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SUMÁRIO

Agradecimentos ..................................................................................................................... 3

Resumo .................................................................................................................................. 5

Introdução .............................................................................................................................. 6

Objetivos ................................................................................................................................ 8

Objetivo Geral: .................................................................................................................. 8

Objetivos Específicos: ....................................................................................................... 8

Método ................................................................................................................................... 9

Conceitos Fundamentais ao estudo das Estruturas Clínicas ................................................ 10

Constituição do sujeito psíquico ...................................................................................... 10

Definição do conceito de estrutura e conceitos básicos ................................................... 12

As Estruturas Clínicas .......................................................................................................... 16

A Neurose ........................................................................................................................ 16

A Psicose.......................................................................................................................... 20

A Perversão ...................................................................................................................... 24

Considerações Finais ........................................................................................................... 30

Referências........................................................................................................................... 32
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RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo aprofundar o estudo das estruturas clínicas proposto
pelas teorias psicanalíticas freudiana e lacaniana. A metodologia escolhida foi a pesquisa
qualitativa sendo realizado uma pesquisa bibliográfica e para análise dos dados utilizou-se
a análise conceitual. Esse modo de análise busca explorar os conceitos para que desses
possam se criar saberes. O percurso escolhido foi buscar na obra de Freud e Lacan os
textos que referenciavam a questão das estruturas clínicas. A psicanálise começa seu
estudo pela patologia, pois a questão da norma domina a ciência. Entretanto,
principalmente, mas não só, a escola francesa vem desconstruindo a nosografia
psicopatológica e normativa, para um diagnóstico estrutural. Nessa perspectiva o sujeito é
pensado de outra forma, já que a questão da estrutura convoca a pensar o modo que ele, o
sujeito, irá se defender das demandas pulsionais. O sujeito em questão é o do inconsciente,
que é da ordem do simbólico e, portanto, da linguagem. Desta forma tanto a psicose, como
a neurose e a perversão são compreendidas como normais, afinal são faces da subjetividade
de cada um. O que está em questão é o interesse de cada estrutura sendo da neurose o
Outro, da psicose o corpo e da perversão o falo. A diferença entre cada modo de
subjetivação se dá pelo modo de defesa em relação ao significante primordial, a saber, a
castração. Se o sujeito recalca ele é neurótico, se forclui é psicótico e se renega esse
significante é perverso. O neurótico é referido a um centro, e fica preso a este. Precisa abrir
mão de seus desejos incestuoso, entretanto por outro lado ele ganha um lugar subjetivo e
pode falar deste lugar. O psicótico fica sem esta referência, podendo ser qualquer um, se
por um lado é livre por outro ao contrário do neurótico não possui um lugar subjetivo. Já o
perverso reconhece a castração, entretanto insiste em transpor esta. Cada ato perverso é
uma tentativa de apagar o significante primordial. Ao final do estudo, conclui-se que o
diagnóstico estrutural possibilita a compreensão do paciente enquanto sujeito, para além de
uma classificação psicopatológica nosológica, já que este irá direcionar o tratamento.

Palavras chaves: Estruturas clínicas; neurose; psicose; perversão.


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INTRODUÇÃO

A psicanálise, assim como outras áreas do conhecimento, iniciou seus estudos pela
patologia. Quando Freud começou o estudo das histéricas era necessário isolar a doença,
pois sua intenção era compreender a origem e a causa desta. Para tal, foi dada importância
para os processos psicopatológicos. Então, no princípio, a psicanálise entendia a neurose e
a psicose como doenças. Entretanto, com a influência da escola francesa o paradigma
psicopatológico e nosológico foi substituído pela noção de estrutura. Sendo assim,
compreende-se que a neurose, a psicose e a perversão são nada mais do que faces da
estrutura normal, ou seja, são modos de defesa do sujeito contra a angústia de castração
(Hassan, 1992).
A releitura lacaniana de Freud desconstrói o paradigma de normalidade/patologia,
que dominava a ciência até o momento. A partir desta nova concepção das estruturas
clínicas, a oposição doença/saúde, que é normativa, deixa lugar para alternativas possíveis
de subjetividade. As estruturas clínicas dizem respeito ao modo de expressão do sujeito e,
como todos apresentam uma subjetividade, estas não podem ser compreendidas como uma
questão de saúde ou doença, mas sim como modos de o sujeito lidar com suas angústias
(Oliveira, 1996).
É importante considerar que a psicanálise, mesmo dentro do constructo das
estruturas clínicas, realiza estudos sobre a psicopatologia. A psicopatologia psicanalítica
tem como fundamento que os sintomas são de origem inconsciente, formação de
compromisso entre os dois grandes sistemas, o Inconsciente e o Pré-consciente/Consciente,
resultado de conflitos destes. A relação que se estabelece entre a psicopatologia e a
estrutura é que o sujeito adoecerá somente de acordo com sua estrutura, ou seja, um sujeito
neurótico poderá somente desenvolver uma doença da ordem da neurose, assim como na
estrutura psicótica, uma psicose e na perversão, uma patologia desta ordem, pois é a
estrutura que estabelece as fragilidades e potencialidades de cada sujeito (Antoszczyszen,
2007).
O estudo das estruturas clínicas torna-se pertinente devido à demanda dos pacientes
que procuram os consultórios psicológicos. Em sua maioria, os pacientes não estão
acometidos de transtorno mental, logo não apresentam diagnóstico psicopatológico. O que
estes pacientes possuem é um sofrimento, que podemos compreender como algo intrínseco
ao ser humano. E é a partir do diagnóstico estrutural que se dará a condução do tratamento
destes pacientes.
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Para além de todos os argumentos expostos acima, conhecer a estrutura do sujeito


possibilita que se trabalhe preventivamente, atuando adequadamente nas fragilidades de
cada estrutura, sem por isso considerá-las doenças. O estudo aprofundado na questão
estrutural torna-se necessário para compreender de que sujeito se está falando e como
prescrever um tratamento singular para este, considerando sua subjetividade. A direção do
tratamento fundamenta-se na estruturação do sujeito, se será ou não indicado divã, a
frequência das sessões. Entretanto, não são criados protocolos e proibições, mas a
possibilidade que o paciente apresente a sua verdade, a saber, a verdade do ICS(Lacan,
1966/1998). A compreensão do sujeito está baseada em na sua forma de estruturação, qual
é a face, qual o mecanismo que este utiliza frente à castração e suas consequências, ou seja,
como será a articulação dos significantes.
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OBJETIVOS

Objetivo Geral:

Aprofundar o estudo sobre as estruturas clínicas de Freud e Lacan

Objetivos Específicos:

Delinear os conceitos de recalcamento, forclusão e renegação.


Apresentar o conceito de complexo de Édipo, proposto por Lacan
Descrever as estruturas clínicas propostas por Freud e Lacan.
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MÉTODO

Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que inclui a integração de fragmentos de um


processo em uma nova configuração, a integração da informação obtida na investigação a
partir de um conjunto qualitativo, a interpretação como elemento de contato na
investigação. Além disso, esta abordagem busca compreender a lógica do que se está
pesquisando. Desta forma abre espaço para um novo modo de pensar o sujeito (Neves,
1996).
Optou-se pela pesquisa bibliográfica, pois é aquela que através das teorias
publicadas o autor busca explicar, responder um problema. Uma das indicações de utilizar
este tipo de pesquisa é com o objetivo de ampliar o conhecimento de uma determinada área
e também de dominar o conhecimento disponível e utilizá-lo como base de fundamentação
na construção de um modelo teórico explicativo (Köche, 1999).
Primeiramente, foi escolhido revisar os conceitos que são fundamentais para atingir
os objetivos do trabalho, para que posteriormente fosse abordada a questão das estruturas
clínicas. Inicialmente, foram buscados os textos originais desta temática encontrados em
Freud e Lacan. Além disso, para um maior detalhamento do assunto foram utilizados
autores contemporâneos que auxiliam na compreensão destes conceitos. Os textos foram
sistematizados em fichas de leitura, que por sua vez foram organizadas de acordo com os
conceitos que apresentavam. Utilizou-se o referencial de analise conceitual no estudo
dessas obras. Os conceitos são abstrações da vida real, ou como Freud escreve em, Pulsão
e destinos das pulsões, podem ser uma mitologia algo, que de fato não exista, entretanto é
necessário para construção de uma teoria. A análise conceitual tem o objetivo de esclarecer
sua estrutura interna, suas articulações e identificar seus atributos (Britto, Enders &
Monteiro, 2004). Finalmente, este tipo de análise auxilia a explorar os conceitos, para que
a partir destes possam surgir novos saberes.
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CONCEITOS FUNDAMENTAIS AO ESTUDO DAS ESTRUTURAS


