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13.

Visões verdadeiras e falsas da Gestalt-terapia1

Em Fausto de Goethe, Mefistófeles disse a um discípulo ávido de


conhecimentos:

Denn eben wo Begriffe fehlen,


Da stellt ein Wort zur rechten Zeit sich ein.
(Porque sempre que faltam conceitos,
no justo momento aparece a palavra adequada.)

O diabo está presente em todas as obras do homem, não somente na


filosofia e teologia. Eu vejo seu trabalho na política e na educação, na ciência e
na arte e sobretudo em nossa disciplina, no ensino e na prática da psicoterapia.
Não só nos oferecem palavras, mas fórmulas, técnicas e truques, uma coleção
de truques efêmeros para os que estão muito necessitados, ou são bastante
ignorantes, ou crédulos, para aceitar e para qualquer que esteja disposto a
pagar por elas.
O diabo é o mestre dos atalhos, é pretensioso, sedutor, engana,
promete, persuade e intimida incessantemente. Suas ferramentas são a
simplificação, a manipulação e a deformação.
Vamos passar dos mitos aos erros reais. Em uma reunião do New York
Institute for Gestalt Therapy, eu perguntei: “O que responde se alguém te
pergunta o que é a Gestalt-terapia?”. Nosso vice-presidente, Richard Kitzler,
que gosta de bancar o advogado do diabo, resmungou baixinho: “A cadeira
quente e a cadeira vazia”. Claro que o disse com ironia igual a Mefistófeles.
Mas o discípulo inocente e impaciente recebe o que disse em seu sentido
literal, sempre aceita uma parte acreditando que é o todo.
O estilo desenvolvido por Fritz Perls em suas oficinas de demonstração
para profissionais durante os últimos anos de sua vida, ficou conhecido através
dos filmes e vídeos que foram gravados e por meio das transcrições dos vídeos
na obra Gestalt Therapy Verbatim (1969). Dramatizar os sonhos e as fantasias
é uma maravilhosa técnica de demonstração, sobretudo quando se utiliza em
oficinas, onde os participantes são profissionais que já fazem sua terapia ou
análise pessoal e que estão acostumados a trabalhar com as pessoas. Mas é
uma das infinitas possibilidades que oferece a Gestalt-terapia. Não funciona
bem quando se está trabalhando com pessoas muito doentes e não se pode
utilizar de nenhum modo com pacientes esquizofrênicos ou paranoicos. Fritz o
sabia muito bem e quando intuía que podia estar diante de um paciente
esquizofrênico ou paranoico evitava envolvê-lo em suas oficinas.

1
“Visões verdadeiras e falsas da Gestalt-terapia “foi apresentado como conferência na European
Association for Transactional Analysis, em Seefeld, Austria, em 1977. Mais adiante foi publicado no Vol
14, núm.3, 1978, de Voices.
Desafortunadamente, um grande número de terapeutas, aceitaram que
esta técnica é a mais importante da Gestalt-terapia e a aplica a todos os seus
pacientes sem distinções. Desta forma, reduz a Gestalt-terapia ao nível de
técnica. Devido às evidentes limitações desta técnica se combinada com
qualquer outra do arsenal psicoterapêutico que esteja à mão. O resultado é o
treinamento em sensibilidade e a Gestalt, a consciência corporal e a Gestalt, a
bioenergética e a Gestalt, terapias baseadas na arte e dança e a Gestalt, a
meditação transcendental e a Gestalt, a análise transacional e a Gestalt, e tal e
qual, e a Gestalt, até a saciedade.
Estas combinações são uma indicação de que não se interpreta
corretamente ou que existe uma falta de conhecimento dos conceitos básicos
da Gestalt-terapia. Esta nem é uma técnica concreta, nem é uma coleção de
técnicas. Portanto, não é um método de confrontação com uma lista de regras,
exigências e desafios a enfrentar. Tampouco é um método dramático-
expressivo projetado para aliviar as tensões. A tensão é uma classe de energia
e a energia é muito útil para ser aliviada sem mais, devemos conseguir que
esteja à nossa disposição, para que possamos usá-la, para implementar as
mudanças, que necessitamos ou que desejamos efetuar. O objetivo da terapia
é criar o suporte necessário para permitir que reorganizemos e direcionemos
nossa energia.
Os conceitos básicos da Gestalt-terapia mais que técnicos, são
filosóficos, e estéticos. A Gestalt-terapia é um enfoque existencial-
fenomenológico e, portanto, é experiencial e experimental. A importância que
dá ao momento presente não significa que o passado e o futuro careçam de
importância ou que não existam na Gestalt-terapia. Ao contrário, o passado
está sempre presente em nossa experiência vital total, em nossas memórias,
na nostalgia, no ressentimento e sobretudo em nossos hábitos e complexos,
em todos nossos assuntos pendentes, nossas Gestalten fixas. O futuro faz ato
de presença em nossos preparativos e nas coisas que começamos, em nossas
esperanças e expectativas ou em nosso medo e desepero.
Porque chamamos o nosso enfoque Gestalt-terapia? Gestalt é um
conceito holístico (ein Ganzheitsbegriff). Gestalt é uma entidade estruturada
que é mais que/ou diferente do conjunto de suas partes. É uma figura que
destaca sobre um fundo, “existe”. A palavra Gestalt passou a fazer parte do
vocabulário da psicologia, através do trabalho de Wolfgang Koehler, que
aplicou princípios derivados da teoria de campo ao tema da percepção. Max
Wertheimer, Gelb e Goldstein, Koffka e Lewin, junto com seus companheiros e
estudantes, logo desenvolveram a Psicologia da Gestalt. O trabalho de
Wertheimer, Goldstein e Lewin foi especialmente importante no
desenvolvimento da Gestalt-terapia. Qualquer estudante que realmente queira
chegar a entender a Gestalt-terapia deve estudar a obra de Wertheimer sobre
as formas de pensar de maneira produtiva, a de Lewin sobre a gestalt
incompleta e a importância do interesse na formação de gestalten e a de Kurt
Goldstein sobre o organismo como um todo indivisível.
O enfoque organísmico de Goldstein e a teoria de autorregulação do
organismo de Wilhelm Reich se fundem e se convertem, dentro do marco da
Gestalt-terapia, no postulado do continuum da consciência, o processo auto
renovador de formação contínua de gestalten em que as coisas mais
importantes ou significativas, desde o ponto de vista da sobrevivência e
desenvolvimento do organismo social ou individual, se convertem em figura, de
forma que podemos experimentar plenamente e lidar de forma responsável.
Mas a contribuição mais importante de Reich ao desenvolvimento da
Gestalt-terapia é sua identificação das tensões musculares e a formação do
caráter. A armadura do caráter, que é criptografada na pessoa obsessiva, é
uma gestalt fixa que bloqueia o processo contínuo de formação de gestalten.
Porém, na prática, o costume de centrar-nos na consciência do corpo não foi
incorporado na Gestalt-terapia com o trabalho de Reich, mas que se deveu a
minha experiência da eurítmica e dança contemporânea e aos meus estudos
de movimento expressivo e criatividade na obra de Ludwig Klages e meu
conhecimento dos métodos de Alexander e Feldenkrais, muitos anos antes de
inventarem a bioenergética e outras terapias corporais. Trabalhar com a
respiração, a postura, a coordenação, a voz, a sensibilidade e a flexibilidade,
tornaram-se parte do meu estilo terapêutico já em 1930, quando ainda
denominávamos, Fritz e eu, psicanalistas.
A história da mudança gradual da orientação psicanalítica à gestáltica se
reconhece em Ego, fome e agressão, publicado pela primeira vez em 1942.
Minha contribuição consistiu nos capítulos de tendência gestáltica: “O falso
complexo”, que trata da gestalt fixa que nos impede de mudar e “O significado
da insônia”, que trata da gestalt incompleta ou inconclusa, o assunto pendente
que não nos deixa dormir. Em Ego, fome e agressão mudamos nosso enfoque,
passamos do enfoque histórico-arqueológico de Freud ao enfoque existencial-
experiencial, da psicologia pouco sistemática da associação a um enfoque
holístico, de um enfoque puramente verbal ao organísmico, da interpretação a
consciência direta atual, da transferência ao contato real, do conceito de ego,
como uma substância com limites, ao conceito de ego como o fenômeno
mesmo do limite, o conceito de que o ego é a função de contato, da
identificação e alienação. Estes conceitos que naquela época ainda eram
ideias provisórias, muitas vezes confundidas, foram se desenvolvendo durante
os dez anos seguintes, até que se converteram em uma teoria mais organizada
e coerente que se publicou sob o título The Gestalt Therapy (Perls, Goodman e
Hefferline, 1951). Ainda considero que ler este livro é imprescindível para uma
compreensão plena da Gestalt-terapia.
Ainda não quero repetir aqui coisas que alguns de vocês já ouviram
antes, acredito que as pessoas muitas vezes não entendem completamente
alguns conceitos que eu considero essenciais, tanto para a teoria como para a
prática da Gestalt-terapia. Quero limitar-me a falar destes conceitos, dos
conceitos de limite, contato e suporte.
O contato é reconhecer e lidar com o outro, o que é diferente, novo ou
estranho. Não é um estado em que nos encontremos ou não (o qual
corresponderia mais a um estado de confluência ou isolamento), mas que é
uma atividade: eu estabeleço contato no limite entre o outro e eu. A fronteira é
a zona em que nos reunimos e simultaneamente sentimos que somos seres
separados. É a zona onde existe a emoção, o interesse, a preocupação e a
curiosidade ou o medo e a hostilidade, onde experimentamos claramente as
experiências que antes ignorávamos ou experimentávamos com pouca nitidez,
eles formam uma figura, eles se tornam gestalten claramente definidas. O
processo de formação contínua de gestalten é sinônimo do processo de
crescimento, o processo mediante o qual tanto nós mesmos como nossas
relações se desenvolvem. Se qualquer interferência externa ou as gestalten
fixas do caráter rígido ou pensamentos e atividades obsessivas interrompem ou
bloqueiam este processo não podem surgir gestalten novas e fortes. As
gestalten fixas e incompletas fazem com que a experiência do limite se borre
ou desapareça por completo. A emoção se converte em ansiedade, o terror em
indiferença e cansaço. Se repudia e projeta a capacidade de se diferenciar e
discriminar, se apropriam e introjetam as formas de pensar, as ideias e os
princípios dos demais. A energia que poderíamos aproveitar para atuar de
forma direta e criativa se desvia até as atividades falsas ou se retroflete até a
auto interferência, as auto recriminações, o sentimento de pena para consigo
mesmo e a auto destruição. Para as pessoas que buscam uma descrição mais
detalhada dos fenômenos da introjeção, a projeção, o desvio e a retroflexão,
recomendo Gestalt-terapia Integrada de Erving e Miriam Polster. Como pode o
Gestalt-terapeuta lidar com o caos de patologias neuróticas e patológicas que
enfrentamos dia após dia? Nosso objetivo é fomentar o continuum de
consciência, um processo auto-renovador de formação contínua de gestalten,
que só pode existir enquanto conseguimos manter os níveis de emoção e
interesse. O contato é relevante e criativo somente se existe suporte
necessário para sustentá-lo. Quando falo de suporte, não me refiro tanto ao
carinho e a sensação de segurança que oferece o terapeuta ao colocar-se à
disposição do paciente e ao interessar-se por ele, mas ao auto suporte dele
que depende o paciente (ou o terapeuta) o que lhe falta. O suporte básico é a
fisiologia primária, a respiração, a circulação e a digestão. O desenvolvimento
do suporte continua à medida que se desenvolve o córtex, os dentes começam
a nascer, a postura ereta, a coordenação, a sensibilidade, a mobilidade, o uso
da linguagem, os hábitos e os costumes mesmos ou melhor, sobretudo, os
complexos que em seus momentos nos serviram como suporte. Todas as
experiências e processos de aprendizagem que assimilamos e integramos
plenamente, fazem parte da nossa história vital, o fundo que dá sentido as
Gestalten que surgem e suportam desta maneira uma forma concreta de viver
no limite com emoção. O que não assimilamos ou se perde ou permanece
conosco convertido em introjeto, um obstáculo que impede nosso processo de
desenvolvimento.
Uma personalidade integrada tem estilo, uma forma unificada de
expressar-se e se comunicar. Pode ser que não se adapte a nosso modelo de
uma pessoa “normal”, socialmente útil ou recomendável, pode ser que nem
sequer o consideremos como uma pessoa sã. Ele será chamado “excêntrico”
ou “irresponsável”, “raro”, “louco” ou “criminoso”, pode ser anarquista, pintor ou
poeta, homossexual ou vagabundo. Mas uma pessoa que tem estilo não vai à
terapia, não por vontade própria, pelo menos. As pessoas que querem e
necessitam de terapia são as que se encontram presas, que não conseguem
livrar-se de sua ansiedade, de sua insatisfação, sua falta de capacidade no
trabalho e em suas relações, de sua infelicidade. Carecem do suporte
necessário para lidar com a situação na qual se encontram.
Contudo, experimentamos a falta de suporte que necessitamos como
ansiedade. Geralmente, relacionamos a ansiedade com a falta de oxigênio,
mas é possível que a redução e a suspensão da respiração, acompanhadas
pela redução dos níveis de emoção e interesse, seja uma reação às situações
potencialmente perigosas (fazer-se de morto), ou a exigência de controlar-se.
Existe uma ampla gama de tipos de má coordenação das funções de suporte e
do contato que abarcam desde a sensação de estar incômodo, desajeitado ou
violento, de vez em quando, a ansiedade crônica e o pânico. Não dispomos de
tempo suficiente para explicar a fenomenologia de todos estes tipos de má
coordenação. Quero sublinhar um ponto: sentir-se incômodo ou violento é
potencialmente criativo, a sensação momentânea de desequilíbrio que
experimentamos no limite de crescimento, ao ter um pé em território conhecido
e o outro em território estranho, a própria experiência de fronteira. Se somos
flexíveis e nos permitimos cambalear, mantemos nosso nível de emoção,
ignoramos ou até esquecemos que nos sentimos violentos ou incomodados e
conquistamos território novo, o qual nos proporciona mais suporte. Podemos
observar este tipo de incômodo gracioso nas crianças antes de sua
socialização, antes que limitados pela exigência da sociedade de que eles
“mantenham a calma”. Sei por experiência o difícil que é desfazer-se dos
introjetos que ficam no caminho durante a maior parte de nossa vida. Em
momentos como esse quase sempre me sinto um pouco incômoda e violenta.
Neste momento me sinto um pouco incômoda, porque não sei exatamente com
quem estou falando e prefiro falar a vocês, em vez de falar com vocês. Mas
também sei que sobreviverei. Tenho aprendido a viver com a incerteza sem a
ansiedade.
A forma como incentivamos o desenvolvimento de funções de suporte
mais flexíveis em nossos pacientes depende do suporte que nós possuímos e
de nossa consciência de suporte que nossos pacientes têm disponível em seu
interior. Um bom terapeuta não utiliza técnicas, mas o mesmo se aplica nas
situações, estendendo a mão de todos o conhecimento, as habilidades e as
experiências vitais que haja assimilado e de tudo o que ocorre dentro do campo
de sua consciência em um momento dado. Portanto, prefiro falar de estilos de
terapia em vez de técnicas. Praticamente todas as técnicas podem aplicar-se
dentro da estrutura Gestalt-terapia, desde que sejam existenciais, experienciais
e experimentais, mas só devem ser aplicadas na medida em que seja possível
encorajar o suporte necessário, isto é, quando o paciente já é consciente ou é
possível fazer que tome consciência do que está fazendo e de como está
fazendo nesse momento e quando está disposto a provas diferentes
alternativas. Portanto, começamos com as coisas que estão óbvias, com o que
está ao alcance da consciência do terapeuta e do paciente nesse momento e
avançamos com passos pequenos que este experimenta imediatamente e que
consequentemente são mais fáceis de assimilar. É um processo que requer
tempo e às vezes os caçadores de emoções não entendem as pessoas que
buscam emoções fáceis e resultados mágicos. Mas os milagres resultam não
só da intuição, mas também da eleição do momento mais propício. Desconfio
da pessoa que faz milagres e estou cansada de soluções instantâneas. Muitas
vezes, o resultado é uma reação terapêutica negativa, uma recaída, ou mesmo
uma crise psicótica. Demonstra uma falta de respeito pelo dilema existencial do
paciente, recusando-se a aceitá-lo como é naquele momento e querendo
manipulá-lo rapidamente para o que achamos que devia ser. Não estimula o
desenvolvimento de sua consciência e de sua autonomia e tampouco promove
o crescimento do terapeuta.

