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Módulo de Metodologia de Pesquisa

Introdução à
investigação científica

Ensino à Distância

Universidade Pedagógica

Rua Comandante Augusto Cardoso nº 135


Direitos de autor (copyright)
Este módulo não pode ser reproduzido para fins comerciais. Caso haja necessidade de
reprodução deverá ser mantida a referência à Universidade Pedagógica e aos seus Autores.

Universidade Pedagógica

Rua Comandante Augusto Cardoso, nº 135


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Agradecimentos

À COMMONWEALTH of LEARNING (COL) pela disponibilização do Template usado na


produção dos Módulos.

Ao Instituto Nacional de Educação a Distância (INED) pela orientação e apoio prestados.

Ao Magnífico Reitor, Directores de Faculdade e Chefes de Departamento pelo apoio prestado


em todo o processo.
Ficha Técnica

Autores: Emília Afonso

Mário Suarte Baloi

Desenho Instrucional: Suzete Buque

Maquetização: Fátima Nhantumbo

Edição: Anilda khan

Revisão Linguistica: Jerónimo Simão


Introdução à investigação científica Ensino à Distância i

Índice

Visão geral 1
Bem-vindo ao módulo de metodologia de pesquisa científica ......................................... 1
Objectivos do curso .......................................................................................................... 2
Plano Temático ................................................................................................................. 2
Quem deveria estudar este módulo ................................................................................... 3
Como está estruturado este módulo .................................................................................. 3
Ícones de actividade .......................................................................................................... 4
Acerca dos ícones .......................................................................................... 4
Habilidades de estudo ....................................................................................................... 6
Precisa de apoio? .............................................................................................................. 7
Tarefas (avaliação e auto-avaliação)................................................................................. 7
Avaliação .......................................................................................................................... 7

Unidade 1: 9
Noções Preliminares - Construção do Conhecimento Científico ..................................... 9
Introdução ......................................................................................................................... 9

Lição no1 11
Experiência ..................................................................................................................... 11
Introdução.............................................................................................................. 11
Experiência ............................................................................................................ 13
Sumário ........................................................................................................................... 16
Exercícios........................................................................................................................ 17

Lição no2 18
Argumentação ................................................................................................................. 18
Introdução.............................................................................................................. 18
Argumentação ....................................................................................................... 19
Argumentação por via de raciocínio indutivo ..................................... 19
Comparação da condução da corrente eléctrica de diferentes materiais
(alumínio, ferro, madeira, plástico, papel). .................................................. 20
O método hipotético-deductivo ............................................................................. 21
Método hipotético-dedutivo. ............................................................... 22
Argumentação por via do método de raciocínio dedutivo ................... 25
Sumário ........................................................................................................................... 26
Exercícios........................................................................................................................ 27

Lição no3 30
Pesquisa ou Investigação científica ................................................................................ 30
Introdução.............................................................................................................. 30
Pesquisa/Investigação científica ............................................................................ 31
ii Índice

Observação sistemática ......................................................................................... 31


Sumário ........................................................................................................................... 35
São funções da pesquisa: ............................................................................. 35
Exercícios........................................................................................................................ 37

Unidade 2 39
Revisão da Literatura ...................................................................................................... 39
Introdução.............................................................................................................. 39

Lição no1 41
Técnicas de Leitura e da Pesquisa Bibliográfica ............................................................ 41
Introdução.............................................................................................................. 41
Técnicas de leitura ....................................................................................... 42
Sumário ........................................................................................................................... 44
Exercícios........................................................................................................................ 45

Unidade 3 46
Projecto de Pesquisa ....................................................................................................... 46
Introdução.............................................................................................................. 46

Lição no1 48
Anteprojecto de pesquisa ................................................................................................ 48
Introdução.............................................................................................................. 48
Sumário ........................................................................................................................... 52
Exercícios........................................................................................................................ 53

Lição no2 54
Termos de Referência de um Projecto final ou definitivo de Pesquisa .......................... 54
Introdução.............................................................................................................. 54
A Importância da investigação – funções da pesquisa .......................................... 56
Etapas do método de pesquisa ..................................................................... 58
Sumário ........................................................................................................................... 59
Uma investigação pode ser para: ................................................................. 59
Etapas do método de pesquisa ..................................................................... 59
Exercícios........................................................................................................................ 60
Trabalhos Académicos .................................................................................................... 61
Introdução.............................................................................................................. 61

Lição no1 64
Documentos científicos................................................................................................... 64
Introdução.............................................................................................................. 64
Documentos científicos................................................................................ 64
Trabalho de Pesquisa ............................................................................................. 65
Exemplos de Padrões ................................................................................... 66
Sumário ........................................................................................................................... 67
Exemplos de Padrões ................................................................................... 67
Introdução à investigação científica Ensino à Distância iii

Exercícios........................................................................................................................ 68

Lição no2 69
Monografia científica ...................................................................................................... 69
Introdução.............................................................................................................. 69
Monografias cientificas................................................................................ 70
A Monografia versus Pesquisa científica ..................................................... 70
Estrutura básica ............................................................................................ 71
Explicações sobre alguns elementos da estrutura básica dos trabalhos ....... 72
Apresentação gráfica da monografia ........................................................... 74
Quando compilado o seu projecto deverá comportar as seguinte partes
constituintes: ................................................................................................ 75
Sumário ........................................................................................................................... 77
Exercícios........................................................................................................................ 79

Lição no3 80
Normas e Procedimentos da Monografia na UP ............................................................. 80
Introdução.............................................................................................................. 80
Sumário ........................................................................................................................... 83
Exercícios........................................................................................................................ 83

Lição no4 84
Tema da pesquisa ............................................................................................................ 84
Introdução.............................................................................................................. 84
Sumário ........................................................................................................................... 88
Exercícios........................................................................................................................ 89

Lição no5 90
Problema da Pesquisa ..................................................................................................... 90
Introdução.............................................................................................................. 90
Definição de problema ................................................................................. 91
Problema versus questão científica: “estratégia da pirâmide invertida” ...... 94
Problema pesquisável? ................................................................................. 95
Sumário ........................................................................................................................... 96
Problema pesquisável................................................................................... 97
Definição de problema ................................................................................. 97
Processo de formulação do problema .......................................................... 97
Fontes de consulta para identificação do problema ..................................... 97
Exercícios........................................................................................................................ 98

Lição no6 99
Fundamentação Teórica e Hipóteses da Pesquisa........................................................... 99
Introdução.............................................................................................................. 99
Fundamentação teórica ........................................................................................ 100
Hipóteses da Pesquisa ................................................................................ 102
Hipótese de pesquisa ........................................................................................... 104
iv Índice

Sumário ......................................................................................................................... 105


Exercícios...................................................................................................................... 106

Lição no7 108


Justificativa e objectivos da pesquisa ........................................................................... 108
Introdução............................................................................................................ 108
Justificativa da Pesquisa ...................................................................................... 109
Sumário ......................................................................................................................... 114
Exercícios...................................................................................................................... 116

Lição no8 117


Métodos de pesquisa ..................................................................................................... 117
Introdução............................................................................................................ 117
O método científico.................................................................................... 121
Métodos empíricos versus Teoria........................................................................ 122
Teoria ......................................................................................................... 123
Escolha do Método .............................................................................................. 123
Variáveis .................................................................................................... 126
Método da experimentação experimental nas ciências físicas (I) .............. 132
Método da experimentação experimental nas ciências físicas (II) ............ 133
Métodos empíricos (II) .............................................................................. 133
Métodos qualitativos .................................................................................. 134
Algumas limitações da investigação quantitativa em educação ........ 134
Métodos quantitativos ................................................................................ 136
Sumário ......................................................................................................................... 138
Exercícios...................................................................................................................... 140

Lição no9 141


Critérios de demarcação científica ................................................................................ 141
Introdução............................................................................................................ 141
CRITÉRIOS INTERNOS DA CIÊNCIA .................................................. 142
Critérios de avaliação da pesquisa quantitativa ................................. 143
Sumário ......................................................................................................................... 144
CRITÉRIOS INTERNOS DA CIÊNCIA (todos se interpenetram) .......... 144
Critérios de avaliação da pesquisa quantitativa ................................. 145
Exercícios...................................................................................................................... 145
Referência Bibliográfica...................................................................................... 146
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 1

Visão geral

Bem-vindo ao módulo de
metodologia de pesquisa
científica

Você vai iniciar o estudo do presente módulo começando por desenvolver


as noções gerais e preliminares da pesquisa científica. As noções gerais
referem-se, neste caso, à teoria sobre a maneira como o ser humano
adquire o conhecimento. Por outras palavras, à teoria sobre a construção
do conhecimento. No fundo, é uma breve introdução à epistemologia. A
partir destas bases, espera-se que você aprenda a distinguir a pesquisa
científica de outras actividades de construção do conhecimento. Assim,
você vai compreender que a pesquisa científica destina-se a desenvolver
o conhecimento “certo” ou “racional” sobre a natureza das coisas, dos
factos e dos fenómenos ou sobre as condições da sua existência.

No estudo do presente módulo, você vai aprender a ter em conta os


conceitos e a teoria da ciência. Por exemplo, na seguinte afirmação
“desenvolver um conhecimento sobre a natureza das coisas, dos factos e
Reflexão fenómenos” os termos ‘facto’ e ‘fenómeno’ não são uma mesma coisa.

Assim este módulo deveria permitir que você se aperceba de que as


ciências se baseiam na investigação. Para isso, ela precisa de ser metódica
e sistemática para poder elaborar as generalizações ou as leis dos
fenómenos (naturais/sociais). Portanto, você será solicitado a demonstrar
no final do módulo novas competências, em termos de elaboração de
anteprojectos e, finalmente, de um projecto final de pesquisa científica
relacionado com um tema específico à sua escolha de modo a poder
elaborar uma monografia científica.
2

Caro estudante, este módulo de investigação científica fornece


informações básicas sobre como elaborar um projecto de pesquisa. Você
vai se iniciar na área de pesquisa. O módulo aborda passo a passo as
partes que devem constituir um projecto de pesquisa.

Objectivos do curso

Quando terminar o estudo do módulo de metodologia de pesquisa será,


capaz de:

 Mostrar o domínio de conhecimentos básicos sobre a pesquisa


científica e, especificamente, sobre a metodologia científica;

 Apresentar, na elaboração de relatórios, monografias e artigos


Objectivos científicos, o uso correcto de normas de apresentação de
trabalhos científicos e dos procedimentos de referência
bibliográfica de acordo com padrões definidos

 Demonstrar habilidades gerais para conceber um projecto de


pesquisa, compilando-o pelas várias partes que o constituem.

 Demonstrar capacidades para conduzir ou por um projecto final


em funcionamento

Plano Temático

O plano temático é constituído por quatro unidades, que a seguir se


indicam:

Unidades

1 Noções Preliminares – Construção do Conhecimento


Científico

2 Revisão da Literatura
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 3

3 Projecto de Pesquisa

4 Trabalhos académicos

Quem deveria estudar este


módulo

Este módulo foi concebido para você como estudante do primeiro ou do


segundo semestre do curso de formação de professores para o ensino de
ciências naturais. O presente módulo serve também como material de
estudo para estudantes de outros cursos, conquanto os exemplos
apresentados no texto, se referem em grande parte, às áreas de ensino de
física e de química.

Como está estruturado este


módulo

Todos os módulos dos cursos produzidos pela Universidade Pedagógica


encontram-se estruturados da seguinte maneira:

Páginas introdutórias

Um índice completo.

Uma visão geral detalhada do curso / módulo, resumindo os aspectos-


chave que você precisa de conhecer para completar o estudo.
Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de
começar o seu estudo.
4

Conteúdo do curso / módulo

O curso está estruturado em unidades. Cada unidade incluirá uma


introdução, objectivos da unidade, conteúdo da unidade incluindo
actividades de aprendizagem, um summario da unidade e uma ou mais
actividades para auto-avaliação.

Outros recursos

Para quem esteja interessado em aprender mais, apresentamos uma lista


de recursos adicionais para você explorar. Estes recursos podem incluir
livros, artigos ou sites na internet.

Tarefas de avaliação e/ou Auto-avaliação

As tarefas de avaliação para este módulo encontram-se no final de cada


lição ou unidade.

Comentários e sugestões

Esta é a sua oportunidade para nos dar sugestões e fazer comentários


sobre a estrutura e o conteúdo do curso / módulo. Os seus comentários
serão úteis para nos ajudar a avaliar e melhorar este curso / modulo.

Ícones de actividade

Ao longo deste manual, irá encontrar uma série de ícones nas margens
das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do
processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de
texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.

Acerca dos ícones

Os ícones usados neste manual são símbolos africanos, conhecidos por


adrinka. Estes símbolos têm origem no povo Ashante de África
Ocidental, datam do século 17 e ainda se usam hoje em dia.

Pode ver o conjunto completo de ícones deste manual já a seguir, cada


um com uma descrição do seu significado e da forma como nós
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 5

interpretámos esse significado para representar as várias actividades ao


longo deste curso / módulo.

Comprometimento/ Resistência, “Qualidade do “Aprender através


perseverança perseverança trabalho” da experiência”
(excelência/
autenticidade)

Actividade Auto-avaliação Avaliação / Exemplo /


Teste Estudo de caso

Paz/harmonia Unidade/relações Vigilância / “Eu mudo ou


humanas preocupação transformo a minha
vida”
Debate Actividade de
Tome Nota! Objectivos
grupo

[Ajuda-me] deixa- “Pronto a enfrentar “Nó da sabedoria” Apoio /


me ajudar-te” as vicissitudes da encorajamento
vida”

Leitura (fortitude / Terminologia Dica


preparação)

Reflexão
6

Habilidades de estudo

Caro estudante, o módulo de metodologia de pesquisa vai exigir muita


dedicação da sua parte. O caminho para que você possa alcançar os
objectivos deverá basear-se na tarefa fundamental de encontrar um estilo
próprio de trabalho e aprendizagem. Você tem a tarefa de se basear num
plano de trabalho para poder manter um nível de actividade diária e
semanal aceitável. De modo geral não existe um plano para consultar o
docente, pelo que você poderá fazê-lo sempre que tiver alguma
dificuldade. Para além disso, no estudo de cada módulo estão previstas
algumas tutorias obrigatórias que ocorrem nos centros de recurso. Criar
condições adequadas no local de trabalho (local de estudo) e conciliar os
trabalhos de grupo com o estudo individual. É fundamental que você seja
capaz de garantir logo à partida a acessibilidade aos conteúdos previstos
no programa e auxiliar-se de livros recomendados no curso e preparar-se
de forma adequada para atender às características diferenciadas dum
exame prático. Uma vez que a formação é baseada em módulos, o
domínio das técnicas de leitura torna-se essencial para compreender a
literatura científica de modo a aumentar a eficiência de trabalho. Nenhum
módulo de metodologia de pesquisa será suficiente para introduzir os
conhecimentos e as habilidades necessárias sem a sua própria de se
engajar em actividades de aprendizagem previstas no curso. Na medida
do possível, haverá aulas compiladas de demonstrações experimentais
que serão orientadas pelo tutor do módulo, pelo menos, uma vez por
semestre. Uma maneira que você poderá usar para medir os resultados de
aprendizagem deste módulo advém directamente das suas capacidades de
elaborar um bom projecto de pesquisa e realizar uma boa pesquisa
culminando com apresentação de uma boa monografia científica. Isso é
também o que a equipa de autores deste módulo deseja para você.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 7

Precisa de apoio?

Sempre que tiver uma dúvida persistente, coloque-a aos outros colegas do
curso mais próximos de si, aos tutores, ou alguém por si conhecido e que
tenha conhecimentos da matéria em questão.

Tarefas (avaliação e auto-


avaliação)

As tarefas de auto-avaliação são tarefas fundamentais para que você


demonstre o sucesso da aprendizagem. Certamente que algumas dessas
tarefas são mais de reprodução do conhecimento, mesmo assim é
importante que você mostre um bom desempenho. As tarefas destinam-se
a apoiar você na repetição e sistematização da aprendizagem. Regra
geral, essas tarefas não requerem novos aspectos senão a explicação do
que você aprendeu. Você deveria preocupar-se em realizar cabalmente as
tarefas propostas. Um aspecto muito importante, é que as tarefas estão
relacionadas com um grupo de actividades. Essas actividades devem ser
realizadas. Geralmente, sugere-se ao longo do texto, que as actividades
sejam realizadas antes de prosseguir com a leitura do módulo.
Procedendo assim, você teria a oportunidade de comparar as suas
respostas e as afirmações apresentadas no texto do módulo. Isso tornaria
o seu estudo mais participativo.

Avaliação

Como você já se apercebeu, torna-se necessário para garantir o sucesso


de aprendizagem deste módulo que você realize com dedicação as tarefas
específicas e as actividades de aprendizagem aqui sugeridas.
Resumidamente, são tarefas fundamentais para que você demonstre
competências para escolher uma área e um tema de pesquisa. Que você
possa identificar um problema específico nessa área. Saber definir
8

objectivos da pesquisa e identificar os métodos que permitam a colecta de


dados e apresentação de alternativas ou soluções são algumas das tarefas
centrais da pesquisa científica. O projecto de pesquisa que você vai
elaborar deverá vislumbrar a possibilidade de compreensão da maneira e
da forma como o autor vai estudar um dado problema e encontrar as
soluções possíveis.

A avaliação será contínua e baseada em trabalhos escritos. As fases


principais são duas e envolvem a fase de elaboração do anteprojecto e a
fase da elaboração do projecto final. Também aceitamos a subdivisão por
duas fases a elaboração do projecto final. A elaboração do projecto final
contempla várias subclasses..

A avaliação vai centrar-se também em relatórios sobre resultados de


actividades de aprendizagem de trabalhos de grupo e individuais.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 9

Unidade 1:

Noções Preliminares - Construção


do Conhecimento Científico

Introdução

Você vai iniciar um estudo fundamental para a compreensão da natureza


da ciência. O objecto de estudo desta unidade sobre noções preliminares
envolve basicamente a questão da construção do conhecimento científico.
Este é um aspecto fundamental para todo e qualquer cientista iniciante ou
sénior. Você vai aperceber-se de que a presente unidade procura
estabelecer as bases gerais sobre o processo de construção do
conhecimento fundamentado na metodologia de pesquisa científica.
Trata-se de uma introdução destinada a desenvolver noções preliminares
sobre a problemática da metodologia de pesquisa.

Ao completar esta unidade você será capaz de:

Demonstrar conhecimentos gerais sobre os diferentes tipos de


conhecimentos (empírico, cientifico);

Objectivos Explicar o papel da pesquisa cientifica como estando relacionado com a


busca da compreensão da natureza dos factos e dos fenómenos sociais
(incluindo os educacionais) e/ou do meio ambiente (natureza).

Identificar que a questão central da pesquisa científica está relacionada


com a forma e a maneira como é obtido em geral o conhecimento (o
chamando científico);

Distinguir pesquisa científica das outras formas de construção do


conhecimento;
10

Factos, fenómenos da natureza e fenómenos sociais, culturais e


educacionais, senso comum, verdade, conhecimento científico,
metodologia científica, experiência, experimentação, argumentação
indutiva, hipotético-dedutiva, método experimental, variáveis e atributos,
Terminologia
explicação científica.

Esta unidade comporta as seguintes lições:

1) Construção do conhecimento – experiência

[Esta lição vai precisar de cerca de 4 lições de trabalho que vão


totalizar cerca de 200 minutos de trabalho independente. Cada aula de
estudo está prevista para durar cerca de 50 minutos]

2) Construção do conhecimento – argumentação

Tempo de estudo da
[Esta lição vai precisar de cerca de 4 lições de trabalho que vão
Unidade: 10 lições de
totalizar cerca de 200 minutos de trabalho independente]
trabalho independente
3) Construção do conhecimento – pesquisa cientifica

[Esta lição vai precisar de cerca de 2 lições de trabalho que vão totalizar
cerca de 10 horas de trabalho independente]

Você precisará para aprendizagem desta unidade um total de cerca de 500


minutos de trabalho independente que perfazem cerca de 10 lições.

Uma disciplina presencial com 6 horas por semana necessitaria de 24


horas ao longo de um mês. Isso equivale a 1200 minutos. Com 500
minutos, você está a 41% desta carga de trabalho. Portanto, não é uma
Reflexão carga elevada de trabalho. Uma vez que você está envolvido em outras
actividades de aprendizagem e laborais, procure manter, pelo menos, esta
carga dentro do padrão do seu ritmo de trabalho.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 11

Lição no1

Experiência

Introdução

Você vai iniciar esta lição colocando-se a si mesmo uma questão central
da pesquisa científica que está relacionada com a maneira como é obtido,
em geral, o conhecimento. Você pode indagar-se sobre como é que
construímos o conhecimento que temos. Como é que se aprende a
conhecer o mundo em que vivemos? Você pode imaginar que conhecer
significa apreender a compreender algo. Então como é que o
Homem/Mulher, como as crianças, como os jovens e os adultos buscam a
compreensão da natureza dos factos e dos fenómenos naturais e sociais e
do meio-ambiente?. Como buscam o conhecimento que têm e que não
tinham?

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Distinguir o conhecimento científico de outros tipos de conhecimentos;

Descrever o papel da experiência e da argumentação na construção do


Objectivos conhecimento científico;

Descrever as limitações do conhecimento construído à base do senso


comum;

Identificar erros ou limitações da construção do conhecimento quando


este se restringe à experiência pessoal – devido a observações
inapropriadas, não aprimoradas ou generalizações precipitadas;
12

Experiência pessoal, experiência da vida, conhecimento, senso comum,


conhecimento científico, observações não acuradas, generalizações
precipitadas

Terminologia

Aqui, você vai retomar as questões já expostas anteriormente: como é que


construímos o conhecimento que temos? Como é que se aprende a
conhecer o mundo em que vivemos? Como é que o Homem/Mulher,
como as crianças, como os jovens e os adultos buscam a compreensão da
Actividade
natureza dos fenómenos naturais e sociais e do meio-ambiente?. Como
buscam o conhecimento que têm e que não tinham? Tente elaborar
algumas respostas a estas questões. Tente-o individualmente mas também
discuta em grupo. Seria bom se vocês pudessem elaborar um texto de
duas páginas a responder a estas questões.

Lembre-se que nas ditas sociedades tradicionais o conhecimento


é organizado e disseminado de uma maneira específica e
diferente. Será que isso tem importância para responder às
Dica questões acima colocadas?

Você pode agora considerar um outro exemplo: a tarefa de


colocar um remendo numa câmara da bicicleta é deveras muito
difícil para um jovem dos seus 8 ou 9 anos. Imagine e descreva
como uma criança chega ao conhecimento de remendar a câmara
da bicicleta. Busque outros exemplos concretos.

Para responder às questões acima descritas, vamos inicialmente afirmar


que o conhecimento é construído a partir e através da experiência, da
argumentação e através da pesquisa/investigação. Mais tarde você vai
aperceber-se de que a combinação destes aspectos, portanto da lógica e
da argumentação e da pesquisa desempenham finalmente um papel
preponderante para a construção do conhecimento.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 13

Vamos ilustrar isso no quadro de discussão seguinte, pois você já se


apercebeu de que não é nada fácil perceber o conteúdo desta afirmação.
Precisamos, antes de mais, de ter uma ideia sobre o significado dos
termos usados. O que é isso de experiência? O que é uma argumentação?
O que tem a ver a pesquisa e a argumentação com a construção do
conhecimento cientifico?

Experiência

A palavra ‘experiência’ tem um significado na linguagem corrente


e um outro na terminologia científica. Assim o termo ‘experiencia’
subsoma um grande número de factores e de fontes de informação.

