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Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu com vistas à Especialização na Abordagem


Gestáltica
Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA


A COMPREENSÃO DE UM MODO DE SER

Maevy Rocha Nascimento


Denise Borella Sousa Costa

Goiânia – GO
Maio/2018
ii

Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia – ITGT


Curso de Pós-Graduação Latu Sensu com vistas à Especialização na Abordagem
Gestáltica
Chancela da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC-GO

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Título: O uso do ciclo do contato como instrumento para a compreensão de um modo


de ser.
Autor (a): Maevy Rocha Nascimento
Data da banca: 11/05/2018

Denise Borella Sousa Costa, Esp. _________


Presidente da Banca: Professora-Orientadora Nota

Celana Cardoso Andrade, Dra. _________


Professora Convidada Nota

Sandra Albernaz Saddi, Ms. _________


Professora Convidada Nota

Nota Final: ___________

Goiânia – GO
Maio/2018
iii

Agradecimentos

A Deus, pelo milagre da vida. A Ele, toda honra e toda glória.

Aos meus pais, pela escolha em me conceberem a vida. Tudo o que julgo original em

mim tem em vocês o seu princípio. Em especial, agradeço à minha mãe, por ser meu colo

acolhedor de cuidado e amor infinitos. Eu a amo, mãezinha.

À minha avó, Maria Francisca, meu eterno grande amor.

Às mulheres da minha vida: Tânia, Sandra e Ângela, meus exemplos de fé, amor, força,

perseverança e ternura. Eu amo vocês.

Ao meu namorado, Paulo José, com quem tenho a honra de construir uma história de

amor.

Às minhas amigas Caroline Chaveiro e Rafaela Teixeira, por todos os instantes que

vivemos juntas!

À minha amiga, Juliana Teixeira, o maior presente que eu levo do ITGT. Obrigada por

estar comigo.

Ao ITGT, com seu corpo de professores e funcionários, por me proporcionar uma

formação pautada na ética e na dignidade humana.

À Denise Borella Sousa Costa pelo cuidado e respeito na orientação deste trabalho.

À Celana Cardoso Andrade pelo despertar da gestalt-terapeuta que em mim habitava.

À Sandra Albernaz Saddi pelos ensinamentos que estão para além das fronteiras do

contato.

À Lara Danyla Freitas Garcia Santos, por amorosamente ser minha supervisora clínica e

acolher-me em minhas angústias de gestalt-terapeuta iniciante.

À Thais Ribari Fujioka pelo cuidado incondicional a mim dedicado.

Aos meus clientes, por me honrarem com a permissão de conhecê-los em profundidade.


O USO DO CICLO DO CONTATO COMO INSTRUMENTO PARA A
COMPREENSÃO DE UM MODO DE SER1
The use of the contact cycle as an instrument for understanding a way of being

Maevy Rocha Nascimento2


Denise Borella Sousa Costa3

Resumo
O presente artigo tem como objetivo principal demonstrar o uso do ciclo do contato como instrumento clínico no
manejo do processo psicoterapêutico na abordagem gestáltica. Para tanto, foi realizado um estudo de caso, no qual
as intervenções estavam ancoradas no modelo proposto por Ribeiro (2007). O instrumento demonstra ser útil para
diagnóstico e intervenção, permitindo que o gestalt-terapeuta faça uma leitura da forma como cliente estabelece
contato na busca pela satisfação de suas necessidades e como esse processo pode ser interrompido ou
descontinuado. Conclui-se que o instrumento é uma importante ferramenta de trabalho na elaboração de um
raciocínio clínico favorecedor do restabelecimento do desenvolvimento e do crescimento do indivíduo.
Palavras-chave: Diagnóstico Processual; Ciclo do contato; Gestalt-terapia

Abstract
This article has as main objective demonstrate the use of the contact cycle as a clinical tool in the management of
the psychotherapeutic process in the Gestalt-therapy. For this, a case study was carried out, in which the
interventions were anchored in the model proposed by Ribeiro (2007). The instrument demonstrates that it is useful
for diagnosis and intervention, allowing the gestalt-therapist to make a reading of how the client establishes contact
in the search for the satisfaction of his needs and how this process can be interrupted or discontinued. It is
concluded that the instrument is an important tool of work in the elaboration of a clinical reasoning conducive to
the reestablishment of the development and growth of the individual.
Keywords: Diagnosis; Contact Cycle; Gestalt-therapy

Resumen

El presente artículo tiene como objetivo principal demostrar el uso del ciclo del contacto como instrumento clínico
en el manejo del proceso psicoterapéutico en el abordaje gestáltico. Para ello, se realizó un estudio de caso, en el
cual las intervenciones estaban ancladas en el modelo propuesto por Ribeiro (2007). El instrumento demuestra ser
útil para diagnóstico e intervención, permitiendo que el gestalt-terapeuta haga una lectura de la forma como cliente
establece contacto en la búsqueda por la satisfacción de sus necesidades y cómo ese proceso puede ser interrumpido
o discontinuado. Se concluye que el instrumento es una importante herramienta de trabajo en la elaboración de un
raciocinio clínico favorecedor del restablecimiento del desarrollo y del crecimiento del individuo.
Palabras clave: Diagnóstico; Ciclo del contacto; Gestalt-terapia

1
Trabalho apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de especialista em Gestalt-terapia, do
Curso de Pós-graduação Latu-sensu do Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia
(ITGT).
2
Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Goiás (UFG), pós-graduanda em Gestalt-terapia pelo ITGT. E-
mail: maevyrn@gmail.com.
3
Psicóloga especialista em Gestalt-terapia pelo ITGT, professora-supervisora do ITGT. E-mail:
deniseborella@gmail.com.
2

1. Introdução

A utilização do diagnóstico era um tema controverso na Gestalt-terapia. Os gestaltistas


da primeira geração – década de 1960 – optaram pelo desuso por considerá-lo incoerente com
a abordagem que estava sendo proposta. Eles concebiam os modelos até então vigentes –
pautados na perspectiva nosológica – como despersonalizantes e rotuladores, sendo pouco úteis
à prática clínica e incongruentes com o relacionamento fenomenológico-existencial adotado.
(Frazão, 1995; Yontef, 1998; Ancona-Lopez, 2003).
O movimento anti-diagnóstico perde força a partir da década de 1980, momento em que
passam a ser estabelecidas discussões orientadas à elaboração de um modo de diagnosticar
diferente, que fizesse sentido dentro da abordagem gestáltica e contemplasse seus pressupostos
básicos. Salientava-se a necessidade de teorizações que propusessem ferramentas que
permitissem não somente a identificação dos bloqueios e interrupções do cliente, mas também
das suas possibilidades de mudança e crescimento (Frazão, 1995; Yontef, 1998; Ancona-Lopez,
2003; Pinto, 2015).
Em consonância com o que estava sendo discutido, foi proposto o modelo de
pensamento diagnóstico processual. Essa perspectiva tem como premissa a apreensão dos
sentidos e significados entre aquilo que é apresentado pelo cliente como sintoma e a totalidade
na qual está inserido, em estabelecer a relação entre a figura emergente e o fundo que a subsidia,
entre a gestalt atual e as gestalten inacabadas. O diagnóstico processual permite que o gestalt-
terapeuta reveja suas hipóteses iniciais, componha e recomponha as suas considerações e
reformule seu raciocínio à medida que a psicoterapia avança, que o cliente cresce e se
desenvolve (Frazão, 1995).
Com esse novo modelo, o diagnóstico passa a ser definido como um olhar atento e
respeitoso do psicoterapeuta àquele que se apresenta, em que são observados seus modos de
ser, suas caraterísticas singulares e genéricas. As experiências descritas permitem a elucidação
de padrões gerais de comportamento, a identificação de aspectos saudáveis e adoecidos, a forma
como a realidade é apreendida e os conflitos são resolvidos. Em consequência dessa observação
cuidadosa é criada a possibilidade de uma intervenção precisa e articulada que, por um lado
considera a individualidade do cliente e, por outro, o que já foi desenvolvido pela ciência
(Yontef, 1998; Frazão, 1995; Pinto, 2015).
Transpostas para a prática, as compreensões aqui citadas podem ser vivenciadas com
certa dificuldade, especialmente pelos gestalt-terapeutas iniciantes que, não raro, encontram
impasses no manejo da psicoterapia, não conseguindo apreender o que a pessoa precisa e deseja.
3

