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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
1º Ano

Disciplina: Direito Constitucional


Código: ISCED12 – CJURCFE002

TOTAL HORAS/2o SEMSTRE: 125

CRÉDITOS (SNATCA): 5

Número de Temas: 6

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservados todos os Direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou
total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
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Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

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Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela coordenação Direcção Acadêmica do ISCED

Pelo design Direcção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e logística Instituto Africano de Promoção da Educação


à Distância (IAPED)

Pela revisão final Dr. Mayden Lúcio

Elaborado Por:

Dr. Jorge Jeremias Chamussola, licenciado em Direito pela Universidade Eduardo Mondlane -
Moçambique.
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Índice

Visão geral 1

Benvindo ao Módulo de Direito Constitucional ............................................................... 1


Objectivos do Módulo....................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................. 2
Como está estruturado este módulo ................................................................................ 2
Ícones de actividade ......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ...................................................................................................... 5
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação) ................................................................................ 8
Avaliação ........................................................................................................................... 9

TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO 11

UNIDADE Temática 1.1. O Estado. .................................................................................. 11


Introdução....................................................................................................................... 11
I – Definição .................................................................................................................... 11
II - Processos de Formação do Estado ............................................................................ 12
III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais .......................................................................... 13
IV – Os tipos Históricos de Estado .................................................................................. 13
V - Os Elementos do Estado ............................................................................................ 13
Sumário ........................................................................................................................... 14
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 14
Exercícios ........................................................................................................................ 15
UNIDADE Temática 1.2. O Povo ..................................................................................... 16
Introdução....................................................................................................................... 16
I – O povo ........................................................................................................................ 16
II – A Cidadania ou Nacionalidade .................................................................................. 18
III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas ........................................................... 20
IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana ...................................................... 21

i
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou cidadania


moçambicana .................................................................................................................. 22
Sumário ........................................................................................................................... 22
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 23
Exercícios ........................................................................................................................ 24
UNIDADE Temática 1.3. O Território ............................................................................. 24
Introdução....................................................................................................................... 24
I – O território ................................................................................................................. 25
II- Território terrestre, aéreo e marítimo ....................................................................... 26
III. Composição do território moçambicano ................................................................... 26
Sumário ........................................................................................................................... 27
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 28
Exercícios ........................................................................................................................ 29
UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político ...................................................................... 29
Introdução....................................................................................................................... 29
I - Definição ..................................................................................................................... 30
II - As formas de Estado .................................................................................................. 32
III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado unitário regional ..... 32
IV - O Estado complexo. A união real. As federações. .................................................... 35
V - Os fins do Estado ....................................................................................................... 38
VI - As funções do Estado................................................................................................ 39
VII - A organização do poder político do Estado ............................................................. 42
VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e imputação .................. 42
Sumário ........................................................................................................................... 45
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 45
Exercícios ........................................................................................................................ 47
UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I ................................................................ 47

TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER POLÍTICO 48

UNIDADE Temática 1.1. O Constitucionalismo e a Constituição. Direito Constitucional e


fontes do Direito Constitucional. .................................................................................... 48

ii
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Introdução....................................................................................................................... 48
I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito Constitucional ..... 49
II - A Constituição como acto jurídico ............................................................................. 50
III - Dimensões da Constituição ...................................................................................... 51
IV - Classificações materiais de Constituições ................................................................ 52
VI - As fontes das normas e dos princípios constitucionais ............................................ 55
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 59
Exercícios ........................................................................................................................ 60
UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II............................................................... 60
Sumário ........................................................................................................................... 61

TEMA – III: INTRODUÇÃO AO PODER CONSTITUINTE 62

UNIDADE Temática 3.1 O poder constituinte e o nascimento da Constituição.


Manifestações típicas do poder constituinte. Tipologia dos actos constituintes. Limites
jurídicos e políticos ao poder constituinte ..................................................................... 62
Introdução....................................................................................................................... 62
I - O poder constituinte e o nascimento da Constituição ............................................... 63
II - Manifestações típicas do poder constituinte ............................................................ 63
III - Tipologia dos actos constituintes ............................................................................. 65
IV - Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte?................................................. 67
Sumário ........................................................................................................................... 69
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 70
Exercícios ........................................................................................................................ 71
UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do Tema III.............................................................. 71

TEMA – IV: FORMA DE GOVERNO, SISTEMA DE GOVERNO REGIME POLÍTICO E SISTEMA


POLÍTICO 72

UNIDADE Temática 4.1. Formas de Governo, Sistema de Governo, Regimes Políticos e


Sistemas Políticos............................................................................................................ 72
Introdução....................................................................................................................... 72
I - Os regimes políticos .................................................................................................... 74

iii
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II - Sistemas de governo .................................................................................................. 77


Sumário ........................................................................................................................... 82
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 82
Exercícios ........................................................................................................................ 84
UNIDADE Temática 4.2. Exercícios do Tema IV .............................................................. 85

TEMA – V: ESTADO DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO 86

UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito ................................................. 86


Introdução....................................................................................................................... 86
I - Princípio de Estado de Direito .................................................................................... 86
II - Princípio da Legalidade da Administração ................................................................. 87
III - Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso .................................... 88
IV - Princípio da universalidade e igualdade (artigo 35 CRM) ........................................ 90
V - Princípio da responsabilidade civil do Estado ........................................................... 90
VI - Princípio da Segurança Jurídica e da Protecção da Confiança dos Cidadãos ........... 91
VII - Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais ................................... 94
Sumário ........................................................................................................................... 96
Exercícios de Auto-Avaliação .......................................................................................... 97
Exercícios ........................................................................................................................ 98
UNIDADE Temática 5.2. O princípio democrático .......................................................... 99
Introdução....................................................................................................................... 99
I - Princípio Democrático ................................................................................................ 99
II - Princípios concretizadores do princípio democrático ............................................. 100
Sumário ......................................................................................................................... 104
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 105
Exercícios ...................................................................................................................... 106
UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema V ............................................................ 106

TEMA – VI: Garantia da Constituição 107

UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição........................ 107


Introdução..................................................................................................................... 107

iv
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I - A vinculação constitucional dos poderes públicos ................................................... 107


II - Os limites da revisão constitucional ........................................................................ 108
III - A fiscalização judicial da Constituição .................................................................... 108
IV - A separação e interdependência dos órgãos de soberania ................................... 109
Sumário ......................................................................................................................... 109
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 110
Exercícios ...................................................................................................................... 111
UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da constitucionalidade e da legalidade ........... 112
Introdução..................................................................................................................... 112
I - Sentido e Natureza ................................................................................................... 112
II - Origem ..................................................................................................................... 113
III - Tipos de Fiscalização ............................................................................................... 114
IV - Os Vícios Geradores de Inconstitucionalidade ...................................................... 117
V - A Inconstitucionalidade Parcial .............................................................................. 119
VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade: actos normativos119
VII - Actos Administrativos e Decisões Jurisdicionais ................................................... 121
VIII - Órgãos de Fiscalização da Constitucionalidade das Leis ..................................... 123
Sumário ......................................................................................................................... 124
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 125
Exercícios ...................................................................................................................... 126
UNIDADE Temática 6.3. O Conselho Constitucional ..................................................... 127
Introdução..................................................................................................................... 127
I - Natureza.................................................................................................................... 127
II - Composição.............................................................................................................. 129
III - Balanço de Actividade do Conselho Constitucional ............................................... 129
Sumário ......................................................................................................................... 132
Exercícios de Auto-Avaliação ........................................................................................ 132
Exercícios ...................................................................................................................... 133
UNIDADE Temática 6.4 Exercícios do Tema VI ............................................................ 134
Exercícios Finais do Módulo.......................................................................................... 134
BIBLIOGRAFIA................................................................................................................ 136

v
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Visão geral

Benvindo ao Módulo de Direito Constitucional

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Constitucional


deverás ser capaz de saber definir o conceito de Estado e
conhecer os seus elementos; conhecer o constitucionalismo a sua
evolução e a supremacia da Constituição sobre as demais normas
do ordenamento jurídico; conhecer o poder constituinte, sua
origem, manifestação e seus limites jurídicos e políticos, saber
diferenciar os conceitos de, forma de governo, regime político,
sistema de governo e sistema político; conhecer as dimensões de
Estado de direito e democrático; e conhecer as garantias e meios
de controlo da Constituição.

 Conhecer as fontes do Direito Constitucional e as relações com


os demais ramos do Direito;
 Conhecer a evolução do constitucionalismo, a classificação e
supremacia da Constituição;
Objectivos
 Demonstrar a relevância do Poder Constituinte;
Específicos
 Identificar a origem e evolução do Estado Moçambicano;
 Estabelecer a organização e competência das entidades
governativas;
 Conhecer os Direitos e Garantias Individuais e os Direitos
Sociais;
 Identificar a nacionalidade e os Direitos Políticos;
 Conhecer os Instrumentos Jurídicos Constitucionais:
Intervenção do Estado, Estado de Defesa e Estado de Sítio.

1
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em Administração Pública. Poderá ocorrer, contudo,
que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus
conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não
sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o
manual.

Como está estruturado este módulo

Este módulo de Direito Constitucional, para estudantes do 1º ano


do curso de Administração Pública, à semelhança dos restantes do
ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta
secção com atenção antes de começar o seu estudo, como
componente de habilidades de estudos.

2
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas visualizadas por
um sumário. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade
temática ou do próprio tema, são incorporados antes exercícios de
auto-avaliação, só depois é que aparecem os de avaliação. Os
exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros
exercícios teóricos, Problemas não resolvidos e actividades
práticas algumas incluído estudo de casos.

Outros recursos

A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED pensando em si,


num cantinho, mesmo o recôndito deste nosso vasto Moçambique
e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem,
apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu
módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza nas
bibliotecas física e virtual do seu centro de recursos mais material
de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou
módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou
electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma
digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus
estudos.

3
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos
exercícios de auto-avaliação apresentam duas características:
primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de
campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de
correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame
do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os
exercícios de avaliação é uma grande vantagem.

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico-
pedagógica. Pode ser que graças as suas observações, o próximo
módulo venha a ser melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes ícones servem para identificar
diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar
uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa,
uma mudança de actividade, etc.

4
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste capítulo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando
estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos
que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos
estudos, procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e


assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


de estudo de caso se existir.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de
estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si:
Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo
melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da
semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num

5
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em


cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido


estudado durante um determinado período de tempo; Deve
estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao
seguinte quando achar que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler


e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos
conteúdos de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso
(chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que
durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos
das actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento
da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado
volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo,
criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência
lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai
em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente
incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões
de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo,

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área


em que está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que
compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar
a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as
partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos,
vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a
margem para colocar comentários seus relacionados com o que
está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir
à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis
erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página
trocada ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de
atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR),
via telefone, sms, e-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se


torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro


estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff
do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou administrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30%


do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida
em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem
com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se
precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver
hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos
programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

8
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os Direitos do autor.

O plágio1 é uma violação do Direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um
autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos Direitos autorais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja
uma avaliação mais fiável e consistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamento de
avaliação.

Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária,
propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da


cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos Direitos do autor, entre outros. Os
objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de
Avaliação.

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – I INTRODUÇÃO A TEORIA GERAL DO ESTADO

UNIDADE Temática 1.1. O Estado


UNIDADE Temática 1.2. O Povo
UNIDADE Temática 1.3. O Território
UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político
UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema

UNIDADE Temática 1.1. O Estado.

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção de Estado, processo de
formação do Estado e Sociedades políticas pré-estaduais

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber definir o Estado;

 Conhecer os principais tipos históricos de Estado;

Objectivos  Conhecer os processos de formação do Estado;

 Conhecer os elementos do Estado.

I – Definição

O Estado é segundo Marcelo Rebelo de Sousa, uma colectividade, um


povo fixo num determinado território que nele institui, por autoridade
própria, um poder político relativamente autónomo.

A definição de Estado adoptada parte de um tipo de Estado concreto:

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

‘‘ O Estado nacional soberano que, nascido na Europa, se espalhou


recentemente por todo o mundo ‘‘.

Os traços fundamentais deste tipo de Estado, segundo o Prof. Jorge


Miranda, citado por Bastos (1999) são os seguintes:

 Complexidade de organização e de actuação – com cada vez maior


diferenciação de funções, órgãos e serviços;

 Institucionalização do poder – ou subsistência do poder como


ideia para além dos seus detentores concretos e actuais;

 Autonomia – ou formação de uma dinâmica própria do poder e do


seu aparelho frente à vida social’’;

 Coercibilidade – ou o monopólio do uso legítimo da força;

 Uma peculiar sedentariedade – do enlace com certo território;

 A interdependência com o factor nacional ;

II - Processos de Formação do Estado

Nos processos de formação do Estado podem ser objecto de distinção


as seguintes formas:

Pacíficas Violentas

De acordo com as leis vigentes no Estado


ou na sociedade Contra essas leis

Por desenvolvimento interno Por influência externa

12
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

No plano da Antropologia história os processos mais importantes são:


a conquista, a migração, a aglutinação por laços de sangue ou por
laços económicos, a evolução social pura e simplesmente para
organizações cada vez mais complexas.

III – Sociedades Politicas Pré-Estaduais

São qualificação como pré-estaduais as sociedades políticas em que o


sistema de poder não esta organizado em funções diferenciadas,
especializadas, ligadas umas às outras por uma rede complicada de
relações hierárquicas.

IV – Os tipos Históricos de Estado

Existem diversas tipologias de Estado. Jellinek, citado por Bastos


(1999) distingue entre:
 Estado oriental;
 Estado grego;
 Estado romano;
 Estado medieval;
 Estado moderno.

V - Os Elementos do Estado

O Estado é constituído por três elementos, ou ‘‘ condições de


existência ’’:
 Povo,
 Território e
 Poder político.

13
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos e discutimos o conceito de Estado;


definimos o Estado como sendo uma colectividade, um povo fixo num
determinado território que nele institui, por autoridade própria, um
poder político relativamente autónomo. Vimos os traços fundamentais
do Estado moderno; os processos de formação do Estado, as
sociedades pré estaduais e os elementos do Estado que são povo,
território e poder político.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O Estado é a única entidade com o monopólio do uso legítimo da


força.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

2. O conceito Estado não conheceu evolução ao longo do tempo.

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

3. O Estado é constituído por três elementos.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

14
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

4. No plano da Antropologia história quais são os processos mais


importantes de formação do Estado?

Resposta: São a conquista, a migração, a aglutinação por laços de


sangue ou por laços económicos.

5. Um Estado não pode ser formado por influência Externa.

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

6. Um Estado não pode ser formado por via pacífica.

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

Exercícios

1. Defina o Estado.
2. O que são Sociedades Politicas Pré-Estaduais?
3. Quais as formas de formação de Estado?
4. Enumere os tipos históricos de Estado.
5. Quais são as três condições de existência de um Estado?
6. Quais são os traços fundamentais do Estado actual?

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

UNIDADE Temática 1.2. O Povo

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção de povo como um dos
elementos do Estado, a distinção entre povo e população, a
nacionalidade e diversos critérios da sua atribuição.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o conceito de povo;

 Saber distinguir o povo de população;

Objectivos  Saber distinguir a nacionalidade originária da adquirida;

 Dominar os vários critérios para atribuição da nacionalidade.

I – O povo

O povo deve ser entendido, segundo o prof. Jorge Miranda, citado por
Bastos (1999) como uma ‘‘ comunidade de pessoas’’ homens que o
seu Direito reveste da qualidade de cidadãos ou de súbditos e que
permanecem unidos na obediência às mesmas leis”. É, em
conformidade, o ‘‘substrato humano do Estado’’. No mesmo sentido, o
Prof. Rebelo de Sousa define o povo como ‘‘o conjunto de cidadãos ou
nacionais de certo Estado ‘‘.

16
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

1.

O povo é sujeito e objecto do poder. Sujeito do poder, na medida em


que sujeito ao poder do Estado, ‘‘ como conjunto de homens livres, ele
engloba pessoas dotadas de Direitos subjectivos umas diante das
outras e perante o Estado ‘‘. Objecto do poder, dado que é o
destinatário das normas que são criadas no âmbito do Estado, o qual
deve ser ‘‘um Direito próprio, não um Direito estranho”.

Sujeito do Poder
Povo
Objecto do Poder

É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população.

População é um conceito demográfico e económico e representa o


conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou
estrangeiros.

17
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II – A Cidadania ou Nacionalidade

Sendo o povo a ‘‘comunidade dos cidadãos ou súbditos’’, é


fundamental determinar quais é que são as pessoas que devem
qualificadas dessa forma.

Os Estados gozam nesta matéria, em conformidade com o Direito


Internacional, de uma competência exclusiva na definição das regras
de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a necessidade de
atenderem a existência de uma ligação efectiva entre o indivíduo e o
Estado que atribui.

Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da cidadania:

 O critério do jus sanguinis, que tem na sua base os laços de


sangue ou de filiação (prevalecente nos Estados de formação
mais antiga), e

 O critério do jus soli, que tem na sua base o local do


nascimento (que é o mais utilizado em Estados mais recentes e
onde existem movimentos de imigração).

Distinguir também:

 Aquisição originária da cidadania, se produz efeitos desde, o


nascimento e
 Aquisição derivada da cidadania, se produz efeitos a partir de
um momento posterior.

A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla vertente:

 Enquanto um vinculo jurídico – político, que une um individuo


ao seu Estado, e

18
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Enquanto um Direito do indivíduo com a natureza de Direito


fundamental.

Daqui resulta que ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um


conjunto de Direitos e de deveres, tais como:
 Participar na vida política do Estado;
 Beneficiar da defesa dos seus Direitos dentro do território do
Estado;
 Beneficiar da defesa dos seus Direitos fora do território do
Estado, nomeadamente através de protecção diplomática;
 Participar na defesa do território, nomeadamente através da
prestação de serviços militar.

Deve ser tido em consideração que podem existir situações de


cidadania dupla ou plural e de apátridia ou de apolidia. No primeiro
caso, um indivíduo é considerado por mais de um Estado como seu
nacional, em resultado de situações como o casamento. No segundo
caso, um indivíduo não é considerado por nenhum Estado como seu
nacional. No sentido de evitar estas situações, o artigo 15 da
Declaração Universal dos Direitos do Homem prevê que:

1. Todo o indivíduo tem o Direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade,


nem do direito de mudar de nacionalidade”

E o n.º 3 do artigo 24 do Pacto Internacional de Direitos Civis e


Políticos consagra que:

‘‘ todas as crianças têm o Direito de adquirir uma nacionalidade ’’.

Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a


pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade

19
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

deve ser aplicado a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por


um lado, e os navios e as aeronaves, por outro2.

Distinção entre cidadania e nacionalidade

III – A Situação dos Estrangeiros e dos Apátridas

Os estrangeiros e os apátridas ou apólidas gozam, em termos gerais,


de um estatuto jurídico distinto do dos cidadãos do Estado.
Actualmente, a principal diferença será o não ter, em princípio, o gozo
de Direitos políticos, na medida em que devem ter um tratamento
compatível com a dignidade da pessoa humana.

