2005-2006), Guarujá (2007),
país, atualmente, se consolidou como Grêmio Pinheiros (2008), Marcílio Dias (2008),
um mercado para estrangeiros. Na Payam Mashhad - Irã (2009/10), Atlético CP -
época, você atuava com compatriotas, Portugal (2009/10), Belenenses - Portugal (2010/11),
mas era ainda uma experiência essa Monte Carlo - Macau (2011), Sham Shui Po - Hong
abertura?
Kong (2011/12), Windsor Arch Ka I - Macau (2012),
Já existiam muitos brasileiros atuando em
Sparta Brodnica - Polônia (2011/12), Vasco SC - Índia
Hong Kong, chegamos vindos de Macau,
o treinador do Sham Shui Po assistiu uma (2012/13), Vllaznia Shkoder - Albânia (2012/13),
Windsor Arch Ka I - Macau (2013-2014) e CPK (2015).

partida do nosso time em Macau, onde


ganhamos de 3 x 2 do líder e assumimos
a liderança. Consegui marcar os três gols
da vitória. Porém, em Hong Kong, não sei
Sabia da guerra com


até hoje o que aconteceu que o treinador
Iraque e tal. Mas não me dava oportunidade de atuar,
me mantinha no banco e não colocava
nada me abalava de jeito nenhum durante os jogos. Foi
realmente frustrante para mim, por que
na decisão de ir


via meus amigos atuando, querendo
e pedindo a minha ajuda. Só que o
jogar fora. Adorei a treinador não me colocava. Pior de tudo
experiência, fui muito era saber que eu estava em um ótimo
momento, um dos melhores da minha
bem, fiz 16 gols. carreira, fisicamente e mentalmente.
Acabou que acordamos em eu sair do
time, tive uma proposta de outro time de
lá, mas o Sham Shui Po ameaçou cancelar
meu visto se fosse, e assim sendo, caso
cancelado teria que deixar o país por seis

10
meses. Resolvi então voltar para o Brasil e não é a mesma coisa, treinávamos as
esperar outra proposta com o sentimento seis da manhã e depois nada mais. Eu
de que ali era um lugar onde poderia ter sempre fazia um trabalho a parte à
feito minha vida pessoal e profissional. tarde, para me ocupar, até que um dia
me cansei daquilo e fui conversar com
Como foi sua passagem pela Polônia? a diretoria. Mesmo com o que ganhava
Tive a oportunidade de conhecer o (era bom), para continuar lá teria que
país, que é lindo e muito bom de se ser muito melhor, tentei aumentar, não
morar apesar do frio. Povo fanático pelo aceitaram. Resolvi então procurar outros
futebol como os brasileiros. Tive que me rumos e sair de lá, sai amigavelmente, e
adaptar ao estilo de jogo mais duro, tive naquele momento estava gostando de
que aprender a ser mais duro também, lá, conhecendo lugares e pessoas, mas a
porém, sempre tentando mostrar a vida sozinho me matava.
qualidade brasileira em dribles, técnica.
Uma coisa havia aprendido ao longo de O ano de 2015 foi sua quarta
todas essas andanças, os estrangeiros temporada no futebol de Macau. Sua
precisam ser diferentes dos locais, fazer primeira passagem foi em 2011, voltou
algo diferente, para realmente mostrar em 2013 e desde 2014 está no futebol
que você vale o investimento. local. Percebeu alguma melhora no
esporte nesse período?
E pela Índia? Dou muito valor para Macau, como
Fui para Índia satisfeito com o que disse é onde estou hoje, onde venho
deixei lá (na Polônia). Tive proposta de colhendo frutos. Criando e estabilizando
renovação até de outros times, mas a minha vida. Hoje tenho minha namorada
Índia me procurou com uma proposta que mora comigo e também trabalha
muito boa e de longo prazo, onde por aqui, estou longe da família, mas
naquela época me vinha na cabeça aprendemos a viver com isso e matamos
sossegar em um lugar e fazer a minha a saudade por Skype, Facetime, essas
vida, cansado de rodar mundo afora, coisas. Tenho os planos de casar e ter
mesmo adorando viajar. Só que nem filhos por aqui. Daqui uns cinco, seis anos
tudo é mil maravilhas e dinheiro não parar de jogar e continuar morando por
compra felicidade. Fiquei seis meses aqui. O esporte vem melhorando. A cada
sozinho na Índia, tinha amigos, mas ano que passa tem melhorias e espero

11
continuar ajudando para cada vez mais
melhorar. De 2011 à hoje vê-se melhorias
exorbitantes e venho trabalhando dia
a dia buscando mais melhorias para
transformar Macau em um excelente
mercado como Hong Kong, Tailândia,
entre outros.

Qual a relação do povo macauense


com o futebol?
São fanáticos por futebol, como o mundo
todo, porém, com o futebol deles, eles
não dão muito valor, mas isso vem
crescendo muito, os estádios ficando
mais cheios, a televisão está cobrindo
mais jogos e assim divulgando mais o
nosso trabalho para o país.

Na temporada 2015, você anotou dez


gols. Foi a sua melhor temporada na
carreira?
Fiz uma excelente temporada e creio que
foi uma das melhores no geral em minha
carreira, me sinto hoje, com 29 anos no
meu melhor fisicamente, mentalmente e
pessoalmente. As vezes não entendemos
a vida dos atletas, mas isso tudo que
citei é importantíssimo e influencia para
podermos desenvolver o nosso trabalho
em alto nível. Esse ano tive uma enorme
confiança dos treinadores, jogadores,
minha namorada que me aguenta
diariamente e me ajuda em tudo. Então
para resumir o momento cito essa frase:
Mente sã, corpo são.

12
AS HISTÓRIAS de BRUNO
FIGUEIREDO

Quando estive em Portugal no


Belenenses, estávamos em pré-
temporada e o treinador a todo
momento falava: “Vamos malta”,
que em português do Brasil significa:
“Vamos pessoal, ou galera, ou gente”.
E outro brasileiro que lá estava comigo
perguntou para mim: “Cara, quem é
esse ‘Malta’ que o treinador sempre
fala, ele deve ser o fera do time, o
craque”. Eu então perguntei se ele
estava brincando? Ele disse que não,
que queria saber quem era, logo
expliquei e ele riu de se acabar (risos).

No Irã tive que me adaptar ao modo


de vida deles. Ônibus não se anda
misturado. É determinado mulheres
na frente e homens atrás, não pode
se envolver com nenhuma mulher se
não for assinado em cartório o tempo
de relacionamento, com no mínimo
sete dias. Caso aconteça e a família
descubra, ela é deserdada.

Estive no Irã bem em época de


guerra com o Iraque e tínhamos um
jogo importante pela semifinal da
Taça, contra um time que era bem
perto da fronteira com o Iraque. A
todo momento passavam aviões,
Na temporada 2015, o meia
marcou dez gols e ajudou o helicópteros, caças e bombas, não
CPK a ficar com a terceira consegui dormir a noite toda com
colocação da Liga de Elite receio. Mas no dia seguinte graças a
(Foto: Acervo Pessoal). Deus ocorreu tudo bem no jogo.

13
APITO INICIAL

MEU MUNDO É
14
O FUTEBOL!
V
ocê é brasileiro.
Apaixonado por futebol,
mais ainda pelo seu clube
de coração! A “vida”
então te leva para fora de
seu País, seja por sonho
ou circunstâncias, longe dos estádios
que você tanto frequentava. Sua nova
morada é um local onde o futebol não
é tão visto, mas está lá...
Em 2013, o Ministério das Relações
Exteriores divulgou que 2,5 milhões
de brasileiros moram no exterior.
Esse número leva em consideração
relatórios e matrículas de Consulados
e Embaixadas do Brasil. É certo que há
mais brasileiros do que o apresentado,
devido a situação irregular de muitos,
que preferem não participar de
pesquisa sobre tal estimativa.
São várias as circunstâncias
que levam os “tupiniquins” para
“desbravarem” novas terras: educação,
trabalho, vida pessoal. Para aqueles
que amam futebol, conhecer o esporte
local é uma das primeiras coisas a
serem feitas e alguns convivem com
uma alternatividade futebolística, seja
em Cracóvia, norte da Polônia; Faro,
sul de Portugal ou em Tallinn, norte da
Estônia!
São milhões de brasileiros espalhados
pelo mundo. Muitos deles carregam
consigo a paixão pelo futebol e assim
permanecem em sua nova casa

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Paulo é torcedor e sócio de “carteirinha” do Wisla
Krakow (Foto: Acervo Pessoal).

Quando criança, em Pato Branco,


sudoeste do Paraná, sua mãe o levava
até o estádio Os Pioneiros, para
acompanhar as partidas do clube
local. Esse é Paulo Gregoreki, 32 anos,
que apesar de ter convivido em uma
família, com torcedores do Grêmio,
Internacional e Caxias, se tornou
palmeirense. Sua mãe era flamenguista,

O sonho de Cracóvia o que rendeu uma ida ao Maracanã,


ao lado dela. “Amo o futebol brasileiro
como um todo”, conta. Paulo gosta
acima de tudo de futebol.
O paranaense é descendente de
polacos e desde criança comungava do
desejo de morar em Cracóvia e viu na
faculdade, a chance de realizar o sonho.
A Polônia foi tema de sua monografia
na graduação, ao escrever sobre a
comunidade que vivia em Marechal
16
Cândido Rondon. Assim, Gregoreki identificam) perguntaram para mim, se
resolveu fazer o mestrado em sua eu era católico. Aqui na Polônia, religião
“terra”. e futebol andam muito próximos. O
Quando chegou ao país, o que as vezes pode ser um problema”.
mestrando teve uma obrigação. “Logo Agora em Cracóvia, além de ver o
que me instalei uma das primeiras Wisla, o “polonês-brasileiro” arrumou
coisas que procurei conhecer foram as um novo time para acompanhar,
rotas dos estádios”. Em seu currículo direto da quarta divisão nacional, o
estão os estádios do GKS Katowice, Hutnik Krakow, que é de Nowa Huta,
Rozwoj Katowice, Ruch Chorzow, Hutnik distrito da cidade, mas usa o nome
Krakow e o seu time, o Wisla Krakow. da “metrópole”. A equipe também,
“Aqui tenho carteira de torcedor e o segundo Paulo, é de um bairro
respeito do clube pela minha pessoa é considerado como uma “quebrada”.
muito maior. O porteiro me chama pelo “Não é todo mundo que curte e encara
nome e sobrenome! Há uma diferença ir lá, se meter no meio daquele bairro
gritante. Quando o Wisla joga é uma só para ver futebol. Lá é um bairro
sensação diferente”. industrial, de povo humilde, não é o
Nas suas andanças pelo futebol que sai no cartão postal”.
local, Paulo tem um histórico Seja na “quebrada” do Hutnik ou
alternativo. Em Katowice, ele morou até do Rozwoj, o fato de um brasileiro
2014 e lá acompanhou o GKS, clube acompanhar o clube diretamente no
mais popular, mas preferia o Rozwoj, estádio causa orgulho nos torcedores
que estava na terceira divisão. “Ir no locais. “Eles não estão preparados
estádio do Rozwoj e ver a Terceirona digamos para ter o futebol deles
polaca foi sensacional. Gosto muito apreciado por brasileiros. Por
de jogos assim”. O clube é do bairro isso quando te identificam eles te
de Ligota, uma “quebrada” da cidade, perguntam se você está gostando,
como diz Paulo. Algo chamou a agradecem até por você ir ao estádio”.
atenção em um dos primeiros contatos Paulo também sente orgulho, ainda
com a torcida local. “A coisa mais mais por ter visto diretamente do
inusitada que me aconteceu foi quando estádio, o acesso do Rozwoj para
eu fui até o barzinho do estádio do a segunda divisão. Um brasileiro
Rozwoj comprar cerveja e os hooligans apaixonado pelo futebol polonês.
(alguns torcedores do clube assim se

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Com a “amarelinha”, Marco foi cercado pelos
gibraltarianos em paritida (Foto: Acervo Pessoal).

