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IDria e técnica de psicot

lo 6
nceito de foco

)io na ativação e
igidas ao ambiente
IS concentram sua

onceito de foco, freqüentemente empregado em traba-


; conseqüência da e: .cos, mantém até agora um status teórico impreciso,
><luzidas no foco. " e nas referências a ele coexistem critérios sintomáticos
ra organizadora de ornas visíveis que motivam a consulta" ou "os pontos
~obar uma vasta =- · eia"), interacionais ("o conflito interpessoal que de-
1plo das psicotera -eia a crise"), caracteroló ·cos ("uma zona da problemá-
mos aspectos teón - aciente que admita sua delimitação em relação a ou-
)S em questão. Se - :1a5 da personalidade"), ró rios da díade 2aciente-te-

s mudanças no pr ---== ("os pontos de interesse aceitáveis para ambos") ou


ismos de ação, é "a interpretação central na qual se funda todo o trata-
, um conjunto de (11, 19, 3). No campo das psicoterapias, esses critérios
põem sem estabelecer ligações entre si. O que essa plu-
-e de conceitos permite entrever é que "foco" pode aludir
- rganização complexa da qual os mencionados critérios
:;ariam fragmentos. Discutiremos aqui a possibilidade de
-~, ...... com base em certo modelo teórico de foco que en-
- . ara aqueles referentes uma ordem unificadora, .assim
a possibilidade de propor uma estrutura que organize
....,po comum diagnóstico e terapêutico.
primeiro lugar, deve-se acentuar a origem eminente-
- empírica do conceito de foco. O trabalho psicoterapêu-
rienta sempre (e amiúde de modo intuitivo) para a de-
.m:::::z..;a-o de um eixo ou ponto nodal da problemática do pa-
Os primeiros registros sistemáticos de uma experiência
_90______________ Teoria e técnica de psicoterapias

clínica com psicoterapias breves, por exemplo, mostram que a


modalidade assumida pela tarefa na sessão é a de uma "foca-
lização", um ajuste de diafragma na ótica do terapeuta que
induz a concentração seletiva do paciente em certos pontos de
sua problemática (1). Mais ainda, os pacientes tendem natural-
mente, desde o princípio, a manter uma focalização. A possibi-
lidade de organizar o relato, seguir uma linha diretriz, selecio-
nar recordações e imagens, depende de certa torça nas funções
egóicas ada tativas1 . Só em pacientes com marcada debilidade
egóica é possível encontrar espontaneamente um relato dis-
perso, ramificado. Em termos empíricos, a focalização parece
expressar necessidades de delimitar a busca para nela concen-
trar atenção, percepção, memorização, todo um conjunto de
funções egóicas; essa concentração pode constituir condição de
eficácia para o exercício dessas funções.
Dinamicamente, a focalização é guiada pela dominância
de uma motivação que hierarquiza tarefas com vistas a resol-
ver certos problemas vividos como prioritários. Em situações
de crise, por exemplo, o motivo da consulta condensa sinto-
mas, certos conflitos centrais ligados aos sintomas, obstáculos
criados para a resolução da situação. Em virtude dessa capaci-
dade de condensação, o motivo da consulta costuma transfor-
mar-se no eixo motivacional organizador da tarefa e, por con- Na pr
seguinte, facilitador desta. Ao mesmo tempo, o trabalho sobre Na maioria
o motivo da consulta reforça a aliança terapêutica. Alexander (sintomas
destacava particularmente sua importância: descomp
fracassos a
[.. .] é importante que o terapeuta descubra primeiro o que sulta, subJ
exatamente o paciente deseja. É este quem deve fornecer o in- bado. Para
centivo para o que venha a ser obtido no tratamento, e, por
maior que seja o zelo reformador do terapeuta, tudo será inútil,
a menos que possa aproveitar para uso terapêutico algum forte

1. Passei em revista sessões de diferentes tratamentos observando nelas


as vicissitudes da focalização. Uma paciente com grande debilidade egóica
apresenta mais de 30% de intervenções dispersas, alheias a toda focalização,
em contraste com uma média inferior a 10% para intervenções desse tipo
num paciente cujas funções egóicas revelavam, através de indicadores diver-
sos, um melhor rendimento.
ia e técnica de psicoterapias :ceita de foco _ _ __ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _9_1

~mplo, mostram que a motivo do paciente. Deduz-se daí que o terapeuta deve lidar
são é a de uma "foca- com o paciente primeiro em seu próprio terreno, aceitando pro-
:ica do terapeuta que visoriamente seus pontos de vista sobre o problema, e só mais
e em certos pontos de tarde - depois de orientar-se acerca dos motivos reais do pa-
~ntes tendem natural- ciente - procurar utilizar esses motivos para fomentar os objeti-
focalização. A possibi- vos terapêuticos suscetíveis de possível realização (1).
linha diretriz, selecio-
erta força nas funções Em termos operativos, a focalização leva a trabalhar mais
n marcada debilidade re associações intencionalmente guiadas do que sobre as-
nente um relato dis- .ações livres. Se na técnica psicanalítica a dificuldade do
, a focalização parece :-a.ciente para associar livremente pode ser considerada indício
;capara nela concen- e resistências, nas psicoterapias, pelo contrário, a evitação de
odo um conjunto de :lIIla atitude exploratória intencionalmente guiada pode ser
:onstituir condição de da como resistencial. (Trata-se de ênfases diferentes em fun -
ão de tarefas distintas, já que, em outro nível, o resistencial ~e
ada pela dominância expressará, para ambas as técnicas, numa rigidez de pensa-
lS com vistas a resol- =nento que impede a combinação flexível dos dois estilos de
itários. Em situações associação, livre e guiada.)
ulta condensa sinto-
sintomas, obstáculos
virtude dessa capaci- 1. A estrutura do foco
lta costuma transfor -
da tarefa e, por con - Na prática psicoterapêutica, o foco tem um eixo central.
lpo, o trabalho sobre a maioria das vezes, esse eixo é dado pelo motivo de consulta
rapêutica. Alexander (sintomas mais perturbadores, situação de cnse, ameaças de
a: descompensação que alarmam o paciente ou o grupo familiar,
fracassos adaptativos). Intimamente ligado ao motivo de con-
~cubra primeiro o que
sulta, subjacente a ele, localiza-se certo conflito nuclear exacer-
:m deve fornecer o in-
bado. Para Ernesto, paciente de 30 anos, com um filho de 3,
no tratamento, e, por
que acaba de separar-se da mulher, o motivo da consulta é um
peuta, tudo será inútil,
~rapêutico algum forte
estado de angústia e depressão que afeta sua vida cotidiana e
seu rendimento profissional. As desavenças crônicas tomavam
a separação necessária para ele, mas Ernesto sente que não
nentos observando nelas pode tolerá-la, que não conseguiria substituir sua mulher nem
;rande debilidade egóica
llleias a toda focalização,
admitir que ela se unisse a outro homem. Em Andrea, pacien-
intervenções desse tipo te solteira de 26 anos, profissional recém-formada, o motivo
lés de indicadores diver- da consulta reside no medo paralisante que sente diante de
um projeto, já iniciado em seus trâmites, de transferir-se por
_92___ ______ _____ Teoria e técnica de psicoterapias