Identifique na sua língua maternal o termo apropriado e equivalente ou


com o mesmo significado da palavra ‘experiencia. Procure verificar que
significados são atribuídos ao termo!
Dica

Esta palavra tanto pode significar o acto de experimentar, quer se entenda


como conhecimento imediato de uma realidade dada como pode também
descrever actividades e acções específicas relacionadas com o
desenvolvimento da experiência pessoal envolvida em várias situações da
vida, como sejam:

1. Trabalho do aluno e do investigador no laboratório (neste caso, a


experiência ou a experimentação aparece como conhecimento de
uma realidade provocada no propósito de saber algo,
particularmente o valor de uma hipótese científica),

2. Realização de uma prova de avaliação na sala de aula


(certamente que você acumulou já uma certa experiência ao
longo da vida estudantil que permite que você planifique o tempo
disponível e se organize da melhor maneira e atendendo ao
trabalho de estudo realizado, para responder às questões de uma
prova ou exame escrito);

3. Experiência adquirida na vida (crianças e jovens órfãos de pais


vítimas do HIV/SIDA);
14

4. Ideias e conhecimentos baseadas em algo aprendido por simples


observação ou a partir de informações vindas dos mais velhos;

5. Observações acidentais ou ao acaso de actividades ou das acções


realizados por outros na vida, ou seja no trabalho, na escola, no
desporto, no jardim infantil, etc.

6. Conhecimentos obtidos por simples observação acidental dos


factos e dos fenómenos da natureza e/ou da vida social;

Existem muitas limitações do conhecimento quando este é obtido e se


restringe unicamente à mera experiência pessoal ou quando este se baseia
simplesmente na forma intuitiva ou se apoia em algumas observações
acidentais (portanto não acuradas) de uma dada realidade experiencial.
Você, como iniciante de pesquisa, já observou que existe um
conhecimento empírico ou vulgar. Esta definição é feita simplesmente
para esclarecer a ideia de que este conhecimento não está fundamentado
ou enraizado num método; não se identifica um método na produção do
conhecimento vulgar. Ele é adquirido ao acaso. Geralmente é um
conhecimento popular. Muitos autores utilizam a terminologia senso
comum para poder referir-se a todos estes aspectos. Maioria das vezes, as
ideias e conhecimentos adquiridos pela via do senso comum levam a
generalizações precipitadas.

O senso comum refere-se ao conhecimento obtido geralmente quer de


forma espontânea e intuitiva, quer à base de crenças e tradições
enraizados na própria cultura. Muitos dos conhecimentos baseados no
senso comum parecem óbvios. Portanto, o conhecimento baseado no
senso comum refere-se a descrições, esclarecimentos e explicações
produzidas de forma óbvia. Embora óbvias, as afirmações elaboradas
não são necessariamente verdadeiras.

Por exemplo, a História da Física está repleta de exemplos que mostram


a evolução ou seja a transformação de ideias e de modelos mesmo dentro
da ciência. Este processo ocorre, obviamente, também fora dos domínios
da ciência. Por vezes, a evolução e a transformação de ideias e de
conceitos ligadas ao senso comum ocorre tanto fora como dentro do
domínio da ciência. Um exemplo interessante na história foi (e talvez é) a
questão sobre se é o SOL que gira em torno da TERRA ou é a TERRA
que gira em torno do SOL? Durante muito tempo, acreditou-se que o Sol
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 15

girava em torno da Terra. Também algumas pessoas chegaram a pensar


que uma determinada raça fosse superior às outras. Afinal ainda em
África houve genocídios que devastaram de forma catastrófica e
desumana populações de determinadas regiões no RUANDA por razões
étnicas. Despreende-se desta análise que o senso comum necessita da
análise e crítica científica. A ciência não pode dispensar o senso comum,
afinal os próprios cientistas encontram-se impregnados na cultura e no
meio em que vivem sob influência de conceitos e ideias óbvias de uma
determinada realidade.

O que gostaríamos de sugerir para você como investigador (afinal você


acaba de se iniciar agora) é a necessidade de assumir uma nova atitude de
observação aturada dos fenómenos da natureza, sociais e culturais e
pautar-se pela busca incessante da verdade e da explicação e da razão de
ser das coisas.

Para isso, você vai precisar de conhecer e aprender a identificar


problemas, a elaborar as questões e as hipóteses e a adoptar os métodos
de investigação apropriados. Curiosamente, as coisas começam pelos
problemas. Certamente você já se apercebeu de que geralmente onde o
ser humano enfrenta dificuldades ou não possua a capacidade para a
resolução de problemas, ele recorre à experiência de outros incluindo às
autoridades, sobretudo, à autoridade científica (Veja que você pode
considerar-se como autoridade científica quando o seu sobrinho não
consegue remendar o pneu da bicicleta ou não consegue acertar uma
equação de uma reacção química ou não pode calcular a densidade a
partir do volume e da massa de um dado corpo. Para todos os efeitos,
podemos considerar autoridade científica um especialista qualquer, um
cientista, um professor, um político, um familiar e um amigo seu, etc.)
desde que este seja detentor de uma experiência valiosa, estudada e
fundamentada no conhecimento profundo. Mas mesmo uma autoridade
científica é falível; “ninguém é infalível” isto é ninguém é possessor
exclusivo da verdade e ninguém está acima da verdade.
16

Sumário

o Você acabou de desenvolver e reconhecer o significado multifacetado


do termo ‘experiência’. Não foi nossa intenção esgotar o tema. Você
pode continuar o debate. Pensamos que mostrámos que o
conhecimento pode estar incorporado na experiência pessoal e,
consecutivamente, ser o resultado de um trabalho sistemático.
Quando o conhecimento pessoal é unicamente baseado em
observações inapropriadas, não acuradas e não sistemáticas, incorre-
se na produção de generalizações precipitadas sem nenhuma base
sustentável.

o Nas ciências naturais (física, química e na biologia) o termo


‘experiência’ tem um significado específico relacionado com o
trabalho do aluno e do investigador no laboratório. Neste caso, a
experiência ou a experimentação aparece como conhecimento de uma
realidade provocada no propósito de saber algo, particularmente o
valor de uma hipótese científica. É a chamada experimentação
experimental destinada à verificação de hipóteses. A experiência é
um procedimento científico que procura gerar uma realidade (dita
realidade provocada) agindo sobre os objectos e processos da
realidade de forma consciente e sistemática. A experimentação
envolve complexas operações mentais e motoras como as de
planificar, observar, prognosticar, reexaminar/verificar e avaliar.
Além disso, os órgãos dos sentidos desempenham um grande papel
na observação e registo pormenorizado do fenómeno em estudo.

o Uma grande limitação à produção científica está relacionada com o


senso comum. Quando a produção de conhecimento se restringe ou
se baseia exclusivamente no senso comum, incorre-se no risco de na
sua produção validar-se ideias erradas e com várias limitações e, por
vezes com consequências nefastas à própria sociedade.

o Autoridade científica: especialista, cientista, professor e a literatura


científica detentora de uma experiência valiosa, estudada e
fundamentada do conhecimento profundo.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 17

o Mesmo uma autoridade cientifica é falível “ninguém é infalível”


(ninguém esta acima da verdade, ninguém é possessor exclusivo da
verdade)

Exercícios

1. Explique o que distingue o conhecimento científico de outras


formas de conhecimento?

[Resposta: O método científico. O conhecimento


Auto-avaliação
científico é construído com base em observações
sistemáticas]

2. Explique o termo “experiência” tendo em conta que este termo “


tem um significado multifacetado!

[Resposta: A palavra ‘experiência’ tem um significado na


linguagem corrente que se refere ao conhecimento obtido
pela prática. Assim o termo ‘experiencia’ subsoma um
grande número de factores e de fontes de informação O
significado dado ao termo “experiência” na linguagem
científica refere-se ao acto ou efeito de experimentar:
para significar conhecimento imediato de uma dada
realidade (observação experiencial) ou conhecimento de
uma realidade provocada, no propósito de saber algo,
particularmente o valor de uma hipótese científica
(experimentação experimental).

3. Discuta e exemplifique as limitações do “senso comum”!

4. Elabore alguns exemplos de “generalizações precipitadas”

5. Elabore alguns exemplos de “observações não acuradas”!

6. Dê exemplos do senso comum no ensino de física em


Moçambique. Discuta cada caso. Elabore as etapas de
transformação do senso comum numa concepção científica, nos
exemplos mencionados.
18

Lição no2

Argumentação

Introdução

Você vai iniciar esta lição no domínio da questão central sobre a


construção do conhecimento. Nesta lição, a ênfase é dada ao papel da
‘argumentação’. Como você certamente já se apercebeu na lição anterior,
a questão central e objecto de estudo desta lição continua a ser sobre
como é que construímos o conhecimento que temos. Como é que se
aprende a conhecer o mundo em que vivemos? Então como é que as
crianças, os jovens e os adultos buscam a compreensão da natureza dos
fenómenos naturais e sociais e do meio-ambiente?. Como buscam o
conhecimento que têm e que não tinham? Subtilmente podemos dizer que
uma parte, das respostas a estas questões podem ser dadas por você à
custa da lição anterior. Mas agora vamos aprender a saber qual poderia
ser o papel da ‘argumentação’ para responder às mesmas questões.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Descrever o papel da ‘argumentação’ na construção do conhecimento;

Identificar as limitações da argumentação lógica no desenvolvimento do


Objectivos conhecimento e das generalizações obtidas por esses métodos;

Discriminar através de exemplos concretos as formas de desenvolvimento


do raciocínio indutivo e dedutivo.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 19

Raciocínio indutivo e dedutivo, hipotéctico-dedutivo, generalizações,


argumentação, premissa ou pressupostos.

Terminologia

Argumentação

A argumentação refere-se ao acto de argumentar que significa sustentar


ou contrariar com fundamentos ou discutir um raciocínio com o objectivo
de provar ou refutar determinada ideia. Desta maneira, é fácil você
concluir que o acto de argumentar esteja intrinsecamente ligado ao
processo de aquisição e de construção do conhecimento.

Seria interessante que no contexto da argumentação você pudesse ler e


investigar que a argumentação segue três formas básicas de raciocínio
chamadas via ou métodos de raciocínio indutivo, método de raciocínio
dedutivo e obviamente a via combinada de raciocínio indutivo-dedutivo.
Alguns autores referem-se a esta última forma como sendo o método
hipotético-dedutivo. Você vai, por isso, de seguida à:

Argumentação por via de raciocínio indutivo

Diz-se que uma determinada argumentação segue a via de raciocínio


indutivo quando procede do particular para o geral. Por isso, na área da
estrutura da teoria de conhecimento (chamada epistemologia) e no âmbito
das ciências de ensino esta forma de raciocínio é chamada via de
raciocínio de generalização indutiva e pertence à categoria do método de
construção do conhecimento. Aqui o termo generalização relaciona-se
com o facto de o raciocínio proceder do particular para o geral. O termo
‘indutivo se relaciona com a palavra ‘indução’. A ‘indução’ é um
processo mental (afinal o raciocínio é algo mental) através do qual,
partindo de dados particulares suficientemente verificados, infere-se uma
verdade geral ou universal. O objectivo dos argumentos é levar a
conclusões cujo conteúdo seja muito mais amplo do que o das premissas
nas quais se basearam.
20

A via de raciocínio de generalização indutiva tem por objectivo descobrir


as propriedades, as características ou os atributos comuns num conjunto
de muitas ou poucas afirmações consideradas isoladas inicialmente uma
da outra. O conhecimento obtido ppor esta via de argumentação sujeita-
se, geralmente, a uma verificação experimental ou seja a construção de
uma realidade provocada com o objectivo de reconfirmá-la.

Comparação da condução da corrente eléctrica de diferentes


materiais (alumínio, ferro, madeira, plástico, papel).

Este exemplo, é pedagogicamente útil por mostrar que este método de


Estudo de caso /
raciocínio ocupa um lugar relevante no próprio processo de ensino quer
Exemplo da área de física
no ensino secundário, quer no ensino superior.

Considere um simples circuito constituído por resistências de diferentes


materiais (sejam elas pequenas resistências de alumínio, ferro, madeira,
plástico, papel) mede-se a diferença de potencial por cada elemento de
resistência e a intensidade da corrente eléctrica que o atravessa. Os dados
são apresentados numa tabela e depois calcula-se o quociente entre a
tensão eléctrica e a intensidade da corrente eléctrica para cada resistência.

2V 4 mA 500

4V 8 mA 500

6V 12 mA 500

… … …

A madeira, plástico, papel não conduzem a corrente eléctrica.

O alumínio, ferro e zinco são metais e conduzem a corrente eléctrica.

U
A última coluna da tabela mostra que = const. O quociente entre a
I
tensão e a intensidade para um condutor específico é constante. Os dados
permitem afirmar que nos metais I ∝ U ou seja a intensidade da
corrente eléctrica é directamente proporcional à tensão eléctrica,
enquanto a temperatura do material/condutor for constante.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 21

O método hipotético-deductivo

Você pode compreender facilmente que este tipo de raciocínio esteja


relacionado com o método de raciocínio dedutivo. O aspecto especifico
do método hipotético-dedutivo parte dos seguintes elementos:

Problema: conjunto de fatos ou elementos relacionados para o qual não


temos uma explicação aceitável.

Hipóteses preliminares: são soluções provisórias para o problema


formulado. Dentre as diversas hipóteses preliminares, o pesquisador opta
pela mais verosímil (plausível/provável), para submetê-la a testes de
experiência.

Dedução das consequências: das hipóteses deduzem-se as


consequências que deverão ser testadas pela observação/experimentação,
pela teoria ou por ambas.

Aplicação: os resultados, os conhecimentos obtidos e as consequências


devem ser aplicados na pratica, servindo para premissas de problemas
semelhantes.
22

Método hipotético-dedutivo.

A partir do resultado anterior, pode-se agora elaborar o raciocínio


hipotético-dedutivo. Veja como você poderia proceder:
Estudo de caso /
Exemplo de física Sendo o cobre um metal, então, este também deveria conduzir a corrente
U
eléctrica. Sendo = const. , então para um outro metal deveria obter-se
I
um valor constante no quociente entre a tensão e a corrente eléctrica. A
experiência com um circuito eléctrico confirma este prognóstico.

Um nível superior deste raciocínio levaria você a elaborar as relações


mais complexas das correntes estacionárias, para um circuito fechado,
usando o conceito matemático de fluxo, para formular a lei de
conservação de carga.

O exemplo seguinte procura ilustrar esta ideia. Vamos, partindo do


exemplo da corrente eléctrica, um tipo mais geral de corrente eléctrica ou
do transporte de cargas eléctricas, envolve portadores de carga movendo-
se em um volume, tridimensional. Para descrevê-lo, você necessita do
conceito de densidade de corrente. Você pode recorrer aos seus
conhecimentos do ensino secundário para se lembrar de que, a
intensidade da corrente eléctrica foi definida como sendo a taxa de
passagem de cargas eléctricas na secção transversal de um condutor
metálico, por unidade de tempo.

∆Q
I= ...Corrente eléctrica
∆t

A unidade da corrente eléctrica no SI é Ampére (A): 1A=1C/s

Convencionalmente, o sentido da corrente é tomado como o sentido do


fluxo de carga positiva.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 23

Num condutor metálico, a corrente eléctrica provém da lenta migração


dos electrões livres, que são acelerados pelo campo eléctrico e colidem
com os iões da rede cristalina do metal. As velocidades de migração ou
de deriva (vd) dos electrões são da ordem de alguns milímetros por
segundo. Agora você pode retornar à ideia de densidade de corrente e
relacionar isso com a intensidade da corrente eléctrica. Vai supor que as
cargas eléctricas como unidades discretas existam em número suficiente
na região do condutor considerado. Por isso, você pode considerar a
seguinte equação para um elemento de corrente (dI)

dQ
dI = = q n v d dS
dt

Se definirmos a relação entre o elemento de corrente e o trecho de área


para definir a grandeza densidade de corrente, temos
24

dI
J = = q n vd
dS

A corrente transportada por um condutor longo como o é um fio é,


Estudo de caso / r
naturalmente a integral de densidade de corrente J calculada sobre a
Exemplo da área de
secção transversal do fio. De facto, a corrente eléctrica I que atravessa
física
qualquer superfície S é exactamente a integral de superfície

r r
I = ∫ dS
s
J

r
Aqui, nota-se que I é o fluxo associado ao vector J e neste caso o nome
apropriado.

Falamos de um sistema estável ou de corrente estacionária quando o


r
vector densidade de corrente J permanece constante no tempo em todos
os pontos. As correntes estacionárias devem obedecer à lei de
conservação da carga. Se você considerar que

∫ρ
V
dv

É a carga total dentro do volume em qualquer instante, teremos que

r r
I = ∫ dS
s
J

É a vazão instantânea de carga para fora do volume contido, teremos que

r r
∫ dS =
J
s
∫ ρ dv
V

Nenhuma carga pode escoar para fora de um lugar sem diminuir a


quantidade total de carga que aí existe.

Resumindo, partindo do estudo e da classifiç|ao das matérias quanto à sua


capacidade de conduzir a corrente eléctrica, definimos uma nova
grandeza (intensidade de corrente eléctrica). Num nível superior de
dedução relacionamos a corrente como sendo um fluxo e mostramos a lei
de conservação de carga aplicada para um circuito fechado.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 25

Argumentação por via do método de raciocínio dedutivo

Diz-se que uma determinada argumentação segue a via de raciocínio


dedutivo quando procede do geral para o particular. Este modo ou
processo de raciocinar parte da causa para o efeito ou do princípio para as
consequências. A dedução na área da estrutura da teoria de conhecimento
e no âmbito das ciências de ensino pertence à categoria de método de
construção do conhecimento.

Energia do condensador carregado.

O trabalho das forças eléctricas na deslocarão da carga q entre dois

pontos do campo é igual a q U , sendo U uma tensão constante. No


Estudo de caso /
entanto, você sabe que, enquanto o condensador é carregado, a tensão nas
Exemplo área de física
suas placas varia de zero ao valor máximo U ; isto significa que para o
cálculo do trabalho realizado pelas forças do campo eléctrico ( F = q E ),
teremos de tomar o valor médio da tensão entre as placas. Deste modo:

W = q U media
U f +Ui Uf +0
W =q =
2 2
U
W =q
2

Uma vez que o trabalho W é responsável pelo crescimento da energia


Welectrico do condensador, teremos Welectrico = W . Por conseguinte, a
energia do condensador carregado, usando a relação q = C U , fornece a
seguinte relação:

CU
Welectrico = . Esta fórmula permite calcular a energia de um
2
condensador carregado em relação à Terra.

O modo dedutivo permite certas relações a partir de um conhecimento


geral. Reformula ou enuncia, de modo explícito, a informação já contida
nas premissas. Este método tem o propósito de explicar o conteúdo das
premissas ou pressupostos.
26

Sumário

Métodos de argumentação ou de raciocínio: o volante da


ciência segundo Watter Wallace In: The Practice of Social
Research, Babbie, E. (1989)

Argumentação indutiva

Argumentação dedutiva
Teoria Hipóteses

Generalização
Observações
empírica


16
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 27

Exercícios

1. Discuta do ponto de vista da construção da argumentação a afirmação


“a Cidade de Maputo” é a Cidade das “Acácias”! Identifique que tipo
de raciocínio segue a argumentação.
Auto-avaliação
2. A cidade de Cabo Delgado é uma das cidades mais limpas do País.
Os cidadãos de Cabo Delgado são os mais limpos! Identifique que
tipo de raciocínio segue a argumentação;

3. Descreva o papel da ‘argumentação’ na construção do conhecimento;

4. Identifique as limitações da argumentação lógica no desenvolvimento


do conhecimento e das generalizações obtidas por esses métodos;

5. Apresente exemplos da ciência que seguem o raciocínio indutivo e


dedutivo.
28

Mostre, través de um exemplo em física, o desenvolvimento da


argumentação pela via dedutiva,

Mostre por via de um exemplo em física o desenvolvimento da


Auto-avaliação
argumentação pela via indutiva;

Defina e dê exemplos dos seguintes indicadores educacionais (taxa -


bruta e liquida - de escolarização, taxa - bruta e líquida de admissão),
livros, mobiliário, equipamentos, espaços educativos;

Indique possíveis indicadores da melhoria da qualidade do ensino


primário;

Mostre, com base num exemplo, o processo do descobrimento e


elaboração duma nova lei da natureza (lei da reflexão e da refracção,
regra de ouro da mecânica, leis de Newton, leis da dinâmica rotacional,
conservação de energia mecânica, atrito estático, lei da conservação do
momento angular, lei da conservação do momento linear, lei da indução
electromagnética, lei da dilatação dos líquidos, lei da dilatação dos gases,
lei da dilatação de corpos sólidos, lei da queda livre, lei de ampere, força
magnética, princípio do transformador etc;

Exemplificar a função epistemológica da experiência (descrever três


casos específicos, desenvolver um explicação e a respectiva justificação)

Discuta os trabalhos de pesquisa propostos quanto ao modelo da relação


teoria, hipóteses, observações e validade cumulativa das questões
apresentadas;

Discuta, na base de exemplos concretos, a paridade entre o método de


resolução de problemas e o método experimental;

Identificque o tipo de amostragem (ao acaso, estratificada, territorial) e


elabore sondagens (inquéritos/questionários) sobre os temas de “energia
eléctrica”;
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 29

Seleccione, a partir de revistas cientificas, Internet e outras fontes,


exemplos de sondagens. Trazga os questionários aplicados para aula e
elabore uma análise crítica;

Formule um questionário sobre os temas sugeridos no módulo;

Identifique, nos exemplos mencionados na lição, as unidades de análise


usadas;

Identifique, no exemplo da sondagem sobre tecnologia, as unidades de


análise usadas.
30

Lição no3

Pesquisa ou Investigação
científica

Introdução

Nesta lição você vai aprender a explicar o papel da pesquisa ou da


chamada investigação científica na construção do conhecimento. Você
deve dar continuidade às mesmas questões já colocadas nas duas lições
anteriores ou seja: como é que as crianças, os jovens e os adultos buscam
a compreensão da natureza dos fenómenos naturais e sociais e do meio-
ambiente?. Como buscam o conhecimento que têm e que não tinham?
Tenuemente, podemos dizer que uma parte das respostas a estas questões
podem ser dadas por você à custa das duas lições anteriores. Mas agora
vamos aprender a conhecer qual poderia ser o papel da pesquisa ou da
chamada investigação científica para responder às mesmas questões.

Ao completar esta unidade / lição, você será capaz de:

Descrever as características de uma pesquisa científica;

Discriminar a pesquisa científica destinada à construção do conhecimento


Objectivos de outras formas de construção do conhecimento;

Explicar as partes que compõem à estrutura de uma observação


sistemática

Explicar o método científico;

Descrever o que uma observação científica é;

Definir em termos gerais a pesquisa.


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 31

Pesquisa científica, investigação científica, planificação e registo da


observação, objectivos, instrumentos de observação.

Terminologia

Pesquisa/Investigação científica

Você vai aprender a usar a expressão investigação científica como uma


expressão equivalente à expressão pesquisa. Alguns autores atiram-se em
análises minuciosas, tentando descortinar que o termo pesquisa seria o
mais adequado e acurado para caracterizar o trabalho científico. Qualquer
‘sabor’ ou ‘prazer’ que isso possa acarretar, não transporta consigo
consequências lógicas para o próprio trabalho científico em si. Somos
neutros quanto à utilização dos dois termos. Por outras palavras, isso
significa que você pode usar a terminologia de investigação científica no
mesmo sentido e significado em que usaria o termo pesquisa científica.

A pesquisa orienta-se para a construção do conhecimento científico,


aquisição da verdade ou para a elaboração de soluções de problemas.

Embora o trabalho de pesquisa não seja de natureza mecânica, mas


exigindo imaginação criadora e iniciativa individual, todavia isso não
implicaria que seja uma actividade que pudesse ser realizada ao acaso.

