Ferenczi entende a prática psicanalítica como um processo muito importante elaborado
por Freud, contudo propõe algumas ressalvas quanto ao método propriamente dito. Apesar da prática ser muito bem elaborada e apresentar uma quantidade de conteúdo muito grande, perpassando por diversas situações possíveis, uma vez que ele fora elaborado a partir de experiências clínicas ao longo de muitos anos, ele não é completo, ainda possui algumas lacunas que devem ser completas. Ao entender o método como limitado de certa forma, especialmente na condução da análise de pacientes que não conseguem comunicar-se facilmente com o analista, não sendo capazes de elaborar a formação livre da maneira adequada. Para esse tipo de paciente, Ferenczi entende que seria necessário um exercício de “relaxamento e aclimatação ao ambiente” para que a análise possa prosseguir. Esse exercício é um dos pilares que sustentam o comportamento do analista, o qual não pode adquirir uma postura indiferente ao analisando, apenas ouvindo o que ele tem a dizer sem apresentar qualquer tipo de participação. Ferenczi entende que por meio de uma postura mais participativa no processo, o analista é capaz de fazer com que o paciente seja capaz de promover o processo da regressão de maneira mais eficiente e, portanto, relembrar a cena do trauma. A partir disso a análise caminha para a tentativa de superar esse mesmo trauma, atuando como se fosse uma virada de chave no processo. O paciente ao encontrar-se diante do analista por vezes apresenta muita dificuldade em relatar as experiências de sua vida, as quais serão necessárias para o entendimento dos traumas e consequentemente dos sintomas. Cabe ao analista, portanto, buscar deixar o paciente mais apto a se abrir, utilizando-se de mecanismos característicos de uma relação infantil, tal qual a espontaneidade, muito praticada pelos pacientes em diversos momentos e que a utilizam justamente por ainda apresentarem uma grande carga de trauma infantil que não foi relatado e entendido. Ao colocar-se em uma postura que de certa forma se aproxima do paciente, o analista é capaz de utilizar essa espontaneidade (muitas vezes utilizada como resistência ao tratamento pelo paciente) a seu favor. O principal mecanismo que impede a comunicação entre analista e paciente é justamente a censura da consciência deste, a qual não deseja reviver a cena traumática e, portanto, utiliza-se de inúmeros mecanismos de resistência para isso. A espontaneidade da comunicação, desejada por Ferenczi, é um meio pelo qual os traumas e desejos inconscientes superam, ainda que muito pontualmente, a censura consciente. Muitas vezes não é fácil superar os mecanismos de resistência, cabe ao analista suportar as diversas hostilidades e desvios praticados pelo paciente e buscar caminhos no momento da comunicação para que a espontaneidade seja reestabelecida e o processo volte a caminhar (uma das principais formas pela qual a defesa é estabelecida consiste na criação de fantasias pelo paciente, o qual elabora uma situação fictícia para encobrir a cena traumática). De acordo com as teorias de Freud, durante a primeira infância o trauma se estabelece a partir da relação de separação entre o bebê e a mãe promovedora de afeto e alimento. Inicialmente, o bebê não se entende como um ser separado da mãe, mas como um só, sendo parte componente dela, tal qual era durante a vida intrauterina, é com o “abandono” parental que ele passa a sentir a necessidade de estar sempre com a mãe, fato gerador do trauma de separação. O aparelho psíquico é então construído sobre esse processo traumático e, por isso, passa a tentar esconder esse fato angustiante da consciência, prendendo-o no inconsciente e utilizando-se de diversos mecanismos de defesa para segura-lo ali. Essas defesas, se superadas durante a vida cotidiana, podem acarretar em sintomas, contudo, no ambiente de análise, o analista consegue adentrar no inconsciente dos pacientes, burlando as defesas e censuras, e controlar a angústia gerada pelos desejos e traumas infantis. A angústia do retorno à cena traumática também acontece no ambiente de análise, porém, essa rememoração consciente, produtora de sofrimento, é necessária e essencial para que o trauma seja superado, processo que não é possível de acontecer por si só na vida cotidiana, sendo necessário o processo analítico para tal. É por isso que Ferenczi entende que o analista deve ser um profissional que acolhe aquele indivíduo que busca ajuda, tal qual uma “mãe carinhosa”, contudo, uma mãe carinhosa não necessariamente é aquela que apenas consola, pelo contrário, ela acolhe mas também corrige. O analista deve fazer o mesmo, acolher para deixar o paciente mais confortável no ambiente de análise, mas também promover o trabalho analítico visando a superação dos traumas geradores de sintoma e, por consequência, angústia.