Daqui resulta que esse estatuto pode variar, segundo o Prof. Jorge
Miranda, entre:
 Um tratamento mínimo ou razoável dos estrangeiros como
pessoas, à luz da consciência ética universal ou dominante no
nosso tempo e;

2
O legislador moçambicano preferiu tratar indistintamente os dois termos
20
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Equiparação ou tratamento mais favorável em consequência


de convenções internacionais que sejam celebrados pelas
Estados interessados.

Deve ser no entanto, sublinhado que ‘‘ nenhum estrangeiro tem


Direito de entrada no território de outro Estado (ao contrário do que
sucede com os cidadãos deste), mas uma vez admitido, fica o Estado
adstrito a trata-lo de modo razoável segundo um critério objectivo
(que pode, no limite, ser superior ao conferido aos seus cidadãos)”.

IV - A nacionalidade na Constituição moçambicana

A nacionalidade na Constituição moçambicana está maioritariamente


disposta no título II que vai dos artigos 23 à 34 da seguinte forma:

Título II da CRM

Nacionalidade

Capítulo Assunto Artigo

Princípio da
I Nacionalidade originária territorialidade 23 à 25

Princípio da
consaguinidade

Casamento 26

II Nacionalidade adquirida Naturalização 27

Filiação 28

Adopção 29

Perda e reaquisição da
III Nacionalidade 31 à 32

Prevalência da
IV nacionalidade e registo 33 à 34

21
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - Condição jurídica das pessoas em razão da nacionalidade ou


cidadania moçambicana

Da cidadania depende o exercício de certos Direitos fundamentais

A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente


moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida:

a) Os cidadãos de nacionalidade adquirida não são elegíveis para


os cargos de deputados (art. 30/1 da CRM) e de presidente da
República (art. 147/2 a) da CRM). Para os candidatos á
presidência da República acresce a exigência de que o
candidato não possua uma outra nacionalidade.

b) Outras restrições ao exercício de funções (art. 30/1 da CRM)


não podem ser membros do governo, titulares de órgãos de
soberania e não tem acesso à carreira diplomática ou militar

Sumário

Povo é o conjunto de cidadãos ou nacionais decerto Estado. O povo é


sujeito e objecto do poder.

É necessário distinguir o conceito de povo, do conceito de população.

População é um conceito demográfico e económico e representa o


conjunto de residentes em certo território, sejam cidadãos ou
estrangeiros.

Os Estados gozam de uma competência exclusiva na definição das


regras de aquisição e de perda da cidadania, não obstante a
necessidade de atenderem a existência de uma ligação efectiva entre
o indivíduo e o Estado que atribui.

22
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Distinguir cidadania e nacionalidade. Cidadania deve estar reservada a


pessoas singulares: os cidadãos que são pessoas físicas. Nacionalidade
deve ser aplicada a pessoas colectivas ou a coisas: as empresas, por
um lado, e os navios e as aeronaves, por outro.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Pode haver casos de indivíduos sem nacionalidade.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

2. Pode haver casos de indivíduos com dupla nacionalidade.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

3. Em bom rigor cidadania é diferente de nacionalidade

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

4. A CRM faz uma distinção entre cidadãos originariamente


moçambicanos e cidadãos de nacionalidade adquirida

 Certo

23
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Errado

Resposta: Certo

5. O povo é sujeito e objecto do poder. Comente.

6. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade,


nem do Direito de mudar de nacionalidade.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

Exercícios

1. O que entende por povo?


2. Distinga povo da população.
3. Ter a qualidade de cidadão de um Estado implica um conjunto
de Direitos e de deveres. Diga quais são.
4. Existem basicamente dois critérios quanto à atribuição da
cidadania. Quais são?
5. A cidadania deve ser apreciada actualmente numa dupla
vertente. Comente
6. Distinga nacionalidade originária da nacionalidade adquirida.

UNIDADE Temática 1.3. O Território

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção do Território como um dos
elementos do Estado, a sua importância para o Estado e a composição
do território moçambicano.

24
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber definir o conceito Território;

 Saber a importância do território para o Estado;

Objectivos  Conhecer e dominar a composição do território moçambicano;

I – O território

O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o


espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em
conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas
jurídicas que são emitidas pelo poder político.

O território é o espaço jurídico próprio do Estado, o que significa,


segundo o Prof. Jorge Miranda, citado por Bastos (1999) que:

 Só existe poder do Estado quando ele consegue impor a sua


autoridade, em nome próprio, sobre certo território;
 A atribuição de personalidade jurídica internacional ao Estado ou
o seu reconhecimento por outros Estados dependente da
efectividade desse poder;
 Os órgãos do Estado encontram-se sempre sediados, salvo em
situação de necessidade, no seu território;
 No seu território cada Estado tem o Direito de excluir poderes
concorrentes de outros Estados (ou de preferir a eles);
 No seu território, cada Estado só pode admitir o exercício de
poderes doutro Estado sobre quaisquer pessoas com a sua
autorização;
 Os cidadãos só podem beneficiar da plenitude de protecção dos
seus Direitos pelo respectivo Estado no território deste.

25
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Daqui resulta, em conformidade, que o Direito do Estado sobre o seu


território costuma ser entendido como um Direito ou poder indivisível,
inalienável e exclusivo.

Indivisível
Território
do Inalienável
Estado
Exclusivo

II- Território terrestre, aéreo e marítimo

O território de um Estado é constituído obrigatoriamente por


território terrestre e por território aéreo e, no caso dos Estados que
tem fronteira com mares ou oceanos, por território marítimo. A
delimitação do território é feita tendo em consideração normas de
Direito Internacional e normas de Direito interno.

III. Composição do território moçambicano

Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a


superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado
pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM.

Esquematicamente podemos representar o território moçambicano do


seguinte modo:

26
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Território Moçambicano

Poder do
Território Limites Estado

Soberania
Superfície Fronteiras Completa e
terrestre nacionais Exclusiva

Soberania
Completa e
Águas Territoriais 12 milhas Exclusiva

Poderes de
Zona marítima Zona Contígua 24 milhas fiscalização

Zona Económica Definição


Exclusiva 200 milhas dos recursos

Soberania
Plataforma 200 - 350 Completa e
continental milhas Exclusiva

Soberania
Completa e
Espaço aéreo 48 km altitude Exclusiva

Sumário

O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o


espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano e, em
conformidade, qual é o âmbito espacial de aplicação das normas
jurídicas que são emitidas pelo poder político.

O Direito do Estado sobre o seu território deve ser entendido como


um Direito ou poder indivisível, inalienável e exclusivo.

27
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Em termos de extensão o território moçambicano abrange toda a


superfície terrestre, a zona marítima e o espaço aéreo delimitado
pelas fronteiras nacionais art. 6/1 da CRM.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O território de um Estado é fundamental para delimitar qual é o


espaço em que o Estado pode exercer o seu poder soberano

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

2. O Direito do Estado sobre o seu território é um Direito ou poder


divisível, alienável e não exclusivo

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

3. Como é constituída a zona marítima moçambicana?

Resposta: É constituída pelas águas territoriais, zona contígua, zona


Económica Exclusiva e plataforma continental

4. A que distância fica a zona contígua?

Resposta: Fica às 24 milhas.

28
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

5. A que distância fica a zona económica exclusiva?

Resposta: Fica à 200 milha.

6. Qual é o poder do Estado moçambicano sobre a sua superfície


terrestre?
Resposta: Poder de soberania completa e exclusiva.

Exercícios

1. Defina território.
2. Qual é a composição do território de um Estado?
3. Qual é a composição do território moçambicano?
4. O território moçambicano é uno, indivisível e inalienável.
Comente
5. Qual é o poder do Estado sobre o seu espaço aéreo?
6. Como é feita a delimitação de território de um Estado?

UNIDADE Temática 1.4. O Poder Político

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção do Poder Político como um dos
elementos do Estado, a divisão do poder político, fins e funções do
Estado

29
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Dominar a divisão do poder político;

 Conhecer e saber diferenciar as diversas formas do Estado

Objectivos  Conhecer os fins do Estado;

 Conhecer as funções do Estado;

I - Definição

O terceiro dos elementos que caracterizam o Estado é o exército do


poder político. Embora não se trate de uma característica exclusiva do
Estado, importa salientar que a forma mais comum e paradigmática de
poder político é a que tem lugar no âmbito dos Estados.

Nestes termos, o poder político que se exerce nos Estados é:

 Um poder constituinte, originário, que tem um fundamento


próprio e que não está dependente de qualquer outro poder;
 Um poder de auto-organização, que tem por objectivo
permanente e continuado a criação de condições para a
manutenção da segurança, a administração da justiça e a
promoção do bem-estar da comunidade politica;
 Um poder de decisão que faz as opções consideradas
adequadas à organização da vida da comunidade politica,
nomeadamente através da produção de regras jurídicas.

30
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Poder constituinte

Poder de auto-
Poder organização
Político
Poder de decisão

O poder político é exercido no âmbito do Estado por um conjunto de


órgãos do Estado, que são poderes constituídos e que devem autuar
na estrita observância das competências previstas na lei. Daqui resulta
que o poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado
pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é
produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro
lado, em termos externos, pelo Direito Internacional.

A organização política implica, nestes termos, a distinção entre


governantes, no âmbito do povo. É, alias, de salientar que mesmo o
modelo democrático de organização da sociedade não implica que
todos os cidadãos devem (e possam) participar directa e
efectivamente nos exercícios do poder político. Nesse sentido, afirma
o Prof. Jorge Miranda que não são simples as relações entre os
governantes e governados e configuração que patenteiam pode servir
para classificar os diferentes sistemas e regimes. Mas nenhum sistema
político, por mais democrático que seja, suprime a distinção; só a pode
mitigar ou reordenar mais em coerência com os princípios.

O fundamental é, assim, que os governantes actuem tendo em


consideração o interesse dos governados e que os Direitos e
vantagens resultantes do cargo sejam entendidos em termos
funcionais e não transformados em vantagens pessoais.

31
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Importa, ainda, distinguir os governados entre cidadão activos, que


são os titulares de Direitos políticos e cidadãos não activos, que são
aqueles que não têm capacidade de participação política,
nomeadamente em razão da idade.

II - As formas de Estado

Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o


Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes
políticos no mesmo Estado (sendo que, qualquer caso, só um deles é
soberano).
O critério que está assim, na base da distinção é o do modo de o
Estado dispor o seu poder em face de outros poderes de igual
natureza (em termos de coordenação e subordinação) e quanto ao
povo e ao território (que ficam sujeitos a um ou a mais de um poder
político).

Estado
unitário
Forma
de
Estado
Estado
complexo

III - O Estado unitário: O Estado unitário centralizado e o Estado


unitário regional

No Estado unitário deve ser feita a distinção entre Estado unitário


centralizado e Estado unitário regional. No primeiro, existe apenas um
poder político estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de
descentralização política.

32
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A descentralização política sempre a nível territorial: são provinciais ou


regionais que se tornam politicamente autónomas por os seus órgãos
desempenharem funções políticas, participarem ao lado dos órgãos
estaduais, no exercício de alguns poderes ou competências de carácter
legislativo ou governativo.

As experiências de regionalismo político são recentes e remontam à


Constituição espanhola de 1931 e à italiana de 1947.

O Estado unitário regional tem na base uma situação e


descentralização política que se traduz na atribuição a entidades
infraestaduais de poderes ou funções de natureza política, relativas à
definição do interesse público ou a tomada de decisões políticas
(designadamente, de decisões legislativas).

Segundo o prof. Jorge Miranda, existem várias categorias de Estados


regionais:

a) Estado regional integral – aquele em que todo o território se


divide em regiões autónomas e Estado regional parcial –
aquele em que o território não está todo dividido em regiões
autónomas e em que encontram-se regiões politicamente
autónomas e regiões ou circunscrições só com
descentralização administrativa, verificando-se pois,
diversidade de condições jurídico-políticas da região para
região;

b) Estado regional homogéneo – aquele em que a organização


das regiões é, senão uniforme, idêntica (a mesma no essencial
para todos) e Estado regional heterogéneo – aquele em que a
organização das regiões “… pode ser diferenciada ou haver
regiões de estatuto comum das regiões de estatuto especial;

33
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

c) Estado com regiões de fins gerais – aqueles em que as regiões


são constituídas para a prossecução de interesses (e, em
princípio, de todos os interesses) específicos das pessoas ou
das populações de certas áreas geográficas e Estado com
regiões de fins especiais – aqueles em que a descentralização
política regional e moldada em razão de algum ou alguns
interesses específicos (v.g. interesses culturais) e é, porventura,
mesmo a partir da comunidade desses interesses que se
recortam os territórios regionais.

Distinguir a descentralização política ou político-administrativa que


está na base do fenómeno do regionalismo de:

 Desconcentração: que consiste em existirem diferentes órgãos


do Estado por que se dividem funções e competências, a
diferente nível hierárquico ou não, e de âmbito central ou
local;

 Descentralização administrativa: que designa o fenómeno de


atribuição de poderes ou funções de natureza administrativa a
entidades intraestaduais, tendências à satisfação quotidiana de
necessidades colectivas;

 Regionalização: que se traduz em desconcentração regional e,


sobretudo, na criação de autarquias supra municipais para fins
de coordenação de actividades, de utilização de serviços em
comum, de planeamento, de participação, de fomento cultural
e económico;

 Autonomia política: que é um conceito empírico destinado a

34
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

descrever algo situado entre a não autonomia territorial e o


estatuto de Estado independente, em igualdade com quaisquer
outras comunidades que deste façam parte;

 Federalismo.

Deve ser sublinhado que a descentralização pode ser administrativa ou


política e que não existem formas de descentralização jurisdicional, na
medida em que a função jurisdicional é sempre atribuída a tribunais
que são considerados órgãos do Estado.

Estado unitário
clássico
Estado unitário
Estado unitário
regional

IV - O Estado complexo. A união real. As federações.

No Estado complexo deve ser feita a distinção entre união real e


federação. Na primeira, existe uma estrutura de poderes políticos
sobrepostos, enquanto na segunda existe uma estrutura de fusão de
poderes políticos das entidades componentes.

 A união real

Na união real, estamos em presença de uma associação ou união de


Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, na qual alguns dos
órgãos dos Estados associados passam a ser comuns.

35
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Em conformidade, a união real é baseada na fusão ou na colocação em


comum de alguns dos órgãos dos Estados que a constituem, de tal
modo que fica a haver, ao lado dos órgãos particulares de cada Estado,
um ou mais órgãos comuns (pelo menos, o Chefe de Estado é comum)
com os respectivos serviços de apoio e execução. Exemplos de união
real: Portugal e Brasil de 1815 a 1822, a Suécia e a Noruega de 1815 a
1905 e a Áustria e a Hungria de 1867 a 1918.

Distinguir a união real da união pessoal, que é a situação em que o


Chefe de Estado é comum a dois Estados, embora somente a título
pessoal e não orgânico; o que é comum é o titular do órgão e não o
próprio órgão. Exemplo de união pessoal: Portugal e Espanha de 1580
a 1640.

União real ≠ União pessoal

 As federações

Na federação, estamos em presença de uma associação ou união de


Estados, que dá lugar à criação de um novo Estado, e em que surgem
novos órgãos de poder político sobrepostos aos órgãos dos Estados
federados.

Em conformidade, para o prof. Jorge Miranda, o Estado federal ou


federação é baseado numa dualidade:

 Por um lado, numa estrutura de sobreposição, a qual recobre


os poderes políticos locais (isto é, dos Estados federados), de
modo a cada cidadão fica simultaneamente sujeito a duas
Constituições - a federal e a do Estado federado a que pertence
– e ser destinatário de actos provenientes de dois aparelhos de

36
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

órgãos legislativos, governamentais, administrativos e


jurisdicionais;

 e, por outro lado, numa estrutura de participação, em que o


poder político central surge como resultante da agregação dos
poderes políticos locais, independentemente do modo de
formação: donde a terminologia clássica de “Estado de
Estados”.

A federação tem na sua origem uma Constituição federal, resultante


do exercício de um poder constituinte autónomo, que contem o
fundamento de validade e de eficácia do ordenamento jurídico
federativo; e é ele que define a competência das competências.

Distinguir federação de confederação que é uma associação de


Estados em que os Estados participantes limitam a sua soberania em
determinadas matérias em resultado de um tratado internacional com
esse objectivo.

Nestes termos, “do pacto confederativo resulta uma entidade a se,


com órgãos próprios (pelo menos, uma assembleia ou dieta
confederal). Não chega a emergir um novo poder político ou mesmo
uma autoridade supraestadual com competência genérica”.

Exemplos de confederação: os cantões suíços até 1848, os Estados


Unidos da América entre 1781 e 1787, o Estados da Confederação do
Reno de 1806, da Confederação Germânica de 1815 ou da
Confederação da Alemanha do Norte de 1866 e o Estados da
Comunidade de Estados Independentes, que foi criada em 1991 no
surgimento da dissolução da União Soviética.

37
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Federação ≠ Confederação

União real
Estado complexo
Federações

V - Os fins do Estado

Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político do


Estado. São normalmente considerados três fins do Estado: segurança,
justiça e bem-estar.

 A segurança, tem várias facetas: a segurança interna, ou


ordem interna, e a segurança externa, ou defesa da
colectividade perante o exterior; a segurança individual,
proporcionada pela definição, através de normas jurídicas
executadas pelos órgãos do Estado, dos Direitos e deveres
reconhecidos a dado cidadão, e a segurança colectiva,
enquanto realidade que envolve toda a comunidade
considerada.

 A justiça visa a substituição, nas relações entre os homens, dos


arbítrios por um conjunto de regras capaz de consensualmente
estabelecer uma nova ordem e, assim satisfazer uma aspiração
por todos sentidos.

 O bem-estar, entendido como bem-estar económico, social e


cultural que consiste na promoção das condições de vida dos
cidadãos em termos de garantir o acesso, em condições

38
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

sucessivamente aperfeiçoadas, a bens e serviços considerados


fundamentais pela colectividade, tais como bens económicos
que permitam a elevação do nível de vida de estratos sociais
cada vez mais amplos, e serviços essenciais, por exemplo, os
que contemplam a educação, a saúde e a segurança social”.

Deve ser tida em consideração a distinção entre:

 Justiça comutativa – parte de uma ideia de igualdade abstracta


e formal, que em paridade de circunstâncias, exige igualdade
de tratamento e equivalência de prestações e
contraprestações.

 Justiça distributiva – parte de uma ideia de igualdade material,


o que implica que se forem desiguais as características ou a
situação em que cada um se encontra, a igualdade terá de ser
reposta pelo recurso à proporcionalidade ou a critérios de
equitativa compensação, pois nada há de mais injusto,
acentuava-o já Aristóteles, do que tratar como igual o que é
desigual.

Segurança
Comutativa
Fins de Justiça
Esatdo
Distributiva
bem estar

VI - As funções do Estado

As funções do Estado como actividades desenvolvidas pelos órgãos do


poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos

39
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

que se lhes encontram constitucionalmente cometidos.