Observação sistemática

A pesquisa realiza-se pela colecção e observação sistemática de dados


através de técnicas e métodos apropriados.
32

Tente esboçar algumas ideias sobre quando é que se poderia considerar


uma determinada observação como sendo sistemática! Tente,
inicialmente, descrever o que é uma observação! Pense por exemplo na
actividade de um médico quando atende um paciente. Como é que você
Actividade
iria caracterizar a ‘observação’ realizada pelo médico? Quando é que
dizemos que houve ‘erros de observação’ ou dizemos que a ‘observação
não foi acurada’? Qual o papel dos ‘instrumentos/aparelhos de
observação’ que o médico utiliza?

Resposta: a observação no âmbito da ciência, é uma actividade científica


que tem por finalidade realizar uma percepção orientada e registo da
informação proveniente de determinadas fontes (factos ou fenómenos).
Uma ‘observação’ terá de explicar “o quê?” antes de se poder explicar
“porquê?”

Note que no dia-a-dia observamos uma série de acontecimentos. Se você


pensar na primeira pessoa com quem falou, lembra-se da cor das calças?
Geralmente somos descuidados ao fazermos alguma observação e por
isso cometemos ‘erros’. Geralmente, falhamos em observar os eventos à
nossa volta e, consequentemente, ‘observamos coisas’ que não são assim
ou não são aquilo que deviam ser. Em contrapartida a observação ao
acaso ou o questionamento ao acaso, a observação cientifica é uma
actividade consciente. Uma maneira que auxilia a observação é a
utilização de ‘instrumentos/aparelhos de medição’. Para simples
observações, um simples gravador pode ser suficiente, para outras uma
simples máquina de filmar e para as mais complexas a utilização
simultânea de gravação e de filmagem pode ser que seja mais acurada.

Uma observação sistemática deveria, pelo menos, considerar os seguintes


aspectos:

Planificação e registo da observação (por que pesquisar?), fixação de


objectivos (para que pesquisar?), instrumentos de observação (como
observar?), campo da observação (o que observar?).
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 33

Talvez fosse interessante que você reflectisse sobre o que seria o


contrário da ‘observação sistemática’, (também chamada observação
assistemática ou ametódica). Procure exemplos interessantes!

Actividade Resposta indirecta: não basta a utilização de instrumentos de observação


para uma observação ser acurada.

Podemos resumir dizendo que uma observação assistemática ou não


metódica caracterizada pelo chamado ‘método pré-científico’. O ‘método
pré-científico’teria pelo menos uma das seguintes características:

• A relação entre a causa e o fenómeno é solta livre e


incontrolável;

• A probabilidade de ocorrência simultânea de dois eventos é


suficiente para relacioná-los;

• Há uma utilização solta e caótica e não sistemática de teorias ou


de conhecimentos, a observação vulgar baseia-se unicamente na
escolha de algumas evidências;

• Geralmente, está associada à aceitação incondicional do poder da


autoridade.

Conforme o tipo de pesquisa, seja ela qualitativa, seja quantitativa você


terá de tomar alguma decisão sobre que técnicas, ou métodos seriam mais
adequados de observação. As técnicas vão desde as sondagens,
entrevistas, trabalho de campo, assistência e observação das aulas
ministradas, observação dos alunos na sala de aula até a elaboração de
questionários e a experimentação em laboratório.

A pesquisa científica tem por objectivo último à verificação da


veracidade ou falsificação de hipóteses científicas. A pesquisa recorre a
diferentes técnicas e métodos para a construção e aquisição do
conhecimento. De um modo geral, a pesquisa orienta-se pela resolução de
problemas e a investigação da verdade.
34

Você acaba de aprender que a ciência busca a ‘verdade’. Talvez você


certamente saiba o que é a ‘verdade’. Mas como definir a ‘verdade’? O
que é a ‘verdade’

Actividade Resposta indirecta: um jurista, um agente da polícia buscam a ‘verdade’


quando julgam os factos e analisam os fenómenos associados aos seus
indiciados/acusados/réus? O médico e o curandeiro da medicina
tradicional buscam a ‘verdade’ quando realiza o ‘diagnóstico’ do seu
paciente?

A pesquisa científica baseia-se assim no ‘método cientifico’. O método


científico teria assim pelo menos uma das seguintes características:

• Construção gradual e sistemática e cuidadosa do conhecimento


ou da teoria;

• As hipóteses formuladas estão sujeitas a uma verificação e


testagem empírica;

• A explicação é fundamentada em teorias e em factos;

• O cientista lida conscientemente com uma variedade de aspectos


ou causas múltiplas que condicionam uma dada ocorrência;

• Assim, o cientista define conscientemente o problema e isola os


objectos em causa; define técnicas e procedimentos procurando
testar os efeitos das causas prováveis;

A pesquisa enquadra-se no contexto da actividade do ser humano quando


busca a compreensão do meio ambiente e da natureza dos factos,
fenómenos quer da natureza, quer sociais. De um modo geral, ela está
intrinsecamente ligada à resolução de problemas. Genericamente falando,
a investigação científica orienta-se para a produção de conhecimentos
destinados à melhoria das condições de vida da sociedade.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 35

Sumário

São funções da pesquisa:

1. Preencher uma lacuna num conhecimento de uma dada realidade:


investigando uma tópico que não tenha sido ainda investigado na
área considerada;

2. Replicar os resultados de uma investigação, testando os


resultados com novos participantes ou diferentes sites, ou com
diferentes amostras de materiais;

3. Expandir os resultados de uma investigação, estendendo a


pesquisa para novas ideias ou práticas

4. Alargar uma determinada perspectiva, de modo a abranger um


maior universo;

A Investigação é também importante porque para além de sugerir formas


de melhorar uma situação, oferece oportunidade de considerar novas
ideias, avaliar um programa ou mesmo estabelecer conexões ou mesmo
vislumbrar outros contextos.
36

A investigação da verdade

Busca da
Compreensão

natureza
meio
dos fenómenos
ambiente (naturais/sociais)

14

Um projecto deve conter, em termos substanciais:

• O que pesquisar? (objectivos)

• Por quê pesquisar o que se está propondo? (Justificação)

• Em que perspectiva pesquisar? (Fundamentação teórica)

• Como pesquisar? (Metodologia)

Resumo de questões que deveriam ser respondidas por um projecto


de pesquisa:

1) O que fazer?

2) Por quê, para quê, para quem fazer?

3) Onde fazer?

4) Como, com quê e quando fazer?


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 37

5) Com quanto fazer?

6) Como pagar?

7) Quem vai fazer?

Método cientifico
Conhecimento empírico versus conhecimento cientifico
Método pré cientifico: Método Cientifico: :

• A relação entre a causa e o fenómeno


é solta livre e incontrolável • Construção gradual e sistemática e
cuidadosa do conhecimento/teoria
• A probabilidade de ocorrência
simultânea de dois eventos e • As hipóteses são formuladas e são
suficiente para relaciona-los sujeitas a uma verificação e testagem
empírica
• Utilização solta e caótica e não
sistemática de teorias / conheci-
mentos, baseando-se unicamente na • A explicação é fundamentada em
escolha de evidencias teorias e em factos

• Aceitação incondicional do poder da • O cientista lida conscientemente com


autoridade uma variedade de aspectos ou causas
múltiplas que condicionam uma dada
ocorrência

• Assim o cientista define


conscientemente o problema e isola os
objectos em causa; define técnicas e
procedimentos procurando testar os
efeitos das causas prováveis

Professor Doutor Mario Baloi 17

Exercícios

1) Embora a leitura de outros trabalhos científicos seja opcional, ela


poderia ajudar você a reconhecer com certa facilidade aspectos
técnicos relacionados com a elaboração e desenvolvimento dos vários
aspectos da estrutura de um trabalho científico. Neste sentido,
recomendamos que você seleccione, pelo menos, um trabalho
científico de uma determinada área de estudo. Analise nesse trabalho
os seguintes aspectos:
38

o Apresente a estrutura do trabalho!

o Elabore uma classificação do tipo de pesquisa (qualitativa ou


quantitativa)!

o Identifique o problema da pesquisa!

o Identifique as questões e as hipóteses do trabalho!

o Descreva a metodologia do trabalho!

o Descreve os instrumentos de recolha de dados!

o Descreve os principais resultados e conhecimentos científicos


do trabalho!

2. Discuta o seguinte caso: precisa-se ou não que um professor aprenda


“métodos de pesquisa” considerando que ele não tem tempo na escola
para o exercício da investigação? Afinal, o que é um professor de
Auto-avaliação Física?!

3. O que é pesquisa científica?

[Resposta: pesquisa é o acto ou o efeito da construção do


conhecimento ‘certo e racional’ sobre a natureza das coisas ou
sobre as suas condições de existência e recorre à investigação
metódica (por exemplo através de observações sistemáticas) das
leis dos fenómenos]
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 39

Unidade 2

Revisão da Literatura

Introdução

Esta unidade aborda “o processo de leitura e documentação” e visa


familiarizar você com as técnicas de pesquisa bibliográfica, planificação
da leitura e documentação. A ênfase é dada às normas técnicas para a
redacção e apresentação de trabalhos científicos. Esta unidade deverá ser
complementada pela leitura intensa e análise de trabalhos científicos das
áreas específicas (química, física, biologia, e das respectivas didácticas
específicas).

São aspectos fundamentais desta unidade a compreensão da questão da


pesquisa bibliográfica que deve ser planejada e documentada. Uma breve
abordagem será feita sobre as normas/técnicas para a redacção e
apresentação de trabalho, científicos.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Aplicar as técnicas de leitura para a preparação da componente da


fundamentação teórica do trabalho de pesquisa;

Objectivos Aprender a planificar e documentar a pesquisa bibliográfica;

Reconhecer no método histórico o papel que este desempenha ea sua


contribuição na construção de uma sólida fundamentação teórica.
40

Técnicas de leitura, levantamento bibliográfico, fichas bibliográficas,


plano de assunto (estrutura provisória do trabalho), documentação da
leitura, crítica da documentação, construção do texto, redacção do texto,
método histórico,
Terminologia

Esta unidade comporta uma única lição

1) Técnicas de Leitura e da Pesquisa Bibliográfica

[Esta unidade vai precisar cerca de 4 lições de trabalho que vão totalizar
cerca de 200 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está
prevista para durar cerca de 50 minutos]

Você precisará, para aprendizagem desta unidade, de um total de cerca de


200 minutos de trabalho independente que perfazem cerca de 4 lições.
Tempo de estudo da
Unidade: 4 lições de
trabalho independente
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 41

Lição no1

Técnicas de Leitura e da Pesquisa


Bibliográfica

Introdução

Você deve certamente lembrar-se de que há uma necessidade de você


reflectir sobre a aplicação de técnicas de leitura especiais para
compreender a literatura científica de modo a aumentar a eficiência de
trabalho individual. Portanto, quer antes, durante quer depois da escolha
do tema de pesquisa, a questão da pesquisa bibliográfica torna-se uma
componente importante do processo de fundamentação do trabalho, em
termos teóricos. A fundamentação teórica requer uma revisão da
literatura. Você pode aperceber-se dessa relação quando tentar
descortinar o papel da fundamentação teórica no trabalho científico.
Comecemos, pois então, por discutir esse aspecto e, depois, vamos
aprofundar os aspectos relativos à revisão da literatura e as questões
técnicas de redacção do trabalho científico.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar e caracterizar as técnicas de leitura

Descrever as principais etapas da pesquisa bibliográfica


Objectivos
Descrever o papel da fundamentação teórica

Técnicas de leitura, pesquisa bibliográfica, levantamento bibliográfico,


fichas bibliográficas, plano de assunto, documentação da leitura e crítica
da documentação, fundamentação teórica, construção e redacção do texto.

Terminologia
42

Técnicas de leitura

Você vai começar por identificar as características da pesquisa


bibliográfica. A pesquisa bibliográfica pode tomar a forma de um
trabalho independente onde ela se torna objecto principal da própria
pesquisa. Neste caso, é parte integrante do método histórico. O método
histórico enfatiza o estudo de aspectos relacionados com a construção da
teoria e dos modelos da própria ciência buscando os elementos históricos
desse processo. Para um trabalho sério, faz sentido que esta pesquisa
bliobliográfica se torne uma componente séria e importante do trabalho.
Mas nem todos os trabalhos seguem esta exigência. Por isso, o método
será apresentado na próxima lição, de modo a considerar explicitamente
estes aspectos. De resto, você pode sobreviver com um outro ponto de
vista, aquele que enaltece simplesmente a componente da fundamentação
teórica baseada numa simples revisão da literatura.

Assim, a partir da definição do tema e do problema de pesquisa é que se


começa a explorar a bibliografia disponível sobre o assunto. Isso
pressupõe, necessariamente, que já tenha existido uma pesquisa
bibliográfica preliminar ou exploratória. Em qualquer um dos casos,
exige-se técnica, rigor e disciplina na pesquisa bibliográfica.

A bibliografia, como a documentação, constitui um ramo auxiliar da


ciência, pois nos ensina a procurar as fontes, livros e outros materiais
científicos a serem utilizados nos trabalhos. A finalidade principal da
bibliografia é procurar, é colocar o pesquisador em contacto com tudo o
que se tem pesquisado sobre o assunto objecto da pesquisa.

Para você poder melhorar as técnicas de leitura é fundamental que


aprenda a reconhecer as principais etapas da pesquisa bibliográfica.
Segundo Castro (2005, p.38-52) deve-se considerar as seguintes etapas:

Levantamento bibliográfico

[Destina-se à identificação dos principais materiais publicados a


respeito do assunto. Por exemplo consultar preliminarmente os
catálogos e as fichas de autor, fichas de título e fichas de assunto
na biblioteca para obter informação geral do que você de facto
poderá vir a precisar de ler e aprofundar]
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 43

Fichas bibliográficas

[As fichas são preenchidas pelo pesquisador e destinam-se ao


registo de transcrições que contêm palavra de ordem (sobrenome
e nome do autor), título e subtítulo do livro ou artigo científico,
notas tipográficas (lugar, editora, edição e data de edição) e notas
bibliográficas (numero de páginas, número de volumes etc.).
Trata-se de um trabalho que exige muita paciência e técnica
cuidada]

Plano de assunto (estrutura provisória do trabalho)

[Antes de mais convêm elaborar um plano de trabalho provisório,


dando especial atenção à estrutura do trabalho de pesquisa, pelo
menos, dos principais capítulos. Também poderá basear-se neste
plano para o planeamento das leituras orientado por tópicos bem
genéricos. Esta é a fase de elaboração do roteiro do seu trabalho]

Documentação da leitura

[destina-se à apresentação do conteúdo extraído do material


estudado e dos dados ou informações fundamentais para a
solução do problema de pesquisa formulado. As informações
extraídas devem possuir exactidão quanto ao conteúdo e às
fontes, utilidade para o trabalho e integridade (portanto não
excluir nenhuma informação útil. Este trabalho pode ser apoiado
também pela elaboração de fichas: fichas de citações, fichas de
resumo e fichas de ideias pessoais]

Crítica da documentação

[Destina-se à elaboração da crítica de interpretação (portanto


interpretar o sentido exacto do que o autor quis dizer), crítica de
conteúdo (identificação do valor das ideias contidas no
documento. Portanto as fichas que vão apoiar o pesquisador a
desenvolver a fundamentação teórica e construção do texto são
o ficheiro bibliográfico, a bibliografia e fontes (fichas de citação
e resumo) e as anotações e críticas pessoais (fichas de ideias
pessoais)]
44

Construção do texto

[Tem por objectivo ordenar os elementos do texto disponíveis nas


fichas de citações e resumos. Portanto, o acervo de arquivos
deve ser apresentado de uma forma bem estruturada, seleccionar
o que é útil e que ajuda a responder às exigências e objectivos da
pesquisa. Esta fase é marcada por um grande esforço de reflexão,
crítica e invenção. Duas fases são peculiares: a fase de análise e a
fase de síntese.]

Redacção do texto

[Esta é a fase destinada à redacção provisória do texto seguida da


redacção definitiva. Nesta fase, o pesquisador deve cumprir as
regras para a inserção de citações (citação directa ou textual,
citação indirecta ou livre) e devida indicação de fontes
(obedecendo ao sistema alfabético ou sistema numérico) e
observando as normas para as referências bibliográficas]

Sumário

Esta unidade permitiu o desenvolvimento e a aplicação de técnicas de


leitura para a preparação da componente da fundamentação teórica do
trabalho de pesquisa. Especificamente, mostrou-se que aprender a
planificar e a documentar a pesquisa bibliográfica é o acto formal muito
importante para o sucesso nos estudos e na pesquisa científica.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 45

Exercícios

1. Indique a finalidade principal da pesquisa bibliográfica!

[Resposta: A finalidade é procurar colocar o pesquisador


em contacto com tudo o que se tem pesquisado sobre o
Auto-avaliação assunto de objecto da pesquisa]

2. Indique algumas fases importantes para a elaboração de um roteiro de


trabalho científico!

[Resposta: elaboração de um plano de trabalho


provisório, dando especial atenção à estrutura do
trabalho de pesquisa, pelo menos, dos principais
capítulos. Planificação das leituras orientando-as por
tópicos bem genéricos]

3. Indique as regras para a inserção de citações e de indicação de fontes e


as normas de referências bibliográficas!

Resposta: regras para a inserção de citações (citação


directa ou textual, citação indirecta ou livre) e devida
indicação de fontes (obedecendo ao sistema alfabético
ou sistema numérico) e observando as normas para as
referências bibliográficas]

4. Indique os objectivos do levantamento bibliográfico. Dê exemplos!

[Resposta: são objectivos do levantamento a


identificação dos principais materiais publicados a
respeito do assunto. Por exemplo consultar
preliminarmente os catálogos e as fichas de autor,
fichas de título e fichas de assunto na biblioteca para
obter informação geral do que você de facto poderá
vir a precisar de ler e aprofundar]

5. Seleccione dos seus colegas de carteira os diferentes materiais de


pesquisa bibliográfica por eles produzidos e compare-os com os seus.

6. Apresente um breve resumo da pesquisa bibliográfica por si realizada.


46

Unidade 3

Projecto de Pesquisa

Introdução

Você deve lembrar-se de que a lição 3 apresentou as bases fundamentais


sobre a noção de pesquisa científica. Você certamente agora está em
melhores condições de descrever as características de uma pesquisa
científica ou de explicar as partes que a compõem, explicar a estrutura de
uma observação sistemática ou de explicar o método científico e
descrever o que uma observação científica é. De agora em diante, vamo-
nos concentrar na questão de elaboração de um projecto de pesquisa. Pelo
facto de o projecto de pesquisa incluir várias etapas que terão de ser
explicitadas, esta unidade vai incluir muitas lições de estudo
independente. Mais adiante, veremos que um instrumento muito
importante para a finalização de um projecto de pesquisa é a elaboração
da chamada monografia científica.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Descrever o que um anteprojecto é;

Distinguir um anteprojecto de um projecto final ou definitivo;


Objectivos
Enunciar, em termos gerais, a estrutura do trabalho de pesquisa científica
ou enunciar as partes constituintes;

Identificar as etapas de elaboração de um projecto de pesquisa;

Descrever as funções das etapas de um projecto de pesquisa;

Analisar o projecto de pesquisa no seu coopto geral;

Demonstrar capacidades de por um projecto final em funcionamento


normal.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 47

Anteprojecto, projecto final ou definitivo, tema, objectivos, questões,


hipóteses, problema, justificativa, introdução.

Terminologia

Esta unidade comporta as seguintes lições:

1. Anteprojecto de pesquisa

[Esta lição vai precisar de cerca de 3 lições de trabalho que vão totalizar
cerca de 150 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está
prevista para durar cerca de 50 minutos]

2. Termos de Referencia de um Projecto final ou definitivo de Pesquisa

Tempo de estudo da
[Esta lição vai precisar de cerca de 6 aulas de trabalho que vão totalizar
Unidade: 9 lições de
cerca de 300 minutos de trabalho independente. Cada aula de estudo está
trabalho independente
prevista para durar cerca de 50 minutos]

Você precisará para aprendizagem desta unidade um total de cerca de 450


minutos de trabalho independente que perfazem cerca de 6 lições.
48

Lição no1

Anteprojecto de pesquisa

Introdução

Nesta lição você vai aprender que a elaboração de um projecto final ou


definitivo é um processo que vai exigir muito do seu empenho e muita
vontade de chegar ao fim. Essa capacidade de diligência jogará um
grande papel para que você tenha pelo menos um bom anteprojecto.
Muitos estudantes têm vindo a enfrentar dificuldades para num prazo
aceitável puderem apresentar um projecto razoável e funcional. Vamos
em cada uma das etapas analisar isso. Mas para reduzir essas dificuldades
você será potenciado com exemplos elucidativos. Vamos pois começar
por analisar o conteúdo e as funções de um anteprojecto pesquisa.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar e enunciar as características de um anteprojecto;

Descrever os principais problemas que um iniciante enfrenta na pesquisa;


Objectivos
Enunciar as possibilidades que um iniciante de pesquisa poderia ter para
ultrapassar as dificuldades iniciais.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 49

Anteprojecto

Terminologia

Você já deve ter-se apercebido que a investigação científica é usada


sobretudo nas universidades e outras instituições de ensino superior como
instrumento didáctico para a formação científica de graduados quer nos
níveis de bacharelato/licenciatura, quer nos de mestrado e doutoramento.

Nos primeiros níveis dos cursos de graduação (bacharelato e licenciatura)


a ‘pesquisa científica’ ainda é marcadamente inicial e elementar.

Parece normal que assim seja. Um iniciante é um principiante mas afinal


é acima de tudo um que, logo desde o início, quer compreender a
natureza das coisas e dos fenómenos da sua área profissional.

Então, que dificuldades gerais você poderá enfrentar ao iniciar uma


pesquisa? Talvez numa tentativa de responder a essa questão você
devesse passar a registar nos dias do seu trabalho científico uma espécie
Reflexão de ‘memória ou autobiografia’ da actividade científica. Isso ajuda muito
a melhorar a sua ‘performance’

Quanto a nós, as dificuldades parecem estar mais ou menos relacionadas


com os seguintes aspectos:

Capacidade para identificar um tema de pesquisa e a partir daí, identificar


um problema e elaborar as questões preliminares e os objectivos gerais.

Certamente você se questiona, será este o tema de pesquisa que pretende


abraçar? Será que você compreende o quer com um tema destes? Será
que tem competências para por as ideias deste projecto em
funcionamento?
50

Seja como for, para você poder iniciar uma pesquisa, você terá de esboçar
um projecto. Para isso nada mais que um ensaio ou seja um anteprojecto.
Afinal, qualquer cientista sénior geralmente começa o processo também
com anteprojecto.

Um anteprojecto é, afinal, uma maneira de esboçar ideias iniciais e ténues


sobre o tema, sobre as questões, sobre os objectivos e sobre o problema.
É uma forma de tactear até à tomada de uma posição mais elaborada
sobre todos estes aspectos. É uma forma de planificação da pesquisa até
alcançar a forma de projecto.

Assim, um anteprojecto poderia passar pelas seguintes fases:

Realização de estudos preliminares na tentativa de equacionar o problema


de pesquisa;

o Elaboração de estudos preliminares sobre o tema da pesquisa;

o Estruturação dos tópicos gerais que vão caracterizar o estudo;

o Colocação das questões preliminares sobre o objecto de estudo na


pesquisa;

o Definição em termos gerais dos objectivos da pesquisa;

o Análise da relação ou da coerência entre o problema e os


objectivos;

o Comparação ou análise da consistência (ausência de


contradições) entre os objectivos, o problema e as questões;

o Resumo de ideias, conceitos-chave, modelos e teorias sobre o


problema na literatura;

Se você prestar a devida atenção aos aspectos acima mencionados, você


está no caminho certo para avançar. Procure observar a coerência e a
consistência entre os elementos propostos ou seja entre os objectivos,
problema, questões preliminares, tema, conceitos-chave da pesquisa,
antes de avançar para as fases mais elaboradas.

