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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

CURSO SUPERIOR DE PSICOLOGIA

PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

BERNADETE BARROS VICENTE – RGM: 2316447-6


BRUNO GOMES MIRANDA DE SIQUEIRA – RGM: 2283928-3
FABIANI BARRETO RIBEIRO – RGM: 2340584-8
MARIANA DA SILVA MARIANO – RGM: 2351456-6
SUELEN APARECIDA SOUZA DE AZEVEDO – RGM: 2266183-2

Análise do filme “Precisamos falar sobre o Kevin” sob o


olhar da Psicologia e Educação

Orientadora: Profª Andrea Regina Marques


Chamon

SÃO PAULO
2022
BERNADETE BARROS VICENTE – RGM: 2316447-6
BRUNO GOMES MIRANDA DE SIQUEIRA – RGM: 2283928-3
FABIANI BARRETO RIBEIRO – RGM: 2340584-8
MARIANA DA SILVA MARIANO – RGM: 2351456-6
SUELEN APARECIDA SOUZA DE AZEVEDO – RGM: 2266183-2

Análise do filme “Precisamos falar sobre o Kevin” sob o


olhar da Psicologia e Educação

Trabalho que compõe análise do filme


“Precisamos falar sobre o Kevin”,
correlacionando alguns temas do filme com a
Psicologia e Educação, apresentado como
requisito parcial da disciplina Psicologia e
Educação, do 6º semestre do curso de
Psicologia da Universidade Cidade de São
Paulo - UNICID.
Orientadora: Profª Andrea Regina Marques
Chamon

SÃO PAULO
2022
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 3

2 RELAÇÕES FAMILIARES E PSIQUISMO ................................................................... 5

3 DEPRESSÃO PÓS-PARTO ............................................................................................ 8

4 FASES DO DESENVOLVIMENTO .............................................................................. 11

5 MASSACRE NA ESCOLA ............................................................................................ 14

6 SAÚDE MENTAL DE PAIS E ALUNOS ......................................................................16

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 20

Referências Bibliográficas ............................................................................................... 22


3

1 INTRODUÇÃO

Os primeiros anos de vida de uma criança são extremamente importantes,


pois ela ainda está em um processo de desenvolvimento tanto biológico quanto
psicossocial. Por isso, possui maior flexibilidade no que tange às relações e os
ambientes (SHONKOFF, 2010 apud ALVES; ROMANHA, 2022).

Muitos dos transtornos mentais encontrados na vida adulta tem sua origem na
infância (KESSLER et al., 2007 apud ALVES; ROMANHA, 2022), sendo os
transtornos de desenvolvimento psicológicos e os transtornos de comportamento e
emocionais os mais comuns nessa fase inicial da vida (THIENGO; CAVALCANTE,
2014 apud ALVES; ROMANHA, 2022).

Por outro lado, a criança é envolta por diversas relações ambientais, como
família, colegas, pessoas do ambiente escolar, entre outros, que irão influenciar seu
comportamento e personalidade. Caso essa criança pertença a uma classe social
menos abastada, terá mais chance de apresentar sintomas psicológicos
relacionados ao desenvolvimento, aprendizagem, depressão, etc, assim como existe
maior chance de crianças do sexo masculino, como é o caso do filme, terem
problemas externalizados (agressividade e TDAH, por exemplo). (ALVES;
ROMANHA, 2022)

No filme “Precisamos falar sobre o Kevin” vemos um rapaz que apresenta


diversas disfunções comportamentais desde muito jovem e a forma como ele
impactou e foi impactado pela família e pela sociedade. O tema central do filme é
violência e dinâmica familiar. Temas como depressão pós-parto, desvios
comportamentais na infância e adolecência, assassinato, massacre, culpa, família
desfuncional, entre outros assuntos, também estão presentes, tendo como foco
Kevin e sua mãe, Eva.

No decorrer do trabalho serão explicadas as funções familiares


influenciadoras deste processo, depressão pós-parto, questões relacionadas ao
desenvolvimento, o processo psíquico que ocorre por trás do massacre na escola e
a importância do conhecimento referente à saúde mental de pais e alunos, com foco
na importância do profissional psicólogo dentro das instituições de ensino. Para isso
foi utilizado como bibliografia principal o artigo A psicopatologia infantil na
perspectiva de profissionais da área do desenvolvimento na primeira infância de
4

Alves e Romanha, juntamente com outros 25 materiais complementares, disponíveis


nas Referências Bibliográficas deste trabalho.
5

2 RELAÇÕES FAMILIARES E PSIQUISMO

O filme “Precisamos Falar sobre Kevin”, lançado em 2011, conta a história de


uma mãe que não desejava a maternidade, projetando sobre a criança suas
frustrações e um sentimento de rejeição.

Mesmo após o nascimento do seu filho, a mãe não consegue estabelecer um


bom vínculo afetivo com o menino. Ela supre apenas as necessidades
extremamente básicas para a criança. Com esse déficit de acolhimento amoroso, o
menino tenta chamar sua atenção e a desafia o tempo todo, apresentando
comportamentos desproporcionais em diversas situações apontadas no filme, diante
dessa narrativa até poderíamos pensar em uma hipótese diagnóstica: Transtorno
Desafiador Opositor (TOD) e Transtorno de Personalidade Antissocial. No entanto,
Transtornos de Personalidade só podem ser diagnosticados após 18 anos, visto que
a personalidade é dinâmica e o menino ainda estava em fase de desenvolvimento.
Nesse sentido, a única hipótese possível seria pensarmos em uma “inclinação” a
tais transtornos.