Referências

Perls, F.,R.F. Hefferline e P. Goodman (1951), Gestalt Therapy: Excitement


and Growth in the Human Personality, New York, Dell Publishing Co. Inc.
Perls, F. (1988), Gestalt Therapy Verbatim, Highland, New York, The Gestalt
Journal.
Perls, F.(1969), Ego, Hunger and Aggression, New York, Random House.
Polster, E. and M. (1973), Gestalt Therapy Integrated, New York,
Brunner/Mazel.
14. Uma oficina com Laura Perls2

LAURA PERLS: Perceber a realidade significa estar consciente do que


existe depende por um lado, do que cada um contribui para cada situação.
Depende do interesse e da disponibilidade. Neste momento estou consciente
de que está mudando o centro da atenção e agora estou consciente de muitos
rostos, alguns dos quais já conhecia e outras que são desconhecidas para mim
e mais ou menos todos vocês parecem estar esperando algo. O que esperam?
BILL: Eu me sinto muito contente de estar contigo de novo, Laura, muito
contente. Sinto que meus olhos se enchem de lágrimas. Passou muito tempo,
dez anos talvez, antes de Fritz falecer.
LAURA: Então, você está mais ciente de suas memórias, do que está
aqui agora?
BILL: As memórias dentro do que está acontecendo agora mesmo, as
duas coisas simultaneamente. Me lembro do que Fritz e você me ensinaram,
são boas memórias. Me alegro de estar aqui de novo, me alegro muito. Juntos.
LAURA: Então você dá a impressão de que está triste.
BILL: Não me sinto triste. Essas lágrimas são de alegria.
LAURA (dirigindo-se ao grupo): Não deixem que eu faça tudo.
JEAN: Você tem tanta energia.
LAURA: Como sabe?
JEAN: Porque eu vejo.
LAURA: O que vê?
JEAN: A energia que emana de você. Seus olhos brilham, você tem
músculos tonificados.
LAURA: Também não me sinto confortável no momento. Como eu disse,
estou enfrentando muitas pessoas novas e essa é uma situação fronteiriça,
onde eu encontro o outro. O conceito de limite é importantíssimo para a
Gestalt-terapia. É no limite onde se está consciente. É ali onde um pode sentir-
se violento e cortante, onde um não se sente seguro, onde há incerteza e se
não se pode suportar a incerteza, esta se converte em ansiedade. Se
tentarmos escondê-la ou somos forçados a nos distanciar porque sentimos
muita ansiedade, ou tentamos defender-nos dando a volta descaradamente (e
uma resolução inexorável para passar pela situação em questão), então nosso
caminho de estabelecer contato carece de sensibilidade.
O contato tem lugar no limite e para entrar em contato com o outro que
realmente seja novo e diferente temos de ter apoio suficiente para conseguir e,