Ao estudar as raízes filosóficas – Humanismo e Existencialismo –, teóricas – Teoria de Campo,


Teoria Organísmica e Psicologia da Gestalt – e metodológicas – Fenomenologia – que
fundamentam a abordagem, podem não conseguir elaborar um raciocínio que seja coerente com
as mesmas e que favoreça o trabalho psicoterapêutico, carecendo de parâmetros que o ampare
(Tavares & Andrade, 2011).
Daí a importância de se estudar um instrumento que auxilie o psicoterapeuta e seja
referência no curso da psicoterapia. Diante dessa necessidade, o Ciclo Integrado dos Sistemas,
Níveis e Funções do Contato é apresentado como uma alternativa à compreensão diagnóstica e
prognóstica e ao manejo clínico. Ao possibilitar a descrição fenomenológica do modo como a
pessoa experiencia a realidade e suas relações é permitido que o gestalt-terapeuta realize uma
leitura não somente de como o contato acontece, mas também como pode ele deixar de
acontecer, sendo bloqueado ou descontinuado pelo cliente (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).
Riberio (2007) formula o ciclo do contato a partir das suas reflexões, experiências e
pesquisas clínicas, integradas às formulações propostas por Perls, Zinker, pelo casal Polster,
por Crocker e Clarkson – estudiosos consagrados na literatura gestáltica. No referido
instrumento estão sistematizados nove fatores de bloqueio de contato apresentandos com seus
respectivos pares polares, os “fatores de cura”: fluidez/fixação, sensação/dessensibilização,
consciência/deflexão, mobilização/introjeção, ação/projeção, interação/proflexão, contato
final/retroflexão, satisfação/egotismo e retirada/confluência.
No presente artigo, o objetivo principal é demonstrar a utilização do ciclo do contato
como instrumento clínico no manejo do processo psicoterapêutico dentro da abordagem
gestáltica. Para tanto, a escrita está organizada em dois eixos: o primeiro refere-se à
apresentação do ciclo do contato proposto por Ribeiro (2007). O segundo, à descrição do
processo psicoterapêutico protagonizado por Bia (nome fictício), uma jovem adolescente que
tem seu caso estudado a partir do instrumento aqui referido e da contribuição de autores que
referenciam as teorizações acerca das interrupções de contato.
Almeja-se assim, contribuir com o tema abordado, endossando a produção científica e
compondo um material de estudo útil aos gestalt-terapeutas iniciantes e aos mais experientes.
Considera-se que os primeiros possam ser beneficiados por tal esboço ao utilizá-lo como
suporte para as compreensões iniciais de alguns conceitos da abordagem gestáltica e da
articulação dos mesmos com a prática clínica. Os demais podem, ao se apropriarem de um
conhecimento atualizado, revisitar conceitos e fazeres que, vez ou outra, correm o risco de
serem automatizados pelo hábito.
4

2. Fundamentação Teórica

A psicoterapia é um processo que almeja favorecer o autoconhecimento, a


autossustentação e satisfação do indivíduo. Para tanto, é necessário que o profissional facilite
ao cliente a identificação das suas necessidades abrangendo a consciência do que as sustenta –
a awareness. Esse conceito pode ser definido como o contato integrado das funções sensoriais,
emocionais, cognitivas e motoras com aquilo que emerge de mais importante na interação
self/meio, sendo o objetivo das intervenções na abordagem gestáltica (Perls, 1981; Pinto, 2015;
Frazão, 1995; Perls, Hefferline & Goodman, 1951).
Cliente e psicoterapeuta precisam estar atentos à forma como o primeiro faz contato, ou
seja, como organismo e meio se interagem mutuamente, em um movimento de aproximação e
afastamento, para a satisfação das necessidades. Por meio da manipulação de si e do ambiente,
o indivíduo se autorregula, se autoatualiza. O processo contato/retração possibilita o retorno ao
estado de equilíbrio até que um novo desequilíbrio seja instaurado (Ribeiro 2007; Perls, 1981;
Polster & Polster, 2001; Perls, Hefferline & Goodman, 1951).
O indivíduo que atua de modo desatualizado e cristalizado em formas de interação
obsoletas é descrito como neurótico. Ele não tem a awareness do campo total, fazendo contato
apenas com partes da realidade. Não consegue perceber claramente suas necessidades, pois
perdeu a capacidade de discriminar os estados de equilíbrio e desequilíbrio. Assim, não
apreende claramente as gestalten e, portanto, não se concentra naquilo que o levaria a fechá-
las, sendo povoado por situações inacabadas e pela constante sensação de falta de inteireza
(Lima, 2013; Ribeiro, 2007; Polster & Polster, 2001; Perls, 1981).
Dependendo da necessidade emergente, a interação self/meio pode assumir as mais
variadas formas. O ciclo do contato está estruturado considerando os três subsistemas que
compõem o organismo humano – sensorial, cognitivo e motor – que precisam estar integrados
para que o contato pleno aconteça. Os fatores que favorecem o contato saudável são
apresentados em pares com seus opostos, os mecanismos de bloqueio ou interrupção, que se
interagem de modo complementar e interdependente (Ribeiro, 2007).
No subsistema sensorial são apresentadas as polaridades fluidez/fixação e
sensação/dessensibilização. Na fluidez, há a abertura para o novo, para a criação, recriação e
renovação, sendo esse um momento marcado pela maleabilidade e pela espontaneidade que se
contrapõem à rigidez, ao medo da mudança e ao apego excessivo às experiências passadas,
características da fixação. Na sensação, o corpo apresenta-se vívido e estimulado, respondendo
calorosamente aos estímulos sensoriais e emocionais de si, dos outros e do meio, o que é
5

descontinuado na dessensibilização. Nessa há uma diminuição da percepção sensorial, sendo


