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Após o desenvolvimento dos arcabouços teóricos criados por Freud muitos teóricos
o seguiram; ora para repensá-los, ora para questionar os seus fundamentos e aspectos
ontológicos e epistemológicos de sua ciência.
Numa breve análise, evidencia-se que qualquer que seja o sistema empregado por
Klein, Winnicott ou Bion, todos utilizaram os métodos psicanalíticos observados por Freud
como premissas; digo isto porque toda a Psicanálise e todos os psicanalistas estão de algum
modo, conectados com a herança freudiana. Apesar do eixo compreensivo desses
paradigmas serem multifacetado, saliento que na análise o paciente mostra-se para o
analista e que o acontecimento presente neste encontro pode ser decifrado por este
analista; essa explanação dependerá de suas teorias, do seu vértice, e de sua condição de
estar continente àquela demanda.
Em referência a essa “fonte regressiva que aponta para o passado”, Freud em 1896,
num anexo a uma das cartas enviada à Wilhelm Fliess, seu grande amigo, detalhou o
pensamento sobre as neuroses de defesa, no qual traçou uma comparação entre a histeria
e a neurose obsessiva, trazendo a afirmação de que há entre elas diversas coisas em
comum. Sobre este tema, o autor discorreu mais profundamente em seu texto “Notas
sobre um caso de Neurose Obsessiva – O Homem dos Ratos”, em 1909.
Prosseguindo, afirmou ainda que “… existe uma tendência normal à defesa… essa
tendência, ligada às condições mais fundamentais do mecanismo psíquico, não pode ser
empregada contra as percepções, pois estas têm o poder de se impor à atenção; ela só
entra em jogo contra as lembranças e os pensamentos… uma precondição de se ficar livre
das neuroses de defesas é que não ocorra nenhuma irritação sexual substancial antes da
puberdade, embora seja verdade que o efeito de tal experiência precisa ser ampliado pela
disposição hereditária… em minha opinião, deve haver uma fonte independente de
liberação de desprazer na vida sexual; desde que essa fonte esteja presente, ela pode ativar
as sensações de repugnância, reforçar a moralidade e assim por diante”.
• Tanto as nossas angústias quanto os nossos objetivos não estão para frente e sim
atrás, isto é, qualquer imagem que fazemos do nosso futuro é baseada no passado;
• O sintoma é inevitável;
• Este sintoma tem por natureza uma dimensão real existencial, algo que o sujeito
viveu;
Quando Klein, pela primeira vez, leu um texto de Freud sentiu-se identificada e
impressionada. Por diversas vezes, tentou contato pessoal com o autor, mas Freud a evitou
devido às diferenças teóricas entre Klein e a sua filha, Anna Freud, e, assim, nunca manteve
um contato pessoal com o seu inspirador.
Melanie Klein fez sua análise pessoal com Ferenczi que colaborou muito em sua
obra, incentivando-a. Seu livro “O desenvolvimento de uma criança” (1916), concedeu-lhe o
título de membro da sociedade psicanalítica da Hungria; porém o contexto cultural que
despontou sua obra foi o da Inglaterra, na qual fixou residência em 1925 e atuou como
psicanalista até a sua morte, em 1960 aos 78 anos. Foi neste país que, Melanie Klein, se
consagrou no meio científico fundando uma nova escola psicanalítica.
A primeira permeia os quatro primeiros meses de vida do bebê, mas esta poderá ser
revista no transcorrer da infância e da fase adulta, particularmente nos estados paranóicos
e esquizofrênicos. Esta posição tem como característica essencial a coexistência das pulsões
agressivas, desde o início, com as pulsões libidinais e são individualmente intensas; na qual
o objeto é parcial, sobretudo o seio materno, e clivado em dois (o bom e o mau); a angústia
é intensa, seu caráter é persecutório e derivado do objeto mau; há uma ansiedade
aniquiladora primitiva que gera fantasias e elas dão sentido à pulsão, dando-se gênese a
estruturação emocional infantil sendo articulada pelas fantasias primitivas e, a última
característica seria que, o estágio original do ser humano é a experiência psicótica. A
criança teria a identificação projetiva para lidar com a pulsão de morte na qual o objeto é
identificado pelos seus próprios sentimentos, ela usa o objeto como uma embalagem de
todos os males que a acometem, atacando o objeto que a ataca e este ataque torna-se a
fantasia onipresente que dá um destino à sua pulsão de morte. A experiência com o objeto
afasta o mau e isola o bem.
