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DISCIPLINA PSICOTERAPIA HUMANISTA E AULA 4

FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL - 7º SEMESTRE 2021.1

PROFª. PATRÍCIA SIERPINSKA

A CONSTRUÇÃO DO
PSICOTERAPEUTA
Terapia X Psicoterapia
• Hoje em dia os termos “psicoterapia” e “terapia” são muito utilizados no cotidiano
das pessoas.
• A terapia carrega um sentido mais abrangente em seu significado. Sendo assim, é
possível aferir que a terapia contempla mais de uma área. Portanto, a acupuntura, a
fitoterapia, a hipnoterapia, a cromoterapia, entre outras.
• A psicoterapia por sua vez, já é voltada para uma área específica, que é a promoção
do bem-estar mental. Além disso, existem variados tipos de psicoterapia, que
possuem as suas distinções em relação aos propósitos que pretendem alcançar.
Nesse caso, elas podem abranger desde o desenvolvimento dos mecanismos de
defesa mentais até a promoção de alguns aspectos positivos da individualidade do
paciente.
A psicoterapia humanista
fenomenológica-existencial
• A Psicoterapia humanista fenomenológica-existencial surgiu no momento
histórico em que havia certa insatisfação com relação aos resultados do trabalho
proposto por Freud.

• Psicologia Humanista – oposição ao reducionismo e mecanicismo da Psicologia


tradicional;
• Fenomenologia – intencionalidade da consciência;
• Inseparabilidade sujeito/objeto
Perspectiva Fenomenológica

O homem é um ser-no-mundo;
O homem é um ser em permanente construção;
Enfoque na descrição do fenômeno tal como ele se apresenta à
consciência do sujeito – método fenomenológico;
Relação terapêutica – dialógica;
Perspectiva Existencialista

“A existência precede a essência”;


A liberdade é inerente ao ser humano;
O nada faz parte da existência humana – ser de possibilidades;
A psicoterapia humanista
fenomenológica-existencial
• O que chamamos atualmente de psicoterapia humanista fenomenológica-existencial
é um desenvolvimento atual originado na interseção de três principais vertentes:
1) O pensamento humanista em psicologia de Carl Rogers;
2) O pensamento de autores da psicopatologia fenomenológica, tais como Binswanger,
Boss, Jaspers, Minkowski, Tatossian, entre outros;
3) O existencialismo sartreano (Sartre) onde o sujeito é compreendido a partir de sua
história individual e, ainda, dos contextos social, cultural, econômico e político ao qual
está inserido.
Do ponto de vista filosófico, a psicoterapia humanista-fenomenológica encontra
seu fundamento no âmbito da fenomenologia.
O que propõe a psicoterapia humanista
fenomenológica-existencial
• A psicoterapia humanista fenomenológica-existencial não se propõe a
fazer acréscimo ou revisão da Psicanálise, mas se apresenta como uma
outra maneira de conceber e, portanto, de compreender clinicamente o ser
humano.
• Prioriza a existência concreta do homem, saindo de concepções teóricas
que são muitas vezes abstratas e distantes da realidade do paciente.
• A Psicoterapia Existencial funda-se no “cuidado”, enquanto “ser-no-
mundo-com-o-outro”, e não em interpretações apriorísticas ou explicações
causais sobre a realidade vivencial do paciente.
O que propõe a psicoterapia humanista
fenomenológica-existencial
•O psicoterapeuta remete o indivíduo a si, estimulando-o a
reconhecer sua impessoalidade e a questionar-se no sentido de
encontrar suas próprias respostas para as situações que a vida
lhe apresenta.
Objetivo da psicoterapia humanista
fenomenológica-existencial
• Buscarcompreender as possibilidades singulares de existir de
cada um, tal como ele as experimenta em suas relações com as
pessoas e coisas que lhe vêm ao encontro no mundo.
Noção de encontro afetivo na
psicoterapia fenomenológico-existencial
• “Encontro é uma expressão de ser” e refere-se especificamente ao
encontro que acontece na hora terapêutica, quando “estabelece-se um
relacionamento total entre duas pessoas, que envolve certo número de
diferentes níveis”.
(MAY, 1976)

