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ou
NA SUA TOTALIDADE
TRATADA DE ACORDO
(1755)
Emmanuel KANT
[ Estas passagens foram por mim traduzidas a partir da obra acima referida,
que é tradução directa do texto alemão estabelecido pela "Academia das
Ciências de Berlim", publicado em 1910 na edição das "Obras Completas" de
Kant. A tradutora francesa da edição alemã é Anne-Marie Roviello]
PREFÁCIO
1] - "(...) A matéria que se determina segundo as suas leis mais gerais produz
por um processo natural ou,se assim se quiser nomear,através de uma
mecânica cega,consequências convenientes que parecem ser o projecto duma
sabedoria suprema.Ar,água,calor,engendram,se os considerarmos
abandonados a elas próprios,os ventos e as nuvens,a chuva,os rios que
irregam as terras,e todas as consequências úteis sem as quais a natureza
deveria permanecer triste,deserta e estéril.Todavia,não são produzidas estas
consequências por uma pura contingência ou por um acaso que poderia
também ter-se mostrado desfavorável,mas vê-se que foram constrangidos
pelas suas leis a não agir de nenhuma outra maneira que não essa.Que pensar
desta concordância? Como seria possível que coisas de natureza diferente
devessem tender a produzir em ligação umas com as outras concordâncias e
belezas tão perfeitas; e isso mesmo em função de coisas que,numa certa
medida,se situam para além do que diz respeito à matéria inerte,a saber ao
serviço dos homens e dos animais,se elas não conhecessem uma origem
comum,isto é um entendimento infinito no qual a constituição essencial de
todas as coisas foi projectada?Se as suas naturezas fossem necessárias por
elas mesmas e de forma independente,que acaso espantoso ou melhor ainda
que impossibilidade não constituiria o facto de elas se articularem entre si com
as suas tendências naturais tão precisamente como se uma escolha inteligente
e reflectida tivesse podido pô-las de acordo.(...)" [p.68/69].
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PRIMEIRA PARTE
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SEGUNDA PARTE
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TERCEIRA PARTE
1] - "(...) Ainda que possa parecer que nesta espécie de assunto a liberdade de
imaginar não tenha propriamente qualquer limitação,e que,no julgamento sobre
a constituição dos habitantes dos mundos longínquos,se possa soltar a rédea à
imaginação com um deixar-correr bem maior que um pintor na figuração dos
vegetais e dos animais de países desconhecidos,e que tais reflexões não
poderiam ser nem demonstradas como justas nem refutadas,deve-se todavia
concordar em que as distâncias dos corpos celestes ao Sol implicam certas
relações que têm uma influência essencial sobre as diferentes propriedades
das naturezas pensantes que neles se encontram;com efeito,a sua maneira de
agir e de sofrer está ligada à constituição da matéria à qual estão ligados,e
depende da medida das impressões que o mundo nelas desperta segundo as
propriedades de relação do seu lugar de habitação relativamente ao centro de
atracção e ao calor.(...)". [p.187/188]
2] - "(...) Sou de opinião que não é necessário afirmar que todos os planetas
devam ser habitados,ainda que seja um absurdo negar isso para todos eles ou
mesmo somente para a maior parte.Na riqueza da natureza,onde mundos e
sistemas não são senão grãos de poeira solar em consideração com o todo da
criação,poderia também aí existirem regiões incultas e desabitadas que não
seriam utilizadas da maneira mais apropriada para o fim da natureza,quer dizer
em consideração aos seres racionais.Seria como se criassem escrúpulos,em
função da Sabedoria de Deus,admitir que os desertos arenosos e desabitados
ocupem grandes extensões da Terra,e que existem no oceano ilhas
abandonadas sobre as quais nenhum homem se encontra.E todavia,um
planeta representa muito menos relativamente ao todo da criação que um
deserto ou uma ilha face à Terra. (...)" [p.188]
3] - "(...) Talvez que todos os corpos celestes não se tenham ainda formado
completamente;é preciso séculos e talvez milhares de anos antes que um
grande corpo celeste tenha atingido o estado sólido das suas matérias.Júpiter
parece estar ainda em plena luta.(...)" [p.188]
4] - "(...) Mas pode-se com uma satisfação ainda maior conjecturar que se não
está hoje ainda habitado,sê-lo-á contudo um dia,quando o período da sua
formação estiver acabado.Talvez a nossa Terra tenha existido mil anos ou mais
antes de se encontrar numa constituição tal que pudesse sustentar os
