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FACULDADE DOM ALBERTO

JULIANA FERREIRA FELIPE

COMPREENDENDO OS DESAFIOS DA GESTALT-TERAPIA NA PRÁTICA

BRASÍLIA
2023
FACULDADE DOM ALBERTO
JULIANA FERREIRA FELIPE

COMPREENDENDO OS DESAFIOS DA GESTALT-TERAPIA NA PRÁTICA

Trabalho de conclusão de curso


apresentado como requisito
parcial à obtenção do título de
especialista em Psicologia

BRASÍLIA
2023
COMPREENDENDO OS DESAFIOS DA GESTALT-TERAPIA NA PRÁTICA

[1]
Juliana Ferreira Felipe ,

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o
mesmo foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja
parcial ou integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e
corretamente referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de
investigações empíricas por mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação
aos direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços).

RESUMO

A Gestalt-Terapia é uma abordagem teórica e psicológica que busca a verdade, a leveza e


a arte, permitindo que cada indivíduo descubra e reconheça suas próprias experiências e
recuperando tanto o homem quanto o mundo ao seu redor. O objetivo deste trabalho é
explorar as dificuldades comuns encontradas na prática dessa terapia, abordando os
desafios enfrentados pelos terapeutas gestálticos na prática clínica, especialmente devido
à ênfase na experiência presente e à abordagem não linear. A Gestalt-terapia é uma
abordagem humanista que enfatiza a compreensão da experiência humana, originada no
movimento da psicologia da Gestalt. O estudo busca contribuir para uma prática clínica
mais informada e eficaz, analisando a aplicação da Gestalt-terapia em pesquisas
qualitativas e descritivas com revisão bibliográfica.

Palavras-chave: Gestalt-terapia. Psicoterapia Clínica. Fenomenologia. Abordagem


dialógica.

AGRADECIMENTO

Neste momento de gratidão, agradeço a Deus por me permitir ter saúde e determinação
durante esta jornada de conclusão do meu trabalho.

Gostaria também de expressar minha gratidão aos meus pais, Jorge Felipe e Dirce Maria,
por terem sido uma presença constante ao longo de toda a minha trajetória, sempre me
apoiando e servindo de exemplo de garra, persistência e força. Um agradecimento
especial aos meus filhos, que são a razão da minha vida e a inspiração para tudo o que
faço. E, claro, ao meu parceiro de vida, caminhada e melhor amigo Mauro Guimarães.

Gostaria de agradecer a todos os amigos e familiares que, com seu incentivo, me


ajudaram a concluir meu curso de Especialização e, assim, continuar na busca de
conhecimento na carreira que tanto amo. Por fim, agradeço a todos que, de uma forma ou
de outra, fizeram parte da minha formação. Meu sincero agradecimento!

“Eu não estou neste mundo para viver correspondendo às


expectativas de ninguém, nem
acho que o mundo deva corresponder às minhas. ” Fritz
Perls (1893-1970) Gestalt-terapia

1. INTRODUÇÃO

Compreender os desafios enfrentados pelos terapeutas gestálticos na prática


clínica é crucial para aprimorar a eficácia dessa abordagem terapêutica. A ênfase na
experiência presente e a abordagem não linear podem apresentar desafios únicos,
exigindo uma compreensão aprofundada para proporcionar intervenções terapêuticas
significativas.
A Gestalt-terapia, desenvolvida por Fritz Perls, Laura Perls e Paul Goodman na
década de 1940, é uma abordagem humanista que enfatiza a compreensão holística da
experiência humana. Originada no contexto da psicologia da Gestalt, essa abordagem
destaca a importância de perceber a totalidade da experiência, em vez de analisar partes
isoladas.
Sua origem está intrinsecamente ligada ao movimento da Gestalt, que buscava
compreender como os seres humanos percebem e dão significado ao mundo ao seu
redor. Fritz Perls, psicanalista dissidente, e sua esposa Laura Perls, psicanalista e
terapeuta gestáltica, foram fundamentais no desenvolvimento dessa abordagem. Sendo
os princípios fundamentais da Gestalt-terapia incluem o foco no "aqui e agora", a ênfase
na consciência plena (awareness), a importância do diálogo interno e externo, e o
reconhecimento da responsabilidade individual na busca do crescimento pessoal.
Este estudo busca lançar luz sobre tais desafios, contribuindo para uma prática
clínica mais informada e eficaz. Ao explorar as complexidades da aplicação da Gestalt-
terapia, podemos promover avanços na formação de terapeutas, melhorando assim a
qualidade do cuidado oferecido aos clientes que buscam crescimento e transformação
através dessa abordagem singular.
A metodologia usada foi uma pesquisa, qualitativa e descritiva, com revisão
bibliográfica, que trata como a clínica gestáltica trabalha no enfrentamento de
adversidade, assim será feito através de obtenção de ideologias, em livros que tenham
relação com o tema, publicações periódicas, teses, analisando assim outros pontos de
vista e diversos posicionamentos sobre a clínica gestáltica, sendo feito pesquisas em
artigos publicados nos sites Google Acadêmico e Scielo.

