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Nome: Vitor Rakson Angelim da Silva

Matrícula: 201901322629
Disciplina: Pesquisa em Psicologia

1. Psicologia e epistemologia: por uma perspectiva ética de potencialização da vida

O texto começa trazendo a seguinte questão: O que queremos com a ciência, ou


da ciência, ou dos saberes? Para a análise dessa pergunta se faz necessário rever o
entendimento sobre epistemologia e sua utilidade. No passado, a ciência justificava a si
mesma, ninguém questionava o que se queria com ela, pois ela garantia a validade das
descobertas. Questionava-se então os métodos da ciência, onde a epistemologia
dividia o que estava fora e dentro da ciência. Pois esse estudo epistemológico
analisava o modo como as ciências conhecem e se seus métodos podem ser
considerados científicos.
Vários estudiosos propuseram critérios para se verificar se um conhecimento é
científico. Rudolf Carnap, propôs o critério da verificabilidade e, após críticas, teorizou o
da confirmabilidade, no qual os enunciados não podem ser verificados, mas somente
confirmados cada vez mais. Karl Popper trouxe o critério da falseabilidade, que diz que
em vez de confirmar todas as possibilidades da sentença, pode-se assegurar da sua
negativa. Thomas Kuhn traz a teoria dos paradigmas, onde um paradigma é uma visão
de mundo, que diz como podemos explorar o universo através de regras. O
conhecimento só é efetivo quando compartilhado com a comunidade científica.
Como as ciências humanas não possuem corpo teórico unificado, considera-se
que elas não têm subsídios para ser chamada de ciência. Assim surgiram teóricos
trabalhando para resolver esse problema e propuseram algumas conclusões. Hilton
Japiassu trata que o saber das ciências humanas é estabelecido através do não
imediatamente observável. Dessa forma, como a verdade não é vista de imediato, é
preciso interpretá-la, sendo isso o centro de críticas às ciências humanas, elas
necessitam que alguém faça sua interpretação. Mas se deve ter cuidado com o
subjetivismo teórico, onde cada um acha que sua interpretação é a verdade. Para evitar
isso é necessário traçar diretrizes para esse pensamento e prática.
Bombassaro traz que o critério e o processo de historicidade podem potencializar
o pensamento e a ação, se encontrando no território da prática. Esse uso requer
critérios, necessitando de uma concepção de homem, uma metodologia e uma busca
por resultado. Na área da psicologia, é preciso entender a linguagem como um
dispositivo constitutivo da experiência, em vez de ser um instrumento de representação
da realidade, a linguagem está dentro da experiência e ajuda a construi-la. Isso pede
que deixemos de lado a representação.
Podemos encontrar na ética um caminho para guiar o nosso pensamento e
nossa ação. As prescrições morais determinam uma ligação consigo mesmo,
responsabilizando o indivíduo por suas ações. Deluze diz que a ética é uma tipologia de
modos imanentes que substitui a moral. Os valores bem e mal são trocados por modos
de existência entre bom e mau, trazendo uma relação consigo mesmo balizada pela
compreensão do que é bom e o que é mau.
Deluze também traz que, na ética, o que se deve procurar são as alegrias ativas,
que aumentam a capacidade de agir, ao invés das paixões tristes, que diminuem essa
capacidade. A ponderação entre esses valores vem da experimentação do sujeito,
afirmando o movimento da vida. Somente a alegria é valida na ética, pois nos aproxima
da ação. Essa procura da alegria se dá através da seleção de bons encontros. O papel
do Psicólogo, nessa questão, é evitar que a experiência não receba créditos e também
evitar sua supervalorização, trazendo uma reflexão, focando na experiência em si.
O plano da representação traz a ideia de que os fenômenos terrestres vêm de
um plano das ideias, ou seja, analisa-se de que forma a realidade se distancia de
valores ideais, servindo para apontar os erros da vida. Porém, pensamento e vida são
inseparáveis, o pensamento deve afirmar a vida.
Na questão da Psicologia, é possível à Psicologia conhecer? Para tal é
necessário que haja o critério, que vem através do método. O método é quando se
segue um certo caminho, para alcançar um certo fim, proposto de antemão como tal.
Esse método é uma tentativa de lidar e entender o caos, organizando-o, pois o método
traz uma estabilização para a vida, uma estagnação. Assim, deve-se ser traçada outra
forma de lidar com o conhecimento em psicologia. A ideia de controlar o caos pode ser
equivocada, pois as coisas não têm paz, a vida está sempre em movimento, não sendo
possível pará-la para ser observada. Os processos da realidade não devem ser
observados, mas vividos, para que possam ser entendidos. A vida nos convoca ao
movimento.
2. Introdução