Era 11 de outubro de 2015. “Cara, que


experiência doida!”. Gibraltar e Escócia
se enfrentaram no Faro, Portugal.
“Mistura de clima de Copa do Mundo
com amistoso oficial”. Apesar de
eliminada, 15 mil escoceses cruzaram
o continente para ver o confronto
contra uma das mais cultuadas seleções
alternativas do momento. Marco

Um botafoguense no Faro Antônio Rigotti, 21 anos, estava lá e viu


tudo isso de perto.
Ver Gibraltar de perto é um desejo
de dez entre dez interessados por
futebol alternativo e Marco teve a
chance, onde recebeu cumprimentos
por ser brasileiro. “Eles adoram
brasileiros! Me viam com meu agasalho
no entorno do estádio e sempre
pediam fotos, com as famosas palavras
‘joga bonito’, ‘Pelé’ ou ‘Ronaldinho’”,
18
conta. de público é de 1.500 torcedores, com
Nascido em Araçatuba, criado em apenas alguns seguranças nas balizas
Ribeirão Preto, formado em Uberlândia “protegendo” os adeptos. Quanto ao
e mestrando no Faro. Marco se nível de jogo, Marco vê uma nítida
formou recentemente em Relações diferença. “Jogadores com muito vigor
Internacionais e resolveu ir para o físico, porém pouca técnica. Em todos
Algarve fazer o Mestrado em Gestão os jogos que vi até agora, não encontrei
Empresarial e o futebol foi um dos um time com um camisa 10 capaz de
primeiros pontos que queria conhecer fazer aquele passe em profundidade.
na nova terra. “Sem dúvidas!”. Temos jogadores mais técnicos na Série
Na primeira divisão portuguesa, D no Brasil, mas eu não garanto que
porém, a região sul não possui nossos times da quarta divisão teriam
representantes, mas o clube da cidade, capacidade física de competir com os
o Farense da segunda divisão foi o daqui”.
escolhido pelo brasileiro, que desde Série D! Apesar de longe, Marco
que chegou lá, foi a todas as partidas Antônio pode vibrar de longe com
no estádio de São Luis. “Não perco um! a conquista do “seu” Botafogo
Ir ao estádio é um processo de catarse. de Ribeirão Preto. Ele “nasceu”
A torcida é apaixonada e extremamente palmeirense, mas aos 14 anos, se
orgulhosa de si e seus feitos”. mudou com a família para Ribeirão
Rigotti se tornou conhecido no Preto e como ele se diz “doido por
meio da torcida, que já o chama de “o futebol” passou a frequentar o Santa
brasileiro”. Torcida essa que apoia o Cruz e a paixão o pegou. “Viajava direto
tempo inteiro, inclusive Marco. “O time com a torcida, já fui bilheteiro, já atendi
faliu uns anos atrás e recomeçou da na loja do Botafogo, já vendi ingresso,
divisão mais baixa do país, os distritais já fui tudo lá dentro, me sentia parte
amadores. É bacana acompanhar o de tudo aquilo e nunca mais consegui
processo de reestruturação desse time”. largar o Botinha!”. Quando morava em
Segundo o mestrando, o futebol Uberlândia, sempre ia a cidade para
dos gajos é bem diferente do brasileiro. ver o clube, agora em Faro não pode
Primeiramente, pelo estádio com ir, mas continua acompanhando. Seja
capacidade para 13 mil pessoas, onde com o Botafogo, o Farense ou Gibraltar,
não há grades ou policiais. A média Marco não deixa de lado, o futebol!

19
Seja na Estônia ou Brasil, o clube de Antonio é
alvinegro (Foto: Acervo Pessoal).

Certo dia navegando pelo CouchSurfing


(rede de serviço de hospitalidade), uma
moça pedia informações sobre o Rio
de Janeiro. Foi então que um carioca
viu que ninguém havia respondido-a
e resolveu ajudá-la, com os dados
que queria. A viagem ia demorar seis
meses, então eles passaram a conversar
para continuar trocando ideias sobre a

Na Estônia tem futebol viagem, algo despretensioso. Até que


um dia, ela chegou e eles acabaram
se gostando. Ela mudou sua rota de
viagens pelo Brasil para ficar com ele. O
tempo passou e eles resolveram morar
juntos na casa dela. Era um teste de
dois meses que já dura quatro anos. O
carioca era Antonio Bordallo, 35 anos e
a moça, uma estoniana, que hoje vivem
em Tallinn.
Por ser do Rio, logo se pensa que
20
Antonio tem como time, um dos que um time estoniano ganhava
quatro grandes do estado, mas não. de um finlandês numa competição
Ele é corinthiano. “Sempre acompanhei internacional”. Festa no Hiiu Stadium.
futebol e por mais estranho que Os estádios das Estônia são
pareça, torço pelo Corinthians desde característicos e possuem um lanche
a adolescência, mas por identificação famoso. “A comida típica de estádio
mesmo”. A camisa alvinegra que aqui é um tipo de tiras de pão preto
carrega assistiu a vários jogos na frito com cobertura de alho moído. Em
Estônia, desde o Nacional, competições todo lugar se vende isso”. No Hiiu, um
europeias e até jogos da seleção local. buffet tem parceria com o clube, com
Bordallo tem “uma relação cordial direito a hambúrguer de carne de porco
com todos os times” do país, mas tem com molho teriyaki. “Foi a melhor
no Nõmme Kalju, o seu preferido. comida que já consumi num estádio de
“Além de ser o time com maior número futebol em toda minha vida. E olha que
de estrangeiros, o time já contou no já fui em muito estádio por aqui”.
passado com quase meio time de Apesar da paixão pelo futebol,
brasileiros. Ainda não morava nessa segundo Antonio, é comum ter
época aqui, mas até hoje o técnico é estonianos que não fazem ideia do
o brasileiro Getulio Fredo, uma das que acontece no campeonato nacional,
figuras mais carismáticas do futebol mas acompanham a Premier League.
estoniano”. Essa busca começou ainda A seleção local possui adeptos e o
quando o time era da segunda divisão carioca já viu uma “facilitada” para a
e chegou ao auge, com o título da Holanda, em pleno estádio. “A Estônia
Meistriliiga, a primeira divisão. conseguiu estar na frente, mas sabia
O carioca continuou a acompanhar que todo o país não estava acreditando
o clube e presenciou um momento no que estava acontecendo. Os laranjas
marcante para ele e histórico para o conseguiram virar o jogo, mas aquele
futebol local. “Foi a primeira vez na momento que Davi estava vencendo
vida que assisti pessoalmente um Golias está na memória de todo
jogo válido pela Champions League: torcedor estoniano!”. E com certeza, na
Kalju x HJK Helsinki. O Kalju já havia mente de Antonio também. Mais um de
vencido o jogo fora e na Estônia muitos que ele ainda irá acompanhar
conseguiu empatar e levar a vaga em terras estonianas.
pra fase seguinte. Foi a primeira vez

21
APITO INICIAL

As cinco mil vozes

M
e chamo João. Sou conhecido na minha cidade
como “Joãozinho 5 mil”. Pode parecer estranho,
mas esse apelido, eu ganhei por ser um assíduo
frequentador do estádio Cinco Mil Vozes, local que
joga meu time, o Cinco Mil Futebol Clube. Percebeu
que tudo tem cinco mil no meio? Pois é.
Isso porque, a cidade que moro, Dez Mil (sim, esse é o nome),
no interior do país tem como grande ponto de lazer, o estádio que
veio primeiro que o clube. O futebol amador utilizava o estádio, não
arena, que recebe outros eventos, também. O local nasceu com o
“lema” de comportar a metade da população do município.
O futebol amador era forte e então, os clubes resolveram se unir
(parece mentira) e profissionalizar uma equipe para a cidade. Nasceu
assim, o Cinco Mil, em homenagem ao nosso estádio.
Começamos na segunda divisão estadual. O primeiro ano foi
de experiência e o acesso não veio, mas a torcida lotou o estádio,
colocando metade do município lá dentro. Na temporada seguinte
mais preparados, nos enchemos de orgulho com o acesso e o título.
Uma festa na cidade!

22
Permanecemos na primeira a 0. Foi indescritível. No jogo de volta
divisão sem sustos, durante quatro lotamos o “Cinco Milão”. Controlamos
anos. Sempre com a melhor média a partida. O jogo caminhava para o
de público. Na quinta temporada empate sem gols, mas em um contra-
montamos um time muito bom para ataque nos acréscimos fechamos
os padrões locais. Nossa categoria de o placar. O acesso era nosso. Que
base era a melhor do estado, buscamos “troço louco”. Não fomos campeões,
jogadores de fora e deu até para trazer mas conseguimos um calendário e as
um folclórico atacante. “sobras” da grande mídia.
Fomos campeões! Que dia A felicidade, no entanto virou
fantástico! O melhor da história de espanto. A federação diz que iremos
Dez Mil! O próximo passa era buscar a participar da “nova” divisão, mas
vaga em uma divisão nacional. O grupo não poderemos jogar em casa. Me
estava fechado e queria continuar. perguntei o que há de errado com
Como o campeonato é “escondido”, os o estádio. O gramado é bom. Os
jogadores não ficaram visados. vestiários são confortáveis. Mesmo com
Desde que entramos no profissional poucas cadeiras, o concreto sustenta
temos a maior média de ocupação a empolgação da torcida. Pode não
dos campeonatos que disputamos. ser moderno, mas é funcional. Tudo
Mantivemos isso no Nacional, que isso será desconsiderado por causa da
foi duro. Conseguimos a vaga para a capacidade? Oras, temos um estádio
segunda fase na última rodada, com que coloca metade de uma cidade.
um 1 a 0 difícil. Não podemos criar do nada cinco
Na fase final, quatro jogos restavam mil lugares. Agora ficamos assim,
para o acesso. Colocar o estado no esperando que possamos convencer os
cenário do futebol nacional. Nas dirigentes a liberarem o nosso estádio.
oitavas, dois empates, mas fizemos Se subimos em um estádio para cinco
mais gols fora e nos classificamos para mil pessoas é nele que devemos
o confronto do acesso. continuar até onde o nosso time nos
O primeiro jogo era fora. Não levar.
acreditei no que vi. Ganhamos por 3

23
PELEJA

ALEATÓRIO e FOTOS KAIQUE AUGUSTO

ESCONDIDO
TEXTOS FELIPE AUGUSTO

24
Noite de quarta-feira, 14 de agosto de 2015. Em Maringá, o
tradicional dia da feira livre, ao lado do estádio. Talvez muitos
nem perceberam, mas os refletores do Willie Davids estavam
ligados, a bola ia rolar. Em campo, Grêmio Maringá e URSO
Mundo Novo. Os dois clubes que se preparavam para buscar
os acessos em suas respectivas divisões estaduais, mas que não
conseguiram ao final delas.

