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Três das questões mais freqüentemente levantadas, para as der o conteúdo do inconsciente do paciente a partir das coisas
quais as respostas devem parecer absurdas, são: "Como você li que ele fala é, relativamente, a parte mais simples da tarefa do
da com o problema da transferência?", "De que forma sua tera analista. Lidar com a transferência é o mais difícil" (56, p. 29).
pia trabalha com o diagnóstico?" e "Em que tipos de situações Para verificar a exatidão do nosso entendimento do concei
a terapia centrada no cliente é aplicável?" Quando as respostas
to da transferência e da maneira de lidar com ela, podemos exa
são "A transferência, como um problema, não aparece", "O
minar algumas citações breves extraídas de referências psicanáli
diagnóstico é considerado desnecessário" e "Talvez a terapia cen
ticas de peso. Freud faz um resumo bastante claro em seu artigo
trada no cliente aplique-se a todos os casos", provavelmente há
na Britannica:
um aumento da pressão sangüínea na pessoa que perguntou, mas
pouca comunicação adicional sobre o significado das respostas.
Por "transferência" referimo-nos a uma peculiaridade notá
Talvez examinando cada uma dessas questões com mais detalhes
vel dos neuróticos. Eles desenvolvem em relação a seu analista re
possamos chegar a uma melhor compreensão.
lações emocionais, tanto de caráter afetuoso quanto hostil, que não
são baseadas na situação real, mas derivam de suas relações com
os pais (o complexo de Édipo). A transferência é uma prova do fa
o problema da transferência , I to de que os adultos não superaram sua antiga dependência infan
til; coincide com a força a que se chamou "sugestão"; e só quando
aprende a fazer uso disto o analista está capacitado a induzir o pa
o SIGNIFICADO DA TRANSFERÊNCIA ciente a superar suas resistências internas e libertar-se de suas re
pressões. Assim, o tratamento psicanalítico age como uma segun
da educação do adulto, como uma correção de sua educação quan
Para o terapeuta de orientação psicanalítica, os conceitos de do criança. (66, p. 674)
transferência, relação de transferência e neurose de transferên
cia adquiriram vários significados importantes, que se aproxima Este é um relato sucinto do significado da transferência e do
ram da essência de sua linha terapêutica. propósito do analista ao utilizá-la.
Não é fácil para mim colocar-me na estrutura de referência Fenichel descreve os métodos do analista para lidar com as
do analista e compreender totalmente o significado que esses con atitudes de transferência:
ceitos têm para ele. Até onde posso entender, porém, parece-me
que transferência é um termo que se aplica a atitudes que, origi A reação do analista à transferência é a mesma em relação a
nalmente dirigidas a um dos pais ou a outra pessoa, são transfe qualquer outra atitude do paciente: ele a interpreta. Vê na atitude
ridas para o terapeuta. Essas atitudes de amor, ódio, dependên do paciente um derivativo de impulsos inconscientes e tenta mos
cia e assim por diante são utilizadas pelo analista como uma ex trar isso ao paciente. (56, p. 30)
pressão imediata das atitudes e dos conflitos básicos do cliente,
e é através da análise dessas atitudes que se desenvolve a parte o trabalho interpretativo sistemático e coerente, tanto dentro
como fora do quadro da transferência, pode ser descrito como uma
mais significativa da psicanálise. Por esta razão, o método em
educação do paciente para produzir cada vez menos derivativos dis
pregado para lidar com as atitudes de transferência é a parte mais torcidos, até que seus conflitos instintuais fundamentais sejam re
importante do trabalho do analista. Fenichel afirma: "Compreen- conhecíveis. (56, p. 31)
TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE TRÊS QUESTÕES LEVANTADAS
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ATITUDES DE TRANSFERÊNCIA NA TERAPIA CENTRADA NO CLIENTE Em geral, portanto, podemos dizer que atitudes de transfe
rência existem em graus variados numa porção considerável dos
Quando examinamos nossa experiência clínica em terapia casos tratados por terapeutas centrados no cliente. Quanto a is
centrada no cliente e os casos gravados, parece ser correto dizer so, todos os terapeutas se assemelham, pois todos enfrentam tais
que atitudesjortes com natureza de transferência ocorrem numa atitudes. A diferença está no modo como são tratadas. Em psi