2
“Uma oficina com Laura Perls” é a transcrição de uma oficina que ocorreu no XXV Instituto Anual da
Academia Americana de Psicoterapeutas, que se reuniu em 1980 na cidade de Nova York.
para mim, este é outro conceito essencial. Sempre se fala do contato, de entrar
em contato irregular ou de não ter contato, mas o contato só pode ser bom na
medida em que existe um suporte adequado. E quando falo de suporte não me
refiro somente a minha presença como líder do grupo ou como terapeuta, a
minha disponibilidade, mas o que o paciente ou o estudante contribui para a
situação. Tudo o que foi assimilado e integrado constitui um suporte. O que não
foi integrado, o que não se tornou parte de nós, torna-se bloqueio, uma gestalt
fixa que obstaculiza a formação contínua de gestalten e nos impede conseguir
o objetivo da boa terapia: isto é, um processo de formação contínua de
gestalten dentro do qual seja mais útil para o organismo, para a pessoa, para a
relação, para o grupo, inclusive para a nação, formar uma figura e tornar-se
uma gestalt, em algo que destaca sobre os demais. Quando algo forma figura
podemos enfrentar, trabalhar, trabalhar com isso e através dela se livrar dela,
acabar com isso e assim a gente abre espaço para que a seguinte gestalt
importante forme figura. E o que temos que fazer em Gestalt-terapia ou com
qualquer tipo de terapia eficaz é centrar-nos nas gestalten fixas e nos
comportamentos, os princípios e as ideias fixas, o que geralmente é tudo o que
damos como certo. É o que os psicanalistas chamam de resistência e não é
suficiente explicar a resistência, nem interpretá-la, nem classificá-la como
transferência, mas que é algo que chegou a ser automático, é algo natural, o
que chamamos resistência sempre terá sido adquirido como suporte em
alguma situação, normalmente em uma situação que surgiu durante a
juventude. E se for útil, tende a se tornar automático, um se apoia nele e
quando algo chega a ser automático já não se tem consciência dele. “Sou
assim, sempre tem sido assim, não posso fazer nada para mudar”. O que
fazemos em Gestalt-terapia é desautomatizar o comportamento fixo, as
posturas fixas dos músculos, as ideias, os princípios e os ideias fixos, o que te
interessa neste momento?
NED: De repente me interessou seu olhar. Estava centrado nos seus
olhos, ali mesmo.
LAURA: O que vê?
NED: O que me veio à mente foi um artigo do New York Times
Magazine sobre os grandes chefes e uma das coisas que mencionava era a
qualidade e a clareza do seu olhar e isso é o que me veio à mente enquanto te
olhava.
LAURA: Então você foge para uma espécie de comparação literária.
NED: Eu não estou fugindo, apenas me concentrei na clareza. (Suspira).
LAURA: O que você vê de forma tão fixa? (Reproduz seu suspiro)
NED: Estou consciente de que ao estar no sul da Califórnia, não nos
pusemos em contato muitas vezes e a verdade é que eu estava animado para
estar aqui hoje.
LAURA: Agora você está ciente de que anteontem você estava delirando
sobre algo que iria acontecer. E o que está acontecendo agora?
NED: Quero entrar em contato comigo mesmo primeiro.
LAURA: Com o que está em contato agora mesmo?
NED: Senti uma onda de raiva, como se você me interpretasse. E quero
que você me deixe em paz nos primeiros dias que sou avô e estou gostando
muito. Esse é realmente o sentimento com o qual estou em contato agora, é
algo especial e novo. Também, a consciência de que não estabeleci contato
com você.
LAURA: O que está fazendo neste momento?
NED: Brincando com isso.
LAURA: O que é isso?
NED: O contato contigo.
LAURA: Você sabe quando você faz contato, você não diz “Estou
fazendo contato com você”. Este é um termo técnico e quando eu falo posso
falar em estabelecer contato, mas eu olho pra você, você está olhando para
mim, ou está pensando em outra coisa. (Longo silêncio). E agora? Há algo
desafiador em sua posição e postura. Exagere por um momento.
NED: Tenho certeza de que estou tentando ficar maior.
LAURA: O que sente? O que me diz agora?
NED: Se você me desafiar eu me sentirei desafiado. Não me sinto
desafiado.
LAURA: Ok, o que você está desfrutando neste momento?
NED: Estou desfrutando da sua tentativa de encontrar algo que permita
que você entre em contato comigo e agradeço. Não estou muito seguro: uma
parte de mim começa a querer responder.
LAURA: Uma parte de ti. Por uma parte. E pela outra?
NED: Não estou muito seguro do que quero fazer.
LAURA: Pode construir um diálogo entre as duas partes?
NED: Esperava ficar calado. Não me deixe ficar calado! Foi como meu
próprio ensaio, então, por um lado, me sinto um pouco preso.
LAURA: Você já veio com uma espécie de gestalt fixa…
NED: De relaxar. Para me permitir relaxar, mas o mais importante era
que queria estar quieto, experimentar as coisas mais dentro de mim, estou
muito acostumado a ser extrovertido. Pode me excitar querer ter mais contato
contigo e que nos relacionemos. A verdade é que me sinto aberto e tenho uma
sensação agradável. Eu já deixei para trás…porque eu queria estar quieto e
não me deixei. Eu poderia ter dito para você ir a merda!
LAURA (Dirigindo-se ao grupo): Se alguém observa algo importante em
relação com o que está acontecendo, diga por favor.
EVE: Eu não sei o que está acontecendo, mas não gosto. Não sei o que
esperava - uma espécie de grupo experiencial - mas aqui sinto cada vez mais
raiva pelo que você está fazendo ou não está fazendo, mas não sei porquê. Eu
não sei quanto tempo eu posso ficar aqui. Estou pensando: Vou ficar entediada
ou vou ficar com raiva ou o que?
LAURA: Você diz que pode dizer que está entediada ou zangada ou
quase, mas também diz isso muito suavemente. Faça isso intencionalmente
por um momento.
EVE: Você quer dizer para exagerar minha postura?
LAURA: Sim. Esse é o único movimento que te permite essa postura.
EVE: Não posso nem me mover nesta posição (risos).
LAURA: Mas você se moveu, você viu, você estava encolhendo os
ombros, que é o início de um movimento que você imediatamente para. A partir
dessa posição é um apoio para fugir, para fechar em si mesma e para apertar o
diafragma de modo que nessa posição não se tem o suporte necessário para
fazer contato. Depois da fisiologia primária, a circulação do sangue, a
respiração e a digestão dos alimentos, nosso suporte principal nos
proporcionam a postura e a mobilidade. Gostaria de ver como você fica quando
está de pé e quando caminha. (Eve caminha) Alguém poderia imitar sua forma
de andar? Bom, descreva você mesma.
EVE: Estou tentando andar de forma diferente ao que acredito que é
minha forma normal de andar, levantando o peito, sem me preocupar com a
postura que adoto, mas queria aprender a andar melhor.
LAURA: De fato, ao caminhar o que fazemos é jogar todo o peso de
uma parte a outra e o centro de gravidade encontra-se na pélvis, que tem que
se deslocar e as pernas servem para suportar o peso. Se começa com as
pernas rígidas anda assim, mais ou menos e tudo se move para trás, se
mantém as pernas rígidas, faz com que a pélvis deslize para trás e então você
tem que se levantar usando essa parte do corpo, o peito e os ombros. O
suporte deve ser oferecido pela parte superior do corpo e isso lhe dá espaço
para respirar e também o suportar o estômago. Quando você empurra essa
parte muito para trás, seu intestino literalmente salta, a menos que você aperte
seus músculos. Se você colocar sua pélvis embaixo de você, ela segura seu
estômago, você tem coragem e libera a parte superior do corpo para as tarefas
de orientação e manipulação.
EVE: Sempre tenho a sensação de que algo está puxando este lado de
mim, como um peso, a gravidade, embora tente lutar contra ele.
LAURA: Venha um pouco mais perto. Sim, esta parte está um pouco
mais alta. Deite no chão, de costas, levante os joelhos um pouco, o estômago,
relaxe e solte a cabeça, tem um pouco de tensão aqui, aspira contra minha
mão. Vê? Você coloca todo o ar aqui em cima. Na verdade, você respira mais
com o estômago quando está em posição horizontal, se não impedir. Você
coloca tudo aqui em cima automaticamente, é habitual. Aspira contra minha
mão e aumenta o espaço que tem entre suas costas e o chão e respira como
se expulsasse o ar por aqui, pelo centro da coluna vertebral, não a force, deixe
que o ar entre e saia e deixe que a coluna toque o solo suavemente…
experimente perceber o que se passa com a pélvis quando a coluna se
endireita mais. Você pode praticar isso contra a parede ou em um sonho e não
faz falta estar sempre tão reta como quando se faz no chão, mas o que busco
na realidade é a flexibilidade da coluna para que possa conseguir qualquer tipo
de suporte que te faça falta para as tarefas que quer realizar. Incorpore
levantando a cabeça primeiro…estique as pernas e deite-se novamente a partir
daqui, jogue todo o seu peso para frente e baixe como se desenrolasse, agora
em sentido contrário, levante as pernas por cima da cabeça. Sim você
entendeu, tem a flexibilidade necessária aqui. Agora abaixe devagar, vértebra
por vértebra. De fato, exceto as últimas três ou quatro que estão vinculadas
entre si, pode mover cada uma das vértebras em separado. Você ainda tem
flexibilidade e por isso consegue com bastante facilidade, mas, claro, para
adquirir hábitos diferentes, é preciso, primeiro, sentir o que se está fazendo
para que, assim, possa tentar fazer de outra forma. Eu tive sorte porque
comecei a fazer dança coral aos oito anos e mais tarde fiz dança coral e
eurítmica dentro do âmbito de outros sistemas alemães, uma vez adquirido
esse tipo de suporte e flexibilidade dura a vida toda. Eu tenho 75 anos e,
todavia, o conservo. Acredito que seria incapaz de fazer este tipo de trabalho
sem ele. Portanto, é um suporte fundamental: a forma de respirar, a postura e a
flexibilidade da cabeça, ombros e braços. Você se deu conta que carrega o
ombro esquerdo mais alto que o direito?
EVE: Sim, ele compensa o desequilíbrio de forma excessiva.
LAURA: Sente a tensão?
EVE: Não, sinto a força da gravidade no outro lado, este lado.
LAURA: Volte por um momento. (Dirigindo-se a outro membro do grupo).
Guarde isso, não adianta anotar. (Risos). Está empurrando e tirando a vez.
Controla muito. Sente que puxa a perna?
EVE: Não muito.
LAURA: E olhava pra mim durante a maior parte do tempo e senti que
enquanto fazia isso, de alguma maneira buscava não sei o que: aprovação?
Aprovação para saber se está fazendo bem.
EVE: Seguramente.
LAURA: E na medida em que faz isto, não está realmente centrada no
movimento em si, mas na impressão que produz a impressão que me produz a
mim. A verdade é que eu não critico, não digo que algo esteja bem ou mal nem
que deveria fazer melhor. Eu o aceito tal como é, do jeito que você faz e é
assim que é agora e começamos a partir dessa base.
Eu gostaria de dizer algo mais sobre o suporte e o contato. Não
devemos dizer que estamos ou não estamos em contato. O contato é algo que
nós criamos, nós fazemos e também fazemos tudo o que impede o contato. Em
Gestalt-terapia reforçamos esta consciência, a consciência de como impedimos
que a consciência flua livremente. (Dirigindo-se a outro membro do grupo) Não
há necessidade de fazer anotações. Tudo isso está em um artigo que publiquei
em Voices em 1978. (Dirigindo-se a Jan) O que pensa?
JAN: Neste momento estava esticando o pé, este pé que está cansado,
porque estou de salto alto andando pelo Central Park. Estava esticando meu
pé e era uma sensação agradável.
LAURA: Consegue andar com salto alto?
JAN: Boa pergunta. É o que venho fazendo há algumas horas. E se eu
conseguir? Bem eu entendi.
LAURA: Ande sem eles um momento e depois caminhe com eles.
Vamos ver que mudanças ocorrem…Sim, também neste caso a coluna se
arqueia.
JAN: Tenho sérios problemas nas costas.
LAURA: Claro.
JAN: Claro, o que?
LAURA: Sempre que existe essa tensão habitual tem problemas nas
costas.
JAN: Eu não sei o que apareceu primeiro.
LAURA: Esta tensão nas costas, que por sua vez produz tensão no
diafragma e faz que a respiração diminua, esta é a forma mais importante de
controlar a si mesmo.
JAN: Isso é algo a que sou muito propensa, é verdade.
LAURA: E de reduzir nossa própria energia. Impede que aproveite o
espaço que tem em seu peito, nos pulmões.
JAN: Acredito que tem razão. Acredito que o faço desde há muito, muito
tempo. Agora já é um costume muito arraigado.
LAURA: Também me dei conta de que solta o ar e fala depois, quando
você quase não tem mais e por isso fala cada vez mais baixo.
JAN: Não tinha me dado conta.
LAURA: Faça de propósito.
JAN: Consigo falar sem ar. Muito baixinho.
LAURA: Assim que você estava falando agora, um momento atrás.
JAN: Eu não tinha me dado conta. Não posso ficar parada durante muito
tempo, começa a doer as costas e tenho que começar a me movimentar.
LAURA: Já está claro.
JAN: Você não está surpresa.
LAURA: Poderia fazer um exercício muito parecido no chão.
JAN: Acredito que preferiria não fazer com essa roupa.
LAURA: Você não precisa fazer isso agora e não funciona se só faz uma
vez. é algo que tem que trabalhar. Vai se dar conta que se tem este tipo de
suporte terá mais energia e durará mais tempo.
JAN: Você quer que eu faça a mesma coisa que ela fez antes, mas
deitada no chão?
LAURA: Sim, começar a flexibilizar a parte central da coluna. Um
quadrúpede o faz relativamente fácil, ele tem as quatro patas e o suporte
necessário para caminhar, mas a cabeça está fixa entre os ombros e portanto,
não pode manipular nada, um macaco pode andar utilizando as quatro patas e
também tem a possibilidade de colher as coisas com uma das patas traseiras,
mas somente o ser humano se levanta, caminha com as patas traseiras e
utiliza a parte inferior do corpo como apoio e para jogar-se de um lado a outro e
a parte superior do corpo para orientar-se e para a manipulação. E quanto
melhor seja a postura aqui e quanto mais flexibilidade tiver e quanto mais
apoiar a pélvis, melhor funcionará e também conseguirá concentrar-se melhor.
Realiza algum tipo de exercício físico?
