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tema 03 - TEORIA COMPORTAMENTAL DE FREDERICK SKINNER E SUA RELAÇÃO

COM A EDUCAÇÃO.
conteúdo: origens temas e conceitos do behaviorismo, Skinner e interface com educação

- origens, temas e conceitos


● A abordagem behaviorista (ou comportamentista, nas palavras de Watson) em
Psicologia é caracterizada pela preocupação com a dinâmica individual na relação
com o ambiente, convergindo para um caráter instrucional. Sem apresentar uma
uniformidade conceitual, essa corrente científica parte sempre de um dado concreto
e observável para sua análise - sendo o comportamento do indivíduo a única
unidade passível de verificação objetiva. Nessa perspectiva, o fenômeno do
comportamento não prescinde das intenções (consciência) para realizar-se, mas
elas são prescindíveis para sua explicação. A principal intenção é a de produzir
conhecimento a respeito dos resultados referentes a estímulos, que provocam o
comportamento, visando inclusive seu controle. A despeito da unidade em seus
alicerces epistemológicos, essa abordagem apresentou significativas divergências
entre seus principais ideólogos. Para ilustração, é possível citar um aspecto
essencial das preocupações psicológicas: a continuidade evolutiva entre homem–
animal. Enquanto J. Watson asseverou esta continuidade, estendendo para o
homem as mesmas regras do reflexo condicionado encontrado nos animais, B.
Skinner argumentava em favor da profunda cisão (descontinuidade) que o mundo
cultural impôs à vida dos seres humanos. A partir das iniciativas de oposição à
metafísica, já implícitas nas abordagens psicanalíticas, o behaviorismo atingiu
grande alcance, especialmente nos círculos científicos da Inglaterra e dos EUA. Sua
maior projeção foi marcada pelos objetivos de controle e previsão do comportamento
das massas;
● A origem desta abordagem psicológica recebeu influência direta dos estudos
fisiológicos sobre o comportamento animal, principalmente descritos nos trabalhos
de I. Pavlov (1849-1936). Dessa matriz derivam as principais linhas que defendem a
supremacia do condicionamento ambiental, bem como aquelas que prescrevem a
possibilidade objetiva para modificação intencional do comportamento. Outro aporte
teórico-metodológico importante na constituição da abordagem behaviorista foram
as divergências com o Funcionalismo, mais especificamente relativos à crise do
conceito de consciência na Psicologia Estruturalista. Seguindo o debate, os
comportamentistas defendem que se pode supor (idealizar) a presença (ou a
ausência) da consciência em qualquer ponto da escala filogenética, porém isso não
tem qualquer influência sobre os problemas do comportamento e o estudo
experimental deles. Além disso, no caso de admitir, a busca pela interpretação dos
resultados experimentais fica condicionada à seleção de dados em função da
confirmação da hipótese de que existe consciência por trás do fenômeno - o que
para seria um viés inconveniente científico;
● Na definição do comportamento como unidade fundamental para a edificação de
uma nova Psicologia, J. Watson (1978-1958) assumia que os dados relativos a
comportamentos (observação, mensuração) tinham valor em si mesmo. Para a
análise e interpretação desses dados não haveria nenhuma necessidade de recorrer
à consciência como fator explicativo, rechaçando a partir daí a validade do método
introspectivo. O comportamento seria a forma através da qual todos os organismos
vivos ajustam-se ao ambiente, por isso interpretava esse fenômeno a partir da
continuidade filogenética. A ciência do comportamento seria um “ramo objetivo e
experimental da ciência natural”, tendo por objetivos a previsão e o controle. Então,
o objeto de estudo apresenta-se como o padrão de resposta individual aos estímulos
do ambiente. Os estímulos ambientais, entendidos como “tudo que pode excitar
atividade num receptor”, levam os organismos a apresentar respostas, observadas
por um sujeito como comportamento. Segundo o método, conhecido um estímulo
ambiental é possível predizer a resposta individual, da mesma forma que identificada
a resposta individual é possível resgatar o estímulo que a gerou. Para o autor esse
seria o esquema natural, verificável em qualquer tipo de comportamento na escala
evolutiva;