minoria relativamente pequena de casos, embora ocorram em al canálise, essas atitudes parecem desenvolver-se caracteristicamente
gum grau na maioria dos casos. para uma relação que é central à terapia. Freud descreve este ponto
Em muitos casos, as atitudes em relação ao orientador são nos seguintes termos:
brandas e de caráter real, não de transferência. Assim, o cliente
pode sentir-se um pouco apreensivo quanto ao primeiro encon Em todo tratamento analítico surge ... uma intensa relação emo
tro com o orientador; pode sentir-se aborrecido nas primeiras en cional entre o paciente e o analista ... Esta pode ser de caráter posi
trevistas por não receber a orientação que esperava; pode sentir tivo ou negativo e pode variar entre os extremos de um amor apai
xonado, completamente sensual, e a expressão desenfreada de um
uma empatia agradável com o orientador à medida que vai in
desafio e ódio acirrados. Essa transferência ... logo substitui na men
vestigando suas próprias atitudes; deixa a terapia com um senti te do paciente o desejo de ser curado, e sendo afetuosa e modera
mento de gratidão para com o orientador por ter lhe proporcio da, torna-se o agente da influência do clínico e nada mais nada me
< ,
nado a oportunidade de resolver as coisas por si mesmo (mas não nos do que a mola mestra do trabalho conjunto da análise ... [Se]
um tipo de gratidão forte ou dependente); e pode encontrar o convertida em hostilidade ... pode então paralisar o poder de asso
orientador socialmente ou profissionalmente, durante ou após a ciação do paciente e colocar em risco o sucesso do tratamento. No
entanto, não haveria sentido em tentar evitá-la; pois uma análise
terapia, experimentando pouco de afeto além do que está nor
sem transferência é impossível. (64, p. 75)
malmente envolvido na realidade imediata da relação entre eles.
Isto parece descrever para muitos, talvez para a maioria de nos Na terapia centrada no cliente, porém, essa relação de trans
sos clientes, o afeto dirigido ao orientador. Se a definição de trans ferência dependente, complexa e persistente não tende a desen
ferência incluir qualquer tipo de afeto dirigido aos outros, então volver-se. Milhares de clientes passaram pelas salas de orienta
isto é transferência; se a definição refere-se à transferência de ati dores com os quais o autor teve contato pessoal. Apenas uma pe
tudes infantis para uma relação atual na qual são inadequadas, quena minoria dos casos tratados desenvolveu uma relação que
então muito pouca, ou nenhuma transferência está presente. poderia, de alguma forma, encaixar-se nos termos de Freud. Na
Há muitos casos, porém, em que as atitudes emocionaliza maioria dos casos, a descrição da relação seria muito diferente.
das dos clientes em relação ao orientador são muito mais fortes.
Pode haver um desejo de dependência, acompanhado de um pro
fundo afeto; pode haver um sentimento de medo, semelhante aos O MODO DE LIDAR COM ATITUDES DE TRANSFERÊNCIA NA TERAPIA
a esta área. Não fizeram pesquisas constantes e, no entanto, fazem A adequação deste tipo de explicação é verificada também
exatamente a mesma coisa com sucesso, me parece, porque é exa num trecho da décima segunda entrevista, onde a cliente tenta
tamente a mesma coisa. Em outras palavras, sinto que você está colocar em palavras o significado que a relação tem para ela. Ela
perdendo seu tempo, porque gastou tanto tempo e esforço, sei que parece descrever em termos articulados o que muitos clientes des
sim, para atingir o estágio em que está e, bem, estou lhe dizendo
creveram de forma menos clara.
isto com a sensação de que não está me fazendo bem nenhum. Mas
depois que discuti isto comigo mesma e te chamei de tudo quanto
é nome (O: Hum.), quando subi os degraus aqui, pensei de repente C540: A propósito, há uma coisa que eu fiquei o tempo todo
que o motivo por que não quero e não aceito isto tem a ver com querendo perguntar. Você fica aí sentado e me escuta, e escuta meus
a mesma sensação de nervosismo e tensão toda vez que venho aqui. problemas que, afinal, não são tão importantes. Quais são suas rea
Não sei por que, mas sempre fico muito inquieta. (Pausa.) Eu sei ções às pessoas que vêm aqui, sentam e contam suas histórias a vo
por que, é porque estou encarando algo que não gosto de encarar. cê? Você vive essas histórias junto com elas ou é apenas um bom
Discutindo as coisas eu mesma. ouvinte passivo? Ou isso é alguma coisa que eu não deveria per
0423: Hum. Então os sentimentos que você teve sobre o fato
guntar?
