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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO NO BRASIL

Todorov, J. C.
Hanna, E. S.

(Todorov; Hanna, 2010)

TODOROV, J. C.; HANNA, E. S. Análise do Comportamento no Brasil. Psicologia: Teoria


e Pesquisa, v. 26, n. especial, p. 143-153, 2010. Disponível em:
https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000500013

Behaviorismo e Análise do Comportamento


- A Análise do Comportamento (AC) não é uma área da psicologia, mas uma forma de
estudar o objeto desta.

- Existem diversos significados para o termo behaviorismo, portanto, é um grande equívoco


tentar encontrar um verdadeiro significado.
- Mace (1948) classifica algumas variedades de behaviorismo:

 Behaviorismo metafísico: mente ou eventos mentais não existem;


 Behaviorismo metodológico: se a mente ou eventos mentais existem, não são
apropriados como objetos para serem utilizados nos estudos científicos;
 Behaviorismo analítico ou linguístico: enunciados que utilizam de termos e conceitos
mentais podem ser analisados em termos comportamentais, ou seja, é uma proposta
conceitual.

- A AC surge da posição behaviorista de Skinner (posição influenciada pelo contexto


histórico). Skinner partia da constatação de que o comportamento é regular e ordenado. O
estudo científico do comportamento refinaria aquilo que já fazemos diariamente: analisar
circunstâncias e comportamentos.
- Skinner estruturou algumas premissas:

 Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e são modificados pelas


consequências de suas ações;
 A psicologia é o estudo da interação entre organismo e ambiente;
 Através de análise, chega-se aos conceitos de estímulo e resposta:
o Estímulo: uma parte, ou mudança em uma parte, do ambiente;
o Resposta: uma parte, ou mudança em uma parte, do comportamento;
o No entanto, um estímulo não pode ser definido independentemente de uma
resposta.

- A partir desses pressupostos, a AC se desenvolveu como uma linguagem da Psicologia,


aperfeiçoando seus métodos e criando novos campos de pesquisa. Os métodos utilizados na
pesquisa experimental são resumidos nos seguintes aspectos:

 Estudo intensivo do comportamento do indivíduo;


 Controle estrito do ambiente experimental;
 Uso de uma resposta repetitiva que produz pouco efeito imediato no ambiente;
 Utilização de meios eficazes de controle do comportamento do sujeito;
 Observação e registro contínuo do comportamento;
 Programação de estímulos e registro de eventos automáticos.
- Entretanto, as características dos métodos utilizados geralmente referem-se apenas à análise
experimental do comportamento de animais não humanos. Essa caracterização é falha:

 Não há sentindo em descrições que confundem as AC e a análise experimental do


comportamento com animais não humanos. As pesquisas dessa última são apenas uma
parte do trabalho: mesmo que o comportamento humano seja complexo, não significa
que existam princípios básicos diferentes. A ciência avança do simples para o
complexo, portanto, é precipitado afirmar que o comportamento humano é
essencialmente diferente do não humano, e vice-versa;
 As caracterizações normalmente ignoram análise conceitual como parte de uma
análise do comportamento;
 Muito dos avanços em AC vem de análises funcionais não experimentais. Boa parte
dos textos de Skinner se pautavam em tentativas de identificação de variáveis e de
processos de interação em exemplos de comportamento humano;
 É comum que as caracterizações confundam aspectos da análise com as
particularidades do analista do comportamento, por exemplo, muitos não
considerariam os trabalhos sobre prescrição moral de Skinner como componentes
relevantes de uma caracterização da AC;
 Questões ideológicas, principalmente quando não são explicitadas, podem ser
confundidas com caracterizações da AC. A ideologia dominante em uma sociedade
dirige tanto os esforços de pesquisa quanto os de aplicação, incorrendo no risco de
confundir pressupostos básicos da AC com características ideológicas de uma
determinada sociedade;

- A análise experimental do comportamento é apenas uma parte de um programa maior


proposto por Skinner. A ciência do comportamento pode obter contribuições a partir da
análise de diversos materiais:

 Observações casuais;
 Observações de campo controlada;
 Observações clínicas;
 Observações controladas do comportamento em instituições;
 Estudos em laboratório do comportamento humano e de animais não humanos.
- Em resumo:

É uma reflexão a respeito dos enunciados da


psicologia: não é uma teoria sobre o que
Behaviorismo analítico ou linguístico deve ser estudado, nem é um conjunto de
instruções sobre como se deve fazer
pesquisa
É uma linguagem da psicologia que tem
Análise do Comportamento
como seu objeto o estudo de interações
comportamento-ambiente. Interessa-se,
especialmente, pelo homem, mas estuda
também interações envolvendo outros
animais sempre que houver algum motivo
para supor que tais estudos possam ajudar
no esclarecimento de interações
homem-ambiente.
Busca relações funcionais entre variáveis,
controlando condições experimentais,
manipulando variáveis independentes
Análise Experimental do Comportamento
(mudanças no ambiente) e observando os
efeitos em variáveis dependentes
(mudanças no comportamento).

- O conceito de ambiente é arbitrariamente decomposto (histórico, biológico, físico e social)


apenas como um recurso de análise útil para apontar os diversos fatores que, indissociáveis,
participam das interações estudadas pelo psicólogo.

 Sem a decomposição necessária para a análise, o todo é ininteligível; por outro lado, a
ênfase exclusiva nas partes pode levar a um conhecimento não relacionado ao todo.

- O comportamento também pode ser analisado em diversos graus de complexidade, mas ele
não pode ser entendido fora de seu contexto (não são os músculos ou glândulas que
importam). O comportamento não pode ser descrito sem referência ao ambiente, e o contrário
também é verdadeiro.

- Comportamento x Ambiente, Resposta x Estímulo → Interdependentes, não podem ser


definidos sem referência ao outro.
-Quando falamos da definição de comportamento, encontramos dois problemas:
1. Quanto do que ocorre no mundo é considerado comportamento? Todas as mudanças
em estados dos organismos são comportamentais, ou apenas parte delas?
2. Como deve o comportamento ser dividido em unidades, de maneira a tornar possível
uma explicação?

- Felizmente, não é necessário afirmar exatamente o que é comportamento antes de iniciarmos


a construção de uma ciência do comportamento. Podemos isolar algumas instâncias do
comportamento e começar a estudá-las, mesmo que não seja possível definir exaustivamente
o que é e o que não é comportamento.

- Ao isolar alguma instância do comportamento, estamos detectando algum tipo de interação


organismo-ambiente. A relação funcional depende de variáveis de contexto (condições).

 A noção de contexto não é limitada temporalmente. Contexto não se refere apenas às


características atuais do ambiente externo.
- Existe uma arbitrariedade na escolha de quais variáveis são causa e quais são contexto, cuja
designação dependerá de quais são os interesses envolvidos no estudo, pois quando variáveis
de contexto são consideradas, uma relação de causa e efeito é apenas um instrumento para a
descoberta de princípios de maior generalidade.

 Princípios: descrição mais econômica do conjunto de relações causais e variáveis de


contexto que dão origem a eles. Um sistema de relações funcionais constituirá uma
teoria útil se acompanhar especificações de quais variáveis, no ambiente externo,
devem ser observadas e como devem ser medidas.
 Causas: componentes primários e empíricos que compõem a construção de
explicações/teorias mais abrangentes. Portanto, só possuem sentido dentro de
determinado modelo, que podem ser mais ou menos adequados e sempre passíveis de
alterações.

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