25
26
No lado de fora do campo, os treinadores falavam. Ora contra o
árbitro, ora com o time. O Grêmio abriu o placar, em chute cruzado
de Douglas, aos 15 do primeiro tempo. O jogo melhorou. As faltas
aumentaram. Em certo momento, falta dura no ataque do URSO,
nada de cartão. Foi aí que Jandaia esbravejou: “O professor, os
caras tão dando tesourinha. A gente vem do Mato Grosso do Sul
e a várzea é aqui”. O jogo seguiu, um buraco no gramado fez com
que Leto saísse de campo por um momento, com dores, retrato da
partida, de marcação pesada.

27
Zé Teca, um apaixonado pelo URSO. O senhor tem mais de 15 anos
de clube. É um faz-tudo! No profissional é massagista. Na base é
auxiliar técnico. E anos atrás era jogador do clube, tanto que nas suas
andanças pelo futebol, o Willie Davids foi palco para mostrar o que
sabia. Numa conversa rápida, todo humilde ele conta boa parte de sua
história. Deixa escapar que torce pelo Santos, mas demonstra tamanho
afeto pelo URSO, que fica claro para quem torceria em um confronto
que parece distante atualmente. Zé Teca é mais um entre vários
brasileiros que trabalham no anonimato, amam um clube pequeno e
acima de tudo, o futebol.

28
29
LADO B

13
DA
PRIMEIRA
PARA A
TERCEIRA
No ápice de suas carreiras, eles mostraram seu futebol
nas primeiras divisões nacionais e até mesmo, nas
principais competições continentais ou na Copa do
Mundo. Atualmente, eles defendem clubes da terceira
divisão, por muitos aspectos, seja idade, físico e
“esquecimento”. A Série Z demonstra 12 jogadores que
agora estão no lado B do futebol, seja na Inglaterra,
Espanha, Japão e Brasil

30
Joe Cole – Coventry City
(Inglaterra)
Autor de um dos mais
belos gols na Copa do
Mundo 2006, Joe Cole era
aquele meia que formava
um “quadrado mágico” na
seleção inglesa, ao lado
de Beckham, Lampard e
Gerrard, o que fez com que
até Galvão Bueno dissesse
que quem realmente era
bom naquele time, fosse o
meia inglês que participou
do começo e afirmação da
Era Abramovich no Chelsea.
(Foto: Facebook
Coventry City FC)

Jussi Jaaskelainen – Wigan (Inglaterra)


Aqueles que acompanham o futebol inglês, desde
meados dos anos 1990, com certeza devem tem visto
um jogo de uma equipe grande que teve o finlandês
Jaaskelainen como goleiro adversário, com seus 15
anos de Bolton, onde é ídolo da torcida.

(Foto: Facebook
Wigan Athletic)

Felipe Mattioni – Doncaster (Inglaterra)


Em 2008, o lateral Felipe Mattioni surgiu como uma grande
promessa do Grêmio, mas logo no começo de 2009, o Milan
acertou a contratação do jogador, para “atuar” ao lado de
Ronaldinho, Kaká, Pato, Emerson, Cafu e Dida, mas isso não
aconteceu. No meio do ano acertou com o Mallorca e ficou
(Foto: Daniel Marenco/ outras cinco temporadas no Espanyol, onde encerrou sua
ClicRBS) passagem no meio de 2015, para acertar com o Doncaster.
31
Daniel Güiza – Cádiz (Espanha)
Temporada 2007/08, o Mallorca terminou
na sétima colocação de La Liga e com o
artilheiro da competição: Daniel Güiza. O
atacante fez 27 gols na temporada, três a mais
que Luis Fabiano e como “prêmio” garantiu
convocação para a Eurocopa 2008, onde fez
dois gols e foi campeão com a Espanha. Após
(Foto: Divulgação)
a temporada dos sonhos, Güiza acertou com
o Fenerbahçe, onde foi treinado por Luis
Aragonés, que lhe deu chance na seleção. Fez
duas boas temporadas e foi convocado para a
Copa das Confederações, mas experimentou
uma derrocada. Seu último clube foi o Cerro
Porteño! Sim, isso mesmo.

Javier Portillo – Hércules (Espanha)


Em 2002/03, o atacante Portillo, com 21 anos, tinha
Raúl, Ronaldo e Morientes como rivais na busca por
uma vaga na equipe titular do Real Madrid. Foi nesse
contexto que Javier surgiu e até que foi (muito) bem,
com 14 gols, em 24 jogos. Na temporada seguinte,
28 jogos e dois gols. No meio de 2004 acertou com
a Fiorentina e até voltou para o Real, mas não se
firmou. São seis temporadas pelo Hércules, desde
(Foto: Divulgação)
2009, com cerca de 150 jogos e 44 gols marcados.

Toró – Sagamihara (Japão)


O volante marcou seu nome no Flamengo, quando
deixou de ser atacante, como era nos tempos de
categoria de base do Fluminense, para mudar de
posição quando era comandado por Joel Santana. Toró
(Foto: Fumikazu
também é conhecido por ter atuado como Pelé e em Watanabe/SC
uma simulação de um golaço no Maracanã, para o filme Sagahamira)
Pelé Eterno.
32
BRASILEIRÃO SÉRIE C
GRUPO A GRUPO B

Dudu Cearense - Fortaleza Boquita - Portuguesa

(Foto: Rodrigo Carvalho) (Foto: Mauro Horita/AGIF/AE)

Corrêa - Fortaleza Fumagalli - Guarani

(Foto:Tatiana Fortes) (Foto: Rodrigo Villalba / Memory Press)

Léo Gago - América (RN) Paulo Baier - Juventude

(Foto: Canindé Pereira) (Foto: Porthus Junior / Agencia RBS)

33
CONTEXTO

ONDE ESTÁ VOCÊ,

FUTEBOL?
Elenco do Mandaguari, campeão do norte paranaense
(Foto: Acervo Jornal do Povo).

34
S
ou natural de Maringá, 105 mil reais. Possivelmente, o clube
noroeste paranaense. que entrar nessa, já começa “em
Fui criado em Floriano, débito”. Por 100 mil reais a menos,
um distrito da cidade. um clube pode se filiar como amador.
Minhas opções de futebol Uma disparidade! Não que os clubes
“profissional” ao longo do amadores tenham que pagar mais.
tempo se resumiram ao Willie Davids, Além da taxa de filiação, os clubes
estádio da cidade, para ver clubes, devem arcar com uma taxa anual de
obviamente, maringaenses. Mas algo alvará de licenciamento de dois mil a
incomoda. Não ter a oportunidade quatro mil reais, com taxas de registro
de ver os municípios da região para profissionais, juniores e juvenis
metropolitana com clubes profissionais. de 200, 60 e 40 reais, respectivamente,
Não poder vê-los nos estádios entre outros.
“vizinhos”. Nesse cenário, as cidades da
O Willie Davids, em seu nome traz: região mantêm o futebol apenas no
estádio regional. E há razão para isso. nível amador. A Liga Desportiva de
O Cianorte, por exemplo, que não faz Maringá (LDM) realiza anualmente
parte da região metropolitana, mas o Campeonato Amador Regional,
está relativamente próximo à cidade, conhecido como Super Amador ou
mandou o jogo contra o Corinthians Amadorzão. Em 2015, oito equipes
em 2005, pela Copa do Brasil, no WD disputaram o título: Sarandi, São Jorge
(como é conhecido). Muitos torcedores (São Jorge do Ivaí), Itambé, Castelo
da região acompanham, atualmente Branco (Presidente Castelo Branco),
o Maringá FC e o Grêmio Maringá. Munhoz de Melo, Atlético Marialva,
Sem contar o apoio das décadas de Santa Fé e Iguatemi (distrito de
1960 e 1970, época de ouro do futebol Maringá). Os sete primeiros fazem parte
maringaense. da Região Metropolitana de Maringá.
Mesmo assim, ainda fica aquela Até maio de 2010, a RM Maringá
questão. E os nossos vizinhos? O era composta por 13 cidades: Astorga,
futebol mudou, se globalizou e ficou Ângulo, Doutor Camargo, Floresta,
mais caro. A taxa de filiação cobrada Iguaraçu, Itambé, Ivatuba, Mandaguaçu,
pela Federação Paranaense de Futebol Mandaguari, Marialva, Maringá,
(FPF) para clubes profissionais é de Paiçandu e Sarandi. Posteriormente,

35
12 cidades foram incluídas: Atalaia,
Bom Sucesso, Cambira, Floraí, Flórida,
Jandaia do Sul, Lobato, Munhoz de
Mello, Ourizona, Presidente Castelo
Branco, Santa Fé e São Jorge do Ivaí. Associação Atlética Astorga
Em 2012, Nova Esperança também Disputou a primeira divisão paranaense entre
foi incluída. A RM ainda pode crescer, 1958 e 1962 sem grandes campanhas.
já que mais oito cidades podem ser
inclusas: Marumbi, Santo Inácio,
Colorado, Paranacity, Engenheiro
Beltrão, Fênix, Barbosa Ferraz e Quinta
do Sol. Um total de 36 cidades, caso
seja aprovado.
Tendo o PIB em reais de 2008 de
cada cidade como comparativo, das 25
(sem contar Maringá) atuais cidades
da RM Maringá, 11 delas não tem PIB
maior do que a taxa de filiação da FPF.
Apenas Sarandi (cerca de 740 mil),
Marialva (630 mil) e Mandaguari (510
mil) possuem um PIB maior que 500 Nova Esperança Esporte Clube
mil reais. As outras 11 cidades têm Participou de três edições da primeira divisão
PIB entre 102 mil e 375 mil reais. Com estadual: 1961 a 1963. Não teve grandes
uma taxa incompatível com a renda é resultados.
explicável a razão das cidades “vizinhas”
não terem clubes profissionais.
Lembrando, é apenas um exemplo,
uma comparação. Dinheiro público tem
outras prioridades.
A região de Maringá é apenas um
caso, onde o futebol profissional não
se desenvolve devido a taxas fora da
realidade impostas pelas federações.
E quantas dessas cidades já tiveram
clubes ditos profissionais? Confira ao
lado (alguns escudos encontrados não
possuem uma qualidade de imagem Indecapa Futebol Clube
boa, mas vale o registro): Segundo clube profissional de Nova Esperança, o
Indecada surgiu em 1976, para a disputa da se-
gunda divisão e depois disso não há registros do
clube.
36
Mandaguari Esporte Clube
Sem dúvidas, o maior clube da região metropolitana de Maringá. Em 1960, com
uma base de jogadores paraguaios, a equipe foi campeã do Norte e chegou ao vice-
campeonato estadual, vencido pelo Coritiba.

