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MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM

ENSINO DE HISTÓRIA

1º Ano

Disciplina: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA


Código:
Total Horas/1o Semestre:
Créditos (SNATCA):
Número de Temas:

INSTITUTO SUPER

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - ISCED


ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Direitos de autor (copyright)

Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED),


e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total
deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico,
gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior
de Ciências e Educação a Distância (ISCED).

A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos


judiciais em vigor no País.

Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)


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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Agradecimentos

O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) e o autor do presente manual


agradecem a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste
manual:

Pela Coordenação Direção Académica do ISCED

Pelo design Direção de Qualidade e Avaliação do ISCED

Financiamento e Logística Instituto Africano de Promoção da Educação


a Distancia (IAPED)

Pela Revisão

Elaborado Por: Luís Manuel Meno


Licenciado em História
Mestre em Ciência Política, Governação e Relações Internacionais

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Visão geral 1
Benvindo à Disciplina/Epistemologia da História ............................................................ 1
Objectivos do Módulo ...................................................................................................... 1
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 1
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 2
Ícones de actividade .......................................................................................................... 4
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 4
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 6
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 7
Avaliação .......................................................................................................................... 8

TEMA – I: História como forma de Conhecimento. 11


UNIDADE Temática 1.1. Introdução ............................................................................. 11
Introdução ....................................................................................................................... 11
1. UNIDADE Temática 1.2. O conhecimento ........................................................... 12
UNIDADE Temática 2.3. DOGMATISMO E CEPTICISMO E CONHECIMENTO .. 12
UNIDADE Temática 1.4. História como Forma e Conhecimento: Elementos da
cientificidade da História ................................................................................................ 13
Sumário ........................................................................................................................... 33
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 34

TEMA – II: O Tempo na História 34


UNIDADE Temática 2.1. A HISTÓRIA E O TEMPO .................................................. 34
Introdução ....................................................................................................................... 34
UNIDADE TEMÁTICA 2.2. O TEMPO NA HISTÓRIA ............................................. 35
UNIDADE Temática 2.3. CONTAGEM DO TEMPO EM HISTÓRIA ........................ 37
UNIDADE Temática 2.4.Convençoes para contagem do tempo em História ................ 38
Sumário ........................................................................................................................... 39
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 40

TEMA – III: A teoria da construção do conhecimento em História: Método de


Investigação em História 41
UNIDADE Temática 3.1. Método de Investigação em História .................................... 41
Introdução ....................................................................................................................... 41
UNIDADE Temática 3.2. Crítica em História ................................................................ 42
UNIDADE Temática 3.3. Método Comparativo ............................................................ 49
UNIDADE Temática 3.4.A INTERDISCIPLINARIDADE .......................................... 49
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 52
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 52

TEMA – IV: FONTES DA HISTORIA 53


UNIDADE Temática 4.1. As Fontes em História e a sua dimensão .............................. 53
Introdução ....................................................................................................................... 53
UNIDADE Temática 4.2. As fontes e os diversos ambientes de conservação e
Preservação ..................................................................................................................... 54

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SUMÁRIO ...................................................................................................................... 57
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 57

TEMA – V: SINTESE EM HISTORIA 58


UNIDADE Temática.5.1. Dimensão da síntese em História .......................................... 58
UNIDADE Temática.5.2. Princípios da síntese em História .......................................... 58
UNIDADE Temática.5.3. Teoria da História ................................................................. 59
SUMÁRIO ...................................................................................................................... 60
Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO.............................................................................. 65

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Visão geral

Benvindo à Disciplina/Epistemologia da História

Objectivos do Módulo

Ao terminar o estudo deste módulo de Epistemologia da História


deverá ser capaz de:

 Compreender a ciência histórica e o seu objecto de estudo;


 Desenvolver uma postura investigativa no tratamento do
conhecimento histórico;

 Explicar a cientificidade do conhecimento histórico;

 Estabelecer a relação entre a História e outras


Ciências;
Objectivos
 Adquirir técnicas, habilidades e competências no
Específicos
tratamento das fontes históricas;

Quem deveria estudar este módulo

Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de


licenciatura em História ou Licenciatura em Ensino da História.
Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar
e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem
vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderão
adquirir o manual.

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Como está estruturado este módulo

Este módulo de Epistemologia da História, para estudantes do 1º


ano do curso de licenciatura em Ensino de História, à semelhança
dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue:

Páginas introdutórias

 Um índice completo.

 Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo,


resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para
melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção
com atenção antes de começar o seu estudo, como componente
de habilidades de estudos.

Conteúdo desta Disciplina / módulo

Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades,. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.

No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são


incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só
depois é que aparecem os exercícios de avaliação.

Os exercícios de avaliação serão em forma de ensaios e ou


questões.

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Outros recursos

A equipa dos académicoa e pedagogos do ISCED, pensando em si,


num cantinho, recóndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de
dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta
uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para
você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu
centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu
curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para
elém deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca,
pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda
as possibilidades dos seus estudos.

Auto-avaliação e Tarefas de avaliação

Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final


de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios
de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro
apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo,
exercícios que mostram apenas respostas.

Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação


mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de
dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras.
Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo
a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e
subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do
módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de
avaliação é uma grande vantagem.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Comentários e sugestões

Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados


aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza diadáctico-
Pedagógica, etc, sobre como deveriam ser ou estar apresentadas.
Pode ser que graças as suas observações que, em goso de
confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas


margens das folhas. Estes icones servem para identificar diferentes
partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela
específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança
de actividade, etc.

Habilidades de estudo

O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a


aprender. Aprender aprende-se.

Durante a formação e desenvolvimento de competências, para


facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará
empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons
resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e
eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar.
Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro
estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos,
procedendo como se segue:

1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de


leitura.

2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida).

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação


crítica dos conteúdos (ESTUDAR).

4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua


aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão.

5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou


as de estudo de caso se existirem.

IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo,


respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido
no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo
reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo
melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à
noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo
melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!?
Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc.

É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado
durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto
da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar
que já domina bem o anterior.

Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e


estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é
juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos
de cada tema, no módulo.

Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por


tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora
intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-
se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o
intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das
actividades obrigatórias.

Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual


obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume


de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando
interferência entre os conhecimento, perde sequência lógica, por fim
ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança,
depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz!

Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma


avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda
sistemáticamente), não estudar apenas para responder a questões de
alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude
pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que
está a se formar.

Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que


matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que
resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo
quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades.

É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será


uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem
o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar
a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está
a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens,
definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para
colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a
melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à
compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura;
Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado
não conhece ou não lhe é familiar;

Precisa de apoio?

Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o
material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas
como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou


invertidas, etc). Nestes casos, contacte os seriços de atendimento e
apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone,
sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando
a preocupação.

Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes


(Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua
aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da
comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC
se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor,
estudante – CR, etc.

As sessões presenciais são um momento em que você caro


estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do
seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED
indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste
período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza
pedagógica e/ou admibistrativa.

O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do


tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em
que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com
relação aos outros colegas. Desta maneira ficar’a a saber se precisa
de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver habito de
debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos,
constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo.

Tarefas (avaliação e auto-avaliação)

O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e


autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é
importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues
duas semanas antes das sessões presenciais seguintes.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não


cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do
estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de
campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da
disciplina/módulo.

Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os


mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente.

Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa,


contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados,
respeitando os direitos do autor.

O plágio1 é uma viloção do direito intelectual do(s) autor(es). Uma


transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor,
sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade
científica e o respeito pelos direitos autoriais devem caracterizar a
realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED).

Avaliação

Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância,


estando eles fisicamente separados e muito distantes do
docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma
avaliação mais fiável e concistente.

Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com


um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os
conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial
conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A
avaliação do estudante consta detalhada do regulamentada de
avaliação.

1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade
intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Os trabalhos de campo por si realizaos, durante estudos e


aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de
frequência para ir aos exames.

Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e


decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no
mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência,
determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira.

A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira.

Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois)


trabalhos e 1 (um) (exame).

Algumas actividades praticam, relatórios e reflexões serão utilizados


como ferramentas de avaliação formativa.

Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em


consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de
cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as
recomendações, a identificação das referências bibliográficas
utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros.

Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de


Avaliação.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

TEMA – I: História como forma de Conhecimento.

UNIDADE Temática 1.1. Introdução

Introdução

Bem-vindo ao curso de História e bem-vindo ao módulo de


Epistemologia da História.

A epistemologia também é conhecida como teoria do


conhecimento. A expressão "epistemologia" deriva das palavras
gregas "episteme", que significa "ciência", e "Logia" que significa
"estudo", podendo ser definida a partir da etimologia grega como
sendo "o estudo da ciência". Assim, a epistemologia é uma área
da ciência que se interessa na investigação da natureza, fontes e
validade do conhecimento. Uma vez que a nossa epistemologia é
da História, esta disciplina debruça-se sobre a natureza, as fontes,
a validade do conhecimento histórico e outros elementos afins a
cientificidade da História

Entretanto, antes de mais é importante conceitualizar o


conhecimento. Depois explicar-se a origem, essência e
possibilidade do conhecimento.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

 Conhecer a dimensão da história como forma de


conhecimento;

Objectivo específicos

 Caracterizar o conhecimento em história enquanto ciência

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

 Explicar os fundamentos da história enquanto ciência.

1. UNIDADE Temática 1.2. O conhecimento

O que é o conhecimento?

Há várias concepções quanto ao conhecimento. O filósofo grego


Platão, explica que conhecimento é aquilo que é necessariamente
verdadeiro (episteme). Entretanto, Grayling, explica que o
conhecimento é crença verdadeira justificada. Estas definições
parecem plausíveis porque, dão a impressão de que para conhecer
algo alguém deve acreditar nisso e o que se acredita deve ser
verdadeiro. A dimensão da verdade obrigará a um conjunto de
critérios. Por sua vez, Teixeira (2000:12) define o conhecimento
como sendo a apropriação da realidade pelo sujeito. Portanto,
conhecer, saber e ter conhecimento é apreender os seres e as
coisas”. É a partir do conhecimento que o ser humano é capaz de
ver o mundo, com reconhecimento do que vê e com atribuição de
significado aos seres e as coisas. Neste sentido, o conhecimento é
um conjunto de informação armazenada por intermédio da
experiência ou da aprendizagem (a posteriori), o através da
introspecção (a priori).

