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Textos por Liz Greene

É comum perguntar-se às crianças: "O que você quer ser quando crescer?" Nessa fase,
geralmente temos muitos sonhos. Sabemos que queremos ir à lua ou pilotar o avião
mais rápido do mundo; salvar animais em extinção ou fazer uma brilhante descoberta
científica que transforme a vida das pessoas. Ainda não temos idade para pensar no
mercado de trabalho, na administração do orçamento doméstico nem em como nos
manter e sustentar nossa família. Temos apenas nossos sonhos e a secreta certeza de
ser únicos, predestinados a realizar algo de muito especial na vida. Mesmo que nossos
pais tenham outros sonhos para nós, sabemos a diferença entre os sonhos deles e os
nossos. Quando crianças, ainda somos capazes de ouvir a voz do espírito.

À medida que crescemos, as coisas vão mudando. As pessoas nos dizem: "É melhor
começar a pensar no que quer fazer de sua vida. Como é que você vai se sustentar?" O
tempo de sonhar chega ao fim; precisamos "enfrentar a realidade" e pensar em como
sobreviver neste velho mundo, vasto e hostil. A sensação que tínhamos de ser
especiais se apaga diante das altas taxas de desemprego, da competição acirrada
pelas vagas disponíveis e das crises e reviravoltas econômicas, que nos levam a achar
que será muita sorte se conseguirmos um emprego, qualquer que seja ele. E se
estamos insatisfeitos nesse emprego ou somos demitidos, nos sentimos desvalorizados
e desconfiados de nossos sonhos e aspirações mais profundos, simplesmente porque
talvez não haja nenhuma outra oportunidade de trabalho. E mesmo que haja, é provável
que já tenhamos perdido há muito tempo a capacidade de ouvir a voz do coração e de
sentir que temos algo muito especial a fazer na vida.

Esta é uma interpretação astrológica da sua vocação. Ela


foi feita para ajudá-lo a saber o que seria bom para você e em que área você atuaria
melhor, de forma que sua vida profissional tenha não só contracheques, mas também
sentido. Se você está buscando orientação, a astrologia poderá ajudá-lo a encontrá-la.
Se já definiu um rumo, a astrologia lhe permitirá confirmá-lo ou mesmo aperfeiçoá-lo. A
palavra "vocação" deriva de uma raiz latina que significa "chamar". Ter uma vocação, ou
"atender a um chamado", implica algo mais profundo ou sublime - uma alma ou Eu
Interior que sabe para que estamos aqui. Durante muito tempo a palavra "vocação" foi
utilizada apenas para caracterizar o chamado para a vida religiosa. Os desafios e
problemas do mundo de hoje, seus rápidos avanços tecnológicos e suas constantes
mudanças políticas e econômicas nos intimidaram e afastaram do que realmente é
importante para nós: aquilo que fazemos na vida. No entanto, muitos sentem-se
desorientados e desmotivados no trabalho, mesmo quando são bem pagos. Poucos de
nós tivemos o privilégio de herdar fortunas; a maioria precisa encontrar um meio de
ganhar a vida. O trabalho, tanto quanto os relacionamentos, ocupa lugar central em
nossa vida e a maior parte do nosso tempo. Apesar disso, talvez não sejamos capazes
de pensar de dentro para fora, concentrando-nos primeiro no que somos e no que nos
dá inspiração para depois buscar os meios de expressar isso no mundo. Normalmente,
pensamos de fora para dentro, concentrando-nos naquilo que os outros ou nossas
próprias inseguranças nos dizem ser possível. Não fomos criados para conhecer-nos
nem para confiar em nós e em nossas aptidões. Ao invés disso, conhecemos somente
os limites da realidade exterior e aprendemos a moldar-nos para caber dentro deles.

Como cada mapa astral é único, a astrologia


ensina-nos que cada pessoa tem seu próprio temperamento e suas próprias
habilidades. Embora as interpretações astrológicas não possam dizer-nos em que
empresa trabalharemos nem quanto ganharemos, elas podem ajudar-nos a
compreender que, se quisermos que a vida valha a pena, precisamos manifestar no
mundo exterior pelo menos alguma coisa do que somos interiormente. Nenhum
emprego é perfeito; todos temos que fazer concessões. O que importa é fazer alguma
coisa que nos ligue a algo especial dentro de nós; algo que nos faça sentir dignos e nos
incentive a dar à vida o que temos de melhor. As revelações da astrologia não são
literais nem específicas. Elas são indicações simbólicas e psicológicas que nos
informam sobre as áreas que mais nos motivam, sobre as necessidades que nos
alimentam o espírito e sobre as limitações pessoais que assinalam o que somos
capazes de conseguir ao longo de nossa existência. Não podemos negar o que somos
e não há ser humano que disponha de todas as possibilidades. As áreas em que cada
um é bom são diferentes. Com a combinação certa de realismo e fé em nós mesmos,
podemos chegar à certeza de que nossa passagem pelo mundo valeu a pena.

É importante lembrar-nos de três coisas para obter os


melhores resultados das revelações astrológicas contidas nesta interpretação. Em
primeiro lugar, uma boa compreensão de nossas próprias necessidades, potenciais e
limitações é muito mais importante que as estatísticas e os fatos do mundo exterior. Não
queremos dizer que as estatísticas e fatos não sejam importantes. Mas mesmo que haja
quatrocentos candidatos competindo por uma determinada vaga, a força que temos
para criar nossa própria realidade é maior do que pensamos. Se esse emprego for
mesmo certo para nós e se estivermos dispostos a nos preparar e fazer o treinamento
necessário, nós conseguiremos a vaga, seja qual for o lugar, o momento ou a maneira.
Em segundo, não devemos ter medo de tentar. Tentar de novo após um fracasso é
melhor que desistir, pois podemos aprender com os erros mais do que aprenderíamos
com os acertos. É importante também entender que, às vezes, nós inconscientemente
buscamos o fracasso e perdemos oportunidades. Muitas pessoas são derrotadas não
por falta de capacidade, mas por uma profunda convicção inconsciente de que não
merecem realizar-se. Compreendendo-nos mais profundamente poderemos distinguir
entre as verdadeiras limitações e a auto-sabotagem. Finalmente, assim como um mapa
rodoviário não influi para que façamos uma viagem, um mapa astral não pode, por si só,
criar-nos oportunidades. A carta astrológica pode orientar-nos e incentivar-nos a
manifestar nossos maiores valores e nossos sonhos mais caros. Mas é preciso que
cada um decida pôr o pé na estrada. Se nos recusamos a empreender essa viagem, por
medo ou ceticismo, e ficamos sentados na beira da estrada desejando o que poderia ter
sido, não devemos culpar nem a astrologia nem o mundo por nossa insatisfação.

O mapa composto
por Liz Greene
Os relacionamentos e como sobrevivê-los
Este seminário teve lugar a 27 de Abril de 1997 no Regents College em Londres, como
parte do Período Lectivo de Verão do programa de seminários do "Centre for Psychological
Astrology".

O conceito por trás do mapa composto é que este representa a própria relação
como um terceiro factor. Duas pessoas criam um terceiro elemento entre elas. O
mapa composto é como um campo de energia que afecta ambas as pessoas,
extraindo certas coisas de cada indivíduo bem como impondo-lhes ópria dinâmica.

O mapa composto não descreve o que cada pessoa sente em relação à outra.
Neste sentido ele é muito diferente da sinastria, a qual descreve a química existente
entre duas pessoas em termos de como estas se afectam uma à outra. Ao
explorarmos a sinastria numa relação, dizemos: “A tua Vénus encontra-se no meu
Marte. Tu activas o meu Marte e fazes com que eu reaja Marcialmente, e eu activo a
tua Vénus e invoco em ti uma resposta Venusiana. É por isso que temos certos
sentimentos um pelo outro.” Quando olhamos um mapa composto, não exploramos
aquilo que duas pessoas activam entre si ou sentem uma pela outra. Interpretamos
o campo energético que essas duas pessoas geram entre elas. O mapa composto é
como uma criança, uma terceira entidade que carrega as impressões genéticas de
ambos os pais mas que conjuga essas impressões numa forma completamente
nova e que existe independentemente de cada um deles.
Como o mapa composto contém todas as mesmas características que um mapa
natal, é necessário abordar a sua interpretação de maneira similar. O mapa
composto tem um núcleo de identidade, que representa o seu "propósito" (o Sol) e
um conjunto característico de respostas e necessidades emocionais (a Lua). Tem
um modo de comunicação (Mercúrio) e uma série distinta de valores e ideais
(Vénus). Tem um modo de expressar energia e vontade (Marte). Tem a sua própria
forma de crescimento e expansão (Júpiter) e tem limitações e mecanismos de
defesa inatos (Saturno). Tem uma vulnerabilidade específica em relação ao
colectivo devido a padrões de origem colectiva do relacionamento (Quíron). Reflecte
certos ideais colectivos que anseiam por mudança e progresso (Urano). Tem
aspirações inatas que reflectem certas fantasias colectivas (Neptuno). Possui um
instinto de sobrevivência de base que pode sustentar a continuidade da relação mas
que pode igualmente ser destrutivo se a relação se encontrar em perigo (Plutão).
Tem uma imagem ou um papel a desempenhar perante os olhos da sociedade
(MC), e uma "personalidade" que se expressa de forma característica para o mundo
exterior (Ascendente). Os signos num mapa composto descrevem a matéria básica
ou o "temperamento" do qual a relação é feita; os planetas descrevem as energias
motivadoras; e as casas descrevem as esferas da vida através das quais os
planetas se expressam. Tudo isto é Astrologia básica e não é menos aplicável ao
mapa composto que ao mapa natal individual.

A relação como uma entidade


Não costumamos pensar nos nossos relacionamentos como entidades
independentes. Pensamos mais em termos dos nossos próprios sentimentos e
atitudes ou dos sentimentos e atitudes da outra pessoa. No entanto, cada
relacionamento cria o seu próprio ambiente. Nenhum de nós se comporta da mesma
forma enquanto parte de um casal como quando funciona a solo. Podemos ter
padrões de comportamento característicos quando estamos sós mas no momento
em que nos encontramos com o nosso parceiro, um certo tipo de energia dinâmica
põe-se em movimento e nós comportamo-nos de formas particulares, que por vezes
se tornam bastante visíveis na companhia

O eterno triângulo
por Liz Greene
Apollon, Abril de 1999

Liz Greene tem a capacidade de escrever sobre as áreas mais complexas e


obscuras da vida com uma brilhante clareza sintética e com uma consideração
clemente pelos dois lados que existem sempre em qualquer história. Neste
artigo ela explora um dos padrões humanos mais complexos, analisando as
relações onde existem três lados.

Os triângulos relacionais são uma dimensão arquetípica da vida humana. Não


podemos escapar-lhes, de uma forma ou doutra e temos também tendência a
geri-los mal quando entram nas nossas vidas, o que é compreensível dado que
os triângulos normalmente invocam emoções muito dolorosas,
independentemente da posição que nele ocupamos. Podemos ter de enfrentar
sentimentos como ciúme, humilhação e traição. Ou podemos

ter de viver sentindo que somos traidores,


desonestos, que magoamos alguém. Podemos sentir todas estas coisas ao
mesmo tempo, e podemos ter a convicção de ser uns falhados. As emoções
envolvidas nas relações triangulares são muitas vezes angustiantes e
destrutivas para a auto-estima. E dado que os triângulos nos obrigam a
enfrentar emoções muito difíceis, descobrimo-nos habitualmente a tentar culpar
alguém pela existência de um triângulo nas nossas vidas, seja que nos
culpemos a nós próprios ou a uma das outras duas pessoas envolvidas. Mas os
triângulos são efectivamente arquétipos – e, se temos dúvidas sobre a sua
universalidade, basta-nos ler a literatura dos últimos três mil anos. Todo e
qualquer arquétipo nos oferece um mundo de padrões determinados e de
inteligente desenvolvimento interior e existe algo na experiência do triângulo
que a torna, por mais desagradável e dolorosa que seja, um dos mais
poderosos meios de transformação e crescimento de que dispomos. A traição,
sejamos nós traidores ou traídos, oferece-nos algo que é potencialmente de
enorme valor.

Nada entra nas nossas vidas que não esteja ligado, de um modo ou doutro,
com a nossa viagem individual. Isto não implica culpabilidade ou causalidade
mas implica sem dúvida um significado mais profundo, que pode ser
transformador para o indivíduo preparado para procurar tal significado. Se um
triângulo entra na nossa vida, é com uma finalidade. Se reagimos apenas com
amargura e raiva, essa é uma escolha nossa, mas também poderíamos optar
por transformar o triângulo num trampolim de lançamento para uma verdadeira
procura interior. Isto é particularmente difícil porque, habitualmente, a
experiência da humilhação invoca todos os sistemas defensivos da nossa
infância e é muito complexo conseguir ultrapassar reacções tão primárias e
alcançar uma perspectiva mais distante. Enquanto astrólogos, podemos achar
que vale a pena tentar descobrir se existe, em absoluto, um qualquer
sinal-padrão no mapa astral que conduza aos triângulos; se há razões mais
profundas para que um indivíduo se envolva num triângulo, seja por escolha
sua ou de outrém; e porque é que algumas pessoas têm mais tendência para
triângulos que outras. Podemos também considerar quais as possíveis
abordagens que podem ajudar-nos a trabalhar com os triângulos de forma mais
criativa, o que comportará analisá-los psicológica e simbolicamente.
A universalidade dos triângulos

Existem muitos tipos de triângulo e nem todos implicam uma relação sexual
adulta. Mesmo que nos limitássemos a considerar os triângulos sexuais,
encontraríamos muitos tipos diferentes; os triângulos sexuais nem sempre são
feitos da enorme carga dramática de Tristão e Isolda. Em alguns triângulos
amorosos adultos, todos os lados são fixos: há dois parceiros e há uma terceira
pessoa envolvida com um dos dois e não há nenhum movimento, o triângulo é
estático e pode continuar assim por muitos anos, até que um dos três
elementos morra. Noutros triângulos amorosos, um dos lados muda
constantemente. Uma pessoa pode praticar adultério serial – às vezes, como
no caso de John F. Kennedy, com uma média de substituições (de amante)
incrível. Mas ambas as situações são triângulos e, embora tenhamos tendência
a atribuir um maior valor romântico à primeira, ambas evocarão a mesma gama
de emoções arquétipo.

