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MATRIZES DO PENSAMENTO

EM PSICOLOGIA -
COGNITIVA
COMPORTAMENTAL
Profª. Especialista Pryscilla Silva
CRP 14/08007-2
ANTECEDENTES FILOSÓFICOS
 SÓCRATES

■ A maiêutica é o método utilizado pelo filósofo grego nos diálogos com


seus concidadãos (prática filosófica por meio de perguntas sobre
determinado assunto, o interlocutor é levado a descobrir a verdade sobre
algo).

■ Para ele todo o conhecimento está latente na mente humana, podendo ser
estimulado por meio de respostas a perguntas direcionadas.
■ Para Sócrates, uma vida que não é sujeita a exame é uma vida que não
está sendo plenamente vivida.

■ Esse método de exame faz os concidadãos de Sócrates tornarem-se mais


virtuosos, pois só a consciência da sua ignorância permitirá retomar o
movimento em busca de um sentido para o seu estar vivo, um sentido que
se descobre sempre dialogicamente.
■ Estar consciente da própria ignorância é já uma forma de saber, uma
dimensão crucial da inscrição
“Conhece-te a ti mesmo”
 OS ESTOICOS

■ Para eles, as emoções negativas resultavam de erros de julgamento, e


uma pessoa sábia era aquela que não deixava que as emoções guiassem
seu comportamento, tentando viver em sintonia com o que o destino
oferecesse e, dessa forma, em harmonia com as leis da natureza.

■ Para Epicteto (55 -135 d.C.), “o que perturba as pessoas não são as
coisas em si, mas o que elas pensam sobre as coisas”.
 RENÉ DESCARTES (1596-1650)

■ Descartes é considerado um dos principais filósofos do racionalismo,


corrente filosófica que privilegia a razão como principal instru­mento para
se chegar ao conhecimento verdadeiro.

■ Como critério de verdade, propôs, em seu Discurso do método, a ideia


clara e distinta: “Se eu duvido, eu penso; se penso logo existo”, o famoso
Cogito, ergo sum.
■ Seu racionalismo afirma que tudo o que existe tem uma causa inteligível,
mesmo que essa causa não possa ser demonstrada.

■ Contudo, como caminho para o conhecimento, dá prioridade à


introspecção em detrimento da experiência.

■ Considera a dedução um método superior à indução.


■ Para lembrarmos:

– A dedução é um processo de raciocínio lógico que parte de uma


certeza para a interpretação de dados ou fatos (da causa para os
efeitos).

– Já a indução é o processo inverso, parte-se de dados ou fatos


semelhantes para a definição de uma certeza comum (dos efeitos para
as causas).
■ Seu racionalismo filosófico teve influência marcante nas terapias que
usam a introspecção, o raciocínio lógico e a dedução como métodos para
se chegar ao conhecimento e à cura.

■ Sua influência é particularmente importante na terapia cognitiva, que


acredita no poder da razão e da lógica e no exame das evidências
(questionamento socrático) para corrigir crenças disfuncionais e,
consequentemente, alterações emocionais e comportamentais.
EPISTEMOLOGIA
■ A psicologia comportamental estuda o comportamento, que, por sua vez,
está em função das contingências ambientais (Baum, 2006).

■ A psicologia cognitiva estuda a forma como as pessoas percebem,


aprendem, recordam e pensam sobre a informação (Sternberg,
1996/2010).
■ Na busca por técnicas eficazes para a modificação dos comportamentos e
das crenças disfuncionais das pessoas, os cientistas comportamentais e
cognitivos foram influenciados por várias teorias que ultrapassam o
campo da psicologia, trazendo contribuições da antropologia, da filosofia,
das neurociências, da fisiologia, da linguística, da matemática e até das
teorias da computação.