UNIDADE Temática 2.3. DOGMATISMO E CEPTICISMO E


CONHECIMENTO

Em torno da possibilidade do conhecimento duas correntes são


apresentadas

1. Dogmatismo
O Dogmatismo afirma a possibilidade de conhecer com certeza

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absoluta algo, dispensando, por conseguinte qualquer discussão.

2. Cepticismo
O Cepticismo tem como princípio a dúvida relativamente ao
nosso poder de

Conhecer a verdade e a realidade. Contrariamente ao dogmatismo,


o Cepticismo afirma que nada podemos conhecer com certeza,
pois não existe nenhum critério seguro da verdade.

Assim, é importante que se questione todos os juízos, quer


afirmativos quer negativos, pois todo o saber depende das
verdades gerais que não podemos conhecer com certeza.

Assim, ao designarmos de ciência a soma dos conhecimentos


científicos disponíveis num dado momento, podemos também
afirmar que existe um conteúdo próprio e método para
estabelecimento dos factos. Este método é o método científico. É
o metodo que vai determinar as maneiras de obter tal
conhecimento, e as características desse conhecimento é ser
verdadeiro

UNIDADE Temática 1.4. História como Forma e Conhecimento:


Elementos da cientificidade da História

Segundo Marc Bloch (1965) a Historia é uma ciência que estuda o


Homem no espaço e no tempo. Apesar da dimensão científica da
Historia, houve sempre um debate sobre se de facto ela (a História),
é ciência. A razão para isso prende-se ao facto de se pretender
encontrar na História o modelo de cientificidade das ciências
naturais.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

O pai da Historia

No século V a.C. Heródoto de Halicarnaso diferenciou-se da visão


de Hesíodo e Homero, pela sua vontade de distinguir o verdadeiro
do falso; por isso, realizou a sua “investigação” (etimologicamente
“História”). Iniciavam assim, as primeiras referências da História
como ciência.

Heródoto foi o autor da história da invasão persa da Grécia nos


princípios do século V aC., conhecida simplesmente como As
histórias de Heródoto. Esta obra foi reconhecida como uma nova
forma de literatura pouco depois de ser publicada. Antes de
Heródoto, tinham existido crónicas e épicos, e também estes haviam
preservado o conhecimento do passado. Mas Heródoto foi o
primeiro não só a gravar o passado mas também a considerá-lo um
problema filosófico ou um projecto de pesquisa que podia revelar
conhecimento do comportamento humano. A sua criação deu-lhe o
título de "Pai da História" e a palavra que utilizou para descrever o
seu trabalho foi, história, que previamente tinha significado
simplesmente "pesquisa".

Para Colingwood, Heródoto preenchia os quatro requisitos básicos


para fazer uma história positivista, a saber:

a) Científica (começa por uma indagação e procura uma resposta);

b) Humanista (preocupa-se, basicamente com os feitos realizados


pelos homens);

c) Racional (busca fundamentar com provas as suas conclusões) e

d) Auto-reveladora (mostra aos homens o que os seus semelhantes


realizaram no passado).

Colingwood afirma que: "Heródoto não limita a sua atenção aos


simples acontecimentos, considerando estes acontecimentos, (...)
como acções dos seres humanos que tiveram suas razões para
actuarem como o fizeram". Mais do que

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

isso, para Colingwood é "claro que a história, para Heródoto é


humanista, e não mística ou teocrática".

Dentro de suas expectativas de narrar o que realmente aconteceu,


Heródoto vai encontrar suas preocupações com a História recente,
mais facilmente verificáveis. Entretanto, para Carbonell
(Historiador francês), Heródoto não limita os seus interesses ao
passado imediato, buscando em eras remotas as causas dos
acontecimentos que estuda, no caso as guerras greco-pérsicas.
Todos esses factores levam Carbonell a afirmar que, com Heródoto,
"o tempo do historiador finalmente triunfa. E a história nasce da
‘História’. Para ele, Heródoto é pai da História".

Entretanto, a Historia não é, efectivamente, uma ciência como as


“ciências exactas” e da natureza (matemática, física, química,
biológica, etc.). A História é uma ciência social e humana. É social
porque estuda sobretudo, as sociedades. É humana, num duplo
sentido, porque estuda sociedades humanas e nalguns casos estuda
personalidades e indivíduos, ou seja, estuda o homem
individualmente, através de biografias. Deste modo, inicia-se a
perceber o objecto de estudo da História: O Homem (homem e ou
mulher), enquanto membro de uma sociedade.

Na senda da explicação do conceito da História enquanto ciência


destaca-se o historiador Jacques Le Goff. Segundo ele, a História é
ciência porque tem o objecto de estudo, tem métodos e pode ser
ensinada. Portanto, a componente pedagógica apresentada por Le
Goff é uma das determinantes para a cientificidade da História.

Contudo, a cientificidade da história envolve o historiador cujo


papel é extremamente importante bem como o seu objecto de

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

pesquisa. Actualmente, a ciência histórica estuda e procura


explicar o homem e sua evolução em diversos aspectos
designadamente Económicos, Demográficos, Político, Social e
Cultural etc. A grande preocupação da História é procurar
entender e explicar a historicidade da condição humana. A
principal ferramenta do historiador ou seja o objecto de estudo da
história, ou seja, o homem no tempo. O método da História é a
interpretação desse facto através das análises das mais variadas
fontes. (Exemplo: escritas, orais, arqueológicas, etc.).

Convém saber que história recebeu o estatuto de ciência quando


os pesquisadores passaram a usar a palavra (história) no sentido
de investigação e a utilizar como fontes de pesquisas os registos
documentais escritos. Sabe quando é que isso aconteceu? Entre o
final do século XVIII e início do XIX.

O historiador Jorge Grespam afirma que foi no final do século


XVIII que começou a ser discutido e desenvolvido os critérios e
procedimentos metodológicos fundamentados na críticas e análise
das fontes. Assim, a história passou a ser ciência. Como pode
perceber, foi o método, portanto, que concedeu à história o
carácter científico e ao historiador, a condição de cientista.

De um modo geral, citando Meno (2010), as discussões sobre a


ciência histórica nos mostram que o objecto da História é o
homem no tempo, e que esse objecto é o facto humano
acontecido. O facto histórico serve como compreensão de um
processo vivido por uma sociedade, e o método da História é a
interpretação desse facto através das análises das mais variadas
fontes. (Exemplo: escritas, orais, arqueológicas, etc.).

Por outro lado, face ao desafio de descrever e explicar as


especificidades e as dissonâncias representadas pelas concepções
desafiantes como uma resposta plausível surge também um
problema epistemológico a ser enfrentado. Deve-se examinar,

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

primeiramente, quais são os instrumentos teórico-metodológicos


de que se utilizou para a determinação da cientificidade da
História.

De um modo geral, é fácil relacionar a história com o tempo e


concretamente com o passado.

Entretanto, o passado é uma realidade extensa, porque assente na


dimensão do tempo que também que é igualmente ilimitado, não se
estanca.

Ademais, o passado é visto como uma escola, uma oportunidade de


se tirar proveito, de tal modos que o presente e o futuro não estejam,
comprometidos.

Deste modo, a história é uma área do saber em que

1. O conhecimento é inerente ao Homem


2. O conhecimento é fruto da dependência do presente em relação
ao passado
3. A explicação do passado depende do presente

a) O conhecimento histórico é inerente ao Homem


Todo o ser humano, é uma construção social. Este facto deve-se a
uma série de realidades do passado com o qual eles se identifica,

A Sua Identidade depende Bastante do seu passado. Mesmo que


não se queira pensar nos passados os factos por si toma conta da
mente humana e fazem-nos reflectir. Portanto, o ser humano é
um ser ligado à história e dele depende.

b) Não se pode compreender o presente sem


passado
O que somos hoje está bastante relacionado com o que fomos
ontem. É neste sentido, esforços com vista a ultrapassar cenários

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

menos bons, originados no passado devem ensinar as sociedades


actuais a olhar para o passado de modos a garantir o futuro
melhor.

c) Não se explica o passado sem o presente. A


explicação do passado normalmente é feito tendo
como referência o presente, pois quem explica a
história, encontra-se por inerência distante, quando
se olha para o tempo. Neste sentido, a explicação
do passado normalmente tem apresentado
referência do presente. Isto pode determinar a
informação ou verdade histórica.

O historiador inglês E. H. Carr, na década de 1960, ao questionar


a natureza do conhecimento histórico, chegou à conclusão de que
não existe uma resposta absoluta para a definição de história ou
para a validade de seu carácter científico.

Tendo carácter fortemente reflexivo, a História possibilita a


criação de um espírito crítico capaz de elucidar uma relação mais
interessante do homem com a realidade que o cerca.

Tudo depende da visão que cada um tem de sua própria sociedade


e do tempo em que vive; inclusive, porque é o historiador e a
interpretação que faz, a partir de seu contexto, que torna ou não
um facto histórico.

Seguindo esta linha de orientação, Paul Veyne, na década de


1970, concluiu que a história possui grande proximidade com a
ficção, se distinguido de um romance somente pelo compromisso
de buscar a verdade, constituindo na realidade uma tentativa de
narrar a verdade, prejudicada pelo carácter subjectivo da história e
da interpretação das fontes, isto para não

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

mencionar outros aspectos circunscritos à documentação que


sustenta a análise histórica, tal como a inexactidão da narrativa ou
as intenções envolvidas na produção das fontes.

Em outras palavras, como afirmou Eric Hobsbawm, o passado e a


história são ferramentas utilizadas para legitimar as acções do
presente, assim como as fontes têm um alcance político e
ideológico, tornando a visão do passado distorcida.

Como ressaltou Jacques Le Goff, não existe sociedade sem


história, o que conduz ao conceito de historicidade, é o pertencer
de cada indivíduo ao seu tempo, os aspectos comuns que todos os
homens de determinada época compartilham, impossibilitando
qualquer ciência de evitar extrair conclusões próprias de sua
historicidade.

De modo que, se existe um paradigma em história, tal como o


conceito formulado por Thomas Kuhn, circunscrito a base
referencial sobre a qual um conjunto teórico é construído, este só
pode ser considerado como o tempo histórico em que o
historiador se circunscreve.