CLÍNICAS

Constituição do sujeito psíquico

O sujeito em questão é o do inconsciente, que é da ordem do simbólico e, portanto,


da linguagem. Não se trata de indivíduo ou pessoa e sim do que não está dito. Ele é efeito
do discurso (Hassan, 1992). Segundo Dor (2003), o sujeito é cindido em sujeito do
inconsciente e sujeito do desejo. Esse está oculto de si próprio pela dimensão da
linguagem. O desejo do sujeito (S1) só pode se fazer ouvir como um significante de
substituição (S2). Entretanto, o desejo do sujeito fala dele em seu discurso, porém sem ele
saber disso, já que o que aparece no discurso é o não dito. Podemos afirmar ainda, que o
discurso deste é o sonho, o ato falho, o sintoma. Sendo que, por sintoma compreende-se
não apenas o da ordem da descrição psicopatológica, mas aquele que Lacan escreve como
Sinthoma, que é a expressão do inconsciente (Dor, 2003, Lacan, 1966/1998). O sintoma é
o retorno do recalcado, a subjetividade do sujeito, o que lhe é de singular, por isso que nem
sempre será compreendido como patológico (Dor, 2003, Lacan, Garcia-Roza, 2002).
O sujeito é alienado ao significante (S1), e, portanto um sujeito barrado. O sujeito
barrado é efeito da linguagem, de uma máquina de fala e, como já referido, só se reconhece
através do discurso (Dor, 2003; Lacan, 1966/1998).
O complexo de Édipo e o estádio do espelho são os principais responsáveis pela
constituição do sujeito. O estádio do espelho é o modo de identificação primordial será ele
que permitirá a integração da criança e sua identificação com o outro e um esboço da
constituição de Eu, sendo de fundamental importância para a constituição do sujeito
(Hassan, 1992). Cabe resaltar que o eu é diferente de sujeito, pois é da ordem do
imaginário, do sentido e sempre é alienado ao outro. Portanto o eu é o outro, daí a
identificação. É nesse estádio que a criança integra o corpo em uma única unidade, já que
inicialmente, a criança possui a fantasia de corpo despedaçado. Ela irá recorrer a imagem
do outro para formulação de seu próprio corpo (Lacan, 1966/1998; Jorge, 2008). O estádio
do espelho é o momento em que criança e a mãe são o mesmo ser e o bebê é o falo da mãe,
aquele que a completa. Se é no estádio do espelho que é constituído o eu, o autoerotismo é
anterior a esse. Sendo que, no autoerotismo a satisfação das pulsões parciais é no próprio
corpo da criança. Este é um estado anárquico da sexualidade. Quando o eu é constituído,
passa a ser investido libidinalmente, nesse momento é o narcisismo primário (Freud,
1914/2004). O narcisismo secundário é aquele que os objetos são investidos, porém a
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libido volta para o próprio eu, pode-se pensar no seio, por exemplo. Portanto, o estádio do
espelho é o momento em que o eu é constituído, então a criança sai do autoerotismo para o
narcisismo. Que irá possibilitar a entrada do terceiro. O estádio do espelho é
contemporâneo do primeiro tempo do complexo de Édipo (Garcia-Roza, 2002; Jorge,
2008).
O Édipo, para Lacan, é divido em três tempos iniciando antes da proposta
freudiana, todavia não é antagônica a Freud, pois o próprio Lacan irá afirmar que faz um
retorno a Freud e que ele mesmo é freudiano. O Édipo é um momento de crise que a
criança irá lidar com a angústia de castração, que compreendemos como algo que limita o
sujeito, como grande exemplo de castração poderia se citar a morte. Desde muito cedo a
criança necessita lidar com estas questões do real que são impostas a ela, isso acontece
fundamentalmente no Édipo. O destino que ela dará para estas questões determinará a sua
estrutura, sendo que esta é constante e não passível de mudança (Dor, 2003).
O primeiro tempo é aquele em que a relação é dual entre a mãe e o bebê. A criança
ocupa o lugar de falo para esta mãe, ou seja, a criança é quem completa a mãe e desta
forma os dois tornam-se seres completos. Ela satisfaz, realiza o desejo da mãe (Lacan,
1957-1959/1999). Neste momento cabe explicar o que é o falo. Segundo Plon e
Roudinesco, “se a palavra pênis fica reservada ao membro real, a palavra falo, deriva do
latim, designa esse órgão mais no sentido simbólico (...) investido de suprema potência
(...)” (p. 221). Na obra freudiana não se encontra o termo falo, apenas pênis. Entretanto,
compreende-se que Freud não se referenciou exclusivamente ao órgão real, mas o que este
simbolizava. Portanto, o que está em questão no complexo de castração é o representante
do órgão sexual masculino, ou seja, o falo. Já que isto é o que completaria o sujeito, sendo
o que a mãe deseja e aquilo que a criança acredita ser (Nasio, 1995).
Em um segundo momento, esta posição de ser o falo é questionada sob a égide da
interdição paterna, então a criança fica em uma posição de ser ou não ser o falo da mãe
(Lacan, 1957-1958/1999). O pai fica em uma condição de privador, frustrador e interditor
que tende a catalisar a função de castrador. A castração é uma falta simbólica de um objeto
imaginário, a privação é uma falta real de um objeto simbólico e a frustração é uma falta
imaginária de um objeto real. O pai, enquanto aquele que interdita, irá frustrar a criança.
Este é um ato imaginário, mas o objeto é real porque o pai faz-se saber para a criança como
aquele que tem direito da mãe. Do ponto de vista da mãe, ela é privada, ou seja, ela é
privada de seu filho, porém enquanto objeto simbólico. Essa dupla de frustração e privação
fazem com que a criança se questione sobre sua posição de falo. O que entra em questão é
a dialética de ser ou não ser o falo. (Dor, 2003).

Pergunta de hamet
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O terceiro tempo do Édipo é o que chamamos de “declínio do complexo de Édipo”.


O pai interditará como potente e real, sendo aquele que possui o falo. O pai é internalizado
como ideal de eu, afinal é possuidor do objeto que a mãe deseja. Esse tempo é posterior ao
período de privação e castração da mãe. O pai aparecerá no seu próprio discurso e não só
no discurso da mãe (Lacan, 1957-1958/1999). Freud (1924/s.d.) refere que o declínio do
complexo de Édipo no menino se dá pela ameaça de castração, ele irá desistir da mãe e
poderá ter o falo. Já na menina, o complexo de Édipo é mais simples, pois o que ela
renuncia é o ter o pênis (falo) e desliza para ter um filho. Isso significa que o sujeito se
posicionará como tendo ou não o falo. No caso do menino, ele será aquele que possui o
falo, agora um falo simbólico que possibilita substitutos, e no caso da menina, ela não terá
o falo, mas saberá onde encontrá-lo: no pai. Mais tarde pode-se dizer que encontrará o falo
em seu filho. Neste tempo, a lei é simbolizada e, portanto inscrita. A lei paterna é o S1, o
significante primordial que sempre remeterá aos significantes que virão posteriormente
(Dor, 2003).

Definição do conceito de estrutura e conceitos básicos

A descrição das estruturas clínicas exige uma introdução ao conceito de estrutura.


