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Relação Terapeuta Cliente em Gestalt Terapia

A psicoterapia é fundamental para o autoconhecimento e o crescimento pessoal, para


lidar com as questões e demandas da vida cotidiana e para o tratamento de transtornos
emocionais. A relação terapeuta- cliente, demonstrada por diversos estudos, é baseada
principalmente em empatia, vinculo e confiança, elementos chaves na realização bem-
sucedida em psicoterapia. Na Gestalt Terapia, essa relação, constitui sua principal ferramenta
de trabalho e sua principal técnica.

A Gestalt-terapia é uma prática psicoterapêutica que se orienta por uma visão


integradora do homem, procurando vê-lo como um todo. Na sua perspectiva global, visa à
manutenção e ao desenvolvimento do bem-estar harmonioso, tirando o foco da reparação dos
distúrbios e da análise das doenças, como afirma; Ginger e Ginger (1995):

... e não a cura ou “reparação” de qualquer distúrbio - que subentenderia uma


referência implícita a um estado de ‘normalidade’, posição oposta ao próprio
espírito da Gestalt, que valoriza o direito à diferença, a originalidade
irredutível de cada ser.

Assim, permite-se um olhar humanizado, compreendendo a relação terapêutica como


parte do processo de cura. Nesse contexto, “é a qualidade da relação entre cliente e terapeuta,
se são honestas uma com a outra, se compreendem o que dizem; se têm respeito um pelo
outro, que facilita a melhora do cliente” (COOPER, 2008).

Não significa que há uma negação da doença, do sofrimento do paciente pelo estado
em que permanece no momento, mas é feito um novo enfoque, com base na constatação de
que através desse estado patológico, ele foi capaz de sobreviver e de chegar até ali, atendendo
mais precisamente o momento no qual a pessoa vive, questionando o cliente, se não há outras
maneiras de viver, e mostrando sua necessidade de organizar- se além da sobrevivência, que
foi necessário, para ele chegar até ali.

A Gestalt tem como ponto de partida a individualidade do cliente, e o pressuposto de


que o individuo tem sua própria organização interna, tornando-o inigualável e seu
funcionamento é a melhor alternativa entre todas as tentativas de se adaptar ao meio. Logo,
dessa maneira, a doença que surgiu como estrutura para lidar com um sofrimento em qualquer
época, está atualmente desatualizado em relação ao presente do cliente, ao seu atual contexto
de vida. Assim, o trabalho de terapia é pauteado na ampliação da consciência da pessoa sobre
seu próprio funcionamento, sobre como se esforça na ação de ajudar ou de sabotar a si
mesmo, no alcance de seu próprio equilíbrio.

“Seja como você é. De maneira que possa ver quem és. Quem és e como és.
Deixa por um momento o que deves fazer e descubra o que realmente fazes.
Arrisque um pouco, se puderes. Sinta seus próprios sentimentos. Diga suas
próprias palavras. Pense seus próprios pensamentos. Seja seu próprio ser.
Descubra. Deixe que o plano pra você surja de dentro de você”. (PERLS,
1975, p. 28)

A teoria base do processo da relação terapeuta-cliente, na abordagem gestáltica, é a


filosofia de Martim Buber: relação dialógica, na qual demonstra as duas dimensões da
filosofia do diálogo, que fundamentam a existência do homem, através das palavras-
princípio, Eu-Tu e Eu-Isso. A relação dialoga, é o resultado do encontro entre Eu e Tu, no
qual me identifico com o Eu e o outro sendo o Tu. Essa atitude é um ato essencial da pessoa,
o encontro recíproco entre dois parceiros em confirmação mútua.

A relação Eu-Tu, acontece na presença plena, no estar com o outro, com poucos
interesses direcionados a si. Nesta relação o encontro existencial se confirma, é onde se
acolhe a alteridade, a singularidade do outro, implica em reciprocidade e unicidade e ali,
reside a possibilidade do emergir da noção de “eu” (HYCNER, 1995).

A relação Eu-Isso dirige- se a um objetivo. É a transformação de conceitos em relação


as coisas. Nesta relação, compreendem-se características de discernimento, vontade,
orientação, reflexão, autoconsciência e separação. É nesta função que o indivíduo organiza
sua existência dentro do tempo, no espaço (HYCNER, 1995).

Em terapia, o terapeuta tem a função de organizar o diálogo e de confirmar a


existência do outro, sem pressupostos nenhum, tendo o cliente como ser único,
compreendendo-o, a partir dos princípios da relação dialoga, onde, segundo Buber, (1939), o
viver de uma forma saudável implica na alternância entre a relação Eu-Tu e Eu-Isso na qual
acontece a conexão (Eu-Tu) e a separação (Eu-Isso), encontrando-nos sempre um busca do
ponto de equilíbrio entre nossa separação e conexão com o outro.
“Na clínica gestáltica, é importante que a relação terapêutica se configure em
morada, que haja hospitalidade para que o paciente alcance abertura e
sustentação na instabilidade e na precariedade da condição humana, e
restaure ou inaugure a condição de peregrino e caminhante, engajado na
incessante obra de ser si mesmo, co criando o mundo e o próprio destino”
(CARDELLA in FRAZÃO e FUKUMITSU, 2015, p. 56).

Em uma perspectiva global da Gestalt Terapia, ela visa o amadurecimento


harmonioso, o bem- estar e a manutenção em desenvolvimento e equilíbrio, tornando o
pensar, o sentir e o comportamento, integrados a pessoa, respeitando suas necessidades, na
originalidade e individuação de cada ser, não vendo a doença e os distúrbios com foco, pois
entende que no homem, ela é apenas um fragmento de sua particularidade dentro do todo.

Essa abordagem, não trabalha para ajustar o sujeito socialmente, mas sim para tornar o
sujeito autêntico, por isso o terapeuta deve ser também autêntico. Ou seja, tornar a própria
relação terapeuta- cliente, autêntica, congruente, genuína, baseado no diálogo da pessoa para
pessoa, fazendo ampliar a consciência do sujeito, atribuindo significados a sua percepção.

Partindo da sensação imediatas, o cliente vai entrando em contato com suas emoções,
memórias, fantasias, expectativas, em um processo de reciprocidade com o terapeuta, no
caminhar da exploração de suas vivências, descobrindo bloqueios e também possibilidades.

Enfim, a Gestalt-terapia estabelece a troca entre terapeuta e cliente, os elementos


primordiais, importantes para estabelecer uma relação de confiança e disponibilidade,
permitindo que o processo de psicoterapia se desdobre, e que o sucesso do processo de
“awareness” aconteça na autonomia e autenticidade do cliente.
Referências Bibliográficas

BUBER, M. Eu e tu. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.

COOPER, M. Essential Research Findings in Counselling and Psychotherapy: The Facts


are Friendly. EUA: Sage, 2008.

FRAZÃO, L.M.; FUKUMMITSU, K.O. A clínica, a relação terapêutica e o manejo em


Gestalt-terapia. São Paulo: Summus, 2015.

GINGER, S.A. Gestalt: uma terapia do contato. São Paulo: Summus, 1995.

HYCNER, R. De pessoa a pessoa. São Paulo: Summus, 1995.

PERLS, F. YO, HAMBRE Y AGRESION. Cidade do México: Fundo de Cultura


Econômica, 1975.

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