A natureza do conhecimento histórico comporta uma pluralidade


de teorias contraditórias entre si e que explicam o passado
plausivelmente, fornecendo ângulos e visões distintas que não se
anulam, fazendo da história uma área do saber com verdades
relativas

Processo da consolidação da História como ciência.

Uma definição contemporânea de senso comum, afirmaria que a


história é uma ciência que estuda o passado, analisando as
transformações, para entender o presente. Assim, ao resgatar o
passado, a história tentaria conferir sentido ao presente, ajudando
a transformar a realidade a partir de sua própria compreensão,
podendo até mesmo guiar ao futuro.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Todavia, uma análise mais detalhada demonstra que o conceito de


história comporta múltiplas definições, cada qual adequada ao seu
conjunto teórico.

Não é possível falar de uma história singular, já que, ao invés de


uma teoria da história teríamos múltiplas teorias da história.

A natureza e a evolução das outras ciências durante o século


XVIII, não confere a história menor importância ou menor
dignidade. O que deve ser percebido é que a história é
naturalmente, diferente. Contudo, quando se busca a afirmação da
história como ciência, nota-se que esta apresenta-se com alguma
complexidade e dificuldade. Quais as principais fontes dessa
complexidade/dificuldade?

a) Analogamente a outras ciências humanas e sociais, nuns


casos, ou diferentemente, noutros, a história incide sobre o
passado, pelo que lhe está vedada a experimentação e o
registo/inquérito directo. Por esse, motivo, o conhecimento
histórico e mediato, corn

Todas as consequências inerentes a tal facto.

b) O fascínio do modelo das ciências da natureza, já referido, tem


levado, por vezes, a que se apliquem a histórias certas
características daquelas, onde se pode evidenciar a objectividade.
Entretanto, segundo Piaget, citado por Mendes, a dificuldade da
história abrange, inclusive, as restantes ciências humanas. Essa
dificuldade é epistemológica e se encontra no centro das ciências
do homem caracterizando-se pelo facto do ser humano ser
simultaneamente sujeito e objecto

Grosso modo, as primeiras linhas de estudo da História se


desenvolveram nas cavernas, quando os primeiros grupos
humanos se preocupavam em registar o desenrolar de sua própria
vida quotidiana. Na Antiguidade, os primeiros historiadores se

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

preocupavam em relatar as peripécias dos grandes personagens e


o cenário épico das guerras travadas entre os povos. Muitas vezes,
comprometidos com algum dos lados dessa história faziam um
relato tendencioso e impreciso.

Entretanto, tornou-se corrente admitir que a reflexão histórica tem


suas raízes na Antiguidade clássica, mais especialmente em
Heródoto e em Tucídides. Esses autores de língua grega
marcaram o ponto de partida de François Châtelet, que em um
texto clássico publicado em 1962 definiu a Grécia como o berço
do pensamento histórico ocidental. Châtelet, desde a perspectiva
filosófica, utiliza em seu título um termo próprio: historienne,
cunhado pela língua francesa para designar o sentido do
pensamento histórico enquanto produzido por uma reflexão
intencionalmente voltada para a organização crítica da memória
como fundamento do sentido da sociedade, da política e da
cultura respectiva. Esse termo é empregue distintamente do
adjectivo habitual, histórico (historique), aplicável para Châtelet a
qualquer pensamento racional que lide com a acção humana no
tempo.

Durante séculos, na tradição dominada pela cultura ocidental de


origem greco-romana, a História oscilou sistematicamente entre
estilos ou objectos muito diversos, como a banal existência de um
indivíduo qualquer, a hagiografia política, a filosofia ou a
teologia. Com o advento da crítica racional no Renascimento e,
mais particularmente, com o surgimento e a consolidação das
Luzes no século XVIII, a História passou por uma espécie de
repaginação teórica e metódica que culminou em sua
cientificação. Esse processo atravessa o século XIX e culmina na
consolidação e no êxito social da historiografia nesse século e no
século XX.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

O padrão de cientificidade que se aplica é, por certo, o modelo do


racionalismo moderno, cartesiano ou empirista, acentuadamente
marcado pelo sucesso – mesmo que visto cada vez mais como
relativo – das ciências ditas experimentais.

A História cujo renascimento se organiza e estrutura na passagem


do Iluminismo para o Romantismo e se consolida ao longo do
século XIX nos cenários do positivismo, do historicismo, das
escolas metódicas é a História como ciência. História como
ciência, cujos resultados historiográficos são expressos em
narrativas que encerram argumentos demonstrativos articuladores
da base empírica da pesquisa e da interpretação do historiador em
seu contexto. A historiografia, assim, encerra em si as
características de ser empiricamente pertinente,
argumentativamente plausível e demonstrativamente convincente.
Como se chega a esse patamar metódico, social e cultural de
confiabilidade?

No século XIX, as concepções de História e de historiografia


passaram por uma mudança notável e decisiva. Esse século
tornou-se conhecido como “o século da História”. Sem dúvida foi
ainda mais decisivo – embora essa perspectiva nem sempre tenha
estado presente – o salto dado no segundo terço do século XX e
seus prolongamentos até os anos 1970. Não obstante, a análise
dos progressos da historiografia em nosso tempo, deve ser feita
mediante o contraste com o século XIX, sem o qual não se pode
perceber o alcance das mudanças ocorridas no século XX.

A importância marcante do século XIX para os fundamentos da


disciplina da historiografia em seu estado actual deve-se a um
fenómeno único, de desdobramentos complexos: o abandono das
concepções relativas à investigação e à escrita da história que
formaram a tradição europeia praticamente desde o Renascimento
e talvez mesmo desde a Antiguidade clássica. As diversas escolas
e correntes historiográficas do século XIX coincidem pelo menos

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

em um ponto: deixam de considerar a história como uma crónica


baseada nos testemunhos legados pelas gerações anteriores e
entendem-na como uma investigação, pelo que o termo “história”
recupera seu sentido originário em grego.

A evolução decisiva para a historiografia deu-se com o que se


pode chamar de fundamentação metódico-documental, basilar
para a disciplina “académica” contemporânea, produzida pelos
tratadistas do século XIX e da primeira década do século XX.
Tem-se aqui a origem da grande corrente historiográfica que se
chamou – de forma algo exagerada, mas não totalmente imprópria
– de historiografia “positivista”, intimamente entrelaçada com a
forte tradição do historicismo alemão. Foi no século XIX que
apareceram os primeiros grandes tratados do que se poderia
chamar de normativismo histórico, um tipo de reflexãonovo sobre
a História, chamado de Historik por Joha nn Droysen. Essa
reflexão definiu os parâmetros metódicos estipulados como
obrigatórios para que a História se enquadrasse no que se tinha,
então, por padrão de “ciência”. Essa é a razão pela qual esses
tratadistas tomaram como referência específica do estudo de
História a ciência natural. Tal referência em momento algum foi
pensada em termos miméticos (copiar a ciência natural) ou como
modelo único (num movimento pré-dogmático). Normalizar os
procedimentos, contudo, para obter algum grau de densidade
confiável, era percebido como uma missão, que levou à produção
de textos metodológicos famosos, sobretudo na França e na
Alemanha, de Buchez e Lacombe, de Ranke, de Droysen e de
Bernheim, chegando a Langlois-Seignobos e a Lamprecht.

Essa mudança profunda e duradoura do horizonte dos estudos


historiográficos, cuja influência se estendeu até os anos 1930, é
habitualmente creditada às contribuições trazidas por uma
corrente chamada, sem esforço maior de precisão, de positivismo.
De outro lado, o historicismo alemão é amiúde considerado a
maior contribuição do século XIX em

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

matéria de concepções da natureza do histórico e da identidade da


historiografia. Ambas as etiquetas requerem cuidadosa
modulação.

Com efeito, o que se chama de “historiografia positivista” não


deixa de estar interpretado por um equívoco persistente. Muitas
vezes chama-se de positivista, sem mais nem menos, uma
concepção da historiografia essencialmente narrativista, episódica
(factual), descritiva, fruto de uma erudição bem à moda do século
XIX. Na realidade, esse tipo de historiografia é o exemplo mais
típico da “História tradicional”, mas não tem por que ser
necessariamente confundido com a historiografia “positivista”. A
historiografia positivista é a dos “factos” estabelecidos mediante
os documentos, indutiva, narrativa, por certo, mas também sujeita
a um “método”.

A escola que se costumava chamar de “positivista” pode ser


também denominada – com mais propriedade – de “escola
metódica”, já que sua principal preocupação era a de dispor de um
método. Essa escola, que fundamentava o progresso da
historiografia no trabalho metódico das fontes, sempre foi avessa
a qualquer “teoria” ou “filosofia”. Isso não diminui, todavia, sua
dependência imediata para com a concepção “positivista” da
ciência, que fica evidente não apenas em obras francamente
problemáticas, como o manual de Seignobos, mas também
clássicas, como a de François Simiand. Trata-se, antes de mais
nada, de uma corrente pragmática e empirista. Por isso pode ser
chamada de escola pragmático-documental ou metódico-
documental.

Algumas percepções fundamentais de abordagem


historiografia

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

A história é uma área de saber bastante abrangente. De certa


maneira torna-se difícil estudar toda a história de uma única vez.
Deste modo, com o objectivo metodológico de ensino e
compreensão, a História da existência Humana foram elaborados
certos recortes ou divisões de abordagem. Dentre várias que
possam existir destacam-se:

 Abordagem Temporal

 Abordagem Temática

 Abordagem Espacial ou geográfica

Abordagem Temporal

Em Relação a esta abordagem, a História ficou dividida em


Duas grandes fases: a Pré-História e a História.

A Pre-História vai dos tempos mais remotos até a descoberta


da escrita. Enquanto isso, a História, ficou dividida em quatro
períodos de Tempo saber:

História Antiga: dividida em Antiguidade Oriental e Ocidental.


Inicia com o aparecimento das primeiras civilizações, em 4500
anos a.C., e vai até ao ano de 476 d.C., período da decadência do
Imperio Romano do Ocidente.

História da Idade Média: Inicia com a queda do Imperio


Romano do Ocidente, em 476 dC e vai até 1453, período da queda
do Imperio romano do Oriente.

História Moderna: vai de1453, até a Revolução Francesa (1789).

História Contemporânea: vai de 1789 até o cotidiano.

