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Freud pensava que a libido evoluísse em passos progressivos que chamou de fases de orgaização

libidinal, entretanto Melanie Klein observa nas crianças uma mescla de pulsões orais, anais e genitais
que se sobrepõem a partir das primeiras relações com o objeto. Isso a leva a substituir o conceito de fase
pelo de posição que seria mais dinâmico e integrado sendo que a vida psíquica se organiza em volta de
duas posições fundamentais: esquizo-paranóide e depressiva.

Esquizo-paranóide

Essa estrutura organiza a vida mental nos três primeiros meses de vida. Esse ego incipiente sente uma
angústia persecutória que é como uma ameaça de ser atacado cuja origem é principalmente interna pois
a pulsão de morte age como uma força destrutiva dentro do indivíduo. O ego se protege dessa angústia
com mecanismos de defesa intensos e extremos. A pulsão de morte é projetada (expulsa para fora do
sujeito) no primeiro objeto externo que é o seio da mãe (a criança não tem a concepção de uma pessoa
total e não percebe a mãe como uma figura completa) criando uma relação entre ego e objeto mau
externo ao mesmo tempo em que as pulsões libidinais são projetadas no objeto parcial seio bom que a
partir desse momento aparece dissociado do seio mau ou persecutório. A projeção, um desses
mecanismos, aparece ligada à pulsão de morte que é explusa para fora do sujeito. Essa projeção de
agressão e libido permite que se constituam os objetos parciais seio bom e seio mau (seio idealizado e
seio persecutório). A dissociação dos objetos é acompanhada pela dissociação do ego assim o bebê
percebe tanto o mundo externo como a si próprio divididos em duas partes inconciliáveis. Um objeto
idealizado ao qual atribui todas as experiênicias gratificantes e um objeto persecutório ao qual atribui
todas as frustações. É por introjeção dos objetos externos bom e mau que se constroem os objetos
internos bom e mau respectivamente. Entretanto o mecanismo de projeção também participa nesse
processo pois os objetos introjetados não são uma copia dos externos pois estão deformados por uma
projeção das pulsões e sentimentos do sujeito. É estabelecida uma dinâmica constante de projeção e
intojeção entre objetos e situações externas e pulsões e fantasias externas que estarão misturados. À
medida que o desenvolvimento psíquico avança, produz-se uma evolução dessa estrutura sendo que por
um lado existem momentos de integração dos objetos dissociados e por outro a introjeção do objeto
bom fortalece o ego permitindo-lhe tolerar melhor a angústia sem projetá-la. Assim, as angústias
persecutórias decrescem fazendo com que a dissociação diminua e favorecendo os processos de
integração dos objetos e do ego. Dessa forma se produz a passagem para a posição depressiva.

A capacidade da mente de se liberal de uma parte do eu colocando-a em outro objeto é a identificação


projetiva. O sujeito expulsa violentamente uma parte de si mesmo (projeta?) identificando-se com o não
projetado (introjetando?); ao objeto são atribuídos os aspectos projetados dos quais o sujeito se
desprendeu. Esse processo é produzido por uma motivação pessoal que procura se livrar de certas
partes de si mesmo. Para Klein é um mecanismo que permite desprender-se tanto dos aspectos maus
quanto bons de alguém.

Depressiva

É uma nova organização da vida mental, constituindo um momento chave para o desenvolvimento e a
normalidade. Klein pensa que ela se produz entre os três e os seis meses de idade, após a posição
esquizo-paranóide.