Em termos práticos você deve elaborar a redacção do anteprojecto


considerando os aspectos acima mencionados usando frases simples e
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 51

breves. Geralmente temos vindo a solicitar simplesmente uma página aos


estudantes contendo estes aspectos.

Alguns estudantes julgam-se já à altura e em condições de redigir muito


texto, só porque podem ‘descarregar’ muita informação da Internet.
Alguns acham que perdem muito tempo com a elaboração de um
anteprojecto ou mesmo de um projecto. Outros até preferem iniciar a
pesquisa sem mais delongas. Qualquer ‘benefício’ que isso possa trazer
ao espírito de cada um, é uma grande aventura do espírito, lançar-se na
pesquisa sem um projecto definido. Por exemplo, uma página do
anteprojecto já pode mostrar as potencialidades das ideias iniciais e a sua
coerência. Entre os estudantes que têm vindo a enfrentar mais
dificuldades em por um projecto em funcionamento, destacam-se aqueles
estudantes que quase sempre, optaram pela improvisação.

Embora seja a fase preliminar, as questões que se colocam na fase de


anteprojecto também têm muito significado na fase de elaboração do
projecto definitivo. Afinal ganham aí uma certa consolidação. Assim,
ocorre uma evolução da capacidade de operacionalizaçao das questões
que deveriam ser respondidas por um anteprojecto e por um projecto de
pesquisa:

• O que fazer?

• Por quê, para quê, para quem fazer?

• Onde fazer?

• Como, com quê e quando fazer?

• Com quanto fazer?

• Como pagar?

• Quem vai fazer?


52

Sumário

Anteprojecto:

1. Trata-se de um ensaio de ideias, intenções ainda de uma


forma vaga;

2. Uma maneira de esboçar ideias iniciais e ténues sobre o


tema, sobre as questões, sobre os objectivos e sobre o
problema;

3. Uma forma de tactear até à tomada de uma posição mais


elaborada sobre todos os aspectos do projecto;

4. Uma forma de planificação da pesquisa inicialmente


adoptada até alcançar a forma de projecto definitivo
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 53

Exercícios

1. Elabore numa página um anteprojecto de pesquisa. Não tenha


receio que algo esteja errado. Você estará trilhando o caminho se
você se puser a andar.
Auto-avaliação
2. Reúna o seu grupo de trabalho e apresente as ideias que tem.
Faça o Brainstorming (chuva de ideias) com os colegas.
Discutam as ideias mais em termos das suas potencialidades e
menos das fraquezas.

3. Analise e avalie cuidadosamente os conceitos-chave na redacção


do texto do anteprojecto.

4. Descreva por suas próprias palavras o que é um anteprojecto!

5. O que distingue um anteprojecto de um projecto definitivo?

6. Por que é que é importante um projecto de pesquisa?


54

Lição no2

Termos de Referência de um
Projecto final ou definitivo de
Pesquisa

Introdução

Nesta lição você vai aprender a conduzir uma análise mais elaborada
sobre o projecto de pesquisa. Para podermos iniciar esse processo você
precisa de um projecto definitivo de pesquisa.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar os termos de referência de um projecto de pesquisa;

Enunciar as questões de um projecto de pesquisa.


Objectivos

Tema, problema, questão científica, hipóteses preliminares, objectivos,


metodologia, solução do problema, recolha de dados.

Terminologia

Se vocêolhar para a pesquisa científica no contexto específico como um


instrumento didáctico para a elaboração da monografia científica,
certamente você estará de acordo com CRESSWELL (2005) que define
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 55

pesquisa como um processo de etapas usadas para analisar informação


com o objectivo de nos facultar uma melhor compreensão sobre um
tópico ou assunto. Neste contexto, para você como pesquisador-iniciante,
a pesquisa poderia observar genericamente os seguintes termos de
referência:

Identificação do tema (que caracteriza a área ou o delimita, a área de


pesquisa);

Identificação e formulação do problema (caracteriza a área ou o delimita,


a área que necessita de soluções novas ou de novas ideias uma de uma
nova avaliação ou abordagem)

Formulação da questão científica (o que a pesquisa irá produzir como


resposta, as soluções que a pesquisa pretende produzir, as questões
aparecem como uma reformulação dos objectivos e visam encontrar a
resposta a uma questão não respondida)

Formulação de hipóteses preliminares (a explicação provisória do


problema)

Desenho de uma metodologia para solução do problema (elaboração e


identificação de técnicas específicas e apropriadas para resolução do
problema)

Recolha de dados para responder à questão colocada e testagem da


hipótese mais verosímil (identificação de instrumentos específicos de
observação sistemática)

Análise dos dados e elaboração das respostas às questões e análise das


consequências extrapoladas a partir das hipóteses.

Você verá que ao longo da apresentação deste módulo, haverá mais


aspectos a desenvolver e a considerar como relevantes ao processo de
pesquisa. Contudo estes aspectos poderiam ser considerados como a
estrutura básica de referência.
56

Tabela 1: Questões básicas para um projecto de pesquisa

O que fazer? O que pesquisar? (objectivos)

Por quê, para quê, para quem Por quê pesquisar o que se esta
fazer? propondo? (Justificação)

Onde fazer? Em que perspectiva pesquisar?


(Fundamentação teórica)

Como, com quê e quando Como pesquisar? (Metodologia)


fazer?

Com quanto fazer?

Como pagar?

Quem vai fazer?

A Importância da investigação – funções da pesquisa

Certamente que você já deve estar a questionar-se sobre qual a


importância da pesquisa.

Será que um professor de física/química ou de matemática precisa de


conhecimentos e da teoria sobre a pesquisa? Afinal, no quotidiano parece
que um professor mal tem tempo de preparar as suas aulas, quanto mais
Reflexão disponibilidade de tempo para a pesquisa!. Então qual a sua posição sobre
isso?

Dica: Quais são os problemas na profissão de professor? Quais são as


dificuldades que um professor de ciências enfrenta no processo de
ensino? Quais são os aspectos de problemas que a formação pode
responder? Quais não?
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 57

Certamente que você elaborou alguma posição em relação ao problema


anterior sobre a necessidade de conhecimentos teóricos e práticos de
pesquisa para um professor.

Se você pensar sobre as funções da pesquisa talvez você encontre uma


parte da resposta a essa questão.

Uma das funções básicas da investigação é a de adicionar conhecimento


sobre determinado assunto e desta forma melhorar a situação ou
solucionar um problema.

No mundo de hoje, a investigação pode orientar os futuros e os


professores em exercício para enfrentarem problemas relacionados com a
degradação do meio ambiente, com o SIDA, com o fraco aproveitamento
pedagógico, com o desemprego, desigualdades sociais etc. Estes são
alguns dos problemas que não podem ser resolvidos simplesmente pela
formação. A formação cria as bases para se aprender a abordar, por
exemplo, o problema do fraco rendimento pedagógico. Os problemas de
rendimento pedagógico nas ciências naturais podem estar relacionados de
forma multifacetada com o ‘fraco’ acesso aos níveis concretos de
‘experimentação experimental’ ou com ‘fraco’ domínio da ‘Língua
Portuguesa’ ou com a ‘falta’ de acesso à literatura ou de livros escolares,
ou com excesso de trabalho caseiro ou devido a poucos hábitos de leitura
etc. Por esta e outras razões a pesquisa é necessária para o melhoramento
das competências profissionais.

Para um professor em exercício, a investigação ajuda para:

Preencher uma lacuna num conhecimento, investigando um tópico que


não tenha sido ainda investigado na área considerada. Os exemplos
seguintes procuram ilustrar isso.
58

1. Uma abordagem metodológica e cultural no ensino de física para


turmas numerosas em Moçambique.

2. Construção de modelos de máquinas térmicas com materiais de


Estudo de caso / baixo custo para experimentação na aprendizagem da física em
Exemplo Moçambique.

3. Produção de um gerador electrostático de alta tensão com


materiais de baixo para o estudo de fenómenos da electrostática.

Etapas do método de pesquisa

Você já se apercebeu certamente de que a pesquisa necessita de um certo


grau de organização e de procedimentos (métodos e técnicas) para que ela
possa existir como algo que possa ser posto em funcionamento. Você
abordou já que a pesquisa científica no contexto específico, quando posta
em acção permite a elaboração de uma monografia científica. Para a
elaboração de uma monografia definem-se termos de referência, que
fixam as ‘balizas’ para elaboração (redacção e apresentação) do trabalho:

o Escolha do tema
o Revisão da literatura/Fundamentação teórica
o Justificativa
o Formulação do problema
o Determinação de objectivos/Questões/Hipóteses
o Metodologia
o Colecta de dados
o Apresentação de dados
o Análise e discussão dos resultados
o Conclusão da análise dos resultados
o Redacção e apresentação do trabalho científico
o Divulgação

Na unidade subsequente sobre “Monografia” iremos abordar passo a


passo estas etapas e procuraremos, na medida do possível, ilustrar isso
com exemplos elucidativos.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 59

Sumário

Uma investigação pode ser para:

1. Preencher uma lacuna num conhecimento, investigando um


tópico que não tenha sido ainda investigado na área considerada;

2. Replicar os resultados de uma investigação, testando os


resultados com novos participantes ou diferentes sites, ou com
diferentes amostras de materiais;

3. Expandir os resultados de uma investigação, estendendo a


pesquisa para novas ideias ou práticas;

4. Alargar a nossa perspectiva, adicionando vozes de outros


indivíduos ao corpo do nosso conhecimento;

5. Informar a nossa prática, através do desenvolvimento de novas


ideias.

A Investigação é também importante porque para além de sugerir formas


de melhorar uma situação, oferece oportunidade de considerar novas
ideias, avaliar um programa ou mesmo entrar em conexão ou em
colaboração com outros contextos. A pesquisa acaba assim por informar a
nossa prática de pesquisa.

Etapas do método de pesquisa


1. Escolha do tema;
2. Revisão da literatura;
3. Justificativa;
4. Formulação do problema;
5. Determinação de objectivos;
6. Metodologia;
7. Colecta de dados;
8. Apresentação de dados;
9. Análise e discussão dos resultados;
60

10. Conclusão da análise dos resultados;


11. Redacção e apresentação do trabalho científico;
12. Divulgação.

Exercícios

1. Indique os termos de referência de um projecto de pesquisa.

[Resposta: Identificação e formulação do problema,


formulação da questão científica, formulação de
Auto-avaliação
hipóteses preliminares, desenho de uma metodologia
para solução do problema, recolha de dados para
responder à questão colocada e testagem da hipótese,
análise dos dados e elaboração das respostas às questões
e análise das consequências extrapoladas a partir das
hipóteses]

2. Enuncie as questões fundamentais de um projecto de pesquisa!

3. Elabore uma resposta mais cuidada para as questões


fundamentais de um projecto de pesquisa!
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 61

Unidade 4
Trabalhos Académicos

Introdução

Você aprendeu na unidade 2 as noções fundamentais da estrutura de


referência para a elaboração de um projecto de pesquisa. É muito
importante rever as lições apresentadas nessa unidade para poder dar
prosseguimento à aprendizagem desta unidade. Nesta unidade vai-se
explicitar o significado dos termos de referência de um projecto de
pesquisa e, paralelamente, procurar trazer exemplos elucidativos. O
estudo dos exemplos é opcional.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Relacionar a pesquisa científica com a organização da publicação e


divulgação dos trabalhos científicos, ou seja, com os relatórios, artigos,
dissertação, teses e as monografias científicas;
Objectivos
Descrever o conteúdo específico dos termos de referência de uma
pesquisa científica;

Relacionar os termos de referência de uma pesquisa científica com os


elementos constituintes de uma monografia científica;

Identificar a monografia como uma das formas de publicação de


trabalhos académicos;

Demonstrar capacidades para por um projecto de pesquisa em


funcionamento através da elaboração de uma monografia científica.

Documentação cientifica, tese, dissertação, monografia científica

Terminologia
62

Esta unidade comporta as seguintes lições:

1. Documentação Científica

[Esta lição vai precisar de cerca de 2 lições de trabalho que vão totalizar cerca de
100 minutos de trabalho independente. A cada aula de estudo está prevista uma
duração de cerca de 50 minutos].

2. Monografia Científica

Tempo de estudo da
[Esta lição vai precisar cerca de 6 lições de trabalho que vão totalizar cerca de
Unidade: 53 lições de
300 minutos de trabalho independente. Cada aula de estudo está prevista para
trabalho independente
durar cerca de 50 minutos]

3. Normas e Procedimentos de Pesquisa na UP

[Esta lição vai precisar de cerca de 4 lições de trabalho que vão totalizar cerca
de 200 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está prevista
para durar cerca de 50 minutos]

4. Tema da Pesquisa

[Esta lição vai de precisar cerca de 3 lições de trabalho que vão totalizar cerca
de 150 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está prevista
para durar cerca de 50 minutos]

5. Problema da Pesquisa

[Esta lição vai precisar de cerca de 8 lições de trabalho que vão totalizar cerca
de 400 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está prevista
para durar cerca de 50 minutos]

6. Fundamentação Teórica e Hipóteses da Pesquisa

[Esta lição vai precisar cerca de 10 lições de trabalho que vão totalizar cerca
de 500 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está prevista
para durar cerca de 50 minutos]

7. Justificativa e Objectivos da Pesquisa

[Esta lição vai precisar de cerca de 4 lições de trabalho que vão totalizar cerca
de 200 minutos de trabalho independente. Cada de lição de estudo está
prevista para durar cerca de 50 minutos]
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 63

8. Métodos da Pesquisa

[Esta lição vai precisar de cerca de 12 lições de trabalho que vão totalizar cerca de
600 minutos de trabalho independente. Cada lição de estudo está prevista para durar
cerca de 50 minutos]

9. Critérios da Demarcação Científica

[Esta lição vai precisar de cerca de 4 lições de trabalho que vão totalizar cerca de 200
minutos de trabalho independente]. Esta unidade comporta um total de cerca de 2650
minutos de trabalho independente que perfazem cerca de 53 lições.
64

Lição no1

Documentos científicos

Introdução

Esta unidade é importante para si, por fornecer uma tipologia de


documentos científicos. Como os documentos científicos se referem a
uma forma de divulgação ou de publicação dos resultados da pesquisa,
torna-se óbvio relacionar os documentos científicos com os diferentes
tipos de trabalhos científicos.

Ao completar esta unidade, você será capaz de:

Definir trabalhos científicos;

Definir os padrões dos diferentes tipos de trabalhos científicos;


Objectivos
Identificar os diferentes tipos de trabalhos científicos.

Tipos de documentação científica: dissertação, tese, trabalhos


académicos. Padrões, Documentos científicos.

Terminologia

Documentos científicos

Segundo CASTRO (2005) apud LAKATOS e MARCONI (1991 a) e


SALOMON (1999), a expressão “Documentos Científicos” compreende
“variados tipos de textos elaborados segundo estruturas e normas
preestabelecidas, em suas diferentes formas de apresentação, como
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 65

monografia, a dissertação, as teses, paper’s, ensaios, resenhas e/ou


artigos científicos”.

Segundo CASTRO (2005 p.66) alguns autores reconhecem a existência


de três tipos de documentação científica:

1) Observações ou descrições originais de fenómenos naturais,


análise de novas espécies, estruturas, funções, mutações e
variações em um dado ambiente, dados ecológicos, etc.

2) Trabalhos experimentais em variados campos do saber.


Submete fenómenos estudados a condições controladas por
experiência.

3) Trabalhos teóricos de análise ou síntese de conhecimentos,


que levam, através das vias dedutivas, indutivas e hipotéticas
à produção de novos conceitos.

Trabalho de Pesquisa

Trata-se de um trabalho individual, com um único tema, em que se pode


estabelecer uma inter-relação com outros temas ou abordar os seus
diversos aspectos. Por exemplo, os departamentos da Faculdade de
Ciências Naturais e Matemática vêm esforçando-se para que o trabalho
de pesquisa esteja ligado às linhas de pesquisa definidas no curso. Não há
exigência de originalidade na escolha do problema de pesquisa, mas de
um novo enfoque sobre o assunto escolhido.

Os trabalhos deverão atender ao rigor científico sob orientação de um


professor-orientador escolhido por área de pesquisa, de tal forma que,
após a sua conclusão, seja possível

1. Extrair um artigo para publicação em revistas especializadas ou


livros;
2. Apresentar a pesquisa em seminários científicos ou congressos;
3. Submeter o trabalho a concursos de Monografia.
66

Exemplos de Padrões

Por analogia à ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS seria importante avançarmos com o estabelecimento de
normas técnicas para a elaboração e definição dos padrões de trabalhos
científicos. Estes aspectos ainda não foram legislados ao nível de várias
instituições do ensino superior no nosso País. Assim, alguns estabelecem
três fases (e assim três partes) para a elaboração da Monografia e fixam
claramente os padrões a serem seguidos para:

Dissertação

Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou


exposição de um estudo científico retrospectivo, de tema único e bem
delimitado em sua extensão, com o objectivo de reunir, analisar e
interpretar informações. Deve evidenciar o conhecimento da literatura
existente sobre o assunto e a capacidade de sistematização do candidato.
É realizado sob a coordenação de um orientador (Doutor), visando a
obtenção do título de Mestre.

Tese

Documento que representa o resultado de um trabalho experimental ou


exposição de um estudo científico de tema único e bem delimitado. Deve
ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se em real
contribuição para a especialidade em questão. É realizado sob a
coordenação de um orientador (Doutor) e visa a obtenção do título de
Doutor, ou similar.

Trabalhos académicos

Similares (trabalho de conclusão de curso –TCC, trabalho de graduação


interdisciplinar – TGI, trabalho de conclusão de curso de especialização
e/ou aperfeiçoamento e outros):
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 67

Trata-se de um documento que representa o resultado de estudo, devendo


expressar conhecimento do assunto escolhido. Deve ser emanado da
disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros
ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador.

Sumário

Trabalhos académicos

Trata-se de um documento que representa o resultado de estudo, devendo


expressar conhecimento do assunto escolhido.

Exemplos de Padrões

Os trabalhos científicos representam o resultado de um trabalho


experimental ou exposição de um estudo científico de tema único e bem
delimitado.

Para a dissertação

Deve evidenciar o conhecimento da literatura existente sobre o assunto e


a capacidade de sistematização do candidato. É realizado sob a
coordenação de um orientador (Doutor), visando à obtenção do título de
Mestre.

Para a tese

Deve ser elaborado com base em investigação original, constituindo-se


em real contribuição para a especialidade em questão. É realizado sob a
coordenação de um orientador (Doutor) e visa à obtenção do título de
outor, ou similar.
68

Exercícios

1. Defina o que são trabalhos científicos!

2. Defina os padrões dos diferentes tipos de trabalhos científicos!

Auto-avaliação 3. Proceda à recolha de alguns trabalhos científicos! Analise-os


quanto ao tipo de pesquisam que reportam! Identifique-os e
descrimine-os quanto à sua natureza e argumente a sua posição!
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 69

Lição no2

Monografia científica

Introdução
Você vai aprender, e de acordo com HÜBNER (1998), que as
Monografias apresentam requisitos básicos para sua elaboração e
apresentação: “precisão, clareza e encadeamento lógico no tratamento de
tema de relevância social e científica”.

Esta lição vai ocupar-se com a explicitação de todos os factores que


determinam a clareza e a sequência lógica no tratamento do tema. Por
razões de ordem técnica, as lições (1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9), que explicam
o conteúdo dos diversos aspectos que constituem os termos de referência
de um projecto de pesquisa foram apresentadas separadamente.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Explicar o conteúdo dos diversos aspectos que constituem os termos de


referência de um projecto de pesquisa;

Demonstrar competências de redigir e apresentar um trabalho científico


Objectivos
na forma de monografia científica;

Demonstrar capacidades de responder, através da pesquisa a um


problema ou às questões colocadas;

Demonstrar capacidades de por um projecto de pesquisa em


funcionamento.

Monografia, pesquisa, observações ou descrições originais, trabalhos


experimentais, trabalhos teóricos.

Terminologia
70

Monografias cientificas
Não vai ser possível que você se debruce com profundidade sobre todo o
tipo de documentação científica. Você vai concentrar-se em aspectos
úteis à elaboração de trabalhos académicos começando pela Monografia.
Afinal, esta é uma actividade regulamentada pelo Regulamento
Pedagógico da Universidade Pedagógica.

A monografia é um trabalho científico que incorpora as actividades de


leitura, análise e interpretação da literatura técnica sobre algum tema
relacionado ao curso para o desenvolvimento de aspectos académicos e
profissionais do futuro professor.

Você já se apercebeu de que na Universidade Pedagógica o


desenvolvimento da experiência de investigação científica dos estudantes
para o ensino de ciências, é estabelecido por um regulamento específico
que estabelece as normas gerais de orientação e apresentação dos
resultados científicos.

Como estudante do ensino superior, você regra geral, terá de elaborar e


apresentar uma monografia científica como produto de trabalho de
pesquisa científica. Você pode ver esta medida como estando inserida no
contexto da exigência que decorre das obrigações institucionais mas
também de desenvolvimento técnico-científico que se espera no país de
modo a propiciar a produção do conhecimento científico.

A Monografia versus Pesquisa científica

Quanto à metodologia, a monografia pode estar baseada e relacionada


com diferentes tipos de pesquisa. Já havíamos referenciado isso na lição 1
sobre “documentação científica” nesta unidade. Assim, a monografia
pode atender os seguintes tipos de pesquisa:
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 71

1. Observações ou descrições originais de fenómenos naturais,


análise de novas espécies, estruturas, funções, mutações e
variações em um dado ambiente, dados ecológicos, etc.

2. Trabalhos experimentais em variados campos do saber.


Submete fenómenos estudados a condições controladas por
experiencia.

3. Trabalhos teóricos de análise ou síntese de conhecimentos,


que levam, através das vias dedutivas, indutivas e hipotéticas
à produção de novos conceitos.

Quando estivermos a abordar a lição 8 sobre métodos de pesquisa, você


vai ampliar a terminologia sobre os tipos de pesquisa para incluir a
chamada pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa.

Quais são os requisitos básicos de uma monografia, é o que pretendemos


analisar consigo de seguida.

Estrutura básica

A Monografia Científica, sendo um trabalho científico, obedecerá à


seguinte estrutura básica:

a) Elementos pré-textuais

- Capa;
- Página de rosto;
- Índice;
- Índice de tabelas, figuras, mapas, gráficos, símbolos,
abreviaturas;
- Declaração;
- Dedicatória (facultativo);
- Agradecimentos (facultativo);
- Resumo.
72

b) Elementos textuais

- Introdução;
- Desenvolvimento;
- Conclusão.

c) Elementos pós textuais

- Apêndices;
- Anexos;
- Bibliografia final.