A atitude estruturalista constitui-se como um novo pensar, no qual os objetos e elementos
não apresentam uma relação direta. Para tal, é necessário renunciar certo tipo de descrição
de qualidades, de propriedades específicas e da natureza dos objetos, para que possam
advir relações, aparentemente dissimuladas, que existem entre eles ou seus elementos (Dor,
2003). Nota-se a relação desta forma de conceber a estrutura com o funcionamento
inconsciente, no qual as representações inconscientes se articulam mesmo sendo
contraditórias.
A estrutura comporta características como a de totalidade, na qual há independência
dos elementos que compõem uma estrutura e a reunião destes é necessariamente diferente
da sua soma. A noção de transformação é outra característica que depende de leis que
definem operações que compõe dada estrutura. Desta forma, entende-se que seriam
estruturantes de uma realidade já estruturada. Por fim, a auto-regulação, que é
fundamental, pois significa que a estrutura se auto-conserva. Em outras palavras pode-se
falar em estabilidade do sistema (Dor, 2003).
Lacan, em seu retorno a Freud, utilizará as construções teóricas da linguística,
sendo que é influenciado, principalmente, por Saussure. Assim, ele se utiliza dos conceitos
da linguística para descrever a estrutura do inconsciente. Entretanto, há uma virada
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conceitual, pois o significante passa a ter supremacia em relação ao significado, o que


Saussure pensava de forma oposta (Dor, 2003). O significante é a imagem acústica e o
significado o que este representa, todavia o significado é secundário e possui menos
importância que o significante, já que são as diferenças entre os significantes que os
caracterizam. Um significante só pode existir na condição de se remeter ao outro
significante. Então S1 significa um e S2 significa dois, portanto o S1 só terá sentido se este
remeter a S2 e a todos os outros significantes, dando a ideia de um contínuo, de uma rede
de articulações (Hassan, 1992).
A estrutura clínica pode ser entendida pela forma como o sujeito se organiza, como
defesa contra uma angústia que é inerente a todo ser humano. Para Hassan (1992), a
estrutura está inserida na experiência, ela é efeito de linguagem e se inscreve no real. A
estrutura psíquica não é algo intermediário à experiência e não pode ser reconhecida fora
da clínica, pois é através do discurso que ela se manifesta. A linguagem precede ao
homem, portanto é esta que organiza a estrutura.
Ainda é necessário descrever minimamente a topologia lacaniana, a saber: o real, o
imaginário e o simbólico. O real é o indizível, o impossível, aquilo que não pode ser
representado, por isso ele não cessa de não se inscrever (Lacan, 1953-1954/1994). O real é
o registro que não se inscreve no psiquismo, pois está fora deste, ou seja, o corpo enquanto
entidade orgânica pode ser compreendido como parte real. Além deste, pode-se ainda
deduzir que a própria pulsão é da ordem do real, visto que se trata de um conceito
fronteiriço entre o psíquico e o somático (Hassan, 1992). O real é o inconsciente, porque é
inacessível, só se pode saber dele através do simbólico. Segundo Jorge (2008), “(...) o
núcleo do inconsciente é real, é uma falta originária constituída pelo objeto perdido do
desejo e é em torno dessa falta que o inconsciente se estrutura, no simbólico, como uma
linguagem.” (98)
O registro do imaginário é da ordem da imagem. Lacan, no seminário 1 (1953-
1954/1994), irá se utilizar de conceitos da óptica para descrever o imaginário. A
construção do estádio do espelho também é da ordem do especular e, portanto do registro
imaginário. O pente invertido que Freud irá utilizar para explicar a apreensão das
percepções pelo aparelho psíquico e os registros destas como traços mnêmicos, Lacan irá
referir que estes traços são da ordem do registro imaginário. O imaginário é, portanto,
onde se encontra o eu com suas ilusões, alienação a identificação com o outro e de fusão
com o corpo da mãe (Plon & Roudinesco, 1998).
A linguagem diferencia os seres humanos dos outros animais. Então, é através da
linguagem que identificamos o simbólico (Lacan, 1953-1954/1994), pois a linguagem é o
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modo pelo qual o sujeito se expressa. Neste registro, o sujeito poderá utilizar-se da
metáfora, e é onde os significantes estarão em oposição, estando um referenciado ao outro.
O simbólico está implicado com outro e com o inconsciente, que é estruturado como uma
linguagem (Hassan, 1992). Entretanto, não significa que o inconsciente se reduz ao
simbólico ou que o simbólico se reduza ao inconsciente, mas que o inconsciente recalcado
que é descrito por Freud, e o retorno deste faz parte do simbólico.
O conceito de simbólico fica indissociado aos conceitos de significante, forclusão e
nome do pai. Pois o significante é a essência do simbólico, é a articulação de continuo de
um significante a outro, que se estabelece a cadeia e, portanto, a possibilidade da
linguagem. A forclusão faz com que o simbólico desapareça porque dessa forma não há a
inscrição do nome do pai, sendo que é esse o intermediador da lei da ordem do simbólico,
a saber, a proibição do incesto (Plon & Roudinesco, 1998).
A articulação entre os três registros irá produzir o nó borromeano. Este, refere-se a
intersecção dos três registros, é o que ao mesmo tempo unifica e o que particulariza cada
registro. Qualquer coisa jamais deixa de existir (imaginário), ou deixa de não se escrever
(real), ou deixa de se representar (simbólico), então é nesta articulação que os três registros
se sustentam e se constrangem, é no nó, portanto, que se encontra a realidade psíquica.
Então, o nó é um vazado, um buraco onde se instala o objeto a que é causa de desejo
(Vorcaro, 2009). Tudo começa pelo real, ele constitui a base estruturante do sujeito, o
simbólico, e esse possibilita a constituição de imaginário, originalmente faltoso. Porém, se
formos seguir a representação de Lacan Real-Simbólico-Imaginário (R-S-I), como é um
continuo ficaria da seguinte forma ... R-S-I-R-S-I ..., logo o imaginário também incide
sobre o real. Percebe-se que os três registros estão amarrados entre si, e que o simbólico
está sempre entre o real e o imaginário, como se tivesse duas faces, uma para o real e outra
para o imaginário (Jorge, 2008).
Os três registros se repetem incessantemente e indestrutivelmente fazem coincidir o
desejo e a lei paterna. O fantasma e o sintoma que sustentam e constrangem as condições
de gozo. O nó borromeano é o pai-vertido, portanto não é a norma de relação entre os três
registros. Há um ponto central que é a intersecção entre o real, o simbólico e o imaginário
onde se localiza o objeto a. Esse seria o objeto que satisfaria o sujeito, porém ele é perdido
e faltoso (Vorcaro, 2009).
Cabe-nos pensar um pouco sobre o objeto a. Este é um objeto faltoso, perdido que o
sujeito busca sempre reencontrá-lo. Esse objeto se situa no centro do nó borromeano como
já citado e é o motor da estrutura, sendo a própria causa da estrutura. Ele participa dos três
registros por estar na intersecção, entretanto por se tratar de um objeto inexistente,
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inapreensível o que importa deste é justamente seu registro no real. Pois é um objeto que
não possui em si um nome ou imagem, ele é causa de desejo porque opera no furo da
estrutura, em um vazio. Para além do registro real do objeto a e o que é apreensível é o que
Lacan irá chamar de imagens de a. Essas são as representações de cada sujeito que são
construídas pelo simbólico, através dos significantes do Outros, ou seja, o objeto que
satisfaz parcialmente a pulsão é justamente as imagens de a, visto que o objeto enquanto tal
é perdido. Por isso, que Freud sempre irá referir que o encontro com o objeto sempre é um
reencontro (Jorge, 2008).
Revisados estes conceitos agora é possível dissertar sobre as grandes estruturas
clínicas: a neurose, a psicose e a perversão. Ressaltamos que estas estruturas ainda
admitem subdivisões, todavia este trabalho não suportaria tamanha profundidade.
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AS ESTRUTURAS CLÍNICAS

