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SUMÁRIO

MÓDULO I
1 CONCEITO DE PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA
1.1 HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS
1.2 DEFINIÇÃO
1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO
1.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS BREVES
MAIS COMUNS E SUAS INDICAÇÕES
1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise
1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica
1.4.3 Psicoterapia Breve Psicanalítica
1.4.4 Psicoterapia Breve Dinâmica
1.4.4.1 Teoria
1.4.4.2 Técnica
1.4.4.3 Objetivos e indicações
1.4.4.4 Indicações
1.4.4.5 Contraindicações

MÓDULO II
2 INTERVENÇÃO DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1 INTERVENÇÃO TÉCNICA DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1.1 Quatro tarefas
2.1.1.1 Primeira tarefa
2.1.1.1.1 Apresentação
2.1.1.1.2 Primeira fala significativa do paciente
2.1.1.1.3 Reação emocional do terapeuta
2.1.1.2 Segunda tarefa
2.1.1.3 Terceira tarefa

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2.1.1.4 Quarta tarefa
2.1.1.5 Limites e possibilidades das quatro tarefas
2.2 CONCEPÇÃO DE OUTROS AUTORES: O INÍCIO E ALTA DA
PSICOTERAPIA
2.2.1 O INÍCIO DA PSICOTERAPIA
2.2.1.1 Confirmação do diagnóstico, a escolha da psicoterapia e seu escopo
2.2.1.2 O contrato terapêutico
2.2.1.3 Desenvolvendo o hábito da auto-observação
2.2.1.4 A comunicação com o terapeuta
2.2.2 Alta em psicoterapia
2.2.2.1 A fase final da psicoterapia
2.2.2.2 A decisão da alta
2.3 A TEMPORALIDADE E A FOCALIZAÇÃO
2.3.1 Temporalidade
2.3.1 Focalização
2.3.1.1 A escolha do foco
2.3.1.2 Foco e profundidade

MÓDULO III
3 ESTUDOS DE CASO
3.1 INTERVENÇÕES BREVES E FOCAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
3.1.1 Introdução
3.1.2 Consultas terapêuticas
3.1.3 Intervenção a domicílio
3.1.4 Psicoterapia Breve na infância
3.1.5 Considerações finais quanto às intervenções breves na infância e
adolescência
3.2 PSICOTERAPIAS PSICODINÂMICAS PARA PSICÓTICOS
3.2.1 A etiologia e a psicoterapia breve dinâmica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RESUMO

O curso tem por objetivo preparar e capacitar os profissionais para


desenvolver metodologias de trabalho, sob alguns aspectos concretos
vivenciados na prática de uma modalidade de trabalho psicológico possível de
ser realizada na área clínica, denominada Psicoterapia Breve Dinâmica.
No primeiro módulo, veremos o conceito de psicoterapia breve
dinâmica, o histórico e pressupostos, a definição, a caracterização da técnica
e do método e outras considerações sobre a fundamentação da Psicoterapia
Breve Dinâmica.
No segundo módulo, observaremos a Intervenção da Psicoterapia
Dinâmica Breve. Concepção de outros autores: o início e alta da psicoterapia;
a temporalidade; e focalização.
Já no terceiro módulo, analisaremos Estudos de Caso. Foram citados
alguns exemplos de estudos de casos sobre a aplicação da Psicoterapia Breve
Dinâmica e sobre psicoterapias psicodinâmicas para psicóticos.

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MÓDULO I

1 CONCEITO DE PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA

A Psicoterapia Breve Dinâmica consiste em uma técnica psicoterápica


que usa de forma integrada conceitos teóricos oriundos de diferentes teorias,
além dos conceitos psicanalíticos que envolvem conflitos psíquicos
inconscientes, buscando a resolução destes conflitos mediante a eliminação de
defesas consideradas patológicas por intermédio do insight. Utiliza ainda os
conceitos de: reforço do ego, derivado da psicologia do ego; de foco; de
experiência emocional corretiva; de crises; e teorias de aprendizagem,
incluindo as teorias cognitivas e comportamentais (CORDIOLI, 1998).

1.1 HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS

A história da Psicoterapia Breve Dinâmica circunda a da psicanálise


freudiana onde, no início, Freud e seus discípulos obtinham curas por meio de
tratamentos psicanalíticos de curta duração. Com o passar das investigações
de Freud, por psicoterapias entre os anos de 1910 e 1920, sentiu-se a
necessidade de ir aumentando o tempo de duração e a quantidade das
sessões, e esse evento ficou conhecido como o Fenômeno da Inflação da
Psicanálise (LEMGRUBER, 1984).
Freud criou conceitos que são importantes para o processo da
Psicoterapia Breve Dinâmica, como a associação livre e o insight
(CORDIOLI, 1998).
Ferenczi, na década de 1920, foi um dos primeiros autores que tentou
modificar a técnica psicanalítica clássica com o objetivo de adaptá-la a alguns

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tipos de pacientes. Denominou este novo processo de “terapia ativa”, pois
Ferenczi acreditava que a participação ativa do terapeuta contribuiria com a
diminuição do tratamento analítico. Ele encorajava o paciente a entregar-se a
fantasias sobre tópicos que surgiam espontaneamente nas associações
realizadas pelo paciente. Entretanto, determinar a data para o fim do
tratamento foi a mais ativa de suas inovações técnicas (CORDIOLI, 1998).
Alexander e French, em 1946, coordenaram um projeto de
investigação, no período de 1938 a 1946 com o objetivo de estabelecer
princípios básicos e técnicas que permitissem um tipo de psicoterapia que
fosse breve e eficaz. Como resultado da pesquisa, concluíram que o fator
curativo nas psicoterapias é o que os autores chamaram de “experiência
emocional corretiva”, ou seja, as vivências do cotidiano (CORDIOLI, 1998).
Alguns anos mais tarde, houve o desenvolvimento de teorias mais
estruturadas. Pesquisadores como Balint e colaboradores formaram um dos
grandes centros de pesquisa em Psicoterapia Breve, na Tavistock Clinic, em
Londres. A grande contribuição do centro pode ser resumida no conceito de
foco e no estabelecimento de técnicas focais. Postulavam que o tratamento de
curta duração deveria ter um objetivo específico, determinado precocemente
devendo o terapeuta intervir apenas interpretando os aspectos que facilitem o
trabalho no foco escolhido (CORDIOLI, 1998).
Pesquisas realizadas por Malan, em uma série de casos clínicos,
concluíram que a Psicoterapia Breve Dinâmica pode obter melhoras
duradouras em pacientes com enfermidades moderadamente graves e de
longa data. Ele preconizou o uso de interpretações transferenciais desde o
início do tratamento, o que poderia ser decisivo como instrumento terapêutico.
Verificou que a motivação e a focalização são fatores essenciais para um bom
prognóstico. Defendeu o tempo limitado, que deve ser discutido e combinado
entre as partes desde o início do tratamento, examinado e trabalhado durante o
mesmo (MALAN, 1981).
Além desses princípios, Malan desenvolveu o conceito dos triângulos
para um melhor desempenho no seu trabalho. O primeiro, o triângulo do
conflito, consiste em defesa, ansiedade (sintoma) e impulso. O segundo,
triângulo das pessoas, considera a relação do paciente com os pais (passado),

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com outras pessoas significativas do presente (atual) e com o terapeuta
(transferência) (MALAN, 1981).
Depois de algum tempo, Sifneos partiu do conceito de crise para
construir novos aspectos técnicos na Psicoterapia Breve. Para ele, a crise
emocional é um ponto de transição que oferece a possibilidade de ações
preventivas na forma de intervenções breves. Com isso, há produção de
sintomas, havendo a possibilidade de prevenir a cristalização dos mesmos e a
instalação de uma neurose. Assim, a ansiedade, por exemplo, pode ser útil
para o paciente (SIFNEOS, 1989).
Para Mann (1973), os limites do tempo de tratamento são irrelevantes.
Ele estabeleceu um número de 12 sessões que deveriam ser estabelecidas
logo no início do tratamento. A alta deveria ser colocada em caráter definitivo,
sendo que, se houvesse a necessidade de estender o tratamento deveria ser
realizado de forma inesperada.
Em 1978, surgiu a chamada psicoterapia emergencial, desenvolvida
por Bellack e Small. A teoria era baseada na teoria da aprendizagem e indicada
para situações de crise ou aumento de demandas emocionais. Sendo assim,
exigia que o terapeuta fosse ativo na tentativa de provocar insight, não
esperando a elaboração dele (CORDIOLI, 1998).

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1.2 DEFINIÇÃO

Para o encontro ser definido como psicoterapia, é preciso que duas


condições básicas estejam preenchidas: 1ª) o profissional deve utilizar a
relação com seu paciente com o escopo terapêutico, diferentemente de uma
conversa informal entre amigos, a qual, por vezes, pode ser até bastante útil;
2ª) a intervenção terapêutica precisa de um enquadre que possibilite ao
processo se desenrolar ao longo do tempo (HEGENBERG, 2010).

Um diálogo casual, um filme, um limite colocado pelos pais podem


ser terapêuticos quando acontecem na hora certa com a pessoa
disponível para compreendê-los. Estes acontecimentos não podem
ser denominados psicoterapia, porque a relação entre as pessoas
envolvidas não está combinada para tanto, não há enquadre
instituído (HEGENBERG, 2010, p.36).

Durante o processo psicoterápico, o terapeuta deixa de reagir ao


comportamento do paciente para entendê-lo. Por exemplo, se alguém é
agredido, em geral, reage proporcionalmente, ao passo que em uma sessão de
psicanálise, o analista responderá com interpretação e compreensão à
agressão do paciente. A relação é, utilizada com propósito terapêutico, cujo
objetivo daquele relacionamento é o tratamento de um deles pelo outro
(HEGENBERG, 2010).
Para que isso aconteça, são necessárias algumas condições, as quais
a sociedade oferece suporte.

A sociedade garante que, a um sujeito que demande ajuda,


correspondam outros indivíduos oferecendo auxílio. Ela fornece
médicos, psicólogos, terapeutas e tenta coibir o charlatanismo.
Assim, quando uma pessoa vai ao terapeuta, ela sabe que ele estará
disponível, em seu ambiente apropriado, para que, juntos, possam
seguir um tratamento psicoterápico. O paciente atribui ao seu
terapeuta um suposto saber, atribui-lhe um poder, o poder de ajudá-lo
no seu sofrimento, amparado nas leis e costumes do país em que
habita (HEGENBERG, 2010, p. 37).

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A psicoterapia tem uma continuidade garantida, uma sequência no
tempo, horários combinados, ou seja, uma influência bastante particular nos
dois integrantes da relação. O enquadre de permanência e regularidade, é o
fator que garante e dá suporte ao relacionamento, o que permite que ele
transcorra dentro de parâmetro definidos.

Esse enquadre, respaldado pelo enquadre mais amplo da sociedade,


influencia os dois participantes. Quando o enquadre varia, a relação
entre os membros da dupla também se altera. Faz muita diferença
um encontro dos dois ocorrer uma vez por semana ou todos os dias.
Um estar deitado e o outro não, ou os dois estarem sentados,
também é fator que modifica a relação. Também influi o fato de haver
ou não um prazo de término previsto para estarem juntos. Essas
variações do enquadre são significativas, promovendo alterações no
modo como um dos participantes se relaciona com o outro
(HEGENBERG, 2010, p. 37).

As intervenções breves são um ou mais encontros não programados.


Nas consultas terapêuticas de Winnicott, um encontro psicoterapêutico não
recebe o nome de “psicoterapia” porque não tem periodicidade definida,
ocorrendo de forma não programada, atendendo a necessidade que
manifesta os acontecimentos. Uma intervenção breve também pode ser
terapêutica. Pode se considerar que, às vezes, um acontecimento significativo
na vida do indivíduo é mais terapêutico do que anos de psicoterapia
(HEGENBERG, 2010).
O que diferencia uma Psicoterapia Breve de uma psicoterapia de longa
duração não é sua brevidade, mas, dependendo do autor, é sua focalização em
torno de uma questão específica ou é o prazo definido da terapia
(HEGENBERG, 2010).

O nome Psicoterapia Breve é inadequado porque o “breve” não é o


indicativo maior dessa forma de terapia. Alguns autores (Balint;
Ornstein, 1975; Sifneos, 1972) propuseram outras denominações,
mas o termo Psicoterapia Breve é universalmente aceito e utilizado,
tanto nos livros quanto em revistas especializadas ou em congressos
(HEGENBERG, 2010, p. 38).

O número de sessões de uma Psicoterapia Breve é variável, podendo


durar alguns meses, algumas sessões ou até um ano. Muitos serviços estipulam
o número de doze, porém, isso não é determinante (HEGENBERG, 2010).

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Já a Psicoterapia Breve Dinâmica, tendo a psicanálise como origem e
referência, seguirá a definição geral para psicanálise, acrescida de dois
elementos constitutivos: o limite de tempo previamente estabelecido para
terapia e a presença de um foco, ligado à angústia que leva o paciente a
consultar-se (HEGENBERG, 2010).
A Psicoterapia Breve Dinâmica é a concordância entre paciente e
terapeuta em torno do entendimento da possível origem inconsciente do
problema que dá suporte à decisão de empreender a investigação pelo método
psicanalítico, investigação a qual o paciente deve estar engajado como sujeito
(PESSOA, 2011).
Braier (1997, apud KNOBEL, 1986, p.27) compara a Psicoterapia
Breve, a Psicanálise e a Psicoterapia Analítica e chega à conclusão que a
Psicoterapia Breve consegue levar adequadamente os conceitos psicanalíticos
tradicionais a uma teoria e prática de uma verdadeira psicoterapia breve de
base estritamente psicanalítica.
Knobel (1986) diz que “as psicoterapias breves são apresentadas como
modelos em expansão de técnicas diversas, e até com base conceitual e teórica
tão variada que fica [...] difícil determinar sua origem e [...] sua compreensão”.
A técnica da Psicoterapia Breve está sustentada resumidamente em
quatro princípios (KNOBEL, 1986):
1. é não transferencial;
2. não regressiva;
3. elaborativa de predomínio cognitivo (em aparente detrimento do
afetivo);
4. mutação objetal que se opera por meio de permitir experimentar a
mudança de uma informação falsa por uma informação verdadeira,
criando uma vivência real, de que a pessoa passa a ser um sujeito
ativo de sua própria história.
A finalidade da Psicoterapia Breve é ajudar a encarar os diversos
conflitos que produzem angústia, que acabam determinando quadros variados
de uma psicopatologia psicodinâmica (KNOBEL, 1986).

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1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO

Para o terapeuta em Psicoterapia Breve Dinâmica é muito importante


que o seu paciente tenha uma maior capacidade de insight, que significa para
a Psicanálise um novo conhecimento do paciente sobre si mesmo, assim
como também ser o principal fator curativo nesses tipos de psicoterapias
(CORDIOLI, 1998).
A Psicoterapia Breve Dinâmica exige que o terapeuta adote atitudes e
posturas ativas e dialéticas, utilizando além de intervenções que têm como
objetivo o insight, outras formas de apoio como: sugestão e educação,
clarificação e aconselhamento. Com isso, o foco da preocupação do terapeuta
está voltado para o futuro e em menor ênfase o passado (MARCON, 2010).
Dentro desta perspectiva, as características da Psicoterapia Breve
Dinâmica são diferenciadas. Segundo Marcon (2010), as características são:
a) delimitação de um foco, problema ou conflito central, em acordo com
o paciente no qual se centraliza todo o trabalho psicoterápico;
b) estabelecimento de uma hipótese psicodinâmica, explicativa do
problema principal ou do foco, que faz sentido ao paciente, ao qual
responde positivamente e que orienta as intervenções do terapeuta;
c) interpretação de forças inconscientes;
d) ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais;
e) atitude ativa do terapeuta que utiliza, se necessário, medidas de
apoio como manipulação do ambiente, tranquilização e psicofarmacos;
f) delimitação do tempo, 12 a 40 sessões, em geral;
g) seleção adequada do paciente.
Com o fato da delimitação do tempo da psicoterapia é necessário que
se faça uma preparação prévia para a alta ou separação, com o intuito de o
paciente estabelecer autonomia, autoestima, independência onde são
reforçados aspectos positivos do Ego (MARCON, 2010).

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O paciente ideal para o tratamento com Psicoterapia Breve Dinâmica
costuma ter problemas focados e aspectos da personalidade funcionantes: alta
motivação, boa capacidade de insight e de se vincular rapidamente ao
terapeuta. Mas são poucas as pessoas que se enquadram no perfil que este
tipo de psicoterapia exige (MARCON, 2010).
Para a seleção de pacientes, Sifneos destaca que é importante que o
paciente apresente as seguintes características (CORDIOLI, 1998):
1. queixa circunscrita;
2. inteligência;
3. no mínimo uma relação interpessoal significativa na infância;
4. motivação para mudanças e não somente alívio de sintomas,
sugerida pela capacidade de introspecção, disposição de tempo,
dinheiro e disponibilidade interna;
5. capacidade de tolerar ansiedade e frustração desencadeadas pela
psicoterapia;
6. capacidade de desenvolver uma relação com terapeuta e de
interagir com ele (MARCON, 2010 apud CORDIOLI, 1998).
O processo terapêutico deve acontecer ao longo de um período
aproximado de 5 a 20 sessões que este tipo de tratamento costuma durar. O
trabalho psicoterapêutico está baseado na formulação inicial de uma hipótese
psicodinâmica que engloba os sintomas apresentados pelo paciente, suas
relações com os conflitos atuais, nucleares, as possíveis manifestações na
transferência e o estabelecimento de critérios de melhora (CORDIOLI, 1998).
A prática terapêutica acontece da seguinte maneira: o paciente senta-
se frente a frente com o psicoterapeuta, em sessões que podem variar entre
uma ou duas vezes por semana inicialmente, tornando-se mais espaçadas
quando se aproxima da alta. No início da psicoterapia, é enfatizada a
interpretação dos diversos elementos do conflito: sintomas, impulsos, desejos
ou sentimentos, mecanismos de defesa. Num segundo momento, o conflito
manifesta-se nas várias situações interpessoais: transferência, relação com
pessoas significativas da vida atual e da vida passada (CORDIOLI, 1998 apud
MARCON, 2010).

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A Psicoterapia Breve Dinâmica utiliza-se dos conceitos de Malan de
“atenção seletiva” e “negligência seletiva”, que consiste em direcionar a
atenção do terapeuta e do paciente para o foco (um tema escolhido
inicialmente por ambas às partes) onde se estabelece o terceiro conceito, a
“interpretação seletiva”. Para que isso ocorra, o paciente necessita iniciar
associações livres e o terapeuta procurar identificar no material as conexões
possíveis para que seja o foco, e passa a oferecer interpretações em sinal de
um papel ativo no processo terapêutico (CORDIOLI, 1998).
Estimula-se o paciente para que mantenha a concentração no foco da
terapia, e a partir disso o terapeuta examina-o por diversos ângulos e inclusive
pela transferência, que, sendo negativa, pode ser aproveitada como sendo um
exemplo do conflito atual. No relacionamento terapêutico, a transferência é
imediatamente remetida ao foco onde pode servir como um elemento a mais
para que o paciente possa perceber a vinculação de seu sintoma ou problema
atual com algum conflito inconsciente que foi indicado (CORDIOLI, 1998).
O silêncio é ativamente desencorajado e pode ser interpretado como
resistência, bem como também os atrasos, faltas, tentativas de encher o
tratamento de outras coisas que tiram o foco da terapia, entre outros aspectos
(CORDIOLI, 1998).
A contratransferência é um ponto também muito importante para o
andamento da terapia, onde o terapeuta está passível de identificar-se desde o
início da terapia, fato que é útil para orientá-lo na escolha do material a ser
trabalhado na sessão (CORDIOLI, 1998).
Após um exame completo do problema principal, e mantendo sempre a
motivação em um nível elevado, observa-se o estabelecimento progressivo de
um insight intelectual. Significa que o paciente obtém uma compreensão
interna sobre seus próprios sintomas ou problemas, o que vai além de apenas
um alívio de sintomas, pois o insight intelectual possui um valor terapêutico e
preventivo. Esse insight permite a reorganização da vida atual do seu paciente
por parte do mesmo, a capacitação para enfrentar e resolver problemas futuros
baseados na aquisição da compreensão cognitiva e autocompreensão
(CORDIOLI, 1998).

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Os resultados, de certa forma, estão relacionados com a motivação
para alcançar a mudança, frequência de interpretações, transferências e a sua
ligação com figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou
sentimentos do conflito focal por parte do paciente (CORDIOLI, 1998).
A partir da resolução do conflito atual, as repercussões podem se
estender para além do foco, trazendo a possibilidade de ocorrer mudanças em
outras áreas da vida do paciente (CORDIOLI, 1998).
Outro ponto importante de ser observado na Psicoterapia Breve
Dinâmica é como a alta deve acontecer. Para Mann (1973), a alta deve ser
algo definitivo, dando ao terapeuta a responsabilidade de deixar claro nas
entrelinhas que após a alta não haverá possibilidade de entrevistas adicionais.
Sendo que se surgir a necessidade de acompanhamento posterior ao
tratamento, deve ser de forma completamente inesperada.
Segundo Mann (1973), a perspectiva de alta tende a produzir no
paciente quatro conflitos básicos e universais:
a) independência/ dependência;
b) atividade/ passividade;
c) autoestima adequada/ perda da autoestima;
d) luto não resolvido ou postergado.
Mann (1973) dá importância a esta fase do tratamento pelo fato de
possibilitar o afloramento de conflitos passados, como também o surgimento de
uma relação terapêutica que não idealiza a intervenção do terapeuta após o
término do tratamento. Com relação a isso, Mann diz que:

[...] é nesta fase final que terá lugar o trabalho definitivo de resolução,
o qual irá incorporar, necessariamente, a compreensão de todos os
eventos dinâmicos altamente concentrados e intensamente vividos
que a precederam. A fonte genética destes afetos é revivida na
decepcionante realidade da alta e da separação do terapeuta, com
quem o paciente se identificou profundamente [...] (MANN, 1973)

Malan (1981) ressalta que muito mais importante que o número de


sessões que serão realizadas é a questão: deve ou não deve se estabelecer
tempo limite definido em acordo com o paciente desde o início do tratamento?
Para Malan, o fato de não delimitar tempo de tratamento pode acarretar

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desvantagens consideráveis, tanto para o terapeuta quanto para o paciente,
pois tendem a envolver-se profundamente durante o tratamento tornando assim
mais difícil a separação. Salientando assim, que a delimitação do tempo traz
muito mais benefícios ao processo terapêutico do que prejuízos, sendo que,
desta forma, a questão da alta pode ser discutida desde o início das terapias,
suavizando a separação.