O prof. Marcelo Rebelo de Sousa, citado por Bastos (1999) propõe um


esquema hierarquizado das funções do Estado:

 Em primeiro lugar, a função constituinte, através da qual o


poder político define as regras essenciais da existência
colectiva criando a lei das leis, a Constituição;

 Em segundo lugar, a função de revisão constitucional, através


da qual vai revendo a Constituição para a adaptar ao devir
colectivo;

 Em terceiro lugar, as funções independentes, principais ou


primárias, constituídas por:

 A função política que traduz-se na definição e prossecução


pelos órgãos do poder político dos interesses essenciais da
colectividade, realizando, em cada momento, as opções para o
efeito consideradas mais convenientes;

 A função legislativa que corresponde à prática de actos


provenientes de órgãos constitucionalmente componentes e
que revestem a forma externa de lei;

 E, em quarto lugar, as funções dependentes, subordinadas ou


secundárias, constituídas por:

 A função jurisdicional que “…consiste no julgamento de


litígios, resultantes de conflitos de interesses privados, ou
público e privados, bem como a punição da violação da
Constituição e das leis, através de órgãos entre si
independentes, colocados numa posição de passividade e

40
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

imparcialidade, e cujos titulares (os juízes) são inamovíveis e,


em princípio não podem ser sancionados pela forma como
exercem a sua actividade”.

 A função administrativa que consiste na satisfação das


necessidades colectivas que, por virtude de prévia opção
política ou legislativa se entende que incumbe ao Estado
prosseguir, encontrando-se tal tarefa cometida a órgãos
interdependentes, dotados de iniciativa e de parcialidade na
realização do interesse público, e com titulares amovíveis e
responsáveis pelos seus actos.

41
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Constituinte

Revisão
constitucional

Funções
do
Estado Política
Primárias
Legislativa

Jurisdicional
Secundárias
Administrativa

VII - A organização do poder político do Estado

O Estado é uma pessoa colectiva o que implica que seja destinta de


cada uma das pessoas físicas que compõem a comunidade e dos
próprios governantes e susceptível de entrar em relações jurídicas
com outras entidades, tanto no domínio do Direito interno como no
do Direito Internacional, tanto sob a veste de Direito Público como sob
a do Direito privado.

O Estado, enquanto pessoa colectiva, actua através de órgãos

VIII - Órgão/ competência/ titular e cargo. Vontade funciona e


imputação

Órgão do Estado é, em conformidade com o pensamento do Prof.

42
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Jorge Miranda o centro autónomo institucionalizado de emanação de


uma vontade que lhe atribuída, sejam quais forem a relevância,
alcance, os efeitos (externos ou mesmo internos) que ela assuma. O
centro de formação de actos jurídicos do Estado (e no Estado).
Instituição, tornada efectiva através de uma ou mais de uma pessoa
física, de que o Estado carece para agir (para agir juridicamente).

O conceito de órgão, segundo o Prof. Jorge Miranda; desdobra-se em


quatro facetas ou elementos que importa distinguir não obstante não
poderem ser autonomizados:

 A instituição, ou, em certa acepção, o ofício - sendo instituição


na célebre definição de HAURIOU, a ideia de obra ou de
empreendimento que se realiza e perdura no meio social;

 A competência, ou complexo de poderes funcionais cometidos


ao órgão, parcela do poder público que lhe cabe;

 O titular, ou pessoa física ou conjunto de pessoas físicas que,


em cada momento, encarnam a instituição e formam a
vontade que há-de corresponder ao órgão;

 O cargo ou mandato (quando se trate de órgão electivo)


Função do titular, papel institucionalizado que lhe e
distribuído, relação específica dele com o Estado, traduzida em
situações subjectivas, activas e passivas.

O conceito de competência tem em Direito Público em geral, e no


Direito Constitucional em particular, uma consequência fundamental e
de grande alcance, a de que:

43
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O órgão não pode actuar sem ser em conformidade com a


competência que está prevista na lei.

No caso contrário, isto é, se o órgão praticar um acto que não recaia


na sua competência, esse acto será inválido, irregular ou ineficaz por
incompetência.

Importa ter, no entanto, em consideração que tendo a competência o


seu fundamento na norma, esta pode ser de dois tipos: explícita e
implícita. Isso quer dizer, com base em diferentes graus de leitura,
que, no primeiro caso, pode assentar numa norma que,
explicitamente, a declare, enquanto, no segundo caso, pode assentar
em norma cujo sentido somente seja descoberto através de técnicas
interpretativas e que surja como consequência de outra norma -ou
nela esteja contida.

O princípio da prescrição normativa da competência é, numa ordem


constitucional de Estado de Direito, manifestação de duas ideias mais
fundas: a de limitação do poder público como garantia de liberdade
das pessoas e a da separação e articulação dos órgãos do Estado entre
si e entre eles e os órgãos de quaisquer entidades ou instituições
publicas".

Importa distinguir o conceito de órgão do conceito de agente. Nestes


termos o agente é alguém que não forma, nem exprime a vontade
colectiva; limita-se a colaborar na sua formação ou, o mais das vezes, a
dar execução as decisões que dele derivam, sob a direcção e a
fiscalização do órgão.

O funcionamento do órgão, na medida em que se trata de uma


construção jurídica e não de uma realidade física, implica a necessária

44
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

intervenção de pessoas físicas. Isso significa que essas pessoas quando


actuam no âmbito da sua esfera jurídica estão a manifestar uma
vontade psicológica, mas quando estão a actuar como suporte do
órgão estão a manifestar uma vontade funcional. A vontade funcional
deve ser emendada como a manifestação de vontade do órgão, em
conformidade com o fenómeno da imputação.

Sumário

O poder político que é exercido no âmbito do Estado está limitado


pelo Direito. Por um lado, e antes de mais, pelo Direito que é
produzido internamente por esse mesmo poder político. É, por outro
lado, em termos externos, pelo Direito Internacional.

Deve ser tida em consideração a distinção entre Estado unitário e o


Estado complexo, com base na existência de um ou mais poderes
políticos no mesmo Estado (sendo que, qualquer caso, só um deles é
soberano). Assim temos como formas de Estado: Estado Simples e
Estado Complexo.

Os fins do Estado são objectivos prosseguidos pelo poder político do


Estado. São normalmente considerados três os fins do Estado:
segurança, justiça e bem-estar.

As funções do Estado são as actividades desenvolvidas pelos órgãos do


poder político do Estado, tendo em vista a realização dos objectivos
que se lhes encontram constitucionalmente cometidos.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O poder político é um poder: originário, de auto organização e

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

de decisão.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

2. Quais são as formas de Estado que conheces?

Resposta: Estado simples ou unitário e Estado complexo ou


composto.

3. Faça a distinção entre Estado unitário centralizado e Estado


unitário regional.

Resposta: No primeiro, existe apenas um poder político


estadual, enquanto no segundo existe um fenómeno de
descentralização política.

4. As experiências de regionalismo político são antigas.

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

5. A descentralização pode ser jurisdicional?

Resposta: Não. A descentralização pode ser administrativa ou


política. É que não existem formas de descentralização
jurisdicional, na medida em que a função jurisdicional é sempre
atribuída a tribunais que são considerados órgãos do Estado

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

6. Quais são as formas de Estado complexo?

Resposta: União Real e Federação

Exercícios

1. Quais são as várias categorias de Estados regionais?


2. Diferencie a desconcentração da descentralização
administrativa.

3. A federação e o “Estado dos Estados”. Comente

4. Quais são os fins do Estado?


5. Quais são as funções do Estado?
6. O que entende por funções do Estado?

UNIDADE Temática 1.5. Exercícios do Tema I

1. O elemento do Estado População é constituído por cidadãos,


apátridas e estrangeiros. Comente.
2. José Zingombere, de 18 anos de idade, filho de pais moçambicanos
nasceu no Malawi, tendo os seus pais o registado como
malawiano. Hoje ele pretende possuir a nacionalidade
moçambicana. Pode obtê-la?

3. Um grupo de deputados da Assembleia da República apresentou


um projecto de lei onde que se pretende dividir o território
moçambicano em três partes (Estados). Quid Juris?

4. A competência não se presume! Comente.


5. Defina órgão de Estado?

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – II: A CONSTITUIÇÃO COMO ESTATUTO DO PODER POLÍTICO

UNIDADE Temática 2.1. O constitucionalismo e a Constituição. Direito


Constitucional e fontes do Direito Constitucional.
UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II

UNIDADE Temática 2.1. O Constitucionalismo e a Constituição. Direito


Constitucional e fontes do Direito Constitucional.

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre o Constitucionalismo, Estado
constitucional, e Direito Constitucional a Constituição como acto
jurídico, Constituição e sistema jurídico, Dimensões da Constituição,
Classificações materiais de Constituições e as fontes do Direito
Constitucional

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber definir o Constitucionalismo, Estado constitucional e a


Constituição;
Objectivos
 Conhecer as dimensões da Constituição;

 Conhecer as classificações da Constituição;

 Conhecer as fontes do Direito Constitucional.

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

I - Introdução: Constitucionalismo, Estado constitucional, e Direito


Constitucional

O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo, e


remete-nos para a ideia de Estado constitucional. O Estado
constitucional nasce da luta contra o Estado absoluto.

O objectivo do constitucionalismo era – e é – o de limitar


juridicamente o poder do Estado (consequentemente, abolir o
absolutismo real) através de uma Constituição escrita. E de que forma
opera essa limitação? Entre outros aspectos, através de um
«instrumento básico, através do qual se procura alcançar esse
objectivo», o princípio da separação de poderes. Mas também, e
principalmente, através do reconhecimento de Direitos fundamentais
dos cidadãos. Em consequência disso, é neste contexto que surgem as
primeiras proclamações dos Direitos do Homem, e a proclamação da
igualdade jurídica de todos os homens, independentemente do
nascimento ou de outros factores. Em consequência disso, também, a
abolição de privilégios.

A limitação jurídica do poder do Estado, em conexão com a


responsabilidade jurídica dos titulares dos cargos públicos, constitui o
elemento essencial de legitimação do poder no contexto de um Estado
de Direito.

Segundo Gomes Canotilho Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia)


que ergue o princípio do governo limitado indispensável à garantia dos
Direitos em dimensão estruturante da organização político-social de
uma comunidade. Neste sentido o constitucionalismo moderno
representará uma técnica específica de limitação do poder com fins
garantísticos. Diríamos, em síntese, que o constitucionalismo

49
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

moderno tem sido essencialmente marcado por uma lógica de


limitação do poder, e pela oposição às arbitrariedades desse mesmo
poder, tendo em vista a salvaguarda dos Direitos fundamentais dos
cidadãos.

O Direito Constitucional é, por sua vez, a parte da ordem jurídica que


rege o próprio Estado enquanto comunidade e enquanto poder. No
contexto da sua inserção no Direito em Geral, consiste, por isso, no
conjunto de normas e princípios que, por um lado, reconhecem um
conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e por outro,
regulam a organização, o funcionamento e os limites do poder
político.

II - A Constituição como acto jurídico

Por Constituição entendemos, hoje, a lei suprema do Estado (Lei


Fundamental), que através do seu sistema de normas e princípios
jurídicos, estabelece a “estrutura básica” do Estado: reconhecendo um
conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos cidadãos; e fixando as
atribuições, as competências e, por conseguinte, os limites de
actuação do poder político.

Esta afirmação pode ser desdobrada em três elementos essenciais: (1)


um elemento subjectivo; (2) um elemento formal; e (3) um elemento
material.

1) A Constituição (normalmente, plasmada num documento escrito) é,


em primeiro lugar, uma lei, uma fonte legislativa, um acto jurídico-
positivo. Nestes termos, é um acto jurídico intencional (elemento
subjectivo).

2) Utilizando a metáfora kelsiana, esta lei encontra-se no topo de uma

50
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

“estrutura escalonada” – a tal “pirâmide normativa”, ou seja, localiza-


se num lugar cimeiro na hierarquia das fontes. Por isso, em segundo
lugar, dizemos que a Constituição é dotada de supremacia máxima na
ordem jurídica estadual (elemento formal).

3) A Constituição estabelece, por fim, a “estrutura básica” do Estado,


ou a sua ordenação jurídico-política. Ou seja, a Constituição regula as
opções principais do Estado ao nível dos sistemas político, social e
económico, através da declaração de um conjunto de Direitos e
liberdades fundamentais e do respectivo modo de garantia; e da
organização do poder político segundo esquemas tendentes a torná-lo
um poder limitado e moderado (elemento material)

Concluindo, a Constituição é, antes de mais, um acto jurídico do poder


político (elemento subjectivo), dotado de supremacia máxima na
ordem jurídica estadual (elemento formal), que regula a organização
dos respectivos sistemas políticos, social e económico (elemento
material).

III - Dimensões da Constituição

 Na sua dimensão material, a Constituição tem por objecto o


estatuto jurídico do Estado, e expressa um determinado
conteúdo nas opções que transporta e determina. Nestes
termos, a Constituição material é composta pelo «conjunto de
normas jurídicas fundamentais que regem a estrutura, os fins e
as funções do Estado, a organização, a titularidade, o exercício
e o controlo do poder político do Estado, bem como as
respeitantes à fiscalização do acatamento das normas
enumeradas, em particular do acatamento pelo próprio poder
político do Estado.

51
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Na sua dimensão formal, a Constituição formal expressa a


ideia de que, sendo um acto legislativo, o mesmo ocupa uma
posição suprema no ordenamento jurídico positivo. Por isso,
quando falamos em Constituição em sentido formal (ou
Constituição formal), falamos no «conjunto de normas jurídicas
escritas, elaboradas por órgão dotado de poderes especiais
(assembleia constituinte), através de um processo específico»,
normalmente, diverso daquele que gera as leis ordinárias, e
que – porque ocupam um lugar cimeiro na hierarquia
normativa – condicionam ou exigem a conformidade dos
restantes actos dos poderes constituídos – não só das funções
política e legislativa (que englobam o poder de revisão
constitucional), como ainda das funções jurisdicional e
administrativa.

Esta superioridade hierárquico-formal no ordenamento jurídico


positivo do Estado a que pertence tem depois três importantes
concretizações: o princípio da constitucionalidade; a desvalorização
dos actos jurídico-públicos desconformes; a responsabilidade pelos
ilícitos constitucionais.

 Quando falamos em Constituição em sentido instrumental (ou


Constituição instrumental), falamos no «texto único em que se
compreendem as normas formalmente constitucionais». Ou
seja, o documento onde se inserem as normas constitucionais.
Normalmente, hoje em dia, à Constituição formal corresponde
a Constituição instrumental.

IV - Classificações materiais de Constituições

A pluralidade de conteúdos possíveis da Constituição ou de


Constituições materiais mostra-se passível de várias classificações:

52
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

1) De um ponto de vista da concordância das normas constitucionais


com a realidade do processo do poder ou, noutros termos, da
efectividade do texto constitucional na sua capacidade para limitar o
poder político, podemos distinguir entre Constituições normativas,
nominais e semânticas.

 Constituições normativas são textos que conseguem,


efectivamente, dominar a realidade constitucional, cumprindo
o objectivo que lhes foi assinalado pelo constitucionalismo, na
sua luta pela limitação do poder político.

 Constituições nominais, tendo embora essa finalidade, não


consegue todavia levá-la a cabo, porque não conseguem
adaptar as suas normas à dinâmica do processo político (por
via de mecanismos fácticos ou jurídicos que o impedem).

 Enquanto as Constituições semânticas têm um papel de mera


formalização da situação do poder político existente, em
benefício dos detentores de facto desse poder. Ou seja,
perdem a finalidade de limitar o poder político encontrando-
se, inversamente ao seu serviço, no sentido de estabilizar e
eternizar a intervenção dos dominadores de facto na
comunidade

2) De um ponto de vista do confronto entre o seu carácter estático ou


dinâmico de conformação social, podemos distinguir entre
Constituições estatutárias ou orgânicas e Constituições programáticas.

Esta contraposição corresponde, de um ponto de vista histórico, à


passagem do Estado liberal – em que os textos constitucionais
assumem um carácter estático, de garantia de um certo status quo, no

53
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

contexto do liberalismo político e económico do séc. XIX Constituições


estatutárias ou orgânicas – para o Estado social – em que o Estado
passa a assumir como características essenciais próprias inovatórias,
«a relevância do bem-estar e da justiça social como fins do Estado» e
em que o texto constitucional assume, por isso, um carácter dinâmico,
com um desejo de intervenção económica e transformação social,
que se traduzem na consagração constitucional de novos conteúdos,
essencialmente ao nível dos Direitos económicos, sociais e culturais e
nas normas sobre aspectos da organização económica da sociedade,
que correspondem na sua consagração a uma nova escala de
objectivos e funções do Estado (Constituições programáticas)

3) De um ponto de vista da unidade ou da pluralidade dos princípios


materiais ou dos princípios enformadores da Constituição material,
podemos distinguir entre Constituições simples e Constituições
complexas ou compromissórias.

Em bom rigor, o conceito de Constituição simples é meramente


abstracto, já que nenhuma Constituição é inteiramente simples, todas
contém dois ou mais princípios que a priori poderão ou não ser
compagináveis. Uma Constituição compromissória permite a
coexistência de ideias e correntes antagónicas, que só podem subsistir
se os protagonistas institucionais aceitam um determinado fio
condutor, v.g., o princípio democrático nos Estados sociais de Direito.

4) Por fim, atendendo ao sector da Constituição que é objecto de


consideração, tendo em conta as múltiplas matérias em que a
Constituição pode ser dividida, podemos distinguir entre Constituições
sociais, económicas, políticas e garantísticas.

54
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - Normas material e formalmente constitucionais


Do confronto entre as acepções de Constituição material e de
Constituição formal resulta também uma diferenciação entre, por um
lado, as normas e os princípios materialmente constitucionais, que
serão todas as normas e princípios com dignidade constitucional; por
outro, as normas e os princípios formalmente constitucionais, que
serão, por seu turno, as normas e os princípios que têm forma e força
constitucional, de cariz supremo.

Em face disso, importa clarificar:


1) As normas e princípios formalmente constitucionais são também
materialmente Constitucionais.

2) Há normas que fazem parte da Constituição material, mas que não


estão contidas na Constituição formal. Pelo que existem, dois níveis
(graus) de normas materialmente constitucionais: (a) as que se
encerram na Constituição formal; e (b) as que pertencem ao Direito
ordinário – produto de leis e outras fontes infra constitucionais.

3) Pelo que, estas normas e princípios materialmente constitucionais


(de 2.º grau), não o são em sentido formal.

VI - As fontes das normas e dos princípios constitucionais

Por razões de coerência e tendo em conta a observação da vida


jurídica, lei, costume e jurisprudência encontram-se presentes
também no Direito Constitucional. Nenhuma destas fontes, pode,
portanto, ser excluída.

55
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Vejamos cada uma delas.

 A Constituição

A Constituição instrumental é a lei constitucional que codifica o Direito


Constitucional (a excepção conhecida é a experiência britânica, dotada
de uma Constituição material, assente no costume).