A mãe até percebe que o filho apresenta comportamentos desproporcionais e


tenta conversar com pai, mas não recebe a devida atenção. Diante da problemática
relação com filho, ela segue em frente com sua vida, mas a desconfiança de que
algo está errado com a criança permanece.

A posição do pai diante do filho é omissa e insuficiente. Ele não estabelece os


devidos limites para o menino e nem percebe o que está acontecendo em sua
família.

O filme evidencia a importância das funções materna e paterna


desempenhadas no contexto familiar que, segundo as teorias psicanalíticas,
exercem grande influência na construção psíquica da criança.

O bebê desde o nascimento precisa do investimento libidinal da mãe, pois o


simples ato de nascer já é traumatizante. De acordo com Zimerman (2017, p. 90)

o bebê nasce num estado de “neotenia”, não nasce completamente


desenvolvido, o desenvolvimento motor da espécie humana é
bastante lento comparado com outras espécies, isto, o torna um “ser”
totalmente dependente do seu cuidador. Em contrapartida, embora o
desenvolvimento motor seja lento, o desenvolvimento dos órgãos dos
sentidos é relativamente precoce e rápido, o bebê começa a sentir
6

frio e calor desde o nascimento, a ouvir a partir das primeiras


semanas, a olhar por volta do primeiro mês.
Em uma determinada cena do filme, a mãe não suporta o choro do bebê,
muito provavelmente em decorrência de uma depressão pós-parto, e coloca a
criança dentro do carrinho aos berros. Ao sair na rua, caminha com o carrinho,
procurando um lugar onde não possa mais ouvir os berros do bebê. Nesse
momento, depara-se com um canteiro de construção onde o barulho da obra é maior
do que os berros da criança. Esse evento é uma evidência da relação “caótica”
mãe/filho. A criança, que ainda não está adaptada a tanto barulho como um canteiro
de obra, deverá suportar os sons estridentes, visto que sua mãe é incapaz de lhe
dar acolhimento.

As falhas da função materna são poderosos determinantes da


“desestruturação” do psiquismo da criança e por conseguinte do
futuro adulto. (ZIMERMAN, 2017, p.108)
De acordo com Winnicott (2017, p. ), “a mãe suficientemente boa é a mãe
que compreende e decodifica a linguagem corporal do bebê”. O instinto da criança
rege ao princípio do prazer. Nesse sentido, se a soma de suas experiências forem
em sua maioria desprazerosas, o mundo psíquico dessa criança será angustiante. A
função materna ainda proporciona à criança a inscrição de significantes, pois o bebê
ainda não pode compreender o mundo por si só. Essa relação simbiótica é toda sua
experiência de vida. (ZIMERMAN, 2017, p.104,105).

Estímulos sensoriais como um barulho de buzina ou um estrondo, por


exemplo, são assustadores para o bebê e são interpretados como uma experiência
desprazerosa. Portanto, é importante que o cuidador se atente às necessidades
afetivas e às angústias da criança, lhe dando o devido acolhimento para que o seu
psiquismo se desenvolva de modo saudável.

Segundo Hanna Segal (1975, p.36)

O ego imaturo do bebê é exposto, desde o nascimento, à ansiedade


provocada pela polaridade inata dos instintos — o conflito imediato
entre o instinto de vida e o instinto de morte — , assim como é
imediatamente exposto ao impacto da realidade externa, que tanto
produz ansiedade, como o trauma do nascimento, quanto lhe dá a
vida, como o calor, o amor e a alimentação recebidos de sua mãe.
A função paterna, por outro lado, consiste em apresentar uma terceira pessoa
na relação mãe/filho, conduzindo a líbido da criança não apenas à mãe, mas ao
mundo, ou seja, insere a criança no contexto social. Para Mahler (1996), o pai
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representa a “norma”, a lei do incesto, delimitando a díade mãe-filho. Este terceiro


propicia à criança a passagem do narcisismo para fase edipiana. A criança
psiquicamente “saudável” deverá aguentar as frustrações impostas pela função
paterna. A aceitação das angústias vivenciadas nessa fase promovem a passagem
do princípio do prazer para o princípio de realidade constituindo, assim, a
racionalização da criança. (ZIMERMAN, 2017, p.106,107)

Em uma determinada cena do filme, o menino entra no quarto do casal e


flagra o ato sexual dos pais, o menino fica paralisado olhando fixamente para sua
mãe; suas expressões demonstram raiva. O olhar fixo e frio do menino direcionado
à mãe demonstra que sua ira não estava direcionada ao pai, o que seria uma
característica normal da fase edipiana. Isso evidencia que o menino não está
conseguindo passar da fase narcísica para a fase edipiana, ficando “preso” em uma
relação simbiótica com mãe.

As fantasias inconscientes que se formam em torno da cena primária


são determinantes importantes na resolução do complexo edípico e
dependem diretamente do comportamento dos pais. (ZIMERMAN,
2017, p.106,107)
Para piorar a situação, sua mãe engravida e agora concebe uma menina.
Com a entrada da quarta pessoa na relação, o menino fica cada vez mais agressivo.

