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“HOLDING”: ALÉM DAS PALAVRAS E DO TOQUE

Louise Fréchette, CBT e local trainer do Instituto de Análise Bioenergética de


Quebec.

Apresentação feita no Internacional Leadership Workshop em Aix-en-Provence,


em setembro de 1987.

1- COMO O TERMO “HOLDING” DEVE SER COMPREENDIDO (ao menos


nesta apresentação)

A. “HOLDING”, estritamente falando (de acordo com Winnicott).


Winnicott diz que uma criança não existe “per se” ao nascer. O que existe é uma
unidade mãe-criança. Neste estágio a criança não existe sem cuidado materno.
Por si só, a criança é somente um potencial inato que tem uma tendência a
crescer e a se desenvolver. W. identifica as questões do início da vida. Ele
distingue 3 estágios no processo de diferenciação que acontecem nos primeiros
anos de vida (em Da Pediatria a Psicanálise).

1. Dependência total (0 – 6 meses)


A criança não é consciente. Ela não reconhece o cuidado materno. Não tem
controle do que acontece neste processo.

2. Dependência relativa ( 6 meses – 2 anos)


A criança é consciente dos cuidados maternos e da necessidade que tem deles.
Ela tem que aprender a lutar com a ausência temporária da mãe (ver N. T. 1). Ela
também tem que tolerar a experiência de raiva ( e mesmo o ódio) quando
confrontada com esta ausência.

3. Em direção a independência ( 2 anos ou mais)


A criança pode lidar com a ausência dos cuidados maternos, usando memória,
projeções, introjeções e seu processo cognitivo. Durante este estágio, a criança
desenvolve confiança no meio que a rodeia.
Paralelamente a estes estágios de evolução da criança. W. distingue 3 aspectos
do cuidado materno que devem ser supridos para que a criança passe pelas
questões dos três estágios sem trauma ( O Processo de Maturação).

1- Integração: tem a ver com suporte apropriado ( do corpo)


2- Personalização: tem a ver com o manejo apropriado (como cuidar)
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3- Relações objetais: tem a ver com a forma correta dos objetos se apresentarem.
O primeiro problema da vida, de acordo com Winnicott, é então um problema de
integração e esta integração acontece somente através de um “holding”
apropriado.
“Holding” apropriado, de acordo com Winnicott, acontece pelo “holding” do corpo.
Isto não pode ser reduzido a cuidados físicos mecânicos. Isto também tem a ver
com a qualidade de “holding”, fornecido. Na realidade, além das manipulações
físicas há uma resposta intuitiva pré-verbal da mãe ao recém nascido, que o
aproxima das suas necessidades. A mãe deve se, tornar “una”com a criança de
maneira a discernir o que é necessário para aliviá-la de qualquer desconforto que
possa aparecer ( aqui, os componentes físicos e psicológicos dificilmente podem
ser diferenciados).
Como Winnicott define: “O termo “holding” deve ser entendido como significando o
suporte físico que é dado à criança, mas também designa tudo o que o meio
ambiente fornece para o conceito de vida em comum”. (Da Pediatria...) (Vida em
comum aqui deve ser entendida como relações objetais que ocorrem entre a
criança, a mãe e o pai, uma vez que a criança tenha se diferenciado).
Winnicott também diz: “Ninguém pode dar “holding” à criança se não estiver
identificado com ela”.
Mais tarde ele diz, sobre o processo que está ocorrendo: “Integração é
intimamente relacionada à função de “holding” providenciada pelo meio ambiente.
Uma integração bem sucedida conduz a unidade na personalidade. Primeiro há a
emergência do “Eu” que implica em que “tudo que é além de Eu é não-eu”. Então
segue-se a experiência de “Eu sou, Eu existo, Eu acumulo
experiências de vida, Eu cresço rico destas experiências. Eu tenho uma interação,
tanto introspectiva quanto projetiva, com o que é não-eu, o real significado de
realidade compartilhada. “E a isto nós podemos acrescentar: “Alguém mais vê e
compreende que eu existo. Eu tenho o que preciso: uma prova (como a minha
face refletida no espelho) que sou reconhecido como ser humano”. (Processo...)