2. O PAPEL DO PSICÓLOGO NA GESTALT-TERAPIA.

A Gestalt-terapia é uma filosofia existencial, Ginger e Ginger (1995) definem a


Gestalt-terapia -como uma filosofia existencial, uma "arte de viver", uma forma especial
de compreender a relação do homem com o mundo e modelo experimental
desenvolvido na década de 1940 como forma alternativa de psicoterapia. Esta
abordagem enfatiza que tudo o que nos rodeia e parte do nosso ambiente está ligado à
forma como vemos o mundo e a nós mesmos. Na abordagem Gestáltica, o significado
inter-humano não está nos indivíduos ou na soma deles, mas no entre. O diálogo é
considerado o evento relacional central da existência, onde o inter-humano se
manifesta. Esse diálogo não se restringe somente ao verbal, e a forma como acontece
não é o principal, mas sim a abertura e intenção de um encontro genuíno e mútuo
(HYCNER, 1995).
Na abordagem da Gestalt-terapia, o psicólogo não busca entender os sintomas, mas
sim explorá-los junto com o cliente, em uma relação autêntica e dinâmica. O terapeuta
acompanha o cliente em seus processos, ampliando o sentido e o significado que ele
atribui aos sintomas. Não há julgamentos, e o psicólogo aceita a verdade das
experiências do cliente, Ginger e Ginger (1995), defendem a ideia de que, apesar de
possuírem estatutos e papéis diferentes, terapeuta e cliente são parceiros que estão
envolvidos em uma relação dual autêntica.. As intervenções do terapeuta visam
modificar a percepção interna do cliente, reelaborando seu sistema perceptivo
individual.
O psicólogo da Gestalt-terapia atua como um facilitador em vez de oferecer
conselhos, ajudando os clientes a se tornarem mais autoconscientes e autorregulados.
A responsabilidade e a independência pessoal são enfatizadas, permitindo que os
clientes amadureçam e se tornem mais autônomos. Os clientes são incentivados a
assumir a responsabilidade por seu comportamento, pensamentos e emoções, levando
a uma maior sensação de liberdade e à capacidade de aprender com seus erros. O
terapeuta deve equilibrar simpatia e frustração para criar um microcosmo de vida na
sala de terapia, com o objetivo de desenvolver um relacionamento verdadeiramente
satisfatório e saudável entre terapeuta e cliente. A pessoa saudável não desconsidera
as necessidades dos outros nem permite que as suas sejam desconsideradas (PERLS,
1988).
Segundo Perls (1988), o terapeuta deve frustrar o cliente quando este o manipula
sem expressar suas reais necessidades, quando não se expressa de forma genuína e
tenta obter apoio ambiental em uma área que já deveria ter esse apoio. Porém, quando
o cliente expressa claramente suas necessidades verdadeiras, o terapeuta deve fazer
de tudo o que for possível para satisfazê-las. Isto significa dizer que quanto mais o
cliente tem consciência de si mesmo, de suas necessidades e quanto mais auto apoio e
capacidade de se comunicar genuinamente, menor é a necessidade de o terapeuta se
utilizar da frustração para ajudá-lo a obter satisfação. Assim, “quando o paciente sair da
terapia ele não perderá sua necessidade de outras pessoas. Ao contrário, pela primeira
vez, ele derivará satisfações reais de seu contato com elas” (PERLS, 1988 p.125).
Na abordagem Gestáltica há uma tendência em aproximar a profissão do terapeuta a
do artista. Zinker (2007 p.51) compara o “fazer terapia” ao “fazer arte”, já que
“admitindo ou não, o terapeuta eficaz molda vidas”. Para esse autor o ser humano em
si já é uma obra de arte dinâmica quando convida o terapeuta para se envolver na sua
integridade, para afetá-la de maneira significativa, quando assim é permitido. O
terapeuta é uma presença que tem grande impacto na vida de uma pessoa e sua maior
contribuição é proporcionar um contexto rico que permita ao cliente alcançar a sua
realização mais completa.
De acordo com Zinker (2007), O terapeuta contribui com uma estrutura, uma forma,
um processo disciplinado para as formulações que são constantemente geradas pelo
relacionamento entre ele e seu cliente. O terapeuta cria um ambiente, um laboratório,
um terreno experimental em que o cliente procede a uma ativa investigação de si
mesmo como organismo vivo, sendo essa a responsabilidade essencial do terapeuta
com seu cliente. O psicoterapeuta utilizará técnicas variadas, representando assim um
caminho a ser preenchido por situações que aparecem em ambiente terapêutico na
tentativa de suprir essas lacunas

