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Módulo 1
Carla Carvalho
2024
O Que é a Psicologia Organizacional (PO)?
Compreendendo a sua importância para as organizações
Definição de Psicologia das Organizações na atualidade:
A Psicologia das Organizações (PO) é uma área da Psicologia cujo objetivo geral é:
Compreender, predizer e gerir o comportamento humano no contexto de trabalho, sendo a sua
principal tarefa ajudar as organizações a definir estratégias e a implementar práticas
relacionadas com o desempenho das pessoas, e otimizar processos, aos vários níveis de análise
(individual, grupal, organizacional) como é exemplo o recrutamento e a seleção de pessoas, a
liderança, a comunicação, a motivação, a satisfação, a gestão de conflitos, a tomada de decisão,
que têm inevitável impacto no bem-estar dos trabalhadores e no seu desempenho.
Na atualidade, a preocupação com o bem-estar dos trabalhadores e com a sua saúde (física,
mental e emocional) é uma questão central para os psicólogos. Procuramos contribuir para a
manutenção da qualidade de vida dos trabalhadores, ao mesmo tempo que procuramos criar
condições para o aumento da sua produtividade e, consequentemente, para o sucesso da
organização.
O QUE É A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL
Para os líderes, esta análise e compreensão do comportamento das suas equipas é também
muito importante para trabalharem eficazmente no aumento da motivação e consequente
produtividade, e para uma boa gestão dos conflitos no trabalho, de forma a diminuir o
turnover (taxa de rotatividade e mede o índice de colaboradores que entram e saem da empresa por diversos
motivos), bem como para a gestão de outras questões relevantes neste domínio.
Como viram, falamos em organização, em trabalho e em pessoas. É por isso que dentro da
Psicologia surgem três áreas complementares que tratam das “questões organizacionais”:
Nos últimos anos, emergiram questões que têm vindo a ser discutidas de forma mais
sistemática por profissionais de várias áreas, alertando para a necessidade de investir no
cuidado com a saúde (mental, emocional e física), especialmente em certas profissões.
Dessa forma, torna-se mais fácil atuar preventivamente, sensibilizar para determinados 6
problemas e não apenas agir quando os problemas já existem. E mesmo que os problemas
surjam, mais rapidamente podemos propor medidas para os resolver e recomendar
estratégias de mudança para criar um ambiente mais positivos e trabalhar as relações de
trabalho.
2. Até 1940: marcado pela famosa investigação de Hawthorne (Elton Mayo e seguidores)
com a Escola das Relações Humanas - emergência da importância atribuída aos grupos e aos
seus efeitos sobre a produção. A partir destas experiências, pela primeira vez, os fatores
sociais emergem no campo de estudo da PO – como por exemplo, os estudos sobre o clima
social nas organizações, a comunicação, a liderança, moral, os grupos informais, etc.
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O Instituto Tavistock de Relações Humanas ou TIHR é uma organização britânica sem fins lucrativos preocupada com o estudo do
comportamento grupal e do comportamento organizacional em geral. Foi iniciado em 1946, quando se separou da Clínica
Tavistock e formalmente estabelecido em setembro de 1947. A revista Human Relations é publicada em nome do Instituto Tavistock
pela Sage Publications. O Instituto está localizado na Tabernacl Street, em Islington, em Londres.
Para ilustrar essa conceção de organização como um sistema em que no seu todo e nos seus
diferentes níveis a Psicologia das Organizações investiga/intervém, vejamos:
Modelo 1: As organizações são SISTEMAS ABERTOS que absorvem energia ou valor – INPUTS – do ambiente
externo (onde existem concorrentes) e geram produtos/serviços – OUTPUTS (Resultados) – através do
PROCESSAMENTO (processos vários) dos seus inputs (recursos).
A ORGANIZAÇÃO pode então ser entendida como uma entidade social dirigida para
objetivos específicos e deliberadamente estruturada, sendo uma entidade social porque é
constituída por pessoas, é dirigida para objetivos porque é desenhada para alcançar metas, e
deliberadamente estruturada pelo facto de que o trabalho é dividido e o seu desempenho é
atribuído aos membros da organização.