Os psicólogos buscam responder questionamentos sobre processos mentais e


comportamentos, para tal se baseiam no método científico, processo que envolve uma
abordagem empírica e ceticismo. A ciência pode ser influenciada por três contextos: o
histórico, o sociocultural e o moral. O contexto histórico revela que a psicologia tem raiz
no pensamento dos filósofos antigos, sendo também trabalhada por Locke e Descartes,
e foi sendo evoluída por médicos e fisiologistas do século XIX, até que, em 1879,
Wundt estabeleceu o primeiro laboratório de pesquisa em psicologia, na Alemanha.
Uma das bases usada para tornar a psicologia uma ciência foi o empirismo, que
se baseia na observação direta e na experimentação para encontrar soluções a
questões estabelecidas. No fim do século XIX, os psicólogos se preocupavam com
sensações e percepções, já no início do XX a psicologia dos EUA era fortemente
influenciada pelo behaviorismo, que ignorava o funcionamento da mente. Em meados
do século XX o behaviorismo perdeu forças, deixando de ser a escola dominante e
dando espaço para a psicologia cognitiva. A revolução do computador foi um fator de
enorme importância para a ascensão da psicologia cognitiva.
Willian James, escreveu o primeiro livro de introdução à psicologia, utilizando a
técnica de introspecção. Skinner criou a análise experimental do comportamento. Outra
abordagem que nasceu foi a de Freud, que focou nos processos mentais com o método
da associação livre. A ciência pode ser influenciada pelo contexto em que está inserida,
como o contexto social e cultural. E também pode influenciar o tema, os recursos e a
aceitação da pesquisa.
A internet vem sendo de grande importância para pesquisas em psicologia,
porém, também é um fator limitante, já que uma vez publicados, os artigos podem
reforçar comportamentos inadequados, pois seu alcance é ilimitado. Um problema a ser
evitado nas pesquisas é o etnocentrismo, que tenta entender uma cultura diferente por
meio da visão da própria cultura.
O contexto moral trata sobre as alterações de dados e manipulações de
resultados nas pesquisas, que surgem de más intenções ou erros no processo.
Pesquisas questionam sobre em que condições e para que fins seria correto enganar
os sujeitos para se ter um resultado satisfatório. É muito importante que o pesquisador
seja cético, tanto em relação a causa do comportamento quanto como as
consequências, pois esse ceticismo serve para que o público não caia em falácias de
impostores. O material publicado na mídia sempre deve ser questionado, pois tais
publicações podem ter erros tanto por não serem pesquisas reais quanto por omissão
de parte da pesquisa, com o objetivo de manipular.
Ao começar uma pesquisa, é preciso escolher um tema e uma pergunta
adequados, buscar pesquisas já publicadas sobre o assunto e verificar se a pergunta
escolhida já não está respondida. Após isso, é necessário estabelecer uma hipótese
que é uma tentativa de explicação para o fenômeno. E ao fim analisar se a reposta da
pergunta contribuirá de maneira significativa para o entendimento dos processos
mentais. Para se achar a resposta, pode-se usar uma abordagem multimétodos, que
usa variadas metodologias de pesquisa e de medidas para se chegar a um
entendimento mais completo do assunto, buscando preencher lacunas entre as
metodologias individuais.
5. A pesquisa qualitativa em psicologia clínica.