JAN: Há pouco tempo comecei a fazer exercícios Alexander com Ilana
Rubenfeld, só fui a uma sessão. Vou três vezes por semana e farei alguns dos
exercícios. Vou também ao quiroprático. Estou fazendo um esforço para curar-
me de verdade.
LAURA: E se fizer dança ou ginástica, não faça balé clássico, pois se
centram na ideia de girar as pernas pra fora e de levantar o corpo. Desta forma
consegue-se levantar, mas se mantiver esta posição é impossível carregar
qualquer coisa ou fazer qualquer outra coisa. Sua meta é sua própria beleza,
como cantar coloratura, ele também é muito bonito às vezes, mas é muito
pouco expressivo.
JAN: A yoga seria boa pra isso?
LAURA: Alguns exercícios. Tem alguns que requerem esticar muito e
esses não me convencem. Também pode ajudar a bioenergética, alguns dos
exercícios são muito úteis dentro do marco da Gestalt-terapia, mas eu
pessoalmente rejeitaria a manipulação forte porque tende a romper, a quebrar
as resistências sem proporcionar o suporte necessário depois e já vi casos
onde certos pacientes com diagnóstico duvidoso sofreram crises psicóticas,
devido a bioenergética, assim eu tenho muito cuidado. De fato, podem-se
utilizar quase todas as técnicas dentro do marco da Gestalt-terapia. Na
realidade Gestalt é um conceito filosófico, estético. Na Alemanha as escolas de
arte se chamam Hochschule für Gestaltung. Gestalt significa figura, forma, um
todo que destaca sobre um fundo e a relação entre a figura e o fundo é o que
se chama “significado”, porque o apoio provém de tudo o que se converte no
fundo, tudo o que foi assimilado e integrado e também do que não havia sido
assimilado, quer dizer, trabalhado de forma que desapareça, como os
alimentos quando os mastigamos bem, desaparecem, não há necessidade em
engolir os pedaços inteiros. Se você engole pedaços inteiros é um fardo para o
estômago, é um trabalho que a boca deveria realizar. E a maneira na qual
comemos nos ensinam como aprender e como estabelecer contato com o
mundo em geral, com o outro. A princípio a criança se encontra em confluência
com sua mãe. O embrião faz parte da mãe e começa a desenvolver-se por
conta própria, pouco a pouco, primeiro começa a funcionar o coração e o
embrião se move, depois nasce e respira, mas a alimentação restabelece a
confluência. A criança só é consciente quando tem fome e está desconfortável,
mas enquanto dorme no peito, ou com o bico da mamadeira, reduz a tensão e
a criança pode voltar a dormir, inclusive pode seguir mamando enquanto
dorme.
A criança começa a estabelecer contato com o outro como tal, no
momento que que começam a sair os dentes, quando suas gengivas
endurecem e suas mãos tocam e está consciente de estar tocando o outro, a
partir desse momento a criança aprende a fazer as coisas devagar, com tempo
e mastigando bem o que tem que engolir, quando o enchem de mingau que
não tem consistência, isso depende dos métodos de alimentação que são
utilizados. Infelizmente, as crianças são ensinadas da mesma forma na escola.
Tudo já vem mastigado de antemão, as crianças ficam com coisas meio
digeridas em suas cabeças, e elas engolem antes das provas e vomitam nas
provas, assim elas se livram delas para sempre. Eu nunca vi tantas pessoas
frequentarem o ensino médio por tantos anos e fazerem tanto dever de casa e
saberem tão pouco como nos Estados Unidos. Você ri, mas a verdade é triste.
LIL: É por sua forma de expressar, mas o fato em si não tem muita
graça. Esta afirmação tua é algo irônica, acredito, pelo menos para mim e
seguramente para a maioria das pessoas aqui, quando penso nos muitos anos
que estive estudando.
LAURA: Quase se esquece de tudo.
LIL: Claro que sim e havia muitas coisas que simplesmente não queria
saber.
LAURA: Engolir as coisas indistintamente é um forte apoio para a
confluência, primeiro para a confluência com a mãe e depois com a família e
com a escola, com esportes e com o sistema político. E retira-se de si tudo que
não coincide com a confluência. Um se sente culpável e também ressentido
quando algo não se encaixa. Em todas as relações de confluência um tem mais
poder que o outro - como ocorre com a família, ou na sala de aula, ou com o
que quer que seja - segue-o, submete aos desejos e as necessidades do líder,
do padre, do professor, do presidente, do chefe. Eu tento evitar que isso
aconteça aqui mesmo: não devem limitar-se a acatar o que eu digo, a aceitar
sem questionar, mas você tem que tentar afundar seus dentes nele. De fato,
existem termos muito específicos para descrever esse tipo de atividade: Dizer
que afundamos os dentes em alguma coisa, mastigamos, assimilamos,
abrangemos mais do que podemos espremer, ou que estamos fartos, até o
nariz.
MAC: Até o nariz estou eu neste momento.
LAURA: Agora mesmo?
MAC: Porque quero que pare de falar, mas tampouco quero ser eu o
centro da atenção e agora estou fazendo…
LAURA: Represente um diálogo entre as duas partes.
MAC: Não. Só quero que pare de falar e não quero que me diga o que
fazer.
LAURA: Então, o que quer?
MAC: Não sei.
PAT: Quer que outra pessoa o faça.
MAC: Sim. Quero que algo aconteça, é isso.
JOAN: E neste momento nada acontece. Eu, sinto o mesmo. Aqui estou
ficando cada vez mais irritado, mas não quero passar por isso novamente. Não
quero sentir que foi uma perda de tempo vir aqui e é assim que me sinto agora.
LAURA: Eu gostaria que os outros me dissessem sua reação.
GERT: Eu tenho náuseas, mas sigo aqui escutando e tem uma luta
interna entre se devo ir ou ficar.
LAURA: Claro, sempre existe este problema com os grupos novos, que
não são grupos propriamente ditos, mas agrupamentos de pessoas onde não
sei com quem estou falando. E por isso eu logicamente falo a vocês, ao invés
de falar com vocês. Por outro lado, sobretudo durante os últimos anos, sinto
que tenho que adotar uma atitude muito mais didática do que costumava adotar
antes, porque a gente sempre está fazendo algo e querem que ocorra algo,
querem sentir emoção e não sabem o que estão fazendo.
JEAN: A verdade é que eu vim para experimentar você e é o que estou
fazendo, por isso não estou irritada, eu não sinto raiva, mas acredito que
gostaria de experimentar mais a forma com a qual trabalha. Acho que pelo
menos do meu ponto de vista, concordo totalmente que talvez 98 a 99,9%,
tenha esquecido tudo o que aprendi e suponho que sempre me passa isso com
a teoria, que se ocorre algo que dá sentido, então se torna parte de mim, e se
não, é possível que eu escreva, mas depois não reviso as notas e mesmo que
as leia não me lembraria, isso não me afeta. Isto é o que me passa.
LAURA: Simplesmente não faz uso, a menos que…
JEAN: A não ser que o utilize.
LAURA: Que faça algo.
JEAN: Sim.
LAURA: Há um momento atrás eu notei como você apertou os cotovelos
contra o corpo e encolheu os ombros, mas com as mãos. Faz de propósito por
um momento. Faz isto e exagere-o. Não, você está levantando mais aqui. Mas
quando fala comigo…O que você acha que parece?
JEAN: Quando você fez isso, eu não sabia que fiz isso. Mas quando
você fez, pareceu como se tivesse tentando dizer: “Bom, não é tão importante”,
como se você minimizasse o que eu disse.
LAURA: Também limitava a área que podia alcançar. Se moveu desde
aqui, reduziu o espaço que tinha disponível para atuar.
GUS: Eu ficaria muito agradecido se você concordasse com alguém
para trabalhar com ele e todos víssemos.
LAURA: Que tal com você mesmo?
GUS: Está bem.
LAURA: O que quer trabalhar?
GUS: Em termos gerais sou consciente dos meus sonhos e de uma
mudança que está acontecendo dentro de mim. Eu dou minhas roupas.
Compro uma roupa diferente. Meu comportamento me diz muitas coisas. É
novo. Eu sou consciente de que olho em outra direção, não te olho e me agarro
a algumas das coisas que tem passado durante estes dias e que ainda não
analisei. Não os mastiguei bem e não sei o que estou dizendo a mim mesmo,
isso me deixa desorientado.
LAURA: Você se dá conta de que se encontra sorrindo ou morde o lábio
ao final de cada frase que disse? Faça de propósito. Exagere-o. Como você se
sente quando o faz?
GUS: Como se me reprimisse. E para mim isto é parte do problema.
Uma parte muito importante de mim - e estou falando do passado outra vez,
mas está muito relacionado com o que me acontece agora mesmo - em relação
a um amigo íntimo. Estamos mudando nossos papéis. É novo para mim.
Começou ontem e estou me acostumando a um nível de firmeza e
protagonismo que não havia alcançado antes. Eu gosto, mas é estranho e me
dá um pouco de medo. Sou estranho e me dou um pouco de medo. Me dou
conta de que ao admiti-lo as mandíbulas estão menos apertadas. É mais fácil
inspirar para conseguir mais energia.
LAURA: Também solta e fala sem ar. Poderia inalar e dizer “Ah” de
forma que me dê ar.
GUS: Ahhh.
LAURA: O corta. Tem muito mais.
GUS: Ahhhhhhhh. Me dou conta de que eu paro…
LAURA: Empurre desde aqui para que saia. Encha-se com ar até o topo.
Deixe-o entrar e depois deixe-o sair. E o que quer dizer agora mesmo, sinta-o
de qualquer forma, da forma que queira, como um recital de ópera.
GUS: Acredito que poderia ser Boris.
LAURA: Cante.
GUS: Boris que tal?
LAURA: Cante.
GUS: Boris…
LAURA: Vê, quando tudo está fora, começa a falar. A voz prolonga a
exalação. E é por isso que cantar é um bom exercício para as pessoas que não
soltam sua voz, que não a usa. Que então começam a generalizar, evitando
falar de coisas concretas, a compensar a falta de qualidade com a quantidade.
A qualidade se consegue dando lugar à energia.
GUS: Me dou conta de que estou respirando mais profundamente, meu
ânus ficou dormente. Estou ciente de que estou suando agora.
LAURA: Solta tudo menos a voz. (O grupo ri).
GUS: Isso me traz um monte de memórias, porque às vezes fui acusado
de ser muito agressivo.
LAURA: Seja muito agressivo agora ou o que você acredita que é muito
agressivo. Levante-se e comporte-se de forma autoritária.
GUS: Laura, eu gostaria que você fizesse algo por nós. Estamos aqui
esperando como idiotas.
LAURA: Será você!
GUS: Eu estou aqui esperando coo um idiota. Percebi que Hall está
dormindo, me dei conta de que eu dormia também e estou de acordo com o
que foi dito. Falamos muito e não fazemos nada e me sinto muito melhor desde
que comecei a falar e a fazer algo. Agora que faço isso, não soa muito
agressivo pra mim.
LAURA: E também sorri ao final de cada frase, como se…
GUS: Sim. “Não me bata, estou sorrindo sabe?”. E quase…quase creio
que iam me castigar por ser muito agressivo. Sim. Isto tem uma longa história.
LAURA: Bom, olha ao seu redor. Quem te castigaria dos que estão
aqui? Nos diga.
GUS: Acredito que ninguém. Não creio que você me castigue. De fato,
de certo modo estou experimentando dentro de mim o riso que vejo em seus
olhos. Eu posso precisar ser protegido…(risos). Posso ser forte…pelo menos
do jeito que sinto agora, eu não…
LAURA: Seja agressivo com a mão esquerda. Sim, você vê, deixa a mão
direita solta e você mantém a esquerda.
GUS: E não ser agressivo é algo que eu introjetei muito. Às vezes
imponho minhas opiniões às pessoas, ainda que eu nunca tivesse acreditado
que me sentiria poderoso o suficiente para fazê-lo, já me disseram muitas
vezes que sim, mas nunca acreditei totalmente.
LAURA: Você está nos contando histórias que podemos acreditar ou
não.
GUS: Pois eu pensava que era interessante.
LAURA: Diga algo a alguém aqui, algo negativo ou algo que você acha
que normalmente não diria. Experimente agora.
GUS: Você não é o que as pessoas de Cleveland pintam de você, eu
amo isso e ao mesmo tempo me fascina. Eu não acho que eu teria dito isso
antes.
DAVE: Poderia traduzir? O que quer dizer “pintam de você”?
GUS: A pintam com palavras. Laura foi descrita muitas vezes para mim
e para muitas pessoas que cresceram em Cleveland, no Cleveland Gestalt
Institute e para mim as pessoas dali são maravilhosas, porque me ensinaram
tanto e cresci sob sua influência, então para mim essa é uma maneira de me
conectar.
LAURA: Como?
GUS: Como eu faço? Não sei.
LAURA: Bom, não sei com quem falava em Cleveland, mas são pessoas
que têm assimilado muitas coisas que eu ensinei. Acredito que a maioria de
vocês não se deu conta da observação, o fato de que trabalho com coisas
muito pequenas e tomando passos pequenos, e pode ser muito emocionante, e
é aqui onde a maioria dos profissionais se interrompe. Trabalho com detalhes
que talvez eles não vejam ou entendam a princípio. Percebo e trabalho com
pequenas coisas, como as coisas que tendemos a aceitar sem pensar nelas,
como coisas que diríamos que são óbvias, os problemas e as resistências se
encontram embutidos nos óbvio. De fato, linguisticamente falando, as palavras
“óbvio” e “problema” querem dizer o mesmo. Em Grego problema significa o
que está adiante e ao dizer "óbvio" nos referimos a algo que está aqui mesmo
em nosso caminho e utilizamos uma dessas palavras para falar das coisas que
são tão triviais que não vale a pena nem sequer parar para pensar neles, muito
menos falar deles e empregamos a palavra “problema” para as coisas que são
difíceis de resolver ou que você deve evitar para deixá-las para trás.
CHRIS: Então, quer dizer que se alguém vem a terapia com um
problema relacionado com alguém de fora, o marido, ou a mulher, um dos
filhos ou o chefe ou algo assim…
LAURA: Se tem esse problema fora do consultório, existe também no
consultório comigo e vejo isso e vi que sim, você realmente olha, você vê que
está presente naquele exato momento, que trabalhando as coisas mais óbvias
podem ser demonstradas de forma imediata e podemos realizar experimentos,
e isso leva diretamente ao conflito principal.
TOM: Você ainda quer que contemos nossas reações ao que estamos
vivenciando enquanto você trabalha, ou você prefere continuar trabalhando
com pessoas assim?
LAURA: Disse que tem algo que quer dizer.
TOM: Minha reação é diferente da dos demais. A expressão que me
vem à cabeça neste momento é “orgulhe-se”. Me orgulho do trabalho que