experimentada a frieza e a atonia, o que dificulta a discriminação das experiências internas com
as externas (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).
Na fronteira entre os subsistemas sensorial e motor existe, operacionalmente, a
polaridade consciência/deflexão. O indivíduo que toma consciência está atento às necessidades
impostas, dando conta de si e dos outros de maneira clara e reflexiva, em uma relação de
reciprocidade. O mesmo não acontece na deflexão, em que se experiencia uma evitação e/ou
impedimento do contato, desviando a energia do objeto primitivo, que pode ser compreendido
como muito frustrante ou perigoso. O confronto é evitado por meio de um contato vago, indireto
e superficial (Ribeiro, 2007; Ginger & Ginger, 1995; Pinto, 2015).
Consciente da figura – límpida e clara – o indivíduo pode atuar, característica do
subsistema motor. É capaz de reconhecer suas necessidades, diferenciá-la das alheias e tomar
posse da diferença de sua existência. Reivindica aquilo que lhe é próprio e imprime o seu anseio
no mundo, por meio da mobilização. Na contramão da excitação do seu desejo, encontra-se a
introjeção, modalidade de contato que imobiliza o organismo pela aceitação da imposição de
conteúdos que não são seus. O introjetor não faz a devida assimilação daquilo que lhe foi
imposto pelo meio, “engolindo”, passivamente, sem a devida “digestão”. Assim, o neurótico
incorpora, na forma de um “corpo estranho”, atitudes e valores que não lhe são próprios e lhes
obedece com ansiedade (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015; Robine 2006; Perls, Hefferline &
Goodman 1951).
Reconhecida e aceita a excitação do desejo, o organismo confronta o meio para obtenção
de satisfação – ação. Tal processo é descrito como privilegiado de emoção, uma vez que há o
encontro da necessidade com aquilo de que se necessita. O indivíduo assume o que precisa e
age em causa própria, sem o medo da ansiedade, tomando para si a responsabilidade. Se a
emoção é sentida, mas não encontra um objeto específico, flutuará livremente e será vivenciada
como originária do meio pela projeção. O neurótico projetor não se responsabiliza pelos
próprios conteúdos, atua com melindre e desconfiança, atribuindo aos outros aquilo que é seu
(Perls, 1981; Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine 2006; Ribeiro, 2007).
A experiência do contato é continuada pela interação, momento marcado pela vivência
de relações com trocas genuínas, de igual para igual, sem esperar o apreço e a retribuição do
outro. O oposto complementar é a proflexão, mecanismo de defesa através do qual a pessoa
espera receber dos outros tudo aquilo que fez por eles. Por trás de suas ações existe o anseio de
que o outro seja como ela deseja ou como ela é. Estabelece uma manipulação com o objetivo
6

de ser nutrida e ter suas necessidades satisfeitas pela relação com os demais, pois não se percebe
capaz de ser sua própria fonte de nutrição (Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).
Tal característica não é observada quando a gestalt se fecha sem interrupções e o
indivíduo experimenta o contato final – subsistema cognitivo. Aqui o organismo é objeto da
própria satisfação, o que favorece um relacionamento claro e direto com o meio. Esse momento
é marcado pelo retorno da energia nas relações, sem medo da própria agressividade, de ferir ou
ser ferido. O oposto complementar é a retroflexão, movimento em que a energia é retornada à
personalidade ou ao próprio corpo, únicos objetos compreendidos como seguros. O retrofletor
rumina experiências passadas, as quais julga como inadequadas. Imagina como poderia ter feito
para agir conforme os outros desejavam ou conforme os outros são, direcionando para dentro
de si a energia que poderia ser utilizada na relação (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine
2006; Ribeiro, 2007; Pinto, 2015).
Após o contato ser finalizado, é experimentada a satisfação. Essa requer da
espontaneidade, do relaxamento, da abdicação do controle, da abertura para o meio e para os
outros. Satisfeito, o indivíduo percebe o quanto o prazer e a vida podem ser compartilhados,
estando aberto às novas possibilidades, propiciadoras de crescimento. O egotismo é descrito
como oposto a esse processo, sendo marcado pelo controle excessivo de todas as possibilidades,
com o objetivo de afastar o perigo e a ameaça advindos do desconhecido. O egotista isola-se,
coloca-se como centro e exerce a manipulação de forma rígida. Tem muita dificuldade em dar
e receber, em vivenciar situações novas, em crescer e mudar, com isso acaba experimentando
uma existência solitária e, não raro, tediosa (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine 2006;
Ribeiro, 2007).
Então satisfeita, a pessoa se retira da situação para que uma nova excitação emerja –
retirada. As fronteiras do organismo estão bem delineadas, propiciando o reconhecimento do
eu e do outro, bem como das diferenças entre eles. O mesmo não acontece na confluência, em
que há uma ansiedade relacionada à diferenciação e à individuação. A excitação é interrompida,
impedindo que uma nova figura emerja. O confluente está agarrando a figuras emergidas no
passado, compreendidas por ele como seguras, pois já são conhecidas. Se não há figura, não há
contato, consciência e/ou awareness. Não existe o “eu” e sim o “nós”, o esforço vem do outro
que, primitivamente, satisfez e trouxe segurança (Perls, Hefferline & Goodman 1951; Robine
2006; Ribeiro, 2007).
Os processos aqui destacados configuram uma visão didática acerca do funcionamento
humano face às necessidades emergentes. É evidente que nem todas as experiências são
completadas, nem todas as gestalten são fechadas. Ao longo da vida, o indivíduo interrompe
7

sua energia em determinadas fases. O estudo de caso apresentado a seguir tem como objetivo a
elucidação de como as interrupções podem acontecer. O ciclo do contato é utilizado como
instrumento para a compreensão das descontinuidades da cliente, almejando o favorecimento
do resgate do crescimento e do desenvolvimento, com criatividade e espontaneidade (Ribeiro,
2007; Pinto, 2015).

3. Metodologia

A cliente escolhida como participante é uma adolescente de 17 anos, estudante do


sétimo ano do ensino fundamental. Filha única do relacionamento de seus pais, que
posteriormente constituíram família com outros companheiros. Sua mãe engravida de um
menino e o pai tem outros filhos, mas não há informação de quantos. Reside em um município
da Região Metropolitana de Goiânia/Goiás com a mãe, o padrasto, os avós maternos e o irmão,
de 7 anos.
Foi encaminhada ao Serviço de Psicologia da Secretaria Municipal de Saúde, após
apresentar comportamentos de automutilação ou autolesão não suicida. A partir de então, foram
realizadas trinta sessões psicoterapêuticas semanais, no período compreendido entre novembro
de 2016 a fevereiro de 2018. Os atendimentos foram evoluídos em prontuário e descritos em
registro documental, conforme preconiza o Conselho Federal de Psicologia através das
Resoluções n° 001/2009 e n° 005/2010.
Em conjunto com a mãe, a adolescente assinou o Termo de Consentimento Livre
Esclarecido (TCLE) – anexo 1 – em que autoriza a utilização dos materiais decorrentes do
processo psicoterapêutico. As sessões passaram a ser gravadas em áudio, transcritas e
armazenadas em um arquivo com senha, sendo analisadas como objeto do estudo de caso
descrito no presente trabalho.

4. Estudo de Caso4

Os comportamentos de automutilação ou autolesão não suicida são descritos como


aqueles em que a pessoa inflige ao próprio corpo ferimentos superficiais e dolorosos, utilizando
objetos afiados e cortantes – facas, lâminas, agulhas, dentre outros – sem a intenção de provocar
a morte. Estão frequentemente relacionados ao aumento de tensão, ocasionada por emoções
negativas como a ansiedade, a raiva, a depressão, a angústia e ainda por dificuldades no