 O Direito Constitucional extravagante

Mas há normas e princípios constitucionais extravagantes à


Constituição (tanto originários como supervenientes, que não
integram a Constituição instrumental. O que nos permite distinguir
entre: (a) Direito Constitucional extravagante formal; e (b) Direito
Constitucional extravagante material.

a) Fazem parte do Direito Constitucional extravagante formal os actos


legislativos, pertinentes às matérias constitucionais que, apesar de se
situarem fora do texto chamado “Constituição” no seu sentido
instrumental, alcançam, por força da Constituição, o mesmo valor da
Constituição formal. São exemplo disso: a Declaração Universal dos
Direitos do Homem (DUDH) e a Carta Africana dos Direitos do Homem
e dos Povos (CADHP), para os quais se remete em matéria de
interpretação e integração do sistema constitucional dos Direitos
fundamentais (art.º 43.º da CRM, cfr. art.º 18.º/2 da CRM); e os
chamados Direitos fundamentais atípicos, oriundos de outras fontes
normativas não constitucionais (v.g., os Direitos da personalidade
reconhecidos no Código Civil), por força da “cláusula aberta de
Direitos fundamentais” (art.º 42.º da CRM).

c) Integram o Direito Constitucional extravagante material, os


actos normativos que completam e desenvolvem as opções

56
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

traçadas ao nível da Constituição formal e instrumental, e que


têm apenas, neste caso, um valor infra-constitucional.
Exemplos são: o Regimento da Assembleia da República; a Lei
Orgânica do Conselho Constitucional; as Leis Eleitorais; a Lei
dos Partidos políticos.

 O Costume

É necessário, começar por distinguir o costume constitucional das


regras de convivência e cortesia, frequentes na vida política. Assistir
em pé ou sentado à audição de uma mensagem presidencial não
revela a existência de um costume constitucional. O costume baseia-
se, sobretudo, nas regras de organização e interligação dos órgãos do
poder que estruturam o regime político do Estado.

O costume constitucional, nasce de uma sucessão de precedentes.


Dois elementos são basicamente necessários: um elemento
psicológico e um elemento objectivo. O elemento psicológico reside
na consciência, para os dirigentes de que existe uma regra obrigatória
criada pelo costume. Mas o costume implica também um elemento de
uso: uma repetição que atesta a submissão e uma duração que
confirma a generalização. A repetição de actos idênticos constitui o
elemento objectivo do costume constitucional. A este elemento
objectivo se adiciona o elemento subjectivo suportado pela
necessidade do consentimento dos órgãos constitucionais e da opinião
pública. Deve impor-se o sentimento de que a prática é imperativa, e
conforme a uma regra constitucional obrigatória. É este sentimento de
obrigação jurídica que legitima a sua prática constitucional.

Mesmo uma Constituição escrita pode não ter previsto todos os


mecanismos de Direito Constitucional. Poderá ser necessário
interpretar, ou integrar determinadas regras, sem recorrer

57
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

sistematicamente ao processo de revisão constitucional. É neste


momento que o costume constitucional pode intervir. É certo que,
regra geral, os Estados não adoptam formalmente o seu
reconhecimento como fonte de Direito. No entanto, a maioria dos
constitucionalistas vêm nele um instrumento de formalização de
regras jurídicas.
O costume é, regra geral, um complemento de uma Constituição
escrita. Ele intervém frequentemente para os casos não previstos na
Constituição.
No entanto, o valor do costume constitucional é frágil por natureza.
Mesmo que vá, em algum caso, contra o texto constitucional, é
reversível a qualquer momento. Neste sentido, o costume não pode
abrogar uma regra constitucional. Tal seria fazer da violação de um
texto, uma forma de revisão constitucional. Limita-se por isso, em caso
de consenso entre a classe política, e em alguns casos da opinião
pública, a impor adaptações à Constituição. Direito precário, por
natureza, encontra-se estreitamente ligado à fortuna política dos
governos ou outros órgãos que o tentam, num dado momento pôr em
prática.

Ao contrário do Direito escrito, o costume constitucional não tem


aplicação directa em Direito positivo. Como regra, escapa à sindicância
dos tribunais. A sua força apenas existe na medida em que os
governantes sabem que não podem transgredir esta ou aquela regra
não escrita, sem cometer uma violação.

 A jurisprudência constitucional

A jurisprudência constitucional pode ser fonte de Direito


Constitucional, seja em moldes de costume, seja, eventualmente, a
título de decisão do tribunal a que a lei confira força obrigatória geral
(v. art.º 248.º da CRM).

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo.

 Certo

 Errado

Resposta: Certo

2. Qual era o objectivo do constitucionalismo?

Resposta: era – e é – o de limitar juridicamente o poder do Estado


(consequentemente, abolir o absolutismo real) através de uma
Constituição escrita.

3. Defina Direito Constitucional.

Resposta: Conjunto de normas e princípios que, por um lado,


reconhecem um conjunto de Direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos, e por outro, regulam a organização, o funcionamento e os
limites do poder político.
4. A superioridade hierárquico-formal da Constituição no
ordenamento jurídico positivo do Estado a que pertence tem depois
três importantes concretizações. Diga quais são:
Resposta: o princípio da constitucionalidade; a desvalorização dos
actos jurídico-públicos desconforme; a responsabilidade pelos ilícitos
constitucionais
5. Há normas que fazem parte da Constituição material, mas que não
estão contidas na Constituição formal.

 Certo

 Errado

Resposta: certo

6. Assistir em pé ou sentado à audição de uma mensagem

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

presidencial revela a existência de um costume constitucional

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

Exercícios

1. Defina Constituição.

2. A definição da Constituição pode ser desdobrada em três


elementos essenciais. Diga quais são?

3. Quais são as três dimensões da Constituição?

4. Faça a distinção entre Constituições normativas e Constituições


nominais.

5. O que entende por Direito Constitucional extravagante?


6. O que são Constituições semânticas?

UNIDADE Temática 2.2. Exercícios do Tema II

1. A Constituição é dotada de supremacia máxima na ordem


jurídica estadual. Comente.

2. Explique a dimensão material da Constituição.

3. Explique a dimensão formal da Constituição.

4. Explique o costume como fonte de Direito.

5. A jurisprudência é uma fonte do Direito Constitucional?

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ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Sumário

O Direito Constitucional moderno provém do constitucionalismo, e


remete-nos para a ideia de Estado constitucional. O Estado
constitucional nasce da luta contra o Estado absoluto.

O Direito Constitucional consiste no conjunto de normas e princípios


que, por um lado, reconhecem um conjunto de Direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos, e por outro, regulam a organização, o
funcionamento e os limites do poder político.
A Constituição é a lei suprema do Estado (Lei Fundamental), que
através do seu sistema de normas e princípios jurídicos, estabelece a
“estrutura básica” do Estado: reconhecendo um conjunto de Direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos; e fixando as atribuições, as
competências e, por conseguinte, os limites de actuação do poder
político.

61
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – III: INTRODUÇÃO AO PODER CONSTITUINTE

UNIDADE Temática 3.1. O poder constituinte e o nascimento da


Constituição. Manifestações típicas do pode constituinte. Tipologia
dos actos constituintes. Limites jurídicos e políticos ao poder
constituinte.
UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do tema

UNIDADE Temática 3.1 O poder constituinte e o nascimento da Constituição.


Manifestações típicas do poder constituinte. Tipologia dos actos constituintes.
Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção do poder constituinte e o
nascimento da Constituição, as manifestações típicas do poder
constituinte, tipologia dos actos constituintes e limites jurídicos e
políticos ao poder constituinte

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o poder constituinte e o nascimento da Constituição;

 Conhecer as manifestações típicas do poder constituinte;


Objectivos
 Conhecer e dominar a tipologia dos actos constituintes;

 Conhecer os limites jurídicos e políticos ao poder constituinte;

62
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

I - O poder constituinte e o nascimento da Constituição

A primeira questão que formulamos é a que pergunta: o que é o


poder constituinte? Podemos definir o poder constituinte como um
“poder”, uma “força” ou uma “autoridade” política que está em
condições de, numa determinada situação concreta, criar, garantir ou
eliminar uma Constituição entendida como lei fundamental da
comunidade política. Em termos mais simples, o poder constituinte,
será o poder, ou a faculdade, de elaborar uma nova Constituição.

O aparecimento de uma nova Constituição é consumado pela irrupção


do poder constituinte, um poder que explica, em qualquer momento,
essa permanente possibilidade de auto-organização. Este poder nunca
desaparece, está sempre latente na sociedade (em momentos não
constituintes), sendo a partir dele que derivam todos os outros
poderes (constituídos).

E aqui impõe-se uma primeira distinção: entre um poder constituinte


originário, o poder de elaborar uma nova Constituição e um poder
constituinte derivado (ou poder de revisão constitucional), que é, por
sua vez, um poder constituído: o poder ou a faculdade de modificar as
regras da Constituição formal, num determinado Estado.

A segunda questão consiste em saber, quem é o titular desse poder?


Hoje, em democracia, o titular do poder constituinte só pode ser o
povo (v. art.º 2.º/1 da CRM).

II - Manifestações típicas do poder constituinte

A terceira questão formulada consiste em saber: em que momentos


actua o poder constituinte? O desencadeamento de procedimentos
constituintes tendentes à elaboração de uma Constituição anda

63
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

geralmente associado a momentos constitucionais extraordinários,


como sejam: (a) o da criação de um Estado; (b) o da transformação de
um Estado; (c) o da mudança de regime do Estado; ou ainda, (d) de
alterações na vida estadual que o justifiquem.

O momento típico para o exercício do poder constituinte é o da


criação de um Estado – decorrente da descolonização de territórios;
do desmembramento de uniões reais ou pessoais (v.g., as primeiras
Constituições dos países da Commonwealth, Canadá, Nova Zelândia,
Austrália, Jamaica, Maurícia, … foram aprovadas pelo Parlamento
Britânico); ou de tratados internacionais (v. os casos da Albânia, em
1913, e do Chipre, em 1960).

Mas o desencadeamento de procedimentos constituintes tendentes à


elaboração de uma Constituição pode decorrer – e tem ocorrido, ainda
– de outros fenómenos: em virtude da transformação do Estado (v.g.,
a “queda de muros”); de uma mudança de regime (a substituição da
ideia de Direito); ou ainda, de alterações na vida estadual que o
justifiquem.
A mudança de regime pode ser mais ou menos profunda. O modo
mais frequente é a revolução (v.g., a Constituição portuguesa de 1976,
corresponde à adaptação do texto constitucional à Constituição
material); e a reforma política ou transição constitucional (v.g., a
Constituição espanhola de 1978, ou a Constituição moçambicana de
1990).

Ainda no âmbito das manifestações do poder constituinte, mas agora


de um ponto de vista procedimental, a questão que colocámos
consiste em saber: qual é o seu procedimento e forma do seu
exercício? De um ponto de vista procedimental, importa dissociar
duas acepções presentes na expressão do poder constituinte: o poder
constituinte material; e o poder constituinte formal.

64
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

a) O poder constituinte material espelha as opções de conteúdo que


se quer implantar, de acordo com o projecto de Direito que se
produziu – ideia de Direito – por oposição ao pré-existente (a ideia
fundamental de que a Constituição como acto legislativo, deve ser
encarada não apenas do ponto de vista do seu conteúdo de normas e
princípios mas também de um conjunto de opções que traduzem uma
determinada vontade de estruturação do Estado e da sociedade).

b) O poder constituinte formal representa a formalização desse


conteúdo através da redacção da Constituição e dos actos
constituintes em que a respectiva aprovação se vai consumando.

III - Tipologia dos actos constituintes

A produção de um novo poder constituinte – a expressão do poder


constituinte formal – submete-se a diversos esquemas possíveis,
relacionados com diferentes aspectos da estrutura do Estado e do
sistema político em questão. Ou seja, o poder constituinte formal
finaliza-se através de actos constituintes, sendo possível distinguir três
possíveis categorias de actos constituintes stricto sensu: (a) actos
constituintes unilaterais singulares; (b) actos constituintes unilaterais
plurais; (c) actos constituintes bilaterais.

a) Actos constituintes unilaterais singulares (ou simples), são os que


provêm de um único órgão (ou de uma só legitimidade), v.g., a
outorga de uma Carta Constitucional pelo monarca (Carta
Constitucional portuguesa de 1826);

b) Actos constituintes unilaterais plurais (ou complexos), são os que


provêm da soma ou do resultado de actos parcelares provenientes de

65
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

dois ou mais órgãos da mesma entidade titular do poder constituinte,


v.g., a aprovação por referendo de um ou vários princípios ou opções
constitucionais, prévia ou simultânea à eleição de uma assembleia
constituinte, que seguidamente elabora o texto final de acordo com
essas opções (Grécia em 1974); ou a elaboração por uma assembleia
constituinte seguida de referendo (França em 1958);

d) Actos constituintes bilaterais, são os que provêm de um


acordo de vontades entre dois ou mais sujeitos ou entidades (a
concorrência de vontades de órgãos dotados de diversas
legitimidades), v.g., a elaboração e aprovação por uma
assembleia representativa e posterior sanção do monarca
(Portugal portuguesa de 1838), ou de um Chefe de Estado
eleito; ou no caso das federações, a aprovação de uma
Constituição por uma assembleia representativa, seguida de
ratificação pelos estados componentes da União (Constituição
americana de 1787). As Constituições aprovadas nestas
condições são Constituições pactícias (contrato constitucional).

66
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Unilaterais
singulares (ou
simples
Actos Constituintes
Unilaterais
plurais

Bilaterais

É importante afirmar uma distinção conceptual: a distinção entre


Constituição pactícia e Constituição compromissória. O conceito de
Constituição pactícia, tem a ver com o seu modo de elaboração,
resulta em termos formais de um pacto, que traduz uma concorrência
de vontades de órgãos dotados de diversas legitimidades. O conceito
de Constituição compromissória tem a ver com o conteúdo material
da Constituição; cujo texto inclui princípios que têm orientações
diversas na sua origem (Constituição moçambicana de 1990, ou a
Constituição portuguesa de 1976) (princípios de origem social, liberal).

IV - Limites jurídicos e políticos ao poder constituinte?

A última questão que formulamos no início do presente capítulo:


existem ou não limites jurídicos e políticos quanto ao exercício desse
poder?

A teoria clássica do poder constituinte, cujo primeiro teorizador foi


Emmanuel Siéyès, foi concebida para fazer face à teoria do Direito
divino dos reis e por isso também o apresenta sem limites, ou seja, era
considerado como um poder originário (um poder primeiro, não
existindo outro antes dele), independente (um poder

67
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

hierarquicamente máximo, não subordinado a qualquer outro), e


absoluto (um poder materialmente ilimitado, não se sujeitando a
nenhuma outra regra ou parâmetro).

Esta concepção deve ter-se, hoje em dia, ultrapassada. Desde logo, se


o poder constituinte se destina a criar uma Constituição, concebida
como organização e limitação do poder, não se vê como esta “vontade
de Constituição” pode deixar de condicionar a vontade do criador. As
exigências impostas pelo Estado de Direito impõem, hoje, um poder
constituinte democraticamente legitimado, materialmente limitado e
culturalmente situado. Este poder não é, hoje, portanto, um poder
ilimitado.

Segundo Jorge Miranda, encontramos três categorias de limites


materiais ao poder constituinte: limites transcendentes; limites
imanentes; e limites heterónomos

 Limites transcendentes, são valores éticos superiores,


anteriores ao próprio Estado, imperativos de Direito Natural
ou, noutros termos, ideias de Direito ou valores éticos que
resultam de uma consciência jurídica colectiva, e que fluem
internacionalmente. Entre eles avultam os que se prendem
com os Direitos fundamentais imediatamente conexos com a
dignidade da pessoa humana. É o caso de certos Direitos que,
mesmo em estado de sítio ou de emergência (v. art.º 282.º da
CRM) não podem ser limitados ou suspensos (v. art.º 286.º da
CRM).

 Limites imanentes, decorrem do poder constituinte formal,


este é o poder de fixar princípios enquanto princípios
axiológicos fundamentais da sociedade política em concreto.
São limites que se reportam, no essencial, à soberania do

68
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Estado, por vezes, à forma de Estado, bem como a limites


atinentes à legitimidade política em concreto.

 Limites heterónomos, são os provenientes da conjugação com


outros ordenamentos jurídicos, mx. regras ou actos de Direito
Internacional donde resultem obrigações para a generalidade
dos Estados, ou só para certo Estado. Reportam-se ainda a
regras de Direito interno, quando o Estado seja composto.

Transcendentes

Limites ao Poder Constituinte Imanentes

Heterónomos

Sumário

A primeira manifestação da actividade permanente de um Estado


empenhado na prossecução de determinados fins é o seu poder
constituinte.

Dito isto, há um conjunto de questões que inevitavelmente se


colocam, saber:
 Saber o que é o poder constituinte?
 Quem é o titular desse poder. De que forma se
manifesta?
 Em que momentos actua esse poder constituinte?
 Qual é o seu procedimento e forma do seu exercício?
 Existem, ou não, limites jurídicos e políticos quanto ao
exercício desse poder?
Todas estas questões foram discutidas e respondidas nesta unidade
temática.

69
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O que é o poder constituinte?

Resposta: Em termos mais simples, o poder constituinte, será o


poder, ou a faculdade, de elaborar uma nova Constituição

2. Faça a distinção entre um poder constituinte originário e poder


constituinte derivado.
Resposta: Poder constituinte originário é o poder de elaborar uma
nova Constituição; poder constituinte derivado (ou poder de
revisão constitucional) é um poder constituído: o poder ou a
faculdade de modificar as regras da Constituição formal, num
determinado Estado.

3. Quem é o titular do poder constituinte?


Resposta: Hoje, em democracia, o titular do poder constituinte só
pode ser o povo (v. art.º 2.º/1 da CRM).

4. Não existem limites jurídicos e políticos quanto ao exercício


desse poder

 Certo

 Errado

Resposta: Errado

5. Como era o poder constituinte segundo a teoria clássica do


poder constituinte?

Resposta: Era um poder originário (um poder primeiro, não


existindo outro antes dele), independente (um poder
hierarquicamente máximo, não subordinado a qualquer outro), e

70
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

absoluto (um poder materialmente ilimitado, não se sujeitando a


nenhuma outra regra ou parâmetro)

6. Quais são as três categorias de limites materiais ao poder


constituinte?
Resposta: limites transcendentes; limites imanentes; e limites
heterónomos.

Exercícios

1. Em que momentos actua o poder constituinte?


2. Distinga poder constituinte material de pode constituinte
formal.
3. Quais são os tipos de actos constituintes que conheces?
4. Faça a distinção entre Constituição pactícia e Constituição
compromissória.
5. O que são limites imanentes?
6. O que são limites transcendentes?

UNIDADE Temática 3.2. Exercícios do Tema III

1. A teoria clássica do poder constituinte, apresenta -o sem


limites. Comente.
2. O que entende por limites heterónomos?
3. A forma de Estado, compreende a que tipo de limite do
poder constituinte?

4. Dê exemplos de limites transcendentes do pode político

5. Faça a distinção das três possíveis categorias de actos


constituintes

71
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – IV: FORMA DE GOVERNO, SISTEMA DE GOVERNO REGIME POLÍTICO E SISTEMA


POLÍTICO

UNIDADE Temática 4.1. Forma de Governo, Sistema de Governo,


Regime Político e Sistema Político.
UNIDADE Temática 4.2. EXERCÍCIOS deste tema

UNIDADE Temática 4.1. Formas de Governo, Sistema de Governo, Regimes


Políticos e Sistemas Políticos.