Jandaia Esporte Clube


Ao lado do Londrina e do Paranavaí, é o maior campeão da segunda divisão estadual
com três títulos. Feito que alcançou em 1966, 1969 e 1994. Participou de sete divisões
da primeira divisão: 1967, 1968, 1970, 1971, 1972, 1995 e 1996.

Águia Futebol
Em 2001, o futebol mandaguariense retornou com título. O Águia foi campeão da
terceira divisão, mas não disputou a segundona em 2002. Em 2004, se transferiu para
Maringá.

Atlético Clube Marialva


São poucos registros históricos do clube. Em um deles, há uma partida contra o
Olaria, que realizava uma excursão pelo Brasil. Resultado: 9 a 1 para os cariocas.

Clube Atlético Independente


Único representante do futebol de Mandaguaçu, o Independente participou de duas edições da primeira
divisão, em 1962 e 1963. O escudo do clube não foi encontrado.

37
CONTEXTO

O INTERIOR
URUGUAI
E A COPA 2030
Ainda não há nada definido, mas é para pensar:
será que o interior uruguaio comporta uma Copa do Mundo?

Estádio Arquitecto Antonio Eleuterio


Ubilla, em Melo, nove mil lugares,
casa do Cerro Largo, equipe que
disputa a segunda divisão nacional

38
E
m 2013, Julio Grondona, então cidades contam com um futebol forte
presidente da Associação e o principal, com torcida. Enquanto
do Futebol Argentino (AFA) o Uruguai tem um monopólio
garantiu que a Copa do futebolístico em Montevidéu.
Mundo de 2030 seria sediada A FIFA exige que os estádios para a
em conjunto por Uruguai e Copa do Mundo devem ter no mínimo
Argentina, pois esta edição celebrará o 30 mil lugares, se bem que o que se vê
centenário da competição e a escolha nas últimas edições são estádios com
por esses países levaria em conta que mais de 40 mil lugares. Provavelmente
os selecionados fizeram a final em seriam dez sedes (neste caso, cinco
1930 vencida pela Celeste, sede da para cada país), como na África do Sul
competição. em 2010.
A ideia do Mundial ser realizado Em 1930, a Copa do Mundo do
em solo sul-americano surgiu como Uruguai poderia muito bem se chamar
uma surpresa e logo foi se perdendo Copa do Mundo de Montevidéu,
no tempo, seja pela morte de Julio em pois os três estádios que foram sede
2014 ou pelos escândalos envolvendo eram da capital uruguaia. Esse cenário
a FIFA. “Não se fala muito da Copa. preocupa para uma possível volta
Os rumores tomam força quando do torneio para o país: a situação
se disputam jogos importantes das do interior uruguaio. “Montevidéu e
(Eliminatórias e) Copa e quando se Punta Del Este são cidades com uma
fala dizem que será compartilhada estrutura, no mínimo, razoável para
com a Argentina, porque não temos a atendimento ao turista e não teriam
infraestrutura para um Mundial”, conta problemas na questão de hotelaria
a uruguaia Rossina López Cuevasanta, e de transporte. Colonia ainda tem a
22 anos, estudante e auxiliar contábil. vantagem de estar a menos de 100
Uma Copa do Mundo exige km de barco de Buenos Aires e o
estrutura e estádios por todo o país, transporte fluvial entre as duas cidades
mesmo que a capital comporte mais é normal”, conta o jornalista Victor de
de uma arena. Assim fica a dúvida Andrade, 38 anos, que já viajou cinco
quanto às sedes. A Argentina não vezes para o Uruguai, como turista,
deve ter problemas quanto a isso, sendo a última em março de 2015.
levando em consideração que várias Entretanto, Victor cita que o interior

39
apresenta problemas. “As cidades mandando seus jogos fora da capital.
são pequenas, pouca rede hoteleira As cidades têm uma população
e transporte apenas de ônibus”. semelhante ao número de lugares que
Punta Del Este teria a vantagem de os estádios devem contar, mas isso não
ser “grudada” em Maldonado, cidade é o pior, a torcida dos dois clubes não
interiorana que segundo Victor possui comportam possíveis arenas. O estádio
o melhor estádio fora da capital. do Plaza conta com 15 mil lugares,
Segundo o Censo 2011, a capital do enquanto o de Las Piedras comporta
país praticamente comporta metade 12 mil pessoas. Como vimos existe uma
da população. Montevidéu tem uma grande diferença.
população de um milhão e 305 mil “O Estádio Suppici, de Colonia del
pessoas, sendo que o Uruguai conta Sacramento, teria que sofrer inúmeras
com cerca três milhões e 300 mil obras de estrutura para ser uma sede
pessoas. A diferença é considerável de Copa do Mundo, comparando
para Ciudad de la Costa, a segunda com os estádios que vi jogos na Copa
maior cidade uruguaia, com 112 de 2014. O Suppici até tem uma boa
mil pessoas, mas que fica na região estrutura para o Campeonato Uruguaio,
metropolitana da capital, apesar de ser mas fica muito longe para ser sede
de outro departamento. da Copa de 2030”, conta Victor, que
Essa disparidade reflete no futebol. assistiu jogos do Mundial de 2014 em
A temporada 2015/16 do Campeonato Curitiba e São Paulo.
Uruguaio da Primeira Divisão conta Na temporada 2012/13, o volante
com 16 clubes, onde apenas duas Pedro Mondardo, 21 anos, defendeu o
equipes não são da capital: Plaza Cerro Largo (Melo, 52 mil, nona maior
Colonia (Colonia del Sacramento, 26 cidade) e segundo ele, os próprios
mil, vigésima maior cidade) e Juventud moradores do interior, apesar da paixão
(Las Piedras, 71 mil pessoas, sétima pelo clube, o tratam como um segundo
maior cidade) são os representantes time. “Todos da cidade gostam e
não capitalinos da elite uruguaia, apoiam o clube, tem torcida organizada
sendo que o segundo fica na região que não para de apoiar, mas claro que
metropolitana de Montevidéu, seus primeiros times são os da capital
mesmo que em outro departamento, como Peñarol, Nacional e Defensor, por
Canelones. Sud América e El Tanque isso os jogos contras os grandes times
Sisley são de Montevidéu, mas vêm eram os que mais enchiam”.

40
Estádio Raul Goyenola, em Tacuarembó,
capacidade para oito mil pessoas

Estádio Atilio Paiva


Olivera, em Rivera, 27 mil
espectadores, o maior do
interior uruguaio

41
Parque Artigas, estádio em
Paysandu, 27 mil lugares e
que recebeu a Copa América,
em 1995

Estádio Domingo Burgueño


Miguel, em Maldonado, 25
mil pessoas, um dos favoritos
do interior uruguaio para
receber uma Copa

42
Ciudad de la Costa, Salto (104 mil), Artigas, que tem a capacidade de 25 mil
Paysandu (87 mil), Maldonado (84 mil), e já foi sede de uma Copa América, mas
Rivera (79 mil) são as maiores cidade os seus dois clubes não condizem com
do “interior” uruguaio e destas, apenas o tamanho da cidade, pois o Estudiantil
uma possui representantes na segunda Sanducero e o Paysandú Bella Vista,
divisão. Tal divisão que em 2015/16 também disputam as ligas amadoras
conta com 15 clubes, destes apenas regionais.
cinco são do interior: Tacuarembó “O Uruguai sediou a primeira Copa
(Tacuarembó, 54 mil), Atenas (San do Mundo em 1930. Experiência eles
Carlos, 27 mil), Cerro Largo (Melo), têm, mas muita coisa mudou, o interior
Deportivo Maldonado (Maldonado) e do país é formado de cidades pequenas
Rocha (Rocha, 25 mil). O Oriental não é sem muitos meios de locomoção e a
de Montevidéu, e sim de La Paz, mas é hotelaria não sei se aguentaria tantas
o mesmo caso do Juventud. O Boston pessoas. Acho que sozinho o país não
River e o Huracán são capitalinos, conseguiria receber uma copa hoje,
mas jogam fora da cidade, sendo que mas com o auxilio da Argentina, sim”,
o segundo disputa suas partidas em cita Pedro Mondardo.
Rivera. Apenas o Tacuarembó e o O cenário não é favorável para o
Deportivo Maldonado têm sede em interior uruguaio. Montevidéu deverá
uma cidade interiorana com mais de ter, caso o Uruguai seja sede, dois ou
40 mil pessoas, número “mínimo” de três estádios na competição. A situação
capacidade dos estádios construídos do interior fica comprometida. Levantar
para as últimas edições da Copa. elefantes brancos em um dos países
O maior estádio do interior uruguaio mais equilibrados da América do Sul
fica em Rivera, o Atilio Paiva Oliveira, não parece estar em pauta, mas tirar o
que comporta 27 mil pessoas. A interior dessa festa é injusto. Levando
cidade conta com o Frontera Rivera em conta o futebol: Melo, Las Piedras
que atualmente faz parte do futebol e Maldonado estão na frente, mas isso
amador uruguaio, depois de grave não é garantia de sucesso pós-copa
crise financeira no começo do século. pelo contexto atual.
Paysandu conta com o estádio Parque

43
2-3-5

MOVIMENTAÇÃO
TÁTICA E
ÍMPETO
OFENSIVO

por JOÃO VITOR POPPI

Os aspectos táticos que envolveram Senegal


e Turquia, pelas quartas de final da Copa do
Mundo de 2002

(Foto: Alex Livesey/Getty Images).