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Todos os participantes serão identificados com nomes fictícios.
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relacionamento interpessoal. Os indivíduos têm a expectativa de que, ao provocarem as lesões,


sejam instaurados o conforto e a resolução dos conflitos. São comuns os relatos de alívio
durante e após os episódios (APA, 2015).
As sensações de aumento e diminuição de tensão, descritas na literatura como
precedentes e consequentes dos comportamentos autolesivos, são descritas por Bia na sessão
inicial. A jovem, que entra sozinha no consultório, acredita estar em psicoterapia por
usualmente se cortar, o que lhe proporciona um alívio momentâneo. Contudo, sua mãe, Cléo, a
impede de se ferir e reage agressivamente, instaurando-se um conflito familiar envolvendo os
membros mais próximos: a avó, o avô, a madrinha, o padrasto e o irmão caçula. O relato é
acompanhado de choro, sobretudo quando a genitora é convidada a entrar no consultório.
Diante da mãe, Bia evidencia a emoção e expõe a falta que a demonstração de afeto no
seio familiar lhe faz. Diz que gostaria de ouvir “eu te amo” e ser abraçada não somente em datas
comemorativas. A psicoterapeuta intervém propondo que ela experimente dizer o que precisa:
“Bia, você consegue falar, agora, para a sua mãe que você gostaria de ouvir ‘eu te amo’ e ser
abraçada por ela?”. Ela diz e parece encontrar ressonância em Cléo, que responde: “eu também
tenho vontade, mas ela nunca fala nada, eu não sei a hora que eu posso abraçar, ela fica pra um
lado, eu fico pro outro, é a primeira vez que ela me fala isso” (sic).
É possível perceber que, através da intervenção, ambas experimentam a possibilidade
de, conscientemente, deliberarem sobre falar ou não do que sentem e ainda, de vivenciarem o
afeto entre si. Assim, observa-se o setting como um ambiente facilitador de contato e awareness
em que são mostrados os outros lados, ou as outras partes da totalidade. A pessoa é convidada
a atuar através da escolha consciente ao invés do hábito, neuroticamente estabelecido. Mãe e
filha, ao optarem por dizer dos seus sentimentos, notam que é possível estabelecer uma
comunicação direta, ainda que isto seja difícil no cotidiano (Robine, 2006; Yontef, 1998).
O lar em que estão inseridas parece ser marcado por certo isolamento e distanciamento
entre os pares, com diálogos escassos e restritos a momentos específicos, nos quais se
experimentam aumento de tensão – como nas situações em que a adolescente se cortou.
Passados os conflitos, as conversas são cessadas e cada um retorna a si, interagindo pouco com
os demais, como é descrito a seguir5:

T: Bia, de onde vem isso de guardar as coisas só para você?


C: ah lá em casa é assim, as pessoas não conversam, não falam nada...

5
Será adotada a seguinte abreviação: T para terapeuta e C para cliente.
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T: como é na sua casa?


C: cada um para um canto... meu padrasto sai cedo, de madrugada, para trabalhar e só
volta a noite, minha mãe fica o dia inteiro costurando, meu irmão no quarto, eu na sala deitada
no sofá vendo TV ou no quarto vendo vídeos no celular. As pessoas às vezes chegam lá em
casa e até falam: “nossa, parece que não tem ninguém em casa, parece que não mora ninguém
aqui”.
T: como é para você viver em uma casa assim?
C: é um pouco ruim, né..., mas eu já acostumei.

O curso do processo psicoterapêutico não permite revelar se essa família se constitui


por meio de um padrão retrofletor, no qual a energia permanece contida em cada pessoa e não
é investida em uma causa comum a todos. Contudo, através de diferentes relatos, é evidenciado
o quanto as expressões de frustração, de agressividade e afeto são pouco valorizadas. Soma-se
a isso a presença de comportamentos autodestrutivos, como os apresentados pela adolescente,
o que remete a características comuns aos lares marcados por esse bloqueio ou interrupção de
contato (Zinker, 2001).
A despeito da dinâmica psicológica da família, a retroflexão de Bia é manifestada logo
na queixa inicial e foi descrita por ela em diferentes momentos da psicoterapia, como o que se
segue:

C: [...] é parecido com o que acontecia antes... eu não podia descontar na outra pessoa,
mas eu descontava em mim, que era me cortando. Aquilo para mim era a melhor coisa [...], eu
ia para o colégio, as meninas ficavam me provocando, ai eu pegava aqueles negócios de estilete
de apontador, eu tirava, ia no banheiro, lavava, secava... e ficava no lá até a segunda aula.
T: se cortando?
C: me cortando... e aquele sangue escorrendo e eu: “ai que delícia...”
T: então, quando você fala isso, você está exatamente falando que esse era um jeito de
guardar, de não descontar no outro...
P: isso, de não descontar nas pessoas... ai eu me cortava.
T: pra que?
P: pra eu me sentir aliviada e não descontar nas outras pessoas.

Tal como se percebe no fragmento acima, de modo característico, o retrorefletor, face


aos conflitos que têm como consequência direta um conteúdo agressivo, tem como reação
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imediata dirigir contra si mesmo aquilo que deveria ser orientado ao outro. Isso acontece por se
supor que a agressão não será suportada pelo meio – que projeta um conteúdo genérico
relacionado à proibição da expressão do desejo – e precisa retornar ao corpo, único objeto
entendido como seguro. Porém, ainda que não se atinja o destinatário da agressividade de modo
direto, indiretamente ele pode ser alcançado (Polster & Polster, 2001; Perls, Hefferline &
Goodman, 1951; Robine, 2006).
Bia parece represar os sentimentos, as palavras e as ações em nome do respeito à família,
como ela mesma diz em outras ocasiões, remontando a um movimento de introjeção de padrões.
Segundo Ribeiro (2007), quando um desejo fica interrompido em uma etapa do ciclo do contato
sua energia se encontrará com outra de natureza diferente e, em dado momento, poderá ser
liberada de forma indesejada pela pessoa, tendo como alvo um objeto distinto daquele do qual
se originou. O autor salienta para a importância de o psicoterapeuta estar atento à necessidade
de se manejar os bloqueios e fatores de cura que são anteriores ao que o cliente habitualmente
se encontra para, então, avançar.
Assim, psicoterapeuta e cliente seguem em busca da compreensão do que poderia
subsidiar a retroflexão de Bia. Pouco a pouco, passam a ser evidenciados os processos de
introjeção de conteúdos agressivos e a proibição da projeção dos mesmos. Ao longo do
processo, o sentimento de raiva é recorrentemente ressaltado, até que em um dado momento da
investigação, a adolescente diz senti-lo pelo pai, Tom. O genitor, de acordo com o que lhe
disseram, desamparara a mãe grávida quando descobriu que seria uma menina e não um
menino.
No atendimento, os sentimentos de “raiva, ódio e mágoa” (sic) são acompanhados com
intenso choro. Bia evidencia a necessidade de compreender a sua própria história, que parece
apresentar lacunas deixadas pela ausência paterna. Segundo ela, essas foram sendo preenchidas
pelos comentários familiares, que inclusive colaboram para que ela sinta a gama de sentimentos
relatados à psicoterapeuta: “tudo o que eu sei do meu pai foi alguém que me falou, ou minha
mãe, ou minha vó” (sic).
O processo de introjeção é marcado pela tomada para si de aspectos que são oriundos
dos outros, é nessa etapa que se constroem os “deveria/não deveria” – os introjetos – que virão
a ser os conteúdos remoídos nas retroflexões. Os sentidos para as manifestações da realidade
não são arquitetados a partir da própria experiência, mas sim daquela oferecida pelos pares em
outrora. Os afetos, antes de serem assimilados ou vivenciados, são invertidos, com o introjetor
adotando aqueles em que se acredita serem os mais apropriados para a ocasião (Robine, 2006).
11

Em busca da compreensão do processo de introjeção da cliente, foram trabalhadas as


relações parentais por meio de um desenho – exposto abaixo. Inicialmente, a psicoterapeuta
esboça Bia, a mãe e o pai em determinadas posições, de acordo com a percepção que tem a
partir dos atendimentos realizados. Contudo, a cliente pede para corrigir a distância em que o
pai é colocado, continuando ela própria a ilustração. Tom é desenhado do lado oposto da folha,
pequeno em relação a ela e a mãe, que estão próximas uma da outra. A psicoterapeuta intervém
dizendo que observa um caminho longo entre ela e o pai, o que não acontece em relação à Cléo.
Bia concorda e ressalta a sua dificuldade em estabelecer contato com o genitor, o que é
representado pela cor preta, escolhida para preencher a ligação entre os dois.