■ Além disso, não há linearidade cronológica de onde as idéias centrais


foram extraídas para configurar o montante teórico da psicologia
comportamental e cognitiva (coexistem teorias milenares com outras
modernas/contemporâneas).
■ Esta visão de mundo influenciada por diferentes pontos de vista, de
diferentes momentos históricos da humanidade, traz um paradigma
epistemológico híbrido para a terapia cognitivo comportamental, que, na
verdade, é composta por várias teorias, que podem ser analisadas a partir
de suas similaridades, mas também de suas diferenças (Dupuy, 1996;
Neufeld, Brust, & Stein, 2011).
 A PRIMEIRA ONDA DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

■ O movimento da terapia cognitivo-comportamental se desenvolveu em


três ondas.
■ A primeira delas foi predominantemente comportamentalista. I

■ Inicialmente, envolveu o modelo clássico pautado na teoria pavloviana,


através do qual técnicas de exposição dominam o tratamento (Eysenck,
1994).
■ Ivan Pavlov (1849-1936) desenvolveu o modelo que trata do papel do
condicionamento na psicologia comportamental (reflexo condicionado)
na década de 1920, ao estudar a produção de saliva em cães expostos a
diversos tipos de estímulos palatares.

■ Teorizou e enunciou o mecanismo do condicionamento clássico.


■ Essa descoberta abriu caminho para o desenvolvimento do behaviorismo.

■ Pavlov foi profundamente influenciado e pautou toda a sua produção na


lógica experimentalista, que teve Aristóteles (384-322 a.c.) e John Locke
(1632-1704) como principais representantes.
■ Aristóteles: defendia que a origem das ideias é através da observação de
objetos para após a formulação da ideia dos mesmos. Para Aristóteles o
único mundo é o sensível e que também é o inteligível. Acreditava que a
nossa experiência é o que nos leva a conhecer e a entender o mundo.

■ John Locke: considerado o principal representante do empirismo


britânico (defende que todo o conhecimento advém da experiência
prática).
■ John Watson (1878-1958) é o fundador do Behaviorismo Metodológico,
defendia que o comportamento objetivo e observável era o objeto ideal
para a ciência psicológica natural (Watson, 1913).

■ O cientista postulava que esta ciência do comportamento devia formular


leis relativas às condições que estimulam o comportamento, deixando de
lado a consciência, a introspecção e a mente.
■ Percebe-se, portanto, que esta corrente do behaviorismo tem suas bases
filosóficas no realismo, pois postula que as experiências têm origem no
mundo real e que este não é afetado por características internas dos
indivíduos.

■ Defende a busca da verdade através da experiência (Baum, 2006).


■ Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), por sua vez, dá origem ao
Behaviorismo Radical, postulando que a investigação científica deve ser
motivada pela possibilidade de entender os efeitos práticos e funcionais
que norteiam a busca pela compreensão do objeto.

■ Enunciou o Condicionamento Operante, através do modelo estímulo-


comportamento-consequência (E-R-C), que estabelecia o controle que as
consequências exerciam sobre o comportamento.
■ Influenciado pelo funcionalismo (toda e qualquer ação de um indivíduo
possui uma função direcionada, fala que o ser humano funciona a partir
da adaptação ao ambiente) e pelo pragmatismo (validade de uma
doutrina é determinada pelo seu bom êxito prático) de William James
(1842-1910), ratifica que o sentimento já é um comportamento e, por isso,
estudar o ser humano envolveria apenas compreender o conjunto de
comportamentos (públicos ou privados) e as atitudes manifestas.
■ Segundo esta lógica, não seria necessária a criação de uma entidade
mental para haver uma compreensão prática dos eventos encobertos
(sentimentos, pensamentos).

■ Através do operacionalismo (relatar e registrar as observações do


comportamento), pode se estabelecer uma relação funcional satisfatória
entre o comportamento e as contingências que o controlam.
 A SEGUNDA ONDA DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
■ Edward Chace Tolman (1886-1959) foi o primeiro behaviorista a levantar
que o organismo deveria ser considerado para a descrição completa do
comportamento, propondo o modelo estímulo-organismo-resposta (E-O-
R).

■ Desta forma, esse pesquisador pode ser considerado um antecessor da


psicologia cognitiva, desenvolvendo um modelo mediacional entre a
terapia comportamental e a terapia cognitiva.
■ Destaca-se ainda Albert Ellis (1913-2007), um psicanalista norte-
americano. Este, insatisfeito com a aplicação desta abordagem na prática
clínica, criou a Terapia Racional Emotiva, em 1955.

