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SUMÁRIO
MÓDULO I
1 CONCEITO DE PSICOTERAPIA BREVE DINÂMICA
1.1 HISTÓRICO E PRESSUPOSTOS
1.2 DEFINIÇÃO
1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO
1.4 OUTRAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AS PSICOTERAPIAS BREVES
MAIS COMUNS E SUAS INDICAÇÕES
1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise
1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica
1.4.3 Psicoterapia Breve Psicanalítica
1.4.4 Psicoterapia Breve Dinâmica
1.4.4.1 Teoria
1.4.4.2 Técnica
1.4.4.3 Objetivos e indicações
1.4.4.4 Indicações
1.4.4.5 Contraindicações
MÓDULO II
2 INTERVENÇÃO DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1 INTERVENÇÃO TÉCNICA DA PSICOTERAPIA DINÂMICA BREVE
2.1.1 Quatro tarefas
2.1.1.1 Primeira tarefa
2.1.1.1.1 Apresentação
2.1.1.1.2 Primeira fala significativa do paciente
2.1.1.1.3 Reação emocional do terapeuta
2.1.1.2 Segunda tarefa
2.1.1.3 Terceira tarefa
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2.1.1.4 Quarta tarefa
2.1.1.5 Limites e possibilidades das quatro tarefas
2.2 CONCEPÇÃO DE OUTROS AUTORES: O INÍCIO E ALTA DA
PSICOTERAPIA
2.2.1 O INÍCIO DA PSICOTERAPIA
2.2.1.1 Confirmação do diagnóstico, a escolha da psicoterapia e seu escopo
2.2.1.2 O contrato terapêutico
2.2.1.3 Desenvolvendo o hábito da auto-observação
2.2.1.4 A comunicação com o terapeuta
2.2.2 Alta em psicoterapia
2.2.2.1 A fase final da psicoterapia
2.2.2.2 A decisão da alta
2.3 A TEMPORALIDADE E A FOCALIZAÇÃO
2.3.1 Temporalidade
2.3.1 Focalização
2.3.1.1 A escolha do foco
2.3.1.2 Foco e profundidade
MÓDULO III
3 ESTUDOS DE CASO
3.1 INTERVENÇÕES BREVES E FOCAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA
3.1.1 Introdução
3.1.2 Consultas terapêuticas
3.1.3 Intervenção a domicílio
3.1.4 Psicoterapia Breve na infância
3.1.5 Considerações finais quanto às intervenções breves na infância e
adolescência
3.2 PSICOTERAPIAS PSICODINÂMICAS PARA PSICÓTICOS
3.2.1 A etiologia e a psicoterapia breve dinâmica
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO
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MÓDULO I
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tipos de pacientes. Denominou este novo processo de “terapia ativa”, pois
Ferenczi acreditava que a participação ativa do terapeuta contribuiria com a
diminuição do tratamento analítico. Ele encorajava o paciente a entregar-se a
fantasias sobre tópicos que surgiam espontaneamente nas associações
realizadas pelo paciente. Entretanto, determinar a data para o fim do
tratamento foi a mais ativa de suas inovações técnicas (CORDIOLI, 1998).
Alexander e French, em 1946, coordenaram um projeto de
investigação, no período de 1938 a 1946 com o objetivo de estabelecer
princípios básicos e técnicas que permitissem um tipo de psicoterapia que
fosse breve e eficaz. Como resultado da pesquisa, concluíram que o fator
curativo nas psicoterapias é o que os autores chamaram de “experiência
emocional corretiva”, ou seja, as vivências do cotidiano (CORDIOLI, 1998).
Alguns anos mais tarde, houve o desenvolvimento de teorias mais
estruturadas. Pesquisadores como Balint e colaboradores formaram um dos
grandes centros de pesquisa em Psicoterapia Breve, na Tavistock Clinic, em
Londres. A grande contribuição do centro pode ser resumida no conceito de
foco e no estabelecimento de técnicas focais. Postulavam que o tratamento de
curta duração deveria ter um objetivo específico, determinado precocemente
devendo o terapeuta intervir apenas interpretando os aspectos que facilitem o
trabalho no foco escolhido (CORDIOLI, 1998).
Pesquisas realizadas por Malan, em uma série de casos clínicos,
concluíram que a Psicoterapia Breve Dinâmica pode obter melhoras
duradouras em pacientes com enfermidades moderadamente graves e de
longa data. Ele preconizou o uso de interpretações transferenciais desde o
início do tratamento, o que poderia ser decisivo como instrumento terapêutico.
Verificou que a motivação e a focalização são fatores essenciais para um bom
prognóstico. Defendeu o tempo limitado, que deve ser discutido e combinado
entre as partes desde o início do tratamento, examinado e trabalhado durante o
mesmo (MALAN, 1981).
Além desses princípios, Malan desenvolveu o conceito dos triângulos
para um melhor desempenho no seu trabalho. O primeiro, o triângulo do
conflito, consiste em defesa, ansiedade (sintoma) e impulso. O segundo,
triângulo das pessoas, considera a relação do paciente com os pais (passado),
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com outras pessoas significativas do presente (atual) e com o terapeuta
(transferência) (MALAN, 1981).
Depois de algum tempo, Sifneos partiu do conceito de crise para
construir novos aspectos técnicos na Psicoterapia Breve. Para ele, a crise
emocional é um ponto de transição que oferece a possibilidade de ações
preventivas na forma de intervenções breves. Com isso, há produção de
sintomas, havendo a possibilidade de prevenir a cristalização dos mesmos e a
instalação de uma neurose. Assim, a ansiedade, por exemplo, pode ser útil
para o paciente (SIFNEOS, 1989).
Para Mann (1973), os limites do tempo de tratamento são irrelevantes.
Ele estabeleceu um número de 12 sessões que deveriam ser estabelecidas
logo no início do tratamento. A alta deveria ser colocada em caráter definitivo,
sendo que, se houvesse a necessidade de estender o tratamento deveria ser
realizado de forma inesperada.
Em 1978, surgiu a chamada psicoterapia emergencial, desenvolvida
por Bellack e Small. A teoria era baseada na teoria da aprendizagem e indicada
para situações de crise ou aumento de demandas emocionais. Sendo assim,
exigia que o terapeuta fosse ativo na tentativa de provocar insight, não
esperando a elaboração dele (CORDIOLI, 1998).
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1.2 DEFINIÇÃO
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A psicoterapia tem uma continuidade garantida, uma sequência no
tempo, horários combinados, ou seja, uma influência bastante particular nos
dois integrantes da relação. O enquadre de permanência e regularidade, é o
fator que garante e dá suporte ao relacionamento, o que permite que ele
transcorra dentro de parâmetro definidos.
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Já a Psicoterapia Breve Dinâmica, tendo a psicanálise como origem e
referência, seguirá a definição geral para psicanálise, acrescida de dois
elementos constitutivos: o limite de tempo previamente estabelecido para
terapia e a presença de um foco, ligado à angústia que leva o paciente a
consultar-se (HEGENBERG, 2010).
A Psicoterapia Breve Dinâmica é a concordância entre paciente e
terapeuta em torno do entendimento da possível origem inconsciente do
problema que dá suporte à decisão de empreender a investigação pelo método
psicanalítico, investigação a qual o paciente deve estar engajado como sujeito
(PESSOA, 2011).
Braier (1997, apud KNOBEL, 1986, p.27) compara a Psicoterapia
Breve, a Psicanálise e a Psicoterapia Analítica e chega à conclusão que a
Psicoterapia Breve consegue levar adequadamente os conceitos psicanalíticos
tradicionais a uma teoria e prática de uma verdadeira psicoterapia breve de
base estritamente psicanalítica.
Knobel (1986) diz que “as psicoterapias breves são apresentadas como
modelos em expansão de técnicas diversas, e até com base conceitual e teórica
tão variada que fica [...] difícil determinar sua origem e [...] sua compreensão”.
A técnica da Psicoterapia Breve está sustentada resumidamente em
quatro princípios (KNOBEL, 1986):
1. é não transferencial;
2. não regressiva;
3. elaborativa de predomínio cognitivo (em aparente detrimento do
afetivo);
4. mutação objetal que se opera por meio de permitir experimentar a
mudança de uma informação falsa por uma informação verdadeira,
criando uma vivência real, de que a pessoa passa a ser um sujeito
ativo de sua própria história.
A finalidade da Psicoterapia Breve é ajudar a encarar os diversos
conflitos que produzem angústia, que acabam determinando quadros variados
de uma psicopatologia psicodinâmica (KNOBEL, 1986).
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1.3 CARACTERIZAÇÃO DA TÉCNICA E DO MÉTODO
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O paciente ideal para o tratamento com Psicoterapia Breve Dinâmica
costuma ter problemas focados e aspectos da personalidade funcionantes: alta
motivação, boa capacidade de insight e de se vincular rapidamente ao
terapeuta. Mas são poucas as pessoas que se enquadram no perfil que este
tipo de psicoterapia exige (MARCON, 2010).
Para a seleção de pacientes, Sifneos destaca que é importante que o
paciente apresente as seguintes características (CORDIOLI, 1998):
1. queixa circunscrita;
2. inteligência;
3. no mínimo uma relação interpessoal significativa na infância;
4. motivação para mudanças e não somente alívio de sintomas,
sugerida pela capacidade de introspecção, disposição de tempo,
dinheiro e disponibilidade interna;
5. capacidade de tolerar ansiedade e frustração desencadeadas pela
psicoterapia;
6. capacidade de desenvolver uma relação com terapeuta e de
interagir com ele (MARCON, 2010 apud CORDIOLI, 1998).
O processo terapêutico deve acontecer ao longo de um período
aproximado de 5 a 20 sessões que este tipo de tratamento costuma durar. O
trabalho psicoterapêutico está baseado na formulação inicial de uma hipótese
psicodinâmica que engloba os sintomas apresentados pelo paciente, suas
relações com os conflitos atuais, nucleares, as possíveis manifestações na
transferência e o estabelecimento de critérios de melhora (CORDIOLI, 1998).
A prática terapêutica acontece da seguinte maneira: o paciente senta-
se frente a frente com o psicoterapeuta, em sessões que podem variar entre
uma ou duas vezes por semana inicialmente, tornando-se mais espaçadas
quando se aproxima da alta. No início da psicoterapia, é enfatizada a
interpretação dos diversos elementos do conflito: sintomas, impulsos, desejos
ou sentimentos, mecanismos de defesa. Num segundo momento, o conflito
manifesta-se nas várias situações interpessoais: transferência, relação com
pessoas significativas da vida atual e da vida passada (CORDIOLI, 1998 apud
MARCON, 2010).