vários anos para o exterior com o objetivo de se especializar. solvida mas


Sua ambivalência diante desse projeto é muito intensa. perda e com
Em cada um desses focos, o eixo dado pelo motivo de con- de intensa
sulta e pelo conflito nuclear subjacente se insere numa situação tares à amb
grupal específica . Para Ernesto, a situação se agrava porque, dependên ·
desde sua separação, foi viver com a mãe, pessoa autoritária que entre
com quem ele sempre manteve um vínculo conflituoso, de in-
tensa ambivalência mútua. Esse fato, em parte inevitável em
virtude de suas dificuldades materiais para viver sozinho logo
depois da separação, significa por sua vez deixar de conviver
com o filho, o que acrescenta obstáculos a dificuldades prévias
do paciente com a paternidade. A situação se complica no mo-
mento em que surge outro homem com possibilidades de se
unir à sua mulher. A viagem de Andrea ao exterior significa
deixar sozinha sua mãe viúva na mesma época do casamento
de seu irmão mais novo, que até então vivia com ambas. A mãe
teve no último ano sinais de uma leve insuficiência coronária.
Motivo de consulta, conflito nuclear subjacente e itua ão
~al são aspectos llindamentais de uma situaÇÊg !]Ue con-
densa um conjunto e etenruna ões. Nosso trabalho analíti-
co sõbre a situação procurará identificar zonas des_se conjunto
de determinantes. O essencial é respeitar o caráter de estrutu-
ra a s1 açao como existe, totalizada, na experiência hu-
mana, de modo que todo o trabalho analítico se faça a partir
da delimitação dessa totalidade da situação, em toda a sua
amplitude. O estudo de diversos componentes da situação de-
verá ser realizado no sentido de destacar "níveis de análise",
entendidos como estratos funcionais enraizados na situação,
atualizados e totalizados por esta última.
Com esse enfoque, é possiveI desiindar uma zona de
componentes da situação que podemos caracterizar como~ pouco-ca:;
!Z§ftos caracteroló ·cos do p_qfiente (dinamismos intrapessoais a preten
ativados nessa situação específica, modalidades defensivas esposa e
pessoais seletivamente mobilizadas pela situação - não é pos- similar,
sível experimentar uma ou outra de várias defesas; é preciso em jogo
verificar quais delas o grupo torna viáveis-, etapas não-resol- Andrea,
vidas do desenvolvimento infantil atualizadas pela estrutura lação s·
da situação) . Em Ernesto, sua dependência materna, não re- de objeto
icnica de psicoterapias ::unceito defoco_______ __ _ _________93

ie se especializar. _ vida mas transplantada para sua mulher, exacerbada com a


to intensa. _ rda e com o retomo à convivência com a mãe; seus conflitos
+lo motivo de con- - intensa ambivalência diante da dependência (complemen-
;ere numa situação :ares à ambivalência de sua mulher e de sua mãe diante dessa
e agrava porque, -ependência); além disso, seus conflitos decorrentes do cho-
pessoa autoritária e entre sua dependência (com suas conseqüências: agres-
:onflituoso, de in- --o, separação, angústia, depressão) e suas necessidades adul-
rrte inevitável em (de autonomia, amadurecimento e eficácia em seus rendi-
river sozinho logo entos). Localizam-se nessa zona suas defesas mobilizadas:
leixar de conviver .. sociações, projeções, ataques ao objeto que abandona,
ficuldades prévias ealizações. EmAndrea, registra-se igualmente nesse aspecto
complica no mo- '1.IDa forte dependência materna, geradora de ambivalência,
ssibilidades de se ranto diante de sua viagem como diante da possibilidade de
exterior significa permanecer e continuar seus estudos em Buenos Aires. Sente
xa do casamento culpa por deixar a mãe e um grande medo de ficar desprotegida.
om ambas. A mãe _·ela atuam defesas fóbicas (principalmente evitações, busca
iência coronária. e objetos acompanhantes) e maníacas (reações contrafóbicas,
jacente e . itua ão egação de sua dependência e idealização de seus recursos
situação ~ ue con- .:ora do país). Também nessa zona de determinantes caractero-
J trabalho analíti- ógicos é possível incluir outras funções egóicas adaptativas.
de.sse con·unto Em Andrea, mais visíveis do que em Ernesto, a capacidade de
:aráter de estrutu- planejamento, a elaboração de certo projeto de saída de sua
a experiência hu - dependência através do desenvolvimento profissional. Andrea
co se faça a partir atua mediante defesas mais primitivas, mas contrabalança-as
o, em toda a sua com outras funções adaptativas potencialmente eficientes. Er-
es da situação de- nesto apresenta um marcado enfraquecimento de suas fun-
úveis de análise", ções egóicas, apenas mantidas na esfera do trabalho.
ados na situação, Também é possível reconhecer na situação aspectos históri o-
g_enéticos individuais e ~pais reativados. A agressão da mãe de
iar uma zona de Ernesto sempre se centrou em seus fracassos; a distância e o
leterizar como as- pouco-caso do pai fizeram com que esses juízos fossem os únicos
nos intrapessoais a pretender objetivar para Ernesto uma imagem de si mesmo. A
dades defensivas esposa encarnou depois, e mantém, uma atitude desvalorizadora
tação - não é pos- similar, que define o clima da situação para o paciente. O que está
defesas; é preciso em jogo não é só a separação, mas o fracasso, uma vez mais. Em
etapas não-resol- Andrea, continua presente, no centro da situação, uma antiga re-
fas pela estrutura lação simbiótica com a mãe, na qual esta desempenhou o papel
materna, não re- de objeto acompanhante, e é esse papel que deve ser rompido
_9_4_ _ _ _ _ _ _ __ _ _ ___ Teoria e técnica de psicoterapias