Explicações sobre alguns elementos da estrutura básica


dos trabalhos

a) Capa – É apresentada da seguinte forma:

• no alto da página, o nome completo do autor;


• no centro da página, o título do trabalho e o grau académico que
se pretende obter;
• por baixo da página, Universidade Pedagógica, cidade e o ano
civil.

b) Página de rosto – É apresentada da seguinte forma:

• no alto da página, o nome completo do autor;


• mais abaixo, a seguir, o título do trabalho;
• mais abaixo, à direita, indica-se o Departamento,
Faculdade/Delegação natureza do trabalho e o grau académico
que se pretende obter;
• seguidamente o(s) nome(s) do(s) supervisor (es);
• por último, Universidade Pedagógica, local e ano civil.

c) Índice – Esquematiza as principais divisões do trabalho: partes,


secções, capítulos, entre outros, tal como aparece no corpo do
trabalho, indicando ainda a página em que cada divisão inicia. Indica
ainda as listas, tabelas, bibliografia. Vem logo depois da página de
rosto.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 73

d) Índice de tabelas, figuras, mapas e outros – caso constem do trabalho


tabelas, figuras, mapas e outros, são elaboradas as respectivas listas,
que se situam com a respectiva paginação, logo após o sumário.

e) Resumo – não deve exceder uma página e deve ser escrito em


Português. O resumo é dactilografado a um espaço.

f) Introdução – deve constar desta parte do relatório o seguinte:


objectivos (gerais e específicos), fases das PPs, problema, hipóteses
explicativas, metodologia de trabalho e referências teóricas.

g) Desenvolvimento – nesta fase do relatório importa inserir:

(i) apresentação e explicação das etapas das PPs;

(ii) sistematização e análise de dados da observação e


leccionação de aulas. Os dados poderão ser sistematizados
de acordo com as seguintes categorias:

- descrição da escola: organização pedagógica e


administrativa, organização do grupo de disciplina
(número de professores, formação académica,
experiência profissional, estrutura hierárquica,
encontros de planificação, etc.);

- projecto curricular da escola, i.e., as adequações


curriculares que são efectuadas pela escola com vista ao
cumprimento dos programas oficiais;

- turma(s) observada(s): número de alunos, idade,


antecedentes escolares que se julguem necessários
registar;

- objectivos e critérios de observação de aulas;

- aulas observadas: objectivos, funções didácticas,


princípios didácticos, métodos de ensino-aprendizagem;
materiais didácticos, relação professor/aluno, estratégias
de ensino-aprendizagem, avaliação da aprendizagem,
disciplina, entre outros aspectos pedagógicos.
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h) Conclusão – nesta parte do trabalho deverá constar: síntese dos


problemas, das inferências, das conclusões e limitações;
recomendações e propostas sobre as PPs.

f) Apêndices e anexos – Acrescentam-se quando exigidos pela natureza


do trabalho. Os apêndices são geralmente desenvolvimentos
autónomos, elaborados pelo próprio autor, para complementar o
próprio raciocínio. Por sua vez, os anexos são documentos nem
sempre do próprio autor que servem de complemento ao trabalho e
fundamentam a pesquisa.

g) Bibliografia final – É apresentada segundo ordem alfabética dos


autores e deve conter os seguintes dados essenciais:

• Autor;
• Título do documento;
• Edição;
• Local de publicação;
• Editora;
• Data;
• Número de páginas.

Apresentação gráfica da monografia

a) Todos os textos devem ser dactilografados a 1,5 espaços e escritos


num só lado de folhas A4;
b) São usadas as seguintes margens:

Margem superior: 3cm

Margem inferior: 2cm

Margem esquerda: 3 cm

Margem direita: 2cm;

c) A numeração começa a partir da página de rosto. O número é


colocado no alto da página, à direita;
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 75

d) Os capítulos devem ser iniciados numa nova página, mesmo que


sobre espaço suficiente na página que termina o capítulo anterior;
e) O tamanho da letra é 12, a fonte é Times New Roman ou Arial.
f) Índice

Quando compilado o seu projecto deverá comportar as


seguinte partes constituintes:

Introdução

Representa uma visão geral do projecto, que deve desencadear o


interesse por parte dos leitores sobre o tema em discussão. Apresente
aqui de uma forma geral o tópico e se refira de um modo geral ao
problema. Apresente também as partes que constituirão o seu
projecto (cerca de 250 palavras).

Problema

Descreva aqui o seu problema. Você poderá começar por contar


como foi que você chegou a esse problema. Se a pesquisa é
qualitativa use a primeira pessoa do singular e de uma forma
narrativa crie interesse no leitor quanto ao seu problema. Descreva o
contexto e o tópico. E poderá terminar se quiser com uma pergunta
geral (o tamanho pode variar muito dependendo da estratégia que
você escolherá para atrair atenção ao seu problema)

Objectivos

Objectivo geral

Especifique aqui as finalidades principais do projecto. Normalmente


um único paragrafo. E a síntese do que pretende alcançar.

Objectivos específicos

São o desdobramento do objectivo geral. Cada um deles representa


uma contribuição no alcance do objectivo geral. Devem ser mais que
dois.
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Perguntas de pesquisa

Comece com verbos como ‘Qual/Quais? Como? Porque?’ Devem ter


uma relação estreita com os objectivos. Devem ser mais que duas.

Justificativa

Defenda aqui a necessidade da pesquisa. Poderá apresentar


justificativas profissionais, sociais, culturais, técnicas, etc. (250
palavras no mínimo)

Relevância

Pode ser combinada com a justificativa. Apresente aqui o impacto


que se espera da sua pesquisa. Refira-se à contribuição Professional,
social ou outra da sua pesquisa.

Fundamentação teórica

Apresente aqui a sua revisão preliminar de literatura. Engloba o


levantamento e análise criteriosa e sistemática dos resultados e
conclusões de outras pesquisas acera de determinado tema. Você
deverá organizar, resumir, comparar, criticar outras pesquisas
realizadas. Você deverá mostrar que esta bem informado sobre o seu
tema.

O texto deve ser bem referenciado para evitar qualquer tipo de


questionamento quanto à origem e conteúdo. Seguir as normas de
citação da UP(duas páginas no mínimo).

Metodologia

Descreva aqui o modo como será desenvolvida a pesquisa. Deverá


indicar o tipo de pesquisa, o tipo de metodologia, os instrumentos de
colheita de dados a usar, os procedimentos éticos e a forma como
analisará os dados. Deverá também indicar que precauções tomará
para garantir a validade e confiabilidade dos dados. Note que os
verbos no projecto devem estar no futuro, pois você ainda não
realizou a pesquisa. Este é apenas o plano da pesquisa (duas paginas).

Cronograma
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 77

Apresente aqui um mapa de quando fará cada uma das actividades


previstas.

Exemplo:

Actividade Julho Agosto Setembro Outubro …

Contactar X X
escolas

Aplicar os X X
questionários

Análise dos X
dados

Referências

Siga as normas de referenciação da UP

Sumário

Introdução

Situar rapidamente o tema no contexto teórico da área (actualidade) e


na realidade socio-económica (possíveis implicações práticas).

Situar a questão (ou a problemática) no tema.

Esclarecer o objectivo do projecto de pesquisa, em termos gerais.

Esclarecer qual é a unidade empírica de análise (grupos, organizações


etc.) destacando brevemente os aspectos que justificam tal escolha

Problema
78

Formular o problema consiste em dizer, de maneira explícita, clara,


compreensível e operacional, qual a dificuldade com a qual nos
defrontamos e que pretendemos resolver, limitando o seu campo e
apresentando suas características.

Objectivos

Objectivo geral

Especifique aqui as finalidades principais do projecto. Normalmente


um único paragrafo. E a síntese do que pretende alcançar.

Objectivos específicos

São o desdobramento do objectivo geral. Cada um deles representa


uma contribuição no alcance do objectivo geral. Devem ser mais que
dois.

Perguntas de pesquisa

Comece com verbos como ‘Qual/Quais? Como? Porque?’ Devem ter


uma relação estreita com os objectivos. Devem ser mais que duas.

Justificativa

Defenda aqui a necessidade da pesquisa. Poderá apresentar


justificativas profissionais, sociais, culturais, técnicas, etc. (250
palavras no mínimo)

Relevância

Pode ser combinada com a justificativa. Apresente aqui o impacto


que se espera da sua pesquisa. Refira-se à contribuição Professional,
social ou outra da sua pesquisa.

Fundamentação teórica

Apresente aqui a sua revisão preliminar de literatura. Engloba o


levantamento e análise criteriosa e sistemática dos resultados e
conclusões de outras pesquisas acera de determinado tema. Você
deverá organizar, resumir, comparar, criticar outras pesquisas
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 79

realizadas. Você deverá mostrar que esta bem informado sobre o seu
tema.

O texto deve ser bem referenciado para evitar qualquer tipo de


questionamento quanto à origem e conteúdo. Seguir as normas de
citação da UP(duas páginas no mínimo).

Metodologia

Descreva aqui o modo como será desenvolvida a pesquisa. Deverá


indicar o tipo de pesquisa, o tipo de metodologia, os instrumentos de
colheita de dados a usar, os procedimentos éticos e a forma como
analisará os dados. Deverá também indicar que precauções tomará
para garantir a validade e confiabilidade dos dados. Note que os
verbos no projecto devem estar no futuro, pois você ainda não
realizou a pesquisa. Este é apenas o plano da pesquisa (duas paginas).

Cronograma

Apresente aqui um mapa de quando fará cada uma das actividades


previstas.

Exercícios

1. Explique o conteúdo dos diversos aspectos que constituem os


termos de referência de um projecto de pesquisa!

2. Defina o que é uma monografia científica.


Auto-avaliação

3. Delimite o campo de acção de uma monografia em relação a


outros trabalhos académicos!

4. Indique os diferentes tipos de pesquisas científicas frequentes em


trabalhos académicos.

5. Relacione os diferentes tipos de pesquisas científicas frequentes


em trabalhos académicos com o Tema do seu projecto!
80

Lição no3

Normas e Procedimentos da
Monografia na UP

Introdução

Esta lição destina-se à apresentação das normas e procedimentos que a


Universidade Pedagógica adopta para o processo de elaboração da
monografia científica. Portanto você é solicitado a familiarizar-se com
essas normas. Por isso, vamos destacar nesta parte o capítulo VIII do
Regulamento Pedagógico da Universidade Pedagógica que se concentra
na elaboração da monografia científica como uma das formas de
conclusão da licenciatura na UP.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

1. Demonstrar conhecimentos e capacidades de aplicação das


normas e procedimentos para a elaboração;

Objectivos 2. Motivar os estudantes a efectuar pesquisa útil, relevante,


cientificamente organizada e com impacto educacional e social.

3. Demonstrar conhecimentos de procedimentos sobre o acto de


defesa da Monografia.

Supervisão, defesa, curriculum vitae, termo de recepção da monografia


científica.

Terminologia
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 81

O regulamento pedagógico define a monografia científica como sendo


um estudo, cujo fim académico é a obtenção do grau de Licenciatura na
Universidade Pedagógica. De modo geral, espera-se que o estudante
demonstre a capacidade de investigação autónoma e originalidade e que
possa revelar a capacidade de articulação dos saberes.
Efectuar pesquisa útil, relevante, cientificamente organizada e com
impacto educacional e social é uma tarefa complexa e difícil. Vezes sem
conta temos vindo a observar estudantes que nesta fase entrem em
pânico. A ideia principal é favorecer o amadurecimento de ideias e de
iniciativas de projectos de pesquisa que permitam ao estudante
desenvolver projectos de pesquisa no âmbito da educação e da física
educacional ou da química educacional. A pesquisa científica aprende-se
fazendo. Sem dúvida que a questão da supervisão da Monografia
Científica constitui um dos aspectos que você logo à partida terá de
procurar garantir no seu trabalho.

1. A supervisão da Monografia Científica é feita por um ou dois


docentes internos ou um interno e um externo à UP.
2. O(s) supervisor(es) é/são responsável/eis pela orientação e
acompanhamento do estudante no desenvolvimento da sua
Monografia Científica.
3. A nomeação do(s) supervisor(es) internos e externos é da
responsabilidade do Chefe de Departamento
4. A Monografia Científica deve apresentar um mínimo de trinta (30)
páginas (excluindo os apêndices e os anexos).
5. Muitos estudantes têm tido dificuldades em cumprir com os prazos de
entrega da Monografia Científica que deve ser projectado, o mais
tardar, logo no início do 1º mês de Licenciatura (1º semestre do 4º
ano), sendo o acto formalizado mediante o preenchimento de uma
ficha de inscrição no Departamento.
6. A entrega da versão definitiva da Monografia Científica, aprovada
pelo supervisor, deve ser feita até noventa (90) dias após a conclusão
das disciplinas ou actividades curriculares do curso.
7. Só está apto a fazer a entrega da Monografia Científica, o estudante
que obtiver aprovação em todas as disciplinas ou actividades
curriculares do curso.
82

8. No caso do prazo referido em 2 ser eventualmente ultrapassado, o


estudante deverá requerer, de forma justificada, a sua prorrogação ao
Director da Delegação/ Faculdade.
9. O estudante deve entregar cinco (5) exemplares da Monografia
Científica ao Chefe de Departamento.
10. A entrega da Monografia Científica deve ser acompanhada pelo
Curriculum Vitae.
11. No acto da entrega, o Chefe de Departamento deve preencher o
Termo de recepção da Monografia Científica.
12. A apresentação da Monografia Científica é um acto público.
13. A apresentação realiza-se logo que estejam criadas as condições
necessárias para o efeito.
14. A apresentação é realizada perante um Júri proposto pelo Chefe de
Departamento e nomeado pelo Director da Delegação.
15. O supervisor e o arguente devem entregar, por escrito, ao Presidente
do Júri o seu parecer sobre o trabalho a ser defendido.
16. O acto de defesa da Monografia não deve exceder os sessenta (60)
minutos, devendo incluir as seguintes fases:
a) apresentação do Júri e do candidato pelo Presidente do Júri;
b) apreciação do trabalho pelo Supervisor;
c) apresentação do trabalho pelo candidato;
d) arguição;
e) defesa;
f) deliberação da nota e preenchimento da acta de defesa;
g) leitura da acta.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 83

Sumário

Conhecimentos e capacidades de aplicação das normas e procedimentos


para a elaboração e apresentação da monografia;

Conhecimentos de procedimentos sobre o acto de defesa da Monografia.

Exercícios

1. Enuncie as normas e procedimentos para a elaboração de


trabalhos científicos!

2. Enuncie as normas e procedimentos para o acto de defesa de


Auto-avaliação
trabalhos científicos na UP!

3. Argumente a razão da necessidade de um supervisor para a


orientação do processo de pesquisa e de elaboração da
monografia!
84

Lição no4

Tema da pesquisa

Introdução

Você deve lembrar-se de que para iniciar esta lição, já possui


conhecimentos básicos sobre a construção do conhecimento, os termos
de referência de um projecto de pesquisa e sobre a estrutura final do
projecto de pesquisa. Aprendeu a relacionar a estrutura final do projecto
de pesquisa com a estrutura de apresentação da monografia científica.
Essa estrutura refere-se especificamente aos elementos pré-textuais,
elementos textuais e os elementos pós-textuias.

Agora você tem a tarefa complexa de começar a elaboração da sua


pesquisa e paralelamente a elaboração da sua monografia. Você tem de
decidir donde começar. Quando iniciar a pesquisa ou a elaboração da
monografia terá obviamente de começar de algum lado.

Vamos supor que você inicie o trabalho pela delimitação do tema de


pesquisa. Em que medida o tema de pesquisa poderá vir a ser igualmente
o tema da monografia vai depender muito dos resultados da pesquisa que
você vier a alcançar. Mas inicialmente você vai aprender nesta lição a
analisar os problemas relativos a fixação do tema de pesquisa. Mais
adiante você verá como o tema de pesquisa pode ajudá-lo na fixação do
tema da monografia.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar elementos e factores a tomar em consideração para a escolha


do tema ou da área de pesquisa;

Objectivos Identificar a área de pesquisa que implicará o tema do seu projecto;


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 85

Fixar um tema ou área de pesquisa.

Tema de pesquisa, fontes de informação, capacidades individuais, fontes


primárias, fontes secundárias, pesquisa bibliográfica

Terminologia

Uma pergunta que decerto virá à sua mente é: O que vou pesquisar? É
claro que não existe uma resposta taxativa sobre esta pergunta, porque de
facto a motivação sobre o seu tema deverá vir de si. Você poderá
considerar, por exemplo, pesquisar um aspecto ou uma área de interesse
de um assunto que se deseja provar ou desenvolver. Onde encontrar essa
área? As fontes de assuntos são diversas: vivência diária, questões
polémicas, reflexão, leituras, conversações, debate, discussões etc.

Talvez este seja o momento apropriado para você recorrer ao objecto de


estudo que você realizou na unidade 2 sobre a revisão da literatura. A
revisão da literatura encontra-se relacionada em vários momentos com o
desenvolvimento da pesquisa. Se você tiver já definido o tema então a
revisão da literatura ajuda você a explorar a bibliografia disponível sobre
o assunto. Se ainda não tiver fixado o tema (este é afinal o caso que
estamos a discutir) então isso pressupõe necessariamente que exista uma
pesquisa bibliográfica preliminar ou exploratória. Portanto, você precisa
sempre de uma pesquisa bibliográfica preliminar ou exploratória para
caminhar de forma mais segura na identificação do tema de pesquisa.

Uma fonte de ideias que você nunca deveria ignorar, principalmente por
que você está num curso de formação, é a comunicação com os docentes.
Estes costumam providenciar um certo manancial de temas de pesquisa
para os estudantes. Explore conscientemente com esse fim, no meio dos
docentes ligados a alguma instituição de ensino superior nas
proximidades da zona onde vive ou trabalha as possibilidades que eles
poderiam oferecer.
86

Se a fixação do tema de pesquisa provir através da pesquisa bibliográfica,


tenha em conta, que isso exige técnica, rigor e disciplina. A bibliografia,
como a documentação, constitui um ramo auxiliar da ciência, pois nos
ensina a procurar as fontes, livros e outros materiais científicos a serem
utilizados nos trabalhos.

Fontes de consulta para fixação do tema de pesquisa

A finalidade principal da bibliografia, procurar é colocar o pesquisador


em contacto com tudo o que se tem pesquisado sobre o assunto objecto da
pesquisa. Dum modo geral, você terá de recorrer a diferentes fontes para
fixar o tema da pesquisa. O tema poderia ser seleccionado a partir:

Revisão bibliográfica, Documentos, Gravações, Fotografias, Experiência


pessoal, Observações (de indivíduos ou de fenómenos), vivência do
quotidiano, seminários e reuniões e todas as formas de comunicação com
docentes e colegas.

A questão fundamental é a sua opção e suas capacidades para por essas


ideias em funcionamento. Se por exemplo você tiver poucos dados ou
difícil acesso aos dados e as fontes primárias e secundárias forem
escassas ou inacessíveis isso pode prejudicar a sua decisão em fixar uma
determinada área como tema de pesquisa, pois a reconstrução da
informação será sempre deficitária. Vamos de seguida analisar algunas
exemplos de escolha de tema.

Um estudante que passou a infância junto a avó que preparava bebidas


tradicionais, quando ingressou na UP e frequentou aulas laboratoriais,
começou a se interessar por métodos de obtenção de álcoois, usando
matérias e substâncias alternativas aos convencionais. Uma outra
Estudo de caso /
estudante que durante a sua prática pedagógica ficou negativamente
Exemplo da Química
marcada com a atitude rude do professor começou a se interessar em um
tema que estivesse relacionado com a relação professor-aluno e a sua
influencia na motivação dos alunos, uma outra ainda tendo lido sobre
problemas ambientais causados pelo lixo, pensou em um tema que
pudesse engajar comunidades de certos bairros em projectos de
compostagem do lixo para re-uso como adubo
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 87

E você, que assunto lhe terá despertado a atenção, na sua profissão,


faculdade, escola, bairro, ministério ou outro? Qual o assunto e qual o
fenómeno a ele relacionado?
Reflexão
Você tem que reflectir bastante para o seu tema. Não se preocupe se as
suas primeiras tentativas de formulação não agradam mesmo a si.
Geralmente a gente dá muitas voltas antes de ter uma ideia já bem
concebida sobre o tema. Mas nesta fase em que você procura definir o seu
tema é de muita importância ler algo sobre o seu tema.

Formule um tema de pesquisa e reflicta sobre a sua importância. Aqui


você terá que escrever e reescrever varias vezes o seu tema até que esteja
convencido de que vale a pena a fixação do tema para o trabalho de
pesquisa. Se possível, discuta o seu tema com um amigo, colega ou
Actividade 1
familiar. Se possível também se informe de temas de pesquisa na sua
área, lendo teses ou projectos já elaborados. Esta actividade poderá ter a
duração de uma semana.
88

Sumário

Alguns elementos e factores a tomar em consideração para a escolha


do tema ou da área de pesquisa:

o Capacidades individuais (conhecimentos existente sobre a área)

o Capacidades individuais de enfrentar novos desafios (vontade de


engajar-se e aprender algo totalmente novo)

o Disponibilidade de tempo

o Acessibilidade da informação e das suas fontes (primárias e


secundárias)

o Potencialidades e importância do tema

o Possibilidades de apoio
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 89

Exercícios

1. Indique alguns factores ou elementos a tomar em consideração


para a escolha do tema ou da área de pesquisa!

2. Discuta a influência de cada um dos factores (por exemplo da


Auto-avaliação
relação entre a tempo disponível e o tema ou entre a sua vontade
de aceitar novos desafios e o tema em causa)!

3. Elabore finalmente um tema de pesquisa!

4. Participe numa mesa-redonda de apresentação de temas de


pesquisa com os seus colegas. Participe no debate e registe as
observações dos seus colegas. Contribua e aproveite ao máximo
as contribuições dos seus colegas e não se preocupe em
estabelecer alguma discussão crucial nesta fase!
90

Lição no5

Problema da Pesquisa

Introdução

Nesta lição, você vai aprender um passo muito importante para dar início
ao processo de pesquisa científica. O passo fundamental inicia com a
identificação do problema. Certamente a questão de fundo incide
justamente sobre “o que é um problema? “

Esta lição pretende ajudar você a reconhecer as características gerais ou


os atributos de um problema em termos gerais. Embora seja difícil
caracterizar ou identificar os atributos de um problema específico da
física, da pedagogia ou da química, espera-se que a identificação dos
atributos gerais ajude você a identificar por analogia um problema em
áreas específicas. Você vai logo se aperceber de que a questão de fundo
não é definir, mas identificar um problema de pesquisa. Tão pouco você
precisa de inventar um problema mas aprender a consultar fontes
apropriadas que na maioria das vezes já tenham o problema identificado.

Os exemplos que serão dados ajudam a caracterizar um problema nas


áreas das ciências sociais e educacionais e na física educacional ou na
química educacional.

Identificar os atributos relevantes que caracterizam genericamente um


problema de pesquisa;

Objectivos Identificar as fontes de consulta (documentos, literatura, relatórios,


artigos científicos) prováveis e possíveis de providenciar auxílio à
elaboração de problemas;

Identificar um problema de pesquisa;


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 91

Elaborar finalmente um problema de pesquisa para um determinado


projecto de pesquisa.

Problema, problema de pesquisa científica, quest|ão científica, definição


do problema.

Terminologia

Parece óbvio reconhecer um problema sobretudo quando lemos na


literatura ou nos documentos pois aí ele já se encontra identificado e
formulado. Mas você terá sempre de fazer o questionamento se o que a
primeira vista lhe pareceu um problema será ou não um problema.

Segundo MOREIRA apud Castro (2005, p.69)

“O problema levantado pela pesquisa, é o início de todo processo, nasce


frequentemente da percepção de alguma dificuldade existente na
realidade. Nasce do contacto com o tema, da apreensão dos conceitos-
chave da área … das indagações ligadas ao tema escolhido …”.

Se você relembrar, da lição 2 da unidade 3, onde se destacou que a


identificação e formulação do problema caracteriza a área ou o delimita a
área que necessita de soluções novas ou de novas ideias ou necessita de
uma nova avaliação ou abordagem, então você vai certamente reconhecer
quando é que se está defronte de um problema.

Definição de problema

Do exposto anteriormente, compreendemos que um problema clama pelo


menos por:

o Soluções novas;

o Novas alternativas;

o Novas ideias;
92

o Nova avaliação ou abordagem;

o Respostas às questões não respondidas.