44
45
U
ma das quartas de final mais
alternativas das Copas do
Mundo. Essa foi Senegal e
Turquia, que com propostas
de jogo distintas fizeram

0
um grande jogo capaz de
nos ensinar muito, pois foi repleto de
perspectivas táticas que viriam a evoluir e X
se firmar na atual década – revelando que
aquele era um momento de transição.
A equipe africana era de vocação
ofensiva e iniciou o duelo propondo o jogo, Copa do Mundo 2002
postada em um 4-3-3 com um triangulo
de base alta no meio de campo. A Turquia
atuou em um 4-4-2 (quase) britânico e
sofreu bastante nos trinta minutos iniciais
com a imposição física de Senegal.

46
O técnico Bruno Metsu adiantou sua
equipe para marcar no campo ofensivo,
desarmar mais perto do gol para colocar
toda verticalidade senegalesa em boas
situações, além de bloquear a saída de

1
bola turca com os meias centrais e forçar

X o lançamento longo do adversário. Em


questão de produtividade as escolhas foram
certeiras: domínio, chances de gol criadas e
4’ 2ºT - P Mansiz
até gol anulado – corretamente.
A mobilidade do ataque senegalês
Quartas de final funcionava com Diouf encarregado como
22 de junho “falso” 9, sempre recuando e ajudando
armar, para deixar os zagueiros sem
Nagai Stadium, Osaka
referência de marcação e abrir diagonais
para os pontas Fadiga e Camara infiltrarem,
e outras vezes ainda trocava de posição

DIOUF FADIGA

O camisa 11 recua,
tira a referência de
marcação dos
zagueiros e cria um
grande espaço para os
pontas infiltrarem.

Camara, o ponta direita,


está na outra extremidade
do campo, buscando
fazer a diagonal para a
área adversária, criando
mais uma opção para a
jogada.

47
com o último. não estava em uma jornada feliz e acabou
Foram trinta minutos de superioridade substituído por Mansiz. A equipe turca
mantendo o ritmo sempre alto, mas aos mostrou-se moderna, sendo armada pelos
pouco a intensidade física diminuiu e a meias centrais (ou volantes) Tugay e,
Turquia, que conseguiu manter o zero no principalmente, Basturk, que qualificava a
placar mesmo em uma situação em que saída de bola e subia seu posicionamento
foi dominada, igualou o jogo no restante se colocando como opção, quebrando as
da primeira etapa e conseguiu colocar em linhas de marcação adversária e dando o
prática suas estratégias para dominar o último passe.
segundo tempo. A Turquia dominou os espaços
Com passes curtos para acionar os lados vencendo o duelo no centro de campo.
de campo e troca de posicionamentos A movimentação da seleção do técnico
a seleção vermelha encontrou espaço e Senol Gunes funcionava como uma
criou claras chances de gol – duas delas engrenagem com as subidas de Basturk,
perdidas pela estrela Hakan Sukur, que variando taticamente pro 4-1-3-2, Emre, o

DAVALA

Basturk, o meia central,


além de qualificar
a saída de bola, TUGAY
ultrapassa quebrando
as linhas de marcação
de Senegal, dando
dinâmica e criatividade
ao meio campo turco.

Emre fecha o centro para facilitar o


apoio de Basturk e equilibrar a
movimentação da equipe,
praticamente se alinhando com Tugay.
Além disso, abre um corredor para o
lateral Ergun ir à linha de fundo

48
extremo pela esquerda, fechava pelo centro criado dentro da proposta de jogo e
se aproximando de Tugay e abrindo um movimentação já citada: Erdem (entrou
corredor para as subidas do lateral Ergun. na vaga de Emre) acelerou a saída de bola
O 4-3-3 de Senegal ficou com setores fazendo a diagonal da esquerda para o
distantes: o tridente ofensivo não recebia centro, acionou o meia/ponta direita Davala
o apoio dos meio campistas (muito fortes que com espaço cruzou pra Mansiz desviar
fisicamente, mas pesados), sentindo e anotar o gol de ouro.
muito a falta de Papa Bouba Diop se Senegal tinha o drible e a velocidade,
deslocando pelo meio. Criou-se um grande a Turquia tinha o bom passe e a
espaço entre estes setores, pois os pontas movimentação inteligente. Boas e
participavam pouco da recomposição diferentes qualidades, mas venceu quem
defensiva – ao contrário dos extremos foi mais aplicado, compacto e soube usar
turcos que voltavam até o fundo de campo. e ocupar melhor os espaços. A força tática
Aos três minutos da prorrogação vermelha se sobrepôs.
o gol da épica classificação turca foi

CAMARA

DIOUF

FADIGA

49
BOLA DE CAPOTÃO

(Foto: Site Goiatuba EC)

DO FILHO PARA O PAI,


O GRANDE TÍTULO!
Em 1992, o Goiatuba quebrou a hegemonia da capital e venceu
o estadual. João Paulo Vilarinho foi um dos apaixonados que
acompanhou aquela campanha

50
D
esbancamos a capital. Vila Nova e Atlético e o “intruso” do
É assim que João Paulo interior, o Goiatuba.
Vilarinho, 30 anos, se A campanha no quadrangular final
refere ao título goiano foi perfeita, com vitórias em todos
do Goiatuba em 1992. os seis jogos. João Paulo tinha sete
Também pudera, foram anos. Ele não se lembra exatamente
25 anos de espera para que um clube em quantos jogos foi ao Divino Garcia
do interior se sagrasse campeão Rosa. Segundo ele, entre seis ou sete.
estadual. O CRAC, em 1967, foi o Nos dois jogos mais importantes
último, antes do Azulão do Sul, a daquela caminhada, contra Atlético e
quebrar a hegemonia goianiense. Até Vila Nova, ele estava lá e se recorda
aquele ano, além dos dois citados, bem.
apenas o Anápolis, em 1965, também No jogo contra o Atlético, pela
havia conquistado o título. O fato foi quarta rodada, o Divino Garcia Rosa
tão comemorado, que Orlando Lelê, estava lotado e um lance transformou
treinador da equipe campeão, disse. a atmosfera do estádio. “O Goiatuba
“Jogamos água no chope deles”. pressionou o Atlético de maneira
Foi um campeonato longo. absurda durante todo o segundo
Começou em julho e terminou em tempo. E o Atlético só dando ‘bago’
dezembro. Eram 16 clubes que na pros lados. Até que aos 41 minutos do
primeira fase jogavam entre si em segundo tempo, num chuveirinho pra
dois turnos. Foram 30 jogos na área e um bate e rebate interminável,
primeira fase! Na segunda fase, o Pirata chutou meio errado, a bola ia
um quadrangular, com um início sair, mas bateu no joelho do zagueiro
preocupante do clube, porém com três atleticano André e a bola foi morrer
vitórias nas últimas rodadas e assim de mansinho na rede. O estádio foi
a vaga no quadrangular final chegou, abaixo!”.
composto pelo trio da capital, o Goiás, “O mito! Camisa 10! Me lembro

51
que soltaram na imprensa que ele Orlando Lelê quebraram um tabu, em
já tinha contrato com o Goiás, para plena capital, que foi invadida por cerca
desestabilizar o time”, esse era de 800 goiatubenses.
Estrela, o ídolo daquele menino. Ao lado de João Paulo, nesse e
Foi então que ele desestabilizou os em todos os jogos, seu pai, Márcio
adversários da capital na fase final, Vilarinho, companheiro de estádio. Ele
mas principalmente, no jogo do título, relembra emocionado um momento em
contra o Vila Nova. “Naquela noite, especial, após o segundo gol da “final”.
o Estrela foi Zico! Ele acabou com a “(Depois do gol) ele foi lá perto da
defesa do Vila Nova. E ali, o Azulão torcida e bateu no braço gritando: Aqui
do Sul sagrou-se campeão goiano de tem raça! Aqui tem raça! Nunca me
1992”, lembra João Paulo, que tomado esqueci disso. Daí perguntei para ele, o
pela emoção, chorou ao ver o segundo que era raça”. O pai então respondeu:
gol. “Raça é o que o jogador tem que ter
Foi assim, que Marolla; Claúdio, para fazer o time ganhar”. Márcio que
Reinaldo, Edvaldo Costa e Jorge Luís; um ano depois, morreu.
Fernando, Cachola e Estrela; Lenílson, Do pai para o filho, do filho para o
Pirata e Tornado, comandados por pai...

(Foto: Site Goiatuba EC)

52
GOIATUBa
esporte clube


Aqui tem raça! Aqui
Fundação: 5 de maio de 1970
tem raça! Nunca
Cidade: Goiatuba (GO)
me esqueci disso.
Daí perguntei Site/Facebook: goiatubaec.webcindario.com
/ @GoiatubaEsporteClube
para ele, o que era
Estádio: Divino Garcia Rosa (15000 pessoas)
raça”. O pai então
Alcunha: Azulão do Sul
respondeu: “Raça é


o que o jogador tem Títulos: Estadual (1992), Estadual da Segunda
Divisão (1984 e 1997) e Copa Goías (1993)
que ter para fazer o
Participações Nacionais: Copa do Brasil
time ganhar. (1993), Brasileirão Série B (entre 1994 e
1997) e Brasileirão Série C (2003)

(Foto: Site Goiatuba EC)

53
UM PAPO
BOLA DE CAPOTÃO

ASSAZ PERTINENTE
Marco Bianchi, ao lado de Paulo Bonfá, marcaram uma geração que pôde misturar
diversas paixões em um mesmo programa: futebol, música e humor. Tudo isso, entrelaçado.
O Rockgol, seja como semanal ou campeonato, usou o humor no futebol, com uma pitada
de informação, mesmo que a comédia fosse o ponto alto e fez também, com que cantores,
baixistas, guitarristas e bateristas de bandas de rock (em sua maioria) se tornassem
jogadores de futebol, com narrações e comentários assaz pertinentes da dupla. O Série Z
conversou com Marco Bianchi, que conta um pouco sobre o Rockgol
e monta até a sua seleção do campeonato.