BIA

PAI

PAI
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A partir do desenho, é investigado o que Bia pensa, sente e faz em relação ao pai. Ela
relata que nos seus pensamentos se indaga: “será que um dia eu vou conseguir perdoar ele?”
(sic). Tristeza, mágoa e raiva são descritas como os sentimentos que emergem em virtude do
que pensa. Questionada sobre suas atitudes diante disso, ela diz que chora, guarda o que sente
e tenta pensar em outras coisas, querendo esquecê-lo e conclui: “eu só sinto coisas ruins pelo
meu pai, eu sinto raiva, ódio e tristeza” (sic).
Observando a ilustração, a psicoterapeuta descreve o triangulo mãe-filha-pai e investiga:
“Bia, eu percebo que os sentimentos que você mostra em relação ao seu pai são muito parecidos
com os que você diz que a sua mãe sentiu ao ser abandonada grávida...”. Com isso, a cliente
apreende que “tristeza, a mágoa e o sofrimento” (sic), podem ter sido apropriados de Cléo,
sendo oriundos da experiência dela e não da sua própria.
Salienta-se que cada etapa do ciclo do contato contém as demais e vivenciá-las
profundamente é certamente curativo. Uma vez que o processo de introjeção está sendo
trabalhado, de modo complementar a mobilização também estará, pois são interdependentes.
Da mesma forma, para que a energia interrompida na retroflexão possa ser utilizada no contato
com o outro e com o ambiente, faz-se necessário o retorno aos introjetos que podem estar
relacionados à inibição da expressão dos sentimentos e desejos (Ribeiro, 2007; Robine, 2006).
Ao longo do acompanhamento psicoterapêutico, outras introjeções também emergiram
e foram trabalhadas, como pode ser observado no fragmento a seguir, em que Bia relata sua
insegurança a respeito de conseguir realizar algo que para ela era importante naquele momento:

P: Eu acho que elas [mãe e avó] não acreditam que eu vou conseguir, por isso que elas
ficam falando isso. Até eu, eu não acredito na minha capacidade.
T: pra você, elas não acreditam na sua capacidade?
C: é... que eu não vou conseguir [...], elas dizem que essa é a verdade.
T: a verdade é: você não vai conseguir?
C: é, essa é a verdade.
T: e ai você pega a verdade e fala assim: essa é a verdade! E agarra, carrega... é assim?
P: é...
T: e essa verdade é sua?
C: Não. É delas!
T: e o que que você faz com ela?
C: eu pego! E guardo! E aceito.
T: igual um presentinho?
13

C: é [risos], bem desse jeito [silêncio].


T: como que você vive com essa verdade, que é delas?
C: ela está aqui guardadinha.
T: o que ela está fazendo com você?
C: está me deixando louca. Eu só fico matutando. Eu só fico pensando. Rezo toda hora
para eu conseguir, peço pra Deus me ajudar...
T: Bia, vê se faz sentido para você carregar essa verdade neste momento da sua vida...
C: acho que não.

Tal como propõe Ribeiro (2007), o oposto complementar à introjeção é a mobilização,


processo em que são feitas as distinções entre aquilo que é do eu e o que é do outro, permitindo
a apropriação de conteúdos que fazem sentido dentro da própria experiência. Seguindo essa
perspectiva, ao longo dos atendimentos, são manejadas algumas distinções entre os conteúdos
psicológicos provenientes das experiências da adolescente e as dos demais, como no fragmento
acima. Ao adotar esse percurso, a psicoterapeuta observa a cliente mais segura para falar dos
sentimentos e vivências experimentados por ela, incluindo aqueles relacionados ao seu pai.
Bia ressalta que precisa perdoar Tom, mas não acredita ser capaz. Sente-se magoada e
entende que isso pode impedi-la de acreditar no que ele diga, caso um dia venham a estabelecer
um diálogo. Pode-se apreender que ainda há pouca abertura para o novo, para o estabelecimento
da novidade, advinda da própria experiência. Com a introjeção, o desejo em se relacionar
diretamente parece ser sentido como imaturo, preferindo-se nutrir o que já é conhecido,
interrompendo-se a excitação para a mobilização em direção aquilo é almejado (Ribeiro, 2007;
Perls, Hefferline & Goodman, 1951).
Ao longo dos atendimentos, a jovem passa a eleger o pai como figura no início das
sessões e não ao final, como fazia anteriormente. Aos poucos, diz da falta que Tom fez e faz na
sua vida e da importância de vivenciar presença dele e reforça: “eu sinto falta do meu pai, é o
pai que eu tenho” (sic). É o início do processo de mobilização, em que aquilo que lhe é próprio
passa a ser reivindicado, sendo aberta a possibilidade de construção de uma nova relação com
o outro – no caso, o genitor (Ribeiro, 2007).
Por volta do quinto mês de atendimento, Bia anuncia, logo no início da sessão: “o Tom,
meu pai, me ligou!” (sic). Diz se sentir surpresa e confusa, sendo uma situação inesperada. Ao
longo do atendimento, Bia percebe que o seu desconforto está relacionado à falta de
convivência entre os dois, o que instaura um vazio. Esse é preenchido por suas teorias a respeito
dele, o que parece ser necessário devido a ausência imposta. Tom é semelhante a um
14

desconhecido para ela e o seu conhecimento a respeito do mesmo advém dos comentários da
mãe, da avó, da madrinha e, mais recentemente, de uma tia paterna, que salienta a importância
da aproximação entre pai e filha.
É interessante notar o quanto Bia se apoia em intermediários para significar a
reaproximação de Tom, o que é característico do movimento de introjeção. O desfazer desse
processo pode ser penoso uma vez que exige, em algum nível, uma ruptura com o meio à medida
que começa a existir a identificação e escolha por desejos que não são oriundos dele. Para além
disso, ainda é necessário resistir às pressões externas, sem aceitar passivamente aquilo que é
imposto como verdade (Polster & Polster, 2001).
Retornando à sessão, a psicoterapeuta intervém: “Bia, eu gostaria de saber qual a sua
disponibilidade para conhecer verdadeiramente o seu pai...”. Como resposta, a adolescente diz:
“80%, que quer dizer que eu estou disponível” (sic). Assim, é iniciada a possibilidade de
realização de escolhas a partir do que está dado na realidade, o que permite a expansão do poder
de diferenciação entre o que é proveniente da experiência do “eu” e da que é do “outro” –
mobilização (Polster & Polster, 2001; Ribeiro, 2007).
Em outra sessão, Bia consegue dizer sobre o que espera que aconteça. Percebe que existe
o desejo de que ele ligue, venha visitá-la, diga que está com saudade e finalmente, que ela possa
chamá-lo, carinhosamente, de “papai” (sic). Em alguns momentos, diz acreditar nas
demonstrações de Tom, que requer sua atenção, inclusive solicitando-lhe um encontro, o que é
cogitado por ela. Sobre os seus sentimentos em relação ao pai naquele momento, afirma: “eu
gosto dele por um lado e por outro eu tenho raiva” (sic) e ressalta: “antes de começar o
tratamento eu odiava o meu pai, agora eu aceito, o meu pai é importante” (sic). Emocionada,
fala dos momentos com o genitor, que sempre duram poucos instantes e do seu medo de que
desta vez, como nas outras, ele desapareça rapidamente.
Testemunha-se então o despertar de um desejo que é próprio, que emerge nitidamente
como figura. A excitação é marcante e a energia proveniente dessa etapa é propulsora para o
estabelecimento de um contato direto, sem a interferência familiar. Aviva-se aquilo que se
almeja e age-se em virtude disso, sem o temor da diferença, do julgamento e da reprovação.
Aos poucos, é experimentado o reivindicar daquilo que é preciso para a integração da própria
história (Robine, 2006; Perls, Hefferline & Goodman, 1951; Ribeiro, 2006).
Bia questiona o pai sobre os motivos que o fizeram ir pela primeira vez, deixando a mãe
grávida, pergunta feita tantas vezes a si mesma. Como resposta, Tom escreve: “eu não sei, eu
não sei explicar. É melhor a gente se afastar” (sic). Posteriormente, ele a bloqueia no aplicativo
de mensagens, impedindo o único contato que estavam estabelecendo até então. Ao dizer isso,
15