W. afirma que qualquer criança, nos primeiros meses de vida se vê frente a


“ansiedades inimagináveis” se um “holding” adequado, não é providenciado.
Estas “ansiedades inimagináveis” podem assumir diferentes formas (Processo...):
1. Despedaçar-se
2. Cair para frente
3. Não tem contato com seu próprio corpo
4. Não tem senso de orientação
Todas estas variações são conectadas à essência das ansiedades psicóticas.
Na realidade, “holding” adequado dá à criança uma experiência de continuidade. A
criança pode relaxar enquanto ainda num estado não integrado porque a pessoa
se faz a maternagem assume a função de “holding” de um ego. Quando o
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“holding” não é dado adequadamente (i, e, não tem uma íntima conexão com as
necessidades da criança), a criança é então exposta à experiência de
descontinuidade que o seu organismo imaturo não pode suportar. O que ocorre é
que o processo interno assim como as experiências não podem ser integradas.
Isto pode levar a severos problemas como:
- esquizofrenia infantil ou autismo
- esquizofrenia latente
- falso self
- personalidade esquizoide
- comprometimento das funções cognitivas.
W. também afirma a importância da adaptação ao desenvolvimento da criança.
Maternagem implica em reconhecer as mudanças que ocorrem nas necessidades
da criança e reagir de acordo. Ele explica bastante claramente no texto que se
segue:
“A mãe não cria as necessidades da criança, mas as preenche no momento certo.
Como uma mãe, nós (terapeutas) devemos reconhecer a importância de.
Continuidade do meio ambiente humano e não-humano, que facilita a integração
da personalidade individual.
Confiança que permite predizer o comportamento da mãe.
Adaptação progressiva a cada mudança e necessidade de crescimento da
criança, cujo processo a conduz em direção à independência e à aventura:
E que tipo de cuidado permite que o impulso criativo da criança se manifeste.”
(Processo...)
Se por um lado a mãe tem que se moldar as necessidades da criança. W. também
afirma a importância da mãe suficientemente boa mas não perfeita. Na realidade
isto é de extrema importância aqui, porque uma vez que a criança começa a se
diferenciar, se a mãe continua respondendo, simbioticamente às necessidades da
criança, ela não permitirá que a criança cresça e se torne um indivíduo.
Paradoxalmente, nos estágios posteriores, “moldar-se” às necessidades da
criança implicará em não responder prontamente a cada necessidade, mas deixar
um espaço para que a criança expresse o que precisa e desenvolva sua
individualidade, assim como suas funções simbólicas.
Com certeza, para W., tudo o que é dito para mães “boas o suficiente” também se
aplica aos terapeutas, considerando a atitude que deve ser desenvolvida em
relação aos clientes:
“A não ser nos casos de clientes regredidos a estágios muito primitivos infantis, é
de vital importância que o analista não saiba todas as respostas, exceto aquelas
as quais o cliente dá “dicas”. Ele coleta estas “dicas” e faz interpretações sobre
elas, mas frequentemente os pacientes não dão “dicas”, então esteja certo que
ele não será capaz de fazer nenhuma interpretação. Esta limitação imposta sobre
o poder do analista é importante para o paciente assim como é importante para o
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analista, expresso pela exata interpretação dada no momento certo, baseada nas
“dicas” dadas pelo cliente, através da cooperação inconsciente quando ele traz o
material que precisa ser elaborado e que justifica a interpretação.” (Da
Pediatria...).

B. “Holding”, no sentido amplo


Nesta apresentação eu também pretendo me referir ao conceito de “holding” no
sentido amplo. Na realidade, como eu a vejo, a situação terapêutica em si
mesma providencia um meio “holding”, no sentido amplo, para a pessoa que vem
para a terapia, no sentido de que nós oferecemos a esta pessoa um suporte
durante todo o processo. Nesta perspectiva, “holding” passa a significar suporte
dado para a resolução de um problema em qualquer nível do desenvolvimento do
cliente. Isto inclui tanto movimento de confrontação quanto de suporte:

- Movimentos de suporte: qualquer atitude ou ação que é consonante com o


que o cliente esta experienciando. Isto pode incluir suporte corporal ou verbal,
validação da experiência do cliente, resposta aos pedidos feitos pelo cliente,
instrução em relação aos problemas do cotidiano, etc.
- Movimentos de confrontação: qualquer atitude ou ação que é dissonante com o
que o cliente esta experienciando. Isto pode incluir oposição (total ou parcial)
tanto corporal como verbal, assinalando aspectos que o cliente não vê (ou não
quer ver), desafiando as percepções que o cliente tem de qualquer situação,
recusando as demandas feitas pelo cliente, etc.
A razão pela qual eu incluí estas oposições é porque num sentido amplo, a noção
de “holding” para mim , tem a ver com o fornecer um espaço relacional que tanto
possa ser usado como um “container” (“holding” num sentido estrito), ou como
superfície (“holding” como suporte) (ver N.T.2). Nós podemos falar de um
“container” em relação aos problemas prévios no estágio de diferenciação (como
definido por W.), e podemos falar de superfície em relação a problemas
conectados com estágios posteriores (após ocorrer a diferenciação). Esta idéia de
superfície engloba tanto os movimentos no sentido de dar suporte, como os de
confronto. Enquanto suporte, será a superfície com a qual alguém poderá contar,
até ser capaz de se suportar por si mesmo; no lado do confronto, será a superfície
contra a qual alguém poderá empurrar definindo-se, por assim dizer, por meio da
oposição.
Na realidade, suportar o processo evolutivo de um cliente requer do terapeuta
tanto habilidades suportivas como de confronto. Então, a qualidade de “holding”
que nós temos que fornecer em diferentes estágios de desenvolvimento num
processo de crescimento pode variar consideravelmente. Mesmo quando nós
confrontamos, a preocupação de “holding” deve estar nas nossas mentes.

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Estar lá é uma palavra chave , eu acredito, independente do estágio, no que diz
respeito a “holding” ou suporte de qualquer tipo, incluindo confrontação. Na
realidade, mesmo quando a confrontação está ocorrendo, se nós estamos lá,
oferecemos um suporte para o movimento que se desdobra no organismo da outra
pessoa. Naturalmente, temos que ser sensíveis ao momento em que se pode usar
o confronto.
Isto nos conduz a parte seguinte: Como fornecer “holding”, que tipo e quando.

2. FORNECENDO “HOLDING”: QUE TIPO E QUANDO

A. Alguns pensamentos de Winnicott e Stanley Keleman


W. faz uma explanação de como o “holding” pode ser dado no “setting”
terapêutico: “Você verá que o analista está dando “holding” ao paciente e que
esta função de “holding” é frequentemente expressa através das palavras, no
momento certo, revelando que o analista conhece e compreende a ansiedade
profunda experienciada pelo cliente. Ocasionalmente, “holding”tem que ser
expresso fisicamente, mas eu acho que isto ocorre porque o terapeuta é um pouco
lento em compreender e verbalizar o que esta ocorrendo.
Há momentos em que você acolhe sua criança em seus braços porque ela tem
dor de ouvido. Palavras confortantes são então sem sentido. Há provavelmente
momentos em que um paciente psicótico precisa ser acolhido fisicamente, mas
principalmente a compreensão e a empatia é o que conta.” (Processo...).
Basicamente “holding” é uma atitude mais do que uma ação, entretanto há uma
serie de respostas observáveis que são conectadas com a função de “holding”. Eu
assinalarei uma série de respostas observáveis na parte 3, sob o título “Os
mecanismos de “holding”, que será seguido por uma sessão de apresentação da
atitude necessária atrás destas respostas observáveis, na parte 4, sob o título “A
essência do “holding”.
Eu costumo ver clientes como cebolas (eu me vejo da mesma forma). Com isto,
quero dizer que os clientes vêm até nós trazendo consigo muitas camadas de
personalidade. Não é sempre óbvio para nós que camada(s) foi (foram)
comprometidas no cliente. Alguns clientes tem “cores” mais íntegros, outros não.
Nós temos que ter em mente que quando trabalhamos com um cliente,
sempre lidamos com todas estas camadas. Portanto temos que aprender a
reconhecer de que camada a necessidade e ou a demanda por “holding” (ou
suporte) vem, que tipo de questão está sendo sendo colocada, de acordo com que
nível de desenvolvimento, etc. Desde que nós terapeutas também somos
cebolas, com nossas próprias camadas lesadas mais ou menos reparadas, o
problema começa a ficar muito complexo.
Stanley Keleman enfoca esta realidade quando ele descreve 4 níveis de vínculo
que a pessoa estabelece, do nascimento até a maturidade: 1. embrião-útero-
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placenta; 2. boca-peito; 3. sexual-genital e 4. corpo-a-corpo (ver referências no
final). Ele então continua a falar neste processo como ocorre na terapia:
“Na terapia, você está com uma pessoa que está organizando sua maneira de ser
no mundo, reorganizando suas experiências. É necessário avaliar como o
organismo é capaz e deseja desfazer-se do que não é mais útil para ele e se
reorganizar numa forma que lhe enriqueça. Parte deste processo cabe ao
terapeuta. Ele deve encontrar uma forma de reintroduzir estímulos que não sejam
muito inflamatórios. Há uma forma somática de fazer isto, desde que o terapeuta
compreenda os 4 níveis de vínculo e como eles são precedidos por um
intercâmbio de sensores, para ver se o vínculo é possível. Para cada nível de
vínculo um tipo diferente de transferência e contratransferência é necessário.
(Bonding).