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre as formas de governo, sistema de
governo, regimes políticos e sistemas políticos e as suas respectivas
classificações.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber diferenciar as formas de governo, sistema de governo,


regimes políticos e sistemas políticos;
Objectivos
 Conhecer os tipos de as formas de governo, sistema de
governo, regimes políticos e sistemas políticos;

 Conhecer os critérios de distinção entre os tipos de sistema de


governo;

 Saber diferenciar os diferentes tipos de sistemas de governo.

72
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A matéria dos regimes políticos e dos sistemas de governo é


caracterizada por um conjunto de aproximações muito diversificado
que variam em função do tempo histórico em que foram produzidas e
da perspectiva doutrinal que as sustenta.

Nestes termos, devem ser objecto de distinção os seguintes conceitos:

Tipologia Definição

Forma de Governo Abrange a totalidade da vida política e tem


que ver com a relação fundamental, a relação
entre governados e governantes. É o modo
como se estabelece e estrutura essa relação
Sistema de Limita-se à estrutura interna do poder, ás
Governo instituições e ao estatuto dos governantes e
relaciona-se com totós os problemas
concernentes ás relações entre órgãos de
governo (entre órgãos de função política), ou
até á existência ou não de pluralidade de
órgãos governativos.
Regime Político É a expressão política da Constituição material.
Uma concepção dos fins e dos meios de poder
e da comunidade, o que significa que não se
esgota na mera organização do poder político ,
prende-se também, e muito, com os Direitos
fundamentais e com a organização económica
e social

73
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Sistema Político Atende muito mais à efectividade do que a


normatividade, e abarca não só os órgãos e
instituições formais ou constitucionais mas
também as demais instituições e corporações
políticas ou sociais politicamente relevantes,
as forças políticas (partidos) e económicos –
sociais (sindicatos, associações patronais), a
ideologia dominante e o enquadramento
exterior do Estado

I - Os regimes políticos

A distinção dos regimes políticos, será feita tendo por base o critério
do Prof. Rebelo de Sousa: “a existência ou não de filosofia ou ideologia
exclusiva ou liderante, de aparelho destinado a impô-la, de efectiva
garantia dos Direitos pessoais dos cidadãos e de livre participação na
designação dos governantes e no controlo do exercício das suas
funções”.

Tendo em consideração este critério pode ser feita a contraposição


entre regime político ditatorial e regime político democrático,
consoante o tipo de relação que existe entre os governantes e os
governados.

Deve ser, no entanto, antes, referenciada a bipartição clássica,


introduzida por Maquiavel, entre Monarquia e República.

Actualmente, a distinção entre República e Monarquia tem por base o


modo como é designado o Chefe de Estado. Nestes termos:

A República é o regime político em que a designação do Chefe de


Estado se faz por forma diversas da herança;

74
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A Monarquia é o regime político em que a designação do Chefe de


Estado se faz por herança.

O regime político será, em conformidade, com o critério de distinção


do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa anteriormente avançado:

 Ditatorial – quando:

 Existe uma filosofia ou ideologia exclusiva ou liderante, isto


é, quando o poder é sustentado num conjunto de ideias ou
princípios que não aceitam alternativas ao modelo de
sociedade vigente, nem permitem a exigência legal de
oposição;

 Existe um aparelho destinado a impor a ideologia,


nomeadamente ao nível político, policial e educativo;

 Não existe uma efectiva garantia dos Direitos pessoais dos


cidadãos, mesmo que estes se encontrem formalmente
previstos na Constituição;

 Não existe livre participação na designação dos


governantes, isto é, quando não existe uma real escolha
dos titulares dos órgãos governativos, nem a possibilidade
de proceder à sua substituição no final de um período
anteriormente fixado;

 Não existe um controlo do exercício das funções dos


governantes, isto é, quando não é possível fiscalizar a
actuação dos titulares dos cargos políticos, nem sanciona-
los pelos actos e omissões da sua responsabilidade que

75
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

sejam lesivos dos Direitos dos cidadãos e dos interesses da


comunidade considerada no seu conjunto.

 Democrático – quando:
 Não existe uma filosofia ou ideologia exclusiva ou liderante,
isto é, quando os governados podem optar entre diversos
modelos de organização de sociedade e é reconhecido um
estatuto específico à oposição;

 Não existe um aparelho destinado a impor a ideologia,


tendo, em conformidade, os órgãos governativos o
objectivo de satisfazer um leque o mais alargado possível
de exigência e dos interesses da comunidade;

 Existe uma efectiva garantia dos Direitos pessoais dos


cidadãos, com origem num catálogo de Direitos
fundamentais abertos, nomeadamente de natureza
constitucional;

 Existe livre participação na designação dos governantes,


isto é, os governados tem real influência na escolha dos
titulares dos órgãos governativos e a responsabilidade de
proceder à sua substituição no final do período em que
estes exercem o seu mandato;

 Existe um controlo do exercício das funções dos


governantes, isto é, existem mecanismos efectivos de
fiscalização e de responsabilização da actuação dos
titulares dos cargos políticos e a possibilidade de serem
lhes serem aplicadas sanções pelos actos e omissões que
sejam lesivos dos Direitos dos cidadãos e dos interesses da
comunidades considerada no seu conjunto.

76
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Os regimes ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários. A


distinção entre os dois conceitos deve ser feita com base na
intensidade do controlo que o poder político exerce em relação à
sociedade civil. Se a extensão do controlo é tal que o Estado absorve a
sociedade civil, está-se em presença de um regime totalitário. Se, em
contraponto, é possível continuar a com uma relativa margem de
autonomia no âmbito da sociedade civil, não obstante o controlo que
é exercido pelo poder político, está-se em presença de um regime
autoritário.

Democráticos
Regimes
Políticos Totalitários
Ditatoriais
Autocráticos
II - Sistemas de governo

Os sistemas de governo podem ser divididos em sistemas de governo


ditatoriais e sistemas de governo democrático.

O sistema de governo é ditatorial quando o poder político é detido


por uma pessoa ou por um conjunto de pessoas que o exercem por
direito próprio, sem que haja participação ou representação da
pluralidade dos governos.

O sistema de governo é democrático quando o poder político é


exercido pela comunidade, através da delegação do seu exercício do
seu exercício a um conjunto de órgãos, com a participação efectiva ou
a representação da pluralidade dos governados.

 Sistema de governo ditatoriais: monocráticos e autocráticos

Os sistemas de governo ditatoriais podem ser monocráticos, se o

77
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

poder é exercido por um órgão singular, como na monarquia absoluta


e no governo cesarista e autocráticos, se o poder é exercido por um
órgão colegial, por um grupo social ou por um partido.

 Sistemas de governo democráticos: directos, semidirectos e


representativos

Os sistemas de governo democráticos podem ser directos,


semidirectos e representativos, consoante a forma como os
governados participam no exercício do poder político.

O sistema de governo democrático directo - consiste no exercício


integral das funções próprias do poder político pela assembleia-geral
dos cidadãos activos do Estado. Esta assembleia faria as leis, elegeria
os magistrados encarregados da respectiva execução e decidiria em
última instância as questões em que para ela houvesse recurso.

O sistema de governo democrático semidirecto - existe quando a


Constituição prevê a existência de órgãos representativos da
soberania popular; mas condiciona a validade de certas deliberações
ou decisões desses órgãos à manifestação de vontade, expressa ou
tácita, do próprio Povo constituído pela generalidade dos cidadãos
eleitores, nomeadamente através do referendo.

O sistema de governo democrático representativo - tem lugar quando


o poder político pertence à colectividade mas é exercido por órgãos
que actuam por autoridade e em nome dela e tendo por titulares
indivíduos escolhidos com intervenção dos cidadãos que a compõem.

 Sistemas de governo democráticos representativos de


concentração de poderes e de divisão de poderes

78
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Os sistemas de governo democráticos representativos podem ser de


concentração de poderes ou de divisão de poderes

Segundo a lição do prof. Jorge Miranda, temos, de um lado, os


sistemas de governo em que à volta de determinado opção, se movem
os demais órgãos, em que a responsabilidade se verifica em relação
apenas um órgão e do outro, os sistemas de governo em que, pelo
contrário, há divisão ou, mesmo, separação de poderes; em que se
verifica interdependência dos órgãos, ou em que se consegue alcançar
uma independência recíproca na base da pluralidade”.

Os sistemas de governo democráticos representativos de


concentração de poderes podem ser convencionais e representativos
simples. A diferença fundamental está em o poder pertencer a uma
assembleia ou a uma pessoa. Embora se tratem formalmente de
governo democráticos representativos, em termos materiais são
governos ditatoriais.

O sistema de governo convencional - caracteriza-se pela existência de


uma assembleia representativa em que se concentram, por delegação
do Povo, todos os poderes soberanos, rejeitando-se formalmente o
princípio da separação de poderes. O exercício do poder pertencerá a
comissões eleitas pela assembleia, a quem esta confia certas missões
sob a sua orientação e superintendência. Não existe, pois, poder
executivo distinto da assembleia, mas apenas órgãos executantes da
vontade desta”.

O sistema de governo representativo simples caracteriza-se pela


concentração do poder no Chefe do Estado.

Os sistemas de governo democráticos de divisão de poderes mais


importantes no decurso do século XX são: os parlamentaristas, os

79
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

presidencialistas e os semipresidencialistas.

O critério de distinção tem na sua base, segundo Jorge Novais, citado


por Bastos (1999), nas diferentes possibilidades de combinação que na
democracia representativa podem assumir os seguintes dois factores:

 A posição relativa do Chefe de Estado no conjunto do sistema;

 A relação entre Governo (ou executivo) e parlamento

No que se refere à posição do Chefe de Estado no conjunto do


sistema, o que interessa saber é se o Chefe de Estado é um órgão de
exercício efectivo de poder, com possibilidades de desempenhar um
papel activo na vida política (independentemente de, na prática,
assumir ou não esse papel, o importante é, aqui, a possibilidade, se
quiser, de o poder fazer), ou seja, pelo contrário, o Chefe de Estado
está constitucionalmente limitado a um desempenho ‘apagado’ das
funções, sem possibilidade real de intervir na vida política.

No que se refere à relação entre Governo (ou executivo) e Parlamento,


o que interessa saber é se o Governo responde ou não politicamente
perante o Parlamento, o que, em última análise, significa saber se o
Parlamento pode ou não provocar a queda do Executivo, seja através
da votação de uma moção de censura (da sua própria iniciativa), seja
através de uma moção de confiança (que lhe seja apresentada pelo
Governo).
Partindo dos dois critérios referenciados, distinguem-se:

- Sistema de governo parlamentarista: o sistema em que o Chefe de


Estado é um órgão politicamente ‘apagado’ (em termos de
possibilidade de exercício efectivo de poder) e em que o Governo é
politicamente responsável perante o Parlamento;

- Sistema de governo presidencialista: o sistema em que o Chefe de

80
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Estado é um órgão decisivo, que exerce poderes importantes, e em


que o Executivo não responde politicamente perante o Parlamento,
pelo menos no que respeita à possibilidade de o parlamento demitir o
Governo;

- Sistema de governo semi-presidencialista: o sistema em que o Chefe


de Estado é um órgão com possibilidades de exercer poderes
significativos (características que é comum ao sistema presidencial) e
em o Governo responde politicamente perante o Parlamento
característica que é comum ao sistema parlamentar).

Deve ser, no entanto, ainda objecto de referência o sistema de


governo directorial, em que existe um órgão colegial que exerce o
poder executivo, e que assente na independência recíproca, quanto à
subsistência dos titulares, do órgão do poder executivo e do órgão do
poder legislativo. Nem o primeiro responde politicamente perante o
segundo, nem a assembleia pode se dissolvida em caso algum.

Ditatoriais
Sistemas
de
Governo Directos
Semi Directos Concetração
Democráticos de Poderes

Parlamentaristas;
Representativos

Semi-
Divisão Presidencialistas
de Poderes
Presidencialistas

81
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Sumário

A matéria dos regimes políticos e dos sistemas de governo é


caracterizada por um conjunto de aproximações muito diversificado
que variam em função do tempo histórico em que foram produzidas e
da perspectiva doutrinal que as sustenta.

Os regimes políticos podem se democráticos ou ditatoriais. Os regimes


ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários

Os sistemas de governo democráticos de divisão de poderes mais


importantes no decurso do século XX são: os parlamentaristas, os
presidencialistas e os semipresidencialistas. O critério de distinção tem
na sua base nas diferentes possibilidades de combinação que na
democracia representativa podem assumir os seguintes dois factores:

 A posição relativa do Chefe de Estado no conjunto do sistema;

 A relação entre Governo (ou executivo) e parlamento

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Faça a distinção entre Forma de Governo e Sistema de Governo

Resposta: Forma de Governo abrange a totalidade da vida política


e tem que ver com a relação fundamental, a relação entre
governados e governantes. É o modo como se estabelece e
estrutura essa relação; enquanto que sistema de governo limita-se
à estrutura interna do poder, ás instituições e ao estatuto dos
governantes e relaciona-se com totós os problemas concernentes
ás relações entre órgãos de governo (entre órgãos de função
política), ou até á existência ou não de pluralidade de órgãos

82
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

governativos.

2. A bipartição clássica dos sistemas políticos em Monarquia e


República foi introduzida por:

 Maquiavel
 Bodin
 Rosseau
 Luís XIV
Resposta: Maquiavel

3. Os regimes ditatoriais podem ser autoritários ou totalitários

 Certo
 Errado
Resposta: Certo

4. Faça a distinção entre os regimes ditatoriais autoritários e


totalitários

Resposta: A distinção entre os dois conceitos deve ser feita com


base na intensidade do controlo que o poder político exerce em
relação à sociedade civil. Se a extensão do controlo é tal que o
Estado absorve a sociedade civil, está-se em presença de um
regime totalitário. Se, em contraponto, é possível continuar a com
uma relativa margem de autonomia no âmbito da sociedade civil,
não obstante o controlo que é exercido pelo poder político, está-se
em presença de um regime autoritário.

5. Qual é o critério de distinção dos sistemas de governo


democráticos de divisão de poderes em Presidencialista, semi –
presidencialistas e parlamentarista?

Resposta: os critérios são: (1) A posição relativa do Chefe de

83
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Estado no conjunto do sistema e (2) A relação entre Governo (ou


executivo) e parlamento

6. Defina sistema de governo parlamentarista.

Resposta: É o sistema em que o Chefe de Estado é um órgão


politicamente ‘apagado’ (em termos de possibilidade de exercício
efectivo de poder) e em que o Governo é politicamente
responsável perante o Parlamento

Exercícios

1. Defina Regime Político.

2. Defina Sistema Político.

3. Faça a distinção entre Monarquia e República.

4. Sistema de governo semi-presidencial.

5. No regime ditatorial existe livre participação dos cidadãos


na escolha dos governantes?

6. Sistemas de governo presidencialista é um sistema de


governos democráticos representativos de concentração de
poderes.

 Certo

 Errado

84
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

UNIDADE Temática 4.2. Exercícios do Tema IV

1. Faça a distinção entre regime político ditatorial e regime


político democrático.

2. Sistema de governo parlamentarista.

3. Sistema de governo presidencialista.

4. o sistema de governo directorial.

5. No regime político ditatorial só existe efectiva garantia dos


Direitos pessoais dos cidadãos, so quando se encontrem
formalmente previstos na Constituição.
 Certo
 Errado

85
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – V: ESTADO DE DIREITO E CONSTITUIÇÃO

UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito


UNIDADE Temática 5.2. Princípio Democrático
UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema

UNIDADE Temática 5.1. Princípio de Estado de Direito

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a noção de Estado de Direito, o princípio
de Estado de Direito e os seus princípios e sub – princípios
concretizadores.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Definir o Estado de Direito;

 Conhecer os princípios e subprincípios concretizadores do


Objectivos
Estado de Direito;

 Dominar o princípio da Legalidade da Administração;

 Dominar o princípio da proporcionalidade ou da proibição do


excesso

I - Princípio de Estado de Direito

Princípios e sub-princípios concretizadores

 Princípio da legalidade da administração;

86
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso;


 Princípio da universalidade e igualdade;
 Princípio da responsabilidade civil do Estado;
 Princípios da segurança jurídica e da protecção da confiança
dos cidadãos;
 Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais.

II - Princípio da Legalidade da Administração

Assinala o tipo de relações que devem existir entre o Poder Legislativo


e a Administração e tem uma função de hierarquização e de
articulação das leis e dos regulamentos.

O princípio da legalidade da administração tem 3 sub-princípios


concretizadores:

• Reserva da lei – significa que a Assembleia da República tem


matérias reservadas. A reserva pode ser:

 Absoluta - entre outras, em matéria de liberdade,


Direitos e garantias fundamentais;

 Relativa - nas matérias que não são de reserva


absoluta, a Assembleia da República pode autorizar o
Governo a trata-las.

• Precedência da lei – significa que a lei é anterior ao regulamento.

• Prevalência da lei significa que a lei é superior ao regulamento. A


prevalência da lei tem ainda 3 sub-princípios:

87
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Tipicidade das leis - São actos legislativos única e


exclusivamente os actos definidos pela Constituição: leis,
decretos-lei.

 Legalidade negativa - O regulamento não pode ser


contrário à lei em sentido amplo.

 Legalidade positiva - A Constituição exige que os


regulamentos incorporem os princípios consagrados na lei,
os desenvolvam, maximizem, realizem e concretizem.

Absoluta
Reserva de lei
Relativa
Princípio da legalidade da Precedência da
Administração lei
Tipicidade das
leis;
Prevalência da legalidade
lei negative;
Legalidade
positive.

III - Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso

É um princípio normativo-constitucional, que se aplica a todas as


espécies de actos dos poderes públicos e que vincula o legislador, a
administração e a jurisdição, no sentido de evitar cargas coactivas
excessivas ou actos de ingerência desmedidos na esfera jurídica dos
particulares.

88
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

P. da conformidade ou
adequação de meios

Material
Princípio da
P. da necessidade Espacial
proporcionalidade
Temporal
Pessoal
P. da proporcionalidade (sentido restrito

As perguntas que se devem formular são as seguintes:

• Será que os meios empregues são adequados para a resolução do


fim em vista?

• Será que são necessários?

• Poder-se-á atingir o mesmo fim com meios menos restritivos?

Na proporcionalidade em sentido restrito, faz-se uma análise


custo/benefício entre meios e fins.

A resposta à questão da necessidade tem que ser vista à luz destas


exigências:

• Pessoal Deve-se limitar a restrição ao menor número possível de


pessoas;

• Material A carga coactiva empregue, só deve ser a estritamente


necessária;

89
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

• Espacial O espaço afectado pela restrição deve ser o menos amplo


possível;

• Temporal O uso da restrição durante o menor tempo possível:

IV - Princípio da universalidade e igualdade (artigo 35 CRM)

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos Direitos
e estão sujeitos aos mesmos deveres, independentemente da cor raça,
sexo, origem étnica, lugar de nascimento, grau de instrução, posição
social estado civil dos pais, profissão ou opção política.

V - Princípio da responsabilidade civil do Estado

(Art. 58 CRM)
( Direito à indemnização e responsabilidade do Estado)

1. A todos é reconhecido o Direito de exigir, nos termos da lei,


indemnização pelos prejuízos que forem causados pela violação dos
seus Direitos fundamentais.
2. O Estado é responsável pelos danos causados por actos ilegais dos
seus agentes, no exercício das suas funções, sem prejuízo do Direito de
regresso nos termos da lei.

