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IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA - ALGUNS


ASPECTOS CLÍNICOS

BETIY JOSEPH

Este artigo está publicado em J. Sandler (ed.) Projection, ldentification,


Projective ldentification, Nova York: Intemational Universities Press,
1987.

O conceito de identificação projetiva foi introduzido no pensamento ana-


lítico em 1946 por Melanie Klein. Desde então ele tem sido bem recebido
e discutido; o termo tem sido objeto de controvérsias, seus elos com a
projeção assinalados, e assim por diante. Mas um aspecto parece sobres-
sair acima da linha de fogo: o seu considerável valor clínico. É sobre este
aspecto que me concentrarei especialmente hoje, principalmente em rela-
ção ao paciente predominantemente neurótico.
Melanie Klein deu-se conta da identificação projetiva quando ex-
plorava o que chamou de posição esquizo-paran6ide, isto é, urna constela-
ção de um tipo particular de relações de objeto, ansiedades e defesas con-
tra elas, típica do período inicial da vida do indivíduo e que em algumas
pessoa<; perturbadas persiste por toda a vida. Para ela, essa posição parti-
cular é dominada pela necessidade do bebê de afastar ansiedades e impul-
sos, através da cisão do objeto - originalmente a mãe - bem como do self,
da projeção dessas partes excindidas para dentro de um objeto, que é en-
tão sentido como - ou identificado como - essas partes excindidas, 0 que
colore a percepção que o bebê tem do objeto e sua subseqüente introJe-
ção.
Ela examinou os múltiplos objetivos dos diferentes tipos de ident~i-
caçao- proJetiva,
· · como por exemplo o de excindir e se livrar d e Partes in-
desejadas do self que causam ansiedade ou dor ; o de projetar O self 0:
partes do self para dentro de um objeto, para dominá-lo e controlá-lo '
.
assim, .
evitar .
qualquer sentrmento de separação· o d e penetrar nun1 obJeto
. ,
para apoderar-se e apropnar-se de suas capacidades ; o de .mva a·ir, a fínl_
de danificar ou destruir o objeto. Desse modo o bebê, ou o adulto que se

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gue utilizando int:nsamente _tai~ mec~ismos, pode evitar qualquer per-
cepção de separaçao.' de~nd:ncia, adnuração, ou suas concomitantes sen-
sações de perda, raiva, mveJa, etc. Mas isto levanta ansiedades de tipo
persecutório - cla~strofobia, pânico e afin~.
Poderíamos dizer que, do ponto de vista do indivíduo que usa inten-
samente estes mecanismos, a identificação projetiva é uma fantasia e, ain-
da assim, pode ter um efeito poderoso sobre o receptor. Nem sempre isso
ocorre e, quando se dá, nem sempre podemos dizer como o efeito é pro-
duzido, mas não podemos duvidar de sua importância. No entanto pode-
mos ver que o conceito de identificação projetiva, usado desse modo, está
mais relacionado ao objeto, é mais concreto e cobre mais aspectos do que
0 tenno projeção implica habitualmente, tendo assim aberto toda uma área

de compreensão analítica. Discutirei mais adiante esses vários aspectos,


tais como os vemos operar em nosso trabalho clínico. Aqui, quero apenas
enfatizar dois pontos: primeiro, o poder onipotente desses mecanismos e
fantasias; segundo, como, na medida que se originam numa constelação
particular, profundamente interligada, não podemos, em nosso pensa-
mento, isolar a identificação projetiva da onipotência, da cisão e das an-
siedades resultantes que a acompanham. Na verdade, veremos que são to-
das parte de um equilíbrio, rígida ou precariamente mantido pelo indiví-
duo, a seu próprio modo.
À medida que o indivíduo se desenvolve, seja através do desenvolvi-
mento normal ou do tratamento analítico, essas projeções diminuem, ele
se toma mais capaz de tolerar sua ambivalência, seu amor, seu ódio e sua
dependência dos objetos. Em outras palavras, ele se move em direção ao
que Melanie Klein descreveu como posição depressiva. Esse processo po-
de ser facilitado na infância se a criança tiver um ambiente que a ap6ie, se
ª mãe for capaz de tolerar e conter as projeções da criança e, intuitiva-
mente, compreender e tolerar seus sentimentos. Bion elaborou e ampliou
st
e e aspecto do trabalho de Melanie Klein, ao sugerir a importância da
mãe ser capaz de se r usada como um continente pelo bebê, ao ligar isso
O
com Processo de comunicação na infância e com o uso positivo _da con-
tratransferência em análise. Uma vez que a criança esteja melhor integra-
da e capacitada a reconhecer seus impulsos e sentimentos como send o
seus, haverá uma diminui ção da pressão para projetar, acompanhada _de
uni: maior preocupação com O objeto. Nas suas formas iniciais, ª ide~~ifi-
caçao Projetiva não tem consideração pelo objeto e, na verctade, frequen-
temente e1ª é anticons ideração, quando se destina
den · a domin · ar , indepen-
.
- temente do custo para O objeto. Conforme a criança se move em dire-
Çao à po siçao
· - depressiva este processo necessanamente
· se altera e ' embo-
ra
d0 Prov aveJmente a identificação projetiva nunca sep in teiram
' . · · · ente aban-.
Pa nacta el - ·
' ª nao mais envolve rá a completa exc1sao e- a recusa a. assum1r
.
rtes do seif, tornando-se e ntão menos absoluta, mais · tem porána e mais