Abordagem Geográfica

Esta abordagem destaca-se a dimensão do espaço e notabiliza-se


efectivamente o vínculo entre a História e a

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Geografia. A História usa os conceitos da geografia. E podemos


estudar a história dos locais (História Local). O exemplo deste tipo
de abordagem é a existência da História de Moçambique, História
de África, da Europa, etc.

Abordagem temática

Esta abordagem trata dos temas ou assuntos dentro da História.


Deste modo, existem:

 História Política, reduzida à história dos eventos até ao


século XX. Agora estuda a história das instituições, história dos
sistemas políticos e aspectos afins, história dos estados etc

 História Económica versa-se sobre relações e dinâmicas


económicas ao longo da História.;

 História das Religiões nascida pela necessidade de tornar


o seu estudo comparativo no seio das crenças entre os povos;

 História da Arte que aborda as manifestações artísticas ao


longo do tempo

Existem outras áreas mais recentes do que as já apresentadas, apesar


de as englobar algum modo. São exemplos, a História das ideias,
História das doutrinas políticas, etc

História e as Ciências Sociais

No mundo sobre as ciências sociais, há sempre uma tendência de


debate em torno do funcionamento das ciências. Por vezes, certas
ciências do homem tern revelado algum pendor imperialista, isto

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

e, uma tendência para, de modo exclusivo, apreenderem e


explicarem toda a realidade. Ferdinand Braudel refere, por
exemplo, as seguintes ciências humanas como imperialistas:
geografia, economia, politica e sociologia. A esta acrescente-se
em certas fases e quando praticada por determinado autores, a
própria historia. Tais imperialismos são hoje geralmente
condenados, pelas próprias limitações explicativas e de pesquisa
de que enfermam.

Em qualquer dos casos, há sempre interdependência e


interpenetração das ciências humanas; neste caso a sociologia
surge apenas como mediadora. Actualmente é impensável a
elaboração de uma síntese das ciências do homem, e a perspectiva
científica tende para sínteses muito mais vasta, de natureza
ecológica, o que põem imediatamente o problema da conciliação
de método e tipo de investigação ainda muito dispares a própria
terminologia vária de pais para pais reflectindo tradições
nacionais e mesmo concepções do tipo política. E esta
ambiguidade e indeterminação tem de se ter sempre em conta ao
abordar a interdisciplinaridade.

A interdisciplinaridade é uma das consequências da renovação


científica do pós-guerra e um resultado metodológico da reflexão
epistemológica. Isso impediu que estas ciências tentassem definir
as suas fronteiras disciplinares
Assim, se a interdisciplinaridade se tornou uma via de saber
actual, tornou-se igualmente indispensável pelo menos por agora,
dada a formação recente das ciências sócias, e do homem, uma
certa divisão entre elas garantindo a especificidade dos fenómenos
em estudo.
A renovação histórica imbrica na contribuição nas outras ciências
do homem nomeadamente a partir da sua concepção de história
global;

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Neste sentido, segundo Ferdinard Braudel A Historia torna-se o


campo de experiencia de muitas hipóteses fornecidas pelas outras
disciplinas. Por vezes, essa utilização transforma perigosamente o
conteúdo histórico, o caso da antropologia e etimologia que,
fornecendo conceitos e explicações culturais arrastam a historia
para o tempo lento. Porem desta aproximação que surgem a
renovação da noção do histórico, nomeadamente a longa duração
por Braudel. A posição assumida pelo a contribuição da
linguística e da economia são também importantes, mais impõem
uma historia nova excessivamente quantitativa ou, pela influencia
da linguística demasiado a tida ao estudo de simbólico.
Esta nova histórica sujeita-se as novas condições da produção, os
conceitos adquiridos através das ciências humanas e sócias criam
o novo “corpus” históricos; os métodos renovam-se, novos
campos foram percorridos, interroga-se também sobre as
condições da produção histórica e do agente produtor, o
historiográfico, recorrendo análise epistemológica.
Os novos conceitos são as noções operárias de uma ciência que se
faz a história de hoje precisamos.

Entretanto, as Ciências Sociais e Humanas, em última analisam,


estudam o mesmo objecto: o Homem, individual, colectivo, em
estrutura, ou em mudança. Constituem, assim, um universo
pluralista, mercê da perspectiva de investigação e do tipo de
métodos utilizados: um universo de conteúdo heterogéneo e de
fronteiras imprecisas.

A HISTÓRIA EA COMPONENTE POLÍTICO-IDEOLÓGICA

Segundo Foucault citado por Rocha e Seren (Op.Cit.) são as


praticas sociais que determinam o aparecimento de formas de
subjectividade que se definem como estruturas epocais do saber;
praticas essas que, a certa altura, são assumidas e proporcionadas
pelo poder politico que empunha a "verdade do

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

saber"oficialmente institucionalizado; ou seja, sendo sabido que é


no desenvolvimento da acção das sociedades que se verifica a
evolução dos modos de pensar e do próprio aparelho conceptual,
tornando-se sensível, pouco a pouco, uma evolução da
mentalidade, é neste momento que o Estado intervém,
identificando-se com esta mudança e desenvolvendo os novos
saberes como modelos institucionais, como e o caso do modelo
cientifico. Isto envolve uma apertada articulação entre a prática
política e outras práticas de natureza discursiva - teorias, códigos,
proibições, ideologias, ciência - que Ihe são exteriores.

Assim, o poder político cria condições políticas, económicas e


sociais de existência que permitem a formação de sujeitos do
conhecimento. Os novos modelos de verdade são definidos e
passam a circular pela comunidade, tornando possível que a sua
evolução venha influenciar o domínio político e, naturalmente, o
cientifico.

Uma consequência disto é que pode ser elaborada uma história


das ciências através da análise do discurso da relação poder-
saber, nomeadamente através das práticas judiciarias -as formas
de julgar os homens, desde uma justiça que é aquilo que se tem o
direito de fazer, à própria essência do poder, até as condições
político-sociais.

Admitindo que o conhecimento surge como uma invenção do


homem, e, mais do que uma ruptura, é uma violação do sujeito
sobre o mundo, e que a razão se define com constituinte a partir
das práticas sociais, o discurso do saber pode ser estudado não
como uma teoria mas como um conjunto de práticas sociais.
Assim, o discurso epocal das práticas sociais e do conhecimento
pelo homem remete ao seu aproveitamento pelo poder político e

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

reflecte-se nas práticas judiciárias.

Em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo,


controlada, seleccionada, organizada e redistribuída por um certo
número de processos que tem por fim conjurar-lhe os poderes e os
perigos, dominar-lhe o acontecer aleatório, evita-lhe a pesada, a
temível materialidade.

Existindo apenas práticas científicas diferenciadas, o


conhecimento aparece como uma batalha, uma estratégia. A
análise dos modelos de verdade que circulam historicamente é
explicada pela sua instrumentalização pelo poder político.

É assim que, na Grécia, a caminho de um governo


democrático onde se afirma o conceito de cidadão se
impõe o "modelo do inquérito e do testemunho",
reapresentando as praticas sociais de pesquisa da verdade
e sendo igualmente o modelo ordenador das praticas
politicas e judiciais. Este modelo ordenador distingue-se
igualmente no comportamento e no conhecimento. É a
definição das ciências.

Segundo Costa (Op.Ct.), a História com H maiúsculo não pode


ser exercitada como apoio a um projecto político ou a outra
finalidade qualquer. Muitos bons historiadores falharam por esse
motivo. Ela é um bem em si, e essa é a melhor forma dela ser
buscada por quem a deseja. Como a ginástica é boa para o corpo,
a História é boa para a mente. De nada adianta todo o
procedimento hermenêutico e arqueológico, de nada serve o
amoroso preparo consciente de retorno no tempo se não

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

apreendemos a História por seu valor intrínseco. Como bem disse


o filósofo Simon Blackburn (1944), comemos pão e a reflexão
não coze o pão. Mesmo assim sempre reflectimos, porque
desejamos compreender-nos. Isso é um bem em si, e esse bem é
um momento em que nos libertamos das questões práticas da vida
(BLACKBURN, 2000). E o estudo da História é um momento em
que nos libertamos da vida presente para nos projectarmos no
tempo.

Dados sobre História de Moçambique

A historiografia de Moçambique pode ser percebida como a


concepção e o modo de fazer história em Moçambique. A mesma
pode ser estudada ou analisada sob ponto de vista diacrónico.

Assim, pode-se encontrar características peculiares da historiografia


em fases distintas. Esta concepção é defendida por José Capela
(1991), numa abordagem analítica da história em Moçambique.

Assim, distingue-se:

-Abordagem da História do período de 1975 a 1990:

-Abordagem da História do período pós 1990.

É de salientar que estas datas não são estanques e por conseguinte


não encerram uma visão absolutamente fechada. Porém, as
características comuns da concepção da História transmitem o
agrupamento nesse sentido.

A abordagem da História desde 1975 a 1990, enquadra-se no


contexto político, marcado pela independência nacional, portanto, o
nascimento de uma nação. Notabilizou-se, neste contexto, a ligação
profunda do governo moçambicano às ideologias marxistas-
leninistas. Uma vez que, independência de Moçambique era vista

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

como Revolução Socialista de Moçambique, enquadrada na visão


ideológica supracitada e ligada aos pressupostos patrióticos, a
história teve que ser o veículo de consolidação dos valores da
independência e da nação. Deste modo, ela caracterizava-se pela
defesa da criação do Homem novo, e estava ao serviço directo do
estado Moçambicano e fundamentalmente à nação. Neste sentido
pode-se afirmar que a situação foi semelhante ao cenário ocorrido
na Europa na época moderna. Entretanto, investigação não é muito
profunda, sobretudo no que diz respeito a cultura, religião e a
economia de Moçambique.

Em todo o caso, surge uma tendência de trazer fundamentalmente a


História política, numa abordagem cujos temas aparecem com uma
certa superficialidade e naturalmente com espaços para ser
enriquecida.

Em termos de material escritos, destacam-se os cadernos de


história, o lançamento da obra de História da Universidade Eduardo
Mondlane, intitulada História de Moçambique Volume I. entre
vários ensaios do departamento de História.

No que diz respeito a pesquisadores da História de Moçambique


destaca-se Carlos Serra, Aquino Bragança, António Rita Ferreira,
José Capela, João B. Coelho, entre outros.