A ciência traz zonas de sentido para o fenômeno estudado, pois ela organiza, de
forma racional as relações estudadas empiricamente. A ciência também é constituída
por paradigmas e modelos que trazem soluções para os pesquisadores, durante um
determinado tempo, até serem substituídos por outros. Paradigma pode ser definido
como um grupo de descobertas cientificas de conhecimento geral que fornecessem
tanto respostas quanto possibilidades de pesquisas a um grupo de pesquisadores.
Assim, um paradigma engloba uma forma de ver fenômenos e também traz
crenças que permitem um filtro quanto às interpretações de mundo. Portanto, na
aceitação de um paradigma estão incluídos também os aspectos subjetivos do sujeito,
o que implica na aceitação ou rejeição de paradigmas externos.
Em sua construção, a ciência apresenta ciclos paradigmáticos, que se
complementam ou se confrontam. Assim, a progressão ocorre tanto pela confirmação
das hipóteses de pesquisa quanto pela sua negação, dentro de um modelo
paradigmático. Essa movimentação da ciência e dos paradigmas leva a substituições
das teorias por outras mais abrangentes e à revisão de outras. Essa evolução ocorre
através de ciclos, onde há uma acumulação de aproximações sucessivas, onde um
ciclo evolui as teorias e descobertas dos ciclos anteriores.
Toda pesquisa cientifica requer uma teoria e um método de procedimento. A
teoria fornece um conjunto de regras que assegura a explicação de um conjunto de
fatos (fenômeno). O método consiste em formular, propor e colocar a prova hipóteses.
O modelo teórico embasa a teoria, sendo uma representação lógica abstrata que busca
ordenar e explicar fenômenos específicos. A teoria e o método se constituem como
pilares do estudo científicos, possibilitando o estudo dos problemas relacionados ao
foco da pesquisa.
No viés psicológico, o pesquisador em psicologia recebe influências histórico-
culturais tanto internas quanto externas, o que interfere no modo como ele enxerga os
fenômenos e a realidade. A experiência do pesquisados, suas interpretações e visões
estão envolvidas na investigação, o que provoca uma dificuldade de controle das
variáveis. Essa dificuldade fica mais evidente na pesquisa qualitativa em psicologia
clínica, pois nela há um processo mais personalizado de investigação.
A metodologia de pesquisa qualitativa em psicologia clínica traz que a ciência
psicológica é uma construção da subjetividade humana, dentro de um determinado
paradigma. Assim o próprio processo da investigação interfere no objeto da pesquisa,
trazendo o conceito de indeterminismo, onde o pesquisador interage e atua ativamente
no que pretende estudar, pois sua realidade se mistura com a do objeto. Essa pesquisa
qualitativa em psicologia clínica não busca uma verificação direta dos resultados, mas
apontar um sentido para aquele fenômeno estudado, dentro de uma realidade.
Os instrumentos utilizados, juntamente com os processos usados, tornam o
pesquisador em psicologia um construtor de informações, pois permitem que ele esteja
em diversas posições durante a pesquisa. Dessa forma, a pesquisa qualitativa em
psicologia clínica é sempre uma pesquisa-ação, já que conforme a ação vai ocorrendo,
ela vai sendo analisada e o processo vai sendo modificado. Esse tipo de pesquisa
busca realizar uma integração entre os eventos e os processos, sendo que algumas
dessas relações só fazendo sentido dentro do processo, se vistas através de um
contexto específico.
6. Pesquisa qualitativa: Análise de discurso versus análise de conteúdo.