estava fazendo. Observava que você pôs em prática tantas das coisas que eu
sei sobre a Gestalt enquanto trabalhava e via que as pessoas desviavam o
olhar e que estavam inquietos e me perguntava se não seria que não
entendiam os conceitos da Gestalt que eu experimentava, talvez chamem isso
de “detalhes sem importância”, mas estou ciente da diferença entre a figura e o
trabalho que deve ser realizado e as pessoas que me procuram para trabalhar
com eles não necessitam que eu lhes ensine as coisas óbvias, o que já sabem.
Faz falta que eu os ajude a centrar-se no que não vem e isto é o que você
fazia. Inclusive quando estava palestrando reconhecia os conceitos da gestalt.
Na relação com o que ocorreu no grupo eu senti que - talvez eu esteja
projetando, mas eu trabalhei com você e também com Fritz, então eu
realmente não sei, mas se você acha que eu estou disposto a fazer esse tipo
de trabalho agora - você trabalha muito diferente do Fritz.
LAURA: Sem dúvida.
TOM: Mas você é outro tipo de ser humano. Isso é o que eu ensino aos
meus alunos. Acredito que tenho a impressão de que as pessoas esperam que
chegue uma cópia de Fritz e que se sente e diga, “Aqui tem a ‘cadeira quente’,
quem quer trabalhar?”. E você não trabalha assim.
LAURA: Não, eu trabalharia com alguém durante bastante tempo e se
as pessoas prestarem atenção de verdade, aprendem algo disso.
TOM: Acredito que buscavam algo incrivelmente emocionante e que
essa é uma das dificuldades que tem esta geração que quer tudo agora
mesmo.
BESS: Eu acho que você toma muito as coisas como dadas.
TOM: Isso é o que nos diria Fritz - 99% do que vemos é projeção, desta
forma se dá conta de outra gestalt. Não sei, pode que esteja projetando, mas a
mim me afeta o trabalho que faz Laura de outro modo, é o que quero dizer.
NANA: O que a mim me parece que está dizendo é: “Isto é tudo o que
faz?”
GOL: Algumas das afirmações. Não se tratava de Laura, mas de como
estava com cada um de nós. Da minha parte me faltava energia. De certa
forma desejava que ocorresse algo porque me falta muita energia e me sentia
cansada.
LAURA: Sim, não estava ciente do que estava acontecendo.
GOL: Bom, estava consciente do que estava acontecendo. Também
estava consciente de que havia pessoas que queriam que ocorresse outro tipo
de coisas e não me parecia que tudo era uma negação sua. Me parecia que a
defendi de certo modo e não me parecia que ela estava sendo negativa.
LAURA: Estou acostumada a ver este tipo de reações durante a primeira
hora de trabalho e rejeito as técnicas de confrontação, orientado para
exercícios fixos, com desafios e regras sobre o que fazer e o que não fazer.
TOM: Neste momento estou consciente de que o que disse me colocou
em uma situação vulnerável e que deitei nos trilhos do trem, que pode vir o
trem e eu sou um tolo por deitar-me nos trilhos. Mas eu precisava dizer isso,
não tanto para as pessoas que estão aqui, mas para uma pessoa que eu
trouxe para estar com você hoje e viemos de muito longe. Talvez tenha
definido você para ela. Não estou seguro. Pode ser, mas sei que a sua forma
de trabalhar é diferente da de Fritz.
LAURA: Acredito que era uma necessidade minha ou uma necessidade
sua?
TOM: Acredito que era uma necessidade minha. Estava sendo
paradigmático ao mostrar-la o poder que tem.
LAURA: Isto me lembra uma experiência que tive faz uns anos no 80º
aniversário de Martin Buber. Erich Fromm pronunciava um discurso e durante
este disse: “O poder transforma as pessoas em máquinas e animais”. A mim
me parecia que não estava sendo justo consigo mesmo como terapeuta e
queria dizer algo ao final. Então, primeiro Buber se levantou, claro, e lhe
agradeceu o discurso e durante este disse, “Mas tem uma coisa com a qual
não estou de acordo. O poder não é nem isto, nem isto, mas é…” (é provável
que fez um gesto naquele momento).
Eu presto atenção às funções de apoio, porque se a experiência do
limite é turva por falta dele, a fronteira é borrada, a capacidade de discriminar
entre mim e o outro, funciona mal e isso dá origem à projeção e introjeção, é
que essas coisas não são as mais importantes - pode discutir e falar tudo o que
queira - mas a verdade é que faz falta fortalecer as funções de apoio.
RUTH: Estou pensando em pedir que me ajude com uma coisa e não sei
que cartão devo guardar, porque antes senti que não gosto desse tipo de
votação que nos divide e me sentiria mais confortável se houvesse alguma
forma de…tenho a sensação de que dentro do grupo algumas coisas ficam por
dizer ou o que há uma espécie de mal-estar e eu já tinha percebido isso antes,
quando estava de pé. Seria mais fácil fazer algo sozinho ou ver alguém fazer
algo se o ambiente fosse mais propício. Sinto que não estou concentrada, meu
foco de atenção fica mudando - é você, depois eu, depois a inquietação -.
Acredito que criaríamos um ambiente em que eu, pelo menos, me sentiria mais
confortável se focássemos mais atenção, então estou dividida entre mim
mesma e o que detecto que está ocorrendo e o desejo de que todos nós, não
só você, podíamos mudar e acredito que já basta de más vibrações nesta sala,
de rostos sarcásticos com carranca e pessoas que olham para o céu e bufam e
é uma merda e acredito que não deveríamos fazê-lo. Eu gostaria que todos
juntos fizéssemos algo mais positivo. Deveríamos ser capazes de fazer algo
melhor que isto; não deveria ser só responsabilidade sua.
LAURA: É certo.
EVE: Eu não estou de acordo, porque vim ver Laura Perls, uma pessoa
famosa, uma especialista, ou qualquer outra coisa. A verdade é que eu não
sabia como seria. E também vim porque muitas pessoas me recomendaram e
como disse antes, acredito que não está acontecendo nada aqui. Quero dizer
que alguns de nós - eu- tenho experiência na Gestalt-terapia, vejo o que está
fazendo e não faz nada que me faça sentir que estou aprendendo coisas
novas, que estou escutando algo diferente, que estou experimentando algo e
sigo aqui…
LAURA: Então, você já se esqueceu o que fez aqui?
EVE: Não é nada. Não fiz nada aqui. Eu sinto. É algo que tenho
trabalhado, tenho a pélvis inclinada. Também tive a oportunidade de trabalhar
com Feldenkrais. Não assimilei porque tenho que fazer frente a outro problema.
Isso não é nada. Eu não considero que isso…seja trabalhar. Isso não é
resolver o problema da minha postura.
BESS: Mas espera que ela faça tudo?
EVE: Não espero que faça nada. Nem que o faça tudo, nem que faça
nada em concreto. Esperava que este ia ser um grupo experiencial, estive em
outras oficinas experienciais e tive experiências muito positivas, mas esta não
está sendo positiva. E creio que o que fizemos ali não é uma perda de tempo
para mim, do meu ponto de vista. Ademais, faço a inclinação da pélvis em
minha casa. Faço exercícios. De verdade que me pareceu que não tinha
sentido. O que ela sempre diz: “Faça de propósito”. Se eu ouvir mais uma vez
acho que vou explodir.
LAURA: Você quer levar o grupo?
EVE: Não.
JILL: Eu gostaria muito que trabalhássemos a experiência que estamos
passando neste momento, porque pode ser o melhor que poderíamos fazer.
JAN: Eu me sinto muito nervosa nesse momento. Não sei com que
cartão ficar, não queria dizer nada, mas agora vou dizer. Entendo o que diz e
sinto que não tenha aprendido nada da experiência. Eu sim aprendi algo e me
dá pena que você não, porque eu aprendi tanto e aprecio grande parte do seu
trabalho e o que tem trabalhado com outras pessoas. Aprecio o seu trabalho, a
forma como se mantém de pé, estava algo emocionada pelo que está
passando aqui e quando tinha falado que as pessoas não estão felizes,
acredito que não estou consciente disso. Não formava figura para mim. A
verdade é que eu estava bem interessado no que estava ouvindo e quero dizer,
eu já ouvi isso antes, de alguma forma isso me atinge de forma diferente e me
dá muito mais prazer, assim que é bom…
GREG: Eve, me pergunto se o que está fazendo aqui é realmente uma
opção pra você. Digo porque vejo que está repartindo a culpa principalmente.
Às vezes quando eu me sinto assim e não tenho vontade de seguir em frente e
sinto uma angústia dentro de mim, eu tendo a me afastar ao invés de culpar
alguém. Não quero comprometer-me. Não quero sugerir que isto seja o correto,
mas me pergunto se te sentes presa por fantasias de poder ou do que seja.
Esta é uma sala onde você pode fazer o que você queira. Eu estava
perguntando, se leva a sério a você mesma, porque você fica? Se acontecer,
Deus me livre que Laura Perls se torne uma pessoa ao invés de uma deusa e
isto nos decepcione, então…Porque temos que colocar a culpa nela ou no
grupo?
EVE: São muitas interpretações e projeções e não quero responder.
MEG: Sinto uma forte reação. Eu não quero que usemos tempo
conversando uns com os outros, não é que a gente não vai dizer coisas mais
ou menos interessantes, mas todos nós temos participado de muitos grupos,
estou certo disso, e a verdade é que vim para te ouvir, e estou sentindo
primeiro lugar que você é incrivelmente inteligente e eu invejo você. Outra
reação minha reação é: meu Deus! 75! Então eu não tenho que desistir quando
eu chegar aos 70, e isso me inspira muito. Não sabia como você estava
fisicamente e quando te vi pensei: "Isso é Laura, uma velha?”. Isso também me
inspira.
LAURA: Estou envelhecendo a cada minuto.
MEG: Outra coisa que me inspira e me inveja é que eu estive pensando:
"Meu Deus, se eu estivesse liderando um grupo e as pessoas me dissessem
essas coisas, eu ia embora”. E aí está você tão baixinho dizendo "Ah/sim?", e
eu estive pensando que eu estaria tremendo, mas nem parece que você está
tremendo.
LAURA: Bem, eu não estou tremendo.
MEG: Senti admiração e também inveja.
CLARK: Eu sinto que você não está apenas parada aí sem dizer nada.
Pela primeira vez na minha vida eu olhei para mim mesmo para examinar
minha maneira de ver as coisas. Eu vejo que, o que quer que seja dito, você
consegue que alguém se concentre em si mesmo através do que você está
dizendo e o que se experimenta ao dizê-lo e o que ele faz com o corpo
enquanto ele diz isso, uma e outra vez, especialmente ao trabalhar com você.
Acredito que é um exemplo maravilhoso das técnicas da Gestalt que aprendi e
que tenho usado. É isso que eu quero dizer. tenho a impressão de que muitos
de vocês, embora nem todos, é claro, não tenham entendido a parte mais
importante do que aconteceu aqui. Não sei o porquê. Gostaria de saber para
melhorar minhas próprias oficinas.
ELLA: Essa falta de harmonia é um problema para mim, como é minha
família e eu preciso unir o grupo e porque tenho que fazer isso sozinha e eu
não tenho que fazer isso eu me dei a tarefa, então não estou feliz com tudo
isso. Que nojo! Eu quero que todos sejam bons e legais para que todo mundo
consiga o que quer; e parece que, oh não, estamos presos, algumas pessoas
não querem que falemos uns com os outros, outros não querem que você
pregue, outros acreditam que não é nada e outros pensam que há muita coisa
acontecendo. Aaaah!
LAURA: Se quando chegarmos soubermos o que esperamos que
aconteça, ficaremos desapontados. Esta é a nossa forma de impedir que
experimentemos o que realmente acontece.
ELLA: Espero que você ou nós ou alguém nos faça concordar. Não
descobrimos
o que esperávamos. Cheguei atrasada, então acho que talvez eles
conversaram antes e eu perdi essa parte. Para que saibamos qual é o seu
plano ou sua ideia ou você - talvez você não tenha nenhum, e isso em si é o
grande plano, e então estamos fazendo- fazer o que tínhamos que fazer. Mas
eu tenho a sensação de que pessoas têm propósitos muito diferentes e
estamos fortemente de frente um para o outro; para mim isso não é tão
produtivo como poderia ser.
KENT: Pode parecer loucura, mas talvez cada um de nós crie sua
própria realidade. Talvez Laura tenha uma realidade e cada um de nós também
tem uma realidade própria.
ELA: Eu gostaria de descobrir uma coisa. Perceber o que você faz, o
fato de você reprimir sua agressividade e assertividade. Isso é suficiente, ou
você precisava ou gostaria de ter uma experiência corretiva? Eu gostaria de
saber o que você sente.
GUS: Entrei em contato com muitas coisas. Eu não gosto de falar sobre
"e se..."
ELLA: Você sente que eles não ajudaram você a experimentar?
LAURA: Se você quisesse, eu teria continuado. Nessa fase eu não
queria forçá-lo. Eu não o conheço muito bem. Às vezes sou muito persistente.
GUS: Agradeço o que você fez, porque estou em uma fase da minha
vida onde eu não quero ter uma experiência corretiva com uma pessoa que
não conheço.
HAL: Quero compartilhar com vocês um conselho que Fritz me deu há
12 ou 13 anos atrás. Estávamos falando de um caso e Ele disse: "Hal, Hal,
você não deve forçá-lo." Eu nunca vou esquecer aquilo. “Tudo o que você tem
a fazer é estar com o paciente onde quer que seja, isso é tudo que você tem
que fazer, ser com ele não importa o quê."
LAURA: E observe o que ele está fazendo ou deixando de fazer. Ele
está sempre fazendo alguma coisa.
ANN: Achei que tinha algo em que queria trabalhar e agora percebo que
não tinha nenhuma necessidade de dizer nada. Não entendi porque agora me
dei conta e me emocionei ao observar, não tenho palavras para expressar
bem.
LAURA: Antes queria trabalhar alguma coisa? Você tinha alguma ideia
do que você queria fazer antes de vir?
ANN: O meu é algo que está no passado, não é algo atual.
LAURA: Bem, e quem quer trabalhar?
LIZ: Estou disposta a trabalhar. Isso me surpreende muito porque eu
estava pensando: “Eu não vou trabalhar. Eu não quero enfrentar isso". Já
pensei nisso antes. Não sei como dizer isso com palavras "Gestalt".
LAURA: Existe uma maneira "Gestalt" de dizer as coisas?
LIZ: Neste fim de semana eu segurei a raiva que sinto do meu marido
por uma coisa a que dei muita importância. Não é que não tenha importância,
já é muito raro em nosso relacionamento, mas fiquei muito brava e tentei com
mais raiva do que tenho na realidade, tento não falar com ele, tento me
comportar de uma maneira que me faz parecer muito zangada, hostil, e acho