de que, afinal, por que uma pessoa com treinamento profissional 0540: É uma pergunta muito difícil de responder. Já discuti
se limita apenas a escutar, e o sentimento de que isto era uma espé mos muito isso entre nós. Certamente é mais do que apenas escu
cie de fraude, você os reconhece como estando, em parte, ligados tar passivamente (C: Sim, certamente.), mas também não é como,
a sua própria irritação e medo de ter que encarar coisas dentro de ahn, sofrer junto com a pessoa, isto é ...
si mesma. C541: Bem, meus problemas, por exemplo ... você os entrega
do cliente de descrever essa experiência única na qual a pessoa o terapeuta "gosta" dele, no sentido usual de um julgamento par
do orientador - o orientador enquanto uma pessoa que faz ava cial e favorável, e com freqüência não tem certeza, como no tre
liações, reage e tem necessidades próprias - encontra-se tão cla cho acima, se gosta ou não do terapeuta: "Não sei por que deve
ramente ausente. Nesse sentido, ela é "im"-pessoal. As palavras ria gostar ou não de você". Simplesmente não há evidências em
da sra. Ett, "Minha - eu não poderia dizer nossa - ... mas mi que basear tal julgamento. Mas o cliente aos poucos adquire a
nha relação com você é fascinante", ilustram novamente, e de certeza de que é uma experiência segura, na qual o selj é profun
forma muito profunda, o fato de que a relação é experimentada damente respeitado, uma experiência na qual não há necessidade
como uma ligação unilateral num sentido muito particular. A re de medo de ameaças ou ataques - nem mesmo em suas formas
lação inteira é composta pelo selj do cliente, sendo que o orien mais sutis. Essa segurança básica não é algo em que o cliente acre
tador, para efeitos da terapia, é despersonalizado para tornar-se dite porque lhe contaram, não é algo de que ele se convence logi
"o outro selj do cliente". É essa sincera disposição por parte do camente, mas algo que ele experimenta com seu próprio equipa
orientador de deixar de lado temporariamente seu próprio selj mento sensorial e visceral.
para entrar na experiência do cliente, que torna a relação uma
experiência totalmente única, diferente de qualquer outra expe
riência anterior do cliente. o FIM DAS ATITUDES DE TRANSFERÊNCIA
não são sublimadas, não são "reeducadas". Simplesmente desa lo aqui para o consultório. Eu lhe disse que gosto de você, e fiquei
parecem, porque a experiência foi percebida novamente de uma com medo de me virar e beijá-lo caso você viesse me ajudar a tirar
outra maneira, que as torna sem sentido. É semelhante à forma o casaco.
O: Você achou que esses sentimentos de afeição poderiam fa
como uma atitude desaparece e uma outra completamente dife
zer com que você me beijasse se não se protegesse deles.
rente assume seu lugar quando me viro para olhar o grande avião C: Bem, uma outra razão de eu ter deixado o casaco lá fora
que percebi de relance com o canto do olho e descubro que é ape é que quero ser dependente - mas quero mostrar a você que não
nas um mosquito voando a poucos centímetros de meu rosto. tenho que ser dependente.
O: Você, ao mesmo tempo, quer ser e quer provar que não
precisa ser.
(Mais para o fim da entrevista.)
UM EXEMPLO EXTREMO
C: Nunca disse, a respeito de ninguém, que era a pessoa mais
maravilhosa que eu já havia conhecido, mas disse isso a você. Não
Alguns leitores talvez argumentem que os exemplos aqui for é só sexo. É mais do que isso.
necidos referem-se apenas a casos brandos de atitudes de trans O: Você de fato se sente profundamente envolvida comigo.
ferência. No entanto, há evidências de que, mesmo quando as
atitudes de transferência são as mais extremas, aplicam-se os mes Da décima entrevista - perto do final da sessão:
mos princípios. Os trechos que se seguem foram extraídos de en C: Acho que, emocionalmente, estou morrendo de vontade de
trevistas com uma mulher solteira de trinta e poucos anos, a srta. ter relações sexuais, mas não faço nada a respeito ... 3 O que eu que
Tir, uma pessoa tão profundamente perturbada que provavelmen ro mesmo é ter relações sexuais com você. Não ouso pedir-lhe isso,
te teria sido diagnosticada como psicótica em termos de uma ava porque receio que você seria não-diretivo.