B. Que tipo de “holding” fornecer e quando


Nós temos que ter a noção de quando é apropriado mover-se em direção e
oferecer “holding” (ou fazer uma intervenção suportiva). O cliente pode ou não
pedir “holding” verbalmente, mas nós temos que estar consciente da linguagem do
organismo como um todo, tanto verbal quanto não-verbal, e pegar qualquer “dica”
que nos mostre que alguma coisa deve ser feita para fornecer “holding”, durante a
sessão. Devemos então estar abertos a diferentes elementos que nos façam
identificar que qualquer intervenção “holding” precisa ser feita. Estes elementos
podem ser encontrados:
- na história pessoal do cliente (ele foi “deixado cair” na infância ou não teve
“holding” apropriado):
- um pedido verbal de ajuda (genuíno, não defensivo);
- linguagem corporal: o tom da voz (que idade?)
- postura corporal (se segura na parte superior do corpo, nos ombros, pescoço,
olhos);
- medo e confusão nos seus olhos (a pessoa parece perdida);
- quase ausência de respiração;
- sonhos (instabilidade do chão ou sonhos figurando o fim do mundo);
- eventos do cotidiano (perdido no tempo e no espaço, sensações estranhas no
corpo, episódios de dissociação, mesmo que curtos).
Além disso, nós temos que nos perguntar: “Quem é a pessoa que está na minha
frente? “Estou com alguém a quem faltou “holding” apropriado nos primeiros
estágios da vida? Ou estou com alguém conflitado com questões edípicas?
Dependendo da resposta, o tipo de “holding” ou o tipo de suporte necessário será
muito diferente.
Aqui estão algumas linhas guia que podem ajudar (longe de serem completas,
mas estou dando uma idéia do que procuro):

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Estágio de Winnicott e caráter de Lowen: absoluta dependência – borderline e
esquizóide.
Algumas dicas: poucas palavras; olhar perdido; atitude desconectada ou
congelada; confusão; olhar fora de foco; motilidade grossa nas mãos e pés; olhar
de terror na face.
Tipo de “holding” ou suporte necessário: Sensibilidade para perceber através das
palavras o que é preciso. Encontrar palavras e/ou gestos apropriados para
providenciar um “container” ou grounding para o self que luta contra a
desintegração e ansiedade inimaginável. Demonstrar uma compreensão da dor e
ansiedade que o cliente está sentindo (“ressonância”).
Estágio de Winnicott e caráter de Lowen: dependência relativa-oral, psicopata e
masoquista.
Algumas dicas: qualidade sugadora nos olhos; expressões de dor, reprovação,
raiva, até ódio na face; mau humor; pernas fracas; respiração contida.
Tipo de “holding”: suporte para exploração e expressão de sentimentos negativos
(frequentemente relacionado a ter sido deixado só).
Estágio de Winnicott e caráter de Lowen: em direção à independência-rígido.