■ Esta terapia é influenciada por teorias psicodinâmicas, mas traz um


caráter mais ativo, diretivo e sistemático de intervenção junto ao
paciente.

■ Em 1983, passou a ser chamada de Terapia Racional Emotiva


Comportamental (TREC), assumindo uma influência clara do
behaviorismo na construção de suas técnicas de intervenção.
■ Embasa-se primordialmente no modelo ABC de Ellis: sintomas ou
consequências (C) são determinados pelo sistema de crenças do indivíduo
(B) sobre determinadas experiências ou fatos ativadores (A) (Knapp,
2004).

■ O objetivo principal da TREC, portanto, é identificar e contestar as


crenças disfuncionais do indivíduo, buscando manter um estado de
equilíbrio emocional.
■ A TREC pressupõe que os indivíduos possuem tendências tanto inatas
quanto adquiridas para se comportarem e pensarem de forma irracional.

■ Assim, para manterem um estado de saúde emocional, estes devem


monitorar e desafiar seus sistemas de crenças básicas constantemente.
■ Por ser uma abordagem multidimensional que abarca técnicas cognitivas,
emotivas e comportamentais muitos consideram a TREC como uma das
primeiras terapias cognitivo-comportamentais, ou seja, que já se
utilizava de técnicas não apenas do modelo comportamental, mas também
de componentes essenciais do modelo cognitivo.
■ Percebe-se, então, que esta teoria embasa-se no princípio da
racionalidade.

■ influência do estoicismo, corrente filosófica grega e romana que defendia


que emoções destrutivas resultavam de erros de julgamento e que um
sábio não sofreria dessas emoções.

■ É influenciada também pelo racionalismo, doutrina que afirma que tudo


que existe tem uma causa inteligível.

■ Privilegia a razão em detrimento da experiência do mundo sensível como


via de acesso ao conhecimento. Considera a dedução como o método
superior de investigação filosófica.
■ Donald Broadbent (1926- 1993) foi um dos psicólogos envolvidos no
estudo das habilidades do ser humano para guiar as maquinas (estudo
acontecido durante a segunda guerra).

■ Ele notou que os trabalhadores guiavam-se pelas informações recebidas


das máquinas, mas nem todas elas eram utilizadas por eles.

■ Ou seja, o indivíduo escolhia entre responder conforme o esperado,


desconsiderar ou se opor ao estímulo. Diante disso, afirmou que o
processamento da informação nos seres humanos parecia similar ao das
máquinas.
■ Karl Spencer Lashley (1890-1958), um dos primeiros discípulos de
Watson, ironicamente, foi um dos primeiros estudiosos a defender a
necessidade de os psicólogos irem além do behaviorismo e do método
experimental de manejo das contingências ambientais. ]

■ Particularmente interessado em neuroanatomia e na influência da


atividade cerebral no comportamento humano, contestou a ideia de que
o cérebro era um órgão passivo a estas contingências.

■ Defendeu que o cérebro organizava ativamente comportamentos


planejados.
■ Neste período, o behaviorismo sofreu críticas também de outras áreas do
conhecimento como da linguística, representada por Avram Noam
Chomsky (1928) e da antropologia, na figura de Claude-Lévi-Strauss
(1908-2009).

■ Chomsky defendia a existência de uma estrutura mental que determinaria


a aquisição da linguagem e Lévi-Strauss, que uma estrutura mental
explicaria as características fundamentais comuns expressas por diferentes
culturas.

■ Estes dois teóricos estruturalistas influenciaram a psicologia cognitiva,


propondo a compreensão da mente e suas percepções, através da análise
de seus fatores constituintes.
■ Finalmente, a confluência destas críticas contra o behaviorismo, das novas
demandas sociais e do contexto de desenvolvimento tecnológico
propiciaram a revolução que, oficialmente, lançou os modelos de terapia
cognitiva como um movimento forte dentro da psicologia.
■ Estudos com inteligência artificial foram iniciados, no intuito de simular e
compreender a mente humana.

