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Aplicações em práticas específicas no trabalho do

psicólogo(a).
Uma das áreas dentro da psicologia organizacional em que a Gestalt-Terapia pode ser
utilizada como orientação é a concepção de programas de treinamento e
desenvolvimento. É possível basear-se em princípios que considerem características mais
vivenciais e práticas, que promovam experimentações, que tenham caráter relacional e,
quando possível, que envolvam atividades manuais ou corporais. Um exemplo é o trabalho
“Além do Jardim – Cultivando relações no trabalho” realizado por Mauro Figueiroa, psicólogo
gestalt-terapeuta, fazendo parte de um Programa de Treinamento Comportamental.
Uma outra maneira de empregar a abordagem é em conciliação com outra abordagem
psicológica dependendo do tema a ser trabalhado e do público que vivenciará o treinamento,
como foi descrito por Stroh (2014) na aplicação conjunta da Abordagem Centrada na Pessoa
com a Abordagem Cognitivo-Comportamental em um programa de Formação de Escuta
Ativa para Empresários.
Segundo Bittencourt (2014), apesar de a Gestalt-Terapia ter maior preocupação com o
processo e o Coaching focar mais no conteúdo exposto pelo cliente, a psicóloga
especialista em Gestalt-Terapia, acredita que o uso concomitante de ambos leve a melhores
resultados e que esse potencial de uso precisa ser melhor estudado. Segundo ela, tal
abordagem pode fomentar o trabalho do Coaching, visto que a essência deste é auxiliar as
pessoas de responsabilizarem por suas mudanças, pois ele ajuda a caminhar com foco, o
que aumenta as potencialidades.
Outra possibilidade de aplicação é no trabalho com lideranças, que demanda um perfil de
processo de aprendizagem diferenciado. Pardini, Silva Junior, Gonçalves e Melo (2012)
levantaram essa oportunidade em um estudo sobre “Redes de aprendizagem” como uma
proposta metodológica no aprendizado de executivos. Apesar de considerarem a
perspectiva da Gestalt limitada para explicar o processo de aquisição de conhecimento no
meio executivo, os autores enfatizam como significativo para tal processo que a
aprendizagem esteja relacionada com a interação entre as pessoas e o estímulo ao diálogo
e participação. Desse modo, a utilização dos princípios da Gestalt-Terapia já estudados
anteriormente pode suprir as necessidades requeridas pela metodologia que prioriza a
aprendizagem na vivência prática e no compartilhamento de experiências em grupo.
O plantão psicológico também tem sido adotado por algumas empresas, tendo talvez uma
tratativa mais complexa nesse contexto, por ser uma espécie de mescla de psicologia clínica
dentro do espaço organizacional. Mas que surge como demanda para o psicólogo
contemporâneo decorrente do mundo (e do homem) contemporâneo, conforme afirma
Rebouças e Dutra (2010). O plantão emerge como uma alternativa de atenção psicológica
emergencial (não somente em empresas, mas também em outras instituições ou até no
próprio consultório), que não pretende substituir a psicoterapia, mas que tem a função de
proporcionar uma escuta e acolhimento à pessoa no momento de crise. Estando os
profissionais maior parte de seu tempo dentro das organizações e, sendo o trabalho o
“causador” de algumas delas, faz sentido a avaliação dessa oportunidade de atuação.
Lilienthal (2002), considera que o psicólogo precisa ter algumas características que julga
importantes para atuar com o plantão, como: capacidade de atenção (perceber o outro ao
máximo e transformar em intervenções assertivas); autenticidade (ser ele mesmo na relação
com o outro); perseverança (acreditar que o outro encontrará em si as respostas);
e ousadia (não fazer manutenção da patologia). Segundo o psicólogo, atuar nessa área é
otimizar o tempo no sentido de não perder oportunidades de intervenção, mas sem apressar
os processos.
Outra prática exequível é na pesquisa dentro da área organizacional, sendo ela, de acordo
com Arcaro (2017), uma forma de obter conhecimentos através de uma atividade planejada
e de maneira sistemática e que tenha um alto nível de confiabilidade. Os dados pesquisados
devem ser levantados, analisados e possivelmente levarão a determinadas conclusões.
Segundo o autor, as pesquisas intra-organizacionais podem investigar aspectos como:
diagnóstico organizacional, comunicação, clima organizacional, estrutura de
relacionamentos e liderança, perfil do capital humano, necessidades de treinamento, e
podem servir de base para qualquer planejamento estratégico. As pesquisas
organizacionais podem ser tanto quantitativas quanto qualitativas.
Como exemplo, Cherman e Rocha-Pinto (2016), para pesquisar a valoração do
conhecimento nas organizações, se utilizaram da Fenomenografia, que é um método
qualitativo para apreender as diversas concepções dos indivíduos acerca de um fenômeno,
ou seja, como cada um experiencia, assimila e significa o que foi vivido.
Um dos campos de atuação mais encontrados em estudos de Gestalt-Terapia relacionados
à área do trabalho é referente à Programas de Orientação Profissional/Análise de
Escolha Profissional. Em geral, os programas que seguem a orientação dessa abordagem
buscam fugir do perfil de “orientação vocacional” mais tradicional em que o psicólogo é o
responsável por descobrir e direcionar o indivíduo para determinado caminho profissional.
No decorrer do tempo, diferentes enfoques foram dados aos trabalhos, porém sem perder a
essência do protagonismo do indivíduo no processo.
Canedo (1997), teve um foco na visão do adolescente numa posição de sujeito proativo
capaz de decidir e fazer escolhas e se baseou no modelo de ciclo de contato para trabalhar
o processo de escolha (como satisfação de uma necessidade). Já Arruda (2006), fala da
importância de um Programa de Escolha Profissional, com um olhar gestáltico, que se
fundamenta na escuta, no diálogo e na relação com as pessoas para desenvolver suas
potencialidades já existentes através do autoconhecimento. No trabalho de Baroncelli
(2012), são feitas reflexões históricas e teóricas de como utilizar a abordagem gestáltica na
orientação profissional, considerando o homem em uma visão holística e em relação a um
campo.
Menezes, Ovelar e Oliveira (2014) descrevem a aplicação prática de um programa de
orientação profissional em que foi baseado nos princípios fundamentais da Gestalt-Terapia,
envolvendo desde o autoconhecimento até a possibilidade de fazer (ou não) escolhas de
acordo com suas necessidades. E Souza, Carvalho e Pontes (2016) fizeram a resenha do
livro “Análise da Escolha Profissional” de Vanessa Magnan e Ana Feijoo, na qual ressaltam
que a proposta das autoras é resgatar o espaço da possibilidade do autoconhecimento
do analisando, para que possa julgar-se por si mesmo e encontrar em sua existência a sua
medida, com foco em processo de análise.
Além dessas possibilidades de atuação acima apresentadas ainda há oportunidades de
adotar a Gestalt-Terapia como orientação em outros trabalhos do psicólogo como, por
exemplo, para realizar diagnóstico organizacional, recrutamento e seleção, para se trabalhar
com projetos de planejamento de carreira, gestão de conflitos, programas de aposentadoria
(pré e pós), dentre outros que aparecerem como figura no cotidiano da prática
organizacional. Basta que o psicólogo esteja fundamentado em seus princípios e em sua
visão de ser humano.

Recorte do texto de Ana Paula Duque Payá, 2017. Disponível em:

http://gestaltsp.com.br/2017/10/27/perspectivas-de-atuacao-na-area-organizacional-sob-o-
enfoque-da-gestalt-terapia/

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