Bia chora durante todo o atendimento e na maior parte do tempo instaura-se o silêncio. Na
investigação, fica evidente que a resposta dada pelo pai não foi a que ela gostaria de ouvir; no
entanto, é a resposta dele, dada a partir da experiência e do contato, ainda que breve,
estabelecido entre os dois, sem intermédio dos demais.
Do ponto de vista teórico, Bia mobiliza-se, age e interage com o Tom, sendo estes –
mobilização, ação e interação – os fatores de cura dos mecanismos anteriores à etapa de
retroflexão. Tecnicamente, o ciclo do contato pode ser utilizado ora avançando ora recuando, a
depender da maior ou menor fluidez do cliente, respectivamente. Caso a psicoterapeuta
percebesse aspectos de maior flexibilidade e disponibilidade para o novo, poderia ter manejado
intervenções que possibilitassem o contato final, a satisfação e a retirada. Todavia, no desdobrar
dos atendimentos, a adolescente parecia remontar às sensações, sentimentos, pensamentos e
comportamentos antigos, fixados e enrijecidos, que careciam de ser revisitados, para então
seguir em frente (Ribeiro, 2007).
Posteriormente ao relato do afastamento, a cliente não comparece e às sessões
subsequentes elege como figura conteúdos diversos, pelos quais se problematizam a relação
com a mãe e com o padrasto, sua autoestima, autoimagem e seus relacionamentos interpessoais.
Em determinado momento, é feito um apanhado do processo psicoterapêutico até então
realizado. A jovem traz como ganho o fato de conseguir se expressar melhor: “minha mãe até
fala: ‘Bia, o que está acontecendo com você?’. ‘Está diferente, mais calma’”. Pouco a pouco,
vai se ausentando, o que fica mais comum após as férias, em julho de 2017.
Durante um mês consecutivo não comparece aos atendimentos e ao retornar inicia a
sessão dizendo: “estou grávida, casada e não aguento mais a vida de dona de casa” (sic).
Surpresa, a psicoterapeuta investiga. Bia relacionava-se com Téo, seu vizinho – um jovem de
dezoito anos, trabalhador autônomo – há dois meses, quando descobriu a gravidez. Essa não
foi inicialmente bem-vinda por todos os membros da família: “minha avó falou, você vai tirar,
minha mãe concordou” (sic). Em meio ao conflito instaurado, Bia decide ir morar com o rapaz
e ressalta o medo de que a sua história seja repetida, salientando: “eu não quero que o meu filho
tenha pais separados” (sic). A partir de então, nota-se um retorno às vivências antigas, que serão
utilizadas para a interpretação da nova realidade, em um processo de ruminação das introjeções
(Polster & Polster, 2001).
Em poucas semanas, a cliente retorna à casa da mãe e logo se finda o relacionamento
com Téo. Ele, de início, é descrito como um possível “bom pai” (sic), por aparentar maturidade
e firmeza, o que passa a ser contestado posteriormente. Segundo ela, após a notícia de que a
criança esperada é do sexo feminino, o rapaz a abandona, não atendendo às ligações, não
16

respondendo as mensagens dela de celular, cessando, então, o contato entre eles. Esta sessão é
marcada pelo choro intenso de Bia e não são realizadas intervenções – além do suporte
emocional – pela psicoterapeuta.
É interessante notar que a cliente atribui ao abandono atual a mesma causa do vivenciado
em outrora: o fato de se conceber/ter sido concebida uma menina. Parece existir uma repetição
do conteúdo introjetado, que mesmo atualizado em outra relação, ainda é utilizado como se
fosse a única alternativa para a compreensão da dinâmica de afastamento, antes de seu pai,
agora do pai de sua filha. Tal movimento é característico da introjeção, em que a pessoa gasta
sua própria energia para manter os padrões introjetados, abdicando de escolhas livres e de novas
identificações (Polster & Polster, 2001).
Em uma sessão recente, Bia descreve sucessivas aproximações e distanciamentos de
Téo, sendo então indagada: “isso se parece com algo que você já viveu?”. Positivamente, a
jovem reconhece a semelhança com a sua história em relação ao pai. Novamente, traz à tona a
questão do gênero, sendo possível intervir. A psicoterapeuta propõe que a adolescente averigue,
com base naquilo que ela pode observar, outras situações que levariam esses dois homens a
optarem pelo distanciamento. Bia percebe que, ambos, poderiam simplesmente escolher por
estabelecer outras relações e/ou não serem capazes de assumir o papel imposto pela paternidade,
ainda que esses não sejam compreendidos como motivos justificáveis para o desamparo.
Ao se propor que a cliente experimente olhar para as características da sua realidade
atual, a psicoterapeuta favorece a discriminação daquilo que está posto com aquilo que em
outros momentos lhe fora dado. A novidade pode ser assimilada, com a possibilidade de
rompimento da dinâmica de retroalimentação de estereótipos, adquiridos ao longo da vida. É o
início do desfazer de um movimento automatizado de compreensão das experiências sem que
haja um suficiente investimento de energia para atualizá-las, o que leva a pessoa a recorrer aos
padrões já estabelecidos para a interpretação (Polster & Polster, 2001).
Bia retorna à dor do abandono de Tom, único fato ao qual ela verdadeiramente tem
acesso. Acredita que fez tudo o que estava ao seu alcance para ser percebida pelo pai, exaurindo-
se:

C: uma vez o meu pai disse para alguém que se eu engravidasse ele faria eu perder o
bebê igual ele fez com a minha irmã.
T: você engravidou!
C: pois é, eu desafiei ele!
T: o que você esperava, Bia?
17

C: eu acho que foi para ver se ele me via, não sei, para chamar a atenção mesmo... Mas
agora chega, acabou, eu cheguei no meu limite, eu não vou fazer mais nada, eu não vou me
cortar, eu não vou engravidar... É como se eu tivesse tirado um peso! Eu não sinto mais raiva,
eu não sinto mágoa, mas já chega, agora eu vou cuidar do meu bebê.