Os irmãos dentro do grupo familiar funcionam como objetos de duplo


investimento, uma ambivalência: amor e amizade, mescladas com
sentimentos de inveja, ciúmes e rivalidade. O segundo investimento
consiste em autodefesa, isto seria dizer, a criança pode projetar no
irmão seus sentimentos e agressividades que outrora seriam
dirigidas aos pais. (ZIMERMAN, 2017, p.107)
Nesse sentido, o menino projeta para sua irmã suas frustrações, xingamentos
e agressividade. Entretanto, em momento algum os pais intervêm na conduta do
menino.

O menino, agora adolescente e negligenciado pelos pais, comete uma


tragédia familiar: um massacre no colégio onde estuda. Vidas são ceifadas pelo
garoto. Com isso, acaba preso e, nesse momento, a mãe se dá conta de tudo aquilo
que se negou a enxergar. Isso é evidenciado pelo sentimento de culpa que a
persegue a todo tempo.

A negligência e a falta de investimento afetivo podem contribuir para a


psicopatia. Apesar de não se poder afirmar com certeza a existência de uma
psicopatia no garoto, vale ressaltar que a principal defesa dos psicopatas é o
8

controle onipotente e a necessidade de exercer poder. Cleckley (1941 apud


MCWILLIAMS, 2018, p. 180), evidencia que os psicopatas “possuem um „superego‟
defeituoso e uma falta de apego primário a outras pessoas”.

Para separar objetos bons e maus, o ego precisa, ele próprio, ser
dividido. Assim, uma imagem de "eu bom" e "eu mau" que lhes
possibilita lidar com os impulsos prazerosos e destrutivos em relação
aos objetos externos. ( Feist; Feist; Roberts, 2015, p. 99)
Por que o menino poupou a vida da mãe? Ele, a todo tempo, tentou chamar a
atenção da mãe. Ela era o objeto amado que o rejeitou. Ele assassinou a irmã e o
pai porque eles eram “o terceiro” na relação com mãe e ainda usufruíram de um
amor que ele nunca recebeu. Dentro dessa hipótese, o menino ainda estava na fase
do narcisismo primário, o que evidencia que seu psiquismo era muito primitivo,
funcionando apenas em volta do princípio do prazer. Em outras palavras, ele não
conseguiu entrar na fase Edipiana, onde o “terceiro” separa a díade mãe-filho. Além
disso, ele desejava fazer a mãe sofrer do mesmo modo que ele sofreu e, para isso,
ela precisava viver.

Os psicopatas têm dificuldade em expressar emoções verbalmente e


o único jeito que tem de fazer as pessoas entenderem o que sente é
provocar-lhes esse sentimento. (MCWILLIAMS, 2018, p.182).
Para Pichon-Rivière (1998) o vínculo patológico é a falta de adaptação do
indivíduo com o seu meio. Nesse sentido um vínculo patológico estaria fortemente
associado a uma não diferenciação com o objeto, evoluindo para uma relação
simbiótica.

Analisando o filme através desta perspectiva, pode-se entender o garoto


como o “doente mental da família”, onde ele seria o depositário de todas as
ansiedades daquele sistema familiar. A agressividade e os comportamentos
“disfuncionais” do garoto podem ser entendidos como uma denúncia de um sistema
familiar doentio.

3 DEPRESSÃO PÓS-PARTO

Durante o filme facilmente percebe-se que Eva (mãe de Kevin), ao saber da


notícia que está grávida e com o nascimento de seu filho, não esboça nenhuma
emoção de aceitação, alegria ou satisfação pelo o que estava acontecendo. A
felicidade com o evento se dá por volta do segundo trimestre da gravidez, quando se
9

pode sentir os movimentos do feto, e através da realização de exames


(ultrassonografia) em que se pode ver o bebê e ouvir seus batimentos cardíacos.
(LEITE et al., 2014).

Em certo momento do filme, ouve-se a seguinte fala da mãe para com o


garoto: “A mamãe era feliz antes de você, agora ela deseja toda manhã estar na
França”. Aqui percebe-se claramente o quanto a mãe não está contente com o
nascimento de seu filho, apresentando um humor bem deprimido com o nascimento
do filho. De acordo com o DSM-V, sintomas de alteração que ocorrem durante a
gravidez até quatro semanas seguintes ao parto são especificadores de uma
depressão maior.

Neste trabalho será denominada depressão pós-parto (DPP) todo o quadro de


alteração de humor que se inicia durante a gestação, ou que se inicia num período
de até quatro semanas após o parto.

Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais


(American Psychiatric Association, 2013)

Os episódios de humor podem ter seu início durante a gravidez ou no


pós-parto. Embora as estimativas difiram de acordo com o período
de seguimento após o parto, entre 3 e 6% das mulheres terão o início
de um episódio depressivo maior durante a gravidez ou nas semanas
ou meses após o parto.
A DPP se torna mais aparente no terceiro e último trimestre da gestação,
sendo comum de 10% a 15% das gestantes (SCHMIDT; PICCOLOTO; MULLER,
2005). Seu diagnóstico é muito importante, uma vez que a DDP pode ter grandes
consequências sobre a mãe e sobre o filho.