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capaz de ser retomada pela personalidade do indivíduo e, assim, constituir
a base da empatia.
Neste artigo quero primeiramente considerar algumas implicações
adicionais do uso da identificação projetiva, e em seguida discutir e ilus-
trar diferentes aspectos deste processo, primeiramente em dois pacientes
mais ou menos fixados na posição esquizo-paranóide, e, em seguida, num
paciente começando a se mover em direção à posição depressiva.
Para começar, algumas das implicações clínicas e técnicas do uso ma-
ciço de identidade projetiva, tal como as encontramos em nosso trabalho.
Algumas vezes ela é usada tão maciçamente que temos a impressão de que
o paciente está, em fantasia, projetando todo o seu se/f para dentro de seu
objeto, podendo assim sentir-se preso numa armadilha ou claustrofóbico.
Trata-se, em todo caso, de wn modo muito poderoso e efetivo para livrar
o indivíduo do contato com sua própria mente; às vezes a mente pode es-
tar tão enfraquecida ou fragmentada por processos de cisão, ou tão eva-
cuada por identificação projetiva, que o indivíduo parece vazio ou quase-
psicótico. Mostrarei isso através de C, o caso de uma criança. Este fenó-
meno também tem importantes implicações técnicas - por exemplo, tendo
em mente que a identificação projetiva é apenas um aspecto do equilíbrio
onipotente estabelecido por cada indivíduo a seu próprio modo, qualquer
tentativa interpretativa, por parte do analista, de localizar e devolver ao
paciente partes perdidas do se/f deve necessariamente encontrar resistên-
cia de toda a personalidade, uma vez que é sentida como uma ameaça ao
equilíbrio global e como geradora de mais perturbação. Discutirei esta
questão no caso T. A identificação projetiva não pode ser vista isolada-
mente.
Uma implicação clínica adicional na qual eu gostaria de tocar refere-
se à comunicação. Bion demonstrou como a identificação projetiva pode
ser utilizada pelo indivíduo como um método de comunicação. O indiví-
duo coloca, por assim dizer, partes indigestas de sua experiência e de seu
mundo interno para dentro do objeto - originalmente a mãe, agora o ana-
lista -, como forma de torná-las compreensíveis e de retomarem numa
forma mais fácil de lidar. Mas poderíamos acrescentar a isso que a identi-
ficação projetiva é, por sua própria natureza, uma forma de comunicação,
mesmo nos casos em que não é este seu objeto ou sua intenção. Por defi-
nição, identificação projetiva significa colocar partes do se/f para dentro
de um objeto. Se o analista, no p6lo receptor, está realmente aberto para 0
que está ocorrendo e é capaz de aperceber-se do que está vivenciando,
este pode ser um método poderoso de obter compreensão. Na verdade,
grande parte de nossa apreciação atual da riqueza da noção de contra-
transferência vem daí. Tentarei, mais adiante, indicar alguns dos prob~e-
mas, em termos de acting-in, que surgem deste processo, e o farei na dis-
cussão do terceiro caso, N.