FIGURA 1 - PSICOTERAPIA

FONTE: Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br/fotos-imagens/fam%C3%ADlia.html>.

1.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS BREVES


MAIS COMUNS E SUAS INDICAÇÕES

Psicoterapias são métodos de tratamento para problemas de natureza


emocional, nos quais o psicoterapeuta, mediante a utilização de meios
psicológicos, estabelece uma relação profissional com a pessoa que busca
ajuda, visando remover ou modificar sintomas existentes, retardar seu
aparecimento, corrigir padrões disfuncionais de relações interpessoais, bem
como promover o crescimento e o desenvolvimento da personalidade
(WOLBERG, 1988, apud CORDIOLI, 1998, p. 19). Nas diferentes intervenções,
o terapeuta utiliza a comunicação verbal e a relação terapêutica com a
finalidade de influenciar o paciente e fazer com que modifique emoções,
pensamentos, atitudes ou comportamentos considerados desadaptativos
(CORDIOLI, 1998).

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As psicoterapias variam em relação às técnicas que utilizam, às teorias
nas quais se baseiam, aos objetivos, à frequência das sessões e ao tempo de
duração. Abrangem desde as psicoterapias breves de apoio – destinadas a
auxiliar o paciente a superar dificuldades momentâneas, por meio do
aconselhamento, apoio, catarse, sugestão –, a terapia comportamental que
utiliza exposição in vivo, a prevenção da resposta, o condicionamento clássico;
a hipnose; o brinquedo (crianças), as terapias de grupo, de família e de casais;
o psicodrama, até formas mais complexas como a psicanálise e a psicoterapia
de orientação analítica, que se propõem a modificar aspectos da personalidade
pela obtenção do insight interpretando defesas por meio da análise da neurose
de transferência (CORDIOLI, 1998).
Há alguns elementos que são comuns a todas as psicoterapias: a
relação paciente-terapeuta (ou cliente-terapeuta, como propõem algumas
escolas), a qual está inerente à aceitação e o apoio do paciente por parte do
terapeuta, proporcionando-lhe oportunidade para expressar emoções
perturbadoras; o contrato terapêutico; e uma teoria na qual a técnica específica
se fundamenta (ORLINSKY & HOWARD, 1987; ALTSHULLER, 1989).
O terapeuta e o paciente sentam-se frente a frente, ou então o paciente
deita-se num divã e o terapeuta senta-se às suas costas, em uma ou mais
sessões semanais, quinzenais e até mensais. Nas psicoterapias de grupo, um
ou eventualmente mais de um terapeuta encontram-se simultaneamente com
vários pacientes, num mesmo local, em frequência variável (CORDIOLI, 1998).
As psicoterapias são utilizadas por diferentes profissões: psiquiatras,
psicólogos, médicos clínicos, enfermeiros, assistentes sociais entre outros.
Suas origens históricas situam-se na Medicina antiga, na religião, na cura pela
fé e no hipnotismo. Mas, foi no final do século passado que elas começaram a
ser utilizadas no tratamento para as assim denominadas doenças nervosas e
mentais, tornando-se uma arte médica restrita aos psiquiatras. E foi no decorrer
do século XX que outras profissões passaram a exercê-la, conservando-se,
entretanto, os termos relacionados com sua origem médica: doença, etiologia,
diagnóstico, paciente, terapeuta, que de certa forma são inadequados
(STRUPP, 1989). Na verdade, a psicoterapia é muito mais uma atividade
colaborativa entre o paciente e o terapeuta, do que uma ação propriamente

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unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa como ocorre com outros
tratamentos médicos (CORDIOLI, 1998).
Na literatura são mencionados mais de 400 tipos diferentes de
psicoterapias (KARASU, 1986). Muitos destes modelos se organizaram em
sociedades científicas, promovendo encontros, congressos, cursos de formação
e estabelecendo regras para sua prática. Como é um campo pertencente a
várias profissões, inexiste, entretanto, qualquer tipo de fiscalização oficial ou de
exigência mínima para quem as pratica (CORDIOLI, 1998).
Desde meados deste século, tem sido feito um enorme esforço de
pesquisa para sua validação por meio da comprovação de sua efetividade e
dos seus resultados. Como consequência, algumas formas vêm impondo-se ao
longo do tempo, seja pela comprovação clínica de sua utilidade no campo da
saúde mental e da saúde em geral, seja pelo resultado das pesquisas
(CORDIOLI, 1998).
Algumas psicoterapias são de uso corrente e se constituem num recurso
terapêutico de eficácia comprovada e eventualmente até superior a outras
técnicas, como é o caso das terapias comportamentais para o tratamento de
fobias específicas e rituais compulsivos ou das terapias de orientação analítica
para problemas caracterológicos ou de personalidade. Outras são utilizadas em
conjunto e de forma integrada com terapêuticas biológicas (terapias cognitivas
nas depressões, psicossociais nas esquizofrenias e demências), devendo o
psiquiatra e os outros profissionais da área da saúde conhecê-las e saber indicá-
las, quando necessário (CORDIOLI, 1998).

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1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise

Psicanálise, literalmente, significa dividir a mente em seus elementos


constitutivos e nos seus processos dinâmicos. Na prática, o termo é utilizado
em pelo menos três significados diferentes: 1) um conjunto de teorias
psicológicas sobre o funcionamento mental, sobre a formação da
personalidade e, aspectos do caráter, tanto aqueles considerados normais
como os psicopatológicos (sexualidade infantil, inconsciente dinâmico, conflito
psíquico, mecanismos de defesa e formação dos sintomas); 2) um método ou
procedimento de investigação dos conteúdos mentais, especialmente os
inconscientes (livre associação, análise dos sonhos, análise da transferência);
3) um método psicoterápico que se propõe a efetuar modificações no caráter
por meio da obtenção de insight mediante a análise sistemática das defesas na
neurose de transferência (HEGENBERG, 2010).
O analista adota uma atitude neutra, sentando-se às costas do paciente,
não havendo, portanto, um contato visual direto. O paciente é orientado a
expressar livremente e sem censura seus pensamentos, sentimentos, fantasias,
sonhos, imagens, assim como as associações que lhe ocorrem, sem prejulgar
sobre sua relevância ou significado (livre associação). O terapeuta senta atrás do
divã, mantendo uma atitude de curiosidade e de ouvinte atento. De tempos em
tempos, interrompe as associações do paciente, fazendo-o observar determinadas
conexões entre fatos de sua vida mental, particularmente emoções, fantasias
relacionadas com a pessoa do terapeuta, que passam despercebidas, e refletir
sobre o seu significado subjacente (HEGENBERG, 2010).
Segundo Lowenkron (1993), a Psicanálise Breve é definida como um
tratamento cujo prazo de duração é ajustado previamente entre o analista e o
cliente que busca ajuda para resolver um “problema específico”, ou seja, os
efeitos de um sofrimento psíquico que se manifesta em uma área demarcável
da vida do cliente e cuja origem possa ser atribuída a um conflito inconsciente
(HEGENBERG, 2010).

18
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1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica

O paciente é orientado a expressar livremente e sem censura seus


pensamentos, sentimentos, fantasias, sonhos, imagens, sem prejulgar sobre
sua relevância ou significado, bem como as associações que lhe ocorrem.
Essas associações não são tão livres como em psicanálise, pois habitualmente
são dirigidas pelo terapeuta para questões-chave da terapia, que, a princípio,
busca intervir em áreas circunscritas ou problemas delimitados. Dentro da área
selecionada (foco), o paciente é estimulado a explorar seus sentimentos,
ideias, atitudes, em suas relações com figuras importantes de sua vida atual,
do passado e com o próprio terapeuta, com vistas ao insight. Sem a utilização
do divã, com o uso menor da associação livre, com sessões menos frequentes,
a regressão é menor e a transferência não se desenvolve com a mesma
intensidade, primitivismo e rapidez que a psicanálise (GOSDSTEIN, 1988).
A psicoterapia de orientação analítica utiliza entre uma e três
sessões semanais, com o paciente sentando-se numa poltrona de frente
para o terapeuta, podendo o tratamento durar vários meses ou até anos
(CORDIOLI, 1998).

1.4.3 Psicoterapia Breve Psicanalítica

Freud descrevia o sujeito como provido de um aparelho psíquico,


aberto para o exterior, mas que não precisava do mundo externo para justificar
seu funcionamento. No Vocabulário da Psicanálise, de Laplanche e Pontalis
(1970), no verbete “relação de objeto”, registra-se a posição freudiana,
entendida como “one-body psychotherapy”, ou seja, a teoria freudiana da
psicanálise diz respeito ao sujeito em seu funcionamento isolado e não em
relação. Freud define os conceitos relativos ao sujeito em si como libido,

19
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20
deslocamento, condensação, resistência, pulsão, etc. Freud estava mais
interessado na teoria do que na clínica e preocupava-se com a cientificidade do
seu corpo teórico, preferindo escapar da relação terapêutica, que ele
considerava passível de ser criticada como subjetiva. Em 1937, em Análise
Terminável e Interminável, Freud ratifica essa posição. Freud, enfim, não
propôs nenhuma modificação técnica por muitos anos, tendo até mesmo se
oposto a elas (HEGENBERG, 2010).

A Psicoterapia Breve, então, pode ser vista como desviante, porque


implica em maior presença do analista, visto preconceituosamente
como alguém “ativo”, ou seja, ele adquire uma atitude “não
psicanalítica”. A proposta freudiana permite e induz o analista a ficar
mais tempo em silêncio, sendo comprometedora sua intromissão.
Para Freud, é a construção (ou reconstrução) do passado que
importa. A interferência da pessoa real do analista é um ruído, é
prejudicial à análise – que deveria ser análise do cliente e não do par
terapeuta/analisando (HEGENBERG, 2010, p. 42).

Já Ferenczi (1988) estava interessado na prática clínica. Ele se


preocupou com as questões relativas ao enquadre e também com o par
analista/paciente (HEGENBERG, 2010).
Diante da reação terapêutica negativa, Ferenczi (1988) demonstrou
modificações no enquadre, como a “técnica ativa”. O princípio que o norteou foi a
noção de que no tratamento estão presentes dois elementos: o cliente/paciente e
o terapeuta. Ele é considerado o pai das Psicoterapias Breves, pensando a
prática e seus efeitos no par analítico (HEGENBERG, 2010).

Ferenczi (1988) escreveu vários artigos nos quais demonstra essa


preocupação. Em Confusão de língua entre adultos e crianças (1988)
aborda vários temas, entre eles a contratransferência, a necessidade
de análise pessoal por parte do analista, a transferência negativa e o
ambiente. Em A técnica psicanalítica (1980) discute a importância da
contratransferência. Em Princípios de ralaxação e neocatarse (1988)
aponta de fixar um término para o tratamento, refere-se ao potencial
traumático do mundo exterior, discorre sobre o analista como ser
humano (como diminuit sua rigidez, por exemplo). Em Elasticidade da
técnica psicanalítica (1988) analisa o “sentir com” tão a contragosto
de Freud. Em Perspectivas da psicanálise (1988), salienta a
importância da prática clínica, do narcisismo do terapeuta e da
vivência na transferência (HEGENBERG, 2010, p. 43, apud
FERENCZI, 1988, p. 43).

20
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21
Ferenczi (1988) se preocupava com a prática clínica e com o papel do
terapeuta na análise, oportunizando a discussão da relação terapêutica e da
função do mundo real na psicanálise. Essa questão ainda hoje está presente,
com vários autores se recusando a considerar o mundo exterior como objeto de
preocupação da psicanálise (HEGENBERG, 2010).
Em 1909, Ferenczi (1988) introduziu o conceito de introjeção, em seu
artigo “Transferência e Introjeção” (1988), demonstrando seu interesse precoce
pela relação com o outro, lembrando que os conceitos de projeção e introjeção
são essenciais na teoria kleiniana do objeto. Ferenczi (1988) preocupou-se em
integrar o problema atual do indivíduo com sua história pessoal, em observar
como o sujeito se comporta no presente em função de seu passado
(HEGENBERG, 2010).
Com relação ao assunto sobre introjeção, contratransferência e
transferência, a importância do analista na terapia, o papel do mundo real e do
enquadre, Ferenczi (1988) abriu as portas para se refletir a prática
psicoterápica e a relação terapêutica, se tornando autor de leitura
imprescindível no estudo da Psicoterapia Breve (HEGENBERG, 2010).

A realidade do limite de tempo interferindo na relação terapêutica, a


realidade da relação com o analista, a realidade da crise em que o
sujeito está inserido, são questões fundamentais da Psicoterapia
Breve que tiveram início com Ferenczi (1988) e que se encontram
também na obra de Winnicott (1975a), por exemplo. É a partir deles
que se pode pensar a prática da Psicoterapia Breve sem considerá-la
um erro técnico sob o ponto de vista psicanalítico (HEGENBERG,
2010, p. 43, apud FERENCZI, 1988, p. 64).

Para Ferenczi (1988) e Winnicott (1975a), não há análise sem analista,


ou seja, a presença do analista no processo de análise é indispensável. Assim
como não há bebê sem a mãe (ambiente). Para esses autores, o terapeuta na
Psicoterapia Breve está sendo mais ativo, interferindo no processo de análise,
porque tal circunstância é inevitável, porque são duas as pessoas envolvidas e
não apenas uma (HEGENBERG, 2010).

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Para muitos analistas, o terapeuta de Psicoterapia Breve estaria
cometendo um erro técnico ao ser mais ativo e para uma concepção
de psicanálise winniocottiana, o terapeuta de Psicoterapia Breve
apenas estará sendo ele mesmo. Cabe ressaltar que não se fala,
aqui, de terapeutas selvagens, com formação questionável, que
justificam intromissões grotescas a partir de uma concepção baseada
em Winnicott (1975a). Dizer que o analista interfere no processo de
análise não deve servir para justificar intromissões indevidas. Na
teoria de Winnicott (1975a), é clara a diferença entre invasão e
apresentação (HEGENBERG, 2010, p.44).

Segundo a concepção de Psicoterapia Breve, o terapeuta deve


acompanhar o seu cliente em suas associações livres, interpretar o material
inconsciente a partir de uma escuta psicanalítica baseada em experiência e
sólida formação teórica, buscando um encontro significativo, consciente de sua
participação como ser humano no processo analítico de seu cliente.
(HEGENBERG, 2010).

1.4.4 Psicoterapia Breve Dinâmica

1.4.4.1 Teoria

Já na Psicoterapia Breve Dinâmica, foco deste material, é um exemplo


de psicoterapia que se usa de forma integrada conceitos teóricos oriundos de
diferentes teorias, além dos conceitos psicanalíticos de conflito psíquico
inconsciente, buscando sua resolução mediante a eliminação de defesas
consideradas patológicas por meio do insight. Emprega, ainda, os conceitos de:
reforço do ego, derivado da psicologia do ego; de foco (BALINT, 1972; MALAN,
1981); de experiência emocional corretiva (ALEXANDER, 1946); de crises
(ERIKSON, 1980; CAPLAN, 1980); e teorias da aprendizagem, incluindo-se as
teorias cognitiva e comportamental.

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1.4.4.2 Técnica

Principais características da Psicoterapia Breve Dinâmica (CORDIOLI,


1986):
a) delimitação de um foco, problema, ou conflito principal, em acordo
com o paciente e no qual se centraliza toda a atividade psicoterápica;
b) estabelecimento de uma “hipótese psicodinâmica”, explicativa do
problema principal ou do “foco”, que faz sentido ao paciente, ao qual
ele responde positivamente e que orienta as intervenções do terapeuta;
c) interpretação de forças inconscientes;
d) ensino de novas formas de lidar com os conflitos emocionais;
e) atitude ativa do terapeuta que utiliza, se necessário, medidas de
apoio como manipulação do ambiente, tranquilização e psicofármacos;
f) delimitação do tempo, 12 a 40 sessões em geral;
g) seleção adequada do paciente.
O terapeuta adota atitudes ativas utilizando, além das intervenções que
visam ao insight, outras de caráter de apoio como: sugestão e educação,
clarificação, aconselhamento, etc. A preocupação maior é com o futuro e menor
com o passado (MALAN, 1981; SIFNEOS, 1979, 1984; MACKENZIE, 1988).
O paciente ideal para Psicoterapia Breve Dinâmica usualmente tem
problemas circunscritos (foco), mesmo que antigos, e áreas da personalidade
funcionantes; é altamente motivado; tem boa capacidade de insight e de se
vincular rapidamente ao terapeuta. Na verdade, são poucos os que preenchem
os critérios exigidos por esta forma de terapia (CORDIOLI, 1986).
A delimitação do tempo faz com que prematuramente surjam questões
envolvendo alta e separação e que precocemente sejam estimuladas a
autonomia, a autoestima, a atividade, a independência (reforço de aspectos
positivos do ego) (CORDIOLI, 1986).

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O paciente senta-se frente a frente com o terapeuta, em sessões que
variam de uma a duas vezes por semana no período inicial, tornando-se mais
espaçadas quando se aproxima o término do tratamento (CORDIOLI, 1986).
No início da terapia, é enfatizada a interpretação dos diferentes
elementos do triângulo do conflito: sintomas, impulsos, desejos ou
sentimentos, mecanismos de defesa; num segundo momento, o conflito
manifestando-se nas várias situações interpessoais: transferência, relações
com pessoas significativas da vida atual e da vida passada (triângulo do
insight) (MALAN, 1981).
Os resultados parecem estar correlacionados com motivação para
mudança, frequência das interpretações transferenciais e a sua ligação com:
figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou sentimento do
conflito focal (MALAN, 1981).

1.4.4.3 Objetivos e indicações

A Psicoterapia Breve Dinâmica está indicada no tratamento de problemas


circunscritos ou mudanças de caráter em áreas restritas da personalidade.
Terapeuta e paciente devem poder rapidamente definir um foco ou problema
principal e estar de acordo em trabalhar sobre ele (CORDIOLI, 1986).
O paciente deve ser capaz de estabelecer rapidamente uma aliança de
trabalho e de vincular-se ao terapeuta; ter facilidade de expressar seus
sentimentos e interesse em compreendê-los. Deve ainda ser capaz de
facilmente separar-se por ocasião da alta e demonstrar motivação para efetuar
mudanças, através da compreensão de suas dificuldades. Não deve ter
problemas que possam ser agravados, se mobilizadas algumas defesas, nem
devem ser numerosos, difusos ou severos (CORDIOLI, 1986).

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1.4.4.4 Indicações

 Paciente com transtornos de ajustamento e de personalidade leve,


organização neurótica de personalidade nos termos de Kernberg (1990);
 Situações ou problemas agudos, na vigência de transtornos
caracterológicos crônicos.

1.4.4.5 Contraindicações

Conforme Cordioli (1986).


 Psicoses;
 Transtornos do humor;
 Dependência ao álcool ou a outras substâncias;
 Transtorno obsessivo-compulsivo ou fóbico incapacitante;
 Transtorno do pânico;
 Transtorno de caráter grave: organização borderline ou psicótica da
personalidade, expressos sob a necessidade frequente de
hospitalização, tentativas de suicídio, condutas auto ou
heterodestrutivas graves, controle precário dos impulsos;
 Pacientes muito imaturos e dependentes que, em virtude das
reações transferenciais desenvolvidas, tenham dificuldade em se
separar do terapeuta;
 Situações emergenciais que exijam intervenções rápidas do tipo
mudança ambiental;
 Necessidade de modificações maiores ou mais profundas no
caráter;
 Problemas difusos, focos ou conflitos múltiplos.

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MÓDULO II

2 INTERVENÇÃO DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE

2.1 INTERVENÇÃO TÉCNICA DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE

Segundo Gilliéron (1986), boa parte da oposição da psicanálise clássica à


modalidade de trabalho designada como psicoterapia breve, se deu porque Freud
não dispunha de instrumentos teóricos que lhe permitissem levar em conta a
influência da disposição do campo analítico, ou seja, do enquadre psicoterápico
sobre o processo psicoterapêutico (PESSOA, 2003).
Freud resistia em falar das relações intersubjetivas e suas elaborações teóricas
e clínicas sempre expressam bem isso. Depois, o seu interesse foi para o
funcionamento intrapsíquico, desviando o olhar da dimensão interpessoal. Isso não
impede que suas elaborações tenham sido inferidas da observação de uma relação
intersubjetiva. O resultado foi que não foram percebidas nem a importância da
disposição no tratamento, nem a importância da atividade do analista (PESSOA, 2003).
Segundo Gilliéron (1986), no campo das psicoterapias breves, as principais
hipóteses a serem consideradas são:
1) Para modificar o funcionamento psíquico e aumentar as trocas
relacionais, as variações do enquadre são suficientes;
2) As modificações do funcionamento psíquico dependem da técnica de
interpretação estudada e adaptada;
3) Na psicoterapia breve, devem-se respeitar as regras básicas da
psicanálise, compreendendo a especificidade das resistências que surgem;
4) Uma situação psíquica apropriada deve favorecer a eficácia da
interpretação para contemplar a função do enquadre;
5) O enquadre depende da cultural ambiental do indivíduo.