ORGANIZAÇÃO: ELEMENTOS FUNDAMENTAIS PARA A SUA COMPREENSÃO
1. Unidade social: conjunto de pessoas unidas por um fim comum,
2. Objetivos: Representam as metas ou resultados organizacionais pretendidos e a obter no
futuro ou, por outras palavras, o propósito que justifica toda a atividade desenvolvida ou
mesmo a própria existência da organização. Naturalmente, todas as organizações devem
determinar, não apenas os seus objetivos, mas, também, definir as medidas (políticas,
estratégias e táticas) e formas de atuação e de alocação de recursos que se pensam mais
adequadas para os atingir.
3. Atuação coordenada: para que exista uma organização, não basta que um conjunto de
pessoas atue com vista a atingir um objetivo comum; é necessário também que essas pessoas
se organizem ou seja, que desenvolvam as suas atividades de forma coordenada e controlada
para atingir determinados resultados. Esta coordenação e controlo é geralmente efetuada
por um líder, mas encontram-se muitas vezes organizações em que estas tarefas são
efetuadas por todos os membros em conjunto através, por exemplo, de um órgão colegial.
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4. Recursos: representam todos os meios colocados à disposição da organização e
necessários à realização das suas atividades/tarefas. Aqui incluem-se os recursos humanos,
materiais, os tecnológicos, os financeiros, a imagem de mercado e a credibilidade perante o
exterior.
5. Afetação eficaz: os recursos organizacionais descritos no ponto anterior são, por definição,
escassos, daí que a sua alocação (distribuição) deva ser efetuada eficazmente para que a
probabilidade de atingir os objetivos pré-definidos seja a maior possível. É daqui que surge a
principal justificação para a necessidade da gestão nas organizações (incluindo a gestão das
pessoas).
6. Envolvente: toda a envolvente externa da organização que, de forma direta ou indireta,
influencia a sua atuação e o seu desempenho. Nesta envolvente externa inclui-se um conjunto
de stakeholders (partes interessadas na organização), como o contexto económico,
tecnológico, sociocultural, político-legal, e ainda um conjunto de elementos que atuam mais
próximo e diretamente com a organização, tais como os clientes, os fornecedores, os
concorrentes, as organizações sindicais, a comunicação social, a comunidade e a sociedade
em geral, entre outros.
As organizações são sistemas abertos e campos de forças, competem para absorver mais
energia ou valor do ambiente externo, onde processam inputs e geram outputs.
A organização é, então, um conjunto/totalidade interdependente (qualquer modificação de um
elemento conduz a alterações nos demais, e portanto no conjunto) operativa e social que visa a
obtenção de propósitos ou objetivos, estando inserida num ambiente mais amplo - a Envolvente -
que é constituído, também ele por dimensões físicas, tecnológicas, económicas, políticas, culturais,
etc., que lhe impõem exigências e restrições. Esta envolvente está em contínua interação com a
organização, influenciando-a e sendo por ela influenciada.
A análise de uma organização só pode ser efetuada tendo em conta a organização como um todo,
(resultado mais do que das características dos elementos, das relações entre os diversos elementos) e
a forma como ela interage com a envolvente, a Psicologia das Organizações utiliza - importando da
cibernética (ciência que estuda os sistemas em geral e em particular os processos de comunicação e de
controle dos sistemas) e da análise de sistemas - a noção de SISTEMA ABERTO para "definir"
ORGANIZAÇÃO. (Cf. Modelo 1 anteriormente apresentado).
A Organização recebe da envolvente "Inputs" (fatores no/do meio que influenciam a
organização) de diversa natureza (uns relativamente previsíveis e controláveis: capitais
necessários, equipamentos, matérias-primas, energia, etc.; outros mais difíceis de discernir:
solicitações de bens ou de serviços, etc.; outros ainda menos previsíveis e controláveis: os
indivíduos [com as suas ideias, sentimentos, modelos, valores, normas, mitos, preconceitos,
estereótipos,...] os quais constituem o seu "equipamento cultural", resultado do próprio
sistema organização [também ele lugar de "aprendizagem cultural"] mas igualmente de
outros sistemas sociais presentes na envolvente [família, associações diversas, ...]).
Os "inputs" vão sofrer um processo de transformação no interior do sistema, tendo em vista serem
projetados na envolvente sob a forma de "outputs" (resultados, efeitos da organização na envolvente) 2
- serviços prestados, produtos acabados, salários pagos, satisfação dos colaboradores e clientes, ...