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A Psicoterapia Breve Dinâmica utiliza-se dos conceitos de Malan de
“atenção seletiva” e “negligência seletiva”, que consiste em direcionar a
atenção do terapeuta e do paciente para o foco (um tema escolhido
inicialmente por ambas às partes) onde se estabelece o terceiro conceito, a
“interpretação seletiva”. Para que isso ocorra, o paciente necessita iniciar
associações livres e o terapeuta procurar identificar no material as conexões
possíveis para que seja o foco, e passa a oferecer interpretações em sinal de
um papel ativo no processo terapêutico (CORDIOLI, 1998).
Estimula-se o paciente para que mantenha a concentração no foco da
terapia, e a partir disso o terapeuta examina-o por diversos ângulos e inclusive
pela transferência, que, sendo negativa, pode ser aproveitada como sendo um
exemplo do conflito atual. No relacionamento terapêutico, a transferência é
imediatamente remetida ao foco onde pode servir como um elemento a mais
para que o paciente possa perceber a vinculação de seu sintoma ou problema
atual com algum conflito inconsciente que foi indicado (CORDIOLI, 1998).
O silêncio é ativamente desencorajado e pode ser interpretado como
resistência, bem como também os atrasos, faltas, tentativas de encher o
tratamento de outras coisas que tiram o foco da terapia, entre outros aspectos
(CORDIOLI, 1998).
A contratransferência é um ponto também muito importante para o
andamento da terapia, onde o terapeuta está passível de identificar-se desde o
início da terapia, fato que é útil para orientá-lo na escolha do material a ser
trabalhado na sessão (CORDIOLI, 1998).
Após um exame completo do problema principal, e mantendo sempre a
motivação em um nível elevado, observa-se o estabelecimento progressivo de
um insight intelectual. Significa que o paciente obtém uma compreensão
interna sobre seus próprios sintomas ou problemas, o que vai além de apenas
um alívio de sintomas, pois o insight intelectual possui um valor terapêutico e
preventivo. Esse insight permite a reorganização da vida atual do seu paciente
por parte do mesmo, a capacitação para enfrentar e resolver problemas futuros
baseados na aquisição da compreensão cognitiva e autocompreensão
(CORDIOLI, 1998).
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Os resultados, de certa forma, estão relacionados com a motivação
para alcançar a mudança, frequência de interpretações, transferências e a sua
ligação com figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou
sentimentos do conflito focal por parte do paciente (CORDIOLI, 1998).
A partir da resolução do conflito atual, as repercussões podem se
estender para além do foco, trazendo a possibilidade de ocorrer mudanças em
outras áreas da vida do paciente (CORDIOLI, 1998).
Outro ponto importante de ser observado na Psicoterapia Breve
Dinâmica é como a alta deve acontecer. Para Mann (1973), a alta deve ser
algo definitivo, dando ao terapeuta a responsabilidade de deixar claro nas
entrelinhas que após a alta não haverá possibilidade de entrevistas adicionais.
Sendo que se surgir a necessidade de acompanhamento posterior ao
tratamento, deve ser de forma completamente inesperada.
Segundo Mann (1973), a perspectiva de alta tende a produzir no
paciente quatro conflitos básicos e universais:
a) independência/ dependência;
b) atividade/ passividade;
c) autoestima adequada/ perda da autoestima;
d) luto não resolvido ou postergado.
Mann (1973) dá importância a esta fase do tratamento pelo fato de
possibilitar o afloramento de conflitos passados, como também o surgimento de
uma relação terapêutica que não idealiza a intervenção do terapeuta após o
término do tratamento. Com relação a isso, Mann diz que:
[...] é nesta fase final que terá lugar o trabalho definitivo de resolução,
o qual irá incorporar, necessariamente, a compreensão de todos os
eventos dinâmicos altamente concentrados e intensamente vividos
que a precederam. A fonte genética destes afetos é revivida na
decepcionante realidade da alta e da separação do terapeuta, com
quem o paciente se identificou profundamente [...] (MANN, 1973)
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desvantagens consideráveis, tanto para o terapeuta quanto para o paciente,
pois tendem a envolver-se profundamente durante o tratamento tornando assim
mais difícil a separação. Salientando assim, que a delimitação do tempo traz
muito mais benefícios ao processo terapêutico do que prejuízos, sendo que,
desta forma, a questão da alta pode ser discutida desde o início das terapias,
suavizando a separação.
FIGURA 1 - PSICOTERAPIA
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As psicoterapias variam em relação às técnicas que utilizam, às teorias
nas quais se baseiam, aos objetivos, à frequência das sessões e ao tempo de
duração. Abrangem desde as psicoterapias breves de apoio – destinadas a
auxiliar o paciente a superar dificuldades momentâneas, por meio do
aconselhamento, apoio, catarse, sugestão –, a terapia comportamental que
utiliza exposição in vivo, a prevenção da resposta, o condicionamento clássico;
a hipnose; o brinquedo (crianças), as terapias de grupo, de família e de casais;
o psicodrama, até formas mais complexas como a psicanálise e a psicoterapia
de orientação analítica, que se propõem a modificar aspectos da personalidade
pela obtenção do insight interpretando defesas por meio da análise da neurose
de transferência (CORDIOLI, 1998).
Há alguns elementos que são comuns a todas as psicoterapias: a
relação paciente-terapeuta (ou cliente-terapeuta, como propõem algumas
escolas), a qual está inerente à aceitação e o apoio do paciente por parte do
terapeuta, proporcionando-lhe oportunidade para expressar emoções
perturbadoras; o contrato terapêutico; e uma teoria na qual a técnica específica
se fundamenta (ORLINSKY & HOWARD, 1987; ALTSHULLER, 1989).
O terapeuta e o paciente sentam-se frente a frente, ou então o paciente
deita-se num divã e o terapeuta senta-se às suas costas, em uma ou mais
sessões semanais, quinzenais e até mensais. Nas psicoterapias de grupo, um
ou eventualmente mais de um terapeuta encontram-se simultaneamente com
vários pacientes, num mesmo local, em frequência variável (CORDIOLI, 1998).
As psicoterapias são utilizadas por diferentes profissões: psiquiatras,
psicólogos, médicos clínicos, enfermeiros, assistentes sociais entre outros.
Suas origens históricas situam-se na Medicina antiga, na religião, na cura pela
fé e no hipnotismo. Mas, foi no final do século passado que elas começaram a
ser utilizadas no tratamento para as assim denominadas doenças nervosas e
mentais, tornando-se uma arte médica restrita aos psiquiatras. E foi no decorrer
do século XX que outras profissões passaram a exercê-la, conservando-se,
entretanto, os termos relacionados com sua origem médica: doença, etiologia,
diagnóstico, paciente, terapeuta, que de certa forma são inadequados
(STRUPP, 1989). Na verdade, a psicoterapia é muito mais uma atividade
colaborativa entre o paciente e o terapeuta, do que uma ação propriamente
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unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa como ocorre com outros
tratamentos médicos (CORDIOLI, 1998).
Na literatura são mencionados mais de 400 tipos diferentes de
psicoterapias (KARASU, 1986). Muitos destes modelos se organizaram em
sociedades científicas, promovendo encontros, congressos, cursos de formação
e estabelecendo regras para sua prática. Como é um campo pertencente a
várias profissões, inexiste, entretanto, qualquer tipo de fiscalização oficial ou de
exigência mínima para quem as pratica (CORDIOLI, 1998).
Desde meados deste século, tem sido feito um enorme esforço de
pesquisa para sua validação por meio da comprovação de sua efetividade e
dos seus resultados. Como consequência, algumas formas vêm impondo-se ao
longo do tempo, seja pela comprovação clínica de sua utilidade no campo da
saúde mental e da saúde em geral, seja pelo resultado das pesquisas
(CORDIOLI, 1998).
Algumas psicoterapias são de uso corrente e se constituem num recurso
terapêutico de eficácia comprovada e eventualmente até superior a outras
técnicas, como é o caso das terapias comportamentais para o tratamento de
fobias específicas e rituais compulsivos ou das terapias de orientação analítica
para problemas caracterológicos ou de personalidade. Outras são utilizadas em
conjunto e de forma integrada com terapêuticas biológicas (terapias cognitivas
nas depressões, psicossociais nas esquizofrenias e demências), devendo o
psiquiatra e os outros profissionais da área da saúde conhecê-las e saber indicá-
las, quando necessário (CORDIOLI, 1998).
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1.4.1 Psicoterapias baseadas na teoria psicanalítica – Psicanálise
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1.4.2 Psicoterapia de Orientação Analítica
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deslocamento, condensação, resistência, pulsão, etc. Freud estava mais
interessado na teoria do que na clínica e preocupava-se com a cientificidade do
seu corpo teórico, preferindo escapar da relação terapêutica, que ele
considerava passível de ser criticada como subjetiva. Em 1937, em Análise
Terminável e Interminável, Freud ratifica essa posição. Freud, enfim, não
propôs nenhuma modificação técnica por muitos anos, tendo até mesmo se
oposto a elas (HEGENBERG, 2010).
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Ferenczi (1988) se preocupava com a prática clínica e com o papel do
terapeuta na análise, oportunizando a discussão da relação terapêutica e da
função do mundo real na psicanálise. Essa questão ainda hoje está presente,
com vários autores se recusando a considerar o mundo exterior como objeto de
preocupação da psicanálise (HEGENBERG, 2010).
Em 1909, Ferenczi (1988) introduziu o conceito de introjeção, em seu
artigo “Transferência e Introjeção” (1988), demonstrando seu interesse precoce
pela relação com o outro, lembrando que os conceitos de projeção e introjeção
são essenciais na teoria kleiniana do objeto. Ferenczi (1988) preocupou-se em
integrar o problema atual do indivíduo com sua história pessoal, em observar
como o sujeito se comporta no presente em função de seu passado
(HEGENBERG, 2010).
Com relação ao assunto sobre introjeção, contratransferência e
transferência, a importância do analista na terapia, o papel do mundo real e do
enquadre, Ferenczi (1988) abriu as portas para se refletir a prática
psicoterápica e a relação terapêutica, se tornando autor de leitura
imprescindível no estudo da Psicoterapia Breve (HEGENBERG, 2010).
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Para muitos analistas, o terapeuta de Psicoterapia Breve estaria
cometendo um erro técnico ao ser mais ativo e para uma concepção
de psicanálise winniocottiana, o terapeuta de Psicoterapia Breve
apenas estará sendo ele mesmo. Cabe ressaltar que não se fala,
aqui, de terapeutas selvagens, com formação questionável, que
justificam intromissões grotescas a partir de uma concepção baseada
em Winnicott (1975a). Dizer que o analista interfere no processo de
análise não deve servir para justificar intromissões indevidas. Na
teoria de Winnicott (1975a), é clara a diferença entre invasão e
apresentação (HEGENBERG, 2010, p.44).
1.4.4.1 Teoria
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1.4.4.2 Técnica
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O paciente senta-se frente a frente com o terapeuta, em sessões que
variam de uma a duas vezes por semana no período inicial, tornando-se mais
espaçadas quando se aproxima o término do tratamento (CORDIOLI, 1986).