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É importante para esse estudo propor enquadres diferentes para pacientes
diversos, dependendo da necessidade de cada um. Parte-se do princípio de que o
cliente/paciente procura o profissional porque está em conflito e necessita de ajuda.
É função de o terapeuta identificar o problema crítico pelo qual passa o cliente e
ajudá-lo na tentativa de sua elucidação. É por isso que é necessária uma avaliação
de cada caso antes do início da psicoterapia (HEGENBERG, 2010).

O médico, quando consultado pela primeira vez, está preocupado em


realizar um diagnóstico e oferecer a medicação adequada. Na entrevista, as
primeiras entrevistas são utilizadas para coleta de dados do paciente, como
em uma anamnese. No esquema das quatro tarefas, a proposta é outra
(HEGENBERG, 2010, p. 58).

São quatro as tarefas: 1) formular uma intervenção inicial baseada na


angústia que motivou a procura por ajuda; 2) reconhecimento se há crise ou não; 3)
diferenciar o foco; e 4) decisão da indicação (HEGENBERG, 2010).
A experiência ensina que uma a quatro sessões são suficientes para a
realização das tarefas, para o estabelecimento do vínculo terapêutico e o começo da
elaboração em torno da angústia que levou o paciente procurar a consulta.
(HEGENBERG, 2010).
Em uma ou duas entrevistas iniciais, propõe a coleta de dados, a ideia é
apenas a de reunir material para futura utilização. A intenção na primeira sessão é
poder formular uma pergunta: o porquê da consulta, qual o motivo do problema, qual
é a angústia, qual é o sentido de fazer a psicoterapia, em função do questionamento
levantado. A pergunta deverá fazer sentido para o cliente/paciente e já poderá ser
explorada ao longo da(s) sessão(ões), por meio de interpretações que irão auxiliar o
cliente/paciente a se inteirar de sua angústia e da razão da procura pela análise
(HEGENBERG, 2010).

Como nós, da área psi, estamos acostumados com a noção de que a


psicoterapia é um processo longo, em que o conhecimento mútuo se vai
acumulando, ficamos tranquilos quando nada de significativo ocorre na
primeira sessão, ao apenas escutar o cliente relatar o que o angustia.
Mesmo ciente dos costumes de uma psicoterapia, o paciente, em geral,
frustra-se, reclamando que o profissional “nada disse” sobre seu problema.
Com frequência, movido pela angústia que o levou a procurar atendimento,
o paciente deseja ser escutado, mas também quer ouvir a opinião do
profissional a respeito do problema que acabou de colocar. Em dois artigos,
“O jogo do rabisco” (1994b) e “O valor da consulta terapêutica” (1994a),
Winnicott deixa claro seu ponto de vista a respeito, salientando a
importância da(s) primeira(s) sessão(ões) (HEGENBERG, 2010, p. 59).

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Quando o cliente/paciente chega ao consultório, não sabemos se ele
retornará. Em geral, apenas escutá-lo na primeira entrevista está implícita a crença
de que ele retornará, o que não é garantido, até porque ele pode ter saído frustrado
por nada ter ouvido de significativo (HEGENBERG, 2010).

Na década de setenta, era muito comum fazer a análise de orientação


kleiniana. Ao chegar, o analista perguntava o nome, combinava os horários
e preço e, imediatamente, ele me encaminhava ao divã. Tal procedimento,
compatível com proposta kleiniana de trabalho, parte do pressuposto de que
a pessoa real do analista pouco (ou nada) importa e que o paciente não
precisa conhecer o terapeuta e decidir se escolhe ou não. Fica implícito que
este analista é a melhor solução para o cliente, naquele momento
(HEGENBERG, 2010, p.59).

Uma das ideias de quatro tarefas é que elas propiciam tempo suficiente para
que haja um conhecimento mútuo. Tanto o psicoterapeuta poderá verificar sua
vontade de atender ou não aquele cliente/paciente, como este poderá avaliar o que
seu psicoterapeuta está falando é apropriado e faz sentido, ou não. Os
psicoterapeutas, normalmente, não admitem a hipótese de que ele não queira se
consultar conosco (HEGENBERG, 2010).

Parece mais democrático deixar a decisão do início da terapia nas mãos


dos dois e não apenas do profissional. É claro que o terapeuta “sabe” muita
coisa e sua decisão sobre o que é melhor naquela situação deve ser levada
em conta. Mas a opinião do cliente também é fundamental. Ele também tem
seus critérios de avaliação e de ser escutado sobre querer, ou não, ser
atendido por este ou aquele profissional (HEGENBERG, 2010, p. 60).

Segundo Winnicott (1994a), também pode acontecer um encontro


terapêutico em apenas uma consulta. Sem horários para terminar, a primeira
consulta pode permitir a realização de quatro tarefas. Por exemplo, quando se
atende pessoas de outras cidades, esse procedimento torna-se comum. Mais de
uma sessão é o procedimento mais prudente, em função do maior tempo disponível
para avaliação e elaboração (HEGENBERG, 2010).
Em casos de inexperiência do iniciante ou da dificuldade de um caso
específico podem ser necessárias várias sessões para realizar as quatro tarefas
(HEGENBERG, 2010).

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2.1.1 Quatro tarefas

Observe as propostas quatro tarefas: 1) formular uma intervenção inicial


baseada na angústia que motivou a procura por ajuda; 2) reconhecimento se há
crise ou não; 3) diferenciar o foco; e 4) decisão da indicação (HEGENBERG, 2010).
Na primeira tarefa, o interesse volta-se para a emissão de uma intervenção
verbal pertinente, baseada no problema angustiante do cliente/paciente. A
intervenção estará voltada na escuta do motivo da consulta e pela avaliação inicial
da personalidade. Os primeiros movimentos do cliente/paciente, sua primeira fala
significativa e a reação emocional do terapeuta permitem formar um conjunto de
dados que facilitam a intervenção inicial. Essa intervenção busca características de
personalidade ligadas aos tipos de personalidade (HEGENBERG, 2010).
A segunda tarefa verifica se o cliente/paciente está ou não em crise. A crise,
compreendida como ruptura de sentido de vida, identificando perguntas dirigidas ao
cliente/paciente, questionando sobre aspectos de sua existência, como perspectivas
de vida, sentido da existência e pretensões quanto ao futuro. Tem-se em vista
estabelecer um sentido de Eu e observar se o sentido de vida se alterou. Quando
isso ocorre, o cliente/paciente está em crise, às vezes, mesmo angustiado e com
sintomas, o cliente/paciente não se encontra em crise, lembrando que a indicação
de Psicoterapia Breve Dinâmica é influenciada pelo fato de o indivíduo estar ou não
em crise, ou à beira dela (HEGENBERG, 2010).
A terceira tarefa está voltada para a composição do foco, ligado ao
problema, à angústia, à queixa e aos sintomas. O foco pode estar ligado aos tipos
de personalidade ou ser a própria crise (HEGENBERG, 2010).
A quarta tarefa direciona a decidir sobre o que fazer em seguida. É o
momento do contrato, da indicação. Para a indicação, está relacionada com alguns
itens, como: demanda de análise, possibilidade de atravessar a crise, possibilidade
de focalização, existência ou não de crise, além de uma avaliação do tipo de
personalidade do cliente/paciente (HEGENBERG, 2010).

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A sequência de quatro tarefas é estabelecida de forma didática. É claro que
a avaliação da demanda, da capacidade de insight, por exemplo, estará em
tela todo o tempo. Se o paciente está em crise ou não, é algo que algumas
vezes já é possível estabelecer lodo de início. O foco pode ficar claro de
imediato, ou pode se esclarecer (ou não) apenas nas sessões seguintes, e
assim por diante (HEGENBERG, 2010, p. 61).

O esquema proposto apenas visa evitar esquecimentos e alguns pontos


(tarefas) considerados essenciais. Qualquer teoria, ou técnica, pode ser modificada
em um manual restritivo da criatividade do psicoterapeuta, ou pode ser utilizada de
maneira a ampliar e possibilitar. O escopo maior do contato inicial, como em
qualquer contexto psicoterápico, é estabelecer em encontro significativo. Levando
uma comunicação significativa com seu cliente/paciente, ficam abertas as portas
para uma possível continuidade do processo psicoterápico (HEGENBERG, 2010).

2.1.1.1 Primeira tarefa

Com a experiência, é possível entender o cliente/paciente logo de início.


Quando isso ocorre, ele se sente acolhido e pode respeitar e confiar em seu
psicoterapeuta. A vantagem está no primeiro contato poder construir uma conversa
proveitosa. Dizendo ao cliente/paciente o que foi percebido, o psicoterapeuta abre a
possibilidade do debate a respeito das razões da procura de auxílio, tornando
possível uma sessão e não apenas uma entrevista inicial para coleta de dados
(HEGENBERG, 2010).
É importante elaborar, no primeiro contato, uma boa relação com o cliente/
paciente. Ao fazê-lo se sentir compreendido, o cliente/paciente tende a retornar
com mais frequência do que quando fala e nada escuta do seu terapeuta
(HEGENBERG, 2010).

O objetivo inicial será compreender a razão da consulta e oferecer ao cliente


uma intervenção adequada em resposta e esta demanda, respeitando sua
queixa e seus sintomas. A intervenção inicial leva em conta a angústia que
originou a procura por ajuda e está centrada nas características ligadas aos
tipos de personalidade (HEGENBERG, 2010, p. 62).

O problema do cliente/paciente que aparece logo de início está associado a


características de sua personalidade, e a focalização do trabalho a ser realizado

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levará em conta essa formulação. Uma avaliação da personalidade torna-se
fundamental e de grande utilidade (HEGENBERG, 2010).

O estilo de uma pessoa, composto em uma especifica construção estética


de self, alberga um tipo de personalidade associado a uma biografia única.
Em outras palavras, cada ser humano, com seu tipo de personalidade, é
atravessado por uma história de vida particular, compondo um espaço de vir
a ser que oferece ao mundo um estilo singular, captado pelos outros por
meio dos sentidos e da palavra e pelo modo como o sujeito transita e
modifica o ambiente que habita (HEGENBERG, 2010, p. 62).

O terapeuta capta o estilo de seu cliente/paciente logo no começo. A sua


forma de ser, o seu “jeitão”, desde a sala de espera e pela sala de consulta
(HEGENBERG, 2010).
A proposta é que o indivíduo, sob o impacto do primeiro contato com
alguém, se encontra em um momento privilegiado para se expor. O estilo do sujeito,
observado não apenas pelas suas palavras, mas também pela sua apresentação e
reação emocional do psicoterapeuta, é um componente fundamental desse primeiro
contato. Lembrando que podemos nos enganar, e que essa avaliação inicial estará
sujeita a alterações e confirmações (HEGENBERG, 2010).
No decorrer de uma entrevista ou de uma Psicoterapia Breve Dinâmica, a
tendência é o terapeuta perceber as diversas facetas de seu cliente/paciente, o que
tende a confundir o diagnóstico dos tipos de personalidade (HEGENBERG, 2010).

A maneira de evitar impasses é se fiar no primeiro contato, acreditando que o


ser humano, nesse primeiro momento, está em situação peculiar, por ser
totalmente desconhecida para ele. A captação de seu tipo de personalidade
está favorecida pelo impacto de contato inicial, antes que as palavras
comecem a confundir o terapeuta. Nos momentos iniciais do primeiro
encontro, a reação emocional do terapeuta está menos contaminada pelas
palavras do paciente. É claro que, em geral, a intenção do cliente não é
confundir seu terapeuta, mas isso pode ocorrer (mesmo que não se perceba)
com o uso de palavras que não apenas esclarecem, mas também podem
tender a dissimular o modo de ser do paciente (HEGENBERG, 2010, p. 62).

Para Gilliéron (1998), a primeira entrevista é procedida da seguinte forma:


1) Utilizava sessões semidirigidas, fundamentalmente centralizadas nas
queixas atuais do cliente/paciente e depois, progressivamente, em sua
história pessoal;
2) O contexto e as circunstâncias no surgimento dos sintomas são
examinados muito de perto, assim como o modo de chegada à consulta;

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3) Na anamnese, é verificado o aprofundamento do problema, tendo o
psicoterapeuta em mente as circunstâncias do aparecimento da
descompensação atual, com vistas a entender as características;
4) São essenciais as relações objetais estabelecidas pelo cliente/paciente no
passado e no presente;
5) O psicoterapeuta necessita ter, em sua bagagem técnica, sólidos
conhecimentos de psicopatologia, bem como das várias teorias explicativas
sobre as causas dos distúrbios psíquicos em psicopatologia vincular. No
caso da psicanálise, esse entendimento envolve o “modelo causal” freudiano
e a sua teoria das séries complementares.
6) Já ao final da primeira entrevista, Gilliéron (1998) esperava dos
psicoterapeutas que eles tivessem uma ideia do tratamento que entreviam:
indicação para tratamento medicamentoso, psicoterapia a longo prazo,
psicanálise ou psicoterapia a curto prazo.
Para entender cliente/paciente e determinar seu tipo de personalidade, a
ênfase estará colocada em três procedimentos: apresentação do cliente, a sua
primeira fala e a resposta emocional do psicoterapeuta (HEGENBERG, 2010).

2.1.1.1.1 Apresentação

Normalmente, em uma supervisão, é comum o aluno iniciar contando a


historia do cliente/paciente. É frequente o supervisionando lembrar-se das primeiras
falas do paciente ou do momento em que ele entrou na sala (HEGENBERG, 2010).

O primeiro contato com o futuro paciente dá-se na hora da indicação. Faz


diferença se o encaminhamento partiu de um colega, de um amigo, de um
atual ou ex-paciente, de um aluno ou de um professor. O modo como
vamos encarar esse novo cliente, com mais ou menos expectativas,
também varia segundo quem o indicou (HEGENBERG, 2010, p. 63).

Para o cliente/paciente, a transferência inicia-se mesmo antes de reconhecer


seu futuro analista e está ligada a quem conhece a respeito dele e também a quem
o encaminhou. Quando a consulta ocorre em um serviço público (ou particular), a

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transferência dá-se com a instituição, a partir do que se entende dela e de quem a
indicou (HEGENBERG, 2010).
Há alguns indícios que devem ser levados em consideração. Se
cliente/paciente telefona. Se deseja consulta urgente, ou para dali a duas semanas.
Se liga e quer falar com o psicoterapeuta, ou apenas marca o horário com a
secretária. Se chama insistentemente, ou deixa o número do telefone e não atende,
ou liga dias depois (HEGENBERG, 2010).

O modo como o paciente conversa ao telefone, seu tom de voz, o número


de informações que ele solicita (alguns querem saber o preço da consulta,
se cobra ou não a primeira, a formação do terapeuta, linha de trabalho, por
exemplo), complicações ou facilidades para marcar o horário, se fica
puxando conversa e já quer iniciar a consulta ao telefone, se é direto e
objetivo, são dados que auxiliam a montar um quadro psicológico do
paciente, a ser confirmado (ou refutado) posteriormente. Tais detalhes
fornecem informações interessantes que formam um conjunto a ser avaliado
globalmente (HEGENBERG, 2010, p. 64).

Deve se considerar que têm clientes/pacientes, que desmarcam e remarcam


as consultas mais de uma vez, chegam atrasados, chegam em cima da hora,
chegam muito antes, ou seja, a análise do cliente/paciente começa antes de ele
entrar na sala de consultas propriamente dita (HEGENBERG, 2010).

Na hora em que ele chega, pode se “fazer presente” ou ser discreto, entrar
com vários objetos, falar com todos, ficar calado, arrumar algum a
confusão. Em geral, não presenciamos essa hora de chegada, mas
ficamos sabendo se algo significativo ocorreu, porque alguém vai contar
(HEGENBERG, 2010, p. 64).

Não é com um olhar ingênuo que examinamos o cliente/paciente pela


primeira vez. No momento de conhecê-lo, já existem várias informações a respeito
dele (HEGENBERG, 2010).
É importante verificar como o cliente está na sala de espera. Pode estar
sentado ou em pé, quieto, conversando com alguém, acompanhado ou não,
andando, sair para ir ao banheiro e é você que tem de esperá-lo, pode estar atento à
chegada do psicoterapeuta ou absorto com alguma revista ou conversa, pode estar
falando ao celular, pode demorar em se levantar, pode cumprimentar com um
sorriso ou zangado, pode parecer arrogante ou humilde, enfim, várias foras de
análise podem ser feitas neste período (HEGENBERG, 2010).

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A maneira como o paciente está vestido também interessa. Mais ou menos
formal, jovem, cores discretas ou aberrantes, confortável ou apertado,
engomado, com estilo próprio que lhe cai bem, na moda demais,
“mauricinho”, bizarro, etc. Lembro-me de um paciente que chegou todo de
preto, com uma bermuda agarrada nas pernas, camiseta curta, com um
desenho assustador (...), tênis enorme para o vestuário, cabelos
despenteados. Achei que fosse piada, tal a dissonância com qualquer coisa
conhecida, mas era sério. E o problema dele é que não conseguia sucesso
com as mulheres, imagine (HEGENBERG, 2010, p. 65).

Safra (1999) afirma que o sujeito apresenta o seu existir por gesto, por
sonoridade, por formas visuais, por diversos meios disponíveis para constituir seu
self e seu estilo de ser. São ações de grande complexidade simbólica e não
passiveis de decodificação (HEGENBERG, 2010).

Observa-se, então, quanta coisa acontece antes mesmo da saudação


inicial. O aperto de mão fornece informações que, aliadas ao conjunto,
auxiliam a formar um quadro psicológico do paciente. Amassar a mão do
terapeuta, a mão mole e sem aperto, a mão suada ou fria demais, não dar a
mão, beijar no rosto ou parecer que beija (o que é comum atualmente,
“beijar-se” apenas encostando o rosto, tem gente que pula em cima e rouba
um beijo – até nos assusta –, tem quem cumprimente timidamente olhando
para o lado, ou olha nos olhos – de forma carinhosa ou desafiadora, por
exemplo). Abraços são raros, tem quem entra na sala e nem cumprimenta,
tem de tudo um pouco, cabe prestar atenção (HEGENBERG, 2010, p. 65).

O psicoterapeuta tem sua maneira habitual de cumprimentar seus pacientes.


É interessante ficar atento ao que se passa conosco nessa hora. Cabe prestar
atenção aos movimentos do paciente e também ao que estamos sentindo e fazendo.
Com cada cliente/paciente você poderá se comportar de uma forma diferente. É
interessante analisar o porquê isso acontece (HEGENBERG, 2010).

Eu deixo o paciente entrar primeiro e fico observando o que faz por alguns
segundos, enquanto fecho as portas da sala. Nesse momento, o sujeito
pode ficar esperando indicação de onde sentar ou já escolher seu canto, ou
sentar na minha poltrona (e então eu peço para ele mudar de lugar), pode
ficar olhando perdido para o ambiente novo, ou nem olhar para o que existe
ao seu redor, pode estar calado ou falando, pode estar me olhando ou não,
pode demorar em se sentar, pode estar carregado de coisas e não saber
(ou saber) o que fazer com elas (HEGENBERG, 2010, p. 66).

Analise como está o clima emocional do momento, se está tenso ou não, se


estamos à vontade, querendo ajudar ou organizar, se nos sentimos invadidos,
observados, avaliados, competindo, etc. (HEGENBERG, 2010).

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Portanto, caso não esteja atento aos detalhes de tudo o que aconteceu
antes da primeira fala do paciente na sala de consulta. Tais detalhes fornecem
informações que, aliadas à primeira fala do paciente e ao que o psicoterapeuta está
sentindo, formam um conjunto de dados que propiciam uma avaliação inicial
detalhada do cliente/paciente (HEGENBERG, 2010).

2.1.1.1.2 Primeira fala significativa do paciente

Fique atento na primeira fala do cliente/paciente, por exemplo, ao telefone,


no primeiro contato, na sala de espera, ou na sala de consultas. Às vezes, ela se dá
na indicação da terapia, com a secretária ou no caminho até a sala de atendimento
(HEGENBERG, 2010).
A psicoterapia é um procedimento que depende do psicoterapeuta, não há
como definir, a priori, a primeira fala significativa. Porém, cada detalhe poderá fazer
toda a diferença. Alguns psicoterapeutas irão dar grande importância às primeiras
falas significativas. Em cada supervisão ou psicoterapia com diversos
psicoterapeutas, pode-se encontrar mais de uma opinião. Isso acontece também na
medicina, na psiquiatria, na física, por que não pode ocorrer nas psicoterapias
(HEGENBERG, 2010).

A primeira fala significativa do cliente chama a atenção do terapeuta. Não


há como escapar dessa relação a dois. Mesmo quando se relata um caso,
ou ele é filmado, o crivo da situação passa pelo observador. Então, o critério
é esse: o terapeuta tem sua atenção atirada pela fala de seu paciente e é
nesse instante que se deve prestar-lhe cuidados maiores. Curioso notar
que, nas supervisões, é comum suceder que vários terapeutas terminem
por concordar com a escolha da primeira fala significativa para um dado
considerado (HEGENBERG, 2010, p. 66).