A propósito do processo de transformação podemos distinguir, de acordo com Argyris (1979) três
tipos gerais de atividades essenciais em toda a organização (fábrica/indústria, escola, hospital, ...):
a. Atividades para obtenção dos objetivos oficiais da organização: produção de bens ou serviços; 13
b. Atividades de manutenção do sistema interno: atividades conducentes à coordenação e
desenvolvimento de relações satisfatórias entre os elementos - indivíduos e grupos - e a organização;
atividades cuja função é a facilitação e regulação das atividades orientadas para os objetivos;
c. Atividades orientadas para a "adaptação" à envolvente (condição "sine qua non" para a
sobrevivência e desenvolvimento da organização); a organização deve acompanhar e, se possível,
antecipar as mudanças da envolvente (esta adaptação, capaz de conduzir a equilíbrio Hemostático
[equilíbrio dinâmico resultante de uma adaptação contínua - mudança/ajustamento - face às
mudanças externas] e pondo em evidência as capacidades Morfogenéticas [capacidade de modificação
de formas estruturais básicas] deve resultar de decisões tomadas nos momentos adequados [decisões
que, na maior parte dos casos são tomadas pelo topo da hierarquia já que a maior parte das
organizações funciona num registo piramidal (Levy-Leboyer, 1973]).
Os resultados podem ser utilizados pelo sistema como informação fundamental para o seu
desenvolvimento e mudança (ex: dados sobre os produtos mais vendidos; níveis de satisfação dos
colaboradores...). Tal ocorre através do processo de "feedback" do sistema (informação de retorno,
retroalimentação), responsável, então pela correção de erros.
Uma referência mais importa de efetuar: o tempo é uma variável que numa conceção de organização
como sistema aberto não pode ser esquecida. Com efeito, seja qual for a natureza dos fenómenos
organizacionais que queiramos analisar, temos que ter presente que o sistema sendo dinâmico está
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Os outputs da organização não se situam todos no mesmo nível de análise. Alguns outputs situam-se num nível muito global e estão relacionados com a
organização como um todo - nível organizacional (níveis de produtividade global [ex. volume de vendas]; Taxas gerais de turnover e absentismo, perceções
desenvolvidas pelos clientes, pelos membros e pelo público em geral sobre a organização, ...). Outros outputs situam-se ao nível do grupo de trabalho
(produtividade de grupo; desenvolvimento de conflitos e sentimentos negativos entre grupos, sentimentos de lealdade e coesão intragrupais, ...). Finalmente,
outros outputs situam-se ao nível individual (nível de desempenho individual, satisfação, stresse e ansiedade, propensão para ausentar-se do trabalho, ...).
em contínua mudança e, assim, cada comportamento é influenciado pela variável “tempo”, pois
inscreve-se num momento preciso e tem uma duração determinada.
O tempo exerce pressão sobre os membros da organização nas suas atividades mais diversas (e.g., os
cálculos de rentabilidade devem ter em conta o tempo; a velocidade e ritmo de execução de certas
tarefas é vital para a sua articulação com outras tarefas,..) e exerce pressão no global da organização, a
qual, para sobreviver, como vimos já, tem que acompanhar e muitas vezes antecipar as mudanças
tecnológicas, económicas, sociais, políticas e culturais da envolvente.
FUNÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES: através das organizações os objetivos podem ser realizados,
pois através delas os esforços são coordenados permitindo o alcance das metas, que sem a
organização, seriam muito difíceis ou até mesmo impossível de serem atingidas.
Segundo Stoner e Freeman (1985):
1. As organizações atendem às necessidades da sociedade: As organizações servem a
sociedade, pois são instituições sociais que refletem valores e necessidades culturalmente
aceites e permitem que os seres humanos vivam juntos de modo civilizado e que realizem
coisas enquanto sociedade. Elas servem a sociedade transformando o mundo num lugar
melhor para se viver.
2. As organizações alcançam objetivos: as organizações com a participação de seus
colaboradores, em diversos setores da atividade humana, permitem a realização de objetivos
dificilmente alcançáveis, caso fossem desempenhados por indivíduos de forma isolada.
3. As organizações mantêm o conhecimento: através das universidades, dos museus e
corporações todo o conhecimento adquirido pela humanidade é preservado e transmitido
para as presentes e futuras gerações.
4. As organizações preservam o conhecimento: tornando-o como uma ponte que contínua 14
entre gerações passadas, presentes e futuras, além de aumentar o conhecimento ao
desenvolver meios novos e mais eficientes de realizar coisas.
5. As organizações proporcionam: o desenvolvimento do potencial humano e a satisfação de
necessidades dos indivíduos.