■ As Conferências Macy foram um marco nesta revolução. Foram dez


conferências interdisciplinares, que aconteceram entre os anos 1946 e
1953, que levaram à fundação do que hoje conhecemos por cibernética
(ciência que tem por objeto o estudo comparativo dos sistemas e
mecanismos de controle automático, regulação e comunicação nos seres
vivos e nas máquinas).
■ Cibernética não é tecnologia de informação, tecnologia de comunicação,
tecnologia em geral ou internet.

■ Cibernética é o estudo teórico (ciência) e a aplicação prática (gestão) do


controle da informação e da comunicação da informação, seja em
humanos, máquinas, sociedade e supostamente em quaisquer outros
sistemas vivos.

■ Tem como objetivos a racionalização, a organização, o controle e a


coordenação dos sistemas de informação e comunicação.
■ Thomas Hobbes defendia modelos de ciência que visam abordar a
realidade por meio de categorias como representação, imitação e
reprodução, mas ratifica que esses modelos são criados com base na
lógica matemática e, por isso, são protótipos imperfeitos de
representação da realidade, pois esta tem uma dinâmica mutatória.

■ Havia, portanto, a necessidade constante de revisão dos modelos, no


intuito de corrigir as falhas da captação da realidade.

■ Esta é uma postura que, mais tarde, é assumida pela Psicologia Cognitiva
como fundamental para a comprovação científica de seus postulados.
■ Platão (428-348 a.c.). defende o racionalismo como a única forma de
acessar a realidade.

■ Somente através do uso da mente, da razão, da análise lógica do mundo


ideal, da dedução de exemplos específicos a partir de princípios gerais
seria possível o acesso à verdade.
■ A Psicologia Cognitiva aplica estas ideias platônicas na construção de um
conceito operacional lógico da racionalidade.

■ É justamente a junção do conceito calculista com o conceito operacional


lógico que resulta na analogia computacional.
■ Além disso, a síntese dialética entre os pressupostos racionalistas e
empiricistas permite a construção da representação do mundo externo na
mente humana, ou seja, a proposição da representação mental como
unidade básica funcional do processamento da informação.
■ Os estudos de Albert Bandura (1925), sobre os modelos de
processamento de informações e aprendizagem vicária (capacidade de
aprender ao ver outra pessoa fazendo), também contribuíram para
demonstrar as limitações de abordagens estritamente comportamentais.

■ Este autor empregou o constructo da auto-eficácia para se referir ao grau


de percepção que um indivíduo tem de ser capaz de abordar algo temido
(Bandura, 1977).
■ No início da década de 60, AARON BECK propôs a Psicoterapia
Cognitiva como um tratamento eficaz para a depressão (Beck, 1963).

■ Este autor, a partir de questionamentos sobre eficácia de modelos


anteriores, postulou o modelo cognitivo de tratamento que tem por
objetivo fazer com que o paciente substitua a suposta avaliação
distorcida em relação aos eventos, por uma avaliação mais realista e
adaptativa.

■ Este modelo parte do princípio, observado por Beck (1963), de que o


pensamento distorcido e avaliações cognitivas irreais podem afetar
negativamente os sentimentos e o comportamento do sujeito.
■ Ulric Neisser (1928-2012), por sua vez, consolidou a Psicologia
Cognitiva e contribuiu para o seu desenvolvimento e a sua divulgação,
através de obras como o livro Psicologia Cognitiva, lançado em 1967.

■ Neste livro, definiu este campo da psicologia como aquele que se refere a
todos os processos pelos quais um input (entrada) sensorial é
transformado, reduzido, elaborado, armazenado, recuperado e usado,
output (saída).

■ O paradigma dominante na área foi o do processamento de informação,


modelo defendido por Broadbent, que considera os processos mentais
comparáveis a um software a ser executado num computador (cérebro).
■ Contudo, é possível notar que a terapia cognitiva de Beck está baseada
nos princípios do Estoicismo e filosofias orientais, como o taoísmo e
budismo, que predizem que as emoções em humanos são embasadas no
pensamento, que geram raciocínios, afetos e condutas e interferem na
percepção da realidade por parte do indivíduo.