Observa-se que mesmo com a intenção de alcançar o pai, Bia retorna a energia para ela
mesma, interrompendo o contato. Tal movimento é pontuado pela psicoterapeuta e a cliente
pode ampliar a consciência de como, habitualmente, resolve seus conflitos: “eu fico remoendo
as coisas”, “volto tudo pra dentro” (sic), “engulo” (sic). Essas são características marcantes da
retroflexão e, com Bia aware do seu processo de interrupção, a psicoterapeuta pode intervir,
propondo uma abertura para o contato direto com o outro:

T: como seria um jeito de descobrir se elas [mãe e avós] estão preocupadas e com medo
de você não conseguir ganhar a sua filha de parto normal?
C: perguntar?
T: é?
C: acho que é.
T: que pergunta você poderia, eu não estou dizendo que você vai fazer, mas que você
poderia fazer para saber?
C: perguntar porque elas estão dizendo que eu não vou conseguir ganhar a nenê de parto
normal, [...] mas ai eu também fico com um pouquinho de medo de saber a resposta... ai eu...
eu não sei se eu faço ou não faço.
T: nesse não sei se eu faço ou não faço, o que que acaba acontecendo?
C: não acontece nada, fica tudo parado.
T: igual aquele poste que você disse se sentir, no começo da sessão?
C: é.
T: engole?
C: é... guardo aqui [aponta para o coração] ...
T: e se você começasse a experimentar... perguntar... assim, como quem não quer nada...
C: talvez ia fazer bem [...], mas eu tenho medo vai que minha vó responde... igual
quando eu falei que estava grávida.
T: o que?
C: tira!
T: agora o que seria equivalente a isso?
18

C: ah, “não tenho medo não” [...] algo assim... ou sei lá, “tomara que você morra!”.
T: você imagina o que levou a sua avó a te dar aquela resposta? Você chegou a conversar
com ela?
C: não [choro intenso]. Eu fiquei muito magoada com ela, então eu não quis conversar.
E essa mágoa ainda está aqui, não sei se vai passar...
T: [...] eu não consigo imaginar o que pode ter levado a sua avó ter falado isso [...] e ai
mais uma vez, não é falado, não é conversado... você pega mais uma coisa...
C: sem sentido...
T: mas que te machuca...
C: demais. Isso para mim foi pior que um tapa.
T: foi muito marcante...
C: Foi.

É evidente a necessidade de que primeiro se abra o espaço para que a luta interna
aconteça, o que é almejado em psicoterapia, para então possibilitar a recuperação do contato
final, com aquilo que é externo. Observa-se que a cliente se volta para suas introjeções, podendo
aceitar a si mesma e com isso se prepara para fazer o mesmo no mundo. Assim, desfeita a
imobilização e a rigidez, a pessoa se energiza e pode – conscientemente – retornar sua energia
para o objeto da ação necessária, encontrando o caminho e a direção na busca daquilo que lhe
é apropriado. São etapas que foram desenvolvidas com a adolescente, processualmente (Polster
& Polster, 2001; Ribeiro, 2007).
Estando aware da forma como mais caracteristicamente se interrompe, é aberta a
possibilidade de, se necessário, interromper o contato conscientemente e/ou observar quando o
está impedindo de modo anacrônico, em um movimento de retroflexão (Ribeiro, 2006; Pinto,
2015). Com isso, Bia alcança a compreensão de que reter os conteúdos para si ou retorná-los
ao ambiente é algo passível do seu controle e, desse modo, ela é responsável pelo que diz ou
não e pelo que guarda ou devolve, tal como pode ser observado no fragmento seguinte.

T: Bia, parece que tem coisas que você guarda demais... e tem coisas que você fala
demais...
C: isso.
T: você consegue fazer a diferença desses dois tipos de coisa?
C: consigo.
T: qual que é?
19

C: tem umas coisas que tipo, me magoam, me machucam e ai eu guardo... mas outras
não, as que não fazem diferença eu falo.
T: tipo?
C: quando eu estou muita com raiva da pessoa, eu falo: “olha, não me enche não porque
se não eu vou te xingar”. Ai a pessoa entende, tudo bem... mas falam: “nossa, você está muito
diferente, Bia”. Ai eu estou percebendo que as pessoas estão se afastando...
T: o que faz essas pessoas se afastarem?
C: acho que é por causa do choque, porque hoje eu já dou umas más respostas...
T: como que seria o ideal? Para você...
C: não sei...
T: qual que seria assim, a medida perfeita para a Bia? Porque o falar nada não é né...
C: não.
T: o falar demais, não é né...
C: também não.
T: o guardar demais coisas tão pesadas...
C: não! [...] eu não sei... É uma balança assim, de um lado as vezes pesa demais, as
vezes do outro pesa demais... e eu não sei.
T: Bia, mas parece que você está procurando a sua medida...
C: é. Estou tentando.
T: o que você já percebeu?
C: que guardar não faz bem. Algumas coisas você tem que guardar, você não fala
assim... outras coisas não, outras coisas você pode falar.
T: então, a gente vai trocar esse “você” por “eu”... repete a frase agora.
C: algumas coisas eu tenho que guardar e outras coisas não.
T: e você pode escolher o que você quer guardar e o que você não quer.
C: é. [espanto].
T: parece que é meio novo isso...
C: é, para mim é.
T: parece que você está ouvindo pela primeira vez: “eu posso escolher o que eu vou
guardar e o que eu não vou guardar”. Ai sua carinha foi tipo assim: “ué, eu posso?”
C: é... [risos]. Eu posso? Eu posso guardar e eu posso falar?
T: sim, você pode!
20

Tal como demonstrado, a cliente experimenta o abdicar de uma repetição compulsória


e estéril, podendo abrir espaço à novidade e ao crescimento. O que é desfeito não é o modo de
ser da pessoa, mas sim a sua cristalização, fruto de gestalten inacabadas, que geram o
adoecimento. Ao manejar o enrijecimento, abrange-se a flexibilidade, o que proporciona o fluir
da energia no processo de formação e transformação de figuras. Em psicoterapia, o ciclo do
contato pode ser percorrido em uma sessão, em alguns meses ou anos, sendo que o fundamental
é a vivência profunda de cada etapa, como descrito neste esboço, que se restringiu às
interrupções mais características de Bia: a introjeção e a retroflexão (Pinto, 2015; Ribeiro,
2006).

5. Conclusão

O diagnóstico e a relação terapêutica configuram-se como elementos indissociáveis à


prática clínica, sendo difícil conceber uma atuação em que um desses dois aspectos esteja
alienado. Ambos, em conjunto, podem ser considerados como percussores e preditores das
intervenções realizadas pelo psicoterapeuta que, diante do seu cliente, faz uma observação
respeitosa e cuidadosa do seu modo de ser.
Dentro da perspectiva da abordagem gestáltica, o diagnóstico é realizado de forma
processual, acompanhando o curso psicoterapia. Do mesmo modo que o cliente desenvolve
aspectos de si ao longo dos atendimentos, o psicoterapeuta faz isso em relação às suas hipóteses
iniciais, à maneira como conduz as sessões, à abordagem adotada e tudo mais que for necessário
ao desvelamento dos sentidos e significados do sofrimento vivenciado por aquele que procura
por ajuda.
O ponto de partida é a experiência imediata descrita pelo cliente, que possibilita ao
psicoterapeuta a investigação, realizada a partir do conhecimento adquirido por meio da relação
estabelecida no setting e daquele proporcionado pelo saber científico. Sendo assim, é
importante que o gestalt-terapeuta se aproprie de instrumentos que o amparem no trabalho
clínico e componham uma referência útil ao diagnóstico e à intervenção.
Os entendimentos aqui expostos são resultantes do que foi desenvolvido no presente
artigo. O objetivo principal foi demonstrar a utilização do ciclo do contato – proposto por
Ribeiro (2007) – como instrumento clínico no manejo do processo psicoterapêutico na Gestalt-
terapia. Por meio de um estudo de caso, foram evidenciadas algumas possibilidades de
intervenção, que estão ancoradas no modelo de diagnóstico processual descrito.
O ciclo do contato permite que o gestalt-terapeuta realize uma leitura da forma como o
processo de aproximação/afastamento acontece na interação self/meio. Tal modelo proporciona
21