- Skinner
● B. F. Skinner (1904-1990), foi um psicólogo norte-americano conhecido como
principal expoente do neo comportamentalismo (neo behaviorismo ou neo
comportamentismo). Seus trabalhos partem de uma revisão sistemática da teoria
psicanalítica, com especial crítica à noção de inconsciente. Também, acusava as
noções de Id/Ego/Superego, bem como de arquétipos, como abstrações que mais
atuam para enevoar o entendimento sobre o comportamento humano. Ao contrário,
Skinner devotou seus esforços para observar meticulosamente o comportamento e
refinar a teoria do condicionamento;
● uma das principais inspirações para os trabalhos de Skinner é o também norte-
americano E. Thorndike (1874-1949). Este psicólogo é referência na psicologia
moderna a partir da teoria chamada lei do efeito. A partir de experiências com gatos,
em que testava o papel do reforço (positivo e negativo) para condicionar a saída de
labirintos, Thorndike definiu que: as respostas positivas (satisfatórias, prazerosas)
aumentam as chances de um comportamento retornar no futuro, enquanto respostas
negativas (decepcionantes, doloridas) tendem a diminuir o retorno de determinado
comportamento. Skinner partiu dessas premissas para desenvolver uma teoria sobre
em que condições esse mecanismo atua e de que maneira o controle do
comportamento pode ser otimizado;
● segundo as concepções de Skinner, e seguindo a tradição de Watson,
comportamento é o objeto concreto da psicologia. Como ciência (moderna) não é
apenas uma técnica investigativa, senão um modo de se relacionar com a natureza.
Isso significa que para avançar cientificamente é necessário à psicologia, renunciar
à concepção antropológica tradicional que fez nascer o método introspectivo para o
estudo do ser humano - sem recurso nos conceitos de motivação, impulso ou
necessidade. Então, para Skinner, o comportamento humano é um conjunto
ordenado de respostas (determinismo) que permite a previsibilidade dos eventos da
rotina, bem como a possibilidade de controle. Assim, a ciência seria a procura da
ordem, da uniformidade, das relações ordenadas entre os eventos. Nesse sentido, a
ciência se traduz em poder sobre a natureza, demonstrando caráter teológico. O
esforço científico visa constituir um sistema ancorado em leis e que proponha um
modelo para seu objeto.
● as teorias de Skinner avançaram as fronteiras do behaviorismo, ampliando o
domínio de suas observações e teorias. Metodologicamente, o objetivo dessa linha
psicológica é encontrar, por meio de análise funcional, as leis que apresentam a
regularidade com base na experimentação e quantificação. Com essa cadeia de
deduções encontra-se o sistema explicativo do comportamento, que nada mais é do
que o conjunto das leis funcionais do comportamento apresentado pelo organismo.
Portanto, o método tem como técnicas as observações casuais, as observações de
campo controladas e as observações clínicas. Essas pesquisas são desenvolvidas
em protocolos rigidamente controlados, o que permite inclusive estender seu
alcance a sistemas industriais, militares ou outras instituições fortemente
hierarquizadas.

- interface educação
● desde os primórdios o behaviorismo foi erigido na esteira dos fenômenos
relacionados ao aprendizado. Quando Watson ou Thorndike utilizaram animais em
seus experimentos, procuraram reconhecer em que medida retinham determinada
informação. Foi com esse intuito que avançaram os estudos para os seres humanos,
em especial crianças;
● de maneira geral, o ensino na perspectiva comportamentalista de Skinner significava
um plano de instrução programada. O objetivo do processo era garantir o sucesso
no aprender, a partir de modelagem dos conteúdos de aprendizagem. Era uma
pedagogia com preocupações relativas ao ritmo individual, tendo por base uma
concepção gradualista da construção e da aquisição do conhecimento. Tem um
caráter objetivista, quando se preocupa em separar o certo do errado (máquinas de
aprendizagem). Os fundamentos behavioristas deram impulso para a adoção de
sistema de créditos (vouchers), ou bônus, como forma de catalisar desempenho e
direcionar comportamento. Em sua visão de educação, o behaviorismo popularizou
a necessidade de estabelecer diagnóstico e objetivos para os conteúdos de
aprendizagem. Devem ser ministrados com respeito aos ritmos individuais, porém
também ao gradualismo do conhecimento. O behaviorismo também enseja práticas
como avaliação processual (etapista) e demonstra preocupação com a adequação
dos materiais. Princípios também decorrentes da abordagem sobre o
comportamento, preconizam a autoavaliação e o autogoverno como instrumentos
que promoção autoimagem e reforços positivos para o aprendizado.
● Por fidelidade à tradição iniciada por Skinner, a pedagogia behaviorista receita o
método científico como antídoto para o despotismo - no sentido de que a
necessidade de se submeter aos fatos impede que visões particulares se imponham
como verdades.

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