por ambas nessa situação. Atua também, como figura de identifi- como o e
cação precária, a presença do pai falecido há anos, na forma de presença
exigência de um rendimento profissional brilhante que justifique e entravar:-
essa separação, que se agrega como elemento fobígeno. Andrea, a
Outra zona integrante da situação compreende o momen- condiçõe
to evolutivo individual e grupal, as tarefas que decorrem de ne- bivalência
cess1 ãaes propnas desse momento evolutivo e a prospectiva medo do
global que essa etapa comporta. Grande parte dos conflitos falta de e
exacerbados na situação deriva não a2enas da reati ão e
conflitos infantis, mas também do cho ue entre as limitações
geradas pela persistênciadesses conflitos e as necessidades
próprias da etapa evolutiva aberta que exigem com urgência
uma satfsrãção. ütgéhcfas ao mesmo l'.empu ~UDJi::ú'va::> (acn\J-
estima) e ob.etivas ressões sociais para o amadurecimento e
a eficiência) . Ernesto tem de enfrentar suas dificuldades con-
jugais (com esta ou outra mulher), as exigências da paternida-
de e de seu trabalho profissional, necessidades de estudo e de
sociabilidade que, quanto mais precariamente forem enfrenta-
das, tanto mais distante toma-se a possibilidade de recupera-
ção. De modo semelhante, Andrea e sua mãe têm de separar-
se, ela tem de crescer, a situação infantil e adolescente não é
prorrogável, e, sem crescimento e resolução dessa simbiose,
ficam dificultados outros rendimentos, eróticos, sociais evoca-
cionais. Para a mãe, a viagem de Andrea, o casamento do filho
mais novo e seus problemas de saúde configuram uma etapa
Ll-TITca, qu.~ á\~1~esce...~ta obst~~\\?s ~ i.res~l~\Ç~ Da sih\i\Ç~.
Além disso, essa série de componentes da situação tem
de ser relacionada com um conjunto de determinações con- caracterís•
correntes, que originalmente podemos localizar numa zona de des, con
determ · ntes social mais am lo. Um conjunto de manejo d-
condições económicas, de trabalho, c turais, ideológicas, que
intervêm de muitas maneiras na situação.
Para Ernesto, não é a mesma coisa viver esse conflito con-
- ·
social (pa.
Ente

1 hy@l _~IT\ _c_ondi,eões de trabalho seµo e de alívio económico


ou correr o risco de, em virtude de sua depressão, perder seus
proventos. Uma cultura tradicional para a qual esse divórcio é
um fracasso e nunca um sucesso, tal como a que sempre pre-
valeceu em sua família e nele mesmo, é concorrente de peso,
ma e técnica de psicoterapias =:::nceito de foco _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
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como figura de identifi- o o é toda a ideologia do orgulho masculino diante da


!o há anos, na forma de esença do terceiro. Esses componentes reforçam a angústia
l brilhante que justifique - travam as possibilidades de elaborar essa separação. Para
1ento fobígeno. -drea, a situação de desocupação profissional e as difíceis
compreende o momen- <lições de especialização em nosso meio reforçam sua am -
IB que decorrem de ne- -alência diante da possibilidade de permanecer aqui e do
'olutivo e a prospectiva o do fracasso no exterior que a obrigue a regressar. Sua
ide parte dos conflitos de contato ideológico-político com essa situação faz com
)enas da reatiya,cão de odas as possibilidades sejam avaliadas de uma ótica estri-
ue entre as limitaçõe;: ente individual, que agrega outra dimensão de isolamento
itos e as necessidade;: :JaS ansiedades vinculadas ao desmame. Toda a ideologia
· exigem com urgência : cuidados que a filha deve retribuir à mãe, e a oculta res-
~mpo subjetivas (auto- :.sabilidade do sistema social pelo desamparo de uma pes-
:a o amadurecimento sozinha, incrustam-se no próprio centro da situação de
suas dificuldades co - ~ ea para mobilizar culpas de difícil elaboração.
tigências da patemida-
sidades de estudo e e voltarmos a considerar o conjunto dessas zonas de
mente forem enfren - -erminações que apresentamos num sumário exame analí-
;ibilidade de recupere - reconfiguraremos uma estrutura, construiremos um mo-
ª mãe têm de separa-- da situação que procure dar conta dos dinamismos, arti-
il e adolescente nã · ões, encaixes, potencializações e oposições próprios de
1lução dessa simbi : •otalização. A meu ver, o conceito de situação, para o qual
!róticos, sociais e v -- ergem as perspectivas dialética, materialista e existencial,
1, o casamento do - fornecer um modelo adequado capaz de nos aproximar
:onfiguram uma eta:: a totalização concreta, singular e em movimento, do in-
lução da situação. uo ou do grupo em estudo. É nessa no ão totalizadora
entes da situação ~- - mação gue podem enquadrar-se contribuições parciais
.e determinações c erísticas de uma conceitua ão sicodinâmica (ansieda-
ocalizar numa zona onflitos, fixações), comunicacional modalidades no
lo. Um conjunt - ·o das mensagens, alianças, desqualificações) ou psicos-
urais, ideológicas, " (papéis, mitos, tarefas grupais).
o. ::- tendido o foco como delimitação de uma totalidade
river esse conflito e eta s · t{ · a êJ: , os es orços an ticos conservam seu
e de alívio econô - ~a por sua inclusão nesse quadro mantido ao longo do
lepressão, perder :nento de aprofundamento de determinadas zonas de
a qual esse divór - omponentes. A ótica em que é vista a situação reflete-se
mo a que sempre ::- formulação: "[ .. .]o fato de que o conflito como tal ocor-
! concorrente de -::apessoalmente não significa que a questão seja de ordem
_9_6_____________ _ Teoria e técnica de psicoterapias