3. DEFINIÇÕES DA PRÁTICA CLÍNICA EM GESTALT- TERAPIA

A prática clínica é permeada pela dificuldade e a tensão de perceber a singularidade


de outro em sua inteireza, sem reduzi-lo a conceitos e teorias, mas sem cair em um
descuido para com sua experiência (HYCNER, 1997). A prática clínica em psicologia é
um desafio, exigindo abordagens específicas, e a Gestalt-terapia, fundada por Fritz e
Laura Perls, possui uma vasta bagagem teórica fundamentada na fenomenologia no
existencialismo dialógico, no Holismo e na Teoria de Campo (YONTEF, 1998), que guia
seu modo de atuação, embora cada paciente deva ser explorado de forma
individualizada. Feijoo (2000) destaca as adversidades da prática terapêutica e a falta
de conhecimento sobre o processo terapêutico.
O Gestalt-terapeuta utiliza componentes de várias categorias para tratar os pacientes
e buscar a percepção mais certa a respeito de como eles funcionam. A abordagem de
origem dialógica crê que a última base da existência humana é a da relação. A escuta é
o conteúdo principal da relação e irá favorecer a awareness do cliente sobre sua área
existencial. Escutar verdadeiramente é ter uma curiosidade legítima e amorosa pelo
outro, como estabelece Perls (1977), fundador da Gestalt-terapia, quanto menos
confiança tivermos em nós mesmos, quanto menos contato tivermos com nós mesmos
e com o mundo, maior será o nosso desejo de controle.
Na Gestalt-terapia, awareness é a consciência de si e perceptiva no momento
presente, a atenção ao conjunto da percepção pessoal, corporal e emocional. A relação
dialógica foi conceituada por Martin Buber, que acredita que o Eu é sempre relação,
seja como um Tu ou como um Isso, e a forma como alguém se aproxima dos outros
reflete-se de volta para a própria pessoa. A abordagem dialógica é importante para a
formação de vínculo entre o terapeuta e o cliente, permitindo que o cliente se sinta
confortável para expressar seus conflitos e expectativas. Nessa abordagem, a pessoa é
vista como um todo e o terapeuta tenta compreendê-la em sua totalidade.
Então, as técnicas passam a fazer parte do processo terapêutico a partir do
momento em que emergem na situação presente. Sendo que podem passar sem que
sejam utilizadas. A singularidade de cada situação exige um movimento próprio e as
técnicas precisam ser utilizadas em favor do fenômeno e não para defini-los.
4. ATRIBUIÇÕES E FUNCIONALISMO DAS TÉCNICAS EM GESTAL-TERAPIA