■ Esta abordagem infere que é a forma como o sujeito interpreta o fato


determina como este se sente e se comporta.
■ Para ampliar o modelo da terapia cognitiva de Beck, Jeffrey Young (1994)
desenvolveu a terapia centrada nos esquemas.

■ Esta abordagem tinha o objetivo de tratar pessoas consideradas como


"pacientes difíceis" ou com transtornos de personalidade e parte do
princípio que os indivíduos, desde o nascimento, possuem necessidades
emocionais para se desenvolver e estabelecer relações saudáveis.

■ Quando estas necessidades não são supridas, os sujeitos passam a tentar


supri-las através da utilização de esquemas desadaptativos (Young,
Klosko & Weishaar, 2003).
 A TERCEIRA ONDA DA TERAPIA COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL
■ Situada em uma abordagem empírica e com enfoque principal, a terceira
onda da terapia cognitivo-comportamental é sensível ao contexto e as
funções do fenômeno psicológico, visando enfatizar estratégias de
mudanças experienciais e contextuais.

■ Com seu início na década de 1990, a terceira onda de terapias


comportamentais é conhecida por trazer terapias contextuais, que tem
como foco compreender o comportamento humano dentro de seu
contexto e ambiente.
■ Esta diversidade de teorias remonta a uma tendência pós-moderna e pós-
estruturalista de visão do sujeito, na qual este não é mais visto como um
ser universal, mas concebido como resultado de um processo de
produção social.

■ A multiplicidade de teorias seria, portanto, uma tentativa de dar conta


deste sujeito que está em movimento, se transformando continuamente.
■ A prática de mindfulness é originária dos princípios orientais de
meditação e passou a fazer parte da área da saúde em 1982, a partir dos
programas de redução de estresses de Kabat-Zinn.

■ A Terapia baseada em Mindfulness (MBT) prediz que é possível alterar a


função dos pensamentos sem primeiro alterar a forma destes

■ Quando a atenção estiver estável, após a técnica de mindfulness, pode se


iniciar a expansão da atenção para outros eventos mentais e físicos como
as sensações corporais e os pensamentos.
■ A Terapia Comportamental Dialética (TCD, ou Dialectical Behavior
Therapy, DBT) se baseia em uma visão biopsicossocial, que enfatiza uma
interação entre uma predisposição constitucional do indivíduo para a
desregulação emocional e um ambiente invalidante às experiências
emocionais deste.

■ Desenvolvida por Marsha M. Linehan.

■ O termo “dialética” no nome desta terapia se refere à perspectiva dialética


na qual esta abordagem se baseia. Neste sentido, considera-se que tudo
está inter-relacionado e segue uma lógica relacional, ou seja, um
comportamento sempre ocorre em relação a um contexto.
■ Por isso, analisar um comportamento de forma isolada da inter-relação
que apresenta com outros comportamentos, com o ambiente, com a
cultura e o momento da história que a pessoa está vivendo, traz uma
compreensão limitada deste comportamento, trazendo prejuízos à terapia
como um todo.
■ A dialética é uma filosofia na qual existe uma tese, uma antítese e uma
síntese. A realidade é composta por forças opostas internas (tese e
antítese), e a síntese é uma resposta a essa batalha de forças opostas.

■ Quando uma pessoa age de maneira extrema, como é o caso de pacientes


suicidas e impulsivos, por exemplo, pode-se pensar que existiu ali uma
falha dialética, pois não foi possível uma síntese adequada dessas forças
internas.
■ A FAP foi conceituada pela primeira vez na década de 1980 pelos
psicólogos Robert Kohlenberg e Mavis Tsai.

■ A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) é baseada na análise


comportamental da relação terapêutica e pode ser usada em conjunto
com abordagens comportamentais tradicionais.