2. VISÃO: (de futuro) define o que a organização pretende daqui a alguns anos. Representa
as ambições da organização e descreve o quadro futuro que se quer atingir dentro de um
período mais longo de tempo. A visão proporciona o grande delineamento do planeamento
estratégico a ser desenvolvido e implementado pela organização. A visão de futuro sintetiza
as aspirações da organização, criando um clima de envolvimento e comprometimento com o
seu futuro. A definição de “aonde se pretende chegar” permite entender com clareza o que é
preciso mudar na organização ou como ela precisa evoluir para que a visão seja concretizada.
Uma visão compartilhada une as pessoas e impulsiona-as a procurar os seus objetivos, apesar
de todas as dificuldades que possam encontrar.
Uma organização sem visão é uma organização sem direção. O seu enunciado deve ser claro e
objetivo, positivo, desafiador e, em geral, é expresso com um verbo no futuro ou no infinitivo.
Cada organização deve possuir apenas uma declaração de visão. A visão de futuro raramente
muda, é estável. Deve ser capaz de, num único parágrafo, esclarecer a qualquer pessoa, de
dentro ou de fora da organização, o que aquela organização pretende fazer. Deve evitar-se
que o seu enunciado seja genérico, sem identidade própria, ou seja, aplicável a qualquer
organização.
“Ser a empresa que melhor entende e satisfaz globalmente as necessidades de produto, serviço e 15
autorrealização da mulher”
“Criar uma empresa líder onde as pessoas tenham orgulho e prazer de trabalhar”
“Experimentar o prazer de avançar e aplicar tecnologia para o benefício das pessoas”
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O sistema formal pode detetar-se nos documentos oficiais, nos regulamentos, nas descrições de funções, nas notas de serviço, nos
folhetos de acolhimento, nos boletins oficiais de informação...sem esquecer os organigramas (representações gráficas do sistema
formal de responsabilidades hierárquicas e/ou funcionais).
A psicologia organizacional é importante para assegurar um ambiente harmonioso de
trabalho, evitando situações que prejudiquem os colaboradores e a própria empresa.
Diferentes fatores, como o avanço tecnológico e as mudanças sociais, afetam a dinâmica do
universo de trabalho e apontam novos desafios para empregadores e trabalhadores.
Mais uma vez, é aqui que entra novamente os aspetos relacionados com a Psicologia
Organizacional, cuja atuação vai desde o respeito pelas pausas no trabalho até à
necessidade de permitir que todos ouçam e sejam ouvidos no local de trabalho,
proporcionando um ambiente de trabalho agradável.
Estes são apenas alguns exemplos do que se pode passar no ambiente de trabalho e que
podem gerar desmotivação, turnover, insatisfação, quebras na produtividade, etc. Se uma
organização não promover qualidade de vida no trabalho e implementar medidas
promotoras do bem-estar e cuidar das boas relações entre os colaboradores no dia a dia, os
conflitos e os pedidos de demissão tendem a aumentar com mais facilidade. Analisar quais as
causas que levaram alguns trabalhadores a pedir a demissão é algo muito importante.
Recorrer à entrevista de “desligamento/saída” é muito útil nestas situações pois permite
obter informação valiosa.
De facto, um dos maiores bens das organizações são as pessoas, sobretudo as mais 18
talentosas. São elas que são responsáveis pela criação, inovação e produção de conhecimento
e necessários para o alcance dos resultados organizacionais. Mas manter os colaboradores
comprometidos e motivados dentro das organizações de forma constante, é um desafio
para qualquer organização.
Marketing e recursos humanos: as duas áreas juntas podem potencializar a forma como as
pessoas olham para uma organização. O conceito e aplicação do employer branding, que tem
tudo a ver com o trabalho conjunto dos dois setores, tem sido muito falado e merece a
atenção dos profissionais dos RH e da Psicologia organizacional. Trabalhar esse tipo de
estratégia no dia a dia de trabalho é um desafio, mas pode ser muito recompensador.
São conquistas que dependem da presença de um psicólogo organizacional e de uma equipa
a ser constituída para atuar em diversas áreas da organização.
Papéis do psicólogo organizacional
Para que tais objetivos sejam alcançados é importante compreender o que é e o que pode
fazer um psicólogo organizacional. Referimo-nos ao profissional da Psicologia cuja atuação
se centra no contexto do trabalho. É importante compreender que para atuar neste domínio,
o profissional deve ter formação na área para poder atuar em matéria de Gestão de Pessoas.