No início da terapia, é enfatizada a interpretação dos diferentes
elementos do triângulo do conflito: sintomas, impulsos, desejos ou
sentimentos, mecanismos de defesa; num segundo momento, o conflito
manifestando-se nas várias situações interpessoais: transferência, relações
com pessoas significativas da vida atual e da vida passada (triângulo do
insight) (MALAN, 1981).
Os resultados parecem estar correlacionados com motivação para
mudança, frequência das interpretações transferenciais e a sua ligação com:
figuras paternas a elementos envolvendo impulsos, desejos ou sentimento do
conflito focal (MALAN, 1981).
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1.4.4.4 Indicações
1.4.4.5 Contraindicações
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É importante para esse estudo propor enquadres diferentes para pacientes
diversos, dependendo da necessidade de cada um. Parte-se do princípio de que o
cliente/paciente procura o profissional porque está em conflito e necessita de ajuda.
É função de o terapeuta identificar o problema crítico pelo qual passa o cliente e
ajudá-lo na tentativa de sua elucidação. É por isso que é necessária uma avaliação
de cada caso antes do início da psicoterapia (HEGENBERG, 2010).
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Quando o cliente/paciente chega ao consultório, não sabemos se ele
retornará. Em geral, apenas escutá-lo na primeira entrevista está implícita a crença
de que ele retornará, o que não é garantido, até porque ele pode ter saído frustrado
por nada ter ouvido de significativo (HEGENBERG, 2010).
Uma das ideias de quatro tarefas é que elas propiciam tempo suficiente para
que haja um conhecimento mútuo. Tanto o psicoterapeuta poderá verificar sua
vontade de atender ou não aquele cliente/paciente, como este poderá avaliar o que
seu psicoterapeuta está falando é apropriado e faz sentido, ou não. Os
psicoterapeutas, normalmente, não admitem a hipótese de que ele não queira se
consultar conosco (HEGENBERG, 2010).
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2.1.1 Quatro tarefas
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A sequência de quatro tarefas é estabelecida de forma didática. É claro que
a avaliação da demanda, da capacidade de insight, por exemplo, estará em
tela todo o tempo. Se o paciente está em crise ou não, é algo que algumas
vezes já é possível estabelecer lodo de início. O foco pode ficar claro de
imediato, ou pode se esclarecer (ou não) apenas nas sessões seguintes, e
assim por diante (HEGENBERG, 2010, p. 61).
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levará em conta essa formulação. Uma avaliação da personalidade torna-se
fundamental e de grande utilidade (HEGENBERG, 2010).
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3) Na anamnese, é verificado o aprofundamento do problema, tendo o
psicoterapeuta em mente as circunstâncias do aparecimento da
descompensação atual, com vistas a entender as características;
4) São essenciais as relações objetais estabelecidas pelo cliente/paciente no
passado e no presente;
5) O psicoterapeuta necessita ter, em sua bagagem técnica, sólidos
conhecimentos de psicopatologia, bem como das várias teorias explicativas
sobre as causas dos distúrbios psíquicos em psicopatologia vincular. No
caso da psicanálise, esse entendimento envolve o “modelo causal” freudiano
e a sua teoria das séries complementares.
6) Já ao final da primeira entrevista, Gilliéron (1998) esperava dos
psicoterapeutas que eles tivessem uma ideia do tratamento que entreviam:
indicação para tratamento medicamentoso, psicoterapia a longo prazo,
psicanálise ou psicoterapia a curto prazo.
Para entender cliente/paciente e determinar seu tipo de personalidade, a
ênfase estará colocada em três procedimentos: apresentação do cliente, a sua
primeira fala e a resposta emocional do psicoterapeuta (HEGENBERG, 2010).
2.1.1.1.1 Apresentação
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transferência dá-se com a instituição, a partir do que se entende dela e de quem a
indicou (HEGENBERG, 2010).
Há alguns indícios que devem ser levados em consideração. Se
cliente/paciente telefona. Se deseja consulta urgente, ou para dali a duas semanas.
Se liga e quer falar com o psicoterapeuta, ou apenas marca o horário com a
secretária. Se chama insistentemente, ou deixa o número do telefone e não atende,
ou liga dias depois (HEGENBERG, 2010).
Na hora em que ele chega, pode se “fazer presente” ou ser discreto, entrar
com vários objetos, falar com todos, ficar calado, arrumar algum a
confusão. Em geral, não presenciamos essa hora de chegada, mas
ficamos sabendo se algo significativo ocorreu, porque alguém vai contar
(HEGENBERG, 2010, p. 64).
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A maneira como o paciente está vestido também interessa. Mais ou menos
formal, jovem, cores discretas ou aberrantes, confortável ou apertado,
engomado, com estilo próprio que lhe cai bem, na moda demais,
“mauricinho”, bizarro, etc. Lembro-me de um paciente que chegou todo de
preto, com uma bermuda agarrada nas pernas, camiseta curta, com um
desenho assustador (...), tênis enorme para o vestuário, cabelos
despenteados. Achei que fosse piada, tal a dissonância com qualquer coisa
conhecida, mas era sério. E o problema dele é que não conseguia sucesso
com as mulheres, imagine (HEGENBERG, 2010, p. 65).
Safra (1999) afirma que o sujeito apresenta o seu existir por gesto, por
sonoridade, por formas visuais, por diversos meios disponíveis para constituir seu
self e seu estilo de ser. São ações de grande complexidade simbólica e não
passiveis de decodificação (HEGENBERG, 2010).
Eu deixo o paciente entrar primeiro e fico observando o que faz por alguns
segundos, enquanto fecho as portas da sala. Nesse momento, o sujeito
pode ficar esperando indicação de onde sentar ou já escolher seu canto, ou
sentar na minha poltrona (e então eu peço para ele mudar de lugar), pode
ficar olhando perdido para o ambiente novo, ou nem olhar para o que existe
ao seu redor, pode estar calado ou falando, pode estar me olhando ou não,
pode demorar em se sentar, pode estar carregado de coisas e não saber
(ou saber) o que fazer com elas (HEGENBERG, 2010, p. 66).
34
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38
Portanto, caso não esteja atento aos detalhes de tudo o que aconteceu
antes da primeira fala do paciente na sala de consulta. Tais detalhes fornecem
informações que, aliadas à primeira fala do paciente e ao que o psicoterapeuta está
sentindo, formam um conjunto de dados que propiciam uma avaliação inicial
detalhada do cliente/paciente (HEGENBERG, 2010).
35
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39
É interessante proporcionar ao paciente uma compreensão do motivo da
consulta logo de início. Mesmo sabendo que as falas significativas se
repetem ao longo de uma análise ou de uma sessão, a vantagem de captá-
la rapidamente não se dá por força de um possível concurso de velocidade,
mas pela simples razão de que o paciente se beneficiará se for
compreendido o mais breve possível (HEGENBERG, 2010, p. 67).
36
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40
Ferenczi (1988) abriu as portas para se pensar na contratransferência. Seu
conceito de introjeção refere-se às trocas entre duas pessoas interagindo. Suas
ideias desembocaram na teoria kleiniana da relação objetal, na qual dois mundos
internos trocam projeções e introjeções.
Winnicott (1975c) foi além e forjou o conceito de espaço potencial, lugar de
interação entre duas pessoas reais. A partir de que a mão real interfere e constitui
seu bebê, Winnicott chamou a atenção para o ambiente e sua influência na
constituição do ser humano.
A reação emocional do terapeuta como instrumento de análise pode parecer
arriscada, subjetiva e não científica. O que Winnicott (1975) nos ensinou, no entanto,
é a inevitabilidade dessa condição. Como no par analítico existem duas pessoas
reais, não há como descartar um dos elementos dessa relação, o analista.
Em função do exposto, cabe considerar importante o que o analista está
sentindo com o paciente, naquele momento considerado. Daí a reação emocional do
terapeuta ser um elemento fundamental na compreensão do paciente. O fato de
cada analista ser único e cada par analítico albergar sua singularidade não quer
dizer que não se possa utilizar o que se passa em cada sessão como material de
reflexão para compreender outros pacientes. Embora a particularidade de cada
análise deva ser resguardada, nós humanos temos sentimentos que, em geral, são
compartilháveis; caso contrário, seria impossível a teoria sobre nós mesmos, a
psicoterapia, e até a vida em comum (HEGENBERG, 2010).
O terapeuta pode sentir, por exemplo, na sessão, rivalidade, proteção
(apoio), agressividade, reasseguramento, distanciamento, rejeição, autoproteção,
desorganização, estranhamento, irritação, competição, querer organizar a situação,
curiosidade (HEGENBERG, 2010).
Cabe lembrar que se trata do que o terapeuta está sentindo e não de suas
impressões a respeito do cliente. Nas supervisões, diante da pergunta sobre o que
sentiu, é comum o supervisionando dizer: “senti que o paciente estava triste”, ou
“senti que ele não falava coisa com coisa”, respostas que se referem ao paciente.
Nem sempre é fácil saber o que sentimos em cada situação. Muitas vezes é preciso
um esforço para entender o que se passou (OGDEN, 2003, p. 161).
Na Psicoterapia Breve Dinâmica, a reação emocional do psicoterapeuta é
fundamental para o diagnóstico dos tipos de personalidade, N, EL e P. O que o
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41
psicoterapeuta está sentindo entra na avaliação da sessão, com a apresentação da
primeira fala, fornecendo elementos para o entendimento da demanda do paciente e
para a elaboração do foco (HEGENBERG, 2010).
38
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42
3) Ao formular a sua hipótese, o psicoterapeuta deve – segundo a hipótese
psicanalítica de Gilliéron – basear-se na natureza da relação que o
cliente/paciente procura estabelecer e dar-lhe uma interpretação
psicodinâmica que “explique” a atitude atual do cliente/paciente, ligando-a
com o passado deste último.
Para Hegenberg (2010), é recomendável iniciar qualquer sessão ouvindo o
que o cliente/paciente tem a dizer. Caso haja uma segunda sessão, vale à pena
perguntar como foi a primeira, como o cliente/paciente se sentiu, o que pensou e o
que achou de ter vindo. O interesse dessas perguntas está em avaliar se o paciente
refletiu sobre o que foi dito. Se ele esqueceu tudo, se traz alguma questão, se
discorda ou acrescenta são dados úteis para avaliar o grau de comprometimento
com seus problemas, sua capacidade de insight, etc (HEGENBERG, 2010).
Um dos elementos fundamentais na indicação de psicoterapia é a
possibilidade de o cliente/paciente estar em crise. A segunda tarefa consiste em
estabelecer se há crise, ou não (HEGENBERG, 2010).
Estar angustiado ou com sintomas não significa estar em crise. Segundo
Mofftt (1983), o conceito de crise é um corte na subjetividade do sujeito
(HEGENBERG, 2010).
