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Sumário

1 INDICAÇÃO EM TERAPIA DE CASAL ....................................................... 3

1.1 Pressupostos da Terapia Familiar Sistêmica ....................................... 5

2 A ENTREVISTA EM TERAPIA FAMILIAR .................................................. 8

3 A ENTREVISTA SISTEMICA ...................................................................... 9

3.1 A questão da avaliação ...................................................................... 14

3.2 A primeira entrevista........................................................................... 18

3.3 O contrato........................................................................................... 20

3.4 Confidencialidade ............................................................................... 22

3.5 Dos objetivos da terapia ..................................................................... 23

3.6 Atitude do terapeuta ........................................................................... 24

4 ATENDIMENTO FAMILIAR EM GESTALT TERAPIA .............................. 26

5 O PAPEL DAS EMOÇÕES NA TERAPIA FAMILIAR COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL ............................................................................................... 30

5.1 Exemplo de caso ................................................................................ 30

6 Desenvolvimento dos Esquemas Familiares ............................................ 37

6.1 Atribuições.......................................................................................... 41

6.2 Expectativas ....................................................................................... 43

6.3 Suposições ......................................................................................... 45

6.4 Padrões .............................................................................................. 46

6.5 Intervindo em Esquemas Familiares .................................................. 48

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 49

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1 INDICAÇÃO EM TERAPIA DE CASAL

Fonte: www.psicologiaexplica.com.br

O compromisso da terapia é com a promoção da saúde emocional dos mem-


bros do casal e não com a manutenção ou a ruptura do casamento. A rigidez e a
estereotipia quase sempre caracterizam a patologia, enquanto a flexibilidade e a
possibilidade de mudança apontam para a saúde. Em alguns casos, a mudança de
um dos membros do casal em terapia, ou da interação conjugal, leva à ruptura do
casamento. Em outros, é a rigidez e a impossibilidade de mudar que levam a tal rup-
tura.
A terapia de casal pode ser considerada como um caso particular de terapia
familiar. As indicações de terapia de casal, para Lemaire (1982), estão sobretudo
relacionadas a certos tipos de funcionamento conjugal onde as codificações torna-
ram-se mais complexas entre os cônjuges que, ou funcionam de um modo simbióti-
co ou fusional, ou, ao contrário, defendem-se intensamente de tudo que poderia ser
uma ameaça de funcionamento simbiótico ou fusional. É o que leva certas pessoas
a brigarem e a ficarem agressivas a partir do momento em que experimentam ternu-
ra ou desejo de felicidade fusional ou regressiva. Para estas pessoas aparentemente
tão "individualizadas", trata-se de formações reativas muito marcadas.
Neuburger (1988), ao discurtir a questão da especificidade da abordagem te-
rapêutica - individual, familiar ou de casal ressalta que não se pode falar de tal espe-
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cificidade, sem se falar de especificidade da demanda. Para ele, a demanda é cons-
tituída de elementos entre os quais figuram o sofrimento, o sintoma e a queixa. Na
clínica de casais constata-se um sofrimento referido especificamente ao casal, sin-
tomas conjugais e uma queixa centrada nos problemas do casal.
Lemaire (1987) mostra como a escolha entre terapia individual e terapia de
casal não é sempre evidente. Há os que demandam terapia de casal para escapar a
um questionamento pessoal, individual e, neste caso, o terapeuta deve encaminhá-
los a terapias individuais. Mas, inversamente, muitos terapeutas desconhecem ainda
o caminho clínico que a terapia de casal pode abrir para o tratamento de pessoas
mal individualizadas. Diante das disfunções individuais, que estão relacionadas a um
clima simbiótico entre os cônjuges, os terapeutas, muitas vezes, indicam terapias
individuais como solução para este problema. Isto significa compreender mal o sen-
tido da colusão inconsciente que presidiu à fundação do casal. Por isto, muitas das
terapias individuais são interrompidas prematuramente.
Muitas vezes, é apenas no casal que alguns sujeitos podem metabolizarcerto
número de suas tendências arcaicas e regressivas, que ficariam sem vir à tona, po-
dendo se exprimir apenas de maneira patológica ou associal. Diante do casal, o clí-
nico tem um acesso privilegiado a uma mobilização psíquica individual, que ficaria
inacessível.
Para Eiguer (1984), a terapia de casal representa, muitas vezes, uma deman-
da de um segundo e último ritual de casamento. Assim, o terapeuta de casal estaria
colocado, pelos cônjuges, mais perto da lei do que do desejo. Para este autor, os
problemas conjugais estão situados em relação aos dois universos pessoais dos
parceiros, à parte que não quer admitir a especificidade da outra. Seria um combate
entre dois narcisismos individuais.
Willi (1978) ressalta que o resultado mais importante da terapia de casal é o
conhecimento da temática fundamental do conflito colusivo vivido pelos cônjuges.
Os parceiros, antes, em suas posições polarizadas, acreditam que não tinham nada
em comum. A terapia vai mostrar que, com seus problemas, estão no mesmo barco.
O que antes consideravam que os separava é agora o que os une.
O objetivo é não tornar os temas fundamentais colusivos ineficazes, mas levar
o casal a um equilíbrio livre e flexível. São as posturas extremas rígidas, nas quais
os cônjuges se fixam, que tornam a relação menos saudável. Se vividos com flexibi-
lidade, os temas da colusão se convertem em enriquecimento recíproco.

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Em Féres-Carneiro (1980), ressaltamos a relação entre sintomas apresenta-
dos por crianças e dificuldades existentes nas relações estabelecidas pelos seus
pais, sobretudo enquanto casais. Para propiciar um clima familiar adequado ao de-
senvolvimento sadio das crianças é preciso que os pais funcionem como o modelo
de uma relação homem-mulher gratificante.

Fonte: www.psicologamarciapettenon.com.br/

1.1 Pressupostos da Terapia Familiar Sistêmica

A denominada terapia familiar sistêmica recebeu influência, predominante-


mente, da teoria geral dos sistemas (TGS) e da teoria da comunicação. No que se
refere à TGS foi desenvolvida pelo biólogo austríaco Von Bertalanffy a partir da dé-
cada de 20 e postula que em toda a manifestação da natureza há uma organização
sistêmica, que pressupõe não apenas um aglomerado de partes, mas sim um con-
junto integrado a partir de suas interações (OSÓRIO, 2002; LOPEZ e ESCUDERO,
2003).
As propriedades do sistema que podem ser observadas na família são: totali-
dade, causalidade circular, equifinalidade, equicausalidade, limitação, regras de re-
lação, ordenação hierárquica e teleologia. A propriedade de totalidade considera que
o entendimento de uma família não se constitui apenas pela soma das condutas de
seus membros, mas sim pela compreensão das relações entre eles.
A causalidade circular descreve as relações familiares como recíprocas, pau-
tadas e repetitivas, de forma que a resposta de um membro A para a conduta de

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outro membro B é um estímulo para que B dê uma resposta que pode servir de es-
tímulo para A. No que se refere à equifinalidade, entende-se que um sistema pode
alcançar o mesmo estado final a partir de condições iniciais distintas, o que dificulta
buscar uma única causa para o problema. A equicausalidade significa que a mesma
condição inicial pode resultar em estados finais diversos.
Estas duas propriedades equifinalidade e equicausalidade estabelecem a
conveniência de abandonar a busca de uma causa passada originária do sintoma e
centrar-se no aqui e agora, nos fatores que estão mantendo o problema. Em relação
à limitação, entende-se que quando se adota uma determinada sequência deintera-
ção, a probabilidade de que o sistema emita uma resposta diversa é diminuída, de
modo que, se esta for uma conduta sintomá- tica, ela tende a converter-se em pato-
lógica porque contribui para manter o problema.
As regras de relação definem a interação entre seus componentes e a manei-
ra que as pessoas enquadram a conduta ao comunicar-se entre si. A ordenação hie-
rárquica postula que em toda a organização há uma hierarquia, na qual certas pes-
soas possuem mais poder e responsabilidade do que outras. Na família, além do
domínio que uns exercem sobre os outros, é inerente a ajuda, a proteção e o cuida-
do que oferecem aos demais, sendo que há uma relação hierárquica entre as pes-
soas e também entre os subsistemas. Por fim, teleologia significa que o sistema fa-
miliar se adapta às diferentes exigências dos diversos estágios de desenvolvimento
a fim de assegurar continuidade e crescimento psicossocial a seus membros
(OCHOA DE ALDA, 2004).
Ao levar em conta os aspectos de relação e de globalidade, a visão sistêmica
entende o ser humano como um sistema de personalidade ativo em que a criativida-
de, a imprevisibilidade e a capacidade de escolher constituem suas características
mais representativas (CUSINATO, 1992). Nesta perspectiva, a compreensão e o
tratamento do sofrimento mental passam a abranger o contexto mais imediato do
indivíduo que é a família, a qual passa a ser vista como um “sistema onde as ações
e comportamentos de um dos membros influenciam e simultaneamente são influen-
ciadas pelos comportamentos de todos os outros”.
Desse modo, a família não é apenas a soma de suas partes, mas um todo
coeso, inseparável, uma unidade indivisível (CASTILHO, 2008). Nesse sentido, um
sistema pode ser entendido como uma rede complexa de relações e interações en-
tre atores em um cenário específico. Cada ator, à luz do pensamento sistêmico, re-

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presenta um subsistema, que interage com outros subsistemas, formando um siste-
ma maior. A família pode ser considerada um sistema porque representa certa tota-
lidade das relações e interações de membros familiares (GALERA e LUIS, 2002), da
qual fazem parte os subsistemas conjugal, parental e fraternal.