A autora começa relatando sua observação sobre muitos de seus colegas


acadêmicos e alunos entendem a análise de discurso e a análise de conteúdo como
sendo sinônimos. Ela mesma também tinha esse entendimento, até estudar e perceber
as diferenças entre esses termos. O artigo faz uma reflexão sobre as principais
diferenças teóricas dessas duas abordagens para análise qualitativa.
Existem pelo menos 57 tipos de abordagem de análise de discurso (AD), duas
coisas que todas as abordagens parecem ter em comum é que elas não entendem a
linguagem como um instrumento neutro de comunicação e sobre a importância do
discurso na vida social. Como a AD trabalha com a língua e a história do sujeito, cada
tipo tem sua própria tradição e métodos de pesquisa. A AD é uma forma de análise e
interpretação que tem sua base em áreas da linguística, materialismo histórico e
psicanálise. Durante a AD são investigados os sentidos estabelecidos nos materiais
analisados, podendo ser verbais ou não.
A AD utilizada como base no artigo é a da linha francesa, que articula o
linguístico, o social e o histórico. Dessa forma, o corpo teórico da AD tem a seguinte
formulação: ideologia, história e linguagem. A ideologia significa o conjunto de ideias
que embasam o autor na construção do material, a história mostra o contexto sócio-
histórico e a linguagem traz o sentido do autor, tendo relação com a memória do dizer,
que é uma memória coletiva construída socialmente. O artigo traz como exemplo um
ditado popular que, dependendo de quem fale, pode ter vários sentidos.
A língua não é homogênea e transparente, o que pode trazer equívocos. O
enunciado não traz todo o sentido do texto, por isso o analista deve buscar os sentidos
e chegar ao enunciável. O discurso, texto ou não, sempre será relacionado com o
contexto da época, e sempre realizado dentro de condições de produção dadas. Para
Pêcheux, todo dizer é ideologicamente marcado, assim, quando um sujeito aprende o
conhecimento de uma construção coletiva, ele passa a ser o porta voz. A AD busca
somente o sentido do discurso, mostrando como ele funciona, não pretendendo julgar o
material. A AD trabalha com a relação do interdiscurso, que são os saberes contidos na
memória do dizer, e o intradiscurso, que é a formulação do texto em si.
Sempre é necessário trazer uma interpretação ao discurso, pois não existe
sentido sem interpretação, como cada analista traz sua visão, nenhuma interpretação é
absoluta. Durante a análise são identificados vários eixos temáticos, onde os recortes
são encaixados. Assim o analista verificará palavras ou formas sintáticas que marcam o
discurso, e ele irá trabalhar com os eixos que verificou e com esses recortes. Esses
recortes fazem parte da identidade do sujeito do discurso, trazendo os sentidos da
memória do dizer. A AD sempre busca o sentido mediante a interpretação, que pode
ser equivocada.
A análise do conteúdo (AC) surgiu no início do século XX para analisar material
jornalístico e símbolos políticos, podendo ser quantitativa ou qualitativa, na primeira
busca a frequência de caracteres que se repetem no texto e na segunda busca a
ausência ou presença de determinada característica, por isso a AC trabalha somente
com a palavra. O analista categoriza palavras ou frases do texto através de expressões
que as representem. A AC tem como métodos a dedução frequencial e a análise de
categorias. Na dedução é verificada a frequência de determinada palavra, visando
constatar sua existência, sendo puramente estatístico. Na análise de categorias, o
analista busca conectar os segmentos através de indicadores que lhes são conexos, e
essa análise é a mais antiga e utilizada. Uma análise em AC tem três etapas: a pré-
análise, a exploração do material e o tratamento dos dados culminando na
interpretação.
Dadas as diferenças entre as duas formas de análise de um material, não há
uma forma melhor ou pior, o que define sua usabilidade é o tipo de análise que o
pesquisador quer fornecer em sua pesquisa. Conhecendo os dois tipos ele pode
escolher a melhor dentro do seu contexto de análise.
7. Pesquisa Qualitativa versus Pesquisa Quantitativa: esta é a questão?