39
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43
2.1.1.3 Terceira tarefa
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castração. Como sua motivação inicial não era por mudança, e como estava muito
angustiado, podendo até vir a deprimir, além de estar bastante estruturado em seu
modo de ser, a opção por um trabalho inicial de apenas lidar com a questão dos
limites e a repercussão disso na sua relação com a namorada foi mais prudente
(HEGENBERG, 2010).
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2.1.1.5 Limites e possibilidades das quatro tarefas
42
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intuitivamente realizadas pelo analista na ocasião das primeiras entrevistas.
A diferença com a Psicoterapia Breve Dinâmica é que as tarefas norteiam
explicitamente o enquadre do(s) primeiro(s) contato(s) com o paciente
(HEGENBERG, 2010, p.75).
43
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47
Poderá também estar atravessando situações pessoais de vida
eventualmente difíceis ou conflitivas, ter determinados traços de caráter ou
formas de reagir diante de situações novas em função de sua história
pessoal, ou mesmo pontos “cegos” em sua estrutura psicológica, que
podem ou não interferir na forma como irá perceber, compreender e
aceitar o novo paciente e das quais poderá ter maior ou menor
consciência. Entretanto, deve ser capaz de prevê-las e controlá-las para
que não interfiram no trabalho psicoterápico. Deverá ser capaz, sobretudo,
de compreender a situação particular de vida na qual o paciente se
encontra e descobrir a melhor maneira de ajudá-lo, criando um clima de
confiança e de respeito que propicie a revelação de segredos,
sofrimentos, bem como de problemas, por mais íntimos e dolorosos que
sejam. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998, p. 99).
44
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1979), ou de desenvolver uma boa relação com o psicoterapeuta (ALLEN, 1984;
LUBORSKY, 1983 e 1984; MARZIALI, 1981 E 1984).
Outro ponto facilitador é a expectativa realística do paciente quanto ao que a
psicoterapia e o psicoterapeuta podem de fato oferecer. A natureza destas
expectativas varia de acordo com o tipo de problema, o funcionamento pessoal,
experiências em tratamentos anteriores, classe social, nível cultural, informação e
conhecimento prévio sobre o que seja psicoterapia (FRANK, 1978).
A discrepância entre as expectativas quanto ao escopo da psicoterapia e o
desconhecimento quanto ao modo como funciona são dificuldades que surgem
primeiro e que, se não forem trabalhadas desde o começo, podem comprometer o
trabalho de forma irremediável (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
45
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imagina que ocorrerão as transformações e o que espera do psicoterapeuta
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
São informações essenciais para o começo do trabalho, pois elas permitirão
ao psicoterapeuta avaliar o quanto o paciente é permeável ao estabelecimento de
novos escopos (mais amplos ou mais restritos) e à substituição de sua visão mágica
por uma visão mais realística, mais objetiva do processo de tratamento, e se é capaz
de assumir a responsabilidade pelo trabalho e pelos resultados, renunciando à
fantasia mágico-infantil de ser cuidado e mudado exclusivamente pelos esforços do
psicoterapeuta (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O psicoterapeuta, sem adotar uma postura rígida, estará atento às
modificações de objetivos que possam surgir na evolução da psicoterapia, ou até
mesmo na troca da modalidade terapêutica escolhida no começo, se necessário. A
busca do tratamento pode ter ocorrido por uma situação de crise, subjacente à qual
podem ser identificados problemas de natureza crônica, características de
personalidade, que eventualmente demandariam uma modificação de enfoque. É
muito comum ainda a necessidade de reformular a impressão diagnóstica inicial,
revendo, a opção psicoterapêutica, como, por exemplo, associando farmacologia ou
passando a considerar como opção preferencial a psicoterapia em pacientes que de
início se teve a impressão de serem portadores de transtornos de natureza biológica
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O paciente que inicia o tratamento traz consigo uma “teoria” sobre a
natureza de seus sintomas e problemas que é uma convicção arraigada, envolvendo
mecanismos de defesa como negação, dissociação, racionalização ou outros
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
A psicoterapia implica abandono de tais concepções e sua substituição por
outras que o psicoterapeuta irá propor. Este deverá se preocupar, inicialmente, em
compreender a “teoria” ou as concepções do paciente sobre o seu problema. Para
isto, é fundamental que investigue com atenção suas explicações. A modificação
destas “teorias” pode se iniciar pelo esclarecimento das relações entre o início dos
sintomas e algum evento significativo, estressores ambientais ou conflitos de
natureza interpessoal (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
46
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50
Muitos pacientes resistem em admitir a natureza psicológica ou emocional
de seus problemas e mais ainda sua vinculação a conflitos de natureza
inconsciente, insistindo muitas vezes, em atribuir a doenças físicas ou a
fatores orgânicos a origem de suas dificuldades. Tais concepções podem
representar um entrave importante para sua exploração por meios
psicológicos, particularmente nas psicoterapias voltadas ao insigth, devendo
ser trabalhadas já no início, para que paciente e terapeuta tenham um
mínimo de consenso sobre sua natureza, e a maneira como podem ser
resolvidos os problemas. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998, p. 100).
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acordo com o que era esperado, obtendo melhores resultados do que aqueles que
não a haviam realizado (FRANK, 1978; LUBORSKY, 1983 e 1984).
Na fase inicial da psicoterapia, uma vez estabelecida a necessidade do
tratamento, escolhida mais apropriada aos sintomas, características pessoais e
condições de vida do paciente, dois aspectos merecem atenção especial do
psicoterapeuta: 1) o contrato; e 2) a formação do vínculo e da aliança terapêutica
(CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
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52
O psicoterapeuta por meio de explicações e do contrato explícito dá uma
ideia de como deverá se desenrolar a psicoterapia. Porém, é por meio de suas
atitudes nas consultas que transmite uma noção concreta de como o tratamento se
desenvolve. Tais atitudes deverão ser consistentes com o processo básico da
modalidade de psicoterapia escolhida (LANGS, 1984). Logo, na psicoterapia voltada
para o insight, as perguntas que visam à compreensão do conteúdo do paciente,
encorajam a reflexão (LANGS, 1984).
No começo do tratamento, fazendo parte do contrato, há alguns tipos
combinações e arranjos em que são estabelecidas regras relativas ao modo de
funcionamento e organização da psicoterapia (CEITLIN & CORDIOLI, 1998), como:
frequência, horário e duração das sessões; responsabilidade pelas sessões;
possibilidade ou não de sessões extras; faltas, atrasos e mudanças de horários; férias
e interrupções passageiras; impossibilidades de comparecer às sessões
(compromissos pessoais, doença, viagens); uso do telefone e forma de se comunicar
com o psicoterapeuta; duração do tratamento: número de sessões previstas ou sem
prazo para o término; envolvimento de outros membros da família; sigilo; Honorários:
o preço das sessões, ocasião do pagamento, aspectos burocráticos quando existe a
intermediação de convênios (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
O escopo da Psicoterapia Breve Dinâmica é aumentar o conhecimento de si
mesmo pela exploração das relações interpessoais do paciente com pessoas
significativas da sua vida presente, do passado e com o psicoterapeuta
(transferência), das percepções de suas motivações, formas de reagir e de se
proteger diante de sentimentos ou de impulsos ao longo de seu desenvolvimento,
bem como do significado consciente ou inconsciente de atitudes repetitivas que são
desadaptativas. Provoca olhar para dentro de si e refletir sobre seus conflitos.
Resistências iniciais são formadas e a ambivalência é um fenômeno sempre
presente no início de uma psicoterapia (STREAN, 1990).
Mesmo que os candidatos à psicoterapia apresentem insatisfações e
sofrimento em suas vidas, o início por um lado pode ter um efeito catártico, por outra
parte é em geral provocador de ansiedade, na medida em que desafia várias
características da estrutura psicológica do paciente. Logo, engajar-se nesta tarefa
pressupõe dar-se conta de que precisa de outra pessoa, indo de encontro a
sentimentos onipotentes, e narcisistas e diminuindo a autoestima, o que pode variar
49
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53
em dificuldade entre as diferentes pessoas. Podem surgir medos intensos de se
expor, de ser invadido, com a revelação de sentimentos e fantasias proibidas e a
consequente punição (STREAN, 1990).
Muitos pacientes projetam estes aspectos punitivos no psicoterapeuta, criam
uma expectativa de retaliação e, receosos, evitam a psicoterapia. Assim, a indicação
de psicoterapia aumenta ansiedades quanto a desejos inconscientes, ativa
sentimentos punitivos e mobiliza mecanismos de defesa. Portanto, as indicações de
psicoterapia são muitas vezes adiadas ou totalmente rejeitadas. O entendimento
destes fenômenos e sua interpretação em tempo, por parte do terapeuta, aumenta
as chances de diminuição destas resistências iniciais e, portanto, da permanência do
paciente em psicoterapia (STREAN, 1990).
Para envolver o paciente no trabalho psicoterápico, o psicoterapeuta deverá
dedicar atenção ao desenvolvimento de algumas habilidades especialmente
necessárias ao êxito de psicoterapias destinadas ao insight (EIZIRIK, 1989; LANGS,
1973 e 1984; LUBORSKY, 1976 e 1984). Dentre estas habilidades, destacam-se o
hábito da auto-observação, a capacidade de se comunicar com o terapeuta e a
iniciativa nas sessões (STREAN, 1990).
50
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contrários as próprias convicções e desejos, ou lhe trouxerem algum tipo de
prejuízo, buscando seu significado. - Registrar os sonhos ocorridos nos
intervalos das consultas. - Identificar as situações atuais ou passadas que
desencadeiam tais atitudes ou sentimentos. - Fazer uma espécie de
“registro” mental de todo este material, para explorá-lo junto com o
psicoterapeuta nas próximas sessões. (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
51
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alguns instantes até que ele inicie a fala. O sentido da regra é estimular a
autonomia, fazer com que o paciente se sinta responsável pelo trabalho
psicoterapêutico e facilitar a comunicação, que ficaria prejudicada caso o
psicoterapeuta iniciasse as consultas introduzindo assuntos com os quais o mesmo
estivesse preocupado (CEITLIN & CORDIOLI, 1998).
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2.2.2.1 A fase final da psicoterapia
53
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Vários autores (DEWALD, 1972; ZIMMERMANN, 1980; PINTO MACHADO,
1989) fazem referência à escassa literatura sobre a terminação da psicoterapia.
Uma pesquisa bibliográfica recente revelou muito trabalhos sobre problemas com o
término: interrupções (FRAYN, 1992), repercussões do abandono de um dos
membros nas psicoterapias de grupo (SCHERMER & KLEIN, 1996), terapias de
grupo de tempo limitado (MACKENZIIE, 1996), trabalhos dirigidos à terminação em
psicoterapias de crianças (FABRICIUS & GREEN, 1995). Alguns comentários (cartas
de diversos autores) discutem o contato sexual entre paciente e terapeuta depois do
término do tratamento (PINCUS, 1992), o que destaca a intensidade e, portanto, os
riscos da relação que se estabelece entre terapeuta e paciente.
