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Capacidade

jurídica à luz dos


direitos humanos:
os desafios da
Tomada de
Decisão Apoiada
• Aline Albuquerque
• Pós-Doutora em Direitos
Humanos/Universidade de Essex
• Professora de Bioética e Direitos
Humanos da UnB e do UniCEUB
• Advogada da União
• Adultos idosos, enquanto grupo, apresentam maior risco
de terem impedimentos cognitivos quando comparados
com adultos mais jovens. Estima-se que o número de
pessoas com mais de 65 anos com Alzheimer alcançará
7.7 milhões em 2030 (Alzheimer Association, 2008).
Esses fatores conduzem à reflexão sobre questões
referentes à autonomia pessoal e capacidade das
pessoas idosas.
• Atualmente, em alguns países, como o Japão, o regime
de capacidade jurídica diz mais respeito às pessoas
1. Introdução idosas, em razão do processo de envelhecimento da
população e da ampliação da expectativa de vida, que
acarreta mais pessoas com severas demências
(Albuquerque, 2018).
• A autonomia pessoal e a capacidade da pessoa idosa são permeadas por
preconceitos, estigmas e discriminações.
• O ageísmo pode influenciar a visão da capacidade decisional das pessoas idosas, bem
como a sua avaliação (Clemens & Hayes, 1997).
• Nos Estados Unidos, é frequente a internação involuntária de pessoas idosas em
“lares de idosos” por seus curadores, sendo abusados e negligenciados (Myelder,
2018). No país, há 1.3 milhões de pessoas curateladas, sendo que 85% têm mais de
65 anos (Miller, 2018).
• Em 2018, foi publicado o artigo “How the Elderly Lose their Rights – sobre os
problemas do Sistema de Curatela dos Estados Unidos e os abusos das pessoas
idosas.
ABUSES IN GUARDIANSHIP OF THE ELDERLY
AND INFIRM: A NATIONAL DISGRACE
• A capacidade jurídica se desdobra em capacidade legal, que é a

2. titularidade do direito, e a agência legal, que consiste no exercício


por si mesmo do direito. Não se utiliza a expressão capacidade
civil.
Conceitos- • Quando se diz que uma pessoa não tem capacidade, do que se
trata? Discernimento? Não.
chave: • A capacidade decisional ou mental é a habilidade para tomar

capacidade decisões.

• Como se avalia a capacidade decisional?


jurídica e • De acordo com a Associação Americana de Psicologia (2017), a

capacidade capacidade decisional é avaliada mediante testes psicológicos e


neuropsicológicos padronizados para melhorar a confiabilidade da
avaliação de capacidade decisional, como o MacCAT-T e o The Six
decisional Step Capacity Assessment Process.
3. Qual é o seu direito favorito?
• Autodeterminação: controle da própria vida (Martinis,
2018)
• As pessoas que têm autodeterminação são:
• Mais saudáveis.
• Melhor ajustadas.
• Mais aptas a reconhecer situações abusivas e resistir.
• Quando a autodeterminação é negada:
• As pessoas se sentem sem ajuda, sem esperança e
críticas de si mesmas.
• Vivenciam baixa autoestima, passividade e sentimentos
de inadequação e incompetência.
A curatela nunca deve
ser decretada se
• Apenas
• Porque você tem
___________________________________
__.
• Porque você tem _______________anos.
• Porque você precisa de ajuda.
• Porque é o que sempre foi feito nessas
situações.
• Para seu próprio bem.
• As pessoas curateladas podem vivenciar
impactos negativos significativos em sua
saúde mental e física, longevidade,
habilidades funcionais e bem-estar (Wright,
2010).
Pesquisas • Pessoas com deficiência que exercem maior
autodeterminação tem melhor qualidade de
vida, mais independência e maior integração
comunitária (Powers et al., 2012).
• Mulheres com deficiência intelectual que
exercem sua autodeterminação são menos
propensas ao abuso (Khemka; Hickson;
Reynolds, 2005).
3. Modelos de Tomada de Decisão
Apoiada
Tomada de
Decisão
Substituta

Tomada de
Decisão
Apoiada
Fundamentado no Artigo 12 da CDPD.
Abolição dos mecanismos de tomada
de decisão substituta – guardianship,
curatela e o deputy.
Curatela é supressão de direitos
humanos.
Não existe mais a declaração de
incapacidade jurídica.
São aplicados a qualquer pessoa cuja
capacidade decisional se encontra
questionada – não se destina apenas a
pessoas com deficiência.
Não Jurídicos – Ombudsman Pessoal
(Suécia); Diálogo Aberto (Finlândia);
Advocacy Independente (Escócia); Apoio
4. Tomada de de Pares (EUA); Ciclos de Suporte (RU).
Jurídicos – Designação Permanente;
Decisão Acordos de Tomada de Decisão Apoiada;
Diretivas Antecipadas de Vontade e

Apoiada Preferências.
Leis mais avançadas da atualidade – Lei
da Irlanda (2015); Lei da Áustria (2018);
Lei do Texas (2015) e Lei do Delaware
(2016).
Tomada de Decisão Apoiada no Brasil
Há apenas a TDA jurídica – prevista no Código Civil
A pessoa apoiada elege pelo menos 2 (duas) pessoas de sua
confiança para prestar-lhe apoio na tomada de decisão.
Para formular o pedido de TDA - a pessoa e os apoiadores devem
apresentar termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido
e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de vigência do
acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa
que devem apoiar.
A decisão TODA terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições,
desde que esteja inserida nos limites do apoio acordado.
A TDA é a alternativa A TDA é uma meio de A TDA é flexível e

TDA

TDA
TDA

a ser adotada pelo ser apoiado e pode se ajustar às


Estado brasileiro à ajudado para tomar necessidades da
curatela. Impede a decisões. Parte do pessoa idosa. A TDA
supressão de pressuposto de que lhe confere mais
direitos humanos da todas as pessoas são autonomia.
pessoa idosa, apoiadas quando
preserva sua voz e
autoestima. decidem.
5. Considerações Finais

A pessoa idosa deve ter sua capacidade jurídica inquestionada e quando houver
inabilidade decisional – tem o direito de ser apoiada.
A habilidade da pessoa idosa para tomar decisão é presumida e a presença de déficit
cognitivo por si só não é razão para impedi-la de exercer seus direitos (Dementia
Australia, 2016).
Os apoios para que a pessoa idosa com Alzheimer tenha consciência do seu déficit
cognitivo são determinantes para suas habilidades de tomada de decisão. Os estudos
apontam que a capacidade para decidir pode se encontrar intacta em estágios iniciais
do Alzheimer (Santos et al, 2016).
Devemos valorizar as pessoas idosas com déficits cognitivos e demências; trata-las de
acordo com sua vontade e preferências e criar um ambiente social positivo.

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