O problema de pesquisa está intrinsecamente ligado à fase inicial, mas


também a todo o processo de pesquisa.

A formulação do problema constitui o ponto de partida de toda a


pesquisa ou o motor do processo investigatório (RUDIO apud CASTRO
(2005, p.69). O problema da pesquisa é o que dá razão à pesquisa.

Segundo RUDIO apud CASTRO (2005, p.26) formular um problema


consiste em:

“Dizer, de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a


dificuldade com a qual nos defrontamos e que pretendemos resolver,
limitando o seu campo e apresentando as suas características. Desta
forma, o objectivo da formulação do problema de pesquisa é torná-lo
individualizado, específico, inconfundível”.

1. Um problema (P) é a diferença entre o que se tem e o que se


pretende

2. Um problema é o afastamento entre o actual (o que é) e o futuro


(o que deve ser)

3. Um problema é a explicitação do objectivo e dos obstáculos ou


das dificuldades Pro = Obj + Dif !

Naturalmente qualquer um sabe o que é um problema. Mas saber definí-


lo, eis a questão. MAX WERTHEIMER apud BUGDAHL (1995, p.16)
elaborou a seguinte tarefa para os seus estudantes:
( 274 + 274 + 274 + 24 + 274 )
Reflexão
5 = ? Analise e argumente: será isto um
problema?

[Resposta: Para si, não é nenhum problema. Você não enfrenta


dificuldades nem obstáculos para resolver esta equação. Então
para quem esta equação é um problema?]
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 93

Este exemplo genérico procura mostrar como é necessário estabelecer a


situação-problema, isto é, situar bem a problemática como condição
básica na delimitação do problema de pesquisa. A escolha do tema e do
problema de pesquisa é difícil, mas não formular um problema
correctamente, nem delimita-lo é andar às cegas, no escuro. Não se pode
realizar uma pesquisa sem a existência de um problema, devidamente
enunciado, para ser resolvido. Não há resposta sem uma questão
anteriormente elaborada. Por isso, deve-se observar se o problema é
relevante, se merece ser investigado cientificamente.

Da reflexão anterior, aprendemos que existem aspectos subjectivos


ligados à percepção do problema.

Dificuldades de resolução de um problema

Segundo BUGDAHL (1995, p.16) um problema deve apresentar


subjetivamente algum grau de dificuldade. Um problema produz tal
Leitura Suplementar desconforto que a pessoa procura geralmente a sua resolução.

A resolução acarreta todavia dificuldades ou obstáculos. As dificuldades


manifestam-se em termos de falta de informações, falta de técnicas de
lidar com a informação ou a informação disponível não é suficiente ou
então a informação disponível deve ser reestruturada ou não se reconhece
por parte dos detentores do problema alguma capacidade de melhorar
uma dada situação.

De facto você poderia seguir o modelo da “Harvard University” baseado


na construção de uma matriz para identificar o tipo de dificuldades que
caracterizam um dado problema identificado, tendo em conta que um
problema é Pro = Obj + Dif .
94

Problema versus questão científica: “estratégia da


pirâmide invertida”

Segundo CASTRO (2005) verificar se o que se pensou é realmente um


problema científico eis a questão. O problema deve ser definido de tal
forma que a solução seja possível por meio da pesquisa científica. O
problema deve ser formulado também sob a forma de uma questão, uma
vez que isso clarifica para o autor e para o leitor, o que se deseja saber. A
questão deve ser redigida de forma clara e concisa.

Existem várias estratégias que você poderá seguir para a redacção do


texto que descreve um determinado problema. Uma estratégia é chamada
de “pirâmide invertida” em que você começará por descrever o contexto
mais amplo do seu problema e ir especificando gradualmente o problema.
Portanto do geral para o particular/específico.

Contexto mais amplo

Mais especifico
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 95

1. Se o seu tema é sobre a qualidade de água nos poços da sua


localidade, poderá primeiro escrever sobre a importância da água
no geral, depois as possibilidades de obter este líquido nessa
localidade, refira-se se já terá havido algum estudo preliminar
sobre esse tema e o que o estudo não terá abrangido e depois
Exemplo da Química e
especifique o problema que você levanta.
de Ensino de Química

2. Se o seu tema estiver relacionado com a fraca assiduidade dos


professores numa determinada escola, você poderá começar por
narrar como entrou em contacto com esse problema (por exemplo
durante as práticas pedagógicas), depois poderá descrever o local
da escola (por exemplo, o distrito, bairro, etc.) e poderá entrar
especificamente no seu problema, por exemplo depois da parte
geral viria:

Diferentemente de escolas do mesmo distrito, a escola


secundária Xiluva, debate-se com a fraca assiduidade
dos professores de Químicas. Estatísticas de 2007
indicam que a média de ausência às aulas é de cerca
de 50% (forneça dados concretos, por exemplo, uma
tabela que ilustre a assiduidade). O problema que esta
pesquisa abordará está relacionado com esta fraca
assiduidade. Quais serão as causas para tal elevada
taxa de ausência as aulas e que estratégias se poderão
tomar para minimizar o problema?

Problema pesquisável?

Ao formular o seu problema você deverá analisar se este é pesquisável.


Por mais interessante que o problema seja, se ele não for pesquisável
segundo as suas condições e contexto, melhor será abandona-lo o mais
cedo.
96

Por exemplo, se envolve amostras de materiais e substancias, você deverá


pensar se terá acesso a essas substâncias. Será que você poderá ter acesso
a amostra de qualidade para pesquisar esse problema?
Reflexão

Faça uma reflexão sobre a qualidade do problema identificado. Fale alto


para você mesmo se explicar sobre qual é o problema. Escreva a sua
explicação, e se possível, converse com alguém sobre o seu problema.
Esta actividade você poderá levar 1 semana. É possível que seja
Actividade 2
necessário voltar e reformular o seu tema. Isto é o normal para quem
escreve um projecto. Geralmente não é a primeira versão que será
definitiva

Sumário

Alguns factores ou elementos a tomar em consideração na


identificação e formulação de um problema pesquisável

(i) Tempo - terá tempo suficiente para pesquisar esse


assunto? Se faz a pesquisa dentro do programa de
graduação, será que o tempo alocado à pesquisa é
suficiente?;

(ii) Recursos – terá os recursos necessários? É também


importante considerar a sua motivação para pesquisar o
problema – terá a motivação suficiente para pesquisar
esse problema? Lembre-se que o “problema de pesquisa”
é o “motor” de todo o processo de pesquisa, quiçá até
mesmo depois da monografia terminar.

(iii) Motivação - um dos entraves à conclusão do curso é


devido a perda de interesse pelo objecto de pesquisa.
Nesta fase de formulação preliminar do problema de
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 97

pesquisa, pense e melhore a gestão da sua motivação


intrínseca e extrínseca.

Problema pesquisável

o Segundo as condições existentes (sejam condições materiais


e de acesso às fontes ou financeiras ou condições humanas);

o Capacidade de formular o problemas em termos de


Pro = Obj + Dif

o Identificação das características do problema: o problema


requer soluções novas, ou novas alternativas ou novas ideias
ou nova avaliação/abordagem ou requer respostas às questões
ainda não respondidas?

Definição de problema

o Um problema (P) é a diferença a entre o que se tem e o que se


pretende

o Um problema é o afastamento entre o actual (o que é) e o futuro (o


que deve ser)

o Pro = Obj + Dif

Processo de formulação do problema

Consiste em iniciar por descrever o contexto mais amplo do problema e ir


especificando gradualmente o problema. Portanto do geral para o
particular/específico.

Fontes de consulta para identificação do problema

Documentos (fontes: Ministério da educação, Ministério de Ciências e


Tecnologia, Organizações Não-Governamentais etc.).

Artigos científicos e outras publicações (teses, monografias, dissertações)

Literatura científica e da tecnologia.


98

Seminários científicos ou similares e docentes da área de especialização.

Exercícios

1. Avalie alguns factores ou elementos a tomar em consideração na


identificação e formulação de um problema!

2. Defina por suas próprias palavras o que é um problema!


Auto-avaliação

3. Argumente a favor de um problema pesquisável!

4. Argumente contra um problema que se julga pesquisável!

5. Construa uma matriz para elucidar a relação entre dificuldades


objectivos e o problema identificado!

6. Descreva como iria proceder para formular um problema!

7. Identifique algumas fontes de consulta para a identificação e


formulação do problema de pesquisa do seu projecto de pesquisa!
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 99

Lição no6

Fundamentação Teórica e
Hipóteses da Pesquisa

Introdução

Nesta lição você vai aperceber-se de que a armação do trabalho de


pesquisa depende essencialmente da fundamentação teórica e das
hipóteses de pesquisa devidamente elaboradas. Esta é uma lição que
procura mostrar que as hipóteses de pesquisa (mesmos que sejam
preliminares) deverão estar intrinsecamente relacionadas com a teoria.

Por isso, nesta lição pretende-se apresentar uma breve abordagem sobre a
definição da teoria e da hipótese. Alguns exemplos escolhidos para
sustentar esta relação serão também apresentados. Mas você deverá desde
já rever o sumário da lição 2 apresentada na unidade 1. Essa lição
abordou especificamente o método de raciocínio hipotético-dedutivo
procurando estabelecer a relação entre a teoria e a hipótese.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Descrever o papel da fundamentação científica

Definir e descrever as características da hipótese científica


Objectivos
Identificar exemplos ilustrativos da relação entre a teoria e a construção
de hipóteses

Relacionar a relação intrínseca entre a teoria, o problema de pesquisa e a


hipótese de pesquisa
100

Fundamentação científica e hipótese

Terminologia

Fundamentação teórica

A finalidade da fundamentação teórica é a de estabelecer a perspectiva a


partir da qual se situa, isola-se o problema e são fixadas as referencias
que nortearão a análise dos dados, assim como a planificação da recolha
dos dados. A fundamentação teórica fixa, também, o campo no qual irão
recair as hipóteses da pesquisa.

Um aspecto fundamental que você já percebeu nas lições anteriores foi


explicitado com base no digrama sobre os métodos de argumentação e de
raciocínio. Você aprendeu que as setas indicam o sentido de indução.
(Veja por favor o sumário da lição 2 da unidade 1, página 27 ). Você deve
também recordar-se das lições apresentadas na unidade 2 sobre a ’revisão
da literatura’. Especificamente sobre as “Técnicas de Leitura e da
Pesquisa Bibliográfica”. Essa unidade criou as bases para a concepção da
pesquisa bibliográfica e da fundamentação teórica.

Vamos começar por evocar alguns exemplos de problemas de pesquisa


que os estudantes têm vindo a enunciar nos trabalhos de pesquisa e
destacar, a título de exemplo, alguns aspectos fundamentais abordados na
fundamentação teórica. Os exemplos são específicos. Você terá de lidar
com exemplos menos genéricos nesta fase para ir melhorando a sua
compreensão sobre esta relação deveras complexa.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 101

Exemplo de um Problema Exemplo da Teoria

1 Dificuldades de Resolução de Teorias pedagógicas sobre a


Problemas da Dinâmica resolução de problemas/exercícios
Estudo de caso / Newtoniana por Alunos de aprendizagem
Exemplo da Física
Ensino/Aprendizagem de física
pela resolução de
problemas/exercícios

Teoria da Física sobre a 3a lei de


Newton

2 Avaliação da Aplicação da Aula Teoria da Pedagogia sobre o


Aberta no Ensino de Física Ensino Aberto e Teoria sobre a
Educação moderna;

Teoria sobre o Ensino Aberto em


Física;

Você vai ter de retomar, de seguida, à relação entre a teoria e a hipótese.


O diagrama abaixo realça de forma resumida essa relação.

Métodos de argumentação ou de raciocínio: o volante da


ciência segundo Watter W allace In: The Practice of Social
Research, Babbie, E. (1 989)

Argumentação indutiva

Argumentação dedutiva

Teoria Hipóteses

Generalização
Observações
empírica


16
102

Este diagrama esboça a ideia, que você já percebeu, de que se infere as


hipótese a partir da teoria. Destas hipóteses elabora-se a dedução das
consequências ou seja a partir das hipóteses deduzem-se as consequências
que deverão ser testadas pela observação/experimentação, pela teoria ou
por ambas. Este aspecto foi já abordado na lição 2 da unidade 1. É um
aspecto crucial e de operacionalização difícil. Vamos pois concentrarmo-
nos na abordagem dos atributos da hipótese científica.

Hipóteses da Pesquisa

Uma vez delimitado teoricamente o estudo e formulado o problema, com


a certeza der ser cientificamente válido, você como pesquisador, deverá
propor uma “suposta” resposta provável e provisória, ao problema
formulado, isto é, uma hipótese. Certamente é ainda difícil para você
definir o que é uma hipótese. Mais difícil será ainda elaborar uma
hipótese. Estes são os desafios que estão em frente de si. Comecemos por
definir uma hipótese: uma hipótese é uma afirmação provisória acerca
da realidade que, tendo em vista o campo teórico estabelecido, pretende
dar uma resposta ao problema formulado.

Agora vai aprender a analisar criticamente exemplos de hipóteses que


estudantes, como você, elaboraram nos trabalhos de licenciatura. São
exemplos que ilustram quão complexo é o processo de estabelecer uma
relação entre o problema, a teoria e a hipótese. Veja, por isso, como
proceder.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 103

Problema Teoria Hipótese

1 Dificuldades de Teorias pedagógicas sobre a O método de


Resolução de resolução de problemas ou de resolução de
Estudo de caso / Problemas da exercícios de aprendizagem problemas
Exemplos da Física Dinâmica baseado no
Newtoniana por Ensino/Aprendizagem de “esquema
Alunos física pela resolução de sequencial de
problemas/exercícios etapas” melhora
o aproveitamento
Teoria da Física sobre a 3a lei
dos alunos na
de Newton
aprendizagem da
física newtoniana

2 Avaliação da Teoria da Pedagogia sobre o O método da


Aplicação da Aula Ensino Aberto e Teoria sobre aula aberta
Aberta no Ensino a Educação moderna; melhora a
de Física motivação pela
Teoria sobre o Ensino Aberto disciplina de
em Física; física e o
rendimento
pedagógico;

Analise cuidadosa e criticamente os exemplos dados. Talvez você tenha


já se apercebido do papel das hipóteses elaboradas.

Vamos, pois, mostrar a relação entre o problema-questão-hipótese-


operacionalização nos seguintes termos:

Elaboração das Questões

[Uma experiência inicia – assim como em outras pesquisas


também – com a elaboração das questões i.e. da questão não
respondida]

Elaboração da Hipótese
104

[A hipótese deriva da análise das teorias actuais e dos resultados


de pesquisa empírica disponíveis na literatura]

Operacionalização

[Ordenação dos fenómenos observáveis aos conceitos i.e.


identificar para o conceito o indicador empírico e observável.
Isso determina o factor de qualidade da operacionalização ou seja
da validade da construção]

Hipótese de pesquisa

Até aqui havíamos prestado pouca atenção à definição da hipótese.

Conforme acabámos de ver o problema de pesquisa, as questões e as


hipóteses estão intrinsecamente relacionadas.

Segundo COLARES apud CASTRO (2005, p.71) considere os seguintes


parâmetros para a construção de uma boa hipótese:

Faça pelo menos uma afirmação - derivada a partir da teoria -


sobre a natureza especifica das coisas/ fenómenos;

Faça proposições sobre determinadas relações entre as


variáveis;

Transporte claras implicações para verificação das relações em


causa;

É formulada de forma económica e simples, mas sobretudo


descortina a compatibilidade com os conhecimentos actuais.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 105

A hipótese em ciências físicas faz uma explicação plausível dos


factos/fenómenos e é provisoriamente adoptada com o fim principal de
submetê-la a uma verificação pela experimentação (as coisas vistas neste
prisma permitem extrapolar a ideia de que os fenómenos antecedem
Leitura suplementar
geralmente as hipóteses).

No âmbito das ciências física, note que a hipótese diferencia-se


substancialmente do prognóstico. O prognóstico parece referir-se à
aceitação científica e fundamentada sobre algo real e possível de um
fenómeno ou facto desconhecido, referente ao passado, presente ou
futuro, como consequência dedutiva de afirmações e conhecimentos
seguros ou supostamente seguros. Podemos afirmar que o prognóstico é a
previsão ou conjectura sobre o que há-de suceder (geralmente muito
frequente em medicina, metrologia. Prognosticar como o acto de antever
ou predizer)

Sumário

O papel da fundamentação científica refere-se ao desenvolvimento de um


corpo de ideias e conceitos estruturados sobre o objecto de estudo na
pesquisa. Na fundamentação teórica considera-se o objecto de estudo sob
uma perspectiva actual (e por vezes histórica) de conhecimentos. Em
certa medida a teoria é uma revisão histórica do que a ciência já descreve
ou explica sobre os factos conhecidos e fenómenos gerais.

Funções da Hipótese na Pesquisa

• Dar explicações provisórias

• Servir de guia na busca de informações

Parâmetros de validação duma hipótese


106

• Deve ser plausível (aceitável, provável ou verosímil)

• Deve ter consistência (não contrariar uma teoria aceite)

• Deve ser específica (identificar bem o que pretende investigar)

• Deve ser verificável

• Deve ser clara, simples e económica

• Deve ser explicativa (tentar explicar o fenómeno em questão)

Exercícios

1. Descreva por suas próprias palavras, à partir dos exemplos


apresentados, qual o papel ou quais as funções possíveis que as
hipóteses elaboradas teriam de desempenhar numa pesquisa
Auto-avaliação científica!

[A resposta a esta questão já foi elaborada na discussão


sobre as funções da hipótese]

2. No caso de você estar envolvido num trabalho de natureza


experimental seria interessante analisar o processo relacionado
com a construção de uma hipótese no exemplo abaixo indicado
sobre a difusão de gases!
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 107

Vamos analisar a possibilidade de elaboração de uma hipótese no


exemplo de uma experimentação de difusão de gases baygon e o ar. O
gás baygon é um gás usado para aniquilar todo o tipo de insectos. Sobre
este gás verificamos as seguintes substâncias activas:
Estudo de caso: Exemplo
Imiprothior(pyrethoid) 0.34g/ kg, Prallethrin (pyrethoid) 0.40g/ kg,
da área de física/ difusão
Tetramethrin (pyrethoid) 2.0g/ kg, Piperony Butoxide 10g/ kg.
dos gases

 Sejam dois recipientes, um com ar e outro com gás “baygon” spray


usado contra insectos.

 Inicialmente queima-se um palito de fósforo em cada um dos vasos


de vidro. Registam-se as observações realizadas.

 Pulveriza-se novamente um dos vasos com gás de ‘baygon’ e coloca-


se o vaso contendo ‘baygon’ por cima e com abertura virada para
baixo de modo que os dois gases tenham contacto entre si. Espera-se
uns 10 minutos. Depois de separar os copos, acende-se um palito de
fósforo, e verifica-se, em ambos os copos, a ocorrência duma
explosão acompanhada de um nítido estrondo.

Tarefa: Formule uma hipótese sobre o fenómeno da presença do gás


‘baygon’ no segundo recipiente.
108

Lição no7

Justificativa e objectivos da
pesquisa

Introdução

A pesquisa científica começa com a identificação do problema. O que é


um problema, é o que você aprendeu nas lições anteriores. Também você
aprendeu a caracterizar um problema em termos gerais e a defini-lo.
Todos esses elementos serão pois fundamentais para que o autor da
pesquisa mostre a importância de uma determinada pesquisa. Depois da
identificação do problema, você terá de definir os objectivos e justificar a
necessidade e a pertinência do estudo que pretende realizar.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar os elementos e os factores que ajudam a equacionar uma


justificação fundamentada de um projecto de pesquisa;

Objectivos Identificar alguns atributos relevantes referentes a estrutura da


justificativa de um projecto de pesquisa;

Explicar as razões de escolha do seu problema;

Explicar o impacto que você espera com a pesquisa;

Apresentar no mínimo dois argumentos porque você acha que deve


investigar o tema escolhido;

Elaborar, finalmente, uma justificativa de um projecto de pesquisa;

Identificar os aspectos que contribuam para a formulação de objectivos


gerais e específicos de uma pesquisa científica.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 109

Justificativa, objectivos gerais e objectivos específicos

Terminologia

Justificativa da Pesquisa

O pesquisador deve procurar responder por quê é importante investigar a


questão ou problema proposto. O pesquisador deve destacar quais as
contribuições teóricas e/ou práticas que a resposta ao problema formulado
poderá trazer. Aspectos importantes a considerar são:

o Actualidade do tema

o As possíveis contribuições teóricas do estudo

o As possíveis implicações práticas do estudo

o A relevância da população estudada

Portanto para fundamentar ou argumentar a favor de um projecto de


pesquisa você deverá escrever sobre os seguintes aspectos:

Por que é que pretende estudar um determinado tema? Quais as vantagens


e benefícios que a pesquisa irá proporcionar? Qual a importância pessoal
ou social.

Ao responder a estas tarefas, isso ajudaria você na sua tarefa de


identificação da importância da pesquisa. É importante ser convincente
na apresentação da argumentação.

A justificação do seu problema pode ser feita:

(i) com base na sua experiência pessoal;

(ii) com base em resultados de outras pesquisas, quer dizer, com base na
sugestão ou recomendações feitas por outros pesquisadores;

(iii) com base na realidade do seu sector de trabalho.


110

Segundo RICHARDSON (1999; pag. 55) embora não exista uma regra
rígida sobre sequência, inclusão ou exclusão, os seguintes aspectos
deveriam ser tomados em consideração:

 modo como foi escolhido o fenómeno para ser pesquisado e


como surgiu o problema levantado para o estudo.

 apresentação das razões em defesa do estudo realizado.

 relação do problema a estudar com o contexto social.

 explicação dos motivos que justificam a pesquisa nos planos


teórico e prático, considerando as possíveis contribuições do
estudo para o conhecimento humano e para a solução do
problema em questão.

 fundamentação da viabilidade da execução proposta de estudo.

 referência aos possíveis aspectos inovadores do trabalho.

 consideração sobre a escolha do(s) local(s) que será(ão)


pesquisado(s).

Você certamente já se apercebeu de que um projecto de pesquisa forma


um todo coerente e inteligível. Desde a formulação do problema, revisão
e pesquisa bibliográfica até à fundamentação teórica e a apresentação da
justificativa apresentam-se um conjunto de ideias coerentes e
consistentes. O processo deve continuar, por exemplo, com a formulação
dos objectivos da pesquisa.

Objectivos da pesquisa

Os objectivos de uma pesquisa decorrem directamente do problema e das


hipóteses formuladas. Indicam aquilo que se vai investigar para responder
ao problema, o que em última instância, vem delimitado pelas hipóteses
formuladas e pela elaboração das questões.

Requer-se um trabalho de análise da relação entre o problema, as


questões e a justificativa da pesquisa para que de uma forma coerente
você procede à formulação dos objectivos.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 111

Ao definir os objectivos você explicita o que pretende alcançar com a


pesquisa. Tal como o problema deverá ser pesquisável, o objectivo
deverá ser alcançável. Se você tiver já formulado as questões da pesquisa
e tendo em conta a justificativa você estará num bom passo da
formulação dos objectivos da pesquisa. Podemos até assumir os
objectivos como uma reformulação das questões já elaboradas.

Sem pretender esgotar a vastidão de exemplos existentes, podemos de


forma resumida, apresentar uma colectânea de exemplos sobre objectivos
gerais e objectivos específicos. Os objectivos específicos estão
formulados em termos operacionais, isto é, em termos de comportamento
observável enquanto que os objectivos gerais identificam características
gerais ou fins não directamente controláveis ou verificáveis. Vejamos:

Objectivo geral

Especifica as finalidades principais do projecto. Normalmente um único


parágrafo. Ë a síntese do que pretende alcançar.