Esta responsabilidade deve ser alargada de forma a abranger não só os


ilícitos dos funcionários, como também os actos da Administração em
que não se consegue determinar o culpado, acrescendo que o acto
praticado não tem que ser necessariamente ilícito ou anormal para
poderem ser objecto de procedimento judicial, bastando para isso que
provoque danos ou prejuízos na esfera do particular.

90
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

VI - Princípio da Segurança Jurídica e da Protecção da Confiança dos


Cidadãos

Tem a ver com os requisitos de estabilidade que a ordem jurídica deve


observar, para que os cidadãos possam confiar em que às suas acções,
correspondam consequências jurídicas previsíveis, em face da ordem
jurídica existente.

Os postulados da segurança jurídica e da protecção da confiança dos


cidadãos são exigíveis perante qualquer acto de qualquer poder
(legislativo, executivo e judicial).

Alguns dos requisitos fundamentais deste princípio:

• Exigência de clareza, precisão e determinabilidade das leis


As leis devem ser claras, precisas e determinadas, no sentido em que
devem ser elaboradas com clareza do ponto de vista da técnica
legislativa

• Exigência de publicidade dos Actos do Estado

As normas gerais e abstractas, leis e decretos-lei, as sentenças do


Conselho Constitucional devem ser publicadas no Boletim da
República, sob pena de não terem eficácia jurídica. Exige-se também a
notificação dos actos administrativos aos interessados.

• Protecção da confiança em sentido estrito

Onde podemos distinguir três desenvolvimentos:

 Intangibilidade do caso julgado

91
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Uma sentença judicial não pode ser reaberta, é definitiva e


irretratável. Tem a força de caso julgado e não pode ser reaberta de
acordo com o princípio de que ninguém pode ser julgado duas vezes
pelo mesmo crime Esta imodificabilidade, irretratabilidade que afecta
as sentenças judiciais, também afecta os actos da administração.

O que está decidido está decidido !!!

 A proibição da retroactividade

Significa basicamente que as leis não podem produzir os seus efeitos


jurídicos a uma data anterior à da data de entrada em vigor no
ordenamento jurídico.

Ao período fixado para a sua entrada em vigor, chama-se “ Vacatio


legis” e destina-se a possibilitar o cumprimento do dever de
publicidade da lei.

 Princípio da proíbição dos pré-efeitos das leis - Consiste em


proíbir que a norma produza efeitos jurídicos, antes de ter
entrado em vigor, mesmo depois de publicada.

 Retroactividade

Consiste basicamente numa ficção: (1) Decretar a validade e vigência


duma norma a partir duma data anterior à data da sua entrada em
vigor; (2) Ligar os efeitos jurídicos duma norma a situações de facto
existentes antes da sua entrada em vigor.

Norma retroactiva (autêntica) – A norma entrou hoje em vigor, os

92
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

seus pressupostos de facto e as respectivas consequências jurídicas


referem-se a actos do passado ( eficácia ex tunc)

Norma retrospectiva ou de (retroactividade inautêntica) - A norma


entrou hoje em vigor, os seus pressupostos de facto verificaram-se no
passado, enquanto que a respectiva consequência jurídica, vale
apenas para o futuro ( eficácia ex nunc)

Norma prospectiva – A norma entrou hoje em vigor e os pressupostos


de facto e a respectiva consequência jurídica, só se vão verificar a
partir de hoje.

Proibida

Retroactividade Obrigatória

Permitida

Retroactividade Proibida, nos casos em que estejamos perante leis


restritivas de Direitos, liberdades e garantias ou normas de matéria
penal, menos favorável ao arguido e preceitos comunitários.

De um modo geral, todas as normas que tenham a ver com a


criminalização da conduta, penalização de crimes, agravamento de
penas, medidas de segurança indisputáveis, ou seja as normas penais
de conteúdo menos favorável ao arguido não podem ser retroactivas.

Retroactividade obrigatória quando estejamos perante leis penais de


conteúdo mais favorável para o arguido.

93
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

VII - Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais

Pilar fundamental do Estado de Direito. O sentido nuclear da


protecção judicial dos Direitos é este:

A garantia dos Direitos fundamentais, só pode ser efectiva quando, no


caso de violação destes, houver uma instância independente que
restabeleça a sua integridade.

Do princípio do Estado de Direito, deduz-se a exigência de um


procedimento justo e adequado de acesso ao Direito e de realização
do Direito.

 Garantias processuais e procedimentais

1. Garantias de processo judicial

As garantias processuais e
2. Garantias de processo penal
procedimentais

3. Garantias do procedimento
administrativo

 Garantias da via judiciária

Garantia da via judiciária

1 Imposição jurídico-constitucional ao legislador

2 Função organizatória-material

3 Garantia de protecção jurídica

4 Garantia dum processo judicial

94
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

5 Criação dum Direito subjectivo

6 Protecção jurídica e princípio da constitucionalidade

Princípio da responsabilidade do Estado e princípio da


7 compensação de prejuízos

 Princípio da garantia da via judiciária

 Imposição jurídico-constitucional ao legislador

Pretende assegurar uma defesa dos Direitos com os meios e os


métodos dum processo juridicamente adequado. Visa uma melhor
definição judiciário-material das relações entre o Estado e o cidadão e
entre particulares.

 Função organizatório-material

O contrapeso clássico relativamente aos poderes executivo e


legislativo é de facto o controlo judicial, donde a defesa de Direitos
através dos tribunais representa também uma decisão fundamental
organizatória.

 Garantia de protecção jurídica

Fundamental no princípio da abertura da via judiciária. Reforça o


princípio da efectividade dos Direitos fundamentais, proibindo a sua
ineficácia por falta de meios judiciais. Esta protecção jurídica implica o
controlo das questões de facto e das questões de Direito suscitadas
pelo processo, por forma a possibilitar uma decisão material do litígio,
feita por um juíz em termos juridicamente vinculantes.

95
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 Garantia dum processo judicial

Enquanto a jurisdição administrativa não tiver instrumentos para a


defesa dos Direitos, cabe aos tribunais ordinários civis, na falta da lei, a
incumbência constitucional da defesa dos Direitos

 Criação dum Direito subjectivo Público

Da combinação das dimensões objectiva e subjectiva dos Direitos


Fundamentais resulta o seu sentido global, que se traduz na segurança
da protecção duma posição jurídica subjectiva. O princípio da
protecção jurídica alarga assim a dimensão subjectiva e funda um
verdadeiro Direito, ou pretensão, de defesa dos Direitos e interesses
legalmente protegidos

 Protecção jurídica e princípio da constitucionalidade

Conformação formal e material de todos os actos com a Constituição.

 Princípio da eliminação de resultados lesivos e compensação


de prejuízos

Existência dum sistema jurídico-público de indemnização de danos e


prestações indemnizatórias.

Sumário

Estado de Direito é aquele que está sujeito ao Direito, só age através


do Direito e que positiva normas jurídicas informadas por ideias de
Direito

Estado de Direito é aquele que tem como actuação, regras de Direito,

96
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

cria e prescreve formas e procedimentos de Direito. O Estado está


subordinado ao Direito e o poder político está vinculado ao Direito

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O que entende por Estado de Direito?

Resposta: Estado de Direito é aquele que tem como actuação,


regras de Direito, cria e prescreve formas e procedimentos de
Direito. O Estado está subordinado ao Direito e o poder político
está vinculado ao Direito.

2. Quais são os Princípios e sub-princípios concretizadores do


Estado de Direito?
Resposta: São:
 Princípio da legalidade da administração
 Princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso
 Princípio da universalidade e igualdade
 Princípio da responsabilidade civil do estado
 Princípios da segurança jurídica e da protecção da confiança
dos cidadãos
 Princípio da protecção jurídica e das garantias processuais

3. Diga quais são os 3 sub-princípios concretizadores do princípio


da legalidade da administração?
Resposta: São reservas da lei, precedência da lei, prevalência da lei

4. O que entendes por Princípio da proporcionalidade ou da


proibição do excesso

Resposta: É um princípio normativo-constitucional, que se aplica a

97
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

todas as espécies de actos dos poderes públicos e que vincula o


legislador, a administração e a jurisdição, no sentido de evitar
cargas coactivas excessivas ou actos de ingerência desmedidos na
esfera jurídica dos particulares.

5. O Estado não é responsável pelos danos causados por actos


ilegais dos seus agentes.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado

6. O que significa o sub - princípio precedência da lei?


Resposta: Significa que a lei é anterior ao regulamento

Exercícios

1. O que entende por reserva da lei?

2. Diga quais são os 3 sub-princípios concretizadores do


princípio da proporcionalidade ou da proibição do excesso

3. Diga justificando quais são os dois tipos de reserva de lei

4. O que entende por Retroactividade Proibida

5. O que entende por Retroactividade obrigatória

6. QUAL É O sentido nuclear Do Princípio da protecção


jurídica e das garantias processuais?

98
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

UNIDADE Temática 5.2. O princípio democrático

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sobre o princípio democrático e os seus princípios
concretizadores, as formas de participação política dos cidadãos, os
tipos de sufrágios e sistemas eleitorais.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber definir o princípio democrático;

 Conhecer os princípios concretizadores do princípio


Objectivos
democrático;

 Saber relacionar entre o Princípio democrático e direito de


sufrágio;

 Conhecer o mecanismo da democracia semi directa;

 Conhecer os tipos de sufrágios e os sistemas eleitorais;

 Conhecer aspectos gerais de organização e funcionamento de


partidos políticos.

I - Princípio Democrático

Fórmula de Lincoln: Governo do Povo, pelo Povo e para o Povo

• O princípio Democrático aspira a tornar-se um impulso dirigente


duma sociedade;

99
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

• É um processo dinâmico inerente a uma sociedade aberta e activa;

• Este princípio permite a democratização da Democracia;

• É um princípio de organização da titularidade e exercício do poder;

• Os Direitos fundamentais são um elemento básico para a realização


do princípio democrático;

• O Estado Democrático baseia-se na soberania popular e na garantia


dos Direitos Fundamentais;

Fórmula de Popper – A democracia pode ser entendida


fundamentalmente como técnica processual de selecção e
destituição pacífica de dirigentes

II - Princípios concretizadores do princípio democrático

1. Princípio da soberania popular


2. Princípio da representação popular
3. Princípio da democracia semi-directa
4. Princípio da participação
5. Princípio democrático e Direito de sufrágio
6. Princípio democrático e sistema eleitoral
7. Princípio democrático e sistema partidário

1. Princípio da soberania popular

A legitimação do Poder só pode derivar do Povo na medida em que


este é o titular da Soberania Popular e esta só existe e é eficaz no
âmbito duma ordem constitucionalmente informada pelos princípios

100
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

da liberdade e igualdade.

2. Princípio da representação popular

A representação popular, enquanto componente do Princípio


Democrático, assenta no exercício do poder constitucionalmente
autorizado, feito em nome do Povo por órgãos de soberania do Estado
(representação formal). Só quando os cidadãos se podem reencontrar
nos actos dos seus representantes, se pode afirmar a existência duma
representação material.

3. Princípio da democracia semidirecta

O sistema que a par dos mecanismos de representação, prevê, a


participação dos cidadãos, chamados a pronunciar-se directamente, a
título vinculativo, através de referendo, sobre as grandes questões
nacionais (art. 136 CRM)

4. Princípio da participação

Trata do problema que está directamente conexionado com a


democratização da democracia através da participação. Democratizar
a Democracia através da intensificação e optimização da participação
dos cidadãos no processo de decisão

5. Princípio democrático e Direito de sufrágio

Através do Direito de sufrágio, legitima-se democraticamente a


conversão da vontade política em posição de poder e domínio e
estabelece-se a organização legitimante de distribuição dos poderes.

101
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

O Direito de voto é um Direito estruturante do próprio princípio


democrático e o procedimento eleitoral justo é da máxima relevância
para a garantia da autenticidade do sufrágio.

Os tipos de sufrágios em Moçambique Consagrados 3 no artigo 73,


são:

 Universal – atribuição do Direito de voto a todas as pessoas, a


partir de uma certa idade (18 anos) independemente do sexo
ou do preenchimento de determinados pressupostos, como o
rendimento ou as habilitações literárias (Bastos, 1999, p. 177);

 Directo - significa que entre o voto expresso e o resultado da


votação não há mediação;

 Igual - significa que todos os votos têm o mesmo resultado, o


mesmo peso;

 Secreto – significa que se garante ao eleitor a formação do seu


voto não seja do conhecimento dos restantes;

 Periódico – a periodicidade das eleições permite renovar os


representantes.

Tabela Ilustrando os Tipos de Sufrágios

TIPOS DE SUFRÁGIOS

CONSAGRADOS NA CRM (art.


73) CONTRAPOSIÇÃO

Universal Restrito Censitário (Fortuna)

3
Há ainda a considerar que apesar da não previsão expressa no artigo 73 o sufrágio
em Moçambique é também livre (deixa-se a vontade do eleitor e não há sansões aos
não votantes e único (o eleitor vota uma vez)
102
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Capacitário (Grau de
Instrução)

Directo Indirecto

Igual Desigual

Secreto Público

Periódico Não períodico

6. Princípio democrático e sistema eleitoral

A discussão do sistema eleitoral, centra-se nas vantagens e


desvantagens dos dois grandes sistemas: Sistema proporcional e
sistema maioritário.

 Sistema proporcional

Aquele que favorece um igual valor de resultado, isto é, os votos, vale


a mesma coisa quando se trata de converter votos em mandatos. 20%
dos votos valem aproximadamente 20% dos mandatos.

No entanto dada a pulverização do leque partidário, a formação de


governos estáveis é problemática. Este modelo está ligado ao tipo de
democracia participativa.

 Sistema maioritário

Este é o sistema inglês. O país está dividido em círculos eleitorais


uninominais, isto é, cada círculo eleitoral elege apenas um deputado.
Este sistema favorece o bi-partidarismo, pois em cada círculo é eleito
aquele candidato que tiver mais votos. Se um dos partidos
concorrentes ganhar em todos os círculos eleitorais apenas por um

103
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

voto de diferença, em votos terá uma vitória tangencial, mas em


mandatos conquistados terá uma vitória a 100%. Este sistema tem a
vantagem de permitir a criação de maiorias, a formação de governos
estáveis e de oposições fortes.

7.Princípio Democrático e sistema partidário

Partido político é para o prof Marcelo Rebelo de Sousa toda a


associação duradoura de cidadãos em que estes se agrupem, que vise
representar policamente de modo global a colectividade e participar
no funcionamento do sistema de governo constitucionalmente
instruído, para o efeito contribuindo para designação dos titulares dos
órgãos do poder político do Estado (Bastos, 1999, p. 204).

Os partidos segundo o artigo 74 n.º 1 da CRM, expressam o pluralismo


político, concorrem para a formação e manifestação da vontade
popular e são instrumento fundamental para a participação
democrática dos cidadãos na governação do país. A estrutura interna e
o funcionamento dos partidos políticos devem ser democráticos.

É proibido o uso pelos partidos políticos de denominações que


contenham expressões directamente relacionadas com quaisquer
confissões religiosas ou igrejas ou a utilização de emblemas que se
confundem com símbolos nacionais ou religiosos (art. 76) igualmente
é vedado aos partidos políticos preconizar ou recorrer à violência
armada para alterar a ordem política e social do país (art. 77).

Sumário

Nesta unidade temática estudamos e discutimos o princípio


democrático. Começamos por ver a famosa fórmula de Licoln “

104
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Governo do povo, pelo povo e para o povo”. Seguidamente vimos


Princípios concretizadores do princípio democrático nomeadamente:
(1) Princípio da soberania popular, (2) Princípio da representação
popular, (3) Princípio da democracia semi-directa, (4) Princípio da
participação, (5) Princípio democrático e Direito de sufrágio, (6)
Princípio democrático e sistema eleitoral, (7) Princípio democrático e
sistema partidário.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. O Estado democrático baseia-se na soberania popular e na


garantia dos Direitos Fundamentais.

 Certo
 Errado
Resposta: Certo

2. O que entendes por Princípio da soberania popular?


Resposta: Significa que a legitimação do Poder só pode derivar do
Povo na medida em que este é o titular da Soberania Popular e
esta só existe e é eficaz no âmbito duma ordem
constitucionalmente informada pelos princípios da liberdade e
igualdade.

3. Princípio da democracia semidirecta está previsto na CRM?


Resposta: Sim. Está previsto nos artigos 73 e 136.

4. O que entende por sufrágio universal?


Resposta é a atribuição do Direito de voto a todas as pessoas, a
partir de uma certa idade (18 anos) independentemente do sexo
ou do preenchimento de determinados pressupostos, como o
rendimento ou as habilitações literárias.

105
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

5. Quais são os dois maiores sistemas eleitorais que conheces?

Resposta: Sistema proporcional e sistema maioritário.

6. Por que razão o sufrágio deve ser periódico?

Resposta: a periodicidade do sufrágio permite renovar os


representantes.

Exercícios

1. Quais são Princípios concretizadores do princípio democrático?


2. O que entende por princípio da representação popular?
3. Defina o princípio da democracia semidirecta?
4. Defina o princípio da participação?
5. O que entende por voto secreto?
6. O que entende por partido político?

UNIDADE Temática 5.3. Exercícios do Tema V

1. Quais são os tipos de sufrágios consagrados na CRM?


2. Diferencie os sistemas eleitorais proporcional e maioritário.
3. O princípio da necessidade subdivide-se em 4 categorias. Diga
quais são?
4. Distinga norma retroactiva da norma retrospectiva.
5. A estrutura interna e o funcionamento dos partidos políticos
devem ser democráticos. Comente!

106
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

TEMA – VI: Garantia da Constituição

UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição.


UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da constitucionalidade e da
legalidade
UNIDADE Temática 1.3. O Conselho Constitucional
UNIDADE Temática 1.4. EXERCÍCIOS do tema

UNIDADE Temática 6.1. Meios e institutos de defesa da Constituição

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos gerais sobre os meios e institutos de defesa da
Constituição.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer os meios e institutos de defesa da Constituição;

 Saber que os poderes públicos estão vinculados a Constituição;


Objectivos
 Saber a importância dos limites de revisão constitucional;

 Conhecer os órgãos de soberania e conhecer a importância do


princípio de separação e interdependência entre si.

I - A vinculação constitucional dos poderes públicos

A Constituição é a norma das normas, a lei fundamental do Estado, o


estalão normativo superior de um ordenamento jurídico. Daí resulta
uma pretensão de validade e de observância como norma superior
directamente vinculante em relação a todos os poderes públicos.

107
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II - Os limites da revisão constitucional

A Constituição garante a sua estabilidade e conservação contra


alterações aniquiladoras do seu núcleo essencial através de cláusula
de irrevisibilidade e de um processo «agravado» das leis de revisão.
Não se trata de defender, através deste mecanismos, o sentido e
características fundamentais da Constituição contra adaptações e
mudanças necessárias, mas contra a aniquilação, ruptura e eliminação
do próprio ordenamento constitucional, substancialmente
caracterizado. A ideia de garantia da Constituição contra os próprios
órgãos do Estado justifica a constitucionalização quer do
procedimento e limites de revisão quer das situações de necessidade
constitucional.