A DPP tem como causas principalmente as preocupações relacionadas ao


bebê e também preocupações relacionadas à mãe.

De acordo com a literatura, diversos fatores estão associados à


etiologia da depressão pós-parto (Carnes,1983; Cooper & Murray,
1995; Guedeney & Lebovici, 1999; Mazet & Stoleru,1990; Meredith &
Noller, 2003), sendo predominantemente citados fatores relacionados
ao bebê, prematuridade, intercorrências neonatais e malformações
congênitas; fatores socioculturais, como morte de familiares,
decepções na vida pessoal ou profissional, retomada de atividade
profissional e situação social de solidão; fatores físicos da mãe, como
modificações hormonais; além de fatores psicopatológicos prévios
(Mazet & Stloleru, 1990). Neste sentido Beck (2002) aponta quatro
fatores de risco identificados mais recentemente: baixa auto-estima,
problemas na situação conjugal e socioeconômica, além de gravidez
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não planejada ou não desejada. (SCHMIDT; PICCOLOTO; MULLER,


2005, p.62-63)
A DPP pode causar sérias consequências cognitivas e socioemocionais na
criança. Isso ocorre porque a mãe terá menos cuidado com o filho, causando uma
grande alteração na relação mãe-bebê. Isso é perceptível nos momentos em que
Eva troca a fralda de Kevin, sempre com desgosto e violência. De acordo com Klaus
e col. (2000 apud SCHMIDT; PICCOLOTO; MULLER, 2005, p. 64), existe uma
relação direta entre a DPP e os problemas de desenvolvimento posteriores
apresentados pela criança, “incluindo transtornos de conduta, comprometimento da
saúde física, ligações inseguros e episódios depressivos”. Como já dito em outros
momentos, o TOD apresentado por Kevin muito provavelmente é decorrente das
atitudes da mãe guiadas pela DPP, mas vale ressaltar que isto é apenas uma
hipótese, em nenhum momento do filme é dito que o menino sofre de tal transtorno
de conduta.

A DPP também pode trazer a criança menos sorrisos, menor interações


corporais, além de maiores dificuldades alimentares e de sono (Righetti, Conne-
Perreard, Bousquet & Manzano, 2002 apud SCHIMIDT; PICCOLOTO; MULLER,
2005, p. 64). Essas características são facilmente observadas nos momentos em
que Eva tenta brincar com seu filho de jogar a bola e ele não ri e não joga a bola
para a mãe, logo há menos interação corporal. Também é possível notar que em
vários momentos o garoto joga a comida no chão para não comê-la, o que pode ser
um indício de dificuldade alimentar.

Mães com DPP podem ter uma interação mais agressiva com o seu filho,
assim como uma falta de cuidado e atenção e maior rejeição deste. De acordo com
Schmidt, Piccoloto e Müller (2005, p. 64), a relação entre mães com DPP e seus
bebês mostram maiores níveis de hostilidade, maior rejeição, negligência e
agressividade. Isso é nítido nos momentos em que Eva troca a fralda de Kevin. A
atitude é tão violenta que, em determinado momento, acaba machucando a criança,
causando-lhe uma cicatriz.

A depressão pós-parto é algo muito sério e deve ser identificado o quanto


antes, uma vez que esta traz sérias consequências tanto para a mãe quanto para o
filho. Ela prejudica o vínculo mãe-filho, podendo causar transtornos graves na
criança.
11

A identificação da DPP não é feita apenas por psicólogos que trabalham na


área da psicologia da saúde, mas também por psicólogos da educação, que
possuem um papel fundamental no tratamento e diagnóstico das crianças, podendo
investigar suas causas em uma possível DPP que a progenitora possui.

4 FASES DO DESENVOLVIMENTO

Quando Kevin se encontrava no que Papalia e Feldman (2013) denominam


como primeira infância (0-3 anos), ele ainda não apresentava oralidade, o que fez
sua mãe desconfiar da possibilidade de surdez. Porém, após consulta com o
médico, nenhum problema orgânico foi identificado. Ao somar-se este evento com
outros características, como irritabilidade, ausência de sorriso e retardo do
desenvolvimento (Ex.: Kevin demorou muito para deixar de utilizar fraldas), sem
origem orgânica, pode-se pensar em uma combinação de eventos que podem ter
dado origem aos elementos anteriores, são eles: dificuldades na amamentação,
preparação de fórmula ou técnicas de alimentação inadequadas e interações
perturbadas com os pais, sendo este último o mais presente no enredo do filme.
(PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Outro item importante nesta primeira fase de desenvolvimento é a


necessidade de apego e contato, algo pouco presente entre Kevin e a mãe. O fato
do menino permanecer nas fraldas além do período esperado pode ser visto tanto
como uma forma de manipulação por parte do menino visando mostrar controle,
quanto como uma forma de obrigar a mãe a ter algum tipo de contato com ele. Ao
mesmo tempo, seria esperado um gosto mínimo pela interação social, algo que não
se apresenta na personalidade do menino e que pode servir como novo indício de
que algum problema latente está presente.