Para além dos triângulos onde existe um envolvimento sexual, entre qualquer
tipo de combinação dos dois sexos, existem muitos outros tipos de triângulo. O
mais importante é aquele que envolve pais e filhos. Os triângulos também
podem envolver amizades. Mais complicados ainda são os triângulos que
envolvem companheiros não-humanos. Um dos parceiros pode ter ciúme e
sentir-se traído pela dedicação do outro ao trabalho, ou a um seu empenho
artístico, ou ao seu crescimento espiritual. Tais triângulos podem evocar
exactamente os mesmos sentimentos de ciúme que os triângulos de tipo
sexual. Quando uma pessoa se retira num espaço criativo, de certo modo
"abandona" a pessoa com quem vive e isso pode criar ciúmes enormes ao
parceiro. O processo criativo é um acto de amor, o que é talvez o motivo pelo
qual tradicionalmente se diz que a 5a. casa os rege ambos. Existem até
triângulos que envolvem animais de estimação; isto pode parecer absurdo, mas
um dos parceiros pode sentir-se extremamente ciumento, magoado, perturbado
e abandonado porque o outro (parceiro) é profundamente ligado ao seu cão ou
gato – mesmo que não se deseje admitir tais sentimentos em público. Estes
vários tipos de triângulo podem não parecer relacionados; a única coisa que
têm em comum é que têm como elemento um ou outro tipo de amor que, num
triângulo, já não é exclusivo. E quando temos de partilhar o amor de alguém,
quer seja com outra pessoa ou com algo inefável como a imaginação ou o
espírito, podemos sentir-nos traídos, diminuídos e defraudados.

Este pequeno diagrama é uma imagem simplista dos três vértices do triângulo.
Por enquanto os significadores astrológicos foram omitidos. Algumas pessoas
experimentam só um destes três lados numa vida inteira, e outras
experimentam-nos todos.

O Traidor é a pessoa que, aparentemente, escolhe envolver-se num triângulo.


Usei a palavra "aparentemente" porque nem sempre se pode ter a certeza
sobre quanta escolha consciente exista realmente e não se pode, igualmente,
ter a certeza sobre quanta cumplicidade existe entre Traidor e Traído. Mas
independentemente do que possa acontecer sob a superfície, o Traidor é uma
alma dividida. Há um amor, ou atracção, ou desejo, por duas coisas diferentes.
A maior parte de nós carrega a convicção de que o amor deveria ser exclusivo,
mesmo se a nível consciente adoptamos uma perspectiva mais liberal. Por
causa dos valores da nossa herança judaico-cristã, crescemos acreditando que
se o nosso amor não é exclusivo não é amor e que deixamos de ser "boas
pessoas". Falhamos, ou somos egoístas e sem sentimentos. Quando vivemos
este tipo de profunda divisão interior temos, consequentemente, muita
dificuldade em enfrentá-la. É muito mais fácil para o Traidor aparecer com uma
lista de justificações pelas quais está a cometer o acto de trair. Não se ouve
com frequência o Traidor dizer "Sinto-me dividido, rasgado ao meio"; o que se
ouve habitualmente é "O meu (a minha) companheiro/a trata-me muito mal.
Ele/ela não me dá A, B, C e D, e eu preciso dessas coisas para ser feliz.
Portanto tenho uma justificação para procurar noutro lado".

No lado seguinte do triângulo está o Traído, que è, aparentemente, a vítima


involuntária da incapacidade do Traidor de amar em exclusivo. Usei a palavra
"aparentemente" aqui também porque, uma vez mais, podem existir algumas
dúvidas sobre a cumplicidade inconsciente envolvida neste papel específico.
Todos os três lados do triângulo são secretamente intercambiáveis; não são tão
diferentes como podem parecer à primeira vista. Mas o Traído normalmente
acredita que é leal e que a outra pessoa é que é desleal. Foi uma outra pessoa
a iniciar o triângulo. Habitualmente pensamos no Traído como aquele que está
na pior situação dentro do triângulo, porque é ele quem normalmente vive toda
a dor, ciúme e sentimentos de humilhação.

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Por fim, no terceiro lado do triângulo, está o Instrumento de Traição; é a pessoa
que aparentemente entra numa relação já existente entre duas pessoas e
ameaça destruí-la ou mudá-la. Este ponto do triângulo é normalmente muito
mal visto, sendo considerado como "predador" ou aquele que se apropria do ser
amado de outra pessoa. Se nos acontece ocupar este ponto, podemos receber
dos outros pouca compreensão e até mesmo nenhuma, por parte dos que, em
relações estabelecidas, sentem o vento frio do seu próprio futuro. Na realidade,
o Instrumento de Traição pode sentir-se ele próprio uma vítima, e pode ver o
Traído como o predador. Podemos começar a ter uma ideia da secreta
identificação entre estes dois lados do triângulo. Algumas pessoas rodam à
volta do triângulo e experimentam todos os três lados ao longo da vida, nalguns
casos repetidamente. Outras pessoas fixam-se num só lado e são sempre
traídas nas suas relações, ou acabam sempre por fazer o papel do Traidor, ou
são sempre o Instrumento de Traição e continuam a envolver-se com pessoas
já comprometidas com outras.

Podemos também pensar nos triângulos como pertencendo a quatro


grupos-base; estes podem-se sobrepor, mas podem também, até certo ponto,
ser associados a configurações astrológicas concretas. Existe o ubíquo
triângulo familiar, sobre o qual se debruça principalmente este artigo. Também
existem triângulos de poder e triângulos defensivos, que não são
completamente separados, apesar de algumas ligeiras diferenças. Ambos têm
um sabor característico e as razões para a entrada deles na vida de alguém
podem não ser totalmente radicadas no seu background familiar. Um triângulo
defensivo seria, por exemplo, um homem ou uma mulher que sente a
necessidade de formar uma relação adicional, fora da sua relação fixa, porque
se sente fortemente inadequado. Pode sentir-se atormentado por uma enorme
insegurança e ter medo de, caso se envolva demais numa única relação, ser
demasiado vulnerável, o que tornaria uma rejeição absolutamente insuportável.
Cria-se assim, inconscientemente, um triângulo como mecanismo defensivo; se
for abandonado por um dos parceiros, sempre lhe resta o outro. Normalmente
não se tem consciência disso, mas é um potente factor de motivação em muitos
triângulos.

Existem também triângulos que perseguem o inalcançável. Estes podem


sobrepor-se aos triângulos familiares, assim como aos triângulos defensivo e de
poder; mas há um ingrediente especial para a perseguição do inalcançável e,
muitas vezes, a motivação profunda é artística ou espiritual. Por vezes, quando
perseguimos um amor deste tipo, este tem pouco a ver com seres humanos;
mas podemos transferir as nossas aspirações criativas ou místicas para a
perseguição daquilo (ou daqueles) que não podemos ter. Abrimos, desta forma,
uma dimensão da psique que tem mais a ver com a fantasia criativa do que
com relações. A "musa" do artista raramente é a sua mulher ou marido. Este
tipo de triângulo pode envolver elementos das dinâmicas familiares da primeira
infância e pode também incluir motivos defensivos, mas deve ser visto de uma
perspectiva diferente.

O último grupo – triângulos que reflectem vida psíquica não vivida – inclui todos
os outros. Quando olhamos mais a fundo os triângulos familiares, não podemos
deixar de nos perguntar porque é que queremos tanto estar próximos de um
dos pais em especial. O que é que esse progenitor significa para nós? Porque é
que podemos enfrentar a indiferença de um dos progenitores mas requeremos
nada menos que uma absoluta fusão com o outro? No fim, inevitavelmente,
encontraremos pedaços da nossa alma enraizados ao longo dos lados do
triângulo – de qualquer triângulo, seja ele motivado por dinâmicas familiares, de
poder, de defesa, ou por todas elas. Existem excepções, porque existem
sempre excepções a qualquer padrão psicológico; mas, essencialmente,
independentemente da posição que nele ocupamos, quando um triângulo entra
nas nossas vidas traz sempre uma mensagem sobre dimensões de nós
próprios por nós não reconhecidas ou vividas. Se um tipo de triângulo continua
a repetir-se, então é uma mensagem muito forte e precisamos de ouvir o que
ela tenta dizer-nos.

O triângulo familiar
Os triângulos familiares não acabam na infância, mas têm repercussões ao
longo da vida. Se não resolvidos, podem entrar secretamente nas nossas
relações adultas – se um triângulo familiar não for "curado" podemos continuar
a recriá-lo, uma ou muitas vezes, esperando, a um nível muito profundo e
inacessível de nós próprios, encontrar um modo de curá-lo ou resolvê-lo. Freud
desenvolveu a teoria do triângulo edipiano, também conhecido como "o
romance familiar", num contexto muito específico. Na sua perspectiva,
ligamo-nos apaixonadamente ao progenitor do sexo oposto e entramos numa
situação de rivalidade e competição com o progenitor do nosso sexo.
Dependendo de como o triângulo edipiano for resolvido na infância – e isto
depende das reacções dos pais bem como do temperamento inato de cada um
de nós – as nossas relações futuras serão inevitavelmente afectadas. Se
"ganharmos" de forma inequívoca e conseguirmos o amor exclusivo do
progenitor do sexo oposto, sofreremos porque nunca aprendemos a separar ou
partilhar, experimentaremos uma espécie de falsa energia infantil porque
sentiremos que derrotámos o/a nosso/a rival. Sentir-nos-emos omnipotentes, o
que pode abrir as portas a uma sucessiva incapacidade de lidar com qualquer
tipo de decepção amorosa. E a relação com as pessoas do próprio sexo pode
ser perturbada, por consequência.

Se, por exemplo, um menino vê a mãe e o pai em


conflito e "ganha" a batalha edipiana tornando-se o substituto de marido da
mãe, pode sentir inconscientemente uma profunda culpa em relação ao pai.
Pode também perder o respeito pelo pai, por tê-lo aparentemente vencido tão
facilmente. A sua imagem interior do pai pode, assim, ser a de alguém fraco,
impotente e facilmente derrotado e algures dentro de si próprio sentirá medo de
ser assim ele também, dado que, como o pai, pertence ao sexo masculino. Este
menino pode ter de continuar a afirmar a sua vitória edipiana pela vida fora,
transformando qualquer amigo do sexo masculino num rival e relacionando-se
exclusivamente com mulheres. Homens do género não se dão bem com outros
homens, mas só com mulheres ligadas a outros homens. A ligação com a mãe
custará a este homem a relação com o seu pai, o que pode significar que ele
não terá nenhuma figura masculina interior positiva em que inspirar-se e
nenhuma sensação de apoio da parte da comunidade masculina à sua volta. A
sua auto-confiança e identidade sexual masculinas dependerão exclusivamente
do facto que as suas mulheres o amem – e quantas mais forem, melhor. Esta é
uma posição muito insegura e dolorosa. As mesmas interpretações poderiam
aplicar-se no caso de uma mulher e o seu pai.

Se perdermos completamente a batalha edipiana – e a palavra-chave aqui é


"completamente" – também sofreremos. Uma derrota edipiana absoluta é uma
humilhação que pode minar a segurança em nós próprios; e com "absoluta"
quero dizer que a criança sente que não se estabeleceu nenhum tipo de
contacto emocional com o progenitor amado e instaura-se nela uma profunda
sensação de ter falhado. Simplesmente não se consegue aproximar do
progenitor, que pode ser incapaz de oferecer qualquer tipo de resposta
emocional positiva ao seu filho ou filha; ou o outro progenitor está sempre no
meio. Mais tarde na vida, uma tal derrota emocional pode criar um angustiante
complexo de inadequação e inferioridade sexual. Pode contribuir para muitos
modelos relacionais destrutivos, como o tipo de triângulo onde uma pessoa se
enamora desesperadamente de alguém que está perenemente ligado a outro/a.
Podemos tornar-nos no infeliz Instrumento de Traição, para sempre batendo à
porta fechada do casamento do amante. Ou podemos tornar-nos no Traído,
repetindo inevitavelmente a derrota edipiana, no papel do parceiro oficial que é
humilhado pelo poder mais forte da mãe (ou pai) rival. Seja com a vitória ou
com a derrota edipiana indiscutíveis, somos incapazes de estabelecer uma
separação psicológica do progenitor amado e uma parte de nós nunca cresce
realmente para além da infância. Podemos assim ficar presos em dinâmicas
relacionais repetitivas, onde continuamos a tentar "ajustar" as dificuldades
infantis através de um triângulo.

Freud pensava que a solução mais saudável para o conflito edipiano é uma
espécie de derrota branda, onde recebemos amor suficiente do progenitor
amado mas somos contudo forçados a reconhecer que a relação entre os
nossos pais é, em última análise, inviolável. Podemos então aprender a
respeitar as relações entre as outras pessoas e criar uma autoconfiança através
das relações que estabelecemos fora do círculo mágico parental. Estamos aqui
no reino do que Winnicott chamou "suficientemente bom" – um casamento
parental suficientemente bom, uma relação suficientemente boa com ambos os
pais, amor e carinho suficientes para que a derrota edipiana seja acompanhada
por uma razoável sensação de segurança dentro da família e pela certeza de
que continuaremos a ser amados. É importante também que não tenhamos
medo de ser punidos pelo progenitor rival. Infelizmente muitos pais, carentes
emocionalmente e ressentidos com um matrimónio infeliz, castigam os filhos
por lhes "roubarem" o amor do parceiro. Temos de reconhecer que não
podemos suplantar um progenitor de forma a obter o outro, mas também
precisamos de saber que continuaremos a ser amados pelo progenitor que
tentamos "destronar". Naturalmente, este é um ideal que poucas famílias
conseguem atingir; um grande numero de pessoas sofre por excessiva vitória
ou excessiva derrota edipiana. O que conta realmente é aquilo que fazemos e
quanta consciência disso temos. E nada é tão eficaz a activar a consciência
como um triângulo relacional.