Este estudo explora as técnicas aplicadas na Gestalt-terapia, visando intensificar a


evidencia no momento presente, aprimorar a auto realização e facilitar resoluções
apropriadas. Algumas técnicas usadas na clínica gestáltica são descritas por Andrade
(2007): Mudança Paradoxal, segundo Beisser (1980), citado por Andrade (2007) o
terapeuta deve identificar, aceitar, distinguir e compreender como e onde o cliente está,
promovendo o crescimento através do entendimento da realidade presente, e
Ajustamento Criativo, que facilita a busca por soluções conhecidas e a descoberta de
novas abordagens, para Yontef (1998), o ajustamento criativo é a existência da ligação
entre o ser humano e o meio, tomando assim responsabilidade quanto ao
reconhecimento e precisão de condução de um bom modo quanto à sua vivência em
meio a sociedade.
A importância da Awareness claro na ideia de estar presente como, é por ter
consciência da própria consciência, é olhar o próprio olhar (ANDRADE, 2007), que
busca revelar mecanismos de alienação e promover o contato consciente com o self e o
ambiente. E o conceito de Figura-fundo, Conforme Andrade (2007) a característica do
processo indica a qualidade de consciência de uma pessoa e de sua autorregulação,
partindo de um processo dinâmico.
De acordo com Perls (1998), citado por Andrade (2007) nem todo Contato é
favorável, e nem toda fuga é nociva, visto que as escolhas de aproximação ou
distanciamento, recursos de satisfazer as necessidades consequentes, são necessárias
e só se tornam nítidas se provém do contato. O homem é um ser de relação e estando
colocado no mundo, para a Gestalt-terapia o contato é um dos princípios mais
importantes a serem trabalhados em terapia. Mencionado por Andrade (2007), Yontef
(1998), diz: “contato é o processo de reconhecer em si mesmo e ao outro um duplo
movimento: o de conectar-se e de afasta-se”, reconhecendo então a conexão
fundamental entre o ser humano e o meio.
A Gestalt-terapia se baseou no ponto de vista da autorregulação, entendendo o ser
humano como organismo como vivo, composto de partes inter-relacionadas que
formam o todo e estão em constante relação com o meio para adquirir dele o que
precisam para se autorregular. (D’ACRI; LIMA; ORGLEY, 2007), sendo essa
capacidade, em constantemente movimento dinâmico. A conexão terapeuta-cliente é
uma condição fundamental na Gestalt-Terapia. Explica-se a necessidade de o
terapeuta colocar-se num diálogo, em vez de influenciar o cliente em direção do
objetivo, sendo estabelecida a ênfase na Terapia Dialógica, baseada no entendimento
do diálogo existencial proposto por Buber.
Conforme Carmo (2004), o aqui-e-agora talvez seja uma das ideias que mais
caracteriza a terapia gestáltica e, também, o menos compreendido nos meios
acadêmicos. Isso explica a importância de se pesquisar o tema, principalmente quando
se procura fazer uma inter-relação deste com aspectos culturais responsáveis por criar
formas gerais do homem ver e relacionar no mundo. Além disso, técnicas específicas
como Cadeira Quente, Monodrama e Amplificação são exploradas como ferramentas
eficazes para promover a consciência.
O estudo conclui ressaltando a variedade de técnicas disponíveis na abordagem
Gestalt que podem ajudar nas sessões psicoterápicas na abordagem Gestalt, levando
em consideração que se deve ter em mente a individualidade de cada cliente e a
melhor forma a ser usada com cada um. Os diferentes e variados métodos de atuação
podem ser usados de acordo com o que o psicoterapeuta avaliar, ser mais completo
para levar o cliente à tomada de consciência. Compete destacar, também, que as
técnicas podem ser usadas em conjunto, conforme estudo do psicoterapeuta. Mas cada
técnica varia de acordo com a demanda do paciente.
5. PRINCIPAIS DIFICULDADES DA ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO CLÍNICO NA
APLICAÇÃO DA GESTALT-TERAPIA