que me comporto de tal maneira que pareço sentir mais raiva do que sinto,
estou fazendo uma montanha com um grão de areia; não é um grão de areia,
embora não seja uma coisa muito importante. No entanto, eu percebo que eu
quero transformar em uma montanha.
LAURA: Por que você precisa fazer isso?
LIZ: Aí está. Não sei. Eu quero trabalhar nesse tema. Não é próprio de
mim, é por isso que não sei por que estou fazendo isso. Eu poderia dizer o que
é.
LAURA: Sentes que senão ele não reage?
LIZ: Não, eu não poderia dizer muito. Geralmente é um homem bastante
sensível.
LAURA: Você pode fazer um diálogo entre ele e você agora mesmo?
Fale com ele sobre isso.
LIZ: "Ouça, estou farta disso quando nós ficamos com raiva, sou eu que
começo a reconciliação com o “vamos falar sobre isso, vamos tentar entender
o que está acontecendo'. Bem, você faz isso às vezes, mas eu não falo com
você desde sexta-feira, certo? Ou quinta-feira? Estamos no domingo? Quanto
tempo vai esperar? Eu sei que no final você começará e eu não vou ceder.
Você vai ceder no final. Por que eu tenho que passar por isso? E quanto mais
tempo fica sem falar comigo mais eu fico com raiva, você sabe bem disso”.
LAURA: O que ele diz?
LIZ: O que diz? Ele diz: “Eu me comportei de uma maneira agradável e
aberta. Se você quisesse falar comigo eu falaria contigo. Eu tentei falar com
você todos os dias e você não quer falar, então por que tenho que me expor?
Porque eu vou me expor a você quando você está com tanta raiva? Não há
nenhuma razão que justifique tanta raiva. Quero dizer, se você estiver com
raiva, fale comigo. Não quero me expor. E também acho que tenho razão. Acho
que estou certo e não quero dizer que estava errado quando eu acho que estou
certo." Isso é o que ele diria.
LAURA: Com quem você teve que fazer o mesmo quando criança? Cala
a boca e não diz nada?
LIZ: Com quem eu tive que fazer isso? Minha mãe sempre me disse que
eu nunca calo a boca. Minha mãe. Minha mãe sempre acha que está certa. Ou
você concorda com ela ou não diz nada ou você entra em uma boa discussão
ou você vai embora e diz "Está tudo bem, mãe, não há nada de errado." Ainda
hoje ela pensa que está sempre certa.
LAURA: E você muda o tom de voz. Percebi logo que é algo que você
costuma dizer “É isso, tudo bem”.
LIZ: (Irritada e atraída ao mesmo tempo).
LAURA: Como se estivesse mostrando os dentes.
LIZ: Dizem que me pareço muito com minha mãe. (Risada).
LAURA: Isso sempre acontece. As crianças imitam de forma consciente
as coisas que admiram e querem copiar; e se identificam, sem saber, com
coisas que não são capazes de suportar de outro modo. E assim evitam o
conflito externo e criam um conflito interno.
LIZ: Eu me sinto estressada. Acho que gostaria de socar meu marido
agora e eu sei que ele não tem nada a ver com ele.
LAURA: Eu gostaria que você iniciasse um diálogo com sua mãe e diga
a ela.
LIZ: Dizer a minha mãe? Eu estava prestes a dizer "O quê?" "Você
sabe? Mãe, estou cansada de você sempre ter que estar certa. E eu também
estou cansada que quando eu te digo, ou quando tento falar com você sobre o
que acontece entre nós, isso te ofende. O que aconteceu? Você é uma mulher
adulta. Deve ser possível falar com você. Se eu não concordo com você, você
fica com raiva. Esta é minha mãe. E eu lhe dava a mesma resposta que ela me
disse: “Não é isso, mãe. Se eu não concordo com você, você fica com raiva.
Para você, ser compreensiva e demonstrar empatia consiste em agir por pura
fórmula, mas “não estou realmente entendendo nada”. É uma maneira de
suportar, de querer, mas não é entender. Você não está realmente tentando
entender o que eu sinto. Acho que você sempre começa com uma atitude
defensiva, mesmo que não pareça estar na defensiva.”
LAURA: Vejo que as duas se reprovam mutuamente e desse modo
tentam restabelecer o estado de confluência original de uma forma ou de outra.
Você quer que ela se pareça mais com você e ela quer que você pareça mais
com ela e que estejam de acordo e nenhuma das duas cede. Poderia me dizer
agora em que é diferente de sua mãe?
LIZ: “Acho que sou diferente, porque levo uma vida em que estou mais
disposta a correr riscos do que ela e talvez no fundo não seja diferente, porque
sou rebelde, mas acredito que me dei permissão para fazer o que eu quero.
Acredito que você escolheu levar uma vida conformista e é por isso que somos
muito diferentes e sei que te incomoda que minha vida não se encaixe no seu
modelo de vida perfeita e me incomoda que te incomode tanto e que você sinta
como um fracasso. O que foi que você fez de errado? Os filhos de seus amigos
se casaram com homens e mulheres ricos, judeus que moram na periferia da
cidade e tem três filhos. Eu gostaria de aprender a viver com a sua
desaprovação. É mais difícil aprender a viver com a ideia de que você se sente
magoada e decepcionada consigo mesma. Acho que quero fazer as pazes de
alguma forma com você, embora não esteja disposta a me sacrificar para obtê-
la, ou pelo menos ficar com raiva de você. Você não pode ver que as coisas
estão bem? Você está tornando a vida impossível para si mesma por uma
besteira”.
LAURA: Você vê, a esse respeito, a responsabilidade é realmente sua. E
você está tornando a vida miserável por isso. E essa é sua responsabilidade.
LIZ: A questão é que eu sei que estou impossibilitando minha vida por
causa do meu marido.
LAURA: Outra vez o mesmo, não reconhece plenamente a diferença,
não o deixa em paz. Acredito que ele te deixa em paz muito mais que você a
ele.
LIZ: É verdade. Sem dúvida é verdade. Tenho sido mimada nesse
sentido, estou tão acostumada a que me deixe em paz que precisamente
quando não me deixava em paz dizia: “Não me deixa em paz. Como pode fazer
isso comigo?”
LAURA: Você quer brincar de mãe?
LIZ: Quero fazer o papel da boa mãe, sim. Normalmente consigo. Talvez
essa seja a outra cara da moeda. Estou muito consciente dessa parte - tenho
um filho de dois anos e estou grávida e uma parte do que sinto é: “Como pode
me tratar assim quando estou grávida?” -. Agora estou consciente de que
preciso que me tratem com mais consideração, não quero dizer que tenha
algum problema em particular, mas preciso que me trate com mais
consideração e não deve me impor suas exigências.
LAURA: De fato, assume o papel de sua mãe para si mesma
constantemente, irritando-te e aguentando ao mesmo tempo, assim assume
ambos papéis. O que estamos tentando fazer neste momento é externar o
conflito para poder descobrir que parte corresponde a você e a parte que
corresponde a ela.
LIZ: Quero dizer algo sobre os motivos da briga, porque talvez tenha
algo a ver também, tenho uma amiga que é bissexual: costuma ter relações
com mulheres. Combinei jantar com ela e discuti isso na quinta à noite ao
chegar em casa: “A propósito, vou jantar com essa amiga”. E se irritou: “Como
é que você tem que encontrá-la com tanta frequência?”. Será umas quatro
vezes por ano. “Como você tem que vê-la? Porque tem essa compulsão?”. Não
disse com essas palavras, mas a ideia era essa, começou a dizer porque ela
queria ficar comigo, mas sei que não é verdade. Se fosse jantar com uma
amiga heterossexual diria: “Ah” ou algo assim. Não se importaria, ele não é
assim, mas os dois sabíamos que se sentia ameaçado pela ideia de que eu
pudesse vir a ser homossexual. E era…
LAURA: E o que significa isso para você?
LIZ: Pois eu também me pergunto: Porque tem que me afetar tanto?
Porque é muito diferente, sabe, quero dizer que sinto que, em primeiro lugar se
fosse homossexual seria homossexual e não seria o fim do mundo. E se fosse
bissexual seria bissexual. Isto tudo é em um nível intelectual e não sinto que…
LAURA: Como se sente?
LIZ: Você me pergunta como. Estou fugindo do assunto. Acredito que
tenho sentimentos mistos. Eu acho que apenas como há uma parte de mim
que está feliz por ser branca - é terrível, certo? Pai? — Eu acho que há uma
parte de mim que está feliz por estar heterossexual. E... porque eu sei que o
que estou dizendo a mim mesmo o tempo todo enquanto é “Ok! Vamos, estou
educando seu filho e estou grávida. Vou ter outro filho e a única coisa que ele
consegue pensar em dizer e muito idiota é que ele não sabe se eu sou
heterossexual." Se meu próprio marido não sabe que eu sou hetero, então
quem? Eu quero dizer que não estava no nível real. Eu não entendi isso como
um insulto sobre minha sexualidade, mas eu estava me perguntando por que
me afetou tanto. Por isso achei que seria útil mencioná-lo.
LAURA: Algum comentário?
EVE: Acho que o fato de isso surgir nesta fase da sua vida e também
que eles têm a ver com seus sentimentos em relação a sua mãe pode estar
relacionado ao fato de você estar grávida e que por um tempo está ligada à
criança.
LIZ: É algo que eu senti muito fortemente, mas para mim estava muito
ligada à ideia de: “Como você pode me dizer isso quando estou grávida?
LAURA: Conte-nos algumas das características gerais de
homossexuais.
LIZ: Bem, eu vou dizer o que vier na minha cabeça, mesmo que eu não
me sinta orgulhosa dessas ideias. Eu sinto que essas ideias vão contra meus
princípios. OK. As Lésbicas. As lésbicas não gostam de homens. Eu não
acredito, mas eu digo de qualquer forma. Eu não sei porque, mas a ideia mais
clara que vem à mente é que as lésbicas escolhem viver suas vidas sem contar
com os homens.
LAURA: Você percebe que diz isso sem energia?
LIZ: Talvez estivesse dizendo isso sem energia, mas senti algo profundo
quando disse, porque entendi uma coisa, que para mim estar grávida significa
depender muito do meu marido. Ele cuida da tarefa de educar a criança em
uma proporção de 40-60%. Eu trabalho e ele está em casa quando estou
trabalhando, e eu fico em casa quando ele tem que trabalhar, e nós não nos
vemos muito e é a ideia de ter outro filho. Também tem a ver com ele, e a partir
de agora teremos que dar mais e teremos que sacrificar uma parte de nós
mesmos e vou depender muito mais dele, especialmente durante o primeiro
ano. Eu realmente não sei como alguém consegue educar uma criança
sozinha. Eu realmente não sei. Nesta fase da minha vida sinto que “estou me
expondo ao perigo com você, como você pode me dizer isso?” Realmente, de
modo algum eu teria escolhido ter um filho sozinha sem o apoio dele, nunca. E
menos ter um filho e saber o que me espera.
LAURA: O que te espera?
LIZ: Não conseguir dormir à noite, não ter a liberdade de estar no
banheiro sozinho, sem tempo ou energia fazer nada, não tenho tempo para ler,
não tenho tempo para ser uma pessoa, exceto quando você está no trabalho
ou para ser uma pessoa com filhos.
LAURA: Seria muito mais fácil ser homossexual.
LIZ: Sim, seria muito mais fácil.
JAY: O melhor, nem sequer estaria grávida.
LIZ: Bem, nós planejamos ter esse filho. Talvez queira ficar com raiva
dele por isso. Talvez haja uma parte de mim que pensa que não. Vou ter que
enfrentar isso se não falar com ele. Ele se deita, eu fico acordada, leio e
vasculho meu e-mail. Não posso fazer um monte de coisas, mas se eu não
falar com ele é como roubar um tempo para mim. Pelo menos eu tenho para
mim o tempo que passei com ele.
LAURA: Você queria ter esse filho ou foi um acidente?
LIZ: Não, nós planejamos tê-lo. E também me deixa muito animada.
Tenho que olhar para esse lado, mas temos um filho de dois anos. Me lembro
de como era no início, não está muito distante. E dois vão dar o dobro do
trabalho que dá um. Me sinto muito melhor. Eu sinto que poderei ir para casa e
falar com ele. Claro que ele não sabe onde estou agora. Eu prometi que não
ligaria para ele para dizer aonde eu estava indo. O mais seguro é que ele deve
ter ido para casa e pensado: “Por uma vez eu vou ter um pouco de paz e
sossego.”
SAM: Você já falou muito sobre ter outro filho?
LIZ: Por que você pergunta?
SAM: Estou perguntando porque queria saber se será uma das razões
pelas quais ele não fala com você agora. Já ouvi muitas vezes a palavra
“suporte”.
LIZ: Acho que você deve estar sentindo que ambos devemos estar
trabalhando no limite de nossas forças neste momento; entre tentar sustentar
nossa filha e tentar sustentar amar uns aos outros e trabalhar e levar nossas
vidas pessoais ao mesmo tempo, parece que não há mais nada. E se você vai
ter outro filho e ter que dar muito mais, então você se pergunta o quanto vai
ficar para o seu parceiro. Eu acho que nós dois sentimos o mesmo. Então,
talvez nós dois precisemos de um pouco de amor.
LAURA: Você está falando de energia e você não tem o suficiente, mas
ao mesmo tempo sua postura lhe rouba energia. Você está falando sobre ter
que fazer várias coisas ao mesmo tempo. Quando eu fico assim eu tenho mais
desejo de desconectar do que de fazer coisas. (Parece que Laura trabalha com
a postura de Liz por alguns momentos).
ANN: Quero retirar o que disse que não tinha nada para trabalhar. Eu
gostaria de explorar o que aconteceu comigo. Te falei isso fiquei tocado e você
olhou para mim e eu deixei você se conectar com algo em mim lado de dentro.
Acho que sei o que é, mas não tenho certeza. Eu me mudei para uma cidade
que é nova para mim e estou a 50 milhas dos meus amigos e eu trabalhamos
em um hospital com pacientes incuráveis principalmente e é um trabalho muito
comovente: me comove trabalhar com eles, mas eles não me deixam entrar em
contato com eles. Desde fisicamente, eles me deixam segurar a mão deles,
mas eles são muito distantes. E quase sempre sinto um vazio. Acho que não
sei o que fazer, não sei como entrar em contato um deles ou se eu não
entendo, se eu deveria apenas dizer, bem…
LAURA: Para quem você deve ou quer fazer?
ANN: Não tenho certeza. Estou confusa porque não tenho muito apoio.
As pessoas que me apoiam não estão mais comigo, então é tudo gente nova e
eu quero que alguém entre em contato...e eu quero entrar em contato com
eles, mas a interação não flui neste novo lugar e não sei o que fazer. Eu hesitei
muito…
LAURA: Você tem contato com outras pessoas além do hospital?
ANN: Estou lá há dois meses e...