Para se analisar e entender os pensamentos e comportamentos dos sujeitos há


três formas de conduzir esses estudos: observação do comportamento, experimento e
survey. A qualidade dos dados obtidos, a maneira de sua obtenção e de sua análise
indicam suas vantagens e desvantagens. Dessa forma, qual seria a diferença entre
pesquisa quantitativa e qualitativa?
Nas discussões sobre a pesquisa qualitativa sempre aparece a questão do
compreender a vida mental. No decorrer do artigo são apresentados cinco grupos de
atributos da pesquisa qualitativa: características, coleta de dados, objetos, interpretação
e generalização. Uma primeira característica é a primazia do conhecimento, outra é a
construção da realidade e tem a descoberta e construção de teorias. Um pesquisador
quantitativo não vai deixar de querer entender as relações complexas, sendo por
explicações ou relações entre variáveis.
O estudo de caso é o ponto de partida da pesquisa qualitativa. O principio da
abertura diz que os métodos e técnicas utilizados devem se adequar ao objeto de
estudo, não existindo um método padrão único. O texto traz que focar na totalidade do
individuo é essencial na pesquisa qualitativa, levando em conta o ambiente e o contexto
social no qual esse sujeito está inserido, e a visão de todos os participantes da
pesquisa é relevante. Os acontecimentos do dia a dia são relevantes para a
interpretação dos dados, levando a um processo de reflexão contínuo do pesquisador.
Na pesquisa quantitativa dificilmente se escutam os participantes.
No estudo de caso, a análise depende de uma argumentação que mostre quais
generalizações se encaixam em circunstâncias específicas. Na pesquisa quantitativa as
crenças e valores do pesquisador são aceitos sobre a interpretação dos dados, além do
envolvimento emocional com o objeto da pesquisa. Não existem variáveis irrelevantes
na pesquisa qualitativa, o que se leva em conta é se uma variável é mais promissora do
que outra, para não se gastar recursos com algo que trará poucas respostas.
Geralmente, a abordagem qualitativa é associada a estudos de caso, que podem
envolver estudos quantitativos na forma de parâmetros. Na questão dos participantes,
quando são ativos, são associados à pesquisa qualitativa, e quando passivos, à
quantitativa. A pesquisa aplicada também é associada à qualitativa e a básica à
quantitativa. A postura que um pesquisador tem pelo seu objeto de estudo pode levar à
escolha de diferentes pesquisas, o que não diminui o valor de seus estudos. Para cada
pesquisa qualitativa são necessários processos e instrumentos adequados à situação,
não havendo uma padronização.
Em um estudo de caso, pode-se coletar tantos dados qualitativos como
quantitativos. E essas análises podem ser através de processos tradicionais ou novos,
como a meta-análise. A pesquisa de campo traz uma integração de diferentes
abordagens teóricas, quantitativas e qualitativas, no mesmo estudo. Os três tipos de
coletas de dados, observação, experimento e survey, podem ser utilizadas como coleta
de dados visuais e verbais.
O modo de representar os dados de uma pesquisa está ligado ao modo como
esses dados são coletados, podendo ser transcrito de forma literal, com inclusão dos
sotaques, erros e regionalismos. As características de qualidade de uma pesquisa
qualitativa são: objetividade, fidedignidade, validade, utilidade, economia, normatização
e comparabilidade. Na validação dos critérios de qualidade da pesquisa pode ser usado
a validação comunicativa, onde o pesquisador checa se o participante foi entendido, a
validação da situação de entrevista, na qual se verifica a relação estabelecida, e a
triangulação, que aplica várias abordagens para evitar distorções.
8. Capítulo III: O trabalho de campo como descoberta e criação.