III - A fiscalização judicial da Constituição

A instituição da fiscalização judicial da constitucionalidade das leis e


demais actos normativos do Estado constitui, nos modernos estados
constitucionais democrático, um dos mais relevantes instrumentos de
controlo do cumprimento e observância das normas constitucionais.
Ver-se-á, mais adiante, que a fiscalização da constitucionalidade tanto
é uma garantia de observância da Constituição, ao assegurar, de forma
positiva, a dinamização da sua força normativa, e, de forma negativa,
ao reagir através de sanções contra a sua violação, como uma garantia
preventiva, ao evitar a existência de acto normativos, formal e
substancialmente violadores das normas e princípios constitucionais.
Além disso, como iremos ver na parte dedicada á metódica
constitucional, a fiscalização judicial operou paulatinamente um
desenvolvimento da própria Constituição a ponto de se poder afirmar
que ela foi “reinventada pela jurisdição constitucional”.

108
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

IV - A separação e interdependência dos órgãos de soberania

Embora não sejam tradicionalmente incluídos nos mecanismos de


defesa da Constituição, têm também carácter garantístico a ordenação
constitucional de funções e o esquema de controlos enterorgânicos e
intra-orgânicos dos órgãos de soberania. O princípio da separação e
interdependência dos órgãos de soberania tem, assim, uma função de
garantia da Constituição, pois os esquemas de responsabilidade e
controlo entre os vários órgãos transformam-se em relevantes
factores de observância da Constituição. Em Moçambique A separação
e interdependência dos órgãos de soberania está consagrado no artigo
134 da CRM nos seguintes termos:

Artigo 134
(Separação e interdependência)

Os órgãos de soberania assentam nos princípios de separação e


interdependência de poderes consagrados na Constituição e devem
obediência a Constituição e às leis

São órgãos de soberania o Presidente da República, a Assembleia da


República, o Governo, os Tribunais e o Conselho Constitucional.

Sumário

Globalmente consideradas, as garantias de existência da Constituição


consiste: na vinculação de todos os poderes públicos (designadamente
do legislativo, executivo e judicial) à Constituição; na existência de
competência de controlo, políticas e jurisdicionais, do comprimento da
Constituição.

109
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Exercícios de Auto-Avaliação

1. A CRM prevê a separação e interdependência dos órgãos de


soberania.
Resposta: Sim em conformidade com o artigo 134

2. Quais são os órgãos de soberania?


Resposta: São órgãos de soberania o Presidente da República, a
Assembleia da República, o Governo, os Tribunais e o Conselho
Constitucional.

3. Os poderes públicos não estão sujeitos a vinculação


constitucional.
 Certo
 Errado
Resposta: Errado

4. A fiscalização da constitucionalidade das leis e demais actos


normativos do Estado constitui um dos mais relevantes
instrumentos de controlo do cumprimento e observância das
normas constitucionais.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

5. A Constituição garante a sua estabilidade e conservação contra


alterações aniquiladoras do seu núcleo essencial através de
cláusula de irrevisibilidade e de um processo agravado das leis
de revisão.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

110
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

6. A separação e interdependência dos órgãos de soberania não


são tradicionalmente incluídos nos mecanismos de defesa da
Constituição.
 Certo
 Errado

Resposta: Certo

Exercícios

1. Diga quais são meios e institutos de defesa da


Constituição?
2. Fale da vinculação constitucional dos poderes públicos
como garantia da Constituição
3. Fale dos limites da revisão constitucional.
4. Fale da separação e interdependência dos órgãos de
soberania.
5. O princípio da separação e interdependência dos órgãos de
soberania tem, uma função de garantia da Constituição.
Comente.
6. Os esquemas de responsabilidade e controlo entre os
vários órgãos transformam-se em insignificantes factores
de observância da Constituição.
 Certo
 Errado

111
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

UNIDADE Temática 6.2. A fiscalização da


constitucionalidade e da legalidade

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sólidos sobre a fiscalização da constitucionalidade e
legalidade, sua natureza, origem, os vícios geradores de
inconstitucionalidade, os tipos de fiscalização e os tipos de órgãos de
fiscalização.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Conhecer o sentido e a natureza da fiscalização;

 Conhecer o objecto de fiscalização de inconstitucionalidade,


Objectivos
 Saber explicar a origem da fiscalização,

 Conhecer e saber diferenciar diversos tipos de fiscalização de


inconstitucionalidade;

 Conhecer os diversos tipos de órgãos de fiscalização de


inconstitucionalidade;

 Conhecer os vícios geradores de inconstitucionalidade.

I - Sentido e Natureza

A fiscalização da constitucionalidade significa essencialmente uma


coisa: que a Constituição é a lei básica do país e que toda a ordem
jurídica deve ser conforme à ela. Ela é corolário da consideração da
Constituição como realidade normativa, isto é, como lei fundamental
da ordem jurídica.

112
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

A fiscalização da constitucionalidade traduz-se, assim, na garantia do


respeito pela hierarquia superior da Constituição. Ora, se a
Constituição é a norma suprema do país, logo, todas as demais normas
a devem respeitar.

Inconstitucionalidade é a desconformidade de normas


infraconstitucionais com normas constitucionais que lhes servem de
fundamento, sendo a ilegalidade a desconformidade de normas infra-
legais com normas legais.

Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de ilegalidade, as


situações tanto de contradições de normas situadas no mesmo grau
hierárquico como as de simples obscuridade de normas jurídicas 4. As
contradições endógenas de normas constitucionais não se resolvem,
por via da fiscalização da constitucionalidade, sabido que esta visa o
controlo da conformidade de actos infraconstitucionais com as normas
constitucionais. Resolvem-se com recurso à aplicação do princípio
hermenêutico da concordância prática ou da harmonização, o que
exige do intérprete e aplicador da Constituição a coordenação e a
combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o
sacrifício de uns em relação a outros.

II - Origem

A fiscalização da constitucionalidade surgiu nos Estados Unidos, sob


uma Constituição que não o previa expressamente. Todavia, pôde
Marshall, em decisão célebre, deduzir de seu sistema esse controlo e
reconhecer pertencer ele ao judiciário, incumbido de aplicar a lei
contenciosamente.

No caso Marbury versus Madison, esse Juiz demonstrou que, se a


Constituição americana era a base do Direito e imutável por meios

4
Acórdão n.º 01/CC/2008, de 20 de Fevereiro
113
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

ordinários, as leis comuns que a contradissessem não eram


verdadeiramente leis, não eram Direitos. Assim essas leis seriam nulas,
não obrigando os particulares. Demonstrou mais que, cabendo ao
judiciário dizer o que é Direito, é a ele que compete indagar da
constitucionalidade de uma lei, de facto, se duas leis entrarem em
conflito, deve o juíz decidir qual aplicará. Ora, se uma lei entrar em
conflito com a Constituição, é ao juiz que caberá decidir se aplicará a
lei, violando a Constituição, ou, como é lógico, se aplicará a
Constituição, recusando a lei.

III - Tipos de Fiscalização

A fiscalização dos actos normativos violadores das normas e princípios


constitucionais reconduz-se à fiscalização da inconstitucionalidade por
acção que é a fiscalização típica exercida pelos órgãos de fiscalização.
Ao lado desta, existe a inconstitucionalidade por omissão, não muito
frequente no plano comparativo constitucional.

 Fiscalização por Acção – pode ser fiscalização abstracta ou


fiscalização concreta.

 Fiscalização Abstracta – significa que a impugnação da


constitucionalidade da norma é feita independentemente
de qualquer litígio concreto. Visa sobretudo a defesa da
Constituição e do princípio da constitucionalidade através
da eliminação de actos normativos contrários à
Constituição. A fiscalização abstracta pode fazer-se antes de
as normas entrarem em vigor – Fiscalização Preventiva -, ou
depois de as normas serem plenamente válidas e eficazes –
Fiscalização Sucessiva.

114
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

o Fiscalização Preventiva - como o nome indica é uma


fiscalização anterior a própria introdução das normas
na ordem jurídica, ou seja, tem por objecto normas
imperfeitas. É por natureza um controlo abstracto e,
no caso de juízo de inconstitucionalidade, as
respectivas normas não podem entrar na ordem
jurídica.

A fiscalização preventiva desempenha duas funções bem


distintas. Por um lado, impedir a entrada em vigor de normas
presumivelmente inconstitucionais, evitando assim a produção
de efeitos, por outro lado, afastar ou diminuir as reservas que
tenham sido levantadas ou que presumivelmente viriam a ser
levantadas quanto à constitucionalidade do diploma e que
poderiam enfraquecer a sua legitimidade e, até, a sua eficácia.

o A fiscalização Sucessiva - Tem por objecto normas já


pertencentes à ordem jurídica e a sua função é
eliminá-las, ou pelo menos, afastar a sua aplicação.

 A fiscalização Concreta Difusa - traduz a consagração do


Direito (e dever) de fiscalização dos juízes relativamente a
normas a aplicar a um caso concreto

Uma norma em desconformidade material, formal ou procedimental


com a Constituição é nula, devendo o juíz, antes de decidir qualquer
caso concreto de acordo com esta norma, examinar se ela viola as
normas e princípios da Constituição.

 Fiscalização por Omissão – destina-se a verificar a inexistência de

115
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

medidas legislativas necessárias para tornar exequíveis certos


preceitos constitucionais. Trata-se, pois, de uma pretensão que
assenta não na existência de normas jurídicas inconstitucionais,
mas na violação da lei constitucional pelo silêncio legislativo.

Representação de tipos de fiscalização de inconstitucionalidade

TIPOS DE FISCALIZAÇÃO REQUERENTES5 EFEITOS

Preventiva PR Veto
- PR
- Presidente da AR
Por Acção Abstracta Sucessiva - 1/3 de Deputados Força
- PM Obrigatória
- Provedor Justiça Geral
-2000 cidadãos6
Não Aplicação
da Norma no
Concreta Juiz da causa Caso Concreto

Declaração da
Por Omissão _7 Omissão

Sobre os efeitos da constitucionalidade há ainda que acrescentar:

5
Vigora o princípio do pedido segundo o qual processo só se inicia sob o impulso das
entidades às quais é constitucionalmente reconhecida legitimidade processual
activa. Todavia este princípio de pedido, que na ordem civil anda associado ao
princípio do dispositivo, não significa a recondução constitucional a um simples
«processo de partes». Algumas das consequências deste princípio são
expressamente rejeitadas, como por exemplo, a desistência (artigo 50 da lei n.º
6/2006).

6
A Constituição moçambicana é uma das poucas constituições do mundo a
consagrar a possibilidade de os particulares requererem a fiscalização não obstante a
fasquia extremamente alta de peticionantes. Foi uma das inovações da CRM-2004
que também alargou o elenco das entidades com legitimidade a 1/3 de deputados e
ao Provedor de Justiça.

7 A doutrina ensina que nos países onde que este tipo de fiscalização é consagrada a
legitimidade têm sido conferida ao PR e ao Provedor de Justiça.
116
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 As decisões do CC são de cumprimento obrigatório, não são


passíveis de recurso e prevalecem sobre outras decisões. Em
caso de incumprimento, o infractor incorre no cometimento de
crime de desobediência, se crime mais grave não couber.

 Na Fiscalização Sucessiva a declaração da inconstitucionalidade


ou da ilegalidade com força obrigatória geral produz os seus
efeitos desde a entrada em vigor da norma declarada
inconstitucional ou ilegal e determina a repristinação das
normas que ela, eventualmente, haja revogado. Tratando-se,
porém de inconstitucionalidade ou de ilegalidade por infracção
de uma norma constitucional ou legal posterior, a declaração
só produz efeitos desde a entrada em vigor da norma
posterior. Contudo ficam ressalvados os casos julgados, salvo
decisão em contrário do CC, quando a norma respeitar a
matéria penal ou disciplinar e for de conteúdo menos
favorável.

 Quando a segurança jurídica, razões de equidade ou de


interesse público de excepcional relevo, que deve ser
fundamentado, o exigirem, pode o CC, fixar os efeitos da
inconstitucionalidade ou da ilegalidade com alcance mais
restritivo.

IV - Os Vícios Geradores de Inconstitucionalidade

A desconformidade dos actos normativos com o parâmetro


constitucional dá origem a inconstitucionalidade. A
inconstitucionalidade não é um vício do acto normativo: o que há são
vários vícios que dão lugar à inconstitucionalidade 8. A doutrina

8
CANOTILHO, J. J. Gomes e VITAL, Moreira, Fundamentos da Constituição, Coimbra
Editora, Coimbra, 1991 pág. 264;

117
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

costuma distinguir entre vícios formais, vícios materiais e vícios


procedimentais;

Vícios formais - incidem sobre o acto normativo como tal,


independentemente do seu conteúdo e tendo em conta apenas à
forma da sua exteriorização; na hipótese de inconstitucionalidade
formal, viciado é o acto, nos seus pressupostos, no seu procedimento
de formação, na sua forma final;

Vícios materiais - respeitam ao conteúdo do acto, derivado do


contraste existente entre os princípios incorporados no acto e as
normas ou princípios da Constituição, no caso de inconstitucionalidade
material, substancial ou doutrinária (como também se chama) viciadas
são as disposições ou normas singularmente consideradas;

Vícios de procedimento - autonomizados pela doutrina mais recente


(mas englobados nos vícios formais pela doutrina clássica) são os que
dizem respeito ao procedimento de formação, juridicamente regulado,
dos actos normativos.

Os vícios formais são, consequentemente vícios do acto, os vícios


materiais são vícios das disposições ou das normas constantes do acto;
os vícios de procedimento são vícios relativos ao complexo de actos
necessários para a produção final do acto normativo. Daqui se conclui
que, havendo um vício formal em regra fica afectado o texto
constitucional na sua integralidade, pois o acto é considerado
formalmente como uma unidade; nas hipóteses de vícios materiais, só
se consideram viciadas as normas, podendo continuar válidas as
restantes normas constantes do acto que não se considerem afectadas
de irregularidade constitucional.

118
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

V - A Inconstitucionalidade Parcial

Nem sempre a contradição entre o acto normativo e o parâmetro


constitucional é uma contradição total. Poderá acontecer que só uma
norma ou algumas normas constantes dos actos normativos estejam
em desconformidade com as normas superiores da Constituição.
Nestes casos, a semelhança do que acontece com a nulidade parcial
dos negócios jurídicos em Direito privado e com a nulidade parcial dos
administrativos, a inconstitucionalidade de uma norma não conduz
automaticamente à declaração da nulidade das restantes normas
(incomunicação da nulidade). Fala-se aqui de nulidade parcial dos
actos normativos. Haverá casos, porém, em que a nulidade parcial
implicará a nulidade total.
A nulidade parcial implicará a nulidade total quando, em consequência
da declaração de inconstitucionalidade de uma norma, se reconheça
que as normas restantes, conformes a Constituição, deixam de ter
qualquer significado autónomo (critério da dependência). Além disso,
haverá uma nulidade total quando o preceito inconstitucional fazia
parte de uma regulamentação global à qual emprestava sentido e
justificação. Não são de afastar as hipóteses de inconstitucionalidade
limitada a um determinado lapso de tempo.

VI - Objecto de Fiscalização de Constitucionalidade e da legalidade:


actos normativos

O artigo 241 da Constituição define o Conselho Constitucional como


órgão de soberania, ao qual compete especialmente administrar a
justiça em matérias de natureza jurídico constitucional. Pareceria, em
princípio, caber ao CC o conhecimento de todas matérias ligadas a
violação da Constituição.

Contudo, o artigo 241 limita-se a definir a natureza deste órgão de

119
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

soberania, e, em termos genéricos, a sua área de competência em


razão da matéria, não sendo legítimo, ainda que a sua letra pudesse,
erradamente, induzir a tal, dele derivar directamente atribuições ou
competências específicas.

Com efeito, é no artigo, 244 que se definem especificamente as


competências do Conselho Constitucional, estabelecendo na alínea a)
do seu n. º 1, a de apreciar e declarar a inconstitucionalidade das leis
e a ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado.

Esta disposição delimita, no que diz respeito à fiscalização de


constitucionalidade, o poder de cognição do CC, referindo
expressamente as leis e aos actos normativos dos órgãos do Estado.

Os actos normativos estão consagrados constitucionalmente no


artigo143 da CRM-2004 nos termos que passamos a citar:
Artigo 143
Actos normativos

1. são actos legislativos as leis e os decretos leis.


2. os actos da Assembleia da República revestem a forma de leis,
moções e resoluções.
3. os decretos leis são actos legislativos, aprovados pelo Conselho
de Ministros, mediante autorização da AR.
4. os actos regulamentares do Governo revestem a forma de
decreto, quer quando determinados por lei regulamentar, quer
no caso de regulamentos autónomos.
5. os actos do Governador do Banco de Moçambique, no exercício
das suas competências, revestem a forma de aviso.

É nosso entendimento que o supracitado artigo não é de definição e


limitação dos actos normativos, mas sim de mera enunciação (não

120
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

taxativa) de actos normativos porquanto deixa de fora os decretos


presidenciais, actos normativos do Presidente da República, que são
constitucionalmente consagrados como actos normativos pela 1ª
parte do artigo 158, assim como os regulamentos e posturas
municipais emanados das autarquias locais (art. 278 CRM e art. 11 da
lei 2/97) e os assentos (arts 225/2 CRM) e 39/2 da lei 24/2007 de 20
de Agosto). Portanto apesar do artigo fazer menção de alguns actos
normativos que emanam de alguns órgãos do Estado, os mesmos não
se resumem apenas naqueles, mas sim estende-se o seu âmbito de
abrangência a todos os restantes actos normativos que emanam dos
órgãos de Estado tanto a nível central como local.

VII - Actos Administrativos e Decisões Jurisdicionais

Das considerações antecedentes verifica-se a exclusão da fiscalização


da constitucionalidade, de actos jurídicos públicos não reentrantes no
conceito de acto normativo. Referimo-nos, sobretudo à categoria de
actos administrativos e a categoria das decisões jurisdicionais. A não
inclusão destes actos no leque dos candidatos positivos enquadráveis
na categoria jurídico constitucional de norma ou acto normativo não
significa a impossibilidade de tais actos violarem directamente a
Constituição. Pelo contrário, são frequentes os casos de
inconstitucionalidade provocados por actos individuais e concretos da
administração e, embora menos vulgares, podem também ocorrer
infracções de normas constitucionais produzidas directamente por
actos jurisdicionais.
No entanto a teoria clássica da garantia da Constituição preocupava-se
apenas com os atentados à Constituição emergentes de actos
legislativos criadores de Direito mas parecia deixar em relativa
tranquilidade, sob o ponto de vista de fiscalização da
constitucionalidade, quer os actos de publicação do Direito praticados

121
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

pelo executivo quer os actos de realização praticados pelo judiciário.