Fonte: serpcraz.com.br

O primeiro abrange o papel conjugal que pressupõe a interdependência e


compartilhamento de tarefas no mútuo preenchimento dos desejos e necessidades
de cada um dos parceiros. Já o subsistema parental envolve os papeis materno (ta-
refas nutrícias, função continente) e paterno (facilitador do processo de individuação,
ao interpor-se entre mãe e filho, e transmissor da autoridade social). O subsistema
fraterno compreende as relações entre irmãos que, de modo geral, oscilam entre
rivalidade e solidariedade (OSÓRIO, 2002; NUNES, SILVA e AIELLO, 2008).
A mudança fundamental proposta pela visão sistêmica é a substituição do
modelo linear de pensamento científico pelo circular, opondo-se à visão mecanicista
causal dos fenômenos. Deste modo, o terapeuta não tentará explicar um comporta-
mento isolando o indivíduo de seu meio social, mas sim irá observá-lo em suas rela-
ções com os membros da família e com os demais sistemas com os quais estará
envolvido (SILVA, 2008).
Esta abordagem, também, propõe uma mudança de leitura e de postura em
relação às famílias. Ao invés de uma “visão negativa”, na qual o ambiente familiar
teria como matriz principal desajustes, conflitos, déficits e fracassos, passa a focar,
pesquisar, compreender e fortalecer os recursos e o sucesso na família, com base
nos estudos sobre percepções de elementos das experiências de vida, aspectos bio-
lógicos e interações pessoais com o contexto, compreendidos sistemicamente, de

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forma contextualizada e intersubjetiva (BLOCK e HARARI, 2007; BÖING, CREPALDI
e MORÉ, 2008). É com esta leitura da terapia familiar sistêmica que Falceto (2008)
afirma que envolver a família em terapia é uma forma de compreender os problemas
humanos.

2 A ENTREVISTA EM TERAPIA FAMILIAR

Fonte: www.institutocomofalar.com.br

A entrevista é um instrumento fundamental no trabalho do psicólogo nos dife-


rentes contextos: clínico, hospitalar, organizacional, escolar, jurídico, entre outros.
No contexto clínico, este instrumento é importantíssimo no acolhimento, na avalia-
ção e na condução de todo o processo terapêutico até o seu encerramento e, poste-
riormente, nas entrevistas de follow-up.
Neste sentido, a entrevista psicológica se estrutura a partir dos pressupostos
teóricos que sustentam o entendimento do indivíduo, do seu desenvolvimento, das
suas relações, das suas potencialidades e limitações, da sua saúde e de seu adoe-
cimento. Assim, pode estar baseada numa perspectiva psicanalítica, cognitivo-
comportamental, humanista, sistêmica ou outra.

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3 A ENTREVISTA SISTEMICA

Fonte: estilo.uol.com.br

A entrevista dá muita atenção à comunicação que se estabelece por quem


busca ajuda psicológica, desde o primeiro contato usualmente feito por telefone. No
modelo utilizado por Ríos-González (1993) em sua clínica de formação de terapeu-
tas, a pessoa que recebe a primeira chamada telefônica, geralmente a secretária da
clínica, preenche uma ficha com os seguintes dados: paciente identificado (nome
completo e idade, estudos ou profissão, posição que ocupa entre os irmãos e núme-
ro de irmãos vivos), endereço postal e telefone de contato com a pessoa que reali-
zou essa primeira chamada, quem encaminhou ou solicitou a consulta, motivo inicial
da consulta, quem chamou ou pediu a consulta, data da primeira chamada, quem a
recebeu na clínica, estrutura da família (nomes – pai, mãe, filho, 1º, 2º, 3º, 4º..., ida-
de, profissão, escolaridade de cada um e observações feitas ao informar tais dados),
breve síntese do delineamento que a pessoa fez quando solicitou a consulta e per-
cepções de quem a recebeu, membros mencionados para a primeira sessão de fa-
mília, finalizando com o agendamento da consulta com dia, mês, hora e nome do
profissional da equipe que os receberá.
Já a ficha adotada por Ochoa de Alda (2004), além desses dados, solicita o
estado de saúde de cada pessoa que mora na casa, informações sobre os avós pa-
ternos e maternos, incluindo idade, estado de saúde e com quem eles residem, as
razões mais importantes pelas quais solicita ajuda neste momento, desde quando

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estas situações estão incomodando, quais as tentativas realizadas para resolvê-las,
que resultados busca como finalidade do tratamento, que problemas médicos, cirur-
gias e acidentes sérios teve. Também há uma lista de aspectos que a pessoa terá
que informar, os quais têm a ver com a condição atual (esta relação inclui, entre ou-
tros, aspectos profissionais, sociais, econômicos, sexuais, de saúde).
Outro item compreende informações sobre tratamentos prévios (ano, lugar,
duração, tipo, resultados), uso de medicações e doses, serviços sociais implicados e
o genograma. Outros autores, embora não sigam o preenchimento de uma ficha,
destacam o objetivo do telefonema inicial: obter uma visão geral do problema apre-
sentado e fazer com que venha toda a família para a consulta. Para tal, seguem um
roteiro que envolve a descrição do problema e como este afeta todos os membros
da família.

Fonte: www.drmarcoscalmon.com.br

Esse primeiro telefonema é dado para a pessoa que fez o pedido, esclare-
cendo o que está acontecendo, quem quer o atendimento, quais as pessoas envol-
vidas e quais são os membros da família. Se necessário, já no telefonema será re-
definido o pedido e o enquadre. Esta coleta de informações prévias é coerente com
os pressupostos teóricos por possibilitar uma visão ampliada do sistema familiar e a
construção de uma hipótese sobre a estrutura e o funcionamento da família, permi-
tindo que, na sessão, o entrevistador possa estar mais atento ao processo de comu-
nicação que ocorre.

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Assim, após o registro desses dados, no final do telefonema é marcada a pri-
meira entrevista com todos os membros da família nuclear. Na entrevista propria-
mente dita, Lopez e Escudero (2003) destacam que podemos diferenciar dois tipos
de habilidades técnicas:as que se relacionam com a manutenção de uma comunica-
ção adequada para o desenvolvimento da entrevista e as que se referem ao uso de
técnicas específicas de intervenção durante a mesma.

Fonte: terapiando.com.br

Aqui serão descritas as primeiras, isto é, as habilidades gerais para a manu-


tenção da entrevista: empatia/ conexão emocional (escuta ativa, reflexão de senti-
mentos e transmissão de interesse genuíno pelo que diz e expressa cada membro
da família), autenticidade/credibilidade (mostrar sinceridade e espontaneidade, apli-
car os procedimentos profissionais de forma natural e adequada ao momento que
vivem), clareza na comunicação (uso de linguagem adaptada, assegurando-se de
que todas as perguntas, explicações ou sugestões são compreensíveis para cada
elemento da família), ritmo adaptado ao cliente (ter em mente que o contexto e os
profissionais são uma experiência nova para eles, o ritmo da entrevista deve acom-
panhar as possibilidades deles) estímulo para que o cliente fale (é muito importante
estimular que todos e cada um dos componentes da família falem e expressem seus
pontos de vista e opiniões), estrutura a informação (geralmente a informação inicial
que a família traz é contraditória ou desestruturada.