A Neurose

A neurose é a estrutura formada a partir do recalcamento do significante primordial,


a castração. Isso irá trazer consequências para este sujeito, já que nos remete há um
registro de uma proibição.
O conceito de castração em psicanálise não refere-se a mutilação dos órgãos
sexuais, e sim a uma angústia vivida pela criança ao se deparar com a diferença sexual
(Nasio, 1995). O significante da castração representa para a criança que ela não poderá
realizar seus desejos incestuosos e que seu corpo tem limites, caindo desta forma da
posição de falo da mãe (Dor, 2003). Entretanto, a castração é um processo que ao longo da
vida do sujeito irá demandar uma resposta. A morte pode ser compreendida como algo
radical que representa a castração, pois ela nos remete a finitude do sujeito, dando-lhe um
limite (Dor, 2003; Lacan, 1999/1957-1958; Nasio, 1995)
Freud descreve que a neurose é um conflito entre o Eu e o Id (Freud, 1923/2007). O
Id é a sede das pulsões. Desta forma, seu intuito é a satisfação pulsional, desconsiderando a
realidade. O alvo da pulsão é a satisfação (Freud, 1915/2004b). Nesse texto, Freud
descreve ainda a pulsão em quatro termos. Ele diz que elas possuem uma pressão
constante, a sua fonte é no corpo, e o seu objeto é o que há de mais variável.
O Eu estaria a serviço da realidade e entra em conflito com tais exigências do Id. A
solução do conflito é o recalcamento. Entretanto, o recalcamento só é possível, porque o
significante primordial foi inscrito no ICS, ou seja, recalcado (Freud, 1924/2007a).
O recalcamento (Verdrängung) é o processo que funda o inconsciente (ICS) e
também o mecanismo que deixa afastado do sistema pré-consciente/consciente (PCS/CS)
os desejos ICS que geram desprazer neste último. Entretanto, temos uma contradição, ou
ele funda os sistemas, ou ele faz parte de dos sistemas. Esta contradição é resolvida por
Freud quando divide o processo de recalcamento em recalque originário, propriamente dito
e retorno do recalcado. Resumidamente, o recalque originário é aquele em que ocorre uma
fixação da libido em um determinado representante pulsional e esta é inscrita em um
“local” do aparelho psíquico, este “local” será o ICS. Já o recalque propriamente dito é
uma pressão posterior. Tudo o que se assemelhar ao recalque originário também sofrerá o
mesmo destino. Como a pulsão mantém uma pressão constante, o recalcamento nunca
poderá deixar de exercer a contra pressão, pois se isso ocorrer a barreira do recalque se
extinguirá, e o conteúdo tornar-se-á consciente. O retorno do recalcado é quando, através
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de modificações, pelo processo de condensação e deslocamento, os representantes


pulsionais ICS, encontram um representante no sistema PCS/CS que fale deles (Freud,
1915/2004a; Garcia-Roza, 2002). Garcia-Roza (2002) afirma que o retorno do recalcado se
trata de dupla inscrição, posto que o que está ICS jamais deixará de ser ICS. Então,
entende-se que o que está no inconsciente é a representação-coisa e no PCS/CS a
representação-palavra, já que o que é da ordem do ICS está inscrito em um “idioma”
indecifrável, sendo apenas possível saber dele através de um representante que fale dele
(Freud, 1923/2007; Garcia-Roza, 2002).
O sujeito que irá se estruturar como um neurótico reconhecerá e aceitará a
castração, ou seja, reconhecerá que possui limites, que não pode tudo. Abrirá mão dos
desejos incestuosos, tento que cair da posição de falo da mãe. O pai interditará o filho,
todavia em troca desta proibição, a saber, o incesto, a criança ganhará um nome, um lugar
subjetivo e poderá então falar de si enquanto um sujeito único (Lacan, 1957-1958/1999).
O falo passará a ser um falo simbólico, porque este admitirá substitutos, sendo que
o sujeito castrado é um sujeito faltante, pois o objeto é perdido se tornando causa de
desejo. O sujeito troca a relação incestuosa com a mãe por outros relacionamentos. Além
desta troca, há outros que buscaram preencher essa falta. O neurótico é um sujeito
impedido, porém desejante e situado em um lugar referido a um centro. Outro aspecto
importante é que, caso este sujeito venha adoecer, só poderá fazer isto dentro das
possibilidades da neurose, porque sua estrutura lhe garante esta possibilidade, lhe deixando
preso. Para fazer uma analogia pode-se utilizar o norte, que faz com que as pessoas se
guiem, evitando estarem perdidas (Calligaris, 1989).
Pode-se observar o impedimento neurótico nos casos que o próprio Freud tratou.
Como exemplo para pensar na questão neurótica temos o caso de Elisabeth Von R. Esta
paciente apresentava sintomas físicos como dores musculares, porém quando Freud a
examinava lhe beliscando a perna sua expressão era de prazer. Freud refere que a origem
de seus sintomas estava no desejo pelo cunhado, que lhe era proibido. Porém, quando sua
irmã morre tem o pensamento “agora ele está livre para mim”. Este pensamento sofre uma
repressão, por ser intolerável, pois revela seu desejo pelo cunhado (Freud, 1893-1895/s.d.).
Freud no texto “A Perda da Realidade na Neurose e Psicose” de 1924, faz referência a este
caso. Refere que na neurose há perda da realidade, logo o sujeito irá fantasiar. Freud
apresenta dificuldades em estabelecer a diferença entre o delírio e a fantasia, porém o que
fica estabelecido é que na fantasia há contato com a realidade (Freud, 1924/2007b).
Quando a fantasia sofre o recalcamento secundário, que foi fundamentado pelo
recalque primário, sendo que a pulsão não deixa de insistir em seu objetivo que é a
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satisfação, o que sobrevêm é o retorno do recalcado, que é o sintoma. O sintoma é a


formação de compromisso entre os dois sistemas ICS e Pcs/Cs. Desta forma, ele é a
satisfação pulsional mesmo sendo essa parcial (Jorge, 2010).
Quanto ao desenvolvimento psicossexual e do complexo de Édipo, pode-se afirmar
que o sujeito está genitalizado, que sua sexualidade é uma questão edípica, então pode ter
relações sexuais por ter avançado até a fase genital. A relação com os objetos é total. O
sujeito reconhece e aceita a castração e isso irá posicioná-lo na estrutura neurótica. Lacan
(1957-1958/1999), afirmou que primeiramente o pai priva a mãe de seu filho, de seu falo.
A privação é uma perda imaginária de um objeto real, a criança também é afetada pela
privação e é frustrada, para por fim ser castrada. A castração é simbólica e é ela que
permite que o sujeito reconheça seus limites e, portanto, acenda ao simbólico. Logo, isso
situa o neurótico na posição de faltante e passa a possuir uma falta, o que o torna um
sujeito desejante (Calligaris, 1989; Dor, 1996).
O que lhe faltará é o objeto perdido que Lacan irá denominar de objeto a, que é
causa de desejo. O objeto a é justamente o que o sujeito deseja e não tem acesso por ser
irrepresentável (Plon & Roudinesco, 1998). Por conseguinte, é o que preencheria o sujeito.
Esse objeto não pode ser acessado, pois de fato pertence ao registro do real, sendo o que
escapa a análise. Na neurose, o sintoma sempre se dá pelo retorno no simbólico, porque
existe um registro que situa o sujeito lhe garantido uma filiação. O sintoma é o retorno da
fantasia, sendo que o neurótico a recalca e esta sempre retornará (Jorge, 2010).
A grande marca da neurose é a fantasia, que está sob recalque. Segundo Nasio
(1991), a angústia de castração é o núcleo da fantasia neurótica. Como tudo o que está
recalcado tende a voltar, é no retorno dessa fantasia que o neurótico poderá dar diferentes
destinos para seu sintoma. Esses poderão ser convertidos em sintomas físicos, ou se fixar
em um pensamento, ou ideia, ou ainda ser projetados em um objeto externo. A neurose é
uma defesa contra a angústia de castração. Então, para o neurótico a construção do Outro é
primordial, afinal é isso que lhe importa. O recalque originário do significante primordial
que está ligado a pulsão incestuosa permite que os outros significantes sejam recalcados,
ordenando estes de forma organizada em cadeia (Víctora, 2007).
A neurose é a fuga da realidade, entretanto essa fuga é de sua realidade psíquica, ou
seja, das demandas do Id. A realidade elidida continua a se fazer ouvir através do sintoma,
que é simbólico. No neurótico o que está em questão é o registro simbólico, isso é possível,
pois há o recalque do significante nome-do-pai. O retorno do recalcado é o que aparece,
porém este é distorcido pelos processos ICS. Entretanto e diferentemente da psicose o
retorno sempre se dá no simbólico (Lacan, 1955-1956/1985).
19

O recalque originário do nome do pai substitui o desejo da mãe e impede que o


sujeito possua um gozo absoluto, que é impossível, para que este possa ter um gozo fálico,
parcial, que é dito como sexual. O gozo fálico é recortado pelos significantes e emoldurado
pela fantasia e o objeto desta é o pequeno a. O desejo é sustentado pela fantasia, pois o
objeto é perdido (Jorge, 2010).
Se para o neurótico o que lhe importa é o Outro, ele irá se questionar: o que o outro
deseja de mim? Esta é uma pergunta sem resposta, pois são as fantasias do jogo do falo,
imaginário e simbólico que determinaram a formação de compromisso, ou seja, os
sintomas neuróticos desse sujeito (Hassan, 1992).
Então, o neurótico é o sujeito que aceitou a castração e isso o deixa preso a algo.
Todavia, recebe o nome do pai, a consequência disso é que no discurso terá um sujeito,
algo que está ausente na psicose. Na neurose, a significação é fálica e, portanto universal,
diferentemente da psicose onde as significações são sempre singulares (Calligaris, 1989).
20