liação externa. É preciso enfatizar que casos desse tipo são mui O: Você sente essa terrível tensão e quer muito ter relações
comigo.
to pouco freqüentes em centros comunitários de aconselhamen
C: (Segue por essa linha. Finalmente.) Não podemos fazer al
to, sendo mais comuns em enfermarias psiquiátricas ou hospi guma coisa quanto a isso? Esta tensão é horrível! Você aliviaria
tais públicos. Ao longo das entrevistas, essa mulher debateu-se a tensão ... Pode me dar uma resposta direta? Acho que isso ajuda
com profundos sentimentos de culpa, muitos dos quais relativos ria nós dois.
a um possível incesto com o pai. Ela não tem certeza absoluta O: (Com gentileza.) A resposta seria não. Posso compreender co
se os fatos realmente ocorreram ou se existem apenas em sua men mo é urgente a sua sensação, mas não estaria disposto a fazer iss0 4 .
C: (Pausa. Suspiro de alivio.) Acho que isso me ajuda. Só sou
te. Alguns trechos breves podem dar uma idéia da profundidade
assim quando estou perturbada. Você tem força, e isso me dá força.
das atitudes de transferência e do método usado pelo orientador
para lidar com elas. Este relato foi extraído das anotações do 3. Nesses trechos, as reticências indicam que foi omitido algum material das
orientador, que são incomumente completas porque a cliente fa anotações.
4. Como ao se estabelecer qualquer limite na experiência terapêutica, isto
lava muito devagar - embora não tenham a mesma exatidão de é algo que compete puramente à responsabilidade do terapeuta, e ele assume essa
um registro gravado. responsabilidade. Ele não tenta avaliar a experiência da cliente por meio de algu
ma afirmação do tipo "Isso certamente não iria ajudá-la". Simplesmente as
sume a responsabilidade por seu próprio comportamento, ao mesmo tempo de
Da nona entrevista: monstrando compreensão e aceitação da experiência da cliente em relação à si
C: Esta manhã, pendurei meu casaco lá fora em vez de trazê- tuação.
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Décima segunda enrrevista: e: (Pausa.) Estou presa e não consigo me soltar! (Tom de de
sespero na voz e lágrimas. Pausa.) Tive uma alucinação e tenho que
e: (Em silêncio por dois minutos. Então começa afalar numa me livrar dela!. .. [Prossegue sobre seus conflitos pessoais profun
voz fria e monótona, bem diferente de seu tom usual. Não olha dos e fala da alucinação que teve, com grande tensão na voz, mas
para o orientador. Há muita repetição, mas os trechos seguintes com uma atitude muito diferente daquela do início da entrevista.]
exprimem as idéias principais.) Você acha que eu quero vir, mas
eu não quero! Não vou vir mais. Não me faz bem nenhum. Não (Mais tarde na entrevista).
gosto de você. Eu odeio você! Gostaria que você nunca tivesse
nascido. e: Eu sabia no escritório que precisava me livrar disso em al
O: Você me odeia profundamente. 5 gum lugar. Achei que poderia vir aqui e lhe contar. Sabia que você
e: Acho que vou jogá-lo no lago. Vou cortá-lo em pedaços! iria compreender. Eu não podia dizer que me odiava. Isso é verda
Você acha que as pessoas gostam de você, mas elas não gostam .. . de, mas eu não podia dizer. Então, em vez disso, pensei em todas
Você acha que consegue atrair as mulheres, mas não consegue .. . as coisas horríveis que poderia dizer a você.
Gostaria que você estivesse morto. O: As coisas que sentia sobre si mesma você não podia dizer,
O: Você me detesta e gostaria mesmo de se livrar de mim. mas podia dizê-las a meu respeito.
e: Você acha que meu pai fez coisas ruins comigo, mas ele não e: Sei que estamos chegando ao fundo ...
fez! Você acha que ele não era um bom homem, mas ele era. Você
acha que eu quero ter relações sexuais, mas não quero. Uma vez mais, nesse material muito profundo, a cliente acaba
O: Você acha que eu definitivamente deturpo todos os seus pen percebendo que as atitudes que mantém em relação aos outros
samentos. e as qualidades que lhes atribui residem em suas próprias percep
C: ... Você acha que pode fazer as pessoas virem aqui e lhe ções, e não no objeto de suas atitudes. Esta parece ser a essência
contarem tudo, e elas vão pensar que estão sendo ajudadas, mas da resolução das atitudes ele transferência6 •
não estão! Você só gosta de fazê-las sofrer. Você acha que pode
hipnotizá-las, mas não pode! Você acha que é bom, mas não é. Eu
odeio você, eu odeio você, eu odeio você!