LAURA: As pessoas no hospital estão morrendo e não se importam


muito. Eles não podem e dar nada, exceto um exemplo de como enfrentar a
morte talvez.
ANN: Eles não precisam muito de mim. Acho que é outro aspecto do
problema.
LAURA: Você quer que alguém precise de você.
AN: Acho que sim. Eu não tinha pensado nisso, mas agora eu sei
acontece ser isso. Acho que não sinto muita falta deles.
LAURA: Quem mais precisa de você agora?
ANN: Não tenho ninguém que precise de mim, não tenho outra pessoa
que precisa de mim agora.
LAURA: É um assunto difícil, sabe. É algo que você quer, mas não é
algo absolutamente essencial. É necessário para as crianças que estão
crescendo, é necessário em certos momentos da nossa vida.
ANN: Eu acho que quando tudo muda para mim como recentemente
aconteceu, eu sinto novamente que é necessário porque me faltava quando era
pequena, então sinto que estou perdendo novamente. Mas é bom que eles me
lembram que eu não preciso disso da mesma maneira como eu precisava no
passado.
LAURA: Talvez também tenham dito que não precisava, que você tinha
tudo. Algo assim?
ANN: Não com essas palavras, mas sim.
LAURA: Diga uma série de frases que começam com “eu quero”.
ANN: A primeira coisa que percebi que queria era entrar em contato
contigo. Quero te ver. Eu queria que você olhasse para mim. Quero falar
contigo. Eu quero que você ouça o que eu tenho a dizer, eu quero escutar
você.
LAURA: Você sempre precisa de óculos.
ANN: Mais ou menos, não vejo...
LAURA: Tire-os.
ANN: Tirá-los? Está bem. Eu sei que você está lá, mas não eu vejo seu
rosto.
LAURA: O que você tem que fazer agora para me ver?
AN: Ah. Aproxime-se. Está bem. Agora eu te vejo.
LAURA: Vá sem óculos quando não for absolutamente necessário. Você
agarra as coisas com os olhos. Isso alonga os músculos ópticos e aumenta a
miopia. Fecha os olhos. Apenas relaxe. Tente sentir seus olhos caírem em sua
cabeça. Como você respira?
ANN: Não muito profundamente.
LAURA: Sim. Quando abrir os olhos, abra-os lentamente e deixe o que
entra entrar. Não se apegue às coisas. O que você vê. Volte a fechar os olhos.
Você sente tensão em algum lugar?
ANN: Um pouco aqui e aqui.
LAURA: Quer exagerar, por favor? Aumente a tensão ao redor dos olhos
e bochechas, boca, sim. Que sensação te traz?
ANN: Parece como se chorasse ou algo assim. Como se estivesse
chorando um pouquinho...
LAURA: Em que situação você não se permitiu chorar?
ANN: Em que situações me permito chorar?
LAURA: Você não tem permissão para chorar.
ANN: Agora? Quando eu era pequeno ou quando eu era mais velha?
Quando era pequena? Por causa de quão infeliz eu me senti então. Eu não me
permitia chorar por isso quando era pequena. E não chorava as pessoas que
perdia.
LAURA: Bem, o Freud já disse isso, que você tem que fazer o trabalho
de lamentar o que se perdeu, e por isso você tem que chorar. E choramos pelo
que perdemos ou porque não conseguimos o que queremos ou o que
precisamos. É por isso que os bebês choram tanto, porque eles não podem
fazer mais nada, eles precisam do que eles precisam. Os adultos choram
quando perdem alguém ou algo ou uma relação. Quem vem à mente?
ANN: Eu penso em dois ou três amigos meus que eu deixei, de quem
sinto muita falta.
LAURA: Fale com um de seus amigos agora mesmo. Diga como se
sente.
ANN: “Sinto tanto a sua falta... tanto (chora). As vezes não tenho com
quem conversar sobre coisas importantes...Não tenho ninguém para me
confortar quando choro – ainda. Não tenho ninguém para colocar um braço em
volta de mim—ainda...” (longo silêncio durante o qual chora). Eu sinto que se
eu chorar vou parar de sentir falta deles e a verdade é que não quero deixar de
sentir falta deles porque eu não quero desistir deles completamente (chora
muito mais alto). Quando choro, choro pela pele. Não apenas pelos olhos.
LAURA: Como você se sente agora? Ouça a sua voz.
ANN: Melhor. Não tão cansado.
LAURA (Dirigindo-se ao grupo): Alguma pergunta? Algum comentário?
Quem quer trabalhar um sonho?
MARA: É um sonho que se repete quando você está em uma sala.
LAURA: Diga no tempo presente, “eu sou...”
MARA: “Estou numa sala, e lá estão todos os meus papéis e minhas
revistas e elas estão me sufocando, mas tenho medo de que sem elas eu
morra ou não verei o dia seguinte e não sei como evitar me sufocar ou como
sair debaixo deles ou o que devo fazer sobre os papéis e livros e parece que
há cada vez mais livros e papéis”.
LAURA: Identifique-se com os papéis.
MARA: “Bem, eu sou os papéis que talvez eu precise para voltar a dar
este curso. Eu sou os papéis que podem fazer falta para escrever um livro. Eu
sou os papéis que podem precisar dar a um paciente para ler. E a verdade é
que você não pode se livrar de mim."
LAURA: O que você está dizendo?
MARA: Que estou presa, que uma parte de mim quer liberar-se, porém
parte de mim está com medo.
LAURA: Crie um diálogo entre as duas partes.
MARA: “Eu gostaria de ser livre. Eu gostaria de começar do zero.
Gostaria de ter a casa limpa, o escritório limpo”. (Representando os papéis):
“Você pode ficar sem mim. Nunca saberá se vai necessitar no futuro. Ou
sempre necessitará ter algo para fazer no futuro para saber que você vai
sobreviver. Você precisa me ter ao seu lado." (Representando a si mesma): "A
verdade é que eu não preciso desses papéis. Tenho medo, mas gostaria de me
libertar para ser mais criativa, livre desses papéis e experiências do passado”.
LAURA: Você sente que está se afogando sob o peso de...
MARA: Sim, sob o peso da pilha de papéis.
LAURA: Do que você precisa mais?
MARA: Espaço livre... ar...
LAURA: Você está respirando agora?
MARA: Não muito bem (inspira fundo). Eu não dou espaço a mim
mesma.
LAURA: Sim, você quase se afogou.
MARA: Uma parte de mim se sente protegida pelos papéis e a outra
parte se afoga.
LAURA: E os seus papéis, o que protegem?
MARA: A verdade é que... tenho meus bichinhos que levo comigo toda
vez que vou ao hospital e é por isso que sobrevivo. Isso é que, se houver
papéis, são uma indicação de que voltarei amanhã. Não decidi continuar
vivendo, sei que continuarei vivendo, mas ainda não decidi totalmente. Os
papéis são uma indicação de que eu existo e que existirei.
LAURA: Imagine por um momento que há um incêndio. E se queimam
os papéis. (Mara não responde a isso). Se você puder mudar o sonho, o que
mudaria?
MARA: O sonho também é real. O que mudaria? Caixas cheias de
papéis e tendo que ler tudo, porque para isso realmente não tenho tempo e
nunca terei. Isso, de certa forma, sim existo ou sobrevivo ou trabalho sem eles,
então de alguma forma, embora me deixe nervosa só de pensar dou uma
olhada na caixa, é possível que consiga. Não sei. É muito assustador.
LAURA: E agora você está pensando nisso, na verdade pela primeira
vez. A pilha de papéis protege você contra as pessoas.
MARA: Contra as pessoas?
LAURA: Os jornais são lidos, servem para ocupar o seu tempo. Servem
para cercá-lo, para construir uma parede de papel.
MARA: Mas a verdade é que eu não faço isso. Eles são como soníferos
guardados no armário de remédios, que eu nunca tiro.
LAURA: Ah! Você os tem lá se por acaso...
MARA: Só por precaução. Sim.
LAURA: Segurança a qualquer preço, se você ficar doente.
MARIA: Não sei. Eu me mudei e eles me deram bons informes médicos,
de forma que rompi esse vínculo. E eu não fico sentado ao lado dos meus
papéis. Estou basicamente com pessoas quase sempre. Uma das decisões
que tomei é que escrever é uma profissão muito solitária e não faço mais.
LAURA: Você é uma sala cheia de papéis. Eu me sinto identificada com
isso.
MARA: Eu sou uma sala cheia de papéis? Deus! Sou feia e eu sou uma
bagunça e a maioria das pessoas não acham muita graça para entrar nesta
sala. E meu marido não gosta nada. E eu também não gosto, mas me sinto
presa.
LAURA: Você é.
MARA: Eu sou a sala dos papéis?
LAURA: O que você está fazendo agora?
MARA: Bem, estou tentando me livrar da ideia de que há algo misterioso
dentro de mim que vai crescer e que um dia vai me matar. Eu sei que não há
porque os relatórios médicos são bons e também aprendi a técnica Simonton,
mas o que me assusta é a possibilidade de não fazer a técnica bem o
suficiente para sobreviver. Eu não vou fazer isso direito, até fiz isso com eles.
Eu fiz meus desenhos e então fiquei com medo e eu os risquei. Não consegui
as fotos certas para poder trabalhar bem e isso é provavelmente o que me
impede de desfazer dos papéis.
LAURA: Você tenta viver de acordo com uma imagem que você tem de
si mesmo, estar certo fazendo as coisas perfeitamente.
MARA: Não, eu só quero continuar viva.
LAURA: Para sempre?
MARA: Não, por um certo tempo, e eu culpei medicina e as pessoas me
dizem que a verdade é que eu mesma tenho que aceitar a responsabilidade e
eu tenho que ser - você sabe essa coisa da medicina holística — responsável
por mim mesma. Eu me assusto muito. Eu sei que posso fazer as duas coisas.
Eu também sei que as imagens não funcionam, sempre posso ir ao médico.
LAURA: Sim, e só nos mantemos vivos trabalhando para seguir vivendo.
MARA: Eu sei.
LAURA: Permanece-se vivo fazendo contato ao vivo. O contato com os
outros nos alimenta, da mesma forma que o alimento que se assimila torna-se
parte.
MARA: Eu tenho muito disso. Eu tenho muito apoio e muito pessoas que
me amam, mas também passei muito tempo no hospital e os jornais, de
alguma forma esse falso apoio que me dá uma sensação de segurança...
LAURA: O que está acontecendo agora?
MARA: Estou me perguntando o que vai me dar paz de espírito
necessária para limpar. Para limpar livremente sem me sentir mal por ele.
LAURA: O que você sente agora?
MARA: Ainda sinto um pouco de medo.
LAURA: Você está respirando superficialmente novamente.
MARA: Fico vendo a imagem do quarto e me pergunto quando vou
enfrentá-la e o que vou fazer quando o fizer.
LAURA: Você está sempre pensando nisso, sempre se preocupando
com o que você vai fazer e o que vai acontecer e desta forma você pode perder
o que você tem disponível agora.
MARA: Só que desta vez me senti melhor. Ver o cirurgião me preocupou
menos.
LAURA: Crie um backup para você. A maioria dos as pessoas só
pensam no que vem pela frente, que têm que criar uma boa fachada, eles têm
que estar certos. Mas na verdade isso que nos dá suporte e nos permite obter
o suporte da respiração é a parte de trás. A firmeza (que vem da coluna) e o
estômago realmente são sinônimos de valor. É por isso que me importa tanto a
questão da coordenação e postura, porque que nos sentimos melhor quando
estamos retos e temos espaço respirar e conseguimos ficar de pé com firmeza.
Não pense que você está aqui (Laura aponta para a cabeça), e que você tem
um corpo, seja um corpo. Em inglês é expresso muito bem, “When you are a
body, you are somebody”.3
MARA: Entreguei meu corpo aos médicos e agora estou começando a
recuperá-lo. Estou começando a reconquistá-lo.
LAURA: Alguma pergunta?
DAN: Eu tenho uma pergunta. Tenho notado com algumas pessoas que
têm trabalhado, que houve gestos que faziam com as mãos, coisas que faziam
com as mãos, que formaram o pano de fundo e pareceu-me que faziam parte
da gestalt, do que aconteceu. E tenho certeza que você também você fixou
neles. E eu adoraria saber por que você escolheu as coisas que você escolhe
para formar uma figura. Eu trabalho muito mais com o corpo no sentido de
dizer: "Veja o que você está fazendo agora, não mude, e o que você quer
comunicar?" etc., e eu estava me perguntando enquanto você estava fazendo
isso se você trabalhou com o que eles disseram em vez do que saiu do fundo.
Eu gostaria saiba o que você pensa sobre isso.
LAURA: Trabalho com o que me parece mais fácil. Neste caso eu tive a
impressão, e especialmente com ela antes, que trabalhar apenas com seus
movimentos não lhe dizia nada.
DAN: É um bom conceito. O que eles prepararam para trabalhar.
LAURA: Então me pareceu que trabalhar com sono e conteúdo dos
sonhos era mais útil nesse momento, e chegamos ao tema do corpo no final.
JAN (dirigindo-se a Dan): Algo me ocorreu, em parte é para mim e eu
quero te dizer também, só um pouquinho que eu fiz, além das outras coisas
que estão acontecendo, o que eu vejo como irônico e o que eu também vi em
você é que as coisas que achamos que nos apoiam e nos sustentam e nos dão
uma sensação de segurança, são as coisas que nos destroem. E eu vejo que
você toma notas e ela está o tempo todo tentando fazer que os deixe e
continua enchendo mais folhas e penso no que fiz com as costas que eu
achava que estava me apoiando na vida e me sustentou e a verdade é que,
com o tempo, é que o destruiu.
DAN: Quero dizer, parabenizo você por se oferecer para trabalhar assim,
especialmente porque você parecia ter uma atitude negativa antes, e eu gostei
que você se ofereceu e explorou algo dessa forma, eu te parabenizo por isso.
LAURA: (Dirigindo-se a outro membro do grupo) O que você sente?
LEN: A verdade é que estou gostando de você, estou gostando muito
disso.

