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PENSAMENTO III:
PSICOLOGIA
COGNITIVA
A cognição humana
Tania Beatriz Iwaszko Marques
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Nas últimas décadas, a cognição humana tem despertado o interesse de cientistas
e do público em geral, pois envolve questões do cotidiano de todos. Na medida em
que as pesquisas foram evoluindo, surgiram diferentes abordagens para explicar a
cognição humana, cada uma delas com campo conceitual, interesses de pesquisa
e metodologias de pesquisa próprios. Embora psicologia cognitiva seja o nome
de uma das abordagens específicas, a expressão também é, às vezes, utilizada
para englobar todas elas.
Neste capítulo, você vai conhecer as quatro abordagens da cognição humana:
psicologia cognitiva, neuropsicologia cognitiva, neurociência cognitiva e ciência
cognitiva computacional. Você vai estudar os conceitos básicos de cada uma das
abordagens, bem como alguns dos principais pontos fortes, limitações e outros
aspectos relacionados à prática de pesquisa.
2 A cognição humana
Psicologia cognitiva
A psicologia cognitiva baseia-se na ideia de que se pode compreender a
cognição humana observando os comportamentos de uma pessoa enquanto
ela executa tarefas. Essa abordagem oferece uma base conceitual e técnica
para as outras abordagens que você conhecerá neste capítulo.
Embora a preocupação com questões relacionadas à cognição humana seja
antiga, costuma-se situar o início da psicologia cognitiva nos anos 1950, espe-
cialmente com os trabalhos do linguista Noam Chomsky. A partir da década de
1970, a analogia entre a mente e o computador tornou-se popular (STERNBERG,
2008). A Figura 1 mostra uma representação simples do processamento da
informação no início dos estudos sobre a cognição humana com base nos
princípios da psicologia cognitiva. Está representado um processamento do
tipo bottom-up (de baixo para cima).
A cognição humana 3
ESTÍMULO
Atenção
Percepção
Processos de pensamentos
Decisão
RESPOSTA OU AÇÃO
Diencéfalo
P5NSAM5NTO
Neuropsicologia cognitiva
Ao contrário da psicologia cognitiva, que procura observar o comportamento
de sujeitos normais, a “neuropsicologia cognitiva está preocupada com os
padrões de desempenho cognitivo (intacto e deficiente) apresentados pelos
pacientes com dano cerebral” (EYSENCK; KEANE, 2017, p. 5). Estudando o
cérebro de pessoas que sofreram danos cerebrais tanto por doenças quanto
por ferimentos, a neuropsicologia cognitiva infere informações sobre a cogni-
ção normal (MOGRABI; MOGRABI; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2014). As pesquisas
realizadas na década de 1960 permitiram entender que é possível que a
memória de longo prazo funcione normalmente mesmo que a memória de
curto prazo esteja prejudicada, ao contrário do que se pensava anteriormente.
Isso só foi possível ao estudar pessoas com lesão cerebral.
Você pode ter concluído que o foco da neuropsicologia cognitiva é o fun-
cionamento do cérebro, mas, para muitos teóricos dessa abordagem, sendo
Max Coltheart o principal deles, o foco é entender a mente, como funciona a
cognição. Não existe, porém, um consenso, pois outros pesquisadores utilizam
neuroimagens para identificar áreas lesionadas no cérebro de pacientes.
Com base em Coltheart, além disso, a neuropsicologia cognitiva tem algumas
suposições, que você conhecerá a seguir.
Neurociência cognitiva
A neurociência cognitiva envolve a utilização de evidências provenientes do
comportamento e do cérebro para compreender a cognição humana. O cérebro
tem 100 bilhões de células nervosas, os neurônios, com muitas conexões ente
si. Veja na Figura 2 a representação de um neurônio com uma sinapse (ligação
entre neurônios) em destaque. Note a estrutura esquemática do neurônio,
com suas partes — corpo celular, dendritos e axônios —, bem como a sinapse
com terminais axônicos e neurônios pós-sinápticos. Dendritos e axônios
são os prolongamentos dos neurônios. Os dendritos recebem os estímulos,
enquanto os axônios são os prolongamentos que transmitem as informações
do neurônio para as outras células. Neurônios pós-sinápticos são os que se
localizam após a sinapse, a ligação entre os neurônios.
A cognição humana 9
Sulco Lobo
central parietal
Lobo Lobo
frontal occipital
Fissura de
Sylvius
Lobo temporal Cerebelo
Educadores — professores e pais — […] são, de certa maneira, aqueles que mais
trabalham com o cérebro. Mais do que intervir quando ele não funciona bem,
os educadores contribuem para a organização do sistema nervoso do aprendiz
e, portanto, dos comportamentos que ele aprenderá durante a vida (COSENZA;
GUERRA, 2011, p. 6).
Referências
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M. A. Neurociência: desvendando o sistema
nervoso. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
BULLMORE, E.; SPORNS, O. The economy of brain network organization. Nature Reviews
Neuroscience, v. 13, p. 336-349, 2012.
COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
DIAS, Á. M. Tendências em arquiteturas cognitivas. Arquivos Brasileiros de Psicologia,
v. 62, n. 1, 2010.
EYSENCK, M. W.; KEANE, M. T. Manual de psicologia cognitiva. 7. ed. Porto Alegre: Art-
med, 2017.
IZQUIERDO, I. Memória. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018.
MOGRABI, D. C.; MOGRABI, G. J. C.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. Aspectos históricos da
neuropsicologia e o problema mente-cérebro. In: FUENTES, D. et al. Neuropsicologia:
teoria e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 19-28.
ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. S. (org.). Transtornos da aprendizagem: aborda-
gem neurobiológica e multidisciplinar. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
SILVA, F. R. Fundamentos de pensamento computacional. In: SANTOS, M. S. et al. Pen-
samento computacional. Porto Alegre: SAGAH, 2021. p. 13-26.
STERNBERG, R. J. Psicologia cognitiva. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.
Leituras recomendadas
BADDELEY, A.; ANDERSON, M. C.; EYSENCK, M. W. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2010.
COSENZA, R. M. Neurociência e mindfulness: meditação, equilíbrio emocional e redução
do estresse. Porto Alegre: Artmed, 2021.
SUN, R. (ed.). Cognition and multi-agent interaction. New York: Cambridge University,
2006.