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O entrevistador deve focar a entrevista no que é mais importante, oferecendo
um guia para fornecer informação útil) e controle das emoções/conflito (o entrevista-
dor deve ser capaz de criar um equilíbrio entre a expressão necessária das emoções
por parte dos membros da família e a possibilidade de trabalhar coletivamente,
avançando no processo).

Fonte: br.mundopsicologos.com

Assim, esta primeira entrevista tem como objetivo criar uma aliança com a
família e desenvolver uma hipótese sobre o que mantém o problema apresentado,
bem como testar àquela criada a partir do telefonema inicial. Para estabelecer a ali-
ança com a família, o terapeuta inicia se apresentando para quem fez o contato e
depois aos outros adultos, pedindo para os pais que apresentem os filhos, cumpri-
mentando a cada um com um aperto de mão. Neste contato inicial e apresentação
fica explicitada a relação hierárquica em que adultos têm mais poder e responsabili-
dade. Após o terapeuta mostra a sala e expõe a duração e objetivos da sessão.
Visando contemplar os aspectos teóricos mencionados, os terapeutas familia-
res norteamericanosNichols e Schwartz (2007) apresentam uma lista de verificação
da primeira sessão que inclui dez itens:
1) Fazer contato com cada membro da família e reconhecer seu ponto de vis-
ta em relação ao problema e seus sentimentos em relação à terapia;
2) Estabelecer liderança, controlando a estrutura e o ritmo da entrevista;

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3) Desenvolver uma aliança de trabalho com a família, equilibrando simpatia e
profissionalismo;
4) Elogiar as pessoas por ações positivas e forças familiares;
5) Ser empático com cada membro da família e demonstrar respeito pela ma-
neira da família de fazer as coisas;
6) Focar problemas específicos e as soluções tentadas;
7) Desenvolver hipóteses sobre interações prejudiciais em torno do problema
apresentado. Investigar porque elas persistem;
8) Não ignorar o possível envolvimento de membros da família, amigos ou
auxiliares que não estão presentes;
9) Negociar um contrato de tratamento que reconheça os objetivos da família
e especifique como o terapeuta vai estruturar o tratamento e
10) Estimular perguntas.

Fonte: vivomaissaudavel.com.br

No modelo sistêmico e, especialmente, em Terapia de Família, trabalhando


em geral com a ideia de tratamentos mais curtos e baseados em intervenções de
maior impacto do que nos modelos tradicionais de psicoterapia individual dinâmica,
as entrevistas iniciais passaram a revestir-se de especial interesse, pois ocuparão
uma proporção maior do tempo do tratamento. Além disso, elas "dão o tom" ao tra-
balho que será desenvolvido, e uma boa estruturação inicial é condição indispensá-
vel para o bom desenvolvimento da terapia.

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3.1 A questão da avaliação

Fonte: www.erikascandalo.com.br

As entrevistas iniciais devem abarcar tanto uma avaliação diagnóstica da fa-


mília como um diagnóstico clínico do paciente identificado. Muitos bons teóricos sis-
têmicos e, especialmente, os sintonizados com a posição pós-moderna a que nos
referimos acima, tem insistido em abolir ambos: o diagnóstico do paciente, porque
contribui para a rotulação deste, podendo ser a continuação de uma história estig-
matizante; o diagnóstico familiar, porque nos colocaria na condição de pretender sa-
ber a priori aquilo que só construiremos depois, com a família. Isto pode ser verda-
deiro em determinados casos, mas não vejo como eliminar esta parte do processo.
Observar e colocar em categorias é algo inerente ao ser humano pensante, não se
tem como evitá-lo, fazemos isto todo o tempo, queiramos ou não.
Além disto, um diagnóstico adequado nos dará um prognóstico preciso e uma
orientação quanto ao caminho a seguir. Isto fica bem claro em uma família que nos
procura, por exemplo, por sérias dificuldades escolares de uma criança. Procurar "a
função do sintoma" neste caso sem haver descartado causas neurológicas não faz
sentido algum, mesmo que haja um evidente conflito no casal parental. Para uma
avaliação da família, usamos como vetores principais: estrutura familiar, ciclo vital da
família, genograma, mitos familiares, formulação de hipóteses sistêmicas. É um te-
ma muito abrangente que não caberia nos objetivos deste artigo. Na questão do di-
agnóstico clínico do paciente identificado, fica clara a necessidade de trabalhar-se
em equipe: nenhum de nós está preparado para avaliar adequadamente todo o tipo
de paciente. É preciso ter sensibilidade e informação básica para saber reconhecer
os casos que necessitarão encaminhamento.
Ter uma boa caracterização do caso antes da primeira entrevista, para formu-
larmos hipóteses sistêmicas e para não nos perdermos num oceano de informações

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quando estivermos com a família, podendo manter o foco e a liderança sobre o pro-
cesso. Por isto damos especial atenção ao contato telefônico, quando a primeira en-
trevista é marcada. Quando se trata de uma instituição, onde o contato com o cliente
é mediado por uma secretária, a etapa de triagem cumpre esta função.

Fonte: slideplayer.com.br

Nela, tratamos de conseguir dados suficientes para compreender a situação


geradora da demanda de tratamento: qual o problema, quando e como começou,
quem está mais envolvido. Compreender também a forma como o caso chegou a
nós é um dado importante a obter neste momento: não é o mesmo se foram enca-
minhados pelo juiz ou se vieram espontaneamente; se a esposa está querendo ori-
entação sobre como “arrastar” o marido até o consultório ou se o marido é quem pe-
de ajuda. Aqui, como em todo o resto, é menos significativo o que dizem do que a
forma como dizem. Já neste primeiro contato deve configurar-se a aliança terapêuti-
ca para que seja viável todo o processo futuro.
No caso de ser através de um triador, é preciso cuidado para que a aliança
não seja especificamente com ele, mas com a instituição. O familiar gestor do trata-
mento, quase sempre a mãe ou a esposa, merece um cuidado especial, pois muito
frequentemente dependerá dela o prosseguimento do processo.

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Na psicoterapia individual temos um paciente com o qual buscar uma boa ali-
ança terapêutica indispensável para o desenvolvimento do trabalho; na terapia de
família este aspecto é sempre mais problemático porque são mais interesses a con-
templar, por isto enfatizamos a necessidade de valorizar especialmente o familiar
capaz de trazer a família ao consultório.

Fonte: www.erikascandalo.com.br

É interessante investir algum esforço no sentido de que venha o maior núme-


ro possível de pessoas à primeira entrevista. Às vezes, no entanto, nos vemos na
situação de trabalhar com um reduzido número de pessoas que se preocupam real-
mente com o problema, e não poucas vezes, com uma só. O fato de virem mais
pessoas por si só é terapêutico: "tanta gente se preocupa por mim". Mas também
significa que mais forças se terão mobilizado, e mais pessoas presentes serão mais
pontos de vista, ampliando nossa compreensão e consequentemente – esperamos –
nossa margem de ação.
Com uma ressalva: não é frequente manter-se um número grande de familia-
res por muitas entrevistas. Por isto, se acontecer de sentirmos que não terminamos
de compreender bem a situação durante o contato telefônico, será interessante dei-
xarmos para convocar "toda a família" mais tarde, para não desperdiçarmos a opor-
tunidade.

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Fonte: psicoenvolver.com.br

Ainda como parte das etapas prévias à primeira entrevista, imaginar as pes-
soas que estão por chegar tem se mostrado um exercício rico. Poucas vezes nos
colocamos no lugar delas: quais suas expectativas, suas ansiedades, como se orga-
nizarão para vir. Fazer isso nos coloca em contato com o sentimento de fracasso e
com as ansiedades persecutórias ("vão nos julgar, vão nos acusar por coisas que
fizemos mal") que quase toda a família inevitavelmente trará ao consultório.
É uma boa preparação para a primeira entrevista, nos coloca em sintonia com
a família, fazendo aflorar nossa capacidade de empatia, que é indispensável para
este trabalho. Por outra parte, é importante prestar atenção naquilo que o primeiro
contato desperta em nós: o que sentimos com relação às pessoas envolvidas, como
imaginamos serem elas fisicamente, que hipóteses formulamos. Insisto em que fazer
hipóteses, assim como diagnosticar, é parte inevitável do processo, por isso, trate-
mos de tirar proveito dela: a diferença entre o que imaginamos e o que viermos a
nos deparar depois na entrevista será outro dado a considerar.