homens,os animais e os vegetais.(...)" [p.188]
5] - "(...) E,para tudo agrupar num único conceito geral,direi que a substância
de que são formados os habitantes de diferentes planetas,neles se incluindo os
animais e as plantas,deve ser de uma maneira geral,duma espécie tanto mais
leve e fina,e a elasticidade das fibras assim como a constituição avantajada da
sua estrutura deve ser tanto mais perfeita quanto esses planetas estiverem
afastados do Sol.(...)" [p.194]
6] - "(...) Se,de acordo com isto,as capacidades espirituais estão numa
necessária dependência face à substância da máquina que elas
habitam,poderemos então concluir com uma probabilidade mais que razoável
que:a excelência das naturezas pensantes,a prontidão nas suas
representações,a clareza e a vivacidade dos conceitos que recebem das
impressões exteriores,assim como a faculdade de as congregar,por fim
também a agilidade no exercício real,em resumo,toda a extensão da sua
perfeição,está submetida a uma certa regra segundo a qual estas criaturas se
tornam sempre mais excelentes e mais perfeitas de acordo com a relação de
distância do seu lugar de habitação face ao Sol.(...)" [p.194]
7] - "(...) Uma vez que esta relação tem um grau de credibilidade que não está
distante duma certeza estabelecida,encontramos um campo aberto para
agradáveis conjecturas decorrentes da comparação entre as propriedades
destes diferentes habitantes.A natureza humana que,na escala dos
seres,ocupa por assim dizer o escalão médio,vê-se colocada a meia distância
das duas fronteiras exteriores da perfeição,estando igualmente distanciada dos
seus dois limites.Se a representação das classes mais elevadas das criaturas
racionais que habitam Júpiter ou Saturno excita a sua inveja e humilha-a pela
representação da sua própria baixeza,a consideração dos graus inferiores
que,sobre os planetas Vénus e Mercúrio,estão sepultados bem abaixo da
perfeição da natureza humana.Que vista admirável! Dum lado vemos criaturas
pensantes junto das quais um Gronelandês ou um Hotentote seria um
Newton;e do outro lado,outros que olham para este último como um macaco.
(...)" [p.195]
10] - "(...) Enfim,a excelência das naturezas nestas regiões superiores do céu
parece estar ligada por uma conexão física a uma durabilidade que a
dignifica.A decadência e a morte não podem apoderar-se destas criaturas
excelentes da mesma forma que em nós,naturezas inferiores.Esta mesma
inércia da matéria e a aspereza da substância,que para os degraus inferiores é
o princípio específico da sua inferioridade,é igualmente a causa desta
tendência que eles têm para a degradação.Quando os humores que alimentam
e fazem crescer o animal ou o homem,ao incorporarem-se entre as suas
fibras,e juntando-se à sua massa,deixam de poder acrescentar os seus vasos e
canais na extensão do espaço,quando o crescimento está já terminado,esses
sucos nutrientes suplementares devem então,pela mesma força mecânica que
é aplicada para alimentar o animal,fechar e obstruir o vazio dos seus canais,e
levar à destruição,por uma solidificação sempre crescente,a estrutura da
máquina na sua totalidade.(...)" [p.198]
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CONCLUSÃO
1] - "(...) Nós não sabemos ainda bem o que é que o homem hoje é
realmente,ainda que a consciência e os sentidos nos instruam sobre este
ponto;quanto mais poderemos adivinhar aquilo em que ele deve tornar-se um
dia! (...)" [p.202]
2] - "(...) A alma imortal deverá pois,em toda a infinidade da sua duração futura
que a própria tumba não interrompe mas nada mais faz que
transformar,permanecer para sempre ligada a este ponto do espaço cósmico,à
nossa Terra? Não deveria ela participar numa contemplação mais próxima das
outras maravilhas da criação? Quem sabe,não lhe estará reservada a
possibilidade de conhecer um dia de perto esses globos distantes do universo
e a excelência das suas disposições que já de longe tanto excitam a sua
curiosidade?(...)" [p.202]
3] - "(...) É permitido,é conveniente divertirmo-nos com tais representações;mas
ninguém fundamentará a esperança do futuro sobre imagens tão incertas da
imaginação.Após a vaidade ter reclamado a sua parte à natureza humana,o
espírito imortal elevar-se-á num élan rápido para além de tudo aquilo que é
finito,e prosseguirá a sua existência numa nova relação com a natureza toda
inteira,que decorre dum ligação mais próxima com o Ser supremo.(...)" [p.202]
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