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Quero ago~ dar _um b~v~ exemp_lo de um caso para ilustrar a con-
cretude da identJficaça? proJellva na situação analítica, sua eficácia como
método de livrar a cnança de toda uma área de experiência e, assim,
manter algum tipo de equilíbrio, e ainda o efeito de tais mecanismos pro-
jetivos maciços sobre seu e~tado menta.I. Trata-se de uma menininha de 4
anos, em tratamento analfüco com a Sra. Elizabeth Rocha Barros, que
discutia o caso comigo. A criança havia começado o tratamento muito re-
centemente - uma criança profundamente perturbada e negligenciada que
chamarei de C.
Alguns minutos antes do ténnino de uma sessão de sexta-feira, C.
disse que ia fazer uma vela. A analista explicou-lhe seu desejo de levar
consigo naquele dia, ao final da sessão, uma Sra. Barros calorosa, e seu
medo de que não houvesse tempo suficiente, uma vez que havia somente
mais três minutos. C começou a gritar, dizendo que ela teria algumas ve-
las de reserva; pôs-se então a olhar pela janela, com urna expressão vaga e
perdida. A analista interpretou que a criança precisava fazer a analista
perceber como era horrível tenninar a sessão, bem como expressar um de-
sejo de levar para casa algum calor das palavras da analista para o fim de
semana. A criança gritou: "Filha da puta! Tire a sua roupa e pule fora."
Novamente a analista tentou interpretar os sentimentos de C de ser aban-
donada e deixada no frio. C respondeu: "Pare de falar, tire suas roupas.
Você está com frio. Eu não estou com frio ." O sentimento da sessão era
extremamente comovente. As palavras aqui carregam o sentido concreto,
para a criança, da separação do final de semana - o honível frio . É isto
que ela tenta forçar para dentro da analista, e sente que o faz concreta-
mente : "Você está com frio, eu não estou com frio."
Os momentos em que C parecia completamente perdida e vazia, como
ne5te fragmento de sessão, eram muito freqüentes e, eu penso, indicavam
não apenas sua grave perda de contato com a realidade, mas o vazio e a
apatia de sua mente e de sua personalidade quando a identificação proje-
tiva operava tão poderosamente. Penso que grande parte de seus gritos
também tem a nature za de um esvaziamento. A eficácia deste esvazia-
;iem~ é impressionante, uma vez que toda a experiência de perda e _suas
llloçoes concomitantes são extirpadas. Podemos ver novamente aqm co-
rno O termo "ide ntifi cação projetiva" descreve de forma mais viva e plena
os_ processos e nvolvidos do que os termos mais gerais e freqüentemente
UtíJ1zado s, tats
· como "reversão" ou, como eu disse,• .. proJeçao
· - "•
Ne ste exemplo então o equilíbrio da criança é mantido prepo nde-
ranteme ' '
dar um nte através da projeção para fora de partes _do self Quero ª":'ºra
º
Vári exemplo de um tipo de caso que nos é fanuhar, a fim de exanunar
tar os tipos d e I·d ent1ficaç
· - proJet1va
ao . • operand o em conJ·unto para susten-
. .
é ~ equilíbrio particular narcis ista e onipo_tente. E~te _tipo ~e equilfbn_~
mente estruturado , extremamente difícil de ser mfluenciado anahtJ

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camente e produz impressionantes ansiedades persecutórias; também le-
vanta algumas questões sobre diferentes processos identificatórios e pro-
blemas referentes ao próprio termo "identificação projetiva".
Um jovem professor, a quem chamarei de T, veio para análise por di-
ficuldades nos relacionamentos, mas na verdade com a esperança de tro-
car de profissão e tomar-se analista. Seu material cotidiano consistia em
grande parte da descrição de trabalhos que ele fazia para auxiliar seus
alunos, de como seus colegas haviam apreciado' seu trabalho e lhe pediam
para discutir seus próprios trabalhos com ele, e assim por diante. Pouca
coisa além disso surgia nas sessões. Ele freqüentemente descrevia como
um ou outro de seus colegas se sentia ameaçado por ele - ameaçados no
sentido de se sentirem minimizados ou colocados numa posição inferior,
devido à sua maior capacidade de insight e compreensão. Ele ficava, en-
tão, inconformado de que eles se sentissem hostis em relação a ele qual-
quer que fosse o momento. (Qualquer idéia de que sua personalidade po-
deria, de fato, afastar-as pessoas não entrava em sua cabeça.) Não foi di-
fícil mostrar-lhe certas idéias sobre mim - por exemplo, de que nos mo-
mentos em que eu não parecia estar encorajando-o a abandonar sua carrei-
ra e candidatar-se à formação analítica, ele sentia que eu, sendo velha,
sentia-me ameaçada por este jovem inteligente que vinha despontando e,
portanto, não iria querê-lo em minha área profissional.
É claro que simplesmente sugerir ou interpretar que T estava proje-
tando sua inveja para dentro de seus objetos, e que então sentia os identi-
ficados com esta parte sua, poderia ser teoricamente exato, mas clinica-
mente impróprio e inútil; na verdade, esta interpretação seria simples-
mente absorvida em seu arsenal psicanalítico. Podemos ver que a identifi-
cação projetiva das partes invejosas dose/fera, por assim dizer, apenas o
resultado final de um aspecto de um equilíbrio altamente complexo manti-
do por ele. Para esclarecer alguma coisa da natureza deste equilíbrio, é
importante ver como T relacionava-se comigo na transferência. Em geral,
ele falava de mim como uma analista muito boa, e eu era, deste modo
adulada. Na verdade, ele não podia receber interpretações em seu signifi-
cado pleno - ele parecia não escutar de modo apropriado. Assim, por
exemplo, ele ouvia as palavras de modo parcial e então as reinterpretava
inconscientemente, de acordo com algum conhecimento anterior da teoria
psicanalítica, para em seguida dar a si mesmo estas interpretações com
este sentido ligeiramente alterado e generalizado. Freqüentemente, quando
eu interpretava de modo mais firme, ele respondia de modo muito rápido e
argumentativo, como se tivese ocorrido uma pequena explosão que pare-
cia destinar-se não somente a expelir de sua mente o que eu poderia vir a
dizer, mas a entrar em minha mente e romper meu pensamento naq uele
momento.
Neste exemplo temos a identificação projetiva operando com várias