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3.2 A primeira entrevista

Fonte: papsico.blogspot.com.br

Se tivermos que reduzir ao mínimo de palavras nossos objetivos ao realizar a


primeira entrevista familiar, vínculo e informação seriam estas palavras. Outra vez:
vínculo e informação, nesta ordem, isto é, priorizando o vínculo quando os dois obje-
tivos entrarem em conflito. Além disso, às vezes pode ser necessário tomar provi-
dências já no primeiro encontro, como nos casos de violência, abuso ou risco imi-
nente para alguém. Tudo o mais se organizará ao redor disto: se não for feito o vín-
culo, corremos o risco de não termos família na próxima sessão. Para o vínculo, não
basta ser compreensivo, fazer alianças alternadas com todos, olhar e escutar cada
um, fazer bem a etapa social, etc., como está bem explicado no texto de Haley.
Nossa tarefa, acredito, envolve um delicado equilíbrio entre tensão e apoio,
questionamento e aceitação. Explicando melhor: é preciso que a família se sinta
compreendida, acolhida, que se sinta razoavelmente confortável estando ali. Isto
ajudará a vir na próxima entrevista. Mas há outro ingrediente também indispensável:
a sensação de que valeu a pena ter vindo e que valerá a pena voltar, e, para isto, é
preciso poder oferecer uma visão alternativa da situação, e estabelecer conexões
até então não percebidas. Re-enquadrar, conectar o sintoma com o sistema, conotar
positivamente, são evidentemente visões alternativas, assim como salientar os re-

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cursos saudáveis provavelmente esquecidos. Perguntas circulares levam também as
pessoas a refletirem, descobrindo novas relações entre fatos, sentimentos, ações.
Para tudo isto nos baseamos, é claro, na informação sobre a situação atual e
sobre história desta geração e muitas vezes daquelas que a precederam. Tenho ob-
servado que as melhores entrevistas são aquelas em que os terapeutas parecem
ter-se esquecido de sua posição e simplesmente se sentam com a família e conver-
sam com ela. Isto evidentemente depende da habilidade e experiência do terapeuta,
das ressonâncias que a situação desperta nele, assim como da gravidade da disfun-
ção familiar.

Fonte: crescer.centropsicologiainfantil.com

De qualquer maneira, costumo dar alguns conselhos aos terapeutas em for-


mação: esqueçam a teoria, quando estiverem com as famílias. Deixem-se levar pela
imaginação, pela ressonância (Elkaïm, 1990). Deixem-se capturar pelo incomum
(uma grande diferença de idade, por exemplo), pelo bizarro, pelo "estranho". Não
deixem passar "subentendidos", ou "sujeito indeterminado" ("Dizem que..."). Ouçam
a própria curiosidade: não a colocando imediatamente em palavras, o que poderia
levar a desvendar-se precocemente um segredo, mas deixando-a livre para atuar
dentro de si próprios. Também pensando no vínculo com a família como um todo,
uma sugestão, quase uma advertência: nunca atacar o gestor.

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É verdade que devemos buscar uma aliança com cada membro da família,
mas saliento aqui a importância de priorizar a aliança com aquele capaz de manter a
família em tratamento, da mesma forma que dedicamos atenção especial àquele
que poderia trazê-los a terapia. Note-se que isto não pode ser extrapolado para te-
rapia de casal, onde, havendo só duas pessoas, priorizando-se a aliança com uma,
a outra estará automaticamente sendo relegada a um segundo plano.

3.3 O contrato

Fonte: slideplayer.com.br

Preferimos não fazer o contrato na primeira entrevista, deixando-o para a se-


gunda ou mesmo a terceira. Muito frequentemente, embora deixemos um período
maior para o primeiro encontro do que para os posteriores, a entrevista se prolonga
demais e nos vemos na situação de fazer um contrato apressadamente. Mas isto
não é o mais importante. Inevitavelmente, a família se move entre uma entrevista e
outra, e a velocidade e sentido deste movimento serão um dado importantíssimo a
considerar. Uma entrevista pode comparar-se a uma foto, com duas já temos um
fragmento de filme. É frequente modificarmos nossa opinião sobre os recursos po-
tenciais de uma família após a segunda entrevista.

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Fonte: slideplayer.com.br

Outro motivo para postergar o contrato são os aspectos fóbicos, evitativos,


que se encontram em maior ou menor intensidade em praticamente todas as famí-
lias que veem a tratamento. Insistir num contrato antes que se sintam seguras pode-
rá resultar em abandono prematuro do tratamento. O contrato deve especificar cla-
ramente os objetivos do tratamento e os acertos que chamamos de "administrati-
vos".
Quais são esses detalhes administrativos: se há equipe atrás do espelho uni-
direcional, todos os membros da família devem saber e concordar, antes de iniciar-
se a entrevista (Acquaviva, 1993). Da mesma forma com relação à filmagem (nestes
casos a autorização deve ser por escrito), ao preço e à modalidade de pagamento.
Se terão que pagar igualmente no caso de não comparecerem, devem saber com
que antecedência terão que avisar para que não seja cobrada a entrevista. Informa-
ção quanto à duração da sessão, ouse há previsão quanto à duração do tratamento
também cabem aqui. Lembremos que "contrato" é um termo do jargão profissional,
com a família fazemos "combinações". A palavra "contrato" pode lembrar compro-

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missos assumido em cartório, o que nenhuma família estará pensando em fazer
neste momento.

3.4 Confidencialidade

Fonte: abcounselling.wixsite.com

Se poderão ocorrer entrevistas individuais ou em subsistemas, é outra das


combinações a fazer. Este, especialmente, é um tema que desperta sempre muitas
questões entre os terapeutas em formação: como lidar com um modelo misto de en-
trevistas individuais e entrevistas conjuntas? O que fazer com a informação potenci-
almente explosiva que pode surgir nestas situações? Temos repetido que este é o
risco e a vantagem de trabalhar com este modelo; só podemos colocá-lo em prática
se nos sentirmos seguros.
Caso contrário, mantenha-se no já trilhado caminho de jamais ver alguém in-
dividualmente ou em subgrupo: é bem mais confortável. Se a opção for poder ver os
membros da família em entrevistas individuais, o melhor é avisá-los de antemão (re-
pito, antes dessas entrevistas): nem tudo o que for conversado nestes momentos
será necessário trazer para o grupo, mas aquilo que for pertinente ao trabalho em
conjunto, precisamos ter a possibilidade de ventilar, e, portanto, trataremos de aju-
dar a pessoa a fazê-lo, respeitando seu tempo.

22
3.5 Dos objetivos da terapia

Fonte: www.psicologamariele.com.br

É difícil manter-se uma família inteira em tratamento se não houver um acordo


mínimo sobre os objetivos a alcançar, por isto a definição dos objetivos da terapia é
parte integrante do contrato. Quando esta etapa é relegada e as metas não são
adequadamente discutidas entre todos, chegando-se a um consenso, o abandono
do tratamento é mais provável. Discutir as metas já é terapêutico: dá oportunidade a
cada um de expor sua visão do problema; quem sabe, poder vê-lo sob outro ângulo,
e, principalmente, comprometer-se com relação à busca dos resultados.
Objetivos claros são uma necessidade, mas há objetivos que se mantém fora
do combinado, embora outros já tenham sido estabelecidos. Uma pergunta que
sempre tem se mostrado útil é: "porque agora"? (Stanton, 1996). Pode ser feita à
família, mas eu a repito especialmente para mim própria. Porque tomaram a iniciati-
va de pedir ajuda neste momento? Porque não esperaram mais? Porque não vieram
antes? Às vezes a resposta é muito óbvia: "Pedrinho se recusa a ir à escola desde a
semana passada". Outras ninguém consegue formulá-la, perdidos todos em um
emaranhado de explicações. Perguntar pode levar a família a estabelecer conexões
que não havia visto ainda.
Em outros casos, saber por que nos procuraram exatamente nesta semana,
quando o problema tem muitos anos, pode nos levar diretamente aos objetivos in-
conscientes ou não declarados de cada um, especialmente do gestor, a um diagnós-
tico mais rico, e a hipóteses mais consistentes.