O modelo psicológico de Freud tem um valor considerável e efectivamente


parecem existir muitas situações em que uma derrota ou uma vitória edipiana
absolutas estão ligadas a uma tendência posterior na vida para o indivíduo se
envolver em triângulos; mas existem sérios limites a este modelo de romance
familiar. O progenitor a quem nos ligamos não é necessariamente o do sexo

oposto, pode ser o do nosso sexo. Os sentimentos


edipianos, no fim de contas, não são "sexuais" num sentido adulto, mas têm
mais a ver com fusão emocional – tal como, na realidade, muitos dos nossos
sentimentos, aparentemente de ordem estritamente sexual, na idade adulta.
Uma derrota ou vitória edipianas envolvendo o progenitor do nosso mesmo
sexo pode ter repercussões igualmente dolorosas e pode igualmente levar a
relações triangulares posteriores. Podemos sentir-nos deslocados da nossa
própria sexualidade, dado que o progenitor amado é um modelo para essa
sexualidade e a ligação que temos com ele é demasiado fraca ou negativa para
permitir uma interiorização positiva de tal modelo. Um homem pode tentar
eternamente ganhar o amor do seu pai provando a sua virilidade; pode assim,
inconscientemente, formar triângulos que, na realidade, não são relativos às
mulheres com quem se envolve, mas cuja finalidade é impressionar outros
homens – ou puni-los pela rejeição paterna. E uma mulher pode tentar ganhar o
amor e a admiração da mãe da mesma forma, ou punir outras mulheres pelo
amor que a mãe não soube dar-lhe. O/a rival, num triângulo adulto, pode ser
para o indivíduo secretamente muito mais importante do que o aparente objecto
de desejo – basta-nos notar a fixação obsessiva que Traído e Instrumento de
Traição têm um com o outro para reconhecer que a situação pode ser,
psicologicamente, muito mais complexa do que parece.

Indícios edipianos úteis – Vénus como significador parental

O mapa natal pode dizer-nos muito sobre a imagem que temos dos nossos pais
e as experiências que encontrámos através deles; quando olhamos para um
mapa astral podemos encontrar alguns indícios edipianos úteis. Os
significadores parentais normalmente mostram-se de forma muito evidente e de
maneira a incluir as nossas necessidades emotivas e sexuais, assim como a
imagem que temos de nós próprios como homens ou mulheres. Podemos
encontrar planetas na 10.a ou na 4a. casa, o que sugere imediatamente que o
progenitor é representativo de algo mítico e arquétipo. Não ter planetas nas
casas parentais não significa que não se têm conflitos com os pais, ou que não
projectamos neles nenhuma imagem subjectiva; mas, em tal caso, é mais fácil
perceber o progenitor como uma pessoa separada de nós próprios, outro ser
humano, ainda que imperfeito. Quando existem planetas a ocupar estas casas,
os deuses planetários aparecem com a cara do progenitor, usando as suas
roupas. Um pedaço do nosso próprio destino, do nosso próprio caminho interior,
vem visitar-nos muito cedo na vida, disfarçado de mãe ou pai e é-nos
transmitido através da herança familiar. Isto não é "mau" ou "negativo", mas
implica decididamente algo de poderoso, fascinante e compulsivo ligado à
relação com os pais, que requer um maior grau de (auto)consciência e um
maior esforço integrador.

A repetição de triângulos na vida adulta está frequentemente ligada à presença


de planetas nas casas parentais; muitas vezes encontraremos Vénus na 10.a
ou na 4.a. Vénus descreve aquilo que entendemos por belo e valioso, e como
tal, aquilo que amamos, seja em nós ou nos outros. Se um dos nossos pais
aparece no mapa natal como Vénus, esse progenitor será o símbolo do que nós
reconhecemos como mais belo, mais valioso e mais digno. Isto em si não é
negativo; mas pode significar que projectamos a nossa própria beleza e valor
no progenitor e então muitas coisas dependerão de como reage ele a essa
projecção. Vemos no progenitor qualidades e atributos dignos de profundo amor
e valor e apaixonamo-nos pelo progenitor porque estamos apaixonados por
esses atributos. Felizmente, à medida que amadurecemos acabamos por
interiorizar estas coisas e reconhecer que nos pertencem tanto quanto à nossa
mãe ou ao nosso pai. Este processo pode ajudar a criar uma durável e amorosa
ligação entre progenitor e criança – uma mútua valorização do outro através
das qualidades partilhadas. Mas nem todos os pais estão livres de problemas
escondidos em relação aos seus filhos. Se o/a progenitor/a é ávido de amor e
admiração, inconscientemente irá trabalhar para manter a projecção e
permanecer para sempre Vénus aos olhos da criança. Vénus não é conhecida,
no mito, pela sua generosidade; é uma deusa fútil, repetidamente envolvida em
triângulos amorosos. Se mantivermos a imagem venusiana projectada no
progenitor, podemos não reconhecê-la nunca em nós próprios. Assim,
continuaremos a procurar substitutos parentais a quem aplicar a tal imagem de
tudo o que é desejável e digno de valor na vida, e continuaremos a encontrar
objectos de amor venusianos que parecem valer bem mais do que nós. Ou
podemos tentar reclamar Vénus interpretando-a nós próprios, pondo um
amante contra o outro para nos convencermos de que afinal somos realmente
valiosos. Onde está Vénus, nós amamos.
A rivalidade é um dos atributos mais característicos de Vénus posicionada na
casa que representa o progenitor do mesmo sexo; podemos acabar por nos
sentir como Branca de Neve grande parte do tempo. Com Vénus na 10.a casa
no mapa astral de uma mulher, pode existir uma profunda e dolorosa rivalidade
entre mãe e filha. Na perspectiva da filha a mãe pode parecer muito ciumenta,
ainda que o ciúme não seja exprimido abertamente mas através de críticas
incessantes ou de uma subtil corrosão da confiança da filha na própria
feminilidade. Infelizmente, a mãe ciumenta ou competitiva é muitas vezes uma
realidade objectiva. Mas é a nossa Vénus que está na 10.a casa e, mais cedo
ou mais tarde, temos de reconhecer os nossos ciúmes também.

Se Vénus é um significador do progenitor do mesmo


sexo, os atributos venusianos são partilhados entre progenitor e filho. A deusa
do amor arquétipo, que tem de ser a mais bela e mais amada de todas, é uma
imagem transmitida através da linha familiar. Esta imagem tem de ser exprimida
individualmente, e não relegada para sempre a uma batalha finalizada a decidir
quem ganhará o objecto de amor. Neste caso o objecto de amor pode não ser
tão importante quanto derrotar o rival. A rivalidade e a inveja estão
estreitamente ligadas, e quando Vénus é um significador parental do nosso
sexo, podemos ver no progenitor qualidades encantadoras, invejáveis, e
desejar tê-las nós próprios. Então começamos a competir de maneira a provar
que nós também somos Vénus – uma Vénus maior e melhor e mais bonita.

Os progenitores também podem sentir-se ameaçados sexualmente quando têm


de enfrentar uma criança que vêem estar a atingir a maturidade sexual. Esta
sensação de ameaça pode ser baseada numa consciência sexual intensificada.
Quando Vénus é um significador parental, pode não ser sentida só da parte do
progenitor mas da parte de ambos, progenitor e filho/a. Reconhecer que
progenitor e filho possam partilhar sensações eróticas não constitui uma
desculpa para abusos sexuais sobre menores; nem implica uma relação
"anormal". Mas as crianças podem ser muito sedutoras, de maneira infantil.
Estão "a experimentar" a sexualidade delas. Não querem nem esperam uma
resposta sexual adulta, mas precisam de descobrir a sua própria identidade
física e emotiva e isto exprimindo-a ao progenitor. Estas coisas são
simplesmente parte da vida familiar. Não são patológicas; são humanas e
intrinsecamente saudáveis. A energia erótica que faz parte do processo de
desenvolvimento de qualquer pessoa na infância será libertada em família
porque é esse o lugar adequado para que a criança a liberte. É igualmente
natural e adequado que o progenitor responda positivamente – embora não
seja adequado utilizar esta energia de formas destrutivas. Algumas crianças
podem ter uma maior energia erótica que outras; isto pode depender de
factores como a posição de Vénus e Marte no mapa astral. Da mesma forma,
alguns progenitores podem ser mais susceptíveis do que outros e a sinastria
entre pais e filhos pode ajudar a iluminar os motivos para que assim seja. Uma
relação entre os pais relativamente estável é importante, assim como um
suficiente grau de consciencialização, para que os progenitores consigam
conter este processo natural sem cair num triângulo. Uma menina com Vénus
na 4.a casa pode muito bem tentar separar os pais, porque o pai é o ser amado
com quem ela partilha alguns sentimentos muito carinhosos e agradáveis. E se
o casamento dos pais é inseguro e a mãe começa a comportar-se de forma
hostil ou competitiva, é surpreendente o seu comportamento?

Lealdades divididas

Mesmo na família mais feliz e emocionalmente estável podemos sentir tanto um


amor profundo como uma intensa rivalidade em relação a um dos progenitores.
Podemos encontrar, por exemplo, Vénus na 4.a casa e a Lua na 10.a; é o caso
do mapa astral do Príncipe Carlos, que nos ofereceu um dos mais famosos

triângulos dos tempos modernos. Com uma tal


configuração pode existir uma forte identificação com o rival. A criança pode
acabar na posição do Traidor, assim como do Instrumento de Traição. O que a
leva a sentir-se mal consigo própria e, por isso, algo terá provavelmente de ser
reprimido; para um ego jovem é simplesmente impossível lidar com uma tal
ambivalência. Se exprimirmos Vénus na 4.a, com todas as suas implicações de
amor pelo pai, iremos magoar e trair a mãe. E se a Lua está na 10a, como
podemos fazer tal coisa a alguém com quem nos identificamos tanto? Assim,
podemos reprimir Vénus, e mais tarde na vida podemos acabar por entrar num
triângulo sem perceber qual o modelo infantil que o alimenta. Ou podemos
reprimir os sentimentos pela mãe. Podemos transformar-nos nuns
"estraga-famílias", como se dizia no tempo em que ainda existiam casamentos.
Um "estraga-famílias", a nível psicológico, é uma pessoa que se introduz numa
relação estável, não só motivada por um afecto e desejo genuínos pelo objecto
de amor, mas também por uma necessidade compulsiva de ocupar o papel do
rival com quem secretamente se identifica.

É muito difícil reconhecer um modelo do género em nós próprios. Se acabamos


por cair no papel de Instrumento de Traição, gostamos de pensar que nos
apaixonámos verdadeiramente por alguém e o facto que esse alguém tenha já
uma relação estável é tido como mero azar; achamos que essa pessoa
cometeu um erro e casou com a pessoa errada, ou casou-se obrigado/a porque
havia um filho pelo meio. Independentemente da explicação que damos a nós
próprios, podemos justificar o nosso papel como Instrumento de Traição através
da desvalorização da ligação já existente. Isto pode por vezes revelar-se como
profundamente ingénuo e conduz a grandes desilusões e sofrimento, quando
se vem a descobrir que o esposo/a "indesejado" significa muito mais para o
amado do que alguma vez soubemos reconhecer. Podemos também descobrir,
para nosso horror, que começamos a comportar-nos exactamente como o rival
desprezado, que inicialmente relegámos ao papel de "ele/ela só está com
ela/ele por causa dos filhos". Quando existem questões parentais não
resolvidas, a pulsão de separar um casal pode ser extremamente forte –
especialmente se o rival é também um amigo próximo, o que ajuda a recriar os
sentimentos do triângulo familiar original.

Podemos igualmente ver no progenitor coisas não muito encantadoras ou


amáveis. Por exemplo, um homem com Vénus na 10.a casa pode ter também
uma quadratura Lua-Plutão ou uma oposição Lua-Saturno, ou Vénus em
conjunção a Saturno ou Chiron. Tais combinações exprimem duas imagens de
mãe muito diferentes; uma amada e linda, a outra ameaçadora e dolorosa.
Estes dois atributos têm tendência a manifestar-se, mais tarde na vida, como
duas pessoas – o Traidor e o Instrumento de Traição. É a isto que Jung chamou
uma "anima dividida" ou, no seu equivalente feminino, um "animus dividido".
Jung tinha um grande interesse pelas dinâmicas psicológicas deste modelo
porque ele próprio tinha sofrido por causa dele. Apesar de as suas definições
serem, de certo modo, rígidas e de necessitarem de uma maior flexibilidade nas
interpretações, são úteis para nos ajudarem a entender porque é que
precisamos dos triângulos e porque é que os três lados são secretamente
cambiáveis entre si. É provável que as três pessoas sofram pelas mesmas
dinâmicas não resolvidas. A divisão interior parece ser particularmente forte e
levar a triângulos compulsivos quando opostos aparentemente inconciliáveis
aparecem no mesmo amado progenitor. Existem progenitores em que os
opostos não são terrivelmente opostos, mas também existem outros onde são
muito extremos. Tais progenitores são fascinantes e com frequência exercem
um grande carisma sexual porque são imperscrutáveis. O progenitor é lindo e
amado, mas também doloroso, cruel, insensível, devorador ou de qualquer
forma inaceitável. É muito difícil para a psique humana aceitar opostos
extremos numa pessoa só, portanto são precisas duas pessoas através das
quais viver esses sentimentos ambivalentes. Uma tornar-se-á Vénus e a outra
tornar-se-á Plutão, ou Saturno, ou Chiron, ou Marte, ou Urano.