Objectivos específicos

São o desdobramento do objectivo geral. Cada um deles representa uma


contribuição no alcance do objectivo geral. Devem ser pelo menos dois.

Vejamos isso no exemplo seguinte:


112

Problema Teoria Hipótese

1 Dificuldades de Teorias pedagógicas sobre a O método de resolução


Resolução de resolução de problemas ou de de problemas baseado
Problemas da exercícios de aprendizagem no “esquema
Exemplos da área Dinâmica sequencial de etapas”
Ensino/Aprendizagem de
de física Newtoniana por melhora o
Alunos física pela resolução de aproveitamento dos
problemas/exercícios alunos na
aprendizagem da física
Teoria da Física sobre a 3a lei
newtoniana
de Newton

Objectivos gerais Melhorar o desempenho dos alunos da 12a classe na


resolução de problemas da dinâmica e desenvolver
competências para a resolução de problemas

Objectivos Identificar as causas das dificuldades dos alunos na


específicos resolução de problemas

Tipificar as dificuldades identificadas

Propor um modelo ‘empírico’ de resolução de


problemas

Avaliar a exequibilidade do modelo

2 Avaliação da Teoria da Pedagogia sobre o O método da aula


Aplicação da Aula Ensino Aberto e Teoria sobre aberta melhora a
Aberta no Ensino a Educação moderna; motivação pela
de Física disciplina de física e o
Teoria sobre o Ensino Aberto rendimento
em Física; pedagógico;

Objectivos gerais Apresentar uma abordagem e implementação do método


do ensino aberto no processo de ensino aprendizagem de
física

Objectivos Descrever as principais características do método


específicos
Relacionar o ensino aberto com outras teorias
epistemológicas

Esboçar um plano e sua implementação no ensino

Realizar um ensino aberto com alunos da 9a classe


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 113

Os exemplos foram gentilmente elaborados pelos estudantes de Física da


FCNM na Universidade Pedagógica do Curso de Formação de
Professores, Arsénio J. Mindú e Manuel S. Beleque no âmbito do trabalho
de pesquisa e apresentação da monografia científica.

Os exemplos anteriores procuraram mostrar uma relação complexa entre


o problema, a teoria e os objectivos (gerais e específicos). Vamos de
seguida continuar a mostrar como os objectivos específicos são derivados
do objectivo geral, considerando um outro exemplo da área de química,
Estes exemplos mostram também que os objectivos específicos devem ser
operacionalizados.

Tema1: Possibilidades de abordagem do conceito de compostagem como


técnica de produção de adubos naturais na 9ª classe

Objectivo geral: Contribuir para melhor abordagem do tema adubos


naturais
Exemplos da área de
química Objectivos específicos:

Levantamento dos conhecimentos dos professores sobre o conceito de


compostagem

Propor a inserção do conceito de compostagem na unidade sobre adubos


naturais

Elaboração de fichas de apoio sobre o tratamento do conceito


compostagem (Gentilmente cedido pelo estudante Azarias Chissingue)
114

Tema 2: Reflexão sobre as aulas laboratoriais na Escola Secundária de


Zona Verde

Objectivos gerais
Exemplos da área de
química Contribuir para melhorar as estratégias de ensino e aprendizagem de
Química no ESG, através da implementação de aulas laboratoriais com
base em material local e de fácil acesso.

Objectivos específicos

Propor experiências químicas realizáveis com recurso ao material local e


de fácil acesso, para a 8ª Classe;

Realizar experiências químicas na escola usando o material local e de


fácil acesso;

Realizar um estudo comparativo das aulas leccionadas com práticas


laboratoriais e sem práticas laboratoriais;

Analisar a influência das aulas laboratoriais no aproveitamento


pedagógico dos alunos da 8ª Classe na Escola Secundária da Zona Verde.

(Gentilmente cedido pelo ex-estudante de Química da UP, João Paulo


Mupena)

Sumário

Objectivo geral

Especifica as finalidades principais do projecto. Normalmente um único


parágrafo. Ë a síntese do que pretende alcançar.

Objectivos específicos

São o desdobramento do objectivo geral. Cada um deles representa uma


contribuição no alcance do objectivo geral. Devem ser pelo menos dois;
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 115

Identificar os elementos e os factores que ajudam a equacionar uma


justificação fundamentada de um projecto de pesquisa.

Elementos relevantes na estrutura da justificativa de um projecto de


pesquisa

 Modo como foi escolhido o fenómeno para ser pesquisado e


como surgiu o problema levantado para o estudo.

 Apresentação das razões em defesa do estudo realizado.

 Relação do problema a estudar com o contexto social.

 Explicação dos motivos que justificam a pesquisa nos planos


teórico e prático, considerando as possíveis contribuições do
estudo para o conhecimento humano e para solução do problema
em questão.

 Fundamentação da viabilidade da execução proposta de estudo.

 Referência aos possíveis aspectos inovadores do trabalho.

 Consideração sobre a escolha do(s) local(s) que será(ão)


pesquisado(s).

Alguns termos de referencia da “justificativa”

 Pesquisa bibliográfica;

 Experiência pessoal;

 Resultados de pesquisas

 Recomendações feitas por outros cientistas

 Conhecimento da realidade
116

Exercícios

1. Explicar no grupo dos seus colegas as razões de escolha do


problema de pesquisa;

2. Explicar o impacto que você espera com a pesquisa;


Auto-avaliação

3. Apresentar no mínimo dois argumentos porque você acha que


deve investigar o tema escolhido;

4. Explicar as razões de escolha do seu problema;

5. Explicar o impacto que você espera com a pesquisa;

6. Elaborar finalmente uma justificativa de todo o projecto de


pesquisa;

7. Identifique os aspectos que contribuem para a formulação de


objectivos gerais e específicos de uma pesquisa científica.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 117

Lição no8

Métodos de pesquisa

Introdução

Pensamos que você vai corroborar com a ideia de que esta lição sobre
“métodos de pesquisa” vai providenciar os instrumentos técnicos de
como realizar a colheita de evidências empíricas na pesquisa. Vendo as
coisas positivamente, a ciência distingue-se pela busca e produção
incessante de conhecimentos cada vez mais esclarecidos quando
comparada ao senso comum típico ou tradicional. Isso já foi discutido nas
primeiras lições da unidade 1. A evolução ou a transformação de
conceitos e ideias óbvias produzidas numa dada realidade cultural dá-se à
custa da investigação metódica e sistemática dos fenómenos naturais,
sociais ou culturais. A primazia da ciência em relação e a ‘não-ciência’
(ou pseudo-ciência) reside no método científico. Embora seja
exageradamente dicotómica, a tabela abaixo, indica a comparação
baseada no método como critério de distinção entre a ciência a ‘não-
ciência’.
118

Método cientifico
Conhecimento empírico versus conhecimento cientifico
Método pré cientifico: Método Cientifico: :

• A relação entre a causa e o fenómeno


é solta livre e incontrolável • Construção gradual e sistemática e
cuidadosa do conhecimento/teoria
• A probabilidade de ocorrência
simultânea de dois eventos e • As hipóteses são formuladas estão
suficiente para relaciona-los sujeitas a uma verificação e testagem
empírica
• Utilização solta e caótica e não
sistemática de teorias /
conhecimentos, baseando-se • A explicação e fundamentada em teorias
unicamente na escolha de evidencias e em factos

• Aceitação incondicional do poder da • O cientista lida conscientemente com


autoridade uma variedade de aspectos ou causas
múltiplas que condicionam uma dada
ocorrência

• Assim o cientista define


conscientemente o problema e isola os
objectos em causa; define técnicas e
procedimentos procurando testar os
efeitos das causas prováveis

17

Você vai partilhar a ideia de que para o estudante de um curso de


formação de professores para o ensino de ciências, a questão da
construção e desenvolvimento de habilidade de pesquisa apresenta-se
como uma questão complexa, pois o próprio curso é essencialmente de
carácter multi- e interdisciplinar.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

Identificar uma metodologia apropriada para a realização da pesquisa em


ciências educacionais ou em áreas interdisciplinares;

Objectivos Aplicar uma metodologia apropriada para a realização da pesquisa na


área da física educacional;

Aplicar uma metodologia apropriada para a realização da pesquisa na


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 119

área da química educacional;

Aplicar métodos empíricos no estudo de problemas das ciências


educacionais;

Aplicar métodos qualitativos no estudo de problemas das ciências


educacionais.

Física educacional, didáctica de física, método experimental. Métodos


lógico-empíricos, varáveis, atributos, amostragem, plano de
experimentação, prognóstico empírico, hipótese estatística, grupo
experimental, grupo de controlo, tipologia de pesquisa, métodos
Terminologia
qualitativos e quantitativos.

O objectivo desta parte, é o de explicação dos diferentes métodos de


pesquisa. Afinal você já abordou na unidade sobre ‘pesquisa científica’ as
seguintes questões:

Que habilidades precisa um futuro professor na área de pesquisa? Deve-


se orientar a formação na área de pesquisa para a área de física ou para
a área de didáctica de física? Quem deve decidir sobre isso? O docente,
Reflexão o estudante, o Departamento de Física ou a Faculdade? Quem fixa as
linhas de pesquisa? (resposta: os Departamentos e os Centros de
Pesquisa).

Você deveria discutir estes aspectos antes de prosseguir com o estudo do


módulo. Depois do debate com os seus colegas compare as ideias
resultantes do debate com o debate que a seguir se apresenta.
120

Se a resposta a estas perguntas for a seguinte: o futuro professor deve ter


habilidades tanto para promover a pesquisa educacional mas sem
desconsiderar a área de formação específica em física. Então podemos
Debate fundamentar esta posição pelo facto de que afinal o estudo das ciências
está deve estar associado ao conhecimento sobre a própria disciplina, das
suas metodologias, pressupostos, limitações, história e das actividades
profissionais inerentes. Assim todos estes factores associados fazem com
que seja necessário um amplo espectro de competências metodológicas
de pesquisa para o futuro professor de física.

Por exemplo a investigação em didáctica de física ou em física


educacional (physics education research) faz parte em muitos países de
uma clara comunidade científica internacional com jornais, conferências
e redes estabelecidas de intercâmbio científico. A física educacional tem
a tarefa central de desenvolver a investigação e a teoria sobre o ensino
de física. Sendo por isso uma disciplina de referencia fundamental para os
professores, onde a facilitação (mediação e comunicação) desempenham
um papel crucial (e não necessariamente a investigação básica em
ciências físicas). A didáctica de física necessita, obviamente, da física
(sobretudo no ensino de fenómenos naturais – que raramente são um
fenómeno puro da física).

De resto, ela baseia-se, (como as outras ciências educacionais) também na


Pedagogia, Filosofia, Psicologia, …mas não deve ser reduzida a uma
“cadeira sobre teoria da metodologia de ensino de física” como por vezes
acontece. Portanto professores de física, são físicos com formação
orientada à ‘facilitação’ de conhecimentos. É este papel que transporta
consigo a necessidade de compreender a realidade social do educando e
do próprio professor.

Para o efeito você vai aprender a conhecer exemplos elaborados a partir


da área de física educacional. Você vai aprender a conhecer basicamente
três métodos básicos de pesquisa: i) métodos quantitativos (métodos
matemáticos) ii) métodos empíricos (particularmente o método
experimental) e iii) método histórico
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 121

O método científico

Já vimos na lição sobre projecto de pesquisa que o método científico


refere-se a um corpo de técnicas para a investigação de fenómenos,
destinado à aquisição de conhecimentos ou à correcção ou à integração de
conhecimentos anteriores (prévios). Para que um método seja designado
de inquisição científica deve alcançar os dados a partir de observações
empíricas ou a partir de evidências mensuráveis sujeitas a determinadas
forma de argumentação e interpretação.

Podemos resumir dizendo que o método científico consiste na colecção


de dados através da observação e da experimentação e testagem de
hipóteses.

O método científico é sustentado por dois pilares fundamentais:

O primeiro é a reprodutibilidade, como sendo aquela capacidade de


repetir uma determinada experimentação experimental em qualquer lugar
e por qualquer pessoa. Este pilar baseia-se essencialmente na
comunicação e na divulgação (publicação) dos resultados da pesquisa.

O segundo pilar é a falsibilidade. Vamos abordá-lo separadamente.


Trata-se de uma leitura que leve a si para um mundo de ideias filosóficas
e mais abstractas. A sua leitura é opcional.
122

Sobre o pilar da falsibilidade. Esta noção advoga a ideia de que toda a


proposição (tese, enunciação, teorema. afirmação) científica deve ser
susceptível de ser falsificada. Isso que dizer que se podem desenhar uma
experimentação cujos resultados possam ser diferentes da hipótese posta
Tome Nota!
à prova. Talvez você possa compreender melhor esta ideia se você
relacioná-la com o método de raciocínio hipotético-dedutivo discutido na
unidade 1. Segundo KUHN apud KIRCHER et al. (2001, p.153) ‘pode-se
desconfiar de todas as experiências’. Também aqui a ideia sobre a
metodologia de pesquisa de KARL POPPER apud KIRCHER et al. (2001,
p.153) de que ‘a teoria só pode ser falsificada através da experimentação’
constitui o ponto crucial sobre a metodologia para o descobrimento da
verdade. Interessante é saber que para alguns não existem métodos
científicos como o afirma JAMES B. CONANT. Segundo ele a ciência usa
métodos definitórios, classificatórios, estatísticos, hipotético-dedutivos ou
procedimentos de mediação.

Caro estudante, você pode seguir debates muito interessantes sobre esta
matéria por exemplo através da Internet
http://br.groups.yahoo.com/group/ciencialist/message/53770.

Métodos empíricos versus Teoria

BABBIE (1989, p.17) afirma que a ciência (subentende-se também às


ciências sociais) pode ser caracterizada como sendo lógico-empírica.
Segundo ele, nesta afirmação reconhece-se perfeitamente a existência de
dois pilares:

a) Lógica ou racionalidade e

b) Observação.

A compreensão científica deve pois fazer senso e corresponder ao que


realmente se observa. Estes aspectos são, por isso, fundamentais e
caracterizam a actividade científica num âmbito ainda mais geral o da
teoria, dos métodos de pesquisa e da estatística. Quanto a teoria.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 123

Teoria

A teoria debruça-se sobre o aspecto lógico da ciência (as ciências sociais


e as ciências de educação ocupam-se com a questão sobre o que é não o
que deveria ser; é importante que você compreenda que as ciências
sociais e educacionais têm a ver com as questões de como é que as
coisas são e porquê; as ciências sociais e educacionais podem contribuir
na discussão de valores ou na questão sobre o que deveria ser somente
na base de critérios previamente definidos), o método de pesquisa lida
com aspectos observáveis e a estatística fornece um instrumento para
comparação daquilo que realmente se espera da lógica com aquilo
que realmente se observa na actualidade.

As teorias científicas das ciências sociais e educacionais procuram


também determinar as ‘regularidades’ (partem também do pressuposto de
que a vida é regular e não totalmente caótica e aleatória).

Muitos pensam geralmente que o mundo físico é que apresenta as


características de alguma coisa ‘regular’. O mais importante que você
deve procurar compreender das teorias das ciências sociais e educacionais
é que nestas ciências lida-se mais com agregados e não com o
comportamento individual.

Escolha do Método

A escolha do método não é aleatória. O método de pesquisa está


vinculado à natureza do problema que está sendo investigado. Você terá
de decidir já nesta fase que tipo de pesquisa pretende realizar para
resolver o problema definido na pesquisa. Para relembrar e título
elucidativo apresentamos novamente os seguintes tipos de pesquisa:

o Pesquisa descritiva: observações ou descrições originais de


fenómenos naturais, análise de novas espécies, estruturas,
funções, mutações e variações em um dado ambiente, dados
ecológicos, etc.
124

o Trabalhos experimentais em variados campos do saber. Submete


fenómenos estudados a condições controladas por experiência.

o Trabalhos teóricos de análise ou síntese de conhecimentos, que


levam, através das vias dedutivas, indutivas e hipotéticas à
produção de novos conceitos.

o Pesquisas exploratórias quando o objecto de estudo é pouco


conhecido ou pouco explorado.

o Pesquisas explicativas quando se aprofunda o conhecimento


sobre a realidade a ponto de se elaborarem hipóteses causais.
Objectivo: explicar a razão, o porquê das coisas.

1. Identifique o tipo de pesquisa que melhor poderá atender ao


problema fixado! Tenha em consideração os três aspectos
apresentados no quadro anterior.
Reflexão

Tendo em consideração este quadro, e segundo CASTRO (2005, p.33) a


decisão sobre o método de pesquisa implica avaliar as seguintes
possibilidades:

Estudo de caso

[Destinado ao estudo de uma unidade empírica que se analisa


profundamente. São exemplos: uma escola, conjunto de
professores de uma disciplina, uma determinada organização,
grupo de matérias condutores de corrente eléctrica.]

Levantamento, sondagens, surveys

[Pesquisas de grande extensão geográfica e superficial (qunado


aborda poucos assuntos). Fornece dados preliminares a serem
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 125

usados na construção de um quadro de referência e na


formulação de hipóteses a serem utilizadas em pesquisas de
maior profundidade]

Levantamento documental, levantamento bibliográfico Questionário


(observação indirecta):

[Pressupõe a colecta de dados a partir de fontes documentais


(arquivos, registos estatísticos, jornais, revistas) ou quando a
pesquisa se baseia em dados exclusivamente bibliográficos
(livros e artigos científicos)]

Questionário (observação indirecta):

[Conjunto de questões apresentadas por escrito para os


participantes. Objectivo: conhecimento de opiniões, interesses,
expectativas, situações vivenciais, crenças, etc. Muito utilizado
em pesquisa social incluindo no ensino de ciências. Pode ser
aberta, semi-aberta e fechada]

Entrevista (observação indirecta)

[Busca dados para a investigação através da inteiração entre o


pesquisador e o informante. Esta técnica é muito utilizada em
pesquisa social. A Entrevista pode ser aberta, semi-aberta e
fechada]

Observação participante (observação directa)

[O pesquisador participa activamente em toda a situação da


pesquisa e interage com os informante e assume-se como
membro do grupo em estudo]

Observação não-participante (observação directa)

[O pesquisador participa de forma distante, digamos


aparentemente de forma alheia, como espectador da situação que
está sendo objecto de pesquisa. Pode ser sistemática (isto é,
planificada com antecedência)]
126

Variáveis

Outro aspecto importante das ciências sociais e educacionais é a questão


das variáveis e dos atributos e das unidades de análise. Essas variáveis
são geralmente transportadas por pessoas. Os atributos são as
características ou qualidades que descrevem um objecto, geralmente de
uma pessoa.

Vamos exemplificar isto na seguinte tabela:

Exemplos de conceitos Variáveis Atributos


comuns em ciências
sociais e educacionais

Feminino, jovem, sexo, Sexo Masculino, feminino


classe superior, africano,
religião, raça, etnicidade,
masculino, emprego e
ocupação, disciplina,
classe social, etc.

Idade Jovem, adulto

Etnicidade Changane, macua,


tschuabo

Classe social Classe baixa, classe


média, classe alta

Ocupação Carpinteiro, professor,


físico, cientista

Neste quadro entende-se que as variáveis são ‘agrupamentos lógicos’ dos


atributos. O exemplo anterior mostra que ‘masculino’ e ‘feminino’ são os
atributos e os termos ‘sexo’ ou ‘género’ são as variáveis. A relação entre
os atributos e as variáveis constitui o aspecto fundamental tanto para a
descrição assim como para a explicação nas ciências. Por exemplo em
ciências de educação podemos querer descrever uma turma em termos
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 127

dos atributos ‘feminino’ e ‘masculino’ e diríamos 50 porcento são


rapazes e 50 porcento são meninas.

Geralmente a relação entre os atributos e as variáveis é mais complicada


no caso em que se pretende elaborar uma explicação dos fenómenos
sociais, educacionais ou culturais. Este aspecto leva necessariamente ao
domínio de variáveis na linguagem das teorias científicas. Por outras
palavras podemos dizer que as teorias descrevem as relações que se
esperam logicamente entre as variáveis. Muitas das vezes isso envolve a
identificação das ‘causas’. Vejamos em que medida podemos associar as
duas variáveis ‘instrução’ e ‘tribalismo’. Para simplificar (simplificação
exagerada, pois precisamos de esclarecer o nosso entendimento sobre
‘ser instruído’ ou ‘não ser instruído’) vamos dar dois atributos para a
variável instrução, isto é, pessoa “instruída e pessoa ‘não-instruída’ e para
o tribalismo vamos também associar dois atributos, isto é, atributos de
uma pessoa é ser ‘tribalista’ ou ser ‘não-tribalista’.

A) As pessoas ‘não-instruídas’ tendem a ser mais tribalistas do que as


pessoas ‘instruídas’

Instruídas Não-instruídas

Tribalista ●●●● ●●●●●●●●●●

Não-tribalista ●●●●●●●●●● ●

B) Parece não existir uma relação aparente entre ‘instrução’ e ‘tribalismo’

Instruídas Não-instruídas

Tribalista ●●●●●●●●●● ●●●●●●●●●●

Não-tribalista ●●●●●● ●●●●●●

Você deve ter em mente que a construção da teoria tem a ver com as duas
variáveis (instrução e tribalismo) e não com as pessoas em si. As pessoas
simplesmente transportam ou estão impregnadas pelas duas variáveis. A
relação entre as varáveis só pode ser elaborada observando as pessoas.
128

Assim a teoria descreve as associações que se esperam ser lógicas que


possa existir entre determinados atributos de diferentes variáveis.

Por exemplo em ciências físicas servem como “variáveis” os ‘conceitos’


associados as ‘grandezas físicas’, mas já em psicologia servem como
“variáveis” as características arbitrárias ou as propriedades de um
objecto. Em estatística da educação podem servir como variáveis os
conceitos de população, variáveis qualitativas (atributos) variáveis
quantitativas (que podem ser discretas e continuas). As variáveis como
“tempo, espaço e fenómeno” levam ao desenvolvimento de série
estatísticas (temporais e geográficas, conjugadas, distribuição de
frequência). Os indicadores educacionais (taxa - bruta e liquida - de
escolarização, taxa - bruta e liquida de admissão), livros, mobiliário,
equipamentos, espaços educativos são alguns dos exemplos de variáveis
em ciências de educação. Geralmente distinguem-se três tipos de
variáveis num método empírico ou numa experiência.