A Psicose

Na estrutura psicótica o mecanismo utilizado é da forclusão. Este mecanismo faz


com que o significante primordial não se inscreva, causando um furo no psiquismo do
sujeito. Segundo Plon e Roudinesco (1998), o conceito de forclusão é “(...) para designar
um mecanismo especifico da psicose, através do qual se produz a rejeição de um
significante fundamental para fora do universo simbólico do sujeito (...). Não é integrado
no inconsciente, como no recalque, e retorna sob forma alucinatória no real do sujeito.” (p.
245)
O mecanismo de forclusão (Verwerfung) é uma forma de “negação” especial. É tão
violenta que o sujeito chega a negar o primeiro momento do complexo de castração, que
compreende que todos seriam portadores de um pênis (falo), inclusive sua mãe. Não tendo
a percepção que todos possuem um falo, não há porque temer a castração. Este mecanismo
faz com que o sujeito fique na posição de falo, desta forma ele acredita ser aquilo que
preenche a falta do outro, e por sua vez também é completo (Nasio, 1995).
A forclusão (Verwerfung), consiste em deixar de fora a representação da castração.
A falta de inscrição no ICS do sujeito deste significante, a castração, faz com que este
fique sem um lugar subjetivo. A marca deste mecanismo é deixar a pessoa sem limite,
desta forma pode-se tudo, possibilitando em caso de adoecimento as alucinações e delírios.
Além disso, este mecanismo se caracteriza por um repúdio a este significante que é
insuportável, pode-se dizer que é a negação da fantasia que todos são possuidores do falo,
é um deixar de fora a igualdade e dessa forma a impossibilidade do sujeito questionar a
completude. Sendo assim, a questão da castração fica totalmente de fora, pois se é
“negada” a completude, automaticamente fica impossível a possibilidade da castração
(Nasio, 1995).
Na psicose, o sujeito fica preso na relação de objeto parcial. O seio para a criança
equivale ao significante primordial, porque ele é revestido pela representação do falo. A
relação da criança com o seio na verdade é de sua boca com o seio, marca do auto-
erotismo. Falta ao psicótico o apoio necessário para que ele possa desinvestir o seio
enquanto objeto parcial. Dessa forma, a criança não se coloca como um em relação ao
Outro, apenas como partes, não possuindo um corpo integral. Com a impossibilidade de
um corpo total, unificado a criança ficará alienada a demanda materna, ficando sem desejo,
uma vez que não há falta. A inexistência da falta se dá porque a mãe antecipa sua
necessidade não deixando faltar nada a seu bebê. Desta forma, a criança ficará completa,
mas alienada ao desejo materno (Aulagnier, 1991). Além disso, o sujeito psicótico é
21

compreendido como um sujeito sem desejo, porque o desejo é o enquadramento da pulsão


pela fantasia. Ora, se a fantasia é da ordem do simbólico e o psicótico não tem acesso a
este, por estar preso no registro do real de seu corpo ou no imaginário, o que lhe sobra é o
discurso delirante. Na neurose a alteração da realidade se dá pela construção da fantasia, já
na psicose pelo delírio (Jorge, 2010).
O sujeito estruturado como psicótico ficará preso na relação simbiótica com a mãe.
Não há entrada do terceiro, por isso o sujeito não reconhece a lei, esta fica de fora. Ao
contrário do sujeito neurótico, o psicótico não é barrado, interditado, podendo ser qualquer
um. Não podendo ascender ao simbolismo, o que se verifica no discurso deste. Em seu
discurso fica evidente a falta de metáfora. (Calligaris, 1989; Dor, 2003)
O psicótico ficará sem um lugar, sem uma filiação. Este sujeito não acreditou na
função paterna, não estando referido a um saber, e, portanto não está orientado a um ponto
central, que o referenciaria (Calligaris, 1989). Quando há entrada de um terceiro, no caso
da neurose, o sujeito realiza uma troca, aceita a interdição do pai, a saber, a proibição do
incesto, e se torna um sujeito interditado. Por outro lado, ganha uma posição subjetiva, ele
é um sujeito, possui um nome, o nome do pai.
Outra marca desse mecanismo fundamental da psicose se presentifica em seu
discurso. Esse é marcado por neologismos, porque o significante e o significado estão
cortados, afastados. Isso ocorre como consequência da não inscrição do nome-do-pai. O
neurótico possui o ponto de capiton, que é o ponto central que amarra a cadeia de
significantes, algo que está ausente no psicótico. Portanto, o sujeito na psicose é habitado
pela linguagem e pode falar em uma língua exclusivamente sua, que é o delírio. Como
pode ser observado na língua fundamental a qual Schreber dizia que se comunicava com
Deus (Herrmann, 2004).
O que importa para o psicótico é o corpo. O corpo é o registro do real. Lacan refere
o que não pode ser simbolizado volta sobre o real. Isto pode ser observado no caso homem
dos lobos (Freud, 1918[1914]/s.d.), que o paciente alucina que seu dedo foi cortado. O que
podemos observar neste caso é que a castração que não foi inscrita no simbólico apareceu
no real, ou seja, no corpo. Os sujeitos estruturados como psicóticos não diferem o corpo e a
imagem deste no espelho. É por isso que uma criança pequena quando presencia outra
criança rindo ou chorando acaba repetindo o mesmo ato, porque não se diferencia da outra
(Hassan, 1992). O corpo é compreendido como aquilo que representa o real, pois não pode
em sua totalidade ser refletido no espelho e capturado pelo imaginário. Lacan (1955-
1956/1985), irá referir que a alucinação é algo que não pode ser simbolizado, desta forma
voltará sobre o real. O que não pode ser simbolizado no caso da psicose, e portanto foi
22

forcluído é a castração. Vejamos que o paciente do homem dos lobos não revela a sua ama,
a quem era sua confidente, sobre sua alucinação, porque esta lhe remete diretamente aquilo
que é insuportável para ele, então lhe falta a palavra (Lacan, 1953-1956/1985).
Outra característica destes sujeitos é o discurso vazio, marcado por neologismos, e
por uma verborréia, ou seja, repetem as palavras como papagaios, sendo estas sem
significado, por isso podem passar de um assunto a outro. Não há metáfora como referido
acima, as palavras possuem apenas um significado, não há espaço para a simbolização
(Calligaris, 1989). Algo importante de salientar aqui é que no neurótico há um sujeito
suposto saber, ao menos um detém o saber, entretanto este saber comporta erros, pois a um
deslizar de significantes. Já no caso do psicótico há apenas um saber, por isso que há
impossibilidade da metáfora (Calligaris, 1989). Na psicose há uma certeza e isso que faz o
questionamento ser ausente nas alucinações e delírios desses sujeitos. Esses sujeitos tem
plena convicção de suas construções, pensamentos, que podem ser percebidos nos relatos
do presidente Schreber. Além desses, pode-se observar nos discursos religiosos onde só há
espaço para uma verdade e essa é inquestionável (Coriat & Pisani, 2001).
A forclusão possibilita que o sujeito não possua interditos internos, porém lhe nega
uma filiação. O sujeito sempre estará em busca de algo que possa cobrir o furo deixado por
este mecanismo. No sujeito neurótico há uma falta que é origem do desejo, pois lhe falta o
falo, ou seja, o que lhe faz completo, já que ele é interditado. Já na psicose o sujeito se
posiciona como aquele que preenche a falta e por isso é “completo”, entretanto lhe falta à
filiação que lhe garante um lugar, preso a um centro que o direcione (Calligaris, 1989).
Como citado acima, a castração volta sobre o real, quando não pode ser
simbolizada. Isto ocorre porque a castração demanda o sujeito o tempo todo, pois os
limites se apresentam continuamente para todos. Quando o significante primordial é
evocado pelo sujeito só há o vazio, então, a realidade é modificada pelo sujeito. Freud
(1924/2007b) escreve que o sujeito modifica sua realidade para poder lidar com a angústia
de castração. O psicótico poderá encontrar algo que o interdite no externo. O sujeito poderá
utilizar o trabalho, a religião, o estudo entre outros, como algo que lhe garanta a filiação.
Então, para o psicótico o trabalho falará dele. Como ele não possui o ponto central que
amarra todos os demais significantes, pois este foi forcluído, poderá encontrar algo que lhe
situe. Pensando clinicamente um exemplo pertinente para visualizar como o sujeito lida
com a questão da filiação, é alguém que recebe um diagnóstico e se utiliza deste para falar
de si.
23

A psicose consiste na falta de um lugar para o sujeito, que impede a simbolização.