As imagens parentais que comunicam extremos opostos podem contribuir para


uma propensão para triângulos na vida adulta. Envolvemo-nos com alguém e,
com o tempo, essa pessoa começa a assumir a imagem de um dos extremos
do progenitor. Depois de vivermos juntos alguns anos, começamos a dizer a
nós próprios e aos nossos amigos, "O meu parceiro é tão possessivo, preciso
mesmo de espaço para respirar", e aí está Vénus na 10a ou na 4a casa, em
quadrado com Plutão. Ou dizemos "O meu parceiro é tão restritivo e
convencional, tenho de me libertar para poder ser eu próprio/a", e aí está Vénus
na 10a com a Lua em oposição a Saturno. Sentimos que não estamos a
saborear aquele tipo de relação linda, erótica e divertida que esperávamos
encontrar; então damos a culpa ao parceiro, que faz o papel de Vénus. A
laceração é expressa exteriormente mas, de facto, reflecte duas qualidades
opostas que não conseguimos reconciliar na nossa relação com o progenitor.
Claro que estas divisões relacionadas com os pais, ao nível mais profundo,
estão relacionadas com as qualidades opostas que ainda não resolvemos em
nós mesmos. Todos os triângulos, incluindo aqueles com origem no background
familiar, relacionam-se, em última análise, com a nossa própria vida psíquica
não-vivida. Se fossemos capazes de reconciliar os opostos dentro de nós
próprios, poderíamos então conceder aos nossos pais que fossem
contraditórios eles também. Não há nada de estranho num progenitor com um
adorável, encantador, lado venusiano e, ao mesmo tempo, um saturnino lado
reservado ou um exigente lado plutoniano. Os seres humanos são
multifacetados e podem amar-nos e ferir-nos; mas as contradições dos nossos
pais podem parecer-nos intoleráveis se eles próprios não conseguem
enfrentá-las. Neste caso não nos darão nenhuma ajuda a aprender a integrar
as nossas contradições. E algumas destas, em termos astrológicos, são
simplesmente complexas demais para poderem ser enfrentadas na infância.
Com isto refiro-me a configurações que ligam Vénus ou a Lua a Saturno ou
Chiron – estas requerem uma sabedoria que só o tempo e a experiência podem
dar – ou aos planetas exteriores, que para uma criança, são praticamente
impossíveis de integrar a nível pessoal.

Famílias separadas – oposições entre 4a e 10a

É possível que dentro da família se desenvolvam triângulos através da


separação entre os pais. Muitas vezes isto é descrito no mapa natal através de
oposições entre a 4a e a 10a casa. Tais oposições não indicam inevitavelmente
que os pais se separaram mas, normalmente, existem conflitos e separação a
nível psicológico se não mesmo a nível físico. Vivemos a oposição entre os
nossos pais e sentimo-nos obrigados a optar por um dos lados. Induz-nos a tal
a nossa própria incapacidade de enfrentar uma situação do género e às vezes
um dos progenitores não consegue impedir-se a si mesmo de tentar usar a
lealdade da criança como arma contra o outro progenitor. A linha de fundo
nesta situação, como sempre, comporta uma contradição dentro do indivíduo,
vivida primeiro através dos progenitores, simbolizados pelos planetas opostos
no mapa natal e que no fim terá de ser enfrentada a nível interior pelo próprio
indivíduo. Mas a não-consciência por parte dos pais faz com que o processo
seja mais longo e difícil. Mesmo se não estamos sujeitos a pressões dos pais, é
improvável que possamos enfrentar lealdades divididas em tão tenra idade. E
em circunstâncias destas seriam necessários progenitores extremamente
sábios e conscientes para poderem estabelecer entre si um acordo de forma a
não fazer nenhum tipo de pressões emotivas sobre a criança. Normalmente, se
os pais se sentem tão infelizes que decidem separar-se, não conseguem uma
atitude que propicie a cooperação. As separações libertam em nós emoções
primordiais que podem implicar desejos de vingança, especialmente se a
separação foi causada por um triângulo.

Muitas vezes a criança acaba por sentir-se como uma bola de futebol num jogo
especialmente agressivo. Um dos progenitores – principalmente se ele ou ela é
o Traído – pode tentar apropriar-se da criança, declarada ou subtilmente, de
forma a magoar o Traidor. Alguns guiões parecem ser lidos por muita gente; por
exemplo, "O teu pai deixou-me porque era um sacana. Era incapaz de amar.
Ele não amava nenhum de nós, senão não se tinha ido embora com aquela

mulher". A mensagem para uma criança do sexo


masculino seria "Espero que tu não sejas igual a ele quando cresceres"; a
mensagem para uma criança do sexo feminino seria "Espero que não cases
com alguém como ele quando cresceres". Estas mensagens não têm de ser
faladas, podem ser comunicadas através de um comportamento de mártir
inconsolável. O Traído, quando os pais se separam, normalmente terá um
grande poder sobre a psique da criança por causa da pena que consegue
provocar-lhe. As crianças não estão preparadas para se distanciarem da
situação e olharem para a separação com objectividade; a culpa tem de ser de
alguém, ou delas próprias ou de um dos pais. E as crianças também não se
atrevem a rejeitar essas mensagens, porque as aterroriza a ideia de fazerem
zangar o progenitor que agora é o único que se ocupa delas. Na nossa
sociedade, quando os pais se separam, normalmente a mãe fica com a criança
– mesmo que esta não seja psicologicamente a melhor solução para a criança.
Existem muitos casos em que o pai poderia estar melhor equipado,
emocionalmente, para educar a criança, mas os tribunais raramente decidem
assim. A mãe tem de ser decididamente terrível para que lhe tirem a criança.
Se os progenitores não forem legalmente casados, os direitos do pai em termos
de acesso à criança podem ser inexistentes. É lícito interrogarmo-nos se um pai
merece realmente que os filhos lhe sejam tirados e virados contra ele só porque
traíu a mulher, mas os triângulos têm a capacidade de gerar consequências
emocionais muito desagradáveis, que se transmitem através das gerações e
alimentam outros triângulos.

As manifestações da cegueira humana são muitas e pais divorciados ou


separados – ou mesmo aqueles que continuam a viver juntos mas
emocionalmente distantes – geralmente pedirão à criança que escolha um ou
outro. O amor pelo outro progenitor tem de ser negado, reprimido, silenciado.
Isto é terrivelmente humano. Se uma pessoa nos fere, é-nos difícil suportar que
alguém que amamos mostre afecto pela pessoa que nos feriu. Se existem
oposições entre a 4a e a 10a casa no mapa da criança, então a laceração
interior da própria criança coincide com a separação dos pais. Ao longo dos
anos tenho visto muitos, muitos exemplos onde a pessoa teve de negar um
enorme amor por um dos progenitores em circunstâncias destas. A própria
pessoa pode acreditar nessa negação como sentimento real. Quando vemos
Vénus, Lua, Neptuno, Sol ou Júpiter numa casa parental, sabemos que ali
existe uma potente ligação com o progenitor, mesmo que a relação com ele
também tenha sido muito difícil. Se qualquer um destes planetas está na 4a
casa, descreve sentimentos fortemente positivos e até idealizados pelo pai.
Mas se houve uma ruptura e o pai se foi embora – ou, com oposições da 10a
casa, mesmo que não se tenha ido embora – pode demonstrar-se impossível
para a pessoa manter-se consciente de tais sentimentos. A ambivalência pode
ser demasiado dolorosa e, a sensação de deslealdade em relação à mãe,
grande demais para ser suportável. Talvez o pai se tenha ido embora por causa
de outra relação. Talvez ele volte a casar e tenha outros filhos. Então o
problema complica-se porque os ciúmes da criança aliam-se aos ciúmes da
mãe, o que faz com que seja praticamente impossível para a criança
reconhecer a sua ligação emocional com o pai. A relação é destruída e a
criança, que entretanto cresceu, diz "Oh, não vi muito o meu pai desde o
divórcio. Tenho muito pouco a ver com ele. Vejo-o ocasionalmente, não temos
uma grande relação". Todos os sentimentos positivos, amorosos, foram
empurrados para o inconsciente porque não podemos enfrentar lealdades
divididas; reprimimo-los porque temos de sobreviver psicologicamente e temos
de viver com a mãe.

Se existem planetas na 4a casa que sugerem amor e idealização e os pais se


separam, os sentimentos pelo pai que serão reprimidos podem fornecer
alimento para triângulos posteriores; e isto é aplicável a ambos os sexos. Não
será surpreendente que uma mulher com um background familiar deste tipo,
com este tipo de configuração no mapa astral, acabe por desempenhar o papel
de Instrumento de Traição e se ligue a um homem casado. Pode igualmente dar
consigo a fazer de Traída, casada com alguém que é igual ao pai dela. Ou pode
tornar-se no Traidor por defesa, porque está decidida a não acabar como a sua
mãe. Um homem com este background e este mapa pode inconscientemente
acabar por escolher uma mulher como a mãe e depois, para seu grande horror,
dar consigo no papel do pai. O triângulo pode ser inevitável porque quanto mais
inconscientes forem os sentimentos em relação ao progenitor amado que falta,
certamente mais eles emergirão numa relação adulta posterior.

Estes sentimentos inconscientes também podem cruzar os sexos, não se


limitando necessariamente a mulheres que procuram o pai ausente noutros
homens, ou a homens que dão consigo próprios na mesma situação do pai
deles. Um homem que perdeu o pai e tem Vénus ou Neptuno ou a Lua na 4a
casa, pode procurar as qualidades do pai em mulheres. Ou, se for
homossexual, pode procurá-las noutro homem. Temos de pensar nestas
dinâmicas, não com uma perspectiva de demarcações sexuais rígidas mas
como modos de tentar curar uma ferida. Além disso, reflectem os nossos
esforços de entrar em contacto, nas nossas relações adultas, com qualidades
arquétipo que avistámos primeiro no progenitor e que, afinal, temos de
encontrar em nós próprios. Por carregarmos connosco algo de não resolvido e
não curado podemos recriar fielmente o casamento dos nossos pais. Depois
podemos dar connosco no mesmo triângulo, em qualquer um dos três lados,
com um ou ambos os sexos. Estas dinâmicas inconscientes parecem muito
óbvias quando começamos a reflectir sobre elas; a dificuldade está em fazê-lo
quando nos encontramos no meio de um triângulo. É muito fácil, se somos o
astrólogo ou psicoterapeuta imparcial – se é que pode existir total
imparcialidade – ou mesmo o amigo com alguns conhecimentos de psicologia.
Podemos ver claramente as raízes familiares de muitos triângulos adultos se
somos observadores, mas é extremamente difícil vê-los quando estamos
envolvidos neles. E quanto menos consciência tivermos das nossas dinâmicas
familiares, mais este triângulo será emocionalmente compulsivo e mais difícil
será vê-lo claramente.

Mesmo que o vejamos, podemos continuar incapazes de resolvê-lo porque


temos de viver a situação até ao fim; não se cura nada só com exercícios
racionais. Mas as emoções que o triângulo traz à superfície podem mudar e o
resultado final pode variar muito interiormente, se não mesmo exteriormente. O
aspecto triste dos triângulos é que toda a gente perde; mais cedo ou mais
tarde, a um nível ou outro, as três pessoas acabam por ser feridas. Mesmo que
o Instrumento de Traição acabe por conseguir quebrar uma relação existente e
"ganhar" o objecto de amor por quem lutou, é uma vitória de Pirro - no fim, o
Traidor tem sempre de escolher, por isso, mesmo que ganhe algo há sempre
outra coisa que perde. É igualmente uma vitória de Pirro a do Traído que
consegue "recuperar" o parceiro errante. Exercitámos o nosso poder edipiano e
regressámos à derrota edipiana original, que sofremos na infância. Mas o que é
que ganhámos e com o que é que temos de viver depois? O ressentimento
parece ser inevitável, qualquer que seja a posição que ocupamos no triângulo.
Se somos o Instrumento de Traição, levamos alguém a fazer uma escolha
muito dolorosa e, muitas vezes, ao sofrimento emocional acrescem dificuldades
económicas que também trazem ressentimentos. Mas principalmente, se
continuarmos a não ter consciência de nós próprios e destas dinâmicas, não
fizemos nada para curar a divisão interior que está por trás do triângulo.
Obtivémos apenas uma solução exterior; nada mudou realmente.

Inseguranças que criam triângulos – Saturno e Chiron

Existe outra consequência dos triângulos familiares: a potencial alienação entre


nós e as outras pessoas do nosso sexo. Uma batalha edipiana não resolvida
pode resultar numa falta de confiança na própria sexualidade. Se houve uma
situação de intensa rivalidade e competição com o progenitor do mesmo sexo,
inevitavelmente terá efeitos, a nível das nossas amizades e do modo como,
mais tarde, interagimos com as pessoas do nosso sexo. Se uma mulher tem
uma mãe que é uma rival insuperável, nas mãos de quem sofreu uma dolorosa
e humilhante derrota infantil, a sua confiança na própria feminilidade pode ser
corroída. E porque não confia em si própria, não confiará nas outras mulheres.
Todas parecerão ter o poder de lhe "tirar" aqueles que ama. Esta desconfiança
no próprio sexo pode ser muito aguda. Uma mulher pode ter uma amizade
fantástica com outra mulher, depois conhece um homem maravilhoso,
envolvem-se um com o outro, e o que é ela faz quando chega a hora de
apresentá-lo à amiga? A corrente inconsciente de ansiedade e suspeita pode
tornar as coisas muito difíceis, e inconscientemente a mulher pode mesmo
preparar-se para uma traição. Pode inconscientemente escolher como amigas
aquelas que personificam o seu conflito não-resolvido com a mãe, por terem
elas também conflitos não-resolvidos com as próprias mães. O mesmo se
aplica aos homens; se um homem viveu uma situação de competição destrutiva
com o pai, a questão da rivalidade passar-lhe-á sempre pela cabeça, em
qualquer relação onde se envolva mais tarde, porque os outros homens
parecer-lhe-ão sempre rivais. Tem de estar sempre alerta. Não se trata de
possessividade no sentido comum do termo; as suas raízes são muito
diferentes.

Aspectos de Vénus com Saturno ou Chiron podem contribuir para esta


dinâmica, não porque são intrinsecamente edipianos mas porque reflectem
inseguranças enraízadas no triângulo familiar. Aspectos de Marte com Saturno
e Chiron podem também indicar profundas inseguranças sexuais que são
intensificadas pelos triângulos familiares e levam a sentimentos de derrota. Esta
série de aspectos pode induzir a uma repetição da derrota mais tarde, ou a uma
tentativa de curar a ferida provando a própria potência sexual através dos
triângulos. Não existe um padrão astrológico único que descreva uma
propensão para os triângulos mas, antes, muitas diferentes combinações que
podem descrever diversas imagens de progenitores e de respostas a estes, e
diversos modos de reagir à natural e inevitável fase edipiana da infância.
Vénus-Saturno e Vénus-Chiron não "fazem" uma pessoa cair em triângulos,
mas descrevem uma profunda e inata consciência dos limites humanos que, na
infância, quando não existe uma compreensão real do que isto pode oferecer
de positivo, pode levar a criança a sentir-se inadequada e perturbada. A perda
ou alienação de um progenitor amado será então atribuída a uma culpa própria
e, mais tarde na vida, sente-se que não se pode "segurar" um parceiro porque
haverá sempre um rival que no-lo há-de roubar.