primariamente pessoal, nem, é óbvio, exclusivamente pessoal. dade, por


O roblema surgiu de uma situaàãO, e esta, por sua ve~ tal es, recortan
como ·ssemos antes, resulta do diálogo da pessoa com sua m que se exp
realidade". É importante detectar "as formas como o diálogo se mpreender a
realiza e a espécie de estrutura dialética sujeito-realidade" (5). rie de fatores
O seguinte diagrama procura resumir essas idéias sobre a
estrutura do foco :

O cQC~.--···········~
r ••
FOCO
..\)-······· . ~cos
-~m-?
ot'lt::~ > s Gé~i:. · · s
c:g~--:~s1óRlc0. •s so~------······
...-··· cros"' cR~~-- --- ----
_•••-· J>5Vé t-J©Ú~~--- ----- -- · ~
SITUAÇÃO ATUA L
f:i1 o
ES1RUTURADA
ao redor de um eixo
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O modelo de foco contém essa série de componentes con-


densados na situação estruturada. A profundidade com que se
indague o papel de cada um deles na estrutura e nas articula-
ções do conjunto depende, por sua vez, de outro conjunto de
fatores próprios da situação terapêutica que julgo possível
identificar como reguladores do foco; estes serão mencionado
no próximo item.

2. Ajuste operacional do foco com base em certos


reguladores e retorno à totalização

Em muitos momentos do processo, a tarefa não abarca a


totalidade dos componentes da situação, concentrando-se, na
ae técnica de psiwt

:lusivamente pes
e, por uma espécie de ajuste do diafragma, em alguns
esta, por sua vez, recortando alguma zona da estrutura. A profundidade
~ da pessoa com
e se explore cada zona e a amplitude com que se possa
ias como o diálogo -
::-reender a estrutura da totalidade dependem de uma
1jeito-realidade" e de fatores re adores gue compreendem:
r essas idéias sobre
a Da parte do P.aciente e de seu grup_o amiliar, um conjunto
:a ores: condições de vida, fatores culturais, ocupacionais,
áficos; motivação e aptidões para o tratamento.
) Da parte do terapeuta e da instituição, outros condicio-
-·es: esquemas teóricos, recursos técnicos que integram seu
_ nal terapêutico, disponibilidade de pessoal e de espaços,
- os de supervisão. Esse conjunto de fatores influi nas deci-
sobre o tempo, os objetivos e a técnica, que são, por sua
~ reguladores do foco.
Esse conjunto de fatores estabelece a amplitude geral que
erá ser atribuída ao trabalho em cima do foco.
e) Em cada momento do processo, porém, a focalização ad-
:.i:rirá uma amplitude particular. A focalização ou ajuste do
o, assim como seus reguladores, são representados no se-
_:rinte esquema:

de componentes con -
ndidade com que se FOCO
utura e nas articula-
e outro conjunto de
que julgo possível
.-
serão mencionados PROCEsso
··. TERAP&.mco
Momento do

m certos

tarefa não abarca a


:oncentrando-se, na
_98______________ Teoria e técnica de psicoterapias

Esse conjunto de reguladores delimita, na situação total .::ma desse fat


um cone de amplitude variável; cada sessão pode aprofundar bre-significa
seletivamente certas zonas do cone. O essencial, no entanto - talidade no ·
reside no fato de que, qualquer que seja o setor de elementos
explorados, estes devem ser compreendidos como integrante_
estruturados-estruturantes da situação.
O trabalho com o foco seguirá em sicotera ia esta se-
güência:
1) D paciente inicia a sessão oferecendo um material dis-
perso, composto de episódios recentes, recordações, observa-
ções sobre os outros e vivências pessoais nesses episódios.
2) Transcorrido certo tempo a partir desse desenvolvi-
mento inicial, o terapeuta intervém com perguntas orientadas
numa direção específica, ou então reformula o relato, enfati-
zando de modo seletivo certos elementos do relato significati-
vos do ponto de vista da situação-foco.
3) O paciente recebe essa reformulação e começa a operar
com ela: produz associações guiadas pela nova direção im-
pressa à tarefa, amplia elementos recortados pelo terapeuta.
4) Novas intervenções do terapeuta tomarão quer ele-
mentos parciais componentes da situação, com o fim de apro-
fundar-se neles, quer articulações do conjunto, num duplo
movimento analítico-sintético que Sartre caracterizou como
momentos regressivo e progressivo da análise da situação.
Este último visa encontrar uma totalização singular, realizar "a
unidade transversal de todas as estruturas heterogêneas". O
movimento de ajuste do foco faz-se então acompanhar por
um retomo à totalização, numa alternância constante das
O mater.
perspectivas entre figura e fundo.
Trata-se de um movimento em que se trabalha ao mesmo dificuldades
tempo sobre os detalhes e sobre o conjunto. m méto o que ;eitas que o 1
Sartre encontra em Marx: "Ao subordinar os fatos anedóticos ·ação diante
à totalidade (de um movimento, de uma atitude), quer desco- por um brin _
brir esta última através daqueles. Em outros termos, a cada levaria a exp
fato, além de seu significado particular, atribui uma função re- podem ter in.:.:
veladora; já que o princípio que norteia a investigação consis-
te em buscar o conjunto sintético, cada fato, uma vez estabele-
cido, é interrogado e decifrado como parte de um o o; e e em
99

lelimita, na si - fato, or meio do estudo de suas faltas ou de suas


a sessão pode ª'"'"~-- -:.ifica ões, ue se determina a título de hipótese, a
1
0 essencial, no ~'--­ -~·--no interior da çiual encontrará su verdade" (14).
seja o setor de er.,.,..""°'""..._
~ndidos como inror.---
ão.