23
3.6 Atitude do terapeuta

Fonte: www.eusemfronteiras.com.br

A influência do modelo pós-moderno se faz sentir no questionamento da auto-


ridade do terapeuta. Não pretendemos mais ter todas as soluções, o que nos permi-
te trabalhar sem tanta pressão no sentido de acertar. Não que não tenhamos qual-
quer responsabilidade com as famílias, mas a ênfase deixou de ser ter as interven-
ções "corretas".
Nosso trabalho é encontrar com a família seus próprios recursos, suas pró-
prias forças e a alavancá-las. Por outro lado, e só em aparência contrapondo-se a
isso, pensamos que é fundamental o terapeuta estar no comando da situação. Deve
saber onde quer chegar e administrar bem o tempo, para cobrir o indispensável nu-
ma primeira entrevista. Deve poder interromper com firmeza, manter o foco no que
julga importante e escutar sua própria voz interior enquanto escuta a família. Para o
principiante, preocupado com que tudo saia bem, repetimos aqui o conselho de um
trabalho anterior (Sattler e Acquaviva, 1990): trabalhar em co-terapia, no início, é
mais seguro, mais eficiente, e principalmente, muito mais divertido.

24
Tenho ainda uma outra sugestão que, colocada em prática, mostrou-se uma
experiência muito rica para terapeutas de família em formação: criar oportunidade de
entrevistar em consultório famílias comuns, "normais", "sadias", não sintomáticas.
Esta situação permite ao principiante relaxar, vivenciando a situação de não
exigência a qual só podem dar-se o luxo os terapeutas mais experientes. Por último,
um lembrete para ajudar a tranquilizar aqueles que fazem pela primeira vez suas
primeiras entrevistas: há situações que nenhum terapeuta, por mais hábil que seja,
poderá modificar.
Da mesma forma como não temos a força para causar danos irreparáveis às
famílias, pois elas são muito mais fortes do que nós, que deveremos ser apenas um
evento passageiro em suas vidas.

Fonte: terapiando.com.br

25
4 ATENDIMENTO FAMILIAR EM GESTALT TERAPIA

Fonte: pt.slideshare.net

Um dos pontos fundamentais para a chegada da família é a crença que o te-


rapeuta precisa ter com relação à capacidade de transformação e reformulação do
cliente/família, é uma das crenças imprescindíveis para o início do trabalho. Até para
conseguir que a família acredite na sua força implícita que a faz estar procurando
ajuda. Ou seja, é ajudar a família reconhecer sua própria capacidade de auto-
reformulação e transformação com seus limites e possibilidade de vida. O desejo da
família de se cuidar e o reconhecimento de que necessitam de uma ajuda terapêuti-
ca é o início da chegada a terapia. Cabe ao terapeuta acolher esta demanda com
muito respeito e cuidado até porque é esse o combustível motivacional que vai fazer
com que a família se mantenha emocionalmente na terapia, a necessidade de me-
lhorar.
As resistências e os medos são muitos, mas essa necessidade de saúde
emocional precisa estar nos desejos da família para “bancar” enfrentarem conjunta-
mente um espaço terapêutico. O atendimento familiar na GT tem como foco utilizar a
dinâmica e as trocas que acontecessem no presente momento da terapia como re-

26
curso principal de intervenção para a família, como coloca Miriam Polster: “Os siste-
mas sensoriais e motores do indivíduo só podem funcionar no presente, e é da
perspectiva dessas funções que a experiência presente pode ser palpável e viva”.

Fonte: slideplayer.com.br

No atendimento utilizar o presente é trazer para o momento o que aparece


para o reconhecimento sensorial consigo mesmo, reconhecer a tensão gerada, a
frustração sentida, observar e sentir como o corpo se movimenta, se incomoda e
sente no aqui e agora. E, aí sim, a possibilidade ou escolha de mudar ou não será
utilizada terapeuticamente. Para isso, se torna fundamental e respeitoso favorecer
que cada membro da família atendida tenha voz e tempo equivalentes dentro da
mesma sessão e, que da mesma forma, é importante que o membro mais calado se
sinta presente e também participante da sessão familiar.
Os teóricos e estudiosos da GT afirmam que viver no presente é ter qualidade
de presença e de vida.
No atendimento familiar como no individual ou em grupo, os limites da terapia
precisam ser bem demarcados e claros para os clientes, pois a dinâmica familiar se
apresenta por vezes como um objeto de muitas pontas e arestas, e o sobrar ou faltar
dentro dos limites da sessão pode acarretar alguns sentimentos de perda e menos
valia, para alguns participantes do grupo familiar. Dentro da ótica gestáltica, estes

27
sentimentos emergidos ou despertados durante a sessão terapêutica nos membros
da família devem ser reutilizados na própria dinâmica familiar de forma a propiciar
que os mesmos reconheçam seus sentimentos e possam experimentar mudar ou
permanecer.

Fonte: psicoterapiadecasalporcarolinevieira.blogspot.com.br

O Gestalt Terapeuta no atendimento familiar vai favorecer que sejam experi-


mentadas novas formas de expressão de maneira a reconfigurar a vida presente dos
participantes estimulando que os participantes tenham cada um sua vez e se res-
ponsabilizem pelo espaço que está escolhendo configurar para si. Com isso, o cam-
po familiar cada vez mais vai se encorajar a experimentar reconstruir novas possibi-
lidades de ação.
Conforme a vinculação e confiança no terapeuta e no espaço terapêutico vai
se aprofundando e aproximando, a confiança do cliente em si mesmo vai se desen-
volvendo também. O terapeuta vai “ensinar” a escutar, a ser escutado; ver e ser vis-
to; sentir e ser sentido por meio do dar se conta, das vivencias inacabadas sendo
revividas e reconfiguradas; enfocando a energia existente no campo terapêutico pa-
ra a própria dinâmica familiar apresentada de forma a favorecer que novos encon-
tros aconteçam na mesma família.
A Gestalt Terapia é uma Terapia de autorealização, que visa o crescimento
humano através do seu processo de transformação e autoconhecimen-

28
to. Compreende o homem como uma totalidade mente/corpo, considerando tam-
bém todo o campo biopsicossocial, valorizando a tomada de consciência, o contato
consigo e com o mundo que o cerca.
Trabalha com a noção de “aqui e agora” mas neste contexto o presente é
também o passado e o futuro que se incluem. É importante no momento da terapia
tudo o que se torna figura sobre um fundo, todo conteúdo e vivência que se destaca
do todo e que se faz importante no momento.

Fonte: camilasimoes.psc.br

O cliente é quem dá sentido para sua relação com o ambiente, ele é aquilo
que ele pode ser naquele momento, com seus recursos, potencialidades e dificulda-
des. O cliente trabalha em conjunto com seu terapeuta, ambos exercendo papel ati-
vo no processo terapêutico, assim o cliente trilha seu próprio caminho em busca de
sua autorealização.
O Gestalt terapeuta procura investigar o que está acontecendo através de
uma postura acolhedora, presente e interessada, sem julgamentos ou pré-conceitos.
A relação terapêutica é um microcosmo confirmador, seguro e favorável onde
o cliente poderá experienciar novas formas de existir, sentir e perceber, ensaiando
assim uma forma mais satisfatória de se relacionar e conquistando uma melhor qua-
lidade de vida.

29
5 O PAPEL DAS EMOÇÕES NA TERAPIA FAMILIAR COGNITIVO-
COMPORTAMENTAL

5.1 Exemplo de caso

Uma família iniciou tratamento devido a um conflito sobre o qual eles atribuí-
am como origem as atitudes rígidas da mãe. A mãe dessa família foi criada por pais
imigrantes europeus, os quais foram vítimas do holocausto na infância. A mãe dela,
que sofria de uma depressão grave, tentou suicídio uma vez e depois culpava a filha
por não dar atenção a sua deterioração emocional. Em essência, a mãe atribuía à
filha a responsabilidade pela sua saúde mental. A filha, agora mãe, tendia a reagir
de forma exagerada sempre que observava em seu marido, seus filhos ou em si
mesma, qualquer sinal de fraqueza, tal como depressão média, pelo medo de que
pudesse ocorrer deterioração e suicídio.
Além disso, ela temia que a responsabilidade por tais consequências pudes-
se cair em seus ombros. Como resultado, ela se tornou intolerante a qualquer sinal
de fraqueza em si mesma e na família, tal como chorar ou reclamar. Os outros
membros familiares sentiam a necessidade de “pisar em ovos” quando em contato
com ela, sujeitando-se relutantemente aos seus desejos, alguns dos quais não razo-
áveis, de modo a evitar sentimentos desconfortáveis.