As experiências edipianas explodem com frequência na meia-idade porque os


planetas numa posição-chave por essa altura (Saturno, Neptuno e Urano)
podem desencadear configurações que nos metem em contacto com questões
da infância. No grupo de trânsitos da meia-idade há muita vida não-vivida que
pede para se exprimir e triângulos familiares não-resolvidos que conseguiram
permanecer ocultos até então podem finalmente emergir por causa da vida
psíquica não-vivida que carregam consigo. Mas depende de quanto é forte o
conflito; pode emergir muito antes. Há pessoas que experimentam triângulos
desde os seus primeiros relacionamentos. Nem todos os triângulos têm raìzes
familiares e estas também podem envolver algo de mais profundo. Bem nos
podemos perguntar o que existirá de mais profundo do que as dinâmicas
edipianas mas, como terá dito uma vez Jung, até o pénis é um símbolo fálico.
Se existe um padrão familiar não-resolvido, como as questões venusianas de
que temos falado, há fortes probabilidades de que irrompa na nossa vida
exterior sob influência das circunstâncias propícias. Essa, para algumas
pessoas, pode ser a única forma de conseguir algum tipo de cura ou solução.
Mas por trás da questão parental está a questão do arquétipo: porque é que
procuramos o amor desse progenitor específico e o que é que esse progenitor
representa para a nossa alma? Isto está invariavelmente ligado com o que
precisa de ser desenvolvido em nós – o nosso próprio destino.
Na meia-idade, se há pedaços importantes de nós que permaneceram
subdesenvolvidos, estes emergirão com violência, especialmente com a
oposição de Urano à sua posição natal. E, muitas vezes, o primeiro lugar onde
encontramos esses pedaços bloqueados de nós próprios é noutra pessoa
qualquer. É o modo mais característico que tem a psique de bater à porta e
requerer integração. Esta necessidade de nos tornarmos em algo mais do que
já somos pode iniciar-se com uma atracção inesperada. Pedaços não-vividos
de nós próprios podem aparecer-nos num rival. Surpreendentemente, a nível
psicológico o rival pode ser mais importante para nós do que a pessoa pela
qual lutamos. Mas se não vivemos nenhum tipo de triângulo antes, o
aparecimento de um na meia-idade pode não implicar necessariamente um
problema familiar não-resolvido. E se implica, então o problema tem de ser visto
num contexto mais alargado.

Triângulos que implicam vida não-vivida

Vejamos agora o que estará realmente por trás das dinâmicas dos triângulos -
por trás dos modelos parentais e das defesas e jogos de poder e de todas as
outras razões aparentemente "causais" para que os triângulos entrem nas
nossas vidas. Creio que existe sempre um elemento de vida não-vivida em
todos os triângulos e, por vários motivos, às vezes parecemos ser incapazes de
o descobrir, a não ser através do stress emocional extremo

criado pelos triângulos. A traição é uma


experiência-tipo que constitui o nosso principal instrumento de maturação. Isto
não significa que temos de nos tornar todos em cínicos amargos; mas é
importante reconhecer de que modo as nossas fantasias sobre como a vida e o
amor deveriam ser nos impedem de crescer e de nos tornarmos plenamente
membros da família humana. A traição é o meio através do qual estas fantasias
são individualizadas e reconhecidas. Tentamos fechar-nos, a nós e a outras
pessoas, no nosso mundo-de-fantasia que é suposto compensar-nos pelos
sofrimentos da infância. Dado que todas as infâncias comportam sofrimento, as
suposições ingénuas que carregamos connosco são também arquétipos e
reflectem um mundo-criança alternativo, que se parece com o Paraíso na sua
inocência e estado de fusão com o progenitor divino. A serpente no Jardim do
Éden é, como tal, a imagem deste papel do arquétipo da Traição, que é
inerente ao estado de inocência e que mais cedo ou mais tarde se ergue para
destruir a nossa fusão.
Não existe uma fórmula para lidar com a dor da Traição. Mas uma perspectiva
arquetípica pode ajudar-nos a ver as coisas de outra maneira, embora a dor
não possa ser explicada ou afastada. Não há nenhum remédio para este tipo de
dor. Mas existe uma diferença entre a dor cega e a dor que é acompanhada
pela compreensão; a segunda tem um efeito transformador. Quando não se tem
consciência de nós próprios, os triângulos tendem a repetir-se nas nossas vidas
– personagens diferentes, o mesmo guião. Alguns triângulos são
verdadeiramente transformadores; destroem um velho modelo e a nova relação
é genuinamente muito mais feliz e gratificante, ou o triângulo serve o propósito
de libertar energia e potencialidades interiores, e seja que a velha relação seja
restabelecida ou que se acabe por ficar sem relação nenhuma, tudo mudou.
Mas nós ainda somos os mesmos, por quanto possamos mudar a nossa vida
exterior, e se existe uma questão interior não enfrentada, os mesmos padrões
começarão a emergir nas novas relações. A compatibilidade pode ser maior
com uma outra pessoa, mas temos sempre de lidar com a nossa própria
psique.

Um triângulo pode ser como um grande trígono num mapa astral: a energia
circula à sua volta, regressa a si mesma e não alimenta mais nada na vida da
pessoa. Dentro dos triângulos, as três pessoas têm tendência a projectar umas
nas outras elementos de si próprias. O triângulo mantém essas projecções no
lugar e pode existir uma enorme resistência a mudanças; poderíamos mesmo
dizer que o triângulo se forma porque existe resistência a mudanças e o que
quer que seja que procura uma expressão dentro de nós é experimentado
através de projecções. Quando este género de triângulo se quebra, as
projecções regressam a casa outra vez. É libertada energia psíquica, seja
através da morte ou da renúncia voluntária a alguém. O momento em que isto
acontece não é casual. Da parte de um, ou dois, ou mesmo dos três
componentes do triângulo, há questões inconscientes que chegaram finalmente
a um ponto em que podem ser integradas, mesmo que a única expressão disso
seja “deixar andar”. As projecções começam a tornar-se conscientes no
momento em que estamos prontos para o fazer. Não acredito que se chegue a
um verdadeiro perdão de nenhum outro modo. É uma espécie de dom; não
pode criar-se com um acto de vontade. É muito triste ouvir o Traído dizer
"Perdôo-te" não porque lhe vem do coração mas como forma de conseguir de
volta o parceiro errante. Por detrás desta frase, pode não existir perdão nenhum
(embora isto possa acontecer a nível não totalmente consciente), e assim a
punição continuará eternamente. O perdão só pode chegar com o
reconhecimento da própria cumplicidade com o triângulo, qualquer que seja o
nosso papel nele, e com o retirar das nossas projecções. Antes disso, o perdão
não é verdadeiramente possível. Parece emergir apenas a partir de algo que foi
genuinamente integrado dentro de nós. O processo inteiro é transformador. Não
podemos fabricar perdão se fomos traídos - nem fabricá-lo para nós próprios,
se somos o Traidor. A única coisa que podemos fazer é trabalhar para integrar
aquilo que pertence à nossa própria alma.

O progenitor saturnino que nos rejeita e depois reaparece num triângulo


disfarçado de parceiro frio e que nos rejeita, pode estar ligado à nossa
necessidade de adquirir limites definidos. Se virmos esta experiência saturnina
fundamental de uma perspectiva mais distante, o que é, afinal, a rejeição senão
alguém que estabelece limites que para nós são insuportáveis? Pode ser a
nossa falta de limites definidos a atrair-nos para um triângulo onde somos o
Traído, rejeitado por um parceiro saturnino que diz "Não posso suportar esta
claustrofobia emocional; quero separar-me". Ou podemos ser o Traidor, em
fuga de um parceiro cujas necessidades emocionais nos parecem sufocantes
mas que secretamente reflecte a nossa incapacidade de lidar com a solidão. As
duras e dolorosas lições que aprendemos com este tipo de experiência são
lições sobre o que existe de subdesenvolvido dentro de nós. Podemos ter de
descobrir as nossas pulsões primordiais se Plutão está na nossa 10a ou 4a
casa. Mas inicialmente podemos não aceitá-las como coisa nossa, e dizer "A
minha mãe era terrivelmente manipuladora" ou " O meu pai era tão dominador,

controlava tudo e todos." Porque é que as pessoas


se tornam manipuladoras e dominadoras? Quando exprimimos qualidades
plutonianas numa relação, não o fazemos por divertimento, mas porque a
relação é equiparada com a sobrevivência, e temos uma necessidade
desesperante de garantir que a pessoa amada permaneça ao nosso lado.
Fazemos entrar em acção Plutão quando nos sentimos ameaçados. As
pessoas tornam-se manipuladoras porque se sentem aterrorizadas com a ideia
de perder o objecto do seu amor. O objecto de amor representa a própria
sobrevivência e a manipulação parece-lhes ser a única forma possível de
garantir a continuidade da relação. Todos nós somos capazes de o fazer, se
colocados num certo nível de envolvimento e de ameaça. Se não
reconhecermos como nossos esses atributos plutonianos e os mantivermos
projectados no progenitor, eles podem acabar por dar vida a um triângulo; então
teremos de reconhecer o quanto nós próprios podemos ser possessivos. Ou
podemos arranjar um parceiro profundamente possessivo. Podemos chegar ao
ponto de dizer "Ah, sim, escolhi alguém exactamente como a minha mãe/o meu
pai."

Este é um importante passo introspectivo, mas é só o início. Esta qualidade


possessiva do progenitor é descrita por Plutão na nossa 10a ou 4a casa.
Resta-nos sempre descobrir essa qualidade dentro de nós próprios. Muitas
vezes só descobrimos que temos um Plutão através de uma experiência de
traição; ele é só um vazio no mapa até que um triângulo o desenterra e, então,
inesperadamente, damos com o nosso Plutão pela primeira vez. Descobrimos
que sentimos apaixonadamente, que precisamos intensamente, que o
desespero nos pode tornar manipuladores e que o controlo pode às vezes
parecer a única forma de sobreviver. Este processo de auto-descoberta pode
ser uma experiência assustadora e humilhante, mas permite-nos tornarmo-nos
plenamente naquilo que somos.

A integração psíquica é a teleologia de todos os triângulos. Mesmo quando os


planetas exteriores estão envolvidos em triângulos parentais, a qualidade no
progenitor à qual somos tão ligados è, na realidade, algo que pertence à nossa
alma. Este "algo" pode implicar alargarmo-nos para além dos nossos limites
pessoais e deixarmos que um maior ou mais profundo nível de consciência
entre nas nossas vidas, mas está indubitavelmente ligado ao nosso caminho
individual na vida. Quando encontramos símbolos astrológicos com os quais
entramos em contacto, primeiro através dos pais e, mais tarde, através de um
triângulo onde repetimos essa mesma experiência, há algo em nós que tem de
ser expresso através da experiência empírica e pode continuar a manifestar-se
até encontrar um modo de o vivermos. Os planetas que representam
significadores parentais no mapa não descrevem apenas modelos de
progenitores; descrevem dimensões não-vividas de nós próprios,
principalmente quando não condizem com o resto do mapa. Mesmo que os
progenitores personifiquem o planeta de forma criativa, é sempre o nosso
planeta, e pertence ao nosso próprio destino. Um planeta na 4a ou na 10a
casa, ou em aspecto maior ao Sol ou à Lua, pode não ser evidentemente posto
em acção pelo progenitor, mas fará parte daquilo que experimentamos através
dele. Se o progenitor não viveu criativamente o padrão arquétipo simbolizado
pelo planeta, ser-nos-á mais difícil entender com que energia lidamos - e, como
tal, podemos não nos aperceber exactamente do que vivemos através do
triângulo que aparecerá mais tarde nas nossas vidas. Não é só um modelo
parental não resolvido, apesar de este poder ser um importante elemento a
desenvolver; é, em última análise, um nosso próprio planeta e, como tal, é algo
que pertence à nossa alma. Faz parte da nossa herança psicológica, mas
temos de lhe dar uma forma. Mesmo os triângulos declaradamente edipianos
estão ligados à nossa vida interior, porque aquilo que amamos ou odiamos no
progenitor é algo que nos pertence. Mas temos de encontrar um modo próprio
de o viver.

© Liz Greene, Apollon / Astrodienst AG

Disponivel como livro:


(em inglês)

Liz Greene:

Relationships and how to survive them.

Primeira Parte: O Mapa Composto, Segunda Parte: O Eterno Triângulo

CPA Press, London.

Uma abordagem psicológica para trânsitos e


progressões
por Liz Greene

Este artigo foi extraído de um seminário que aconteceu em 8


de junho de 1996, no Regents College em Londres, como
parte do curso do ultimo semestre letivo do Centre for
Psychological Astrology.

A natureza da predição

Como interpretar trânsitos e progressões dentro de uma perspectiva psicológica? Eu


gostaria de começar dizendo que, embora a natureza interna da nossa exploração
possa ser clara para qualquer estudante de astrologia que conheça a abordagem
psicológica, não estou de forma nenhuma negando o valor e a longa tradição do
trabalho preditivo na astrologia. Mas as duas noções não são mutuamente
excludentes."Psicológico" não significa somente "interno". Já tivemos demandas de
prognósticos precisos de um tipo especifico e concreto para fazer de conta que os
planetas não estão relacionados tanto com o mundo exterior e interior, ou que é
impossível predizer certos tipos de eventos em determinadas ocasiões.