Etchegoyen (1987, p. 365) sugere uma aproximação do problema do
término em psicanálise a partir de três vértices: teórico, clínico e técnico. No vértice
teórico, seria examinado como se entende o final da análise, a que pressupostos
teóricos nos reportamos para determinar que foi atingido um melhor nível de
funcionamento pelo paciente (“o problema sempre difícil de resolver sobre a saúde
mental de um indivíduo”, nas palavras deste autor, p. 365). No vértice clínico, os
indicadores de alta. No vértice técnico, os métodos de trabalho de alta, o “como e
quando” do término.
A decisão de dar por terminado um trabalho psicoterápico parte de uma
concepção das dificuldades do paciente e da natureza e objetivos do tratamento
empreendido. Tal concepção se baseia em conceitos teóricos, resultantes da
formação profissional do psicoterapeuta, em conceitos de melhora e de cura que
derivam de uma noção de saúde/enfermidade que será distinta nas diferentes
escolas de pensamento. Estas diferenças não são tão marcadas quanto examinadas
à luz dos aspectos práticos do trabalho, como destaca Gus (1989, p. 391).
54
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58
2.2.2.2 A decisão da alta
(...) o ciclo que se iniciou pela avaliação do paciente que nos procurou para
tratamento. Avaliação esta que foi sendo enriquecida e precisada ao longo
da psicoterapia, e que, agora, será o ponto de referência para as
considerações de melhora e aproveitamento que indicam a possibilidade de
dar por terminado o trabalho. (DEWALD, 1972, p. 353).
55
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59
corresponder tanto ao psicoterapeuta como ao paciente, de preferência a este
último” (p. 402). Nas psicoterapias breves, em que a data da alta é marcada desde o
início, esta iniciativa fica a cargo do psicoterapeuta. Ainda que não se compartilhe
totalmente da posição de Etchegoyen (1987), no que diz respeito a quem deveria
introduzir o tema do término, sua advertência de que os indicadores de final de
tratamento devem ser espontâneos é coerente com a ideia de que o psicoterapeuta
deve estar constantemente alerta, seguindo aquele processo de avaliação de seu
paciente (e da psicoterapia) que iniciou na primeira consulta.
Nesta linha, Etchegoyen (1987) diz que ao psicoterapeuta cabe, no máximo,
interpretar o paciente quanto ao material referente ao término que apareça sem ser
explicitado (p. 382). E pode-se pensar que, até para decidir pela aplicação de algum
instrumento, o psicoterapeuta é guiado por um julgamento do que ocorre no
tratamento, mesmo considerando possíveis prazos de aplicação. O que se pretende
destacar, aqui, é que, em todos os tipos de psicoterapia, o psicoterapeuta faz uso de
indicadores para a decisão da alta.
2.3.1 Temporalidade
56
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60
devem ser dissociados, ainda que alguns aspectos digam mais respeito à dimensão
temporal e outros à dimensão espacial (PESSOA, 2003).
A primeira observação é sobre a relação dialética não linear que pode existir
entre o que pode ser chamado de “tempo cronológico” (do relógio) e “tempo
subjetivo”. Indaga-se: “Qual é o significado psicológico de uma limitação da duração,
e qual é o efeito da ausência de limite?” Estudos clínicos comparativos (GILLIÉRON,
1986) demonstram que as psicoterapias cuja duração é limitada logo de início são
levadas a termo com muito mais frequência do que as psicoterapias de duração não
limitada. Esse fenômeno é constante, qualquer que seja a natureza da psicoterapia
(PESSOA, 2003).
Reconhece-se que as transformações psíquicas podem ocorrer num tempo
relativamente curto, contrariamente ao que havia afirmado o pai da psicanálise e ao
que as gerações seguintes contentaram-se muitas vezes em repetir sem questionar.
Freud mobilizou seus esforços para uma leitura pulsional da psique no paradigma
teórico de sua metapsicologia, salientando quase exclusivamente a dimensão
intrapsíquica, em detrimento de a realidade vincular intersubjetiva. Durante muito
tempo a psicanálise se viu sem instrumentos teóricos que lhe permitissem levar em
conta a influência da disposição do enquadre psicoterápico ou do campo analítico
sobre o processo. Esta “cegueira” epistemológica tem estado por muito tempo
presente no meio clínico, mas os avanços da área estão delineando um novo estado
de situação (PESSOA, 2003).
A observação da atemporalidade e da lentidão dos processos inconscientes
não tem mais servido de pretexto para negar os resultados das psicoterapias breves
(PESSOA, 2003).
Limitar a duração de um tratamento comumente desperta mais medo no
terapeuta do que no paciente, que argumenta sentir temor de realizar um
“tratamento incompleto” (PESSOA, 2003). Segundo Gilliéron (1986), isso traduz o
medo de não ter tempo suficiente para se chegar ao “fim das dificuldades do
paciente” – medo sustentado pela ilusão narcísica de aspirar certa “perfeição” ao
final do tratamento, fator contratransferencial passível de também prolongar
inutilmente até mesmo os tratamentos analíticos clássicos (GILIÉRON, 1986, apud
PESSOA, 2003).
57
AN02FREV001/ REV 4.0
61
Um estudo comparativo da literatura especializada demonstra que os
diferentes autores e pesquisadores da área, segundo seus referenciais
teóricos, adotam planejamentos de processos psicoterápicos que duram no
mínimo três meses e no máximo um ano. Entre esse mínimo e máximo,
constatam-se diversas variações, como: (1º) o método de trabalho técnico e
humano do terapeuta, em conjunto com (2º) os objetivos traçados a serem
alcançados são variáveis necessárias para definirem o “tempo ótimo” de um
processo de psicoterapia breve dinâmica. (PESSOA, 2003, p.38).
2.3.1 Focalização
58
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62
sendo que a escolha dos conflitos derivados deva recair sobre os que
prevalecerem por sua urgência ou importância;
6) ponto de urgência – pode ser intrafocal ou extrafocal. a) intrafocal –
refere-se a uma situação que requer atenção especial, e que está vinculada
ao conflito focal. b) extrafocal – é uma situação urgente e/ou traumática que
por circunstâncias atuais passa a predominar naquele momento da vida do
cliente/paciente, mas que não está necessariamente ligada ao conflito focal.
Para dar um exemplo da aplicação desses conceitos em um caso clínico,
vamos supor um caso de uma cliente/paciente que aparece no consultório com
queixa de dificuldades de relacionamentos interpessoais no trabalho, especialmente
com sua chefe, e com a maioria das pessoas, não conseguindo formar amigos, e
também um parceiro afetivo. O motivo da consulta são as dificuldades
interpessoais. Tudo o que a cliente/paciente relatar que está diretamente
relacionado a essa queixa é a situação-problema. Assim, a cliente/paciente pode
comentar que ninguém quer namorá-la, que ela se sente pouco valorizada, que a
sua chefe é um carrasco, que todo mundo faz fofocas dela, etc. Tudo isso é a
situação-problema ligada à queixa manifesta.
Para Hegenberg (2010), a escolha do foco é questão controversa, pois os
autores preferem diferentes focalizações. Percebe-se que qualquer proposta de
focalização é arbitrária e artificial, apenas refletindo a opção teórica do
psicoterapeuta. Em todo caso, a demanda do cliente/paciente deve estar
contemplada no foco, assim como seu sintoma, suas características de
personalidade, sua crise e algum tipo de explicação psicológica.
Diante da dificuldade de escolha, uma alternativa possível seria não escolher
um foco e deixar que o processo da Psicoterapia Breve Dinâmica conduza as
sessões ao sabor do encontro que ocorre na prática da psicoterapia que se dá na
relação psicoterapeuta-cliente (HEGENBERG, 2010).
Entende-se que o foco é necessário para haver um acordo entre
cliente/paciente e psicoterapeuta sobre o que seria fundamental trabalhar naquele
momento. Para o autor, é uma forma de o psicoterapeuta compreender o problema
atual, que está ciente da razão pela procura da psicoterapia (HEGENBERG, 2010).
Ao estabelecerem acordos em relação ao foco, psicoterapeuta e cliente
estarão concordando com o motivo principal da entrevista e com a questão a ser
59
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63
contemplada na psicoterapia. É uma forma de acordo, um plano inicial de trabalho,
que pode ou não ser seguido, pois as condições do processo podem, ou não, se
transformar (HEGENBERG, 2010).
No fundo, não sabemos o final que terá o processo. O compromisso do
psicoterapeuta na Psicoterapia Breve Dinâmica defendida neste trabalho não é com
a eliminação do sintoma. Logo, ao proporcionar uma autorreflexão por parte do
cliente, ao procurar o esclarecimento da demanda e propiciar uma vivência de
encontro humano nas sessões, transforma-se o olhar que esse paciente terá em
relação a si e ao mundo (HEGENBERG, 2010).
60
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64
2.3.1.1 A escolha do foco
61
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65
Alguns autores, como Sifneos (1989), circunscrevem-se ao foco, que é
seguido fielmente na sessão. Quando a discussão de assuntos fora do foco passa a
ser considerada escape de função de uma Psicoterapia Breve Dinâmica, o manejo
das sessões se simplifica, embora, nesse caso, o desejo do paciente, ou o paciente
ele mesmo, possa deixar de ser contemplado.
Na concepção de Psicoterapia Breve Dinâmica por mim aqui defendida, o
terapeuta não precisa aplicar uma técnica ativa, na qual tenha de abandonar a
neutralidade, em que tenha de realizar uma “atenção ou negligência seletivas” do
assunto trazido pelo paciente, continuando a utilizar-se do vértice psicanalítico
(HEGENBERG, 2010).
Trato o foco, na Psicoterapia Breve Dinâmica, da mesma forma como se
trataria, em uma análise comum, a questão das férias, ou de eventual falta do
paciente ou do analista em sessão anterior, ou do esquecimento do pagamento, por
exemplo. Se o analista, nesses casos, estiver com tais temas (“focos temporários”)
na memória e só conseguir ter olhos para eles, ele (cometendo um erro técnico)
escolherá tais temas, não se importando com o que esteja dizendo o paciente; sua
escuta estará pervertida pela sua intenção de falar destes assuntos. O foco deverá
permanecer presente (tal como a falta do paciente na sessão anterior, no exemplo
acima), pois o terapeuta sabe que ele existe, mas deverá aparecer na interpretação
apenas na hora (“timing”) adequada. O terapeuta permanece no estado de atenção
flutuante, sem se ater ativamente ao foco (HEGENBERG, 2010).