Há quem refira que as tendências para a Gestão de Pessoas em 2024 incluem: Inteligência
Artificial, gamificação4, trabalho híbrido, diversidade, cultura de desenvolvimento, formação
personalizada, qualidade de vida, experiência do colaborador, cultura organizacional forte e
análise de dados.
A este respeito, veja-se o Webinar organizado pela OPP (Ordem dos Psicólogos Portugueses a
11/01/2024, sobre “Inteligência Artificial (IA) e Psicologia: Oportunidades e desafios” onde foi
destacado o enorme papel dos psicólogos nas organizações neste âmbito.
Com um olhar estratégico, vamos mergulhar nas inovações que prometem transformar a
rotina do setor, desde a implementação de inteligência artificial e automações até à
promoção de uma cultura organizacional voltada para o desenvolvimento dos profissionais e
desenvolvimento contínuo da equipa.
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A gamificação (ou gamification, em inglês) é a aplicação das estratégias dos jogos nas atividades do dia a dia, com o objetivo de
aumentar o engajamento (envolvimento/empenhamento) dos participantes. Baseia-se no game thinking, conceito que abrange a
integração da gamificação com outros saberes do meio corporativo e do design.
Esta ferramenta tem por objetivo o mapeamento de competências, habilidades e
características comportamentais dos trabalhadores de uma organização.
E qual o objetivo desta análise de necessidades dos colaboradores?
Procurar criar condições diferenciadas de acordo com os perfis dos colaboradores para que
eles produzam mais e com qualidade, gerando melhores resultados para a organização e, ao
mesmo tempo, se desenvolvam e evoluam como profissionais – o que à priori terá também
implicações na sua motivação e satisfação, envolvimento e compromisso, qualidade de vida,
etc. E os resultados de estudos sustentam a hipótese de que pessoas satisfeitas e felizes no
trabalho tendem a produzir mais e a ter experiências mais positivas no trabalho.
Compreender os papéis do psicólogo organizacional ainda fica mais fácil quando se conhece
as suas áreas de atuação. Vejamos de seguida algumas delas:
Constituída uma organização, há que atrair pessoas para nela trabalharem e selecionar as
que melhor se adequem ao perfil traçado para uma determinada função ou cargo a
desempenhar. Assim, recrutar e selecionar pessoas constitui uma das funções do psicólogo
desta área.
1. Recrutamento e seleção
O processo de recrutamento e seleção (R&S) é onde o sucesso de uma organização começa, 20
sobretudo para quem compreende o valor do capital humano para a conquista dos objetivos
de uma organização. O R&S é uma área dentro do DRH que tem por objetivo atrair e
contratar as pessoas com o perfil ideal para as vagas da organização. Constitui a porta de
entrada para novos profissionais através de uma metodologia própria e uma análise do fit
cultural.
Contratar a pessoa certa para a função certa é essencial para o sucesso de qualquer
organização, independentemente da sua dimensão ou área de atuação. E isso acontece logo
no processo de R&S, porque quando essa ação é bem executada, a organização colhe diversos
benefícios, como um aumento da produtividade no trabalho e redução do turnover. Por isso,
o R&S podem ser processos delicados, que envolvem encontrar um profissional que tenha os
conhecimentos e as habilidades adequados para a função e que também esteja alinhado com
os valores da empresa e com os colegas com os quais vai trabalhar.
Seguindo a ordem natural das coisas, após novas contratações de colaboradores para uma
organização, é comum que as estas iniciarem processos de formação inicial e treino com os
recém-chegados, bem como, posteriormente outros tipos de formação mais especializados. 21
A ideia é usar a capacidade de análise das necessidades de cada pessoa para definir qual o
tipo de benefício que é mais atrativo para cada colaborador e em que fase da sua vida.
Por exemplo, um trabalhador com filhos tende a preferir um plano de saúde com
dependentes, algo que não interessa tanto aos que não têm filhos. Quem tem que se deslocar
de carro ou transportes para o trabalho talvez aprecie mais algum benefício ligado a esta
questão.
Não esquecer que os psicólogos organizacionais sabem fazer cálculos e estatísticas e usam
esses conhecimentos para melhor definirem os benefícios (dentro do orçamento que a organização
lhes permitir negociar), garantindo máxima personalização.