Algumas dicas: claramente desafiando as interpretações do terapeuta; olhar


desafiador às vezes: mais ativo no processo: circulação de energia mais integrada
no corpo.
Tipo de “holding”: suportando confrontação e expressão do self diferenciado:
ajudando a articular e a significar a história pessoal: ajudando o outro a encontrar
seus próprios caminhos e meios de expressão.
Na realidade, desde que os clientes vem para a terapia com todas as suas
camadas, quando “holding” corporal é fornecido rápidas mudanças podem ocorrer
enquanto a pessoa vai para frente e para trás nos diferentes níveis de
desenvolvimento. Por exemplo: um cliente meu que estava experienciando terror
agudo, me pediu para segurá-lo. Eu o fiz e ele gritou de terror e desespero. Depois
de algum tempo repentinamente começou a sentir prazer e estimulação sexual,
que ele atribuiu à melhor conexão com a parte de baixo do seu corpo e também
com o contato corpo-a-corpo que teve comigo na posição de “holding”.
É tão importante saber quando parar de dar “holding” como saber quando
oferecer. Aqui eu quero estabelecer uma distinção entre “holding” como uma
atitude e “holding” como uma intervenção usando técnicas corporais. A atitude
deve estar lá todo o tempo, nenhuma dúvida a respeito disto (desde que engloba
qualidades tanto suportivas quanto de confrontação). Do outro lado, as
intervenções usando o trabalho corporal (segurar o cliente nos seus braços,
oferecendo suporte para os pés, segurando a cabeça, oferecendo suporte para as
costas, etc.) deve sempre ser avaliado e interrompido quando não for mais
relevante para o processo do cliente. Nós devemos checar isto em trabalhos
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específicos com o cliente, e também de sessão para sessão se usamos “holding”
como estratégia regular com um cliente, com algum objetivo.
Quando nós usamos técnicas corporais para fornecer “holding” ou suporte para
um cliente, aqui estão algumas “dicas” para avaliar quando o terapeuta pode estar
se tornando um invasor e seria melhor recuar e ficar longe do cliente, deixando
espaço para ele se retirar, se reunir e fazer qualquer coisa que precise para
manter sua integridade sem qualquer interferência do terapeuta:
- após um relaxamento emocional a pessoa para de respirar, nada acontece, o
tempo fica suspenso:
- sinais de irritação ocorrem no corpo ou no discurso do cliente quando o
“holding” está acontecendo;
- a confusão aparece: o cliente não sabe ao certo o que está sentindo:
- o padrão se repete, sessão após sessão: a longo prazo o “holding” não leva o
cliente a lugar algum.

4. OS MECANISMOS DE “HOLDING”

A. Quando usar trabalho corporal


A seguir estão algumas técnicas corporais que podem ser usadas no trabalho
corporal:
- De pé:
- Oferecer ao cliente o apoio na parede;
- Segurar a testa e o pescoço do cliente;
- Colocar uma mão entre as omoplatas do cliente;
- usar o próprio corpo (braço ou ombro) como suporte para as costas do cliente;
- usar as costas do terapeuta para suporte das costas do cliente;
- o terapeuta segura o cliente por trás (circundando o peito do cliente com seus
braços);
- segurando os punhos do cliente com as mãos abertas;
- o terapeuta coloca suas mãos na planta dos pés do cliente;
- o terapeuta segura os joelhos do cliente por trás;
- o terapeuta segura os tornozelos do cliente no chão quando os pés tendem a
deixar o chão durante a descarga;

- Sentado
- oferecendo um travesseiro ou almofada para a cabeça;
- o terapeuta coloca os pés do cliente nos seus próprios pés ou coxas;
- colocando a mão no peito do cliente (pressionando ou não);
- o cliente se encosta no terapeuta como se estivesse reclinando numa cadeira
(o terapeuta senta no chão, apoiado na parede).