Percebe-se que, com a experiência, a escuta é alterada, a teoria e a


abordagem influenciam a escolha da primeira fala. Ou seja, quanto mais se aprende
e maior é a experiência, mais se transforma nossa escuta, num processo que nunca
termina (HEGENBERG, 2010).

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É interessante proporcionar ao paciente uma compreensão do motivo da
consulta logo de início. Mesmo sabendo que as falas significativas se
repetem ao longo de uma análise ou de uma sessão, a vantagem de captá-
la rapidamente não se dá por força de um possível concurso de velocidade,
mas pela simples razão de que o paciente se beneficiará se for
compreendido o mais breve possível (HEGENBERG, 2010, p. 67).

No primeiro contato, caso o cliente/paciente esteja aflito, parece vantajoso


para ele poder escutar de seu psicoterapeuta uma palavra com a qual ele concorde
e se sinta compreendido. Neste caso, a primeira fala significativa se junta aos
primeiros movimentos (apresentação) e à reação emocional do terapeuta
(HEGENBERG, 2010).

2.1.1.1.3 Reação emocional do terapeuta

Segundo Ferenczi (1988) e Winnicott (1975b), o contexto de uma sessão é


forjado tanto pelo paciente como pelo terapeuta. Os dois formam um conjunto único
que pode ser chamado de analítico. Um terceiro elemento, um campo, é criado pelo
par, e é nesse campo que as trocas, verbais ou não, ocorrem. Winnicott (1975c)
denominou especo potencial esse “lugar” em que as trocas acontecem e onde pode
ocorrer a comunicação significativa, que se manifesta por meio da “mutualidade na
experiência” (DAVIS; WALLBRIDGE, 1982, p. 79). Thomas Ogden (1996) chamou
de “terceiro analítico” o espaço potencial que ocorre na sessão.
Segundo esta concepção, não se trata de um terapeuta na posição de mero
observador, analisando o psiquismo de seu paciente, mas de um par que forma um
conjunto diferente de qualquer outra dupla. São dois elementos com lugares e
funções diferentes, um na posição de analista outro na posição de paciente, com
tudo o que significa, cada um carregando seu mundo interno, e os dois implicados
igualmente no processo de análise de um deles, o cliente (HEGENBERG, 2010).
Como o analista participa do processo como pessoa real (WINNICOTT,
1975b, p. 124), com fantasias, desejos, limitações, conhecimento teórico, história de
vida, sofrimentos e experiências únicas, esse encontro adquire contornos de
singularidade, ou seja, nenhuma sessão é igual a outra e não há dois analistas iguais.

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Ferenczi (1988) abriu as portas para se pensar na contratransferência. Seu
conceito de introjeção refere-se às trocas entre duas pessoas interagindo. Suas
ideias desembocaram na teoria kleiniana da relação objetal, na qual dois mundos
internos trocam projeções e introjeções.
Winnicott (1975c) foi além e forjou o conceito de espaço potencial, lugar de
interação entre duas pessoas reais. A partir de que a mão real interfere e constitui
seu bebê, Winnicott chamou a atenção para o ambiente e sua influência na
constituição do ser humano.
A reação emocional do terapeuta como instrumento de análise pode parecer
arriscada, subjetiva e não científica. O que Winnicott (1975) nos ensinou, no entanto,
é a inevitabilidade dessa condição. Como no par analítico existem duas pessoas
reais, não há como descartar um dos elementos dessa relação, o analista.
Em função do exposto, cabe considerar importante o que o analista está
sentindo com o paciente, naquele momento considerado. Daí a reação emocional do
terapeuta ser um elemento fundamental na compreensão do paciente. O fato de
cada analista ser único e cada par analítico albergar sua singularidade não quer
dizer que não se possa utilizar o que se passa em cada sessão como material de
reflexão para compreender outros pacientes. Embora a particularidade de cada
análise deva ser resguardada, nós humanos temos sentimentos que, em geral, são
compartilháveis; caso contrário, seria impossível a teoria sobre nós mesmos, a
psicoterapia, e até a vida em comum (HEGENBERG, 2010).
O terapeuta pode sentir, por exemplo, na sessão, rivalidade, proteção
(apoio), agressividade, reasseguramento, distanciamento, rejeição, autoproteção,
desorganização, estranhamento, irritação, competição, querer organizar a situação,
curiosidade (HEGENBERG, 2010).
Cabe lembrar que se trata do que o terapeuta está sentindo e não de suas
impressões a respeito do cliente. Nas supervisões, diante da pergunta sobre o que
sentiu, é comum o supervisionando dizer: “senti que o paciente estava triste”, ou
“senti que ele não falava coisa com coisa”, respostas que se referem ao paciente.
Nem sempre é fácil saber o que sentimos em cada situação. Muitas vezes é preciso
um esforço para entender o que se passou (OGDEN, 2003, p. 161).
Na Psicoterapia Breve Dinâmica, a reação emocional do psicoterapeuta é
fundamental para o diagnóstico dos tipos de personalidade, N, EL e P. O que o

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psicoterapeuta está sentindo entra na avaliação da sessão, com a apresentação da
primeira fala, fornecendo elementos para o entendimento da demanda do paciente e
para a elaboração do foco (HEGENBERG, 2010).

[...] é interessante terminar a primeira sessão alertando o paciente de que é


preciso ter havido empatia da sua parte, que ele precisa te ser sentido à
vontade para haver intenção de voltar. Se no primeiro contato já se dá
algum desconforto mais sério, é difícil a continuidade. Quando se dá um
bom entendimento mútuo no início, mesmo que depois haja alguma
discordância, ela provavelmente será parte do processo terapêutico, desde
que, é claro, o analista no venha a cometer nenhuma grande tolice
(HEGENBERG, 2010, p. 71).

O psicoterapeuta pode despertar o cliente/paciente com essas e outras


informações, porque ele não é obrigado a conhecê-las e elas o ajudam a se localizar
dentro do novo contexto. Para os psicoterapeutas, as consultas são o fato
corriqueiro do dia a dia, já para o cliente/paciente, aquele momento é inusitado e ele
deve ser esclarecido a respeito de alguns parâmetros que o setting analítico propõe
(HEGENBERG, 2010).
Na transferência a relação psicoterapêutica se expressa de inúmeras
maneiras. Para seguir as associações do cliente/paciente evitando induzi-lo, basta
escutá-lo, não é necessário se esconder dele ou não informá-lo de situações
corriqueiras de um relacionamento que não é o habitual no mundo fora dos
consultórios (HEGENBERG, 2010).

2.1.1.2 Segunda tarefa

Segundo Gilliéron (1998), a segunda entrevista é orientada em função da


impressão deixada pela primeira entrevista.
1) Quando se pensa em uma psicoterapia de curto prazo, tem-se que o
psicoterapeuta deve formular uma hipótese psicodinâmica simples, que resuma
da melhor forma possível a problemática neurótica do cliente/paciente;
2) Segundo o autor, o objetivo dessa segunda entrevista é firmar a referida
hipótese e, se possível, estabelecer as bases do tratamento futuro por meio
de ensaios interpretativos;

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3) Ao formular a sua hipótese, o psicoterapeuta deve – segundo a hipótese
psicanalítica de Gilliéron – basear-se na natureza da relação que o
cliente/paciente procura estabelecer e dar-lhe uma interpretação
psicodinâmica que “explique” a atitude atual do cliente/paciente, ligando-a
com o passado deste último.
Para Hegenberg (2010), é recomendável iniciar qualquer sessão ouvindo o
que o cliente/paciente tem a dizer. Caso haja uma segunda sessão, vale à pena
perguntar como foi a primeira, como o cliente/paciente se sentiu, o que pensou e o
que achou de ter vindo. O interesse dessas perguntas está em avaliar se o paciente
refletiu sobre o que foi dito. Se ele esqueceu tudo, se traz alguma questão, se
discorda ou acrescenta são dados úteis para avaliar o grau de comprometimento
com seus problemas, sua capacidade de insight, etc (HEGENBERG, 2010).
Um dos elementos fundamentais na indicação de psicoterapia é a
possibilidade de o cliente/paciente estar em crise. A segunda tarefa consiste em
estabelecer se há crise, ou não (HEGENBERG, 2010).
Estar angustiado ou com sintomas não significa estar em crise. Segundo
Mofftt (1983), o conceito de crise é um corte na subjetividade do sujeito
(HEGENBERG, 2010).

Exemplificando, o caso de um homem de 45 anos que sempre viveu em um


mundo onde as coisas eram percebidas como permanentes e lineares.
Passou a questionar tudo a partir do momento em que descobriu que sua
esposa o traía há anos. Seu modo de viver confiando nos outros e
acreditando nas pessoas entrou em conflito. Poderia separar-se da esposa
e procurar outra mulher em quem pudesse confiar e manter seu sentido de
vida habitual (voltar ao equilíbrio anterior, ou seja, não entrar em crise), ou
poderia continuar com a esposa e desconfiar dela para sempre (entrar em
crise). O problema não seria separar-se ou não, mas mudar todo seu
mundo, o seu modo de ver as coisas. (HEGENBERG, 2010, p. 72).

Se antes era rígido e confiava que a família e a esposa eram invioláveis,


agora não podia mais sustentar tal posição, a menos que se separasse, o que não
queria porque gostava dela. Poder conviver sem acreditar totalmente, alterar sua
rigidez diante do mundo, aceitar a relatividade das coisas, seria essa a entrada em
crise, em um novo estilo de vida com outros parâmetros e outros sentidos
(HEGENBERG, 2010).

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2.1.1.3 Terceira tarefa

A terceira tarefa é determinar o foco escolhido que está ligado à crise ou a


alguma característica de personalidade ligada ao porquê da consulta. O foco do
trabalho deve ajudar o cliente/paciente a compreender o que se passa e facilitar seu
insight, possibilitando ao cliente/paciente uma reflexão sobre si mesmo, resultando
em melhor entendimento a respeito de seu problema atual (HEGENBERG, 2010).
No caso do cliente/paciente em crise, todo o contexto dessa crise será
analisado. A Psicoterapia Breve com cliente/paciente em crise exige mais tempo de
terapia (em torno de um ano), um indivíduo em condição de atravessá-la e com
demanda para tanto (HEGENBERG, 2010).

Exemplificando, um paciente de 25 anos chegou com queixa de


emagrecimento, insônia, angústia e depressão, por causa da namorada que
o deixou. Esse rapaz sempre tenha sido eficiente, com bom salário,
“poderoso”. A namorada não o queria mais. Além disso, tentou uma cartada
arrojada trocando de emprego e estava arrecadando metade do seu salário
anterior. Seu pedido de terapia era para torná-lo mais eficiente, para poder,
assim, recuperar a namorada. Reconhecia ter sido arrogante e agressivo
com ela, estilo “machão”, sem escutá-la ou levar em conta os anseios dela.
(HEGENBERG, 2010, p. 73).

Esse problema pode ser compreendido como uma questão de limites, de


castração. Ele chega à psicoterapia solicitando mais capacidades para obter
sucesso em sua “missão”. Até poderia retornar ao equilíbrio anterior, em que se
sentia confortável. Neste caso, a Psicoterapia Breve pode estar voltada para a
elaboração desse traço de personalidade, os limites, e em como a questão da
castração envolve seu estilo e está ligada até mesmo à separação da namorada
(HEGENBERG, 2010).
Refletindo o caso, pode acontecer que ele pretenda ir mais fundo, aceitando
repensar seu modo de ser, “entrando em crise”, como pode acontecer que continue
desejando mais eficiência para recuperar a namorada. Em relação ao namoro, a
crise implicaria em poder ouvir a namorada, aceitar que ele nem sempre está certo,
aceitar os desejos dela, enfim, observar e perceber seus limites e lidar melhor com a

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castração. Como sua motivação inicial não era por mudança, e como estava muito
angustiado, podendo até vir a deprimir, além de estar bastante estruturado em seu
modo de ser, a opção por um trabalho inicial de apenas lidar com a questão dos
limites e a repercussão disso na sua relação com a namorada foi mais prudente
(HEGENBERG, 2010).

2.1.1.4 Quarta tarefa

A quarta tarefa é a decisão da continuidade do processo de atendimento.


Pode ser a própria Psicoterapia Breve Dinâmica, ou de apoio, ou longa, ou terminar
com a realização das quatro tarefas (HEGENBERG, 2010).
No caso da indicação, alguns critérios são utilizados: a crise, a possibilidade de
atravessá-la, o foco e a demanda de análise. Baseado nestes itens, é possível propor
ao cliente/paciente a continuidade ou não da psicoterapia (HEGENBERG, 2010).

Concluídas as quatro tarefas, supostamente, o paciente deveria ter melhor


noção do que se passa com ele, já teria discutido seu conflito atual, tanto na
relação com o analista como em suas relações primitivas, já teria
consciência se tem ou não demanda para mudar ou apenas se deseja
retornar ao equilíbrio anterior, se está em crise ou não, por exemplo.
(HEGENBERG, 2010, p. 74).

Após as sessões iniciais, é importante que o cliente/paciente compreenda o


real motivo da consulta, entenda as razões de seus sintomas e decidir se deseja
ou não realmente continuar com aquele psicoterapeuta específico. A empatia
também é um dado relevante para que o processo psicoterapêutico funcione.
(HEGENBERG, 2010).

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2.1.1.5 Limites e possibilidades das quatro tarefas

As quatro tarefas oferecem uma direção. Essa proposta não se encontra em


outros autores, sendo da autoria de Hegenberg (2010). São tarefas a cumprir: a
intervenção inicial (e o estabelecimento da demanda); o reconhecimento da crise
(e o entendimento da biografia e do estilo de vida); o estabelecimento do foco; a
indicação da continuidade. Todo esse procedimento está atravessado pela
importância de se fazer um encontro humano que permita a comunicação
(HEGENBERG, 2010).

O esquema de quatro tarefas sugere rigidez. Por vezes, essa proposição


torna didático o procedimento, mas também o limita. A experiência mostra
que nem sempre é possível cumprir com procedimentos preestabelecidos e
que eles muitas vezes limitam, atrapalhando a singularidade de cada
sessão. O ideal seria poder observar cada sessão como se fosse única e
receber cada paciente sem conceitos prévios. Isso não é possível, porque
sempre temos a teoria e a experiência a nos envolver. O desejável seria
poder afastar o máximo possível de preconceitos para pode escutar e estar
com o cliente da maneira mais singular possível. (HEGENBERG, 2010, p. 74).

Um ponto importante de ser trabalhado é a singularidade. Se ela for


desrespeitada, não haverá comunicação. Mas se o olhar nunca é ingênuo, a
singularidade pode ocorrer a partir de procedimentos, de enquadres. O enquadre da
psicanálise, do plantão, do psicodrama, das quatro tarefas etc. limita e possibilita ao
mesmo tempo. Caberá ao psicoterapeuta desenvolver um olhar e uma escuta,
dentro dos limites e o que possibilita o encontro (HEGENBERG, 2010).
As quatro tarefas têm por escopo oferecer um enquadre inicial propício para
a indicação de Psicoterapia Breve Dinâmica. Percebe-se que o cliente/paciente está
ou não em crise, demonstra o foco, clareia a demanda e faz a indicação. É
procedimento adotado no presente estudo para indicação de Psicoterapia Breve
Dinâmica, mas poderia ser útil também em outros enquadres (HEGENBERG, 2010).

A intervenção inicial, objetivo da primeira tarefa, delineada a partir dos


primeiros movimentos do paciente, de sua fala e da reação emocional do
terapeuta, poderia ser utilizada de uma análise clássica, assim como a
segunda tarefa a discriminação da crise. Provavelmente, as “tarefas” são

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intuitivamente realizadas pelo analista na ocasião das primeiras entrevistas.
A diferença com a Psicoterapia Breve Dinâmica é que as tarefas norteiam
explicitamente o enquadre do(s) primeiro(s) contato(s) com o paciente
(HEGENBERG, 2010, p.75).

Em geral, alguns psicoterapeutas fazem muitas perguntas nas primeiras


entrevistas, outros preferem deixar a sessão transcorrer mais solta e outros têm
alguma noção do que gostariam ou precisariam saber para dar continuidade às
entrevistas (HEGENBERG, 2010).
As quatro tarefas não alteram o vértice psicanalítico, pois continuam
respeitando seus fundamentos com a associação livre, a interpretação
transferencial/contratransferencial, as regras da abstinência e da neutralidade,
ligados a uma teoria psicanalítica, visando à comunicação que ocorre em um
encontro humano (HEGENBERG, 2010).

2.2 CONCEPÇÃO DE OUTROS AUTORES: O INÍCIO E ALTA DA PSICOTERAPIA

2.2.1 O INÍCIO DA PSICOTERAPIA

O começo de uma psicoterapia é bastante único, despertando uma


diversidade de sentimentos e emoções em seus participantes: expectativas, dúvidas,
esperanças, simpatias, rejeição ou rechaço, deseja de ajudar, pena, desesperança,
entre outros. Da sua compreensão e manejo adequados depende, em grande parte,
o sucesso do tratamento. Nesta fase da psicoterapia, paciente e psicoterapeuta
necessitam, antes de tudo, conhecerem-se, adaptarem-se à maneira de ser e ao
estilo pessoal de cada um, ao mesmo tempo em que dão início ao empreendimento
ao qual se propuseram (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O psicoterapeuta traz para a consulta aspectos seus: suas fantasias e
expectativas diante de um novo paciente; sua insegurança diante do
desconhecido; suas dúvidas ou confiança de que será capaz de auxiliá-lo (CEITLIN
& CORDIOLI, 1998).

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Poderá também estar atravessando situações pessoais de vida
eventualmente difíceis ou conflitivas, ter determinados traços de caráter ou
formas de reagir diante de situações novas em função de sua história
pessoal, ou mesmo pontos “cegos” em sua estrutura psicológica, que
podem ou não interferir na forma como irá perceber, compreender e
aceitar o novo paciente e das quais poderá ter maior ou menor
consciência. Entretanto, deve ser capaz de prevê-las e controlá-las para
que não interfiram no trabalho psicoterápico. Deverá ser capaz, sobretudo,
de compreender a situação particular de vida na qual o paciente se
encontra e descobrir a melhor maneira de ajudá-lo, criando um clima de
confiança e de respeito que propicie a revelação de segredos,
sofrimentos, bem como de problemas, por mais íntimos e dolorosos que
sejam. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998, p. 99).

O paciente, normalmente, está enfrentando dificuldades, descrente muitas


vezes de suas próprias capacidades para superar seus problemas, oprimido por
angústias, por percepções distorcidas de si mesmo, das pessoas à sua volta, razões
pelas quais decidiu solicitar ajuda de um psicoterapeuta. Traz consigo, e, portanto,
para a relação, sua história pessoal, suas expectativas, sua maneira particular de
reagir diante de pessoas que se dispõem a ajudá-lo ou que representam figuras de
autoridade. A partir de todas estas possibilidades, uma relação psicoterapêutica com
características próprias passa a se formar, podendo, em função dos seus
desdobramentos, ter influência decisiva no curso e nos resultados da psicoterapia
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

Neste contexto, a fase inicial de qualquer terapia é crítica e fundamental.


Desde cedo, é necessário que se estabeleça uma colaboração ativa entre
paciente e terapeuta por intermédio de um contrato em que ambos tenham
responsabilidades e papéis de alguma forma definidos. O funcionamento da
terapia dependerá do diagnóstico, das condições pessoais do paciente e de
sua aptidão para poder levar adiante o modelo proposto. De qualquer modo,
a tarefa principal do terapeuta nesta fase de adaptação é conhecer ao
máximo o seu paciente e proporcionar as condições para o
desenvolvimento de uma relação de confiança genuína, aumentando,
assim, as chances de um desfecho favorável da terapia. (CEITLIN;
CORDIOLI, 1998 p. 99).