A experiência diz-nos, também, que as pessoas são todas diferentes e que os trabalhadores:
i) gostam de sentir que têm alguma liberdade para escolher o seu plano de benefícios;
ii) incluir um seguro ou benefício ligado à saúde, atualmente tem muito valor;
iii) uma escolha tem sempre consequências na sua satisfação e motivação;
iv) ouvir/escutar os trabalhadores antes de tomar uma decisão é sempre uma boa estratégia.
5. Plano de carreira e desenvolvimento
Contudo, esta escuta e ajuda deve ser feita com base em possibilidades reais que, de
preferência, considerem o espaço de crescimento dentro da própria organização. Isto é, se a
organização não possuir Planos de carreiras e de Desenvolvimento, ou o Psicólogo
organizacional ajuda a organização a traçá-los ou a organização arrisca-se a perder todos os
colaboradores que são talentosos e que querem crescer e evoluir.
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6. Avaliação de desempenho
Uma das ações necessárias para que a organização consiga guiar um colaborador na sua
evolução profissional são as avaliações de desempenho. Muitas organizações possuem
sistemas de avaliação de desempenho próprios, como a função pública em Portugal – o
SIADAP. A avaliação de desempenho é um sistema de métricas que estuda os resultados
apresentados por cada trabalhador, em vários indicadores, traçando um paralelo com o que
era esperado no exercício da função. Por outras palavras, o objetivo é verificar a performance
no trabalho. Algo que permite que feedbacks sejam dados visando melhorias, e o
feedforward seja feito visando novas metas.
O que é um feedback?
No sentido literal da palavra, significa retorno sobre uma determinada mensagem
ou ação. Contudo, no contexto organizacional, o feedback vai além de uma simples
resposta, podendo gerar efeitos bons ou maus, dependendo da forma como é
fornecido. Na Gestão de pessoas, o feedback é um elemento essencial para a
manutenção de um bom clima organizacional , pois proporciona abertura para a
comunicação e a possibilidade de ajustes de comportamentos e alinhamento entre
as expectativas das pessoas . Ele também é importante para que a organização
evolua, aprimorando os seus processos continuamente.
2. Incentiva os colaboradores
Por outro lado, existem comportamentos e resultados que devem ser distinguidos, tanto
para que a pessoa saiba que está a ir no bom caminho, quanto para que os colegas
aprendam com ela e comecem a seguir os seus passos. Quem recebe esse tipo de feedback
sente-se mais motivado a dar o melhor de si, e os seus colegas tornam-se mais envolvidos
para procurar o mesmo tipo de reconhecimento.
O feedforward:
É uma ferramenta poderosa de gestão que ajuda profissionais a “olhar para a frente” e a
desenvolver habilidades para conquistar objetivos e evoluir. Algo que favorece as pessoas de
uma organização e, consequentemente, o futuro dos negócios.
7. Orientação profissional
Partindo do que foi mencionado anteriormente, e focando-nos nos resultados menos
positivos da Avaliação do Desempenho (AD), há que analisar este ponto sob o prisma da sua
interligação com as questões do trabalho em si mesmo, cujo problema pode ser uma
insatisfação com a rotina e as tarefas em si, sentidas pelos colaboradores, por exemplo. Por
outras palavras, uma Avaliação do Desempenho abaixo do esperado deve ser analisada para
se compreenderem as razões subjacentes e estas podem ter que ver com o trabalho em si a
ser realizado pelo trabalhador que não está de acordo com o perfil deste, não obstante a sua
excelente qualidade.
Perante uma situação deste género, poderá ser necessária uma orientação profissional para
evitar que a chamada jornada de trabalho se torne exaustiva, desmotivadora e até capaz de
desencadear as chamadas doenças ocupacionais, que são enfermidades que surgem a partir
da realização direta ou indireta das atividades. 26
Aqui a ideia é ajudar o colaborador a alinhar a sua carreira e o seu objetivo da melhor forma,
permitindo que o indivíduo reencontre a motivação e o bem-estar no seu dia a dia
profissional. E como podemos fazer isto? Estratégias possíveis: Por exemplo, através de um
redirecionamento de carreira que, inclusive, se pode ancorar no recrutamento interno, ou na
promoção para um novo cargo/função. Isto significa que a melhor solução poderá ser colocar
um “bom trabalhador” numa outra função dentro da organização, antes que ele se torne um
não trabalhador para a organização, ou a orientação pode, sim, identificar o desligamento
como a melhor saída para o trabalhador e para a organização.