Como o déficit cognitivo e o atraso em relação ao desenvolvimento da


motricidade e da linguagem, juntamente com os itens anteriormente citados, tiveram
início nos cinco primeiros anos de vida, pode-se pensar na existência de transtornos
de comportamento/emocionais, como distúrbio de conduta, por exemplo. (ALVES;
ROMANHA, 2022)

Kevin chorava muito quando bebê, o que indicava que algo estava errado.
Segundo Alves e Romanha (2022, p. 4), crianças com menos de dois anos podem
12

apresentar sofrimento clínico significativo nas esferas sociais, emocionais e


comportamentais, bem como desenvolver psicopatologias.

Outra forma de explicar o desenvolvimento humano é através da Teoria do


Desenvolvimento Psicossexual de Freud. Para ele, as fases do desenvolvimento
podem ser divididas em: fase oral, fase anal, fase fálica, fase latente e fase genital.
cada uma delas possui estruturas clinicas (psicose, perversão e neurose) e
psíquicas (id, ego e superego).

A fase oral, primeira fase do desenvolvimento, é caracterizada pela estrutura


do id e da psicose. Kevin encontra-se estagnado psiquicamente nesse estágio, ou
seja, compreende o mundo através do olhar da mãe (fase fusional), sem perceber e
nem se diferenciar do outro.

Ao chegar na adolescência (10-19 anos), nota-se um aumento dos conflitos


familiares e comportamento de risco que, segundo Martorell (2014), é comum nessa
fase do desenvolvimento. Outros elementos também presentes nessa fase e no
personagem de Kevin são: emotividade negativa, individuação e mudanças de
humor mais intensas. (MARTORELL, 2014)

Individuação é a busca do adolescente por autonomia e diferenciação, onde


se cria limites de controle entre si e os pais visando a criação de uma identidade, o
que pode levar à conflitos familiares. (MARTORELL, 2014)

De acordo com Martorell (2014), adolescentes com grandes problemas


tendem a vir de famílias desestruturadas, assim como a família de Kevin. Da mesma
forma,

Pais de crianças que se tornam cronicamente antissociais podem ter


falhado em tentar reforçar o bom comportamento no início da infância
e ter sido muito duros ou inconsistentes - ou ambos - ao punirem o
meu comportamento. Quando críticas constantes e coerção
agressiva caracterizam as interações entre pais e filhos, a criança
tende a demonstrar problemas de comportamento agressivo. No
início da adolescência, pode existir hostilidade manifesta entre pais e
filhos. (MARTORELL, 2014, p. 325)
A personalidade adolescente pode ser explicada pela manifestação de conflito
inconsciente decorrente da perda do corpo de uma criança, em alguns casos
relacionados a comportamentos patológicos inerentes ao desenvolvimento normal
nesta fase da vida. (KNOBEL, 2011, p. 27) Com isso, é comum a existência de
problemas comportamentais, sentimentos e emoções exagerados ou irracionais e
13

impulsividade. Portanto, é preciso ter atenção e cuidado para evitar o surgimento de


transtornos.

A família pode ser considerada o sistema que mais influencia diretamente o


desenvolvimento do indivíduo, surgindo como o mais poderoso sistema de
socialização para o desenvolvimento saudável (COATSWORTH; PANTIN;
SZAPOCNIK, 2002). Segundo Pereira-Silva e Dessen (2003, p. 503), “as interações
que ocorrem no sistema microfamiliar têm a influência mais importante no
desenvolvimento de uma pessoa”, embora outros sistemas sociais (como escolas,
locais de trabalho, etc.) também contribuam para o seu desenvolvimento.

A adolescência pode ser o ponto de virada, o tempo desenvolvimento humano


em que o indivíduo desenvolverá a capacidade de estabelecer a própria direção e
particularmente fortes atividades nas quais os aspectos internos da personalidade se
tornarão cada vez mais eficazes (VYGOTSKI, 2012, p. 337).

Vale ressaltar que o comportamento desviante, principalmente em crianças e


adolescentes, é uma forma de expressar as emoções, mesmo que patológicas.
Porém, deve-se atentar à fase do desenvolvimento em que o indivíduo se encontra,
pois certos comportamentos podem ser considerados normais em determinada faixa
etária e indicadores de problemas de saúde mental em outra faixa etária. Ao mesmo
tempo, a manifestação de um transtorno mental não é a mesma em todas as fases
do desenvolvimento. (ALVES; ROMANHA, 2022

Sabendo disso, o psicólogo escolar deve ser capaz de identificar


comportamentos desviantes para que possa fazer uma boa orientação parental e um
bom encaminhamento a profissionais apropriados, sempre tendo em mente que a
psicopatologia infantil está mais ligada a problemas do desenvolvimento da criança
no meio em que vive do que um problema apenas do indivíduo. (ALVES;
ROMANHA, 2022)

Marinho-Araújo e Almeida (2005) confirmaram a importância do trabalho


preventivo dos psicólogos escolares. Segundo os autores, envolve ações e
estratégias para que o psicólogo escolar promova e apoie a construção de diversos
métodos de ensino, promova a reflexão e a conscientização sobre os papéis e
responsabilidades dos sujeitos que interagem no ambiente escolar, além de buscar
14

engajar com equipes e escolas a superação de obstáculos à apropriação do


conhecimento.