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- Deitado
- toalha enrolada sob o pescoço;
- suportando a cabeça (e pescoço);
- segurando um braço (ou pernas) e fazendo movimentos suaves enquanto o
cliente tenta entregar o braço ou perna e experienciar o suporte;
- colocando uma mão no peito ou no plexo solar;
- colocando as palmas das mãos nas solas dos pés;
- fazendo o cliente empurrar os seus pés contra uma almofada e o terapeuta fica
em frente, segurando os tornozelos do cliente.

- Com a voz
- fazendo sons com o cliente que tem problemas em colocar a voz (a voz do
terapeuta não deve ser mais alta que a do cliente, só impulsionar).

- Com os olhos
- com calor, admiração, olhos úmidos ou qualquer sinal de “ressonância” visto
nos olhos do terapeuta.

B. Usando o contrato terapêutico


“Holding” pode ser fornecido fazendo um contrato terapêutico claro com o cliente,
considerando o horário, formas de pagamento, enquadre; tudo o que é permitido e
o que não é (atuações sexuais e agressivas não são permitidas, por exemplo), etc.
Os termos do contrato terapêutico se tornam claros pelo terapeuta no discurso,
assim como nas atitudes e comportamento.

C. Quando usar palavras, silêncio e imagens


“Holding” pode ser fornecido com palavras. Isto significa que o cliente não tem que
ser ajudado fisicamente para experienciar “holding”. Algumas formulações e
interpretações feitas pelo terapeuta podem ser tão profundamente conectadas
com experiências internas do cliente, que ele ouvindo o que é dito, pode relaxar e
experienciar ser acolhido num “container” fornecido por palavras – ditas por uma
pessoa que ama e compreende, que conhece o que é ir nos níveis profundos da
personalidade – (ver N.T.3).

Silêncio, também pode revelar-se como tendo uma qualidade de “holding”,


quando, por exemplo: um espaço é criado no qual o cliente pode somente relaxar
e experienciar ser com outra pessoa, sem ter que provar coisa alguma.
Imagens podem contribuir para a experiência de “holding”. Quase todo mundo
tem sua mitologia pessoal, por assim dizer. Imagens e símbolos são poderosos.
Nós podemos pedir ao cliente, por exemplo: se há uma imagem para ele que
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capture a essência do “holding” (figura mítica, elemento da natureza, etc.), e
ajudá-lo a usar esta imagem para se sentir acolhido por ela.

D. Usando o relacionamento terapêutico em si mesmo


O relacionamento terapêutico em si mesmo, independente das técnicas, é onde o
“holding” na realidade acontece. De fato, na relação terapêutica reside a essência
do “holding” e é sobre isto que a parte seguinte se refere.