Contudo, a história de Moçambique também foi estudada por


indivíduos não moçambicanos, e que segundo alguns autores
apresentaram alguma profundidade nos seus trabalhos relativamente
aos pesquisadores moçambicanos, A justificação prende-se ao
contexto político-histórico vivido em Moçambique. Neste sentido,
destacam-se Malyn Newitte, Rene Pellessier, Gerhard Liesegang,
Bertil Egero e dupla Abrhamson E Nilson entre outros.

Porém, depois da década 90, com a assinatura dos Acordos de


Roma, a entrada em vigor da constituição de 1990, em suma, um
novo contexto político, a situação da

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

historiografia de Moçambique, sofreu algumas alterações. Surgem


mais estudos de pesquisadores moçambicanos. Mas em termos de
linha educacional, continuou-se a ensinar mais a história política do
que as outras áreas de conhecimentos, nomeadamente económica,
social e cultural. Assim, surgiram interessantes pesquisas em
História, elaboradas por Arlindo Chilundo, Joel das Neves Tembe,
Luís Covane, David Hedges, Amélia Souto, Benigna Zimba, Luís
Filipe Pereira, Hipólito Sengulane, Alda Saúte, dentre outros por
publicar. Convém realçar que estes estudiosos tiveram e têm uma
contribuição extremamente valiosa para a história de Moçambique.

No entanto, há ainda muitos aspectos por se estudar em


Moçambique, alguns dos quais deixam transparecer ser bastante
sensíveis. Neste sentido, temas como a Luta de Libertação, os
heróis de Moçambique, os reaccionários e revolucionários, Morte
de Eduardo Mondlane e de Samora, a guerra dos 16 anos, são
assuntos que aparecem na actualidade cobertos de muitas questões?
Todavia é preciso ter em conta que a historiografia de Moçambique
assenta-se nos pressupostos epistemológicos da ciência histórica e
que apesar de novos dados que aparecem, a investigação deve ser
aprofundada e não ser tomada de ânimo leve.

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos e discutimos


fundamentalmente três itens em termos de considerações gerais á
disciplina de Contabilidade Geral:
1. Conhecimento ;
2. Possibilidade de conhecimento
Dogmatismo
cepticismo;

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

3. História como forma de conhecimento


4. Elementos da cientificidade da História

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Porque é que a História é Ciência?


2. Quando é que a História tornou-se ciência?
3. Que condicionalismos determinaram o alcance do Estatuto de
Ciência à História?

TEMA – II: O TEMPO NA HISTÓRIA

UNIDADE Temática 2.1. A HISTÓRIA E O TEMPO

Introdução

Bem-vindo a esta unidade bastante importante. Vamos falar sobre o


tempo em História. Nesta unidade será

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

analisada a dimensão temporal que sustenta a História. Todos nós


temos falado do Tempo. Muitas vezes este tempo está associado a
componente de medição. Na física o tempo, por exemplo tem esta
componente e também está associada ao espaço, e a velocidade,
etc. Como é que o tempo é visto na nossa ciência - a Historia? Na
verdade, o tempo foi percebido de diversas formas. Neste sentido
torna-se pertinente estudá-lo.

Ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:

Conhecer a natureza da abordagem temporal em história

Especificamente
 Explicar a natureza da abordagem temporal em história;
 Identificar a relação entre a abordagem histórica e a
componente temporal;
 Dominar contagem dos séculos e milênio

UNIDADE TEMÁTICA 2.2. O TEMPO NA HISTÓRIA

Não se estuda a História sem falar do Tempo. Quando se fala do


tempo a sociedade destaca momentos como o Presente(o período
que vivemos actualmente); o Passado (O tempo que já vivemos) e
o futuro (o tempo que ainda vem). A História enquanto ciência
estuda o passado para compreender o presente e perspectivar o
futuro. Portanto, esta ciência demonstra a relação profunda entre
estes momentos. Marc Bloch, historiador francês explica no seu
livro Introdução a Histórias diz que não se pode compreender o
presente sem o passado e o passado sem o presente.
Segundo Ferdinand Braudel, a história processa-se no tempo.
Contudo, no tempo histórico, existe o tempo social e o tempo

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

cronológico. Assim, o tempo social pode não coincidir com o


tempo cronológico; a sua duração sequência ou mudanças são
verificadas a partir de outros fenómenos da mesma espécie, isto é,
históricos; o tempo dura enquanto se mantiverem certas regenciais
e significações que lhes dão sentido; o tempo histórico está ligado
as acções humanas e a sua característica fundamental é não
ocorrer simultaneamente no mesmo grupo em diferentes
sociedades.

Ademais, Ferdinand Braudel apresentou a história um modelo de


tempo dividido em três., utilizando a previsão económica:
1. Tempo curto, micro história do acontecimento, um
pouco mais lento “ curta duração” – Trata-se de um
tempo de acontecimento de superfície, habitualmente
acontecimentos político que é um tempo de relato, no qual
não se aprofunda investigação e se mede apenas o tempo
de acontecimento;
2. Média duração trata-se do tempo das conjunturas mais
estudado no campo de economia surge como recitativo de
variação e mudanças;
3. O tempo longo, a “longa Duração. A longa duração é o
tempo de estrutura, nomeadamente da estrutura de
mentalidades, o tempo que parece invariável em relação as
outras histórias, que se escoam e realizam mais
rapidamente e que em suma gravitam em torno dela.
(Mendes, 1993:154-155)
O novo tempo histórico permitiu a nova perspectiva da nova
história estrutural nomeadamente a partir da publicação de
Braudel. “ A longa duração”, em 1958.

A história não é prisioneira do tempo cronológico. Às vezes, o


historiador é obrigado a ir e voltar no tempo. Ele volta para
compreender as origens de uma determinada situação estudada e
segue adiante ao explicar os seus resultados.

36
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Ainda na abordagem sobre o tempo existem dois conceitos que devem


fazer parte do léxico do historiador são eles: A sincronia e a diacronia.

A sincronia é a abordagem de um facto histórico relacionando-o com


os factos históricos que coexistiram com ele. Enquanto isso, a
diacronia é a abordagem de um facto histórico demonstrando uma
evolução do mesmo em função do tempo

UNIDADE Temática 2.3. CONTAGEM DO TEMPO EM HISTÓRIA

O tempo em História tem em conta a crença, a cultura e os


costumes de cada povo. Os cristãos, contam a história da
humanidade a partir do nascimento de Jesus Cristo. Esse tipo de
calendário é utilizado por quase todos os povos do mundo.

O ponto de partida de cada povo ao escrever ou contar a sua


história é o acontecimento que é considerado o mais importante.

O ano de 2016, no nosso calendário, por exemplo, representa a


soma dos anos que se passaram desde o nascimento de Jesus
Cristo e não todo o tempo que transcorreu desde que o ser
humano apareceu na Terra, há cerca de quatro milhões de anos.

Assim, o nascimento de Jesus Cristo é o principal marco em nossa


forma de registar o tempo. Todos os anos e séculos antes do
nascimento de Jesus são escritos com as letras a.C. e, dessa
maneira, então 125 a.C., por exemplo, é igual a 125 anos antes do
nascimento de Cristo.

Os anos e séculos que vieram após o nascimento de Jesus Cristo


não são escritos com as letras d.C., bastando apenas escrever, por
exemplo, no ano 125.

Veja a seguir alguns exemplos de contagem do tempo.

37
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

 Milénio: período de 1.000 anos;


 Século: período de 100 anos;
 Triénio: período de 3 anos;
 Década: período de 10 anos;
 Quinquénio: período de 5 anos;´
 Biénio: período de 2 anos (por isso, falamos em bienal).

UNIDADE Temática 2.4.Convençoes para contagem do tempo em


História

Como identificar ou indicar um século de forma rápida e simples?


Podemos utilizar operações matemáticas simples. Observe.

38
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

ANO SÉCULO
Ano 900 Século IX
Ano 1800 Século XVIII
Ano 2000 Século XX
Se o ano terminar em dois zeros, o século corresponderá ao (s)
primeiro (s) algarismo (s) à esquerda desses zeros. Veja os
exemplos:

ANO COMO DETERMINAR SÉCULO

Ano 4 0+1= 1 Século I


Ano 90 0+1= 1 Século I
Ano 325 3+1=4 Século IV
Ano 1885 18+1=19 Século XIX
Ano 1998 19+1=20 Século XX
Ano 2001 20+1=21 Século XXI

Se o ano não terminar em dois zeros, desconsidere a unidade e a


dezena, se houver, e adicione 1 ao restante do número, Veja:

Sumário

Nesta Unidade temática estudamos e discutimos


fundamentalmente
 O tempo na História enquanto ciência
 A contagem do tempo

39
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

 As convenções param a contagem do tempo; Reflectimos


sobre as diversas abordagens sobre a temporalidade na
História. Aprendemos a trabalhar com as variáveis
temporais.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Ate que ponto pode considerar que a Historia não é prisioneira do


tempo cronológico?
2. Como se explica as abreviaturas aC na contagem do tempo em
História?

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

TEMA – III: A TEORIA DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO EM


HISTÓRIA: MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO EM HISTÓRIA

UNIDADE TEMÁTICA 3.1. MÉTODO DE INVESTIGAÇÃO EM


HISTÓRIA

Introdução

Como já foi demonstrado, o suporte de qualquer ciência


enquanto área de produção do conhecimento, assenta-se na
dimensão metodológica. Portanto, o método é uma
componente basilar.

Ao terminar este tem deverá ser capaz de:

 Conhecer a componente metodológica utilizada para a


produção do conhecimento histórico;
 Explicar a heurística da Hermenêutica.

Método

O que entende por método? Há relação entre o método e a


metodologia?

A palavra metodologia vem de método. O Método é o conjunto de


procedimentos que nos fazem chegar ao conhecimento histórico.
Como se produz o conhecimento Histórico. Atenção, as
informações a seguir são os fundamentos de um investigador ou
cientista na área de história. Então vamos aprender os passos.

Antes de tudo, temos que dominar a nossa inquietação, ou seja, o


que é que pretendemos saber, o investigar. De seguida temos que
procurar as fontes e trabalhar as fontes. O trabalho com as fontes
implica duas fases nomeadamente a Heurística que é a procura e
a selecção das fontes e a Hermenêutica também conhecida por

41
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

crítica histórica.

