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Melanie Klein abordou a sexualidade infantil em sua teoria psicanalítica,

embora sua perspectiva diferisse um pouco da de Freud. Ela se concentrou


nas primeiras experiências emocionais da criança e como essas experiências
moldam a personalidade em desenvolvimento. Sua teoria ficou conhecida
como psicanálise das relações objetais.

O processo de projeção, a criança cria objetos internos, que


representam as pessoas e os objetos do mundo externo. Esses objetos
internos são usados para regular as emoções e o comportamento. Klein
acreditava que os objetos internos da criança se desenvolvem a partir de
experiências emocionais precoces com a mãe, que se tornam internalizadas e
usadas para regular as emoções e o comportamento da criança.

“à imagem do objeto, externo e internalizado, é distorcida na mente


do bebê por suas fantasias, que estão intimamente ligadas à projeção
de seus impulsos sobre o objeto.” (KLEIN,1952a/1991, p. 88)

Ela acreditava que a relação da criança com sua mãe durante seus
primeiros meses de vida era crucial para o desenvolvimento da personalidade.
Segundo Klein, a criança experimenta a mãe como um objeto que pode ser
amado ou odiado, e essas emoções são projetadas para dentro e para fora.

Klein (1996) introduziu a ideia das posições esquizoparanóide e


depressiva, que descrevem os estágios iniciais do desenvolvimento emocional
da criança. Na posição esquizoparanóide, a criança experimenta ansiedade e
medo de perda e fragmentação. Essa ansiedade está ligada ao relacionamento
com o objeto primário (geralmente a mãe). Na posição depressiva, a criança
desenvolve empatia pelo objeto e lida com sentimento de culpa e remorso por
sentimentos agressivos em relação ao objeto.

Para o bebê, todos os prazeres que sente junto à mãe servem como
prova de que o objeto de amor interno e externo não está ferido, nem
se transformou numa pessoa vingativa. O aumento do amor e
confiança, acompanhado pela redução do medo através de
experiências felizes, ajuda o bebê a vencer gradualmente sua
depressão e sentimento de perda (luto). (KLEIN, 1940/1996, p. 389)

Para Klein (1996), a sexualidade infantil também está relacionada à


agressão e à pulsão destrutiva. Ela acreditava que as fantasias sexuais e
agressivas coexistiam no mundo interno da criança desde muito cedo. A
criança pode fantasiar sobre atos agressivos e destrutivos, que também estão
relacionados ao amor e ao desejo.

A teoria de Klein (1996) também incluiu a ideia de que o


desenvolvimento emocional da criança é influenciado por fantasias
inconscientes. Ela acreditava que os bebês têm fantasias e pensamentos
inconscientes desde os primeiros meses de vida. Essas fantasias têm um
conteúdo sexual, relacionado ao desejo e ao prazer. A sexualidade infantil, para
Klein, está presente nas fantasias e não é limitada apenas a comportamentos
ou estágios de desenvolvimento específicos.

Enquanto Freud colocou o complexo de Édipo mais tarde no


desenvolvimento infantil, Klein argumentou que as fantasias e os conflitos
edipianos estão presentes desde os estágios iniciais da vida. Ela via o bebê
como tendo relacionamentos emocionais intensos e complexos com os pais
desde o início, envolvendo amor, ciúme, rivalidade e desejos sexuais.

“o bebê entra nos estágios iniciais do complexo de Édipo, direto e


invertido, ainda que de forma fragmentada. Esses estágios iniciais
são caracterizados pelo importante papel que os objetos parciais
ainda desempenham na mente do bebê enquanto a relação com os
objetos completos está sendo estabelecida. Além disso, embora
desejos genitais estejam aparecendo firmemente em primeiro plano, a
libido oral ainda predomina. (KLEIN, 1952a/1991, p. 102-103)

De acordo com Klein (1997), o complexo de Édipo está enraizado em


fantasias inconscientes relacionadas à sexualidade infantil e às dinâmicas
emocionais em torno do amor e da agressão. Essas fantasias e conflitos
edípicos são fundamentais para a formação da personalidade e para a
resolução das ansiedades e conflitos internos da criança.

Fontes:

KLEIN, M. Amor, culpa e reparação. Rio de Janeiro Imago Ed., 1996.

SILVA, Dayse Paulo da. O inconsciente entendido à luz de Gilles Deleuze e


Félix Guattari: intersecções entre a psicanálise de Melanie Klein e a
esquizoanálise. 2006. 117 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Ciências e Letras de Assis, 2006. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/97633>.

KLEIN, M. A Psicanálise de Crianças. Rio de Janeiro. Imago Ed., 1997.

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