Há algumas dificuldades comumente relatadas na aplicação da Gestalt-terapia na


psicologia clínica. Alguns desafios incluem:
A. Integração com Outras Abordagens: A filosofia e técnicas únicas da Gestalt-
terapia podem dificultar a integração com outras abordagens. Na prática clínica, os
terapeutas podem enfrentar obstáculos ao tentar combinar a abordagem da Gestalt-
terapia com outras teorias e práticas se tiverem uma visão engessada sobre como deve
ser o "fazer psicoterapia".
No entanto, a integração pode ser alcançada com sucesso quando o terapeuta
mantém uma mente aberta e flexível. É importante lembrar que cada abordagem
terapêutica tem suas próprias contribuições valiosas para o campo da psicologia e pode
ser benéfica para o paciente em diferentes momentos do processo terapêutico. Ao
integrar a Gestalt-terapia com outras abordagens, o terapeuta pode criar um ambiente
terapêutico mais completo e eficaz. Por exemplo, a abordagem cognitivo-
comportamental pode ser útil para trabalhar com pensamentos disfuncionais, enquanto
a abordagem psicodinâmica pode ajudar a explorar o inconsciente do paciente. A
Gestalt-terapia pode ser usada para ajudar o paciente a se conectar com suas emoções
e sensações físicas no momento presente.
Há desafios presentes na prática psicoterápica para uma série de transtornos, bem
como pacientes crônicos ou de tratamento mais difícil. Nenhum modelo psicoterápico
parece explicar e tratar sozinho toda a complexidade humana, então não seria diferente
com a Gestalt-terapia. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se destacado no
desenvolvimento de novas perspectivas e na integração de diferentes abordagens,
principalmente no movimento conhecido como "terceira onda" das TCCs (Azevedo,
2022). É comum a inclusão de elementos de outras abordagens, como a Gestalt-
terapia, que apresenta uma perspectiva ontológica e epistemológica diversa(YONTEF,
1998). Essa integração é uma importante ferramenta na elaboração de novas
perspectivas para abordar os desafios da prática psicoterápica e conhecer esse
movimento de intercâmbio e suas potencialidades pode ser um caminho importante
para o avanço das psicoterapias.
A integração das diferentes abordagens requer habilidade e conhecimento do
terapeuta. É importante que o terapeuta esteja bem informado sobre as diferentes
teorias e técnicas terapêuticas e possa adaptar sua abordagem de acordo com as
necessidades do paciente. Com uma abordagem integrativa, o terapeuta pode oferecer
um tratamento mais personalizado para cada paciente.
B. Crenças e Valores Pessoais do Terapeuta na Prática da Gestalt-Terapia: Os
valores e experiências pessoais do terapeuta podem impactar sua prática, e às vezes,
entram em conflito com os princípios da Gestalt-Terapia. É necessário que o terapeuta
esteja constantemente auto-refletindo e mantenha autoconsciência para garantir que
sua postura terapêutica permaneça neutra e centrada no cliente.
A terapia oferece um espaço seguro e autêntico onde a conexão genuína transcende
as identidades individuais. Para estabelecer uma relação terapêutica, é essencial
ultrapassar as fronteiras da própria identidade e se conectar verdadeiramente com o
próximo.
A Gestalt-Terapia é uma abordagem humanista que valoriza a relação entre
terapeuta e cliente como fundamental para o processo terapêutico. Por isso, é
importante que o terapeuta esteja sempre atento aos seus próprios valores e crenças,
para evitar que eles interfiram na relação terapêutica e possam prejudicar o cliente.

"O terapeuta somente trata de "acender a luz", de modo que, travando


contato com o que vai surgindo na superfície, o cliente experimente da
forma que puder um mundo de possibilidades e de impossibilidades que o
levam a uma autêntica transformação. (...)Esse é o grande mistério de um
trabalho no presente: numa relação favorável, orientado por todos os
sinais à disposição num dado momento, o cliente percebe, sente, sofre,
suporta, age, assimila, retifica, (re)significa, reconfigura uma situação
inacabada, abrindo espaço para uma vida mais plena e mais real.(...)Ao
final de encontros facilitadores de crescimento, o cliente leva consigo a
capacidade de caminhar sozinho no curso de sua vida, fortalecido pelo
conhecimento de seus recursos pessoais." – (Teresinha Mello da Silveira
(1997)