A escolha das fontes é o primeiro passo científico – o mais difícil


e perigoso. Com as fontes, o historiador constrói uma realidade
histórica que pode estar mais ou menos distantes dos traços
deixados para o momento que se estuda. A fonte não surge como
um dado; é o historiador que constitui o dado, interpretando a
fonte, dando-lhe um anexo no universo novo reconhecimento
histórico. No século XIX, Na história tradicional, o documento
era um dado que permitia descobrir um facto histórico,
constituído pelo historiador; o facto histórico era o objecto
histórico.
No século XX, a história nova alargou a noção do objecto:
historia global que se pretende total, história de estrutura e não
relativa de acção de certos homens definem objecto histórico
como “o conhecimento do passado dos homens tal como ele é
aprendido e representado pelo historiador.” O objecto histórico é
uma construção, uma representação do sujeito que conhece
representação coerente, integrada numa sucessão e no espaço. O
objecto da historia existe, mas indeterminado, intocado, quanto
ele é apreendido, é – ou como conhecimento, foi reformulado pelo
homem que o investiga – a historia não ressuscitou o passado que
– refere a Marc Bloch – nada consegue modificar porém, o seu
conhecimento é coisa em progresso e nem ininterruptamente se
transforma. O Objecto histórico alarga em função em evolução da
técnica do conhecimento histórico e do discurso ideológico da
época do historiador. Por que o historiador faz a história, define o
objecto de investigação de acordo com a sua experiencia, a
linguagem, o meio social e politico onde se situa.

UNIDADE Temática 3.2. Crítica em História

A crítica histórica se desdobra em duas fases. A primeira é a fase


da crítica externa e a segunda fase é a da crítica interna.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

A crítica externa tem como objectivos garantir a autenticidade e a


proveniência do documento, isto é, reconstituição data, forma do
documento, o material, etc);

-Enquanto isso, a crítica interna consiste na análise o testemunho,


o conteúdo, a sua credibilidade, a sinceridade, exactidão. Este
assunto será desenvolvido mais adiante. Contudo deve-se ter em
conta que o modelo, provém da concepção do positivismo no
século XIX. Assim, a crítica histórica era o centro do método
histórico. Aliás foi este facto que oferecia História algum espaço
no mundo das ciências. Refira-se igualmente que a metodologia
deste período incidia-se sobretudo aos documentos escritos.

Actualmente, o método foi alargado a outros campos para além do


documento escrito. Recorre-se também aos métodos de datação
como carbono catorze e outros métodos de radioactividade.
Acrescente-se também o recurso à estatística, a construção de
gráfico, ou seja, a metodologia histórica recorre a
interdisciplinaridade.

De um modo geral, as pré-respostas ou hipóteses relativas ao


questionamento que formulamos a priori, para dar inicio a
investigação, dá lugar o trabalho heurístico. Deste modo, o
historiador recolhe e selecciona as fontes. Na sequência temos a
fase da crítica. Esta fase apresenta-se como muito exigente. É
necessário que haja testemunhos divergentes. Mais do que a
crítica de credibilidade, a partir da sinceridade e da exactidão
torna-se relevante mas uma análise ideológica.

Para terminar, é necessário que o investigador em História faça


um esforço para um posicionamento baseado na Objectividade.
Isto significa que deve haver um foco na investigação de modos a
que sejam apresentados informações verdadeiras, coerentes e não
influenciadas propositadamente pelo investigador. A verdade

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

científica deve ser o principal compromisso do Historiador.

Crítica Externa na metodologia da História

Antes porém, é bom que se refira que a Critica externa é


fundamentalmente usada para documentos escritos. Aliás, ao
longo da história a preponderância que se deu aos documentos
escritos, apesar de ter sido negativo nalguns aspectos, conferiu a
existência do rigor na História. Na Critica externa também
chamada por crítica de autenticidade, procuram-se respostas para
as seguintes questões:

. Trata-se de um documento original ou de uma cópia?

. E um documento fidedigno ou apresenta falsidades?

No entanto é preciso prestar atenção para a complexidade que


algumas destas questões envolvem. Por exemplo: um documento
original pode conter falsidades ou, inclusivamente, ser falso. Ao
invés, uma copia pode reproduzir perfeitamente um original e ter
quase o mesmo valor que aquele, em particular se o original já
tiver desaparecido.

Entretanto, a crítica externa pode ainda subdividir-se em dois


tipos:

Critica de proveniência e critica de restituição.

A) Critica de proveniência

A crítica de proveniência ajudar a responder ao seguinte


questionário:

. Quem redigiu o documento?

. Quando e onde?

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

. Como?

. Por que vias o documento nos chegou?

Algumas vezes, o investigador, pelo menos aparentemente, tern a


tarefa facilitada. Isso sucede quando, no documento, se menciona
expressamente:

. O autor;

. O local e a data de elaboração.

Facilitará o trabalho o facto de o documento se encontrar no lugar


esperado. Estarão, nas circunstâncias mencionadas, os
documentos de certas instituições, caso apresentem os elementos
indicados e existam nos respectivos arquivos. Todavia, mesmo
nesses casos, há que adoptar a dúvida metódica cartesiana, para
averiguar se os dados se adequam a realidade. Como explica
Colingwood citado por Mendes (OP. Cit.), o historiador é critico,
mas não céptico pois um critico é uma pessoa apta e disposta a
reconstruir, para si, os pensamentos de outros para verificar se
foram pensados correctamente, ao passo que um céptico e uma
pessoa incapaz de fazer isso.

Com efeito, mesmo quando se dispõe de elementos expressos no


documento, deve-se questionar se o documento foi totalmente
elaborado pelo indivíduo cujo nome é indicado, ou houve dois
autores, um material (executor) e outro moral (que o concebeu e
mandou elaborar).

Por vezes, há necessidade de se recorrer a outros elementos dos


manuscritos como a:

. Extensão;

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

. Dedicatória;

. Data;

. Apresentação;

. Informações provenientes de outras fontes;

Critica interna

Depois de estudadas as questões fundamentais da crítica externa


no que respeita a proveniência e a restituição do documento, nesta
unidade é tratada ao outro importante ramo da crítica, isto é, a
crítica interna. A crítica interna é também chamada de crítica de
credibilidade

Através da crítica interna - frequentemente identificada corn a


hermenêutica, faz-se uma triagem entre o verdadeiro e o que não
se pode considerar como tal.

Entretanto, a crítica interna pratica-se através de cinco operações:

. Critica de interpretação;

. Critica de competência;

. Critica de veracidade;

. Critica de rigor;

. A verificação dos testemunhos.

A) Critica de interpretação

E necessário, em primeiro lugar, conhecer a língua da época em


que o documento foi elaborado e na qual esta redigido. Porém,
não basta conhecer a língua, é necessário ir alem do sentido literal
do texto, para apreender também:

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

. Hábitos de pensamento;

. Atitudes intelectuais;

. Formas de sentir, etc.

B) Critica de competência

Interessa examinar a qualidade do testemunho. Este deve


preferencialmente possuir as seguintes características:

:.Directo (sem intermediário);

Completo (visar a totalidade dos factos);

Em bruto (sem comentários subjectivos).

A crítica de competência, embora nascida e desenvolvida


em função dos documentos escritos, deve também exercer-
se relativamente aos testemunhos orais, ultimamente
reabilitados pela chamada história oral. Esta prende-se corn
testemunhos recolhidos directamente de fonte oral ou sob
registo oral.

C) Critica de veracidade

Há que averiguar, perante um documento, o que e


verdadeiro. Langlois e Seignobos defendiam, que em
história, como em toda a ciência, o ponto de partida deve
ser deve ser a dúvida metódica, a qual, aplicada a um
documento, se transforma em desconfiança metódica.

De novo surgem novas e outras questões como estas como:

. Não teria o autor do documento querido enganar o leitor

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

(historiador ou outro) ?

. Terá o autor do documento tido interesse em mentir?

. Terá sido obrigado a mentir?

. Há motivo para desconfiar da afirmação?

D) Critica de rigor

É necessário verificar o acordo, não só entre as testemunhas


como também entre os factos. A crítica de rigor afirma
Pierre Salmon, esforça-se por detectar os erros
involuntários na mente.

E) Verificação dos testemunhos

Aqui, o documento deve ser minuciosamente analisado, a


fim de se poder captar toda a sua riqueza informativa. E
preciso ler o texto tantas vezes quantas se tenha perguntas a
fazer-lhe; e preciso relê-lo dez, vinte, cem vezes.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

UNIDADE Temática 3.3. Método Comparativo

Esta é uma componente metodológica bastante importante.


Segundo Marc Bloch, este método pressupõe o levantamento de
semelhanças e diferenças em acontecimentos verificados em
espaços distintos para estudá-lo. Este método é utilizado pela
história na sua componente generalizada, na medida em que um
facto é único, e, portanto, torna-se pertinente demonstrá-lo, o que
só pode acontecer usando o método comparativo.

Entretanto, há necessidade de algum cuidado. Deve-se evitar


comparar sociedades muito distantes no tempo, para não se cair
em anacronismo, isto é, apresentar contextualizações temporais
distantes. Há necessidade de sempre retornar aos documentos da
época, sempre realizar esse círculo hermenêutico de leitura, para
confrontar as Ideias.

UNIDADE Temática 3.4. A INTERDISCIPLINARIDADE

Na abordagem metodológica da nossa ciência, isto é da História, é


preciso ter em consideração que necessitamos de outras áreas do
saber para a construção do conhecimento. Portanto não se produz
o conhecimento em história somente com os elementos da
cientificidade historiográficos. Precisamos dos saberes da
sociologia, economia, antropologia, ciência política, geografia,
etc. A relação que se estabelece entre estas áreas de saber chama-
se Interdisciplinaridade. O prefixo ‘inter’ dentre as diversas
conotações que podemos atribuir, tem o significado de ‘troca’,
‘reciprocidade’, e ‘disciplina’, de ‘ensino’, ‘instrução’, ‘ciência’.
Logo, a interdisciplinaridade pode ser compreendida como sendo
a troca, de reciprocidade entre as disciplinas ou ciências, ou

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

melhor áreas do conhecimento. (FEREIRA in FAZENDA, 1993,


p. 21-22)

Podemos, entretanto, perceber que a interdisciplinaridade


pretende garantir a construção de conhecimentos que rompam as
fronteiras entre as disciplinas. A interdisciplinaridade busca
também o envolvimento, o compromisso, a reciprocidade diante
dos conhecimentos, ou seja, atitudes e condutas interdisciplinares.