O: Você acha que eu gosto mesmo de fazê-las sofrer e que eu PROBLEMAS CLíNICOS RELATIVOS A TRANSFERÊNCIA
não as ajudo.
e: Você acha que não fui sincera, mas fui. Eu odeio você. Tu Com base em nossa experiência clínica, poderíamos dizer que
do o que tive foi dor, dor, dor. Você acha que eu não sei dirigir um experiente terapeuta centrado no cliente raramente tem difi
minha própria vida, mas eu sei. Você acha que eu não posso ficar culdade para lidar com atitudes de hostilidade ou de afeição diri
boa, mas eu posso. Você acha que eu tive alucinações, mas não ti
gidas a ele. (O orientador principiante pode ter mais dificuldades
ve. Odeio você. (Longa pausa. Inclina-se sobre a mesa numa pose
tensa, exausta.) Você acha que eu sou louca, mas não sou. 6. Para satisfazer a curiosidade do leitor, pode-se dizer que a cliente apre
O: Você tem certeza de que eu acho que você é louca. sentou muito crescimento e progresso ao longo de trinta entrevistas, embora ela
mesma percebesse que ainda tinha um longo caminho a percorrer: Por dez me
ses, manteve esses avanços e, então, foi perturbada uma vez mais por seus confli
5. Assim como é impossível transmitir no papel o veneno e o ódio na voz tos. Tentou, de maneira um pouco estranha, entrar em contato com o orienta
da cliente, também é inteiramente impossível transmitir a profunda empatia nas dor, que se encontrava fora da cidade por alguns meses. Devido ao canal de co
respostas do orientador. O orientador afirma: "Tentei penetrar na situação e ex municação que ela escolheu, o orientador não ficou sabendo do seu chamado e
pressar em minha voz toda ii raiva profunda que ela estava descarregando. As ela não recebeu resposta. Dentro de um mês, ela teve um episódio francamente
palavras escritas parecem inacreditavelmente fracas mas, na situação, estavam psicótico, do qual conseguiu, gradualmente, uma recuperação parcial. É impos
imbuídas do mesmo sentimento que ela expressava de maneira tão fria e intensa". sível saber qual teria sido o resultado se o orientador tivesse sido encontrado.
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com essas atitudes do que com atitudes dirigidas aos outros, mas deremos estudar esses materiais para descobrir os pontos cruciais
isso desaparece à medida que adquire mais segurança em sua hi que favorecem ou dão início à dependência. No estado atual de
pótese.) As atitudes que mais freqüentemente impedem um tra nossos conhecimentos, podemos apenas levantar questões e for
tamento efetivo são aquelas que poderíamos chamar de "depen mular hipóteses.
dência agressiva". O cliente que tem certeza de ser incapaz de Uma das questões é a seguinte: "A avaliação do cliente pelo
tomar suas próprias decisões ou de cuidar de si mesmo, e que in orientador cria dependência?" O termo "avaliação" está sendo
siste que o orientador assuma a responsabilidade, é um tipo de usado aqui num sentido amplo, incluindo tudo o que o cliente
cliente com o qual algumas vezes obtemos sucesso, mas em geral experimenta como "foi feito um julgamento a meu respeito". As
somos malsucedidos. Em tais casos, a probabilidade é de que o sim, o termo inclui não apenas a avaliação moral ("Será que vo
problema surja logo no início da série de entrevistas. O cliente cê tomou a decisão certa ao fazer isso?" ou "É muito natural
mostra-se aborrecido ou antagônico porque não encontra o que ter esses pensamentos sexuais") e a avaliação de características
estava esperando, e sente essa irritação antes de ter a oportuni ("Sua habilidade está mais ou menos no 25? ponto percentual"
dade de experimentar a satisfação de ser compreendido. Conse ou "Você provavelmente tem tendências um tanto compulsivas"),
qüentemente, os menores desvios, por parte do terapeuta, de uma mas também a avaliação de causas ou padrões ("Será que, por
atitude de completo respeito, entendimento e aceitação podem baixo disso, não está uma atitude de hostilidade em relação a sua
levar o cliente a encerrar a terapia após uma ou poucas entrevis mãe?" ou "Talvez você realmente sinta alguma atração por ele,
tas. Quando, porém, o ponto crucial inicial é ultrapassado sem apesar de odiá-lo"). Nesses termos amplos, parece que muitas téc
que o cliente desista, então a terapia parece seguir o mesmo pro nicas de entrevista - interpretação, perguntas que tentem se apro
cesso essencial de qualquer outro caso. Está claro, entretanto, que fundar numa certa direção, reafirmação, crítica, elogios, descri
temos ainda muito a aprender, provavelmente em termos de ati ção objetiva - são experimentadas em certa medida, como ava
tudes e não de técnicas, até que sejamos totalmente bem-sucedidos liações. São essas experiências de ser avaliado que criam a de