3
NT Quando é um corpo (a body), é alguém (somebody).
LAURA: Não foi visto quase em nenhum momento. Aí está, quase o
tempo todo - e não posso deixar de notar porque estou sentada na sua frente -
com uma expressão de severidade ou inexpressivo.
LEN: A verdade é que gostei, apenas gostei. Assimilava e me
maravilhava. Tenho a sensação de que estou com alguém que realmente sabe
exatamente o que existe o que fazer. É algo como reverência ou respeito.
LAURA: Estou tão ciente da tensão que você tem no rosto que, de vez
em quando, é aliviado pelo seu riso quando algo engraçado acontece, quando
alguém diz alguma coisa. Você também precisa usar óculos sempre?
LEN: Infelizmente.
LAURA: Aproxime-se um pouco e tire-os. Deixe-me ver seu rosto. O que
você vê agora?
LEN: As coisas ainda estão um pouco confusas, mas melhores.
LAURA: Eles só podem melhorar se você relaxar. Recomendo que feche
os olhos e deixe-os cair para trás. Feche-os lentamente. Você vê - agora você
os deixa inquietos, com pouco espasmos musculares — continue respirando.
Solte os músculos da boca. Está tão escondido sob a barba que mal o vejo,
mas há muita tensão. Quando você abrir os olhos, abra-os lentamente e deixe
entrar o que entra. Não tente agarrar as coisas.
LEN: A camisa de sol vermelha e seu sorriso.
LAURA: Você vê muito bem.
LEN: A verdade é que muito bem, porque eu vejo as coisas mais
claramente. Que estranho!
LAURA: Fique sem óculos sempre que puder – quando não as necessite
de verdade, é claro. Eles são uma espécie de parede. Quando você os usa,
eles são uma espécie de parede; eles criam distância.
LEN: Eu tenho que admitir, antes eu mal via seu rosto e agora eu vejo
você claramente.
LAURA: Bem, quando seus olhos estão mais relaxados você enxerga
melhor.
LEN: Eu tenho gostado de você, de verdade.
LAURA: Pessoas que não têm muita experiência com Gestalt-terapia, ou
que sua experiência foi com o que eu o que eu chamo de “West Coast Gestalt
Therapy”, não aprecia o trabalho minimalista, e vejo que assimila mais
facilmente e, portanto, portanto, retém melhor, enquanto as grandes emoções
de meio que entram e então os espalham por toda parte e então eles se livram
deles.
LEN: Vendo você trabalhar com outras pessoas eu entendi melhor
algumas coisas minhas, algumas coisas que eu tenho que desistir; acho que
ainda há tensão porque ainda tenho enfrentá-los, mas acho que sei o que devo
fazer e que isso me faz sentir melhor.
LAURA: E você usa a palavra deve: “Eu sei o que devo fazer”.
LEN: Eu realmente quero. Só não vai ser muito agradável.
LAURA: Agora tem um aspecto diferente.
LEN: Eu vejo cada vez mais claramente.
HAL: Você quer trabalhar com um sonho de infância louco meu?
LAURA: Sim.
HAL: Estou feliz por trabalhar com você novamente, Laura. Eu tive um
sonho algumas noites atrás, não me lembro tanto agora quanto antes da. Estou
andando por uma rua e vejo as ervas daninhas maiores, mais gordas, mais
grossas e mais altas que eu já vi na vida. A rua está cheia dessas ervas
daninhas e elas são roxas. As pessoas fogem e eu ando na direção oposta a
elas. Dobro a esquina de um edifício. Há um corpo e eu só posso ver a parte
inferior, é como uma perna, e eu começo a olhar para cima e é um monstro
roxo. Desde que eu era criança eu não tive sonhos sobre monstros e tenho 56
anos, era o monstro mais alto, maior, mais gordo e mais feio que eu já vi e foi
totalmente roxo. Assustei-me muito. Não me lembro de mais nada.
LAURA: Torne-se o monstro.
HAL: Você quer que eu me levante e me torne o monstro? Você quer
que eu represente o monstro? “YAHHHHHHHH! Eu sou capaz de matar. Eu
tenho o poder de matar. Sou um devora-pessoas e eu te comerei”.
LAURA: Como você se sente quando faz o papel do monstro?
HAL: Assustado. Muito assustado. Me desculpe aqui, eu estou sentido
nesse momento, o estômago. Está muito apertado. Isso é minha raiva. Me
assusta. É muito poderosa.
LAURA: Está com raiva de quem?
HAL: De quando? Agora mesmo? Agora mesmo eu quero enterrar
minhas mãos.
LAURA: Porque se não o fizeres podes fazer o quê?
HAL: Estrangular, bater, matar, com raiva da minha mulher, raiva dos
meus filhos. Tão irritado. Neste momento estou pensando nas ervas daninhas
do meu jardim.
LAURA: Torne-se as ervas daninhas.
HAL: “Nós somos feios. Ervas daninhas feias. Nós estragamos seu
maravilhoso jardim. Você gastou tanto dinheiro e gastou tanto tempo e você se
esforçou tanto para tornar seu jardim tão bonito e nós fodemos tudo porque
ninguém quer nos enganar. Olhar quão feio seu jardim está agora. Seu
maravilhoso paraíso é feio, cheio de ervas daninhas feias.” A casa que comprei
há dois anos coloquei à venda, e havia ervas daninhas reais lá, porque
ninguém cuidava.
LAURA: O que você está fazendo?
HAL: Sofro muito. Eu não vou arrancar a porra ervas daninhas. Já que
estou vendendo a casa. Eu não tenho tempo para ocupar-me das ervas
daninhas. Não sinto mais vontade de fazer. A casa não fez por mim o que eu
queria. Estou pensando o quão ruim é sentir muitas das pessoas que vêm a
mim para ajudar, eles vêm com a cabeça cheia de ervas daninhas e nós
arrancamos as ervas daninhas e isso deixa na terra a sensação de estar vazia,
mas você tem que esperar que as flores cresçam e levem seu tempo.
LAURA: Para quem você está contando tudo isso?
HAL: Porque eu deixei minha esposa, no início do verão.
LAURA: É por isso que você não pode ficar bravo com ela?
HAL: Eu posso ficar bravo com ela. É com meus filhos que eu não posso
ficar bravo.
LAURA: Ok, agora, crie um diálogo com seus filhos. Tire as mãos dos
bolsos.
HAL: “Vocês todos me deixam tão confuso. Por um lado, me dizem que
não me julgam; mas suas ações falam tão alto que não posso ouvir suas
palavras. Eu vejo o que fazem constantemente, julgam sim. Estou com raiva de
vocês, acho que estou com raiva."
LAURA: Tenta sentir como dize isto, como é a sua postura.
HAL: Estou aguentando. Meus dedos estão separados.
LAURA: Alguém te ouve?
HAL: Eu falo choramingando. Quem vai ouvir alguém que fala
choramingando?
LAURA: Levante-se.
SALA: Ah! Estou lembrando quando eu costumava ficar bravo minha
mãe me chamava de bulldog. "Bulldog, por que você está bravo?" "Estou bravo
com você porque são estúpidos, porque você escolheu acreditar numa versão
da história porque eu fico calado, faz anos que me calo”, minha família ri disso,
todo mundo vê o Hal com raiva ir para o jardim, mas ninguém vê o Hal que foi
ferido na cozinha e depois lhe disseram “por que você está com raiva? Cale-se,
você parece um bulldog”. Me sinto um pobre coitado.
LAURA: Você pode discutir com sua mãe? Responda a ela. Você é o
bulldog.
HAL: “YAGHHHHHHHHHHHH! Foda-se! Sinto tanta raiva! Posso ser o
verdadeiro devorador de homens roxo, sinto tanta raiva de todos vocês.
Respondem com coisas contra as quais eu não posso lutar e me dizem coisas
como você fica com muita raiva? E você nem acredita em si mesmo, que papel
você tem? Eu paguei o olho da cara por sua terapia e me pagam com essa
merda.”
LAURA: O que você está esperando? (Risada).
HAL: Meu Deus, estou com tanta raiva! Me sinto tão impotente, não
posso fazer nada sobre isso.
LAURA: O que você esperava que a terapia conseguisse para seus
filhos? Que os silenciassem?
HAL: Não. Eles deveriam ter respeitado seu pai. (Risada). Eu acho que
eu estava esperando que eles pelo menos viessem até mim e dissessem: "Pai,
qual é a sua versão da história? Pai, o que aconteceu durante todos esses
anos?"
LAURA: Você queria que eles fossem como você, simpáticos e
tranquilos e interessados. E novamente você quer a confluência.
HAL: Eles não são como eu. Eles têm que ser eles mesmos.
LAURA: Sabe, tem uma coisa que meu primeiro terapeuta me ensinou
quando eu tinha 23 ou 24 anos. Você tem que responder as pessoas
agressivas com suas próprias armas. Se eles se comportarem mal com você,
ou fizerem barulho...
HAL: Eu geralmente consigo com a maioria das pessoas, mas eu não
faço isso com meus filhos.
LAURA: Do que você tem medo?
HAL: Eu tenho medo que eles me deixem. Que vou perder meus netos.
LAURA: Enquanto continuarem a precisar de ti, não te deixarão.
HAL: Eu sei que é verdade, eu sei. Eu tive o sonho antes do final de
semana e trabalhei nisso em um workshop que participei na sexta-feira e
sábado antes de vir aqui e sei que tenho que enfrenta-los. Eu sei. Tirei a
pulseira que minha esposa me deu quando fiz cinquenta e joguei no chão,
acabei colocando no bolso. Eu sei que tenho que enfrentá-los, mostrar-lhes a
minha raiva. Mesmo se eu não conseguir nada, vou me sentir melhor.
LAURA: Se você não expressar sua raiva no momento em que ocorre
algo que te deixa com raiva, você acumula muito ressentimento, muitos
negócios inacabados, e você se envenena.
HAL: É verdade. Reconheço que sou o devorador de pessoas roxo. Eu
vejo essa parte de mim. Eu não sei que parte de mim são as ervas daninhas,
ervas daninhas roxas.
LAURA: Torne-se uma erva daninha. Como se sente?
HAL: Preso! Pregado no chão. Não posso me mover, está bem. Eu já
entendi. Obrigado.
LAURA: Ok. Acho que o tempo acabou.

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