Fonte: eucontigo.com

30
Não surpreende que esses problemas levassem a conflitos graves entre os
membros familiares. Os filhos e o marido se aliavam contra a mãe, considerando-a
como um “caso difícil” em situações de expressão emocional. Curiosamente, os fi-
lhos e o pai desenvolveram um esquema compartilhado de que a mãe era o membro
“doente”, do mesmo modo que ela considerava a própria mãe durante a sua forma-
ção. Surpreendentemente esse esquema foi também uma parte do esquema da fa-
mília-de-origem da sua mãe, uma vez que esta última “era doente e necessitava ser
tratada de modo especial”. Os filhos declaravam-se relutantes em serem autênticos
quando perto de sua mãe, temendo o modo como ela poderia reagir.
Consequentemente, a aliança defensiva por parte dos outros membros da
família levou a mãe a se sentir alienada e cada vez mais inflexível com relação as
suas crenças de que os membros familiares deveriam evitar mostrar quaisquer si-
nais de fraqueza. Infelizmente, a mãe manifestava insight limitado sobre como ela
estava afetando negativamente a sua família.
Por outro lado, o pai veio de uma família de origem na qual sua mãe era con-
troladora e arrogante. Ele costumava declarar nas sessões de terapia familiar que
ele “tinha um jeito” para lidar com sua mãe. Por essa razão, algumas de suas rea-
ções em relação a sua esposa e a forma de aliança com seus filhos foram vistas
como um deslocamento de seus sentimentos em relação a sua própria mãe. Isso
contribuiu para que ele evitasse confrontar-se diretamente com sua esposa sobre os
problemas citados.

Fonte: virtualmarketingpro.com

31
Ao investigar com a paciente como se desenvolveram seus pensamentos
acerca do funcionamento familiar, esta afirmou acreditar que sua própria mãe tor-
nou-se mentalmente doente por ser fraca e que sua família-de-origem sempre per-
mitiu a doença de sua mãe ao tolerar suas declarações de ser “subjugada”, “cansa-
da” e assim por diante. Ela desenvolveu um esquema no qual, para manter a sua
família saudável e forte, era crucial que ela se mantivesse firme, não dando espaço
para “suavidade”. A utilização da técnica de intervenção cognitiva da “seta descen-
dente” - implementada através de uma série de perguntas com o objetivo de se des-
cobrir o esquema básico subjacente, a partir dos pensamentos de nível mais super-
ficial – permitiu identificar a crença central da mãe. Essa técnica é introduzida quan-
do, a partir de um problema apresentado, segue-se perguntando: “Se isso ocorres-
se, que significado teria para você?”
O esquema rígido da mãe, por exemplo, levou-a a pensar em termos dicotô-
micos, não permitindo espaço para qualquer expressão emocional, a não ser a raiva,
que ela expressava em reação ao que percebia como sinais de fraqueza dos outros
(para ela a raiva era uma reação emocional associada à força e assim era mais acei-
tável, na medida em que se sentia em controle) (ex., “Não há espaço para a fraque-
za na vida”). Isso teve, indubitavelmente, um impacto negativo sobre o resto da famí-
lia, que formou uma aliança contra ela. O esquema do pai, que era fortemente afeta-
do pela sua relação com sua mãe, contribuiu para os seus comportamentos passivo-
resistentes de não confrontar a sua esposa.

Fonte: pt.slideshare.net

32
Esses sentimentos de ser negligenciado pelo “estilo super poderoso” de sua
mãe levaram-no a encontrar a força nos números, formando assim uma aliança com
seus filhos contra a sua esposa. Curiosamente, essa é a mesma maneira na qual
ele, seu pai e seus irmãos lidavam com a arrogância de sua mãe durante sua forma-
ção.
Quando os filhos foram entrevistados, eles concordaram que viam sua mãe
como não razoável e desagradável. Suas atribuições sobre a causa da tensão na
família envolviam a visão de que o problema estava conectado com o modo como
sua mãe foi criada, o que fortaleceu a visão inflexível dela sobre o “ser humano”.
Quando dois dos filhos foram questionados sobre seus pensamentos automáticos do
dia-a-dia, eles disseram que sua mãe estava sendo “ridícula” e controlava a família
com uma espécie de “pensamento maluco” que aprendeu com a mãe dela, quando
criança.
O pai deles fomentou a percepção da mãe como a “perpetradora” e a dele e
dos filhos como vítimas inocentes. Nas tentativas de se descobrir as crenças cen-
trais dos filhos, ou o esquema geral sobre a situação, uma filha declarou: “Eu acho
que minha mãe está provavelmente no limite do estresse a que foi submetida por
toda a sua vida. No entanto, nós devemos concordar com ela ou algo ruim poderá
acontecer e nós não precisamos disso – embora nós estejamos o tempo todo res-
sentidos em ter que viver desse modo – tudo por causa dos problemas estúpidos de
minha avó.”
Os esquemas familiares dos pais costumam ser disseminados e aplicados na
educação de seus filhos. Neste caso, a integração com as percepções da prole e as
inferências sobre o ambiente familiar e outras experiências de vida contribuem para
o posterior desenvolvimento do esquema familiar. O esquema familiar está sujeito à
mudança quando os eventos principais ocorrem durante o curso da vida familiar (ex.,
morte, divórcio, doença) e eles também continuam a evoluir no curso da experiência
ordinária do dia-a-dia. Os filhos podem também reprovar as crenças dos pais, tal
como o que foi descrito e podem adotar uma posição oposta. Por exemplo: “eu não
vou agir como ela acha que eu deveria agir – eu vou fazer o que eu quero”.

33
Fonte: slideplayer.com.br

Ignorar as emoções em qualquer tipo de terapia familiar seria um grave erro.


O componente emocional é um dos muitos aspectos da disfunção familiar que leva a
família a procurar tratamento. Um dos mitos mais comuns a respeito da TFCC é que
esta minimiza, ou até deliberadamente ignora, o componente emocional do trata-
mento (Dattilio, 2001a). Lazarus (1991) definiu emoções como uma complexa e pa-
dronizada reação do organismo a como nós pensamos que estamos nos desempe-
nhando na vida.
As emoções expressam a medida pessoal e íntima daquilo que está aconte-
cendo na nossa vida social. Portanto, as emoções são essenciais para os nossos
relacionamentos pessoais próximos, como o que ocorre entre os membros da famí-
lia. Os terapeutas cognitivo-comportamentais tendem a focar principalmente nas
emoções que estão associadas com os processos cognitivos.
No âmbito das interações familiares, essa questão concerne à como as emo-
ções, sejam positivas ou negativas, estão conectadas a experiências cognitivas es-
pecíficas. Desta forma, um membro da família pode parecer estar experimentando
raiva, mas o terapeuta explora a cognição associada, a fim de compreender inteira-
mente a origem das emoções que ocorrem nas interações familiares. Por exemplo,
uma adolescente que se torna irada com seus pais porque estes não permitem que
ela vá a uma festa em particular, pode revelar, quando questionada pelo terapeuta,

34
que o que está subjacente à raiva é o sentimento de medo e vulnerabilidade à rejei-
ção por seus colegas, caso ela não possa comparecer à festa.

Fonte: slideplayer.com.br

Assim, a cognição relacionada a esta emoção seria: “Eu posso me sentir en-
vergonhada por não poder ir e posso estar sujeita à ridicularização e à rejeição.”
Uma cognição como esta pode estar associada a uma experiência prévia de ter tes-
temunhado uma situação similar com uma colega em que esta foi rejeitada pelo gru-
po social, pelo mesmo motivo. Esta avaliação diferencia a emoção especificamente
relacionada a uma situação de um estado emocional mais geral que o indivíduo po-
de experimentar.
Na abordagem cognitivo-comportamental, o terapeuta auxilia os membros da
família a identificarem como as emoções estão comumente ligadas a cognições es-
pecíficas e ajuda os familiares a explorarem a adequação e a validade das cogni-
ções que estão associadas às emoções negativas. Neste exemplo, auxiliar a filha a
reexaminar o quanto o seu comparecimento à festa seria realmente crucial poderia
ser uma maneira de reduzir a intensidade de sua raiva.

35
Fonte: www.sbie.com.br

Ainda, intervenções que ajudam os membros da família que estão perturba-


dos a se confortarem e a reduzirem a intensidade da emoção também podem permi-
tir que estes pensem mais claramente sobre os problemas familiares. Uma discus-
são mais ampla sobre os procedimentos utilizados para avaliar e intervir em respos-
tas emocionais se encontra em Epstein e Baucom (2002). Para os propósitos da
presente discussão, é importante reconhecer como os esquemas familiares podem
estar associados às emoções intensas, que podem necessitar ser manejadas, de
forma que os familiares possam focar na identificação e na modificação de crenças
centrais envolvidas nos esquemas.