~ fragmento de uma sessão de Ernesto mostrará como o


recendo um mate -""-'°""'"' introduz o foco diante da exposição inicial, elo a-
es, recordações, o _ ·e seu material. Trata-se e uma sessão do quinto mês de
Dais nesses episódi oterapia de esclarecimento programada para durar um
partir desse desen últimas semanas, o fato dominante foi uma tentativa
om perguntas orier.- · ar-se de sua mulher, de quem continua separado.
!ÍOrm ula o relato, er:
ntos do relato signifi P. 1: "Estou me achando muito violento. Outro dia, meu
o.
o estava brigando com um amiguinho por causa de um brin-
ulação e começa a 0 edo. Procurei fazer que eles deixassem de brigar, que cada um
5 pela nova direção se arranjasse com um brinquedo diferente. Não adiantou nada,
>rtados pelo terapeuta. ontinuaram fazendo escândalo. Então explodi, me levantei, fui
euta tomarão quer e __ e quebrei o brinquedo. Depois, pensei que aquilo era uma bar-
tção, com o fim de ap aridade, que podia tê-los feito parar de outro modo. E me !em-
o conjunto, num du · . rei que eu, quando menino, reagia assim quando as coisas não
artre caracterizou corr: davam certo: um dia, quebrei um carro que tinha porque não
da análise da situaçã conseguia consertá-lo."
:ição singular, realizar T. 1: "Acho que conviria pensar, para entender alguma
tturas heterogêneas". e coisa dessa sua violência, qual poderia ser hoje o conserto* que
en~ão _acompanhar por não dá certo."
!mancra constante das
O material inicial presta-se para adotar diferentes linhas:
e se trabalha ao mesmo • culdades com a paternidade, necessidades infantis insatis-
i·unto. m méto 0 que eitas que o levam a tolerar mal a brincadeira das crianças, irri-
nar os fatos anedóticos :ação diante da situação triangular (dois meninos brigando
la atitude), quer desco- ?Or um brinquedo), tendência a destruir o que frustra, o que
outros termos, a cada .evaria a explorar comportamentos similares de sua parte que
atribui uma função re- adem ter influído na deterioração de seu casamento. A inter-
1 a investigação consis-
fato, uma vez estabele-
me de um to o· e e em * No original arreglo, que significa tanto conserto como arranjo, com-
postura ou conciliação [N. da R. T.].
_lO
_O_____________ Teoria e técnica de psicotera

venção do terapeuta seleciona um elemento, que introduz


situação atual, na qual pode desempenhar um papel dorru-
nante no interior da estrutura, dado que conciliação-com-a-
mulher poderia reconfigurar a situação. Organiza-se, portan-
to, o material a partir de um eixo central da situação (concilia-
ção-conserto que não dá certo, ambivalência diante da mulhe:
que não "obedece à sua ordem de conciliar-se") da qual se de-
preende a irritação ante a desobediência dos meninos, agrava-
da pela presença de uma relação triangular com o brinquedo
que por sua vez remeteria à agressão à mulher que está entre
dois homens, porque o dano é infligido ao brinquedo.
A sessão registra em conjunto esta evolução temática: na
fase inicial se esclarece o sentido da violência do paciente dian-
te da frustração da tentativa de conciliação com a mulher e da
presença do terceiro. Surge depois toda a dependência em rela-
ção à mãe e à mulher, sendo isso relacionado (novas interven-
ções focalizadoras do terapeuta) com o papel que essa depen-
dência deve ter desempenhado na deterioração do casamento e
nas dificuldades atuais para uma aproximação. Mais adiante, o
paciente comenta um sonho em que se tomam visíveis sua de-
pendência oral e sua ambivalência diante da mulher (mãe-es-
posa combinadas), e isso é relacionado com o momento atua.
em que Ernesto não pode recuperar a mulher nem imaginar
-1ção, com o
outra parceira. Por fim, através de uma série de episódios do fim
- as (sentir-se
de semana em que teve de se ocupar de uma prima e de seu
filho, surgem os problemas da paternidade, que são vinculados undo), a con
~e sua oralida
à sua dependência oral insatisfeita que o levam a buscar um re-
traimento narcisista, na tentativa de ele mesmo se mimar.
A situação é abordada nessa sessão por zonas de intera-
ção (mulher, mãe, prima, filho) em cujos episódios surgem as- ~ eixo prosp
pectos caracterológicos do paciente que são constantemente _ conflitos est -
incluídos na estrutura da situação atual, cujo eixo reside na _e um aspect
aproximação frustrada e nos conflitos que geram ambivalência '"'ª estrutura
diante da mulher. 3.iimentado. O -
gordar, em .
. Outro fragmento, de uma sessão de Andrea, pode mostrar -unda-se em e
igualmente o sentido da intervenção focalizadora. Ocorre no
meio de uma sessão do quarto mês de uma psicoterapia pro-
'.Oria e técnica de psu:;
· c;z:::;::;;a:

mento, que introd da para oito meses, segundo a data prevista de sua via-
enhar um papel Andrea saiu de sua paralisia inicial, levando adiante os
que conciliação-co -es necessários para a viagem, cujo projeto adquiriu
o. Organiza -se, ~realidade.
al da situação (con
lência diante da m P. 16: "Estou comendo muitíssimo, e isso me preocupa.
:iliar-se") da qual se - ando menina, eu era gorda, vivia comendo bolachas. Minha
ia dos meninos, a ãe me controlava e minha avó me deixava comer quanto eu
gular com o brinq quisesse. Bem, voltei às bolachas."
l m ulher que está e:- T. 16: "Acho que a preocupação está no fato de que, se con-
>ao brinquedo. tinuar comendo, estragaria a boa impressão física que você quer
:i. evolução temática causar ao chegar. Porque, para você, há uma segurança baseada
iência do paciente · o fato de conseguir agradar fisicamente ."
1ção com a mulher e P. 17 (Ri.) : "Mas essa é a minha arma secreta no caso de as
a dependência em outras falharem! Não lhe tinha contado: para um lugar que me
onado (novas inteI\ interessa, mandei uma foto minha com uma pinta bárbara; aos
papel que essa de outros lugares, uma foto qualquer. Minha mãe sempre deu mui-
ioração do casamen ússima importância à impressão física que causava, a arrumar-
mação. Mais adiante e, sempre usou isso para agradar. O exibicionismo dela me
tornam visíveis sua dava raiva, mas parece que eu também o uso."
te da mulher (mãe-es-
com o momento a - A intervenção inicial de Andrea abria várias linhas possí-
mulher nem imag:in.r - : exacerbação da oralidade diante das ansiedades de sepa-
~rie de episódios do ~ -;ão, com o matiz regressivo de atualizar a época das bola-
le uma prima e de (sentir-se menina, muito longe da época de sair para o
ide, que são vinculad :: do), a contraposição entre figuras repressiva e permissiva
levam a buscar um re- ua oralidade ou então a preocupação com as conseqüên-
nesmo se mimar. corporais desta última. O terapeuta toma este último as-
J por zonas de intera- o em função de a situação atual estar definida em tomo de
; episódios surgem as- eixo prospectivo-evolutivo: projeto em andamento; assim,
e são constantemen e - conflitos estão qualificados agora por esse eixo, o que rede-
tl, cujo eixo reside na e um aspecto regressivo (fixação oral reativada) ao incluí-lo
te geram ambivalência - estrutura cristalizada pelo eixo - progressivo - do projeto
irrnentado. O terapeuta começar tomando a preocupação de
= gordar, em função do corpo da paciente lá no exterior,
And'réa: pôct'ê mõsfrar :unda-se em ele ter ltiernrquizadu cumu dumina.nlc: (e:, por
calizadora. Ocorre no · so, motivador principal que marca a situação) o eixo pros-
lIDa psicoterapia pro- ectivo da estrutura.
_10_2_______ ______ Teoria e técnica de psicoterapias

4. Evolução do foco

Ao longo do processo terapêutico~ foco pode sofrer mo-


~ificações. Numa psicoterapia breve, é provável que todo o
processo gire em tomo de uma situação focal e que o avanço
do processo consista apenas no enriquecimento do modelo es-
trutural que se vá armando a partir dessa situação: densificação
progressiva dos componentes do foco pela compreensão de
suas sobredeterminações, esclarecimento das articulações e li- tuições nos
nhas de força principais na montagem da estrutura. Em psico- cando obte:
terapias mais prolongada~é possível ir desdobrando-se uma .:ia pluralidade
sucessão de focos, cada u deles caracterizando u a eta a do .:iade de vias de
rocesso. Nesses casos o paciente costuma propor esponta- 3. Se cada
neamente uma seqüenciação, privilegiando uma situação em :ura dotada de
cada etapa (por exemplo, um período centrado em tomo de um S:Vel que não -
eixo colocado na problemática de casal; uma vez solucionados aciça de estírr.
certos conflitos nucleares ligados a esse eixo, passar a propor arnento estrat
um novo eixo que reestruture a situação em tomo de proble- seqüências, e
mas vocacionais). Em cada uma dessas etapas, o trabalho com -espostas des
um foco privilegiado não difere essencialmente do que se reali- .ação dos re
_ o capítulo 13
za numa psicoterapia breve. (Essa é uma das razões pelas quais
4. Omode
concordo com Kesselman [9] no que se refere à afirmação "a
antinomia breve-longo é um ponto de partida pouco conve-
niente para elucidar o problema da psicoterapia".)

micro e ma
5. Algumas implicações teóricas e técnicas
temo pessoa.
do modelo de foco centrado na situação gração interpv
rruturação-van
1. Um modelo estrutural de articulação de uma multipli- ·co não for er
cidade de determinações no todo concreto de um sujeito em uma totalizaçã
situação permite compreender que diferentes tiEos de estí- o real desapa:
mulos e recursos técnicos odem ter eficácia na indução de sicodinâmic -
reco ·gura.i oes na situa ão. Se se compreen e que a ação se . adem supera::
e xe_:ce s_empre sobre uma estrutura, não se podem esperar re-
laçoes lineares nem proporcionais entre influências e efeitos Num tra
~aud Manno
poraue entre os dois pólos da suposta cadeia causal linears~ aracterizar o
si:=:; defoco _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _10_3

- a estrutura da situação, com suas linhas de força in-


- suas leis de reconfiguração, seus planos de clivagem.
ecto pode ser fundamental para compreender as re-
- _: entre a ação terapêutica e as mudanças emergentes
ítulo 9).
e a situação se organiza segundo um modelo estrutu-
preende-se a tentativa de fazer convergir para ela uma
- ·dade de recursos técnicos; a prática terapêutica das ins-
• - s nos últimos anos parece orientar-se nessa direção,
do obter uma eficácia que pode ser entendida a partir
:- illalidade de zonas que compõem a situação e sua varie-
e vias de acesso .
.:>. Se cada situação pode ser entendida como uma estru-
. otada de uma organização interna peculiar, é compreen-
que não se possa abordá-la por simples concentração
· · a de estímulos corretivos, mas sim com base num plane-
passar a pro
1XO, -ento estratégico que selecione as vias de abordagem e suas
~mtomo de pro _- encias, e depois faça reajustes progressivos, com base nas
ipas, o trabalho e stas dessa estrutura, por meio de uma cuidadosa articu-
.ente do que se rea.:.- •-o dos recursos concentrados sobre ela (aspecto discutido
as razões pelas qua:s - capítulo 13).
efere à afirmação - 4. O modelo de foco proposto procura, por sua vez, aten-
lli:ida pouco conve- à necessidade de trabalhar com enfoques psicológico-psi-
rapia".) atológicos, diagnósticos e terapêuticos coerentes, integra-
- s numa concepção totalizadora da experiência humana.
- ·m a concepção a partir da qual as condições de realidade
·as ::nicro e macrossocial) e os dinamismos próprios do mundo
io emo pessoal e endogrupal sejam abordados em sua inte-
.sração interpretante, bem como em seus movimentos de es-
iode uma multipli- turação-variação-reestruturação constantes. Se o diagnós-
o de um sujeito em ·co não for encarado nesse sentido de movimento dirigido a
uma totalização concreta (Marx, Politzer, Sartre), o ser huma-
º tes ti os de estí-
~o real desaparece. Nesse caso, as mais elaboradas hipóteses
:ácia na indução de
psicodinâmicas, as mais sutis descrições comunicacionais, não
~en e que a ação se
~ podem esperar re - podem superar o nível da abstração e coisificação do humano.
w1ncias e efeitosI Num trabalho sobre a primeira entrevista psicanalítica,
ieia causal linear se Maud 1:fannom (12) emprega o conceito de "situação" para
caractenzar o problema que motiva a consülta. Interessada em
_10_4_________ ____ Teoria e técnica de psicoterapia5