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. ações
010UV diferentes e conduzindo _ a diferentes processos identificatórios
5 todos visando a manutençao de seu equilíbrio narcfsico onipotente.
;=eiramente vemos a cisão de seus objetos - eu sou adulada e mantida
sua mente de forma idealizada; em tais momentos, meu aspecto mau e
em . dºd . d
• i1til está bastante excm 1 o, am a que eu não pareça estar conseguindo
:uita coisa com ele; mas este último fato tem que ser negado. Ele projeta
parte de si mesmo para dentro da minha mente e se apossa dela - ele "sa-
be" 0 que eu vou dizer e o diz ele mesmo. Neste momento, uma parte do
se/f está identificada com um aspecto meu idealizado, que fala e interpreta
para uma parte paciente idealizada dele - idealizada porque escuta a sua
parte analista. Podemos ver o que este movimento alcança em termos do
seu equilíbrio: elimina qualquer relação real entre o paciente e eu mesma,
entre analista e paciente - assim como mãe e filho - como um par nutri-
dor; impede qualquer existência separada, qualquer relacionamento comi-
go como sendo eu mesma, qualquer relação em que ele receba diretamente
de mim. De fato T foi, no começo de sua vida, levemente anorético. Se eu
consigo por um momento, penetrar através deste movimento, T explode,
de modo que seu sistema digestivo mental fica fragmentado. Através des-
sa explosão verbal, como eu disse, T inconscientemente tenta entrar em
minha mente e romper meu pensamento, minha capacidade de alimentá-lo.
É importante aqui distinguir, como sempre quando se trata de identifica-
ção projetiva, entre este tipo de penetração que envolve invasão e frag-
mentação inconscientes, e um ataque agressivo consciente. O que estou
e_:Caminando aqui é como estes pacientes, usando a identificação projetiva
tão onipotentemente, evitam, de fato , quaisquer sentimentos tais como de-
pendência, inveja, ciúmes, etc .
. Assim que T, em fantasia entrou em minha mente e tomou posse de
IIUnh · '
" as mterpretações e de meu papel naquele momento, percebo que ele
acrescentou" " lh . . . -
t , me orou" , " ennqueceu" minhas mterpretaçoes, e eu me
~mo ª espectadora que deveria perceber que as minhas interpretações de
e guns momentos atrás não foram tão ricas quanto as suas são agora - e
s::Urtamente _de~eria me sentir ameaçada por este jovem em minha sala! As-
me ' os doi~ tipos de ide ntific ação projetiva estão operando harmonica-
Pro·nte _- a mvasao - de minha mente e usurpação de seus conte úd os e a
1eçao da Part d d . .
Para d e o self potencialme nte dependente, ameaça a e mveJosa
entro de • .
está
ocorre d
mun. Isso está cla rame nte refletido no que ouvimos que
sente ° n em seu mundo externo - os colegas que pedem ajuda e se
hosti:::i ameaçad os po r seu brilho - enquanto e le se sente perseguido pela
eficie ade pote ncial dos c o legas. E nquanto o equilíbrio se mantém tão
ntemente - { · ·
Portantes ' nao p ode mos ve r que aspectos mais sutis, sen s veis e 1m-
tudo O de_sua person a lidade são mantidos exci ndidos, o u pqr que, com
1st
relação que o pode imp li car . (Podemos ver que fi ca impedida qualquer
com um 0 b .
Jeto verdade ira me nte separado .)