5 MASSACRE NA ESCOLA

Ao final do filme temos um massacre escolar planejado e executado por


Kevin, que dizimou muitas pessoas. Infelizmente, eventos como esses são muito
comuns na vida real.

Em 1999 a Columbine High School, colégio localizado nos Estados Unidos,


sofreu um grande massacre que tirou a vida de 12 alunos e um professor, deixando
21 feridos. O evento, que teve uso de armas de tiro e bombas, teve uma proporção
tão grande que, desde então, todas as escolas locais ficaram em alerta. Eventos
semelhantes ocorreram no Brasil nos últimos anos, sendo o mais recente o
massacre na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em 2019, no município de
Suzano. Este evento contou com 10 mortes (incluindo os assassinos) e fez uso de
revólver e machadinha.

Para entender o que ocasionou tamanha atrocidade, tanto no filme quanto


nos eventos citados anteriormente, deve-se olhar para o contexto de cada indivíduo.
Porém, existem elementos que são semelhantes a todos os que se submetem a
ações como essa.

O primeiro elemento que aumenta a probabilidade é ser homem, jovem e


possuir algum tipo de ressentimento (LIMA, 2009). No caso do protagonista do filme,
vemos que este possui o sexo masculino, apresentou sinais comportamentais
disfuncionais desde muito jovem e possuía ressentimento em relação à mãe que,
como dito nos itens anteriores, não lhe proporcionava o devido afeto, o que pode
explicar o assassinato de seus familiares. Por outro lado, não fica claro no filme a
relação escolar do garoto e, portanto, não se pode imaginar qual evento de
ressentimento impulsionou o massacre na escola.

Outro elemento é o vício em vídeo-games e filmes violentos (LIMA, 2009).


Apesar de Kevin não demonstrar ser viciado em jogos violentos, há momentos em
que podemos ver ele e seu pai jogando jogos do tipo quando Kevin ainda era uma
criança, o que pode ter influenciado seus comportamentos agressivos, uma vez que
15

o excesso de jogos violentos geram uma dessensibilização sobre a dor do outro.


(ALVES; CARVALHO, 2011)

Pessoas que cometem atrocidades do tipo geralmente possuem acesso a


armamento pesado (LIMA, 2009). No filme, desde criança Kevin é incentivado à
prática do esporte de arco e flecha. Com o tempo, passa a ter acesso a
equipamentos profissionais, que são utilizados no dia do massacre.

Outro item apresentado por Lima (2009) que se encaixa na descrição de


Kevin é o histórico familiar complicado. Como visto no item 1 deste trabalho, ele
sofria negligência, agressões e não era amado da forma que deveria, além de existir
um excesso de culpa por parte da mãe e o negacionismo por parte do pai.

A mesma autora comenta que essa categoria de assassinos não visam uma
matança discreta, mas sim teatral, como se fosse um espetáculo no qual eles são os
protagonistas. Isso pode ser devido a traços de baixa auto-estima e narcisismo, itens
aparentemente presentes na personalidade de Kevin. Isso fica nítido na cena após o
massacre, onde Kevin sai da escola sorrindo, orgulhoso, e sua postura se
assemelha a um ator após terminar o show, agradecendo a presença do público.
Pensando nisso, em 2012, pais que perderam seus filhos em um tiroteio lançaram a
campanha “No Notoriety”, pedindo que se parasse de divulgar as famílias e os
assassinos para que não haja incentivo a esse tipo de ação.

São muitos os motivos que podem ter levado Kevin a fazer o que fez,
inclusive os possíveis transtornos de conduta que ele demonstrava possuir. Um
transtorno de conduta influencia a apresentação de comportamentos de cunho
antissocial e histriônico, mas devido a sua idade não poderiam ser enquadrados
como psicopatia.

Alguns critérios diagnósticos desse transtorno, segundo o DSM-5, incluem:


agressão a pessoas ou animais, destruição de propriedade, falsidade ou furto e
violações graves das regras familiares. Em alguns casos, pode haver ou não
ausência de remorso ou culpa e falta de empatia. Alguns exemplos de situações em
que ele apresentou tais comportamentos são: assasinato do animal de estimação de
sua irmã, machucar a sua irmã a ponto dela perder um olho, destruir o quarto que
sua mãe tinha personalizado para ela, dissimulação de bom comportamento diante
do pai, entre outros.
16

A identificação de que algo não está bem com a criança pode ser feita dentro
do ambiente escolar, através da percepção de dificuldade de aprendizagem, com um
baixo rendimento acadêmico. Isso geralmente vem acompanhado de “enfrentamento
inadequado frente às situações cotidianas e às relações interpessoais”, como baixa
capacidade de autorregulação, hostilidade e resistência às normas. (ALVES;
ROMANHA, 2022, p. 5)

O psicólogo escolar, juntamente com a família, possui grande importância na


identificação de comportamentos disfuncionais e autodestrutivos que podem
ocasionar situações complexas, como a visualizada no filme. Esse profissional
também pode auxiliar as famílias no encaminhamento à profissionais especializados.
(ALVES; ROMANHA, 2022)

6 SAÚDE MENTAL DE PAIS E ALUNOS

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (2001a, p. 3), o conceito de


saúde mental inclui, entre outros aspectos:

(...) bem-estar subjetivo, autopercepção efetiva, autocontrole,


competência, dependência intergeracional e autonomia - a realização
do próprio potencial intelectual e emocional.
Segundo o mesmo texto, a saúde mental é um determinante do bem-estar
geral de um indivíduo e não pode ser entendida simplesmente como a ausência de
um transtorno mental. Além disso, diferenças socioculturais, de classe e de gênero
devem ser levadas em consideração ao se buscar uma definição universal de saúde
mental.

