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Este trabalho tem por objetivo relatar o Projeto de Intervenção na Escola produzido
durante a participação no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), da
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, contemplando a discussão de três
metodologias de intervenção com crianças com Autismo. Esta pesquisa visou, mais
especificamente, realizar encontros de formação com professores de uma escola
situada no norte do estado do Paraná, e se justifica pelo fato de que, a partir da
LDBEN 9394/96, as crianças autistas estão frequentando as escolas regulares e os
professores, muitas vezes, se sentem despreparados para atendê-las. Assim, os
encontros de formação foram elaborados com o objetivo de realizar uma revisão
sobre os métodos de intervenção com a criança autista no ambiente escolar,
destacando as metodologias: Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com
Desvantagens na Comunicação (Método TEACCH), o Sistema de comunicação por
troca de figuras (PECS) e a Análise Comportamental Aplicada (ABA). Os encontros
totalizaram 32 horas e foram realizados com 11 participantes, os quais
demonstraram muito interesse nas atividades e afirmaram que a realização periódica
de cursos de capacitação é muito importante devido à rotatividade de professores na
escola, o que faz com que todos possam vir a trabalhar com alunos com autismo e
demonstra a necessidade de conhecimento a respeito do tema.
Palavras-chave: Autismo; Estratégias de intervenção; Educação Especial.
1. INTRODUÇÃO
1
Professora na rede pública de ensino do Paraná, atuando na área de Educação Especial.
Desenvolveu este trabalho por ocasião de sua participação no programa de formação continuada
PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional.
2
Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) (2002). Possui Mestrado em
Análise do Comportamento pela UEL (2007) e Doutorado em Psicologia pela Universidade Federal de
São Carlos (2015). É docente do Centro de Ciências Humanas e da Educação e do Programa de
Pós-Graduação em Ensino da Universidade Estadual do Norte do Paraná- Campus Cornélio
Procópio. Especialista em Psicopedagogia e Neuropsicologia.
De acordo com o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais
DSM-5 “as manifestações do transtorno também variam muito dependendo da
gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica;
daí o uso do termo espectro” (APA, 2014, p. 53).
O autismo é de natureza permanente, pois a pessoa nasce e permanece
durante todas as fases da sua vida na condição de autista. No entanto, na condição
inerente de todo ser humano como único, todos podem aprender. Conforme afirma
Gadia (2006) a criança autista, sem dúvida, é capaz de aprender, cada uma a sua
maneira, desde que receba um programa individualizado de intervenções intensivas.
Diante o exposto, o TEA possui uma extrema complexidade educacional,
sendo necessário que os professores estejam bem preparados para trabalhar com
esses alunos, para que possam buscar alternativas adequadas às individualidades
deles. E é essa complexidade que traz angústia e dificuldades no trabalho com
alunos autistas, como observado nos relatos de professores da escola na qual se
insere esta pesquisadora, informalmente, durante momentos destinados a hora-
atividade e no conselho de classe.
Sendo assim, a intenção da presente pesquisa foi a de propiciar o
aprofundamento dos conhecimentos, por parte dos professores, acerca do assunto
abordado, no sentido de contribuir na sua formação pedagógica. Para tanto, o
estudo se iniciou a partir da investigação dos procedimentos metodológicos que
podem ser utilizados de modo a minimizar as dificuldades no trabalho com crianças
autistas, consistindo de uma revisão teórica sobre as diferentes técnicas e
estratégias a serem trabalhadas com alunos autistas.
Esta revisão teórica culminou numa Produção Didático-Pedagógica que
subsidiou a implementação do Projeto de Intervenção na Escola, do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) 2016. Este Projeto foi realizado a partir de
encontros de formação com os professores da Escola Municipal Maria dos Anjos
Gonçalves – Educação Infantil e Ensino Fundamental na Modalidade de Educação
Especial, localizada no município de Sertaneja-PR.
Para o embasamento teórico, foram utilizados vários autores pertinentes ao
tema, os quais serão abordados no presente artigo da seguinte forma: breve
reflexão sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), descrevendo suas
principais características; seguindo com a discussão de Intervenções Educacionais e
Comportamentais com os alunos autistas no ambiente escolar, com ênfase no
Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Desvantagens na Comunicação
(Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children –
Método TEACCH)), no Sistema de comunicação por troca de figuras (The Picture
Exchange Communication System (PECS)) e na Análise Comportamental Aplicada
(Applied Behavior Analysis (ABA)).
Por fim, são discutidos os encontros de formação realizados na escola,
expondo as atividades e a participação dos professores. Além disso,
apresentaremos, também, algumas considerações dos professores que participaram
Grupo de Trabalho em Rede (GTR), a respeito da temática abordada no projeto e
sobre a necessidade de realizarmos tais estudos.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3. ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS
O presente trabalho tem por objetivo discutir diferentes técnicas e estratégias
que podem ser trabalhadas com alunos autistas, tendo por base as dificuldades
expostas pelo grupo de professores de uma escola da modalidade de Educação
Especial, situada no norte do Paraná. Assim, trata-se de uma pesquisa qualitativa
com abordagem exploratória na modalidade de pesquisa-ação (THIOLENT, 1985),
pois parte de um contexto específico para realizar encontros de formação que
possam atender às necessidades dos participantes da pesquisa.