em proporcionar a esse tipo de cliente uma situação de ajuda que pendência? Esta pareceria uma hipótese a priori razoável, uma
ele possa utilizar por si mesmo. vez que uma das diferenças mais óbvias entre a terapia centrada
no cliente e outras terapias é a quantidade de avaliação por parte
do orientador. As evidências parecem ser tanto contra quanto a
COMO SE DESENVOLVE UMA TRANSFERÊNCIA DEPENDENTE? favor. Contra essa hipótese está o fato de que embora o aconse
lhamento tradicional utilize muito a avaliação, a dependência só
Até agora, discutimos os motivos pelos quais uma transfe se desenvolve em alguns casos. A terapia adleriana poderia ser
rência dependente não tende a desenvolver-se na terapia centra similarmente descrita. No campo da psicanálise, tive a oportuni
da no cliente. Poderíamos discutir a questão com mais seguran dade de examinar entrevistas gravadas conduzidas por sete ana
ça se houvesse uma compreensão clara do problema oposto: Co listas. Com exceção de uma, todas apresentaram uma grande
mo é criada ou iniciada uma transferência dependente? Qualquer quantidade de avaliação. Em todos os casos, houve uma clara
resposta confiável neste sentido deve partir das orientações tera relação de transferência dependente mesmo no caso em que a ava
pêuticas nas quais tal relação freqüentemente se desenvolve. Sem liação pelo terapeuta foi mínima. Assim, essa hipótese não pare
dúvida, quando tivermos mais registros das várias terapias, po- ce muito satisfatória, já que a avaliação está presente tanto nos
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to, e o orientador também. Dentro de poucas semanas, porém, volver atitudes de transferência, uma vez que mesmo nesses casos
a satisfação do orientador transformou-se em perplexidade. O sol há uma diferença entre nossa experiência e as experiências que en
dado começou a querer consultá-lo sobre muitos problemas e mui volvem uma relação de transferência completamente desenvolvida.
tos assuntos. Pedia-lhe para tomar decisões por ele a respeito das
questões mais insignificantes e inconseqüentes. Quando o orien
SUMÁRIO
tador tentou cortar essa situação, o cliente ficou ressentido e ma
goado. Uma verdadeira relação de dependência havia se estabe
lecido. Se definirmos atitudes de transferência como atitudes emo
Aqui, nos esforços desastrados do ingênuo orientador, tal d cionalizadas presentes em alguma outra relação e dirigidas, ina
dequadamente, ao terapeuta, então atitudes de transferência são
vez tenhamos o padrão básico de qualquer relação de transferên I
cia de natureza muito dependente. O cliente descobre que o tera evidentes numa porção considerável dos casos conduzidos por te
peuta o conhece melhor do que ele próprio, bem como seus rela rapeutas centrados no cliente. Tanto o analista quanto o terapeuta
cionamentos. Não se trata meramente de uma observação inte não-diretivo lidam com essas atitudes da mesma maneira como
lectual por parte do cliente, mas de algo que ele experimenta di lidam com qualquer outra expressão. O analista interpreta essas
retamente. Então, a conclusão óbvia é de que o terapeuta, tendo ~,
atitudes para, através das avaliações, tentar estabelecer a relação
uma melhor compreensão e uma melhor capacidade de prever de transferência característica. O terapeuta centrado no cliente
comportamentos e coisas parecidas, deve ser a pessoa a assumir tenta compreender e aceitar as atitudes, que tendem então a ser
o controle. O resultado é uma transferência dependente basica aceitas pelo cliente como sua própria percepção da situação, ina
mente positiva, uma relação com fortes componentes afetivos, dequadamente mantida. Assim, a relação dependente e emocio
por ser tão vitalmente importante para o cliente. Mas essa rela nalizada entre cliente e terapeuta quase sempre torna-se o centro
ção encerra também fortes tendências a sentimentos negativos, e o foco da terapia analítica bem-sucedida, ao passo que isso não
uma vez que o cliente se ressente da perda da identidade inde parece ser verdade com relação à terapia centrada no cliente. Nesta
pendente que isso implica, pelo menos temporariamente. última, pode-se dizer que o foco da terapia é a conscientização
Há ainda uma outra hipótese para explicar o desenvolvimento do cliente de que suas percepções e atitudes residem nele próprio,
de uma relação de transferência. Talvez, à medida que o cliente não no objeto dessas percepções e atitudes. Em outras palavras,
explore mais e mais profundamente dentro de si mesmo, o grau a consciência de que o self é o agente da percepção e da avalia
de ameaça ao self tenda a criar a necessidade de se projetar essas ção parece ser central ao processo de reorganização do self.