D. A ESSÊNCIA DO “HOLDING”

Como eu disse acima, “holding” não é uma técnica, é uma atitude. A essência do
“holding” reside sob qualquer palavra ou gesto. É encontrado na abertura e
sensibilidade de uma pessoa para com o outro ser humano. É encontrado na
capacidade específica de uma pessoa ressoar às necessidades básicas de outra.
Em francês nós temos a expressão “porter quelqu’un dans son coeur” que
significa literalmente “carregar alguém no seu próprio coração”. Eu penso que
“holding”é isto. Eu penso que “holding” é um estado de coração que nós
aprendemos a cultivar com nossos clientes, conforme os vamos conhecendo no
trabalho terapêutico. Uma vez que o coração está aberto, as necessidades
aparecem. O que ocorre é não ter que ter uma intervenção perfeita – palavra ou
toque, mas que seja “humano” e expresse as qualidades amorosas do coração.
Uma vez que os clientes são muito vulneráveis quando estão lidando com
questões dos primeiros estágios da vida, é de extrema importância ser genuíno
quando nós fornecemos “holding” tocando outra pessoa. Pode parecer tolo repetir
uma regra óbvia, mas como profissionais de ajuda, nós muitas vezes tendemos a
nos sobrecarregar quando acolhemos clientes aflitos, uma vez que
é dolorido e assustador para nós sermos testemunhas da angústia existencial e
mesmo do terror agudo sem fazer nada.
Mais uma vez a palavra e estar lá ao invés de fazer. Estar lá no sentido de ser
verdadeiramente como se é, ao invés de ficar procurando o jeito certo de fazer. Se
nós não nos sentimos próximos do cliente e o tocamos, melhor faríamos se não o
fizessemos. Melhor ficar à distância e ouvir e abrir o coração mais do que ficar
próximo e ter que cortar os próprios sentimentos. Não são os mecanismos de
“holding” que conta, mas a presença... e a capacidade de se perdoar se não
formos uma “mãe” perfeita.
A capacidade de fornecer “holding” no “setting” terapêutico pode flutuar de acordo
com o próprio estado interior e necessidades do momento e com o que está
acontecendo no relacionamento terapêutico em dado momento (assuntos
contratransferenciais ). Estas flutuações devem ser reconhecidas e respeitadas.
Não é sempre uma tarefa fácil, especialmente para terapeutas como eu, que tem
que lidar com seu próprio masoquismo e narcisismo.
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Eu acredito que quanto mais conhecemos nossas dificuldades e fracassos em
fazer a coisa certa no momento certo, mais nos tornamos humanos e menos
máquinas. Harold Searles assinala no seu “Collected papers on equizoprenia and
related subjects” (L’ effort pour rendre l’autre fou”) que frequentemente fora dos
fracassos, uma brecha é feita para compreender um tema (tanto para o cliente
como para o terapeuta). Além disso, nossas fraquezas podem deixar espaço para
o cliente nos rejeitar, nos desafiar, ou simplesmente se sentir bem não sendo
perfeito também; numa palavra, crescer. Com certeza nós devemos fazer uso de
nosso julgamento para avaliar se e quando devemos informar um cliente das
flutuações que ocorrem (certamente não quando está ocorrendo regressão),
porque se os clientes tem direito à clareza, de outro lado não têm que ficar
sobrecarregados com as nossas questões.
Bob Hilton disse na conclusão de sua apresentação na Pacific Northwest
Bioenergetic Conference dois anos atrás: “todos nós fomos machucados”. E é
deste lugar ferido que devemos compreender intuitivamente a dor e a angústia de
outra pessoa e o tipo de “holding” apropriado que deve ser dado a esta pessoa
para que o processo de cura ocorra. Além disso, se pudermos tolerar a
experiência destes espaços machucados dentro de nós mesmos e ainda assim
ficar em contato com o processo da nossa própria vida, convencemos o cliente,
apesar das palavras, que é possível experienciar o ser quebrado e continuar vivo,
encontrando formas de se curar, acreditando no próprio organismo para alcançar
o que for necessário, assim como também meio ambiente para prover o que faz
falta no início da vida.
Finalmente, temos que ter em mente que nós, como terapeutas, também
precisamos “holding” para nós mesmos, tanto quanto nossos clientes.
Especialmente, quando se espera que forneçamos “holding”, nós devemos nos
sentir suportados (ou seguros). Aquilo que nos segura é o chão. Por isto, eu quero
dizer a sensação de ser suportado pela Mãe Terra e pela força da vida que flue
através de nós, conduzindo-nos através do nosso próprio processo de
crescimento. Isto nos traz de volta ao nosso senso de grounding, acreditando nas
nossas próprias habilidades para sobreviver, confiando no suporte que o meio
ambiente dá e acreditando que em alguns momentos, de alguma forma, em
algum lugar ainda há pessoas de “coração aberto”.

NOTA DO TRADUTOR:

1. No original “the mothering person” – a mãe propriamente dita ou a pessoa que


exerce a função materna.
2. Superfície ou um plano que dê limite.
3. A interpretação que “toca”.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

Hilton, B. – 1987. “Grounding in the ground of being”- trabalho apresentado na


Pacific Northwest Bioenergetic Conference, não publicado.
Kelleman, S. – 1986, “Bonding, a somatic emocional approach to transference”.
Winnicott, D. W. – 1980, “Processus de maturation chez l ”enfant”.
Winnicott, D. W. – 1980, “De la pédiatrie à la psychanalyse”.
TRADUÇÃO: Luiza Revoredo de Oliveira Reghin - CBT
REVISÃO: Lucilia Moreira Lima Cerri
Julho de 1993

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