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A CLÍNICA, A RELAÇÃO TERAPÊUTICA E O MANEJO NA GESTALT-TERAPIA

Anne Beatriz Davi Pimentel

Universidade da Amazônia (UNAMA), discente.

Dorivaldo Pantoja Borges Junior

Universidade da Amazônia (UNAMA), discente.

Jéssica Santos da Silva

Universidade da Amazônia (UNAMA), discente.

Ana Tereza Frade Araújo

Universidade da Amazônia (UNAMA), docente.

Introdução:a psicoterapia, fundamental para o autoconhecimento e o crescimento pessoal,


defronta-se com os mais diversos aspectos da natureza humana, que se manifestam de múltiplas
formas. Esta multiplicidade torna fundamental basear-se em um método de intervenção para
melhor proceder o processo terapêutico. A Gestalt-terapia (daqui em diante, mencionada como
GT) não foge desse padrão, mas se diferencia das demais abordagens ao basear seu manejo
clínico na vivência das experiências, sejam elas internas ou externas, do sujeito e no contato da
relação terapeuta-cliente. Sendo uma abordagem de matriz existencial-fenomenológica, a
Gestalt-terapia trabalha com a realidade da forma como ela se apresenta para o cliente naquele
momento, a experiência do aqui e agora, ou seja, mesmo quando o cliente narra alguma vivência
passada, o que será analisado consistirá na forma que tal relato é expresso, quais palavras
escolhidas, qual o tom usado, expressões faciais e corporais, afeto, etc. O fenômeno expresso
serve então como ponto de partida para caminhar em direção a integração e, assim, possibilitar
que o sujeito atribua novos significadosàs experiências vividas. Objetivo: discorrer sobre os
aspectos acerca do manejo clínico e da relação terapêutica na abordagem gestáltica, apontando
suas características e suas finalidades.Metodologia:a pesquisa é qualitativa e de cunho
bibliográfico. Sobre a literatura, foram utilizadas publicações clássicas da Gestalt-terapia e
produções gestálticas brasileiras, mais especificamente, provindas da região norte do país.
Resultados e discussão:O cliente geralmente chega com uma demanda e busca, na terapia,
apenas um trabalho analítico que indique as causas de suas ações e alivie seu sofrimento.No
entanto o objetivo de um processo terapêutico, na perspectiva gestáltica, é proporcionar ao
sujeito uma reflexão sobre o fenômeno que se manifesta através da queixa, para que o mesmo
possa entrar em contato consigo mesmo e ampliar sua awareness. Entende-se por awareness
como a capacidade de perceber o que se passa dentro e fora de si – nos níveis corporal, mental
e emocional –, o estar consciente de que estar consciente, de vivenciar o aqui-agora e de torna-
se ciente das próprias necessidades e das escolhas que podem ser adotas, tanto em nível social
ou individual. Conquanto a queixa possibilita a análise da autorregulação organísmica – função
que possibilita ao organismo a capacidade de manter o equilíbrio – e das necessidades do
paciente. Esse é um dos motivos que explicam o porquê de os gestalt-terapeutas abandonarem
as entrevistas estruturadas e semiestruturadas e darem preferência a trabalhar no ritmo do
cliente. Esse estilo de abordagem terapêutica também serve como “porta de entrada” para
estabelecer o vínculo terapeuta-cliente e é a qualidade dessa relação que afetará no processo da
melhora do paciente, uma vez que a gestalt-terapia –sendo uma abordagem dialógica que
acredita que o sujeito se constitui nas relações – defende a utilização da relação construída como
principal ferramenta no processo terapêutico. A ênfase dada na importância da criação de
vínculo durante as sessões de terapia ocorre pela importância da vinculação dentro da gestalt
terapia, também conhecida como terapia do contato. No entanto para que esse contato ocorra
de maneira eficaz o gestalt-terapeuta deve ser transparente e autêntico quanto os fenômenos
que emergem no campo, buscando sempre conhecer a si mesmo e trabalhar suas questões mais
conflituosas, para que assim possa ocupar o papel do outro que escuta e acolhe sem emitir juízo
de valor. Apenas desse modo é possível ao terapeuta valorizar o contexto e enxergar além do
modo de se expressar utilizado pelo cliente, ao mesmo tempo que pontua e interroga sobre um
significado mais profundo daquilo que é dito – ou, em alguns casos, daquilo que é omitido. Este
método de intervenção visa possibilitar ao paciente um espaço para se escutar, refletir e,
consequentemente, tomar consciência de seus comportamentos, principalmente de sua
responsabilidade sobre esses. A GT trabalha com a concepção de ser humano com ser capaz de
construir e reconstruir-se a todo momento em sua relação com o mundo e, para isso, este precisa
ajustar-se criativamente em diversas situações. Na clínica, o terapeuta ajuda o sujeito a
reorganizar a si mesmo frente as coisas que lhe atravessam, trabalhando seus ajustamentos
disfuncionais. A clínica gestaltica é puramente aberta à inovação no manejo clínico e as
ferramentas utilizadas para isso são variadas, mas sempre voltadas às necessidades do cliente,
com o propósito de instigá-lo a lidar com suas vivências de forma criativa. A relação
terapêutica, embora sofra adaptações quanto aos contextos que acometem o setting de escuta -
como a clínica infanto-juvenil, por exemplo, onde a psicoterapeuta também atenta para o
manejo da família (Brandão, 2018) – sempre será dialógica, de encontro e confronto visando a
implicação do consulente em seu processo. Quanto ao manejo clínico, a GT, no estudo feito por
Borges Junior e Brandão (2018), é exposto que a abordagem gestáltica se utiliza de um grande
acervo de ferramentas para viabilizar, com mais intensidade, o processo de contato do cliente.
A literatura explorada pelos autores aponta que são inúmeras as possibilidades e passíveis de
inovação, contudo, toda e qualquer inserção no contexto clínico não poderá ir de encontro às
bases teórico-metodológicas da abordagem, o que retorna à concepção da relação terapêutica:
a escuta é fenomenológica, assim como todo o processo que acomete o setting. Ou seja, esse
inúmero acervo de ferramentas, ditos como experimentos clínicos não são técnicas, visto que
não se tratam de modos de intervenção fechados e cristalizados, mas dependem do que emerge
no campo para serem utilizados. De maneira geral, como aponta a literatura gestáltica trazida
por Borges Junior e Brandão (2018), o manejo clinico a partir destes experimentos têm por
objetivo fazer com que o consulente saia do posto do “falar sobre” e caminhe para o “passar
através”, assim, facilitando o contato, expandindo a consciência (awareness) e mudando
deposição subjetiva. Ressaltando, independente do contexto onde essa escuta clínica é
oferecida, a relação será dialógica e o manejo clínico será experimental, onde o terapeuta
precisa confiar no potencial criativo do consulente e aceitar caminhar com ele rumo à expansão
da consciência e contato consigo e com seu ambiente (Brandão, 2017). Conclusão: como
apontado no decorrer do presente estudo, a premissa da Gestalt-terapia é o contato, que parte
do encontro. Sem encontro, sem a relação, não há o fazer gestáltico, pois não haverá awareness.
É a expansão de consciência que proporciona o caminhar, de ajustes criativos disfuncionais,
para um fluxo de ajustamentos criativos funcionais e, esta é obtida no contato, na relação
dialógica. O encontro é que sustenta a prática psicoterapêutica, Fritz Perls, idealizador da
Gestalt-Terapia, denota isto ao discorrer, na oração da Gestalt-Terapia: “... se, um dia nos
encontrarmos, será lindo, se não, não há o que fazer”. Frente a isto, é possível afirmar que, é a
partir do contato, do encontro, que se pode ser criativo e tomar para si o sentido de sua
existência.