O Rockgol era um programa que via sua ligação com a Cabofriense?


o futebol de uma forma diferente das Quando começamos o Rockgol ao
grandes emissoras. Essa foi uma forma vivo, eu tive dificuldade, pois até ali
encontrada de se diferenciar? nunca havia falado como eu mesmo,
O estilo e formato do Rockgol não tudo que eu interpretava eram textos
foram calculados, foram consequência dos personagens que eu criava. Então
natural do tipo de trabalho que eu comecei, aos poucos, a compor uma
já fazia no rádio. O objetivo principal espécie de alter ego, um personagem
sempre foi humorístico e a liberdade com meu nome e a minha cara. Para isso,
dada pela emissora deixou a coisa fluir me inspirei em tipos célebres da crônica
espontaneamente. Quando isso se esportiva como Roberto Avallone e
estendeu ao futebol “não musical”, a Gerson Canhotinha de Ouro. Fui criando
mesma abordagem foi levada à análise um vocabulário próprio e, ao mesmo
dos jogos e atletas profissionais. E era tempo, inventando um perfil que entre
algo nitidamente diferenciado em relação outras coisas, acabou por incluir a torcida
ao que existia até então. para a Cabofriense, a formatura na
FODERJ (Faculdades Odair Ernesto Júnior)
Você com a Cabofriense e o Bonfá etc. Algum tempo depois, pesquisei
com o Bandeirante. A paixão por esses sobre o clube, decorei o hino e aprendi a
clubes veio antes do Rockgol? E qual a tocar no violão. E ainda criei o

54
(Foto: Facebook Marco Bianchi)

55
Marco ao lado de uma das suas
inspirações, Roberto Avallone (Foto:
Facebook/Marco Biachi).

projeto Libertadores 2150, uma meta tão por mero oportunismo, para posar de
folclórica quanto longe para abastecer defensor dos frascos e comprimidos. Para
meu vasto cabedal de comentários assaz isso, em vez de assistir a jogos infames,
pertinentes. cita escalações e fatos antigos em
detalhes, aproveitando-se nitidamente do
Futebol alternativo trata de clubes fato de que ninguém poderá contestar
pequenos, divisões inferiores, um facilmente tais narrativas. E a postura
outro lado do futebol. Você gosta de serve tanto para agradar os torcedores
acompanhar esses campeonatos por de times menores quanto para se
interesse mesmo ou o programa te destacar no concurso de beleza dos
trouxe isso? debates esportivos, ostentando “pseudo-
Com tantos times e estados, é natural memória-de-elefante” e falsa sabedoria.
que a cobertura esportiva de âmbito
nacional às vezes se restrinja aos E sobre o quadro “Jogo duro... de
grandes clubes e às maiores torcidas. assistir!”. Aliás é assim que se escreve
Mas isso gera antipatia que é dirigida ou não tem uma forma correta? Como
à imprensa e ao chamado Eixo Rio-SP. surgiu a ideia do quadro? E o por quê?
Meu personagem populista, demagogo Escreveu certo! Esse quadro foi uma saída
e inescrupuloso assumiu tal discurso que sugeri para ganharmos imagens de

56
jogos, já que nunca detivemos direito
de imagens sobre nenhuma competição
oficial. O ambiente do futebol amador
e de várzea é um prato cheio e rendeu


Criei o projeto grandes momentos ao programa, sempre
combinado a locuções divertidas e
Libertadores edições peculiares.

2150, uma meta O Rockgol Campeonato marcou uma


geração. Era um momento de misturar
tão folclórica futebol e música, principalmente,
quanto longe para o rock. Muitos jovens conheceram
bandas através do Rockgol. Como era
abastecer meu fazer aquele especial e saber que havia
um fiel público acompanhando?


vasto cabedal de Foi engraçado e interessante apresentar
os músicos daquela forma irreverente,
comentários assaz talvez isso tenha gerado maior afinidade
pertinentes. entre espectadores, narradores e
músicos.

Marco Bianchi e a camisa da


Cabofriense, em participação
no extinto programa Loucos
por Futebol da ESPN Brasil
(Foto: ESPN Brasil).

57
Kim Perninha
[Kim - Catedral]

Boina Chiliquenta
[Gilmar Bola 8 - Nação Zumbi] [Toni Garrido - Cidade N

Musa Nissei Sansei


[André - Angra e Shaman]

Tiozão do Churrasco Jesus [Luis Mariutt


[Guilh. Morgado - Catedral] - Angra e Shaman]

Lobato
[Marcelo Lobato - O Rappa]

58
o time de
Juninho Papito
[Supla]
marco bianchi

Cléééston
Negra] [Cléston - Detonautas]

Kikozam Bianchi
ti [Kiko Zambianchi]
]

Roger [Roger Moreira


- Ultraje a Rigor]

59
BOLA DE CAPOTÃO

1
9
8
7
60
Um jogo escondido na história do São
Paulo e uma das poucas partidas da seleção
caribenha. A disputa tem personagens como
Latapy, Neto e Marin...

E
ra 16 de março de 1987, uma mais chama a atenção é Russell Latapy,
segunda-feira à noite, com meia trinitino que na época era capitão
30 mil pessoas, o Estádio da equipe nacional sub-19 e quase
Nacional (atual Hasely duas décadas depois participou de um
Crawford) de Trinidad e momento histórico para o futebol local:
Tobago, em Port of Spain a participação na Copa do Mundo de
recebeu um dos amistosos mais 2006. No Mundial, jogou pouco, apenas
alternativos, aleatórios e escondidos os 24 minutos finais da partida contra o
da história: São Paulo e Caribbean Paraguai.
All Stars. Informações são mínimas. A partida terminou 2 a 0 para o
Imagens inexistentes (se encontrarem, São Paulo. O primeiro gol só saiu aos
me avisem). Vídeo, então!!! 27 minutos do segundo tempo, em
O São Paulo, campeão brasileiro cobrança de falta de Neto. Sim, o ídolo
de 1986, conseguiu o título daquele corinthiano, que foi contratado em
certame, somente em 25 de fevereiro 1987, depois de passagem pelo Bangu!
de 1987. Três semanas depois estava Quatro minutos depois, foi a vez de Pita
em Trinidad e Tobago. Antes disso, marcar, após passe de Zé Teodoro.
disputou a Marlboro Cup, em Miami, A história, porém, não termina por
contra o Millionarios, Deportivo Cali e aí. Após o jogo, uma homenagem
a seleção americana. Ficou em terceiro foi feita a Jackie Bell, ex-treinador da
lugar. seleção jamaicana, já falecido, na época.
O Tricolor contava com a base da Quem recebeu foi a filha dele, Natasha.
seleção brasileira na Copa de 1986: Mas o que interessa é quem entregou
Muller, Oscar, Silas… e Careca. O a homenagem: José Maria Marin, preso
parceiro de Maradona no Napoli era o em maio de 2015, por envolvimento
mais aguardado no país, mas devido em casos de corrupção ligados a
ao contrato, que havia se encerrado em FIFA. Marin foi enviado ao amistoso,
5 de março, o jogador ficou no Brasil, como representante da Confederação
mas não o renovou e rumou a Itália. Brasileira de Futebol e quatro anos
A base da seleção caribenha era antes era governador de São Paulo.
composta por jogadores de Trinidad Aqui está, um jogo com muita
e Tobago, Jamaica, Haiti e Antilhas história…
Holandesas. Entre os jogadores, o que

61
CAMISA 12

Quando
enfrentei Neymar!
por BENÍCIO JÚNIOR

U
m domingo que se vizinha de Inajá, era um dos jogadores
tornaria histórico para do clube. A ideia era que fosse
a pequena cidade de realizada lá, mas como a cidade é um
Paranacity, o Santos pouco menor, o jogo foi realizado em
Futebol Clube veio fazer Paranacity.
uma visita, com o time Foram dois dias de amistosos no
que tinha (um futuro) grande craque estádio municipal Péricles Ribeiro,
do futebol brasileiro e mundial Neymar, sábado e domingo. As partidas serviram
que hoje brilha no Barcelona. como peneira para poder escolher
Um dos olheiros do Santos falou alguns destaques da região para fazer
para um colega meu, o Amarildo: “Esse um teste no clube.
menino Neymar vai jogar mais que o Muitos moleques apareceram.
Robinho, de tão bom que ele é”. No Da região inteira. No sábado, eu não
primeiro dia do teste, ele fez mais de joguei. Não teve como eu entrar em
cinco gols, ninguém conseguia parar campo. Na hora fiquei frustrado e
o ‘homem’. Muitos tentaram e não depois que acabou o primeiro jogo, eu
conseguiram de tanta habilidade que fiquei triste e pensei que havia acabado
ele tinha. meu sonho de ser jogador, de ganhar a
O jogo contra o Santos foi vida e ajudar minha família.
agendado pela Prefeitura, pois No vestiário, quando estava
Alexandre, que hoje mora na cidade acabando de me arrumar para ir

62

Quando fui dar o bote nele, para
tomar a bola tomei dois chapéus


e quando ele foi dar o terceiro,
eu o derrubei e fiz a falta.

63
embora chegou uma notícia que me que não deu em nada. Na sequência,
deixou feliz. O treinador, o Jair, disse mais um momento, quando fui dar
que o nosso time, que foi campeão o bote nele, para tomar a bola tomei
da Liga de Colorado um ano antes dois chapéus e quando ele foi dar o
(com um gol do título marcado por terceiro, eu o derrubei e fiz a falta. O
mim, aliás, foi um dos dias mais felizes estádio veio abaixo e todos começaram
de minha vida com um chute de bico a gritar e ficaram impressionados, com
fora da área) ia começar jogando no o moleque que era bom de bola.
domingo. Fui embora feliz! No decorrer do jogo ainda tomei um
Foi difícil dormir! Fui dormir cedo! tapa na cara e o juiz não deu falta. Um
Contava as horas para poder entrar em pouco mais para frente consegui parar
campo contra o Santos. o Neymar, com uma falta na entrada da
‘Beleza’, chegou o grande jogo, o área. Tirando isso, o jogo já estava 7 a 1
estádio estava cheio. A partida estava para o Santos e o Neymar já tinha feito
marcada para às 9 horas. Jair disse que cinco gols no primeiro tempo.
todos os titulares deveriam chegar às Em outra parte do jogo, cinco
8h15 para começar a preparação. Eu fui jogadores se juntaram para pará-lo.
da minha casa até o campo pensando Eu fui o primeiro a tentar tomar a
que meu sonho estava cada vez mais bola, mas ninguém conseguiu. Ele deu
perto e que podia jogar no Santos chapéu sem deixar a bola cair e muitas
Futebol Clube. Eu sabia que ia jogar, já coisas mais...
fui me preparando psicologicamente Não consegui achá-lo em campo.
para não fazer ‘coisa errada’. Eu soube Ele era muito rápido, era impossível
que ia marcar o camisa 10, se eu fosse marcá-lo individualmente. Joguei só
bem poderia conseguir meu espaço o primeiro tempo da partida, porque
para fazer parte da categoria de base. O tinha muito molecada esperando para
camisa 10 era Neymar!!! entrar. Até hoje o pessoal lembra do
Começou o jogo. Na primeira jogo, me encontra na rua e tira sarro:
bola tomei um drible ‘vergonhoso’. “Você tomou dribles do Neymar”. Foi
O estádio todo começou a gritar um momentos mais importante em
tirando sarro de mim, mas não abaixei minha vida e posso falar que joguei
a cabeça, continuei jogando para não contra o time do Rei do Futebol.
ficar feio. Toquei na bola, dei um passe,