Os estudos com esta abordagem permitem uma maior aproximação e
interação do pesquisador com todos os envolvidos no estudo. A pesquisa-ação pode
ser definida como
Eu ainda não trabalhei com alunos autistas, mas percebo que a cada ano
temos que trabalhar com alunos com tipos de necessidades diferentes. E
sei que as professoras que trabalham com os alunos autistas na escola já
mudaram. Então acredito que é importante termos um conhecimento para
estar preparados. Mesmo que precise aprofundar mais depois (P4).
Quando comecei a trabalhar com alunos com TEA eu não tinha muito
conhecimento a respeito e como os professores sempre mudam, acredito
que se os professores tiverem acesso a pelos menos um conhecimento
básico, isso ajudaria bastante se ele viesse a ter um aluno autista (P1).
Outro aspecto muito discutido foi a respeito da necessidade de parceria entre
a escola e a família, pois percebem que alguns alunos não têm estímulo por parte
dos pais, o que dificulta ainda mais seu desenvolvimento.
Assim, após compreenderem melhor sobre algumas das características e
necessidades dos alunos com TEA, sobretudo com relação à necessidade de
tratamento individualizado, passamos a discutir cada um dos métodos propostos
para o trabalho com esses alunos.
Foram realizados oito encontros com enfoque nas metodologias de
intervenção, começando sempre por uma apresentação do Método, suas
características básicas e contextualização histórica, para então discutir aspectos
estruturais e formas de aplicação. O quadro 1, a seguir, resume os conteúdos
discutidos em cada um desses encontros.
A coisa mais importante para mim, foi perceber o quanto precisamos pensar
em nosso aluno como único e tentar ajuda-lo da melhor forma. E isso é
válido não só para alunos com autismo. Foi muito bom conhecer mais a
respeito do assunto (P7).
Eu me preocupo sobre como lidar com eles [os alunos] e auxiliá-los para
que tenham um desenvolvimento merecido. Realmente quando temos
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O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) constitui uma das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE) e se caracteriza pela interação a distância entre o professor
PDE e os demais professores da rede pública estadual de ensino.
uma fundamentação metodológica facilita nosso trabalho, pois nem
sempre estamos preparados para recebermos tais alunos (PGTR2).
Por fim, outro aspecto importante que podemos citar sobre as discussões
suscitadas durante o GTR, é a necessidade de que sejam realizados cursos de
formação de forma periódica, pois percebem a necessidade de estudarem e se
manterem atualizados por conta própria, mas também anseiam por trocas de
experiências e por suporte que os auxilie neste aprimoramento. Como podemos
perceber nas falas a seguir:
Acredito que nós que trabalhamos com educação especial temos sempre
anseios em encontrar propostas de intervenções que venham nos dar
suporte na sala de aula. Estamos sempre em busca de algo a mais, que
possa ajudar os nossos alunos (PGTR5).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito dessa pesquisa foi o de ampliar os conhecimentos dos professores
sobre a temática do autismo e, diante dos estudos teóricos realizados, percebeu-se
a necessidade de reforçar a importância de intervenções precoces e intensivas, por
meio do treino sistematizado para o aluno autista. Vista a sua dificuldade de imitação
do outro, é preciso considerar o processo natural da imitação como o primeiro
aspecto para a criança que tem desenvolvimento atípico.
Fica evidente, também, que muitos autistas têm comportamentos críticos,
difíceis, repetitivos e, muitas vezes, impossíveis de serem conduzidos se não forem
colocados dentro de um processo sistemático, sendo primordial que o professor
busque intervenções que tenham evidências científicas com ampla carga de
publicações que apontem sua eficácia.
Frente aos encontros de formação desenvolvidos, bem como pelos discursos
dos participantes do GTR, foi possível perceber que há sempre a necessidade de
aprimoramento a respeito do tema e de formas de melhor atender a esses alunos,
pois cada aluno é único e apresenta necessidades diferenciadas, o que faz com que
muitos professores tenham dificuldades neste trabalho.
Esta pesquisa demonstra que é preciso continuar investindo na formação dos
professores, sobretudo com relação às necessidades específicas do contexto e às
atividades práticas de elaboração de materiais, possibilitando aos profissionais
compreender melhor as possíveis metodologias a serem utilizadas com alunos
autistas, pois, como foi apontado pelos professores, “não há receita pronta”, de
modo que muito estudo e dedicação são fundamentais para se avançar e obter
sucesso com esses alunos.
REFERÊNCIAS
LEON, V. & LEWIS, S. Grupos com autista.In: ZIMERMAN, David & OSORIO, Luis
Carlos (orgs.). Como Trabalhamos com Grupos. Porto Alegre: Artmed, 1997