■ Esta é indicada quando a capacidade do paciente no que se refere a


relacionamentos interpessoais, constitui uma dificuldade nuclear na
terapia.
■ Prediz que os problemas que o cliente tem com os outros, fora do setting
terapêutico, também irão ocorrer com o psicoterapeuta.

■ Devido a isso, deve-se utilizar a relação terapêutica para ajudar o paciente


a construir habilidades interpessoais mais eficazes.

■ Assim, a FAP assume que o comportamento pode ser moldado durante o


processo terapêutico. Neste contexto, percebe-se uma retomada das
concepções e dos pressupostos epistemológicos behavioristas.
■ A terapia de aceitação e compromisso, também conhecida como ACT, foi
desenvolvida por Steven C. Hayes.

■ É baseada na análise da linguagem através de uma perspectiva funcional.


Assim, esta análise sugere que é comum às pessoas considerarem reações
(como sensações físicas, interpretações cognitivas ou percepções) como
aversivas.

■ Isto faz com que os sujeitos exerçam tentativas de modificar ou eliminar


estas reações, que são ineficazes e podem acabar fazendo com que
aumente a frequência desses pensamentos ruins e emoções negativas.
■ Devido a isto, a ACT enfatiza a aceitação como a principal habilidade
para que o indivíduo se aproxime dos seus valores.

■ Neste contexto, a aceitação se refere ao abandono consciente da agenda


de mudanças mentais e emocionais e a adoção de uma abertura para a
própria emoção e para a experiência dos outros.

■ Contudo, os objetivos da ACT são ajudar o paciente a reconhecer a


ineficácia da aversão em relação às experiências e desenvolver um novo
e mais efetivo repertório de pensamentos e sentimentos para as
experiências.
■ É possível verificar que, na terceira onda, os terapeutas usam mais
técnicas de mindfulness e aceitação, diferenciando-as das abordagens
anteriores. Mas, ao mesmo tempo, há uma fusão de técnicas e teorias tanto
de origem comportamentais como também oriundas das teorias
cognitivas.
A BASE DA TEORIA
■ A terapia cognitiva tem a premissa básica de que a maneira como as
pessoas interpretam suas experiências determina como elas sentem e
como se comportam.

■ A afirmativa do filósofo estoico Epicteto (60-117 d.C.) de que “Os


homens se perturbam não pelas coisas, mas pela visão que têm delas”,
expressa a ideia central do modelo cognitivo.
■ De acordo com o modelo, existem erros no processamento da
informação (de lógica) sob a forma de pensamentos disfuncionais,
distorções cognitivas responsáveis pelos sintomas, em vários transtornos
mentais: nos transtornos de ansiedade, transtornos da personalidade,
transtornos alimentares, depressão, entre outros.

■ Essas distorções cognitivas associadas a avaliações e interpretações


distorcidas têm como consequências alterações no humor, sintomas
físicos e mudanças de comportamento.
O DESENVOLVIMENTO DA
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL DE
BECK
■ No fim da década de 1950, o Dr. Beck era um psicanalista certificado;
seus clientes faziam associações livres em um divã enquanto ele as
interpretava.

■ No começo da década de 1960, Beck decidiu testar o conceito


psicanalítico de que a depressão é resultante da hostilidade voltada contra
si mesmo.
■ Ele investigou os sonhos dos clientes deprimidos, os quais, segundo sua
previsão, manifestariam mais temas de hostilidade do que os sonhos de
clientes psiquiátricos sem depressão.

■ Para sua surpresa, acabou descobrindo que os sonhos dos clientes


deprimidos continham menos temas de hostilidade e muito mais temas
relacionados a fracasso, privação e perda.

■ Ele identificou que esses temas eram semelhantes ao pensamento dos


clientes quando estavam acordados.
■ Os resultados de outros estudos conduzidos por Beck levaram-no a
acreditar que uma ideia psicanalítica relacionada – a de que os clientes
deprimidos têm necessidade de sofrer – poderia ser incorreta (Beck,
1967).