Tudo está no corpo que lhe falta, continuará alienado na imagem especular, que é a
verdade do outro (Hassan, 1992).
No caso Schreber, pode-se observar como ele estava alienado na imagem do outro,
a da mãe, quando, em seu delírio, pensa como seria bom ser uma mulher na hora do coito,
e também, quando frente ao espelho se vê adornado de colares e adornos femininos, e além
de caracteres femininos secundários. Esta imagem captura-o, transformando-o em mulher,
isto é possível pela ausência da inscrição da metáfora paterna, permitindo que ele seja
qualquer um, até uma mulher, e mais ainda a mulher de Deus (Freud, 1911/s.d.). Neste
caso é possível perceber a relação que os sujeitos estruturados como psicóticos possuem. O
presidente Schreber nas suas memórias escreveu que seu esôfago foi cortado em pedaços,
que seu pulmão foi infestado por vermes que fizeram que este encolhesse até quase
desaparecer. Conta ainda que deglutiu sua laringe (Freud, 1911/s.d.). Nesses, relatos fica
claro que seus delírios estão no real de seu corpo, todavia se referem à castração, a
ausência de algo, uma falta no real de seu corpo. Freud (1911/s.d.) refere que a psicose é
uma prevalência do narcisismo. O psicótico ficaria preso no investimento libidinal
direcionado ao seu próprio eu, não levando em consideração o externo, que por sua vez é o
amor objetal, visto que a criança quer ser amada, e ama a si através de sua imagem
especular. A imagem especular é o seu reflexo na imagem materna, ou seja, é o retorno que
a mãe dá a seu bebê (Jorge, 2010; Coriat & Pisani, 2001). Lacan (1955-1956/1985) refere
ao presidente Schreber é o alienado, pois o sujeito está preso no real. A função do analista
é dar ouvido ao discurso sendo seu secretario, porque o psicótico mesmo em meio a seus
delírios comunica. Sendo a função do pai real que lhe retorna no delírio de uma forma
imaginária. A função de pai real, como aquele que procria, que fecunda.
Para concluir, percebe-se que o psicótico é o próprio objeto de desejo do outro, um
dejeto, um resto (Hassan, 1992). Qualquer forma de estruturação é uma defesa contra a
prisão do real, do corpo. O sujeito necessita ser mais que uns quilos de carne. As questões
que foram apresentadas sobre a estrutura psicótica podem ser percebidas na relação
transferêncial. Portanto, na clínica psicanalítica é possível um diagnóstico estrutural da
psicose mesmo na ausência de sintomas fenomelógicos de uma crise psicótica como:
alucinações, delírios (Calligaris, 1989).
24

A Perversão
A renegação (Verleugnung) é o mecanismo da perversão. Etimologicamente este
termo refere-se à negação da negação, então o que é negado duas vezes, se torna presente.
É como uma equação matemática onde negativo com negativo é igual a positivo. O que é
renegado é a castração, portanto o sujeito que se utiliza deste mecanismo pode triunfar
sobre a castração. A renegação causa no sujeito uma cisão psíquica, de um lado ele
reconhece a castração, recalca, de outro lado ele “nega” este significante. É por isso que o
sujeito consegue transpor a lei (Valas, 1990).
Segundo Roudinesco e Plon (1998) este é um mecanismo descrito por Freud que é
caracterizado pela recusa de uma realidade negativa, ou seja, da falta no outro. Neste caso,
o que o sujeito irá negar é a ausência de pênis na mulher, onde havia falta, agora há
presença.
Pode-se referir que a marca da renegação é realizar a fantasia que no neurótico está
recalcada. Neste sentido, Freud refere que a neurose é o negativo da perversão (Jorge,
2010). Há perda da realidade tanto na psicose como na neurose, entretanto enquanto o
psicótico delira, o neurótico fantasia e recalca e o perverso realiza esta fantasia. Falando
imaginariamente o perverso é aquele que realiza o incesto (Freud, 1924/2007b; Jorge,
2010).
Freud (1927/2007) faz a diferenciação entre renegação e escotomização. Ele
escreve que a segunda refere-se à anulação, ao apagamento da percepção da ausência de
pênis na mulher. Já na renegação o sujeito reconhece a falta, entretanto irá negar. O
perverso irá cobrir a falta, ou seja, utilizará um objeto que inutilize o registro real da falta.
Nesse artigo o fetichismo é apresentado como modelo de estudo das perversões.
O vocábulo fetiche vem do latim factitiuns que significa feito com intencionalidade,
sendo que em francês é fetiche e para o português feitiço (Hassan, 1992). Portanto, será
algo que enfeitiça o sujeito que o seduz de tal maneira que o captura. Então, o fetichismo
poderá ser uma saída para os perversos, pois lhe garantem certo triunfo sobre o significante
da castração (Valas, 1990). Cabe lembrar que a estrutura perversa é diferente de
perversidade. A perversão é como o sujeito irá responder a castração. A perversidade pode
estar presente em alguns perversos, mas não é ela que caracteriza a estrutura, já que a
perversidade diz respeito à maldade e a crueldade. Este esclarecimento se faz necessário
porque a estrutura é o modo como o sujeito se constitui, desta forma não estará enquadrada
em questões morais. Entretanto a perversidade é julgada pela moral e condenada por esta
(Valas, 1990).
25

Se na neurose o sujeito é referido a um centro, e na psicose ele fica sem referência,


então na perversão onde deveria estar o registro da castração está vazado, apagado (Jorge,
2010). Para ficar mais didático pode-se referir da seguinte forma na neurose está escrito, na
psicose nada foi escrito e na perversão foi escrito, entretanto está apagado, porém o que
fica é a marca desta escrita.
A cisão que o sujeito sofre em virtude do mecanismo de renegação é de seu próprio
eu. O eu ao mesmo tempo em que irá reconhecer a realidade, irá recusá-la, ou seja, o
perverso sabe que a mulher não tem pênis (falo), entretanto negará, recusará esta realidade.
Esta realidade convoca sua angústia de castração, pois se alguém não possui o falo ele
poderá perder o seu (Dor, 1991). Por isso, que o objeto de fetiche é considerado como
substituto do falo. O fetichismo pode ser a direção da cura para o perverso, assim como o
delírio é para psicose. Quando o sujeito se depara com a mulher desnuda percebe que há
uma falta, dessa forma o fetichista resolve a questão colocando um onde há ausência. No
entanto não significa que todo perverso seja fetichista, mas a questão sempre é a mesma, o
triunfo sobre a castração (Valas, 1990).
A cisão do eu é um processo de defesa primeiramente descrito por Freud
(1938/2007) como algo referente às psicoses, depois associado ao fetichismo. Todavia, ele
percebe que há uma cisão psíquica na neurose, na psicose e no fetichismo. Por fim, chega à
conclusão de que se tratava de algo específico da perversão, pois a cisão da neurose é algo
intersistêmico, ou seja, entre o eu e o id e na perversão é intrassistêmico, ou seja, dentro do
mesmo sistema. Diferentemente do psicótico que nada sabe sobre a castração, que não
percebe a diferença sexual, o perverso sabe, mas mesmo assim insiste em “negá-la”. O que
ocorre é que o sujeito coloca a representação do pênis (neste caso é o falo que está sendo
referido) em outro lugar de seu corpo, dessa forma fica protegido contra a castração. Para
tal, é necessário o mecanismo que irá dividir o eu, pois em parte ele percebe a ausência de
pênis, a sua questão fica resolvida. Isso tem um custo que é a própria divisão do eu que se
torna irrecuperável, além de que o sujeito continuará com o medo da castração, e para
aliviar-se repete seus atos perversos (Dor, 1991; Freud, 1938/2007).
Continuando na perspectiva teórica a Verleugnung (renegação) é uma operação no
registro do real e volta sobre o imaginário, pois a questão da castração convoca a todos os
sujeitos não importando sua estrutura (Anchieta, Coimbra, Lisboa, Mello & Vilela, 2004).
Isso significa que perverso afirma a questão do falo. Para ele o que lhe importa é o falo e a
castração fica “negada” não causando o mesmo efeito que no neurótico. No caso da
neurose, a castração aprisiona o sujeito fazendo com que este ascenda ao simbólico. Na
perversão, o falo continuará sendo imaginário, aquele que é imperativo, que preenche a
26