ameaças em outra pessoa, o terapeuta, como no caso da srta. Tir. t Para tentar explorar mais a fundo os fenômenos das atitu
Dependendo do grau de ameaça interna, o cliente pode também des e relações de transferências, formularam-se várias hipóteses.
sentir necessidade de experimentar mais dependência. A favor des Atitudes de transferência talvez sejam mais prováveis quando o
ta hipótese está o fato de que, em nossos casos mais longos (mui cliente experimenta o material que traz à consciência como uma
tos dos quais parecem envolver uma reorganização mais profun forte ameaça à organização do self. Uma verdadeira relação de
da), as atitudes de transferência são mais freqüentes e mais per transferência talvez seja mais provável quando o cliente experi
ceptíveis. Essa explicação, contudo, estaria lidando apenas com 'I menta que uma outra pessoa compreende melhor o seu self do
o lado do cliente na questão e com a probabilidade de ele desen- que ele próprio.
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uma avaliação diagnóstica feita pelo especialista, e se os proble te, um paciente muito defensivo esgotaria primeiro os testes e pro
mas psicogênicos são melhor tratados mantendo-se a função de cedimentos que pudessem indicar um diagnóstico orgânico; de
avaliação no cliente e evitando-se avaliações externas, que pro pois, supondo-se que os resultados tivessem sido negativos ou mí
cedimento é mais aconselhável no caso de problemas psicosso nimos, tenderia a escolher para si mesmo o caminho que levaria
máticos, em que os fatores orgânico e psicológico estão inextri à possível descoberta dos aspectos psicogênicos. A importância
cavelmente entrelaçados? A resposta para essa indagação é das de dar ao cliente a oportunidade da escolha é fundamental.
mais complicadas. Não tentaremos fornecer a resposta, mas po A vantagem desse procedimento seria a manutenção do /0
demos fazer algumas sugestões, altamente hipotéticas. cus primário de responsabilidade no paciente, importante até mes
Um ponto de vista que, pelo que se sabe, nunca foi testado mo no tratamento de moléstias orgânicas, conforme revelou o ex
sistematicamente, seria manter o /oeus da avaliação com o pa perimento de Peckham. (Ver páginas 59-63 do Capítulo 2.) Mais
ciente nos procedimentos diagnósticos utilizados. Vamos supor importante ainda, ao escolher investigar os elementos psicológi
que o médico, ou a equipe médico-psicólogo, tome uma atitude cos de seu quadro clínico, o paciente estaria embarcando com
em relação ao paciente que possa ser resumida da seguinte ma pletamente na terapia. Além disso, tal abordagem coloca o mé
neira: "Você, e nós, estamos confusos quanto à base de seus sin dio pensando com o paciente o tempo todo, em vez de pensar
tomas. Poderíamos prescrever-lhe testes metabólicos que indica sobre e para o paciente - o que é muito vantajoso no âmbito
riam se seu corpo está funcionando satisfatoriamente na trans dos problemas psicogênicos.
