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INTRODUÇÃO
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Anais do I Colóquio de Pesquisa em Psicologia – FG – UniFG
MATERIAL E MÉTODOS
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O nome da participante foi substituído pela letra “D” a fim de preservar sua a identidade.
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indivíduo no encontro com o terapeuta (estagiário) disposto e aberto a lhe compreender, tende
a se organizar (ROGERS, 2009; AMATUZZI, 2012). A cliente D diz: “Sinto medo, medo em
relação aos planos não darem certo”, e o estagiário pontua empaticamente, dizendo:
“compreendo ser difícil para você, o fato de não ter certeza daquilo que vai acontecer”.
Nesse aspecto da empatia, deve ser desenvolvida sob o processo de adentrar no
universo do outro (cliente). Permitir-se conhecer este como se é, tomar consciência daquilo
que apresenta, sensível aos sentimentos que emergem, e ainda não estão claros (SANTOS,
2004), e “quando pode apreendê-los “de dentro” tal como o paciente os vê, e quando
consegue comunicar com êxito alguma coisa dessa compreensão ao paciente, então está
cumprida essa terceira condição” (ROGERS, 2009, p.73).
Em outro momento da consulta psicológica, D comenta: “tenho muito desejo por
álcool e drogas mas evito devido as consequências, não tenho muitas esperanças”. O
estagiário demonstrando uma atitude de aceitação da pessoa enquanto alguém de
potencialidades, diz: “vejo que o fato de você ter buscado aqui a terapia, depois de ter
vivenciado toda abstinência, é uma atitude de esperança”. Então, D toma consciência e se
implica em seu processo, ao dizer: “realmente tenho esperança”.
Novamente, o estagiário demonstra aceitação positiva, sensível ao que emerge em D,
no seu desejo de mudança, pontuando de forma reflexiva: “então, você percebe o quanto esse
momento é importante para você, no qual você tem a possibilidade de trabalhar suas
limitações, é um espaço para você desenvolver suas potencialidades”. D expressa sorrisos, e
afirma ser seu desejo experimentar novas mudanças.
No quarto atendimento, D expressa bastante inquietação, diz que fez uso de cigarro, e
sua ansiedade não melhora, a medicação parece que não ajudar tanto assim, e diz: “o cigarro
já virou vicio, mesmo querendo parar não consigo”. Então, o estagiário busca implicar D em
seu processo, adentrando em seu mundo, sensível ao que emerge, diz: “eu compreendo que é
bastante difícil para você fazer o que não gosta, é como se o fato de tomar novas decisões lhe
custasse muito”. Há uma constante atualização de suas potencialidades, se dando através de
diversas influencias. Dessa forma, “requer um contexto de relações humanas positivas,
favoráveis à conservação e à valorização do ‘eu’, isto é, requer relações desprovidas de
ameaça ou de desafio à concepção que o sujeito faz de si mesmo” (ROGERS, 1977, p. 40
apud MAIA; GERMANO; MOURA JR, 2009, p.36). Neste sentido, os caminhos que este
indivíduo irá traçar, se dará por meio da sua percepção, ao que melhor considera em algum
momento.
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Na fala de D, há evidência de que seu self real vai se tornando-se mais claro a sua
consciência. Assim, suas percepções se apresentam em sua totalidade, ou seja, todas as
experiências vividas em momentos específicos de seu existir, características atribuíveis a sua
identidade, constituindo seu eu. D diz: “a terapia tem me ajudado muito, eu percebo que falar
aqui, ajuda-me a refletir sobre mim mesma, e outras coisas. Falar a outras pessoas e poder
se sentir útil é bom”. A ideia de self surge desse campo de experiência (Fadiman; Frager,
1986), ou seja, ele também é considerado de autoconceito (Maia; Germano; Moura Jr, 2009),
relacionado a percepção que o indivíduo tem de si e de sua realidade. De acordo com Rogers,
o self é concebido por meio de uma estrutura, é organizado por variadas percepções
relacionadas ao próprio indivíduo.
A cliente ainda trouxe nos últimos atendimentos, suas dificuldades de se organizar
devido a ansiedade e o uso dos medicamentos. Entretanto, observando significativas
mudanças, o estagiário diz: “mesmo algumas dificuldades, ainda serem uma realidade para
você, percebo mudanças na maneira como você tem lidado com suas expectativas. Você
parece consciente dessa realidade, como se isso fosse um passo para você seguir em seu
crescimento. Mesmo se decepcionando com algumas das suas próprias decisões, você parece
saber o que fazer e o que não fazer”. É de tamanha relevância compreender que “a
congruência se refere à consistência interna, ao estado de integração psicológica do terapeuta
no espaço da relação” (SANTOS, 2004, p.22).
O processo terapêutico será bem mais sucedido a medida que o terapeuta dispor na
relação, ou seja, quanto maior for sua autenticidade na relação com o cliente, haverá
possibilidades de mudanças na personalidade deste. D diz: “você está me dizendo que estou
mais segura de mim mesma? Acho que é isso mesmo, vejo mudanças em mim, me sinto
diferente nesse aspecto. Interessante!”. D questiona a pontuação do estagiário, ao mesmo
tempo, emite uma resposta na tentativa de se auto compreender, auto afirmando sua percepção
em relação aos seus sentimentos e comportamentos.
CONCLUSÃO
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seu ambiente familiar. Ao término dos atendimentos, percebe-se se aceitando mais em relação
ao início dos primeiros atendimentos, onde fazia exigências de si mesma, mesmo
imperceptíveis a sua consciência. Diante disso, observa aquilo que Rogers (2009) considera,
no fim da terapia, avalia no cliente, um eu que emerge mais confortável interiormente,
autocompreendendo, auto aceitando e se responsabilizando. Assim, considera-se que a
abordagem Rogeriana, não é apenas uma técnica, uma forma estruturada em si mesma.
Ademais, é um jeito de ser, terapeuta/estagiário e cliente/paciente, onde primeiro se dispõe
nessa relação sem julgamentos, a fim de que o segundo se perceba livre em seu processo,
fazendo escolhas e amadurecendo nos aspectos psíquicos.
REFERÊNCIAS
AMATUZZI, M. M. Rogers: ética humanista e psicoterapia. 2ª ed. Alínea, Campinas, SP,
2012. 85 p.
FADIMAN, J.; FRAGER, R. Teorias da personalidade. Harbra, São Paulo, 1986. 392 p.
MAIA, C. M.; GERMANO, I. M. P.; MOURA JR, J. F. Um diálogo sobre o conceito de self
entre a abordagem centrada na pessoa e psicologia narrativa. Rev. NUFEN, São Paulo, v.
1, n. 2, p. 33-54, nov. 2009. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912009000200004&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 15 nov. 2018.
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