64
CAMISA 12
(Foto: Gabriel Bicho)

A história de um título inédito

por ÁLISSON ALBINO

A
pós o Genus vencer o primeiro mochila três camisas do Genus, fora
jogo da final do Campeonato a que eu estava vestido. Atrás uma
Rondoniense por 2 a 1, eu só galera bebendo. Com tanto barulho
pensava em viajar para Vilhena, para e o total desconforto do ônibus, era
assistir a partida de volta. Mas sem impossível dormir, o jeito foi passar a
grana para as passagens, não seria tão noite imaginando como seria aquela
fácil assim. De última hora, a torcida final. Chegamos na hora do almoço,
organizada conseguiu dois ônibus, conseguimos o ginásio municipal para
bem rodados e nada confortáveis, com tomar um banho e esticar o corpo.
os bancos bem duros. Arrumei uns Banho tomado e camisa da sorte no
trocados de última hora para pagar a corpo, partimos para o bar de frente ao
caravana e entrei no busão rumo ao estádio fazer aquele aquecimento.
cone sul. Chegada a hora da partida,
Começava ali minha saga rumo a entramos no estádio Portal da
final do estadual, 700 km e 12 horas Amazônia, nós em cerca de sessenta
de chão até chegar a Vilhena. Na apaixonados pelo aurigrená da capital

65
e cerca de dois mil torcedores do volantes, somente um meia e um
VEC. Antes de a bola rolar, um locutor atacante e pensei: ‘’Nossa vantagem
insuportável tentava animar a torcida é muito pequena para ele fazer isso”.
do time da casa e aproveitava para nos E era. Com 30 minutos de jogo o
provocar. O jogo nem tinha começado Vilhena já ganhava a partida por 2 x 0,
e a gente mesmo em um número muito nossa vantagem já tinha ido embora,
menor fazia muito mais barulho que a copos e garrafas voavam em nossa
torcida local. Peguei a camisa amarela direção enquanto a torcida deles
da mochila e fiquei com ela na mão, comemorava e nos xingava. Ainda sim,
achei que daria sorte, besteira, mas continuamos cantando e apoiando,
quem é que entende torcedor? até o intervalo de jogo. Com o fim do
O jogo começa. Nosso técnico entra primeiro tempo, confesso que bateu
com um time retranqueiro, quatro uma tristeza. Lembrava que já tinha
visto esse filme em 2009. Resolvi
guardar a camisa amarela que
estava na minha mão, é claro
que a culpa era dela! Prometi
que se a gente fosse campeão,
não beberia nada de álcool
na comemoração. Antes de
começar a segunda etapa,
percebi que um caminhão de
bombeiros chegou ao estádio,
para o VEC a vitória e o título
já estaria certo, mas como
diz o filósofo da bola Muricy
Ramalho, a bola pune.

(Foto: Arquivo Pessoal)

66
(Foto: Gabriel Bicho)

Veio o segundo tempo e a reação, aí não teve jeito, comecei a chorar e


o nosso treinador tirou dois volantes só parei no apito final. Aos 38, Guarate
e colocou dois atacantes. Com sete virou o jogo e nos deu o título. Muito
minutos Pemazza sofre pênalti e choro nas arquibancadas. A espera
Fernandinho vai para a bola. O que eu havia acabado. A viagem tinha valido a
vi? Nada. Virei de costas, me ajoelhei e pena. O Genus era campeão.
pedi para aquela bola entrar e entrou, O jogo acabou e todos nós
explode a torcida, o Genus estava de parecíamos não acreditar, o nosso time
volta ao jogo. Aos 17, o criticado e enfim acabou com o jejum. Que vice,
predestinado Thiago Xuxa empata o o que?! O aurigrená de Porto Velho
jogo e coloca o time de Porto Velho calou o Portal da Amazônia. Invadimos
na frente no placar agregado. A essa o gramado, comemoramos junto com
altura, alguns torcedores já rezavam os jogadores e agradecemos juntos
e começavam a chorar. O Vilhena era também, ajoelhamos todos em volta do
guerreiro sim e buscou o 3 a 2 com gramado e nos demos a mão para rezar
Cabixi, tudo empatado novamente, o um Pai Nosso, imagem que nunca vou
coração a mil e as lágrimas querendo esquecer. Foi loucura? Foi, mas é como
descer. Mas o tal do Xuxa tem estrela, diz a música: “Dizem que sou louco por
um minuto depois do gol do VEC ele pensar assim, se eu sou muito louco
foi lá e marcou de cabeça para a gente, por eu ser feliz. Eu sou feliz!”.

67
ESCRETE

A saga da
pequena dibradora

por MARIA GUIMARÃES


[EQUIPE DIBRADORAS]

/dibradoras
@dibradoras
@dibradoras
SITE
dibradoras.com.br

68
Aos 4 anos:
“Mãe, quero jogar futebol.”
“Filha, por que não natação? Ajuda a crescer, faz bem
pro pulmão.”
Compra touca, compra óculos, matricula na aula.
Odeia aula. Ela quer futebol.
Aos 5 anos:
“Mãe, quero jogar futebol.”
“Filha, por que não karatê? Esporte oriental, tão bom
para disciplina.”
Compra quimono, compra faixa, leva na aula. Ela até
gosta, é divertido. Mas ela quer futebol.
Aos 7 anos:
“Mãe, quero jogar futebol.”
“Mas filha, por que não jazz? Tão feminino, tão
delicado e nem é rosa como balé.”
Compra body, compra meia calça, faz o coque. Ela
quase morre de desgosto.
Aos 8 anos:
“Mãe, quero jogar futebol.”
“Mas filha, tão violento, ó como ficam suas canelas,
parece um menino. E nem tem escolinha para você.”
Não compra nada, porque ela não quer fazer mais
nada.
Aos 9 anos:
“Mãe, eu vou jogar futebol: agora tem uma escolinha
no clube.”
“Por que não… outra coisa?”
“Por favor, mãe.”
Com um sorriso inversamente proporcional ao dia
que comprou sua sapatilha do jazz, ela foi com o pai
comprar sua primeira chuteira. Não pestanejou e já
pediu uma caneleira para se proteger dos roxos que a
mãe tanto falava.
Vendo a alegria da filha, não vou dizer que a mãe
nunca mais reclamou. Reclamou, se preocupou, foi
assistir a poucos jogos porque morria de medo de ver
a filha se machucar. Mas quando a menina saía para
cada treino, para cada jogo, a mãe via sua filha feliz. E
aí, ela se deparou com o primeiro “por que não?” que
valia a pena:
(Foto: Andrea Corradini/Projeto “Se a faz feliz, por que não?”
Gameface)

69
GUIA

Sandro - Kitchee Wellingsson-Southern District Roberto - Eastern Lucas Silva - South China
(Foto:Facebook Kitchee). (Foto: Ken Popo). (Foto: Facebook Eastern). (Foto: Facebook South China).
GUIA

semifinais
HK SENIOR SHIELD
2015/16
70
VAI TER CAMPEÃO EM
HONG KONG

F
inal de ano e as competições passou um período treinando a equipe,
de futebol ficam escassas, mas porém sem sucessos.
dificilmente o planeta fica sem Apenas clubes da primeira divisão
uma partida em algum dia participam, ou seja, uma espécie
do ano. Após o Natal, caso de “Copa da Liga da elite”. Apesar
você não encontre o sono, de começar em uma temporada e
procure um streaming pela internet e terminar em outra, apenas a final será
tente assistir as semifinais da HK Senior disputada em 2016. A Senior Shield
Shield 2015/16, uma das copas da começou em setembro, com a fase
cidade-Estado asiática, que rolam às 5 preliminar. Em outubro, as quartas de
horas, nos dias 26 e 27 de dezembro. final foram disputadas e em dezembro
A Senior Shield é a competição serão conhecidos os finalistas que se
entre clubes mais antiga que se tem enfrentam no dia 24 de janeiro. Todos
registro na Ásia, disputada desde 1895. os confrontos foram e serão em jogo
Em seus 120 anos, a competição já único.
teve 38 campeões diferentes e muitos Southern District, Kitchee, Eastern
dos clubes que levantaram taças e South China são os postulantes
nem existem mais. O South China é o as vagas na final. As quatro equipes
maior campeão da competição, com reúnem 18 jogadores que foram
31 títulos, 22 a mais que o Eastern, convocados para as últimas partidas
segundo da lista e atual campeão. da seleção local, em novembro, para
Os dois clubes, aliás, as Eliminatórias da Copa do Mundo
protagonizaram uma das melhores da Rússia 2018. Oito deles foram
histórias da competição, quando em titulares. Todas as equipes contam
1982, se enfrentaram na final da taça e com brasileiros, 14 no total, sendo
o Eastern contou com uma participação dois naturalizados que são titulares do
ilustre: Bobby Moore. O inglês que selecionado de Hong Kong.
levantou a taça de campeão do mundo A Série Z prepara um guia da
em 1966 foi convidado pela equipe, aos semifinal da competição, para você
40 anos, apenas para a disputa da final leitor ficar antenado e se “der na telha”
e deu sorte, com a vitória por 4 a 0. O procurar alguma transmissão no dia.
zagueiro atuou por 12 minutos e ainda Aproveite!

71
A terceira batalha SOUTHERN
O Southern District, que disputou a segunda DISTRICT
divisão em 2014/15, é o grande azarão das semifinais.
A equipe teve que iniciar a Senior Shield na fase
preliminar e vai para sua terceira partida da copa. O
adversário é difícil, o Kitchee, atual campeão nacional. Nome completo: Southern District
Recreation & Sports Assn Ltd
É a primeira vez que a equipe disputa a competição, Fundação: 2002
pois estreia na Premier League local, onde ocupa Cidade: Hong Kong (Distrito Sul)
a sexta colocação (até o fechamento da edição). O Site: www.sdfc.org.hk
sucesso nos seus 15 anos de existência rendeu a Facebook: /HKSDFC
contratação de estrangeiros, entre eles, os brasileiros Estádio: Aberdeen Sports Ground (9000
pessoas)
Tomás, defensor, que disputou todos os jogos da Títulos: HK Junior Challenge Shield Cup
atual temporada e Wellingsson, meia, que tem gols na (2010/11)
época e é um dos artilheiros da equipe.
A classificação para a inédita final deve passar,
também, pelas mãos do goleiro Tse Tak Him, que
chegou essa temporada ao clube e é presença
constante na lista de convocados do selecionado local.