Alguns anos atrás, eu dei um seminário para o Wrekin Trust, que foi transcrito, editado e
se transformou num livro chamado "The Outher Planets and Their Cycles". A propósito,
enquanto examinava a carta natal da União soviética, eu fiz uma previsão sobre o seu
futuro. Foi uma espécie de palpite, eu não tinha nessa época muito conhecimento sobre
as sutilezas da astrologia mundial. Minha previsão bastante ingênua era baseada no
fato que Plutão se aproximaria lentamente da conjunção do Sol natal da União Soviética
em sete anos. Eu havia observado que sempre que um transito poderoso atingia esse
Sol em Escorpião, a liderança soviética mudava. Em termos mundiais isto é uma
conclusão razoavelmente óbvia e simples, uma vez que o Sol reflete, entre outras
coisas, a liderança de uma nação. A razão pela qual eu esperava um colapso em vez
de outra típica luta pela liderança é porque a abrangência de Plutão é bastante mais
ampla do que a dos outros planetas exteriores. Ele tende e apagar tudo e nada resta da
sua forma ou estrutura originais.

Havia outros trânsitos – por exemplo, a conjunção de Urano-Netuno- Saturno no


primeiro decanato de Capricórnio – aproximando-se de Vênus da União Soviética na
quarta casa – que sugeriam que esse colapso iminente seria como um rompimento
matrimonial. Seria ser uma desintegração vinda mais de dentro do que de fora, e os
vários países satélites começariam a pedir o divórcio. Isso foi como eu entendi naquele
momento, e não havia em 1982 uma indicação dos fatos que estavam por acontecer.
Um novo líder surgiria; mas um colapso total era impensável. Portanto, nos sete anos
subseqüentes não pensei sobre isso. Então tudo se passou como havia previsto.
Existem muitas situações, tanto mundiais quanto pessoais em que os astrólogos podem
fazer prognósticos precisos.

Entretanto, focar somente o lado preditivo da astrologia é como o médico que se


concentra somente no sintoma físico, sem considerar o indivíduo como um todo e na
interação entre corpo e mente. Ao longo dos anos acreditei que uma boa parte do que
acreditamos estar predestinado, em termos de trânsitos e progressões, não é, em
absoluto, o destino – são os nossos complexos inconscientes atuando.Tanto como
indivíduos ou coletivamente, inconscientemente contribuímos para criar ou sermos
levados por situações que ativam questões internas – tanto porque nós estivemos
evitando-as no passado, ou porque elas estão simplesmente maduras e Kairós, o
momento certo, chegou. Seria uma tolice imaginar que todas as situações da vida são
uma criação individual, porque muitas não são.

Não se pode dizer que seis milhões de judeus tinham um transito particular ou aspectos
progredidos que os levariam aos campos de concentração. É loucura supor tal coisa
assim como a recusa da nossa cumplicidade inconsciente quando estes atos de
brutalidade acontecem num nível de massa. Existem movimentos coletivos e revoltas,
assim como existem desastres naturais tais como inundações e terremotos os quais
podem suplantar a escolha, complexos e a vontade individual. Também pode haver
outros fatores mais profundos e de ordem espiritual, sobre os quais eu não estou em
posição de comentar.

Muitas pessoas do círculo astrológico crêem em Karma. Eu não sou incrédula. Mas eu
sinto que tudo é mais complicado do que aquilo que um dia alguém chamou de "a teoria
do ding-dong" – alguém foi bom ou mau em sua vida passada e portanto será
recompensado ou punido na vida atual. Como moralidade é uma coisa profundamente
subjetiva e relativa, eu atribuo pouco valor a essas aproximações simplistas com o reino
do espírito. Mas deve haver algo que continua através e além de uma simples
encarnação mortal, ao qual a herança recebida acumula substancia de acordo com as
escolhas feitas em cada vida, e que atua como um imã para o tipo de experiência que
atraímos. Isto pode ser o fator acima e além dos esforços conscientes na vida de uma
pessoa. Pode haver fatores na herança familiar sobre os quais não se tem controle. Por
mais injustos que eles pareçam, nós somos herdeiros dos conflitos e complexos
familiares que se cristalizaram através de muitas gerações e estes freqüentemente
agem como um tipo de destino. Se esses conflitos permanecem sem solução por muito
tempo, nós podemos perder a mobilidade para escolher ou evitar certos eventos, e sem
dúvida, qualquer indivíduo possui maior liberdade de escolha se não há um peso
acumulado desta herança psicológica.

Assim, há muitos outros fatores além da consciência individual que determinam como

trânsitos e progressões serão expressos. No entanto, uma


boa parte daquilo que nós supomos ser previsível pode não o ser totalmente, uma vez
que a consciência individual começou a expandir os níveis do que nós experimentamos
como realidade. Por essa razão eu acredito que necessitamos tentar viver como se
tivéssemos a liberdade de trabalhar com nossos trânsitos e progressões num nível
psicológico. Nós podemos assim ter espaço para modificar eventos futuros, ou lidar
mais criativamente com qualquer coisa que seja a nossa própria criação de acordo com
a atuação dos complexos inconscientes. E quanto às coisas sobre as quais não temos
realmente nenhuma escolha, nós as identificaremos cedo o bastante e
esperançosamente aprender a aceitá-las e viver com as nossas necessidades com o
espírito mais tranqüilo.

Um dos principais objetivos em explorar este tema é sugerir que nós podemos ter mais
liberdade do que pensamos, em níveis que não estaríamos inicialmente conscientes. Se
aprendermos a trabalhar com os movimentos planetários com mais intuição e com uma
abordagem menos literal do tipo "Urano se aproxima de tal ponto e tal e tal acontecerá"
, nós poderíamos descobrir o que Pico della Mirandola quis dizer quando afirmou que os
seres humanos são co-criadores com Deus. Tomando literalmente, esse conceito não
faz justiça a nós astrólogos. Isto também pode ser totalmente destrutivo, porque há
claro, algo como uma profecia auto cumprida. Em função de nossas percepções serem
invariavelmente distorcidas por nossos complexos individuais, nós estamos inclinados a
interpretar os trânsitos e progressões não de acordo com o que eles podem significar,
mas de acordo com o que os nossos complexos dizem que vão fazer conosco. Até o
astrólogo mais "tradicional" e ortodoxo não é capaz de ser objetivo quando é para
prever eventos. Podemos até não estar certos sobre o que um "evento" realmente é,
uma vez que muito depende de como e quando uma pessoa percebe o que aconteceu.
Nossas suposições sobre o futuro são fortemente coloridas por nossa própria psique
tanto quanto nossas suposições o são sobre o presente.
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A abordagem psicológica para trânsitos e progressões é mais desafiadora que a
abordagem literal, pois envolve assumir responsabilidade por aquilo que está
simbolizado pelas configurações da carta natal. Isto também requer aprender a
trabalhar com técnicas preditivas tradicionais em mais de um nível. Não significa que
não há valor em tentar compreender como um movimento planetário afeta o plano
material. É tolice ignorar esta dimensão da vida assim como é ignorar a psique. Se
alguém tem o Sol progredido fazendo quadratura a Netuno na segunda casa, enquanto
Saturno em transito faz conjunção à Netuno natal, não é uma boa idéia fazer uma
parceria de negócios com alguém cujas credenciais sejam pouco conhecidas. A
aplicação concreta dos princípios astrológicos pode ser de grande valor para nós. Mas
sem o respaldo do entendimento psicológico precedendo a interpretação literal, eu acho
que podemos muitas vezes, criar o nosso próprio destino, manifestar nossas próprias
previsões, e gerar um sofrimento considerável, quando nada disso seria necessário.

Níveis de expressão

1. Significado ou teleologia

Gostaria agora de examinar os diferentes níveis nos quais os trânsitos e progressões


podem se expressar. Existem três níveis nos quais is movimentos planetários parecem
operar. Alguns de vocês podem pensar que são mais de três. Mas como uma visão
geral, eu constatei que esta divisão é muito útil. O primeiro nível é aquele que
provavelmente interessa ao astrólogo inclinado à espiritualidade – o sentido profundo de
um transito ou aspecto progredido particular. Por "sentido", estou me referindo à sua
teleologia – seu propósito final em termos da evolução da personalidade, da alma ou de
ambos. Alguns de nós que tem uma inclinação religiosa ou espiritual podemos supor
que o cosmos tem um tipo de propósito e que há um sentido para as experiências que
vão ocorrer na vida um indivíduo. Portanto, os eventos têm um desígnio oculto, uma
função educativa, e se nós podemos crescer em função do que acontece conosco,
estamos cumprindo algum projeto espiritual ou evolucionário maior.
Ainda que este projeto realmente exista, este é um tema controverso. Entretanto, ainda
que possamos estar certos deste objetivo da existência como um padrão mais profundo
– que é outro modo de dizer que Deus ou deuses existem – nenhum de nós está na
posição de provar isto. De fato, nós podemos projetar uma idéia altamente pessoal de
sentido para um universo totalmente arbitrário e desconexo. Mas mesmo se este fosse
o caso, em que a experiência da vida de muitas pessoas contém esse sentido ou
propósitos inatos, esta convicção, sendo ou não uma projeção, pode ser
auto-sustentada. Esta idéia é criativa psicológica e espiritualmente, mesmo que não
seja uma "verdade" no sentido científico do termo.

Quando nós observamos trânsitos e progressões nesta perspectiva perguntamos a nós


mesmos, " O que eu posso aprender com essa conjunção de Saturno sobre o meu Sol?
O que é a progressão de Vênus fazendo uma quadratura sobre o Plutão natal quer me
ensinar? O que eu posso descobrir enquanto Urano transita sobre a minha Lua? Qual é
o potencial positivo deste Marte progredido fazendo sextil ao Kiron? "Essa abordagem é
uma dimensão extremamente importante de um transito ou aspecto progredido. Embora
eu tenha usado o termo "espiritual" isto é tão psicológico como uma exploração dos
complexos parentais, porque estamos considerando os movimentos planetários em
termos de evolução da psique. Nós poderíamos observar este ponto de vista como
pertencendo à psicologia transpessoal ou arquetípica, em vez de uma psicologia
redutiva. No entanto é uma visão psicológica. Sem esta perspectiva nós estaríamos
tratando a astrologia e nós mesmos de forma meramente mecânica.

Alguns astrólogos se concentram somente neste nível e consideram os outros níveis

muito negativos ou materialistas. Eles vão examinar um


transito de Plutão sobre Kiron natal ou a Vênus progredida quadrando Saturno e eles
falarão primeiramente sobre o que eles oferecem em termos de crescimento. Digamos
que Saturno em transito vai fazer uma oposição com o Sol natal na quinta casa de
alguém. Se nós olhamos esse transito numa perspectiva teleológica, nós podemos falar
sobre o desenvolvimento do senso de identidade do indivíduo. Graças a esse transito,
alguém poderia obter um senso de identidade mais forte, um sentido de propósito mais
claro, e a realização de seus talentos criativos. Os desafios do mundo material podem
doer, mas podem finalmente resultar em um compromisso mais profundo com uma
particular direção vocacional. Quaisquer eventos que aconteçam, embora difíceis, são
significativos para alguém se tornar mais consciente de si mesmo.

A abordagem teleológica em si mesma é geralmente suficiente com bons trânsitos e


progressões, como Júpiter em trígono com a Lua, ou o Sol progredido fazendo sextil a
Urano. Quando nós experimentamos movimentos planetários harmoniosos, tendemos a
nos sentir "conectados" a um sentido de propósito cósmico e bondade, e essas
interpretações correspondem a como nos sentimos neste momento. O sentido e a
resposta emocional para a época do transito ou progressão parecem estar de acordo.
Quando aparecem movimentos planetários menos atrativos pode-se interpretá-los em
termos de seu potencial. Geralmente essa abordagem pode ser maravilhosamente
curadora em meio ao caos, stress e dor.

Podemos ver um verdadeiro pesadelo planetário se aproximar, e vamos perguntar a nós


mesmos qual o potencial de crescimento que poderia estar escondido sob todo o stress.
É muito importante ter isto em mente e ser capaz de comunicá-lo. Mas também
precisamos nos lembrar que, embora por mais profundo e positivo seja o sentido, o
indivíduo que está experimentando esses trânsitos e progressões pode não estar em
condições de ouvir suas possibilidades evolutivas. Para algumas pessoas,
particularmente aqueles que estão acostumadas a ver a realidade de uma perspectiva
meramente material ou extrovertida, o sentido mais profundo e o potencial de trânsitos e
progressões difíceis pode não estar acessível por um bom tempo. Enquanto elas estão
passando pelo transito, podem estar conscientes e aptos para ouvir, nada, a não ser
conflito e dor.

2. Material emocional

Trânsitos e aspectos progredidos também envolvem um nível de expressão emocional.


Isto é também psicológico, mas é mais relacionado com as respostas individuais,
ambos no nível do sentimento e nos termos dos complexos inconscientes que estão
sendo ativados. Tanto o passado quanto o presente estão usualmente envolvidos.
Nossas respostas emocionais na época do transito ou aspecto progredido são muito
complicados e muito depende do quanto de auto conhecimento nós já adquirimos, o
quão forte é o ego, que tipo de controle nós exercemos sobre os sentimentos quando
eles estão ativados e quanto nós sabemos sobre os nossos complexos parentais.

As experiências do passado são quase invariavelmente ativadas por algum transito ou


progressão, especialmente se um transito similar ou progressão aconteceu no passado
e nós precisamos considerar que tipo de memórias e associações nós acumulamos sob
sucessivos movimentos planetários sobre um ponto natal particular.Também uma
experiência pode ser muito positiva e produtiva em significado, e por sua própria
natureza pode exigir sofrimento como parte do processo.Todos esses fatores se situam
no nível emocional e por causa disso, a resposta emocional ao transito pode ser
imensamente diferente de sua teleologia.

Pode parecer que não há nenhuma relação entre o significado de um transito ou


aspecto progredido e a maneira como alguém se sente se comporta nesse período. O
astrólogo, sem falar do cliente, pode ficar bastante confuso com isso. Eu tenho visto
trânsitos maravilhosos de Júpiter chegando que parecem ser qualquer coisa menos
maravilhosos nesse período. Nós tendemos a nos sentar e cheios de esperança ficar
pensando: "Que esplendido, algo fantástico estará chegando para mim quando Júpiter
fizer conjunção ao meu Sol". Algo maravilhoso pode realmente acontecer dentro da
perspectiva teleológica, mas o que acontece na vida real pode ser um pesadelo no
plano emocional.