Palavras-chave: Gestalt-terapia. Relação terapêutica. Manejo clínico.


Referências:

ALMEIDA, Josiane Maria Tiago de.Reflexões sobre a prática clínica em gestalt-terapia:

Possibilidades de acesso à experiência do cliente. Revista da Abordagem Gestáltica – XVI(2):


217-221, jul-dez, 2010.

ALVIM, Mônica Botelho.A ontologia da carne em Merleau-Ponty e a situação


clínica na gestalt-terapia: entrelaçamentos. Revista da Abordagem Gestáltica – XVII(2):
143-151, jul-dez, 2011.

BORGES JUNIOR, Dorivaldo Pantoja. BRANDÃO, Cíntia Lavratti. A poesia como um


possível experimento no contexto clínico a partir da perspectiva da Gestalt-Terapia: um
estudo preliminar. III Congresso Multidisciplinar de Saúdeda UNAMA. Belém, Pará, Brasil.
v. 3, p. 143 – 152.2018. Disponível
em:http://revistas.unama.br/index.php/anaispsicologia.index. Acesso: 05/04/2019.
BRANDÃO, Cíntia Lavratti (org). Semeando a Gestalt-terapia: experiências clínicas no
contexto amazônico. Editora Paka-Tatu, 2017.
BRANDÃO, Cíntia Lavratti (org). Gestalt-terapia infanto-juvenil: práticas clínicas
contemporâneas. Juruá editora, 2018.

PERLS, Frederick. HEFFERLINE, Ralph. GOODMAN, Paul. Gestalt-


Terapia.TrraduçãoFernando Rosa Ribeiro.São Paulo: Summus, 1997.

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