Em relação à saúde mental infantil, que pode ser entendida como um conjunto
de habilidades adaptativas relacionadas aos aspectos emocionais, comportamentais
e sociais, os autores mostraram que aspectos presentes no ambiente em que as
crianças vivem estão mais associados às determinações de saúde mental das
crianças (CID, 2011).

A escola é entendida como o local ideal para “trabalhar” com a informação em


saúde mental, pois são polos de construção de conhecimento e onde crianças,
adolescentes e adultos passam a maior parte do tempo. Mas, infelizmente, sabemos
17

que o conteúdo, embora extremamente relevante socialmente, vai além do


arcabouço pedagógico tradicional (PRADO; BRESSAN, 2016).

Segundo Prado e Bressan (2016), estimular o desenvolvimento de programas


de saúde mental para professores e alunos pode mudar o curso dos transtornos
mentais na sociedade, prevenindo o desenvolvimento de transtornos de saúde
mental e reduzindo a gravidade das condições clínicas ao longo do tempo. Acredita-
se que quanto mais as pessoas tiverem acesso a informações de saúde mental de
qualidade, menos estigmatizada será a mente das pessoas e, respectivamente,
haverá menos medo do que é diferente.

Se houvesse, dentro do colégio onde Kevin estudava, um programa


semelhante ao citado no parágrafo anterior, os agravantes de sua história poderiam
ter sido identificados e, assim, o apoio necessário poderia ser dado ou, ao menos,
Eva (a mãe) poderia ter recebido uma orientação adequada quanto aos
procedimentos que deveriam ser tomados. Dessa forma, tudo poderia ter sido
diferente. O mesmo vale para casos semelhantes da vida real.

Infelizmente, nada no ambiente de Kevin foi favorável para o desenvolvimento


de uma psiquè saudável. A soma da depressão pós-parto da mãe, a capacidade do
menino de manipular a mãe utilizando a culpa que esta possuía, o nascimento de
um segundo filho na família, além dos diversos fatores já apresentados neste
trabalho, contribuíram para o desenvolvimento de uma personalidade
psicopatológica e a apresentação de transtornos.

A décima edição da Classificação Estatística Internacional de Doenças e


Problemas Relacionados à Saúde (CID-10) aponta dois grandes grupos de
transtornos mentais comuns na infância e na adolescência, são eles: transtornos do
desenvolvimento, caracterizados por problemas no desenvolvimento de funções
como fala e linguagem (dislexia, por exemplo); transtornos invasivos do
desenvolvimento, como autismo; e transtornos comportamentais ou emocionais,
incluindo problemas de aparência, caracterizados por transtorno de conduta,
transtorno de hiperatividade, transtorno antissocial problemas de comportamento e
introspecção, associados à depressão, ansiedade, transtorno de abstinência social e
queixas somáticas (CID, 2011).
18

Winnicott (1982, 2012 apud PEDROSA, 2015) afirma que uma das
características das pessoas carentes é que não há esperança, portanto não têm
desejos, sonhos ou objetivos, incapazes de organizar um projeto no futuro. Segundo
Bowlby (2006 apud PEDROSA, 2015), a ausência de amor e atenção da mãe e do
pai altera o comportamento e condutas dessas crianças, podendo cometer
pequenos furtos, roubos, vandalismos, mentiras, agressividade, hostilidade, infringir
a lei, comportamentos antissociais, entre outros. Essas atitudes visam chamar a
atenção dos cuidadores e/ou seus responsáveis para algo que não está certo ou que
falta, seja por falta de limites e/ou afeto Os sinais de agressividade apresentados
por Kevin em relação à mãe, irmã e colegas pode ser explicado a partir dessa ideia.

Segundo a teoria sociológica, o comportamento adulto pode ser imitado pelas


crianças. Diferentes desvios dos padrões são interpretados de acordo com as
informações que os indivíduos podem acessar e sua importância para essas
informações. (PEDROSA, 2015)

Ao tratar do tema da criminalidade, Lacan (1966) aponta que, por


vezes, a sociedade está de tal forma alterada em sua estrutura que
lança mão de mecanismos de exclusão do mal, elegendo bodes
expiatórios. Rassial (1997) corrobora com esta ideia, ao propor-nos a
delinqüência enquanto patologia específica da adolescência, e esta,
enquanto uma patologia da sociedade. Tal afirmativa justifica a
necessidade de, ao tratarmos da violência juvenil, nos remetermos
aos fenômenos do social, como pontua Endo (2005) (PETRACCO,
2007 apud PEDROSA, 2015, p.33).
É assim que os adolescentes que não acreditam que podem conseguir o que
querem usam meios violentos para conseguir. Essas práticas são incentivadas por
uma sociedade consumista em que os valores da comunidade são substituídos pela
necessidade dos adolescentes por determinada coisa ou por uma admiração através
da mídia.