Outro ponto negativo quando uma organização tem altos índices de falta por doenças
ocupacionais é ao nível da imagem que esta transmite aos clientes e potenciais futuros
colaboradores. Já pensaram como um cliente se sente quando liga para uma organização à
procura de um colaborador e ele quase nunca está lá por estar de atestado médico?
Muitas profissões têm legislação específica para serem realizadas em segurança e isso deve
ser respeitado. Além disso, promover uma cultura do diálogo aberto é outro ponto essencial
para que os colaboradores se sintam à vontade para procurarem o setor para os ajudar na 28
resolução de conflitos pessoais e profissionais.
Perante o aumento dos casos de burnout e de outros problemas de saúde mental nos locais
de trabalho, o grupo de peritos que está a elaborar o Livro Verde do Futuro da Segurança e
Saúde no Trabalho vai recomendar ao Governo um reforço das medidas de prevenção nas
empresas, que passa, por exemplo, pela inclusão de psicólogos nas equipas de saúde
ocupacional, além do médico e do enfermeiro.
A aposta na sensibilização e formação dos trabalhadores e, sobretudo, das lideranças para
conseguirem identificar precocemente sintomas de esgotamento é outra das recomendações
que o Expresso sabe que vão constar do documento, que está agora a ser ultimado e que será
entregue em janeiro de 2024.
Nos últimos anos, tem-se verificado entre os profissionais um aumento dos problemas
associados à saúde mental em contexto laboral, com patologias como a ansiedade e a
depressão a chegarem em cada vez maior número aos gabinetes de medicina no
trabalho/saúde ocupacional. Em consequência, muitos países têm estado a rever a sua lista de
doenças profissionais, para incluir a esfera da saúde mental.
Doenças psicossociais
Começamos pelas doenças que têm acometido cada vez mais pessoas no mundo todo,
principalmente pelo momento de crise em que vivemos, como a depressão, síndrome do
pânico, os ataques de ansiedade e stresse. Elas são silenciosas e podem ser difíceis para as
pessoas à volta perceberem o que se passa com os colegas.
Para o próprio trabalhador, inclusive, o diagnóstico pode demorar a ser feito, pois é comum 29
confundir com uma fase passageira de tristeza. Porém, essas enfermidades são muitos mais
sérias do que um período de desânimo; elas podem levar até à morte do profissional.
Situações como elevadas exigências de trabalho, muita pressão psicológica, o assédio sofrido
internamente, as agressões verbais e o medo de perder o trabalho provocam um
esgotamento mental que prejudica a saúde do trabalhador e o pode levar ao afastamento.
A depressão, uma das mais graves doenças psicossociais, já foi até vista como o mal do século
- apesar de existir há centenas de anos - é considerada um problema de saúde pública.
Para preveni-la, algumas medidas devem ser observadas com atenção:
LER e DORT
A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados com o
Trabalho (DORT) são doenças ocupacionais muito comuns no mercado de trabalho. São
causadas por movimentos repetitivos, pela má postura, sobrecarga de esforço físico e
pressão psicológica.
Outros fatores que também contribuem para o aparecimento das dores nas costas são o
sobrepeso, a obesidade e o sedentarismo. Por isso, além da ergonomia adequada, do
fracionamento de produtos e dos treinos de capacitação para quem lida com carga e
descarga, é necessário investir em programas que incentivem a educação alimentar e a 30
prática de atividades físicas. As pausas também são muito importantes para esticar a coluna
e aliviar pressões.
Asma Ocupacional
As doenças respiratórias são comuns no trabalho e a asma está entre as principais. O que a
torna uma enfermidade ocupacional é quando os trabalhadores inalam produtos tóxicos e
partículas que provocam reação alérgica por período prolongado. Começa com tosse e falta
de ar e pode causar até cancro no pulmão.
Ambientes fechados, com mofo e em que há manuseio de algodão, couro, sílica, borracha e
madeira são os mais propícios para surgir o problema, além da área da construção civil. Para
evitar a asma ocupacional, o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) é essencial
em profissionais que atuam em locais assim.
As doenças ocupacionais podem surgir mesmo com a adoção de medidas de prevenção por
parte das organizações, pois existem atividades diretamente ligadas a elas. Mas é possível
evitá-las ou minimizar os impactos e a quantidade de ocorrências observando com mais
atenção a saúde dos colaboradores, que são os recursos mais importantes de uma
organização.