A fase inicial é crucial para a permanência ou não em tratamento. Muitos dos


pacientes que abandonam o fazem nas primeiras sessões (NASH e cols., 1965;
LANGS, 1973; BOSCH, 1980; RYAN, 1985). O vínculo com o terapeuta se
estabelece nas primeiras consultas psicológicas (SALTZMAN e cols., 1976). A
permanência em psicoterapia depende da congruência entre os objetivos do
paciente e os do psicoterapeuta (BOSCH, 1980; FRANCES e cols., 1984; FRANK,
1978), da possibilidade de explicitar um foco (LANGS, 1973 e 1984; SIFNEOS,

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1979), ou de desenvolver uma boa relação com o psicoterapeuta (ALLEN, 1984;
LUBORSKY, 1983 e 1984; MARZIALI, 1981 E 1984).
Outro ponto facilitador é a expectativa realística do paciente quanto ao que a
psicoterapia e o psicoterapeuta podem de fato oferecer. A natureza destas
expectativas varia de acordo com o tipo de problema, o funcionamento pessoal,
experiências em tratamentos anteriores, classe social, nível cultural, informação e
conhecimento prévio sobre o que seja psicoterapia (FRANK, 1978).
A discrepância entre as expectativas quanto ao escopo da psicoterapia e o
desconhecimento quanto ao modo como funciona são dificuldades que surgem
primeiro e que, se não forem trabalhadas desde o começo, podem comprometer o
trabalho de forma irremediável (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

2.2.1.1 Confirmação do diagnóstico, a escolha da psicoterapia e seu escopo

Nem sempre as primeiras sessões são suficientes para esclarecer


detalhadamente em que consistem os problemas do paciente, qual o grau de
comprometimento de sua vida, bem como o quanto ele está disposto a investir em
termos de envolvimento pessoal, investimento de tempo e dinheiro para removê-los
e qual a melhor estratégia de tratamento (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
Muitas vezes, a decisão surge em decorrência de um entusiasmo
passageiro, que deve ser substituído por uma escolha mais consciente e realista,
decisão que deverá ser refeita ao longo da psicoterapia, nos momentos de dúvidas
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
Ou seja, suas expectativas podem ser de várias naturezas: mágicas ou
realísticas, positivas ou negativas, grandiosas ou até quase inexistentes. Nem
sempre o que o paciente espera e pretende com a psicoterapia coincide com as
reais possibilidades do tratamento (BOSCH, 1980).
Para o esclarecimento destes aspectos, é fundamental na fase inicial revisar
mais de uma vez os motivos que determinaram a busca do tratamento, qual(ais)
seu(s) problema(s) básico(s), como e quem encaminhou, o que pretende resolver ou
mudar com a psicoterapia, quais são suas expectativas quanto aos resultados, como

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imagina que ocorrerão as transformações e o que espera do psicoterapeuta
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
São informações essenciais para o começo do trabalho, pois elas permitirão
ao psicoterapeuta avaliar o quanto o paciente é permeável ao estabelecimento de
novos escopos (mais amplos ou mais restritos) e à substituição de sua visão mágica
por uma visão mais realística, mais objetiva do processo de tratamento, e se é capaz
de assumir a responsabilidade pelo trabalho e pelos resultados, renunciando à
fantasia mágico-infantil de ser cuidado e mudado exclusivamente pelos esforços do
psicoterapeuta (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O psicoterapeuta, sem adotar uma postura rígida, estará atento às
modificações de objetivos que possam surgir na evolução da psicoterapia, ou até
mesmo na troca da modalidade terapêutica escolhida no começo, se necessário. A
busca do tratamento pode ter ocorrido por uma situação de crise, subjacente à qual
podem ser identificados problemas de natureza crônica, características de
personalidade, que eventualmente demandariam uma modificação de enfoque. É
muito comum ainda a necessidade de reformular a impressão diagnóstica inicial,
revendo, a opção psicoterapêutica, como, por exemplo, associando farmacologia ou
passando a considerar como opção preferencial a psicoterapia em pacientes que de
início se teve a impressão de serem portadores de transtornos de natureza biológica
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O paciente que inicia o tratamento traz consigo uma “teoria” sobre a
natureza de seus sintomas e problemas que é uma convicção arraigada, envolvendo
mecanismos de defesa como negação, dissociação, racionalização ou outros
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
A psicoterapia implica abandono de tais concepções e sua substituição por
outras que o psicoterapeuta irá propor. Este deverá se preocupar, inicialmente, em
compreender a “teoria” ou as concepções do paciente sobre o seu problema. Para
isto, é fundamental que investigue com atenção suas explicações. A modificação
destas “teorias” pode se iniciar pelo esclarecimento das relações entre o início dos
sintomas e algum evento significativo, estressores ambientais ou conflitos de
natureza interpessoal (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

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Muitos pacientes resistem em admitir a natureza psicológica ou emocional
de seus problemas e mais ainda sua vinculação a conflitos de natureza
inconsciente, insistindo muitas vezes, em atribuir a doenças físicas ou a
fatores orgânicos a origem de suas dificuldades. Tais concepções podem
representar um entrave importante para sua exploração por meios
psicológicos, particularmente nas psicoterapias voltadas ao insigth, devendo
ser trabalhadas já no início, para que paciente e terapeuta tenham um
mínimo de consenso sobre sua natureza, e a maneira como podem ser
resolvidos os problemas. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998, p. 100).

O psicoterapeuta pode ter uma compreensão inicial superficial. A fase inicial


será destinada ainda à ampliação de tal entendimento e das hipóteses quanto à
origem dos problemas, que posteriormente serão testadas no decorrer da
psicoterapia (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
A psicoterapia é um empreendimento conjunto, um trabalho colaborativo,
onde não cabe ao psicoterapeuta a imposição de concepções e de estratégias. Terá
que convencer o paciente, para tê-lo como um aliado. As pesquisas têm
demonstrado que explanações sobre o que ele compreendeu quanto à natureza e à
origem dos sintomas, sobre o racional que embasa a psicoterapia proposta são
essenciais para sua adesão ao que está sendo proposto. As explicações devem ser
claras, em linguagem compreensível, apropriada aos níveis intelectual e cultural do
paciente, mostrando coerência entre a concepção do transtorno e a modalidade de
tratamento escolhida para resolvê-lo (FRANCES, 1984; LANGS, 1973 e 1984).
Erros em fornecer explicações aplicadas ou na forma de expressá-las
podem levar a uma relação fria, confusa ou intelectualizada. É fundamental lembrar
que o psicoterapeuta é também um educador, um pedagogo e, para tanto, deverá
ter uma boa capacidade de comunicação (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
Alguns serviços de psicoterapia estabelecem como rotina, antes do início
propriamente dito, uma ou mais entrevistas prévias com o paciente, nas quais são
detalhadamente explicados os objetivos e funcionamento do tratamento, o papel do
paciente, o que se espera dele, o papel e o comportamento do terapeuta, os
resultados possíveis, além de uma estimativa de tempo e duração. A entrevista
procura adequar às expectativas do paciente ao que de fato irá ocorrer e ajudá-lo a
se conduzir em relação a aspectos como iniciativa e comparecimento regular
(FRANK, 1978). Segundo alguns pesquisadores, os pacientes que realizaram as
entrevistas de esclarecimento saíram-se melhor na terapia, conduzindo-se mais de

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acordo com o que era esperado, obtendo melhores resultados do que aqueles que
não a haviam realizado (FRANK, 1978; LUBORSKY, 1983 e 1984).
Na fase inicial da psicoterapia, uma vez estabelecida a necessidade do
tratamento, escolhida mais apropriada aos sintomas, características pessoais e
condições de vida do paciente, dois aspectos merecem atenção especial do
psicoterapeuta: 1) o contrato; e 2) a formação do vínculo e da aliança terapêutica
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

2.2.1.2 O contrato terapêutico

Uma parte integrante da Psicoterapia Breve é o chamado contrato


terapêutico, que define o que é a psicoterapia, para quem e para que se destina;
quem será envolvido (se o sujeito ou toda a família), em que lugar e com que
frequência irá ocorrer; as responsabilidades dos participantes, além do que é
esperado de cada um. Para que ocorra uma efetiva colaboração, o escopo deve ser
aceitável ao paciente, bem como apropriados a ética e profissionalmente ao
psicoterapeuta (ORLINSKY & HOWARD, 1987).
O contrato deve ser estabelecido de forma explícita no início do tratamento,
mas devem seguir algumas características específicas conforme a indicação de
psicoterapia. O contrato serve ainda como uma essencial referência sob a qual é
possível se identificar eventuais desvios do curso, além de um elemento racional
essencial para o estabelecimento da aliança terapêutica e para adesão ao
tratamento, na medida em que o paciente também dele participa (CEITLIN &
CORDIOLI, 1998).
Muitos pacientes podem levar um tempo prolongado para aprender a
desempenhar seu papel de acordo com a Psicoterapia Breve Dinâmica. Modificar o
paciente, muitas vezes passivo e dependente, num colaborador ativo pode ser
considerada uma transformação essencial no seu estilo de funcionamento, devendo
ser um dos escopos não só do início como ao longo do tratamento (CEITLIN &
CORDIOLI, 1998).

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O psicoterapeuta por meio de explicações e do contrato explícito dá uma
ideia de como deverá se desenrolar a psicoterapia. Porém, é por meio de suas
atitudes nas consultas que transmite uma noção concreta de como o tratamento se
desenvolve. Tais atitudes deverão ser consistentes com o processo básico da
modalidade de psicoterapia escolhida (LANGS, 1984). Logo, na psicoterapia voltada
para o insight, as perguntas que visam à compreensão do conteúdo do paciente,
encorajam a reflexão (LANGS, 1984).
No começo do tratamento, fazendo parte do contrato, há alguns tipos
combinações e arranjos em que são estabelecidas regras relativas ao modo de
funcionamento e organização da psicoterapia (CEITLIN & CORDIOLI, 1998), como:
frequência, horário e duração das sessões; responsabilidade pelas sessões;
possibilidade ou não de sessões extras; faltas, atrasos e mudanças de horários; férias
e interrupções passageiras; impossibilidades de comparecer às sessões
(compromissos pessoais, doença, viagens); uso do telefone e forma de se comunicar
com o psicoterapeuta; duração do tratamento: número de sessões previstas ou sem
prazo para o término; envolvimento de outros membros da família; sigilo; Honorários:
o preço das sessões, ocasião do pagamento, aspectos burocráticos quando existe a
intermediação de convênios (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O escopo da Psicoterapia Breve Dinâmica é aumentar o conhecimento de si
mesmo pela exploração das relações interpessoais do paciente com pessoas
significativas da sua vida presente, do passado e com o psicoterapeuta
(transferência), das percepções de suas motivações, formas de reagir e de se
proteger diante de sentimentos ou de impulsos ao longo de seu desenvolvimento,
bem como do significado consciente ou inconsciente de atitudes repetitivas que são
desadaptativas. Provoca olhar para dentro de si e refletir sobre seus conflitos.
Resistências iniciais são formadas e a ambivalência é um fenômeno sempre
presente no início de uma psicoterapia (STREAN, 1990).
Mesmo que os candidatos à psicoterapia apresentem insatisfações e
sofrimento em suas vidas, o início por um lado pode ter um efeito catártico, por outra
parte é em geral provocador de ansiedade, na medida em que desafia várias
características da estrutura psicológica do paciente. Logo, engajar-se nesta tarefa
pressupõe dar-se conta de que precisa de outra pessoa, indo de encontro a
sentimentos onipotentes, e narcisistas e diminuindo a autoestima, o que pode variar

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em dificuldade entre as diferentes pessoas. Podem surgir medos intensos de se
expor, de ser invadido, com a revelação de sentimentos e fantasias proibidas e a
consequente punição (STREAN, 1990).
Muitos pacientes projetam estes aspectos punitivos no psicoterapeuta, criam
uma expectativa de retaliação e, receosos, evitam a psicoterapia. Assim, a indicação
de psicoterapia aumenta ansiedades quanto a desejos inconscientes, ativa
sentimentos punitivos e mobiliza mecanismos de defesa. Portanto, as indicações de
psicoterapia são muitas vezes adiadas ou totalmente rejeitadas. O entendimento
destes fenômenos e sua interpretação em tempo, por parte do terapeuta, aumenta
as chances de diminuição destas resistências iniciais e, portanto, da permanência do
paciente em psicoterapia (STREAN, 1990).
Para envolver o paciente no trabalho psicoterápico, o psicoterapeuta deverá
dedicar atenção ao desenvolvimento de algumas habilidades especialmente
necessárias ao êxito de psicoterapias destinadas ao insight (EIZIRIK, 1989; LANGS,
1973 e 1984; LUBORSKY, 1976 e 1984). Dentre estas habilidades, destacam-se o
hábito da auto-observação, a capacidade de se comunicar com o terapeuta e a
iniciativa nas sessões (STREAN, 1990).

2.2.1.3 Desenvolvendo o hábito da auto-observação

A psicoterapia é um trabalho que se estende para muito além do momento


da consulta. Exige que o paciente assuma uma postura de auto-observação e de
crítica sobre seus problemas, comportamentos, inibições, pensamentos, emoções
ou sentimentos dos mais variados mesmo fora das sessões. Um dos primeiros
escopos da psicoterapia é fazer com que adote uma nova atitude em relação à sua
vida mental, passando a estabelecer as ligações dentro da cadeia de fatos de sua
vida psíquica. Conforme (CEITLIN & CORDIOLI, 1998):

- Ficar atento aos seus sentimentos e emoções intensas e desagradáveis,


inclusive as que ocorrem durante as consultas e voltadas para a pessoa do
psicoterapeuta. - Identificar as circunstâncias ou indivíduos que as
provocam. - Identificar os pensamentos, fantasias ou lembranças
relacionadas. - Observar atitudes e comportamentos pessoais que lhe
pareçam estranhos ou contraditórios, especialmente se forem repetitivos,

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contrários as próprias convicções e desejos, ou lhe trouxerem algum tipo de
prejuízo, buscando seu significado. - Registrar os sonhos ocorridos nos
intervalos das consultas. - Identificar as situações atuais ou passadas que
desencadeiam tais atitudes ou sentimentos. - Fazer uma espécie de
“registro” mental de todo este material, para explorá-lo junto com o
psicoterapeuta nas próximas sessões. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

2.2.1.4 A comunicação com o terapeuta

Um dos instrumentos essenciais da psicoterapia é a comunicação verbal de


pensamentos, sentimentos e emoções a outra pessoa, no caso o psicoterapeuta. A
possibilidade de colocar em palavras tais fatos da vida mental permite sua
modificação em processos secundários, sujeitos às leis da lógica e mais acessíveis
à compreensão racional, e consequentemente possibilitando sua interpretação, pelo
estabelecimento de significados e relações. Na Psicoterapia Breve Dinâmica, o
paciente é ensinado sobre a importância de se comunicar, da forma mais honesta
possível, sentimentos, emoções, lembranças e ideias associadas que lhe ocorrem
durante as consultas, sem censura e sem fazer uma seleção do que lhe parece mais
ou menos relevante (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
A comunicação verbal é uma habilidade que depende do grau de
inteligência, da cultura e da própria psicopatologia em curso. O psicoterapeuta deve
estar atento aos diferentes estilos de comunicação e de linguagem de cada
paciente, sendo que, em muitas situações, um dos primeiros escopos da
psicoterapia é ajudá-los a desenvolver a capacidade de comunicar-se
“psicologicamente”, como, por exemplo, estimular somatizadores a expressar
diretamente seus sentimentos, ao invés de por intermédio de sintomas físicos,
transformando, com isto, o estilo de comunicação (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O psicoterapeuta deve lembrar-se ainda de que, além da comunicação
verbal, a qual momentaneamente pode estar bloqueada, existem outras formas de
comunicação, também muito ativas, como a expressão fisionômica, o olhar, o
comportamento escopo do paciente, as faltas, os atrasos, a pouca participação, etc.
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
Como regra, a iniciativa, nas consultas de psicoterapia, será do paciente,
que deverá ser esclarecido a este respeito, cabendo ao psicoterapeuta aguardar

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alguns instantes até que ele inicie a fala. O sentido da regra é estimular a
autonomia, fazer com que o paciente se sinta responsável pelo trabalho
psicoterapêutico e facilitar a comunicação, que ficaria prejudicada caso o
psicoterapeuta iniciasse as consultas introduzindo assuntos com os quais o mesmo
estivesse preocupado (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).

2.2.2 Alta em psicoterapia

O termo “alta” em psicoterapia não é encontrado quando se faz uma


pesquisa na literatura internacional. A expressão sob a qual é possível acessar a
bibliografia sobre o tema é termination phase. Muitos livros de técnica psicoterápica
usam término ou fase de terminação para a fase final do tratamento, mesmo que
outros empreguem alta do tratamento (MALAN, 1981).
O termo “alta” é uma referência mais específica ao ato final do atendimento,
enquanto fase de terminação ou término dão noção de um processo de
desligamento (MALAN, 1981).
“Alta”, de acordo com a definição do “Dicionário Médico” (FORTES &
PACHECO, 1968), é uma expressão que traz em si uma ideia de resultado
favorável. Na prática psicoterápica nem sempre os finais de tratamento implicam
êxito. O término pode acontecer tanto em psicoterapias bem-sucedidas como
naquelas que não o foram (DEWALD, 1972).

O término “pode ser opção do paciente, do terapeuta ou de ambos, mas


pode ser também forçado por situações externas da vida do terapeuta ou do
paciente” (p. 351). Tratamentos malsucedidos, segundo este autor,
terminariam por iniciativa do paciente (por uma apreciação realística do que
ocorre, quando então o assunto seria trazido para ser examinado com o
terapeuta, ou por fatores transferenciais presentes na relação terapêutica,
podendo levar a finalizações impulsivas e súbitas), por iniciativa do
terapeuta (por fatores contratransferenciais impeditivos ou por considerar o
progresso estacionado, entre outros) ou devido a razões externas
(deslocamento geográfico de terapeuta ou paciente, enfermidade física
prolongada de um dos membros do par ou dificuldades financeiras, por
exemplo) (DEWALD, 1972, p. 352).

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2.2.2.1 A fase final da psicoterapia

De acordo com Dewald (1972), a fase de terminação de uma psicoterapia


faz parte de um todo, que é o processo psicoterápico, e estará determinada pelas
características deste processo. É fato estabelecido, por exemplo, que a fase final é
momento de intensas vivências transferenciais e contratransferenciais. Estas serão
interpretadas de forma mais direta em psicoterapias que tenham utilizado mais
frequentemente este recurso. Também a resposta do paciente à alta pode estar
determinada pelo tipo de trabalho psicoterápico realizado até então. Em forma de
psicoterapia, da mais compreensiva à mais sugestiva, porém, a terminação tem
características específicas, que exigem abordagem específica. Nas palavras de
Dewald (1972, p. 305), “quando se propõe o tema da terminação no transcurso de
uma relação terapêutica satisfatória, sua importância e as táticas de manejo desta
fase dependem de toda estratégia terapêutica”.
Zimmermann (1980), em trabalho apresentado no II Simpósio Interno de
Psicoterapia do Centro de Estudos Luís Guedes (1977), cujo tema central foi
“Terminação em Psicoterapia Dinâmica”, afirma que “os procedimentos técnicos na
terminação de psicoterapia dinâmica são de máxima importância para a estabilidade
dos resultados obtidos” (ZIMMERMANN, 1980, p. 52).
Thomä e Kächele (1985) afirmam ser a terminação do tratamento um
processo diádico que cria problemas específicos para ambos os participantes.
Destacam ter Freud introduzido a limitação do tratamento como “uma medida técnica
contra a paralisação” no caso do Homem dos Lobos (marcou uma data para o
término da análise, independentemente dos resultados). Salientam que Ferenczi e
Rank levaram adiante esta ideia, chegando a considerar a terminação uma das
fases mais importantes de todo o tratamento (p. 321-322). Ferenczi reformulou, mais
tarde, sua posição sobre a eficácia de manter uma data para o término do
tratamento, mas manteve sua noção da importância desta decisão. As psicoterapias
breves utilizam o critério duração do tratamento e determinação de uma data para
alta desde o início como um de seus critérios estruturais.

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Vários autores (DEWALD, 1972; ZIMMERMANN, 1980; PINTO MACHADO,
1989) fazem referência à escassa literatura sobre a terminação da psicoterapia.
Uma pesquisa bibliográfica recente revelou muito trabalhos sobre problemas com o
término: interrupções (FRAYN, 1992), repercussões do abandono de um dos
membros nas psicoterapias de grupo (SCHERMER & KLEIN, 1996), terapias de
grupo de tempo limitado (MACKENZIIE, 1996), trabalhos dirigidos à terminação em
psicoterapias de crianças (FABRICIUS & GREEN, 1995). Alguns comentários (cartas
de diversos autores) discutem o contato sexual entre paciente e terapeuta depois do
término do tratamento (PINCUS, 1992), o que destaca a intensidade e, portanto, os
riscos da relação que se estabelece entre terapeuta e paciente.
Etchegoyen (1987, p. 365) sugere uma aproximação do problema do
término em psicanálise a partir de três vértices: teórico, clínico e técnico. No vértice
teórico, seria examinado como se entende o final da análise, a que pressupostos
teóricos nos reportamos para determinar que foi atingido um melhor nível de
funcionamento pelo paciente (“o problema sempre difícil de resolver sobre a saúde
mental de um indivíduo”, nas palavras deste autor, p. 365). No vértice clínico, os
indicadores de alta. No vértice técnico, os métodos de trabalho de alta, o “como e
quando” do término.
A decisão de dar por terminado um trabalho psicoterápico parte de uma
concepção das dificuldades do paciente e da natureza e objetivos do tratamento
empreendido. Tal concepção se baseia em conceitos teóricos, resultantes da
formação profissional do psicoterapeuta, em conceitos de melhora e de cura que
derivam de uma noção de saúde/enfermidade que será distinta nas diferentes
escolas de pensamento. Estas diferenças não são tão marcadas quanto examinadas
à luz dos aspectos práticos do trabalho, como destaca Gus (1989, p. 391).

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2.2.2.2 A decisão da alta

Quando se recebe um paciente para psicoterapia, é necessário fazer uma


cuidadosa avaliação, que permite uma compreensão do problema que o traz, assim
como de seus recursos e motivação para o tratamento. A importância desta
avaliação inicial evidencia-se no momento de decidir a alta, pois é a partir do
conhecimento dos motivos da indicação que se pode avaliar os resultados
alcançados. Muitas vezes, ao longo de um tratamento psicoterápico bem conduzido,
o paciente sente que pode terminá-lo e deseja mesmo fazê-lo. Aqui aparece uma
característica específica da terminação de tratamento: é um momento em que a
posição do psicoterapeuta é determinante. Ao longo da psicoterapia certamente
houve decisões que o paciente precisou ou quis tomar e nas quais o psicoterapeuta
cumpriu sua função auxiliando-o a entender as possíveis motivações inconscientes
envolvidas, sem que sua posição pessoal influísse. Isto é o que se espera que
aconteça, se acreditamos que a psicoterapia deve capacitar o paciente a usar o
conhecimento de si mesmo, de seus desejos e recursos para que faça suas próprias
escolhas (DEWALD, 1972).
Na determinação da alta finaliza um ciclo,

(...) o ciclo que se iniciou pela avaliação do paciente que nos procurou para
tratamento. Avaliação esta que foi sendo enriquecida e precisada ao longo
da psicoterapia, e que, agora, será o ponto de referência para as
considerações de melhora e aproveitamento que indicam a possibilidade de
dar por terminado o trabalho. (DEWALD, 1972, p. 353).

