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Grupo de Estudos Psicanálise do Acolhimento – Winnicott

Coordenadora Andréa Oliveira

Do Desamparo à Compulsão: Trajetórias do Vazio Emocional na Psicanálise


do Acolhimento sob o olhar de Winnicott.

Este texto combina a discussão sobre comportamentos excessivos e amor


próprio com a teoria de Winnicott e a importância da análise psicanalítica,
criando um panorama abrangente sobre o tema.

Envolvendo-se em comportamentos excessivos, as pessoas muitas vezes


estão inconscientemente tentando lidar com sensações de desamparo e
abandono.

Estas ações, embora proporcionem um prazer momentâneo, são danosas e


não tratam ou preenchem o vazio emocional subjacente. Contudo, uma
abordagem mais construtiva e saudável para esse vazio é através do amor
próprio e da autovalorização.

“Qualquer tentativa de elaboração que possa levar o sujeito a uma adequação


alimentar precisa ser via ego, via “estar sendo”. Então, nós precisamos
acolher esta compulsão para que a gente possa respeitá-la e se
responsabilizar por isso. A responsabilização não é um controle, é um
desdobramento do respeito”. (Prof. Renato Dias Martino 22/12/2023-pensar-
seasi-mesmo.blogspot.com).

“Quando o paciente chega se queixando de compulsão alimentar, a última


coisa que eu vou tentar tratar com ele é a compulsão alimentar. Vamos tentar
acolher o que está por trás disso, que com certeza é uma grande insegurança,
que é uma grande ansiedade, uma grande angústia, uma dificuldade de
acreditar em si mesmo, um sentimento de solidão, uma série de outras
questões que estão desdobrando numa compulsão alimentar.”

O amor próprio é um processo de autoacolhimento e de diálogo interno em


momentos de angústia. É tolerar a agonia do vazio e, para isso ser possível,
o sujeito necessitará de um vínculo nutridor, sendo amado e acolhido. Aqui
ele tem a possibilidade de vivenciar inúmeras vezes o reconforto emocional
com o analista, reconhecendo e responsabilizando-se por sua dor. E, em
doses homeopáticas, na integração do Eu (Self Verdadeiro), o sujeito poderá,
na ausência do analista (fora do setting), dizer a si mesmo em momentos
difíceis: 'Calma, isso vai passar. Você não está desamparado. Pode chorar,
eu estou aqui com você, eu te amo.' Esse processo de reconhecimento e
responsabilização pela própria história e dor é fundamental no
desenvolvimento de um relacionamento saudável e positivo consigo mesmo."

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A teoria de Winnicott sobre 'o medo do colapso' complementa essa discussão,


enfatizando a importância de enfrentar e tolerar o vazio e a angústia sem
recorrer a comportamentos autodestrutivos. Segundo Winnicott, este
enfrentamento é crucial para o desenvolvimento pessoal e para evitar um
colapso emocional. Ao aprender a tolerar o vazio e a angústia, nutrimos o
amor próprio e a capacidade de lidar com desafios futuros de maneira
saudável.

Além disso, no contexto da análise psicanalítica, o indivíduo que busca ajuda


terapêutica pode estabelecer um vínculo saudável com o analista, cujo ego
pode oferecer suporte ao ego do paciente.

Nesse espaço terapêutico, o analista facilita a tolerância das partes não


integradas da personalidade do paciente, fornecendo suporte e acolhimento
no ritmo necessário para o indivíduo. Essa abordagem 'a conta gotas',
respeitando o tempo e o processo do paciente, possibilita a integração do Self
verdadeiro.

O analista, ao oferecer um ambiente de aceitação e compreensão,


permite que o paciente explore e integre aspectos de s i mesmo que até
então permaneciam não reconhecidos ou fragmentados. Esse processo é
vital para o desenvolvimento de uma identidade mais coesa e para o
fortalecimento da capacidade de lidar com as complexidades emocionais
da vida e ter a possibilidade de “estar sendo” e não “estar fazendo”.

“Agora, o vazio é um pré-requisito para o desejo de receber algo dentro


de si. O vazio primário significa simplesmente: antes de começar a se
encher. Uma considerável maturidade é necessária para que este estágio
possa ter significado. __ O vazio que ocorre num tratamento é um estado
que o paciente está tentando experienciar, um estado passado que não
pode ser lembrado, exceto por ser experienciado pela primeira vez agora.
Na prática, a dificuldade é que o paciente teme o horror do vazio e, como
defesa, organizará um vazio controlado, não comendo ou não
aprendendo, ou então, impiedosamente o encherá por uma voracidade
que é compulsiva e parece louca. Quando o paciente pode chegar ao
próprio vazio e tolerar esse estado por causa da dependência- 76 D. W.
Winnicott - no ego auxiliar do analista, então receber em si pode começar
a ser uma função prazerosa; pode aqui iniciar-se um comer que não é
uma função dissociada (ou excedida)* como parte da personalidade; é
também desta maneira que alguns de nossos pacientes que não
conseguem aprender, podem começar a aprender com prazer. A base de

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toda aprendizagem (assim como do comer) é o vazio. Mas se o vazio não


é experienciado como tal, desde o começo, ele aparece então como um
estado que é temido, mas, contudo, compulsivamente
buscado.Referência Bibliográfica : O Medo do Colapso (Breakdoivn)
Redigido em 1963- Capítulo 8 – livro : Explorações psicanalíticas.

Em suma, a jornada do desenvolvimento emocional, desde as


experiências iniciais de desamparo na infância até as manifestações de
comportamentos excessivos na idade adulta, reflete profundamente as
nuances da natureza humana conforme explorado pela psicaná lise. A
negligência emocional precoce, muitas vezes simbolizada pela ausência
de atenção materna adequada, pode semear as sementes de um vazio
emocional profundo. Este vazio, não preenchido, pode se manifestar mais
tarde na vida como uma série de comportamentos compulsivos e
autodestrutivos, numa tentativa de encontrar um substituto para o afeto
e segurança ausentes.

Entretanto, a teoria de Winnicott sobre o 'medo do colapso' e a


importância de enfrentar o vazio interior apontam para a possibilidade de
cura e integração do Self verdadeiro através do amor-próprio e do
autocuidado. No processo terapêutico, especialmente na análise
psicanalítica, a relação entre analista e paciente pode proporcionar o
suporte necessário para que o indivíduo explore e integre essas partes
fragmentadas, permitindo uma transformação profunda e duradoura.

Assim, reconhecemos que, embora as feridas da infância possam deixar


marcas profundas, a jornada da análise pessoal em direção ao amor-
próprio e à auto aceitação é uma porta aberta para a reparação e o
crescimento pessoal.

Essa conclusão busca encapsular os temas abordados, destacando a


interconexão entre as experiências da infância e as consequências na vida
adulta, enquanto oferece uma visão esperançosa sobre a capacidade de
cura e crescimento pessoal.

Andréa Oliveira - Psicóloga e Psicanalista

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