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Uma grande dificuJdadc 6, naturalmente, a de que-todo insight tende
a aer absorvido para dentro desse processo. Para dar um pequeno exem-
plo: numa segunda-feira, T pareceu realrnenwá ar-se conta de como, exa-
tamente, ele retirara sutilmente o significado do que eu dizia, não penni-
tindo, desse modo, que uma compree~o real se desenvolvesse. Por um
momento ele se sentiu aliviado e, então emergiu à consci!ncia um rápido
e profundo sentimento de ódio por mim. Um segundo depois, acrescentou
calmamente que estava pensando cm como o modo com que acabara de se
sentir cm relação a mim, isto 6, o 6dio, devia ter sido como seus colegas
sentiram-se em relação a ele no dia anterior, quando ele estivera falando e
explicando coisas para eles! Assim, no momento imediato em que T tem
uma experi!ocia genuína de 6dio por mim, por eu ter dito algo 11t.il, ele
usa o percepção momentinea para falar sobre os colegas - distanciando-se
assim da inveja e da hostilidade emergentes -, e o contato reccptivo direto
entre nós dois f novamente perdido. O que parece um insight não 6 mais
in.sight, mas tomou-se uma complexa manobra projetiva.
Num perlodo em que estes problemas estavam bem na linha de frente da
análise, T trouxe um sonho justo no final de wna sessão. O sonho era sim-
plesmente cate: Testava com a analista ou com uma muJher, J, ou podiam
ter sido as duas; ele catava excitadamente colocando sua mão por dentto
da calcinha dela, na direção de sua vagina, e pensava que se conseguisse
entrar bem 14 dentro, nada iria dcte.-lo. Aqui eu penso que, sob a pressão
do trabalho analítico cm curso, a grande necessidade e a grande excitação
de eram de penetrar totalmente no objeto, com todas as implicações disto ,
incluindo, naturalmente, o aniquilamento da situação analítica.
Voltando ao conceito de identificação projetiva . Com este paciente,
indiquei tr!s ou quatro diferentes aspectos: o ataque à mente do analista ;
wna esp6cie de invasão total, como no fragmento de sonho que acabei de
relatar; uma invasão mais parcial e a usurpação de aspectos ou capacida-
des do analista; e, finalmente, o depósito de partes do se/f, particuler-
mente partes inferiores, dentro do analista. Os dois dltimos aspcctos são
mutuamente dependentes, mas levam a diferentes tipos de identificação.
Numa delas o paciente, ao se apossar, fica identificado com as capacida-
des idealizadas do analista; na outra, 6 o analista que se torna identificado
com as partes perdidas, projetadas - aqui vividas como inferiores ou in-
vejosas - do paciente. Penso que 6 em parte porque é amplo e cobre mu i-
tos aspectos que tem havido algwna apreensão em relação ao tenno identi-
ficação projetiva
Considerei at6 aqui a identificação projetiva em dois casos presos na
posição esquizo-paran6idc - uma criança fronteiriça (borderline) e um
homem num rígido estado onipotentc narcfsico. Quero agora considerar
aspectos da identificação projetiva tal como a encontramos num paciente
que caminhava em direção à posição depressiva. Ilustrarei alguns aspec tos

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partir do caso de um homem, à medida que ele ia se tomando menos rf'-
ª·do mais integrado, mais capaz de tolerar o que anteriormente era pro-
~o mas que constantemente também retrocedia, retomando ao uso dos
anismos projetivos anteriores. Em seguida, quero mostrar o efeito
; : :0 sobre as ident~cações . subseqüentes e o esclarecimento que lança
sobre as identificaçoes antenores. Quero também tentar estabelecer um
elo entre a natureza do uso residual, pelo paciente, de identificação proje-
tiva, e sua contrapartida na tenra infância, e a relação disto com a forma-
ção da fobia. Trago este material para também discutir brevemente a natu-
reza comunicativa da identificação projetiva.
Começando com este liltimo ponto. Como disse antes, uma vez que a
identificação projetiva, por sua própria natureza, significa colocar partes
do self dentro do objeto, estamos na transferência necessariamente no
pólo receptor das projeções e, portanto, desde que possamos sintonizar
com elas, temos uma oportunidade par excel/ence de compreendê-las e
compreender o que está ocorrendo. Neste sentido, a identificação projeti-
va age como uma comunicação, qualquer que seja a sua motivação, e é a
base para o uso positivo da contratransferência. Como quero descrever
com este paciente, N, é muitas vezes difícil esclarecer se, num dado mo-
mento, a identificação projetiva está primordialmente dirigida a comunicar
wn estado mental que não pode ser veroalizado pelo paciente ou se está
dirigida primordialmente a entrar e controlar ou atacar o analista, ou ainda
se todos estes elementos estão ativos e precisam ser considerados.
Um paciente, N, que estava em análise há muitos anos, tinha se casa-
do 1:_Centemente e, após algumas semanas, começou a ficar ansioso em
:laçao ao seu interesse sexual e sua potência, principalmente em vista do
ato de s_u a mulher ser consideravelmente mais jovem. Ele veio numa se-
gunda-feua
be " . diz en d o que sent:J.a
· que "a coisa'
· • nunca ma · · re almente fi car
ai m, ª coisa sexual" , sim, eles de fato fizeram sexo no domingo, mas de
01~ modo ele teve que se forçar e sabia que não estava tudo bem, e sua
ludo er percebeu isso e comentou . Foi um fim de semana do tipo em que
cont se Passa bem, nada de e spec ial. Falou um pouco mais sobre isso e
(!Ue ou que eles foram para um lugar fora de Londres , para uma festa, e
Pretendiam pas . . - .
encontr sar a noite num hotel próximo, mas nao consegmram
ra cas ar nenhum lugar su ficie ntemente agradável e por isso voltaram pa-
a tarde o •
lencioso tri · que me estava sendo transmitido era um desconforto s1-
va lran ' . . ste, que leva va ao desespero, e eu mostrei a N como e le esta-
duram sm1tindo u ma desesperança e um desespero terríveis . .
e que Já per-
resPonJ:r um longo tempo, se m ne nhuma esperança para o futuro. Ele
este sent~ que supunha que estava se sentindo deixado de fora, e ligou
sessão balffiento com o que havia se ntid o na sessão de sexta-fei ra, uma
e0 stante ·
1l'lentou viva na qual e le se se ntiu ajud ado , mas agora, como ele
'estava u . . .
m ta nto morto e insípido . Q uando te ntei examm ar isso