36
6 DESENVOLVIMENTO DOS ESQUEMAS FAMILIARES

Fonte: pt.wikipedia.org

O desenvolvimento e o funcionamento dos esquemas familiares é similar aos


dos indivíduos e dos casais, baseados nas experiências de vida pregressas e atuais,
da maneira como foram percebidas por cada um dos membros da família. Virgínia
Satir, que foi a pioneira em terapia familiar, escreveu, há muito tempo, que “Os pais
são os arquitetos da família” (Satir, 1967). A TFCC inclui este conceito e sustenta
que os esquemas e experiências de vida que um casal traz para o relacionamento
são transmitidos aos seus descendentes e moldam a constelação familiar (Dattilio,
1998).
As crenças parentais certamente influenciam o modo como seus descenden-
tes interpretam os diversos eventos da vida, e contribuem fortemente para os con-
ceitos que uma criança forma sobre o mundo. Isso é claramente visto na vinheta de
caso apresentada anteriormente, em que a mãe era preocupada com sinais de fra-
queza nos membros de sua família. A noção de esquema aplicada a famílias pode

37
explicar algumas das dinâmicas que constituem as crenças centrais e como estas
crenças afetam os padrões emocionais e comportamentais de desta.
Ficou implicitamente entendido que o custo de “perturbar” a mãe através da
expressão de qualquer tipo de emoção negativa, era muito alto. Consequentemente,
o esquema evoluiu de forma que os membros da família raramente expressavam
emoções negativas, exceto se a mãe estivesse ausente. A família compartilhava o
esquema de que doença mental pode causar fraqueza e afetar os outros membros
da família.
Contudo, havia outros esquemas familiares que envolviam todos, à exceção
da mãe, incluindo alguns como “Nós devemos pisar em ovos com a mamãe ou en-
tão ela vai brigar conosco”. Isso é similar aos “mitos familiares”, que os teóricos sis-
têmicos discutem em terapia familiar (Nichols& Schwartz, 1998).
O esquema relativo à necessidade de não desagradar à mãe, através da vio-
lação de sua crença sobre fraqueza associada à expressão de sentimento, fez com
que o restante da família ficasse alinhado contra ela, o que, por sua vez, aumentava
sua desconfiança em relação aos comportamentos dos outros membros da família;
tudo isto contribuindo para a formação de um processo circular negativo e de uma
atmosfera bastante tensa.

Fonte: www.psicologiamsn.com

Um segundo aspecto dos esquemas é mais velado do que o que foi descrito
até agora. Os membros da família também sustentavam uma crença implícita de que
a mãe tinha uma doença mental e que eles precisavam apaziguá-la, de forma a im-
pedir que ela entrasse em colapso emocional ou perdesse o controle.

38
Este esquema era transmitido não-verbalmente pelo pai, na medida em que
ele não permitia que os filhos expressassem seu aborrecimento para a mãe. Este
sentia a necessidade de proteger sua esposa, que ele acreditava ser muito frágil e
sujeita a um colapso caso a família a confrontasse e reclamasse do seu comporta-
mento.

Fonte: www.minutopsicologia.com.br

O pai estava também se rebelando contra sua própria mãe, ao formar uma
coalizão com seus filhos contra sua esposa, assim como seu pai fazia com ele e
seus familiares durante sua juventude. Este era um esquema familiar velado com-
partilhado por todos na família, inclusive pela mãe, que foi criada para acreditar que
era muito frágil.
Infelizmente, a regra nesta família, “Não balance o barco e faça o que a ma-
mãe disser”, se estendia a outras áreas da vida familiar, o que criou uma grande
quantidade de ressentimento velado por parte dos filhos. Por exemplo, se uma das
adolescentes estivesse chateada depois de uma briga com seu namorado, ela cho-
raria trancada em seu closet, numa tentativa de evitar que sua mãe a visse ou ou-
visse. Depois, ela tomaria um banho e se maquiaria para disfarçar a vermelhidão
dos olhos, de forma que sua mãe não pudesse perceber que ela estava perturbada.
Por consequência, a crença compartilhada de que era mais fácil simplesmente es-
conder os sentimentos, ou continuar a satisfazer a mãe em função de sua fragilida-
de, contribuiu para a evitação e a confrontação conjuntas entre os membros da famí-
lia.
Foi notado, também, que os membros da família começaram a generalizar o
esquema familiar de evitação da auto expressão para seus outros relacionamentos
fora de casa. Isso era particularmente real para algumas das crianças, que temiam

39
represálias por parte de seus colegas ao expressarem seus sentimentos negativos.
Isto gerava dificuldades em seus relacionamentos interpessoais. Isto também cau-
sava um viés em suas crenças sobre como uma pessoa deveria lidar com os outros
quando estes enfrentam emoções negativas.

Fonte: ampastta.com

Neste caso, o esquema individual da mãe era o de que ela deveria proteger
sua família de entrar em colapso e tornar-se indefesa diante da vida. A mãe via seu
papel na família como sendo aquela que precisava manter os outros fortes a todo
custo. Em contraste, o esquema individual do pai envolvia a crença de “Eu preciso
proteger minha esposa, depois de tudo que ela passou em sua infância e é impor-
tante que eu e as crianças sejamos sensíveis e respeitosos com ela.
Ao mesmo tempo, eu preciso estar entre a minha esposa e meus filhos, uma
vez que, algumas vezes, as crianças estarão com raiva ou ressentidas, e eles preci-
sam entender como a mãe deles funciona”. As crianças compartilhavam o esquema
individual: “Eu não posso ser eu mesma na frente da minha mãe porque isso causa
uma reação em cadeia negativa. Meu pai sempre a apoia e não vai confrontá-la,
mesmo que isto resulte em sofrimento para mim. É muito desconfortável viver desta
forma. Eu odeio morar nesta casa!”. O esquema individual de cada membro da famí-
lia mantém o esquema familiar compartilhado de que “não balançar o barco” é a me-
lhor opção.
Os esquemas individuais de cada familiar são normalmente similares ou
complementares, o que permite que estes sejam todos consistentes com o esquema
compartilhado. No caso de os esquemas individuais não se articularem bem, há con-
flito ou um ou mais esquemas dos membros da família precisam ser ajustados de
forma a se encaixar com o esquema familiar geral. Um exemplo em família envolve

40
uma adolescente que se recusa a aceitar os pedidos de sua mãe e dramatiza exage-
radamente suas emoções, com o objetivo de provocar sua mãe e obter elogios de
seu pai, em uma tentativa de manter a homeostase familiar.

Fonte: academiadopsicologo.com.br

A pressão contínua dos outros membros da família e a ameaça de que eles


iriam isolá-la, caso ela não obedeça, podem finalmente fazê-la abandonar seu com-
portamento provocativo. Ao longo do tempo, ela poderia concluir que “Se eu não co-
operar vou perder minha família. Logo, vou ceder para fazer todo mundo feliz”,
mesmo que ela possa, ainda assim, se ressentir do que ela percebe como o compor-
tamento controlador de sua mãe.

6.1 Atribuições

Os esquemas modelam ainda outros tipos de cognição que comumente ocor-


rem nas interações familiares, incluindo atribuições, que são inferências sobre as
causas dos acontecimentos da relação. O esquema envolve ideias sobre ligações
causais. Assim, quando alguém observa um acontecimento, este tem ideias preexis-
tentes sobre que fatores provavelmente o causaram.
Atribuições são essencialmente explicações para acontecimentos da relação
ou para comportamentos que já ocorreram. Estas são consideradas importantes as-
pectos da experiência subjetiva de um indivíduo a respeito do seu relacionamento
com os outros (Epstein &Baucom, 2002).
41
Fonte: www.gabinetpsicologicmataro.com

Quando aplicadas às famílias, os membros fazem atribuições sobre caracte-


rísticas tanto positivas quanto negativas uns dos outros. Por exemplo, a tendência
dos familiares de culpar uns aos outros por certos problemas e de atribuir as ações
negativas uns dos outros a amplas e imutáveis características de personalidade é
uma das formas mais comuns de atribuição negativa (ex. meu pai não escuta o que
eu tenho para dizer porque ele é egoísta e não se importa comigo.
Por outro lado, atribuições positivas também ocorrem (ex. meus pais normal-
mente pedem a minha opinião porque eles valorizam o que eu tenho para dizer).
Atribuições negativas, especialmente aquelas envolvendo traços de personalidade,
podem facilmente promover um senso de desesperança nos familiares, assim como
se pode encontrar em indivíduos diagnosticados com depressão e em membros de
casais em crise (Beck, Rush, Shaw &Emery, 1979; Dortherty, 1981; Epstein, 1985).
Tais atribuições podem também dificultar o uso de habilidades de comunica-
ção construtiva e de solução de problemas. As atribuições afetam a maneira como
os membros da família se sentem em relação uns aos outros, como se sentem sobre
o relacionamento de sua família e sobre suas interações em geral. Estas derivam
das crenças subjacentes ou dos esquemas dos familiares sobre eles mesmos e so-
bre os outros.