Isto é possível a partir da colocação do limite de tempo, modificador da
relação entre terapeuta e paciente. Os dois, estando submetidos à pressão do
tempo, a ela responderão, com a perspicácia aumentada por parte do analista e o
desejo de ir rapidamente ao fundo, por parte do paciente (HEGENBERG, 2010).
62
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padrão da psicanálise, o que não implica que não tenha a sua indicação apropriada
(HEGENBERG, 2010).
Como já havia falado anteriormente, critica-se a Psicoterapia Breve
Dinâmica porque ela não seria tão “profunda quanto uma psicoterapia de longa
duração”. Mas o que seria profundo? (HEGENBERG, 2010). O bom senso indica
que uma psicoterapia com muitos anos de duração “deve” ser mais profunda do que
uma psicoterapia breve, fica implícito que a Psicoterapia Breve Dinâmica pode ser
mais superficial, com resultados mais modestos. Essa ideia se baseia pela
dificuldade de avaliação e comparação de resultados, ou seja, é um mau parâmetro
para iniciar uma discussão profícua (HEGENBERG, 2010).
63
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67
MÓDULO III
3 ESTUDOS DE CASO
3.1.1 Introdução
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a capacidade de formação do vínculo cuidador (pais-bebê); e a presença de
psicopatologia nos pais. Dentre as características sociais e familiares, observa-se a
qualidade da interação marital, a pobreza, a maternidade na adolescência e a
violência familiar (ZEANAH, 1997).
Apontando os fatores de risco, é imprescindível intervir precocemente, para
prevenir transtornos ao longo do desenvolvimento.
Considerando a complexidade dos muitos fatores responsáveis pela saúde
mental do indivíduo, assim como o fato de que muitos dos transtornos psicológicos
da vida adulta se apoiam em vivências infantis, torna-se fundamental a psiquiatria
infantil, constituindo-se em uma especialidade extremamente difícil e de grande
responsabilidade (KNOBEL, 1997).
Segundo Zeanah (1997), raramente a psicoterapia psicodinâmica
individual pura e isoladamente é indicada para crianças, a não ser nos casos em
que existe a certeza de que o problema da criança é interno e restrito às
chamadas neuroses infantis.
Resultantes provavelmente de questionamentos de como a criança fica
doente e de como surgem os sintomas, os psiquiatras de crianças e adolescentes
estão vivenciando grandes mudanças com o surgimento de uma multiplicidade de
técnicas psicoterápicas (terapia comportamental, cognitiva, de grupo, familiar,
sistêmica, etc.). A análise da sintomatologia na infância, ao longo do
desenvolvimento, nos adverte que o tratamento deve ser considerado apenas em
crianças ou adolescentes que estão estagnados no seu desenvolvimento e que
apresentam sofrimento (ZEANAH, 1997).
Esse entendimento elucida a formação do sintoma como parte do processo
maturacional do indivíduo (SHAPIRO, 1992).
Estudos consideráveis acerca do desenvolvimento aconteceram nos últimos
25 anos, pela observação pais-crianças; teorias de relação do objeto e do vínculo; a
autoestima correlacionada à psicologia do ego e sua visão da interação humana
produzindo influência na estrutura psíquica. Estes modelos influenciaram muito o
trabalho terapêutico, com elevado interesse pela determinação biológica do
temperamento e a interação com os cuidados (SHAPIRO, 1992).
Estudos recentes mostraram que a maioria dos pacientes, incluindo
crianças, permanece em tratamento por aproximadamente seis meses
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72
(GARFUNKEL, 1990). Logo, os profissionais devem antecipar e planejar tratamentos
mais breves que possibilitem um bom grau de efetividade.
O presente módulo se propõe a oferecer, por meio de relatos de casos
clínicos, uma visão concisa de algumas intervenções que podem fazer parte do
cotidiano da clínica de psiquiatras de crianças e adolescentes, considerando a
compreensão psicodinâmica.
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73
Do quarto ao sexto anos – dores de cabeça e de barriga, tiques,
masturbação, mentiras, roubos, medos, pesadelos e enurese.
Primeiros anos escolares – reação excessiva a doenças e ferimentos, uso
da doença como substituta para medos da escola, prisão de ventre, urinar
ocasionalmente na cama durante uma doença ou hospitalização, dores de
cabeça e de estômago.
Adolescência – falta de apetite ou anorexia, alimentação excessiva, início
tardio da menstruação, preocupação com a imagem do corpo, associada a
desenvolvimento prematuro ou tardio (BRAZELTON, 1990).
Nas crianças com bom rendimento em outras áreas de sua vida e que até
então não apresentaram motivos para preocupação, pode-se aguardar que o
sintoma desapareça espontaneamente na fase seguinte do desenvolvimento; já
aquelas que se encontram incapazes de resolver as tarefas pertinentes a sua faixa
etária, bem como a adaptarem-se a novas situações, orienta-se os pais, a princípio,
no sentido de amenizar as pressões na vida da criança e contribuir para incrementar
os recursos pessoais da mesma com o objetivo de vencer as dificuldades. É
importante também procurar, além dos sintomas, os conflitos subjacentes, tarefa
árdua e difícil para os pais, pois será necessário que eles se defrontem não somente
com os problemas de seus filhos, mas com os seus próprios (BRAZELTON, 1990).
Em muitos casos, acolher as ansiedades dos pais e orientá-los quanto aos
entraves esperados para a idade em que se encontra a criança é suficiente para
que eles próprios ajudem seus filhos em suas dificuldades atuais, podendo
compreendê-los e aceitá-los; em outros, é necessária a intervenção do psiquiatra
junto à criança e à família, esclarecendo a etiologia e entendendo o funcionamento
das manifestações (BRAZELTON, 1990).
O psicoterapeuta precisa, em alguns momentos, identificar-se com os
diversos membros da interação e se distanciar destas identificações, interpretando e
intervindo, para que os pais modifiquem suas projeções e fantasias sobre o filho e
renunciem à demanda narcisista que eles impõem sobre o paciente. Muitas vezes, a
sucessão de gerações e a relação dos pais com seus próprios pais podem envolver
a criança em “fantasmas familiares” (SELMA FRAIBERG), fazendo com que passe a
ser visto com uma lente distorcida (BRAZELTON, 1990).
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74
Em casos mais difíceis, nos quais as projeções sobre a criança são maciças
ou pelas próprias condições íntimas da mesma, deve-se lançar mão de outras
abordagens terapêuticas (BRAZELTON, 1990).
É fundamental salientar que, em certo número de casos, a intervenção
terapêutica pode se limitar a um pequeno número de consultas, algumas vezes
mesmo apenas uma. Este tipo de intervenção é bastante útil quando nos deparamos
com famílias relativamente saudáveis com história de um funcionamento adaptado
no passado e que estão enfrentando crises vitais ou acidentais, que estão
perturbando a homeostase do sistema. Tais crises consistem usualmente em
situações novas que o indivíduo ou grupo familiar é incapaz de enfrentar de forma
adequada e suficientemente rápida com seus próprios recursos e mecanismos de
defesa (BRAZELTON, 1990).
Os problemas, muitas vezes, são graves e inevitáveis, como a morte de
alguém importante, a eclosão de uma doença, acidentes, mudança ou perda de
emprego, casamento de um filho, nascimento de uma criança temporã ou
modificação de papel em virtude de transições socioculturais (BRAZELTON, 1990).
A estimulação do crescimento pessoal pela exposição a situações de crise
com auxílio terapêutico visando encontrar formas alternativas e funcionais para lidar
com a tensão tem implicações importantes na resistência à doença mental. A
persistência do transtorno mental e a manutenção do sintoma estão diretamente
relacionadas com a capacidade de ajudarmos a família e o paciente a ampliarem
seus repertórios de habilidades, a fim de que o paciente não recorra a formas
regressivas, irreais e socialmente inaceitáveis de lidar com suas dificuldades. De
acordo com sua suscetibilidade poderão surgir sintomas neuróticos ou psicóticos
(BRAZELTON, 1990).
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Caso 1 (CORDIOLI, 1986, p. 461)
Joana solicita ajuda para a sua filha Ana de cinco anos de idade. A menina
está iniciando a pré-escola e, após o período inicial de fácil adaptação, tem se
recusado a sair para a aula, chora, queixa-se de dores abdominais e refere não
querer ir à escola. A mãe não sabe como lidar com essa situação.
Enquanto a mãe relata as dificuldades da filha, Ana desenha uma casa com
janelas gradeadas e uma figura feminina do lado de fora.
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A terapeuta questiona Ana sobre seu desenho e ela relata que é um colégio
com janelas bem fechadas, com grades e que esta moça do lado de fora é uma
mãe, que fica esperando para ver se está tudo bem com a filha.
Joana se surpreende com o desenho de Ana, pois pensava que a menina
não se dava conta que, após deixá-la na escola, ficava olhando de longe para o
pátio para ver se a filha estava bem.
A terapeuta pergunta para Joana sobre seus temores em relação a deixar
Ana na escola. Joana se emociona e conta que teme que Ana seja maltratada pelos
professores. Refere que possui uma irmã um ano mais jovem e que ambas
estudaram na mesma escola. Sua irmã era uma criança muito ativa, arteira e
frequentemente era injustamente punida pelos professores, tendo sofrido muito no
início dos anos escolares.
Joana conta que se sentia impotente para proteger a irmã e que muitas
vezes chorava por ela.
À medida que relata as punições impostas à irmã, percebe-se que teme que
Ana sofra as mesmas dificuldades de sua irmã, já que também é uma menina
espontânea e vivaz, lembrando até fisicamente a tia. Consegue expressar que
quando deixa Ana na escola sente-se apreensiva, como se sentia quando ia para a
escola com sua irmã e que, portanto, necessita ficar vigiando a filha de longe.
A terapeuta intervém colocando que, provavelmente, Ana não quer ir à
escola por ter percebido a dificuldade da mãe em deixá-la.
Ana levanta-se e senta-se no colo da mãe beijando-lhe o rosto.
A situação de recusa escolar da paciente resolveu-se em uma única sessão.
Joana assou a poder deixá-la na escola. Percebeu que estava visualizando em sua
filha uma situação dolorosa de seu próprio passado.
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3.1.3 Intervenção a domicílio (CORDIOLI, 1986, p. 462)
Selma Fraiberg é uma das pioneiras nesta área. Trabalhando com uma
equipe de psicanalistas, psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais e pediatras.
Este tipo de intervenção é útil em famílias multiproblemáticas, muitas vezes
desprovidas de recursos sociais e que não comparecem aos encontros propostos.
Nestas famílias, muitas vezes, não existe a figura paterna estável, os recursos
materiais são precários ou os pais estão desempregados. São intervenções curtas e
em períodos de crise.
Fraiberg demonstra a necessidade de uma atitude ativa dos terapeutas e,
em termos de entendimento da psicopatológica, mostra o peso da repetição dos
próprios conflitos infantis dos pais na relação com seu filho (fantasmas no quarto
das crianças).