Em virtude do aumento dos processos de integração na passagem da posição anterior para esta o bebê
passa a reconhecer a mãe como um objeto total e a compreender que ela, uma mesma criança (o ego
também sofre dissociação) ama e odeia a mesma pessoa e experimenta então ambivalência. Essa
mudança traz consigo uma modificação no conteúdo das angústias. Agora o ego teme pelo dano que fez
ao objeto amado com suas pulsões agressivas (a preocupação central do ego é cuidar e preservar seus
objetos) e sente culpa experimentando assim a angústia depressiva. Nesta posição o mecanismo de
defesa principal (para se defender da angústia depressiva) é a reparação que procura reconstruir os
aspectos danificados ou perdidos dos objetos dentro do eu reparando o mal feito nas fantasias
agressivas (reparação da relação objetal). Agora o vínculo com o mundo externo é mais realista também
pois os objetos externos são reconhecidos em seus aspectos bons e maus com menos distorções.

À medida que o bebê consegue reparar o mal que, em sua fantasia, fez à mãe, conseguindo,
conseqüentemente, vê-la mais integrada, é quando se efetuará uma transição ao segundo objeto — ao
pai. Isso ocorre na posição depressiva.

Características importantes e específicas da psicanálise kleiniana

Transferência

Melanie Kelin considera a transferência como o resultado da externalização de relações


internas de objeto sob a pressão exercida pela ansiedade e cujas origens remontam aos
mesmos processos que, no passado, promoveram as primeiras relações objetais, ou seja,
introjeção e projeção, cisão, identificação projetiva, idealização, etc. Para os analistas
kleinianos o essencial na transferência não reside na relação entre passado e presente, mas
sim na relação existente entre mundo interno e mundo externo. Daí, pode ser inferido que
as relações com as figuras parentais reais já contêm elementos de uma transferência
porque a criança não se relaciona nem reage aos pais reais tal qual eles são e como
existem, mas sua percepção deles já está colorida e marcada por suas introjeções e
projeções. Assim, o que está em jogo na transferência não são as imagos dos pais (ou de
quaisquer objetos) como representações de lembranças e de vivências reais acontecidas no
passado. Melanie Klein (1952) afirma que "minha concepção de transferência como algo
enraizado nos estágios iniciais do desenvolvimento e nas camadas mais profundas do
inconsciente é muito mais ampla, envolvendo uma técnica através da qual, a partir da
totalidade do material apresentado, são deduzidos os elementos inconscientes da
transferência. Por exemplo, relatos de pacientes sobre suas vidas, relações e atividades
cotidianas não só nos oferecem uma compreensão do funcionamento do ego, mas revelam
igualmente as defesas contra a ansiedade suscitadas na situação de transferência, caso
exploremos seu conteúdo inconsciente. O paciente está fadado a lidar com conflitos e
ansiedades, revividos na relação com o analista, empregando os mesmos métodos a que
recorreu no passado. Isto quer dizer que ele se afasta do analista como tentou se afastar de
seus objetos primários; tenta cindir a relação com eles, mantendo-os como figuras boas ou
más; deflete alguns dos sentimentos e atitudes vividos em relação ao analista para outras
pessoas em sua vida cotidiana, e isto é parte da situação"9.
A partir da conceituação inicial de Melanie Klein, a psicanálise kleiniana vê a transferência
como uma situação total e não só o que aparece no material verbalizado na sessão,
relacionando-se a conflitos, sentimentos relativos a situações repetidas, etc. A partir de
Klein, a transferência é sempre vista como dirigida ao analista, que deve então
interpretar a e na transferência, mostrando que o que aparece na análise é a realidade do
mundo interno emergindo, se expressando e sendo experimentada naquele momento.
Esta é a questão mais básica e essencial da análise kleiniana: a perenidade e a dimensão
ampla da experiência emocional como material primordial e contínuo do trabalho da análise.
Assim, além do material falado, há o material não verbal (gestos, mímica facial,
movimentos). Enfim, tudo que, de alguma maneira, o paciente mostra ao analista. Somente
assim o analista poderá perceber e sentir o mundo interno do paciente, como ele funciona,
e como se dão as relações entre o paciente (seu ego), seus objetos e também as relações
dos objetos entre si. É esta visão de conjunto que dá à transferência uma concepção
dinâmica de movimento ininterrupto, do mesmo modo como se dá a emergência e o
funcionamento das fantasias.

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