O encontro constitui-se em 4 níveis:


Os quatro níveis do encontro psicoterápico na relação
humanista

1. Nível das pessoas reais: alegro-me de ver meu cliente.


2. Nível dos amigos: Acreditamos que o outro tem algum
interesse genuíno em escutar e entender o que se diz.
3. Nível erótico – Desejo do terapeuta em ouvir
compreensivamente e também se pretende valer-se desse
recurso dinâmico para a mudança.
4. Nível da estima - a capacidade inerente nas relações
interpessoais, promovendo o bem estar do outro.
O conceito de transferência na psicoterapia
humanista fenomenológica-existencial
• A transferência deve ser entendida como a distorção do contato.
• O contato é a relação/encontro que se estabelece entre o psicoterapeuta e o
cliente.
• Na noção psicanalítica de transferência, não se valoriza tanto o contato, mas sim o
aspecto individual da fantasia que determinado indivíduo tem do outro, o que
caracteriza mais uma posição solipsista do que uma experiência relacional.
Doutrina filosófica cujos preceitos se
pautam numa única realidade
representada somente pelo eu
empírico. Nada existe fora do
pensamento individual, sendo a
percepção (das coisas e/ou das
pessoas) uma impressão sem
existência real.
Relação terapeuta-cliente

Entrelaçamento do mundo fenomenológico do terapeuta e do


cliente;
Dupla escuta do terapeuta – escuta do cliente e de si mesmo;
Envolve reciprocidade e disponibilidade – compreensão da
alteridade;
Compreensão de que os processos não são lineares e o
terapeuta não tem o controle de tudo;
A relação psicoterapeuta X cliente
• Na específica situação de psicoterapia, temos uma situação na qual o nosso campo
fenomenológico interage com o campo fenomenológico do outro, partilhamos experiências
semelhantes e sentimentos mútuos, mas não podemos trocar simplesmente de posição um
com o outro. Não sendo possível esta troca, então não podemos afirmar nada para este outro,
pois isto seria tão somente uma projeção minha no campo fenomenal do outro.
• Mas, se nos portarmos numa atitude de escuta ativa, de espera, de observação atenta, no
sentido de permitir o acesso do fenômeno à nossa consciência, eis que surge o fenômeno. Ele
aparece, revela-se.
• Uma atitude interpretativa, uma consciência apriorística, somente serviriam para criar
obstáculos à nossa consciência. Essa tarefa realiza-se por meio da
REDUÇÃO FENOMENOLÓGICA,
no sentido de me encontrar com O cliente, NELE, com ELE e através DELE, como fenômeno.

• Significa abrir-me para perceber-LHE a essência, descobrir-LHE a totalidade.