Como afirma Soares (2005 apud PEDROSA, 2015, p. 41), “nada é mais difícil
do que mudar, provocar a mudança em alguém é mais complexo”. Essa mudança
muitas vezes envolve situações dolorosas e não existe um método seguro para
realizá-las. Para as mães, isso significa abrir mão do que há muito as nutriu,
superando áreas de insegurança e instabilidade em busca de uma nova condição
mais acolhedora. Nesse sentido, a instituição socioeducativa pode ser vista como
um complemento às mudanças que as mães percebem como benéficas para seus
filhos.
19

Segundo Kammerer (2011 apud PEDROSA, 2015), não é a qualidade real do


reparo que o torna bem-sucedido, pois é uma operação irreal, mas se o desejo da
mãe for suficientemente direcionado para a criança, depois parece uma força motriz
e as fantasias indistintas da mãe podem ser vistas como efetivas, integrando as
duas funções restauradoras.

A psicologia escolar se iniciou como uma necessidade de incorporar a


educação com o saber psicológico, abrangendo um contexto amplo, envolvendo as
relações, culturas e experiências de cada indivíduo, promovendo o ensino e a
aprendizagem, além das relações interpessoais que caracterizam o cotidiano
escolar. (YAZLLE, 1997 apud LIRA, 2014)

Ferreira (2010, p. 71 apud LIRA, 2014, p. 23) defende a psicologia na área


da educação, dizendo que:

A psicologia, por intermédio de suas intervenções pedagógicas, pode


contribuir muito para o desenvolvimento não só da educação, mas da
pessoa humana como um todo, com técnicas e parcerias benéficas
para o outro. Devemos aceitar que cada sujeito tem uma construção
social e cultural e uma história de vida. É importante ser ético e
trabalhar para a outra parte.
O trabalho do psicólogo escolar tem como objetivo primordial o ajustamento
pessoal. Além disso, sua atividade profissional também inclui trabalhar com
diretores, professores, conselheiros e pais para alcançar condições que são
consideradas problemáticas ou mais difíceis.

Desse modo, o papel do psicólogo é: acompanhar, sugerir e encontrar as


melhores estratégias e métodos para solucionar as situações-problema
apresentadas na escola, podendo ajudar os fatores dentro do contexto escolar que
criam maiores problemas, ajudando a identificar causas e interposições. Isso
permitirá uma nova perspectiva sobre as exigências da escola, já que em muitos
casos, o principal problema está na forma como percebem os fatos.
20

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ser humano passa por diversas fases de desenvolvimento biopsicossocial,


que sofre grande influência do ambiente em que o indivíduo está inserido. Com a
patologização do comportamento humano, se torna cada vez mais comum a
inserção de rótulos que passam a fazer parte da vida da pessoa. Porém, muitos
realmente sofrem com a presença de um transtorno emocional ou comportamental.

Para que se possa fazer um diagnóstico confiável, deve-se atentar à


combinação de sinais, sintomas e prejuízos que determinado conjunto de fatores
causam. Ao mesmo tempo, deve-se atentar ao relacionamento presente entre os
responsáveis, histórico psiquiátrico familiar, relacionamento entre a
criança/adolescente e os colegas da escola e a fase do desenvolvimento em que o
indivíduo se encontra, para que se possa afirmar ou não a existência de um
transtorno e a sua causa.

Apesar de muitos dos sintomas apresentados por Kevin serem semelhantes à


psicopatia, como é somente depois da adolescência que esse diagnóstico pode ser
feito, é possível que estejamos lidando com um caso de transtorno de conduta, que
pode ou não vir a ser uma psicopatia na fase adulta.

O filme não apresenta informação suficiente a respeito da vida escolar de


Kevin para que se possa afirmar o motivo que o levou a fazer o massacre. Também
deve-se tomar cuidado para não culpabilizar a mãe por todos os problemas
apresentados por Kevin (ela também sofreu muito com a personalidade do filho),
apesar de ela e o marido terem dado indícios de que sua influência afetou Kevin de
alguma forma. Além disso, não se sabe como foi os meses de gravidez de Eva,
somente que foi uma gravidez indesejada, que é algo a ser levado em consideração.
Portanto, não temos informações suficientes para dar um diagnóstico para Kevin,
apesar de ser nítido que algo está errado.

Quando o psicólogo escolar identifica um desvio comportamental, espera-se


que se comunique a coordenação para uma possível investigação acerca do que
está havendo. Para isso, observa-se a criança em vários ambientes e analisa-se
toda a família. Essas avaliações sempre são feitas em caráter multidisciplinar com o
máximo de comunicação possível entre os profissionais.
21

Muitas vezes o problema comportamental tem origem dentro de casa ou é


decorrente de um sistema educacional insuficiente, deixando a criança mais
vulnerável. O apoio da família e um encaminhamento adequado por parte do
psicólogo escolar torna-se, então, muito importante para o reajuste da criança, além
de diminuir a chance de que eventos como o presenciado no filme ocorram.

Caso houvesse tido uma busca por um diagnóstico precoce, conversas a


respeito do comportamento de Kevin, reconhecimento das manipulações do garoto,
auxílio psicológico e familiar aos responsáveis e ao filho e apoio escolar, talvez o
incidente pudesse ter sido evitado.
22

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