As intervenções a domicílio podem ser realizadas, também, com escopos
preventivos, atuando em situações de risco de falência parental como surgimento de
quadros psicóticos na mãe ou no pai; diagnósticos de malformações congênitas ou
prematuridade na criança.
A dificuldade maior neste tipo de intervenção é evitar a confusão de papéis
entre os profissionais envolvidos, já que famílias multiproblemáticas tendem, mais
intensamente, a dissociar os membros da equipe, da mesma forma que dissociam
suas inter-relações.
Muitas vezes, a intervenção a domicílio é extremamente útil em situações
de crises acidentais graves, como a morte de um dos pais; quando ocorre em
pacientes que estão em atendimento psicoterápico regular. O psiquiatra precisa,
nestas ocasiões, renunciar ao setting terapêutico e intervir junto à família,
oferecendo apoio e permitindo a ventilação de fantasias, bem como a correção de
eventuais distorções, auxiliando a família e o paciente a lançar mão de recursos
alternativos e efetivos.
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Caso 3 (CORDIOLI, 1986, p. 462)
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Caso 4 (CORDIOLI, 1986, p.462)
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boa relação, e, por intermédio dele, foi marcada com a mãe uma consulta domiciliar,
na qual compareceram o pai de Júlia, a avó, o pediatra e o psiquiatra.
Célia, mãe da paciente, realmente é uma mulher com aspecto depressivo,
envelhecida e descuidada. O ambiente da casa espelha seu desânimo, passando
um sentimento de vazio e ausência de vida. O apartamento é mantido com as
persianas baixas, entrando pouca luz, a mobília é quase franciscana e praticamente
não existem adornos.
Juntamente com o pediatra foi possível conversar com Célia sobre como
suas dificuldades estavam preocupando Júlia e a fazendo sofrer. A mãe se
emocionou com a importância que ocupa na vida da filha e concordou em retomar
seu tratamento psiquiátrico.
A avó comprometeu-se, juntamente com a tia, a voltar a dar assistência à
filha e foi combinado, inicialmente, que, além do tratamento psicoterápico individual
e sessões familiares, Júlia passaria todos os finais de semana com o pai de sexta-
feira à tarde à segunda-feira pela manhã e reiniciaria à tarde suas aulas de dança,
que havia interrompido.
O caso evoluiu bem após mais três sessões domiciliares, a mãe passou a
participar de sessões familiares no consultório, com a participação de ambos os
terapeutas (da mãe e da filha), eventualmente do pai, da avó e da tia materna.
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3) Recusa ansiosa, por parte da criança, a se submeter a um tratamento
médico ou odontológico específico;
4) Início de uma doença mental na criança ou em familiar próximo e
representativo;
5) Situações de crises familiares com mensagens contraditórias ou
enganosas (separação dos pais, adoção, mudança e novo casamento dos
pais).
Na adolescência, a Psicoterapia Breve Dinâmica é bastante útil frente a
situações que implicam dificuldades para lidar com as perdas inerentes a esta fase
do desenvolvimento, como o luto pelos pais da infância, pelo corpo infantil ou a
vulnerabilidade às pressões ambientais e familiares, que possam gerar conflitos em
várias áreas.
Segundo Maurício Knobel (1997), na Psicoterapia Breve de crianças e
adolescentes, o tempo da terapia vai depender da relação transferencial e
contratransferencial avaliada pelo terapeuta e também das condições empáticas da
dupla paciente-terapeuta. É fundamental, neste tipo de proposta breve, a utilização
dos instrumentos que a psicanálise nos oferece, para o entendimento psicodinâmico
do paciente. Entretanto, deve-se evitar a interpretação transferencial que não poderá
ser adequadamente trabalhada em curto espaço de tempo.
Mesmo concomitante à psicoterapia individual, em algumas situações se faz
necessária à inclusão dos familiares da criança envolvidos em sua rotina diária; em
algumas sessões, com o propósito de estabelecer orientações, combinações e
entendimento do processo pelo qual a criança está atravessando em um dado
momento. Faz parte a participação, por exemplo, de avós, babás, amigos e animais
de estimação, além dos pais (KNOBEL, 1997).
A Psicoterapia Breve procura favorecer a aliança entre o membro mais
doente do grupo familiar, facilitando o encaminhamento deste indivíduo específico
para a terapia e liberando o paciente referido de seu sintoma ou de seu papel de
continente das projeções do grupo familiar sobre ele (KNOBEL, 1997).
O escopo da terapia breve é propiciar mudanças internas consistentes,
colocando-se os fantasmas do passado no passado, de forma a auxiliar os pacientes
a entender que o passado não pode ser mudado, mas a maneira de lidar e a forma
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de compreendê-lo são fundamentais (mudanças objetais) na forma de viver o
presente e programar o futuro (KNOBEL, 1997).
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risco de novamente não passar de ano. Está totalmente desinteressado nos estudos
e não presta atenção nas aulas.
Além das dificuldades escolares, briga muito com os irmãos menores, um de
três anos e outro de cinco anos. Concorre com eles pelos brinquedos e pela atenção
dos pais, como se tivesse a mesma idade. Relaciona-se mal com a irmã de 12 anos,
referindo que os pais a protegem. Acha-se feio e diferente dos irmãos e refere não
entender por que eles têm olhos claros e cabelo liso, enquanto seus olhos são
castanhos e seu cabelo é crespo.
Na entrevista com os pais, Gleci revela que Oscar é filho de um
relacionamento dela antes de casar com o atual marido. Nunca contaram ao menino
sua verdadeira história, por medo da reação de Oscar e por temerem que este não
aceite o pai adotivo.
Gleci refere que sofreu muito quando engravidou de Oscar, foi rechaçada
por sua família, tendo que se hospedar com o bebê em casa de parentes, que a
tratavam com desdém. Relata ter muita dificuldade de impor limites ao filho, pois se
lembra do sofrimento e do abandono que se sucedeu ao nascimento do menino.
O terapeuta escuta os pais e esclarece que Oscar desconfia da verdade
(acha-se diferente fisicamente dos irmãos) e que provavelmente suas brigas com
os menores espelham seu ciúme e sua desconfiança por não se acreditar filho
como os outros.
Os pais decidem-se por esclarecer a verdade, o que é realizado durante
uma sessão conjunta. A partir do esclarecimento a Oscar de sua história real, o
terapeuta combina um atendimento breve de 12 sessões com o objetivo de auxiliar o
paciente e sua família a lidar com seus sentimentos.
Oscar evoluiu bem, a mãe passa a ser mais firme com o filho. O menino
torna-se muito carinhoso com os irmãos e passa a se relacionar melhor com a irmã.
Aproxima-se mais do pai adotivo e consegue expressar que ficava distraído por
horas imaginando que não era filho de nenhum dos dois, o que o deixava ora triste,
ora desconfiado, ora com raiva do mundo e dos irmãos e que muitas vezes se
comportava mal para testar se os pais realmente se preocupavam com ele.
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Para o psicoterapeuta de crianças é indispensável habilidade e disposição
para conhecer e interagir com tudo que constitui o mundo externo da criança. O
trabalho interdisciplinar se faz necessário com diferentes profissionais que atendem
a criança ou o adolescente (neurologista, pediatra, psicopedagogo, professores). Um
contato estreito com os mesmos, somando esforços e interagindo as contribuições
de cada profissional, favorecem o êxito do tratamento (CORDIOLI, 1986).
É fundamental considerar que, cada vez mais, vivemos em uma sociedade
com acúmulo de riscos, que, sem dúvida, tem consequências sérias no
desenvolvimento do indivíduo. Por outro lado, inúmeros estudos têm demonstrado a
capacidade dos indivíduos de usar mecanismos adaptativos, serem flexíveis,
enfrentar dificuldades e retornar a um estado homeostático prévio. Esta capacidade
é denominada resiliência, e não significa invulnerabilidade, mas, sim, flexibilidade,
maleabilidade frente às adversidades (KNOBEL, 1997).
Nós, psicoterapeutas, também precisamos ser flexíveis e continentes no
atendimento de indivíduos em desenvolvimento (KNOBEL, 1997).
Devemos nos conscientizar de que não existe uma fórmula única de atuar
em psicoterapia e que outros modelos e técnicas estão em expansão com bases
conceituais variadas. Parafraseando Maurício Knobel (1997):
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e, segundo, uma tentativa de reparação do dano causado, por este afastamento no
sentido do restabelecimento das relações do indivíduo com a realidade, mas às
expensas do id (FREUD, 1924).
Em função disto, a psicose se depararia com a tarefa de conseguir, para si
própria, percepções que correspondessem à nova realidade, e isso aconteceria por
meio da alucinação e do delírio (FREUD, 1924).
Freud caracterizava que o fato de alterações psicóticas virem geralmente
acompanhadas de ansiedade e serem tão aflitivas, devia-se a que todo o processo
de remodelamento da realidade era realizado contra forças que se opunham
violentamente (o fragmento da realidade rejeitado constantemente se impondo à
mente) (FREUD, 1924).
Freud acreditava que os quadros psicóticos decorreriam de conflitos
psíquicos rejeitados. Neste mesmo trabalho de 1924, Freud cita como exemplo o
caso de uma jovem, analisada por ele, apaixonada pelo cunhado, com a irmã para
morrer, que se horrorizou da ideia: “Agora ele está livre e pode casar-se comigo.”
Esta cena foi imediatamente esquecida, de modo que o processo de repressão, que
levou às dores histéricas, foi posto em movimento. A reação psicótica seria o
resultado da rejeição (recusa) da morte da irmã (FREUD, 1924).
Contudo, considerava-se ainda incontestável a pouca utilidade da
psicanálise, como terapia, em caso de psicose. Freud exprimiu-se neste sentido,
opondo as “neuroses de transferência” às “neuroses narcísicas” tornando a
manifestar o mesmo ponto de vista em seu esboço póstumo (FENICHEL, 1981).
Freud pensava que, estando a psicanálise baseada na influência do
analista sobre o paciente, não se poderia esperar sucesso no caso de psicóticos,
pois eles não teriam capacidade de estabelecer uma transferência com o analista
(FENICHEL, 1981).
Ainda acerca de sua preocupação com a elucidação dos quadros psicóticos,
Freud comenta que “a elucidação dos diversos mecanismos que, nas psicoses, são
projetados para afastar o indivíduo da realidade e para reconstruir esta última,
constitui uma tarefa para o estudo psiquiátrico especializado, ainda não empreendido
[...]” (FENICHEL, 1981).
De fato, foi Melanie Klein (1946) que, por meio de seus estudos e
observações de crianças, trouxe uma contribuição de grande valor para a
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compreensão do paciente psicótico: a ênfase nos mecanismos primitivos
(identificação projetiva, idealização, divisão – splitting –, introjeção, projeção e
identificação introjetiva).