Durante o projeto de pesquisa, quando definimos nosso objeto de estudo,


precisamos analisar uma forma de investigar esse objeto. No caso da pesquisa
qualitativa, podemos usar o trabalho de campo como meio para nos aproximarmos do
objeto de estudo. Mas esse procedimento precisa de uma identificação do pesquisador
com o tema a ser estudado, para que se produza um melhor resultado. Pois como essa
pesquisa requer uma aproximação maior com o objeto, o analista tem que realmente
gostar daquilo para poder se entregar totalmente.
Muitos enxergam a pesquisa de campo como algo exclusivo das ciências sociais,
porém qualquer área pode usá-la, sempre lembrando que ela permite uma aproximação
muito maior com o objeto de estudo. O levantamento bibliográfico é fundamental nessa
pesquisa, porém ela não se resume somente a ele, pois a pesquisa de campo permite
articular conceitos e criar novas visões sobre o que já foi produzido. O levantamento
coloca lado a lado os autores e suas teorias com o pesquisador e seus desejos de
pesquisa, permitindo que eles conversem com os autores sobre a realidade vista na
pesquisa.
O campo dessa pesquisa é um recorte que o pesquisador faz em um espaço,
trazendo uma realidade empírica a ser estudada tendo como base o levantamento feito
na literatura. Essa construção teórica transforma essa realidade em um objeto de
estudo científico. Quando se junta a teoria levantada e confronta com o que é visto na
prática, muito pode ser questionado e levantadas novas questões, já que a ciência está
sempre em movimento.
A entrada no campo demanda alguns cuidados, como a aproximação com as
pessoas do estudo, que deve ser gradual, com respeito pelas pessoas e análises de
cada dia. Outro cuidado é a apresentação da proposta para os envolvidos,
estabelecendo uma situação de troca, pois precisamos da cooperação do grupo com o
estudo, sem nenhum tipo de pressão ou coerção. A postura do pesquisador em relação
ao problema de estudo é mais um cuidado, pois ele não é superior aos sujeitos e está
ali para a possibilidade de novas revelações, e nem pode ir para o campo com uma
ideia fechada do que ele pensa que vai descobrir lá. Com esses cuidados, o
pesquisador pode estabelecer um vínculo com o lugar, laços de amizade e uma relação
duradoura, que permite estudos futuros e o comprometimento dos sujeitos com o
estudo.
Como abordagem técnica para o trabalho, o texto destaca a entrevista e a
observação participante. A entrevista é o mais usual, onde o pesquisador busca os
sentidos nas falas dos atores sociais, não sendo algo despretensioso, mas planejado.
Pode ser entendida como uma conversa a dois com propósitos definidos, sendo um
meio de coleta de informações e uma análise dos valores e atitudes dos participantes.
Pode ser estruturada, onde há perguntas previamente formuladas, e não-estruturada,
que ocorre de forma livre. Há ainda a modalidade de discussão de grupo, com
pequenos grupos e em uma ou mais sessões onde existe uma interação com o grupo e
o pesquisador precisa coordenar a discussão, e a história de vida, que retrata as
experiências vividas pelas pessoas, podendo ser o relato completo da vida da pessoa
ou somente um determinado fenômeno. Essas técnicas podem expressar um
pensamento reprimido da pessoa, então além de servirem ao propósito de construção
do conhecimento, podem ser uma forma de desabafo, melhorando a realidade do local.
Na observação participante, há a inserção do pesquisador no ambiente a ser
estudado, estabelecendo uma relação mais próxima com os observados, podendo
modificar e ser modificado pelo contexto. Essa participação pode ser plena, onde ele se
envolve por inteiro no cotidiano do ambiente, ou distanciamento total de participação,
no qual ele só observa os fenômenos do lugar de estudo. Para uma melhor observação,
é necessária uma boa capacidade de empatia e observação do pesquisador e sua
aceitação pelo grupo. Essa observação retoma os cuidados que o autor deve ter
durante a execução da pesquisa para que as pessoas não se sintam constrangidas ou
com sua privacidade violada.
Algumas articulações, por parte do pesquisador, devem ser feitas. A relação
entre a fundamentação teórica e o objeto de estudo, com essa base podemos ir além
do que nos está sendo mostrado. Também devemos fugir do chamado mito da técnica,
que diz que uma pesquisa não se restringe somente à coleta de informações. Há a
interação entre o pesquisador e os atores sociais envolvidos, onde o pesquisador não
quer ser considerado um igual, mas ser aceito pelo grupo, compreendendo os sujeitos.
Há também os materiais para registro da informação, podendo ser fotografa, filmagem
ou o diário de campo, onde o pesquisador registra tudo que pensa e vê na pesquisa.
A pesquisa de campo é um trabalho que envolve a relação do pesquisador com o
objeto, caso essa relação seja problemática, por causa da inexperiência ou por
arrogância, os resultados não serão fidedignos e confiáveis. Os resultados dessa
pesquisa, que sempre tem como base um levantamento bibliográfico, trazem
inquietações que levam a novas pesquisas, que pode ser no mesmo lugar, daí a
importância de um vínculo de confiança com os atores sociais.
9. Considerações gerais e orientações práticas acerca do emprego de estudos de caso
na pesquisa científica em psicologia.