A alta é determinada pela clínica, segundo Etchegoyen (1987), que chama a


atenção para um aspecto: o “diagnóstico do término” (1987, p. 373) deve ser feito
com base em indicadores clínicos, que considera “concretos” (1987, p. 373), mas
que só terão valor “se forem recolhidos do material do paciente espontânea e
indiretamente” (1987, p. 376).
Para Etchegoyen (1987, p. 382), a iniciativa deve sempre partir do paciente,
posição diferente de outros autores, como Pinto Machado (1989), que diz iniciar a
fase de finalização com a colocação da questão do término, “cuja iniciativa pode

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corresponder tanto ao psicoterapeuta como ao paciente, de preferência a este
último” (p. 402). Nas psicoterapias breves, em que a data da alta é marcada desde o
início, esta iniciativa fica a cargo do psicoterapeuta. Ainda que não se compartilhe
totalmente da posição de Etchegoyen (1987), no que diz respeito a quem deveria
introduzir o tema do término, sua advertência de que os indicadores de final de
tratamento devem ser espontâneos é coerente com a ideia de que o psicoterapeuta
deve estar constantemente alerta, seguindo aquele processo de avaliação de seu
paciente (e da psicoterapia) que iniciou na primeira consulta.
Nesta linha, Etchegoyen (1987) diz que ao psicoterapeuta cabe, no máximo,
interpretar o paciente quanto ao material referente ao término que apareça sem ser
explicitado (p. 382). E pode-se pensar que, até para decidir pela aplicação de algum
instrumento, o psicoterapeuta é guiado por um julgamento do que ocorre no
tratamento, mesmo considerando possíveis prazos de aplicação. O que se pretende
destacar, aqui, é que, em todos os tipos de psicoterapia, o psicoterapeuta faz uso de
indicadores para a decisão da alta.

2.3 A TEMPORALIDADE E A FOCALIZAÇÃO

2.3.1 Temporalidade

Na física do século XIX, Isaac Newton elaborou um modelo teórico em que o


espaço e o tempo eram encarados como realidades separadas e independentes.
Coube a Albert Einstein mostrar, no início do século XX, com sua teoria da
Relatividade, que ambos os conceitos formam uma unidade integrada, não existindo
realmente separação entre tempo e espaço, mas, sim, um continuum entre um e
outro, formando o que a Física Moderna chama de Quarta Dimensão ou Dimensão
Espaço-Tempo (PESSOA, 2003).
Na psicoterapia, no que se refere à organização do enquadre psicoterápico,
tempo e espaço – como na Física Moderna – são relativos um ao outro, e não

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devem ser dissociados, ainda que alguns aspectos digam mais respeito à dimensão
temporal e outros à dimensão espacial (PESSOA, 2003).
A primeira observação é sobre a relação dialética não linear que pode existir
entre o que pode ser chamado de “tempo cronológico” (do relógio) e “tempo
subjetivo”. Indaga-se: “Qual é o significado psicológico de uma limitação da duração,
e qual é o efeito da ausência de limite?” Estudos clínicos comparativos (GILLIÉRON,
1986) demonstram que as psicoterapias cuja duração é limitada logo de início são
levadas a termo com muito mais frequência do que as psicoterapias de duração não
limitada. Esse fenômeno é constante, qualquer que seja a natureza da psicoterapia
(PESSOA, 2003).
Reconhece-se que as transformações psíquicas podem ocorrer num tempo
relativamente curto, contrariamente ao que havia afirmado o pai da psicanálise e ao
que as gerações seguintes contentaram-se muitas vezes em repetir sem questionar.
Freud mobilizou seus esforços para uma leitura pulsional da psique no paradigma
teórico de sua metapsicologia, salientando quase exclusivamente a dimensão
intrapsíquica, em detrimento de a realidade vincular intersubjetiva. Durante muito
tempo a psicanálise se viu sem instrumentos teóricos que lhe permitissem levar em
conta a influência da disposição do enquadre psicoterápico ou do campo analítico
sobre o processo. Esta “cegueira” epistemológica tem estado por muito tempo
presente no meio clínico, mas os avanços da área estão delineando um novo estado
de situação (PESSOA, 2003).
A observação da atemporalidade e da lentidão dos processos inconscientes
não tem mais servido de pretexto para negar os resultados das psicoterapias breves
(PESSOA, 2003).
Limitar a duração de um tratamento comumente desperta mais medo no
terapeuta do que no paciente, que argumenta sentir temor de realizar um
“tratamento incompleto” (PESSOA, 2003). Segundo Gilliéron (1986), isso traduz o
medo de não ter tempo suficiente para se chegar ao “fim das dificuldades do
paciente” – medo sustentado pela ilusão narcísica de aspirar certa “perfeição” ao
final do tratamento, fator contratransferencial passível de também prolongar
inutilmente até mesmo os tratamentos analíticos clássicos (GILIÉRON, 1986, apud
PESSOA, 2003).

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Um estudo comparativo da literatura especializada demonstra que os
diferentes autores e pesquisadores da área, segundo seus referenciais
teóricos, adotam planejamentos de processos psicoterápicos que duram no
mínimo três meses e no máximo um ano. Entre esse mínimo e máximo,
constatam-se diversas variações, como: (1º) o método de trabalho técnico e
humano do terapeuta, em conjunto com (2º) os objetivos traçados a serem
alcançados são variáveis necessárias para definirem o “tempo ótimo” de um
processo de psicoterapia breve dinâmica. (PESSOA, 2003, p.38).

A diferença entre um e outro não é o de que a psicoterapia clássica


determina resultados mais “profundos”, enquanto a psicoterapia breve objetiva
resultados mais “superficiais”, como supõe alguns autores. Não existem trabalhos
“superficiais” na clínica psicológica se percebermos que o objeto de intervenção é a
complexidade da psique, sendo isso válido inclusive para processos breves
(PESSOA, 2003).

2.3.1 Focalização

Lemgruber (1984) detalha todas as técnicas da focalização, na teoria


psicanalítica, como:
1) motivo da entrevista – é o que costumamos chamar de motivo manifesto
da entrevista, ou o motivo que traz o paciente à consulta;
2) situação-problema – são situações expressadas que circulam o motivo
manifesto.S situa também o registro daquilo que é manifesto, explícito;
3) hipótese psicodinâmica inicial – é uma tentativa de entendimento inicial
da psicopatologia e da psicodinâmica do cliente/paciente, baseada na
concepção teórica e prática do psicoterapeuta;
4) conflito focal – corresponde à delimitação dos aspectos centrais, ainda
que parciais, desta hipótese mais completa, por meio da delimitação do foco.
Pode ser representada como a hipótese psicodinâmica inicial como um
conjunto maior no qual estivesse inserido um subconjunto menor
representando o foco ou conflito focal. Na teoria psicanalítica, o foco se situa
na ordem daquilo que é latente ou implícito;
5) conflito primário – é o conflito primário infantil. Em Psicoterapia Breve
Dinâmica, procura-se trabalhar com alguns derivados do conflito primário,

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sendo que a escolha dos conflitos derivados deva recair sobre os que
prevalecerem por sua urgência ou importância;
6) ponto de urgência – pode ser intrafocal ou extrafocal. a) intrafocal –
refere-se a uma situação que requer atenção especial, e que está vinculada
ao conflito focal. b) extrafocal – é uma situação urgente e/ou traumática que
por circunstâncias atuais passa a predominar naquele momento da vida do
cliente/paciente, mas que não está necessariamente ligada ao conflito focal.
Para dar um exemplo da aplicação desses conceitos em um caso clínico,
vamos supor um caso de uma cliente/paciente que aparece no consultório com
queixa de dificuldades de relacionamentos interpessoais no trabalho, especialmente
com sua chefe, e com a maioria das pessoas, não conseguindo formar amigos, e
também um parceiro afetivo. O motivo da consulta são as dificuldades
interpessoais. Tudo o que a cliente/paciente relatar que está diretamente
relacionado a essa queixa é a situação-problema. Assim, a cliente/paciente pode
comentar que ninguém quer namorá-la, que ela se sente pouco valorizada, que a
sua chefe é um carrasco, que todo mundo faz fofocas dela, etc. Tudo isso é a
situação-problema ligada à queixa manifesta.
Para Hegenberg (2010), a escolha do foco é questão controversa, pois os
autores preferem diferentes focalizações. Percebe-se que qualquer proposta de
focalização é arbitrária e artificial, apenas refletindo a opção teórica do
psicoterapeuta. Em todo caso, a demanda do cliente/paciente deve estar
contemplada no foco, assim como seu sintoma, suas características de
personalidade, sua crise e algum tipo de explicação psicológica.
Diante da dificuldade de escolha, uma alternativa possível seria não escolher
um foco e deixar que o processo da Psicoterapia Breve Dinâmica conduza as
sessões ao sabor do encontro que ocorre na prática da psicoterapia que se dá na
relação psicoterapeuta-cliente (HEGENBERG, 2010).
Entende-se que o foco é necessário para haver um acordo entre
cliente/paciente e psicoterapeuta sobre o que seria fundamental trabalhar naquele
momento. Para o autor, é uma forma de o psicoterapeuta compreender o problema
atual, que está ciente da razão pela procura da psicoterapia (HEGENBERG, 2010).
Ao estabelecerem acordos em relação ao foco, psicoterapeuta e cliente
estarão concordando com o motivo principal da entrevista e com a questão a ser

59
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63
contemplada na psicoterapia. É uma forma de acordo, um plano inicial de trabalho,
que pode ou não ser seguido, pois as condições do processo podem, ou não, se
transformar (HEGENBERG, 2010).
No fundo, não sabemos o final que terá o processo. O compromisso do
psicoterapeuta na Psicoterapia Breve Dinâmica defendida neste trabalho não é com
a eliminação do sintoma. Logo, ao proporcionar uma autorreflexão por parte do
cliente, ao procurar o esclarecimento da demanda e propiciar uma vivência de
encontro humano nas sessões, transforma-se o olhar que esse paciente terá em
relação a si e ao mundo (HEGENBERG, 2010).

O foco é a “hipótese psicodinâmica de base”. O problema é que essa


“hipótese” diz nada, porque é muito abrangente. A lógica nos ensina que
uma “teoria que explica tudo, explica nada”. A questão permanece
complicada, porque, no fundo, é isso mesmo, o foco também é a hipótese
de base, porque ela está presente em qualquer compreensão de um
paciente. (HEGENBERG, 2010, p. 34).

Alguns autores de Psicoterapia Breve Dinâmica, como Sifneos (1989), por


exemplo, consideram que a indicação de Psicoterapia Breve Dinâmica se dá
somente quando o foco é edípico. Não que as situações edípicas não estejam
presentes para o sujeito, porém, dependendo do ponto de vista teórico adotado, a
queixa não gira em torno dessa questão, para a maioria dos clientes/pacientes.
Colocar como foco o conflito edípico, como faz Sifneos, dá a noção de evolução
libidinal, em que somente os clientes/pacientes mais “evoluídos”, ou seja, os
neuróticos, poderiam se beneficiar de uma Psicoterapia Breve Dinâmica.
O foco é muito importante na Psicoterapia Breve Dinâmica, pois ele
estabelece acordos, circunscreve os assuntos a serem abordados, dá um sentido
para o prazo estabelecido. O foco está ligado ao motivo da entrevista, demonstra o
interesse do cliente/paciente no sentido de vislumbrar a possibilidade de algum
entendimento da angústia ou o problema que o levou à psicoterapia, além de fazê-lo
sentir-se acompanhado pelo seu psicoterapeuta (HEGENBERG, 2010).

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64
2.3.1.1 A escolha do foco

A escolha do foco depende das preferências teóricas e experienciais de


cada um. O foco pode ser o sintoma, as defesas, a pulsão, a relação objetal, um
traço de caráter, um conflito ou uma hipótese psicodinâmica de base
(HEGENBERG, 2010).

Gilliéron (1998) escreve que “o paciente se apoia na relação com o


terapeuta para manter seu equilíbrio psíquico”. O que significa que o
paciente centra espontaneamente a psicoterapia na problemática que o
levou à primeira consulta (motivações da consulta) e, como essas
motivações estão sempre relacionadas com a organização da sua
personalidade, podemos afirmar que a focalização incidirá sempre no
ponto fragilizado da personalidade do sujeito. É esta problemática que o
paciente “encena na sua relação com o psicoterapeuta” (HEGENBERG,
2010, p.138).

Ao enfatizar que o cliente/paciente centra espontaneamente na


problemática que o levou à primeira entrevista, Gilliéron (1998) demonstra que não
é necessária a focalização ativa por parte do psicoterapeuta. “O cliente/paciente
expressa seu problema, que será o foco do trabalho, o ponto fragilizado da
personalidade do indivíduo”.
O cliente/paciente traz a questão que o angustia para a sessão e repete,
com o psicoterapeuta, suas angústias. Daí, Gilliéron (1998) acredita que não é
necessário focalizar, porque o cliente/paciente já o faz.

O paciente, a partir do tempo limitado de terapia instituído desde o início,


tende a falar sobre o que o aflige. Focalizando sempre na angústia ligada ao
motivo da consulta, que será mais bem compreendida a partir da análise
das características de personalidade. O reparo é quando a acreditar que
esse movimento seja natural, quando, de fato, é apenas uma das
possibilidades de escuta (HEGENBERG, 2010, p. 35).

O foco incide nas características da personalidade ligadas ao motivo da


entrevista, percebendo se o cliente/paciente está ou não em crise. Ao refletir nas
características de personalidade, é permitido trabalhar com questões diversas, como
se fosse uma sessão de análise (HEGENBERG, 2010).

61
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Alguns autores, como Sifneos (1989), circunscrevem-se ao foco, que é
seguido fielmente na sessão. Quando a discussão de assuntos fora do foco passa a
ser considerada escape de função de uma Psicoterapia Breve Dinâmica, o manejo
das sessões se simplifica, embora, nesse caso, o desejo do paciente, ou o paciente
ele mesmo, possa deixar de ser contemplado.
Na concepção de Psicoterapia Breve Dinâmica por mim aqui defendida, o
terapeuta não precisa aplicar uma técnica ativa, na qual tenha de abandonar a
neutralidade, em que tenha de realizar uma “atenção ou negligência seletivas” do
assunto trazido pelo paciente, continuando a utilizar-se do vértice psicanalítico
(HEGENBERG, 2010).
Trato o foco, na Psicoterapia Breve Dinâmica, da mesma forma como se
trataria, em uma análise comum, a questão das férias, ou de eventual falta do
paciente ou do analista em sessão anterior, ou do esquecimento do pagamento, por
exemplo. Se o analista, nesses casos, estiver com tais temas (“focos temporários”)
na memória e só conseguir ter olhos para eles, ele (cometendo um erro técnico)
escolherá tais temas, não se importando com o que esteja dizendo o paciente; sua
escuta estará pervertida pela sua intenção de falar destes assuntos. O foco deverá
permanecer presente (tal como a falta do paciente na sessão anterior, no exemplo
acima), pois o terapeuta sabe que ele existe, mas deverá aparecer na interpretação
apenas na hora (“timing”) adequada. O terapeuta permanece no estado de atenção
flutuante, sem se ater ativamente ao foco (HEGENBERG, 2010).
Isto é possível a partir da colocação do limite de tempo, modificador da
relação entre terapeuta e paciente. Os dois, estando submetidos à pressão do
tempo, a ela responderão, com a perspicácia aumentada por parte do analista e o
desejo de ir rapidamente ao fundo, por parte do paciente (HEGENBERG, 2010).

2.3.1.2 Foco e profundidade

Na Psicoterapia Breve Dinâmica, será aprofundado o foco ressaltado,


porém, outros aspectos da relação, que apenas o tempo poderá revelar, não serão
trabalhados. A Psicoterapia Breve Dinâmica é mais limitada do que o tratamento-

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padrão da psicanálise, o que não implica que não tenha a sua indicação apropriada
(HEGENBERG, 2010).
Como já havia falado anteriormente, critica-se a Psicoterapia Breve
Dinâmica porque ela não seria tão “profunda quanto uma psicoterapia de longa
duração”. Mas o que seria profundo? (HEGENBERG, 2010). O bom senso indica
que uma psicoterapia com muitos anos de duração “deve” ser mais profunda do que
uma psicoterapia breve, fica implícito que a Psicoterapia Breve Dinâmica pode ser
mais superficial, com resultados mais modestos. Essa ideia se baseia pela
dificuldade de avaliação e comparação de resultados, ou seja, é um mau parâmetro
para iniciar uma discussão profícua (HEGENBERG, 2010).

Há diferentes maneiras de compreender profundidade. Pode-se, por


exemplo, considerar a sequencia das fases libidinais: oral, anal, fálica e
genital, sendo a fase oral mais profunda porque é mais primitiva. Pré-
edípico seria mais profundo que edípico, relações primitivas com os pais
seriam mais profundas que relações atuais, falar do passado seria mais
profundo que discorrer sobre assuntos da atualidade. Nesse sentido, quanto
mais precoce, mais profundo. (HEGENBERG, 2010, p. 36).

Há quem considere que as manifestações do inconsciente seriam mais


profundas que um discurso articulado. A remodelação do sistema defensivo seria
menos profunda que um insight (HEGENBERG, 2010).

Aprofunda-se uma questão quando ela é analisada por diferentes ângulos


ao longo do tempo, o que tende a facilitar sua compreensão e insight. A
asserção é cabível, mas seria possível afirmar que alterações, de qualquer
ordem, só possam ocorrer depois de um longo percurso de análise? Há
lógica em acreditar que apenas um tempo longo promova alterações
profundas e significativas? Por que certas mudanças não podem ocorrer,
dadas circunstâncias especificas, em apenas uma sessão, ou após alguns
meses de psicoterapia, ou até em função de um acontecimento ímpar na
vida de uma pessoa? Será que a elaboração e a perlaboração terminam
quando a psicoterapia acaba? Por que alguns analistas não acreditam que
seus pacientes serão capazes de continuar sozinhos o trabalho que se
inicia dentro do consultório? (HEGENBERG, 2010, p. 36).

Na Psicoterapia Breve Dinâmica, as questões são trabalhadas em


profundidade e têm um foco; é trabalhado o passado do indivíduo suas relações
primitivas, ocorrendo os insights, interpretam-se atos falhos e sonhos, o foco pode
ser pré-edípico, algumas questões são elaboradas de diversas formas ao longo das
sessões, da mesma forma como ocorreria em uma psicoterapia longa
(HEGENBERG, 2010).

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MÓDULO III

3 ESTUDOS DE CASO

A ideia deste módulo é citar alguns exemplos de estudos de casos sobre a


aplicação da Psicoterapia Breve Dinâmica na infância, adolescência e psicóticos.
Para ampliar o seu conhecimento e aprofundamento da psicoterapia, é fundamental
saber como funciona a aplicação da teoria na prática.

3.1 INTERVENÇÕES BREVES E FOCAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

3.1.1 Introdução

Nas últimas décadas, ocorreram importantes progressos destinados a


conceituar e entender o desenvolvimento dos indivíduos e seus desvios. Autores
como Spitz, Ende, Mahler, Winnicott, Bowlby e mais recentemente Mazet, Cramer,
Stern e Palacio Espasa abriram notáveis perspectivas terapêuticas no atendimento
de crianças e adolescentes.
Estudos recentes demonstram que o bebê já nasce com capacidades
biológicas, cognitivas, emocionais e sociais que funcionam de forma integrada e que
regulam o seu comportamento na interação com o meio ambiente (ZEANAH, 1997).
A preocupação com a psicopatologia do desenvolvimento tem crescido e a
busca dos fatores que possam prognosticá-la tem levado a identificar mecanismos
psicossociais e biológicos implicados neste processo.
Os fatores de risco para desenvolver anormalidades nas diversas etapas
do desenvolvimento da criança são caracterizados em três níveis: o biológico,
sendo os aspectos mais relevantes, a prematuridade, a presença de doenças
físicas severas e o temperamento do bebê; a função parental, na qual se apresenta

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a capacidade de formação do vínculo cuidador (pais-bebê); e a presença de
psicopatologia nos pais. Dentre as características sociais e familiares, observa-se a
qualidade da interação marital, a pobreza, a maternidade na adolescência e a
violência familiar (ZEANAH, 1997).
Apontando os fatores de risco, é imprescindível intervir precocemente, para
prevenir transtornos ao longo do desenvolvimento.
Considerando a complexidade dos muitos fatores responsáveis pela saúde
mental do indivíduo, assim como o fato de que muitos dos transtornos psicológicos
da vida adulta se apoiam em vivências infantis, torna-se fundamental a psiquiatria
infantil, constituindo-se em uma especialidade extremamente difícil e de grande
responsabilidade (KNOBEL, 1997).
Segundo Zeanah (1997), raramente a psicoterapia psicodinâmica
individual pura e isoladamente é indicada para crianças, a não ser nos casos em
que existe a certeza de que o problema da criança é interno e restrito às
chamadas neuroses infantis.
Resultantes provavelmente de questionamentos de como a criança fica
doente e de como surgem os sintomas, os psiquiatras de crianças e adolescentes
estão vivenciando grandes mudanças com o surgimento de uma multiplicidade de
técnicas psicoterápicas (terapia comportamental, cognitiva, de grupo, familiar,
sistêmica, etc.). A análise da sintomatologia na infância, ao longo do
desenvolvimento, nos adverte que o tratamento deve ser considerado apenas em
crianças ou adolescentes que estão estagnados no seu desenvolvimento e que
apresentam sofrimento (ZEANAH, 1997).
Esse entendimento elucida a formação do sintoma como parte do processo
maturacional do indivíduo (SHAPIRO, 1992).
Estudos consideráveis acerca do desenvolvimento aconteceram nos últimos
25 anos, pela observação pais-crianças; teorias de relação do objeto e do vínculo; a
autoestima correlacionada à psicologia do ego e sua visão da interação humana
produzindo influência na estrutura psíquica. Estes modelos influenciaram muito o
trabalho terapêutico, com elevado interesse pela determinação biológica do
temperamento e a interação com os cuidados (SHAPIRO, 1992).
Estudos recentes mostraram que a maioria dos pacientes, incluindo
crianças, permanece em tratamento por aproximadamente seis meses

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72
(GARFUNKEL, 1990). Logo, os profissionais devem antecipar e planejar tratamentos
mais breves que possibilitem um bom grau de efetividade.
O presente módulo se propõe a oferecer, por meio de relatos de casos
clínicos, uma visão concisa de algumas intervenções que podem fazer parte do
cotidiano da clínica de psiquiatras de crianças e adolescentes, considerando a
compreensão psicodinâmica.