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com ele, ele conco.rdou , comentando que supunha estar começando a ata-
car a análise, etc.
O sentimento agora na sessão era tenível. N dizia coisas que faziam
um certo sentido e ele próprio falava coisas analíticas que poderiam estar
cenas, por exemplo sobre a sexta-feira, e que se poderia levar em consi-
deração. Mas, uma vez que elas llle pareciam insípidas e indteis, o que ele
me parecia estar fazendo era colocar desespero denb'O de mim, não apenas
em relação à realidade do seu casamento e de sua potencia, mas tam~m
em relação à sua análise, como estava indicado, por exemplo, pelo indtil -
e agora de al gum modo irrelevante - comenwío sobre estar sendo deixa-
do de fora. N negou núnha interpretação sobre seu desespero em relação
ao progresso da análise, mas o fez de tal forma que parecia estar me enco-
rajando a fazer falsas interpretações e considerar suas pseudo-interpreta-
ções como se eu acreditasse nelas, enquanto sabia que nós e estas inter-
pretações não estavam chegando a lugar algum. Ele falou vagamente so-
bre isto, ficou quieto e depois disse: "Eu estava ouvindo a sua voz, o tim-
bre se transfonna em diferentes vozes. W (sua esposa), sendo mais jovem,
produz mais vibrações por segundo, vozes mais velhas são mais profundas
porque produzem menos vibrações por segundo, etc." Mostrei a N seu
grande medo de que eu mostrasse com minha voz, mais do que através de
minhas palavras, que eu não podia suportar o tamanho de sua desesperan-
ça e de suas dúvidas sobre mim, sobre o que poderíamos conseguir na
análise e, portanto, em sua vida, e que eu fosse trapacear e, de algum mo-
do, fazer tentativas de encorajá-lo. Questionei se ele talvez teria sentido
que, nesta sessão, minha voz havia mudado de forma a soar mais encora-
jadora e encorajada, ao invés de conter o desespero que ele estava expres-
sando. A esta alrura da sessão meu paciente tinha entrado em contal o e
disse, com algum alívio, que, se eu fizesse esse tipo de encoraJanienlo.
toda a base da análise cairia por terra.
Primeiramente a natureza da comunicaçflo , que eu pude compreender
primordialmente atravts da minha controtransferência, através do modo
pelo qual eu estava sendo levada e pressionada a sentir e reagir. Vemos
aqui a qualidade concreta da identificação projeti va es1J1.lturando a cclll·
tratransferência. Parece que a maneira como N estava fa lando não era :1 de
pedir-me que eu tentasse compreender suas dificuldades sex uais ou a , ua
infelicidade, mas de invadir-me com desespero, e nquanto ao mesmo tem-
po tentava forçar-me, inconscientemente, a me reassegurar de que estava
tudo bem, de que as interpretações, agora vazias de sen tido e ocas, eram
significativas, e de que a análise, neste momento, estava prosseguind o sa-
tisfatoriamente. Assim, não era somente desespero que N proJeta va para
dentro de mim, mas suas defesas contra e le - um falso reasseguramento e
uma negação, que N pretendia que eu atuasse com ele . Penso que 1stn
também sugere a identificação projeti va de uma figura interna, provavcl-