As eventuais agressões a Constituição produzidas pelos actos
administrativos – actos administrativos inconstitucionais – ou eram
remediadas através de instrumentos de controlo não jurisdicionais
(tutela administrativa, controlo parlamentar, responsabilidade da
administração) ou eram atacadas perante as jurisdições ordinárias ou
administrativas de acordo com as regras processuais e a doutrina dos
vícios dos actos administrativos. Esta relativa “tolerância” em relação a
actos administrativos inconstitucionais radicava na ideia de os actos
aplicativos do Direito deixarem imperturbada a unidade da ordem
jurídica em virtude de não transportarem qualquer conteúdo
normativo.
O acto administrativo afirmava-se como um “acto - referente” sujeito
a um controlo judicial autónomo, diverso do controlo da
constitucionalidade dos actos normativos. Esta doutrina permanece
válida nas suas dimensões principais e encontra amplo apoio no
critério da normatividade presente em muitas decisões do tribunal
constitucional. Todavia, o radical divórcio entre acto administrativo e
inconstitucionalidade não deixa de suscitar algumas questões. Em
primeiro lugar, são pouco claras as relações entre uma lei
inconstitucional e um acto administrativo aplicador da mesma, e, por
conseguinte ilegal.
A lei inconstitucional, é uma lei ferida de nulidade ou invalidade
absoluta enquanto o acto administrativo ilegal aplicativo dessa lei
pode ser meramente anulável (anulabilidade). Daí as relações de
tensão entre a declaração de inconstitucionalidade de uma lei com,
susceptíveis, inclusive, de se transformarem em actos administrativos
feridos de mera invalidade relativa (anulabilidade), susceptíveis
inclusive, de se transformarem em actos contenciosamente
inimpugnáveis. Em segundo lugar, a propósito dos Direitos, liberdades
e garantias, a aplicabilidade directa destes Direitos fundamentais
confere-lhes operatividade prática perante os órgãos da

122
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

administração. A administração, através dos actos administrativos,


pode agredir os Direitos fundamentais e restringir até ao núcleo
essencial dos Direitos, liberdades e garantias. Nestes casos justificar-
se-ia a criação de uma acção constitucional de defesa, para de uma
forma segura e célere, o particular reagir contra actos administrativos
inconstitucionais lesivos do núcleo essencial de Direitos, liberdades e
garantia e Direitos de natureza análoga.

VIII - Órgãos de Fiscalização da Constitucionalidade das Leis

A fiscalização da constitucionalidade das leis pode ser feita por órgão


político ou por um órgão jurisdicional. Em qualquer dos casos pode a
fiscalização ser confiada a um órgão comum ou a um especial

Órgão político comum é o próprio órgão legislativo: segundo a


doutrina francesa clássica só o parlamento, como representante da
nação soberana, pode pronunciar-se sobre a validade de uma lei visto
esta ser a da vontade geral9.

O órgão político especial é aquele que, embora pela sua composição e


funções seja político, todavia recebe a missão especial de examinar a
constitucionalidade das leis e de anular as que considerem
inconstitucionais como sucedia com o senado Conservador instituído
pela Constituição francesa do ano VIII e com o senado do 2.º
Império10.

A criação de um órgão político funda-se principalmente na alegação de


que a interpretação da Constituição deve ser reservada a órgãos com
sensibilidade política, porque a Constituição, mais do que uma simples
lei, é um plano de vida cujo sentido não permanece estático e nem
9
CAETANO, Marcello, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo
I, 6ª edição, reimpressão, livraria Almedina, Coimbra, 1992 pág. 346
10
CAETANO, Marcello, Manual de Ciência Política e Direito Constitucional, Tomo
I, 6ª edição, reimpressão, livraria Almedina, Coimbra, 1992, pág. 346
123
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

pode ser hieraticamente considerado. Ademais o controlo judiciário


atentaria contra o princípio da separação de poderes, já que daria aos
juízes o poder de anular as decisões do legislativo e do executivo. Na
verdade a experiência tem mostrado que esse controlo é ineficaz. De
facto, esses órgãos, onde previstos, têm apreciado as questões a eles
submetidos pelo critério de conveniência do que pela sua
concordância com a Constituição. Assim estes órgãos vêm a ser
redundantes, pois se tornam outro legislativo, ou outro órgão
governamental.

Órgão jurisdicional especial é um tribunal criado com o propósito de


conhecer das decisões relativas à constitucionalidade das leis (tribunal
constitucional na Áustria, na República Italiana e na Alemanha);

Órgão jurisdicional comum é qualquer tribunal ordinário da ordem


judicial (sistema norte americano e português)

Em Moçambique, Grécia, França, Bélgica existem órgãos com


bastantes semelhanças com os Tribunais Constitucionais.

Sumário

A fiscalização da constitucionalidade significa essencialmente uma


coisa: que a Constituição é a lei básica do país e que toda a ordem
jurídica deve ser conforme à ela. A fiscalização da constitucionalidade
traduz-se, assim, na garantia do respeito pela hierarquia superior da
Constituição

Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de ilegalidade, as


situações tanto de contradições de normas situadas no mesmo grau

124
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

hierárquico como as de simples obscuridade de normas jurídicas.

A fiscalização da constitucionalidade surgiu nos Estados Unidos, sob


uma Constituição que não o previa expressamente. Todavia, pôde
Marshall, em decisão célebre, deduzir de seu sistema esse controlo

A fiscalização da constitucionalidade das leis pode ser feita por órgão


político ou por um órgão jurisdicional. Em qualquer dos casos pode a
fiscalização ser confiada a um órgão comum ou a um especial

Exercícios de Auto-Avaliação

1. A fiscalização da constitucionalidade traduz-se na garantia do


respeito pela hierarquia superior da Constituição.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

2. Não cabem nos conceitos de inconstitucionalidade e de


ilegalidade, as situações tanto de contradições de normas
situadas no mesmo grau hierárquico como as de simples
obscuridade de normas jurídicas.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

3. O que entente por inconstitucionalidade?


Resposta: Inconstitucionalidade é a desconformidade de normas
infraconstitucionais com normas constitucionais que lhes servem
de fundamento, sendo a ilegalidade a desconformidade de normas
infralegais com normas legais.

125
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

4. O que entende por Fiscalização da constitucionalidade por


Omissão?
Resposta: É um tipo de fiscalização que se destina a verificar a
inexistência de medidas legislativas necessárias para tornar
exequíveis certos preceitos constitucionais. Trata-se, pois, de
uma pretensão que assenta não na existência de normas
jurídicas inconstitucionais, mas na violação da lei constitucional
pelo silêncio legislativo.

5. A fiscalização preventiva desempenha duas funções bem


distintas. Diga quais são?
Resposta: Por um lado, impedir a entrada em vigor de normas
presumivelmente inconstitucionais, evitando assim a produção
de efeitos, por outro lado, afastar ou diminuir as reservas que
tenham sido levantadas ou que presumivelmente viriam a ser
levantadas quanto à constitucionalidade do diploma e que
poderiam enfraquecer a sua legitimidade e, até, a sua eficácia.

6. O que entende por fiscalização Concreta Difusa?


Resposta: A fiscalização Concreta Difusa traduz a consagração
do Direito (e dever) de fiscalização dos juízes relativamente a
normas a aplicar a um caso concreto.

Exercícios

1. O que entende por fiscalização da constitucionalidade e


legalidade?
2. Fale da origem fiscalização da constitucionalidade e legalidade
3. Enumere actos normativos previstos na CRM.
4. Quais são os vícios geradores de inconstitucionalidade?
5. Quais são os tipos de órgãos de fiscalização de
inconstitucionalidade?

126
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

6. Faça a distinção entre a fiscalização preventiva e a sucessiva

UNIDADE Temática 6.3. O Conselho Constitucional

Introdução

Pretende-se nesta unidade temática que o estudante adquira


conhecimentos sobre a natureza jurídica do Conselho Constitucional
como órgão de administração da justiça constitucional, as suas
competência, o estatuto dos seus juízes e o balanço das suas
actividades.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

 Saber a natureza jurídica do Conselho Constitucional;

 Conhecer a composição do Conselho Constitucional;


Objectivos
 Conhecer o estatuto do Conselho Constitucional;

 Ter uma posição sobre a demanda das actividade do Conselho


Constitucional.

I - Natureza

O órgão fiscalizador da constitucionalidade e da legalidade em


Moçambique é o Conselho Constitucional (CC). Constitucionalmente
consagrado no título XI artigos 241 e seguintes da Constituição da
República (CRM) de 2004 e nas leis n.º 6/2006, de 02 de Agosto (lei
orgânica do Conselho Constitucional) e n.º 5/2008 de 09 de Julho (lei
que faz uma alteração pontual da lei 6/2006, de 02 de Agosto).

127
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Apesar da designação analisadas as competências (art. 241/1 e 244


CRM e o estatuto dos juízes conselheiros (art. 242/2 CRM), O Conselho
Constitucional é um órgão jurisdicional especial. É um tribunal
constitucional.

Iniciou o seu funcionamento efectivo em finais de 2003, após a


aprovação da sua Lei Orgânica, a lei n.º 9/2003 de 22 de Outubro,
facto que ocorreu treze anos depois da sua consagração constitucional
como órgão de soberania.

Aquando da entrada em funções do Conselho Constitucional


suscitaram-se dúvidas sobre a pertinência da criação deste órgão, com
a principal competência dirigida a fiscalização e controlo de
constitucionalidade e de legalidade, tendo em conta que no período
subsequente a aprovação da Constituição de 1990 e durante os trezes
anos em que as competências do CC estiveram cometidas ao Tribunal
Supremo, somente um único pedido de fiscalização (preventiva) de
constitucionalidade dera entrada no venerando tribunal

Actualmente, com o alargamento pelo n.º 02 do artigo 245 da


Constituição de 2004 do elenco das entidades com legitimidade para
solicitar a declaração de inconstitucionalidade das leis ou de
ilegalidade dos actos normativos dos órgãos do Estado quando em
confronto com o artigo 183 da Constituição de 1990, e da criação de
um órgão especializado para administrar a justiça em matérias de
natureza jurídico –constitucional, e o processo de desenvolvimento e
aprofundamento da cultura democrática em Moçambique há um
incremento de pedidos de fiscalização de apreciação e declaração de
inconstitucionalidade e de legalidade.

128
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

II - Composição

Nos termos do artigo 242 da Constituição da República, o Conselho


Constitucional é composto por sete Juízes Conselheiros, designados
nos seguintes termos:
a) Um Juíz Conselheiro nomeado pelo PR que é o Presidente do
CC;
b) Cinco juízes designados pela AR segundo o critério de
representação proporcional;
c) Um Juíz Conselheiro designado pelo Conselho Superior da
Magistratura Judicial.

Os juízes do CC são designados por um mandato de cinco anos,


renovável e gozam de garantia de independência, inamovibilidade,
imparcialidade e irresponsabilidade. Estão impedidos de desempenhar
quaisquer outras funções públicas ou privadas, excepto a actividade
de docente ou de investigação jurídica ou outra de divulgação e
publicação científica, literária, artística e técnica, mediante
autorização do respectivo órgão. Igualmente durante o período de
desempenho do cargo, fica suspenso o estatuto decorrente da filiação
em partidos ou associações políticas.

À data da sua designação devem os Juízes Conselheiros do CC, ter


idade igual ou superior a trinta e cinco anos, ter pelo menos dez anos
de experiência profissional na Magistratura ou actividade forense ou
de docência em Direito.

III - Balanço de Actividade do Conselho Constitucional

Em 2008 o CC emitiu um balanço das suas actividades no período


compreendido entre 2003 e 2008 (Setembro)11. Com base nas

11
O referido balanço pode ser visto em
http://www.cconstitucional.org.mz/UserFiles/File/Tsave/relatorio/BALANcO%20DE
%20ACTVDADES%202008.pdf
129
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

informações de fiscalização de contitucionalidade e de legalidade


contidas no referido balanço resumidamente elaboramos este quadro
no qual alargamos o período até Dezembro de 2008.

Representação de actividades de fiscalização desenvolvidas pelo CC


de 2003 à 2008 (Dezembro)

ANO Total por

TIPO INICITIVA 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Requerente

Fiscalização
Preventiva PR 1 2 1 4

1/3
DEPUTADOS 1 6 5 12
Fiscalização
Sucessiva PGR 1 1
2000
CIDADÃOS 1 1

Fiscalização JUÍZ
Concreta (Recurso) 1 1

Total por
ano 1 0 0 1 10 7 19

As mesmas actividades podem ser apresentadas graficamente da


seguinte maneira:

130
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Gráfico de actividades de fiscalização desenvolvidas pelo CC de 2003


à 2008 (Dezembro)

No mesmo balanço o CC assinala alguns aspectos pertinentes :

 A partir de 2007 verifica-se uma grande demanda ao CC em


matéria de fiscalização da constitucionalidade e da legalidade;

 A maioria dos pedidos de fiscalização da constitucionalidade e


da legalidade provieram de um terço de deputados da AR, da
bancada minoritária (oposição). Assim, a possibilidade de se
manter ou aumentar esta fonte de submissões, dependerá, no
futuro, na composição que a AR irá ter na sequência de futuros
pleitos eleitorais;

 Parece prevalecer ainda uma certa cultura de passividade ou


um pouco de dinamismo em solicitar a intervenção do CC,
pelas instituições que têm especiais responsabilidades de
controlo da legalidade;

131
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 As decisões do CC, mesmo as que pudessem suscitar análises


críticas foram respeitadas e observadas, e que se criou em
torno deste órgão um clima de credibilidade que importa
reforçar e ampliar.

Sumário

O órgão fiscalizador da constitucionalidade e da legalidade em


Moçambique é o Conselho Constitucional (CC). Constitucionalmente
consagrado no título XI artigos 241 e seguintes da Constituição da
República (CRM) de 2004.

Apesar da designação analisadas as competências e o estatuto dos


juízes conselheiros o Conselho Constitucional é um órgão jurisdicional
especial. É um tribunal constitucional.

O Conselho Constitucional é composto por sete Juízes Conselheiros,


designados nos seguintes termos: (1) Um Juíz Conselheiro nomeado
pelo PR que é o Presidente do CC; (2) Cinco juízes designados pela AR
segundo o critério de representação proporcional; e (d) Um Juíz
Conselheiro designado pelo Conselho Superior da Magistratura
Judicial.

Exercícios de Auto-Avaliação

1. Quando que o Conselho Constitucional foi consagrado órgão


de soberania?
Resposta: Em 1990, pela Constituição de 1990.

2. Durante os trezes anos em que as competências do CC


estiveram cometidas ao Tribunal Supremo, quantos pedidos de
fiscalização de constitucionalidade foram solicitados.

132
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Resposta: Um caso de fiscalização preventiva

3. Os juízes conselheiros do CC são designados por mandato de


quantos anos:
Resposta: São designados por um mandato de cinco anos,
renovável.

4. Os juízes do CC gozam de garantia de independência,


inamovibilidade, imparcialidade e irresponsabilidade
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

5. Durante o período de desempenho do cargo de juíz do CC, fica


suspenso o estatuto decorrente da filiação em partidos
políticos.
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

6. A partir de 2007 verifica-se uma grande demanda ao CC em


matéria de fiscalização da constitucionalidade e da legalidade
 Certo
 Errado
Resposta: Certo

Exercícios

1. Qual é o órgão fiscalizador da constitucionalidade e da


legalidade em Moçambique?
2. Qual é a composição do Conselho Constitucional?
3. As competências do CC já estiveram cometidas ao Tribunal

133
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Supremo?
4. O Conselho constitucional é um órgão de soberania?
5. O Conselho Constitucional é um tribunal?
6. Diga quais são as entidades com legitimidade para solicitar a
fiscalização de inconstitucionalidade abstracta sucessiva.

UNIDADE Temática 6.4 Exercícios do Tema VI

1. Em Moçambique está consagrada a fiscalização por omissão?


2. O CC pode sem que haja pedido das entidades com
competência apreciar a inconstitucionalidade duma norma?
3. O CC foi uma inovação consagrada na CRM de 2004
4. Quais são os efeitos da fiscalização de inconstitucionalidade
preventiva
5. As decisões do CC são de cumprimento obrigatório, não são
passíveis de recurso e prevalecem sobre outras decisões. Quais
são as consequências do incumprimento?

Exercícios Finais do Módulo

1. Diference os elementos do Estado.

2. Um país europeu motivado pela abundância de recursos


minerais na província de Tete pretende propor ao Estado
moçambicano a compra e venda daquela província. Pode este
negócio proceder?

3. José Mapure, zambiano, possui a nacionalidade moçambicana


em virtude do casamento com Maria Ponta vida. Após anos de
casamento divorciou-se da Maria. Maria exige que José perca a

134
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

nacionalidade moçambicana por este não estar mais casado


com ela e pelo facto de José ainda também possuir a
nacionalidade zambiana.
a) Pode a exigência de Maria proceder?

4. Fale da Zona Económica Exclusiva.

5. Qual é a forma de Estado moçambicano?

6. Qual é o regime político moçambicano?

7. Qual é o sistema de governo moçambicano?

8. Faça uma composição sobre o princípio da prescrição


normativa da competência.

9. Quais são as três perguntas mais frequentes sobre o princípio


da proporcionalidade?

10. Em Moçambique os cidadãos tem legitimidade para solicitar a


fiscalização concreta de normas?

11. Aponte na CRM exemplos de exigência de publicidade de actos


do Estado.
12. Todos os actos que violam a constituição são objectos da
fiscalização da inconstitucionalidade pelo Conselho
Constitucional?

135
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

BIBLIOGRAFIA

Bastos, F. L,(1999) Ciência Política - Guia de Estudo. Lisboa: Associação


Académica de Lisboa.

Canotilho, J. J. Gomes, (2002) Direito Constitucional e Teoria da


Constituição, 6ª edição. Coimbra: Almedina:

Canotilho, J. J. Gomes & VITAL, Moreira.(1991) Fundamentos da


Constituição. Coimbra: Editora Coimbra.

Miranda, J. (2000) Manual de Direito Constitucional, Tomo II,


Constituição, 4ªedição, Coimbra: Editora Coimbra

Filho, M.F. (2002) Curso de Direito Constitucional, 28ª edição,


actualizada. São Paulo: Editora Saraiva.

Caetano, M. (1992) Manual de Ciência Política e Direito


Constitucional, Tomo I, 6ª edição, reimpressão. Coimbra:
Almedina.

Moçambique, Conselho Constitucional. (2007) Deliberações e


Acórdãos do Conselho Constitucional, Volume Maputo:
Ministério da Justiça.

Legislação
Constituição da República (CRM) de 2004

Constituição da República (CRM) de 1990

Lei n.º 6/2006, de 02 de Agosto (lei orgânica do Conselho

136
ISCED – MANUAL DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Constitucional)

Lei n.º 5/2008 de 09 de Julho (lei orgânica do Conselho Constitucional


que faz uma alteração pontual da lei 6/2006, de 02 de Agosto).

Lei n. º 9/2003 de 22 de Outubro (lei orgânica do Conselho


Constitucional revogada)

Código do Processo Civil

Internet
http://www.cconstitucional.org.mz

http://www.fd.ul.pt/Portals/0/Docs/Institutos/ICJ/LusCommune/Bast
osFernando1.pdf

http://www.google.com.br

http://wwww.oDireito.com.mo/oDireito/edições/11pareceres101.asp
(Ordem constitucional e fiscalização da constitucionalidade em
Macau)

http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT/Portugal/Sistema_Politico/Con
stituicao/ consttituicao...

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