Variável independente (Vi):

[Uma variável, que é manipulada e modificada


activamente/directamente pelo pesquisador]

Variável dependente (Vd):

[Uma variável, sobre a qual se deve observar o efeito da (Vi)]

Variável externa (Ve):

[Uma variável, que pode influenciar (pelo menos supostamente) a


(Vd), mas cujo efeito pode ser neutralizado no momento da
experimentação para não destorcer a (Vi): Assim temos variável
controlável versus variável incontrolável. Neste método as
variáveis independentes, X 1 K X n são modificadas de forma

sistemática e as variáveis dependentes, Y1 KYn são medidas]

A ideia de fundo:

Quando a manipulação da (Vi) leva à modificação/variação fiável da


(Vd), então pode-se deduzir a existência duma influência de causa da
variável independente. Portanto mesmo em ciências sociais e
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 129

educacionais pode-se adoptar o método lógico-empírico para encontrar a


explicação científica dos fenómenos sociais e educacionais. Assim
propusemos os seguintes passos:

Elaboração das Questões

[Uma experiência inicia – assim como em outras pesquisas


também – com a elaboração das questões i.e. da questão não
respondida]

Elaboração da Hipótese

[A hipótese deriva da análise das teorias actuais e dos resultados


de pesquisa empírica disponíveis na literatura]

Operacionalização

[Ordenação dos fenómenos observáveis aos conceitos i.e.


identificar para o conceito o indicador empírico e observável.
Isso determina o factor de qualidade da operacionalização ou seja
da validade da construção]

Plano do Ensaio/experimentação

[Construção/Montagem/Produção lógica da experiência orientada


e a verificação da hipótese]

Controlo das Variáveis Externas

[Controlo das variáveis externas devidas ao grupo


experimental/pesquisador]

Controlo das variáveis relativas às condições da experiência

[Eliminação de efeitos prejudiciais, manter constante algumas


grandezas ou variáveis, introdução de um grupo de controlo]

Amostragem

[Uma amostra consiste num subconjunto do conjunto total


(população total, para a qual a hipótese terá validade). A amostra
terá de ser representativa da população total: só se pode inferir
130

sobre uma população, para a qual o grupo experimental seja


representativo]

Prognóstico empírico (previsão) e hipótese estatística

[Prognóstico empírico deve referir-se às variáveis observáveis e a


um plano especial da experiência que permita a manipulação
dessas variáveis]

Prognóstico empírico e hipótese estatística

[Partindo de um prognóstico empírico pode deduzir-se à luz de


uma teoria estatística uma hipótese estatística. A estatística
possibilita a separação entre o efeito sistemático da (Vi) e o efeito
assistemático devido à influencia da variável externa e do erro de
medição;; isso requer a escolha de uma técnica estatística
adequada (t-Teste, análise da variância,…) a formulação da
hipótese nula e da hipótese alternativa]

Realização

Sequência

Relacionamento com o grupo experimental

Espaço da experimentação

Instrução sobre utilização de instrumentos

Materiais, instrumentos e aparelhos

Estandardização das condições da experiência

Observações e medições

Ensaio

Avaliação dos dados

[A avaliação destina-se ao exame da hipótese estatística. Com os


dados da pesquisa empírica procede-se à avaliação usando as
técnicas apropriadas de avaliação. O processo culmina com a
aceitação ou com a rejeição da hipótese]
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 131

Conclusão sobre a Hipótese

[Procura-se concluir a partir da hipótese estatística a confirmação


ou falsificação da hipótese específica de trabalho, pois afinal ao
pesquisador somente interessa a hipótese de especialidade]

Discussão

[Uma discussão da contribuição dos resultados para a Teoria e


para a Prática constitui o desfecho duma experimentação,
especialmente se o resultado se desvia do resultado esperado. Na
discussão deve-se atender aos aspectos sobre a sequência da
experimentação e aos erros e as possibilidades de melhoramento]

Relatório

[A experiência realizada e os resultados obtidos devem ser


comunicados à comunidade científica. Para isso deve-se elaborar
um artigo e publicá-lo]
132

Método da experimentação experimental nas ciências físicas (I)

Um dos métodos mais importantes das ciências físicas, é o método experimental.


Trata-se de um método empírico que foi iniciado pelo matemático e músico italiano
Leitura
GALILEO GALILEI LINCEO (1564-1642) nascido em PISA. Muitas das suas obras
suplementar
ideias e pensamentos foram publicados na revista Discorsi e na grande revista
Dialogo. A revista Dialogo, foi publicada na língua italiana em 1632 e na língua
latina em 1641.

No tratamento da queda livre GALILEI partiu do pressuposto de que o movimento


desenvolve-se na natureza com uma variação da velocidade obedecendo a uma lei
simples. Ele dizia o que pode ser mais simples do que o simples aumento da
velocidade na mesma proporção para os mesmos intervalos de tempo. Hoje podemos
dizer que GALILEI havia considerado como ponto de partida o movimento
uniformemente acelerado. GALILEI indagava-se afinal porque é que não podemos
considerar como simples o movimento no qual os mesmos deslocamentos são
realizados pelo aumento da velocidade nas mesmas proporções. Assim vemos que
GALILEI deu com este pressuposto, a resposta de que o segundo pressuposto não é
logicamente sustentável.

Através da experimentação não se podia examinar-se se o primeiro pressuposto era


correcto ou não, portanto o pressuposto de que na natureza realiza-se o movimento
uniformemente acelerado, uma vez que não se podia determinar a velocidade
instantânea dos objectos. Portanto devia se procurar uma maneira de a partir do
pressuposto deduzir uma afirmação tal que as suas consequências e implicações
pudessem ser controladas a partir da experimentação. Assim GALILEI concentrou-se
inicialmente na determinação do caminho percorrido em queda livre como uma
função do tempo fazendo a multiplicação da velocidade média com o tempo. Assim
GALILEI descobriu as seguintes regularidades:

Os caminhos percorridos pelos corpos em queda livre em intervalos de tempo


diferentes comportam-se reciprocamente como os quadrados dos tempos, necessários
nos percursos realizados ou nos caminhos percorridos. Hoje em dia, permanecendo
fiéis às ideias de GALILEI, podemos afirmar que a velocidade é proporcional ao
tempo v = a t . Se o corpo inicia a queda com a velocidade zero, então a velocidade

v at
média é vm = = . Daqui resulta o caminho percorrido é
2 2
at at2 s a s s
s = vm t = t = e assim obtem-se 2 = = const. ou 12 = 22 = ... .
2 2 t 2 t1 t2
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 133

Método da experimentação experimental nas ciências físicas (II)

Estes resultados podem ser controlados e verificados experimentalmente uma vez

Leitura que tanto o caminho percorrido assim como o tempo podem ser medidos e assim
podemos verificar se os valores obtidos pelo cálculo correspondem aos valores
suplementar
obtidos pelas medições. Este processo acarreta consigo outras dificuldades. A
principal dificuldade é a possibilidade de medição de pequenos valores de tempo na
queda livre. GALILEI resolver os problemas construindo um plano inclinado de
pequeno ângulo de inclinarão e retardando assim o movimento sem contudo alterar a
relação funcional do movimento com o tempo. Uma vez que o movimento de queda
livre se realizava mais lentamente, agora a experiencia podia ser realizada usando os
instrumentos de medição disponíveis na altura com a precisão necessária o que
permitia a confirmação das relações anteriores. O principal argumento usado por
GALILEI para este procedimento da experimentação com o plano inclinado foi de
que o ângulo do plano inclinado poderia ser aumentado de modo que aos 900 fosse
substituído pela queda livre.

Podemos resumir dizendo que pela primeira vez, encontramos no estudo da


mecânica, na descrição de movimentos da natureza, uma análise detalhada de passos
e das condições da experimentação que satisfazem ainda hoje os pressupostos e as
exigências do método experimental. Por isso GALILEI é considerado hoje
historicamente o pai do método experimental. As imagens originais usadas por
GALILEI tanto o plano inclinado com o trilho, como o relógio à gota de água e
balança para a determinação da massa da água que transvazou durante o movimento
do corpo no trilho do plano inclinado, a variação do ângulo no plano inclinado e a
queda livre propriamente dita estão apresentadas na figura abaixo indicada.

Métodos empíricos (II)

Os métodos empíricos partem de um pressuposto, o pressuposto do


determinismo: isto é, que todos os eventos estão associados às suas
causas. Os eventos são determinados por certas circunstâncias. A ciência
procede de modo a estabelecer uma ligação causal (identificação das
causas associadas aos efeitos), sendo por isso o objectivo da ciência
descobrir, compreender e explicar os fenómenos naturais e sociais. O
método empírico baseia-se afinal no princípio de que as coisas, os
134

fenómenos e eventos são algo verificável pela observação, que as


evidências verificadas e os dados realizados estão sujeitos a uma
confirmação rígida. Este pressuposto advoga que o melhor caminho para
a aquisição de conhecimentos é o caminho da evidência, obtido através
da experimentação (o chamado método experimental).

Actualmente há uma tendência um tanto generalizada de definir uma


tipologia dos métodos de pesquisas em ciências sociais e educacionais
considerando a terminologia de métodos quantitativos e métodos
quantitativos para classificação. Os primeiros são comuns em ciências
sociais mas também não menos, nas ciências físicas, particularmente no
estudo e reprodução qualitativa dos fenómenos da natureza. Os métodos
empíricos qualitativos e os métodos empíricos quantitativos não estão em
concorrência. Mas em cooperação complementam-se mutuamente. A
validade de cada um dos métodos depende fundamentalmente da
“colocação da questão” e do próprio “objecto de estudo”.

Métodos qualitativos

Algumas limitações da investigação quantitativa em educação

Embora a pesquisa quantitativa seja muito útil em especial na educação


porque nos permite ter uma vista geral ‘do que está a acontecer’ (por
exemplo, qual é a percentagem de professores que trata
convenientemente o tema sobre adubos naturais, ou que definições de
átomo os alunos da 8ª classe apresentam) ela tem algumas limitações no
campo educacional. RICHARDSON (1999) considera vários aspectos
que ele apresenta como crítica aos métodos quantitativos mas que aqui
preferimos chamar de limitações à pesquisa quantitativa dentre os quais:
(i) transporta a concepção positivista dos modelos das ciências naturais
para as ciências sociais. O que para o caso de pesquisa em educação
passa a tratar os seres humanos (professores e/ou alunos) como objectos
de pesquisa e não sujeitos, subvalorizando o contexto e sonegando de
certa forma a complexa natureza do ser humano; (ii) a insistência da
ciência livre de valores que podem distorcer assuntos explicáveis
objectivamente, assumindo que a subjectividade do pesquisador não
influi no decorrer bem como nos resultados da pesquisa.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 135

Na investigação qualitativa, o pesquisador confia nos pontos de vista dos


participantes, formula perguntas relativamente mais gerais colecta dados
constituídos largamente por palavras (ou texto) descreve e analisa essas
palavras e conduz a pesquisa duma forma subjectiva. Esta metodologia
implica ênfase na qualidade dos indivíduos ou processos e significados
que não são experimentalmente examinados ou medidos em termos
quantitativos (quantidade, intensidade, frequência).

A pesquisa qualitativa é mais recente na educação em relação à


quantitativa. No entanto seria errado afirmar que a pesquisa qualitativa
veio resolver os problemas da quantitativa e que portanto é a melhor.
Ambas são importantes formas de investigação com os seus próprios
pontos fracos e fortes. Elas não são formas exclusivas uma da outra,
razão pela qual existem pesquisadores que optam por empregar as duas
formas num mesmo projecto de investigação.

Por exemplo, em ciências físicas podemos considerar em certa medida a


pesquisa destinada a demonstrar os fenómenos físicos como uma
pesquisa qualitativa. Ela tem sido necessária quando se investiga a
producão de experiencias de demonstração de fenómenos para o ensino
na sala de aula. Especificamente no âmbito das ciências naturais do
ensino básico e do ensino secundário. Muitas destas experiencias
prevêem um nível qualitativo e comparativo de abordagem.

Por exemplo, na Disciplina de História de Ciências e Tecnologia


ministrada nos cursos de formação de professores de física os docentes e
os estudantes têm vindo a desenvolver brochura orientadas à
disseminação e popularização das ciências. Várias experiências de
demonstração de fenómenos foram alistadas e a estrutura de apresentação
envolve geralmente os seguintes tópicos:

• Gravuras;

• materiais;

• introdução;

• montagem e variantes;

• realização, observações e anotações;


136

• explicação.

Por conseguinre, este é um tipo de pesquisa da física educacional que a


Faculdade de Ciências Naturais e Matemáticas e o Centro para
Tecnologia Educacional da Universidade Pedagógica vem dando especial
atenção. Muitos estudantes têm estado a participar neste tipo de
investigação.

Portanto a pesquisa qualitativa inicia também usando como ponto de


partida, a elaboração/colocação das questões. Deve basear-se no acesso
directo e orientado ao campo social ou natural em estudo. Na história de
física aprendemos a saber que muitas experiências do século XIX tinham
ainda um carácter qualitativo e tinham por objectivo a descrição e a
generalização de conhecimentos por essa via e assim em última instância
a produção da explicação e da teoria. Embora hoje não seja esta a
metodologia seguida para a produção da teoria, podemos explorar este
aspecto no desenvolvimento de experiências simples e qualitativas para o
ensino primário e secundário.

Ao nível das ciências de educação a propriedade central da pesquisa


baseada no método qualitativo é o facto de ela ser praticável ou
realizável. O lado complementar ao método qualitativo, é um outro lado,
determinado pelos métodos quantitativos.

Métodos quantitativos

A análise quantitativa traz a objectividade dos dados numéricos,


reduzindo as distorções interpretativas e abrindo possibilidades para a
generalização (edução), possibilitando o teste de hipóteses, corroboração
e falseamento de afirmações e teorias por meio das ferramentas
oferecidas pela estatística e econometria.

Você já se apercebeu de que a análise qualitativa busca a captação de


dimensões subjectivas da acção humana, que os dados quantitativos não
conseguem captar..
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 137

Nos trabalhos científicos, sobretudo nas suas abordagens quantitativas, é


normal o tratamento de dois tipos de variáveis: a independente e a
dependente. A variável independente “influencia, determina ou afecta
uma outra variável; é factor determinante, condição ou causa para certo
resultado”. Já a variável dependente consiste no efeito resultante da acção
da variável independente.

Tanto as ciências sociais e educacionais como as ciências exactas


utilizam a métodos quantitativos. Estes métodos referem-se aos projectos
de pesquisa que investigam as questões integradas dentro de um sistema
de hipóteses. As variáveis são depois reconstruídas e reordenadas dentro
do sistema de hipóteses. A este sistema junta-se um conjunto de
instrumentos que permitam o levantamento de dados. Os instrumentos
permitem assim a medição quantitativa dos atributos de cada variável. De
modo genérico, os métodos de pesquisa em ciências sociais e
educacionais podem ser classificados e diferenciados com base na
seguinte tipologia:

Tipologia da pesquisa
A tipologia da pesquisa em ciências sociais e educacionais
 Pesquisa bibliográfica
 Pesquisa Documental
 Estudos de Casos
 Exploratória  Estudos Piloto
Qualitativa  Grupo de Foco
 Pesquisa-Acção
 Descritiva
 Estudos de Casos

 Pesquisa SURVEY,
Sondagens
 Descritiva  Pesquisa Documental
Quantitativa
 Explicativa  Experimentação
 Simulação

12
138

Sumário

Ideia básica do método empírico


• Hipótese

• Previsão/Prognostico
• empírico

• Realização

• Comparação:
• Prognostico - Realidade

• Decisão

Experiência

– Passo mais elementar da reprodução do fenómeno (pura


experiência ou experiência de campo) e controlo das
variáveis

2. Classificação

– Sistematização formal duma massa de dados (de


contrario incompreensíveis)

3. Quantificação

– Constitui o estágio sofisticado onde a precisão das


medições permitem uma análise adequada do fenómeno
através da ferramenta matemática

4. Descoberta das relações/conexões


Introdução à investigação científica Ensino à Distância 139

– Fase da descoberta e do estabelecimento da relação


funcional dos fenómenos

5. Aproximação da verdade

– Progressão gradual e sistematizada da explicação


(verdade)

----------------------------------------------------------------------------------

Os padrões mínimos de cientificidade ou do método científico são a


transparência dos procedimentos, reprodutibilidade, “falsibilidade”.

A experiência como critério da verdade é polémica.

Um critério serve como motivo de diferenciação da verdade para um


determinado conhecimento quando “a partir dele alguém pode julgar o
Leitura suplementar mesmo conhecimento” (Jakob Friedrich Fries). Os acéticos não aceitam a
existência de critérios da verdade.

Segundo RENE DESCARTES a transparência e a clareza (nitidez) são o


critério da evidência da verdade Na filosofia matemática, a ausência de
contradições é um critério suficiente da verdade das teorias matemáticas.

Na filosofia marxista a actividade e a prática social são vistas como um


critério controlável da verdade sobre as afirmações e teorias.

No “pragmatismo” a prática é vista também como critério da verdade. A


prática social é entendida como uma experiência subjectiva e actividade
subjectiva.

Segundo KUHN apud KIRCHER et al. (2001, p.153) ‘pode-se desconfiar


de todas as experiências’. Também aqui a ideia sobre a metodologia de
pesquisa de KARL POPPER apud KIRCHER et al. (2001, p.153) de que
‘a teoria só pode ser falsificada através da experimentação’ constitui o
ponto crucial sobre a metodologia para o descobrimento da verdade.
140

Exercícios

1. Identifique dois exemplos sendo um a) das ciências de educação


e outro b) da física educacional/química educacional de aplicação
do método empírico.
Auto-avaliação
2. Identifique dois exemplos sendo um a) das ciências de educação
e outro b) da física educacional/química educacional de aplicação
do método qualitativo.

3. Identifique dois exemplos sendo um a) das ciências de educação


e outro b) da física educacional/química educacional de aplicação
do estudo de caso.

4. Identifique dois exemplos sendo um a) das ciências de educação


e outro b) da física educacional/química educacional de aplicação
do método de levantamento, sondagens e surveys.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 141

Lição no9

Critérios de demarcação científica

Introdução

Você acabou de estudar que na metodologia é fundamental declarar quais


as informações e dados que serão necessários à pesquisa, onde/como
serão obtidos e o modo como serão tratados. Deve-se, ainda, declarar se o
trabalho terá um carácter preponderantemente quantitativo ou qualitativo.
O tema de método de pesquisa, apresenta-se como algo complexo. Para
um iniciante é deveras difícil toda a sobre os métodos e das técnicas
auxiliares de colecta de dados e de suporte das observações empíricas.

Nesta lição você vai consolidar os seus conhecimentos sobre a construção


de um sistema que indica em que medida a pesquisa mediu realmente o
que pretendia medir.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

1. Identificar alguns critérios (internos e externos) da demarcação


científica.

Objectivos 2. Aplicar os critérios internos para a autoavaliação do projecto de


pesquisa.

Critérios internos e externos, intersubjectividade, validade,


confiabilidade, pesquisa qualitativa e quantitativa, coerência,
consistência, originalidade.

Terminologia
142

O que pretendemos nesta lição é providenciar um conjunto de definições


úteis para compreender como utilizar os critérios para avaliar o próprio
trabalho de pesquisa. Os critérios definidos permitem de certa forma a
prática da autoavaliação. O processo de observância destes critérios
requer de facto muito tempo e experiência de pesquisa. Discutí-los neste
módulo iria prejudicar a sua concentração como estudante nos assuntos
considerados fundamentais nas lições anteriores.

CRITÉRIOS INTERNOS DA CIÊNCIA

Coerência propriedade lógica → falta de contradição; argumentação


bem estruturada; desdobramento do tema de modo progressivo e
disciplinado, com começo, meio e fim.

Consistência → capacidade de resistir a argumentações contrárias (liga-


se também à actualidade da argumentação).

Originalidade → produção inventiva, baseada na pesquisa criativa, e


não apenas repetitiva.

Objectivação → tentativa de descobrir a realidade social assim como ela


é, mais do que gostaríamos que fosse.

(esses quatro critérios se interpenetram)

QUALIDADE FORMAL → propriedade lógica, tecnicamente


instrumentada, dentro dos ritos académicos usuais: domínio de técnica de
colecta; manuseio e uso de dados; capacidade de manipular bibliografia;
versatilidade na discussão teórica; conhecimento de teorias, de autores;
feitura de passos consagrados (graduação, mestrado, doutorado).

QUALIDADE POLÍTICA → coloca a questão dos fins, dos conteúdos,


da prática histórica. Aponta para a dimensão do cientista social como
cidadão, como actor político, que inevitavelmente influencia e é
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 143

influenciado. Ciências sociais servem de instrumentação para o controle


social. Por que sabem muito mais como não mudar?

CRITÉRIO EXTERNO DA CIÊNCIA - a opinião é algo atribuído de


fora Intersubjectividade → Significa a opinião dominante da comunidade
científica em determinada época e lugar. Transparece a marca social do
conhecimento → “argumento da autoridade”

Outros critérios → comparação crítica, a divulgação, o reconhecimento


generalizado

Critérios de avaliação da pesquisa quantitativa

Qualquer pesquisa deverá ter critérios para avaliação da sua qualidade.


Em pesquisa quantitativa os critérios mais comuns são a validade e a
confiabilidade. Estes critérios derivam da própria característica e
exigência dos métodos quantitativos, que é a objectividade.

Validade

A validade é um critério que avalia a adequação dos instrumentos e


métodos usados durante a pesquisa, em relação ao problema em estudo. A
pergunta é serão estes resultados válidos? Ou será que este questionário é
válido para as perguntas que pesquisamos. Num exemplo extremo
podemos dizer que se quisermos avaliar o rendimento pedagógico dos
alunos e entrevistarmos somente os professores dúvidas poderão ser
colocadas em relação à validade do tal instrumento para responder à
nossa questão. Também se quisermos generalizar os dados sobre o
rendimento dos estudantes de uma escola com uma população de três mil
alunos e colhermos dados de apenas 10 estudantes, a validade dos
resultados poderá ser questionável.

A validade pode ser interna e externa. A validade interna refere-se a


exactidão dos dados em relação às conclusões da pesquisa enquanto que a
externa se refere à possibilidade de generalizar os resultados da pesquisa
para outros grupos semelhantes, por exemplo para outras escolas.
144

Confiabilidade

A confiabilidade refere-se à possibilidade de, caso o estudo se repita com


o mesmo grupo, se vir a ter os mesmos resultados. A pergunta será:
podemos confiar nestes resultados?

Sumário

CRITÉRIOS INTERNOS DA CIÊNCIA (todos se


interpenetram)

Coerência propriedade lógica → falta de contradição; argumentação


bem estruturada; desdobramento do tema de modo progressivo e
disciplinado, com começo, meio e fim.

Consistência → capacidade de resistir à argumentações contrárias (liga-


se também à actualidade da argumentação).

Originalidade → produção inventiva, baseada na pesquisa criativa, e


não apenas repetitiva.

Objectivação → tentativa de descobrir a realidade social assim como ela


é, mais do que gostaríamos que fosse.

CRITÉRIO EXTERNO DA CIÊNCIA - a opinião é algo atribuído de


fora Intersubjectividade → Significa a opinião dominante da comunidade
científica em determinada época e lugar. Transparece a marca social do
conhecimento.
Introdução à investigação científica Ensino à Distância 145

Qualquer pesquisa deverá ter critérios para avaliação da sua qualidade.

Critérios de avaliação da pesquisa quantitativa

Em pesquisa quantitativa os critérios mais comuns são a validade e a


confiabilidade.

Validade

A validade pode ser interna e externa. A validade interna refere-se à


exactidão dos dados em relação às conclusões da pesquisa enquanto que a
externa se refere à possibilidade de generalizar os resultados da pesquisa
para outros grupos semelhantes, por exemplo para outras escolas.

Confiabilidade

A confiabilidade refere-se à possibilidade de, caso o estudo se repita com


o mesmo grupo, poder ou não ter os mesmos resultados. O alcance dos
mesmos resultados aumenta a confiabilidade.

Exercícios

1. Procure ler três ou mais projectos já acabados e critique-os


quanto à sua validade e confiabilidade. (Analise se os objectivos
estão de encontro com a metodologia aplicada, se a metodologia
Auto-avaliação é adequada e se a forma de colher os dados ajuda no alcance dos
objectivos).
146

Referência Bibliográfica

 BABBIE, Earl (1989); The Practice of Social Research,


Wadsworth, California.

 BUGDAHL, Volker, (1996), Kreatives Problemlösen im


Unterricht, Cornelsen: Berlin

 CASTRO, José M. (2005), Métodos e Técnicas de Pesquisa,


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Instituto de
Educação Continuada, Belo Horizonte.

 COHEN, Louis & MANION, Lawrence (1980), Research Methods


in Education, Great Britain

 SEVERINO, António J. (1996); Metodologia do Trabalho


Cientifico, Cortez São Paulo.

 UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA (2003). Regulamento


Académico. Maputo: Educar.

 http://www.estudopronto.com/escrever_monografia.htm

 www.proead.unit.br/professor/janice_graca/arquivos/textos/mo
deloprojpesq.pdf

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