A aplicação de estudos de caso em estudos científicos é uma antiga tradição


metodológica, por isso, ela é apontada como uma das mais frequentemente utilizada,
sendo a Medicina a primeira a usar esse método em larga escala. Os primeiros estudos
visavam os estudos associados à gênese e à evolução de doenças. Apesar de serem
usados majoritariamente usados em pesquisas qualitativas, os estudos de caso
também podem ser aplicados em quantitativas.
Um caso, para ser considerado passível de estudo científico, tem que ser um
todo delimitado e composto por distintas facetas. Assim, um estudo de caso tem como
principais características a análise em profundidade do objeto e a preocupação com
seu aspecto unitário. O pesquisador deve levar em conta essas características para que
seu estudo de caso tenha relevância científica e validade. Na área da psicologia, os
estudos de caso são frequentemente usados e também devem ter esse cuidado na
escolha do objeto e no decorrer do estudo.
Sobre a finalidade da execução do estudo, se compreende um objeto específico
ou elabora leis universais, os teóricos divergem de opinião. Alguns defendem que a
análise de um caso particular possui um valor científico limitado, já outros dizem que o
estudo de um objeto pode contribuir para a compreensão de outros objetos. Há também
autores que propõem a generalização naturalística, que permite ao leitor associar
dados de suas experiências às análises elaboradas pelo pesquisador. Então, cada
pesquisador, com base no levantamento teórico, define a finalidade de sua pesquisa e
a defende até o fim do projeto, pois cada uma tem seus prós e contras.
No decorrer da pesquisa, o referencial teórico deve servir como ponto de partida
para que novas ideias possam ser desenvolvidas. Também se deve compreender uma
ampla gama de aspectos do objeto, para evitar interpretações reducionistas. E deve-se
apresentar no trabalho inclusive os relatos de pesquisa conflitantes. Há três categorias
de estudo de caso conforme a finalidade da investigação, os exploratórios, que buscam
novas áreas de pesquisa, os descritivos, que visam a compreensão de um fenômeno
específico, e os diagnósticos, que buscam subsídios para futuras intervenções. De
acordo como o objeto, eles podem ser únicos, que estudam uma instância específica,
múltiplos, que analisam diversos objetos, e comparativos, que comparam instâncias
distintas. No que tange à coleta de dados, podem ser observacionais, que têm a técnica
da observação como foco, documentais, que analisam os registros, e os de história de
vida, que realizam entrevistas exaustivas com um sujeito particular. O pesquisador deve
conhecer bem todas essas categorias para que escolha bem as que vai usar nos seus
estudos, conhecendo suas vantagens e desvantagens.
É indicado ao pesquisador iniciante que use o estudo de caso em suas
investigações, pode oferecer menos dificuldades quando comparada a outras
metodologias. O pesquisador pode ficar tão envolvido com sua pesquisa, devido ao
esforço empregado, que se torna muito familiar ao objeto, levando o pesquisador a
subestimar seu estudo, desrespeitando os princípios da pesquisa. O estudo de caso
permite acesso a resultados não acessíveis de outra forma, compreendendo as
diversas facetas do caso. A principal vantagem do estudo de caso é sua propriedade
heurística, a capacidade de fomentar descobertas e criações. A depender do objeto e
da experiência do pesquisado, ele tem subsídios para escolher o estudo de caso a
despeito de outras estratégias.
No começo da pesquisa, o pesquisador deve definir uma questão inicial pouco
específica e ir desenvolvendo no decorrer do trabalho. Também deve se manter atento
a novos elementos que podem ser incluídos na pesquisa. O pesquisador também deve
cumprir as exigências éticas da atividade científica, cumprindo as leis e regulamentos.
Os estudos de caso devem permitir a comprensao total do objeto avaliado, porém, do
ponto de vista prático, isso é impossível, portanto, o pesquisador deve focar nos
aspectos que considera de maior relevância. A mera apresentação dos dados da
pesquisa em estudo de caso possui pouco valor científico, é necessário estabelecer um
diálogo entre a teoria de base e os resultados. Na hora de escrever sobre a pesquisa e
seus resultados o pesquisador deve usar uma linguagem mais informal, para aproximar
a pesquisa dos leitores. E por fim, o pesquisador deve buscar parceria com outros
pesquisadores para que eles auxiliem na escrita e entendimentos dos resultados.

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