A relação psicoterapeuta X cliente
• Ao prestar atenção ao cliente, este se nos revela, não apenas em partes,
mas na sua totalidade.
• As partes são objeto das ciências. O terapeuta que assume uma postura
fenomenológica toma-se um verdadeiro facilitador da emergência do ser
de seu cliente, um facilitador do fenômeno-cliente, pois sabe que ninguém
melhor do que ele mesmo (cliente) para interpretar a sua própria realidade.
• Prioridade na valorização do encontro, do presente, do momento em que
este ocorre, do aqui-e-agora.
A relação psicoterapeuta X cliente
• O primordial de uma atitude fenomenológica é não encarar o cliente como
um objeto ("o doente" que vem a ser "tratado"), mas uma pessoa, no
mesmo nível existencial do terapeuta.
• Esta valorização do encontro, do "estar junto“ no presente, é o que
determina a diferença entre a relação médica (unidirecional, caracterizada
pelo uso de agentes intermediários, físicos ou bioquímicos, que são
"aplicados" a um "paciente“ que se submete ao tratamento) e a relação
psicoterápica (que se caracteriza pela relação direta, cujo meio é o próprio
"ambiente humano", na condição do diálogo).
A experiência
• A formação do psicólogo clínico na perspectiva fenomenológico-
existencial, ocorre, inevitavelmente, a partir da experiência do
psicólogo, sendo esta, a experiência, aquela que embasará o que
se chama, na perspectiva fenomenológico-existencial, de atitude
fenomenológica.
A experiência
• Independentemente do contexto clínico e da perspectiva teórica em que o
psicólogo irá atuar, a experiência de contato com outro que lhe é estranho
estará sempre presente e pulsante na relação, demandando do profissional
em formação uma postura compreensiva acerca dos fenômenos que estão
presentes em suas práticas clínicas, a partir dos sentidos que compõe essa
experiência.
O sentido
•APsicologia Humanista tem como prerrogativa formativa uma
abertura para a experiência do outro através da captação dos
sentidos da experiência.
Posições éticas
1. ALTERIDADE
É quando se adquire certa familiaridade e conforto consigo
mesmo; quando seu próprio mundo se transforma num lugar de
acolhimento.
Só podemos vivenciar união se somos capazes de separação
(Polster e Polster (1979).
Posições éticas
2. EMPATIA
 Compreender o outro através de uma sintonia emocional, mantendo a
diferenciação.
 Consciência do curador ferido que somos.

 Processo terapêutico bem sucedido ocorre quando o terapeuta auxilia o cliente


a tornar-se inteiro.
 Adotar uma postura defensiva pode reafirmar o padrão de exclusão ou
invalidação que deu origem ao sofrimento do cliente.
A defesa cristalizada e não conscientizada transforma-se numa couraça que
endurece e aprisiona a amorosidade, o fundamento e o sentido da relação
terapêutica.
 Não se pode negligenciar a responsabilidade da própria terapia pessoal.
(Empatia na clínica humanista)
Na clínica humanista, o termo empatia tem um sentido preciso.

De acordo com Jaspers, consiste na “atualização” ou representação, em


primeira pessoa, da experiência de outrem. Tratar-se-ia de um
compartilhamento intuitivo e não reflexivo da vivência psicológica do
interlocutor.
 Neste sentido, faz-se necessário uma importante distinção entre
“empatia” e “compreensão empática”.
(Empatia na clínica humanista)
Enquanto a primeira consistiria numa “compreensão da pura experiência”
(algo como dizer: “Uhm... entendo o que você está passando”), não sendo
derivada de uma captura deliberada nem do processamento consciente e
programado das informações provindas da interação entre os indivíduos; a
última seria a “compreensão da experiência tornada cognoscível” –
delimitada, descrita e nomeada.
Esta “compreensão empática” seria o coroamento da fenomenologia,
aliando dois elementos: um de natureza cognoscível e delimitadora; e o
outro, seu “preenchimento”, de natureza psíquica e ainda propício à
empatia.
Uma história oriental sobre o
risco da dicotomia
“Um monge estava meditando numa caverna quando um rato entrou e deu
uma mordida na sua sandália; aborrecido, o monge abriu os olhos e
perguntou:
- Por que você está perturbando minha meditação?
- Estou com fome, respondeu o rato.
- Vai embora, rato louco, pregou o monge. Estou procurando a união com o
Todo. Como se atreve a me perturbar?
Como espera tornar-se um com o Todo, perguntou o rato, - se nem mesmo
consegue tornar-se um comigo?”.
Posições éticas
3. ACEITAÇÃO DA VULNERABILIDADE HUMANA
O terapeuta consciente da própria vulnerabilidade é capaz de ser humilde.

Construção de um vínculo afetivo.

A aceitação de nossa vulnerabilidade básica nos torna capazes de presença,


de ofertar atenção, uma das facetas da amorosidade.
O sofrimento torna-se travessia.