KITCHEE Dez anos de espera


Na temporada 2014/15, o Kitchee conseguiu a
tríplice coroa do futebol do Hong Kong, conquistando
Nome completo: Kitchee Sports Club o Nacional, a Copa e a Copa da Liga, mas o vice
Fundação: 1931 da Senior Shield impediu a quarta conquista da
Cidade: Hong Kong (Distrito Yau Tsim
Mong)
temporada. A competição é uma “obsessão” da equipe
Site: www.kitchee.com/ que não a vence desde 2006.
Facebook: /kitchee.sc Nesse período, porém, a equipe bate de frente com
Estádio: Mong Kok Stadium (6664 pessoas)
Títulos: Primeira Divisão (1947/48, 1949/50,
o South China, como o clube com mais conquistas
1963/64, 2010/11, 2011/12, 2013–14 e nacionais recentes. O rival passou a ter alguém a altura.
2014/15), HK Senior Shield (1949/50, A equipe do oeste é a favorita no seu confronto.
1953/54, 1959/60, 1963/64 e 2005–06),
Copa (2011/12, 2012/13 e 2014/15), Copa
No elenco, a equipe conta com seis jogadores
da Liga (2005/06, 2006/07, 2011/12 e convocados para as Eliminatórias da Copa, sendo três
2014/15) naturalizados, Sandro e Paulinho Piracicaba, brasileiros
e Alexander Akande, nigeriano. Os três devem ser
os principais responsáveis na luta pelo título. Os
defensores Nando e Hélio completam a lista de
brasileiros do elenco.
72
O grande favorito?
EASTERN
Se levarmos em conta que o Eastern é o atual
campeão da Senior Shield e que possui o “melhor
arranque” da atual edição liga (até o fechamento da
edição), a equipe pode ser considerada favorita ao Nome completo: Eastern Athletic
Association Football Team Limited
título. Fundação: 1932
O clube se recuperou de uma crise que o atingiu Cidade: Hong Kong (Distrito Yau Tsim
entre 2004 e 2006, quando foi mandado para a quarta Mong)
divisão, mas foi resgatado na temporada seguinte Site: www.eastern-sportsclub.com/
pela federação, mas em 2009, devido aos problemas Facebook: /EasternFootball
Estádio: Mong Kok Stadium (6664
financeiros pediu para voltar a divisão e se reconstruiu. pessoas)
De volta em 2013, a equipe vem fazendo boas Títulos: Primeira Divisão (1955/56,
campanhas e incomodando os “dois atuais grandes”. 1992/93, 1993/94 e 1994/95), Segunda
Seis jogadores fizeram parte da última convocação da Divisão (1947/48 e 2012–13), Terceira
seleção, com destaque para Yapp Hung Fai, goleiro Divisão (2004/05, 2009/10, 2010/11,
2011/12), Copa (1983/84, 1992/93,
que atuou por todos minutos das Eliminatórias. Os 1993/94, 2013/14), HK Senior Shield
brasileiros Roberto, Diego Eli, Michel Lugo e Geovane (1939/40, 1952/53, 1955/56, 1981/82,
estão no elenco da equipe. 1986/87, 1992/93, 1993/94, 2007/08 e
2014–15)

SOUTH CHINA O maior quer mais


Não há dúvidas quanto a grandeza e soberania
Nome completo: South China Athletic
Association histórica que o South China tem em Hong Kong. Maior
Fundação: 1904 campeão nacional, com 41 títulos e da Senior Shield,
Cidade: Hong Kong (Ilha de Hong Kong) com 31, a equipe, porém vê o crescimento do Kitchee
Site: www.scaaft.com/
Facebook: /scaaft nos últimos anos. Em 2013/14, a equipe conquistou
Estádio: Tseung Kwan O Sports Ground seu último título e por coincidência, a copa que será
(5000 pessoas) e Hong Kong Stadium definida em janeiro.
(40000 pessoas)
Títulos: Primeira Divisão (1989/90, 1990/91, A esperança de gols na semifinal é Chan Siu Ki,
1991/92, 1996/97, 1999/2000, 2006/07, maior artilheiro da seleção local, com 34 gols. Apesar
2007/08, 2008/09, 2009/10 e 2012–13 de ser reserva nos últimos jogos da seleção, o atacante
[os dez mais recentes]), HK Senior Shield
(1928/29, 1930/31, 1932/33, de 1934/35 é titular da equipe ao lado do brasileiro Lucas Silva.
a 1938–39, 1940/41, 1948–49, 1954–55, No gol, outro destaque, o goleiro equatoriano Cristián
de 1956/57 a 1958/59, 1960/61, 1961/62, Mora, que jogou a Copa do Mundo 2006. A equipe
1964/65, 1971/72, 1985/86, 1987/88,
1988/89, 1990/91, de 1995/96 a 1999/2000, conta com cinco jogadores que fizeram parte da última
2001/02, 200203, 2006/07, 2009/10 e convocação da equipe nacional. O clube conta ainda
2013/14), 10 Copas, três Copas da Liga, com os brasileiros Luiz Carlos, Itaparica, o naturalizado
cinco campeonatos da segunda divisão
timorense Murilo e o treinador Casemiro Mior.
73
FASE PRELIMINAR QUARTAS DE FINAL

DREAMS METRO GALLERY 1 SOUTHERN DISTRICT 5


23/09 03/10

SOUTHERN DISTRICT 2 WONG TAI SIN 1

KITCHEE 1
03/10

PEGASUS 0
TABELA
HK SENIOR SHIELD
2015/16 SOUTH CHINA 4
04/10

YUEN LONG 0

EASTERN 2
04/10

BIU CHUN RANGERS 0

74
SEMIFINAL FINAL

SOUTHERN DISTRICT 2
26/12, sábado, às 5 horas

KITCHEE 1

SOUTHERN DISTRICT
24/01, domingo, às 5 horas

EASTERN

SOUTH CHINA 2
Pen:
27/12, domingo, às 5 horas EASTERN 4 X 3

EASTERN 2

*ATUALIZADO

75
FUTEBOL UTÓPICO

AS SETE DIVISõES
DA COPA 2018
PARTE I

E
se a cada quatro anos, a Copa Copa do Mundo já podem ser vistos.
do Mundo não fosse a única Antes vamos aos processos de
competição de seleções do divisão. A Copa do Mundo tem
mundo? Imagine então, sete 32 seleções, restavam assim 177
campeonatos mundiais. Sete confederações. Com esse número é
divisões de uma Copa do possível fazer mais cinco formatos
Mundo. No blog, a Série Z já imaginou iguais ao Mundial. A última divisão
isso após o sorteio dos grupos da Copa tem 17 seleções. Com as eliminações
de 2014, mas agora vamos melhorar. definidas, a terceira divisão já contaria
Das 209 confederações filiadas a com quatro seleções classificadas.
FIFA, 67 seleções já sabem que não irão África e Ásia são os continentes
para a Rússia e em que “posição” ficou com maior número de seleções fora
nas respectivas eliminatórias. É quase da Copa, devido à baixa relação entre
metade. São 23 da Concacaf, sete da número de confederações nacionais e
Ásia, três da Oceania e 34 da África! vagas na Copa do Mundo. O futebol
Todos os selecionados da Europa e africano é mais forte que o asiático
América do Sul continuam com chances e por isso ganha mais vagas nas
de ir para a terra da Vodka. “primeiras” divisões.
Tendo as seleções eliminadas e com A partir da próxima página, vocês
a pontuação final definida, os esboços conferem a distribuição das vagas e as
de como ficariam as últimas divisões da seleções que já estariam classificadas.

76
Copa do Mundo G
Europa (2); América do Norte, Central e Caribe (4); Ásia
(4); África (3) e Oceania (4).

Ásia: Nepal, Macau, Sri Lanka e Mongólia


Concacaf: Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Turcas e Caicos
Anguilla e Bahamas
Tonga (Foto:FIFA). África: Somália, Djibuti e Zimbábue
Oceania: Samoa Americana, Ilhas Cook e Tonga

Copa do Mundo F
Europa (5); América do Norte, Central e Caribe (6); Ásia
(10); África (9) e Oceania (2).

Ásia: Indonésia, Brunei e Paquistão


Concacaf: Suriname, Rep. Dominicana, Dominica, Ilhas
Virgens Americanas, Ilhas Cayman e Montserrat
África: São Tomé e Príncipe, Lesoto, Gâmbia, Guiné-
Bissau, Rep. Centro-Africana, Maurício, Sudão do Sul, Brunei (Foto:FIFA).
Seychelles e Eritreia

Copa do Mundo e
Europa (6); América do Norte, Central e Caribe (6); Ásia
(10); África (9) e Oceania (1).

Concacaf: Barbados, Porto Rico, Guiana, Cuba, São


Cristóvão e Névis e Bermuda
África: Mauritânia, Ruanda, Angola, Namíbia, Sudão,
Libéria, Togo, Serra Leoa e Malawi
Ruanda (Foto:FIFA).

77
Copa do Mundo d
Europa (6); América do Norte, Central e Caribe (6); Ásia
(9); África (10) e Oceania (1).

Concacaf: Aruba, Antígua e Barbuda, Belize, Curaçao,


Haiti e Santa Lúcia
África: Quênia, Guiné Equatorial, Chade, Burundi,
Suazilândia, Comores, Madagascar, Níger, Tanzânia e
Quênia (Foto:FIFA).
Etiópia

Copa do Mundo C
América do Sul (1), Europa (9); América do Norte,
Central e Caribe (6); Ásia (4); África (11) e Oceania (1).

Concacaf: Nicarágua
África: Moçambique, Botsuana e Benin
Nicarágua (Foto:FIFA).

Copa do Mundo B Para acessar o texto das Sete


divisões da Copa do Mundo
América do Sul (4); Europa (11); América do Norte, 2014, digite:
Central e Caribe (3); Ásia (4); África (7), Oceania (1) e http://wp.me/p3CFl8-54
os dois perdedores da repescagem intercontinental.

Copa do Mundo
América do Sul (4); Europa (14); América do Norte,
Central e Caribe (3); Ásia (4), África (5) e os dois
vencedores da repescagem intercontinental;

Europa: Rússia

78
No fim da carreira, o gigante Jan Koller,
com 2,02 metros, voltou a França
para jogar pelo AS Cannes, clube que
estava na terceira divisão local. Entre
dezembro de 2009 e junho de 2011, o
tcheco até que foi bem com seus 20
gols, em 44 partidas (Foto: Divulgação).
Hinos

ORATÓRIO RECREATIVO CLUBE


Macapá (AC)

Em azul e branco
São cantadas as tuas glórias
Oratório, todos conhecem teu valor
Homenageando tua história
Nossa Senhora de Fátima te abençoou
Valente guerreiro, grande vencedor

Clube de raça e coragem


Teu sentimento é de paixão
Vibra Orca Demolidora
O Oratório é campeão

Clube de raça e coragem


Teu sentimento é de paixão
Vibra Orca Demolidora
O Oratório é campeão
seriezfutebol.com
És o orgulho e a alegria do torcedor
Assim o Santa Rita te abraçou
Num caloroso gesto de amor

O teu passado ta na memória


O teu presente te faz brilhar
O teu futuro é de vitória
Seja em qualquer lugar
O futebol longe dos
holofotes, uma paixão
pelo alternativo

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