falta deixando o sujeito completo imaginariamente. A diferença entre a perversão e a


psicose é justamente a tentativa de apagar a castração, que no caso dos psicóticos não há
reconhecimento (Freud, 1927/2007; Hassan, 1992; Valas, 1990). Além disso, no exemplo
do fetichismo há modificação no real com o objeto fetichista, entretanto o objeto é
imaginário, porque a calcinha, a bota, a cinta liga entre outros, ocupam um lugar de poder
que de fato eles não possuem.
Enquanto no neurótico o sujeito reconhece seu limite, perdendo a possibilidade de
gozo total, mas por outro lado ganha um nome e um lugar subjetivo, na perversão pode
transpor a lei, mas fica preso na questão de repetir o ato perverso. Isso pode ser observado
na questão do fetichismo, ou de outra manifestação perversa. O perverso precisa do objeto
de fetiche mesmo que em algum momento queira deixá-lo de lado. É por isso que Hassan
(1992), afirma que o perverso é normal, assim como o neurótico e o psicótico, pois o que
lhe importa é o falo. O diagnóstico estrutural se dá em outro modo de compreender o
sujeito que é para além do normal e patológico. Pode-se observar que há perdas, ou
fragilidades em todas as estruturas.
Além dos aspectos acima descritos, é necessário pensar sobre a parcialidade da
sexualidade na perversão. A pulsão continua sendo parcial para o perverso. Freud
(1905/s.d.) escreve que a criança possui uma sexualidade, perverso-polimorfa, ou seja,
perversa por não ser genital e visar somente ao prazer e polimorfa, pois há muitas formas
de satisfação. A pulsão difere do instinto justamente por apresentar uma pressão constante,
seu objetivo ser sempre a satisfação e seu objeto, sendo que é através deste que encontra
seu objetivo, é o mais variável possível. Entretanto a pulsão é só satisfeita parcialmente,
pois o objeto que a satisfaria por completo é inexistente (Freud, 1915/2004b; Garcia-Roza,
2002).
Na neurose há a fixação em uma ficção ou fantasia, já o perverso fica preso em
repetição de seu ato, ou seja, preso no gozo do Outro (Anchieta et al., 2004). Este é
correspondente da satisfação plena, onde a tensão cessaria por completo. O sujeito supõe
este gozo no outro, sendo que este outro também é suposto (Nasio, 1993). Daí a questão da
repetição em ato dos perversos, pois há uma suposição de gozo total, porém este nunca
ocorre. Para tanto é preciso que outro ato sobrevenha para que o significante da castração,
que é justamente o que lhe angustia, fique apagado.
Mas o que seria o gozo do perverso? Antes de responder a essa pergunta é
necessário compreender o que é o gozo. Poderia dividir o gozo em três modos de gozar.
Sendo o primeiro um gozo fálico e por esse compreende-se um gozo limitado,
intermediado pelo falo, ou seja, um gozo parcial. O mais-gozar seria um resto de gozo a
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tensão que sobre no ICS. Já o gozo do Outro seria, por sua vez, um gozo total onde não
haveria tensão alguma, que pode ser associado à própria morte, como a ausência de tensão
ou ao ato incestuoso. Entretanto, o gozo total, ou gozo do outro não passa de uma ficção
algo que não pode ser atingido, de uma miragem (Nasio, 1993). Aparentemente esse, no
caso da perversão, é obtido a preço da transgressão. Entretanto o perverso está sempre
preso ao gozo do Outro, o que esse sujeito busca incessantemente é tapar o furo do outro,
desse modo fica desconstruída por completo a associação de perversão e perversidade já
citada acima. O perverso fica preso em suas encenações e descobre com horror o limite de
sua montagem imaginária. Essa montagem é a tentativa de provar a não existência da
diferença entre os sexos (Dor, 1996). Se a castração remete ao limite, a finitude, então se
pode compreender que é isso que o perverso não suporta. Na verdade, a castração é um
significante insuportável para todos os sujeitos, pois ela ataca a onipotência infantil. O ato
perverso seja lá qual for é sempre um triunfo sobre este significante. Então, o perverso não
se torna autônomo por transpor a lei, mas sim um escravo do gozo do Outro (Dor, 1996;
Julien, 2009). O perverso acaba por se identificar imaginariamente com a mãe, por supor
que esta possua o falo. Então, ele ultrapassa o primeiro tempo do Édipo onde a dialética é
se ser ou não ser o falo, entretanto nega a diferença dos sexos por ter que possuir o falo que
é o desejo de sua mãe (Dor, 1996, Oliveira, 1996). Dor (1996) afirma que o perverso faz
com que a mãe tenha um falo, para que a diferença seja apagada, desta forma tira o pai de
cena, pois se a mãe é faltante e deseja um falo, a criança lhe deu um. Pode-se perceber que
é um circuito que a criança coloca um falo na mãe e se identifica com ela.
Conforme citado acima, ser o falo da mãe é possuir uma identificação fálica. Para
que se possa prosseguir na caracterização da estrutura perversa são necessários alguns
esclarecimentos. A criança possui certeza de sua identificação fálica, e para que esta seja
questionada é imprescindível que o pai atue como mediador. O pai se presentifica para a
criança de três modos o pai real, o pai imaginário e o pai simbólico. O pai real é a pessoa o
genitor ou não, é o ser que se coloca. O pai imaginário é o produto de projeções da mãe e
da própria criança, que formarão a imagem paterna, sendo que para a criança é esse que lhe
importa, muito mais que o real, pois é esta construção imaginária que configura o pai. Já o
pai simbólico é aquele atribuído da função fálica, ou seja, o portador do falo e por sua vez
o detentor da lei. A mãe deixa em suspenso o seu desejo, pois em seu discurso esse devia
remeter ao pai simbólico, com isso o questionamento da identificação fálica da criança fica
em suspenso permitindo desta forma uma identificação perversa em virtude da economia
do desejo (Dor, 1991).
28

A perversão se ancora na atribuição fálica da mãe, essa é originária da concepção


que alguma coisa deveria estar no lugar onde há falta, pois o que é insuportável para a
criança é a percepção da diferença dos sexos, já que esta remete diretamente a castração.
No imaginário da criança se há diferença, e essa é pautada na ausência de algo, logo
também poderei perder (sempre tendo em vista que o falo (pênis) é imaginário e não real).
Nesse ponto a criança possui três saídas à primeira seria aceitar a castração e com isso
desenvolver uma inesgotável reação sintomática que chamamos de neurose, ou recusa sob
a égide de transgredi-la, mas o que é a transgressão que o perverso executa? Trata-se da lei
paterna, entretanto não se trata de não reconhecer essa lei, pois se fosse de tal forma, o
sujeito teria forcluído, e estaria estruturado como psicótico. Então, possui acesso ao gozo e
a lei, portanto o lugar do gozo será justamente em transpor esta lei que o interdita. Como
consequência dessa saída que o perverso encontra fica cativo ao desafio e transgressão da
lei. No caso da neurose o sujeito reconhece e confia na lei paterna e dessa forma renuncia
seu desejo primordial, entretanto ascende ao estatuto que lhe autoriza ao desejo, como
desejo do desejo do outro, em fim o neurótico pode encontrar objetos substitutivos. Já o
perverso se encontra cativo à economia psíquica, que lhe esgota, porque só reconhece a lei
de seu desejo. Para tal, fica preso aos ritos esses são os atos perversos a rigidez que se
percebe na repetição que estes sujeitos estão aprisionados (Aulagnier-Spariani, 2003; Dor,
1991; Dor, 1996).
Para pensar um pouco na clínica da perversão apresenta-se um caso de Leimoine
(1989) O homem da caneta bic. Lemoine (1989) relata um caso em que um jovem de vinte
e oito anos lhe procura para tratamento porque desejava se livrar de um sintoma incômodo.
O paciente não conseguia fazer amor com uma mulher se antes não fizesse alguns riscos
em seu peito com uma caneta bic. Ele chama estes riscos de tatuagens. As tatuagens
tinham valor de fetiche. Na história do paciente apareceu que certo dia sua mãe referiu que
iria fazer um traço no braço de seus filhos, pois se ela os perdesse na multidão logo
reconheceria. Depois, quando maior, se pintou com canetas e foi brincar de Tarzan no
pátio da firma de seu pai, com uma mistura de medo e desejo que o vissem, depois ia ao
banheiro e se masturbava sendo que este ato se repetia continuamente. Quando adulto, se
aplicou um carimbo de um chefe temido que dizia: “para classificar”, depois ia ao banheiro
se masturbar. Por fim, só poderia entrar em contato com mulheres se realizasse o ritual de
escrever sobre seu corpo e depois que gozasse apagava tudo.
O paciente repete a questão de se classificar, de ter uma marca que o diferencie, por
um lado não sendo igual à multidão, entretanto por outro lado o deixava preso à mãe.
Também se observa a questão do gozo do Outro, pois procurava ser visto quando marcado
29