Paradoxalmente, ao experimentarmos ser vulneráveis é que nos tornamos


fortalecidos, vivos e presentes.
Posições éticas
4. A Amorosidade
Amor é uma experiência de Unidade.
Quando tornamos o sofrimento uma travessia, podemos
perceber seu sentido.
O que cura o humano desumanizado é o humano reconciliado
com a própria humanidade em seu percurso de vida, que é
mistério e transformação.
Concluindo
•A psicoterapia na abordagem fenomenológica existencial é um
encontro que tem por finalidade ajudar o cliente a se desdobrar,
pedaço por pedaço, até que ele “veja” sua essência consumada;
até que ele possa identificar e experienciar o conceito de si
próprio, seus desejos etc., confrontando-os com sua própria
realidade.
• Uma das funções da psicoterapia é fazer com que o cliente se
interprete, encontre seu próprio lugar no mundo.
Concluindo
• Pode-se dizer que a psicoterapia, vista como uma
proposta fenomenológica existencial, tem como
princípio a crença no homem-em-relação, na sua forma
de estar no mundo, na sua forma radical de escolher sua
existência no tempo, sem escamotear a dor, o conflito, a
contradição, o impasse. Assim, esse homem encara o
vazio, a culpa, a angústia, a morte, sempre buscando
achar se e transcender-se.
Concluindo
•A formação do psicoterapeuta humanista compreende o termo
“formado” não no sentido de algo pronto e acabado, mas
inacabado e em constante processo de contato com a experiência.
• “[...]
é na multiplicidade que nos constitui, que se torna possível a
abertura às distintas singularidades e alteridades do outro. O que
seria isso senão a abertura ao velamento-desvelamento que
constitui o modo-de-ser-humano?”

(Dutra, 2013)
Atividade Pontuada (valor: 1,0)
• Após a leitura do texto: A CONSTRUÇÃO DO PSICOTERAPEUTA NA ATUALIDADE de autoria de Beatriz
Helena Paranhos Cardella, responda às questões:
• 1. O que você entende à respeito da frase de Buber: - No princípio era a relação?
• 2. “Esse compromisso com o próprio crescimento advém da consciência de que não poderemos levar o
cliente além do ponto aonde nós mesmos chegamos; não há como favorecer o resgate do processo de
crescimento do outro se somos reféns dos nossos próprios bloqueios e impedimentos.”
• Sobre esse parágrafo do texto, explique qual é a responsabilidade do psicólogo que se propõe a trabalhar
com psicoterapia.
• 3. O que a autora quis dizer com: “diante do próximo cliente sempre seremos humildes principiantes num
eterno recomeçar.”
• 4. Ao citar Hycner (1995), “ser psicoterapeuta é caminhar por uma vereda estreita, tendo abismos a cada
lado: à frente está o encontro”, Cardella entende esse encontro como sendo o quê?
• 5. Sobre as posições éticas citadas pela autora acerca da postura do psicoterapeuta, cite-as e descreva com
1 palavra.
• TEXTO: CARDELLA, BEATRIZ HELENA PARANHOS. A construção do
psicoterapeuta na atualidade. Revista da Abordagem Gestáltica. vol. XII, n. 2, 2006,
pp. 109-117. Instituto de Treinamento e Pesquisa em Gestalt Terapia de Goiânia.
Goiânia, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=357735505008
• TEXTO: DUTRA, Elza. Formação do Psicólogo Clínico na Perspectiva
Fenomenológico-Existencial: Dilemas e Desafios em Tempos de Técnicas. Revista da
Abordagem Gestáltica - Phenomenological Studies – XIX(2): 205-211, jul-dez, 2013.
Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v19n2/v19n2a08.pdf
• TEXTO: LESSA, Jadir Machado; SÁ, Roberto Novaes De. A relação psicoterapêutica
na abordagem fenomenológico-existencial. Análise Psicológica (2006), 3 (XXIV):
393-397. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v24n3/v24n3a13.pdf

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