destacar a ótica psicanalítica da situação, em salvaguardar as


dimensões psicanalíticas desta, restringe o olhar. Os elemen-
tos que considera, sem dúvida necessários em todo diagnósti-
co, mostram-se, contudo, insuficientes para abarcar o conjun-
to de séries e articulações cuja estrutura e cujos sentidos têrr
de ser compreendidos na perspectiva mais ampla da aborda-
/1
gem psicoterapêutica. Em nosso enfoque, situação" inclui urr
conjunto mais vasto, heterogêneo, de séries e suas articula-
ções. Tem como objetivo efetuar uma construção teórica na di-
reção do que se pode denominar, com Deleuze (7), teoria de
sentido no acontecimento.

A Instituição Ágora de Montevidéu, Instituto de Interven-


ciones Psicoanalíticas Focalizadas (dirigido por Denise Defey
Juan Hebert Elizalde e Jorge Rivera), publicou três volumes
(1992, 1995 e 2001) dedicados ao trabalho clínico, à teoria e às
modalidades técnicas das psicoterapias focais, com a contri-
buição de numerosos autores de vários países. Remetemos
leitor ao estudo desses trabalhos voltados para o conceito de
foco. Só poderemos mencionar aqui algumas de suas signifi-
cativas contribuições para esse tema.
Ricardo Bernardi, em "La focalización en psicoanálisis
encontra relações entre a tarefa focalizadora e a o ão de
11
ontos de urgência" e ontos e inflexão" no entendimen-
/1

to de W. e M. Baranger em sua concepção dos processos psi- zonas que nã


canalíticos. Destacou o conceito de Malan de cristaliza ã
/1
a mudança
/1
de um como uma configuração que emerge a partir do vável também
e no, trabalho em conjunto de paciente e analista. E enfati- qual a efetivi
zou em particular que a focalização não é alheia a toda tera- cidade do pa
pia psicanalítica, citando especialmente a linha de Thoma e
Kachele (1989) quando dizem: "Em psicanálise, considera-
mos o foco configurado interacionalmente como uma plata-
forma giratória central do processo e por esse motivo conce-
bemos o tratamento psicanalítico como uma terapia foca.
continuada, de duração indefinida e de foco mutável." Ber-
~ardi acresc.enta: "Isso nos leva a destacar que a associação
livre do paciente não conduz, por si só, à descoberta dos as-
pectos inconscientes do conflito; isto é, o psicanalista tem de
ria e técnica de psicotera de foco _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _105
_

.o, em salvaguardar nar o que interpretará do material, de acordo com


e o olhar. Os eleme - etas táticas a curto prazo e suas metas estratégicas a
tos em todo diagnós - _ prazo."
Jara abarcar o conjur:- :homa e Kachele entendem por foco um ponto nodal te-
:i e cujos sentidos tê~ -o produzido na interação do trabalho terapêutico, que
lais ampla da aborda- :a da proposta do paciente e da capacidade de compreen-
e, "situação" inclui w::- analista. Afirmam também que "a sucessão de focos é g
séries e suas articula- tado de um processo de intercâm?i?. inconsciente e:1tre
nstrução teórica na di- -ecessidades do aciente e as J?OSSl ihdades do anali_sta.
Deleuze (7), teoria d _ processos não são de fato acionados até que ambos os
cipantes consigam estabelecer esse entrecruzamento in-
·onal na reelaboração dos temas focais. Do mesmo modo,
Instituto de Interven- mudança de analista leva, como regra geral, a experiên-
jdo por Denise Defe'.- - astante distintas e novas".
mblicou três volum~ Chegou-se a pensar que uma intervenção focalizadora do
lo clínico, à teoria e às · ta poderia introduzir certa rigidez de perspectivas, certo
focais, com a contri- rte que traduzisse limitadamente a experiência interna do
países. Remetemos - ·ente. Acerca desse ponto, merece destaque outra conside-
los para o conceito de - o de Bemardi em seu artigo:
~as de suas signifi-
Para começar, já há uma tradução do paciente quando este
:ión en psicoanálisis formula sua experiência interna (em muitos aspectos, não-ver-
LZadora e a no ão de bal) num discurso articulado de palavras. E é muito provável
!xâo" no entendimen- que as interpretações que se mostram mais eficazes passem por
·ão dos processos psi- zonas que não são as que pensamos. Talvez nossas teorias sobre
alan de "cristaliza ã a mudança psíquica tenham algo de acertado; mas é muito pro-
le emerge a partir do, vável também que haja um enorme campo, pouco percebido, no
e e analista. E enfati- qual a efetividade da intervenção se relacione mais com a capa-
J é alheia a toda tera - cidade do paciente de traduzir para seus próprios referentes in-
e a linha de Thoma e ternos o que escuta do analista.
sicanálise, considera-
•nte como uma plata- Na segunda dessas publicações uruguaias, relatei em de-
Jr esse motivo conce- es (Fiorini, H., 1995) o trabalho técnico realizado durante
o uma terapia focal atro meses, com um foco centrado num luto e numa situa-
e foco mutável." Ber- ::ão de crise individual, grupal e institucional. Em convergência
acar que a associação
om o que, na linha de Anzieu e Kaes, foi denominado (Guil-
, à descoberta dos as-
.aurnin, J., 1979) "enfoque intercrítico das crises", o foco, tal
0JJ:Jicanallsta tem àe - mo o empregamos na clínica, une os diferentes âmbitos em
_1_0_6 _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Teoria e técnica de psicotera