■ Naquele ponto, era quase como se uma imensa fileira de dominós


começasse a tombar. Se esses conceitos psicanalíticos não fossem válidos,
como é que a depressão poderia ser entendida, então?
■ Enquanto o Dr. Beck ouvia seus clientes no divã, percebia que eles
ocasionalmente relatavam dois tipos de pensamento: uma vertente de
livre associação e outra de pensamentos rápidos de qualificações sobre si
mesmos. Uma mulher, por exemplo, detalhava suas façanhas sexuais.

■ No final da sessão, ela espontaneamente relatou que se sentia ansiosa.


■ O Dr. Beck fez uma interpretação: “Você achou que eu estava lhe
criticando”.

■ A cliente discordou: “Não, eu estava com medo de estar chateando você”.

■ Ao questionar seus outros clientes deprimidos, o Dr. Beck percebeu que


todos eles tinham pensamentos “automáticos” negativos que estavam
intimamente ligados às suas emoções.
■ Começou, então, a ajudar seus clientes a identificarem, avaliarem e
responderem ao seu pensamento irrealista e mal-adaptativo. Quando fez
isso, eles melhoraram rapidamente.

■ O Dr. Beck começou, então, a ensinar seus residentes de psiquiatria na


University of Pennsylvania a usarem essa forma de tratamento. Eles
também descobriram que seus clientes respondiam bem.

■ O residente-chefe, médico psiquiatra John Rush, atualmente grande


autoridade no campo da depressão, discutiu a possibilidade de conduzir
uma pesquisa científica com o Dr. Beck.
■ Eles concordaram que tal estudo era necessário para demonstrar a eficácia
da terapia cognitiva.

■ Seu ensaio clínico controlado randomizado com clientes deprimidos,


publicado em 1977, constatou que a terapia cognitiva era tão efetiva
quanto a imipramina, um antidepressivo comum.
■ Este foi um estudo surpreendente. Foi uma das primeiras vezes em que
uma terapia da palavra havia sido comparada com uma medicação.

■ Em um estudo de seguimento, a terapia cognitiva se revelou muito mais


efetiva do que a imipramina na prevenção de recaída.

■ Beck e colaboradores (1979) publicaram o primeiro manual de


tratamento com terapia cognitiva dois anos depois.
■ No fim da década de 1970, o Dr. Beck e seus colegas de pós doutorado na
University of Pennsylvania começaram a estudar ansiedade, abuso de
substâncias, transtornos da personalidade problemas de casais,
hostilidade, transtorno bipolar e outro problemas usando o mesmo
processo.

■ Primeiro, fizeram observações clínicas sobre o transtorno; descreveram os


fatores de manutenção e as principais cognições (pensamentos e crença
subjacentes, emoções e comportamentos).
■ Depois disso, testaram suas teorias, adaptaram o tratamento e realizaram
ensaios clínico controlados randomizados. Avançando várias décadas, Dr.
Beck, Judith Beck e pesquisadores por todo mundo continuamos a
estudar teorizar, adaptar e testar tratamentos para clientes que sofrem de
uma lista crescente de problemas.

■ Beck começou a postular um tratamento baseado em uma formulação


cognitiva: as crenças mal-adaptativas, as estratégias comportamentais e
a manutenção dos fatores que caracterizam um transtorno específico.
Referências Bibliográficas

BARBOSA, Arianne de Sá; TERROSO, Lauren Bulcão e ARGIMON, Irani Iracema de Lima.Epistemologia da terapia cognitivo-
comportamental: casamento, amizade ou separação entre as teorias?. Bol. - Acad. Paul. Psicol. [online]. 2014, vol.34, n.86, pp. 63-79.
ISSN 1415-711X.
BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2 Porto Alegre: Artmed, 2013, 413 p.
CORDIOLI, Aristides V.; GREVET, Eugenio H. Psicoterapias: abordagens atuais. 4. ed. – Porto Alegre : Artmed, Grupo A, 2019. E-
book. ISBN 9788582715284. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788582715284/. Acesso em: 25 fev.
2023.
RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: Um diálogo com a psiquiatria. Porto Alegre: Grupo A, 01/2011.

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