- 154-
mente a mãe, _que era sentida ~o~o fraca, bondosa, mas incapaz de fazer
face às emoçoes. Na transferencia (para supersirnplificar o quadro) esta
figura é projetada para dentro de mim, e eu me vejo pressionada a atuá-la.
Temos aqui uma questão importante a desenredar, qual seja, a da mo-
tivação para esta identificação projetiva: visava ela primordialmente co-
municar algo para mim? Havia aí um nível profundo de desespero que não ;
havíamos compreendido suficientemente antes? Ou foi a pressão do de-
sespero para dentro de mim motivada por algo diferente? Nesse estágio,
ao final da sessão, eu não sabia e deixei esta questão em aberto.
Condensei tanto aqui o material que não posso transmitir adequada-
mente a atmosfera e as idas e vindas da sessão. Mas perto do final , como
tentei mostrar, meu paciente vivenciou e expressou alívio e apreciação
pelo que havia ocorrido. Houve uma mudança de humor e de comporta-
mento, à medida que meu paciente começava a aceitar a compreensão e
fazer face à natureza de sua pressão para dentro de mim. Ele pôde então
vivenciar-me como um objeto que podia suportar sua atuação na transfe-
rência-acting in, não ser capturada por ela, mas contê-la. Pôde, assim,
identificar-se temporariamente com um objeto mais forte, e ele mesmo fi-
cou mais finne. Também percebi algum sentimento de preocupação a res-
peito do que estivera fazendo comigo e com meu trabalho; isto não foi
abertamente reconhecido e expresso, mas há algum movimento em direção
à posição depressiva, com a preocupação e a culpa genuínas característi-
cas desta posição.
Para esclarecer a motivação, bem como o efeito deste tipo de identifi-
cação projetiva sobre a identificação introjetiva subseqüente, temos que
entrar brevemente no começo da sessão seguinte, quanto N trouxe um_ so-
nho no qual ele estava num barco do tipo de uma balsa, num mar ~mza
esverdeado cercado de neblina . Ele não sabia para onde eStavam mdo.
Então, bem perto havia um outro barco que claramente estava submer-
nd
gindo na água e ' afundando. Ele subiu neste barco enquanto afu ªva.
Não se sentiu molhado ou com medo , o que era intrigante. Entre as suas
ass · - . . lh r muito genul e afetuosa,
ociaçoes, ouv imos a respeito .de sua mu er se do _ será que ela, atra-
rnas N acrecentou que ele própno estava preocupa nd
vés desta atitude não estaria na verdade fazendo maiores dema ª·s sobre
el ') ' d e rins havia feito uma
e . Ela, sabendo do seu gosto por tortaS
. e carne t estava' forte demais . ,
Para ele na noite anterior. Estava óuma, mas O gos 0
0 que ele disse para ela! . eu n-c sent·ira
p dia antenor,
enso que o interessante agora era que, no de está-
bas b atamente para on
lante à deriva, como hav ia dito, sem sa er ex - da desespe-
varn • d a compreensao
os mdo, embora estivesse segura e que - u·vesse pensa-
ranç ainda que nao
do d
ª e das defesas contra e la estava certa e, . d. · aria confor-
nebbna se iss1p
esta maneira, minha crença era de que a • ? Ele gratuita-
me prossegu íssemos. Mas o que meu paciente faz com isso .

- 155-
mente sai desse barco (dessa compreensão) para um outro que está afun-
dando, e ele não está com medo ! Em outras palavras, ele prefere afogar-se
no desespero a esclare~lo, prefere ver afeição como demanda, e minhas
decentes e bem-cozidas interpretações de carne e rins como saborosas
demais. Neste ponto, confonne trabalhávamos sobre isto, N pôde ver que
a idéia de afogar-se aqui lhe era, de fato, excitante.
Agora podemos entender mais a motivação. Fica claro que N não es-
tava apenas tentando comunicar e compreender algo do seu desespero, por
mais importante que seja este elemento, mas que ele trullMm estava ata-
cando a mim e ao nosso trabalho, ao tentar arrastar-me para baixo em de-
sespero quando na verdade havia progresso. Depois de uma sessão em
que expressou apreciação pelo meu trabalho e pela minha capacidade de
fazer frente a ele, N sonhou que estava deliberadamente subindo num bar-
co que naufragava, de forma que, internamente, ou eu me tomo cúmplice
e afundo com ele ou sou forçada a observá-lo afundar, minha esperança é
destruída e permaneço impotente para ajudar. Esta atividade leva também
a uma identificação introjetiva com um analista na função parental que é
sentido como deprimido, impotente e sem alegria, e esta identificação
contribui consideravelmente para sua falta de confiança sexual e de po-
tência. Em seguida a este período da análise, houve uma verdadeira me-
lhora do sintoma.
Naturalmente estas considerações nos levam a pensar sobre a nature-
za dos objetos internos do paciente, como por exemplo a mãe fraca que
descrevi como sendo projetada para dentro de mim na transferência.
Quanto esta figura está baseada na experiência real de N com sua mãe,
quanto ele explorou a fraqueza dela e assim contribuiu para construir em
seu mundo interno uma mãe fraca, inadequada e na defensiva, como vi-
mos na transferência? Em outras palavras, quando falamos de um objeto
projetado sobre o analista na transferência, estamos examinando um ob-
jeto interno que foi em parte estruturado a partir das primeiras identifica-
ções projetivas da criança, e podemos ver todo o processo sendo revivido
na transferência.
Quero agora afastar-me e considerar este material de um ângulo ligei-
ramente diferente, relacionado com a história e as ansiedades iniciais do
paciente. Mostrei como N retrocede e entra num objeto, no sonho o barco
naufragando, do mesmo modo que na primeira sessão ele entra em deses-
pero, que é então projetado para dentro de mim ao invés dele pensar sobre
isso. Creio que esta entrada no objeto, atuada na sessão, está ligada a um
tipo mais total de identificação projetiva que indiquei no sonho sexual de
T e ao qual me referi brevemente no início deste artigo, como estando li-
gado à formação de fobias. No pólo mais primitivo e extremo da identifi-
cação projetiva está a tentativa de voltar para dentro de um objeto, de se
tomar, por assim dizer, indiferenciado e de-mente, evitando, assim , toda a