que a crise revebera, dado que essas interseções têm efeitos -


potencialização por ressonâncias.
Horst Kachele e colaboradores (Departamento de Psico-
terapia, Clínica da Universidade de Ulm, Alemanha), em "La
formulación formal del foco en la psicoterapia" (1995), perco'"-
reram a obra de diferentes autores que, desde Alexander
French, com sua formulação de "conflito nuclear", abordarar:-
a focalização como "conflito nuclear neurótico" (Wallerstein -
Robbins, 1956), "problema central" (Mann e Goldmann, 198:
"tema de conflito de relação" (Luborsky, 1977) . Destacam q
nessa tarefa coexistem e se alternam no terapeuta "um esta
funcional para a obtenção do máximo de informação (a ate -
ção flutuante) e a organização da informação obtida segun
o ponto de vista preponderante em cada caso (o focalizar) ".
foco aparece como "um centro de gravidade temático", coll'
um campo problemático central do paciente, campo a traba-
lhar como variações de um tema básico.

De um ponto de vista fenomenoló ·co descritivo o foc -


equiparado ao quadro sintomático atual. Nesse caso, a form "-
ção se acha estabelecida num nível de sintoma e de comporta-
mento, que de qualquer modo é ré-consciente. Numa concep-
ção metapsicológica, a focalização se da de acordo com prerrus -
sas abstratas da teoria empregada em cada caso, por certo -
grande distância da vivência concreta do paciente. Os resul -
dos da investigação em psicoterapia, sobretudo os dos trabalh
que abordam a conformação da relação terapêutica, defendeII'
contrário, ou seja, que o foco seja conceituado de maneira '"
que também o paciente possa vivenciá-lo como uma ativida -
comum entre ele e seu terapeuta.

(Nesse aspecto, concordam com as primeiras observaç-


Barten, Harvey
de Alexander: "Como a formulação da interpretação focal 1971.
vinculada à problemática que foi o motivo da consulta, de-. ~ Bemardi, R.; Kerr
ser mostrada essa relação; do contrário, o paciente ficará de -
~entado e se perderá o fio do processo, ou se perderá o pa- turas, MontevidéL.
ciente.") Negga direção, Kacheie cita também a tarefa de foca- = Castilia dei Pino, -
lização proposta por Lachauer (1992) / que considera duas pa:- Di!!léctica de [a per;
Teoria e técnica de psu~~- 107

nterseções têm e' eira lugar, a denomina ão e a descru ão do ro-


--.--~ pal do paciente; depois, uma hi ótese psicodinâ-
epartamento de os motivos ocultos inconscientes daquele probl -
Jlm, Alemanha), _ "' 1• Esse autor propõe elaborar uma frase focalizado-
_.......;:...
r:oterapia" (1995 1 _ dita em primeira pessoa. Eis um exemplo: "Tenho
que, desde Alex.ar - omprometer-me porque temo que, de todo modo,
flito nuclear", abo •r;:;:::::::.~·e, nada será suficiente, e que se imporão minha fúria
neurótico" (Walle a e minha ofensa humilhante, as quais não creio
dann e Goldrnann, er."
;ky, 1977). Destacru:- camas no estudo de Kachele e colaboradores o rela-
no terapeuta "um : - sessões de psicoterapia focal com um estudante de 22
o de informação (a · qual indagam, seguindo Luborsky, "o tema central do
ormação obtida se relacional". Ilustram o emprego das narrações do pa-
ada caso (o focalizar re episódios de sua vida para identificar seus parâ-
avidade temático", e : básicos de conflito relacional. Convém recordar que a
'ªciente, campo a .;ão original de Alexander e French contém numerosas
r:o. -ões clínicas dessa modalidade do trabalho técnico e da
-~-oonsão psicopatológica.
·co descritivo o encionaremos também os trabalhos de Denise Defey,
:ual. Nesse caso, a forrr _ • . rera, Juan Hebert Elizalde e Pedro Menéndez incluí-
je sintoma e de com publicações da Ágora (1992, 1995 e 2001), nos quais se
·consciente. Numa con - dam e especificam critérios de planejamento, modali-
á de acordo com pr e intervenções focalizadoras, abordagens de crises, cri-
em cada caso, por cer.; - ·emporais nessas modalidades técnicas.
ta do paciente. Os r
sobretudo os dos traba.;
ão terapêutica, defende;;
onceituado de maneira
ciá-lo como uma ativi -_exander, Frans; French, Thomas, Terapéutica psicoanalítica, Buenos
Paidós, 1965.
-.!TeS,
· t, M.; Omstein, P.; Balint, E., Focal Psychotherapy, Londres, Tavistock,
IS primeiras observaÇ .---i.
da interpretação focéL - en, Harvey (org.), Brief Therapies, Nova York, Behavioral Publ. Inc.
totivo da consulta, d _:;71_
>, o paciente ficará deso- - ;iemardi, R.; Kemberg, O.; Fiorini, H.; Kachele, H.; Defey, D.; Elizalde, J.
o, ou se perderá o pa- H.; Rivera, J.; Girnénez, J. P.; Fonagy, P. e outros, Psicoanálisis. Focos y aper-
mlbém a tarefa de foca - :uras, Montevidéu, Psicolibros, 2001 .
= ~~a dei Pino, Carlos, "La situación fundamento de la antropologia", in
ÇçonDiàera duas JJif· :Jialéctzca de la persona, dialéctica de la situación, Barcelona, Península, 1870.

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