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Todos nós sabemos que fatores como segurança, higiene, conforto, facilidade de circulação
e ferramentas adequadas a cada tipo de trabalho a ser executado na organização são
fundamentais. Mais além disso ainda identificamos mais fatores importantes no ambiente de
trabalho que contribuem para o nosso bem-estar e felicidade.
Com efeito, uma área ligada à psicologia organizacional, como a ergonomia e os fatores
humanos, têm a ver com questões como a postura, por exemplo ao computador ou na
realização de um trabalho mais braçal, no levantamento de pesos, movimentos sistemáticos
que fazemos no nosso trabalho que, quando executados de forma errada, podem causar
lesões para toda a vida, como tendinites, etc. Formação preventiva nesta área é muito
importante.
Por causa da pandemia da Covid-19, muitas organizações tiveram que mudar a rotina e aderir
ao trabalho remoto ou híbrido. Com isso, um tema não muito discutido anteriormente à
Pandemia veio à tona: a importância da ergonomia no home office.
Apesar de ser uma modalidade comum, o trabalho remoto não faz parte do dia a dia de
muitos negócios. Adotar o home office nos confinamentos (e até depois) foi uma prática de
sobrevivência. A economia está ainda a sofrer os impactos causados pelo coronavírus e as
organizações precisam se reinventar, rever processos e se adaptar a todas as mudanças
geradas.
Mas, não pensemos que trabalhar deitado na cama ou no sofá com um portátil ou notebook
vai trazer benefícios. Além de muito foco e disciplina, também é necessário pensar na nossa
saúde. Poderemos ter problemas sérios na coluna, por exemplo, se estivermos sentados da
maneira incorreta.
Mais uma vez, isto revela mais uma área da psicologia em que os conhecimentos da
psicologia organizacional e do trabalho são importantes para criar ambientes estimulantes e
inclusivos. Há que ter em conta as necessidades individuais e o foco na produtividade. Como
compatibilizar espaços de trabalho onde a tecnologia e o fator humano devem ser
compatibilizados? As questões do teletrabalho? Condições de trabalho e teorias
motivacionais?
Por vezes, a organização tem a sua responsabilidade e isso fica claro, por exemplo, se
pensarmos num ambiente com equipamentos em mau estado, em lideranças abusivas, na
falta de valorização dos trabalhadores, falta de clareza de papéis, entre outros.
Por outras palavras, o cerne da questão pode residir em problemas relativos à gestão de
pessoas e à gestão de forma mais ampla e ao tipo de liderança exercido.
Uma avaliação dos riscos psicossociais do trabalho, pela sua abrangência, também nos
fornece muita informação útil para ficarmos com uma visão global acerca de onde residem os
principais problemas e onde devemos agir rapidamente e sobre que aspetos da organização.
A psicologia organizacional consegue, por meio de diferentes ferramentas, analisar a situação
e fornecer um diagnóstico com informação que nos ajuda a orientar por onde começar. 33
Este tipo de diagnóstico é importante porque as falhas detetadas podem ter relação com o
baixo desempenho dos colaboradores, a sua falta de motivação, os conflitos frequentes, o
turnover elevado e outros problemas detetados, como a liderança ou a (má) organização do
trabalho.
O psicólogo responsável é capaz de identificar pontos de atenção e indicar caminhos para a
promoção de ajustes necessários para a motivação e a produtividade dos trabalhadores, bem
como para o sucesso dos negócios.
A organização precisa entender que, se contratar especialistas de fora, vai precisar assumir a
responsabilidade de dar continuidade às medidas implementadas depois de se desvincular
dessa parceria. Eventualmente, pode ser preciso chamar a consultora novamente para que
novas etapas sejam definidas. Ambas as alternativas envolvem custos, ou melhor, um
investimento por parte da organização. Além da mão de obra, a realização de testes e
pesquisas exigem recursos, mas o retorno do investimento tende a compensar tudo isso.
Olhar as coisas dessa forma leva à inclusão da equipa de intervenção em reuniões e processos
de tomada de decisão. As suas colocações, baseadas em conhecimento e análise, tendem a
favorecer a definição de soluções favoráveis ao sucesso da organização.
Conclusão
A psicologia organizacional permeia muitas questões que são de responsabilidade do DRH na
gestão de pessoas.
Podemos dizer que a principal diferença é que a psicologia agrega modelos, teorias, e
conhecimentos específicos, bem como ferramentas próprias que otimizam os processos que
vão desde a análise à implementação de medidas.
É por essas e outras razões que vale a pena refletir sobre a importância da psicologia
organizacional nas organizações.
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