por tinta. Além da questão ser repetida continuamente sem poder pensar era apenas a
tradução em ato. Um aspecto muito interessante desse caso é a questão de apagar tudo após
o gozo, que se trata de um apagar o que de certa forma era a diferença, pois se a marca de
caneta era para que sua mãe lhe encontrasse na multidão, isso causa a diferença, se apagar
a marca desaparece a diferença. Então, os riscos de tinta possuem uma função dupla,
ambígua que é de servir como fetiche, ou seja, de ocupar o lugar de falo para não ter que se
confrontar com a angústia de castração. E também para poder ser apagado simbolizando o
triunfo do perverso sobre a castração.
O estudo das estruturas clínicas proporciona que a subjetividade que havia caído em
descaso, seja novamente questão para a psicologia. O conceito de sujeito aparece para se
falar dessa subjetividade, que é singular de cada um. Por isso, sujeito e individuo não são o
mesmo, sendo que sujeito é uma função que está atrelada ao simbólico, e portanto ao
significante. O sujeito é desprovido de substância, pois o mais importante é saber qual o
lugar que esse ocupa na estrutura, pois ele ocupa o lugar entre dois, ou seja, entre a pulsão
e o inconsciente. Se a pulsão é um conceito fronteiriço entre o que é da ordem do orgânico
e do psíquico, e o inconsciente é da ordem do psíquico, o sujeito é algo que não pode ser
capturado, não pode ser apreendido, a não ser pelo discurso, porque o sujeito é efeito da
linguagem. Entretanto a um paradoxo, pois o inconsciente é um conceito que está para dar
conta do que é o sujeito, ou seja, por existir um sujeito é que o inconsciente foi pensado. O
sujeito é anunciado por Freud no texto a injeção de Irma, este é um sonho que o próprio
Freud teve e nesse podemos perceber que ele anuncia a questão do sujeito. Porque o sujeito
é o entre dois, onde brota o desejo. Se o desejo só pode estar onde há falta, da mesma
forma o sujeito está ali, pois é o sujeito do inconsciente, que é efeito de linguagem e
portanto efeito da estrutura, ou seja, o sujeito é reconhecido pela forma que este se
estruturou. A questão retorna ao princípio, pois as estruturas são modos de como o sujeito
irá lidar com o significante da castração, que consequentemente determinará a amarragem
dos demais significantes, porque o valor do significante não está em seu significado e sim
que um sempre irá remeter ao outro dando ideia de um continum. Por fim, cabe o clínico
escutar o sujeito através da sua subjetividade, para além de um simples olhar
fenomenológico e empírico (Cabas, 2010; Oliveira, 1996; Vorcaro, 2009).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O diagnóstico estrutural como é proposto neste trabalho é contemplado na


academia apenas de forma introdutória, por se tratar de algo especifico da psicanálise.
Todavia, este constructo teórico das estruturas clínicas é mais uma possibilidade para a
psicologia desenvolver seu trabalho, pois apresenta outro modo de compreender o sujeito.
Aprofundar o estudo das estruturas clínicas é um desafio grande por se tratar de algo
extenso, entretanto é possível na medida em que este trabalho não possui o intuito de
esgotar com o assunto e sim de proporcionar um inicio a este estudo. Para a expansão das
estruturas clínicas foram revisados conceitos básicos como: o de recalcamento, o de
forclusão, o de renegação, bem como o conceito de complexo de Édipo descrito por Lacan.
Todavia é evidente que estes conceitos ainda podem ser mais detalhados, pois no
transcorrer do trabalho pode-se perceber que os conceitos possuem muitos
desdobramentos.
Na contemporaneidade somos convocados enquanto profissionais da saúde, a
construir uma clínica que pense o sujeito fora do contexto da norma dos manuais
classificatórios, porque a reforma psiquiátrica, a diretiva do Ministério da Saúde sobre
redução de danos exige que o paciente seja compreendido para além de sua patologia. As
estruturas clínicas são classificatórias, entretanto de um modo mais dinâmico, em que a
neurose, a psicose e a perversão são compreendidas como faces da normalidade e não estão
relacionadas às patologias obrigatoriamente. Elas delimitam as possibilidades de
adoecimento, pois se o paciente adoecer será de acordo com sua estrutura.
Conhecendo a estrutura do sujeito poderá trabalhar-se na prevenção do
adoecimento psíquico. Além disso, é a estrutura que irá nortear o tratamento. A técnica
psicanalítica em um primeiro momento é desenvolvida para neuróticos, então para que se
possa aceitar um sujeito em tratamento que está fora da neurose foi necessário rever a
técnica. Isso aconteceu também quando houve uma adaptação da técnica para o tratamento
de crianças, pois o brincar equivaleria à associação livre do adulto, sem ser o mesmo. A
técnica não foi alvo desse estudo, porém essa fica inseparável da teoria, ou seja, se há uma
teoria é para fundamentar uma técnica. As duas formam a práxis clínica, portanto é através
do aprofundamento da teoria que a clínica irá se expandir.
Como já citado acima a questão da amplitude do tema é algo que dificultou a
conclusão dessa pesquisa. Uma das dificuldades foi à falta de tempo para buscar mais
leituras e a outra foi o nível de complexidade dos textos, por esses serem herméticos em
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demasia dificultando a compreensão. Então, por mais que o trabalho tenha atingido seus
objetivos a sensação é que sempre está faltando algo, visto que por mais que se aprofunde
este assunto ele nunca se esgotará.
Portanto é evidente que o trabalho não esgotou o assunto das estruturas clínicas,
visto que se pode admitir algumas subdivisões: a neurose pode ser dividida em histeria,
obsessão e fobia. Todas estas estão sob recalcamento, porém apresentam particularidades.
Na psicose da mesma forma temos a esquizofrenia, a paranoia e a melancolia. Já no caso
da perversão fica mais complicado, pois é muito variada apresentando diversos
desdobramentos. Entretanto de modo geral pode-se pensar no fetichismo, na
homossexualidade, no sadismo, no masoquismo, no voyeurismo, no exibicionismo, faces
da estrutura perversa que estão descritos na literatura desde Freud. Ainda no ponto de vista
teórico o estudo admite aprofundamentos na perspectiva do desenvolvimento libidinal ao
longo do ciclo da vida. Nesse sentido a ampliação do estudo das estruturas se da pelos
pontos de fixação nas fases oral, anal e fálica, apontando as consequências constitucionais
do sujeito. Além disso, poder-se-ia aprofundar sobre a questão da drogadição, se essa
estaria restrita ou não a uma única estrutura. Portanto, há possibilidades de expandir este
trabalho, qualificando cada vez mais a formação profissional em psicologia, por ampliar as
perspectivas teóricas.
Já como trabalhador na saúde mental do município o diagnóstico das estruturas
clínicas se faz muito pertinente, pois permite compreender o sujeito na sua subjetividade.
A partir do modo de estruturação do sujeito/usuário/paciente, que está inserido na rede
pública, o projeto terapêutico singular (PTS) tem como objetivo um tratamento direcionado
para o sujeito em questão e não apenas para a sua classificação psicopatológica nosológica.
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