De acordo com Fazenda (1994), no seu livro


“Interdisciplinaridade: História, Teoria e Pesquisa”, a
metodologia interdisciplinar requer uma atitude especial ante o
conhecimento, que se evidencia no reconhecimento das
competências, incompetências, possibilidades e limites da própria
disciplina e de seus agentes, no conhecimento e na valorização
suficientes das demais disciplinas e dos que a sustentam. Nesse
sentido, torna-se fundamental haver indivíduos capacitados para a
escolha da melhor forma e sentido da participação e sobretudo no
reconhecimento da provisoriedade das posições assumidas, no
procedimento de questionar. Tal atitude conduzirá,
evidentemente, a criação das expectativas de prosseguimento e
abertura a novos enfoques. E, para finalizar, a metodologia
interdisciplinar parte de uma liberdade científica, alicerça-se no
diálogo e na colaboração, funda-se no desejo de inovar, de criar,
de ir além e suscita-se na arte de pesquisar, não objectivando
apenas a valorização técnico-produtiva ou material, mas
sobretudo, possibilitando um acesso humano, no qual desenvolve
a capacidade criativa de transformar a concreta realidade
mundana e histórica numa aquisição maior de educação em seu
sentido lato, humanizante e libertador do próprio sentido de ser no
mundo (FAZENDA, 1994, p. 69-70).

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Na abordagem sobre a Intedisciplinaridade existem 3


estratégias (Mendes 1993:20-21):

A estratégia global, aquela que junta todas as áreas e recebe


o nome de estudos sociais. 2. Estatégia parcial - Aquela que
resulta da junção de duas disciplinas resultando numa como é
o caso da História Política, História económica, etc..3.
Estatégia Éclética, Aquela em que as ciências se relacionam
entre si, de modos a que se busquem métodos e conceitos
para a produção do conhecimento científico. Portanto, na
construção do conhecimento histórico os historiadores usam
com frequência a estratégia ecléctica no contexto da
Interdisciplinaridade.

A Transdisciplinaridade

Esta palavra foi utilizada pela primeira vez por Jean Piaget,
filósofo e psicólogo suíço, em 1970. Ela quer dizer aquilo que se
encontra entre, através e além das disciplinas.

A transdisciplinaridade não significa apenas que as disciplinas


colaboram entre si. Significa também que existe um pensamento
organizador que ultrapassa as próprias disciplinas. É diferente de
interdisciplinaridade, que exemplificando através de uma
analogia, é basicamente como as nações unidas, que simplesmente
une para discutir os problemas particulares de cada região. Nisto a
transdisciplinaridade é mais integradora. Para haver essa dita
transdisciplinaridade, é preciso haver um pensamento
organizador, chamado pensamento complexo. Pela criação de
uma meta ponto de vista e não de um ponto de vista. O verdadeiro
problema não é fazer uma adição de conhecimento, é organizar
todo o conhecimento.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

SUMÁRIO

Nesta Unidade temática estudamos e discutimos a metodologia


aplicada a História enquanto ciência. Abordamos a particularidade
da metodologia de investigação em História. Trouxemos a tona
elementos ligados a Heurística e Hermenêutica

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Demonstre partindo de uma pesquisa da historia do


seu bairro, como é que se faz a pesquisa em
História, usando a dimensão metodológica desta
ciência?
2. Qual é a importância da Crítica na História?

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

TEMA – IV: FONTES DA HISTORIA

UNIDADE Temática 4.1. As Fontes em História e a sua dimensão

Introdução

Já sabe que o material de que o historiador se serve, na sua


profissão chama-se de forma genérica por fontes. Existem várias
palavras para traduzir a expressão fontes. São exemplos as
seguintes: Vestígios (arqueológicos, pré-históricos, etc.);
Monumentos (artísticos, arquitectónicos, industriais e
comemorativos); Testemunhos (geralmente apresentados como
prova de algo); Documentos; (Mendes1993:87-111)

UNIDADE Temática 4.2. CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES

Há várias maneiras de classificar as fontes.

1.Quanto a forma e ao Material existe:


Documentos escritos, – Temos documentos primários(não
processados como relatórios, textos avulsos, acordos,
legislação, etc) e documentos secundários (livros)
Documentos registados – Fotografias cinematografia,
Microfilme, imagens sonoras
Documentos figurados – (moedas, selos, fortalezas)

1. As fontes e a intencionalidade

Refira-se que quando se fala de tipologia de fontes pretende-se


dizer ou explicar a maneira como as fontes históricas podem ser
organizadas, classificadas e descritas. Deste modo podemos
destacar em qualquer tipo de classificação ou tipologia de fontes a
referência principal que permite assumir tal tipo de classificação.

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Assim, por exemplo, quanto a intencionalidade as fontes podem ser


conscientes e inconsciente

As conscientes normalmente são aquelas que são organizadas


com o propósito de servirem o futuro. Se forem escritas, elas são
escritas por pessoas que afirmam ter vivido e ou participado nos
factos que se tenciona estudar. Se forem, por exemplo, fontes
materiais, estas fontes são organizadas previamente com uma
intenção de servir para o conhecimento das gerações futuras.
Portanto, alguém ou um grupo de pessoas pode decidir organizar
um conjunto de informações ou materiais com objectivo de servir
as gerações dos próximos tempos relativamente ao conhecimento
de factos ou realidades por eles vividos, incluindo a sua
concepção em relação ao passado. No que diz respeito a
exemplos, destacam-se neste tipo de fontes as memórias, as
autobiografias, as narrativas de viagem, etc.

As fontes inconscientes são aquelas que chegaram até nós sem que
houvesse um propósito de que seriam assumidas como fontes.
Portanto, não houve intenção de organizar documentos e ou
materiais que pudessem servir de fontes no futuros. Normalmente
esse tipo de fonte pode ser achado por acaso. Muitas vezes, a
constituição destas fontes ocorre no processo de investigação,
concretamente na heurística. Por exemplo, pode-se encontrar uma
camada arqueológica com vários vestígios, porém sem qualquer
relação entre si. Deste modo, o Investigador deverá recolher aqueles
que se relacionam com a sua pesquisa. É um trabalho que
caracteriza a investigação em História.

UNIDADE Temática 4.3. As fontes e os diversos ambientes de


conservação e Preservação

Uns dos elementos fulcrais na História, ou seja, na produção do

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

conhecimento Histórico são as fontes. Pela importância, as fontes


constituem elementos que devem ser preservados.

A preservação das fontes exige locais apropriados e recursos


humanos especializados. Assim, existem várias instituições para a
preservação das fontes como:

Cinematecas - destinadas a a preservar os filmes;

Filmotecas destinadas a conservação e guarda de filmes e


microfilmes;

Fonotecas – preservam documentos sonoros de vários tipos;

Discotecas - destinadas a conservação de discos ou seja, é um


arquivo sonoro;

Hemerotecas – destinadas a conservação de publicações


periódicas;

Museus

Na sua origem, um museu era um templo das Musas da


memória, uma das filhas de deusa da memória Mnemosine com
Zeus.

Os museus modernos dedicam-se a temas específicos, como por


exemplo história natural, belas-artes, antropologia, artes
aplicadas, arqueologia, etnologia, história, história cultural,
ciência, tecnologia, Artesanato e indústria, comunicação e
transportes, de índole religiosa, etc. Dentro destas categorias
alguns especializam-se mais, como por exemplo: arte moderna,
ecomuseus, industriais, de história local, da história da aviação, da
agricultura ou da geologia.

Os museus são instituições especializadas, e, por isso, necessitam


de mão-de-obra qualificada, como museólogos ou curadores,

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

restauradores e outros profissionais, capazes de manter a


conservação do acervo. Normalmente, o Museu é dirigido
geralmente por um curador, quem tem uma equipa de
funcionários que cuidam dos objectos e arranjam sua exposição.
Muitos museus associaram-se aos institutos de pesquisa, que são
envolvidos frequentemente com os estudos relacionados aos
artigos do museu. Eles são geralmente abertos ao público por uma
taxa. Alguns têm a entrada livre, permanentemente ou em dias
especiais, por exemplo uma vez por semana ou ano.

Bibliotecas

A palavra tem origem grega bibliothéke, «depósito de livros» e


origem latina bibliothôca, «biblioteca».

As primeiras bibliotecas apareceram há bastante tempo, na


Mesopotâmia, em 3000 A.C. Elas tinham a responsabilidade de
guardar e manusear o material escrito.

Porém, quando surgiram as grandes universidades no séc. XIII,


houve igualmente o aparecimento de bibliotecas dos colégios e
universidades. Contudo, nos sécs. XIV e XV concebeu-se a ideia
de que as bibliotecas seriam locais de estudo e de reflexão, que
tivessem, para além de livros, um ambiente propício ao
desenvolvimento de actividades intelectuais. Posteriormente, um
estudioso chamado Melvil Dewey afirmou que a biblioteca
pública não era apenas um depósito, mas também era fonte.

Arquivo

A palavra Arquivo vem do latim archívum, lugar onde se


guardam os documentos) - é um conjunto de documento ou
recebidos por uma organização, firma indivíduo, que os mantém
ordenadamente como fonte de informação execução de suas
actividades. Nele são guardados documentos escritos,

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

fotográficos, microfilmes.

São documentos preservados pelo arquivo podem ser de vários


tipos e em vários suportes. As entidades que mantêm os arquivos
podem ser públicas, institucionais, comerciais e pessoais.

Em Moçambique existe o Arquivo Histórico de Moçambique, que


faz parte da Universidade Eduardo Mondlane.

No entanto, não é prudente afirmar que uma instituição é a mais


importante que a outra. Por outro lado, a lista aqui apresentada
não esgota os lugares de conservação das fontes históricas.

SUMÁRIO

Nesta Unidade temática estudamos fundamentalmente o papel das


fontes em História. Fizemos uma abordagem sobre a sua
classificação bem como a conservação. Quanto a conservação
foram apresentados diversas instituições vocacionadas para o
efeito.

Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Demonstre partindo de uma pesquisa da história do


seu bairro, Estabeleça a diferença entre fontes
conscientes da fontes inconscientes?
2. Explique a pertinência dos arquivos e bibliotecas
na história?

