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10/11/2020 Ensaio: A importância da Neurociência para a Psicologia

Ensaio: A importância da Neurociência para a Psicologia


Por Rebeca Machado | 10 de maio de 2009

Agora que cheguei à metade do meu curso, comecei a reavaliar como foi minha trajetória até aqui. Entre todas as disciplinas que tive,
três me encantaram profundamente, e coincidentemente elas pertencem à mesma área: Neurociência.

O estudo da Psicofisiologia no início assusta um pouco, muitos nomes de áreas para decorar, saber funções e localizações no cérebro.
Este esforço muitas vezes faz com que os alunos se deparem com uma pergunta: “Para que eu quero saber do cérebro, se vou apenas
ouvir os meus clientes falarem sobre problemas?”. Mas uma coisa que eu descobri é que estudar Neurociência também é muito importante para a psicologia.

O cérebro humano é um órgão não muito grande, para se ter uma noção ele representa aproximadamente 2% do peso do corpo, mas apesar de ser humilde nas
medidas é grandioso em importância. A responsabilidade de planejar e executar movimentos, compreender a linguagem, armazenar memórias, expressar emoções,
aprendizagem, entre outras é praticamente toda dele. Este trabalho é realizado com ajuda de células nervosas conhecidas como neurônios que fazem ligações entre si,
as famosas sinapses.

Um dos temas estudados nas primeiras aulas é o da plasticidade cerebral, esta definida por Landeira e Cruz (2007) como a capacidade vital de o cérebro reorganizar
suas vias com base em novas experiências. Esta capacidade está presente durante todo o ciclo de vida, mas vale ressaltar que dependo da habilidade a ser adquirida,
quanto mais novo o indivíduo mais fácil será para o cérebro formar e organizar suas novas conexões. Provavelmente neste fato esteja a resposta de inúmeras
perguntas, como por exemplo, por que uma criança aprende com mais facilidade e rapidez um novo idioma do que um adulto? E por que, o processo de recuperação de
uma lesão, quanto mais cedo esta recuperação acontece melhor o cérebro consegue compensar as funções de uma área debilitada em uma área que esteja boa?

Estudando a neuroplasticidade que percebi o quanto é importante conhecer dessa ciência para a psicologia. A psicoterapia, por exemplo, mesmo não sendo um
fármaco, como os ansiolíticos que modifica sinapses fazendo bloqueios ou liberações de neurotransmissores, por incrível que pareça tem o poder de um. Em sala de
aula a professora nos apresentou uma pesquisa realizada em 1992 pelo psiquiatra Lews Baxter e colaboradores que comprova este fato.

Participaram da pesquisa 66 pacientes com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), estes foram divididos em três grupos: O primeiro grupo foi tratado com uma
droga psicotrópica, o segundo foi tratado apenas com psicoterapia de base cognitivo-comportamental, enquanto o terceiro grupo foi o controle e não recebeu nenhum
tipo de tratamento. Após algumas semanas de intervenção os pacientes foram submetidos a exames de neuroimagem, e foi constatado que tanto os pacientes que
tomaram o remédio quanto os que fizeram terapia tiveram modificações sinápticas resultando na melhora do problema. Os resultados reforçam a idéia da importância
de se fazer psicoterapia, não estou falando apenas de pessoas que possuem algum tipo de transtorno emocional, mas também das pessoas ditas “normais” que podem
prevenir futuros problemas, como também aprender a fazer diferente, fortalecer algumas sinapses que estão no caminho certo, e mudar o caminho de outras.

É claro que não se pode subestimar e nem deixar de lado os psicotrópicos, pois aprendi em Psicofarmacologia, que eles são de fundamental importância, muitas vezes
para que uma pessoa em crise possa freqüentar uma terapia, ela pode precisar de uma intervenção medicamentosa, para ajudá-la a funcionar um pouco melhor.
Estudar psicofarmacologia também é importante para conhecer um pouco sobre como cada remédio vai atuar cerebralmente, saber diferenciar um antipsicótico de um
ansiolítico, e compreender que às vezes, um paciente pode apresentar um tipo de comportamento consequente de um efeito colateral de algo que ele esteja tomando.

A terceira disciplina de Neurociência é a Processos Sensoperceptivos, esta eu fiz recentemente e também foi uma experiência fantástica, pois descobri que cada ser tem
uma percepção diferente do ambiente em que vive, um acontecimento, por exemplo, pode ter diferentes interpretações, dependendo da pessoa que o está narrando.
Utilizamos os nossos sentidos para interagir no mundo, e nossa percepção nada mais é do que dar sentido às essas sensações. O nosso cérebro também está por trás
dessa tarefa, dessa vez ele conta com a ajuda dos nossos cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato, que possuem células que fazem a tradução das sensações
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e as envia para o cérebro para ser dada a interpretação. Assim, como cada sujeito passa por diferentes experiências suas sinapses serão diferentes, logo as
interpretações serão baseadas nessas experiências particulares de cada um, e talvez por isso não exista uma percepção igual à outra.

Nessa disciplina realizamos uma pesquisa de campo sobre pessoas que possuem problemas perceptivos, não enxergam, não escutam. Acredito que este trabalho foi de
fundamental importância para a formação, pois eu e meus colegas observamos de perto quais eram as questões físicas e psicológicas envolvidas em cada tipo de
deficiência. O mais interessante foi que ao discutirmos os casos em sala de aula pudemos perceber que continuamente, uma deficiência não é vivenciada como tal, e
que uma pessoa é capaz de trabalhar, estudar, tocar um instrumento compensando a ausência de um sentido.

E pensando nos deficientes perceptivos, fico me questionando se nós pessoas neurotípicas também não somos cegos ou surdos de alguma forma.

Muitas são as perguntas realizadas nessa área, algumas já se têm respostas e outras ainda estão começando a ser estudadas, mas avanços tecnológicos estão cada vez
mais presentes, e com certeza muitas dúvidas serão esclarecidas no futuro. E quem sabe eu também poderei participar da busca dessas respostas e não só eu, mas a
psicologia como um todo, pode dar grandes contribuições para o desenvolvimento da Neurociência, independente da abordagem.
Tenho uma caminhada razoável pela frente, com certeza encontrarei muitas disciplinas que vão me despertar interesse, mas independente de que área seja, quero
continuar tentando fazer a ligação com a minha futura realidade, a de psicóloga.

*Rebeca Machado ,é Estudante, cursa o 5º semestre do curso de Psicologia no Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB)
Referência:
Cruz, A.P.M. & Landeira-Fernandez, J. (2007). Por uma psicologia baseada em um cérebro em transformação. In: Landeira-Fernandez, J. e Silva, M.T.A.
(Orgs.). Intersecções entre neurociência e psicologia (pp. 1-15). Rio de Janeiro: MedBook.

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