a apreensão do modo como o cliente reconhece seus estados equilíbrio/desequilíbrio e como o


mesmo manipula o ambiente para satisfação de suas necessidades. Apresenta grande utilidade
enquanto instrumento clínico por apontar critérios diagnósticos e possibilidades de intervenção,
sendo um norteador para o psicoterapeuta.
Para além do favorecimento da identificação das interrupções de contato, o modelo
elaborado por Ribeiro (2007) aponta para os fatores que propiciam o resgate dos processos
saudáveis. Almeja-se não um enquadramento em critérios enrijecidos, mas sim a apreensão dos
modos de ser do cliente, que apresenta facetas curadas e feridas. O objetivo é a caminhada no
sentido de restabelecer o desenvolvimento e o crescimento do cliente, o que permite concluir o
quão importante é o ciclo do contato à abordagem gestáltica.

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Polster, E., & Polster, M. (2001). Gestalt Terapia Integrada. (S. Augusto trad.). São Paulo:
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Ribeiro, J. P. (2007). O ciclo do contato: temas básicos na abordagem gestáltica. São Paulo:
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Zinker, J. C. (2001). A busca da elegância em psicoterapia: uma abordagem gestáltica com


casais, famílias e sistemas íntimos. 4. ed. São Paulo: Summus.
23

Anexo 1 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


Você está sendo convidado (a) a participar, como voluntário (a), de um estudo de caso
clínico, que é uma das formas de se fazer pesquisa em Psicologia. Meu nome é Maevy Rocha
Nascimento, sou psicóloga e pós-graduanda em Gestalt-Terapia pelo Instituto de Treinamento
e Pesquisa em Gestalt-Terapia de Goiânia (ITGT). Após receber os esclarecimentos e as
informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este documento deverá ser
assinado em duas vias e em todas as páginas, sendo a primeira via de guarda e confidencialidade
da psicóloga e pós-graduanda responsável pelo estudo de caso e a segunda via ficará sob sua
responsabilidade para quaisquer fins.
Em caso de recusa, você não será penalizado (a) de forma alguma. Em caso de dúvida
sobre a pesquisa, você poderá entrar em contato com a responsável pela pesquisa no telefone
(62) 98469-7106 ou no e-mail maevyrn@gmail.com ou com a orientadora da pesquisa,
Professora Esp. Denise Borella, no telefone (62) 99153-6118, ou através do e-mail
deniseborella@gmail.com.
Em caso de dúvida sobre a ética aplicada a pesquisa, você poderá entrar em contato
com o Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Pontifícia Universidade Católica de Goiás,
localizado na Avenida Universitária, N° 1069, Setor Universitário, Goiânia – Goiás, telefone:
(62) 3946-1512, funcionamento: 8h as 12h e 13h as 17h de segunda a sexta-feira. O Comitê de
Ética em Pesquisa é uma instância vinculada à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(CONEP) que por sua vez é subordinado ao Ministério da Saúde (MS). O CEP é responsável
por realizar a análise ética de projetos de pesquisa, sendo aprovado aquele que segue os
princípios estabelecidos pelas resoluções, normativas e complementares.
O estudo de caso é um modelo de pesquisa que tem como objetivo descrever o
atendimento clínico realizado e analisá-lo a partir dos princípios teóricos e metodológicos que
fundamentam a prática do profissional psicólogo, colaborando com o desenvolvimento da
Ciência Psicológica e com a atuação de psicólogos de diferentes áreas.
O estudo de caso desta pesquisa refere-se ao seu atendimento psicológico, realizado no
Centro de Especialidades Médicas do Município de Senador Canedo (CEM), iniciado em
novembro de 2016 e estendendo-se até o presente momento. O atendimento tem sido realizado
pela profissional psicóloga Maevy Rocha Nascimento (CRP 09/9091), que está integralizando
o curso de pós-graduação em Gestalt-Terapia no ITGT. A partir dos atendimentos realizados, a
pesquisadora confeccionará o estudo de caso que será utilizado como Trabalho de Conclusão
de Curso (TCC) e, posteriormente, pode vir a ser publicado em forma de artigo científico em
periódico específico de Psicologia.
24

Todo o material decorrente dos atendimentos (gravações em áudio, esquemas, desenhos,


transcrições e descrições de sessão) é de guarda e responsabilidade da profissional, que os
manterá seguros pelo período de cinco anos, conforme preconiza o Conselho Federal de
Psicologia (CFP). Tais materiais poderão ser acessados somente pela própria psicóloga ou pelo
Conselho Regional de Psicologia de Goiás (CRP 09), para orientação e fiscalização.
O estudo de caso é um relato dos atendimentos realizados, não oferecendo, a princípio,
qualquer dano à participante, uma vez que os atendimentos já foram realizados. Contudo, ao
final da confecção do trabalho, a participante poderá ter acesso ao mesmo, o que pode vir a
mobilizar conteúdos emocionais. Caso aconteça, a psicóloga responsável oferecerá o suporte
emocional adequado, conforme prevê o Código de Ética do Profissional Psicólogo.
É assegurado o sigilo e a confidencialidade de todos os seus dados, sendo resguardada
a sua identidade na elaboração do estudo de caso, modificando-se os seus dados para que não
seja possível a sua identificação. Os desenhos poderão ser anexados no estudo de caso, mas de
modo que não sejam identificáveis. Seu consentimento pode ser retirado a qualquer momento
e a sua participação interrompida, sem incorrer em prejuízos. Caso isso aconteça, seu
atendimento continuará sendo realizado pela profissional na unidade de saúde, sem quaisquer
prejuízos.
É assegurada a garantia de assistência integral e gratuita por danos diretos ou indiretos,
imediatos ou tardios, conforme a Resolução CNS 510/16, bem como indenização perante os
eventuais danos decorrentes da elaboração do estudo de caso nos termos da Lei e o
ressarcimento das despesas diretas decorrentes dos possíveis danos.
A pesquisadora responsável por este estudo e sua equipe de pesquisa declaram: que
cumprirão com todas as informações acima; que você terá acesso, se necessário, a assistência
integral e gratuita por danos diretos e indiretos oriundos, imediatos ou tardios devido a sua
participação neste estudo; que toda informação será absolutamente confidencial e sigilosa; que
sua desistência em participar deste estudo não lhe trará quaisquer penalizações; que será
devidamente ressarcido em caso de custos para participar desta pesquisa; e que acatarão
decisões judiciais que possam suceder.
Eu ____________________________________, abaixo assinado, discuti com a
Psicóloga Maevy Rocha Nascimento (CRP 09/9091) sobre a minha decisão em participar desse
estudo de caso. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos
a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de
esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas
e que tenho garantia de assistência integral e gratuita por danos diretos e indiretos, imediatos
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ou tardios quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei


retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades
ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento
neste serviço.

Senador Canedo, ___, de _____________, de 201_.

___________________________ ___/ ___/_____


Assinatura do participante Data

___________________________ ___/ ___/_____


Assinatura do responsável pelo participante Data

___________________________ ___/ ___/_____


Assinatura do pesquisador

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