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

TEMA – V: SINTESE EM HISTORIA

UNIDADE Temática.5.1. Dimensão da síntese em História

A História é de facto uma Ciência. O processo de Investigação em


História termina com uma Síntese. Esta síntese pode dar origem a um
livro de História, a uma revista, etc. Seriam portanto, uma forma de
texto que tratam da História como produto de alguma investigação.

UNIDADE Temática.5.2. Princípios da síntese em História

A componente científica da História impõe que se observe alguns


princípios que compõe a Síntese em História. Existem assim, os
princípios gerais e os princípios específicos.

Princípios gerais da Síntese em História

Sob ponto de vista de princípios gerais uma síntese em História


deve ter as seguintes características:

 Clareza;
 Exactidão

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ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

 Respeito pelas fontes.

Neste contexto, é recomendável que o pesquisador apresente no


seu texto, uma indicação precisa e correcta das fontes. Além
disso, convém que na síntese haja uma verificação das hipóteses
ou do modelo de investigação criado para a investigação.
Finalmente, há que ter em conta a dimensão da Objectividade,
pois apesar de ser um exercício exigente, ao historiador e-lhe
pedido para não influenciar de modo deliberado. Ademais, o
historiador deve ser crítico.

Princípios específicos

Em termos mais específicos, recomenda-se na síntese que a


apresentação do tema respeite o quadro cronológico (temporal) e
geográfico (espacial) seleccionado. Isto significa que é preciso
seguir fielmente a delimitação temporal e espacial. Não deve
acontecer que a abordagem se distancie do período e do espaço
que é anunciado no título.

Além disso, é necessário enquadrar a história, ou seja, ou seja o


resultado da sua pesquisa no modelo de história. O historiador
deve ter uma boa base de cultura geral e cultura histórica.

UNIDADE Temática.5.3. Teoria da História

A nossa ciência depende da Teoria. Aliás, segundo Mendes


(1993: 201-203), sem teoria não há história. Alias, Croce, citado
por Mendes na mesma obra, explica que os factos demonstram a
teoria e a teoria demonstra os factos.

A teoria da história está relacionada com a explicação da História.

Assim existem 3 tipos de Explicação a saber: Explicação positiva,


Racional e Narrativa.

A explicação positiva refere que na explicação dos factos

59
ISCED CURSO: ENSINO DE HISTÓRIA; 10 Ano Disciplina/Módulo: EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Históricos apenas devem estar presentes os factos históricos.

A explicação Racional é aquela que segue a intenção, as normas e


propósitos a que se destina a investigação de um tema em História

A Explicação é aquela que apresenta uma dimensão cronológica


sólida e focaliza-se no essencial do tema em análise

SUMÁRIO

Nesta Unidade temática estudamos a síntese em História como


uma das fases importantes na construção do conhecimento
científico nesta área do saber. Foram apresentados os princípios
gerais e específicos da Síntese em História. Uma vez que a síntese
está relacionada com a explicação em História foi apresentada a
tipologia da explicação em História.

OBJECTIVIDADE CIENTIFICA EM HISTORIA

Como foi atrás referido, a História não raras vezes foi julgada
tendo como modelo os pressupostos das ciências naturais. Parte-
se do princípio segundo o qual, as ciências naturais e exactas são
objectivas. Se atender que durante o século XIX para se ser
ciência era necessária a objectividade ligada a verdade científica,
a história nem sequer era considerada como tal. Hoje a
objectividade em história contínua sendo preponderante, mas em
História a Objectividade não se vislumbra como um dado, porém
como algo que, por alcançar. Todavia esta, quando referente a
ciência histórica, não se apresenta como um dado, mas sim como
algo a alcançar. Aliás, segundo J. Le Goff: A objectividade em
história constrói-se pouco a pouco através de revisões incessantes,
bem como de laboriosas verificações sucessivas além da
acumulação de verdades parciais.

Uma vez que a objectividade da história é particular é conveniente

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afirmar que o conceito que se adequa a tal subjectividade e a


intersubjectividade. A intersubjectividade adapta-se perfeitamente
a, ciência histórica, devido as suas características.

Em suma, trata-se de o trabalho científico ser validado e


sancionado adquirindo assim certa objectividade pelos
historiadores profissionais, ou seja, por aqueles que conhecem
bem o ofício de historiador. Para tal, recorrerão aos juízos
históricos, formulando, segundo Mommsen, interrogações
tendentes a saber se foram observados os procedimentos
metodológicos. Relativas as fontes, e outros elementos técnicos.
A isso acrescente-se questões como:

b) Ate que ponto estes juízos históricos se aproximaram de uma


integração óptima de todos os dados históricos possíveis? c) Os
modelos explícitos ou subjacentes de explicação são rigorosos,
coerentes e não contraditórios?

Mendes (1993), cita a advertência de Dewey que diz que ser


intelectualmente objectivo é descontar e eliminar os factores
meramente pessoais nas operações pelas quais se chega a uma
conclusão.

Para se fazer uma boa história, deve-se ser honesto, não ocultar
nada que se saiba ter acontecido. O historiador que coloca sua
ideologia ou seu sistema explicativo acima da História, tem diante
de si a tentação de preferir factos que se ajustem à sua ideia
(TUCHMANN, 1989: 15), e ocultar o que sabe que pode fazer
com que seu leitor discorde dele. Além de se tratar de uma recusa
deliberada de saber, um medo de compreender, nesses casos, ele é
um propagandista político, nunca um historiador. Para esses, a
História é apenas um instrumento a serviço de uma causa, não um
fim em si. Sua História não é confiável.

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Para que isso não aconteça, para que a prática do historiador seja
verdadeira, para que sua paixão seja racional e não obscureça sua
capacidade de pensar e de julgar, deve-se ter amor ao passado,
não esperar nada dele, não querer que ele tenha sido outra coisa a
não ser o que ele realmente foi. Se por um lado não podemos
ocultar nada que saibamos ter acontecido, por outro, não devemos
ter um comportamento de suspeita e de malícia e querer ver o que
não está escrito, subentendendo tudo o que está registado como
um depoimento de segundas intenções. Henri Marrou (1904-
1977) definiu muito bem a atitude do verdadeiro historiador: não
podemos ter com as testemunhas do passado uma atitude
rabugenta e carrancuda, como se elas estivessem a priori
mentindo e ocultando algo. Essa, para o historiador francês, é a
atitude do mau investigador, para quem todos são culpados até
prova em contrário. Devemos ter uma posição oposta, pois em
História realizamos uma investigação retrospectiva, ou, como
denominou Carlo Ginzburg (1939 ), o paradigma indiciário
(GINZBURG, 1991: 171).

A suspeita a priori das fontes, ao invés de ser uma qualidade, é


uma superexcitação do espírito crítico. Quando o historiador age
dessa forma, não consegue reconhecer o significado real, o
alcance, a profundidade e o valor dos documentos que estuda.
Uma atitude desse tipo é tão doente e perigosa em História como
na vida quotidiana. Nesse caso, o historiador é como aquela
pessoa que sempre vive desconfiada, com medo de ser enganada
ou iludida (MARROU, 1978: 78-79), um pouco semelhante a um
número não desprezível de colegas professores universitários.

Perspectiva Histórica da actualidade

Enquanto a Historia Nova pretende minimizar o acontecimento,


sabendo – o controlado pelas vagas de fundo das estruturas e da
longa duração, os mass-media ressuscitam o acontecimento
histórico no momento actual que é apresentado como

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acontecimento histórico.

Cada vez mais, não há acontecimento sem os média. Os média


promovem o acontecimento vivido a histórico; segundos depois
ele o é de facto, e poderá vir a determinar a sua interpretação no
futuro não pelo próprio acontecimento, mas pelo modo como foi
vivido para ser visto, ouvido.

Actualmente já não são os historiadores que constroem o


acontecimento histórico, valiando-o valorando-o, inserindo-o num
nexo previamente estabelecido.

A Historia do presente está inundada de informação; quem


selecciona a informação é o jornalista, e assim ele se transforma
em historiador. Um historiador que promove um imaginário de
massas.

Entretanto, actualmente novos temas vêm tendo bastante força no


campo dos estudos históricos. A História oral, a Micro-história e a
História Cultural são alguns dos novos campos de actuação dessa
área do conhecimento. A micro-história constitui uma prática
metodológica que possibilita, por meio do jogo de escalas de
análise, a apreensão de aspectos que passariam despercebidos em
escalas macroanalíticas, em análises estruturais, quantitativas e
seriais.

Esta abordagem pressupõe uma forma específica de trabalhar com


objectos históricos de abrangência reduzida, sem no entanto
ocasionar uma perda do rigor investigativo. Tal como proposto
por Jacques Revel (1998), a Micro-História consiste em uma
forma de investigar o objecto histórico de maneira “intensiva”, ou
seja, os pequenos objectos são analisados na

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sua totalidade, tomados como “micro-universos”, os quais ainda


que sofram influências dos aspectos macro da realidade
(notadamente em nível político e económico) possuem um poder
de explicação único, e que não pode ser obtido com o
redimensionamento a uma escala maior.

Entretanto, apesar do debate em torno da relevância da história,


Costa (2004) afirma que esta área do saber pode ser buscada
quando queremos uma explicação para algo no presente. Esse é o
passado prático, como afirma o historiador Michael Oakeshott
(1901-1990).

No entanto, esse passado é restrito ao nosso pequeno universo, à


nossa família, cidade, país. E essa perspectiva é pobre,
paupérrima. Ela impede o historiador de abrir suas possibilidades
intelectuais, limita seu olhar para o passado ao alcance de seus
olhos, ao seu horizonte restrito. Por exemplo, nessa visão, um
moçambicano não poderia estudar a cultura chinesa, pois ela de
nada explica o presente de nosso estado nacional.

Por isso, o História é sobretudo um passado histórico, aquele


passado que é buscado pelo sincero desejo de saber, de conhecer,
de entender (OAKESHOTT, 2004). Ele é um passado por si, e é
ele quem forja o verdadeiro historiador. Só com essa amplitude e
generosidade podemos fazer com que a compreensão do outro se
realize plenamente e a História cumpra seu papel: fazer do
historiador um intelectual.

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Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO

1. Demonstre partindo de uma pesquisa da história do


seu bairro, explique quais os princípios da síntese
que deverá usar?
2. Demonstre a relação entre os diversos tipos de
explicação em História?

BIBLIOGRAFIA
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Alves, 1989.
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