Na identificação projetiva, partes do self e dos escopos internos são
expelidos e projetados no objeto externo, o qual então se torna possuído e
controlado pelas partes projetadas, identificando-se com elas (KLEIN, 1946).
Quando os mecanismos de defesa não conseguem dominar a ansiedade
(quando os impulsos hostis e invejosos são intensos), e esta invade o ego, a
desintegração do ego pode ocorrer como medida defensiva. Nesse momento, o
mecanismo de identificação projetiva passa a ocorrer de modo um pouco diferente.
A parte projetada é estilhaçada e desintegrada em fragmentos e esses fragmentos
são projetados no objeto, desintegrando-o em partes diminutas. O paciente
psicótico, por conseguinte, se caracterizaria pela fragmentação defensiva do ego e
pela violenta utilização da identificação projetiva (KLEIN, 1946).
A par do referencial teórico que vinha se formando, o trabalho psicanalítico
com pacientes psicóticos seguia largamente a técnica utilizada com pacientes
neuróticos. Visava-se, com o tratamento, a que o paciente obtivesse transformações
em sua personalidade além de uma retomada do seu crescimento emocional
(KLEIN, 1946).
A contribuição de Bion (1961 e 1962) foi de trazer à técnica da psicanálise
de psicóticos seus conceitos de continente e contido observados na relação mãe-
bebê. Assim como a mãe, o psicoterapeuta deveria ser capaz de conter, absorver,
as projeções do paciente, de modo que todos os aspectos distorcidos projetados
não fossem devolvidos de igual forma, o que confirmaria as fantasias persecutórias
e agressivas. Caberia ao psicoterapeuta compreendê-las e, no momento oportuno,
devolvê-las ao paciente, para que também pudesse entendê-las.
Em seu artigo de 1963, Rosenfeld destacou que a análise de psicóticos
deveria conservar os mesmos princípios básicos da técnica analítica clássica. Mas,
ao mesmo tempo, a comparou com a análise de crianças desenvolvida por Melanie
Klein, pois não se deveria insistir tanto na associação livre nem no uso de divã. Em
seu lugar, empregar-se-iam as palavras e a conduta do paciente em sua totalidade,
por exemplo: seus gestos e seus atos como material analítico. Sugeriu a
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denominação de “psicose de transferência” à transferência que ocorre com o
paciente psicótico.
Considerava tarefa de o psicoterapeuta seguir esta “psicose de
transferência” em todos seus detalhes positivos e negativos e comunicar este
entendimento ao paciente sob a forma de interpretações. Percebe-se que, mesmo
nos casos agudos, os pacientes eram capazes de entender essas interpretações e
responder a elas. Para tanto, usava como prova a confirmação direta do paciente e
o material clínico apresentado no trabalho (ROSENFELD, 1968).
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depressiva: negação, triunfo, desprezo, idealização, identificação com objetos
atacados, tendência à reparação por mecanismos obsessivos, são as defesas
encontradas em maníaco-depressivos (KLEIN, 1946).
Quanto à etiologia das psicoses, Melanie Klein (1946, p. 58) diz,
textualmente:
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Seja por argumentações lógicas ou por conflitos ideológicos e de poder, o
fato é que cada vez mais há uma tendência na psiquiatria, já formada ou em
formação, de usar psicofarmacologia associada com outras técnicas de apoio no
tratamento das psicoses, sem se valer do arsenal terapêutico das psicoterapias
dinâmicas. Porém, como poderia usar o entendimento da dinâmica baseada nos
conhecimentos psicanalíticos para aumentar a eficácia terapêutica do conjunto de
intervenções úteis? (CORDIOLI, 1998).
A resposta a esta indagação é a de que o psicoterapeuta deve abrir mão da
hipótese etiológica contida historicamente em sua formação, ou, para os que estão
em formação, que observem nos textos os ensinamentos para entender o que se
passa no mundo interno do psicótico, pois esta contribuição é inegável aos vários
autores que se ocuparam do tema (CORDIOLI, 1998).
Sugerimos que os conflitos edípicos e pré-edípicos, que eclodem
abertamente em pacientes psicóticos, são conflitos que foram ativados pelo próprio
processo psicótico, de uma maneira psicótica. A falência do ego para conter, reprimir
estes conflitos, faz com que eles se apresentem abertamente. Parafraseando Freud:
uma realidade interna substitui a realidade externa (CORDIOLI, 1998).
Portanto, nesta forma de ver o que sucede nas psicoses não se afirma que a
psicose foi causada por conflitos, porém, se afirma que a eclosão destes conflitos é
um fator complicador importante do quadro psicótico, certamente aumentando a
ansiedade e a intensidade dos sintomas psicóticos, aumentando os riscos de
suicídio, de agressão, exposição moral e outros menos impactantes, como, por
exemplo, o abandono gradual de atividades sadias (CORDIOLI, 1998).
Observamos que o entendimento da existência destes conflitos e sua
associação com as ansiedades e sintomas, uma vez comunicados ao paciente,
fazem com que perceba a distorção, ou melhor, as distorções da realidade, de modo
que seja ajudado no uso de defesas mais adequadas (CORDIOLI, 1998).
Logo, a finalidade da interpretação com pacientes psicóticos é diferente da
finalidade com pacientes neuróticos. Nestes, a interpretação visa tornar consciente
um conflito inconsciente reprimido. Com psicóticos, grande parte destes conflitos é
consciente, por esta razão talvez seja melhor dizermos esclarecimento, em vez de
interpretação. A intervenção do terapeuta serve, em primeiro lugar, para uma
busca de uma linguagem comum, não simbólica, entre psicoterapeuta e paciente.
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Visto que serve para um alívio da situação transferencial psicótica que se
estabelece automaticamente. O alívio da situação transferencial traz um alívio da
ansiedade psicótica. Assim fazendo, o psicoterapeuta auxilia o paciente a reprimir
sua realidade interna e discriminá-la da realidade externa, como diz Portela Nunes
(1980). Como nem todos os conflitos são conscientes para o paciente, e sequer a
relação entre eles, cabe ao terapeuta auxiliá-lo a ligar partes destes conflitos
projetados na realidade, ajudando-o novamente a discriminar entre mundo externo
e mundo interno (CORDIOLI, 1998).
A arte de interpretar e confrontar tanto na transferência como na situação
extratransferencial é uma arte diferente com pacientes psicóticos, porque exige do
psicoterapeuta uma maior capacidade de contenção e oportunidade para realizar
suas intervenções. É importante considerar suas fantasias dos limites de seus
objetivos com estas intervenções (CORDIOLI, 1998).
A contribuição da escola kleiniana foi essencial para o entendimento do
simbolismo completo dos esquizofrênicos e das fantasias catastróficas vividas por
eles (vivências de um mundo repleto de objetos mortos ou semimortos, na
melancolia, e mecanismos associados) (CORDIOLI, 1998).
O entendimento deste mundo interno faz com que aumente o vínculo entre
terapeuta e paciente psicótico, ao mesmo tempo em que possibilita ao paciente
discriminar melhor a função do terapeuta (CORDIOLI, 1998).
Um exemplo clínico, a seguir, irá nos esclarecer em que medida é útil e
terapêutica o entendimento da dinâmica em pacientes psicóticos.
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Em todos os surtos, P. apresentava: ideação paranoide com risco de
agressão aos seus familiares (achava que, especialmente a mãe e a irmã, queriam
matá-lo, roubar suas coisas, que eram prostitutas maconheiras); euforia, risos
alternados com irritabilidade, hipervigilância, hipotenacidade, delírios de cunho
sexual e grandiosidade.
Segundo sua mãe, os surtos tornaram-se mais frequentes e com maior
intensidade após a morte do pai, ocorrida dois anos antes da última internação. O
paciente mora com a mãe e a irmã e apresenta dificuldade de aderência ao
tratamento medicamentoso.
Apesar de não ter abandonado a medicação, como em outras ocasiões,
baixou novamente em agosto de 1989, com os sintomas descritos.
Foram revisadas as estratégias terapêuticas e se observou que um conflito
ainda não tratado nas internações anteriores ajudava a desestabilizá-lo. A partir de
uma repetição de uma atitude agressiva e sedutora com a médica, o paciente pôde
ser ajudado a externalizar suas fantasias conscientes incestuosas com a mãe e a
irmã, que aumentaram após a morte do pai.
Mostrou-se ao paciente que esses desejos sexuais deixavam-no culpado e,
por isto, abandonava os tratamentos ou não melhorava, mesmo os seguindo.
Fantasiava ter eliminado o pai para ficar dono de tudo. Além disso, ficando maníaco,
fugia de sua culpa e triunfava sobre o pai, internalizando o perseguidor (origem dos
seus delírios persecutórios), evitando a depressão subjacente.
Também foi tratado que, ficando maníaco, resolvia todas as dificuldades de
se desenvolver profissional, social e afetivamente, pois por meio da magia do
pensamento, desprezava a realidade, triunfando sobre ela. No entanto, esta atitude
correspondia à expiação de sua culpa, pois assim não se dava o direito de ser uma
pessoa mais adaptada, buscando na realidade as satisfações adequadas e
possíveis de serem alcançadas.
Outro aspecto importante do abandono do tratamento é a negação da
dependência da medicação e, principalmente, do médico, que é, supostamente para
P., a mãe seduzida ou o pai derrotado e morto. Tais situações vividas na
transferência provocaram nos diversos terapeutas reações contratransferenciais
negativas de rechaço ao paciente, que contribuíram para o abandono.
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Neste caso clínico, procuramos evidenciar que o que se passava no mundo
interno do paciente se misturava psicoticamente com os terapeutas na transferência,
e com a família, provocando reações contratransferenciais negativas, complicando o
atendimento do paciente, aumentando sua ansiedade psicótica, agravando o quadro
clínico que estava tendendo a um curso crônico com mau prognóstico.
O seguimento deste paciente em ambulatório ajudou-o a reorganizar sua
vida. Conseguiu manter-se num emprego sem se complicar com seu chefe, pois
antes sentia que seus superiores queriam prejudicá-lo pela projeção neles do pai
derrotado e vingativo. Buscou novos relacionamentos amorosos, o que não
conseguia há muitos anos. Conseguiu certa independência da mãe e da irmã, pois
foi morar sozinho. Melhorou sua aparência pessoal, voltando aos seus hábitos
anteriores de higiene.
Acreditamos que a não compreensão destes conflitos e a não abordagem
dos mesmos pelos terapeutas anteriores ajudou a complicar o quadro psicótico
deste paciente. A compreensão do que se passava no seu mundo interno, e que era
atuado psicoticamente na situação transferencial e também na situação familiar,
ajudou P. a discriminar sua realidade interna da externa, aliviou sua culpa e o ajudou
a buscar soluções que pudessem ter algo de reparador para seus objetos internos e
para seu ego fragmentado.
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