3.1.2 Consultas terapêuticas

Winnicott foi o primeiro a utilizar este termo (La consultation thérapeutique et


l’ enfant, 1988). A consulta terapêutica envolve a observação da interação mãe,
bebê ou criança e outros membros da família, especialmente o pai.
Durante a consulta, é permitido aos pais falarem de si próprios, de suas
famílias, seu passado e da repetição de suas condutas. Permite o surgimento das
fantasias projetadas pelos pais sobre o paciente. O psicoterapeuta, com auxílio da
família, procura entender as motivações conscientes e inconscientes de determinado
comportamento ou atitude (WINNICOTT, 1988).
Cada vez mais, em nossos dias, as crianças se esforçam por corresponder
a padrões de um ambiente exigente tanto dentro da família como na sociedade.
Desta forma, passam por períodos transitórios, ao longo de seu desenvolvimento,
nos quais surgem ansiedades, que se manifestam por meio de comportamentos
“discrepantes” e desadaptados. Muitos pais ficam assustados com estes
comportamentos e podem senti-los como sinal de fracasso, e pelas dificuldades de
seus filhos poderem evocar questões não resolvidas de seu próprio passado
(WINNICOTT, 1988).
Algumas manifestações são comuns nas diferentes faixas etárias
(WINNICOTT, 1988):
 No primeiro ano de vida – cólica, choro, regurgitação após refeições,
chupar dedo, evacuações difíceis, acordar à noite e recusa alimentar.
 No segundo ano de vida – recusa alimentar, ataques de raiva, acessos
em que prende a respiração, retenção das fezes.

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73
 Do quarto ao sexto anos – dores de cabeça e de barriga, tiques,
masturbação, mentiras, roubos, medos, pesadelos e enurese.
 Primeiros anos escolares – reação excessiva a doenças e ferimentos, uso
da doença como substituta para medos da escola, prisão de ventre, urinar
ocasionalmente na cama durante uma doença ou hospitalização, dores de
cabeça e de estômago.
 Adolescência – falta de apetite ou anorexia, alimentação excessiva, início
tardio da menstruação, preocupação com a imagem do corpo, associada a
desenvolvimento prematuro ou tardio (BRAZELTON, 1990).
Nas crianças com bom rendimento em outras áreas de sua vida e que até
então não apresentaram motivos para preocupação, pode-se aguardar que o
sintoma desapareça espontaneamente na fase seguinte do desenvolvimento; já
aquelas que se encontram incapazes de resolver as tarefas pertinentes a sua faixa
etária, bem como a adaptarem-se a novas situações, orienta-se os pais, a princípio,
no sentido de amenizar as pressões na vida da criança e contribuir para incrementar
os recursos pessoais da mesma com o objetivo de vencer as dificuldades. É
importante também procurar, além dos sintomas, os conflitos subjacentes, tarefa
árdua e difícil para os pais, pois será necessário que eles se defrontem não somente
com os problemas de seus filhos, mas com os seus próprios (BRAZELTON, 1990).
Em muitos casos, acolher as ansiedades dos pais e orientá-los quanto aos
entraves esperados para a idade em que se encontra a criança é suficiente para
que eles próprios ajudem seus filhos em suas dificuldades atuais, podendo
compreendê-los e aceitá-los; em outros, é necessária a intervenção do psiquiatra
junto à criança e à família, esclarecendo a etiologia e entendendo o funcionamento
das manifestações (BRAZELTON, 1990).
O psicoterapeuta precisa, em alguns momentos, identificar-se com os
diversos membros da interação e se distanciar destas identificações, interpretando e
intervindo, para que os pais modifiquem suas projeções e fantasias sobre o filho e
renunciem à demanda narcisista que eles impõem sobre o paciente. Muitas vezes, a
sucessão de gerações e a relação dos pais com seus próprios pais podem envolver
a criança em “fantasmas familiares” (SELMA FRAIBERG), fazendo com que passe a
ser visto com uma lente distorcida (BRAZELTON, 1990).

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74
Em casos mais difíceis, nos quais as projeções sobre a criança são maciças
ou pelas próprias condições íntimas da mesma, deve-se lançar mão de outras
abordagens terapêuticas (BRAZELTON, 1990).
É fundamental salientar que, em certo número de casos, a intervenção
terapêutica pode se limitar a um pequeno número de consultas, algumas vezes
mesmo apenas uma. Este tipo de intervenção é bastante útil quando nos deparamos
com famílias relativamente saudáveis com história de um funcionamento adaptado
no passado e que estão enfrentando crises vitais ou acidentais, que estão
perturbando a homeostase do sistema. Tais crises consistem usualmente em
situações novas que o indivíduo ou grupo familiar é incapaz de enfrentar de forma
adequada e suficientemente rápida com seus próprios recursos e mecanismos de
defesa (BRAZELTON, 1990).
Os problemas, muitas vezes, são graves e inevitáveis, como a morte de
alguém importante, a eclosão de uma doença, acidentes, mudança ou perda de
emprego, casamento de um filho, nascimento de uma criança temporã ou
modificação de papel em virtude de transições socioculturais (BRAZELTON, 1990).
A estimulação do crescimento pessoal pela exposição a situações de crise
com auxílio terapêutico visando encontrar formas alternativas e funcionais para lidar
com a tensão tem implicações importantes na resistência à doença mental. A
persistência do transtorno mental e a manutenção do sintoma estão diretamente
relacionadas com a capacidade de ajudarmos a família e o paciente a ampliarem
seus repertórios de habilidades, a fim de que o paciente não recorra a formas
regressivas, irreais e socialmente inaceitáveis de lidar com suas dificuldades. De
acordo com sua suscetibilidade poderão surgir sintomas neuróticos ou psicóticos
(BRAZELTON, 1990).

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Caso 1 (CORDIOLI, 1986, p. 461)

Beatriz tinha quatro anos quando seus pais procuraram atendimento


referindo que ela há dois meses parecia triste, começou a ter medo de escuro, de
chuva, não queria ir para a escolinha nem ficar longe dos pais. O início do quadro
coincidiu com a folga da babá que cuidava de Beatriz desde o nascimento. Ela não
retornou mais após o fim de semana e os pais foram avisados que havia sido
assassinada.
Os dias se passaram e Beatriz perguntava, incessantemente, pela babá. Os
pais contaram que ela estava cuidando do pai que era doente, mas que voltaria.
A intenção dos pais era que o psiquiatra contasse à filha o ocorrido, o que
eles não tinham coragem de fazer.
Realizaram-se quatro entrevistas com o casal e duas somente com a mãe,
não houve necessidade da participação de Beatriz. Neste período breve, o terapeuta
pôde trabalhar o luto dos pais, principalmente da mãe que havia estabelecido uma
relação maternal com a babá, podendo, então, expressar toda a sua tristeza com a
perda e se desidentificar com a filha, a menina que não podia ouvir sobre a morte da
babá. Os pais foram incentivados a contar a verdade à filha, a qual pôde
compartilhar com eles a tristeza pela perda da babá. A menina teve condições de se
afeiçoar à nova pessoa que veio para cuidá-la.

Caso 2 (CORDIOLI, 1986, p. 461)

Joana solicita ajuda para a sua filha Ana de cinco anos de idade. A menina
está iniciando a pré-escola e, após o período inicial de fácil adaptação, tem se
recusado a sair para a aula, chora, queixa-se de dores abdominais e refere não
querer ir à escola. A mãe não sabe como lidar com essa situação.
Enquanto a mãe relata as dificuldades da filha, Ana desenha uma casa com
janelas gradeadas e uma figura feminina do lado de fora.

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A terapeuta questiona Ana sobre seu desenho e ela relata que é um colégio
com janelas bem fechadas, com grades e que esta moça do lado de fora é uma
mãe, que fica esperando para ver se está tudo bem com a filha.
Joana se surpreende com o desenho de Ana, pois pensava que a menina
não se dava conta que, após deixá-la na escola, ficava olhando de longe para o
pátio para ver se a filha estava bem.
A terapeuta pergunta para Joana sobre seus temores em relação a deixar
Ana na escola. Joana se emociona e conta que teme que Ana seja maltratada pelos
professores. Refere que possui uma irmã um ano mais jovem e que ambas
estudaram na mesma escola. Sua irmã era uma criança muito ativa, arteira e
frequentemente era injustamente punida pelos professores, tendo sofrido muito no
início dos anos escolares.
Joana conta que se sentia impotente para proteger a irmã e que muitas
vezes chorava por ela.
À medida que relata as punições impostas à irmã, percebe-se que teme que
Ana sofra as mesmas dificuldades de sua irmã, já que também é uma menina
espontânea e vivaz, lembrando até fisicamente a tia. Consegue expressar que
quando deixa Ana na escola sente-se apreensiva, como se sentia quando ia para a
escola com sua irmã e que, portanto, necessita ficar vigiando a filha de longe.
A terapeuta intervém colocando que, provavelmente, Ana não quer ir à
escola por ter percebido a dificuldade da mãe em deixá-la.
Ana levanta-se e senta-se no colo da mãe beijando-lhe o rosto.
A situação de recusa escolar da paciente resolveu-se em uma única sessão.
Joana assou a poder deixá-la na escola. Percebeu que estava visualizando em sua
filha uma situação dolorosa de seu próprio passado.

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3.1.3 Intervenção a domicílio (CORDIOLI, 1986, p. 462)

Selma Fraiberg é uma das pioneiras nesta área. Trabalhando com uma
equipe de psicanalistas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e pediatras.
Este tipo de intervenção é útil em famílias multiproblemáticas, muitas vezes
desprovidas de recursos sociais e que não comparecem aos encontros propostos.
Nestas famílias, muitas vezes, não existe a figura paterna estável, os recursos
materiais são precários ou os pais estão desempregados. São intervenções curtas e
em períodos de crise.
Fraiberg demonstra a necessidade de uma atitude ativa dos terapeutas e,
em termos de entendimento da psicopatológica, mostra o peso da repetição dos
próprios conflitos infantis dos pais na relação com seu filho (fantasmas no quarto
das crianças).
As intervenções a domicílio podem ser realizadas, também, com escopos
preventivos, atuando em situações de risco de falência parental como surgimento de
quadros psicóticos na mãe ou no pai; diagnósticos de malformações congênitas ou
prematuridade na criança.
A dificuldade maior neste tipo de intervenção é evitar a confusão de papéis
entre os profissionais envolvidos, já que famílias multiproblemáticas tendem, mais
intensamente, a dissociar os membros da equipe, da mesma forma que dissociam
suas inter-relações.
Muitas vezes, a intervenção a domicílio é extremamente útil em situações
de crises acidentais graves, como a morte de um dos pais; quando ocorre em
pacientes que estão em atendimento psicoterápico regular. O psiquiatra precisa,
nestas ocasiões, renunciar ao setting terapêutico e intervir junto à família,
oferecendo apoio e permitindo a ventilação de fantasias, bem como a correção de
eventuais distorções, auxiliando a família e o paciente a lançar mão de recursos
alternativos e efetivos.

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Caso 3 (CORDIOLI, 1986, p. 462)

Uma senhora em torno dos 40 anos procura o psiquiatra de crianças e


adolescentes com o objetivo de auxiliar seus filhos adolescentes. Conta que o
marido falecera há mais ou menos 18 meses e que desde então ela perdera o
controle sobre os filhos.
João, 18 anos, ingeria bebidas alcoólicas em excesso, diariamente, não
conseguira passar no vestibular no ano anterior e desistira de estudar, ficava todo
dia no quarto com a namorada e só saía para se alimentar e ingerir bebidas.
Paola, 15 anos, repetira o ano na escola e também desistira de estudar,
passava o dia dormindo e à noite saía para festas com amigos, usava maconha
diariamente.
A mãe fora secretária quando solteira, porém, com o casamento não
trabalhara mais fora de casa. Fazia todas as vontades dos filhos e não conseguia
contrariá-los. Ela estava realizando psicoterapia individual há cinco anos.
Os adolescentes, mesmo após contatos telefônicos e bilhetes, não
aceitaram comparecer ao tratamento. Decidiu-se pela realização de uma consulta
domiciliar na qual o terapeuta pôde aproximar-se dos adolescentes e compreender
as resistências apresentadas, bem como motivá-los para tratamento. Nessa
oportunidade puderam falar que desde o início da doença do pai vinham tristes e
desestimulados, não saíam de casa para cuidar dele. O pai faleceu, subitamente,
dentro do apartamento, na presença dos filhos. Era este pai que fornecia o exemplo
de luta pelos objetivos e os limites que eles tanto precisavam.

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Caso 4 (CORDIOLI, 1986, p.462)

Marcelo, 45 anos, encaminhado pelo pediatra da família, procura o auxílio


para sua filha, Júlia, de 12 anos.
Refere que foi chamado na escola da menina por esta ter apresentado crises
de choro durante a aula, sem motivo aparente.
Marcelo vem observando que Júlia tem andado muito tristonha, está
emagrecida, bastante calada e arisca ao contato nos últimos dois meses.
Os pais são separados desde que Júlia tinha quatro anos de idade. A
menina morava com a mãe, uma tia materna solteira e a avó no mesmo
apartamento. Entretanto, há mais ou menos um ano que a mãe mudou-se com a
filha para outro apartamento próximo à casa da avó.
Segundo Marcelo, sua ex-esposa é uma mulher extremamente deprimida,
não trabalha e passa a maior parte do tempo deitada. Faz tratamento psiquiátrico
para depressão de forma irregular, parando por conta própria de tomar medicação.
Não aceitou vir à entrevista tratar das dificuldades da filha.
O pai da paciente refere insistir, juntamente com a atual esposa, para que
Júlia passe a morar com eles, entretanto, a menina, embora aceite passar os finais
de semana e frequentemente almoce em sua casa, não aceitou mudar-se para a
casa do pai.
Na entrevista com Júlia, o terapeuta depara-se com uma menina de 12 anos
bastante bonita, mas extremamente triste, chora quase a sessão inteira, referindo
sentir-se só e desanimada. Preocupa-se muito com a mãe e diz não saber o que
fazer para animá-la. Refere que antes quando morava com a avó não se sentia tão
responsável pela mãe, mas que agora se preocupa em deixá-la só. Quanto às suas
crises de choro na escola diz que se relacionam com a pena que sente da mãe e
que a lembrança dela a faz chorar.
Sente-se muito bem na casa do pai, gostaria muito de morar lá, mas não
consegue pensar em deixar a mãe só.
Após a avaliação inicial foi tentado contato com a mãe de Júlia, que não
compareceu às entrevistas marcadas. Decidiu-se, então, por uma intervenção mais
ampla. Foi contatado o pediatra de Júlia, com quem a mãe da menina possuía uma

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boa relação, e, por intermédio dele, foi marcada com a mãe uma consulta domiciliar,
na qual compareceram o pai de Júlia, a avó, o pediatra e o psiquiatra.
Célia, mãe da paciente, realmente é uma mulher com aspecto depressivo,
envelhecida e descuidada. O ambiente da casa espelha seu desânimo, passando
um sentimento de vazio e ausência de vida. O apartamento é mantido com as
persianas baixas, entrando pouca luz, a mobília é quase franciscana e praticamente
não existem adornos.
Juntamente com o pediatra foi possível conversar com Célia sobre como
suas dificuldades estavam preocupando Júlia e a fazendo sofrer. A mãe se
emocionou com a importância que ocupa na vida da filha e concordou em retomar
seu tratamento psiquiátrico.
A avó comprometeu-se, juntamente com a tia, a voltar a dar assistência à
filha e foi combinado, inicialmente, que, além do tratamento psicoterápico individual
e sessões familiares, Júlia passaria todos os finais de semana com o pai de sexta-
feira à tarde à segunda-feira pela manhã e reiniciaria à tarde suas aulas de dança,
que havia interrompido.
O caso evoluiu bem após mais três sessões domiciliares, a mãe passou a
participar de sessões familiares no consultório, com a participação de ambos os
terapeutas (da mãe e da filha), eventualmente do pai, da avó e da tia materna.

3.1.4 Psicoterapia Breve na infância

Em 1972, Arminda Aberastury relacionou as indicações de Psicoterapia


Breve na infância, que pressupõe objetivo e tempo determinados.
As indicações básicas são as seguintes:
1) Iminência de uma cirurgia;
2) Presença de sintomas agudos e isolados, que possam ser focalizados,
por exemplo, transtorno na alimentação em crianças pequenas;

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3) Recusa ansiosa, por parte da criança, a se submeter a um tratamento
médico ou odontológico específico;
4) Início de uma doença mental na criança ou em familiar próximo e
representativo;
5) Situações de crises familiares com mensagens contraditórias ou
enganosas (separação dos pais, adoção, mudança e novo casamento dos
pais).
Na adolescência, a Psicoterapia Breve Dinâmica é bastante útil frente a
situações que implicam dificuldades para lidar com as perdas inerentes a esta fase
do desenvolvimento, como o luto pelos pais da infância, pelo corpo infantil ou a
vulnerabilidade às pressões ambientais e familiares, que possam gerar conflitos em
várias áreas.
Segundo Maurício Knobel (1997), na Psicoterapia Breve de crianças e
adolescentes, o tempo da terapia vai depender da relação transferencial e
contratransferencial avaliada pelo terapeuta e também das condições empáticas da
dupla paciente-terapeuta. É fundamental, neste tipo de proposta breve, a utilização
dos instrumentos que a psicanálise nos oferece, para o entendimento psicodinâmico
do paciente. Entretanto, deve-se evitar a interpretação transferencial que não poderá
ser adequadamente trabalhada em curto espaço de tempo.
Mesmo concomitante à psicoterapia individual, em algumas situações se faz
necessária à inclusão dos familiares da criança envolvidos em sua rotina diária; em
algumas sessões, com o propósito de estabelecer orientações, combinações e
entendimento do processo pelo qual a criança está atravessando em um dado
momento. Faz parte a participação, por exemplo, de avós, babás, amigos e animais
de estimação, além dos pais (KNOBEL, 1997).
A Psicoterapia Breve procura favorecer a aliança entre o membro mais
doente do grupo familiar, facilitando o encaminhamento deste indivíduo específico
para a terapia e liberando o paciente referido de seu sintoma ou de seu papel de
continente das projeções do grupo familiar sobre ele (KNOBEL, 1997).
O escopo da terapia breve é propiciar mudanças internas consistentes,
colocando-se os fantasmas do passado no passado, de forma a auxiliar os pacientes
a entender que o passado não pode ser mudado, mas a maneira de lidar e a forma

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de compreendê-lo são fundamentais (mudanças objetais) na forma de viver o
presente e programar o futuro (KNOBEL, 1997).

Caso 5 (CORDIOLI, 1986, p. 464)

Joaquina foi encaminhada pela escola, que a percebia triste, desestimulada,


sem atenção, não conversava mais com as colegas, queixava-se de dor de cabeça.
Até então era aluna exemplar, interessada, estudiosa, estava com sete anos no
terceiro ano. Seus pais haviam se separado no início do ano, e ela seguira morando
com a mãe e, aos finais de semana, visitava o pai. Os pais brigavam por ela, sentia-
se dividida e com medo de desagradar um ou outro.
Ao longo do tratamento, que durou cerca de cinco meses, pôde expressar
sua tristeza com a separação dos pais e seus medos frente à nova situação de sua
vida. O fato que agravara seu quadro foram os novos companheiros de seus pais,
gerando medo do abandono, ciúme e raiva em Joaquina.
Os pais também puderam participar do processo e compreender que
colocavam sua filha no meio de suas rixas pessoais e também da necessidade de
aproximar gradualmente seus novos companheiros de Joana.
No final do ano, seus sintomas desapareceram e ela pôde, com segurança,
compartilhar separadamente com seu pai e sua mãe as festas de Natal e Ano Novo,
bem como retomar sua alegria e seu bom rendimento escolar.