Por exemplo, uma pessoa que tem muito elemento terra, muitos planetas em Touro, e
um Saturno forte, com uma forte necessidade de estrutura e estabilidade, que tem sido
casada por 23 anos e tem três crianças, dois carros, um emprego seguro e grande casa
hipotecada, e quando Vênus progredido chega no Júpiter natal na quinta casa, o
resultado disto pode ser qualquer coisa menos maravilhoso no nível emocional e
material. Nós astrólogos sabemos que a abertura do coração que essa progressão pode
refletir pode ser justamente o que a pessoa precisa. Mas, no entanto, o que ele vai dizer
à sua esposa? E ele pode pagar as custas do processo?

Muito depende de como o indivíduo está vivendo a sua vida e se ele está em contato
com as diferentes configurações de sua carta natal. É improvável que alguns de nós
possa alegar estar totalmente em contato com tudo o que está dentro de nós, portanto é
uma questão de grau de inconsciência. Se uma pessoa se casou cedo por razões
sociais ou de segurança, e se os talentos potenciais da quinta casa têm sido cruelmente
reprimidos, este aspecto progredido pode liberar um grande conflito e sofrimento. A
pessoa pode ficar apaixonada por alguém que não é sua ou seu cônjuge, e então terá
que encarar as conseqüências. Às vezes é o cônjuge que ativa o Júpiter renegado. Não
é incomum ver este tipo de experiência aparentemente delegada nas cartas dos
clientes, ou em nossas próprias cartas. Alguém se senta e espera a Princesa ou
Príncipe Encantado chegar e ao contrário, quando Urano em transito atinge a Vênus, é
o parceiro que dá no pé. Porque somos tão relutantes para entender quão
poderosamente a psique inconsciente afeta a maneira pela qual o transito ou a

progressão se expressam?

Às vezes pode haver uma experiência de grande depressão com um transito


aparentemente feliz. Eu tenho visto isto freqüentemente quando estão envolvidos os
chamados planetas Benéficos. Júpiter chega no Sol natal de alguém, ou o Sol
progredido faz conjunção à Vênus e o astrólogo presume que se iniciou uma fase de
felicidade e plenitude. Em vez disso, a pessoa mergulha num buraco negro. Conflitos
podem ser ativados por uma experiência feliz, refletindo profundos e enraizados
sentimentos de culpa relacionados aos pais. Ou pode ser que Júpiter nos faça ficar
cientes de potenciais não vividos que podem exacerbar sentimentos de fracasso. Se
nós estamos cristalizados numa postura rígida na qual temos cortado todas as pontes
para possibilidades futuras, nós podemos perguntar a nós mesmos: "Qual o sentido da
vida?" Júpiter pode estar conectado com depressão profunda porque o espaço entre
nossos potenciais e a nossa situação presente pode ser revelado como uma verdade
dolorosa num momento sombrio, e esse espaço pode nos deixar envergonhados por
termos desperdiçado nossas vidas.

Assim, a resposta emocional a um transito ou aspecto progredido pode ser muito


diferente em seu significado. Nós precisamos ser capazes de nos comunicarmos com o
cliente que está num estado emocional doloroso, que guarda pouca semelhança com
aquilo que entendemos como a teleologia do transito ou progressão. Podemos estar tão
seguros do significado de um movimento planetário particular, que esquecemos que a
pessoa pode não sentir desta forma absolutamente. Ele ou ela podem estar muito
assustados com o que está acontecendo, ainda que no nível teleológico esteja sendo
transformador. Nós podemos saber que o resultado final será positivo, mas o cliente
pode não sentir assim. E se nós não podemos nos relacionar com a situação emocional
do cliente, e explorar algum tema psicológico pessoal que venha a ajudá-lo a achar um
caminho através de um significado mais profundo, então todas as nossas
esclarecedoras interpretações acabarão soando de forma confusa e sem sentido.

Um nível sem o outro é incompleto. É muito importante entender como as pessoas se


sentem sob trânsitos difíceis. Muitos trânsitos são muito dolorosos e é estúpido e de
pouco alcance supor que eles não sejam, ou que alguém deveria sentir-se otimista. Se
alguém com a Vênus progredida em quadratura com Kiron natal está sentada e dizendo
"eu sou miserável", não deveríamos responder dizendo: " Bobagem, você deveria
sentir-se positivo e entusiasmado porque esse é um tempo de cura". Nós podemos
certamente falar sobre cura, mas também precisamos empatizar com o sentido de
isolamento, inferioridade e o tratamento injusto que a pessoa provavelmente está
experimentando, e então nós poderemos fazer comentários inteligentes sobre porque
ele ou ela estarem se sentindo daquela maneira. Nós talvez precisássemos falar sobre
o passado, especialmente nos períodos em que Kiron foi ativado por trânsitos
importantes ou aspectos progredidos. As emoções que acompanham profundas
mudanças internas muitas vezes são extremamente desconfortáveis.

De algum modo este é o mais complexo dos três níveis de expressão, porque nós
somos confrontados com o mistério da consciência individual. A realidade emocional é a
cola que existe entre o nível do significado e o nível da manifestação. E é também a
área na qual nós temos alguma oportunidade de exercitar a liberdade da escolha
individual. Com o tempo a questão psicológica está tão solidificada que deve ser
expressa de forma concreta, nós podemos somente planejar o futuro, mas não
podemos desfazer o que foi tricotado na realidade do presente. Este é realmente
terreno que foi denominado por Jung e Hillman como alma, e que é a mediadora entre o
espírito e a matéria.

Uma pessoa que tenha Saturno em transito fazendo oposição ao sol natal, que tem em
termos de teleologia uma oportunidade soberba de aumentar o senso de identidade
pessoal, pode estar profundamente deprimida e insegura. Ele ou ela podem sentir-se
fracassados e todas as conquistas do passado podem parecer sem valor. Temas
parentais podem vir para a superfície, particularmente aqueles relacionados com o pai e
o complexo paterno. Os desafios deste transito podem não ser percebidos como
desafios, mas como vitimização. Questões sobre as bases da identidade pessoal
podem ter que ser suscitadas e algumas atitudes e suposições sobre a vida precisam
ser esclarecidas antes que uma visão do mundo mais saudável possa crescer sem seu
lugar. A relação com o masculino – dentro de si mesmo e o homem na vida de alguém –
podem ter que sofrer uma completa reavaliação. Há muitas coisas que as pessoas
podem sentir sob o transito de Saturno em oposição ao Sol que não são prazerosas, e
quando as pessoas se sentem mal, elas querem saber se o astrólogo pode reconhecer
a sua infelicidade e ajudá-los a entender seus fundamentos. O astrólogo com uma
inclinação mais espiritual poderia precisar de experiência em psicoterapia para trabalhar
neste nível.

3. Materialização

O terceiro nível dos trânsitos e progressões é o nível da materialização. É nesta esfera


que muitas abordagens astrológicas antigas, mas não todas, concentram o seu foco.
Trabalhando neste nível, o astrólogo primeiramente se preocupa com o que vai
acontecer no mundo material sob um determinado transito ou aspecto progredido. Esta
abordagem parece ser simples, mas é realmente bastante complexa. Há muitas
questões internas e externas que podem dizer se o movimento planetário vai se
materializar no nível concreto, e de que maneira. Outro fator importante são os
complexos individuais, os quais têm a tendência de materializar se eles são muito
carregados e dissociados da consciência do ego. Se existe algo como karma, isto
também pode ser um fator; e a herança familiar, genética e psicológica também são
relevantes. E não deveríamos negligenciar a importância do ambiente, especialmente a
predominância das atitudes sociais e visões de mundo, porque o individuo está sempre
circunscrito, em maior ou menor medida pelo coletivo do qual ele faz parte.

Pode haver também um destino em cada existência – algo que a alma ou o Self pode
desejar cumprir no decorrer de uma vida particular. No pensamento da filosofia grega
haviam dois tipos de destino afetando o individuo, as erínias e o daimon. O primeiro
poderia ser grosseiramente equiparado à herança ancestral, e o último com o destino
ou propósito da alma. E pode haver também um destino coletivo – nações e povos
inteiros podem ter um destino especifico em termos de evolução humana, e uma
herança ancestral especifica. Como indivíduos, nós às vezes somos pegos em
movimentos que são muito maiores que nós, porque somos parte de uma humanidade
maior, que por sua vez está sintonizada com os ciclos planetários. Portanto, nós
compartilhamos as vicissitudes desta humanidade maior, e temos que dar conta da
bagagem psicológica que herdamos da nossa origem racial, religiosa, social e nacional.

Há questões filosóficas sobre as quais cada um de vocês tem suas próprias crenças e
convicções individuais, Eu estou mencionando-as porque elas podem ser fatores na
materialização dos trânsitos e progressões. De todas as áreas que eu tenho
mencionado, a única na qual podemos ser realmente eficazes como indivíduos é a
esfera dos nossos complexos inconscientes. Nossa habilidade para reconhecer, conter,
trabalhar com eles e transformá-los poderia realmente afetar o coletivo do qual fazemos
parte. Isto pode até afetar o nosso "karma". Antes da previsão de algum evento está
sempre o individuo ou o grupo deles. No final somos forçados a voltar para nossos
próprios jardins para contemplar o que está crescendo lá, se desejamos entender
porque e que tipo de eventos são prováveis de nos acontecer.

Quando ocorre um evento?

Há uma outra questão importante sobre a materialização dos trânsitos, progressões e


previsão de eventos. Ao considerarmos o momento em que algo vai acontecer,
entramos numa área de tensão do que constitui em evento, e estamos num terreno
muito misterioso. Eu darei um exemplo do quão complicado isto pode ser.

Recentemente eu tive uma segunda sessão com uma cliente que veio me ver a primeira
vez há anos atrás. Eu não tinha ouvido nada sobre ela desde então. Eu notei que Plutão
em transito estava agora se aproximando de Kiron na sua quarta casa a 5º de Sagitário.
Isto revelou que, alguns anos antes, seu pai havia morrido. Minha cliente contou-me
que quando ele morreu, não fez nenhum sentido para ela. Era aparentemente um
não-evento. Ela não tinha tido um relacionamento íntimo com ele. Ela acreditava que
pouco sentia por ele e portanto, quando ele morreu, era como se nada houvesse
acontecido, pois ele não tinha sido presente.

Isto foi como ela colocou as coisas. Nós havíamos discutido a relação com seu pai
durante a nossa primeira sessão, e suas percepções não haviam mudado desde então.
Eu não estou inclinada a ver o lugar de Kiron como uma área da vida onde o individuo
não sente nada. Mas minha cliente estava convencida que era este o caso, e foi aí que
terminou a discussão sobre seu pai.

A razão pela qual ela veio me ver numa segunda sessão foi que ela estava muito
aborrecida com seu cunhado, que estava doente. Ele havia desenvolvido pequenos
tumores malignos, e embora os médicos tivessem operado e removido-os, novos
tumores estavam crescendo, e ela tinha medo de que ele pudesse morrer. O que ela
não podia entender era que, embora ela não fosse próxima de seu cunhado, a idéia da
sua morte encheu-a de um terror cego. Contemplar a morte de qualquer outro, inclusive
seu marido ( ela havia se casado quando a vi pela ultima vez), não evocava nela uma
resposta tão drástica.

Por alguma razão o papel que esse cunhado exerceu em sua vida foi maior do que ela
havia pensado. Ela o via raramente. Eles tiveram um relacionamento amigável, mas ela
não era muito próxima à irmã casada com ele, e tampouco tinha tido fantasias eróticas
com ele. Ela não podia entender porquê estava agora neste estado de extrema
ansiedade com a mera idéia que este homem poderia deixar a sua vida. Ela chamou
seu estado de "obsessão irracional", o que realmente era. Nós poderíamos observar
que junto ao transito de Plutão conjunção ao Kiron, Netuno em transito estava passando
e repassando sobre o seu Sol natal.
Gradualmente ficou mais evidente que o evento real que sustentava a sua ansiedade foi
a morte de seu pai. Isto poderia soar estranho pois ele já havia morrido, mas no nível
interno ele não havia morrido em absoluto. Não houve sofrimento, nem separação
emocional, e nenhum sentido de perda no momento da morte real. No entanto, a
presença de Kiron na quarta casa combinada com um trígono de Sol e Júpiter, sugeriu a
mim que existiam sentimentos muito ambivalentes relativos ao seu pai, extremamente
positivos tanto quanto dolorosos, os quais haviam sido totalmente reprimidos. Esta
senhora tinha o hábito de reprimir todos os sentimentos. Embora fosse muito inteligente,
tinha um curioso vazio, como se tivesse a cabeça oca.

A morte real pareceu estar coincidindo com o transito de Plutão se aproximando de


Kiron natal, quatro ou cinco anos depois da morte física de seu pai. O cunhado da
minha cliente preencheu o papel de pai para ela. Seu Saturno no 22º de Câncer estava
em oposição exata ao Sol natal dela no 22º de Capricórnio. Ele evidentemente sentiu-se
profundamente responsável por ela, embora a visse pouco e ela respondia as suas
qualidades saturninas como uma filha deveria. Ela podia confiar nele; ele a fazia
sentir-se segura. Ele estava sempre na retaguarda. Ele era extremamente estável. Ela
sabia que se tivesse algum problema, poderia contar com ele, financeiramente ou
emocionalmente. Ela nunca exercitou essa opção, mas sabia que ele estaria lá se ela
precisasse dele. Ela projetou nele sentimentos inconscientes de natureza infantil que
eram associados ao pai verdadeiro, com o qual ela claramente tinha tido uma relação
dolorosa e complicada e que havia negado durante a sua vida adulta.

Se nós tentássemos prever os eventos sugeridos pelo transito de Plutão sobre Kiron na
quarta casa poderíamos dizer: " Ela vai mudar de casa ou emigrar. Ou talvez ela vá se
divorciar". Ou se fossemos um pouco mais atrevidos, poderíamos dizer "aqui está a
morte de um dos seus pais, e isto pode despertar sentimentos muito dolorosos e
confusos". A morte de seu pai é certamente uma possível expressão deste transito,
especialmente se levarmos em conta a conjunção de Netuno em transito sobre o seu
Sol natal. Mas como o pai pode morrer se ele já morreu?