Nesse terceiro momento do texto, refletirei sobre outra lavra psicanalítica da escola
inglesa, que foi o médico pediatra e psicanalista Donald Woods Winnicott (1896-1971).
Nascido em um lar muito bem estruturado, tanto economicamente quanto afetivamente.
Winnicott trouxe contribuições importantes para o repertório conceitual da psicanálise,
como os postulados das funções de espaço potencial, do fenômeno e dos objetos
transicionais, além do conceito de verdadeiro e falso self.
Winnicott renovou o legado de Freud via conceitos criados e elaborados durante sua
experiência, de 40 anos, na atividade clínica com crianças e adolescentes. Foi analisado
durante dez anos por James Strachey, tradutor das obras de Freud, do alemão para o inglês,
e depois retomou a análise com Joan Rivière; sua supervisão psicanalítica foi realizada por
Melanie Klein.
Por último, cabe-me explanar sobre o indiano Wilfred Ruprecht Bion (1897-1979).
Nasceu na Índia, apesar de pais ingleses, pois sua família estava no oriente a mando do
governo britânico para seu pai realizar um trabalho de engenharia da irrigação. Bion viveu
na Índia os seus sete primeiros anos; ao completar esta idade, foi encaminhado sozinho
para Londres a fim de iniciar seus estudos.
Ouso pensar que Bion foi um pesquisador que teve um papel de integração, pois com
criatividade integrou várias idéias psicanalíticas freudianas e kleinianas, sem perder a veia
criativa fundante de sua obra.
No eixo no qual Bion integra Freud e Klein de forma brilhante, ele explora
idiossincrasias de dois fundamentos do funcionamento mental: a compreensão da
realidade é feita por intermédio do princípio do prazer e do desprazer e uma compreensão
ampliada do complexo de Édipo. Em suas sessões analíticas utilizava de uma forma
ampliada a teoria dos sonhos de Freud por meio do trabalho onírico de vigília na sessão e
do uso de vários mitos.
A teoria dos grupos de Bion alicerça-se no fato que existe, segundo ele, um grupo
de trabalho ou grupo refinado e os grupos de base, ou mentalidade grupal ou grupos de
pressupostos básicos.
Em suas pesquisas ele destaca diversas situações nas quais o grupo parece estar
mobilizado pela mentalidade de grupo, como p. ex., conversas banais, ausência de crítica,
situações "sobrecarregadas de emoções" que podem exercer influências sobre o indivíduo
e a irracionalidade do grupo.
Um dos termos que Bion utiliza para postular a mentalidade dos grupos é "padrão
de comportamento".
A teoria dos três pressupostos básicos de Bion possui suas raízes na teoria
freudiana, que tenta explicar os fenômenos grupais a partir da libido. O teórico
fundamenta, para sustentar a hipótese psicanalítica, que os fenômenos grupais possuem
como gênese um investimento afetivo sobre um objeto que não pode ser alcançado,
seguido pela identificação com os possíveis inimigos. Entretanto, vale salientar que os
trabalhos de Bion possuem um enfoque diferente ao do pai da psicanálise, como já citado
no corpo desse texto. Os três pressupostos foram chamados pelo autor de: dependência,
acasalamento e luta-fuga.
Um dos primeiros fenômenos observados por Bion (1975) foi a percepção de uma grande
necessidade que os membros dos grupos têm na busca de um líder, que seria capaz de
satisfazer as expectativas de cada um dos integrantes, segundo ele: "O grupo é bastante
incapaz de enfrentar as emoções dentro dele, sem acreditar que possui alguma espécie de
Deus que é inteiramente responsável por tudo o que acontece".
AB’SÁBER, A. M. O Sonhar Restaurado: Formas do Sonhar em Bion, Winnicott e Freud – São Paulo: Ed. 34, 2005
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