42
Fonte: www.psicoterapialasal.com

6.2 Expectativas

As atribuições são importantes, mas as predições que os membros da família


fazem sobre o comportamento futuro uns dos outros são igualmente importantes.
Estas predições são conhecidas como expectativas, e são comumente baseadas
nos esquemas individuais dos membros da família sobre as relações desta. Expec-
tativas podem ter um efeito profundo na disposição emocional e comportamental de
um indivíduo e de seus familiares. Um exemplo clássico é um adolescente que pos-
sui um esquema de que seus pais não compreendem nem respeitam seus filhos.
O adolescente, então, prevê que seus pais não conseguirão se manter aber-
tos para ouvir seus pedidos. “Eles simplesmente desrespeitam qualquer pedido que
eu faça. É inútil pedir qualquer coisa”. Por sua vez, a motivação do adolescente em
comunicar-se com seus pais é pequena e, quando ele toma decisões sem consultar
os pais, estes respondem com punição, o que é consistente com o esquema negati-
vo que o adolescente possui sobre eles.

43
Fonte: www.interac.com.br

O esquema negativo básico do adolescente sobre a relação entre pais e filhos


se fortalece e se desenvolve em um esquema compartilhado de que “os pais e os
filhos não conseguem se comunicar nem se olhar nos olhos”, na medida em que os
pais também percebem que seus esforços em influenciar o filho são infrutíferos. As-
sim, expectativas moldadas pelos esquemas levam os familiares a se comportarem
de maneira a criar profecias auto realizadoras que reforçam os esquemas familiares.
Expectativas negativas podem, sem dúvida, influenciar a direção do conflito
na dinâmica familiar. Embora o maior volume de pesquisas em expectativas tenha
sido dedicado a casais em crise (Fincham, Bradbury, & Beach, 1990; Vanzetti, Nota-
rius&NeeSmith, 1992), os resultados provavelmente podem ser aplicados às dinâmi-
cas familiares. Um dos principais focos do tratamento é reduzir o senso de desespe-
rança dos membros da família sobre a possibilidade de melhorar os aspectos nega-
tivos da relação.
Não é surpreendente que expectativas e atribuições estejam relacionadas en-
tre si. Epstein e Baucom (2002) discutem como os casais fazem atribuições estáveis
quando eles percebem o comportamento de seu parceiro como sendo improvável de
se modificar. Quando isto ocorre, normalmente gera expectativas negativas a respei-
to do futuro do relacionamento.

44
Na maioria dos casos, essas cognições negativas estão associadas com
emoções negativas tais como raiva, depressão etc. O mesmo processo se mostra
verdadeiro para as famílias. Por exemplo, o adolescente que sente que seus pais o
desrespeitam pode desenvolver sentimentos depressivos.

6.3 Suposições

Suposições são uma forma de esquema que cada familiar possui sobre as ca-
racterísticas dos outros membros da família e sobre o relacionamento. Suas suposi-
ções subjacentes sobre as características uns dos outros servem de base para reali-
zar atribuições sobre as causas dos comportamentos específicos dos outros. Como
resultado, a suposição subjacente que cada membro desenvolve sobre os outros e
sobre o relacionamento podem influenciar seus comportamentos e os acontecimen-
tos (Baucom& Epstein, 1990; Baucom et al., 1989).
É normalmente quando as suposições de um dos membros da família são vio-
ladas ou quebradas que os conflitos ou tensões emergem. Considere, por exemplo,
pais que, tendo ensinado seus filhos a importância da honestidade, supõem que os
filhos serão sempre confiáveis. Imagine, então, a primeira vez que o filho sucumbe à
influência dos colegas e engana seus pais.
A suposição central dos pais sobre confiança é violada pela criança. Se os
pais também mantêm um padrão que as crianças devem se comportar de maneira
confiável, a violação deste padrão provavelmente vai aborrecê-los gravemente, e
estes podem responder impondo um controle estrito sobre a vida social da criança.
Esta resposta rompe a suposição da criança de que seus pais são flexíveis e com-
preensivos.

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Fonte: pepsic.bvsalud.org

Quanto mais rígidos os pais forem, um fator largamente dependente de suas


características pessoais, mais tensão, provavelmente, será produzida no relaciona-
mento. Consequentemente, o filho pode desenvolver a suposição “Eu não sou digno
de ser amado a não ser que eu satisfaça todas as expectativas de meus pais”. Os
pais podem reagir à decepção do filho revendo sua suposição sobre a influência pa-
rental: “Nós precisamos nos manter firmes nas nossas regras, não permitindo exce-
ções, de forma a criar nossos filhos da maneira correta”.

6.4 Padrões

Padrões são uma forma de esquema envolvendo as crenças individuais sobre


que características os indivíduos e seus relacionamentos “deveriam” apresentar. Os
membros de um relacionamento usam os padrões como moldes para avaliar se o
comportamento e o desempenho de papéis uns dos outros é apropriado e aceitável.
Certos padrões podem ter sido transmitidos pelas famílias de origem dos pais; por

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exemplo: o que constitui um comportamento respeitoso em relação aos pais, a ma-
neira como o perdão é concedido, ou o quão próximos os pais devem ser dos filhos.
Schwebel e Fine (1992) descreveram padrões no seu trabalho sobre “a cons-
tituição da família”, um envolvente jogo de regras e padrões que governam a vida
familiar.

Fonte: www.pastortrevenzoli.com

A maioria destas regras são baseadas nos esquemas individuais ou comparti-


lhados do que constitui uma “vida familiar saudável”. Estas são usualmente vertidas
na prole de um casal ainda na infância, embora isso possa variar, dependendo da
maneira como os membros da família respondem a estas, na medida em que algu-
mas crianças e adolescentes desafiam ou até mesmo rejeitam os padrões de seus
pais.
Os padrões envolvidos na constituição de uma família incluem:
1) Padrões para inter-relacionamento entre os membros da família.
2) Padrões para a divisão das tarefas.
3) Padrões para lidar com os conflitos.
4) Padrões para limites e privacidade.
5) Padrões para os indivíduos exteriores à unidade familiar (ver Schwebel& Fine,
1992).

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6.5 Intervindo em Esquemas Familiares

Fonte: www.lfg.com.br

Ao abordar os esquemas familiares desde uma perspectiva cognitivo-


comportamental faz-se importante seguir uma série de passos que podem facilitar o
processo de análise do esquema e oferecer os fundamentos necessários à reestru-
turação. O caso da mãe que temia a fraqueza pode continuar a nos servir de exem-
plo:
Passo 1: Descobrir e identificar esquemas familiares compartilhados e apon-
tar áreas de conflito e disfunção que são potencializadas pelos esquemas (ex., “Te-
mos que pisar em ovos com mamãe. Se mostramos qualquer sinal de fraqueza ela
enlouquece”). Esquemas podem ser descobertos questionando pensamentos auto-
máticos e utilizando técnicas, como a da Seta Descendente, tal como foi realizado
com a mãe neste caso (Dattilio, 1998b; Dattilio&Padesky, 1995). Uma vez que os
esquemas são identificados, a verificação deve ser feita obtendo, por parte da famí-
lia, alguma medida de acordo.
Passo 2: Traçar a origem dos esquemas familiares e como eles evoluíram até
se tornarem um mecanismo entranhado no processo familiar. Isto é feito investigan-
do o passado dos pais e os estilos parentais que seus próprios pais usaram durante
a sua criação. Similaridades e diferenças devem ser delineadas entre o passado dos
pais e seus esquemas individuais com o intuito de esclarecer o modo em que eles
contribuíram para os esquemas familiares imediatos.

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