formação de alimento em energia; poderíamos realizar outros tes Uma outra sugestão altamente hipotética inverte a ordem
tes (descrevendo a função de cada um deles em termos simples usual de procedimento ao lidar com pacientes. Quando o pacien
e não-médicos), ou você poderia conversar com o Dr. X para fa te apresenta sintomas que, com muita probabilidade, parecem ser
lar de seus sintomas, suas sensações e coisas que o estejam per de origem psicossomática ou psicológica, o procedimento usual
turbando, uma vez que, ocasionalmente, dificuldades como a sua é primeiro "eliminar" a possibilidade de doençá orgânica, dei
originam-se de conflitos emocionais ou de problemas pessoais in xando para o fim as possibilidades psicológicas. Esse procedimen
ternos. Entre todas essas possibilidades, qual você gostaria de to é muito compreensível do ponto de vista histórico. No entan
usar? Você pode tentar todas elas, se preferir, ou talvez você sin to, se o considerarmos de um ponto de vista lógico, lembrando
ta que algumas dessas linhas de investigação sejam mais adequa da grande preponderância de moléstias psicogênicas em muitas
das do que outras para chegar à origem de seus sintomas." Mui das especialidades médicas, faria igualmente sentido reverter a
tos médicos claro, achariam impossível seguir essa orientação. No abordagem. A psicoterapia poderia ser iniciada logo, desde que
entanto, se estivessem sinceramente dispostos a testar a hipótese o paciente estivesse disposto a isso; e se após um período de tem
de depositar confiança no paciente, os resultados poderiam mos po razoável os sintomas não melhorassem, poderia-se então in
trar-se estimulantes para nosso.ponto de vista. Sabemos, como vestigar uma possível origem orgânica.
os Bixler (31, 32) e Seeman (179) demonstraram, que esse tipo As duas possibilidades aqui sugeridas são apenas para refle
de abordagem funciona muito bem no campo da orientação vo xão. A experiência do autor no campo psicossomático não pode
cacional, onde o cliente seleciona os testes que considera apro ser considerada extensa, e a única justificativa para expor essas
priados para si próprio. A experiência deles sugere que essa abor propostas um tanto radicais é a intenção de mostrar que a tera
dagem poderia ser útil no âmbito psicossomático. Evidentemen- pia centrada no cliente tem pelo menos uma base teórica para
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Nesse meio-tempo, a falta de um conhecimento seguro acer talvez não resolva todos os problemas ou não proporcione toda
ca de quais grupos são mais ou menos beneficiados pela terapia a ajuda de que um indivíduo em particular necessite.
centrada no cliente não é preocupante, uma vez que, segundo nos
sa experiência clínica, esse tipo de terapia não parece causar da
nos ao indivíduo. Quando uma abordagem centrada no cliente LEITURAS SUGERIDAS
(209).
Um exame desses elementos leva à conclusão de que a tera
Quanto à questão do diagnóstico, dois pontos de vista mui
pia centrada no cliente tem uma aplicação muito ampla - na ver
to diferentes são expressos em Thorne (215) e Patterson (143).
dade, num certo sentido, aplica-se a todas as pessoas. Uma at
Há poucos estudos definitivos sobre a aplicabilidade da te
mosfera de aceitação e respeito, de profunda compreensão, é mui
rapia centrada no cliente ou de qualquer outro tipo de terapia.
to adequada para o crescimento pessoal, e como tal aplica-se a
Uma vez que este capítulo conclui com a apresentação das
nossos filhos, nossos colegas, nossos alunos, bem como a nossos
principais características da terapia centrada no cliente da forma
clientes, sejam eles "normais", neuróticos ou psicóticos. Isto não como é utilizada com indivíduos adultos, pode ser apropriado nes
significa que ela vai curar todas as condições psicológicas, e na te ponto remeter às críticas feitas a essa orientação. Das críticas
verdade o conceito de cura é bastante estranho à abordagem que publicadas, a mais extensa é um simpósio organizado por Thor
estivemos considerando. Alguns tipos de indivíduos podem pre ne e Carter (217), no qual vários autores fazem suas avaliações
cisar de internação hospitalar, outros talvez necessitem de algum críticas a esse ponto de vista.
tipo de terapia medicamentosa, e em condições psicossomáticas
pode-se utilizar uma variedade de auxílios médicos. No entanto,
um clima psicológico que o indivíduo possa usar para uma auto
compreensão mais profunda, para uma reorganização do selfno
sentido de uma integração mais realista, para o desenvolvimento
de comportamentos mais confortáveis e maduros - não é uma
oportunidade disponível apenas a alguns. Parece mais um ponto
de vista aplicável, basicamente, a todos os indivíduos, embora