Alguns terapeutas podem ter dificuldade em manter uma postura neutra durante as
sessões, especialmente quando lidam com questões que tocam em suas próprias
crenças e valores pessoais. É importante que o terapeuta esteja em constante
formação e atualização, para que possa oferecer um trabalho cada vez mais efetivo e
ético aos seus clientes. A Gestalt-Terapia é uma abordagem dinâmica e em constante
evolução, e os terapeutas devem estar abertos a novas ideias e perspectivas, para que
possam oferecer um trabalho cada vez mais completo e efetivo.
C. Abordando a Resistência do Paciente na Gestalt-terapia: É comum que alguns
pacientes resistam à abordagem da Gestalt-terapia, principalmente quando estão mais
familiarizados com outros estilos terapêuticos. Para superar essa barreira, o terapeuta
deve possuir habilidades interpessoais sólidas, que permitam promover a confiança e a
colaboração do cliente. A evitação de contato pode ser saudável ou patológica,
conforme “sua intensidade, sua maleabilidade, o momento em que intervêm e, de uma
maneira mais geral, sua oportunidade.” (GINGER e GINGER, 1995).
Os Mecanismos de defesa não são bons nem ruins em si mesmos. É o uso e o
funcionamento que o cliente faz deles que pode ser caracterizado como "patológico".
Abaixo, listamos os mecanismos mais citados pelos autores da Gestalt-terapia:
Confluência (Perls) - É um estado de não-contato, ou um momento pré-contato.
Introjeção (Perls) - Significa a incorporação de elementos do meio, de ideias a
sentimentos, relações e valores.Processos de identificação com ambiente são a forma
de constituição de identidade. Projeção (Perls) - Significa atribuir ao meio elementos
fantasiados pelo próprio indivíduo. Para Perls, há aqui um deslocamento da
responsabilidade do indivíduo para o meio. Retroflexão (Perls) - Consiste em voltar
para si mesmo a energia mobilizada para o contato, e fazer a si aquilo que gostaria de
fazer aos outros ou no mundo ou ainda que os outros lhe fizessem. Deflexão (Polster) -
Permite evitar o contato direto, desviando a energia de seu objeto primitivo. Proflexão
(Sylvia Croker) - Uma combinação de projeção e retroflexão, consiste em fazer ao outro
aquilo que gostaríamos que o outro nos fizesse. Egotismo (Goodman) - Consiste em
um reforço deliberado nas fronteiras de contato, pelo foco da energia no ego.
Além disso, é importante que o terapeuta esteja sempre atento às necessidades do
cliente e possua uma abordagem flexível, adaptando-se às demandas e
particularidades de cada caso. A Gestalt-terapia é uma abordagem que valoriza a
vivência do momento presente e utiliza diversas técnicas para promover a
autoconsciência e o autoconhecimento do indivíduo. Por isso, é fundamental que o
terapeuta seja capaz de conduzir o processo terapêutico com empatia, respeito e
acolhimento, buscando sempre o bem-estar e a autonomia do cliente. Com essas
habilidades e competências, é possível abordar com eficácia a resistência do cliente na
Gestalt-terapia e promover transformações significativas em sua vida.
D. Enfatizando o Momento Presente na Gestalt-Terapia: A gestalt-terapia coloca
ênfase na atenção plena e consciência do momento presente, denominada awareness.
No entanto, para alguns clientes, pode ser difícil deixar de lado preocupações passadas
ou futuras e se concentrar no presente. Nesses casos, o terapeuta deve auxiliar o
cliente em desenvolver essa habilidade de consciência plena.
A Gestalt-terapia compreende que a consciência é um evento focalizado no
presente, no aqui-e-agora, isto significa que: para perceber melhor um fenômeno
'dentro' ou 'fora' de mim mesmo, devo estar concentrado em minhas funções de
contato, na relação "ser-no-mundo". Este fluxo de consciência é conceituado em
Gestalt-terapia como "awareness". Quando tal fluxo é interrompido significa que a
consciência deixou de focalizar sua percepção sensorial atual para focalizar também
uma fantasia, antecipando o futuro ou lembrando o passado. Tais fantasias são a base
dos mecanismos de evitação de contato, que podem ter um funcionamento patológico.
Para ajudar o cliente a se concentrar no momento presente, o terapeuta pode utilizar
diversas técnicas, como a respiração consciente, a meditação e a visualização. Essas
técnicas ajudam a acalmar a mente e a focar no presente, permitindo que o cliente
entre em contato com suas emoções e sensações corporais.
Ao enfatizar o momento presente na terapia, a gestalt-terapia ajuda o cliente a
desenvolver habilidades de autoconsciência e auto gerenciamento, que podem ser
aplicadas em todas as áreas da vida. Com o tempo, o cliente aprende a viver de forma
mais consciente e a lidar com os desafios de forma mais eficaz.
E. Avaliação e Mensuração de Resultados Terapêuticos na Abordagem Gestalt-
Terapia: A Gestalt-terapia valoriza a experiência subjetiva e as transformações internas
do cliente, o que pode dificultar a avaliação objetiva e quantitativa dos resultados
terapêuticos. O terapeuta deve estar atento às mudanças subjetivas do cliente e buscar
maneiras criativas de avaliar o progresso terapêutico.
O terapeuta pode avaliar a qualidade do contato do cliente consigo mesmo e com o
ambiente que o cerca, assim como a sua capacidade de autorregulação emocional e de
tomar decisões conscientes e responsáveis.Outra forma de avaliação é através de
questionários ou escalas, que permitem a mensuração de aspectos específicos, como
ansiedade, depressão, autoestima, entre outros. Além disso, a Gestalt-terapia enfatiza a
importância do acompanhamento do cliente após o término do processo terapêutico,
para verificar a manutenção das mudanças e identificar possíveis recaídas de forma
preditiva. O terapeuta também pode incentivar o cliente a estabelecer metas claras e
mensuráveis para o seu processo terapêutico, o que facilita a avaliação dos resultados
e a identificação de novos objetivos a serem alcançados. Cada terapeuta tem suas
próprias dificuldades particulares e, portanto, é fundamental buscar supervisão clínica,
melhorar suas habilidades e estar disposto a aprender continuamente para superar
esses desafios.