Caso 6 (CORDIOLI, 1986, p. 464)

Oscar é um menino bem desenvolvido, com 14 anos de idade. É bastante


reservado ao contato, pouco participativo nas sessões individuais, mostrando pouca
motivação para um atendimento psicoterápico. Vem encaminhado para avaliação
por estar apresentando problemas escolares. Perdeu o ano letivo anterior e está em

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risco de novamente não passar de ano. Está totalmente desinteressado nos estudos
e não presta atenção nas aulas.
Além das dificuldades escolares, briga muito com os irmãos menores, um de
três anos e outro de cinco anos. Concorre com eles pelos brinquedos e pela atenção
dos pais, como se tivesse a mesma idade. Relaciona-se mal com a irmã de 12 anos,
referindo que os pais a protegem. Acha-se feio e diferente dos irmãos e refere não
entender por que eles têm olhos claros e cabelo liso, enquanto seus olhos são
castanhos e seu cabelo é crespo.
Na entrevista com os pais, Gleci revela que Oscar é filho de um
relacionamento dela antes de casar com o atual marido. Nunca contaram ao menino
sua verdadeira história, por medo da reação de Oscar e por temerem que este não
aceite o pai adotivo.
Gleci refere que sofreu muito quando engravidou de Oscar, foi rechaçada
por sua família, tendo que se hospedar com o bebê em casa de parentes, que a
tratavam com desdém. Relata ter muita dificuldade de impor limites ao filho, pois se
lembra do sofrimento e do abandono que se sucedeu ao nascimento do menino.
O terapeuta escuta os pais e esclarece que Oscar desconfia da verdade
(acha-se diferente fisicamente dos irmãos) e que provavelmente suas brigas com
os menores espelham seu ciúme e sua desconfiança por não se acreditar filho
como os outros.
Os pais decidem-se por esclarecer a verdade, o que é realizado durante
uma sessão conjunta. A partir do esclarecimento a Oscar de sua história real, o
terapeuta combina um atendimento breve de 12 sessões com o objetivo de auxiliar o
paciente e sua família a lidar com seus sentimentos.
Oscar evoluiu bem, a mãe passa a ser mais firme com o filho. O menino
torna-se muito carinhoso com os irmãos e passa a se relacionar melhor com a irmã.
Aproxima-se mais do pai adotivo e consegue expressar que ficava distraído por
horas imaginando que não era filho de nenhum dos dois, o que o deixava ora triste,
ora desconfiado, ora com raiva do mundo e dos irmãos e que muitas vezes se
comportava mal para testar se os pais realmente se preocupavam com ele.

3.1.5 Considerações finais quanto às intervenções breves na infância e adolescência

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Para o psicoterapeuta de crianças é indispensável habilidade e disposição
para conhecer e interagir com tudo que constitui o mundo externo da criança. O
trabalho interdisciplinar se faz necessário com diferentes profissionais que atendem
a criança ou o adolescente (neurologista, pediatra, psicopedagogo, professores). Um
contato estreito com os mesmos, somando esforços e interagindo as contribuições
de cada profissional, favorecem o êxito do tratamento (CORDIOLI, 1986).
É fundamental considerar que, cada vez mais, vivemos em uma sociedade
com acúmulo de riscos, que, sem dúvida, tem consequências sérias no
desenvolvimento do indivíduo. Por outro lado, inúmeros estudos têm demonstrado a
capacidade dos indivíduos de usar mecanismos adaptativos, serem flexíveis,
enfrentar dificuldades e retornar a um estado homeostático prévio. Esta capacidade
é denominada resiliência, e não significa invulnerabilidade, mas, sim, flexibilidade,
maleabilidade frente às adversidades (KNOBEL, 1997).
Nós, psicoterapeutas, também precisamos ser flexíveis e continentes no
atendimento de indivíduos em desenvolvimento (KNOBEL, 1997).
Devemos nos conscientizar de que não existe uma fórmula única de atuar
em psicoterapia e que outros modelos e técnicas estão em expansão com bases
conceituais variadas. Parafraseando Maurício Knobel (1997):

(...) às vezes, a “inspiração” ou a “intuição” são os que determinam a eleição


de alguma ‘técnica’, mas nestes casos é a pessoa do “terapeuta” que atua,
num tipo de comunicação, que vai além da sugestão e que merece estudos
profundos e sérios, e não a simples desqualificação ou a aplicação do termo
“charlatanismo”. (KNOBEL, 1997).

3.2 PSICOTERAPIAS PSICODINÂMICAS PARA PSICÓTICOS

Em seu artigo de 1924, “A Perda da Realidade na Neurose e na Psicose”,


Freud possibilita o entendimento da psicose como sendo um afastamento do ego (a
serviço do id da realidade, predominando o id (e não a realidade) sobre o ego.
Considerava que havia duas etapas no desenrolar de uma defesa psicótica frente a
um estímulo. Primeiro, um afastamento do ego para longe da realidade do estímulo

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e, segundo, uma tentativa de reparação do dano causado, por este afastamento no
sentido do restabelecimento das relações do indivíduo com a realidade, mas às
expensas do id (FREUD, 1924).
Em função disto, a psicose se depararia com a tarefa de conseguir, para si
própria, percepções que correspondessem à nova realidade, e isso aconteceria por
meio da alucinação e do delírio (FREUD, 1924).
Freud caracterizava que o fato de alterações psicóticas virem geralmente
acompanhadas de ansiedade e serem tão aflitivas, devia-se a que todo o processo
de remodelamento da realidade era realizado contra forças que se opunham
violentamente (o fragmento da realidade rejeitado constantemente se impondo à
mente) (FREUD, 1924).
Freud acreditava que os quadros psicóticos decorreriam de conflitos
psíquicos rejeitados. Neste mesmo trabalho de 1924, Freud cita como exemplo o
caso de uma jovem, analisada por ele, apaixonada pelo cunhado, com a irmã para
morrer, que se horrorizou da ideia: “Agora ele está livre e pode casar-se comigo.”
Esta cena foi imediatamente esquecida, de modo que o processo de repressão, que
levou às dores histéricas, foi posto em movimento. A reação psicótica seria o
resultado da rejeição (recusa) da morte da irmã (FREUD, 1924).
Contudo, considerava-se ainda incontestável a pouca utilidade da
psicanálise, como terapia, em caso de psicose. Freud exprimiu-se neste sentido,
opondo as “neuroses de transferência” às “neuroses narcísicas” tornando a
manifestar o mesmo ponto de vista em seu esboço póstumo (FENICHEL, 1981).
Freud pensava que, estando a psicanálise baseada na influência do
analista sobre o paciente, não se poderia esperar sucesso no caso de psicóticos,
pois eles não teriam capacidade de estabelecer uma transferência com o analista
(FENICHEL, 1981).
Ainda acerca de sua preocupação com a elucidação dos quadros psicóticos,
Freud comenta que “a elucidação dos diversos mecanismos que, nas psicoses, são
projetados para afastar o indivíduo da realidade e para reconstruir esta última,
constitui uma tarefa para o estudo psiquiátrico especializado, ainda não empreendido
[...]” (FENICHEL, 1981).
De fato, foi Melanie Klein (1946) que, por meio de seus estudos e
observações de crianças, trouxe uma contribuição de grande valor para a

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compreensão do paciente psicótico: a ênfase nos mecanismos primitivos
(identificação projetiva, idealização, divisão – splitting –, introjeção, projeção e
identificação introjetiva).
Na identificação projetiva, partes do self e dos escopos internos são
expelidos e projetados no objeto externo, o qual então se torna possuído e
controlado pelas partes projetadas, identificando-se com elas (KLEIN, 1946).
Quando os mecanismos de defesa não conseguem dominar a ansiedade
(quando os impulsos hostis e invejosos são intensos), e esta invade o ego, a
desintegração do ego pode ocorrer como medida defensiva. Nesse momento, o
mecanismo de identificação projetiva passa a ocorrer de modo um pouco diferente.
A parte projetada é estilhaçada e desintegrada em fragmentos e esses fragmentos
são projetados no objeto, desintegrando-o em partes diminutas. O paciente
psicótico, por conseguinte, se caracterizaria pela fragmentação defensiva do ego e
pela violenta utilização da identificação projetiva (KLEIN, 1946).
A par do referencial teórico que vinha se formando, o trabalho psicanalítico
com pacientes psicóticos seguia largamente a técnica utilizada com pacientes
neuróticos. Visava-se, com o tratamento, a que o paciente obtivesse transformações
em sua personalidade além de uma retomada do seu crescimento emocional
(KLEIN, 1946).
A contribuição de Bion (1961 e 1962) foi de trazer à técnica da psicanálise
de psicóticos seus conceitos de continente e contido observados na relação mãe-
bebê. Assim como a mãe, o psicoterapeuta deveria ser capaz de conter, absorver,
as projeções do paciente, de modo que todos os aspectos distorcidos projetados
não fossem devolvidos de igual forma, o que confirmaria as fantasias persecutórias
e agressivas. Caberia ao psicoterapeuta compreendê-las e, no momento oportuno,
devolvê-las ao paciente, para que também pudesse entendê-las.
Em seu artigo de 1963, Rosenfeld destacou que a análise de psicóticos
deveria conservar os mesmos princípios básicos da técnica analítica clássica. Mas,
ao mesmo tempo, a comparou com a análise de crianças desenvolvida por Melanie
Klein, pois não se deveria insistir tanto na associação livre nem no uso de divã. Em
seu lugar, empregar-se-iam as palavras e a conduta do paciente em sua totalidade,
por exemplo: seus gestos e seus atos como material analítico. Sugeriu a

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denominação de “psicose de transferência” à transferência que ocorre com o
paciente psicótico.
Considerava tarefa de o psicoterapeuta seguir esta “psicose de
transferência” em todos seus detalhes positivos e negativos e comunicar este
entendimento ao paciente sob a forma de interpretações. Percebe-se que, mesmo
nos casos agudos, os pacientes eram capazes de entender essas interpretações e
responder a elas. Para tanto, usava como prova a confirmação direta do paciente e
o material clínico apresentado no trabalho (ROSENFELD, 1968).

3.2.1 A etiologia e a psicoterapia breve dinâmica

A teoria psicanalítica afirma que a etiologia das neuroses e das psicoses


estava vinculada a conflitos inconscientes não resolvidos. Segundo as defesas
utilizadas pelo ego, teríamos uma neurose obsessiva, histérica, fóbica, ou se a
defesa fosse uma negação da realidade externa e a sua substituição por outra
realidade, por meio dos delírios e das alucinações, teríamos as psicoses
(ROSENFELD, 1968).
Mesmo Freud não tendo indicado a psicanálise para psicóticos, ela foi usada
em pacientes esquizofrênicos, maníaco-depressivos, paranoides e para outras
psicoses. São conhecidos os trabalhos de Rosenfeld (1968) sobre análise de
esquizofrênicos, condensados em seu livro “Psychotic states”, assim como os
trabalhos de Meltzer e Melanie Klein.
A escola kleiniana foi a grande estimuladora da utilização do método
analítico em psicóticos. A ênfase de Melanie Klein (1946) sobre as ansiedades
psicóticas das crianças e o conceito de “posição” esquizoparanoide e “posição”
depressiva fez com que seu desenvolvimento teórico fosse à direção de um maior
entendimento das psicoses.
As defesas típicas do ego primitivo (na posição esquizoparanoide): divisão
(split) do objeto, dos impulsos e do ego, a idealização, a negação da realidade
externa e interna, a projeção, a introjeção e a identificação projetiva, são as mesmas
encontradas na esquizofrenia e nos quadros paranoides. As defesas da posição

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depressiva: negação, triunfo, desprezo, idealização, identificação com objetos
atacados, tendência à reparação por mecanismos obsessivos, são as defesas
encontradas em maníaco-depressivos (KLEIN, 1946).
Quanto à etiologia das psicoses, Melanie Klein (1946, p. 58) diz,
textualmente:

Se o bebê não é capaz de abrir caminho através da posição


esquizoparanoide, a resolução da posição depressiva será por sua vez
impedida também. Este fracasso poderá acarretar um esforço regressivo
dos medos persecutórios e o fortalecimento dos pontos de fixação para
graves psicoses (o grupo de esquizofrenias). Outra consequência das sérias
dificuldades geradas durante o período da posição depressiva poderá ser,
na vida adulta, as perturbações maníaco-depressivas. (KLEIN, 1946, p. 58)

Percebe-se que a etiologia das psicoses recaía sobre a regressão aos


pontos de fixação em fases primitivas do desenvolvimento da criança, devido a
conflitos, também primitivos, não solucionados. Posteriormente, Klein (1946) incluiu
a inveja primária como etiologicamente relacionada com as doenças mentais, agindo
na psicopatologia da posição esquizoparanoide.
O questionamento que muitos se faziam nesta época era: por que a psicose
só se manifestaria 15, 30 ou 50 anos após? Como um ego tão comprometido em
seu desenvolvimento inicial só iria sucumbir a uma desintegração psicótica tantos
anos depois? Esses questionamentos foram respondidos de maneira pouco
satisfatória, pelo menos no que se refere às esquizofrenias e às doenças maníaco-
depressivas: seriam núcleos psicóticos que se manifestariam em situações externas
conflitivas, que desencadeariam os conflitos psicóticos reprimidos (KLEIN, 1946).
Com a evolução das pesquisas biológicas das últimas décadas, foi elucidada
a etiologia neuroquímica das perturbações maníaco-depressivas. Pesquisas em
andamento cada vez mais levam a lesões cerebrais como fazendo parte dos fatores
causais da esquizofrenia (CORDIOLI, 1998).
Paralelamente a estas descobertas, houve o fracasso da psicanálise de
psicóticos. Esse descrédito fez com que grande parte dos terapeutas abandonasse
não só a psicanálise no tratamento de psicóticos, mas também as psicoterapias de
orientação analítica (CORDIOLI, 1998).
A argumentação sobre este abandono é em parte compreensível. Se toda a
psicoterapia foi criada em cima de uma hipótese genético-dinâmica que demostrou
inexata, por que indicá-la para psicóticos (CORDIOLI, 1998).

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Seja por argumentações lógicas ou por conflitos ideológicos e de poder, o
fato é que cada vez mais há uma tendência na psiquiatria, já formada ou em
formação, de usar psicofarmacologia associada com outras técnicas de apoio no
tratamento das psicoses, sem se valer do arsenal terapêutico das psicoterapias
dinâmicas. Porém, como poderia usar o entendimento da dinâmica baseada nos
conhecimentos psicanalíticos para aumentar a eficácia terapêutica do conjunto de
intervenções úteis? (CORDIOLI, 1998).
A resposta a esta indagação é a de que o psicoterapeuta deve abrir mão da
hipótese etiológica contida historicamente em sua formação, ou, para os que estão
em formação, que observem nos textos os ensinamentos para entender o que se
passa no mundo interno do psicótico, pois esta contribuição é inegável aos vários
autores que se ocuparam do tema (CORDIOLI, 1998).
Sugerimos que os conflitos edípicos e pré-edípicos, que eclodem
abertamente em pacientes psicóticos, são conflitos que foram ativados pelo próprio
processo psicótico, de uma maneira psicótica. A falência do ego para conter, reprimir
estes conflitos, faz com que eles se apresentem abertamente. Parafraseando Freud:
uma realidade interna substitui a realidade externa (CORDIOLI, 1998).
Portanto, nesta forma de ver o que sucede nas psicoses não se afirma que a
psicose foi causada por conflitos, porém, se afirma que a eclosão destes conflitos é
um fator complicador importante do quadro psicótico, certamente aumentando a
ansiedade e a intensidade dos sintomas psicóticos, aumentando os riscos de
suicídio, de agressão, exposição moral e outros menos impactantes, como, por
exemplo, o abandono gradual de atividades sadias (CORDIOLI, 1998).
Observamos que o entendimento da existência destes conflitos e sua
associação com as ansiedades e sintomas, uma vez comunicados ao paciente,
fazem com que perceba a distorção, ou melhor, as distorções da realidade, de modo
que seja ajudado no uso de defesas mais adequadas (CORDIOLI, 1998).
Logo, a finalidade da interpretação com pacientes psicóticos é diferente da
finalidade com pacientes neuróticos. Nestes, a interpretação visa tornar consciente
um conflito inconsciente reprimido. Com psicóticos, grande parte destes conflitos é
consciente, por esta razão talvez seja melhor dizermos esclarecimento, em vez de
interpretação. A intervenção do terapeuta serve, em primeiro lugar, para uma
busca de uma linguagem comum, não simbólica, entre psicoterapeuta e paciente.

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Visto que serve para um alívio da situação transferencial psicótica que se
estabelece automaticamente. O alívio da situação transferencial traz um alívio da
ansiedade psicótica. Assim fazendo, o psicoterapeuta auxilia o paciente a reprimir
sua realidade interna e discriminá-la da realidade externa, como diz Portela Nunes
(1980). Como nem todos os conflitos são conscientes para o paciente, e sequer a
relação entre eles, cabe ao terapeuta auxiliá-lo a ligar partes destes conflitos
projetados na realidade, ajudando-o novamente a discriminar entre mundo externo
e mundo interno (CORDIOLI, 1998).
A arte de interpretar e confrontar tanto na transferência como na situação
extratransferencial é uma arte diferente com pacientes psicóticos, porque exige do
psicoterapeuta uma maior capacidade de contenção e oportunidade para realizar
suas intervenções. É importante considerar suas fantasias dos limites de seus
objetivos com estas intervenções (CORDIOLI, 1998).
A contribuição da escola kleiniana foi essencial para o entendimento do
simbolismo completo dos esquizofrênicos e das fantasias catastróficas vividas por
eles (vivências de um mundo repleto de objetos mortos ou semimortos, na
melancolia, e mecanismos associados) (CORDIOLI, 1998).
O entendimento deste mundo interno faz com que aumente o vínculo entre
terapeuta e paciente psicótico, ao mesmo tempo em que possibilita ao paciente
discriminar melhor a função do terapeuta (CORDIOLI, 1998).
Um exemplo clínico, a seguir, irá nos esclarecer em que medida é útil e
terapêutica o entendimento da dinâmica em pacientes psicóticos.

Relato de caso (CORDIOLI, 1998, p. 417)

P., 28 anos, brasileiro, solteiro, natural e procedente de Porto Alegre, sem


ocupação.
Internou três vezes no HCPA com uma história de nove internações prévias
e um diagnóstico de esquizofrenia paranoide. Por ocasião da primeira internação
nesse hospital, recebeu diagnóstico de doença afetiva bipolar, fase maníaca, tendo
o mesmo sido discutido na segunda internação.

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Em todos os surtos, P. apresentava: ideação paranoide com risco de
agressão aos seus familiares (achava que, especialmente a mãe e a irmã, queriam
matá-lo, roubar suas coisas, que eram prostitutas maconheiras); euforia, risos
alternados com irritabilidade, hipervigilância, hipotenacidade, delírios de cunho
sexual e grandiosidade.
Segundo sua mãe, os surtos tornaram-se mais frequentes e com maior
intensidade após a morte do pai, ocorrida dois anos antes da última internação. O
paciente mora com a mãe e a irmã e apresenta dificuldade de aderência ao
tratamento medicamentoso.
Apesar de não ter abandonado a medicação, como em outras ocasiões,
baixou novamente em agosto de 1989, com os sintomas descritos.
Foram revisadas as estratégias terapêuticas e se observou que um conflito
ainda não tratado nas internações anteriores ajudava a desestabilizá-lo. A partir de
uma repetição de uma atitude agressiva e sedutora com a médica, o paciente pôde
ser ajudado a externalizar suas fantasias conscientes incestuosas com a mãe e a
irmã, que aumentaram após a morte do pai.
Mostrou-se ao paciente que esses desejos sexuais deixavam-no culpado e,
por isto, abandonava os tratamentos ou não melhorava, mesmo os seguindo.
Fantasiava ter eliminado o pai para ficar dono de tudo. Além disso, ficando maníaco,
fugia de sua culpa e triunfava sobre o pai, internalizando o perseguidor (origem dos
seus delírios persecutórios), evitando a depressão subjacente.
Também foi tratado que, ficando maníaco, resolvia todas as dificuldades de
se desenvolver profissional, social e afetivamente, pois por meio da magia do
pensamento, desprezava a realidade, triunfando sobre ela. No entanto, esta atitude
correspondia à expiação de sua culpa, pois assim não se dava o direito de ser uma
pessoa mais adaptada, buscando na realidade as satisfações adequadas e
possíveis de serem alcançadas.
Outro aspecto importante do abandono do tratamento é a negação da
dependência da medicação e, principalmente, do médico, que é, supostamente para
P., a mãe seduzida ou o pai derrotado e morto. Tais situações vividas na
transferência provocaram nos diversos terapeutas reações contratransferenciais
negativas de rechaço ao paciente, que contribuíram para o abandono.

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Neste caso clínico, procuramos evidenciar que o que se passava no mundo
interno do paciente se misturava psicoticamente com os terapeutas na transferência,
e com a família, provocando reações contratransferenciais negativas, complicando o
atendimento do paciente, aumentando sua ansiedade psicótica, agravando o quadro
clínico que estava tendendo a um curso crônico com mau prognóstico.
O seguimento deste paciente em ambulatório ajudou-o a reorganizar sua
vida. Conseguiu manter-se num emprego sem se complicar com seu chefe, pois
antes sentia que seus superiores queriam prejudicá-lo pela projeção neles do pai
derrotado e vingativo. Buscou novos relacionamentos amorosos, o que não
conseguia há muitos anos. Conseguiu certa independência da mãe e da irmã, pois
foi morar sozinho. Melhorou sua aparência pessoal, voltando aos seus hábitos
anteriores de higiene.
Acreditamos que a não compreensão destes conflitos e a não abordagem
dos mesmos pelos terapeutas anteriores ajudou a complicar o quadro psicótico
deste paciente. A compreensão do que se passava no seu mundo interno, e que era
atuado psicoticamente na situação transferencial e também na situação familiar,
ajudou P. a discriminar sua realidade interna da externa, aliviou sua culpa e o ajudou
a buscar soluções que pudessem ter algo de reparador para seus objetos internos e
para seu ego fragmentado.

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