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dor. A maior parte dos seres humanos desenvolve-se para além desse
ponto na tenra infância; alguns de nossos pacientes tentam usar a identifi-
cação projetiva desta forma por muitos anos. N, quando veio para a análi-
se, o fez porque tinha um fetiche, uma tremenda atração por se meter
dentro de um objeto de borracha que o cobriria totalmente, o absorviria e
excitaria. Em sua primeira inf"ancia ele tinha pesadelos de cair de um glo-
bo para dentro do espaço infinito. No período inicial da análise ele tinha
graves estados de pânico quando sozinho em casa, e ficava seriamente
perturbado ou perdia contato se tivesse que ficar fora de Londres, a negó-
cios. Ao mesmo tempo, há alguns pequenos indícios de ansiedades de ser
aprisionado numa armadilha e sentir-se claustrofóbico, como por exemplo
à noite, quando ele tinha que manter frouxos os cobertores ou mesmo jo-
gá-los completamente fora da cama; nas relações sexuais, emergiam fanta-
sias de seu pênis ser cortado e perdido dentro do corpo da mulher. À me-
dida que a análise prosseguia, as atividades fetichistas desapareceram, os
relacionamentos reais melhoraram e a projeção do self para dentro do ob-
jeto pôde ser claramente vista na transferência. Ele ficava absorto em suas
próprias palavras ou idéias, ou com o som das minhas palavras e da minha
fala, e o significado tomava-se sem importância em comparação com a
natureza concreta da experiência. Este tipo de absorção para dentro de
palavras ou sons enquanto o analista, como pessoa, é quase totalmente
desconsiderado, não é diferente do tipo de processo que algumas vezes
vemos em pacientes crianças que entram no consultório, vão para o divã e
adormecem tão profundamente que não podem ser acordados com inter-
pretações. É interessante, portanto, ver, no caso de N , como ele sempre
procurou entrar concretamente num objeto, ao que tudo indica em grande
pane para escapar de estar fora, para ficar absorto e livre de relacion:ir-se ,
de pensar e de experimentar dor mental. E, contudo, sabemos que isso é
apenas parte da história, uma vez que o objeto no qual _ele preferente-
mente entrava era um fetiche altamente sexualizado. E, ainda, no sonho
atual de entrar no barco naufragando, havia uma excitação masoquista na
qual ele tentava me envolver e, neste sentido, é necessário compará-lo
0
a T . Descrevi como conforme suas constantes invasões e ataques com
objetivo de dominar' estavam sendo analisados, pudemos ver no sonho se-
xual de T uma tentativa de e ntrar completamente em mim com muita exc ita-
ção. Suspeito que ainda haja muito para ser desvendado sobre ª. rel~ção
entre certos tipos de identificação projetiva maciça do se/Je erou_zaça~.
Quero agora voltar ao material que mencionei e à questao da 1denu~ -
cação projetiva em pacientes que estão se tomando mais integrados e mais
próximos à posição depressiva. Podemos ver no cas? de N, diferent~-
:ente de T - que ainda está apri sionado em sua própna _eStrutura narcf~i-
on1potente - , que há agora um movimento, na transferenc1a, em drreçao
a relações de objeto total mais genuínas. Às vezes ele pode realmente

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apreciar as grandes qualidades continentes de seu objetivo. É verdade que
ele então tenta me envolver e me arrastar para baixo novamente, mas ago-
ra há um conflito potencial a este respeito. O objeto pode ser valorizado e
amado, às vezes ele pode conscientemente experimentar hostilidade em
relação a isso, e a ambivalência está presente. À medida que seu amor é
liberado, ele é capaz de introjetar e identificar-se com um objeto total va-
lorizado e potente, e o efeito sobre seu caráter e sua potência é surpreen-
dente. Esta identificação é de uma qualidade muito diferente daquela ba-
seada em forçar partes desesperadas do self para dentro de um objeto que
então, em sua fantasia, toma-se como uma parte desesperada de si mesmo.
É muito diferente do tipo de identificação que vimos em T, em que o pa-
ciente invadia a minha mente e se apossava dos aspectos cindidos e idea-
lizados, deixando o objeto, eu mesma, despojada e inferiorizada. N, no
exemplo que acabei de dar, pôde me experimentar e valorizar como uma
pessoa inteira, diferente e propriamente separada, com minhas próprias
qualidades, e estas ele pôde introjetar e, assim, sentir-se fortalecido. Mas
ainda temos uma tarefa pela frente: habilitar N a ficar realmente fora do
objeto, permanecer seguro e consciente do significado da análise para ele
e capaz de abrir mão dela.

Resumo

Tentei, neste artigo, examinar a identificação projetiva tal como a vemos


operar em nosso trabalho clínico. Descrevi vários tipos de identificação
projetiva, desde o mais primitivo e maciço até o mais empático e maduro.
Discuti como vemos alterações em sua manifestação à medida que ocorre
progresso no tratamento e o paciente caminha em direção à posição de-
pressiva, está melhor integrado e é mais capaz de usar seus objetos de
forma menos onipotente, de relacionar-se com eles como objetos separa-
dos e introjetá-Ios, juntamente com as suas qualidades, de forma mais ple-
na e realística, e assim capaz também de separar-se deles.

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