Para minha cliente, o evento da morte do pai está acontecendo agora. Esta é a sua
realidade, embora possa não ser a sua ou a minha. Essa morte e os sentimentos
dolorosos que a acompanham não têm nada a ver com o pai de carne e osso colocado
dentro de seu caixão. Agora, pela primeira vez, minha cliente está encarando o medo, o
pânico e a dor que ela negou quando seu pai real se foi. Ela concentrou seus
sentimentos num homem que não era realmente a pessoa pela qual ela tinha
sentimentos. Seu cunhado é um substituto, um gancho para o seu complexo paterno
inconsciente. Saber se o cunhado vai morrer não está claro pelo transito. Em certo
sentido isto sequer é relevante. É a possibilidade de sua morte que evocou uma reação
tão poderosa. Nós poderíamos dizer que a sua morte está sincronizada com a
maturidade do complexo paterno que agora está pronto para se tornar consciente.

Este tipo de deslocamento de eventos internos e externos perturba nossas noções


daquilo que definimos como realidade. Um acontecimento no sentido que ele reflete um
transito ou aspecto progredido, pode não ser exatamente aquilo que pensamos que é,
porque o tempo em que coisas concretas acontecem a uma pessoa, pode não ser o
verdadeiro reflexo de quando elas acontecem internamente. Nosso reconhecimento
emocional do envolvimento com os acontecimentos em nossa vida são aquilo que
fazem o evento ser real. Lembramos do impacto que nos causou, e o impacto pode não
acontecer no período do evento físico. Este breve exemplo que dei não é incomum. O
tempo em que as coisas ocorrem não é sempre o mesmo quando elas ocorrem
fisicamente. É por isso que os eventos materiais podem acontecer com uma
inexplicável falta de trânsitos e progressões relevantes, mesmo que estejamos
esperando que algo importante aconteça na carta.

Como outro exemplo, vamos considerar o fim de um relacionamento. Quando ele


acontece? Quando duas pessoas se separam? Esse não é obviamente o caso, nem
mesmo quando a morte é a causa da separação. Para muitas pessoas a relação ainda
está viva e cheia de força anos depois de separação física, e um parceiro pode estar
bravo e muito infeliz, incapaz de se recuperar da perda, mesmo que o parceiro tenha
partido há muito tempo. Isto é particularmente trágico e comovente quando um pai
perde seu filho e não pode processar a perda. O quarto da criança pode ser preservado
como um museu, nada pode ser trocado ou sair do lugar, e a sua volta é esperada a
qualquer momento. Isto também pode acontecer com casais divorciados. A fotografia do
ex-parceiro nunca é tirada do aparador, e não é permitido a um novo amor sentar-se na
poltrona favorita do velho amor.

É comum as pessoas serem pouco conscientes disso, e ficarem chocadas com suas
reações violentas quando alguns anos mais tarde, a ex-mulher ou o ex-marido
casam-se novamente. O inferno todo desaba, embora o parceiro desaparecido tivesse
sido colocado no gelo num compartimento secreto da alma. Embora ele ou ela tenham
ido fisicamente, a amada presença ainda está internamente ali, e quando o ex-parceiro
assume um compromisso, toda a dor e medo são experimentados como se a separação
tivesse acabado de acontecer. De fato, ela acabou de acontecer, embora no plano
concreto isso aconteceu há anos atrás. Isto pode acontecer quando vemos Vênus
progredida conjunção à Plutão, ou Saturno transitando sobre Vênus, ou Urano em
transito fazendo oposição à Lua na sétima casa.

Quando as relações acabam, o fim pode ser só para um daquele casal. Às vezes os
relacionamentos também terminam antes de seu fim real. O casal continua vivendo
juntos toda uma vida, mas a vida deixou a relação dois, dez ou trinta anos atrás. Isto
pode estar refletido por um transito ou aspecto progredido relevante, mesmo que não
haja um evento físico. Movimentos na carta podem descrever o fim de algo, mas não há
um final visível, nenhum evento concreto. Ou o transito ou aspecto progredido relevante
pode descrever o fim de algo muito tempo depois de alguém dizer "Oh, isso acabou
anos atrás". Finais, tanto quanto começos, são questões altamente pessoais. Pessoas
diferentes têm diferentes dimensões de tempo para processar os acontecimentos.
Alguns eventos que nada significam para uma pessoa, muito significam para outra. A
morte em si mesma tem diferentes significados para diferentes pessoas, e alguém pode
ficar cheio de raiva e terror e negar sua doença fatal até o final, enquanto a outra está
pacificamente resignada à morte como um rito de passagem anos antes de sua
passagem real.

A percepção de um evento – seu tempo, seu significado e a interpretação que damos a


ele – é descrita por um sincronismo do transito ou progressão, e portanto os "eventos"
descritos pelos movimentos planetários são aqueles que ocorrem na psique. Um evento
externo em si mesmo pode não ser relevante para um indivíduo. Se alguém tem um
poderoso transito ou aspecto progredido, o evento pode ter grande significado e causar
uma reviravolta na vida da pessoa; mas se o mesmo evento ocorre em outro momento,
quando não há uma concordância tão poderosa dos aspectos, isto é experimentado de
forma inteiramente diferente e poderá não ser sentido como "importante".

O acontecimento em si não é tão importante como uma entidade objetiva. Mas aquilo
que alguém experimenta internamente acrescenta importância e sentido ao evento, de

acordo com o transito ou progressão que coincidem com ele.


Sei que isto é uma coisa difícil de captar, porque nossa forma habitual de interpretar a
realidade é que qualquer coisa que aconteça "lá fora" seja objetiva. A manifestação
física pode ser objetiva ( embora isto seja também questionável) , mas não a maneira
como nós a percebemos. É muito perturbador explorar caminhos nos quais nossas
percepções podem colorir o que é "lá fora". E nossas percepções são aquilo que o
horóscopo descreve, incluindo trânsitos e progressões sobre os pontos da carta natal.
Quando Saturno em transito está sobre a Lua, estamos predispostos a perceber e
responder às situações de uma certa maneira, o que é muito mais realista e negativo do
que o transito de Netuno sobre a Lua. Quando Urano transita sobre Mercúrio nós
percebemos a verdade de forma bem diferente do que percebemos no transito de Kiron
sobre Mercúrio. Quando Júpiter transita sobre Vênus, experimentamos as pessoas
diferentemente do que num transito de Plutão sobre Vênus. São as pessoas que
mudaram ou somos nós? E se realmente são as pessoas, podem as nossas mudanças
de percepções influenciar no tipo de pessoas que atraímos, assim como as atitudes que
elas têm conosco?

Se a separação ocorre durante um transito de Urano trígono Vênus, nós teremos um


sentimento bastante diferente daquele que acontece sob um transito de Plutão oposição
à Vênus. Aos olhos alheios, o evento parece ser o mesmo. Joe Bloggs deixou a sua
mulher e fugiu com a sua secretária de dezoito anos. Mas a mulher de Joe tem Urano
trígono Vênus nesse momento, e ela provavelmente lançará um suspiro de alívio por
livrar-se dele e sentir-se finalmente livre. Se ela tem uma oposição de Plutão de Vênus,
a coisa mais amarga de toda a situação será a traição. Se a Vênus progredida faz
oposição à Netuno, ela pode sentir-se vitimizada. Se Saturno em transito faz uma
quadratura a Vênus ela pode ficar preocupada com a sobrevivência material e se
consumir em sentimentos de inferioridade perante a rejeição humilhante.

Não devemos nunca subestimar a importância da dimensão subjetiva dos eventos.


Como o acontecimento é sentido, como ele é entendido e percebido, e quando isto
registra a realidade será totalmente diferente de acordo com o "clima" astrológico, assim
como a carta natal, porque o individuo está recebendo o evento de uma forma
individual. Isto complica nossas definições sobre aquilo que constitui um evento. O nível
pode variar muito assim como o momento. E o acontecimento sugerido por um
movimento planetário particular pode estar ou não conectado com o acontecimento
físico.

As coisas se tornam mais complicadas quando consideramos os planetas lentos. Eles


podem permanecer próximos aos aspectos da carta natal por dois ou três anos, e, no
caso de Plutão ainda por mais tempo, movendo-se para trás e para frente, mudando a
sua direção com seus movimentos direto e retrogrado. Uma série de eventos
aparentemente desconectados pode ocorrer durante o transito dos planetas exteriores,
e esses acontecimentos poderão ser percebidos através da lente colorida por uma tinta
especial relacionada a esse transito. Por isso todos os eventos que acontecem neste
período podem ter um sentimento ou significado similar.

Se esses mesmos eventos acontecessem em outra época, eles não seriam


experimentados da mesma forma. Eles poderiam ser vistos de forma aleatória. Não
poderíamos dizer, "Ah, aqui existe uma conexão entre a morte de meu pai dois anos
atrás, a disputa que tive com meu patrão no ano passado, e o novo romance que
comecei este mês; tudo faz parte do mesmo pacote". É o transito ou a progressão que
reflete o sentido de coincidência, não os eventos em si. Temos especialmente a
tendência de lembrar de períodos em nossas vidas, em vez de lembrar um tema
especifico após o outro, e o sentido de ter vivido uma época especifica colorida por
certos tipos de acontecimentos é profundamente subjetivo e conectado com trânsitos e
progressões dominantes naquela época.

Temos que ser muito cuidadosos quando tentamos definir um evento, porque quanto
mais de perto nós o olhamos, mais subjetivo ele fica. Uma observação de aspectos da
época da morte de um individuo é um vívido exemplo disso. Com isso quero dizer que
são importantes não somente os aspectos que aparecem na carta da pessoa que
morre, mas também aqueles que ocorrem nas cartas daqueles que são próximos à ela.
Nós podemos pensar que a morte é um evento terrivelmente especifico, que ocorre num
momento particular, e então temos que levantar a carta para esse momento preciso.
Mas nenhum astrólogo pode sustentar com êxito uma típica "assinatura da morte" – isto
é diferente em cada carta natal. E se os aspectos vão se formando, às vezes por muitos
anos, isto pode ser relevante tanto quanto aqueles que acontecem num momento
preciso. É possível que algumas mortes realmente aconteçam num plano interno, bem
antes da morte real e estejam refletindo algo interno de um individuo que "entregou os
pontos".
Tentar compreender o sentido da materialização dos trânsitos e progressões significa
que devemos ter em mente os três níveis de expressão, incluindo os níveis emocional e
teleológico. Esses dois últimos têm influencia direta na realidade dos eventos. Não só
os três níveis são relevantes, mas é sábio lembrar toda a complexidade dos níveis.
Somente quando nós temos um grande quadro do que está acontecendo nós podemos
de forma responsável dizer, "há uma possibilidade de tal e tal acontecer". Sem essa
visão maior, nós estamos atirando dardos de olhos vendados. Podemos ter o alvo
preciso, mas também podemos também ferir alguém nos olhos.

Disponivel como livro (em inglês):

Liz Greene:

"The Horoscope in Manifestation"

CPA Press, London, 1997.

Entrevista com Liz Greene: Astrologia e


Computador
É possível compreender a personalidade de uma pessoa através de um horóscopo
realizado por computador?

Sim, em certa medida. Os elementos principais de um


horóscopo podem ser reconhecidos por um computador se o software for
suficientemente inteligente. Claro que o computador não pode saber de que forma
cada pessoa desenvolve o seu potencial. Não sabe se assumem a responsabilidade
pelas própria vida ou quando isto vai acontecer. No entanto, um horóscopo realizado
por computador contém valiosas informações sobre aspectos importantes na vida
de uma pessoa, e indicações sobre a melhor forma de potenciar o seu
desenvolvimento pessoal.

Certamente que uma relação não pode ser devidamente compreendida apenas com
uma vista de olhos às constelações astrológicas de cada um dos parceiros. Até que
ponto é que um horóscopo da relação pode ser detalhado?

Analisar os horóscopos de nascimento de ambos os parceiros pode fornecer uma


descrição bastante detalhada e aprofundada da relação. Sentimo-nos atraídos ou
repelidos por certas pessoas, devido às mais variadas e complexas razões –
algumas delas são conscientes, outras inconscientes. A atracção é motivada por
aspectos diferentes, sejam eles físicos, mentais, psicológicos ou espirituais. Todos
estes factores têm influência em nós, mesmo que possamos acreditar que nos
apaixonámos porque o nosso parceiro é bem parecido, rico ou um amante
apaixonado. Os nossos relacionamentos são influenciados por decisões pessoais,
padrões da infância, expectativas sociais e necessidades inerentes a nós próprios.
Um horóscopo da relação pode lançar alguma luz sobre cada uma destas
influências – não apenas sobre as partes da relação que identificamos à primeira
vista, mas também sobre aqueles aspectos que apenas se tornam conscientes com
o decorrer do tempo. Estas informações podem ajudar-nos a tomar decisões
melhores e de forma mais consciente.

Por que razão distingue entre o horóscopo de uma criança e o horóscopo de um


adulto? As constelações no momento do nascimento são as mesmas, portanto não
deveria haver qualquer distinção.

Apesar de as constelações serem as mesmas, existem, ainda assim, marcadas


diferenças – tal como o rebento de uma macieira é diferente de uma macieira
crescida e carregada de maçãs. Se uma jovem macieira for tratada como uma rosa,
ou pior, como uma erva daninha, vai ter dificuldades em cumprir a sua verdadeira
natureza. O horóscopo de nascimento de uma criança mostra os seus traços de
carácter, necessidades, conflitos interiores e talentos, que um dia irão florescer e dar
frutos quando a criança crescer. Mas, na infância, a personalidade é ainda potencial,
e a forma como se desenvolve depende de muitos factores e decisões tomadas ao
longo desse caminho. Dependendo das reacções dos pais à individualidade da
criança, essas características irão estimular ou inibir a sua auto-estima. A maior
dádiva que os pais podem proporcionar aos filhos é o respeito pelo seu direito
humano de se tornarem aquilo que realmente são, em vez de esperarem que sigam
padrões familiares ou venham

Mais sobre Liz Greene

Traduzido por Dora Alexandre

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