6.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este presente trabalho, buscou a definição da clínica Gestalt, para assim ter
entendimento de como ela funciona, suas fragilidades, para um melhor tratamento,
compreendendo como acontece o relacionamento psicoterapeuta e cliente. A GT tem
como melhor particularidade a visão de terapia como processo de “descobrir” verdades.
Além disso, é a Gestalt- terapia um trajeto por caminhos variados, sempre em busca da
verdade, que nada mais é: quem somos nós como pertencentes ao mundo que nos
cerca.
Por esse motivo, a relação terapeuta-cliente é um assunto bastante tratado no ciclo
acadêmico e entre os psicólogos que lidam na clínica. Há abordagens que protegem a
ideia de que o terapeuta deve manter uma certa distância de seu cliente para que
consiga examiná-lo de forma eficiente, com neutralidade e sem envolvimento afetivo.
Quando se fala de Gestalt- terapia, é comum no começo do atendimento clínico, o
psicoterapeuta ser buscado por indivíduos que querem ser curados, falando que
perderam o sentido de quem são, do que estão refletindo, sentindo, fazendo ou falando.
Não estão conscientes de si mesmas, permitem ao outro, no caso o terapeuta, o poder
de curá-las.
O Psicólogo trabalha para que o cliente melhore e aumente a capacidade de se
autorregular, de desenvolver o auto suporte e de acrescer o autoconhecimento, por
meio de contatos saudáveis e aumento de awareness. Entenda-se que o
autoconhecimento permite que cada um liberte-se dos seus “deverias” para achar quem
realmente é, isto é, o autoconhecimento mostra a essência de cada pessoa. Por fim, a
prática clínica da Gestalt necessita então do movimento e da relação criada no contexto
do atendimento psicológico. Os métodos fazem parte deste trabalho e são um auxílio
ao psicólogo para que possa ajudar o cliente em busca de um conhecimento mais
profundo sobre si, sobre o meio que o cerca e sobre a relação entre eles.

REFERÊNCIAS

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